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Como fazer culto?

(A liturgia da liberdade e da criatividade)*

A
PARTIR DO NOSSO ESTUDO, constatamos que um culto cristão tem uma
tríplice estrutura, caracterizada pela ação efetiva das três pessoas da
Trindade, o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. Assim, pode-se dizer que
o culto cristão possui partes essenciais que se ausentes o
descaracterizariam.
Assim, a estrutura básica da liturgia cristã é trinitária e pressupõe um
primeiro momento teológico, no qual Deus é adorado, um segundo momento
Cristológico, no qual a memória de Cristo é celebrada e proclamada; e um
terceiro momento, Pneumatológico, no qual, pela ação do Espírito, a
comunidade se compromete com o serviço a Deus e ao próximo.
Essa liturgia é construída a partir da ação criativa da comunidade de fé e
compõe-se de atos, gestos e ritos.

Objetividade e subjetividade litúrgicas

Nesse sentido, a liturgia se constitui de ritos, atos, ofícios e sacramentos


comunitários que se expressam pelas vias racionais próprias das palavras
(escritas, lidas, proclamadas, cantadas) e pelas vias sensoriais próprias dos
gestos (levantar os olhos, fechar os olhos, ouvir a palavra, aspirar ao incenso,
curvar a cabeça, beijar, comer o pão, beber o vinho, impor as mãos, estender as
mãos, aplaudir, bater no peito, abraçar, ficar em pé, sentar-se, ajoelhar-se,
processionais e recessionais...).

*Originalmente como Capítulo VI em RAMOS, L.C. Em espírito e em verdade: Curso prático


de liturgia. 2 ed. São Bernardo do Campo: Editeo, 2012, p. 111-144.
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A emoção na comunicação litúrgica

Além das dimensões racionais e sensoriais da comunicação verbal e não


verbal, a liturgia também comunica pelas vias subjetivas das emoções. A
maneira como os ritos, atos, ofícios e sacramentos afetam nossos sentimentos
dependem de um sem número de questões que subjazem à nossa consciência.
As emoções podem ser evocadas a partir de fora, mas somente podem ser
experimentadas a partir de dentro. O riso ou choro, a ira ou a ternura, a
indignação ou a compaixão, são estados que, literalmente, jorram do
subconsciente. São manifestações que, antes de despertar, jazem adormecidas
ou, para usar a linguagem psicanalítica, estão reprimidas e contidas no obscuro
mundo da alma humana.
Quando somos tocados desde fora por uma palavra ou um gesto, por um
som ou uma imagem, pode acontecer de vacilarem as forças repressoras que
mantinham trancadas as comportas do subconsciente. Abrem-se essas
comportas e emergem, então, as emoções, juntamente com memórias
significativas (de experiências da infância, de lembranças dos pais, dos filhos...),
que compõem o repertório existencial e que, por uma razão ou outra, foi
associado ao instante celebrativo. Não raro, essas liberações emocionais
resultam em êxtases que se revelam tão intensos que chegam a embotar a
razão, dando vazão a ações não conscientes e não racionais.

A razão na comunicação litúrgica

Ora, o princípio da primazia da emoção sobre a razão é o grande trunfo dos


meios de comunicação de massa. Os estudiosos da comunicação rapidamente
concluíram que as pessoas não são persuadidas por argumentos racionais, mas
seduzidas por experiências emocionais. A mídia descobriu a eficiência do
entretenimento e do espetáculo como mediadoras da “conversão” que
transforma o auditório em massa.
Entretenimento, como sugere a etimologia da palavra, se refere a um
processo que procura ter o indivíduo “entre” alguma coisa. O entretenimento
funciona como um parêntesis, no qual o indivíduo se isola, ainda que por
alguns instantes, do mundo real. É aqui, no processo de separação do real, que
entra o espetáculo, cuja etimologia remonta ao latim speculum, espelho. O
espetáculo é, portanto, uma imagem do real. As imagens, por mais parecidas
que sejam, não podem ser confundidas com a realidade, pois toda imagem
refletida no espelho se apresenta como o “inverso” do real ou como sua
reprodução invertida. A vida real, quando espetacularizada, se nos dá como
não-vida. Quando, como espectadores, nos divertimos com o espetáculo,
abrimos um parênteses em nossa vida e suspendemos por um tempo a nossa
existência, para nos dedicarmos à contemplação da simulação do real.
Como ação terapêutica, essa prática pode até ser de grande benefício para a
nossa saúde emocional, entretanto, quando isso se dá como mecanismo de fuga
sistemática da realidade, o que se verifica é um desperdício considerável da vida
real. Como o medo e a amnésia, a fuga também se constitui em importante
dispositivo de sobrevivência. Não obstante, o medo, a amnésia e a fuga não
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devem substituir a própria vida, por mais dura que esta seja, sob pena de
terminar por aniquilar a própria existência. O entretenimento pode causar
dependência, mas não responsabilidade; alivia as tensões, mas não resulta em
compromissos.

Emoção, sensação e razão e a saúde litúrgica

A liturgia é essencialmente comunicação por abranger todo o espectro


comunicacional humano. E a comunicação litúrgica será tanto mais intensa
quanto maior for a abrangência da sua ação, subjetiva/objetiva, verbal/não
verbal, consciente/inconsciente... Um grande desafio para a liturgia é, portanto,
dosar adequadamente emoção, sensação e razão. Concluímos que a saúde
litúrgica de uma comunidade de fé depende da sensibilização equilibrada e
inteligente das dimensões sensorial, emocional e racional da comunicação
humana no contexto celebrativo. Mas isso não se poderá obter pelo espetáculo
nem pelo entretenimento, mas somente no serviço comunitário celebrado pelo
povo para Deus e para toda a comunidade humana.

Outras formas de
comunicação-não verbal na liturgia

Temos “lugares” comuns com todas as pessoas, de todas as idades, de


qualquer nacionalidade e de qualquer substrato social.
O primeiro desses “lugares” é a natura (natureza), em cujo ventre todos
fomos gerados, em cujos seios saciamos a fome.
O segundo é o corpo — a corporeidade é um tema que nos diz respeito a
todos, religiosos ou não, homens e mulheres, adultos e crianças.
Finalmente, a cultura, o “universo”, a oikoumene, na qual habitamos.
Conquanto diversa e extremamente complexa — seja nas imensas distâncias
geográficas dos cinco continentes, quer seja no microcosmo da nossa casa — a
cultura nos forja, ora nos formando, ora nos deformando.

A natureza e o culto

Os antigos filósofos diziam que a tudo o que existe no mundo é derivado de


quatro substâncias elementares: a terra, a água, o fogo e, o ar.
Na Bíblia, encontramos inúmeras referências a esses elementos relacionados
à espiritualidade do povo de Deus.
No princípio, criou Deus os céus e a terra. Deus fez o ser humano a partir
do pó da terra e o designou para cultivar e cuidar da terra (“tu és pó e ao pó
tornarás”) ouviu o grito do sangue de Abel clamando da terra; não suportando a
maldade do coração humano, enviou o dilúvio para destruir e purificar a terra;
chamou Abraão e lhe disse: “sai da tua terra e vai pra terra que te mostrarei”;
desafiou Moisés a libertar o povo e Israel da opressão no Egito e conduzi-lo à
terra prometida; com Josué conquistaram e habitaram a terra que mana leite e
mel; em Jesus Cristo, Deus desceu do céu à terra e habitou entre nós, cheio de
graça e de verdade; pela boca dos apóstolos, o Evangelho foi anunciado por toda
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a terra; João, no Apocalipse, nos fala assim da nova Jerusalém: “vi novo céu e
nova terra...”.
A terra é a nossa casa, é o nosso berço e o nosso destino. A nova terra é a
promessa da vida abundante, da redenção plena. Na Bíblia, a palavra terra
aparece quase três mil vezes (2729).
No culto, podemos fazer alusão, ou mesmo utilizarmos de maneira concreta
o elemento terra nos momentos de batismo, de lançamento de pedra
fundamental de edifício religioso, de renovação do pacto, de ofício fúnebre, etc.,
etc.
Não menos importante é a água: no Gênesis, o Espírito de Deus pairava
sobre a face das águas; no dilúvio, as águas cobriram e purificaram a terra de
sua maldade; na libertação do Egito, Moisés tocou a água com seu bordão e o
mar se abriu para que o povo passasse; na chegada à terra prometida, tiveram
que transpor o rio Jordão; o mesmo rio em cujas águas João batizou multidões
e o próprio Jesus; Jesus andou sobre as águas e acalmou a tempestade e os
vagalhões; com água, o eunuco, foi batizado por Filipe e Pedro batizou mais de
três mil almas de uma só vez; Paulo sobreviveu a naufrágios e, como Jonas, foi
devolvido à praia para pregar o Evangelho; na Cidade Santa, descrita no
Apocalipse, há o rio da vida, brilhante como cristal, que corre do trono de Deus
e do Cordeiro, em cujas margens está a árvore da vida, que produz frutos para a
cura dos povos e o último verso do Apocalipse diz: “O Espírito e a noiva dizem:
Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser
receba de graça a água da vida”.
Na Bíblia, a palavra água ocorre 659 vezes, sem contar rio, torrente, chuva,
manancial, fonte, etc.
Na liturgia, a água é simbolicamente significativa no batismo, na celebração
do ágape, na cerimônia do lava-pés, nos cultos de renovação do pacto e de
purificação, etc., etc.
O fogo é também a luz. O primeiro ato criador de Deus foi “haja luz!”; Deus
fez chover enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra; Abraão caminhava rumo ao
lugar onde deveria sacrificar o próprio filho com o cutelo numa mão e o fogo na
outra; Moisés viu o fogo em uma sarça que ardia, mas não se consumia; uma
das pragas lançadas sobre o Egito, no processo de libertação, foi a chuva de
pedras e fogo; quando o povo peregrinou durante quarenta anos pelo deserto, o
Senhor ia adiante deles de dia com uma coluna de nuvem e de noite com uma
coluna de fogo para os iluminar e indicar o caminho; no templo, um castiçal
com sete braços ficara junto à Torah, para iluminar-lhe a leitura (“lâmpada para
os meus pés é a tua Palavra, e luz para os meus caminhos”, cantam os
salmistas); Isaías foi purificado do seu pecado, no culto do Templo, por uma
brasa que um serafim tirara do altar com uma tenaz; Sadraque, Mesaque e
Abede-Nego, amigos de Daniel, foram preservados do fogo, quando atirados
numa fornalha para ser castigado por sua fidelidade a YaHWeH; João Batista
não era a luz, mas veio para que testificasse da luz; Jesus disse: “eu sou a luz
do mundo” e, ainda, “vós sois a luz do mundo”; no Pentecostes cristão, o
Espírito Santo desceu sobre os discípulos e discípulas na forma de línguas de
fogo; o autor de Hebreus diz que “o nosso Deus é fogo consumidor”; inúmeras
são as alusões ao fogo, no Apocalipse, dentre elas, a de que “a morte e o inferno
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foram lançados para dentro do lago de fogo” e “a cidade não precisa nem do sol,
nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o
Cordeiro é a sua lâmpada.”
A palavra fogo aparece mais de 360 vezes na Bíblia; luz, mais de 320; isso
para não detalhar sobre a palavra lâmpada, sol, glória, e os verbos iluminar,
resplandecer, glorificar, todos esses, termos relacionados com fogo/luz.
No culto, as luzes que se acendem (castiçais) são um importante símbolo da
glória de Deus, da presença do Espírito, da orientação da Palavra de Deus, etc.,
etc.
O ar: no princípio, a terra era sem forma e vazia e o Espírito (ar, sopro,
vento) de Deus pairava sobre a face das águas; tendo criado o homem do pó do
terra, Deus soprou em suas narinas o fôlego da vida; no Dilúvio, quando Deus
lembrou-se de Noé, na arca, “fez soprar um vento sobre a terra, e baixaram as
águas”; na fuga do Egito, um vento vindo do Oriente soprou e abriu o Mar de
Juncos para que o povo alcançasse a liberdade; Elias teve um encontro especial
com Deus após presenciar vendavais, terremotos e saraiva, quando Deus se
apresentou a ele numa brisa tranquila e suave; na visão dos ossos secos,
Ezequiel profetizou: “vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes
mortos, para que vivam”; no Culto do Templo, não deveria nunca faltar o
incenso, que simboliza as orações dos fiéis, feito com finíssimas especiarias
aromáticas; certa vez, Jesus, no barco, “repreendeu o vento e disse ao mar:
Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança”;
ressuscitado, Jesus veio ao encontro dos seus seguidores, soprou sobre eles e
disse: “recebei o espírito”; no dia do primeiro Pentecostes Cristão, “veio do céu
um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde [os
discípulos e discípulas] estavam assentados”; o apóstolo Paulo diz que nós,
cristãos e cristãs, somos o bom perfume de Cristo; o último verso do Apocalipse
diz: “O Espírito [vento] e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem!”
Em toda a Bíblia, encontramos a palavra vento, mais de 150 vezes; espírito,
550 vezes, alma, que significa literalmente “garganta”, por onde passa o fôlego,
mais de 400 vezes; aroma e perfume, mais de 100 vezes.
Tudo isso é muito sugestivo no que diz respeito à criatividade litúrgica.
Explorar os aromas e perfumes, e a simbologia do vento (por meio dos
instrumentos de sopro, por exemplo), podem ser tremendamente sensibilizador
no exercício de uma espiritualidade vívida e no processo de transmissão da fé
às novas gerações e aos que se achegam à cultura cristã.

O corpo e o culto

Dizem os pesquisadores dos idiomas cinéticos (ou linguagem do corpo por


meio dos gestos e dos movimentos corporais) que “o corpo é a mensagem”.
Antes de falar, os bebês se comunicam com o corpo. Por isso se pode dizer que
a pessoa humana é um ser multissensorial. De vez em quando, ele verbaliza (cf.
Birdwhistell).
O sistema de realce cinético (por meio de expressões corporais) ajuda a
desfazer ambiguidades verbais. Também pode suceder, às vezes, que o
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comportamento não verbal contradiga o que se está dizendo, em vez de enfatizar


(nosso corpo mente menos que a nossa boca!).
Existe, portanto, uma linguagem dos sentidos: o tato, o paladar e o olfato são
sentidos que requerem proximidade. A audição e a visão, por outro lado, podem
ser considerados sentidos que permitem a experiência a distância.
Comunicação pelo tato: O tato é provavelmente o mais primitivo dos sentidos.
Um embrião, com menos de oito semanas, antes de ter olhos ou ouvidos, e
quando ainda mede menos de 2,5 cm, responde ao tato. O bebê explora o
mundo pelo tato. É dessa forma que ele descobre onde termina seu próprio
corpo e onde começa o mundo exterior. Em breve ele começa a relacionar a
experiência visual com a táctil (vincular símbolo à experiência e a associar as
sensações com as palavras).
O conhecimento emocional começa pelo tato, também. A voz materna
substitui o toque materno, comunicando ao bebê as mesmas coisas que a mãe
comunicava quando o pegava no colo — a rigor, a voz (as palavras) só é uma
alternativa associa à experiência tátil.
A pele é o maior órgão do corpo: o processamento das informações enviadas
pelos lábios, o dedo indicador e o polegar ocupam uma área desproporcional no
cérebro.
A pele é “o envelope que contém o organismo humano” (Lawrence K. Frank).
Todo o meio ambiente nos chega por intermédio da pele. O corpo humano é
sensível ao calor, ao frio à pressão, à dor; possui zonas erógenas, sensíveis às
cócegas, e zonas calosas (virtualmente insensíveis).
Em nossa sociedade, por volta dos cinco ou seis anos, as crianças começam
a tocar e a serem tocadas com menor frequência, mas na puberdade tornam-se
novamente ávidas daquele contato físico. Quando o ser humano descobre as
relações sexuais, na realidade ele está redescobrindo a comunicação táctil.
Contato físico e sexo: o contato físico tem frequentemente conotação sexual e
isso faz com que usemos tão pouco o tato em nossas manifestações de carinho
e afeto. Os behavioristas falam em fome de pele. Segundo Paul Byers
(antropólogo), “são os idosos que mais sofrem de fome da pele em nossa
sociedade. Eles talvez sejam menos tocados do que qualquer outra pessoa”.
Cada vez mais cedo as crianças são deixadas nas creches, ou com babás,
sendo privadas, assim, do carinho dos pais. Talvez isso explique, em parte, o
porquê de os jovens iniciarem-se sexualmente cada vez mais cedo: para
compensar a falta de afeto físico que não tiveram na primeira infância.
Comunicação pelo olfato: o ser humano é “primitivamente um animal nasal”
(G. Groddeck, colaborador de Freud): O cérebro humano (todo o complexo
límbico, o cérebro mamífero) se desenvolve a partir do bulbo olfativo.
O olfato é incontrolável: é impossível evitar ou bloquear o olfato. Daí ser
considerado o sentido mais autoritário que possuímos, pois não se pode
controlá-lo.
Nos animais: o olfato acusa a presença de inimigos, excita na presença do
sexo oposto, funciona como limite territorial, permite seguir o rebanho e
identificar o estado emocional de outras espécies. Cada indivíduo tem uma
assinatura olfativa.
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Os pesquisadores falam também em subconsciente olfativo: Dr. Harry Wener,


um médico dos Laboratórios Pfizer de Nova Iorque, elaborou a teoria de que “os
homens percebem odores além daqueles que, conscientemente, a percepção
acusa”. Odores seriam “mensageiros químicos externos” (MQE), os feronemas
que são substâncias odoríferas que os animais segregam para se atrair
sexualmente e que são capazes de afetar o comportamento de outros animais
da mesma espécie são, algumas vezes, tão contagiosas numa multidão.
Na Bíblia há muitas referências associadas ao sentido do olfato: o incenso
que representa as orações dos fiéis (cf. Is 6, Ap 8); nós somos “o bom perfume
de Cristo” (2Co 2.15).
Liturgicamente, diferentes aromas podem ser associados a diferentes
conceitos espirituais e teológicos e podem ajudar no processo de assimilação e,
principalmente, de memorização desses conceitos — dificilmente alguém se
esquece de um cheiro que tenha sentido, antes o reconhece com certa facilidade
(exemplo: manjericão, pão assando, café sendo torrado, vazamento de gás, etc.).
Comunicação pelo paladar: este é um sentido de base química. Diferente do
tato da visão e da audição, assim como o olfato, o paladar não é um sentido de
base física (impulsos elétricos), mas uma informação resultante de uma reação
química. Isso implica em que estes são mais poderosos nos níveis subliminares
(comunicação despercebida).
Este é o sentido sacramental por excelência: “o sacramento da Eucaristia é o
sacramento do gosto” (Maraschin). Comer exige ritual. Assim é na liturgia da
igreja, na do amor, na do lar, nas dos negócios. Não há comemoração sem
comida.
Até recentemente, o lugar mais importante na arquitetura doméstica era a
cozinha — tratava-se do primado da cultura da cozinha. Ali se davam as
relações sociais.
No mundo urbano a cozinha é substituída pelos restaurantes e barzinhos,
onde as relações humanas se dão de forma intensa, regada a comida e a bebida
– quando esse ambiente não é encontrado em casa ou na Igreja, ele será
buscado em outro lugar.
O cardápio (a comida e a bebida) de um “povo” denuncia seu caráter, seu
humor, sua condição social, etc.
Lembranças de gosto e de cheiro são poderosos vocativos de experiências do
passado. Tais experiências estão associadas a “conceitos” que emergem
juntamente com a lembrança.
A Eucaristia é, essencialmente, um ato memorial. Quando Jesus diz: “fazei
isto em memória de mim” (Lc 22.19), estava, em outras palavras, dizendo:
“nunca se esqueçam de mim” — e as refeições comunais são “inesquecíveis”.
Ao folhearmos as páginas dos Evangelhos em busca das alusões aos
momentos de refeição comunal entre Jesus, seus discípulos, conhecidos e até
com seus inimigos, ficamos surpresos com a quantidade de referências.
Comunicação pela audição: no culto, tendemos a considerar comunicação
auditiva aquela relacionada aos processos verbais: pregação, leituras, orações,
cânticos, etc. Mas a experiência auditiva vai muito além.
Num filme, por exemplo, a trilha sonora (que é muito mais do que músicas)
provoca alterações no comportamento e no metabolismo do espectador. Pressão
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arterial, batimento cardíaco, funções metabólicas são acelerados ou


desacelerados, dependendo do tipo de sonoplastia adotado.
A “engenharia de emoções” é uma ciência que se estabeleceu definitivamente
a partir da década de 70, principalmente na indústria cinematográfica.
Segundo Peter Krass, “a engenharia de emoções é um ramo recente de
atividades, que tem por objetivo alterar o comportamento involuntariamente,
sem a consciência dos receptores do público, que é manipulado
subliminarmente por sons e cores”.
Slogans e provérbios: “frases feitas”, ditados, máximas, adágios, aforismos,
anexins, brocardos jurídicos, palavras de ordem, clichês e formas verbais do
imperativo apresentam um elevado grau de subliminaridade e tem um enorme
poder persuasivo, não tanto pelo que é dito, mas muito mais pelo como é dito.
Exemplo: “homo loquax, homo mendax”, isto é, “homem falando, homem
mentindo”, ou, “homem eloquente, homem mentiroso” — note-se que quando
dito em português, o dito perde a força da sonoridade loquax/mendax.
Há, inclusive, “sons” no silêncio: os ritmos (alternância sistemática entre
pausa-som-pausa) podem acalmar/relaxar (instalados em consultórios de
dentistas), podem transmitir a sensação de conforto, tranquilidade, segurança e
prazer (72/80 ciclos por minuto: o ritmo do coração); provocar atitudes (20
ciclos por segundo: em bancos, levando funcionários e clientes a fazerem
investimentos; em supermercados, para evitar furtos...).
Comunicação pela visão: nós, humanos, tendemos a supervalorizar o sentido
da visão. Dizem os neurocientistas que 87% da arquitetura cerebral destinam-
se ao processamento de informação visual.
Culturalmente falando, “estamos indo ao encontro de uma época mais
visual”, no qual “o que é visto é mais importante do que aquilo que é escrito”
(Margaret Mead).
A psicodinâmica das cores demonstra que as cores produzem efeitos
subliminares (desapercebidos) psicossomáticos.
Parece haver uma “evolução” do vermelho para o azul: crianças são atraídas
por cores quentes; há antropólogos que dizem que isso se evidencia no padrão
cultural dos povos, de modo que aqueles que têm um estilo mais primário
tendem a ser mais coloridos e a ornamentarem-se com cores mais vivas, ao
passo que as sociedades mais “civilizadas” tendem a preferir cores mais sóbrias.
Cor é luz. Cada cor equivale a um comprimento de onda: cada comprimento
de onda tem um efeito físico, e mesmo biofísico. A primeira sensação de cor
ocorre no complexo límbico causando instantâneas reações emocionais e
estimulando as glândulas pituitária e pineal. Tais reações ativam o sistema
endócrino, ativando o hipotálamo (cérebro réptil) e causando ativação do
sistema nervoso simpático e parassimpático.
Esse é trajeto da cor que causará fome, sede ou excitação sexual direto no
cérebro, agindo subliminarmente, sem ser percebida.
Pesquisadores explicam os efeitos psicossomáticos das cores: o azul tem
efeito calmante; o vermelho tem efeito oposto; o amarelo avermelhado ativa as
funções do metabolismo do hipotálamo, despertando a fome e alterando a
atividade gástrica. As cores intensas, de longos comprimentos de ondas,
aumentam a circulação sanguínea e aumentam a força muscular.
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Assim, a cor pode induzir subliminarmente a escolha de uma embalagem na


prateleira de um supermercado, pode ajudar a trabalhar mais tranquilamente,
pode regularizar a pressão arterial, ser relaxante...
Todas essas informações podem nos inspirar e ampliar nosso horizonte
criativo na preparação de liturgias mais comunicativas — uma vez que
estabelece pontes de interação com o indivíduo todo, e não somente com sua
racionalidade.

A cultura e o culto

A criatividade litúrgica possibilita o recurso à expressão artística de modo


geral. Classicamente, a arte tem sido agrupada em sete formas de expressão
(isso serve apenas para fins didáticos, pois a arte não pode ser confinada).
A Literatura, que é a arte da palavra, está associada a toda palavra bem-dita
na liturgia: as leituras e litanias, as orações e bênçãos, a palavra cantada e
declamada, e a palavra pregada e explicada. Nem tudo o que se diz, escreve e lê,
tem o status de literatura — as palavras organizadas alfabeticamente num
dicionário não produzem, amiúde, reações como ternura, alegria, consternação,
êxtase, alegria, saudade... A palavra se torna literatura quando é bela, quando
faz diferença em quem a pronuncia e em quem a ouve. No culto, a verdadeira
literatura são as palavras bem-ditas que provocam o encontro com a Palavra
divina.
A Coreografia, que é a arte do movimento, está associada a todo movimento
e a toda movimentação intencional, no contexto celebrativo. Quando nos
levantamos para ouvir a leitura bíblica, ou para cantar; quando nos ajoelhamos
para orar; quando nos dirigimos ao altar para o ofertório ou para um ato de
consagração; quando o celebrante repete o gesto de partir o pão e servir o cálice
ou estende os braços para dar a bênção, etc. — são todos movimentos
coreográficos. Não são gratuitos, são intencionais e carregados de sentido.
A Arquitetura, que é a arte do espaço vazio, do espaço que se abre para
acolher o belo, está associada, no contexto celebrativo, a toda a ambientação
que transforma os lugares comuns em espaços sagrados, espaços de encontro
do efêmero com o eterno, do finito com o infinito, do mortal com o imortal.
Nesse espaço não cabe o assessório, tudo deve ser essencial, não cabe o
descuidado, o desarrumado, o improvisado, tudo tem que corresponder à
dignidade do evento que ali se dá.
A Escultura, que é a arte do volume, relaciona-se às texturas, formas e
sensações que estas provocam. Superfícies ásperas e formas pontiagudas
transmitem sensação de desconforto, de repulsa. Formas curvas e superfícies
lisas ou aveludadas dão ideia de acolhimento afetivo. O círculo tem força
centrípeta, convida para o centro, para a comunhão; o quadrado sugere a força
centrífuga que envia para a missão; o triângulo transmite ideia de estabilidade,
daquilo que não sofre abalo, que permanece o mesmo, “ontem, hoje e
eternamente” (cf. Hb 13,8).
A Pintura, que é a arte da cor, nos ajuda a celebrar com a luz. Pinturas e
vitrais são apenas uma parte do poder comunicativo das cores no contexto
celebrativo. Os paramentos, os ornamentos, as vestes litúrgicas dos
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celebrantes, os tapetes, cortinas e toalhas, tudo no espaço celebrativo deve ser


pensado e ressignificado. Eis a importância da decoração que,
etimologicamente, sugere o sentido de ambientar com cor e com o coração.
A Música, que é a arte do som, é a rainha das artes. Que seria das nossas
liturgias não fosse a música? Sua força está na sua capacidade de aproximar
razão e emoção e de alcançar, por isso mesmo, um nível tão profundo de
comunicação como nenhuma outra arte consegue. Quando cantamos, a
combinação entre letra, melodia, harmonia e ritmo fundem-se, de tal maneira,
integrando diferentes níveis do nosso ser. Corpo, alma e espírito se fundem
plenamente. Música é arte e ciência, é emoção e sensação, é gramática e
matemática. Ouvir música é ouvir Deus!
E a controvertida “sétima arte”, o Cinema, que combina as várias artes. Um
ótimo desafio para a equipe de liturgia é pensar a liturgia como se estivesse
preparando para gravar um filme: roteiro e script (literatura), ação (coreografia),
o cenário e ambientação (arquitetura), as cores, luzes e sombras (pintura), e a
trilha sonora (música).

A Equipe ou Ministério de Liturgia

A constituição de uma Equipe ou Ministério de Liturgia, em cada igreja local,


é uma tarefa que deve ser realizada com toda responsabilidade e com a
participação representativa das várias expressões da espiritualidade da
comunidade. O acompanhamento do pastor ou pastora é fundamental
(canonicamente, é ele/a quem responde pela liturgia na igreja local).
Pode se estruturar a equipe em setores encarregados de executar tarefas
específicas, sempre em articulação com a equipe como um todo. A seguir,
oferecemos uma sugestão de organização desses setores:
 Palavra e Texto: Responsável pela criação, edição, editoração e arquivo
das liturgias, bem como pela escala das pregações.
 Espaço e Movimento: Responsável pela ambientação e decoração dos
espaços celebrativos, bem como por expressões, atuações e performances
cênicas específicas.
 Luz e Sombra: Responsável pela comunicação sensorial (tato, olfato,
paladar, audição e visão) por meio de recursos audiovisuais, projeções
multimídia, elementos concretos, diferentes texturas, etc.
 Silêncio e Som: Responsável pela parte musical (vocal e instrumental) das
celebrações, o que inclui a condução do Coro, e formação de grupos
vocais e instrumentais.
A equipe deve ainda observar os vários processos para que as liturgias sejam
consistentes:
 Investigação e pesquisa no campo da liturgia e da arte litúrgica, para que
os atos tenham profundidade teológica;
 Criação e produção de ordens, textos e cânticos litúrgicos;
 Execução e condução celebrativa dos cultos;
 Documentação e avaliação das produções litúrgicas da equipe mantendo
registro e arquivo de tudo, de modo a possibilitar o acesso e a revisão
criteriosa das liturgias produzidas e celebradas;
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 Capacitação e socialização da experiência litúrgica, disponibilizando o


acervo (impresso e/ou digital).

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