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Thaumazein, Ano V, Número 11, Santa Maria (Julho de 2013), pp. 272-286.

A SUMMA LOGICAE DE GUILHERME DE OCKHAM (PARTE II, CAPÍTULOS 1-2)


THE SUMMA LOGICAE OF WILLIAM OF OCKHAM (PART II, CHAPTER 1-2)

Pedro Leite Junior1

1. Apresentação

Guilherme de Ockham (1280/1285 – 1347/1350) é corretamente reconhecido como um


dos mais significantes lógicos da Idade Média. Ockham considera que a lógica é crucial para
o avanço do conhecimento. Assim, para ele, a lógica é, dentre todas as artes, o instrumento
mais apto, aquele sem o qual nenhuma outra ciência pode ser perfeitamente conhecida. Neste
âmbito, sua obra magna é a Summa Logicae2. A obra está divida em três grandes partes.
A parte I trata dos termos. Nesta é apresentado um acurado estudo das divisões e
funções que os termos desempenham no âmbito da linguagem. De fato, Ockham examina e
desenvolve a teoria semântica das propriedades dos termos. Ademais, inclui uma discussão
dos cinco ‘predicáveis’ da Isagoge de Porfírio e de cada uma das dez categorias de
Aristóteles. Ao final encontra-se uma exposição de um dos importantes tópicos da lógica
terminista, a saber, a teoria semântica da ‘suposição’.
A Parte II trata das proposições. Nesta é fornecida uma sistemática teoria das condições
de verdade acerca dos quatro tipos de proposições assertóricas categóricas, a partir do
‘Quadrado das Oposições’. Além disso, é apresentada uma teoria a respeito de proposições
categóricas e hipotéticas (ou moleculares) temporais e modais.
A Parte III trata dos silogismos e está subdividida em quatro subpartes. A Parte III-1
trata dos silogismos, incluindo uma completa teoria da silogística modal. A Parte III-2, em
particular, aborda o silogismo demonstrativo. A Parte III-3 apresenta a teoria das
consequências de Ockham, embora também inclua discussões dos paradoxos semânticos

1
Professor Adjunto do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pelotas
(UFPel).
2
Guilherme de OCKHAM. Summa Logicae. In: Opera Philosophica I. Ed. Ph. Boehner, G. Gál e S. Brown.
Cura Instituti Franciscani, Universitatis S. Bonaventure, St. Bonaventure, N. Y., 1974. Da Parte I há traduções
em línguas estrangeiras e uma tradução para o português, a saber: Guilherme de OCKHAM. Lógica dos termos.
Tradução de Fernando Pio de Almeida Fleck. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999. Da Parte II, por sua vez, há duas
traduções para línguas estrangeiras, respectivamente o francês e o inglês: Guillaume D’OCKHAM: Somme de
Logique. Deuxième Partie. Traduit du latin par Jöel Biard. Èdition T.E.R.: Mauvezin, 1996; William of
OCKHAM. Ockham’s Theory of Propositions: Part II of the Summa Logicae. Translated by Alfred J.
Freddoso and Henry Schuuman. Introd. Alfred J. Freddoso. Indiana: St. Augustine’s Press, 1998. Até o
momento, que eu saiba, não há tradução da Parte III.
LEITE Jr, P. A Summa Logicae de Guilherme de Ockham (Parte II, Capítulos 1-2)

(também conhecido como Insolubilia), como, por exemplo, o ‘Paradoxo do Mentiroso’ e da


disputa designada como Obligatio. A Parte III-4 é uma discussão sobre as falácias.
A Parte II é a mais breve das três que compõem a Suma Lógica. Ela é composta de 37
capítulos. Em sua estrutura geral, entre os capítulos de 1 a 20, Ockham estabelece as
condições de verdade das diferentes espécies de proposições. A seguir, entre os capítulos 21 a
37, ele analisa as relações de conversão entre proposições.
No capítulo 1, Ockham faz a divisão geral das proposições. De fato, ele apresenta sete
distinções entre as proposições explicando-as e as exemplificando. A primeira distinção é
entre proposições categóricas e proposições hipotéticas, sendo essa última é dividida em
copulativas, disjuntivas, condicionais, causais e temporais. A segunda distinção diz respeito a
proposições modais e proposições de inerência. A terceira distinção trata de proposições
categóricas equivalentes a proposições hipotéticas e proposições categóricas não equivalentes
a proposições hipotéticas. A quarta distinção é entre proposições afirmativas e negativas. A
quinta entre proposições universais, particulares, indefinidas e singulares. Na sexta é exposta
a distinção entre proposições de tempo, isto é, proposições do presente, proposições do
passado e proposições do presente equivalentes a proposições do passado e do futuro. Por fim,
a distinção entre proposições no caso nominativo [in recto] e proposições no caso oblíquo [in
obliquo].
A partir do capítulo 2, Ockham inicia o estudo acerca do estabelecimento das condições
de verdade das diferentes espécies de proposições; especificamente neste capítulo aborda o
que é requerido para a verdade de proposições singulares de inerência [de inesse]; no presente
[de praesenti]; no caso nominativo [de recto] sujeito e do predicado e de proposições não
equivalentes a uma proposição hipotética.
A notação da tradução utiliza “[ ]” a fim de indicar a inclusão de termos para a claridade
do texto. A utilização de “( )” mostram as palavras latinas em itálico que servem para
esclarecer os conceitos. As notas foram reproduzidas do original e traduzidas quando
necessário. Há notas iniciadas por “*” que indicam outra opção de tradução.

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2. Tradução

PARTE II. SOBRE AS PROPOSIÇÕES


Capítulo 1
Sobre a divisão geral das proposições

Depois que foram ditas algumas coisas sobre os termos, agora, em segundo lugar, deve
ser dito sobre as proposições3. E, primeiramente, devem ser postas algumas divisões; em
segundo lugar, deve ser visto o que é requerido e o que basta para a verdade da proposição;
em terceiro lugar, devem ser investigados alguns aspectos sobre a conversão das proposições.

Acerca do primeiro ponto, deve ser sabido que uma divisão de proposições é que
algumas das proposições são categóricas, outras são hipotéticas. A proposição categórica é
aquela que tem sujeito, predicado e cópula, e não inclui mais proposições de tal sorte. A
proposição hipotética é aquela que é composta a partir de várias [proposições] categóricas. E
ela é dividida em cinco espécies, segundo a opinião comum 4 , a saber, em copulativa,
disjuntiva, condicional, causal e temporal.

A [proposição] copulativa é aquela que é composta de várias proposições, sejam


categóricas ou hipotéticas, seja uma categórica e outra hipotética, mediante esta conjunção
‘e’. Um exemplo do primeiro [tipo] é este: ‘Sócrates corre e Platão debate’. Um exemplo do
segundo [tipo]: ‘se Sócrates existe, existe um animal, ou Sócrates corre e Platão debate’. Um
exemplo do terceiro [tipo]: ‘se um homem corre, um animal corre e Sócrates debate’.
Contudo, porque tais [proposições] raramente são usadas, por isso mesmo pretendo falar
especificamente sobre as primeiras, que, a saber, são compostas de duas [proposições]
categóricas.

A proposição disjuntiva é aquela que é composta de várias proposições mediante esta


conjunção ‘ou’.

3
Sobre os enunciados muito é ensinado por Ockham in Expositione libri Periherm. Aristot., que é a última
parte da Expositionis Aureae, ed. Bononiae, 1496; cf. Aristóteles., Anal. Priorat I, cc. 1-3 (24a 10 - 25b 25).
4
Cf. Boethius, De syllogismo hypothetico (PL 64, 831-35); et Petrus Hispanus, Summulae Logicales, tract. I
(ed. cit., p. 7s.), que, no entanto, não trata a proposição causal e de temporal.
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A [proposição] condicional é aquela que é composta de várias proposições mediante


esta conjunção ‘se’, assim como ‘se um homem corre, um animal corre’, ou ‘um homem
existe, se Sócrates existe’; porque não importa se esta conjunção está colocada antes da
primeira proposição ou se está colocada entre aquelas proposições.

A proposição causal é aquela que é composta de várias proposições mediante esta


conjunção ‘porque’ (quia), assim como ‘porque um homem corre, um homem é movido’.

A [proposição] temporal é aquela que é composta de duas proposições mediante algum


advérbio de tempo, como ‘quando Sócrates corre, Platão debate’; semelhantemente ‘enquanto
Sócrates corre, João é um homem’, e assim quanto aos demais casos.

Uma outra divisão da proposição é que uma certa [proposição] é uma proposição de
inerência (de inesse) e uma certa [proposição é] de modo ou modal. Uma proposição modal é
aquela na qual é posto o modo. Uma proposição de inerência é aquela que está sem o modo.

E deve ser sabido que todos os Sofistas5 como que concordam que tão somente quatro
modos, a saber, ‘necessário’, ‘impossível’, ‘contingente’ e ‘possível’, formam uma proposição
modal, e isto porque o Filósofo não faz menção a mais modos, e nem determinou sobre mais
[modos] no Livro I dos Primeiros analíticos6, tratando da conversão de tais proposições e dos
silogismos compostos a partir delas. Contudo, haja vista que ele não negou outros [modos],
por isso mesmo, falando-se mais geralmente, pode ser dito que mais do que quatro são os
modos que formam as proposições modais.

E acerca disso, deve ser sabido que a proposição é chamada de modal por causa do
modo adicionado na proposição. Mas, nenhum modo é suficiente para fazer uma proposição
modal, mas é necessário que seja um modo predicável de proposição toda, e, por isso, é
propriamente chamado ‘modo proposicional’ na medida em que é verificável desta mesma
proposição. E, por tal modo, ou um advérbio predicável de tal sorte, se tiver um advérbio, ou
o verbo é chamado de proposição modal. Mas, tais modos são mais do que os quatro
anteriormente ditos: pois assim como uma proposição, outra é impossível, outra possível,
outra contingente, deste modo uma proposição é verdadeira, outra falsa, outra conhecida,

5
Cf. Albertus Magnus, Liber II Periherm., tract. II, c. 1 (ed. A. Borgnet, I, Parisiis 1890, 440-42); Thomas
Aquinas (?), De propositionibus modalibus (Opusc. XXXVI); Summulae Dialectices atribuída a Rogero
Bacon, ed. R. Steele, Opera hactenus inedita Rogeri Baconi, Fasc. XV, Oxonii 1940, 263s.
6
Cf. Aristot., Anal. Priora, I, cc. 2-3, 25a 1 - 25b 25.
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outra ignorada, outra falada, outra escrita, outra concebida, outra crida, outra opinada, outra
duvidada, e assim por diante. E, por isso mesmo, assim como uma proposição é dita modal na
qual é posto este modo ‘possível’ ou ‘necessário’ ou ‘contingente’ ou ‘impossível’, ou um
advérbio de algum desses [modos], deste modo pode ser dito igualmente, de modo racional,
uma proposição modal na qual é posto algum dos modos acima mencionados. E, por isso,
assim como esta [proposição] é modal ‘é necessário que todo homem seja um animal’ e,
semelhantemente, esta [proposição] ‘todo homem necessariamente é um animal’, assim
também é esta [proposição] modal ‘é conhecido que todo homem é um animal’, ‘todo homem
é conhecido ser um animal’, semelhantemente ‘é verdade que todo homem é um animal’, e
assim por diante.

E se for perguntado por que o Filósofo não tratou destas [proposições], e nem
enumerou estas entre as proposições modais, deve ser dito que o Filósofo, considerando
brevemente, - porque aquilo que ele disse sobre as outras [proposições] pode ser aplicado a
estas – não quis tratá-las de maneira expansiva. De que modo, porém, muito do que foi dito
sobre as outras [proposições] modais poderá ser aplicado a estas, [isso] ficará manifesto no
que segue7.

A terceira divisão das proposições categóricas pode esta que alguma proposição
categórica é equivalente à proposição hipotética, ainda que seja categórica, outra, porém, não
é assim equivalente à proposição hipotética. As primeiras proposições são exclusivas,
exceptivas8, reduplicativas e determinadas outras. Por isso mesmo, sempre que um termo
concreto, pelo primeiro modo, for feito predicado ou for feito sujeito, tal proposição equivale
a uma proposição hipotética, assim como ficará evidente. As outras são como tais
[proposições] ‘um anjo é substância’, ‘Deus existe’, ‘Deus é Pai’ e deste tipo.

Uma outra divisão das proposições é que uma [proposição] é afirmativa e uma
[proposição] é negativa9.

Uma outra divisão é que uma determinada [proposição] é universal, uma é particular,
uma é indefinida, uma é singular. Uma proposição universal é aquela na qual é feito sujeito
um termo comum determinado por um signo universal, seja ela afirmativa ou negativa, assim

7
Infra, cap. 29.
8
* Ou: “de exceção“.
9
Cf. Aristot., Anal. Priora, I, c. 1, 24a 16-22.
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como ‘todo homem é um animal’, ‘nenhum homem é um animal’, ‘cada um destes corre’, e
assim sobre os demais casos. Uma proposição particular é aquela na qual é feito sujeito um
termo comum determinado pelo signo particular, assim como ‘algum homem corre’, ‘um
determinado homem corre’, e assim sobre os demais casos. Uma proposição indefinida é
aquela na qual é feito sujeito um termo comum tanto sem o signo universal quanto sem o
particular, assim como ‘um homem é um animal’, ‘um animal corre’, e assim sobre os demais
casos. Uma proposição singular é aquela na qual é feito sujeito um nome próprio de alguém
ou um pronome demonstrativo, ou um pronome demonstrativo com um termo comum. Um
exemplo do primeiro [caso] ‘Sócrates corre’; um exemplo do segundo ‘este corre’, tendo sido
mostrado quem quer que seja; um exemplo do terceiro ‘este homem é um animal’.

Contudo, sobre muitas proposições pode-se ter dúvida quantas são, assim como sobre
estas:

‘Estes correm’.

‘Um destes corre’.

Semelhantemente acerca da parte copulativa, em que é feito sujeito algum [pronome]


relativo, assim como ‘Sócrates corre, e aquele debate’.

Semelhantemente acerca de tais [proposições] ‘não é o caso que todo homem corre’,
‘não é o caso que nenhum homem é um animal’ e deste tipo.

Semelhantemente acerca de tais [proposições] ‘o homem é uma espécie’, ‘o animal é


um gênero’, ‘homem está no nominativo’ e deste tipo.

Semelhantemente acerca de tais [proposições] ‘Deus cria’, ‘Deus gera’, ‘Deus é Pai,
Filho e Espírito Santo’.

Quanto ao primeiro destes [exemplos], deve ser dito que esta é [uma proposição]
singular ‘estes correm’, porque tal pronome demonstrativo está na posição do sujeito.

E caso seja dito que a uma proposição singular jamais é adicionado, de maneira
conveniente, um signo universal, assim como não é dito de maneira conveniente ‘todo
Sócrates corre’, assim também não é dito de maneira conveniente ‘todo este corre’ ou ‘todo
este é um animal’, mas é dito de maneira conveniente ‘todos estes correm’, portanto esta
proposição ‘estes correm’ não é singular:
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Deve ser dito que, segundo o modo comum de falar, a um termo plural, ainda que seja
um pronome demonstrativo, é adicionado convenientemente um tal signo, ainda que talvez,
falando em sentido estrito, não deveria ser-lhe adicionado, porque estas duas [proposições]
são totalmente equivalentes10 ‘estes correm’ e ‘todos estes correm’. Se a segunda [proposição]
é própria, nada de diferente é trazido por uma do que por outra. Contudo, assim como às
vezes a mesma expressão é repetida da parte do mesmo extremo por causa de uma certa
causa, assim também por causa de uma maior expressão ou impressão, ou por causa de
alguma causa tal é adicionado um signo universal a tal pronome plural, embora pelo sentido
literal e pelo sentido próprio não deveria ter-lhe sido adicionado.

Quanto ao segundo [exemplo], deve ser dito11 que esta [proposição] ‘um destes corre’
é indefinida, assim como ‘cada um destes corre’ é universal, porque tal signo universal,
distribuindo somente sobre dois [objetos], pode ser adicionado a um pronome plural e tornar
[uma proposição] uma proposição universal. E, por isso mesmo, o que foi dito antes12, [isto
é,] que é singular aquela proposição na qual é feito sujeito um pronome demonstrativo, deve
ser entendido quando aquele pronome é tomado no nominativo; quando, porém, é tomado no
caso oblíquo, não é necessário, mas poderá ser universal ou indefinida. E, do mesmo, quando
é dito que uma proposição universal é aquela na qual é feito sujeito um termo comum com um
signo universal, deve ser entendido o seguinte: quando [também] é adicionado tal signo a um
pronome no caso genitivo. E, por isso, são universais tais [proposições] ‘cada um destes
corre’, ‘quaisquer destes é um homem’, e assim sobre os demais casos. Semelhantemente, são
particulares tais [proposições] ‘algum destes corre’, ‘algum destes é um animal’, porque é
adicionado um signo particular ao pronome no caso genitivo plural, e o signo é tomado no
nominativo.

Quanto ao terceiro [exemplo], deve ser dito13 que quando o pronome relativo se refere
ao nome discreto, então, torna a proposição singular; quando se refere ao nome comum, então
torna a proposição indefinida. E por isso, nesta proposição ‘Sócrates corre e ele disputa’,
embora seja própria, a segunda parte da [proposição] copulativa é singular. Mas a segunda
parte desta [proposição] copulativa ‘um homem corre e ele disputa’ é indefinida, e isso porque

10
* Ou: “equipolentes”.
11
Supra, lin. 96. [cf. ed. original].
12
Supra, lin. 88-90. [cf. ed. original].
13
Supra, lin. 97-98. [cf. ed. original].
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o pronome relativo supõe pelo mesmo ou pelos mesmos pelo qual ou pelos quais supõe o seu
antecedente, e por isso deve fazer respectivamente a proposição singular ou indefinida,
conforme se o antecedente é nome discreto, ou próprio, ou comum.

Quanto ao quarto [exemplo], deve ser dito14 que são particulares tais proposições ‘não
é o caso que todo homem corre’ e ‘não é o caso que todo nenhum homem é um animal’, e isto
porque a negação precede o signo universal. E, por isso, quando se diz que a proposição
particular é aquela na qual é feito sujeito o termo comum, etc., deve ser entendido: se a
negação não precede um signo particular, e quando é feito sujeito um termo comum com um
signo universal precedido pela negação. E por isso, são particulares tais proposições ‘não é o
caso que todo homem corre’, ‘não é o caso que nenhum homem é um animal’; e são
universais tais proposições ‘não é o caso que algum homem corre’, ‘não é o caso que um
determinado homem não corre’, e outras semelhantes.

Quanto a outra dúvida15 [quinto exemplo]: a respeito de proposições como ‘o homem


é espécie’, ‘o animal é gênero’, ‘homem está no nominativo’, e de modo universal quando o
termo supõe simplesmente ou materialmente, pode ser dito quase ao bel prazer ou que são
proposições singulares ou indefinidas, porque isto, mais do que da coisa, depende da intenção
daqueles que usam esses termos ‘proposição singular’, ‘proposição indefinida’.

E por isso aquele que quer dizer que universalmente é indefinida aquela proposição na
qual é feito sujeito o termo comum sem um signo e sem uma negação precedente, deve dizer
que todas as proposições desse modelo são indefinidas. Aquele, porém, que quer utilizar de
outra maneira, deve dizer de outra maneira; porque deve dizer que não é suficiente que assim
seja tomado como sujeito o termo comum, mas é necessário acrescentar que tal termo comum
supõe pessoalmente; e então são singulares todas as proposições deste tipo onde os termos
supõem simplesmente ou materialmente.

Quanto ao outro16 [argumento], [responde-se] praticamente pelo mesmo: porque o que


quer chamar uma proposição indefinida toda a proposição na qual é feito sujeito um termo
predicável de muitos supósitos distintos realmente, deve dizer que estas [proposições] ‘Deus
gera’, ‘Deus cria’ e deste tipo são indefinidas, e isso porque ‘Deus’ é tal termo predicável de

14
Supra, lin. 99-100. [cf. ed. original].
15
Supra, lin. 101-102. [cf. ed. original].
16
Supra, lin. 103-104. [cf. ed. original].
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muitos. O que, porém, quer dizer que a proposição não é indefinida a não ser que seja
predicado um termo comum a muitos, os quais não são uma única coisa pura e simplesmente,
deve dizer que ‘Deus cria’ e deste tipo são [proposições] singulares, e não indefinidas.

Deve ser dito, portanto, que uma proposição universal é aquela na qual é feito sujeito
um termo comum determinado pelo signo universal, sem a negação precedente, por causa de
tais [proposições] ‘não é o caso que todo homem corre’, ‘não é o caso que nenhum homem é
um animal’; ou na qual é feito sujeito um termo comum sem o signo universal, com a negação
precedente, por causa de tais [proposições] ‘não é o caso que algum homem corre’, ‘não é o
caso que um homem é um animal’, as quais são universais; ou na qual é feito sujeito um
pronome demonstrativo do caso genitivo plural com o signo universal, sem a negação
precedente, por causa de tais [proposições] ‘cada um dos dois corre’, ‘todo e qualquer destes é
um homem’; ou na qual é feito sujeito um pronome relativo referente ao seu antecedente,
permanecendo confusa e distributivamente, por causa de tais [proposições] ‘todo homem
corre e aquele debate’, porque a segunda parte da copulativa é universal assim como a
primeira. E a estes [casos] deve ser adicionado que um tal termo supõe pessoalmente, segundo
uma opinião. E, por isso mesmo, segundo aquela opinião esta [proposição] ‘todo homem: é
um termo comum com signo universal’ não é universal, e nem esta ‘todo homem: é composto
do termo comum e do signo universal’. Mas, segundo esta opinião deve ser concedido, em
sentido literal, que uma mesma proposição idêntica, pelo número, é universal e singular,
porque na mesma proposição pelo número o mesmo termo pode supor simples ou
materialmente e pessoalmente. E se o termo supõe simples ou materialmente, a proposição
será singular; se pessoalmente, ela será universal. A título de exemplo, seja colocado que há
duas pessoas que me respondem, e que para uma delas, quando eu profiro esta proposição
‘todo homem: é um termo comum determinado pelo signo universal’ eu determine que eu
quero que esta expressão ‘todo homem’ esteja materialmente, então este concederia que ela é
singular; ao outro que eu determine que eu quero que o sujeito esteja pessoalmente, então
aquele concederia que ela é universal. Tendo sido posto isso, uma única proposição é
enunciada e, contudo, um deles, respondendo com correção, dirá que ela é singular e o outro
que ela é universal; e, por conseguinte, uma única proposição será singular e universal. E
tampouco isso é mais inconveniente que dizer que uma mesma proposição, pelo número, é
conhecida e desconhecida, porque a conhecida a um é desconhecida ao outro. E, deste modo,

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deve ser concedido em sentido literal, segundo esta opinião, que uma mesma proposição, pelo
número, é verdadeira e falsa; necessária e impossível, e que o mesmo silogismo é uma
demonstração e um silogismo sofístico, que peca na forma.

O que, contudo, deverá ser dito sobre estes [casos], ficará manifesto no que segue17.

A partir do que foi dito, é possível facilmente saber que uma proposição é universal,
que uma é indefinida e uma é singular.

A sexta divisão das proposições pode ser esta que determinadas proposições são do
presente, assim como estas ‘um homem é um animal’, ‘um homem corre’ e deste tipo;
determinadas são do passado, assim como estas [proposições] ‘Sócrates foi um homem’,
‘Sócrates foi branco’ e deste tipo. Determinadas [proposições], segundo a forma da palavra,
são do presente e, contudo, equivalem a proposições do passado ou do futuro, assim como tais
[proposições] ‘isto é futuro’, ‘isto é passado’ e deste tipo.

Uma outra divisão é que determinadas proposições são no nominativo e determinadas


no caso oblíquo; e às vezes o oblíquo é posto da parte do sujeito, assim como ‘um homem vê
um asno’ (‘hominem videt asinus’), às vezes da parte do predicado, assim como aqui ‘um asno
é de um homem (‘asinus est hominis’).

Capítulo 2

O que é requerido para a verdade de uma proposição que é singular e de


inerência

Tendo sido anunciadas as divisões das proposições, que não são, contudo,
subordinadas [uma à outra], deve ser visto o que é requerido para a verdade das proposições.
E, primeiramente, sobre as proposições singulares de inerência (de inesse), no presente (de
praesenti) e no nominativo (de recto), tanto da parte do sujeito quanto da parte do predicado,
e não equivalentes a uma proposição hipotética.

17
Cf. infra, cap. 3-4.
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E acerca disso deve ser dito que, para a verdade de tal proposição singular, que não
equivale a muitas proposições, não é requerido que o sujeito e o predicado sejam idênticos
realmente. E tampouco [é requerido] que o predicado, da parte da coisa, seja no sujeito ou se
encontre realmente no sujeito – assim como, para a verdade desta [proposição] ‘este é um
anjo’ não é requerido que este [termo] comum ‘anjo’ seja realmente idêntico com isto que é
posto da parte do sujeito; e tampouco [é requerido] que ele se encontre naquele realmente, e
nem algo de tal sorte –, mas é suficiente e é requerido que o sujeito e o predicado suponham
pelo mesmo. E, por isso mesmo, se nesta [proposição] ‘este é um anjo’ o sujeito e o predicado
supõem pelo mesmo, a proposição será verdadeira. E, por isso, não está expresso que este
tenha a angelidade (angelitatem) ou que neste seja a angelidade (angelitas) ou algo deste tipo,
mas é expresso que este é verdadeiramente um anjo; não, com efeito, que seja aquele o
predicado, mas que ele seja aquilo pelo que o predicado supõe.

Semelhantemente, também por tais proposições ‘Sócrates é homem’, ‘Sócrates é


animal’ não é denotado que Sócrates tenha a humanidade ou a animalidade; e nem é denotado
que a humanidade ou a animalidade seja em Sócrates, e nem que o homem ou o animal sejam
em Sócrates, e nem que o homem ou o animal sejam da essência ou da qüididade de Sócrates
ou do intelecto qüiditativo de Sócrates, mas é denotado sim que Sócrates verdadeiramente é
um homem e verdadeiramente é um animal. Não, com efeito, que Sócrates seja este predicado
‘homem’ ou este predicado ‘animal’, mas é denotado que há alguma coisa, pela qual está ou
supõe este predicado ‘homem’ e este predicado ‘animal’, porque ambos aqueles predicados
estão por Sócrates.

A partir disso fica evidente que todas [proposições] tais em sentido literal (de virtute
sermonis) são falsas: ‘homem é da qüididade de Sócrates’, ‘homem é da essência de
Sócrates’, ‘a humanidade está em Sócrates’, ‘Sócrates tem a humanidade’, ‘Sócrates é o
homem pela humanidade’, e muitas proposições afins, as quais como que são concedidas por
todos. A falsidade delas fica evidente; pois eu tomo uma dessas, a saber, esta [proposição] ‘a
humanidade está em Sócrates’, e pergunto pelo que está esta humanidade? Ou bem pela coisa
ou pela intenção, isto é, ou bem é denotada por meio desta [expressão] que a coisa fora da
alma é em Sócrates, ou que a intenção da alma é em Sócrates. Se ela supõe pela coisa,
pergunto por que coisa? Ou bem por Sócrates, ou por uma parte de Sócrates ou pela coisa que
nem é Sócrates nem uma parte de Sócrates. Se [ela supõe] por Sócrates, então ela é falsa,
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porque coisa nenhuma que é Sócrates é em Sócrates, porque Sócrates não é em Sócrates,
muito embora Sócrates seja Sócrates. E, do mesmo modo, a humanidade não está em
Sócrates, mas é Sócrates, se a humanidade supõe pela coisa que é Sócrates. Se, porém, a
humanidade está pela coisa que é uma parte de Sócrates, isto é falso, porque toda e qualquer
coisa que é parte de Sócrates ou é matéria, ou é forma ou é composto de matéria e forma, e
uma única forma do homem e não uma outra, ou é parte integral de Sócrates. Mas, nenhuma
de tais partes é a humanidade, assim como fica evidente indutivamente: porque a alma
intelectiva não é a humanidade. Pois, do contrário, a verdadeira humanidade teria
permanecido em Cristo no espaço de três dias (in triduo), e verdadeiramente a humanidade
teria sido unida ao Verbo no espaço de três dias, e, por conseguinte, ele teria sido
verdadeiramente homem, o que é falso. Semelhantemente, nem a matéria é a humanidade,
nem o corpo de Sócrates é a humanidade, nem o pé, nem a cabeça, e assim sobre as demais
partes de Sócrates, porque nenhuma parte de Sócrates é a humanidade, mas tão somente uma
parte da humanidade, e, por conseguinte, a ‘humanidade’ não pode supor por uma parte de
Sócrates. Se [aquela expressão] supõe pela coisa que não é nem Sócrates e nem uma parte de
Sócrates, visto que tal coisa não é senão um acidente ou alguma outra coisa que não é em
Sócrates, ‘humanidade’ suporia por um acidente ou por alguma outra coisa que nem é
Sócrates nem parte de Sócrates, o que é manifesto que é falso. Se, porém, a ‘humanidade’
supõe por uma intenção da alma, então [aquela proposição] é manifestamente falsa, porque a
intenção da alma não é em Sócrates. E deste modo fica evidente que esta [proposição] ‘a
humanidade está em Sócrates’ é totalmente falsa.

Do mesmo modo pode ser argumentado sobre todas aquelas outras [proposições],
porque se o homem ou a humanidade são da essência de Sócrates, pergunto: pelo que supõe
aquele homem ou a humanidade? Ou bem por Sócrates, e então seria denotado [ou: expresso]
que Sócrates seria da essência de Sócrates, o que não é verdade. Se supõe por uma coisa
diferente de Sócrates: ou bem, portanto, por uma parte de Sócrates, e isto não [pode ser o
caso], porque nenhuma parte de Sócrates é o homem ou a humanidade; se por uma coisa
diferente, que não é nem Sócrates nem uma parte de Sócrates, fica evidente que tal coisa não é
o homem nem a humanidade, a não ser que seja Platão, João ou algum outro homem, e é
manifesto que nenhum homem diferente de Sócrates é da essência de Sócrates. Se, porém,
supõe por uma intenção da alma ou por uma palavra, é manifesto que então não é da essência

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de Sócrates. E, deste modo, fica evidente que todas [proposições] tais são falsas em sentido
literal (de virtute sermonis).

E caso seja dito que a humanidade é em Sócrates e é da essência de Sócrates e,


contudo, nem é Sócrates, nem matéria, nem forma, nem parte integral, mas sim uma natureza
comum, que compõe com a diferenciação individual de Sócrates, e deste modo é uma parte de
Sócrates, mas não é nem matéria nem forma:

Contra esta opinião, argumenta-se de muitas maneiras, em diversos locais, a saber, no


primeiro Livro das Sentenças,18 no Livro de Porfírio19 e no Livro dos Predicamentos,20 e
elaboro alguns argumentos, presentemente, contra a [opinião].21

Primeiramente, assim:22 porque se a humanidade é uma coisa diferente dos singulares


e é da essência das coisas singulares, o mesmo, portanto, não seria variado em muitos
singulares, e deste modo o mesmo não variado naturalmente, sem um milagre, seria em
muitos lugares distintos; e isto é manifesto que é falso.

Semelhantemente, então o mesmo, não variado, seria condenado em Judas e salvo em


Cristo, e, deste modo, seria algo mísero e condenado em Cristo, o que é absurdo.

Semelhantemente, então Deus não poderia aniquilar algum indivíduo a não ser que
aniquilasse ou destruísse todos os indivíduos do mesmo gênero, porque, quando alguém é
aniquilado nada dele permanece, e, por conseguinte, tal natureza comum não permanece, e
nem, por conseguinte, algum indivíduo no qual está permanece, e, deste modo, todo e
qualquer indivíduo [do mesmo gênero] seria aniquilado ou destruído.

Além disso, tomo aquela humanidade que pões em Sócrates e em todo outro homem, e
a asnidade (asinitatem) que pões em todo asno, e seja chamada aquela humanidade a, de
modo que a, precisamente, esteja por aquela humanidade; e aquela asnidade seja chamada b,
de modo que b, precisamente, esteja por aquela asnidade. Então pergunto: ou bem a e b são,
precisamente, duas coisas, ou mais que duas, ou não são várias coisas. Não pode ser dito que
18
Guillelmus de Ockham, Scriptum in I Sent., I, d. 2, q. 6, ed. St Bonaventure N. Y., II, pp.160-224.
19
Idem, Expositio in librum Porphyrii de Praedicabilibus, cap. 1, ed. E. A. Moody, St. Bonaventure, N. Y.
1965, pp. 10-15.
20
Idem, Expositio in librum Praedicamentorum Aristot., cap. 8, ad textum: Substantia autem, ed. Bononiae
1496.
21
Também acima, Parte I, c. 14-17, Ockham fez muitos argumentos contra esta opinião.
22
Cf. os argumento de Henrique de Harclay em G. Gál, Henricus de Harclay: Quaestio de significato
conceptus universalis (Fons doctrinae Guillelmi de Ockham), Franciscan Studies, XXXI (1970), pp. 178-234.
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são várias coisas, porque, então, necessariamente ou são uma coisa, ou nem a nem b, ou a não
é uma coisa, ou b não é uma coisa. O primeiro não pode ocorrer, [e isto] é manifesto, também
segundo os que põem assim [o caso]; e nem o segundo [pode ocorrer], porque eles negam
isto, porque não é uma razão maior que b não seja uma coisa que a não seja uma coisa, e nem
o inverso. Logo, é preciso, necessariamente, dar-se que a e b são várias coisas. E não pode ser
dito que são mais que duas coisas, porque se são mais que duas coisas, e não são mais coisas
universais que duas, são, portanto, mais coisas singulares e, por conseguinte, não são
distinguidas pura e simplesmente das coisas singulares. Resta, portanto, que são duas coisas e
não mais, e por conseguinte cada uma delas é una em número, porque ambas, deste modo,
serão uma coisa, pois não [são] muitas; e ser um pelo número é, a saber, ser uma coisa e não
muitas, pois esta deve ser a descrição do um pelo número. Porque, sendo esta [definição]
negada, eu direi tão facilmente que Sócrates não é um pelo número quanto que é um e não
muitos.

Donde segundo a intenção do Filósofo e segundo a verdade da coisa jamais este


predicado ‘ser um pela espécie’ ou ‘ser um ou o mesmo pelo gênero’ é dito senão de um
indivíduo ou de indivíduos, dos quais todo e qualquer é um pelo número. Donde estas
[proposições] ‘Sócrates e Platão são um pela espécie’, ‘Sócrates e este asno são pelo gênero’
são verdadeiras; e não há uma outra coisa além de indivíduos que seja una pela espécie ou
pelo gênero. Consta desta maneira que aquela humanidade que é posta em todo homem é uma
coisa e não muitas, e, por conseguinte, é una pelo número; e, a partir disso, segue-se que uma
coisa una pelo número seria em todo homem.

Quantos aos argumentos, porém, que parecem ser contra esta opinião, calculo
suficientemente respondido por mim, em outro lugar.23

E tampouco é válido dizer que a humanidade de Sócrates não é realmente distinguida


de Sócrates, mas apenas formalmente, porque tal distinção não deve ser posta nas criaturas,
embora possa, de algum modo, ser posta nas [pessoas] divinas. E isto porque nas criaturas é
impossível encontrar uma coisa una pelo número que seja realmente muitas coisas e todas e
quaisquer destas, assim como é em Deus; pois em Deus a essência divina é três pessoas e toda
e qualquer destas pessoas, e, contudo, uma pessoa não é a outra. E não é outra coisa dizer que

23
A saber, nas obras acima, notas 19-22, citadas.
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a essência e a pessoa são distinguidas formalmente, segundo o entendimento verdadeiro,


senão que a essência é três pessoas e uma pessoa não é três pessoas. Semelhantemente,
nenhuma outra coisa entendo por esta [proposição] ‘a essência e a paternidade são
distinguidas formalmente’ senão esta proposição ‘a essência é a filiação e a paternidade não é
a filiação, e, contudo, a essência é a paternidade. Semelhantemente, que a paternidade e a
espiração ativa são distintas formalmente não é outra coisa que dizer que a paternidade não é
a filiação e que a espiração ativa é a filiação, e, contudo, que a paternidade é a espiração
ativa’.

E, deste modo, universalmente, ser verificado de alguns [entes] ‘que eles são distintos
formalmente’ não é outra coisa que, de um destes, ser verdadeiramente afirmado algo ou
verdadeiramente negado do restante, e, contudo, um daqueles é verdadeiramente afirmado do
restante, sem variação nenhuma ou equivocação de algum ou verificação em diversos, assim
como acontece nos particulares e nos indefinidos.

Mas, isto não pode jamais ocorrer senão quando uma coisa simples é muitas coisas,
assim como uma única essência divina é três pessoas, e uma única espiração ativa é a
paternidade e a filiação. E porque isto não pode acontecer nas criaturas, a saber, que uma
única coisa seja muitas coisas e toda e qualquer destas, por isso mesmo, nas criaturas, não
deve ser posta a distinção formal. E, deste modo, fica evidente que não deve ser dito que a
humanidade de Sócrates é formalmente distinta de Sócrates, e não realmente [distinta]; e, pelo
mesmo modo se dá quanto a tais [proposições] ‘a animalidade é distinta do homem’, e assim
quanto aos demais casos. Que, porém, tal distinção formal não deve ser posta nas criaturas,
isso eu provei no primeiro livro das Sentenças, na segunda distinção.24

Recebido em 30.Abr.2013
Aceito em 30.Jun.2013

24
Guillelmus de Ockham, Scriptum in I Sent., d. 2, qq. 1 et 6, ed. St. Bonaventure N. Y., II, 17-20, pp. 160-224.
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