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Série Fascinação nº 22

Homem de pedra
Título original: "Mexican Nights"
Jeanne Stephens
Derek Storm tinha um coração de seu corpo!
pedra. E a Trixie, apaixonada por ele, só
restava ir embora, para nunca mais vê-
lo. Derek era um escritor famoso e
estava terminando um livro sobre as
antigas civilizações maia e asteca. Trixie
tinha ido ao México para juntar-se à
equipe dele e fazer as fotos que
ilustravam o trabalho. Ótima fotógrafa,
ela havia agradecido aos céus a
oportunidade de trabalhar ao lado de
uma personalidade tão famosa, jurando
a si mesma aproveitar a nova porta que
se abria em sua carreira. Nunca
imaginou que Derek fosse um patrão tão
prepotente. Pior ainda: nunca imaginou
que, no dia em que entregasse
verdadeiramente seu coração a um
homem, ele se interessaria apenas por

Disponibilização do livro: Valéria


Digitalização: Joyce
Revisão: Edna F.

Projeto Revisoras – de fãs para fãs sem fins


lucrativos.
Jeanne Stephens Mexican nights

CAPÍTULO I

― Vou precisar daquela série de artigos publicados nos Anais de


Antropologia Mexicana do ano passado, Jack. Vá até a biblioteca amanhã
e me consiga algumas cópias.
A voz profunda e decidida ecoou no silêncio do Hall Asteca. Cabeças
se viraram para ver de onde havia partido e se depararam com um
homem alto e forte que atravessava a sala com passos rápidos, seguido de
perto por um rapaz que escrevia numa prancheta.
― Srta. Thompson! ― A mesma voz continuou: ― O monumento
arqueológico mais famoso do mundo tem apelo visual bastante para
interessar; não há necessidade de acrescentar pessoas à foto! ― Não havia
o mais ligeiro acento de espanhol nessas palavras, mas o temperamento
quente e agitado do homem denunciava suas origens. Havia também
insolência nos olhos escuros de Derek Gonzales Storm ao se fixarem na
garota elegante que tentava tirar uma fotografia do maravilhoso
calendário Asteca, todo em pedra.
Trixie baixou a câmara, mordeu os dentes para se controlar e
observou seu interlocutor com seus magníficos olhos azuis. Derek Storm
podia ser um dos escritores mais famosos do mundo, mas ela era uma
excelente fotógrafa. Quem ele estava pensando que era? Havia trabalhado
com vários autores que se julgavam os donos da verdade e sabia como
tratá-los e colocá-los nos seus devidos lugares. No entanto, Derek não
parecia impressionado com o seu olhar gelado.
― Este calendário é a maior glória da arte e cultura Asteca, srta.
Thompson. Procure captar apenas a grandeza do rosto do deus-sol, o
ritmo sensual das cobras de fogo. Nada deve sombrear o impacto que eles
causam. ― Derek tinha o rosto sério e o tom frio de quem não agüenta a
ignorância.
Trixie sentiu que uma onda de raiva esquentava seu sangue. O que
ele pensava? Que ela não sabia nada sobre antropologia Asteca? Pois
podia até ensinar a ele que aquele calendário, dos antigos Astecas, era
uma das peças mais importantes da arqueologia mundial e mostrava o
gênio de uma cultura antiga.
Ela nunca pegava um trabalho sem antes se informar a respeito do
material com o qual ia trabalhar. Tinha lido vários livros sobre a
civilização Asteca e Maia antes de partir para o México e dar início a esse
trabalho. O dr. Storm que se cuidasse, porque não estava lidando com
uma amadora. Ela era uma profissional, e das boas!
Trixie olhou ao seu redor e reparou que o rapaz que acompanhava o
dr. Storm tinha o lápis parado no ar, em expectativa. Os outros visitantes
do Museu, turistas em sua maioria, olhavam com curiosidade, e, o rapaz
mexicano que ela fizera posar de pé ao lado do calendário, para dar uma
idéia de seu tamanho, estava na dúvida se devia permanecer ali ou não.
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A melhor solução seria enfrentar esse homem de igual para igual,
pensou Trixie. Levantou bem o queixo e não disse uma palavra.
― Faz idéia do que estou lhe dizendo? ― Derek insistiu.
Ela ia ter que agüentar insultos durante as quatro semanas em que
trabalharia com ele? Que diabo! Ela sabia o que estava fazendo e não
precisava de palpites.
― Entenda bem que não estou pretendendo que faça truques de
fotografia para melhorar o texto do meu livro. Aliás, a grandeza das
antigas culturas mexicanas não precisam de embelezamento. Acho que
não faz idéia, srta. Thompson, da magnitude do que esse povo antigo con-
seguiu. Olhe para esse calendário, senhorita. Ele é um século anterior ao
calendário Gregoriano, é todo talhado na pedra, levou cinqüenta e dois
anos para ser elaborado e os instrumentos usados também eram de pedra.
Trixie achou que assim já era demais! Não ia ficar ali ouvindo uma
aula sobre coisas que conhecia a fundo.
― Não sou tão entendida do assunto quanto o senhor, dr. Storm, mas
já estudei muito sobre a civilização Asteca. ― Hesitou um momento,
depois acrescentou, com raiva: ― e vai levar cinqüenta e dois anos para
terminarmos este trabalho, se ficar me interrompendo a cada instante.
As pessoas presentes na sala não tiravam os olhos deles dois, na
expectativa da resposta que viria.
― Como quiser, srta. Thompson. Se levar todo esse tempo para ficar
perfeito, que leve! Mas que vai ficar perfeito, não tenha dúvida, senhorita.
― Imediatamente ele se virou para o secretário. ― Jack, quero que a srta.
Thompson receba uma cópia de meu artigo sobre o calendário Asteca.
Trixie sentiu vontade de dar com a câmara na cabeça daquele
presunçoso, mas não iria estragar sua máquina tão boa numa cabeça dura
como a de Derek Storm. Virou-se para o mexicano que lhe servia de
modelo.
― Obrigada por posar para mim, senhor. Foi muito amável.
― O prazer foi todo meu, senhorita. ― O homem tratou de sair
depressa de seu lugar.
Trixie cruzou o salão e foi para perto de uma estátua de um jaguar de
pedra. O animal estava em posição de dar o bote e em suas costas havia
um recipiente para colocar os corações das vítimas humanas que lhe eram
ofertadas, como sacrifício aos deuses. Ela ajustou o foco da máquina e
tirou fotos de vários ângulos.
Derek Storm continuava ao lado do calendário, o que permitiu a
Trixie estudar melhor o homem com quem teria de trabalhar durante o
próximo mês. Sabia que ele era especializado em culturas antigas e seu
modo de escrever, vibrante e claro, tinha colocado seus livros entre os
mais vendidos.
Trixie tinha recebido a incumbência de ilustrar dois dos próximos
livros do dr. Storm, um a respeito dos Astecas e o outro sobre os Maias.
Era um desafio para ela e talvez o momento mais importante de sua
carreira. Tinha pedido um preço elevado e ainda poderia contar com a
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publicidade que receberia por ter trabalhado com o dr. Storm. Por isso,
não ia permitir que nada, nada mesmo, pudesse atrapalhar os bons
resultados de sua missão.
Por trás da máquina, Trixie o observava. Ele estava tão concentrado
no exame daquela obra de arte, que quase chegava a fazer parte dela.
Talvez por isso ele conseguisse elaborar descrições tão vívidas de um povo
extinto há tanto tempo.
Pelo visor da câmara ela notou que o dr. Storm tinha um ou outro fio
prateado em seus cabelos negros como a noite. Sentiu-se mais confortada.
Ele não era tão perfeito quanto queria parecer.
Trixie colocou um rolo de filme novo e se movimentou pela sala,
tirando fotos de tudo o que achava digno de interesse. Notou que agora
Derek a seguia com o olhar, examinando o tipo de trabalho que ela era
capaz de fazer.
Nesse momento Jack foi dispensado e, chegando perto de Trixie,
avisou-a:
― Já estou indo para o hotel. Vem comigo?
― Ainda não, Jack. Quero tirar mais umas fotos em preto e branco.
Quando acabar, tomo um táxi e vou para o hotel.
Jack pareceu desanimado por perder a oportunidade de alguns
minutos a sós com Trixie. Ele a achava interessante e adorava conversar
com ela.
Trixie não podia compreender como Jack agüentava trabalhar para o
dr. Storm há tanto tempo. O chefe parecia tão egoísta e mandão! Por
sorte, ela não precisava ficar sob as ordens dele durante longos períodos.
Teria que agüentar somente esse mês e depois... chega! Pretendia publicar
suas fotos em revistas de Nova York e Londres, e já estaria famosa. Não ia
deixar que um escritor desse ordens a respeito do que ela mais sabia fazer
na vida.
― Não vai mudar, de idéia e vir comigo? ― Jack insistiu mais uma
vez.
― Primeiro o trabalho, Jack, depois a diversão.
― Se não voltar muito tarde poderemos até conhecer alguma coisa da
vida noturna da cidade do México.
― Quem sabe... ― Trixie falou, despedindo-se dele e dirigindo-se
para o pátio. Sabia que ali perto havia uma lanchonete e queria tomar
uma xícara de café antes de prosseguir com o trabalho.
Por sorte, encontrou uma mesa vazia e sentou-se, dando um suspiro
cansado. Fez seu pedido à garçonete e
tirou o estojo de pó da bolsa. Queria se arrumar um pouco. A
imagem que viu no espelho era a de uma moça tipicamente americana,
engraçadinha, que parecia muito mais jovem do que os vinte e dois anos
feitos. Passou a escova pelos cabelos dourados, curtos e ondulados.
Colocou a camisa xadrez bem dentro do jeans. Era abril e já estava quente
no México! Por quanto tempo ainda poderia usar jeans? Se o calor
apertasse, teria de se adaptar a vestidos mais leves.
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Seus pensamentos voaram de novo para Derek Storm. Ele parecia se
sentir feliz em menosprezá-la! Devia ter achado sensacional gritar com ela
diante de tanta gente! Mas ia dar um jeito nisso. Tinha se saído muito
bem na discussão que ele iniciara e pretendia que isso se repetisse
sempre. Ele que não se metesse onde não devia. De fotografia ela entendia
muito mais e ia ter a oportunidade de provar isso.
Trixie olhou no relógio. Quatro horas. Trabalhara desde cedo e
estava cansada. Claro, ainda havia muita coisa para ser feita, mas podia
deixar para amanhã. Devia era voltar para o hotel e descansar um pouco.
Aliás, só não tinha ido embora com Jack porque achou que Derek Storm
provavelmente iria junto e não quis se arriscar à companhia dele.
Desde o instante em que conheceu o dr. Derek Gonzales Storm,
sentiu-se pouco à vontade. Tinham se encontrado pela primeira vez há
dois dias, no aeroporto do México. Ao vê-lo, Trixie sentiu um frio no
estômago, como se pudesse prever a insegurança que iria dominá-la, mais
tarde. Por quê? Nem ela sabia responder. A verdade é que ficara
impressionada com aqueles olhos negros e zombeteiros, aquele corpo
másculo e de vontade decidida. Ela, que fora sempre uma moça
desinibida, na frente dele sentia-se insegura.
Mas, se ele a aprovara como fotógrafa para aquele trabalho, por que
agora vinha com insultos, tornando as coisas tão difíceis para ela? Ou será
que ela estava imaginando essas reações?
Trixie levantou e foi buscar uma xícara de café. Enquanto o tomava,
procurou relembrar o que sabia a respeito de Derek Storm. Ele era filho
de uma aristocrata espanhola e de um milionário americano. No entanto,
fizera carreira apenas por seus méritos e não se valera do nome
importante de seus pais. Tinha sido professor de História Antiga na
Universidade de Chicago. Foi somente depois da publicação de seu
primeiro livro, O Egito dos Faraós, que ele se tornou notável. Passou a ser
uma celebridade, deu entrevistas para a televisão, fez palestras em outras
universidades do país. Isso aconteceu há seis anos e nesse meio tempo ele
publicou um segundo livro, de igual sucesso. Agora estava trabalhando
em seu terceiro e quarto livros e fazia questão de que também fossem
sucesso.
Devia estar com trinta e cinco anos e nunca se casou. Apesar disso,
ou talvez por causa disso, ele era muito bem-sucedido com o sexo oposto.
Diziam que tinha vários casos, sempre com mulheres lindíssimas. Trixie
lembrava de tê-lo visto em fotografias ao lado de uma atriz mexicana de
grande talento.
Como escritor, ele era perfeito. Baseava-se em pesquisas minuciosas,
tinha um estilo claro e bem cuidado. Era muito exigente consigo mesmo e
com quem trabalhava com ele.
Mas isso não justificava aquele comportamento com ela, pensou
Trixie, balançando a cabeça, com raiva. Ela podia não entender de
História Antiga, mas fotografia era seu forte e não queria palpites a
respeito do que sabia fazer tão bem. Ia trabalhar com tanta dedicação, que
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suas fotografias ficariam maravilhosas. No fim, ele ainda ia lhe pedir
desculpas pela grosseria.
Decidida, Trixie levantou, pegando sua câmara. Ia continuar com seu
trabalho, agora passos rápidos, encaminhou-se para o Hall dos Maias.
Completaria as séries de fotos sobre essa civilização.
Por sorte, encontrou o salão quase vazio. Foi direto para a vitrine
onde havia esculturas provenientes de Jaina, uma ilha perto da costa de
Campeche. Aqueles eram exemplos inestimáveis da cultura Maia e
representavam sacerdotes, com suas roupas ricamente adornadas e seus
adereços para as cerimônias religiosas. Sentou num banquinho,
estudando aquelas figuras e a melhor maneira de fotografá-las.
Então ouviu passos no chão de mármore e, para sua surpresa, viu
que Derek Storm se aproximava. O que ele fazia ali? Por que não tinha ido
embora com Jack? Mesmo sem querer, ela perdeu o ar natural e já se pre-
parava para um novo combate. Estavam sozinhos no salão e ela sentia o
olhar penetrante de Derek, o que a fez corar. Ele não lhe dirigiu a palavra.
― Não vou me deixar intimidar, — Trixie falou com seus botões.
― Veio para me dar outra lição, dr. Storm?
Derek achou o comentário divertido.
― Posso lhe dar lições a respeito do assunto que desejar, srta.
Thompson. Por onde quer começar?
Antes de responder, Trixie examinou seu chefe. Ele vestia jeans e
uma camisa aberta no peito. Tinha uma aparência máscula e viril e ela
chegou a se perguntar como seria a sensação de estar entre aqueles braços
musculosos. Tinha a pele morena, olhos e cabelos escuros. Era bonito,
mas não perfeito. Ela já tinha conhecido rapazes muito mais bonitos que
ele. No entanto, o homem possuía uma atração, uma sensualidade que
não podia ser esquecida.
Se fosse um artista de cinema, seria considerado como um símbolo
sexual. Ela sempre se mantivera distante de homens como Derek,
dominadores demais, homens que pareciam despi-la apenas com o olhar.
― Quando estávamos no Hall Asteca você disse que, para extrair o
máximo efeito de minhas fotografias, me faltava um determinado
sentimento. ― Ela parou, enervada por aquele olhar irônico e brincalhão.
― Classifico esse sentimento que lhe falta como paixão, srta.
Thompson.
Trixie ficou muito sem jeito, sentindo as faces vermelhas e quentes.
― Estamos falando de fotografias, dr. Storm.
― Estamos, mesmo? ― Os olhos de Derek ficaram escondidos sob
seus longos cílios e Trixie não pôde notar sua expressão. Será que ele
estava caçoando dela?
Ela sabia que teria reagido de modo diferente se estivesse
conversando com outro tipo de pessoa. Teria dito algumas palavras
ácidas, que o poriam no devido lugar. Mas Derek parecia imune a seus
comentários azedos. Tinha até vontade de esbofeteá-lo, para tirar aquele
sorriso irônico do seu rosto.
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― Talvez, depois que tiver visto Teotihuacán e Chichén Itzá, consiga
entender a civilização dos antigos índios. Quando conseguir captar a
emoção simples e pura desse povo, sua paixão, entenderá o que quero
dizer, Trixie.
A troco do que ele a chamava pelo primeiro nome? E por que achava
que ela não tinha os sentimentos necessários para compreender a
importância da missão dele?
― Não entendo porque não produz pessoalmente as fotografias para
seu livro, dr. Storm. Entende tão profundamente de tudo!
― Não seja sarcástica comigo, Trixie. É perda de tempo.
Sentindo o coração bater, alucinado, Trixie se levantou e colocou a
câmara em posição de fotografar as estatuetas Maias. Esperava que ele
compreendesse que não estava mais disposta a conversar. No entanto,
pelo canto dos olhos, verificou que ele a observava, correndo os olhos pela
sua figura miúda e parando um tempo interminável no decote em "V" de
sua camisa. Ela continuou com seu trabalho, procurando dar as costas
para ele.
Tirou duas ou três fotos, mas se sentia tão tensa que a máquina
quase caiu de suas mãos.
— Diabo! — exclamou, aborrecida.
— Por que está tão nervosa?
— Não é muito agradável trabalhar com alguém vigiando meus
movimentos.
— Acho que posso sugerir uns ângulos interessantes para as fotos,
embora reconheça que você é ótima profissional.
— Ora, ora! Estou encantada com o elogio! — Ela não conseguia
deixar a ironia de lado. — Nem sei como não lhe beijo as mãos.
— Posso imaginar lugares muito melhores de serem beijados.
— Para o senhor, dr. Storm, todos os assuntos levam ao mesmo
ponto, não é? Nem sei como pode mudar tão rápido de fotografia para...
— Ela se interrompeu, sem terminar o pensamento.
— É verdade. Estávamos falando de fotografia, não é? Pois como eu
estava dizendo anteriormente, você é excelente em questões técnicas e
não a teria aceito para esse trabalho se não o fosse. Só precisa de um
pouquinho mais de...
— Experiência! — Ela completou, com raiva.
— Basicamente, é isso mesmo. Espero sua colaboração nesse
sentido.
— Já compreendi tudo, dr. Storm. O senhor vai polir minhas arestas,
não é isso? — Trixie estava furiosa. Nunca vira uma pessoa tão egoísta e
presunçosa!
— Vai ser um trabalho duro para um mês apenas, tenho de admitir.
Você tem usado sua técnica perfeita, mas é pouco em relação ao algo mais
de que preciso.
— Pouco?! — Ela se segurava para não bater naquele insolente.
— Estou falando em termos profissionais, Trixie. Se formos para o
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plano pessoal — ele a examinou da cabeça nos pés —, acho que posso usar
uma palavra bem mais significativa.
— Não precisa se preocupar.
— Não estou preocupado, nem amolado. Temos que começar pelo
princípio, minha pequena colaboradora. — Ele colocou as mãos nos
braços dela, que sentiu o calor que se irradiava daquele homem tão
másculo.
Quis escapar àquele contato, mas estava zonza e nem se mexeu.
— Conheço alguma coisa sobre ângulos, foco e iluminação, Trixie. E
como tenho a sorte de também conhecer a fundo a civilização mexicana,
você deveria apreciar minhas sugestões.
Devagar, ele subiu as mãos pelo braço dela, ou, pelo menos, Trixie
achou que sim. O que estava acontecendo, que ela imaginava avanços
quando na realidade não havia nada? Por que se sentia tão nervosa, como
se ele estivesse pensando em violentá-la? Notou que ele sorria, muito à
vontade. Ela estava ficando louca, imaginando coisas! Devia ir embora e
deixá-lo sozinho, mas suas pernas não a obedeciam.
Ouviram-se passos e um senhor idoso parou diante de uma vitrine
do outro lado do salão. Com os sentidos mais alertas, Trixie percebeu que
não se enganara. As mãos de Derek a estavam acariciando!
— Pare com isso, Derek — falou com decisão.
— Ainda bem que resolveu me chamar pelo meu primeiro nome.
— Pare com isso, já disse.
— Parar com o quê, Trixie? — Ele pousou as mãos nos ombros dela,
puxando-a um pouco mais para perto.
Trixie tinha vontade de sair correndo, mas não queria armar uma
cena ali. Também, no fundo de seu coração, tinha uma vontade enorme de
permanecer onde estava. Sentia o corpo quente, os ossos moles, como se
fosse derreter. Sua única defesa era se mostrar zangada e foi o que fez.
— Não quero ser tratada assim, como se fosse um objeto. — Ela deu
um passo para trás, mas notou que ele a segurava com mais força. — Se
não me largar, vou acabar gritando.
Pelo sorriso, ela percebeu que Derek não ligava as suas ameaças. Em
todo caso, ele a largou.
— Não sei por que tanto escândalo! Estava apenas tentando colocá-
la numa posição melhor para extrair um bom efeito dessas estatuetas.
Acho que me entendeu mal, Trixie. Não sei o que imaginou que eu
pudesse querer.
Ela sabia muito bem o que ele queria, mas era melhor ficar quieta.
Afastou-se, avisando com raiva:
— Vou voltar para o hotel, e quero ir sozinha.
Derek deu uma gargalhada gostosa, enquanto respondia de maneira
insolente.
— Agora já descobrimos alguma coisa sobre você, Trixie. É capaz de
se mostrar apaixonada, desde que receba o estímulo certo.
— Não faça elogios para si mesmo! — Raivosa, ela queria perturbar
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aquela segurança máscula, que ele tinha em demasia.
— Você sabe como ser tentadora, Trixie. Não devia lançar esse tipo
de desafio.
— Não ouse jogar suas técnicas para cima de mim, Derek Storm!
Não suporto homens convencidos, que se acham irresistíveis.
Ela virou as costas e foi para a porta, mas Derek deu um jeito de
chegar lá antes dela.
— Não fique tão zangada, Trixie. Jamais me passaria pela cabeça
fazer, com você, alguma coisa que você não desejasse desesperadamente.
— O inferno vai ficar gelado antes que eu... — Ela não terminou,
pois ele se afastou.
— Como vou agüentar essas lutas durante um mês? — Trixie
perguntava a si mesma, saindo do museu. — Se fosse homem já teria
dado um soco em Derek Storm e resolvido o caso de uma vez. Mas sou
mulher e trabalho sob as ordens dele. Meu Deus, o que fazer?

CAPÍTULO II

Ao chegar à rua, Trixie olhou para trás para ver se Derek a havia
seguido. Foi até o ponto de táxi e, embora de manhã tivesse visto uma fila
deles ali, agora não havia nenhum.
Preocupada que Derek pudesse vir atrás dela, começou a caminhar
na direção do hotel. Se encontrasse um táxi no caminho, melhor. Se não,
estaria pondo uma boa distância entre ela e aquele insolente. À medida
que caminhava, acabou por perder as esperanças de encontrar um carro
vazio. Eles passavam todos com passageiros e em alta velocidade. O jeito
era ir a pé mesmo. Trixie sempre gostara de caminhar, mas hoje estava
cansada e a bolsa com a máquina e os filmes lhe pesavam demais no
ombro. Para completar seu estado de ânimo, não conseguia tirar da
cabeça a cena do combate com Derek.
Quando avistou o prédio do hotel, suspirou aliviada. Estava exausta e
transpirando muito, por causa da pressa com que viera. Entrou no salão
fresco graças ao ar condicionado, sentindo-se feliz por sair do calor
abafado da rua. Foi para o bar, pois queria tomar um refresco bem gelado.
Havia pouca gente e ela escolheu uma mesa de canto. Pediu chá
gelado e, enquanto esperava ser servida, deixou que seus pensamentos
voassem. Não podia esquecer a cena com Derek! Tinha se comportado
como uma adolescente que é beijada pela primeira vez. Estremecera com
o contato e ele percebeu o efeito que tinha causado. Precisava aprender a
se controlar, se pretendia manter aquele emprego.
A garçonete trouxe o refresco e, enquanto tomava goles
reconfortantes, sentiu-se mais relaxada e calma.
— Então foi aqui que esteve escondida esse tempo todo! — uma voz
a seu lado comentou.
Trixie levantou os olhos e viu Jack Ledbetter. Ele puxou uma cadeira
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e sentou ao lado dela.
— Liguei várias vezes para seu quarto, mas ninguém respondia.
Sabia que não podia ter ficado no museu, pois ele fecha às cinco horas.
Jack estava sorridente, encantado por vê-la, apesar da aparência
malcuidada dela. Por causa da longa caminhada, Trixie estava
despenteada e tinha o rosto brilhante.
Jack era assistente de Derek e queria ganhar bastante experiência
para também se lançar como escritor. De altura média, loiro como Trixie,
ele tinha olhos azuis. Embora não se sentisse atraída por ele, Trixie
acreditava na possibilidade de uma amizade sincera entre os dois. No
entanto, os planos de Jack deviam ser outros, pois ele a olhava com
adoração.
— Derek a encontrou? — Jack perguntou, depois de ter pedido um
café.
— Quando? Agora?
— Não, no museu. Ele mandou que eu e Mike voltássemos para cá
porque precisava falar com você, antes de ir embora. Quando ele quer, é
capaz de nos fazer trabalhar como escravos, não concorda?
— Tem razão. Ele me achou no Hall Maia. — Trixie compreendeu
que o encontro com Derek não tinha sido acidental. Ele realmente a havia
procurado, provavelmente para deixá-la mais perturbada com seus
palpites sobre o trabalho dela.
— Não fique deprimida por causa dele, Trixie. Achei que ele foi um
pouco duro demais com você, hoje à tarde.
— Foi detestável a maneira como ele falou comigo. Mas se ele
acredita que pode me dominar, está muito enganado.
— Quando tiver mais contato com o chefão, vai perceber que ele
ameaça, mas não é ruim. Derek se preocupa muito a respeito dos livros
que escreve e aí então se torna um perfeccionista, exigindo que seus
auxiliares também o acompanhem nessa busca pelo ideal.
Trixie se admirou com a lealdade de Jack; não entendia como ele
podia trabalhar há tanto tempo para uma pessoa tão difícil como Derek
Storm.
— O dr. Storm acha que eu devo saber tanto da civilização Asteca e
Maia quanto ele, que é professor. Isso não é ridículo? Ele passou a vida
inteira estudando o assunto! Conheço minha profissão e sei que sou boa
fotógrafa. Então, ele devia ficar com a história e eu com as fotos. Assim,
não entraríamos em choque.
— Mesmo para fotografar é preciso conhecer um pouco da história,
Trixie. Que tal sairmos à noite para vermos o máximo possível sobre o
assunto? Gostaria de ir até a Catedral do México? Poderíamos também
ver os murais pintados por Diego de Rivera, no Palácio Nacional.
— A idéia é boa, Jack, mas estou tão cansada! Acho que prefiro
tomar um banho demorado e ir logo para cama.
— Então vamos deixar para outro dia — Jack pareceu desanimado.
— Aquele é Mike, não é? — Ele abanou a mão para o companheiro.
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— Posso me juntar a vocês? — Mike sentou-se, sem esperar a
resposta.
— Estava tentando convencer Trixie a sair conosco para ver os
lugares interessantes do México.
— Acho uma ótima idéia! Que tal, Trixie?
— Gostaria imensamente de ir, mas estou exausta. Trabalhei o dia
todo, andei do Museu até aqui porque não consegui encontrar um táxi, e
acho que estou estranhando n altitude. Tudo que faço me deixa cansada.
— Podemos transferir a saída para amanhã, que é domingo — Mike
sugeriu. — Deixaremos que você durma bastante e sairemos à tarde.
Trixie deu uma gargalhada gostosa.
— Não me diga que nosso empregador nos dá o domingo de folga?
Cheguei a pensar que ele trabalhava os sete dias da semana e que
esperava que seus escravos fizessem a mesma coisa —, Trixie não podia
evitar a ironia.
Jack se mexeu na cadeira, não querendo tomar partido nessa luta
aberta entre Trixie e Derek. Mas Mike foi mais explícito.
— Na verdade, Derek gosta de trabalhar a todo vapor quando está
envolvido com seus livros. Mas acho que vai agir de maneira diferente
aqui no México. Não vamos esquecer que Margarita Lopez mora aqui.
Imediatamente Trixie lembrou da grande artista mexicana, cujo
nome estava ligado ao de Derek há quase um ano.
Inclinando-se sobre a mesa, Mike completou a informação, em voz
baixa:
— Ela ligou para Derek ontem à noite. Eu estava trabalhando na
suíte dele e atendi o telefone.
Trixie devia ter ficado feliz com a notícia. Isso significava que não
precisava se preocupar com o patrão, pois ele estaria muito ocupado com
a atriz. No entanto, sentiu-se aborrecida. Queria saber mais detalhes do
caso.
— Eles estão saindo juntos há bastante tempo, não é?
— Há cerca de um ano, e isso para Derek é um verdadeiro recorde.
Ela está durando muito mais tempo do que as outras. Cheguei a pensar
que o caso estivesse encerrado, até que ele recebeu a ligação ontem à
noite. Fazia meses que não se viam, mas parece que agora o caso tomou
um aspecto mais sério. — Mike estava feliz por ser o portador das
novidades.
— Acho que não devíamos estar comentando sobre assuntos que não
são de nossa conta e dos quais não sabemos nada — Jack falou, pouco à
vontade.
Trixie também achou melhor mudarem de assunto. Ela não tinha
nada a ver com Derek, nem se interessava por sua vida. Tratou de juntar
suas coisas e levantou.
— Vou para meu quarto agora. Estou precisando de um bom
descanso.
— O que deixamos combinado para amanhã? — Jack insistiu com
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ela.
— O programa é ótimo e vamos nos divertir muito. Por que não me
liga de manhã, para combinarmos? Seja bonzinho e ligue depois das onze,
está bem? Quero dormir o máximo que puder.
— Ótimo. — Jack também se levantou. — Vou subir com você.
Trixie e Jack se despediram de Mike e foram para o elevador.
— Mesmo com sono, acho que devia jantar, Trixie. Que tal irmos
para o restaurante do próprio hotel?
— Não sei...
— Derek a avisou para não sair comigo?
— O quê? Por que ele faria isso?
— Palpite meu. Hoje de manhã eu estava comentando com Mike que
ia convidá-la para sair e Derek ficou irritado. Avisou que estávamos aqui
para trabalhar e não para procurar diversão, como se fôssemos turistas
em férias.
Que ousadia desse Derek! — Trixie pensou. Ela tinha suas horas de
trabalho e o que fazia no tempo vago não era da conta de ninguém.
Sentiu-se tão revoltada que mais que depressa tratou de aceitar o convite
de Jack.
— Ele não me disse nada, mas mesmo que tivesse dito, sou bastante
adulta para decidir minha vida. Fico muito feliz em jantar com você. Vou
apenas tomar um banho e o encontro no restaurante às sete e meia. Está
bem?
O elevador parou no quarto andar, onde todos estavam instalados.
— Nós nos separamos aqui, Trixie. Sei que seu apartamento fica à
esquerda. Eu e Mike estamos na última porta à direita. Não é muito
longe... caso você se sinta só — Jack sorriu.
Trixie foi em direção a seu quarto, pensando onde seria a suíte de
Derek. Ele tinha tomado o cuidado de colocar os rapazes do outro lado do
corredor. E ele mesmo? Onde estaria?
Seguiu até o fim do corredor e virou à esquerda. Quando chegou
diante da sua porta, pegou a chave e entrou. Atirou a bolsa com a câmara
sobre uma poltrona e sentou-se noutra, de onde podia ver as ruas
movimentadas da cidade.
Seu quarto estava muito bem localizado; O grande janelão se abria
para uma praça onde havia um monumento em comemoração ao
centenário da independência mexicana. Uma coluna alta sustentava o
anjo da liberdade em seu topo. Trixie tinha ouvido dizer que os restos
mortais de alguns heróis dessa luta estavam guardados ali. Vários
caminhos entrecruzavam a praça e havia muitos bancos onde pessoas
estavam sentadas. Casais de namorados passeavam de mãos dadas e
trocavam beijos e abraços.
Como estava cansada! Ou talvez não fosse isso, mas sim tensão pelo
serviço que mal começara. Sentia-se revoltada por saber que Derek não
gostava da idéia dela sair com Jack e Mike, dizendo que estavam ali
apenas para trabalhar. Ele mesmo não ia se divertir com a tal atriz? Então
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se ele, que era o superior, dava o exemplo de que algum tempo devia ser
reservado para as distrações, por que seus empregados não podiam fazer
a mesma coisa?
Era possível até que Derek tivesse planejado essa viagem com o
intuito de rever Margarita; Trixie achava muita coincidência que a atriz
estivesse no México e ele também. Melhor assim; ocupado com a
namorada, Derek esqueceria que ela existia e a deixaria trabalhar em paz.
Passou os dedos pelos cabelos. Por que se sentia tão deprimida?
Normalmente ela era uma pessoa alegre e otimista! Por que então essa
sensação de vazio, de solidão, que pesava tanto em seu coração?
Está certo que não tinha namorado, mas era uma opção sua. Tinha
estado tão ocupada, tentando construir uma carreira, que há três anos não
pensava em ninguém. Além do que, não tinha encontrado um homem que
realmente a satisfizesse e com quem quisesse manter um relacionamento
mais duradouro.
Perdida em seus devaneios, chegou a cochilar. Acordou, assustada,
mas viu que se andasse depressa ainda ficaria pronta em tempo. Foi para
o banheiro e tomou um chuveiro rápido, mas suficiente para deixá-la
refrescada. Voltou para o quarto e se arrumou.
Pouco depois de sete e meia ela estava pronta; usava um vestido de
crepe bege, que a deixava muito elegante. Saía quando ouviu que a porta
do outro lado do corredor se abria, dando passagem a Derek Storm. Seus
olhos se encontraram.
— Não... não sabia que seu quarto era em frente ao meu — ela
comentou, sentindo o rosto em fogo devido à surpresa.
— Boa noite, Trixie. — Ele não estava surpreso por vê-la. Usava um
terno cinza escuro que ainda o deixava mais alto e forte. — Pelo jeito, está
preparada para sair.
— Você também está vestido para sair! — ela tomou o tom mais
insolente que conseguiu.
— Acho que você fica melhor com o tipo de roupa que estava usando
à tarde. — Havia um brilho estranho nos olhos dele. Trixie teve certeza de
que ele queria insultá-la.
— Ainda bem que não me visto para agradá-lo; assim, não terei que
correr para mudar de vestido. Com licença, estão me esperando para
jantar. — Ela se virou, erguendo bem o queixo. Ele que ficasse
imaginando com quem era o compromisso.
Embora o corredor fosse carpetado, Trixie pôde sentir que Derek a
seguia. Não olhou para trás, mas quando parou para esperar o elevador,
ele a alcançou. Trixie fingiu que não o viu e, quando o elevador chegou,
entrou e se preocupou com os números dos andares que se acendiam e
apagavam à medida que desciam. Mesmo sem olhar, sabia que Derek a
examinava.
No térreo, Trixie saiu depressa do elevador, suspirando, aliviada.
Mas seu sossego durou pouco, pois Derek continuava a segui-la. Teve uma
vontade louca de correr, mas teve medo de escorregar no soalho encerado
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e dar um vexame pior ainda. Já pensou como ele iria se divertir ao vê-la
caída no chão?
A sala de jantar estava repleta, mas Jack a viu e acenou-lhe da mesa.
— Espero não ter chegado muito tarde. — Ela estava com a
respiração curta.
— Está bem no horário. Mas eu a teria esperado, mesmo que se
atrasasse. — Nesse momento Jack ergueu os olhos. — Como vai, Derek?
Estava procurando por mim?
Trixie quase morreu de raiva ao notar que Derek estava de pé a seu
lado. O chefão pegou um pedaço de papel do bolso e entregou-o a Jack.
— Marquei uma série de coisas que gostaria que fizesse amanhã. Se
eu não o vir amanhã de manhã, já saberá o que precisa providenciar.
Então ele já sabia que eu ia jantar com Jack, — Trixie pensou. — E
por que não iria ver Jack no dia seguinte? Será que ele ia dormir até tarde
ou já tinha programa para passar o dia fora?
— Muito bem, Derek. Vou seguir suas instruções. Gostaria de jantar
conosco? — Jack mostrava relutância ao fazer o convite.
— Não, obrigado. — Derek deve ter percebido a hesitação em Jack,
pois sua recusa foi imediata. — Já tenho outro compromisso. Boa noite.
— Olhou para Trixie como se tivesse alguma coisa para acrescentar, mas
acabou não dizendo nada, saindo em seguida.
Trixie imaginou que o compromisso era com Margarita Lopez.
Tomara que ela fosse tão arrogante e egoísta quanto ele, pois fariam uma
bela dupla.
Procurou se concentrar na conversa de seu companheiro e logo se viu
dando risada, muito à vontade. A noite estava sendo muito agradável e
Jack era uma pessoa simpática e alegre.
Quando terminaram a refeição, Jack sugeriu que fossem dar uma
volta pelo parque.
— Obrigada, Jack, mas estou realmente cansada e preciso deitar um
pouco mais cedo. — Não queria ir para o parque com Jack. Era um lugar
cheio de casais de namorados e ela não queria alimentar idéias erradas a
seu respeito.
— Então vou acompanhá-la até o quarto.
Chegando, Jack insinuou que ela o convidasse a entrar, mas Trixie se
despediu com um breve beijo.
Fechou a porta e tratou de se preparar para dormir. Vestiu uma
camisola curta, bem leve e muito prática, pois quase não ocupava lugar na
mala. Deitou e leu um pouco a respeito do que havia para ser visto na
Cidade do México. Sentindo as pálpebras pesadas, acomodou-se para
dormir.
Apesar de muito cansada, teve um sono agitado, acordando várias
vezes durante a noite. Levantou às nove horas, com uma ligeira dor de
cabeça, talvez por ter dormido mal. O melhor era voltar para a cama e
pedir que levassem o café no quarto.
Pouco depois, bateram na porta. Devia ser a garçonete trazendo o
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café, pensou. Não havia trazido robe e ainda não se vestira, pois ia voltar
para a cama. Mas que diferença faria se abrisse a porta como estava?
Afinal, a camisola não era transparente. Além disso, poria só a cabeça
para fora.
— O serviço aqui é muito rápido. Parabéns! — ela disse, estendendo
os braços para pegar a bandeja.
— Foi o que me disseram — Derek estava de pé, encarando-a com
um olhar malicioso. Nas mãos, trazia a bandeja do café.
De onde ele tinha surgido? E por que estava segurando a bandeja?
Onde estava a garçonete? Trixie não sabia se segurava a bandeja ou se
colocava as mãos sobre os seios, para impedir que o decote profundo os
deixasse a descoberto.
— Posso entrar? — Antes que ela respondesse, Derek passou pela
porta e colocou o café sobre a mesinha perto da cama.
Com muita calma, Trixie voltou para a cama e se cobriu, colocando a
bandeja no colo. Ia tomar o café conforme tinha planejado.
— Desculpe se não lhe ofereço café, mas só tenho uma xícara. Como
vê, não esperava convidados tão cedo. O que fez da moça que deveria ter
trazido o que pedi?
Derek tirou um maço de papéis do bolso traseiro de seus jeans.
— A garçonete estava sobrecarregada de trabalho. Eu passava pelo
hall e quando vi que ela se aproximava de sua porta, me ofereci para
trazer o café. Dei até a gorjeta, você não vai se mostrar agradecida por
isso?
Trixie dedicou toda sua atenção a passar manteiga na torrada. Ele
precisava perceber que ela o estava ignorando, para ir logo embora. Derek
não se mostrava impressionado por vê-la com tão pouca roupa;
provavelmente estava acostumado a mulheres que usavam muito menos.
— Vim lhe trazer meu artigo sobre o Calendário Asteca. — Ele
estendeu os papéis que tinha tirado do bolso.
—Preciso ter aulas sobre civilizações antigas até mesmo antes de
terminar a primeira refeição? E ainda por cima no domingo!
— Hoje é domingo? — Ele olhou-a, fingindo inocência.
Trixie tinha certeza de que ele estava fingindo; senão, por que
demoraria tanto olhando seus seios, cujos bicos marcavam o tecido fino
da camisola?
— Você ia me falar a respeito do calendário de pedra.
— Exatamente. O que sabe sobre ele?
— Pouca coisa — ela teve de admitir.
— Mas sabe que o rosto é de Tonathiua, o deus do sol, não é? — Ele
apontava para o centro da fotografia, que aparecia no canto da página.
— Ele não tem uma cara muito simpática. Ainda mais com a língua
para fora, como se estivesse ávido de sangue humano!
— É isso mesmo — Derek ficou contente com o comentário. —
Esses quatro quadrados ao redor do rosto dele representam as quatro
estações do ano, assim como as quatro destruições que, de acordo com a
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lenda Asteca, o mundo havia sofrido num passado longínquo: a
destruição pelos animais selvagens, pelo vento, pelo fogo e pela água.
Trixie começou a ficar interessada.
— E esses quatro quadrados menores, que surgem no próximo
círculo?
— Eles representam os vinte dias do mês Asteca. Para eles, o ano
estava dividido em dezoito meses, de vinte dias cada. Isso perfaz o total de
360 dias, que eram acrescidos desses cinco pontos, os dias dedicados aos
sacrifícios.
Trixie colocou a bandeja de lado e se aproximou mais, indicando um
ponto na fotografia.
— E que são esses oito ângulos, no próximo círculo? — Sem querer
seus dedos tocaram os de Derek e o efeito foi instantâneo. Ela parecia ter
levado um choque e uma corrente elétrica se estabeleceu entre os dois.
— São os raios do sol nos oito pontos cardeais. Os Astecas tinham
uma ótima noção de orientação e construíam suas cidades baseados
nesses pontos.
— E essas cobras aqui embaixo?
— Em asteca, elas eram chamadas "Xiuhcoatl". Repare bem que elas
têm o tronco de elefantes e as patas dianteiras são as de um jaguar. Essas
chamas ao seu redor justificam o nome de "cobras de fogo". Muitos
especialistas acham que as chamas representam um ciclo de cinqüenta e
dois anos.
Trixie procurava se concentrar apenas no que Derek dizia, mas era
muito difícil, estando assim tão perto dele.
— É impressionante, não acha? — Os olhos escuros de Derek
pousaram no rosto dela, que ficou ainda mais sem jeito. Será que ele
percebia como a afetava? Sem dúvida!
Trixie se recostou novamente no travesseiro, procurando manter
uma distância razoável.
— Não tem a impressão de que eles estavam obcecados pela idéia de
tempo? — ela arriscou a perguntar.
— É uma observação muito inteligente. Nesses buracos, na beirada,
eram colocados palitos de madeira, que ficavam em posição horizontal e
projetavam sombras sobre as figuras do calendário. Assim, ele também
era usado como um relógio de sol.
Ela apenas balançava a cabeça, mostrando que estava prestando
atenção. No seu íntimo, no entanto, rezava para que aquela estranha
tortura acabasse. Ele a perturbava como nenhum outro homem havia
conseguido antes e ela o odiava por causa disso. Queria que ele acabasse
com todas aquelas explicações e fosse logo embora.
— Não entendeu, Trixie?
Ela não queria se mostrar desatenta, por isso tratou de contornar a
situação, fazendo um elogio.
— Entende tanto dessa civilização porque admira muito os astecas,
não é?
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— Naturalmente, mas isso acontece com todo mundo. O
conhecimento que os Astecas tinham sobre Matemática e Astronomia é
por demais impressionante, para a era em que viveram.
Derek estava tão seguro do que dizia que ela quis discordar dele,
fosse como fosse.
— Porém, mal se pode chamá-los de civilizados!
— Acho que isso vai depender do que considera como civilizado.
Qual é sua definição para povo civilizado, Trixie?
— Está brincando comigo, não é?
— De maneira nenhuma. Estou muito interessado em saber como
pensa. Aliás, precisamos nos conhecer melhor, já que vamos trabalhar tão
próximos um do outro.
— Está bem, vou lhe dizer o que penso. Acho que uma sociedade
baseada em sacrifícios humanos não pode ser considerada como
civilizada.
— Ah! É nesse ponto que você se baseia!
— Claro! Tirar o coração das pessoas enquanto ainda estavam vivas,
é uma coisa boa? — Trixie se entusiasmava ao exprimir sua opinião. —
Como pode admirar uma cultura que adotava esses rituais?
— Sabia que os melhores sacrifícios eram aqueles feitos com moças
virgens? Ainda bem que os Astecas já não comandam o destino do
México.
Nesse momento os dois olhares se cruzaram; no dele havia malícia;
no dela, uma atitude de defesa. Derek continuou:
— Tem que pensar no ambiente em que os Astecas moravam.
Levavam uma vida difícil, precária e curta. Os sacrifícios eram uma
tentativa para aplacar os deuses, pois eles representavam o destino.
Trixie estava encantada com os detalhes de uma vida passada em
outros tempos. Como era interessante saber que, séculos atrás, as pessoas
já possuíam uma sociedade organizada, com seus hábitos e religiões
estabelecidos. No entanto, não devia deixar que a conversa continuasse
dentro do quarto. Tinha de tirar Derek dali, senão poderia até se
arrepender. Estava tão empolgada com o que ele dizia que já nem ligava
por estar de camisola. Onde isso poderia levá-la?
— O pouco tempo de vida que os Astecas tinham era aproveitado
com vigor, com paixão. Podemos aprender uma boa lição com eles, Trixie.
Para nós, a vida ainda é incerta e flutuante. — Ele passou a mão pela
perna dela, que continuava coberta pelos lençóis. — Você ainda é muito
jovem e provavelmente não me acredita, mas não devia desperdiçar sua
juventude e beleza. — Suas mãos subiram e começaram a acariciar o
rosto e o cabelo dela.
Trixie estava hipnotizada. Não conseguia se mexer, presa por aquele
olhar indefinido, embalada por carícias suaves e pela voz profunda
daquele homem sedutor.
Para sua surpresa, convenceu-se de que não queria que o carinho
terminasse. Uma onda de calor a invadiu, despertando-lhe o desejo.
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Desejo? Mas o que ela queria? Uma célula perdida em seu cérebro
começou a lhe mandar avisos de que a situação era perigosa. Precisava
fazer com que ele parasse.
Finalmente, Trixie tomou consciência do que devia fazer. Levantou o
braço e afastou os dedos que a mantinham em transe. Derek segurou-lhe
a mão, sem tirar os olhos de seu rosto espantado.
— Sossegue, Trixie. Pode aprender muita coisa comigo.
— Não quero aprender nada! Prefiro que me deixe em paz! — Ela
segurou a ponta do lençol, puxando-o até o queixo, numa atitude
ofendida.
Mesmo assim Derek não se retirou. Pelo contrário, apoiou-se na
cama e chegou o rosto bem perto do dela.
— Do que é que está com medo?
— Não tenho medo! — Ela deu um riso amarelo. Estava morrendo
de medo!
Com muita calma, ele acompanhou os traços do rosto dela com
dedos leves e macios, até pousarem sobre os lábios.
— Não faça assim. Não gosto que me toque.
— É mesmo? Acho que mente muito mal, Trixie. O rosto de Derek
estava tão perto do seu, que ela podia sentir sua respiração morna.
— Você quer que eu a toque. Por que não admite a verdade? Diga
que é isso o que deseja, que você me quer tanto quanto eu a quero.
Jamais! Ele estava louco! Ela queria dizer exatamente que ele nunca
mais se aproximasse tanto. No entanto, as palavras ficaram apenas em
sua mente e ela não conseguiu proferir nenhuma. Só via os olhos dele, os
lábios que se aproximavam... Fechou os olhos ao sentir a boca que tocava
a sua, enquanto mãos quentes e fortes a seguravam mais apertado.
Trixie sentiu um arrepio, ficou mole, incapaz de reagir. Era a mesma
sensação de estar bêbada e sem vontade. Sabia apenas que tinha colocado
os braços ao redor do pescoço de Derek e que se entregava ao beijo com
enorme satisfação.
— Está vendo como é bom quando se pára de lutar? — Ele
murmurou-lhe ao ouvido.
Ela ficou assustada. Não só queria que ele a beijasse, como também
que esse beijo se repetisse muitas outras vezes. Ela o desejava! Estava
adorando aquele contato mais íntimo.
Foi então que se deu conta do que estava acontecendo. Que loucura!
Bem depressa, recolheu os braços, segurando as mãos para que elas a
obedecessem. Olhando Derek bem profundamente notou, para sua
infelicidade, que embora ela tivesse ficado sem fôlego pela emoção do
beijo, ele continuava impassível. Ele não havia sentido nada, enquanto ela
se derretera!
Derek se endireitou, um sorriso misterioso nos lábios.
— Vamos trabalhar agora.
Só isso? "Vamos trabalhar", como se nada tivesse acontecido? Ela se
odiou por ter permitido que ele chegasse tão perto e a deixasse tão
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abalada. Mas não ia acontecer de novo. Agora sabia que ele apenas se
aproveitara do momento, sem nenhuma emoção. Não seria boba e daqui
para a frente manteria o relacionamento em bases estritamente
comerciais. Ia cumprir com sua obrigação, mas não ficaria mais à
disposição daquele D. Juan.
— Hoje é domingo e já fiz um programa com Mike e Jack. Vamos ver
os pontos turísticos da cidade.
— Sinto muito, mas os planos foram mudados. Mandei Jack fazer
uma pesquisa na biblioteca e Mike está datilografando o que já escrevi.
Quero que vá comigo para conhecer Teotihuacán de Arista.
— Divirta-se por lá. Tenho outros planos para hoje.
Derek ficou de pé, ao lado da cama, olhando-a do alto de seu metro e
oitenta e cinco.
— Se não quer trabalhar hoje, talvez deva ficar na cama até estar
bem descansada, para ter forças suficientes para trabalhar amanhã.
— Sou muito saudável e posso trabalhar tanto quanto qualquer
outra pessoa e em qualquer dia da semana. — Ela estava indignada.
— Melhor assim. — Ele foi para a porta— Encontro-a lá embaixo,
em meia hora.
Trixie pôs a bandeja no chão.
― Pode esperar, pois vou demorar, no mínimo, uma hora ― ela falou
para a porta fechada.
Enquanto se vestia, considerou sua situação. Por que estava se
comportando dessa maneira? Primeiro, derretendo-se por causa de um
beijo e agora ficando tão brava que nem percebeu que estava fazendo tudo
o que Derek queria. Que estranho poder esse homem tinha sobre ela?

CAPÍTULO III

Trixie tirou várias roupas do armário, até se resolver por uma. Tinha
posto primeiro o jeans que usara na véspera e uma camiseta. Depois
lembrou que Derek tinha dito que ela ficava bem daquele modo e achou
melhor usar uma coisa diferente, senão ele podia encarar isso como um
convite.
Por outro lado, vestido ou blusa seria impróprio para escalar as
pirâmides. Depois do que havia passado de manhã, queria usar a roupa
mais discreta que tivesse. Afinal de contas, estava trabalhando!
Acabou se resolvendo por um conjunto de calça comprida bege,
completado por uma blusa da mesma cor com bolinhas marrom.
Enquanto se arrumava, deu-se conta de que estava feliz por fazer o
passeio com Derek. Embora o achasse um tipo desagradável, não podia
deixar de se interessar pelo que ele contava. Ia ser maravilhoso ver as
ruínas Astecas em companhia de um especialista.
Verificou a sacola com a câmara, para ver se não tinha esquecido
nada. Não poderia perder a oportunidade de tirar esplêndidas fotografias
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das pirâmides. Lembrou também de deixar um recado na portaria, para
que Jack a procurasse mais tarde.
Já que Derek tinha mudado os planos, queria deixar bem claro para
Jack que ela não estava aborrecida com ele. Na primeira vez que
conseguissem uma folga, veriam a catedral. Talvez pudessem ir hoje
mesmo. Claro que ela e Derek voltariam assim que escurecesse, pois não
haveria mais luz para tirar fotos.
Ao final de um dia todo passado com o insolente e sedutor patrão,
seria um alívio gozar da companhia calma e tranqüila de Jack. Bobagem
de Derek achar que podia evitar que seus empregados saíssem juntos. O
que ele ia fazer para impedir? Matá-la de trabalho? Nada disso! Derek ia
estar tão distraído com Margarita Lopez que nem se lembraria do
trabalho, quanto mais de seus auxiliares!
Exatamente uma hora depois que Derek tinha saído do quarto, Trixie
chegou à recepção. Ele estava encostado no balcão e a expressão de seu
rosto mostrava como estava irritado. Assim que a viu, ele se aproximou,
os olhos faiscando de raiva.
― Por que, diabo, demorou tanto?
― Eu o avisei de que ia levar mais tempo. Não sou um robô, que
basta apertar os botões e já está pronto para funcionar.
― Se pretendia me deixar zangado, saiba que conseguiu. Está feliz
agora?
― Não sei porque acha que minha intenção era deixá-lo nervoso,
Derek. Você não deveria controlar melhor seu temperamento? Pessoas
agitadas estão sempre sujeitas a úlceras e outras doenças. Além disso, por
que se abalar se me atrasei um pouco? Não seja infantil e aceite o que não
tem remédio. Sabe muito bem que o mundo não pode girar de acordo com
a sua vontade.
― Você está exagerando, sua pestinha. Não puxe muito a corda que
ela arrebenta, e sempre para o lado mais fraco. ― Ele a tomou pelo braço
e levou-a para a calçada.
Trixie estava exultante de felicidade. Tinha conseguido tirar a calma
daquele gigante. Sabia que, no momento, deveria ficar quieta, mas só o
fato de ele ter-se abalado tinha valido a pena. Sensacional!
Entraram no carro e tomaram a Insurgentes Norte e depois a estrada
Cuota. As pirâmides ficavam a quarenta quilômetros dali. Depois de
alguns minutos de silêncio pesado, Derek acabou iniciando a conversa.
― Esse sítio arqueológico que vamos ver é muito antigo. As
estruturas originais são ainda anteriores aos Astecas, pertencendo ao
período Tolteca. Sua construção começou por volta de 85 d.C.
Ele já está novamente com esse tom pedante de professor que sabe
tudo ― Trixie disse a si mesma. ― Mas se ele queria manter a prosa em
tons profissionais, ela poderia fazer a mesma coisa.
― Os Astecas conquistaram a cidade aos Toltecas?
― Os especialistas acreditam que os Toltecas já haviam abandonado
suas construções quando os Astecas se estabeleceram aí.
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― De onde vieram os Astecas?
― Ninguém sabe ao certo. Uma das primeiras notícias que se tem
desse povo é que eles são descendentes de uma tribo emigrante de um
lugar chamado Aztlán, no norte do país, por volta do ano 1166. A
localização de Aztlán é desconhecida, mas de acordo com a história, eles
procuravam uma terra, que lhes tinha sido prometida pelos deuses. Sua
nova capital deveria ser construída no local em que vissem uma agiria
pousada num cacto, devorando uma cobra.
― Eles seguiram a lenda?
― Segundo a tradição, eles encontraram a águia pousada numa
pequena ilha que havia no meio de um lago. Então o povo tomou para si o
pesado encargo de encher o lago com terra e a cidade foi erguida no local
exato em que a águia pousara. Assim, essa cidade ficou cercada de água e
se ligava à terra firme por pontes. À medida que o tempo passou, outras
tribos se estabeleceram nos sítios vizinhos e a primeira dessas áreas a ser
descoberta foi Teotihuacán.
― Lembro de ter visto qualquer coisa sobre a origem da cidade num
dos livros que li sobre o assunto. Não é verdade que algumas partes da
Cidade do México começaram a afundar porque sob o solo existia o lago?
― Exatamente. ― Derek lançou-lhe um olhar de aprovação. ―
Alguns dos mais importantes desses lugares históricos ficaram
condenados por esse motivo. Um deles é o Santuário de Guadalupe.
Espero conseguir visitá-lo, enquanto estivermos aqui.
O resto da viagem transcorreu em paz e Derek continuou a contar
fatos interessantes sobre os Astecas. Dava uma boa perspectiva da
importância do lugar que iam visitar.
Pararam primeiro num enorme quadrado com cerca de quatrocentos
metros de largura, que continha escadas em todas as faces. Esse pátio
estava coberto por ruínas de antigos altares dedicados aos sacrifícios
humanos. Desceram um lance de escadas e se viram no pátio que, se-
gundo Derek, já tinha sido pavimentado na antiguidade.
― Aqui era o Templo de Quetzalcoatl, a serpente emplumada, que
era originalmente um deus Tolteca. Só mais tarde ele foi transformado em
deus Asteca.
Trixie andou por entre as ruínas, tirando fotos daqueles lugares tão
interessantes. Enquanto isso, Derek se dedicou a examinar gravações
feitas nas pedras. Mais de uma hora se passou, com os dois entretidos em
seus afazeres. Ela tinha tirado dezenas de fotografias, tinha subido e
descido escadas e pedras e estava cansada e suada, a blusa grudada como
se fosse uma segunda pele.
Derek se aproximou quando ela estava colocando o terceiro rolo de
filme na máquina. Ele não tirou os olhos dos seios de Trixie, que se
delineavam sob a blusa colante.
― Está precisando de um descanso. Vamos procurar uma sombra e
um lugar onde possamos tomar uma bebida gelada.
Trixie o seguiu com a melhor boa vontade. No carro, o ar
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condicionado ligado, seguiram por uma estrada cheia de curvas até que
chegaram a um local movimentado, onde vendiam bebidas, sanduíches e
souvenirs. Compraram refrigerantes e procuraram a sombra de uma
árvore para saborear a bebida.
Sentada junto ao tronco, Trixie matou a sede. Derek estava a seu
lado.
― Ainda há muito mais coisas para se ver, mas não quero que tenha
insolação por minha culpa. Quando achar que chega é só me avisar.
― Posso agüentar tanto quanto você, Derek. ― Ela fez questão de
mostrar que aceitava o desafio.
― Vai agüentar até que desmaie ao pé da pirâmide do Sol, não é?
― Não sou do tipo frágil, Derek. Ainda não percebeu? Pelo jeito, sua
experiência com mulheres não é tão boa, pois julga que somos todas
delicadas e insípidas. ― Ela deu mais um gole longo, gozando a frescura
do líquido borbulhante.
― Muito bem, Trixie. Já sei que não é do tipo que desmaia à toa,
então de que espécie é? Estou muito curioso por saber.
― Ainda não conseguiu descobrir? Pensei que, com todo o seu
conhecimento e experiência, já tivesse posto um rótulo em mim.
De repente, sem o menor aviso, Derek estendeu a mão e pegou a
dela, que estava sobre a grama. Com o dedo indicador ele seguiu a linha
da vida na palma de Trixie. Ela queria puxar o braço e ir embora, pois já
sentia um ligeiro calor, prenúncio de uma onda de desejo. Tinha certeza
de que ele podia notar a emoção que sentia, por mais que tentasse
disfarçar. Estava vulnerável, assim tão perto dele.
― Sou obrigado a dizer a que tipo de mulher você pertence. Tenho
que salvar minha reputação de homem entendido no sexo frágil.
Pouco a pouco Trixie ia compreendendo porque Derek atraía tanto as
mulheres. Ele era o exemplo do homem maduro, atraente, insinuante, que
sabia dizer a palavra certa no momento adequado.
― Para começar com o que é óbvio, você é jovem e... muito bonita. —
Os dedos de Derek começaram a acariciar a curva do pulso de Trixie, que
já não sabia o que fazer para manter seu pensamento afastado do que seu
corpo sentia. No entanto, ia ser uma batalha perdida, pois já estava
começando a se balançar nas nuvens. Como ele podia fazer de um gesto
tão simples uma verdadeira explosão sensual?
― Também é inteligente, tem muita força de vontade, mas de uma
certa maneira ainda é bastante ingênua e inocente.
Trixie ficou apavorada. Inocente? Era isso mesmo, uma boba que
estava caindo na armadilha que ele armara. Tinha que levantar e quebrar
aquele encantamento. Ele não deveria estar sentindo emoção alguma,
pois passara a vida seduzindo todas as moças que encontrava, mas ela...
acabaria perdendo o poder de raciocinar para cair nos braços dele.
Finalmente Trixie conseguiu encontrar voz para responder. Queria
dizer alguma coisa irônica e que o ferisse.
― Ser inocente é um estado que você prefere mudar, não é? Como se
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fosse um dever seu, não é?
Derek não fez nenhum comentário, mas continuou com suas carícias,
subindo os dedos para a curva do cotovelo.
― Não adianta, Derek, não fico nada impressionada com suas
técnicas de sedução. Não pretendo cair sob a tentação do método Storm.
Com um brilho no olhar, ele levou a mão dela aos lábios e depositou
um beijo ardente em sua palma. Trixie sentiu o corpo em chamas. Como
ia resistir?
― Pare com isso! Não vê que todos estão reparando em nós?
― Quer dizer que tenho sua permissão para continuar, desde que
ninguém nos observe?
― Claro que não!
― Você é muito puritana, Trixie, mas só exteriormente. Quando vai
sair da casca de suas inibições? Sei que por baixo dessa fachada existe
uma mulher ardente, capaz de grandes paixões. A única coisa que lhe falta
é uma pessoa que a faça quebrar essas muralhas por trás das quais se
escondeu.
― Não sei por que acha que as muralhas ainda não foram quebradas.
Quem sabe já estão por terra e, por obra de alguém que seja mais do meu
tipo do que você?
Ele a olhou muito sério, colocando as mãos sobre os joelhos.
― Já não sou criança, Trixie, me considero um homem vivido. Posso
dizer com muita facilidade quando o amor já tocou uma mulher. Sua
educação foi muito falha nesse ponto.
― Se pensa que vou deixar que você me treine na... na...
― Na difícil arte do amor? Era isso o que queria dizer? De qualquer
modo, tenho pena de você, Trixie, pois não sabe o que está perdendo. Sou
um excelente professor nessa arte e sei que não me engano ao dizer que
você vai ser ótima aluna. Tem tudo que é preciso para sê-lo.
― Você é insuportável! ― Ela levantou, passando a mão na roupa
para tirar os vestígios da grama. ― Fique certo de que não vou ser mais
uma de suas conquistas. Agora, podemos voltar ao trabalho?
Num salto. Derek estava de pé ao lado dela. Seus olhos escuros e
expressivos não deixavam o rosto corado de. Trixie.
― Não esteja tão segura de sua decisão. Você não seria capaz de
resistir, se eu realmente me dedicasse a conquistá-la. Sei que não me acha
tão sem atrativos como me faz supor. Acho até que se emociona demais
com a minha presença.
Por que suportava aquela conversa? ― Trixie se perguntava. ― Devia
era dar um tapa na cara daquele atrevido para que ele se convencesse de
que ela não queria nada com ele. Chegou a erguer a mão, que foi agarrada
por Derek.
― Está vendo como tenho razão? Devia seguir o conselho que me deu
e tratar de controlar o seu temperamento impetuoso, pimentinha.
Derek não esperou que ela respondesse. Saiu andando como se
estivesse sozinho e ela não teve outra solução senão segui-lo. Tinha medo
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de que ele tentasse castigá-la por todos aqueles insultos, mas, para sua
surpresa, assim que o alcançou, ele começou a falar sobre os Astecas. Ela
ficou furiosa. Que homem estranho! Podia controlar as próprias emoções
com a mesma facilidade com que abria e fechava uma torneira.
Tentou se acalmar. E, ao olhar para cima, soltou uma exclamação
admirada.
― Que maravilha! Qual delas é?
― Esta é a pirâmide da Lua ― ele explicou. Apontando para um lugar
mais longe, completou: ― Ali é a pirâmide do Sol.
― Já li muito sobre elas e até já vi fotografias, mas são muito mais
bonitas do que podia imaginar. Não sei, mas acho que nem as pirâmides
do Egito são mais impressionantes.
Derek a escutava, um sorriso brincando nos lábios. Estava contente
ao ver a sensibilidade de Trixie.
― Não é estranho, Derek, que haja pirâmides no Egito e aqui? São
dois locais tão afastados!
― Esse é um dos grandes mistérios que desafiam os estudiosos da
História Antiga. Há muitos especialistas que dizem que não é coincidência
e que existe uma explicação para o fato: seria uma ligação entre essas
duas civilizações.
― Como assim, Derek?
― Muitos estudiosos defendem a idéia de que as pirâmides da
América Central foram construídas por alguém proveniente do Egito, ou
pelo menos daquela área, possivelmente da antiga Babilônia. Dizem até
que a Torre de Babel mencionada na Bíblia era uma pirâmide.
― Mas como eles podiam ter viajado uma distância tão grande,
atravessando até mesmo o oceano?
― Através de pontes feitas de terra, ou mesmo através de viagens
curtas entre uma ilha e outra. Existe também uma outra teoria que diz
que tanto as pirâmides do Egito, como as daqui, foram feitas por povos
que tinham a mesma origem, uma ilha situada a meio caminho entre a
América e o Oriente Médio. Essa ilha ficaria em Atlântida, o continente
desaparecido.
― Você concorda com alguma dessas teorias?
― Nem concordo, nem discordo. ― Ele sorriu. ― Em meus livros
apenas apresento os fatos documentados. Depois, discuto os pontos
favoráveis e desfavoráveis de ambas as teorias e deixo que o leitor tire
suas próprias conclusões. Mas as pirâmides egípcias eram destinadas a
serem túmulos dos faraós, ao passo que as americanas são apenas
plataformas altas onde ficavam os templos. ― Eles tinham chegado à base
da pirâmide da Lua e Trixie se impressionou com sua altura.
― Por que eles a construíram tão alta, se a finalidade era apenas
fazer um templo?
― Na verdade, no início não eram assim tão grandes. O que se vê
aqui é uma pirâmide sobre a outra e assim por diante. Ao fim de cada
ciclo de cinqüenta e dois anos, segundo eles acreditavam, o mundo
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renascia; então, construíam uma pirâmide sobre as preexistentes. O tem-
plo já não está lá em cima, mas pode-se ver um completo em Chichén Itzá.
Que tal, vamos subir?
Trixie concordou e começaram a escalada. Por sorte, havia várias
plataformas intermediárias onde podiam parar por uns instantes para
recobrar o fôlego. Quando chegaram ao topo, Trixie sentia os pulmões em
fogo, não só pelo esforço, como pelo ar rarefeito. Sentou-se na pedra
respirando regularmente para conseguir vencer a sufocante sensação.
Derek estava muito mais bem disposto, mas ela não ia dar o braço a
torcer e demonstrar que tinha percebido isso. Um pouco melhor, Trixie
começou a tirar fotografias do alto da pirâmide. Pegou cenas do lindo vale
que ficava a seus pés, registrou os degraus íngremes e estreitos, os turistas
que se mostravam tão encantados como ela.
Quando se deu por satisfeita, desceram e, através de um caminho
largo, que tinha ruínas de altares de sacrifício em suas margens,
aproximaram-se da pirâmide do Sol.
― Esta estrada é chamada a Avenida dos Mortos ― Derek explicou.
― Os arqueólogos a batizaram assim porque muitos esqueletos humanos
foram encontrados aqui, quando se descobriu as ruínas.
Apesar do sol forte, Trixie tremeu.
― Essas mortes foram devidas aos sacrifícios?
― É bem capaz. Sabemos que os Astecas faziam essas cerimônias em
várias ocasiões durante o ano. Era sua crença que os deuses precisavam
de sangue humano e também de corações, e os Astecas faziam o máximo
possível para agradá-los. Em certos lugares onde hoje é a Cidade do
México, os arqueólogos encontraram mais de cinqüenta templos, onde
eram feitos sacrifícios humanos.
― Meu Deus! Mas os Astecas eram bárbaros! Como se pode matar
seres humanos como se fossem gado?
Derek sorriu e todo o seu rosto se iluminou.
― De acordo com o nosso ponto de vista moderno, acho que tem
toda razão, Trixie. Mas dentro da realidade desse povo, era considerado
um grande privilégio ser escolhido para participar desses rituais.
Subir a pirâmide do Sol foi uma tarefa ainda mais árdua do que a da
Lua. Trixie parava em cada plataforma e se encostava na pedra para
respirar melhor. Quando chegaram em cima, ela se jogou no chão,
totalmente sem forças. Fechou os olhos, respirando com dificuldade, e
ficou quieta, até que seu coração, voltasse ao ritmo normal. A seu lado,
Derek também se mostrava cansado e sentindo um pouco de falta de ar.
Ela estava exausta demais para gozar o prazer de ver que ele também se
ressentira da subida, como qualquer ser humano.
Pelo menos, tinha encontrado forças para fazer a escalada penosa,
mostrando-se à altura dele. Não havia desmaiado nem pedido ajuda.
Tinha se saído vitoriosa! Quando se sentiu melhor, tirou algumas fotos
antes de descer, completando o rolo de filme com várias tomadas da
Avenida dos Mortos.
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― Aproveitamos bem o dia para o nosso trabalho ― Derek comentou,
quando voltavam para o carro. ― Podemos agora parar para jantar, pois
bem merecemos. Conheço um ótimo restaurante que fica a meio caminho
da cidade. Que tal?
― Acho excelente! Estou com bastante fome por causa do exercício.
O restaurante era tipicamente mexicano, com pratos coloridos e
música alegre. Trixie pediu licença e foi até o toalete. Ficou impressionada
com a própria aparência. Estava vermelha por ter passado o dia todo sob
o sol forte e seu cabelo, todo despenteado. Arrumou-se o melhor que pôde
e voltou para a mesa.
― Está melhor agora? ― Derek sorriu.
― Muito bem! ― Ela exagerou ao responder.
― É melhor ir cedo para a cama, Trixie. Não deve fazer coisas demais
num só dia. Afinal, não está acostumada ao clima e à altitude.
Trixie se ressentiu do tom de comando. Já não bastava ele dar todas
as ordens referentes ao trabalho? Também queria mandar no que ela
deveria fazer nas poucas horas de folga?
― Nada disso, Derek. Só preciso de um banho demorado e já estarei
pronta para passear de novo. Vou sair com Jack, já que não pudemos
fazer nosso programa de dia.
― Não acho boa idéia querer aproveitar o dia de uma maneira tão
exaustiva. ― Derek agradeceu à moça que lhes viera trazer a comida e não
abandonou mais seu ar de professor. Nem parecia que tinha brincado e
agido como uma pessoa despreocupada durante o dia todo. ― Reconheça
que está cansada e trate de dormir logo depois do banho. Eu darei as
necessárias explicações a Jack.
― Pode deixar que sou capaz de resolver minha própria vida. ― Ela
estava furiosa. ― Por isso, por favor, não tente comandar meus atos.
Aceito o que disser em relação ao trabalho, mas o que faço depois não é de
sua conta.
― Deixe de ser criança, Trixie. Sabe muito bem que se não estiver
descansada, seu trabalho não vai render e você vai acabar perdendo a
sensibilidade, tão necessária a uma boa fotógrafa. ― Como se o assunto
estivesse resolvido, Derek voltou a atenção para o que comia. Mas, depois
de uns minutos, atacou de novo. ― Também acho que é minha obrigação
preveni-la de que Jack não é o rapaz adequado para sair com uma moça
direita.
― Já lhe disse que saí da infância há muito tempo, Derek. Tenho
capacidade para decidir quem deve ser meu amigo.
Depois dessa troca rude de palavras, os dois terminaram a refeição
em silêncio. No carro, Trixie começou a se sentir tensa e pouco à vontade.
A distância que Derek havia criado era pior do que os conselhos ou
sermões. Não queria que a mudança de humor do chefe tivesse tanta
influência sobre ela, mas o que podia fazer? Além de preocupada, estava
brava. Tinha vontade de chorar de ódio!
Mas... o que estava havendo com ela? Nunca fora chorona e agora,
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sem mais nem menos, sentia que as lágrimas queriam saltar de seus
olhos. Logo ela, que sempre detestara mulheres que derramavam
lágrimas à menor provocação.
Trixie engoliu o nó que tinha na garganta e fechou bem as pálpebras
para mandar o choro embora. Porém, uma gota escapou e desceu pelo seu
rosto. Disfarçadamente, enxugou-a com os dedos. Foi nesse exato mo-
mento que seus olhos encontraram os de Derek. Se ele tinha percebido
que ela estava prestes a chorar, não iria se acovardar. Era melhor
enfrentá-lo.
Derek suspirou fundo e seu rosto se abrandou. Teria sentido pena
dela?
― Tudo o que lhe disse até agora foi para seu próprio bem, Trixie.
Não encare nada como uma crítica destrutiva. Sei que tem um grande
potencial e quero ajudá-la a crescer dentro de sua profissão. ― Ele
estendeu a mão e segurou a dela. ― Quero que acredite no que digo, pois é
a verdade.
Ela o olhava, sem conseguir tomar uma decisão. Ele continuava com
a mão dela presa na dele.
― Posso fazer de você a fotógrafa mais procurada de toda a América,
desde que me deixe guiá-la. Está interessada em progredir, não está?
— Claro que estou! ― Ela fazia o possível para não notar a carícia que
ele fazia em sua mão.
― Então tem que confiar em mim.
Trixie o observou. Como gostaria de saber o que existia por trás
daqueles olhos misteriosos e profundos! Mas ele era impenetrável e não
demonstrava o que sentia.
― É difícil pôr em palavras o que quero dizer, Trixie. Você tem que
sentir, em primeiro lugar. Desde o início dos tempos as pessoas têm dado
vazão a seus sentimentos, sejam eles de paixão, amor ou ódio. É isso que
posso ajudá-la a descobrir, se me der a oportunidade. Vamos estabelecer
uma trégua, minha amiga.
Trixie estava hipnotizada e não saberia dizer se era por causa dos
olhos de veludo ou da voz sedutora de Derek. Sentia que sua força de
vontade se esmigalhava e era vencida pelo domínio perigoso do encanto
daquele homem. Seu raciocínio lhe mostrava que existia um duplo sentido
no que Derek lhe dissera, mas uma parte de seu ser ansiava por conhecer
esses sentimentos de que ele falara, preocupando-se apenas com o
presente, como se não pudesse existir um futuro capaz de trazer
arrependimentos.
No entanto, não podia esquecer que havia o amanhã, muitos
amanhãs, e que Derek Storm era um homem que vivia cada dia de uma
maneira muito completa. Ela tinha quase certeza de que ele havia passado
a noite anterior com Margarita Lopez. Portanto, menos de vinte e quatro
horas antes, ele tinha dedicado sua atenção a outra mulher. Como podia
acreditar que era sincero?
Reconhecia que muito do que Derek dissera era verdade.
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Profissionalmente, a ajuda que ele podia lhe dar era enorme; da mesma
maneira que ele poderia arruiná-la, se quisesse. Por isso tinha que tomar
cuidado para não cair nas garras daquele homem e depois ser deixada de
lado, como havia acontecido com muitas outras moças antes dela. Depois
que ele a seduzisse e se cansasse dela, ainda estaria interessado em ajudá-
la?
Por outro lado, algumas noites de paixão e êxtase valeriam sua
tranqüilidade emocional? Ela se conhecia bem e tinha certeza de que, se
acabasse se envolvendo com ele, não seria nada fácil recuperar seu
equilíbrio emocional quando fosse esquecida.
― Está querendo concordar comigo, Trixie. Sei que está. Não vai se
arrepender, posso lhe prometer. ― Havia um lampejo de glória no olhar
macio de Derek. Ele sentia que já havia vencido. Nenhuma mulher
conseguira resistir a seus encantos e Trixie não seria uma exceção.
― Você pede que eu tenha confiança em você, mas se quer que eu
seja bem sincera, confiaria mais numa cobra venenosa ― Trixie pôs muita
amargura na voz. Estava trêmula e indignada. Continuou a falar, com
tanta veemência, que ficou surpresa com sua coragem: ― Sabe o que você
é, Derek Storm? É um porco chauvinista! Acho até que deveria ser objeto
de estudos de um psiquiatra, pois é um exemplo clássico do tipo. Pensa
que as mulheres são apenas objetos e que pode usá-las! Quero que fique
bem claro, de uma vez para sempre, que não estou interessada em nada
do que pode me oferecer.
Derek virou a direção de repente, fazendo os freios guincharem no
asfalto, enquanto parava o carro sobre o capim que margeava a estrada.
Trixie teve que se segurar para não bater com a cabeça no vidro.
Espantada, ela se virou para olhá-lo. Ficou com medo da expressão
fechada que via no rosto bonito de Derek. Sabia que devia ter tocado
algum ponto sensível daquele homem de aço.
― Então sou um porco chauvinista, não é Trixie? Você, em
compensação, é a garota frígida, a donzela feita de gelo! ― Num gesto
rápido ele se apossou das mãos dela. Trixie estava tão assustada que nem
percebeu que ele chegava cada vez mais perto dela. ― Gostaria muito de
saber o que é necessário para penetrar nessa muralha que construiu ao
seu redor. E para que se esconder por detrás dela?
Trixie tinha uma vontade imensa de dizer os maiores insultos de que
fosse capaz e de mandá-lo ficar longe dela. Mas sua língua estava travada
pelo choque da reação, que não esperara. Não conseguia tirar os olhos do
rosto de Derek e o achava ainda mais sedutor com os olhos fuzilando de
revolta. Ouvia um coração batendo forte, mas não poderia dizer se era o
seu ou o dele. Derek chegou ainda mais perto e num fio de voz ela
reclamou:
― Você fala sobre paixão, mas acho que considera todas as emoções
como um jogo! Acontece que não sou brinquedo de ninguém, Derek. Não
pode simplesmente me dar corda para que eu aceite todas as suas
vontades.
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― Sei disso, Trixie. Você não é uma boneca movida a pilha ou a
corda. Pelo contrário, é feita de carne macia e sangue quente. ― Ele
passou os olhos pelo rosto dela, pela curva suave de seu pescoço, pelo
decote profundo de sua blusa. A mão acompanhava esses movimentos
tranqüilos dos olhos, até que encontrou a elevação redonda de seus seios,
para aí parar, acariciando-os. Trixie sentiu um arrepio percorrer seu
corpo. Tentou retirar a mão dele, mas continuava presa aos encantos
daqueles olhos castanhos e atraentes.
Derek continuou explorando o corpo jovem, parando em cada curva,
memorizando cada segredo. Trixie não pode evitar que um gemido de
prazer escapasse de sua garganta. Seu corpo vibrava com o prazer daquele
toque divino.
Com um suspiro fundo, Derek pressionou o corpo rijo contra a
maciez do dela, enquanto a beijava com tal intensidade, que ela chegou a
sentir dor por se ver comprimida contra os dentes dele. Mas depois o
beijo se suavizou, quando ele procurou entreabrir os lábios de Trixie com
o contato sensual de sua língua. Ela sentia o corpo mole, sem vontade,
cada vez se entregando mais à magia do beijo ardente. Fechando os olhos,
passou os braços ao redor do pescoço de Derek, seus lábios corres-
pondendo àquele contato mais íntimo. Estava perdida! Naquele
momento, ele podia fazer dela o que quisesse.
Finalmente, Derek afastou os lábios, chegando-os mais perto do
ouvido dela.
― Então você não está interessada no que tenho para lhe oferecer,
não é? ― ele murmurou, um pouco sem fôlego, mostrando assim que se
sentia tocado pelo beijo que haviam partilhado. Afastando-se de repente,
continuou: ― Se eu não tivesse um outro compromisso, poderia lhe
mostrar como você está interessada. Poderia lhe mostrar o que é a paixão
verdadeira, Trixie. ― Com um gesto firme ele a pôs de lado e deu partida
no motor, voltando para a estrada.
Trixie ficou gelada e solitária no seu canto afastado. Ele a havia
deixado num auge para depois largá-la como se faz com um brinquedo
velho! Que homem frio e calculista! Será que ele tinha sentido alguma
coisa? Ou estava apenas tentando provar que podia dominá-la na hora
que quisesse? E ela tinha caído na armadilha como se fosse uma idiota!
Como podia ter sido tão fraca?
Olhando pelo rabo dos olhos, percebeu que ele tinha a atenção
voltada para a estrada, os braços apoiados no volante, algumas mechas de
cabelo caindo em sua testa alta. Ela nunca havia conhecido um homem
com tanto poder de sedução. Mesmo que continuasse negando que se
interessava por ele, permanecia presa a seu magnetismo. Fechou os olhos
e afundou mais no assento. Depois do que acontecera, não tinha vontade
nenhuma de conversar. Precisava se livrar, o mais depressa possível, da
influência dos encantos de Derek Storm.
Como resistir ao charme poderoso dele? Não era amor, ela tinha
certeza; no entanto, desde o primeiro dia sentira que a presença e,
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principalmente, o menor contato com ele lhe despertavam um desejo
insuportável.
Estava tão perdida em seus pensamentos que nem percebeu que
haviam chegado ao hotel. Foi só quando o porteiro lhe abriu a porta que
ela notou que precisava descer.
Derek deu as chaves para que estacionasse o carro.
― Vou precisar do carro mais tarde, John. Telefono pedindo que o
tragam até a porta.
― Pois não, senhor.
Derek ajudou Trixie a descer e juntos entraram no hall da recepção.
― Tivemos um longo dia, não é, Trixie?
Ela nem respondeu e se apressou em direção ao elevador. Ficou
contente por ver que estava cheio, pois assim podia se esconder no meio
dos outros hóspedes. Antes que a porta se fechasse, viu que uma mulher
morena, muito alta e elegante, com um corpo voluptuoso que atraía os
olhares, se dirigia para Derek.
― Querido, estou esperando por você há séculos. ― A beldade
morena se aproximou e Derek a tomou nos braços.
Lentamente o elevador se fechou, escondendo a cena. Trixie sentiu
que seus olhos se enchiam de lágrimas.

CAPÍTULO IV

Trixie se atirou na cama assim que chegou ao quarto. Precisava


pensar sobre sua situação. Não sabia dizer porque agüentava um homem
tão esquisito como Derek. Será que ele não percebia quanto era cruel? Ou
será que sabia e até fazia questão de ser?
Deitou de bruços e escondeu a cabeça no travesseiro. Tinha vontade
de chorar. Não era nenhum bebê, mas se comportara como se fosse. Havia
se entregado ao beijo de Derek até quase o ponto de não conseguir mais
raciocinar. Talvez por isso tivesse sido tão duro vê-lo tomar Margarita
Lopez nos braços. Afinal, se ele gostava da atriz, por que beijava Trixie e
procurava sua companhia?
Aborrecida pelo rumo de seus pensamentos, Trixie sentou na cama.
Tinha que ser mais objetiva e reconhecer sua parte de culpa no que havia
acontecido. Sendo estrangeira e não falando a língua do país, era razoável
que tivesse caído pelo primeiro homem atraente que lhe apareceu. Além
disso, era natural que sentisse atração por uma pessoa de quem admirava
o trabalho e cuja ajuda seria preciosa se quisesse se projetar na carreira de
fotógrafa.
Ia se sentir de maneira diversa quando o trabalho ficasse pronto. Aí,
então, Derek seria apenas mais um dos escritores convencidos que já
conhecera e ela teria subido um degrau importante em sua carreira.
Talvez conseguisse novos contratos com outros homens, igualmente
interessantes. Mas, enquanto estivesse trabalhando sob as ordens dele,
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iria usar todas as chances que tivesse em benefício de sua carreira. Era
por isso que não virava as costas àquele insolente. Sua profissão e o
sucesso que pudesse alcançar continuavam em primeiro lugar.
Quando tivesse folgas, procuraria passá-las com alguém inofensivo
como Jack Ledbetter, que devia tratar uma mulher com gentileza e
amabilidade. Já notara que Jack a olhava com muita admiração, mas
tinha certeza de que ele jamais se imporia, como Derek havia feito.
Mais calma com suas novas resoluções, Trixie se estendeu na cama.
O telefone tocou e imediatamente ela o atendeu.
― Que pena que nosso compromisso para hoje à tarde tivesse que ser
cancelado ― Jack falou, com voz cansada.
― Não fique aborrecido por isso, Jack. Nosso chefe acabou me
arrastando para ver Teotihuacán e tive uma tarde bastante movimentada.
― Então não está zangada comigo?
― Claro que não! Sei muito bem que quando o oráculo fala, todos
nós temos que obedecer.
― Então que tal sairmos hoje à noite? Sei que um guitarrista
maravilhoso está tocando num dos hotéis. Poderíamos assistir ao show.
Trixie fechou os olhos antes de responder. Sua vontade era deitar e
dormir.
― Mike também vai conosco, Jack?
― Hoje, não. Ele já tem outros planos.
Embora ela preferisse contar com a companhia de Mike também,
achou que seria divertido ver um espetáculo com um artista local.
― Vamos, então. Me dê meia hora para me aprontar.
― Ótimo! Passo por aí para pegá-la. ― Jack estava contente e o tom
de cansaço tinha sumido de sua voz.
― Até logo mais, Jack.
Animada, Trixie foi para o banheiro. Um banho lhe daria nova
disposição. Chegou a lembrar que Derek a prevenira contra Jack, mas
estava segura de poder mantê-lo no devido lugar. Por outro lado, talvez
Derek tivesse exagerado apenas por ver que ela tinha preferido sair com o
assistente e não com ele. Derek devia estar com dor de cotovelo e estava
pintando Jack pior do que era.
Enquanto a água corria por seu corpo, imaginava a cena de sua saída
com Jack. Ele, muito loiro e simpático, seria delicado e educado;
dançariam ao som de música romântica e, ao deixá-la, ele lhe daria um
inocente beijo de boa-noite. Seu sonho foi interrompido por outra
imagem que teimava em aparecer. Era a de um homem moreno, olhos
profundos e expressivos, que tanto podiam acariciar como castigar. Trixie
movia-se com gestos sensuais ao imaginar as mãos de Derek percorrendo
seu corpo, os lábios ardentes procurando os seus, os olhos sombreados
pelos longos cílios escuros.
Fechou as pálpebras e sorriu, enquanto um calor se irradiava até a
ponta de seus membros. Que delícia, se seus pensamentos se tornassem
realidade e Derek realmente estivesse ali em carne e osso!
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Horrorizada com a fertilidade de sua imaginação, Trixie abriu bem
os olhos e começou a se lavar com vigor. Ia sair com Jack e teriam uma
noite encantadora. Ele era um bom amigo e haveria muito o que
conversar. Seria mais agradável do que ficar em companhia de um selva-
gem que achava que as mulheres só existiam para servi-lo! Pouco tempo
depois, Trixie estava pronta. Tinha posto um vestido de seda azul clara e,
no pescoço, um colar de pérolas. Na hora combinada, Jack chegou, muito
elegante, com uma camisa da cor do vestido dela.
― Está linda, Trixie. Veja, combinamos até na cor.
― Parece que temos os mesmos gostos, Jack. Devemos ter muito em
comum.
― Acho que sim e fico feliz com isso.
Como o guitarrista estivesse tocando num lugar próximo do hotel,
resolveram ir a pé. Ele havia reservado uma mesa e ao chegarem, logo se
acomodaram.
― Soube que também haverá uma cantora. Vamos verificar se eles
são tão bons como dizem. ― Ao ver que o garçom se aproximava, Jack
perguntou: ― O que vai tomar?
― Sempre quis experimentar tequilla.
― Por favor, duas tequillas ― Jack pediu.
Ao chegarem as bebidas, Jack ergueu o copo e fez um brinde.
― Que esta noite mexicana seja inesquecível.
Trixie sorriu e eles tocaram os copos. O líquido forte queimou-lhe a
garganta, mas ela gostou do sabor diferente da bebida nacional dos
mexicanos. Correu os olhos pelo salão. Era a primeira vez que saía à noite
no México e queria guardar todos os detalhes na memória.
Conversaram e dançaram e a bebida começou a deixá-la alegre,
talvez um pouco alta. O fato é que tudo o que acontecia lhe parecia
envolto em névoa. Lembrava das risadas que deram, do guitarrista
espetacular, da volta para casa de braço dado com Jack, da sensação de
ter-se divertido muito.
Quando chegaram ao hotel, estava cansada, mas feliz.
Entrou no elevador, tropeçou, perdeu o equilíbrio, e teria caído, se
ele não a amparasse. Os dois riram com satisfação.
― Não pense que estou bêbada, Jack. Nunca fiquei, em minha vida.
Estou apenas feliz e gostaria que a noite não acabasse. Ainda tenho
vontade de dançar.
― Tenho um gravador em meu quarto. Que tal continuarmos lá a
nossa festa?
― Mike já deve estar dormindo...
― Mesmo que esteja, não precisaremos incomodá-lo. O apartamento
é grande; há um quarto e uma sala. Se fecharmos a porta, Mike não ouvirá
nada, pois quando dorme, nem um terremoto consegue despertá-lo ―
Jack soltou uma gargalhada enquanto tentava enfiar a chave no buraco da
fechadura. Depois de duas tentativas, acabou conseguindo.
― Acho que não tenho nada para beber. Vou ligar para a copa e pedir
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alguma coisa ― disse, acendendo a luz do abajur.
― Não faço questão, Jack. Prefiro apenas dançar. Onde estão as
fitas?
Ele as pegou numa gaveta e Trixie escolheu uma, com músicas
suaves. Jack segurou-a nos braços e começaram a dançar. Trixie estava
relaxada e, sem sentir, passou os braços ao redor do pescoço de Jack, que
a enlaçava pela cintura.
― Gostaria de poder dançar a noite toda ― ela murmurou.
― Há muitas coisas melhores que podíamos fazer, Trixie.
Ela levantou o olhar para encontrar o dele, muito azul e inocente.
Chegou os lábios junto ao rosto dele, mas Jack se virou e suas bocas se
tocaram. O contato era delicado e nada exigente. Ela se deixou ficar,
sentindo-se meio zonza pelo cansaço e pela bebida.
Jack tomou a atitude dela como um convite e pressionou mais os
lábios, transformando o beijo num toque ardente e sensual. Trixie
procurou se soltar, mas ele a segurava com força.
Finalmente ela se livrou do abraço.
― Me dê uma chance de respirar ― com uma risada curta ela se
afastou.
Jack a puxou para mais perto. Sua voz estava séria.
― Não banque a inocente, Trixie. Quando veio aqui, sabia que eu
tinha outras idéias em mente, além de dançar.
― Não... claro que não... ― Ela virou a cabeça para que ele não
pudesse chegar mais perto.
― Ora, Trixie, chega de fingir. ― Ele a derrubou sobre o sofá,
deitando-se sobre o corpo dela.
Trixie estava indignada. E o cavalheirismo de Jack? Como ele podia
pensar que ela queria maior envolvimento? Começou a empurrar o rapaz,
dando um grito agudo.
― O que há com você? Está querendo acordar os vizinhos?
― Me largue, seu idiota! ― Ela batia os punhos fechados nas costas e
no peito de Jack, para que ele a soltasse.
Jack ergueu as mãos para se proteger e Trixie aproveitou para fugir.
Já estava na porta quando se lembrou da bolsa que estava sobre a
mesinha. Voltou correndo, pegou-a, enquanto a voz de Jack ressoava em
seus ouvidos.
― Trixie, volte aqui! Está parecendo uma louca!
Ela não deu importância nenhuma para essas palavras e correu pelo
corredor até chegar à porta de seu quarto. Procurou a chave na bolsa e a
estava girando na fechadura quando Jack chegou. Ele parecia humilde e
preocupado.
― Mantenha-se longe de mim, Jack Ledbetter.
― Fale baixo, Trixie. São duas horas da manhã!
― Que me importa!
― Sinto muito pelo que aconteceu, Trixie. Acho que foi efeito da
tequilla, sei lá.
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― Que barulheira é essa? ― reclamou uma voz irritada. Vestido
apenas com um roupão curto, Derek apareceu na porta de seu quarto. Ele
tinha o cabelo despenteado e estava descalço. Apesar de tudo, Trixie
achou-o engraçado daquele jeito e começou a rir.
Derek olhava de um para o outro, parecendo aborrecido. Trixie
entrou no quarto e atirou-se na cama. Por alguns instantes ouviu vozes no
corredor; em seguida viu que Derek entrava no quarto dela. Com certeza
ela tinha esquecido de trancar a porta.
Ele acendeu a luz do abajur e ficou de pé ao lado da cama.
― Você está bêbada.
― Não seja tonto. Nunca estive tão sóbria na vida. Sinto-me
humilhada, isso sim. Pensei que Jack Ledbetter me respeitasse, sabendo
quem sou.
Com rudeza, Derek começou a desabotoar o vestido dela.
― O que está fazendo? ― Ela piscava os olhos, tentando
compreender.
― Sente-se! -― Ele obrigou-a a obedecer. ― Vou botá-la na cama,
porque acho que não vai conseguir fazer isso sozinha. ― Ele segurou o
vestido e puxou-o sobre a cabeça dela. Trixie ficou só de sutiã e anágua, os
cabelos caindo sobre o rosto. Imediatamente ela pegou um travesseiro e
colocou-o à sua frente.
― Seu assistente é um tarado.
― Está enganada. Ele apenas correspondeu às suas provocações.
― É mentira! Precisava vê-lo. Eu tive de bater nele!
Derek fez com que ela se reclinasse na cama, tirando-lhe antes os
sapatos. Trixie continuava tonta demais para protestar.
― Talvez tenha razão, Derek, Jack não é um tarado; acredito que
tenha bebido demais e acabou exagerando em seus ataques.
Derek começou a tirar as meias de Trixie. Primeiro um lado e depois
o outro. Torceu-lhe um pouco a perna para que a meia saísse mais
facilmente. Ela esticou a perna e acabou por lhe dar um pontapé no peito.
Derek se aproximou, segurando-a firme contra o lençol.
― Doida! É isso que você é, Trixie. ― Ele segurava as pernas dela
com as próprias pernas e mantinha seus braços imóveis.
Trixie sentiu-se frustrada, incapaz de reagir. Tinha vontade de dar
um tapa naquele atrevido que a mantinha presa.
― Deveria ter deixado que Jack me seduzisse! ― ela choramingou ―,
pelo menos ele é gentil e delicado e sabe como tratar uma moça.
― Quando começar a se comportar como uma moça sensata, talvez
receba respeito e consideração dos outros.
Com uma expressão de raiva ele se aproximou e colou a boca na dela,
fazendo com que um choque a atingisse; Trixie tremia da ponta dos dedos
à raiz dos cabelos.
Mentalmente ela o repelia, embora seu corpo traiçoeiro tivesse
sensações maravilhosas. O coração batia forte como um tambor, ondas de
calor subiam por sua espinha, o mundo parecia uma nuvem cor-de-rosa...
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Retribuiu o beijo com emoção, entreabrindo os lábios, convidando-o
a prosseguir. Os braços no pescoço dele puxavam-no para mais perto, as
mãos subindo e descendo em suas costas fortes e musculosas.
Por um segundo levantou a cabeça, perguntando com voz rouca:
― Ainda consegue dizer que preferia estar com Jack?
― Não... ― ela respondeu baixinho. Sabia que durante toda a noite
tinha apenas fingido, pretendendo ter um romance com Jack. Na verdade,
sua mente estivera sempre voltada para Derek. O namorico com Jack não
passara de um pretexto para afastar pensamentos perigosos demais.
Tinha sido muito fácil jurar que não deixaria Derek tocá-la de novo,
enquanto ele estava longe; era muito diferente senti-lo assim tão perto,
tão atraente e sensual. Sabia que não conseguia resistir.
Derek continuava a olhá-la, cheio de desejo.
― Prometi que ia ensinar a você o que é paixão e agora temos todo o
tempo necessário. Há séculos que estava esperando que voltasse para o
hotel.
― Se você sai à noite, por que não posso fazer o mesmo?
― A diferença é que parece que você se excedeu um pouco hoje, não
acha, Trixie? ― Ele procurou colocar ironia em seu tom ― De propósito,
você quis deixar Jack excitado. O que estava tentando fazer? Queria se
vingar de mim?
― Não vejo porque deveria me incomodar com sua vida. Se o que
deseja é estar com Margarita Lopez, ou passar a viver com ela, não tenho
nada com isso.
― A verdade é que se incomoda, e muito, não é? ― Ele mostrava um
ar de triunfo.
― Nada disso! Acho apenas que você é presunçoso e egoísta e que
jamais poderia ser fiel a alguém.
Derek continuou a observá-la, até que um sorriso brilhou em seus
lábios. Passou então a explorar aquele corpo macio e quente com mãos
experientes. Trixie movia a cabeça de um lado para outro, como se
quisesse negar que o desejo tomava conta de seu ser. Sentiu que ele se
demorava acariciando-lhe o seio, tornando-o cada vez mais rijo. Um
gemido de prazer escapou dos lábios dela.
― Como você é encantadora! É pena que esteja sempre me
insultando!
Com movimentos lentos ele baixou a alça do sutiã, expondo-lhe os
seios completamente. Desceu a cabeça até tocar, com os lábios, os
mamilos quentes. Trixie sentiu que sua sexualidade explodia, seu corpo
ansiava de desejo; queria ardentemente que ele a possuísse.
Alucinada de paixão, só podia pensar na delícia daquele contato, nos
lábios que tão habilmente exploravam os pontos sensíveis de seu corpo.
Foi então que outro pensamento atravessou seus devaneios. Um pouco
antes ele tinha estado com Margarita; teria agido da mesma forma com
ela? A sensação de dor foi tão grande que ela enrijeceu o corpo e procurou
resistir às carícias tentadoras.
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― Não! Pare com isso! ― Ela empurrou o corpo de Derek.
― Deixe de lutar contra seus próprios sentimentos, Trixie. Sabe que
não quer que eu pare. Eu quero continuar e acho que você também.
― Por quê? Margarita não foi mulher bastante para satisfazer seu...
apetite? Não pense que vai dar paz a seus instintos sexuais às minhas
custas! Nosso contrato de trabalho não impõe essa condição.
Derek a olhou com ódio, sem conseguir decifrá-la. Depois ergueu-se
e sentou-se na beirada da cama. Passou a mão por entre os cabelos
revoltos, como para afastar as últimas centelhas do desejo que o invadira.
― Afinal, o que é que pretende?
― Nada, Derek. Confesso que me senti atraída por você, mas
felizmente o raciocínio venceu minhas emoções descontroladas. Não
quero ir para a cama com você, Derek, porque não vale a pena.
― Só pode dar a sua opinião depois de ter experimentado ― ele
disse, já controlado.
― Acontece que não quero tentar. Não sou tão teimosa como você,
que exige uma prova de tudo.
Derek levantou, furioso. Com uma expressão de ódio, pegou as
cobertas e jogou-as sobre ela.
― Esconda seus encantos, que é melhor. Você é a mulher mais fria e
calculista que já conheci!
― É melhor ir embora, Derek. ― Ela puxou o lençol bem junto do
pescoço. ― Como você não se cansa de dizer, amanhã temos que
trabalhar.
Derek não desviava o olhar da figura frágil que se escondia por trás
das cobertas. Seu rosto tornou-se pálido e duro, como se fosse de
mármore. Apertou o cinto do roupão e foi para a porta.
― Quero que esteja em meu escritório amanhã, às oito, pronta para
trabalhar. Portanto, tem apenas cinco horas de sono, o que, espero, seja
suficiente para a boa profissional que é ― abriu a porta com um safanão,
saiu batendo-a com força.
Para sua surpresa, Trixie dormiu muito bem. Estava física e
emocionalmente esgotada e o sono foi mais forte que seus pensamentos
tumultuados. Acordou disposta, mas com uma ligeira dor de cabeça,
devido, talvez, à bebida que tomara na noite anterior.
Ao abrir os olhos ela estendeu o braço e pegou o relógio de pulso que
estava sobre a mesinha de cabeceira. Tonta de sono, viu que eram nove
horas. Ainda é cedo, pensou, e virou para o outro lado.
De repente, como um relâmpago, a idéia da hora brilhou em sua
mente. Cedo, nada! Já estava atrasada uma hora! Sentou-se assustada e
sua cabeça quase estourou de dor. Apertou-a entre as mãos.
― Nunca mais coloco uma gota de álcool na boca! Que sensação
horrível!
Levantou devagar e pegou uma aspirina na bolsa. Foi até o banheiro,
lavou o rosto e depois engoliu o comprimido. Tinha que se sentir melhor,
do contrário não agüentaria a bronca de Derek. Enquanto se vestia,
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raciocinava a respeito de sua situação. Por que ficar amedrontada? Afinal
de contas, trabalhava com Derek e não para ele. Quem podia lhe dar
ordens era somente seu editor; portanto, Derek que não se pusesse a
comandá-la! Ele não tinha direito algum de determinar suas horas de
trabalho e muito menos de obrigá-la a trabalhar no domingo, como havia
feito.
Nem sabia por que Derek ainda não tinha batido em sua porta, se ela
já estava atrasada. Quando ficou pronta, passou a escova no cabelo e se
sentiu preparada para enfrentar o dia. Já tinha decidido que não ia ouvir
insultos.
Ao sair do quarto, teve uma idéia que lhe pareceu brilhante. Iria
direto ao Palácio Nacional, ver os murais de Diego de Rivera. Desse modo,
Derek não poderia saber a que horas ela começara a trabalhar e isso lhe
daria mais tempo para ficar longe dele. No caminho, deixaria alguns
filmes para revelar.
Tornou a entrar no quarto, pegou sua bolsa com a câmara e saiu.
Felizmente a porta de Derek estava fechada e não havia sombra dele por
ali. Foi rapidamente para o elevador e saiu do hotel sem encontrar
ninguém conhecido. Andando depressa, chegou à loja de filmes, deixou os
que eram para revelação e depois pegou um táxi que a levou ao Palácio
Nacional. Ele ocupava o equivalente a quatro quarteirões e tinha sido
construído sobre as ruínas do palácio de Montezuma, em 1523. Durante
esse tempo sofrera vinte e seis reformas, não sendo, portanto, muito
parecido com o prédio original.
Durante três horas ela andou pelo palácio, estudando os murais com
a ajuda de um livro, que havia comprado no local. Capricharia nas fotos,
porque Derek deveria utilizá-las em seu livro.
Já passava de uma hora quando voltou para o hotel, indo logo para a
lanchonete, pois estava morrendo de fome. Procurou uma mesa vazia e
quase perdeu o fôlego ao dar de cara com Derek, sentado ali.
Ele cumprimentou-a friamente e convidou-a a se juntar a ele. Mais
cedo ou mais tarde teria que enfrentá-lo; por que não agora? No meio de
tanta gente ele teria que se controlar. Trixie se encaminhou pára a mesa.
― Boa tarde, Trixie. Não quer me fazer companhia?
― Boa tarde. ― Ela puxou a cadeira e sentou-se. ― Jack e Mike não
vieram almoçar com você?
― Eles estão trabalhando. Tivemos muito o que fazer a manhã toda.
― Eu também estive bastante ocupada. Fui ao Palácio Nacional e
tirei três rolos de fotos, principalmente dos murais de Diego de Rivera.
A garçonete se aproximou e eles fizeram o pedido. Derek se encostou
na cadeira.
― Gostou do que fez, Trixie?
― Muito ― ela respondeu, nervosa. ― Achei os murais sensacionais e
fiquei encantada com a riqueza dos detalhes. E a cor, Derek! É
maravilhosa!
― Concordo com você. Já visitei o Palácio Nacional muitas vezes.
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― Claro. Tirei muitas fotos e acho que vão ficar esplêndidas. Mas,
naturalmente, não pude apreciar tudo o que deveria, indo lá pela primeira
vez. Espero voltar logo que puder.
― Isso vai demorar um pouco, Trixie.
― Por quê? Posso ir lá amanhã ou depois...
― Vamos para Yucatán, amanhã.
― Não estou entendendo, Derek. Não disse que ficaríamos aqui, no
mínimo, durante uma semana?
― É verdade, mas mudei de planos. Tenho um amigo que possui uma
plantação de sisal perto de Chichén Itzá, e ele me ofereceu sua casa
durante alguns dias. Ela fica bem localizada e estaremos melhor lá do que
num hotel.
― Ainda tenho muita coisa para fazer aqui, antes de ir embora. Por
que não me consultou antes de decidir?
― Não há o que discutir, Trixie. Mike já fez as reservas de avião.
― Pois não deveria ter feito, sem saber sobre meus planos de
trabalho. Tenho um esquema a seguir e não gosto de interrompê-lo. Vá
com Mike e Jack e, assim que terminar aqui, eu os encontro.
― Eles vão ficar aqui, porque têm um serviço por terminar.
― O quê?! Está tentando me dizer que eu e você vamos ficar numa
casa... sozinhos?
― Nada disso. A casa fica no meio de uma enorme plantação, e há
muitos empregados. ― Um sorriso cínico torceu os lábios de Derek. ―
Além disso, a casa tem muitos quartos; sua honra não ficará ameaçada.
Trixie apertava o guardanapo entre os dedos, nervosa demais para
deixar as, mãos à vontade.
― Sei que tenho de ir um dia para Chichén Itzá, mas acho impossível
irmos sem Mike e Jack. Prefiro ficar.
Derek acenou para que a garçonete viesse receber; pagou e se
levantou, o rosto sem expressão.
― Como quiser, Trixie. Você pode crescer e me acompanhar a
Yucatán... ou desistir do trabalho e voltar para Nova York.
Trixie não se sentia capaz de falar. Continuava torcendo o
guardanapo, como se isso resolvesse seus problemas.
― Tem tempo para decidir. Use seu bom senso e resolva. Se for
comigo, esteja na recepção amanhã de manhã, às nove. E não se atrase
desta vez.
Depois que Derek foi embora, Trixie ainda ficou sentada, pensando
se ele teria coragem de cumprir seu ultimato. Intimamente, porém, tinha
certeza de que ele não se abrandaria. Sua tentativa de ser independente
tinha durado pouco. Agora não lhe restava outra alternativa, senão
obedecer.

CAPÍTULO V

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Trixie levantou bem cedo e foi buscar os filmes que havia mandado
revelar. Às dez para as nove estava em frente ao balcão de recepção do
hotel.
As nove horas em ponto Derek apareceu, elegante e descansado,
combinando, com muita desenvoltura, os detalhes da viagem com os
rapazes da portaria. Ela se sentiu mal vestida, de jeans e camiseta. Que
pena que Derek estivesse estragando sua primeira visita ao México!
Esperara essa oportunidade com tanto entusiasmo e Derek, com seu ar
superior e mandão, transformava tudo em sacrifício.
― Já está pronta? ― ele perguntou, com visível cinismo.
― Como vê, estou preparada.
― Ótimo! Chegou na hora, também! Está melhorando dia a dia,
Trixie.
Ela não respondeu. ― Como ele conseguia ser tão desagradável?
― Se você carregar minha máquina de escrever, levo nossa bagagem.
O táxi já está nos esperando.
Os dois foram para o veículo, ele na frente, ela seguindo pouco atrás.
Durante a viagem até o aeroporto, Trixie se manteve muda. Estava
aborrecida, sentindo-se como um cachorrinho de estimação que seguia o
dono sem reclamar.
Somente depois que se ajeitaram nos bancos do avião é que Derek
quebrou o silêncio, que se prolongava há tanto tempo.
― O que quer que esteja se passando em sua cabeça, chegou o
momento de pôr para fora. Tem que ser aqui e agora. Não vou suportar
esse voto de silêncio durante uma semana.
― Não vejo por que você está interessado no que penso. ― Ela
procurou se manter fria e indiferente.
― Tenho que saber, já que vamos trabalhar juntos.
― Não suporto sua atitude dominadora, Derek. Não ligou a mínima
quando lhe disse que não queria fazer essa viagem sozinha com você.
Nunca me consulta para decidir sobre minha própria vida. Acho essa sua
atitude revoltante.
Derek soltou um suspiro de impaciência.
― Não estamos aqui para passear, Trixie. Você veio para tirar
fotografias que deverão ser aprovadas por mim, para aparecerem em meu
livro. Não deve se espantar se exijo que cumpra essas condições e não
posso me preocupar com o que pensa a respeito de minha pessoa. Temos
um trabalho a cumprir, portanto devemos nos tolerar para que ele seja
feito. Concorda comigo?
― Estou um pouco cansada de suas insinuações sobre o que faço.
Sempre fala como se não confiasse em minha capacidade profissional.
― Acha mesmo que já sabe tudo? Não dá margem a uma melhoria
aqui ou ali? Será mesmo que se considera perfeita?
― Ninguém é perfeito!
― Ainda bem que admite isso! Começo a achar que há uma sombra
de esperança de que nosso trabalho saia bom. ― Os olhos de Derek se
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abrandaram e ele se recostou melhor no assento. ― Já esteve no Yucatán?
― Não, e sempre tive vontade de visitá-lo, até...
― Até que soube que iria comigo? ― ele interrompeu-a ― Trixie,
vamos parar com esses caprichos infantis. Quero que capte a atmosfera
dessa parte do país. Vai ver que é bem diferente daquela da Cidade do
México. A própria terra é completamente diferente. É estéril, desolada e,
no entanto, os Maias construíram nela um magnífico império. Por
centenas de anos eles viveram e trabalharam na península do Yucatán e,
de repente, desapareceram misteriosamente. Ninguém sabe para onde
foram ou porque o fizeram. Vamos respirar o mesmo ar que eles
respiraram, andar por onde eles viviam, vamos ver os centros religiosos
que tinham e talvez, depois de algum tempo, você possa começar a
compreendê-los.
Trixie ouvia, maravilhada. Como gostava de saber a respeito
daquelas civilizações desaparecidas, sobre seus hábitos e religião! Tinha
mesmo vontade de conhecer mais sobre um povo cujos deuses eram tão
caprichosos. Mas, no fundo de sua mente, desconfiava de que Derek tinha
outros motivos para trazê-la sozinha naquela viagem. Teria intenções de
seduzi-la? Será que o grande Derek Storm achava necessário raptá-la e
ficar com ela longe de tudo e de todos, para conseguir seus intentos? E
por que estava se incomodando com ela, se tinha Margarita Lopez?
Espere o melhor ― ela se aconselhou; ― e, se por acaso ele chegar às
últimas conseqüências, vai ter a chance de aprender a se defender.
― Teremos tempo para conhecer Mérida, antes de irmos para a
plantação —, Derek interrompeu seus devaneios ― É uma cidade antiga e
encantadora. Vai gostar muito.
No aeroporto de Mérida, Derek alugou um carro e seguiu por uma
avenida de trânsito congestionado, em direção à cidade. No entanto, para
surpresa de Trixie, havia poucos veículos no centro.
― É a hora da siesta. ― Derek explicou: ― Todos descansam por
umas duas horas durante o tempo mais quente do dia.
Trixie olhava para os lados, procurando captar todos os aspectos
interessantes. Reparou na catedral em estilo mourisco, que ocupava uma
boa parte da praça central.
― Essa é a catedral de Mérida, construída no século quatorze ―
Derek estava sempre pronto a esclarecer os pontos turísticos.
Trixie já havia visto muitos outros templos no México e esse não era
o maior nem o mais imponente de todos. Mesmo assim, ficou abismada
com a construção, que mais lembrava uma fortaleza do que uma igreja.
― As torres parecem um pouco pequenas para o conjunto. Dá até a
impressão de que foram construídas depois, por não constar do projeto
original ― Trixie comentou.
― O prédio foi usado como forte e como igreja. Repare que, nas
muralhas, há lugares onde os soldados apoiavam suas armas. O interior,
porém, é de uma beleza extrema ― ele esclareceu.
Derek estacionou o carro e eles entraram na catedral. De fato, ele não
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havia exagerado. A igreja era linda, de uma beleza simples e harmoniosa,
sem ornamentos que estragassem a pureza de suas linhas. Por trás do
altar, um enorme Cristo, esculpido em madeira escura, dominava o
ambiente e atraía a atenção.
― A singeleza dessa imagem é muito mais impressionante do que se
fosse feita de pedras preciosas e ouro ― Trixie murmurou. Derek
concordou e, levando-a pela mão, se encaminharam pela nave até uma
capela, à esquerda do altar. Lá, uma simples cruz de madeira ocupava o
lugar de honra.
― Esta cruz é uma relíquia, e é chamada "A Cruz das Cicatrizes".
― Por quê? ― Trixie estava curiosa.
― Diz a lenda que em Ichmul, uma cidade Maia, os índios viram uma
árvore ardendo, numa determinada noite. No dia seguinte, procuraram
nela sinais de fogo e nada encontraram. A mesma coisa se repetiu várias
noites seguidas. Então, os índios derrubaram a árvore e dela fizeram essa
cruz, que foi colocada na igreja de Ichmul. Tempos mais tarde, a igreja
pegou fogo e ardeu completamente. Somente a cruz restou, apresentando
algumas cicatrizes em seu lenho. Daí seu nome. Ela foi trazida para esta
igreja e todos os anos se fazem cerimônias comemorando os
acontecimentos milagrosos.
― A madeira deve conter algum elemento que a torne à prova de fogo
― Trixie comentou, estudando a cruz mais de perto.
― Você não acredita em milagres?
Ela levantou os olhos e viu que Derek tinha uma expressão
zombeteira.
― Deveria acreditar ou procurar uma explicação científica?
― Esperava que acreditasse em milagres, pois é muito romântica.
― Talvez seja, mas também sou bastante realista.
― Deve ser interessante descobrir qual lado pesa mais em sua
personalidade ― O sorriso de Derek era misterioso.
Em seguida foram para o Palácio do Governo. Trixie registrou em
filme os murais pintados pelo artista Pacheco, mas nem de longe eles
eram tão interessantes como os de Diego de Rivera, na Cidade do México.
Já passava das quatro quando voltaram para o carro e seguiram em
direção às plantações.
― Temos que ir muito longe? ― Trixie perguntou, depois de um
longo silêncio.
― Cerca de quarenta quilômetros. Por lá também existem lugares de
grande valor arqueológico.
Os dois se mantiveram quietos e Trixie olhava a paisagem, que se
mostrava árida e desolada.
― Esse seu amigo, que lhe ofereceu a casa, é muito rico? ― Trixie
perguntou de repente.
― Ele se chama Salvadore Divila e é milionário. Sua fortuna vem
através de gerações; o bisavô de Salvadore foi quem começou as
plantações de sisal, sendo a dele uma das maiores em Yucatán.
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Derek diminuiu a marcha e mostrou a Trixie umas plantas grandes,
de folhas longas, que pareciam rígidas.
— Esses são os vegetais que produzem o sisal. Leva cinco anos para
que eles cresçam o suficiente para começar a produzir. Depois, durante
cerca de vinte anos, tira-se quatro ou cinco folhas de cada vez, de cada
planta. A colheita é feita duas vezes ao ano. Do campo, as folhas são
levadas para outro local, onde as fibras são separadas e postas para secar.
Derek acelerou de novo e durante algum tempo Trixie só conseguia
ver a plantação de sisal que se estendia até onde a vista podia alcançar. Ao
cruzarem uma elevação, viu dois pilares muito altos, indicando o início do
terreno da casa da fazenda. O mundo pareceu se transformar quando
apareceu a maravilhosa sede, grande e espalhada, muito branca e com
telhas vermelhas para fazer o contraste. A mansão estava colocada no
meio de um gramado muito verde, onde havia palmeiras e outras árvores
mais copadas, que davam uma sombra convidativa. À direita do gramado,
via-se uma casa bem menor, provavelmente destinada a hóspedes.
Derek parou o carro em frente à casa principal.
― Vou ver se encontro alguém para me dar a chave. Pouco depois ele
voltou e dirigiu o carro para a casinha que se erguia por trás de uma cerca
de madeira, também pintada de branco. Trixie notou que, entre as duas
habitações, havia quadras de tênis e também uma piscina de água muito
azul.
Derek desceu do carro e abriu o porta-malas, para pegar a bagagem.
Trixie foi para junto dele.
― Seu amigo não estava em casa?
― Não. Ele teve que viajar por causa de negócios e não esperam que
ele volte nos próximos dias.
― E o resto da família, também foi com ele?
Derek soltou uma gargalhada sonora.
― Salvadore não é casado. Ele mora sozinho, a não ser que
consideremos os empregados, que são em grande número. Mas, por causa
da viagem, Salvadore resolveu dar férias a muitos deles. Somente um
casal de mexicanos ficou encarregado de tomar conta do lugar. Teremos
que fazer tudo para nós mesmos. É uma pena que não possa lhe oferecer a
mordomia a que Salvadore está acostumado.
Derek pegou as malas e se encaminhou para a porta de entrada.
Trixie permanecia parada, a boca aberta de espanto, o ódio e a suspeita
crescendo em seu coração. Pegando a máquina de escrever, correu atrás
dele.
― Você planejou tudo isso! ― gritou com raiva. ― Foi um golpe!
Sabia que não ia ter ninguém aqui! Mas não pense que vai levar seus
planos até o fim, porque vou voltar imediatamente para o aeroporto!
Derek apenas lhe dirigiu um olhar de desafio e abriu a porta. Entrou
e tornou a fechá-la, com estrondo. Trixie ficou de pé, parada, olhando o
lugar e tentando elaborar um plano de fuga, se isso se tornasse necessário.
Para seu desespero, notou que os campos de sisal começavam logo atrás
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da casa e se estendiam a perder de vista, sem que ela pudesse divisar uma
estrada. Pelo jeito, o único caminho que existia era a estrada por onde
tinham vindo. Com um suspiro, entrou na casa.
Lá dentro, estava fresco e agradável graças ao ar condicionado.
Parecia que eram esperados, pois tudo estava preparado. A sala era
grande, bem decorada, com vários tapetes mexicanos sobre o chão
tratado. No fundo, a sala se abria para a cozinha, onde Derek já estava,
abrindo e fechando os armários. Na extrema direita da sala havia um
pequeno hall, de onde partia um corredor com várias portas.
― Temos bastante provisões para os dias que ficarmos aqui ―, Derek
voltou para a sala com um sorriso nos lábios. ― Vamos ficar
confortavelmente instalados.
― Você vai ficar ― ela corrigiu ―, porque eu vou embora.
― Deixe de bancar a donzela ofendida!
― Você está sendo insolente, Derek. Me fez acreditar que seu amigo
estaria aqui e que poderíamos contar com a companhia dele.
― Trixie, ponha em sua cabeça que não faz diferença nenhuma se
Salvadore está aqui ou não. Viemos para trabalhar. Já basta o dia que
perdemos em Mérida, onde não produzimos nada. Em todo caso, achei
que apreciaria ver o que havia de antigo por lá. Mas, de agora em diante,
vamos trabalhar duro. Então, pegue suas coisas, escolha o quarto em que
quer ficar e deixe de bobagens. Poderemos começar nosso serviço logo de-
pois do jantar.
Ela tinha vontade de armar um escândalo e exigir que ele a levasse
de volta para o aeroporto. Porém, ao ver sua expressão fria e decidida,
percebeu que seria ainda mais humilhante se ele se recusasse a atendê-la.
Ia pensar mais um pouco. Pegou a mala e foi para o corredor. Havia três
quartos decorados com simplicidade, mas muito confortáveis. Entrou no
que ficava no fim do corredor.
Desfez a mala e guardou suas coisas no armário. Depois ficou
olhando a paisagem pela janela. Era hora do crepúsculo e logo mais a
noite desceria, transformando aquela casa numa prisão. Trixie tremeu de
medo ao pensar que estava sozinha com Derek, e sem sombra de ajuda.
Um cheiro de café recém-coado chegou-lhe às narinas. Ela saiu do
quarto e foi para a cozinha, onde encontrou Derek preparando uma
omelete, enquanto o café acabava de coar. Ficou impressionada ao ver
como o grande escritor se transformara numa figura doméstica, que
parecia perfeitamente à vontade diante de um fogão.
― Chegou na hora certa! Espero que goste de omeletes, porque
minhas habilidades culinárias são um pouco restritas.
― Gosto muito!
― Ótimo! Não quer colocar o café no bule e levá-lo para a sala? Já
deixei a mesa preparada.
Sentaram e começaram a refeição improvisada. Trixie ficou
encantada ao saborear o prato, tão bem feito. Derek era um poço de
surpresas!
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― Acho que ainda poderemos trabalhar um pouco hoje. Que tal? São
só seis e pouco.
― Não sei por onde quer começar.
― Quero dar uma olhada no que já fez, para ver o que é possível
utilizar. Talvez até me convença de que é mais capaz do que imaginava. ―
O tom de Derek permanecia cínico, apesar de seus modos simples de cozi-
nheiro amador.
― Claro! ― ela respondeu, com o mesmo sarcasmo. ― Acho que nada
como um escritor para julgar o trabalho de um fotógrafo!
― Não pretendo julgar nada, Trixie. Quero apenas fazer algumas
observações e acho que não é avessa à crítica construtiva, não é?
― Guarde suas opiniões para si mesmo e para seu próprio trabalho.
― Trixie sentia uma raiva incontrolável daquele homem que não perdia a
menor oportunidade de ser desagradável em relação ao que ela fazia.
― Você não age como profissional, Trixie. Não vamos começar
brigando, porque não estou disposto a enfrentar cenas. Acertaremos
nossos ponteiros no tempo preciso.
― Não vamos acertar nada, a não ser nosso trabalho, Derek... ― Ela
se interrompeu. Quisera falar de modo impessoal, mas sabia que dera a
impressão contrária.
― Pensei que a finalidade dessa viagem fosse o nosso trabalho,
Trixie. É exatamente isso que eu estava tentando lhe explicar. Não prestou
atenção?
― Presto muita atenção ao que diz, Derek. Principalmente ao que
fala por entrelinhas. Com você é preciso agir dessa forma.
― Deve ser muito cansativo estar sempre desconfiando de uma
pessoa com quem se tem de conviver, Trixie. Mas tenho certeza de que
poderei lhe provar que suas suspeitas são infundadas.
― Não vamos ter tanto tempo assim! ― Ela estava irritada e tensa.
Derek mudou sua maneira de agir. Tornou-se brusco e mandão.
― Termine de comer e depois lave a louça e não vá passar a noite
toda fazendo só isso.
― Estou cansada e acho que vou dormir.
― Se está pensando que vai se livrar de sua parte nos trabalhos
caseiros, está muito enganada. Não adianta ficar dando parte de fraca.
Temos que dividir tudo aqui, não só para cozinhar como para manter as
coisas limpas.
Trixie não tentou argumentar. Sabia que ele tinha razão. Ia guardar
suas forças para discutir sobre coisas mais importantes. Terminando de
jantar, tirou a mesa e num instante lavou a louça suja. Quando deixou a
cozinha em ordem, voltou para a sala e viu que Derek estava fora, junto à
porta de vidro, olhando a noite estrelada. Foi até o quarto, pegou o maço
de fotografias reveladas e colocou-as na mesa.
Derek entrou e imediatamente começou a examiná-las, separando
algumas.
― Essas aqui estão muito boas. O contraste está perfeito e vão
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ilustrar muito bem o que escrevi.
Derek continuou examinando as fotos, passando-as de um lado para
outro, como se procurasse alguma coisa que estava faltando. Trixie
começou a ficar nervosa. Ele ia criticá-la e ela não estava disposta a ouvir.
Em todo caso, se tinha que ser assim, era melhor que ele falasse de uma
vez.
― Que é que está errado? Não parece muito satisfeito com o que está
vendo ― ela desafiou.
Derek continuou a olhar as fotos, uma expressão de desagrado em
seu rosto moreno. No entanto, continuava quieto, como se não a tivesse
ouvido.
― Vamos, fale alguma coisa, Derek. O que está errado? Se alguma
delas não está bem, desembuche de uma vez! Ou será que está espantado
por ver que elas estão ótimas e que realmente posso dar conta de meu
trabalho?
― Tenho certeza de que a maioria dos leitores não encontraria nada
de errado nessas fotos. No entanto, uma pessoa mais familiarizada com as
civilizações antigas do México notará a falta de algo indefinível. Talvez os
críticos a elogiassem muito, mas isso lhe é suficiente, Trixie? Fica
satisfeita produzindo menos do que é capaz? ― Ele fez uma pausa, para
depois acrescentar: ― Vai lutar comigo em cada detalhe desse projeto?
― Talvez você tenha errado em não contratar o mesmo fotógrafo que
o ajudou em seus outros livros, Derek.
― Já conhecia o seu trabalho, Trixie, e sabia que seu potencial era
enorme. Quis lhe dar essa chance e sei que ela representa muito para a
sua carreira.
― Tem razão. Se eu conseguir sobreviver até alcançar suas
expectativas...
― Acho que vai conseguir e é para isso que está aqui. Não tenho
vontade de desistir e pretendo que você alcance o seu auge nesse meu
livro.
― Acho que deveria ficar agradecida pela oportunidade que me
oferece, mas...
― Vamos esquecer o assunto por enquanto, Trixie. Não foi uma boa
idéia começar nosso trabalho imediatamente. Estamos cansados e tudo
parece aborrecido. ― Derek sorriu. ― Vamos sair um pouco para nos
distrair. Podemos dar um passeio a pé.
Trixie concordou. Qualquer coisa era melhor do que ficar ali,
ouvindo críticas sobre suas fotos. Começaram a descer o caminho que
levava ao fim do gramado, onde principiava a plantação de sisal. Derek
pegou a mão dela, mas permaneceu impassível, sem olhá-la, como se não
se desse conta do que tinha feito. Trixie teve vontade de puxar a mão, mas
sabia que ele ia de novo chamá-la de donzela ofendida. Era melhor não se
dar por achada.
Em silêncio, ele levou-a até o início da plantação, onde o céu parecia
mais repleto de estrelas, por causa da escuridão.
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― Gostaria de morar aqui, Trixie?
― Não sei. Acho que não.
― Por quê?
― Aqui me sinto um pouco melancólica, triste. Não posso deixar de
pensar naqueles pobres índios que viviam nessas terras antes da vinda
dos espanhóis. Eles devem ter passado o tempo todo tentando plantar e
colher comida suficiente para alimentá-los. E não acredito que tenha sido
fácil, com esse solo árido.
― Ainda tinham que fazer sacrifícios em honra de seus deuses, para
que lhes mandassem chuva.
― Pois é. Parece que ficou no ar essa luta tão grande que eles
enfrentaram. Só de pensar que gerações desse povo sofrido passou a vida
toda em busca de uma sobrevivência difícil, tenho vontade de chorar, de
gritar de ódio.
― Eles não sabiam que podiam viver de outra maneira, Trixie. Nem
ao menos esperavam que a vida lhes fosse mais fácil.
― Talvez esse fosse o grande segredo de sua felicidade, Derek. Como
não esperavam nada de bom, não ficavam desapontados quando tudo ia
mal.
― É verdade. Nós, criaturas do século XX, é que temos sempre
grandes esperanças. Por isso é que estamos sempre nos desencantando
com tudo. Por vezes as pessoas nos falham e nos sentimos atraiçoados.
Trixie notou tanta amargura na voz de Derek que levantou o olhar,
para ver a expressão de seus olhos; mas estava muito escuro. Por alguns
instantes ficaram em silêncio, apenas Apreciando a noite.
― Vamos voltar? ― ele propôs.
Retornaram para casa andando lado a lado, mas sem se tocarem. No
entanto, ela se sentiu mais próxima dele do que nunca!

CAPÍTULO VI

Quando acordou, Trixie estava decidida a encarar as críticas de


Derek como benéficas a seu trabalho. Assim, poderiam logo terminar com
tudo aquilo e voltar à civilização.
Vestiu-se com um short branco e camisa azul marinho, sentindo-se
disposta naquela manhã radiosa. Não viu Derek e aproveitou para olhar a
casa. Encontrou a cozinha repleta de provisões. Cantarolando, preparou
panquecas, sanduíches de queijo, suco de laranja e café.
Deixou tudo no forno para que não esfriasse e colocou o suco na
geladeira. Foi para a sala, esperando Derek levantar. Seria mais agradável
tomarem café juntos. Aguardou uns dez minutos e começou a ficar
impaciente. Tudo o que havia feito estaria uma droga se ele demorasse
mais. Além disso, ele tinha dito que queria começar a trabalhar cedo.
Decidida, chegou até a porta do quarto dele, mas não havia sinal
nenhum de que ele estivesse acordado. Bateu de leve, mas o silêncio
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permaneceu. Tinha que acordá-lo! Tomou-se de coragem e entrou no
quarto.
Derek estava dormindo, o corpo comprido ocupando toda a extensão
da cama. Coberto somente até a cintura, o contraste entre seu corpo
queimado e o lençol muito branco tornava ainda mais evidente sua
musculatura atlética. Na ponta dos pés, Trixie se aproximou da cama.
Viu que ele mantinha os olhos cerrados, sombreados pelos cílios
longos e escuros, a boca ligeiramente entreaberta num sorriso, a
expressão calma e tranqüila. Sentiu um desejo imenso de acariciá-lo,
passar os dedos entre os cabelos, revoltos, chegar os lábios junto do rosto
bonito e másculo.
Que estranho magnetismo Derek tinha, que conseguia fazer com que
ela o amasse e o odiasse ao mesmo tempo? Amor? Não, ela estava
exagerando. Não podia chamar de amor àquela confusão de sentimentos.
Ela que não fosse estúpida a ponto de se apaixonar por um homem como
Derek Storm!
Trixie balançou a cabeça, como se assim pudesse afastar esses
pensamentos loucos. Muito devagar, colocou a mão sobre o ombro dele,
para acordá-lo com delicadeza.
― Derek, o café já está pronto.
Meio adormecido ainda, ele apenas murmurou:
― Hum?... O que?
― Já preparei o café ― ela repetiu, com voz um pouco trêmula.
Resmungando, ele virou de costas, carregando o lençol junto e
deixando uma perna de fora. Então espreguiçou-se, passou a mão pelo
cabelo escuro e depois abriu os olhos. Quando viu Trixie ao lado da cama,
sorriu.
― Bom dia, Trixie. Que delícia acordar assim.
Ela ficou corada e sem jeito, mas feliz.
― Desculpe ter acordado você, mas já fiz o café e se não tomarmos
logo, vai ficar uma droga. Já pus as coisas no forno há algum tempo.
― Acho que elas ainda vão ter de agüentar mais um pouco.
― Ora, Derek, se já está acordado, por que não levanta?
― Porque tenho uma idéia muito melhor do que comer.
― O que? ― ela perguntou, temendo ouvir o que imaginava. Sentia-
se muito vulnerável, ali, no quarto com ele.
― Por que não vem me fazer companhia por um pouquinho de
tempo? A cama é larga e cabemos os dois muito bem. ― Com uma das
mãos ele levantou o lençol, num gesto de convite.
Foi então que Trixie perdeu o fôlego. Ele não estava vestindo nada!
Sentiu as faces em fogo, a indignação crescendo, ofendida, foi para a
porta.
― Espero você na sala ― foi o máximo que ela conseguiu dizer,
batendo a porta ao sair.
O riso franco de Derek acompanhou-a pelo corredor. Que
humilhação! Como ainda se permitia ficar sob o mesmo teto com um
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devasso irresponsável como Derek? Tinha sido uma idiota ao ir ao quarto
dele. Precisava ser mais cuidadosa.
Saiu da casa. Não queria enfrentá-lo, tão transtornada. Precisava de
algum tempo para se recompor. Seguiu um caminho que levava a um
jardim florido e sombreado. Sentou-se num banco, sob uma árvore, para
ordenar os pensamentos.
Desde o início ela soubera que ficar sozinha com Derek naquela casa
não era uma boa déia. Não que tivesse medo de ser forçada, a alguma
coisa, mas o problema era exatamente que ele não teria que forçá-la; bem
no seu íntimo, sabia que o desejava. O que estava acontecendo com ela?
Derek apareceu pouco depois, recém-barbeado e muito bem
disposto. Ao vê-lo, ela se sentiu muito embaraçada e procurou disfarçar,
preocupando-se com as plantas.
― Não vem tomar café?
― Vou, sim. Vim apenas tomar um pouco de ar ― ela levantou e os
dois se encaminharam para a casa.
― A mesa está pronta e já trouxe o café e o suco. Só falta o que você
guardou no forno. ― Ele sentou, deixando o lugar dela preparado.
― Vou buscar.
Comeram, calados, até que Derek resolveu acabar com aquele
silêncio desagradável.
― Estou recebendo um tratamento gelado, especial da donzela
ofendida, por causa de minha sugestão no quarto?
Trixie não respondeu; não queria que o mesmo assunto voltasse à
baila. E ficou com raiva pelo rótulo de donzela ofendida.
― Estava só brincando com você, sua bobinha.
Ela duvidava muito que fosse só brincadeira. Além do mais, achava
difícil dizer quando ele estava brincando, ou zangado, ou falando sério.
― Já nem lembrava mais do que aconteceu. A propósito, Derek, hoje
é seu dia de lavar a louça, já que eu preparei a comida.
― Ora, Trixie. Vai mesmo insistir nessa total igualdade de sexo? Será
que não é capaz de dirigir a casa?
― Não se trata de ser capaz ou não, Derek. O que acontece é que não
vim aqui para cozinhar ou cuidar de uma casa. Vim para cumprir meu
trabalho e voltar logo para a Cidade do México. Apesar de você pensar o
oposto, sei que serei capaz de satisfazê-lo.
― Tenho certeza que sim! ― Havia um segundo sentido tão bem
expresso nessas palavras de Derek, que Trixie se odiou por ter fornecido a
oportunidade. Como ele era insolente!
Derek continuou a tomar o café, sem, porém, tirar os olhos dela.
― Acho você preocupada, Trixie. O que é que há?
Como se ele não soubesse! Mas não ia dar chance para que ele
continuasse em terreno tão perigoso. Mudou de assunto:
― Trouxe seu manuscrito sobre os Maias?
― Somente o rascunho. Ainda há muita coisa que tenho que
modificar. Por que pergunta?
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― Achei que, se pudesse lê-lo, teria melhores idéias para as fotos.
― Acho que é uma boa iniciativa, Trixie.
Ela terminou de tomar o café, dobrou o guardanapo, e levantou.
― Onde está? Gostaria de começar a lê-lo imediatamente.
Com um suspiro conformado, Derek também levantou.
― Muito bem; já vi que não vou conseguir escapar de lavar a louça. ―
Ele foi até o quarto e voltou com um envelope grande, que entregou a ela.
Aliviada por ter alguma coisa para fazer longe de Derek, Trixie se
ajeitou no sofá e começou a ler, enquanto ele tirava a mesa. Ouvia o
barulho da água correndo e o assobio feliz com que Derek cumpria suas
tarefas domésticas.
Pouco depois ele voltou para a sala.
― Dever cumprido. Agora tenho um compromisso em Mérida. Vou
ver um arqueologista, professor na Universidade de Yucatán. Ele tem
trabalhado na área de Chichén e quero obter dados interessantes.
Também preciso telefonar para o México e posso fazer isso do escritório
dele. Não se incomoda de ficar sozinha por uns momentos, não é?
― Não... claro que não.
― Amanhã poderemos ir a Chichén Itzá. Tenho certeza de que vai
apreciar mais as ruínas depois que tiver lido o que escrevi.
― Não se preocupe comigo, fico muito bem aqui. Vai demorar
muito?
― Acho que não. Até logo mais. ― Derek foi para a porta e em
seguida ela ouviu o barulho do carro se afastando.
Trixie se envolveu de tal modo na leitura, que o tempo passou sem
ela sentir. Quando viu estava no meio da tarde. Foi até a cozinha,
preparou um chá e um sanduíche, levando-os para comer na sala. Onde
andaria Derek? Já fazia tanto tempo que tinha ido, dizendo que voltaria
logo! Talvez, na empolgação da conversa com o professor, tivesse
esquecido a hora.
Voltou à sua leitura, até que as palavras começaram a se embaralhar,
as pálpebras pesadas de sono. Levantou os olhos e percebeu que já era
quase noite. Deixou o sofá e começou a arrumar as coisas, a casa lhe
parecendo quieta demais, com ruídos que não notara antes. Talvez porque
estivesse na companhia de alguém, antes, e agora estava sozinha e
preocupada.
Às sete horas Derek ainda não tinha voltado. Ela foi para a cozinha e
preparou um jantar leve. Comeu e guardou o de Derek na geladeira. Pôs a
louça em ordem e voltou para a sala. O que ia fazer agora? Descobriu uma
revista de turismo e começou a folheá-la. Foi se ajeitando no sofá, os
olhos piscando quase sem fixar as letras, até que suas mãos ficaram
pesadas e a revista caiu no chão.
Sentiu-se quente e confortável e tinha um sonho delicioso, em que se
via bem aconchegada contra os lençóis. Mas o sonho parecia querer fugir
e Trixie resistia, agarrando-se a ele, tentando se aprofundar ainda mais
naquele mundo de fantasia. Algo macio a acariciava nas costas com
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movimentos uniformes e sensuais. Trixie sorria de satisfação, sentindo a
maciez daquele toque.
Lábios macios e tentadores se aproximaram dos dela;
instintivamente, sabia que eram os de Derek. Notou que eles pousavam
em seus olhos, na ponta de seu nariz arrebitado, e novamente em sua
boca entreaberta. Um calor suave percorria seu corpo e ela não queria que
o sonho terminasse nunca.
Trixie correspondeu àquele beijo e aos carinhos, mesmo sentindo
que estava despertando. Com um suspiro fundo, levantou os braços e
passou-os ao redor do pescoço de Derek. A respiração dele estava muito
próxima, o contato de seu rosto era gostoso e havia uma sensação
excitante que só os lábios dele podiam dar.
― Como vai, dorminhoca? ― Derek finalmente disse.
― Demorou tanto! ― Ela respondeu, como se continuasse vivendo no
sonho.
― Sentiu falta de mim? ― Ele continuou com os carinhos, chegando
a boca junto ao ouvido dela e mordiscando levemente o lóbulo de sua
orelha.
Completamente desperta, Trixie percebeu o perigo da situação.
Tentou escapar à magia daquele abraço, embora um tremor de desejo a
sacudisse. Afastou-se dos braços sedutores que tanto a perturbavam.
― Ficou escuro e... senti um pouco de medo por estar aqui sozinha.
― Agora já cheguei e pode ficar tranqüila.
― Por que demorou tanto? Disse que ia voltar logo.
Li praticamente todo o manuscrito e ainda preparei uma salada com,
carne para você.
Derek colocou um dedo sobre os lábios dela.
― Shsh... Você fala demais... ― Ele se inclinou e aproximou os lábios
dos dela.
Trixie sabia que devia se afastar, mas a lembrança maravilhosa do
beijo anterior fez com que ela se arqueasse para juntar mais depressa seus
lábios aos dele.
Estremeceu de prazer sob a pressão da boca tão querida,
entreabrindo os lábios para sentir a carícia úmida da língua exigente de
Derek. Novamente sentiu-se envolvida pela paixão e um frêmito de desejo
subiu por seu corpo, deixando-a mole e entregue. Nunca tinha se sentido
assim com outro homem. Era uma sensação ao mesmo tempo poderosa e
enfraquecedora, suave e dominadora!
Com um gemido de protesto, Trixie levantou as pálpebras para ver
porque Derek se afastava. Mas ele tinha os braços estendidos, enquanto
sorria e a fazia levantar para se aninhar em seu peito forte.
― Não se preocupe, minha gatinha. Não vou a lugar algum sem você.
Tonta de paixão, ela viu que ele a pegava nos braços e a carregava.
Acomodou a cabeça na curva do pescoço dele, desejando nunca mais sair
daquela posição gostosa e segura. Fechou os olhos para apreciar com
maior emoção aqueles instantes de satisfação plena, de gozo extremo.
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Percebeu que ele a depositava em algum lugar. Abriu os olhos e viu
que estava sendo deitada em sua própria cama e que Derek se ajeitava a
seu lado. Então era para isso que ele se desmanchara em carícias!
Derek estava deitado na cama e já baixara um lado de sua blusa,
enquanto lhe fazia carícias sensuais na curva do seio exposto. Murmurava
baixinho o nome dela e cada vez a puxava mais para perto.
Trixie fechou os olhos. Tinha que se concentrar para começar a se
defender.
― Trixie, doce e querida Trixie!
Era preciso se livrar das emoções que a dominavam. Afinal, ele a
deixara sozinha, ela dormia e ele se valera dessa situação para tirar
vantagens. Fora com essa finalidade que a levara até esse lugar perdido?
Derek era um homem vivido, ela sabia, e devia ter casos com todas as
mulheres que conhecia. Mas ela não queria se envolver com ele para
depois sofrer sua ausência, quando ele se cansasse dela. Foi esse
pensamento que lhe deu a força suficiente para reagir. Afastou-se o mais
que pôde.
― Não, Derek! Não pode agir assim!
Ele a observou, os olhos repletos de um desejo que transbordava.
― Ora, Trixie, do que você é feita? De pedra? Como pode me levar a
este estado de excitação para depois dizer não?
― Isso não é verdade, Derek. Eu não o provoquei.
― Então não sei que nome tem o que fez comigo. Por que
correspondeu a meus carinhos na sala, deitada no sofá? Estava fingindo?
― Não, estava dormindo e fui tomada de surpresa. Antes que você
chegasse estava com medo, sozinha... Não vou negar que queria que me
beijasse, mas...
― Nem tem como negar! Usou todos os truques que conhecia para
me animar e agora... Está bem, Trixie. Diga de uma vez, o que está
pretendendo?
― Não quero ser usada, Derek. Você acha que pode fazer amor com
uma mulher e depois deixá-la de lado porque perdeu o interesse nela?
Não quero que isso aconteça comigo! Não vou permitir que aconteça! ―
Ela sentiu o gosto salgado das lágrimas que brotavam em seus olhos.
Derek levantou com muita calma, e com passadas rápidas se
aproximou da porta.
― Já me cansei de seus truques, Trixie. Não estou nem um pouco
interessado em uma virgem amedrontada que não sabe o que quer. Não
vou tocá-la nunca mais, até o dia em que me implore que faça amor com
você. Quando isso acontecer, se estiver disposto, sou capaz de concordar.
Mas não conte muito com isso! ― Ele fez uma pausa longa, talvez
comprida demais. Depois falou, com voz fria e indiferente: ― Temos um
longo dia pela frente, amanhã. É melhor que durma e aproveite o
descanso, pois vai precisar dele.
Derek saiu e bateu a porta com violência.
Durante muito tempo Trixie ficou deitada, olhando para o teto sem
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ver nada. Só muito mais tarde trocou a camisola e se cobriu, esperando
dormir.
Durante boa parte da noite, ouviu o bater da máquina de escrever no
quarto de Derek. O ritmo monótono e irritante continuou até mesmo
depois dela conciliar o sono.

CAPÍTULO VII

Derek tinha voltado a seu papel de professor. Só falava as coisas


absolutamente necessárias, e naquele tom que não admitia contestações.
Ela imaginava como seria o resto do dia, visitando as ruínas de Chichén
Itzá. Muito bem, decidiu, se é assim que Derek quer, posso ser tão
distante e profissional quanto ele.
Entraram na zona arqueológica e Trixie se admirou com a
quantidade de escavações que estavam sendo feitas. Teria muito o que
fotografar ali! Nem sabia se daria conta do serviço em apenas um dia.
Derek parou o carro e eles percorreram o resto do caminho a pé,
dirigindo-se a uma pirâmide de base quadrada, em cujo topo, que
formava uma plataforma, havia outra construção pequena e também
quadrada. Pararam a alguma distância do monumento para que Trixie
tirasse vistas do conjunto.
― Este monumento é chamado "Castelo" e, naturalmente, ninguém
sabe qual era sua exata finalidade. O nome dessas construções foi dado
muitas vezes pelos espanhóis, outras pelos arqueólogos que fizeram a
descoberta.
― O que representa aquele edifício pequeno, no topo da pirâmide? ―
Trixie continuava com os olhos pregados no visor da câmara.
― É um templo Maia, dedicado a Kukulcán, a Serpente Emplumada.
Em seu interior há dois pilares dedicados a esse deus Tolteca.
― Já vi que vamos ter que ir até lá em cima. Tenho certeza de que vai
querer fotos do interior também, ― ela fez uma careta de cansaço.
― Sem dúvida!
― Os degraus parecem muito íngremes. Quantos vamos ter que
subir?
― Há noventa e um degraus em cada face da pirâmide, o que perfaz
um total de trezentos e sessenta e quatro degraus. Esses mais os da
plataforma central, completam os trezentos e sessenta e cinco dias do ano.
― Muito interessante ― Trixie procurou manter a voz neutra, mas na
verdade estava encantada com o que estavam vendo. Que povo
maravilhoso, que em tempos tão remotos conseguia construir essas
pirâmides, onde cada detalhe era tão significativo!
Quando chegaram ao topo, ela estava cansada e acalorada. Mesmo
assim fotografou a Serpente Emplumada, de vários ângulos, com sua
melhor técnica. Depois sentou-se num canto fresco, sentindo-se feliz por
estar apenas de short e camiseta.
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― Me recuso a dar mais um passo, Derek. Preciso descansar um
pouco.
Trixie tinha as faces em fogo, brilhantes de suor, a respiração curta e
ofegante. Ao observar Derek, ficou louca da vida. Ele parecia refrescado e
elegante como sempre, somente com a respiração um pouco acelerada. O
que esse homem era? Um deus? Ou apenas uma máquina?
Encostou a cabeça no pilar de pedra e fechou os olhos, tentando
recuperar as forças. Sentiu que Derek se acomodava a seu lado. Com o
rabo dos olhos, arriscou olhá-lo. Ele observava o teto e as paredes e
parecia imerso em pensamentos. Ao vê-lo tão calmo, bonito e atraente,
sentiu-se transportada para a noite anterior. Reviu cada cena, relembrou
as carícias, que ele lhe havia feito, o que quase acontecera...
E se ela não tivesse se recusado a prosseguir, como ele a trataria
hoje? Continuaria com esse ar distante ou estariam aproveitando cada
minuto para sorrirem e se tocarem? Quem poderia dizer?
Trixie se ajeitou melhor contra o encosto duro e deixou que sua
imaginação a levasse de volta ao ontem. Quase se lastimava por ter
impedido Derek de continuar. Deveria ser uma delícia ficar entre seus
braços, aninhada em seu peito, gozando as delícias de ser a paixão
daquele homem tão viril! Mas, apesar dos devaneios, seu raciocínio
continuava alerta. O que aconteceria depois da noite de paixão alucinada?
Ela seria posta de lado e, fácil e imediatamente, substituída por outra.
Talvez até pela própria Margarita Lopez.
Trixie sorriu. Ele dissera que ela o havia provocado. Era até
engraçado pensar que a ingênua e inexperiente Trixie pudesse animar e
excitar um homem vivido como Derek. E, no entanto, era possível, pois
acontecera. Derek devia ter notado a paixão e desejo crescendo nela, com
tal intensidade, que chegou realmente a desejá-la com a mesma violência.
Isso poderia explicar os esforços repetidos que ele fazia para levá-la para a
cama.
Trixie se sentiu envaidecida. Pensar que um conhecedor de mulheres
maravilhosas e sensuais pudesse achá-la desejável, já a fazia se ver com
outros olhos. Nunca, antes, ela havia deixado um homem num tal estado
de excitação; talvez Derek notasse nela alguma coisa diferente, que não
tinha sido vista por outros homens.
Trixie sabia que, ao se recusar, tinha desafiado a vaidade masculina
de Derek, por isso ele continuava tão interessado nela. Ainda bem que ele
não havia percebido como ela estivera perto da entrega total. Havia agora
a promessa solene de que ele não a tocaria mais até que ela implorasse.
Ele se manteria fiel ao juramento?
― Já descansou, Trixie? Vamos continuar? ― Derek estava de pé,
muito alto e dominador.
Ela mal abriu os olhos e continuou quieta.
― Vamos de uma vez! Avisei que tínhamos muito trabalho para hoje.
Como Derek era intolerável! Nem sabia por que perdia tempo
pensando a respeito dele. Trixie se levantou e forçou um sorriso.
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― Estou pronta. Pensei que você precisasse de mais uns instantes de
descanso.
― Não seja cínica, Trixie. Em todo caso, se quer trocar ironias e
insultos, saiba que sou mestre no assunto. Mas não venha se queixar
depois, se as coisas ficarem muito duras para você. Em geral, você foge
apavorada quando isso acontece.
Trixie ficou furiosa. Se era isso o que ele pretendia, tinha acertado no
alvo.
― Vá para o inferno, Derek! ― Ela lhe deu as costas e desceu as
escadas o mais depressa que pôde, mesmo se arriscando a cair. Em suas
costas, ouvia a risada franca e alta de Derek Storm.
O resto da manhã foi passado entre as várias ruínas. Trixie seguia o
chefe sem dizer uma palavra, preocupada apenas com sua obrigação.
Ouvia as explicações que ele dava, sabendo que em lugar algum
encontraria tantos detalhes, por mais livros que lesse sobre o assunto,
mas se abstinha de fazer comentários.
― Reparou que as construções Maias são sempre longas, estreitas e
também escuras? ― Derek apontava para o teto. ― Embora eles tivessem
uma arquitetura avançada, ainda não sabiam como construir arcos. Deco-
ravam muito bem, com muita arte, as fachadas dos edifícios e orientavam
a construção deles baseados em observações dos astros.
A estrutura que deixou Trixie mais impressionada foi o observatório,
uma torre alta e circular, apoiada sobre plataformas. No interior do
prédio, Derek mostrou-lhe os furos na parede que serviam para fazer o
alinhamento dos astros.
― Nenhum outro povo da antiguidade conseguiu calcular o
movimento de rotação da Terra com tal precisão quanto os Maias. Os
Astecas e Toltecas adaptaram seu calendário ao já descoberto pelos Maias.
Depois que deixaram o observatório, fizeram uma parada para
almoçar. Descansaram um pouco, então foram ver o altar dos sacrifícios.
Ficava no alto de um rochedo a pique sobre o mar, que naquele ponto,
segundo Derek, tinha mais de cinqüenta metros de profundidade.
Na beira do rochedo, Trixie tentou imaginar como se sentiria a
pessoa que fosse levada ali para ser oferecida em sacrifício ao deus da
chuva. De cima do altar a queda, até a superfície do mar, devia ser de
cerca de noventa metros. A pessoa morreria no trajeto, ou somente
quando atingisse a água?
Por mais que admirasse a cultura daquele povo, sentiu o estômago
embrulhado ao pensar nas vidas inutilmente perdidas, em nome de uma
religião.
― Acho que já vi o suficiente, Derek. Podemos voltar agora?
Derek notou a palidez do rosto dela e com voz amável concordou:
― Já trabalhamos o suficiente por hoje. Vamos até uma fazenda aqui
perto, que foi transformada em restaurante. Podemos jantar lá.
― Ótimo. Para ser bem sincera, estou morrendo de fome.
O restaurante era grande, cercado de muitos jardins e, ao cair da
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noite, foi iluminado por luzes difusas, tornando a atmosfera ultra-
romântica. Quando entraram, um homem bonito e simpático veio ao
encontro deles, dando sinais evidentes de alegria.
― Derek! Que prazer tornar a vê-lo tão depressa!
Os olhos de Derek se iluminaram, contentes. Deu um aperto de mão
sincero, que foi correspondido plenamente.
― David! Que surpresa! ― Olhando para Trixie, Derek a apresentou:
― Gostaria que conhecesse Trixie Thompson. Ela é a encarregada da parte
fotográfica do livro que estou escrevendo. Trixie, este é o dr. David
Almedo, o arqueologista com quem estive ontem.
― Muito prazer, dr. Almedo ― Trixie estendeu a mão.
― Prefiro que me chame David, por favor. ― Ele apertou-lhe a mão.
― Então você é a fotógrafa de Derek? Lembro que ele me disse que
tinham vindo juntos, mas esqueceu de mencionar como é jovem e bonita.
― David tinha um ligeiro acento mexicano, acrescido de muitos outros,
devido a trabalhar sempre em países estrangeiros. Ele parecia estar
entrando nos quarenta anos, e seu olhar era vivo e alerta, como o de uma
pessoa que espera tirar o máximo proveito da vida.
Trixie ficou corada e procurou disfarçar.
― Espero que desculpe meus trajes, mas não esperava jantar num
local tão sofisticado.
― Nem se preocupe com isso ― David percorreu-lhe o corpo com o
olhar ― deveria se vestir sempre assim. Considero uma judiação cobrir
demais um corpo tão perfeito.
Trixie ficou muito sem jeito. Em todo caso, procurou manter a classe.
― Passamos o dia em Chichén Itzá e procurei me adaptar ao clima.
Mas achei o lugar mais quente que a Cidade do México.
― É devido à umidade. ― Virando-se para Derek, David continuou:
― Com toda razão você preferiu mantê-la escondida. Sei que tem bom
gosto para mulheres e dessa vez não fugiu à regra.
― Já terminou de jantar? ― Derek mudou de assunto.
― Ainda nem comecei e, como reservei uma mesa grande, teria
muito prazer que me fizessem companhia.
― Obrigado, David, mas não queremos interferir em sua reunião. ―
Derek já começara a se afastar.
― Nada disso, Derek; estou sozinho. Meus alunos continuam ainda
nas escavações e não vêm para cá. ― Voltando-se para Trixie, ele
acrescentou: ― Insisto em que jantemos juntos. Preciso conhecer melhor
a fotógrafa que você descobriu.
Trixie não disse nada, limitando-se a consultar Derek com o olhar.
Ele nem reparou nela, pois olhava fixo para David. Pouco depois, sorriu.
― Muito bem, David. Jantaremos com você. O prazer será todo
nosso.
Sentaram numa mesa colocada por trás de um arco, o que a tornava
mais privativa. David ajudou Trixie a sentar, roçando seu ombro e
cabelos.
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― Já fez o pedido? ― Derek perguntou, parecendo muito sério e seco.
― Ainda não. Tinha acabado de chegar quando os vi entrando. O que
quer tomar, Trixie?
― Vinho branco bem gelado, por favor.
― Para mim, um whisky ― Derek acrescentou.
David fez o pedido e, enquanto esperavam ser servidos, virou-se para
Trixie com muito entusiasmo. Ela percebeu imediatamente o
aborrecimento de Derek devido às atenções que David estava lhe dando.
― Geralmente almoço aqui e posso lhe recomendar o Folio Asado
Casero ― David falou, com entusiasmo.
Trixie sorriu, contente por estar sendo paquerada.
― E o que é esse prato de nome tão pomposo?
― É frango com molho de tomate e vinho.
― Ótimo! Escolho esse mesmo. Adoro frango com molhos diferentes.
O garçom chegou com as bebidas e David propôs um brinde.
― Para que os novos conhecimentos se transformem em velhas
amizades. ― Ele ergueu o copo, fazendo-o tilintar de encontro ao de
Trixie.
Para disfarçar a timidez, ela começou outro assunto.
― Esta mesa é muito bem localizada, David. Teve sorte em consegui-
la.
― Venho sempre aqui e os donos já sabem que gosto de me sentar
nela.
― David está sendo modesto, Trixie. Ele é muito conhecido no
México por seu trabalho... além de outras coisas. ― Derek interpôs.
Como Derek estava sendo rude!, Trixie pensou. Por que esses
ataques?
― Não sou tão conhecido como Derek em seu próprio país ― David
respondeu, um pouco irritado.
― Com licença um instante ― Derek levantou e em passos rápidos se
dirigiu para o hall de entrada.
Trixie se sentia segura, rodeada de tanta gente e contando com o
retorno rápido de Derek. Portanto, por que não aproveitar a ocasião e
corresponder à paquera de David?
― Gostaria que me contasse a respeito do trabalho que anda fazendo
― ela sugeriu, com um sorriso.
― Nada de muito importante. É apenas uma outra pirâmide, num
país que está repleto delas. ― Depois de uma curta pausa o arqueólogo
prosseguiu: ― Já conhece Derek há muito tempo?
― Não. Só desde que começamos o trabalho aqui no México, há
alguns dias.
David se interessava pelo que ela dizia e também por sua carreira.
Passaram a falar sobre o trabalho que ele estava realizando e Trixie ficou
encantada com tudo o que ele contou.
― Deve ser curiosíssimo lidar com arqueologia ― ela disse,
entusiasmada.
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― Posso levá-la às escavações comigo, se quiser. Mas não creio que
Derek vá gostar da idéia.
― Tenho o horário de trabalho muito apertado e não sei se vai ser
possível. Em todo caso, vamos ver como as coisas correm nos próximos
dias. Seria agradabilíssimo passar umas horas vendo o trabalho de um ho-
mem fascinante como você, David.
― Você não fica nada atrás em questão de fascínio, Trixie ― David se
inclinou, bem junto dela.
Nesse momento Derek voltou. David se recostou na cadeira e Trixie
passou a mão nos cabelos para afastar o mal-estar.
― Já vi que não sentiram falta nenhuma de mim ― Derek sentou,
visivelmente mal-humorado.
― Demos um jeito de passar o tempo ― David respondeu.
Por sorte, o garçom surgiu com os pratos que haviam pedido. A
comida estava excelente, muito saborosa e picante. David mantinha o
copo de Trixie sempre cheio e ela achava delicioso o vinho muito gelado,
depois da comida apimentada. A conversa girou sobre as civilizações
antigas e David contou sobre sua viagem recente à Guatemala.
― Já esteve lá, Trixie?
― Não, David, nunca.
― Mas se está fotografando os aspectos da civilização Maia, não pode
deixar de ir ― ele insistiu.
― Sem dúvida nenhuma teremos que trabalhar lá também ― Derek
falou, depois de um longo silêncio.
Trixie o olhou, surpresa. Era a primeira vez que ouvia dizer que a
Guatemala estava incluída no roteiro. A conversa continuou, animada, até
que pediram o café. David viu um amigo chegando e levantou-se para ir
cumprimentá-lo. Cansada e meio tonta por causa do vinho, Trixie apoiou
os cotovelos na mesa, colocando o queixo entre as mãos. Suas pálpebras
estavam pesadas e ela não via a hora de ir para casa, dormir.
― Parece estar se divertindo muito ― Derek comentou ironicamente.
― David é uma companhia muito agradável ― Trixie precisou fazer
força para manter os olhos abertos.
― Acho que sim. Talvez fosse bom que eu desaparecesse e vocês dois
pudessem ficar sozinhos pelo resto da noite.
Trixie despertou completamente.
― O quê?
― Claro, Trixie! Por que não? Desde que o viu você o está
encorajando a ir mais longe. Tenho certeza de que ele gostaria muito de
ficar a sós com você; e bem pertinho daqui existe um motel excelente.
Trixie sentiu que o sangue fervia em suas veias.
― Você não presta, Derek! Ele é seu amigo e eu estava apenas
tentando ser amável por causa disso. No entanto, você transformou tudo
num negócio sórdido e sujo!
David voltou para a mesa antes que Derek tivesse tempo de
responder. Trixie começou a tomar o café aos goles, os olhos baixos para
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não demonstrar o ódio que sentia. David não notou a tensão entre os dois
e começou a falar sobre escavações com Derek, levando-o a discutir o
assunto. Trixie permaneceu quieta, feliz por ser deixada na sombra. Só
esperava que o café a mantivesse acordada.
― Foi uma noite muito agradável, David ― Derek se levantou ―, mas
já é tarde e temos muito o que fazer amanhã.
― O prazer foi meu. Vamos nos ver, enquanto estão aqui no México?
― Se eu ficar em Mérida vou procurá-lo na Universidade ― Derek
prometeu.
― Faça com que ele a leve da próxima vez, Trixie ― David piscou o
olho significativamente. ― Posso lhe mostrar a cidade.
― Trixie ficaria feliz ― Derek respondeu por ela ― Infelizmente
temos serviços demais pela frente; mas se houver uma chance, eu lhe
telefono.
― Faça força para que a oportunidade surja, Trixie.
Derek começou a se afastar e David segurou Trixie pelo braço.
― Trixie, você e Derek são amantes?
― De jeito nenhum! ― ela respondeu, os olhos fuzilando de raiva.
― Ainda bem. Pela maneira dele agir, cheguei a desconfiar que
fossem.
Trixie deu um boa-noite rápido e se apressou, conseguindo alcançar
Derek na porta. Foram para o carro e ele deu a partida, fazendo os pneus
guincharem no asfalto.
Ia quieto, a expressão impassível, parecendo apenas concentrado em
dirigir o veículo.
Sentada o mais longe possível, Trixie analisava a situação. Não podia
entender as reações de Derek. Ele a havia tratado o dia todo como se fosse
uma estranha e agora se enfurecera ao perceber o interesse que David
tinha por ela. Seria ciúmes? Não podia ser! Ele não havia deixado bem
claro que só se preocupava com o trabalho e não com a pessoa dela? No
entanto, sua atitude, no restaurante, denotava outro tipo de preocupação.
A viagem de volta foi feita num silêncio constrangedor. Mesmo
quando chegaram em casa, Derek desceu do carro e abriu a porta sem
nem ao menos olhá-la. Ela foi direto para a cozinha. O vinho a deixara
com sede e queria tomar um copo d'água antes de dormir. Quando
colocou o copo vazio sobre a pia, notou que Derek estava ali, por trás dela.
Procurando dar um tom frio à voz, Trixie disse:
― Vou dormir. Até amanhã.
Ele ficou em seu caminho, os olhos muito escuros brilhando no rosto
sério. Trixie quis sentir ódio e se afastar depressa, mas uma onda de
desejo intenso a fazia arder. Desejava ser envolvida pelos braços do
homem que devia desprezar e, hipnotizada pelo olhar mágico de Derek,
não conseguia se mexer. Ele chegou mais perto, inclinando a cabeça,
murmurou:
― Quis fazer isso a noite toda. ― E beijou-a.
Trixie teve a sensação da vitória. Ontem mesmo ele havia jurado que
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nunca mais a tocaria, a não ser que ela pedisse; no entanto, não resistira.
Ela correspondeu ao beijo, colocando os braços em redor do pescoço dele,
até que Derek se afastou um pouco.
― Percebi você paquerando David Almedo a noite toda.
― Pensei que não ia se incomodar. Ontem mesmo você me disse que
não queria nada comigo e hoje agiu como se apenas me suportasse.
Um lampejo de raiva brilhou nos olhos de Derek.
― Então você atiçou David de propósito! E para se vingar de mim!
Sabia muito bem que eu não estava gostando do que vocês faziam.
― Está enganado, Derek. Fui apenas amável. Preferia que eu tivesse
sido mal-educada? Não disse que quer que eu aprenda mais sobre as
civilizações mexicanas? Onde eu poderia arranjar melhor professor que
David Almedo?
― Ele poderia ensiná-la muita coisa... mas não sobre as antigas
civilizações.
Trixie tremeu com a ameaça velada que havia nessas palavras. No
entanto, Derek devia acreditar que ela era capaz de cuidar de si mesma e
que não ia deixar que ele lhe desse ordens nesse sentido.
― Talvez eu devesse ter deixado...
Derek beijou-a de novo, dessa vez com selvageria. Quanto mais ela
tentava escapar, mais ele a apertava. Pressionava os lábios dela com tanta
fúria, que Trixie chegou a sentir o gosto do próprio sangue, quando os
dentes dele lhe machucaram o lábio. Pouco a pouco sua vontade de lutar
foi ficando mais fraca. Como vencer o desejo que tomava conta de cada
fibra de seu ser? Seu corpo a atraiçoava e se arqueava, para ficar mais
colado ao de Derek.
Estava zonza, não só pelo vinho, como também pela vontade infernal
de que ele a possuísse. Derek tornou o beijo mais suave e sensual,
forçando a língua entre os lábios dela, para alcançar, o interior úmido de
sua boca, pronta para recebê-lo.
― Machuquei você, Trixie. Sinto muito, mas não devia ter-me
deixado tão zangado.
― Não fui eu, Derek. Foi o ciúme que você sentiu que o deixou tão
bravo.
― E isso a deixa feliz, não é? Nunca tive essa espécie de sentimento,
que sempre considerei como baixo e pouco digno. Mas hoje realmente
senti ódio de meu velho amigo. Não quero que torne a vê-lo.
― Você não é meu dono nem senhor, Derek.
Ele a afastou com raiva embora, o desejo continuasse presente em
seu olhar.
― Se continuar a se exibir por aí com esse tipo de roupa é porque
está tentando me desafiar e eu nunca resisto a uma provocação, Trixie.
Portanto, está avisada. Vai conseguir aquilo que está tentando.
Derek soltou-a, deixando-a triste e solitária longe de seu calor.
― Vou continuar usando o que quero e quando quero. Se considera
meu jeito de vestir como um convite barato e indecente, isso é problema
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seu! E saiba que não adianta arranjar desculpas pelo que você deixa de
fazer, embora o deseje tanto.
Derek ficou pálido, os lábios fechados numa linha fina e obstinada.
Trixie enfrentou seu olhar, achando mais fácil resistir à sua fúria do que
às suas carícias. Apesar dos desaforos que ele lhe dizia, ela ainda o
desejava.
Com um nome feio, Derek saiu da cozinha. Pouco depois Trixie ouviu
a porta de a frente bater com estrondo. Ela tremia, ainda impressionada
com os acontecimentos da noite. Foi para o quarto, e uma estranha
sensação invadiu seu coração. Desejo não satisfeito? Desejo, sim, mas
muito mais do que isso, também. Era um sentimento novo, irresistível,
grande demais, para sua alma. Amor! Era isso o que sentia! Que Deus a
ajudasse, porque ela estava irremediavelmente apaixonada por Derek
Storm!

CAPÍTULO VIII

Derek passou o dia todo fechado em seu quarto, trabalhando. Trixie


aproveitou o tempo para fazer um balanço das fotos já feitas, ver quais
seriam aproveitáveis e separar as que achava mais próprias para serem
ampliadas.
Como o chefe estivesse ocupado, ela preparou as três refeições do dia
e depois colocou tudo em ordem. Esse trabalho físico a ajudava a manter a
mente afastada da descoberta terrível de amar Derek. Além disso, não via
chance de chegar a discutir com ele a respeito da divisão dos trabalhos
domésticos. Depois do jantar, para grande surpresa dela, Derek avisou
que iam sair.
― Prometi lhe mostrar uma aldeia Maia. Há uma aqui perto.
Podemos ir agora. Que tal?
Trixie ficou feliz por sair. Passara o dia todo quieta, ouvindo sempre
o bater monótono da máquina de escrever de Derek.
― Gostaria muito. Preciso apenas de cinco minutos para me
arrumar.
No tempo combinado, ela estava de volta à sala. Tinha escovado os
cabelos, que caíam em ondas suaves e seus olhos brilhavam,
entusiasmados com o que iam ver.
Embora tivesse sido categórica, dizendo que usaria o que quisesse,
dessa vez não estava vestindo short. Tinha colocado uma saia rodada, de
um tecido estampado com cores suaves e uma blusa de decote redondo,
que combinava com um dos tons da saia. Colocou uma faixa larga na
cintura, o que a tornava ainda mais fina.
Derek já havia fechado portas e janelas e a esperava, pronto para
partirem. A aldeia Maia era bastante próxima, coisa de quinze
quilômetros, e a viagem foi feita quase em silêncio, entremeado de
comentários ligeiros sobre o tempo e a paisagem.
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Apesar da falta de uma conversa animada, Trixie sentiu que a
atmosfera entre eles estava muito mais amigável do que anteriormente.
Ele parecia disposto a proporcionar-lhe uma noite agradável.
Pararam o carro numa praça, calçada com pedras quadradas, por
entre as quais crescia um matinho ralo, devido à falta de chuva. Andaram
por ela, parando para ver as pequenas lojas que se alinhavam de frente
para a igreja. Algumas ainda estavam abertas, pois tinham fechado
durante três horas, à tarde, para a siesta. Havia poucos turistas; as lojas
não tinham muita coisa para oferecer porque ali não era uma parada
obrigatória dos ônibus de turismo.
Os poucos nativos que estavam nas ruas eram ainda mais morenos e
baixos do que a maioria dos mexicanos que Trixie tinha visto nas cidades
grandes. Intrigada, ela perguntou a Derek a razão dessa diferença.
― Esses nativos têm as verdadeiras características maias. Os
mexicanos que viu nas cidades são o resultado de várias misturas de
raças, principalmente a espanhola.
À medida que andavam, os nativos os cumprimentavam com grandes
sorrisos e Derek por duas ou três vezes parou para conversar com eles em
espanhol muito fluente.
― Tenho a impressão de que eles já o conhecem, Derek.
― Já estive aqui várias vezes, fazendo pesquisas para meu livro.
Depois das primeiras desconfianças, eles acabaram me convidando para ir
às suas casas. Tenho cadernos cheios de anotações interessantes sobre
suas vidas e lendas.
Um nativo se aproximou e começou a conversar com Derek,
demonstrando muita alegria. Logo depois um outro se aproximou e os
três se envolveram num papo animado, sempre em espanhol. Trixie se
afastou um pouco para deixá-los mais à vontade. Ficou observando essa
nova faceta de Derek, que ela ainda não conhecia. Ele parecia feliz em
contato com os nativos e podia até ser um deles se não fosse tão mais alto
e claro do que eles. Trixie gostou de ver como ele admirava e respeitava
esse povo simples, mas dotado de tão grande bagagem cultural.
Derek se despediu dos nativos e foi para junto dela.
― Vamos seguir uma dessas ruas laterais para que você possa ver
como eles vivem ― ele pegou a mão de Trixie para orientá-la na direção a
seguir. Em muitos dias, era a primeira vez que agia como um amigo ver-
dadeiro.
A travessa não passava de um caminho estreito de terra batida, que
se afastava da praça e terminava em campos de vegetação rasteira. Ao
longo desse caminho, Trixie viu cabanas de um cômodo apenas, de teto
coberto de palha, cujas janelas não tinham vidro, mas apenas uma tábua
grossa que vedava a abertura. No chão da casa, também de terra, crianças
brincavam, todas elas descalças.
— Três ou quatro gerações de uma mesma família vivem nessas
cabanas ― Derek explicou ― algumas delas são tão cheias que mal deixa
lugar para que uma outra pessoa possa se acomodar.
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― Mas as crianças parecem tão felizes! ― Trixie ficou espantada.
―Mesmo os homens com que conversou estavam muito contentes com a
própria vida.
― Tem razão, e essa é uma das coisas que me intriga a respeito dos
Maias. Fico admirado como eles conseguem encontrar alegria e felicidade
no meio de uma vida considerada subumana. Estão sempre rindo e não
importa quantas crianças nasçam numa família, sempre há lugar, carinho
e afeição para cada uma delas. A família forma um todo unido, são muito
fiéis, e cada um contribui com o que pode, por menor que seja sua parte,
para o bem-estar da família.
― Quando existe amor e carinho ao redor de uma pessoa, ela não se
importa com coisas materiais. Acho que esse é o segredo de tanta
felicidade.
― Além disso, as pessoas não podem sentir falta daquilo que nunca
tiveram. Não concorda comigo, Trixie?
Tinham chegado ao fim do caminho e deram meia-volta, retornando
à praça. Continuavam de mãos dadas, numa atitude de companheirismo e
intimidade. Trixie se sentia muito bem assim, e nem por um instante
tentou retirar a sua.
― Já teve vontade de viver como um desses nativos, Derek? Quero
dizer, viver de maneira simples, com poucas coisas materiais com que se
preocupar?
― Acho que cada um de nós já pensou, pelo menos uma vez na vida,
em viver como um ermitão, comer o que a terra produz com o esforço de
suas mãos, gozar o contato com a natureza, preocupar-se apenas com o
comer, dormir, o amor... No entanto, poucas pessoas já tentaram realizar
esse desejo.
Trixie riu, muito contente e à vontade.
― Nem iria funcionar uma experiência dessas, não é? A pessoa
saberia que quando quisesse poderia voltar para todos os confortos que os
bens materiais trazem.
― É verdade ― Derek uniu-se ao riso dela.
Pararam em frente à igreja, grande e antiga, que estava ali há
séculos.
― Quer entrar? ― ele perguntou.
― Claro! Quero ver tudo o que puder.
O templo estava pouco iluminado e vazio. Apesar do tamanho, era
muito simples, sem os altares trabalhados com ouro e pedras, como ela
tinha visto na Cidade do México. O altar era despido de enfeites,
apresentando apenas a imagem de Cristo como o Bom Pastor. Algumas
velas queimavam, trazidas pelos nativos numa demonstração de fé.
Enquanto desciam a nave central em direção ao altar, Trixie notou
que os bancos eram velhos e usados e que não havia tapete algum
cobrindo o chão da igreja. Pararam, lado a lado, diante da imagem de
Cristo.
― Encontro aqui uma enorme sensação de paz ― Trixie murmurou.
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Derek colocou as mãos nos ombros dela e voltou-a para encará-la.
― Você também sente isso? Sempre que venho à aldeia faço questão
de entrar aqui, porque me sinto tranqüilo e em paz comigo mesmo. Talvez
os fiéis que freqüentam a igreja sejam tão puros, que deixam no ambiente
esse ar de calma e alegria.
― Pode ser. Mesmo nós, americanos voltados para uma carreira de
sucesso, conseguimos captar um pouco do misticismo desse templo.
Derek a olhou fundo nos olhos, pressionando as mãos que lhe
tocavam os ombros. Uma estranha sensação se apossou dela, como se
através daquele contato eles tivessem se aproximado, trocando
mensagens de paz e amor.
― Trixie... ― ele falou com ternura, mal pronunciando as palavras.
Era tão bom sentir as mãos de Derek acariciando seus cabelos e
pescoço, a voz suave dizendo seu nome! O ambiente pouco iluminado e
aquela sensação de paz a embalavam.
Mas em sua mente passaram rapidamente os bons e maus momentos
que já tivera com Derek. Lembrou das palavras rudes que ele já lhe
dissera e das várias vezes em que eles pareciam prestes a se dar ao amor,
para, de repente, afundar num abismo que os separava. Tinha que escapar
desse encantamento!
― É melhor irmos embora ― ela sugeriu, evitando olhá-lo.
No mesmo instante Derek baixou as mãos e a magia se rompeu.
― Vamos, sim. Já está ficando tarde.
Na viagem de volta Derek parecia tão distante como se tivesse ido
para outro mundo. Trixie encostou a cabeça no banco. Aqueles últimos
dias tinham sido tão especiais... Recordava a chegada à enorme plantação,
a casa de hóspedes tão acolhedora, os nativos com seus hábitos diferentes,
o momento de enlevo que tinha tido na igreja... o problema era que os
sonhos não duram para sempre e um dia ela teria que acordar.
Quando chegaram em casa, disse um boa-noite rápido e foi direto
para o quarto. Derek nem respondeu. Num instante ela se preparou para
dormir e se enfiou sob os lençóis. O sono não vinha, mas não demorou
muito para que o choro viesse; lágrimas amargas e sofridas, desceram por
seu rosto.
Nunca imaginara que o amor pudesse ser tão doloroso. Sempre que
tinha lido ou visto filmes sobre histórias de amor, tudo parecia correr
num mar de rosas; os que se amavam só encontravam alegria, felicidade e
carinho, um no outro. Mas nessas histórias o amor era recíproco! Ela
amava Derek, não tinha dúvida a esse respeito, mas em troca dessa
afeição profunda, ele apenas queria lhe dar alguns dias e noites de
divertimento e sexo. Quando terminassem o trabalho, ele seguiria a
própria vida e a deixaria amargurada e infeliz.
Era duro demais compreender e aceitar a realidade dos fatos. Trixie
chorava, sacudindo-se em soluços, até que conseguiu extravasar toda a
sua mágoa. Mesmo assim, ainda não podia dormir. Virava de um lado
para o outro, sentindo-se abafada e aprisionada naquela cama.
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Olhou para o relógio e viu que eram quase duas horas da manhã. Há
tanto tempo rolava na cama, que não agüentava mais a tensão. A lua cheia
passava por entre as tábuas da veneziana e iluminava o quarto com seus
raios prateados. Resolveu levantar e dar um passeio a pé. Um pouco de
exercício lhe faria bem. A noite estava clara e bonita e o gramado dos
fundos seria um bom lugar para ir. Nem precisava colocar chinelo ou um
robe, pois estava bastante quente.
Saiu da casa bem devagarinho e atravessou o grande portão de ferro
que separava o jardim interno. Foi em direção à piscina e se encantou por
ver o reflexo da lua brilhando na água clara e azul. A brisa era tão leve que
não chegava a movimentar a água, que parecia um grande espelho de
cristal. Aproximou-se das cadeiras e mesas de ferro, agrupados num
recanto da piscina, próximo do terraço da sede da fazenda. Já estava mais
relaxada e a angústia que a assaltara começou a desaparecer. Sentou na
beira da piscina e colocou os pés na água. Que vontade de nadar!
E por que não? Ninguém ficaria sabendo. Chegou a levantar-se para
voltar para casa e vestir o maiô, mas um pensamento lhe surgiu como um
raio. O que faria se Derek acordasse? Era melhor não arriscar. Correu os
olhos pelo local e viu que a piscina era toda rodeada por muita vegetação,
o que a escondia de vistas indiscretas. O único lugar mais vulnerável era a
casa de hóspedes, de onde muitas vezes ela mesma tinha estado a admirar
a piscina. E a casa principal, que estava vazia. Poderia muito bem nadar
sem ser vista por ninguém, portanto não ia buscar o traje de banho.
Antes que mudasse de idéia, tirou a camisola e guardou-a num canto
perto da beira da piscina. Com um mergulho perfeito, penetrou na água,
aparecendo somente do outro lado. Deu longas braças, o corpo nu
deslizando suavemente na água fresca e reconfortante. Que delícia! Virou
de costas e ficou boiando, o rosto voltado para um céu magnífico e cheio
de estrelas. Voltou a nadar, contente por ter encontrado uma maneira de
se relaxar, de ficar em paz consigo mesmo. Tinha sido uma boa idéia!
Quando voltasse para a cama, sabia que ia dormir como um anjo.
Por um momento a lua se escondeu por trás de uma nuvem clara e
fofa como um floco de algodão. Trixie ouviu um barulho leve, como se
alguma coisa tivesse caído na água. Sua roupa? Não, tinha certeza de que
a colocara longe da água. Resolveu ir até a ponta da piscina, de onde o
barulho parecia vir. Ao se aproximar da borda, notou um vulto escuro na
superfície. Meu Deus! Teria sido pega em flagrante por um dos criados?
Que vexame!
― Alô, Trixie ― a voz de Derek tinha um inegável tom de desafio ―
você estava se divertindo tanto, que resolvi lhe fazer companhia.
Ela se agarrou na borda, o mais longe possível dele.
― Pensei que estava dormindo!...
― Fiquei agitado demais para dormir. Ouvi quando saiu de casa e
resolvi segui-la. Pelo jeito, nenhum de nós dois conseguiu descansar. Não
acha essa coincidência um pouco estranha?
Trixie ficou apavorada. Não podia sair da água, porque estava nua! O
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que fazer?
― Já estava pronta para ir para casa. ― Ela tentou parecer calma e
controlada.
Ele foi-se aproximando devagar, sem desgrudar os olhos dela.
― Derek, fique aí até que... ― Desesperada, ela procurou a camisola,
que não estava mais onde a tinha posto. Enfrentou Derek, que chegava
cada vez mais perto.
― Você viu minha... Claro que viu! Levou embora minha camisola!
Quero que me devolva, Derek. Onde a colocou?
― Psiu! ― ele murmurou, quase encostando nela ― vai acabar
acordando os empregados e ficar numa situação difícil. Eles são capazes
de se assustar e acender as luzes da piscina. ― Por baixo d'água. Derek
estendeu o braço num esforço para segurá-la, mas ela se afastou, fugindo
para o outro canto.
― Quero minha roupa, Derek! ― ela disse, com ódio.
― Acalme-se, Trixie. Eu a guardei num lugar seguro.
― Escondeu o que era meu! ― Esquecendo da segurança, ela falava
em voz bem alta. No mesmo minuto imaginou os empregados aparecendo
e iluminando a cena. Moderou o tom e continuou: ― Vá para o inferno,
Derek Storm. Não tem nada melhor com que brincar?
― Não estou brincando, Trixie.
Derek continuava se aproximando e Trixie, com braçadas rápidas, foi
para a outra ponta da piscina. Segurou-se na borda e já estava tentando
sair da água quando Derek surgiu a seu lado. Ele a segurou pelo pé e a
puxou de volta para dentro da piscina. Trixie jogou água no rosto dele,
para mantê-lo à distância até que pudesse escapar de novo.
Derek não parava de rir.
― Então quer lutar, não é? ― Com um movimento rápido, deu um
"caldo" em Trixie.
Respirando fundo, ela surgiu na superfície, os cabelos caindo sobre o
rosto.
― Não tem um mínimo de decência? Quero sair daqui sem que fique
me olhando, não entendeu ainda? Se fosse um homem educado, iria para
a outra ponta e fecharia os olhos, até que eu estivesse longe daqui.
Derek tinha conseguido segurar-lhe o braço e ela sabia que, à menor
tentativa de escapar, aqueles dedos se fechariam como se fossem feitos de
aço.
― Nós dois sabemos que eu não sou tão educado assim, Trixie. Um
cavalheiro jamais teria entrado na piscina como eu fiz.
Ela começou a tremer, a pele arrepiada, a voz falhando.
― Você é insuportável! Eu o odeio!
Derek começou a puxá-la. Para mantê-lo distante, Trixie colocou a
mão no peito dele, mas sua mão escorregou e alcançou a barriga dele.
― Você... você está sem roupa, Derek!
Ele riu, segurando-a mais próximo, enquanto passava as mãos pelas
costas molhadas de Trixie.
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― Eu estava de maiô, mas quando encontrei sua camisola na beira da
piscina, tirei-o. Não quis que você se sentisse embaraçada.
Embaraçada! Ela queria morrer! O que ia fazer agora? Se Derek não
parasse com as mãos ela era capaz de perder a capacidade de raciocinar.
Para complicar ainda mais, ele começou a acariciá-la na altura dos
quadris.
― Derek, por favor... não me toque assim! ― ela implorou, num fio
de voz.
― Não gosta que eu a toque?
― Não!... Eu...
Derek ergueu a mão, acariciando ombros e pescoço de Trixie,
descendo até encontrar o redondo macio de seus seios jovens.
― Gosta, sim, Trixie. Sinto seu coração batendo mais forte, mais... ―
Ele juntou os lábios aos dela.
― Não! Não faça assim! ― ela murmurou por entre a boca de Derek.
― Como você é linda!
― Não... ― Ela continuava recusando, mas apenas com palavras, pois
mais do que nunca desejava que ele a tocasse e acariciasse.
― Muito linda! ― Derek inclinou mais a cabeça, até que sua boca se
fechou em redor dos mamilos de Trixie, que imediatamente se
enrijeceram.
― Derek... acho...
― Não ache nada, apenas sinta!
Um fogo líquido subiu pelo corpo de Trixie. Colocou os braços no
pescoço de Derek e começou a fazer carícias naquele homem que ela
amava tanto. Derek a segurou bem junto de si, seus corpos se colaram e
ela sentiu o desejo crescendo no corpo viril dele. Estava tão
deliciosamente envolvida por aquele contato sensual e tentador que por
nada do mundo se afastaria dele.
Derek gemeu baixinho ao encontrar os lábios de Trixie já
entreabertos para recebê-lo. Ela se entregava, adorando a sensação de ter
os seios esmagados contra o peito cabeludo de Derek.
― Trixie, estou louco de desejo por você. Sabia que se
conseguíssemos ficar sozinhos você pararia de lutar contra mim. Quero
você, Trixie... preciso tanto de você... ― Ele a apertou ainda mais e seus
lábios ardentes se fecharam sobre os dela, exigindo cada vez mais.
Através da névoa em que se achava envolvida, a emoção daquelas
palavras penetrou o cérebro de Trixie. Desejo... necessidade... Mas nem
uma vez ele tinha mencionado amor! Tudo o que estava acontecendo fazia
parte de um plano preconcebido. Derek a havia trazido ali não para
trabalhar, mas para vencer as defesas dela. Ele tinha acabado de admitir
isso. Como um homem podia ser tão frio e calculista? Ir tão longe só para
conseguir seduzir uma moça!
O calor gostoso que ela sentia transformou-se num arrepio nervoso.
Com uma força extraordinária, nascida do desespero, ela se afastou,
empurrando-o.
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― Não quero! Me deixe ir! ― Um soluço interrompeu-a.
Talvez pelo choque da reação, ou porque ele tivesse percebido seu
desespero, Derek soltou-a. Lutando para recuperar o fôlego, Trixie saiu da
piscina, sem nem ao menos pensar em sua nudez.
― Trixie, o que há com você? ― Derek tinha sofrimento e dúvida na
voz.
Trixie sentia um nó na garganta que a impedia de responder. Apenas
sacudiu a cabeça e começou a correr em direção à casa de hóspedes,
soluçando e chorando. Abriu o portão com um solavanco, e continuou
correndo pelo chão coberto de pedregulhos. Em sua dor, não reparava
onde pisava, até que perdeu o equilíbrio e caiu sobre o cascalho grosso.
Sentia tanta dor no estômago e nas pernas feridas pelas arestas das
pedras, que nem teve forças para se levantar. Continuou a soluçar de dor,
de desilusão, querendo apenas que o mundo acabasse e, com ele, suas
misérias.
Foi então que sentiu que braços fortes a erguiam e a embrulhavam
numa toalha grande e macia. Sem uma palavra, Derek a carregou para
dentro de casa. Ainda chorando, ela se aninhou nos braços dele e
encostou a cabeça em seu peito, buscando proteção.
Derek a colocou no sofá e ficou olhando-a com expressão séria. Ele
estava de maiô, mas seu corpo ainda pingava água.
― Por que fugiu de mim desse jeito? Eu não ia machucá-la.
Trixie balançou a cabeça, sem encontrar as palavras para explicar o
que sentia.
― Fique aqui enquanto vou buscar mercúrio-cromo. ― Pouco depois
ele voltou com algodão, água oxigenada e um vidro de anticéptico. ― Vou
limpar seus ferimentos e desinfetá-los. Pode ser que arda um pouco, mas
precisa agüentar, para evitar maiores problemas.
Ela segurou a toalha mais perto, não pretendendo deixar que ele a
visse nua tão de perto.
― Trixie, agora não é hora para ser puritana. ― Ele abriu a toalha,
expondo o corpo dela. Com um protesto ela tentou se levantar, mas ele a
fez deitar de novo. ― Não torne as coisas difíceis, Trixie. Veja em mim
apenas um enfermeiro que vai socorrê-la.
Ela permaneceu quieta, enquanto Derek passava o remédio em cada
esfolado ou corte que havia em seu corpo, que ficou coberto de manchas
vermelhas. Em seguida ele se levantou e tornou a examiná-la da cabeça
aos pés, para ver se não havia falhas em seu trabalho.
Apesar de Derek ter sido muito discreto, Trixie sentia uma vontade
incrível de se ver de novo no meio daqueles braços quentes e fortes.
Gostaria de pedir que ele a acariciasse como havia feito na piscina. Mas a
expressão distante dele impediu-a de se manifestar.
― Agora ponha uma camisola e vá deitar. Não quero mais vê-la. ―
Ele foi para o banheiro, guardar os medicamentos.
Tremendo e apertando a toalha contra o corpo, Trixie se levantou e
obedeceu, como se fosse uma menininha.
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CAPÍTULO IX

A rejeição de Derek foi um balde de água fria sobre o entusiasmo de


Trixie. Ela foi para o quarto e, sem forças até para colocar uma camisola,
atirou-se na cama como um manequim sem vida, até que finalmente o
sono lhe trouxe algum alívio.
Na manhã seguinte estava recuperada fisicamente, mas muito
deprimida. Ficou deitada um pouco mais na cama, procurando energia
suficiente para enfrentar o dia de trabalho ao lado de Derek. Por mais que
se esforçasse, não conseguia tirar da mente a cena da noite anterior. Revia
o rosto sério, a expressão estranha nos olhos de Derek no dizer que não a
queria ver mais...
Ela o odiava, desprezava até..., mas acima de tudo tinha raiva de si
mesma por ter se apaixonado por um homem bruto, convencido e
arrogante como Derek. Tinha vindo para o México com tantos planos e
esperanças! Mesmo em seus primeiros contatos com o chefe sentia-se
segura, certa de que o poria em seu devido lugar pela qualidade do
trabalho apresentado.
Agora tudo estava mudado. Ela já não sabia onde se situava e Derek
estava com a faca e o queijo nas mãos.
Ele tinha conseguido fazer com que ela duvidasse de sua própria
qualidade profissional, além de demonstrar que não estava preparada
emocionalmente para lidar com um homem como ele.
Tentou planejar coisas mirabolantes que quebraria o tremendo
orgulho e confiança de Derek. O que poderia fazer? Tinha tentado sair
com Jack Ledbetter e quase se dera mal; quando tentou paquerar David
Almedo, Derek ficou tão bravo que por pouco não a demitiu. O que
restava?
Talvez o jeito fosse tentar David Almedo de novo. Poderia lhe
telefonar e dizer que aceitava o convite para conhecer Mérida. Boa idéia!
Mas... será que daria conta do tipo de homem que o arqueólogo era? Além
disso, para que mentir para si mesma? Sabia muito bem que não tinha
vontade nenhuma de estar com David Almedo.
Levantou e foi tomar banho. Ao entrar no banheiro viu sua camisola
dobrada, sobre o banquinho. Em algum momento da noite ou dessa
manhã, Derek estivera ali e ela nem notara! Será que tinha parado para
olhá-la? Ela estaria coberta? Não que isso fizesse alguma diferença,
porque depois da noite anterior seu corpo nu já não era novidade para
Derek.
Trixie vestiu jeans e uma blusa vermelha, abotoada até o pescoço.
Escovou bem os cabelos até que eles ficassem brilhantes e abriu a porta
do quarto para começar o trabalho do dia. Foi então que ouviu duas vozes
masculinas conversando na sala. Parou e ficou escutando.
Reconheceu a voz de Derek, mas só ouviu o fim da frase.
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― ...Margarita é muito rica, além de ser uma mulher maravilhosa!
O outro homem riu, concordando e depois respondeu em tom tão
baixo que Trixie só percebeu... "um homem de muita sorte."
― Tem razão, meu amigo ― Derek prosseguiu ― A vida com
Margarita Lopez será sempre perfeita e excitante.
Trixie ficou com a respiração suspensa. Teve uma espécie de
vertigem ao perceber o alcance do que Derek dissera. Sentiu um ciúme tão
intenso que chegava a doer. Derek achava Margarita perfeita e, pelo jeito
dele falar, tinha chegado a uma resolução sobre seu relacionamento com a
atriz. Casamento! Oh! Por que não tinha se afogado na piscina na noite
anterior? Como poderia enfrentar a situação de ver o homem que amava
irremediavelmente unido a outra mulher?
O assunto mudara entre os homens, que agora falavam de negócios.
Trixie respirou fundo, aprumou o corpo e, de cabeça erguida, entrou na
sala.
O homem sentado diante de Derek aparentava quarenta anos, era
moreno, mas com as têmporas começando a pratear, tinha um bigode
grosso, e pareceu a Trixie muito atraente. Quem seria? Ela parou por um
instante, até que Derek percebeu sua presença.
― Entre, Trixie. Quero que conheça nosso anfitrião, sr. Salvadore
Divila.
O dono da fazenda abriu um sorriso amável e, aproximando-se de
Trixie, segurou-lhe a mão.
― Estou contente por conhecê-la finalmente, senhorita. Espero que
me desculpe por não ter estado aqui para lhe dar as boas-vindas, quando
chegou.
―Não se incomode com isso ― ela respondeu, sorrindo, também. ―
Soube que precisou cuidar de negócios.
Salvadore olhou para Derek, mas Trixie não podia dizer se havia algo
misterioso nesse olhar ou se fora apenas impressão sua.
― Espero que tudo tenha estado a contento, senhorita. Dei ordens
expressas a meus empregados para que nada lhe faltasse.
― Tudo esteve perfeito. ― Trixie se sentou e os dois homens também
se acomodaram.
― Esqueci apenas de recomendar que usassem a piscina, se
quisessem, mas espero que já o tenham feito.
O sangue subiu para o rosto de Trixie e, pelo rabo dos olhos,
arriscou-se a espiar Derek.
― Estivemos muito ocupados trabalhando, sr. Divila ― Trixie
explicou, com muita tensão na voz.
― No entanto, fomos uma vez à piscina, Salvadore. ― Derek parecia
muito à vontade, uma das pernas colocadas sobre o braço da poltrona. ―
Foi muito bom, não foi Trixie?
Ela teve vontade de jogar alguma coisa em Derek, para fazê-lo calar a
boca. Como ele podia falar a respeito da piscina com aquele ar tão
displicente?
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Jeanne Stephens Mexican nights
― Achei tanto a piscina, como o gramado, maravilhosos, sr. Divila.
Deve ser muito feliz por gozar de lugares tão perfeitos e bem cuidados.
― Infelizmente, senhorita, meus negócios ocupam uma grande parte
de meu tempo e não posso estar onde quero, com a freqüência que
desejaria. Em todo caso, estou me organizando para poder ter um pouco
mais de tempo livre para as coisas boas da vida. Por isso mesmo fiz esta
última viagem. No entanto, me sinto dividido entre ter mais tempo livre e
trabalhar menos; é que gosto muito do que faço.
― Então vai encontrar uma alma gêmea em Trixie, Salvadore. Ela
também prefere se dedicar só ao trabalho.
Divila olhou de Derek para Trixie, uma expressão de espanto no
rosto.
― Mas, senhorita, bonita como é deve ter uma vida social muito
intensa, cheia de admiradores. Senão, vou começar a achar que os
homens de seu país não têm bom gosto.
― Obrigada, senhor. Está sendo muito amável ― Trixie baixou os
olhos, encabulada com tantos elogios.
― Nada disso, estou apenas sendo honesto ― Divila retrucou.
Derek assistia a tudo com um sorriso zombeteiro. Trixie sentiu mais
ódio dele, porque se divertia às suas custas.
― Acordei um pouco tarde hoje. Já estou atrasada, por isso vou
tomar café e tratar de trabalhar ― Trixie levantou. ― Por favor, não se
levante, sr. Divila. Não quer tomar café conosco?
― Obrigado, senhorita, mas já tomei e estava de saída quando a
senhorita chegou.
― Espero que não vá viajar de novo.
― Infelizmente é o que vai acontecer. Dentro de poucos dias tenho
que ir à Cidade do México.
― É muito ocupado, sr. Divila. ― Trixie sorriu.
— Mas em breve essa situação vai mudar e, quando eu voltar, terei
excelente companhia comigo.
― É mesmo?
― Salvadore vai trazer Margarita Lopez com ele ― Derek explicou.
― Conhece a srta. Lopez? ― Salvadore perguntou, interessado.
― Ainda não tive o prazer,― Trixie teria dado a vida para nunca ter
que conhecer. Margarita Lopez, sua rival.
― Deve ter visto filmes com ela, não, senhorita?
― Não. Nunca vi. Mas devem ser muito bons. ― E que diferença faria
se não fossem? Margarita tinha Derek, que era o máximo a que uma
mulher podia aspirar, pensou Trixie.
― A srta. Lopez é a melhor artista do México. Não só por seu talento,
como também por seu charme, elegância e beleza ― Salvadore falava com
entusiasmo. ― Não concorda comigo, Derek?
― Sem dúvida nenhuma! ― Derek respondeu imediatamente.
Trixie estava odiando aquela troca de elogios para Margarita. Não
queria ouvir mais.
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― Com licença, então. ― Ela foi para a cozinha, lutando para
controlar o coração, que batia alucinado. O sr. Divila ia trazer Margarita
para a fazenda! Com certeza ele estava sendo o intermediário de qualquer
desentendimento entre a atriz e Derek. E agora eles iam reatar o
relacionamento! E ela, Trixie, tinha que presenciar tudo! Talvez Margarita
se instalasse no quarto de Derek e ela ia ter de ver os dois pombinhos em
suas cenas de amor! O que ia fazer nesse meio tempo?
Trixie ouviu que Salvadore Divila se despedia. Logo depois Derek
entrou na cozinha.
― O que vamos ter para o café?
― Não faço a menor idéia do que você vai tomar, Derek. Quanto a
mim, perdi a fome de repente.
― É sua vez de cozinhar, hoje. Não me diga que não vai manter sua
parte no acordo?
― Não vou fazer coisa nenhuma nesta cozinha. Se quiser, mova uma
ação contra mim!
― Minha nossa! Que mau humor! Será que seu passeio de ontem à
noite lhe fez tanto mal assim?
Trixie sentiu que tinha chegado ao ponto máximo de sua resistência.
Colocou as mãos na cintura e, com os olhos fuzilando de ódio, respondeu:
― Estou péssima! Sinto até náuseas, mas não por causa do que
aconteceu ontem e sim porque você é o maior canalha que já conheci em
toda minha vida!
― Por que está tão furiosa? Tudo isso porque eu quis fazer amor com
você, ontem à noite? Querer estar com uma mulher não é crime nenhum!
― Pelo menos para você, não é, Derek? Você se considera o maior
amante do mundo, o irresistível, por quem todas as mulheres se
apaixonam, não é?
― Pare com isso, Trixie. Não seja exagerada. Para começar, eu não a
forcei a nada. Você correspondeu muito bem aos carinhos que lhe fiz e até
me incentivou a ir mais longe. Sei que gosta de se considerar como uma
virgem casta e imaculada, mas já está sendo demais! Por que não se
acalma, volta ao normal, e prepara o café? Aí, então, poderemos começar
a trabalhar.
Trixie levantou a cabeça com teimosia.
― Já lhe disse que não vou fazer nada. Não cozinho mais para você,
nem que me bata.
― Não comece a me dar sugestões. Posso aceitá-las.
Trixie achou que ia estourar de ódio.
― Preciso de ar fresco ― disse, passando por ele; cruzou a sala e foi
para fora.
― Volte aqui, Trixie! O que deu em você?
Derek foi atrás dela. Segurou-a pelos ombros, ele a fez encará-lo.
Trixie tinha o rosto molhado de lágrimas. Derek suspirou fundo.
― Acho que levantou com o pé esquerdo, hoje, Trixie. Quem sabe o
mesmo aconteceu comigo? Vamos tentar começar o dia de novo?
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― Não quero recomeçar nada com você, Derek.
Ele colocou as mãos na cintura, visivelmente no fim de sua paciência.
― Por que está agindo assim?
― Preciso refrescar sua memória? Já esqueceu que eu ouvi
perfeitamente bem que Salvadore Divila vai trazer Margarita Lopez para
cá? Ou vai tentar negar esse fato?
― Não. Claro que não. E daí?
― Se pensa que vou ficar na mesma casa com você e com ela, está
completamente louco.
Derek a olhou sem parecer compreender, até que finalmente inclinou
a cabeça para trás e riu com vontade.
― Então é por isso que está tão zangada? Quando vai crescer, Trixie?
Margarita não vai nos atrapalhar. Ela vai ficar na casa-grande e...
― Atrapalhar?! Não posso entender você, Derek. Ou está querendo
se divertir enquanto eu banco a boba?
― Trixie... ― Ele quis segurá-la, mas ela se livrou de seus braços.
― Tire as mãos de mim! ― Um soluço amargo escapou de seus lábios
contraídos. ― Odeio você!
Derek ficou sério. Havia tanta fúria em seus olhos escuros que Trixie
chegou a se assustar.
― Volte para casa e trate de limpar tudo. E não tente fugir de novo,
porque se tentar, sou capaz de arrastá-la para casa e trancá-la, se for
necessário. Entendeu bem?
Trixie não via como sair dessa situação. Não tinha como fugir ou
para quem pedir auxílio. Ia voltar e depois pensar numa saída. Começou a
andar de volta para casa, Derek seguindo-a muito de perto, sem, no
entanto, trocarem uma palavra.
Foi direto para o quarto, querendo se trancar lá dentro pelo resto da
eternidade. Sabia, porém, que isso era impossível. Mais cedo ou mais
tarde teria que enfrentar Derek, Era melhor agir de maneira civilizada e
terminar seu trabalho, para nunca mais tornar a pôr os olhos nesse diabo
em forma de gente.
Lavou o rosto para tirar o vestígio das lágrimas e se arrumou um
pouco. Depois, foi para a sala. Percebeu que Derek estava na cozinha,
lavando a louça. Ele já devia ter tomado café. Quando ele voltou para a
sala, tinha uma garrafa térmica nas mãos.
― Trouxe café para você. ― Derek colocou a garrafa na mesinha.
― Obrigada. Se não se incomoda, vou acabar de ler seu manuscrito
sobre os Maias.
Derek concordou com a cabeça e foi até o quarto, de onde voltou
trazendo muitas páginas datilografadas.
― Aqui está o que completei. Enquanto você lê, vou para meu quarto
trabalhar um pouco mais.
Trixie pegou as folhas e a garrafa e sentou-se na mesa perto da porta
do jardim. Abriu o manuscrito e começou a ler.
― Fomos convidados para jantar com Salvadore, hoje à noite ― Ele
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avisou.
Trixie ficou aborrecida. Não ia agüentar passar a noite toda com
Derek e seu amigo.
― Sinceramente, Derek, prefiro não ir. Não tenho vontade
nenhuma...
― Seria muita indelicadeza de sua parte recusar, ainda mais por ele
ter sido tão gentil em mantê-la como hóspede.
― Está bem, eu vou ― ela concordou, sem entusiasmo.
― Ótimo. ― Derek foi para o quarto.
A manhã foi interminável. Trixie leu todas as páginas que faltavam e,
embora o assunto a interessasse, estava deprimida demais para tirar
proveito da leitura.
Apesar de seu juramento de não cozinhar mais para Derek, acabou
preparando o almoço. Pelo menos, estava fazendo alguma coisa que
mantinha seus pensamentos comportados.
À tarde, Derek a levou a outras duas aldeias Maias ali perto, para que
ela tirasse mais fotos. Ela cumpriu sua obrigação e as poucas palavras que
trocaram foram apenas as indispensáveis.
Ao voltarem, Trixie foi se arrumar para o jantar. Tinha trazido
somente o vestido de crepe bege e completou-o com sandálias de salto
alto. Encontrou Derek na sala e foram juntos para a sede da fazenda. A
porta lhes foi aberta por uma empregada muito bem arrumada, que os
levou até a sala.
O aposento era tipicamente espanhol, com sofás e poltronas de
veludo vermelho, objetos de arte espalhados pelas mesas e aparadores,
enquanto das paredes pendiam tapeçarias suspensas por lanças de ferro
trabalhado. De uma caixa sonora, inteligentemente disfarçada na parede,
vinha o som de uma música flamenga.
Salvadore Divila, muito elegante num terno de linho branco, estava
junto de uma estante, conversando com outro convidado, David Almedo.
Com visível alegria, David se aproximou dos recém-chegados. Trixie
reparou que Derek comprimia os lábios num sinal evidente de desagrado.
Para ele, devia ser uma surpresa a presença de David, e não das mais
agradáveis.
― Que ótimo tornar a encontrá-la, Trixie ― David segurou-a pelo
braço e a levou para dentro da sala, onde se sentaram num dos sofás.
Salvadore e Derek também se acomodaram.
― Depois que fui vê-lo ― Salvadore conversava com Derek ―,
lembrei que você e David são velhos amigos e que seria ótimo se
pudéssemos jantar todos juntos. Felizmente David conseguiu adiar alguns
compromissos e nos honrar com sua presença.
― Foi uma boa ocasião de nos reunirmos ― Derek falou com pouca
alegria.
Salvadore foi buscar vinho para seus convidados. Trixie pegou o
cálice.
― Obrigada, sr. Divila.
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― Já é tempo de me chamar de Salvadore, não acha? Somos todos
amigos, já que David me contou que também a conhece.
Derek conversava com Salvadore, mas estava sempre com a atenção
voltada para Trixie e David. Parecia prestes a pular da cadeira se
percebesse alguma atitude mais ousada por parte do amigo.
― Estava ansioso por encontrá-los de novo ― David olhava para
Trixie, embora englobasse Derek no que dizia. ― Desde que Salvadore me
ligou hoje de manhã, fiquei feliz, prevendo uma noite muito alegre.
― É muita amabilidade sua ― foi Derek quem respondeu ―, mas
infelizmente vamos ter que ir embora cedo, porque Trixie está
trabalhando muito e se sente cansada.
― Não deve deixar que Derek a obrigue a trabalhar tanto, Trixie ―
David se dirigiu à moça. ― Também precisa se divertir um pouco em sua
primeira visita ao México.
Trixie sorriu, feliz por estar recebendo as atenções de David.
― É o que pretendo fazer. Não sei se terei outra oportunidade de vir
ao Yucatán.
― Ótimo! Poderei ser seu guia, quando quiser.
Trixie tomou um gole do vinho, dando-se tempo necessário para
pensar. Em outras circunstâncias, diria imediatamente, que não poderia
abandonar o trabalho para sair com David, evitando assim encorajá-lo a
maiores intimidades. Mas queria tirar uma desforra de Derek. Sabia que o
amava intensamente, mas a vinda de Margarita Lopez a deixava louca de
ciúmes. Nunca tinha sido vingativa, mas só de perceber que Derek não
estava gostando da paquera entre ela e David, teve vontade de levar o caso
para diante.
Encorajado, David insistiu:
― Pode ir amanhã?
― Não posso decidir neste momento, David, mas lhe dou uma
resposta mais tarde.
A empregada que lhes abrira a porta apareceu na sala, avisando que
o jantar estava servido.
Salvadore Divila ofereceu o braço a Trixie, convidando:
― Vamos para a sala de jantar?
Trixie levantou, deu o braço ao anfitrião e os quatro passaram por
entre altas portas de ferro trabalhado, entrando na enorme sala de jantar,
também em estilo flamengo. A mesa estava coberta por uma toalha de
linho branco, os talheres de prata brilhavam ao lado de pratos ornados
com filetes azuis e dourados e os cristais refletiam à luz do lustre que
pendia do teto.
Parece um sonho! ― Trixie disse a si mesma. ― Como ia ser difícil
voltar à sua vida normal no apartamento de Nova York. Não devido à
opulência de tudo o que tinha visto, mas porque sua vida nunca mais seria
a mesma, depois de ter se apaixonado por Derek Storm.
A conversa durante o jantar foi animada e David lhes contou
passagens interessantes de seu trabalho como arqueólogo e as
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descobertas maravilhosas que várias vezes havia feito. Derek quis mudar
de assunto, para que as atenções não ficassem concentradas em David e
passou a falar sobre as plantações de sisal.
Quando terminaram a refeição, voltaram para a sala, onde tomaram
o café. David ficou ao lado de Derek, perguntando sobre o andamento do
livro. Ele tinha percebido que o amigo estava aborrecido e resolveu lhe
dar o máximo de atenção.
Divila e Trixie se acomodaram no sofá.
― Derek tem trabalhado muito, não? ― Salvadore iniciou a conversa
― Ele me parece bem cansado.
― É verdade ― Trixie concordou, sem demonstrar outra emoção a
não ser a de uma atenção delicada.
― Já faz tempo que o conhece?
― Não; apenas algumas semanas.
― Foi o que pensei, pois ele nunca tinha falado a seu respeito antes
― Divila sorriu. ― Derek jamais teria deixado de mencionar uma
companhia tão encantadora.
― Sou apenas uma companheira de trabalho, Salvadore. Não vejo
porque mencionar meu nome em seu círculo de amizades.
― Ora... pensei que seu relacionamento fosse um pouco mais do
que... o de companheiros de trabalho.
― Não sei porque teve essa impressão ― Trixie não estava gostando
do rumo da conversa. Talvez Salvadore estivesse apenas procurando saber
em que pé estava a situação, para depois relatá-la para Margarita Lopez.
Ficou aliviada por ver que David se aproximava.
― Ainda quero falar com você, Trixie.
Divila levantou para dar lugar a David e foi conversar com Derek.
David sentou.
― Já se decidiu em arriscar uma saída comigo?
Trixie sorriu. Apesar de David ser a imagem perfeita do D. Juan, ela
se sentia à vontade com ele. Tinha certeza de que ele saberia respeitá-la e
até de que seriam bons amigos.
― Poderíamos sair amanhã, está bem? ― Ela propôs.
― Ótimo! Posso apanhá-la às dez horas, Trixie. E Derek? Acha que
ele virá conosco?
― Penso que não.
David sorriu, satisfeito, e se reclinou no sofá para continuar a
conversa. Mas Derek percebeu o sorriso e chegou junto aos dois.
― Vamos embora agora, Trixie. Temos que descansar, porque há
muito serviço para fazer daqui por diante.
Trixie levantou, despediu-se de David e de Divila, agradecendo-lhe o
jantar maravilhoso. Andou junto de Derek ao voltar para casa. Não sabia
como lhe comunicar que ia sair com David no dia seguinte.
Assim que chegaram em casa, Derek falou, com expressão
aborrecida.
― Não gostei da sua maneira de agir com David.
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― E por que não? Ele é uma pessoa muito simpática e agradável e
tivemos um papo interessante.
― Acontece que ele está pretendendo muito mais com você do que
um simples bate-papo amistoso.
― Você é engraçado, Derek. Está sempre dizendo que preciso
crescer. Talvez uma maneira de chegar ao amadurecimento seja começar
a conviver com tipos como David Almedo.
― Se quer um conselho, não recomendaria que começasse por David.
Não creio que você tenha experiência suficiente para saber levá-lo.
― David é um homem distinto e tenho certeza de que sabe conduzir
uma amizade sincera com uma mulher ― ela retrucou, indignada.
― Aí é que você se engana. Pensa que ele não sabe que quero levá-la
para a cama? Acho até que ele pensa que já fiz isso!
Trixie ficou corada e muito embaraçada.
― Ele não pode pensar assim. Fui bastante clara a respeito de nosso
relacionamento.
― Então já andam conversando sobre coisas íntimas! ― A indignação
de Derek crescia a cada minuto. ― Quero preveni-la de que David se sente
ainda mais motivado quando encontra concorrência pela frente. Nada
pode segurar seu apetite sexual.
― Ele não é um homem das cavernas, Derek. Sabe que tem que me
respeitar.
Derek fechou as mãos e colocou-as nos bolsos, para se controlar. Foi
até a porta que dava para o jardim. De costas para ela, disse:
― Salvadore quer que eu vá ver a plantação com ele amanhã. Vamos
sair bem cedinho e provavelmente só voltaremos no fim da tarde. Acho
que você vai ficar muito contente com minha ausência.
Trixie sentiu um tal alívio por ver que não teria que dizer a Derek que
ia sair com David, que suspirou de satisfação. Contaria tudo quando já
tivesse voltado do passeio.
― Vou encontrar alguma coisa para me manter ocupada. ― Ela
chegou mais perto. ― Até amanhã.
Ele não se virou, nem respondeu. Trixie foi para o quarto e deitou,
sentindo-se deprimida.
Derek tinha dito que iam estar muito ocupados nos próximos dias e
somente agora ela percebia a ironia dessas palavras. Em breve Margarita
Lopez estaria chegando, pois Salvadore disse que iria, buscá-la no dia
seguinte. Derek estaria ocupado, sim, mas não com o trabalho. Caberia a
ela, Trixie, fazer o serviço continuar, para que ele pudesse passar o tempo
todo junto de Margarita.
Um ódio amargo encheu sua alma e Trixie se sentou na cama,
desesperada com a situação.
― Não, Derek, de jeito nenhum! ― murmurou, decidida, no quarto
escuro, onde apenas um tímido raio de luar penetrava.
Trixie levantou e começou a trocar de roupa, enquanto um plano se
formava em sua mente. Não ia ficar ali, para ser humilhada. Voltaria para
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a Cidade do México antes que Margarita chegasse. Teria que pedir que
Derek a levasse até o aeroporto. No mesmo instante, pôs essa
possibilidade de lado. Ele nunca a atenderia.
Então, teria que partir sem a aprovação dele, sem que ele soubesse!
Tinha de aproveitar a oportunidade que surgira. Enquanto Derek
estivesse fora com Divila, ela iria passear com David. Por que não arrumar
a mala, levá-la consigo e convencer David a deixá-la no aeroporto?
Feliz com os planos que tinha elaborado, Trixie deitou e dormiu
como há muito tempo não acontecia.
Na manhã seguinte, quando David chegou para pegá-la, Trixie já
estava com a mala na mão. Ele olhou sem compreender.
― Sei que sou irresistível, mas nunca pensei que uma mulher fosse
sair comigo de mala na mão, logo no primeiro encontro!
― A mala não tem nada a ver com você, seu convencido ― Trixie não
deu maiores explicações e foi para o carro.
― Acho que é uma pena. Preferia que dissesse o contrário.
― Gostaria que me levasse até o aeroporto de Mérida, porque quero
ir para a Cidade do México.
― O que aconteceu, Trixie? Onde está Derek? Ele sabe que você vai
embora? ― As perguntas se atropelavam, enquanto David abria a porta do
carro.
Trixie colocou a mala no banco de trás e se acomodou na frente.
David deu a volta e sentou-se ao lado dela.
― Derek saiu com o sr. Divila. Acho que foram ver as plantações.
― Está acontecendo alguma coisa que não consigo compreender,
Trixie. Por que está voltando para a Cidade do México sem Derek?
― Nós... mudamos nossos planos. Não podemos ir, David? Não sei
quantos vôos existem por dia para lá, mas faço questão de pegar um deles.
David olhou-a longamente, uma expressão de dúvida nos olhos
inteligentes. Depois pôs o motor em movimento e começou a se afastar da
casa.
― Há um vôo às duas da tarde ― ele disse, depois de alguma
hesitação. ― Acho que posso conseguir uma vaga para você. Conheço a
pessoa certa a quem pedir, caso não haja lugares vazios.
― Obrigada. ― Trixie se encostou no assento, sentindo-se mais
relaxada. ― Poderíamos acertar o vôo primeiro e depois teríamos tempo
para almoçar com calma, aproveitando as horas de espera. Concorda com
isso, David?
― Na verdade, esperava conseguir alguma coisa além de um almoço
calmo.
― Desculpe, David. Mas se algum dia for a Nova York...
― Já sei, Trixie. Se for para lá, então eu lhe telefono. Você realmente
sabe como desanimar um homem!
― Não quis ser indelicada com você, David, mas tenho outros
pensamentos em mente.
― Já tinha percebido isso há muito tempo, mas... nunca se perde as
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esperanças, não é?
O carro adquiriu velocidade, engolindo os quilômetros que os
separavam de Mérida.

CAPÍTULO X

Da janela do avião, Trixie via a terra se afastar e o aeroporto, cada


vez menor, desaparecer. David Almedo tinha sido perfeito, inclusive
dando um jeito de lhe arranjar uma passagem no vôo das duas horas para
a Cidade do México.
Em primeiro lugar tinham ido ao aeroporto providenciar os arranjos
necessários para a partida, depois fizeram um lindo passeio por Mérida,
numa carruagem antiga, puxada por cavalos brancos. Com ela, tinham vi-
sitado vários lugares interessantes. Por fim, pararam num restaurante
pequeno e exclusivo, onde não havia turistas, mas somente o pessoal rico
de Mérida. Como David teria posses para freqüentar lugares tão
sofisticados?
― Você é incrível, David! ― Trixie havia dito, com sinceridade. ―
Sabe conseguir lugares em aviões lotados, descobre restaurantes
finíssimos, escondidos dos olhares dos turistas... O que é que não sabe?
― Só uma coisa, Trixie. Por que está fugindo de Derek?
— Quem está fugindo? ― Ela procurou disfarçar.
― Não adianta fingir, Trixie. Senti que a situação estava tensa entre
vocês dois ontem à noite. Acho mesmo que nem deveria ter demonstrado
interesse por você, pois não era a ocasião propícia. No entanto, só me dei
conta disso quando já era tarde demais. Sei que Derek não gostou de
minha atitude e isso me deixa preocupado, porque prezo muito a amizade
que temos. Vocês discutiram depois que foram embora?
― Não. ― ela contou a verdade, pensando que teria sido muito
melhor se tivessem discutido, pois a situação entre ela e Derek ficou
obscura, desagradável. Nada poderia ser pior que aquela apatia que Derek
mostrava.
― Não era minha intenção interferir em qualquer relacionamento
que houvesse entre Derek e você.
― Não interferiu, David, porque não existe nada entre nós. Apenas
trabalhamos juntos e, pelo jeito, até mesmo essa sociedade vai terminar
antes do esperado.
― Então sua volta para a Cidade do México foi uma decisão súbita.
Derek sabe que vai embora?
Trixie levou muito tempo para responder, mas achou melhor contar
a verdade.
― Não disse nada a ele. ― Na verdade, estava já se lastimando por
não ter deixado um bilhete dizendo que tinha partido. Mesmo que Derek
não se preocupasse com ela, era horrível não saber o que tinha acontecido
com uma pessoa com quem se estava trabalhando.
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Jeanne Stephens Homem de pedra
― Então é melhor que eu conte a Derek onde você anda. Depois que
o avião partir, posso voltar para a fazenda e lhe dizer para onde foi. Ou, se
prefere, posso deixar o recado com Salvadore ou com um dos empre-
gados.
Trixie concordou. É claro que Derek não ia se abalar de ir até Mérida
à procura dela, muito menos até a Cidade do México. Portanto, a sugestão
de David era boa.
― Tem razão, David. Agradeço se você lhe comunicar que fui
embora. Afinal de contas, vim com ele e é justo que ele saiba onde estou.
Terminaram de almoçar e foram direto para o aeroporto. David lhe
fez companhia até que o avião partisse. Agora, enquanto sobrevoava
Yucatán, Trixie se sentia mais calma.
Seu contrato de trabalho não era com Derek, mas sim com a editora
que iria publicar o livro dele. Mesmo assim, Derek tinha força suficiente
para fazer com que esse contrato fosse anulado. Apesar de tudo, ela queria
terminar seu trabalho para o livro, pois esse passo seria muito importante
em sua carreira. Logo que chegasse, falaria com Jack e Mike e montaria
um esquema de trabalho até que Derek voltasse.
Mentalmente, fez uma lista dos Museus que ainda teria que visitar e
as ruínas Astecas que ficavam perto da cidade. Talvez fosse perda de
tempo, mas continuaria trabalhando como se nada tivesse acontecido.
Ficaria esperando por uma demissão oficial e, até então, se consideraria
como uma fotógrafa contratada.
Depois de uma viagem excelente, chegou à Cidade do México. Foi
direto para o hotel e procurou entrar em contato com os rapazes.
Encontrou Mike e, não lhe dando tempo para perguntas, combinou de se
encontrarem para jantar.
Foi só depois do banho, quando se vestia, que percebeu como o sol e
a vida ao ar livre em Yucatán tinham lhe dado um queimado dourado,
enquanto seu cabelo parecia ainda mais loiro. Estava mais bonita? Achava
que sim, mas em seus olhos havia uma ponta de tristeza. Amava e não era
correspondida! O mundo todo havia mudado quando descobriu; que, pela
primeira vez na vida, amava alguém profundamente. Mesmo que esse
amor fosse apenas de seu lado, servira para lhe abrir os olhos e para ver
que muitos dos seus antigos tabus já não existiam. Agora só ansiava por
ter Derek a seu lado, amá-lo e pertencer a ele! Mas esse era um sonho
irrealizável, porque ele não a amava e ia casar com Margarita Lopez. O
que adiantava estar mais bonita, de mente mais aberta, se não podia ter o
homem que amava?
Mike veio a seu encontro, expressando muita alegria.
― Não estou atrasada, não, Mike?
― Nada, chegou bem na hora. ― Ele pegou-a pelo braço e a levou
para uma mesa.
Escolheram o que comer e, assim que o garçom se afastou com o
pedido, Mike começou a conversar.
― Sabe que não tivemos notícia alguma de Derek desde que vocês
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foram para o Yucatán?
― Na casa de hóspedes não havia telefone.
― Mesmo assim, ele poderia ter ligado da cidade, não acha? Diga a
verdade, Trixie. O que aconteceu que você voltou sem o chefe? O que ele
ficou fazendo lá, sozinho?
Ela tinha vontade de dizer que muito em breve Derek teria a
companhia da artista mexicana mais famosa, mas sabia que o assunto não
era de sua conta. Se Derek quisesse, ele que contasse a novidade a seus
auxiliares.
― Saia da lua e volte para a terra, Trixie. ― A voz de Mike
interrompeu-lhe os pensamentos. ― Ou ainda está no Yucatán?
― Nem num lugar, nem noutro. Quero conversar com você para
organizarmos um esquema de trabalho para os próximos dias.
― Trixie, não sei o que está acontecendo e não me parece que vou
ficar sabendo nada por você. Infelizmente, não posso aconselhá-la. Você
devia ter combinado o que fazer com Derek, antes de voltar.
Trixie baixou os olhos, desnorteada. Depois de um silêncio
desagradável, Mike continuou.
― Aconteceu alguma coisa entre vocês dois, não foi? O que houve?
Ele a despediu?
― Não... pelo menos por enquanto.
― Mas alguma coisa aconteceu, Trixie. O que? Você está diferente!
― Como assim? ― Corou ao lembrar tudo o que tinha havido entre
ela e Derek.
Mike pegou-a pelo queixo e obrigou-a a levantar a cabeça.
― Está mais séria, mais adulta, talvez. Posso descobrir em seus olhos
uma tristeza que não havia antes de você partir. ― Ele sorriu,
demonstrando amizade. ― Se quiser, tem meu ombro amigo para chorar
suas mágoas.
― Sei que posso contar com você, Mike, mas... ainda não tenho
vontade de falar sobre o assunto.
― Está apaixonada por ele?
― Estou ― respondeu com sinceridade.
― Então qual é o problema?
Trixie suspirou fundo e levantou-se, pegando a bolsa.
― Gostaria apenas que não tivesse acontecido, porque sei que não
pode existir nada entre nós dois. Acho que isso foi a coisa mais
significativa que descobri, enquanto estive fora.
― Por que acha que não vai dar certo, Trixie?
― Tenho certeza absoluta, Mike, pode me acreditar.
― Não acha que se sentiria melhor se falasse a respeito do caso? ―
Mike tinha levantado e segurava seu braço, para que ela ficasse. ― Quem
sabe eu possa ajudá-la em alguma coisa...
― Você é um amor, Mike, mas tenho de resolver esse caso sozinha
― Como quiser, Trixie. Só tenho uma coisa a acrescentar: Derek vai
ganhar o prêmio de príncipe dos idiotas, se deixar você escapar.
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― Obrigada, Mike. Não pode avaliar como um elogio desses faz bem
para meu ego machucado.
― Mas seria muito melhor se tivesse partido da pessoa certa, não é?
Ela balançou a cabeça, concordando. Tinha um nó na garganta e não
podia se arriscar a falar, senão começaria a chorar. Mike lhe apertou a
mão, como prova de amizade.
Trixie saiu do restaurante, lutando para reter as lágrimas, pelo
menos até chegar a seu quarto. Por que não tinha se apaixonado por um
homem como Mike, delicado e pronto a amá-la? Como fora idiota em se
envolver com um homem difícil como Derek e que ainda por cima amava
outra mulher e ia casar com ela!

Bem cedo, na manhã seguinte, Trixie foi até as ruínas que estavam
sendo exploradas e que ficavam bastante próximas da cidade. Tirou várias
fotos e ficou contente com o que conseguiu. Depois de um almoço rápido,
encaminhou-se ao Museu, onde passou a tarde trabalhando.
Já estava escuro quando chegou ao hotel. Na recepção, hesitou entre
subir e se trocar para jantar ou ir assim como estava, com a roupa
amassada e os cabelos despenteados. Pensou, porém, que se fosse para o
quarto não teria mais vontade de se arrumar e descer para jantar. Era
melhor comer e descansar de uma vez.
Foi para o salão e estava esperando uma vaga quando ouviu que
Mike a chamava, de uma mesa de canto. Ela sorriu e foi em sua direção
até que percebeu que ele não estava sozinho. Sentado num canto mal
iluminado, um vulto moreno, de cabelos pretos muito brilhantes, olhava-a
com uma expressão de ódio.
Era Derek. Trixie quase desmaiou ao vê-lo e teria dado meia-volta e
ido embora, se seu raciocínio não lhe dissesse que não adiantava fugir.
Era melhor enfrentá-lo junto de Mike do que sozinha.
Mike veio encontrá-la e puxou a cadeira, para que ela sentasse. Trixie
se acomodou, colocando a bolsa e a sacola com a câmara sobre a cadeira
que ainda restava vazia.
― Derek acabou de chegar ― Mike explicou. ― Estava vindo jantar
quando o encontrei no hall. ― Ele olhava de Derek para Trixie, sem saber
direito como agir.
Uma pausa longa e pesada pairou sobre a mesa. Depois Derek se
virou para Trixie.
― Mike me disse que você passou o dia todo tirando fotografias. ―
Não havia nenhuma emoção em sua voz, nem interesse, nem censura,
nada.
― É verdade ― Trixie sentia a garganta seca demais para falar. Mas
precisava se controlar! ― Fui até as escavações que estão fazendo aqui
perto, depois até o Museu.
Derek não respondeu e tomou um gole de vinho. Nesse momento um
garçom se aproximou para pegar o pedido. Mais uma vez se fez um
silêncio desagradável entre os companheiros de trabalho. Mike estava
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pouco à vontade, sem saber o que dizer ou fazer. Trixie achou melhor
continuar a conversa.
― Passei pela loja e recolhi as fotografias que tinha mandado revelar.
Algumas ficaram excelentes. ― Ela não se dirigiu a ninguém em especial,
mas esperava que alguém respondesse. Pegou o copo d'água para fazer
alguma coisa, mas suas mãos tremiam tanto, que logo o recolocou na
mesa.
― O sr. Divila voltou com você? ― Trixie se dirigiu a Derek que a
olhava com expressão dura.
― Ele veio num vôo anterior ao meu.
Ela tinha muitas outras perguntas, que lhe queimavam a língua, mas
faltava-lhe coragem. Por que ele tinha voltado, se Margarita ia para a
plantação? Ou tinham mudado os planos? Se Derek tinha vindo para a
Cidade do México, por que Salvadore Divila também viera? Quando Derek
ia encontrar sua amada?
A voz de Mike arrancou-a de seus devaneios.
― Trixie não me contou nada sobre a viagem a Yucatán, Derek. Isso
ajudou a adiantar o livro?
― Não tanto como eu esperava ― Derek olhou diretamente para
Trixie.
O que ele queria dizer com isso? Que não tinha conseguido levá-la
para a cama? Ou que ela não era boa fotógrafa? Cada vez mais Trixie se
convencia de que Derek ia despedi-la. Por que ele já não falava de uma
vez? Do jeito que estava, ela não conseguia nem responder; e qualquer
coisa que dissesse, ele levaria a mal. Que situação!
Os pratos foram trazidos e Mike começou o relato de suas atividades
durante o tempo de ausência do chefe. Trixie ficou quieta, feliz por poder
jantar com calma, sem precisar participar da conversa. Trataria de
arranjar uma desculpa e sairia da mesa assim que terminasse de comer.
Antes que isso acontecesse, Derek afastou a cadeira, pondo-se de pé.
― Com licença, vou cuidar de minha bagagem.
Ele saiu e Trixie deu um suspiro de alívio.
― Minha nossa! ― Mike comentou. ― Esse homem está com alguma
coisa entalada na garganta!
― Acha mesmo, Mike? Eu o achei tão... descontraído.
― Nada disso, Trixie. Ele queria aparentar calma, mas trabalho com
ele há muito tempo e sei o que se escondia por baixo dessa aparência. Já o
vi assim antes e sei que vai estourar logo mais.
Trixie se sentiu tensa novamente. Tinha se tranqüilizado depois que
Derek saiu da mesa, mas sabia que o assunto entre eles ainda não havia
terminado. Derek não tinha dito nada porque ela não estava sozinha, mas
ainda teria de ouvir muitas críticas e repreensões antes de ser demitida.
Pegando a bolsa e a sacola, Trixie se levantou.
― Onde vai? ― Mike estava espantado. ― Ainda não acabou de
jantar.
― Estou muito cansada, Mike. O dia foi exaustivo e o melhor que
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tenho para fazer é ir dormir, para amanhã estar disposta de novo.
― Não é pior ficar sozinha? Não prefere me contar seus problemas?
― Obrigada, Mike. Sei que tenho seu apoio e solidariedade, mas
realmente acho melhor descansar. Uma noite de sono vai me ajudar
muito, tenho certeza.
Trixie chegou ao quarto como se estivesse carregando o mundo nas
costas. Tinha medo de que Derek ainda exigisse um acerto de contas hoje.
Havia acabado de colocar suas coisas na cadeira, lavado o rosto e as mãos,
penteado o cabelo, quando o telefone tocou.
― Trixie, quero vê-la em minha suíte o mais depressa possível ―
Derek comunicou.
― Já estou indo. ― Ela sabia que não adiantava adiar o momento
temido. Era melhor enfrentá-lo de uma vez.
Ele abriu a porta assim que ela bateu. Trixie entrou e viu que,
conforme temia, estavam sozinhos. Ele foi para junto de uma mesa e
colocou whisky num copo.
― Quer beber alguma coisa?
— Não, obrigada.
― Sente-se então, Trixie. Não vou matá-la, embora tenha muita
vontade de fazê-lo.
Ela sentou na beirada da cadeira, sentindo o coração bater tão forte
que quase sobrepujava as palavras de Derek.
― Quero que saiba que passei horas desesperadas, tentando
descobrir o que tinha acontecido com você, até que David me ligou para
avisar que você viera para cá. ― Ele andava de um lado para o outro,
agitado demais para sentar. Trixie tinha a impressão de ver uma fera
enjaulada, insatisfeita e perigosa.
― Não tive a intenção de deixá-lo preocupado.
― Preocupado? Trixie, o que deu em você? Por que partiu desse jeito,
sem uma palavra, como uma doida?
― Achei que nosso trabalho na plantação havia terminado e que eu
produziria muito mais aqui.
― Não pense que sou idiota, Trixie. Não foi nada disso. Faço questão
de saber porque fugiu de mim, nem que para isso a gente tenha que ficar
aqui a noite toda.
― Se não quer mais que eu continue nesse trabalho, é só me avisar.
Não precisa ficar arranjando motivos. ― Ela levantou e foi até a janela,
procurando achar tempo para controlar o tremor da voz.
― Já vamos chegar a esse ponto, não precisa me apressar. O que
insisto em saber agora é por que fugiu do Yucatán? Só me satisfaço com o
motivo real. ― A atitude calma e controlada de Derek assustava Trixie
ainda mais do que sua braveza. ― Estou esperando sua resposta, Trixie.
Sabia que eu a seguiria, então por que tomou essa atitude estúpida e
inconseqüente?
― Não pensei que você fosse voltar tão depressa... ― Ela continuava
de costas, sem coragem de encarar aqueles olhos frios e duros.
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― O que quer dizer com isso? ― Derek colocou as mãos nos ombros
dela, forçando-a a virar-se. ― Responda, vamos!
― Sabe muito bem e não preciso explicar-lhe.
― Sei? De qualquer jeito, quero que me conte.
― Não tenho obrigação de dar explicações, Derek ― ela escapou e foi
para a porta. Derek foi mais rápido e se interpôs em seu caminho.
― Não vou deixá-la sair daqui até que me explique que idéias loucas
andam aparecendo em sua cabeça.
Derek usara seu tom de comando, que não admitia desobediências.
Trixie já não agüentava mais o jogo de palavras que estava havendo entre
eles e acabou explodindo de uma vez. Se tudo tinha de acabar agora, ela
diria o que a estava aborrecendo há tanto tempo!
― Está bem, Derek! Não quis ficar por lá para ver os dois pombinhos
em suas cenas de amor! Fui bastante clara?
― Ainda não. Continua falando sem dizer nada. Para começar, que
pombinhos?
― Faz mesmo questão que eu fale, não é? ― Trixie estava quase
chegando à histeria. ― Não quis bancar a vela, enquanto você e Margarita
trocavam juras de amor.
― Sua imaginação é fértil, Trixie. Não lhe disse que Margarita ia ficar
na sede da fazenda?
― E achou que eu ia acreditar numa mentira dessas?
― Tem todos os motivos para acreditar em mim. Nunca lhe menti e,
se pudesse raciocinar com calma, entenderia que Salvadore jamais poria
sua noiva na casa de hóspedes, principalmente porque ela já estava
ocupada.
Trixie sentiu o chão sumir sob seus pés. Abriu bem os olhos, engoliu
em seco, incapaz de acreditar no que tinha ouvido.
― Acho que não entendi direito. Falou que Margarita e Salvadore
estão... noivos?
― Exatamente. E agora marcaram o casamento.
― Então por que você passava tanto tempo com ela antes de irmos
para o Yucatán?
― Somos amigos. Fui à casa dela várias vezes, onde sempre encontrei
Salvadore.
― Derek, não se pega nos braços a noiva de um amigo!
― Está se referindo àquele dia em que fomos a Teotihuacán?
― É. Eu vi quando a abraçou.
― Naquela noite íamos jantar com Salvadore e, como eu não
conhecia o local do restaurante, Margarita foi comigo para me mostrar o
caminho. Quanto a abraçá-la... Quando conhecer Margarita melhor, você
vai ver como ela é desinibida e exuberante. No entanto, está apaixonada
por Salvadore e é com ele que vai casar.
― Mas... cheguei até a ler sobre vocês dois em colunas sociais.
― Você sabe que os repórteres estão sempre à cata de notícias
sensacionais. Mas Margarita e eu somos bons amigos e nunca nos
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incomodamos com esse tipo de boato.
Trixie começava a perceber como as aparências podem enganar e
perturbar o discernimento das pessoas. Mas ainda havia uma coisa que a
preocupava.
― Então Salvadore estava aqui o tempo todo! Você me levou para a
fazenda sabendo que ele estava aqui, com Margarita. Você mentiu para
mim!
― Não menti, Trixie. Posso não ter dito tudo, mas não menti. ―
Derek chegou mais perto, colocando a mão em seu ombro. ― Confesso
também que um dos motivos porque a levei para lá foi para poder ficar
algum tempo sozinho com você.
― Para poder me seduzir? ― Ela tomou um ar de desafio.
― Trixie, você está parecendo um disco quebrado. ― Ele a segurou
pela cintura, envolvendo-a num abraço. Inclinou a cabeça e lhe deu um
beijo rápido, mas possessivo.
Ela foi tomada de surpresa e nem conseguiu reagir.
― Admito também que queria seduzi-la e ainda quero. ― Tornou a
beijá-la e Trixie sentiu que sua força de vontade começava a desaparecer.
O cérebro de Trixie estava em grande confusão, dividido entre dois
sentimentos opostos. Sentia-se feliz por saber que Derek não tinha nada
com Margarita, mas usada pela insistência dele em seduzi-la. Derek
queria levá-la para a cama e já dizia isso de modo bem claro. Honesto, ele
mostrava que seu interesse era apenas sexual e que não havia nenhuma
emoção ou amor em seu relacionamento com ela.
Ele não relaxava a pressão do abraço. Ao contrário, colocou a mão
por baixo da camisa dela, acariciando-lhe os contornos suaves. Trixie se
sentia mole, sem vontade; gozando o prazer que aquelas mãos lhe davam.
Correspondia ao beijo, apertando Derek contra seu corpo, sentindo sua
masculinidade. Por alguns segundos deliciosos imaginou a sensação de
ser amada por esse homem adorável.
Ele levantou a cabeça, os olhos repletos de desejo.
― Trixie, você é atraente demais para ter ciúmes de Margarita Lopez.
Não me torture mais. Baixe suas defesas e vamos fazer o que nós dois
desejamos tanto!
Seus lábios novamente se juntaram. Trixie se colava a ele,
hipnotizada, ardendo de desejo. Tinha vontade de se dar toda, de se
entregar totalmente, de aceitar o que ele queria lhe dar. Mas, mesmo com
os sentidos tomados pelo desejo intenso, sabia que isso não era o
suficiente. Não queria ser apenas uma outra mulher na vida de Derek.
Amava-o demais para ser apenas um capricho passageiro.
Reuniu suas forças e se afastou ligeiramente.
― Não, Derek...
― Por que não, Trixie?
Ela queria fugir, para poder chorar à vontade, para gritar de dor por
ver que a única vez em que tinha entregue o coração a um homem, ele
queria apenas seu corpo!
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― Já lhe expliquei tudo sobre Margarita. O que quer mais, Trixie?
― Uma coisa que não posso jamais conseguir ― ela respondeu,
desesperada. Arrancou-se dos braços dele e, mal vendo o caminho por
causa das lágrimas que jorravam de seus olhos, correu para seu quarto.

CAPÍTULO XI

Na semana seguinte, Trixie se afogou no trabalho. Mandou revelar o


filme tirado no Yucatán, que apresentou cenas belíssimas e perfeitas.
Apesar da distância e da atitude indiferente de Derek, ela sentia que ele
tinha ficado satisfeito com o trabalho.
Trixie passava os dias quase sempre sozinha, procurando lugares
ainda não visitados, onde pudesse tirar outras fotos de interesse para o
livro.
Algumas vezes foi obrigada a trabalhar na companhia de Derek e
essas horas lhe pareciam intermináveis. Tentava manter seus sentimentos
domados e tratar de tudo em bases estritamente profissionais. Mas era
difícil estar junto dele sem lembrar dos momentos de paixão que haviam
partilhado. Tinha tanta coisa para lembrar, tantas emoções que insistiam
em voltar à sua mente, que não via a hora de terminar tudo e voltar para
Nova York, para uma vida tranqüila e sem perturbações.
No entanto, estava agradecida a Derek por ter permitido que ela
terminasse o trabalho. Ver seu nome junto ao dele, no livro publicado, ia
ser um grande passo em sua carreira.
Quando a última semana de trabalho estava chegando ao fim, Trixie
sentiu todas as emoções renascerem. Encontrou Mike a caminho do
restaurante. Ele perguntou:
― Derek falou com você para irmos para a Guatemala? ― Mike não
tinha mais tocado no assunto referente ao relacionamento dela com
Derek, mas se sentia curioso de saber se ela lhes faria companhia.
O mundo pareceu parar para Trixie. A única vez que Derek
mencionara a Guatemala fora junto de David Almedo e nunca mais tocara
no assunto.
― Não sei, mas essa cláusula não consta do meu contrato.
― Você tem que ir conosco, Trixie. Vi suas fotografias e achei que fez
um trabalho excelente. Não vamos poder continuar sem sua colaboração.
Até Derek elogiou as fotos.
― Ele não me disse nada. Nem que estavam boas, nem ruins.
― Derek ainda vai dizer. Ele é muito generoso em elogios, quando a
pessoa os merece.
― Não faço questão de saber a opinião dele, Mike. Estou de partida
para os Estados Unidos dentro de dois dias.
― Pelo jeito, vocês dois não conseguiram se entender, e sei que isso a
está deixando aborrecida. Reparei que tem estado preocupada,
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ultimamente.
Trixie desviou o olhar. Não queria que Mike percebesse como lutava
para conter as lágrimas. Precisava ir embora de uma vez e não pensar
mais nem no México, nem no que lhe acontecera.
― Trixie...
― Tenho motivos para estar amolada, Mike. Fiz meu trabalho o
melhor que pude e acho que consegui excelentes resultados. Mesmo
assim, não vou poder completá-lo pois, para isso, teria que ir à Guatemala
e não fui convidada.
― Tenho certeza de que Derek a levaria, Trixie, desde que você
falasse com ele. Por que não tenta?
― Talvez tenha razão, mas não vou me arriscar a ser mais uma vez
humilhada. Como já terminei o que tinha de fazer aqui, não vou esperar
ser mandada embora. Prefiro ir antes, de livre e espontânea vontade.
― Não tome atitudes precipitadas. Pelo menos espere até amanhã;
pode ser que ele ainda a contrate para ir.
― Não sei, Mike. Não tenho coragem de enfrentar o momento de ser
deixada para trás.
― Se quer saber minha opinião sincera, Trixie, acho que você irá
conosco. Não pode imaginar, e acho que nem ele próprio imagina, quanto
Derek precisa de você.
Ah! Se isso fosse verdade, Trixie pensou, o coração apertado pelo
sofrimento dos últimos dias. Se fosse para a Guatemala, veria seu trabalho
coroado de êxito e seria capaz até de engolir o orgulho e pedir que Derek a
levasse. Mas tinha certeza de que ele diria não. Derek já tivera inúmeras
oportunidades de falar com ela e sempre se mantivera calado. Era preciso
mais para ela compreender que sua companhia não era desejada?
Um sorriso triste apareceu nos lábios de Trixie.
― Obrigada pelo incentivo, Mike, mas acho que você está enganado.
― Não sei qual de vocês dois é o mais teimoso. Só lhe peço que pense
bem antes de resolver qualquer coisa, para que não se arrependa mais
tarde.
― Prometo que vou pensar ― Trixie levantou e foi embora.

Em sua última noite no México, Trixie saiu para dar uma volta no
parque que ficava em frente ao hotel.
Encontrou vários casais de namorados que caminhavam felizes,
olhos nos olhos, de braços dados, contentes de estarem juntos. Como
devia ser maravilhoso amar e ser amada! Existiria alguma coisa melhor
no mundo?
Durante algum tempo andou pelos caminhos iluminados,
observando o pequeno lago, a vegetação, os turistas falando diferentes
línguas. Depois, sentou-se num banco para descansar. Já estava lá há uns
quinze minutos, a mente divagando sobre tudo que acontecera, quando
percebeu que uma pessoa se sentava a seu lado. Assustou-se e teve
vontade de fugir, quando viu que essa pessoa era Derek.
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― Que está fazendo aqui? ― Trixie apertava as mãos, uma contra a
outra, para esconder o tremor.
― Vim conversar com você.
Fazia dias que Derek se limitava apenas a cumprimentá-la e a dar
ordens relativas ao trabalho. Agora, o que ele queria conversar?
― A respeito de quê?
― Sobre a Guatemala. Esperei todo esse tempo, para que você
mostrasse ao menos um ligeiro interesse em completar o trabalho das
fotografias lá. No entanto, acabei de saber, por Mike, que você não
pretende se manifestar.
― Esteve conversando com Mike?
― Se disser o contrário, acerta melhor. Mike esteve falando comigo.
Trixie tentou ver a expressão dos olhos de Derek, mas não conseguiu
chegar a nenhuma conclusão. Desviou o olhar. Sabia que tinha de dizer
alguma coisa, mas não conseguia pôr em palavras tudo que havia em seu
cérebro tumultuado. Murmurou:
― Mike devia ter ficado quieto. Conversei com ele na base da
confiança.
― Acho que já era mais do que tempo de que alguém dissesse alguma
coisa. Pelo jeito, você ia tomar o avião amanhã e ir embora sem dizer
nada, não é?
― Nunca pensei que trabalhar junto com você fosse uma tarefa tão
difícil e... ― Ela apertava as mãos contra o ferro do banco, nervosa
demais.
― Ainda não confia em mim, não é, Trixie?
― Derek, não me entenda mal. Isso não tem nada a ver com
confiança... ― Ela lutava para manter o controle de suas emoções. ―
Quero apenas ir para casa e tentar esquecer...
― Esquecer tudo o que aconteceu entre nós? ― Derek suspirou e,
num tom de voz suave, acrescentou: ― Peço desculpas por tentar colocá-
la numa situação para a qual ainda não estava preparada.
― Ainda bem que reconhece, Derek. De fato, não estou pronta para
ter um caso passageiro... e nunca estarei.
Trixie olhou-o. Derek parecia cansado, linhas de preocupação
marcavam sua testa alta, o ar de extrema arrogância estava ausente de seu
rosto. Apesar de tudo, como tinha vontade de acariciá-lo!
― Trixie, é isso o que pensa de mim? Vou lhe dizer a verdade toda.
De fato, no início foi só nisso que pensei. Não esqueça de que sou treze
anos mais velho que você e que você é jovem, bonita e atraente. Ainda vai
encontrar muitos homens para depois decidir qual é aquele que ama.
Sabia de tudo isso, e, no entanto, continuava esperando... alguma coisa
acontecer.
Os nervos de Trixie estavam à flor da pele. Era quase impossível
agüentar aquele estado de agitação.
― Derek, preciso saber corno você se sente a respeito de nós... de
mim, em especial. ― Finalmente conseguia pôr seu orgulho de lado, para
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Projeto Revisoras
Jeanne Stephens Homem de pedra
ser sincera e direta.
Lentamente, Derek colocou os braços nos ombros dela,
inconscientemente acariciando-a.
― Mike me disse... será mesmo verdade... ele... Trixie, é verdade que
me ama?
― É verdade, Derek. ― Ela tinha que botar para fora, de uma vez
para sempre, aquela torrente de amor que abafava seu coração.
― Então me ouça, minha querida, e fique certa de que nunca fui tão
sincero em minha vida. Esperava que você me amasse desde o momento
em que desceu do avião, um mês atrás. Claro, não sabia disso, na ocasião.
Sabe quando finalmente descobri o que você significava para mim?
Ela negou com a cabeça, sentindo a alegria dominar seu coração e
extravasar em seus olhos.
― Naquela noite em que fomos ver a aldeia Maia. Olhei-a diante do
altar naquela velha igreja, e foi como se um raio me atingisse e eu
finalmente ficasse sabendo.
Ela também tinha se sentido muito unida a ele naquela noite, mas
pensou que fosse uma emoção só sua.
― Derek... por que não me disse antes como se sentia?
Ele a abraçou, fazendo com que ela encostasse a cabeça, em seu
ombro.
― Achei que, se lhe contasse meus sentimentos eu iria assustá-la. Eu
mesmo fiquei espantado por me sentir tão unido a você. Eu a amo, minha
querida, e é a primeira vez que digo essas palavras a uma mulher.
Um beijo cheio de ternura e carinho selou essa declaração de amor.
Trixie se aninhou novamente nos braços de Derek, enquanto ele
continuava.
― Quando a conheci, já tinha chegado ao ponto de não acreditar
mais no amor. Achava que era apenas uma palavra que se usava para
justificar atitudes irracionais. ― Ele riu, gostoso. ― Aliás, tenho agido de
maneira bem irracional, não é? É por causa do amor que sinto por você!
― Nós dois temos agido assim, Derek. É o amor que nos une.
Um outro beijo, mais demorado e apaixonado, ligou aquelas duas
almas que finalmente se encontravam.
― Trixie, você aceita casar comigo e ir para a Guatemala como minha
esposa?
Trixie olhou para ele, encantada com o que ouvira, desejando
ardentemente dizer que sim, mas precisando ter certeza absoluta de que
ele queria casar com ela com a mesma intensidade com que ela desejava.
― Tem certeza de que é isso que quer, Derek?
― A coisa de que tenho mais certeza no mundo, Trixie. Se não posso
tê-la como minha esposa, pelo resto de minha vida, jamais encontrarei
sentido em continuar vivendo.
Trixie estava extasiada. A felicidade abriu um sorriso brilhante em
seus lábios e, com o coração, ela respondeu:
― Quero ser sua esposa, Derek. Sim, mil vezes sim!
Fascinação nº 22
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Jeanne Stephens Mexican nights
Centelhas de alegria encheram os olhos escuros de Derek, que se
inclinou, depositando nos lábios de Trixie o beijo mais amoroso. Até a
noite pareceu se alegrar com a descoberta dessa paixão, pois a lua os
iluminou, como se trouxesse uma bênção para esse amor que por tanto
tempo permanecera escondido.
― Adoro você, Trixie, preciso desesperadamente de você. Por favor,
diga que nunca mais fugirá de mim!
Trixie respondeu-lhe da única maneira que sabia: apertando seu
corpo contra o dele e selando com um beijo as promessas de amor que
durariam pelo resto de suas vidas.

Fim...

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