A MÁGICA DA VIDA
CRÔNICAS REUNIDAS
Belo Horizonte
Novembro de 2010
(última atualização)
A Mágica da Vida (crônicas reunidas de Fernanda Leite Bião) 2
A mágica da vida
Cativar
‒ Tu me cativas, menininho?
‒ Cativar, senhorinha?
‒ Sim, pois te esperarei. Tu virás?
‒ Sim. Quero aprender a arte de brincar ‒ disse o menino.
A brincadeira é um jogo simbólico para a compreensão da vida. Uma fala
representada por expressões de uma liberdade diferente.
Brincar de conquistar, brincar de cativar.
Olhos brilham e os corações se tocam. A respiração individual circunda
no mesmo raio de espaço, tornando-se uma manifestação de relação.
Claro que preciso do outro. Do outro que também sou eu. Do outro que
fui e do outro que serei.
A importância do outro está associada ao ato de cativar, de aproximar, de
compartilhar vivências e de florescer afetos.
Uma vez que o coração é tomado pela energia da presença de alguém,
jamais terá o mesmo pulsar.
De pulinhos, esconderijos e aproximações, senhora raposa e o menininho
passaram a se amar.
Do ato à vontade ou será da vontade ao ato?
É preciso movimento, persistência e a permissão do nascimento da
vontade, para se estar junto a outrem. Vontade é o combustível para que o ato se
torne realidade.
De ato em ato, o amor, que era só um desejo, um sonho, torna-se
palpável, singular.
Conquistar é para as coisas. Nós, seres humanos, queremos é ser
cativados!
A Mágica da Vida (crônicas reunidas de Fernanda Leite Bião) 5
Com certeza, terá luzes e outras manifestações, mas pode ser uma
percepção diferente, se eu estiver presente de verdade.
O segredo não é fugir de onde você está nem temer as ofertas que lhe
serão expressas, mas conhecer a si mesmo a ponto de saber escolher, para
crescer e transcender.
Permita-se visitar o seu porão interior. Revisite a sua história de vida.
Muitos buscam fora aquilo que está, em segredo, guardado em si.
Todos os tesouros, como dizem as lendas, estão escondidos, à espera de
um(a) grande desbravador(a), que possa descobri-los.
Para isso, é preciso um mapa (razão), uma bússola (coração), estar atento
aos sinais da vida (intuição) e grande disposição para realizar a missão (força de
vontade).
Trabalho, tenho certeza que vai dar, mas quem disse que seria fácil?
A Mágica da Vida (crônicas reunidas de Fernanda Leite Bião) 7
O desenvolver da doçura
No ir e vir do cotidiano
Ciranda da Vida
pelos pais e pela sociedade, por não serem considerados ainda capazes para
assumir tanta responsabilidade, caracterizando, assim, a moratória.
Uma moratória para a juventude. Acrescento um pouquinho mais: uma
moratória para as juventudes.
E será que são todas? Nem todas as juventudes são iguais ou mesmo
parecidas. Cada jovem vive uma história de vida marcada por contextos,
oportunidades, necessidades e sentidos. A única possibilidade de
homogeneidade entre um Ser jovem e outro Ser jovem poderá ser encontrada no
olhar do adulto, um pouco que saudoso e até invejoso quando caracteriza o
jovem de “problema”, “aborrecente” e mais um bocado de adjetivos que andam
passeando por aí.
Assim, percorremos um percurso e chegamos à vida adulta.
Tanta correria!
Uma exclamação bem posta para uma vida em que a vida exige vida.
Vida para dar conta das obrigações cotidianas, vida para sempre ter
consciência de que estamos “devendo” algo a alguém ou a alguma imposição
social.
Encerra-se o ensino médio, adentra-se o reino da universidade (após se
trilhar o percurso, permeado de angústia e sofrimento, de escolher uma
profissão, diante das possibilidades sociais e econômicas reais). Mais adiante, já
estamos pensando em se formar logo e cuidar da vida profissional.
No final da graduação vem à angústia de novo:
“Será que terei emprego? Preciso fazer uma especialização, mas quem
sabe um mestrado. Ah, meu Deus, eu não sei. Bem, quem sabe outra
graduação?”
Uma imensidão de ideias me assomam e me assombram também. Isso
sem falar nas inúmeras competências exigidas por aí, que deixam qualquer
super homem e super mulher no chinelo.
Assertividade, proatividade, dinamicidade, saber enfrentar desafios e
pressão. E lá vem alguém me perguntar se já me casei. Pensa bem, com esse
tanto de coisas a pensar, até me esqueci de namorar. É mesmo, será que algum
dia eu vou casar?
A Mágica da Vida (crônicas reunidas de Fernanda Leite Bião) 14
Ventania