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SOCIEDADE CIvIL E SEU PAPEL PoLitico: O Local £ 0 GLOBAL COMO EsPAgos DE ParricirpAacAo CIpADA Elenaldo Celso Teixeira’ alizada sobre 0 papel polftico da sociedade civil frente ao poder lo- cal, a partir das contribuigées tedricas de Jean Cohen, Andrew Arato (1992) e Habermas (1997)). Os primeiros, em trabalho exaustivo de revi- sao de toda a literura sobre a teoria da sociedade civil e do debate em torno das mudangas polfticas ocorridas na década de 80, redefine e recons- tréi o conceito, concebendo-o como movimento e como instituig&0, com ages coletivas desenvolvidas por uma pluralidade e heterogeneidade de atores no sentido da democratizag4o da sociedade e do estado, do controle social do mercado. Arato (1995:27) acentua a necessidade de analisar os governos locais em termos de fortalecimento da sociedade civil. Habermas, (1997: 94) em seu Ultimo livro, retoma a discussdo sobre esfera ptiblica, relacionando-a com o conceito de sociedade civil, diferenciando-a do sis- tema (econdmico e politico), descrita como “rede adequada para comuni- cacao de contetidos, tomadas de posigdo e opinides”. Fundamentados nestas perspectivas tericas, buscamos situar as observagées de experién- cias e agGes coletivas realizadas em varios paises frente aos desafios coloca- dos pelo processo de globalizag4o, em que 0 local, por varios motivos, passa a ser valorizado enquanto espaco de inovagées de gestdo publica e de par- ticipagdo cidada. Os exemplos de agées coletivas observadas demonstram 0 exercicio de uma légica presidida por valores de solidariedade, respeito as diferen- gas, busca do convencimento racional, através do debate publico das ques- P rocuramos sintetizar neste artigo! algumas conclusées da anilise re- “Professor Adjunto do Departamento de Ciéncia Politica, FECH, UFBa. OSS + v.6 * N.14 * JANEIRO/ABRIL 1999 105 106 Elenaldo Celso Teixeira tdes e de realizagao de projetos econdmicos, educativos e comunicacionais, num processo de empowerment dos segmentos sociais marginalizados. Nao obstante, néo se pode minimizar as assimetrias existentes na sociedade quanto ao domfnio das informagées e recursos e das limitagdes cognitivas que dificultam a ag4o comunicativa; nem obscurecer a existéncia dos inte- Tesses que permeiam as agGes dos grupos sociais nos embates nos espagos pUblicos. Buscamos, como sugere Habermas (1997), identificar, nas prati- cas sociais, fragmentos de uma “razfo existente” e verificar como a catego- tia “sociedade civil”, além de constituir-se num marco orientador impor- tante para a aco politica (Costa, 1997), pode desempenhar fungdo analt- tica relevante, apesar das limitagdes que podem levar & superestimago do seu papel politico e sua idealizago, se ndo se leva em conta que é um conceito em reconstrugao e que a realidade é bem mais complexa. O conjunto dos elementos que constitui o que hoje se denomina “sociedade civil” — pluralidade de atores, publicidade, privacidade, legali- dade - exige um suporte de institucionalidade com base nos direitos funda- mentais que motivam as agGes coletivas dos diversos atores, ndo apenas no sentido de circunscrevé-los a uma ordem juridica estatal, mas de amplié- los pela construgdo de novos direitos. Em termos globais, o papel exercido pelas organizagGes da sociedade civil nas conferéncias internacionais do Sistema ONU tem sido relevante para tematizar e publicizar questées vivi- das no cotidiano pelas populagées, criando assim uma esfera publica de carter global. Através do debate ptiblico, das mobilizagées sociais, as au- toridades sdo impelidas a assumir compromissos e dar-lhes respostas medi- ante leis e politicas ptblicas, a exemplo dos direitos das mulheres, das cri- angas e adolescentes e da seguranga alimentar, objeto em muitos pafses como 0 nosso, de legislagées especfficas e programas governamentais. Tra- ta-se, pois, de uma nova institucionalidade em que a sociedade civil, por meio dos setores sociais diretamente envolvidos, passa a fazer parte de sua construgao, seja pelo atendimento objetivo das demandas, seja pela cria- So de canais permanentes de interlocugao entre sociedade e Estado, como os conselhos de gestdo, plataformas de ago, féruns , constituindo assim, uma esfera publica, para além do Estado. No entanto, ha areas institucionais de decisées estratégicas até agora impenetraveis a qualquer influéncia de outra ldgica que nao a sistémica, a exemplo das polfticas macroeconémicas do Banco Mundial ou da OMC que geralmente orientam politicas nacio- O&S + v.6 + n.14 + JanzIRO/ABRIL 1999 Sociedade Civil e seu Papel Politico: O Local e o Global como Espagos de Participagao Cidada nais e, em termos locais, das decisdes das elites tradicionais. Nesse proces- so de interlocug4o sociedade/estado ha o risco da burocratizagao de pro- cedimentos, da cooptagao de atores sociais, mas, de alguma forma contor- nado por outros tipos de agao coletiva desenvolvidos paralelamente pelas organizagdes em espagos publicos auténomos. A prépria organizagao auté- noma da sociedade civil cria espagos ptblicos abertos, propensos & rediscussao das quest6es e ao controle social do poder pablico. Em termos nacionais e locais, os exemplos referidos em relagdo ao Brasil e a alguns pafses do Terceiro Mundo demonstram as possibilidades criadas com essa institucionalidade e, ao mesmo tempo, suas limitagdes concretas em fun- ao da cultura politica vigente e da impermeabilidade das estruturas politi- co-sociais desses paises. O papel da sociedade civil em relagdo ao Estado e ao mercado, na viséo que adotamos, é concebido como autolimitado, no sentido de nao substituir a fungdo dessas estruturas, mas de exercer influéncia sobre suas decisdes e politicas. Nessa Otica, tal influéncia-ndo é apenas exercida na escolha dos decisores, através de eleicdes periédicas, mas também na pro- posigdo de pardmetros para decisao. As experiéncias analisadas indicam um papel permanente da sociedade civil face ao Estado, em varios paises, seja através dos mecanismos institucionais criados ou instrumentos legais disponiveis aos cidadaos, seja por meio da presso social e da ago direta. A sociedade civil nao assume poderes de decisdo ou gestao, criando estrutu- tas paralelas, nem exerce apenas uma agiio periédica (eleigdes) ou epis6dica (referendo, plebiscito). O papel da sociedade civil é realizado em dois planos: um — ofensivo - relacionado com o Estado e o mercado, constitu- fdo dos diversos tipos de ag4o coletiva; o outro, de carater “defensivo”, buscando ... preservar certas estruturas da associacdo e da esfera publica, produzir contra-esferas piiblicas subculturais e contra-instituigdes, solidificar identidades coletivas e ganhar novos espacos na forma de direitos mais amplos e instituigdes reformadas ( Cohen e Arato, apud Habermas, 1997, p. 103). Observa-se 0 exercicio incipiente desse duplo papel, principalmente em relagao ao Estado: agées coletivas voltadas para a formacao de opinido para pressdo sobre drgdos decisores, visando 4 adog&o de determinadas politicas nos espagos global, nacional e local; em termos defensivos, a cria- ao de redes internacionais ou nacionais, a realizagao de projetos de coo- perag&o, capacitagéo, encontros e congressos para debate dos problemas OSS + v.6 + N.14 * JaNEIRO/ABRIL 1999 107

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