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Sermão de Santo António aos Peixes

 O Sermão de Santo António ao Peixes (1654) tem como base a lenda


medieval segundo a qual o Santo Franciscano, numa das suas
pregações em que não é ouvido pelos homens, lança a sua palavra
iluminada na praia deserta, e os peixes levantam a cabeça à superfície
das águas, como sinal da força da palavra de Sto. António;

 O sermão desenvolve-se depois como uma alegoria: também o Padre


António Viera irá falar aos “peixes”, que agrupa segundo categorias
humanas:
o Roncadores homens que falam
muito e fazem pouco;

o Pegadores homens que vivem a vida


dependendo de outros;

o Voadores homens que querem


mais do que aquilo que têm;

o Polvo homens dissimulados e


traidores;

 Para Viera, a escravatura é uma forma de


Canibalismo, tal como o é a forma como os homens se relacionam e vivem
em sociedade daí o uso desta cruel alegoria no Sermão:
“A primeira causa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis
uns aos outros” (cap.IV)

Tal como a dos peixes, também a sociedade humana é insaciável e


corrupta.

 O Sermão divide-se fundamentalmente em duas partes:


o aquela em que se dirige aos peixes
bons;
o aquela em que se dirige aos peixes
maus;

 Estabelece um paralelo necessariamente metafórico, entre os vícios dos


peixes e os vícios dos homens, estabelecendo contrastes entre os
louvores dos peixes e os vícios dos homens;

 Na peroração, conclui com um louvor aos peixes que, ao contrário dos


homens, sabem “ouvir”;

 Trata-se de um sermão de crítica ética e social, caracterizado por um


tom marcadamente violento e de ataque. O texto é, mais que a defesa

Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira Folha 1de 7
de uma tese teológica (“Vós sois o Sal da terra” [pregadores]), uma
sátira social, de sentido construtivo:

Viera luta contra a rebeldia do coração e dirige-se aos colonos


do Maranhão. A sua crítica açoita os grandes da terra e também os fracos,
já que os primeiros abusam do seu poder e os segundos não têm coragem
para alterar as coisas.

Estrutura do Sermão

1. Capítulo I - Exórdio

 Conceito predicável – “Vós sois o Sal da terra.”

Os discípulos de Jesus são o Sal da terra.

Sal os discípulos; os pregadores


Terra os ouvintes (os Homens em geral)

O Sal serve para impedir a corrupção, o apodrecimento. E é sobre


esta corrupção que Viera quer falar no seu sermão, dado que é um
facto. Vai ser esta a base de argumentação e Viera demonstrá-la-á no
decorrer do Sermão, sobretudo quando se referir aos defeitos dos
peixes.

Questão colocada: “ Qual pode ser a causa desta corrupção?”

Ou os pregadores;
e/ou os ouvintes.

 Os Pregadores:
1. não pregam a verdadeira doutrina;
2. dizem uma coisa e fazem outra;
3. pregam-se a si próprios e não a Cristo.

 Os Ouvintes:
1. não querem receber a verdadeira doutrina;
2. preferem imitar os pregadores e ignorar o que dizem;
3. são escravos dos seus apetites e não servem Cristo.

Ao nível da linguagem/ Discurso utilizados:

Adjetivação expressiva:
Terra (nome) corrupta (adjetivo)

Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira Folha 2de 7
Doutrina (nome) verdadeira (adjetivo)

Conjunção adversativa:
.”O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão
corrupta como está a nossa…”

Esta conjunção adversativa vem salientar a contradição entre o efeito


do sal e a realidade; o sal purifica ou impede a corrupção, mas a terra
está corrompida! Há que resolver esta contradição.

Conjunção disjuntiva
.”Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é
porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina;
ou porque a terra se não deixa salgar(…)”

Marca aqui o carácter dúbio da causa que o autor quer descobrir.


Há dois responsáveis pela corrupção, daí este jogo de “ou”’s.

Conjunção causal:
.” Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é
porque o sal não salga (…)”

Esta conjunção vem articulada com a anterior. Enquanto a disjunção


sugere alternativa e, logo, uma causa suposta; a causa vem
transformá--las em factos reais.

 Nova questão importante:

.” (…) que se há-de fazer a este sal e que se há-de fazer a esta terra?”

. Ao sal deverá ser deitado fora se se tornar inútil por perder as suas
virtudes.
. À terra Jesus Cristo não resolveu este problema, mas Vieira apresentará
uma solução:

Vai seguir o exemplo da Santo António e tomar a mesma


resolução

“Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina.”

Discurso:

a) Paralelismo – “Deixa as praças, vai-se às praias;


Deixa a terra, vai-se ao mar…”
b) Antítese – “Deixa” ≠ “Vai-se”
c) Simbolismo – Terra = Corrupção

Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira Folha 3de 7
Mar = Pureza / Incorrupção
d) Panegírico – Louvor a Santo António: “Santo António foi sal da terra e
foi sal do mar”, foi portanto mais importante que qualquer outro santo.
e) Ironia – “já que os homens se não aproveitam” (talvez por causa disso
a terra se tenha corrompido). Vieira vai pregar aos peixes: “O mar está
tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão,
pois não é para eles.” É claro que Vieira se referia aos habitantes do
Maranhão.

2. Desenvolvimento – Proposição; Exposição; Confirmação


(cap. II a V)

 É no desenvolvimento que Vieira se dirige, diretamente, a


este novo auditório – os peixes, metaforicamente / alegoricamente, passam
a ser gente pelas qualidades morais, comportamentos, atitudes…

Proposição: “E onde há bons e maus, há que louvar e repreender.”

“(…) dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos:


no primeiro louvar-vos-ei as vossas virtudes, no segundo
repreender-vos-ei os vossos vícios.”

organização do discurso

.Cap. II Louvor aos peixes em geral


 Foram os primeiros a ser criados por Deus;
 Obedecem ao Criador;
 Os peixes, ao contrário dos homens, não são dotados de
razão, mas escutam o pregador, os homens são dotados de razão, mas não
a usam.
 Possuem algumas virtudes naturais.

Resumindo: são melhores que os homens.

Cap.III Louvor aos peixes em particular

 Peixe de Tobias depois assumindo a figura de Santo António


(propriedades curativas) (metamorfose)

Vieira reclama para si a possibilidade de curar


os habitantes do Maranhão

 Rémora peixe pequeno, mas muito forte;


 Torpedo faz tremer o pescador;

Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira Folha 4de 7
 Quatro Olhos peixe precavido, porque é perseguido pelos
outros peixes. Este peixe vê demais; há homens que veem de menos.

Conclusão: pudessem os homens, na terra, apresentar algumas das


qualidades que estes peixes, no mar, apresentam e tudo seria melhor.

Cap. IV Repreensão dos peixes em geral:


 As peixes comem-se uns aos outros.
Vieira serve-se da ictiofagia para levar o auditório a tomar consciência da
antropofagia social:
“Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade
deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para
que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens.”

Através de um discurso repleto de repetições: “vedes”, ou


“comem--no”, Vieira vai, de modo bastante realista, realçando a crueldade
da vida quotidiana nesses “açougues” que são as cidades brasileiras:

“São piores os homens que os corvos.”

Mas o castigo não faltará!

Os peixes médios comem os pequenos, mas são comidos pelos peixes


maiores que eles.

À hierarquia dos peixes vai obviamente corresponder a dos homens:


pequenos, GRANDES, MAIORES.

Vieira vai depois dirigir o Sermão aos peixes maiores, pois são os que
detêm as maiores responsabilidades para com os grandes e os pequenos.

Críticas
Em vez de governar e aumentar o estado destruíram-no;

Escravizavam e exploravam os nativos devido à “fome” de ouro,

riquezas e prestígio;
 São inconscientes, pois não se lembram que quando chegarem a
Portugal haverá outros ainda maiores que eles, que os comerão
também.
→ A Ictiofagia / Antropofagia são doenças.
→ Cegueira / Vaidade – são alvo de reflexão por parte de Vieira dado que
provocam nele uma reacção bastante negativa.

→ O ditado “pela boca morre o peixe” também se pode aplicar aos homens
que não só morrem pela boca, mas também pelos olhos: deixam-se enganar
pelos trapos.
Esta reação de Vieira era comum na época dado que os pregadores
revoltavam-se contra o luxo e contra os excessos da moda.

Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira Folha 5de 7
Cap. V Repreensão aos peixes em particular:
Admitindo agora o escândalo de ictiofagia / antropofagia, Vieira vai
concentrar--se no particular e dizer aos peixes o que tem contra alguns deles.

1. Roncador: peixe pequeno, mas que produz muito barulho; “roncar”, no


discurso alegórico /metafórico de Vieira equivale a fazer alarde, agir com
espalhafato, ostentação e aparato e também gabar-se, pavonear-se, ser
arrogante.

 “quem tem muita espada, tem pouca língua”;


 Deus humilha os gabarolas e os arrogantes;
 O que transforma os homens em roncadores é o Saber e o Poder,
porque ambos tornam os homens arrogantes.

Exemplos para demonstrar isto:

a) Pedro gabou-se da sua bravura, mas bastou uma mulher falar para o
fazer tremer e negar a Cristo;
b) O gigante Golias era “ronca” ou vaidade dos Filisteus, mas bastou um
pastorzinho (David) para o derrotar.

Conclusão: “ O verdadeiro conselho é calar e imitar a Santo António” que


tinha saber e poder.

2. Pegador: Vieira quer agora demonstrar que um defeito típico dos


homens – a Preguiça – se pegou a certos peixes.
O Pegador é um peixe pequeno que se “pega” aos maiores. Segundo
Vieira, este é um modo de vida “mais astuto que generoso” que os peixes
só aprenderam quando os portugueses começaram a navegar o mar alto.
Chama a estes peixes ignorantes e miseráveis, pois dependem dos outros.

3. Voador: para entender a alegoria do peixe voador basta vermos esta


sentença:
“Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem”

Ao peixe voador mata-o a vaidade de voar;


Refere vários exemplos para ilustrar os perigos de voar:
. Simão Mago quebrou os pés ao aterrar;
. Ícaro morreu ao aproximar-se do sol.

Conclusão: cada um deve contentar-se com o seu elemento e, além disso,


deve-se ter sempre em conta o assunto deste sermão.

4. Polvo: é a crítica dirigida aos fingidos e dissimulados:


. “(…) é o maior traidor do mar”
“Consiste esta traição do Polvo, primeiramente, em
se vestir ou pintar das mesmas cores, de todas
aquelas cores a que está pegado.”

Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira Folha 6de 7
Além disto, o polvo é um animal marinho, vive no mar. Ora, os
portugueses também. Nas terras banhadas pelo mar, tal como no mar, há
enganos, falsidades, embustes, ciladas, e traições.

 Santo António volta a ser exemplo: candura, sinceridade, verdade.

MAS

“bastava antigamente ser português, não era necessário ser Santo”


para existirem nos portugueses aquelas qualidades.

Passado VS Presente
. Ser português significava: . Ser português significa:
- ser cândido;
- ser sincero;
- ser verdadeiro. POLVO!
Ou seja:
. traidor;
Porque eram santos . hipócrita;
. falso.

Advertência final – Vieira dirige-se aos que se aproveitam dos bens


daqueles que naufragam, cujo castigo que merecem é a excomunhão e a
maldição.
- Exemplifica com a pescaria de S. Pedro.

Conclusão: a absolvição só se conseguirá com a restituição dos bens aos


respectivos naufragantes.

3. Conclusão - Cap. VI – Peroração


Vieira recorre ao apelo, ao incitamento e à elevação, através do seu
habitual discurso analítico, com uma finalidade bem vincada – persuadir e levar
as pessoas a agir. Para isso, as pessoas têm de entender o que estão a ouvir.
Para entenderem, Vieira sabe que tem de bem argumentar, demonstrar e
confirmar:
. a condição dos peixes é superior à dos outros animais;
. a condição dos peixes é superior até à do próprio Vieira.

O Sermão termina com o louvor a Deus.

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