Homem de pedra
Título original: "Mexican Nights"
Jeanne Stephens
Derek Storm tinha um coração de seu corpo!
pedra. E a Trixie, apaixonada por ele, só
restava ir embora, para nunca mais vê-
lo. Derek era um escritor famoso e
estava terminando um livro sobre as
antigas civilizações maia e asteca. Trixie
tinha ido ao México para juntar-se à
equipe dele e fazer as fotos que
ilustravam o trabalho. Ótima fotógrafa,
ela havia agradecido aos céus a
oportunidade de trabalhar ao lado de
uma personalidade tão famosa, jurando
a si mesma aproveitar a nova porta que
se abria em sua carreira. Nunca
imaginou que Derek fosse um patrão tão
prepotente. Pior ainda: nunca imaginou
que, no dia em que entregasse
verdadeiramente seu coração a um
homem, ele se interessaria apenas por
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
Ao chegar à rua, Trixie olhou para trás para ver se Derek a havia
seguido. Foi até o ponto de táxi e, embora de manhã tivesse visto uma fila
deles ali, agora não havia nenhum.
Preocupada que Derek pudesse vir atrás dela, começou a caminhar
na direção do hotel. Se encontrasse um táxi no caminho, melhor. Se não,
estaria pondo uma boa distância entre ela e aquele insolente. À medida
que caminhava, acabou por perder as esperanças de encontrar um carro
vazio. Eles passavam todos com passageiros e em alta velocidade. O jeito
era ir a pé mesmo. Trixie sempre gostara de caminhar, mas hoje estava
cansada e a bolsa com a máquina e os filmes lhe pesavam demais no
ombro. Para completar seu estado de ânimo, não conseguia tirar da
cabeça a cena do combate com Derek.
Quando avistou o prédio do hotel, suspirou aliviada. Estava exausta e
transpirando muito, por causa da pressa com que viera. Entrou no salão
fresco graças ao ar condicionado, sentindo-se feliz por sair do calor
abafado da rua. Foi para o bar, pois queria tomar um refresco bem gelado.
Havia pouca gente e ela escolheu uma mesa de canto. Pediu chá
gelado e, enquanto esperava ser servida, deixou que seus pensamentos
voassem. Não podia esquecer a cena com Derek! Tinha se comportado
como uma adolescente que é beijada pela primeira vez. Estremecera com
o contato e ele percebeu o efeito que tinha causado. Precisava aprender a
se controlar, se pretendia manter aquele emprego.
A garçonete trouxe o refresco e, enquanto tomava goles
reconfortantes, sentiu-se mais relaxada e calma.
— Então foi aqui que esteve escondida esse tempo todo! — uma voz
a seu lado comentou.
Trixie levantou os olhos e viu Jack Ledbetter. Ele puxou uma cadeira
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e sentou ao lado dela.
— Liguei várias vezes para seu quarto, mas ninguém respondia.
Sabia que não podia ter ficado no museu, pois ele fecha às cinco horas.
Jack estava sorridente, encantado por vê-la, apesar da aparência
malcuidada dela. Por causa da longa caminhada, Trixie estava
despenteada e tinha o rosto brilhante.
Jack era assistente de Derek e queria ganhar bastante experiência
para também se lançar como escritor. De altura média, loiro como Trixie,
ele tinha olhos azuis. Embora não se sentisse atraída por ele, Trixie
acreditava na possibilidade de uma amizade sincera entre os dois. No
entanto, os planos de Jack deviam ser outros, pois ele a olhava com
adoração.
— Derek a encontrou? — Jack perguntou, depois de ter pedido um
café.
— Quando? Agora?
— Não, no museu. Ele mandou que eu e Mike voltássemos para cá
porque precisava falar com você, antes de ir embora. Quando ele quer, é
capaz de nos fazer trabalhar como escravos, não concorda?
— Tem razão. Ele me achou no Hall Maia. — Trixie compreendeu
que o encontro com Derek não tinha sido acidental. Ele realmente a havia
procurado, provavelmente para deixá-la mais perturbada com seus
palpites sobre o trabalho dela.
— Não fique deprimida por causa dele, Trixie. Achei que ele foi um
pouco duro demais com você, hoje à tarde.
— Foi detestável a maneira como ele falou comigo. Mas se ele
acredita que pode me dominar, está muito enganado.
— Quando tiver mais contato com o chefão, vai perceber que ele
ameaça, mas não é ruim. Derek se preocupa muito a respeito dos livros
que escreve e aí então se torna um perfeccionista, exigindo que seus
auxiliares também o acompanhem nessa busca pelo ideal.
Trixie se admirou com a lealdade de Jack; não entendia como ele
podia trabalhar há tanto tempo para uma pessoa tão difícil como Derek
Storm.
— O dr. Storm acha que eu devo saber tanto da civilização Asteca e
Maia quanto ele, que é professor. Isso não é ridículo? Ele passou a vida
inteira estudando o assunto! Conheço minha profissão e sei que sou boa
fotógrafa. Então, ele devia ficar com a história e eu com as fotos. Assim,
não entraríamos em choque.
— Mesmo para fotografar é preciso conhecer um pouco da história,
Trixie. Que tal sairmos à noite para vermos o máximo possível sobre o
assunto? Gostaria de ir até a Catedral do México? Poderíamos também
ver os murais pintados por Diego de Rivera, no Palácio Nacional.
— A idéia é boa, Jack, mas estou tão cansada! Acho que prefiro
tomar um banho demorado e ir logo para cama.
— Então vamos deixar para outro dia — Jack pareceu desanimado.
— Aquele é Mike, não é? — Ele abanou a mão para o companheiro.
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— Posso me juntar a vocês? — Mike sentou-se, sem esperar a
resposta.
— Estava tentando convencer Trixie a sair conosco para ver os
lugares interessantes do México.
— Acho uma ótima idéia! Que tal, Trixie?
— Gostaria imensamente de ir, mas estou exausta. Trabalhei o dia
todo, andei do Museu até aqui porque não consegui encontrar um táxi, e
acho que estou estranhando n altitude. Tudo que faço me deixa cansada.
— Podemos transferir a saída para amanhã, que é domingo — Mike
sugeriu. — Deixaremos que você durma bastante e sairemos à tarde.
Trixie deu uma gargalhada gostosa.
— Não me diga que nosso empregador nos dá o domingo de folga?
Cheguei a pensar que ele trabalhava os sete dias da semana e que
esperava que seus escravos fizessem a mesma coisa —, Trixie não podia
evitar a ironia.
Jack se mexeu na cadeira, não querendo tomar partido nessa luta
aberta entre Trixie e Derek. Mas Mike foi mais explícito.
— Na verdade, Derek gosta de trabalhar a todo vapor quando está
envolvido com seus livros. Mas acho que vai agir de maneira diferente
aqui no México. Não vamos esquecer que Margarita Lopez mora aqui.
Imediatamente Trixie lembrou da grande artista mexicana, cujo
nome estava ligado ao de Derek há quase um ano.
Inclinando-se sobre a mesa, Mike completou a informação, em voz
baixa:
— Ela ligou para Derek ontem à noite. Eu estava trabalhando na
suíte dele e atendi o telefone.
Trixie devia ter ficado feliz com a notícia. Isso significava que não
precisava se preocupar com o patrão, pois ele estaria muito ocupado com
a atriz. No entanto, sentiu-se aborrecida. Queria saber mais detalhes do
caso.
— Eles estão saindo juntos há bastante tempo, não é?
— Há cerca de um ano, e isso para Derek é um verdadeiro recorde.
Ela está durando muito mais tempo do que as outras. Cheguei a pensar
que o caso estivesse encerrado, até que ele recebeu a ligação ontem à
noite. Fazia meses que não se viam, mas parece que agora o caso tomou
um aspecto mais sério. — Mike estava feliz por ser o portador das
novidades.
— Acho que não devíamos estar comentando sobre assuntos que não
são de nossa conta e dos quais não sabemos nada — Jack falou, pouco à
vontade.
Trixie também achou melhor mudarem de assunto. Ela não tinha
nada a ver com Derek, nem se interessava por sua vida. Tratou de juntar
suas coisas e levantou.
— Vou para meu quarto agora. Estou precisando de um bom
descanso.
— O que deixamos combinado para amanhã? — Jack insistiu com
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ela.
— O programa é ótimo e vamos nos divertir muito. Por que não me
liga de manhã, para combinarmos? Seja bonzinho e ligue depois das onze,
está bem? Quero dormir o máximo que puder.
— Ótimo. — Jack também se levantou. — Vou subir com você.
Trixie e Jack se despediram de Mike e foram para o elevador.
— Mesmo com sono, acho que devia jantar, Trixie. Que tal irmos
para o restaurante do próprio hotel?
— Não sei...
— Derek a avisou para não sair comigo?
— O quê? Por que ele faria isso?
— Palpite meu. Hoje de manhã eu estava comentando com Mike que
ia convidá-la para sair e Derek ficou irritado. Avisou que estávamos aqui
para trabalhar e não para procurar diversão, como se fôssemos turistas
em férias.
Que ousadia desse Derek! — Trixie pensou. Ela tinha suas horas de
trabalho e o que fazia no tempo vago não era da conta de ninguém.
Sentiu-se tão revoltada que mais que depressa tratou de aceitar o convite
de Jack.
— Ele não me disse nada, mas mesmo que tivesse dito, sou bastante
adulta para decidir minha vida. Fico muito feliz em jantar com você. Vou
apenas tomar um banho e o encontro no restaurante às sete e meia. Está
bem?
O elevador parou no quarto andar, onde todos estavam instalados.
— Nós nos separamos aqui, Trixie. Sei que seu apartamento fica à
esquerda. Eu e Mike estamos na última porta à direita. Não é muito
longe... caso você se sinta só — Jack sorriu.
Trixie foi em direção a seu quarto, pensando onde seria a suíte de
Derek. Ele tinha tomado o cuidado de colocar os rapazes do outro lado do
corredor. E ele mesmo? Onde estaria?
Seguiu até o fim do corredor e virou à esquerda. Quando chegou
diante da sua porta, pegou a chave e entrou. Atirou a bolsa com a câmara
sobre uma poltrona e sentou-se noutra, de onde podia ver as ruas
movimentadas da cidade.
Seu quarto estava muito bem localizado; O grande janelão se abria
para uma praça onde havia um monumento em comemoração ao
centenário da independência mexicana. Uma coluna alta sustentava o
anjo da liberdade em seu topo. Trixie tinha ouvido dizer que os restos
mortais de alguns heróis dessa luta estavam guardados ali. Vários
caminhos entrecruzavam a praça e havia muitos bancos onde pessoas
estavam sentadas. Casais de namorados passeavam de mãos dadas e
trocavam beijos e abraços.
Como estava cansada! Ou talvez não fosse isso, mas sim tensão pelo
serviço que mal começara. Sentia-se revoltada por saber que Derek não
gostava da idéia dela sair com Jack e Mike, dizendo que estavam ali
apenas para trabalhar. Ele mesmo não ia se divertir com a tal atriz? Então
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se ele, que era o superior, dava o exemplo de que algum tempo devia ser
reservado para as distrações, por que seus empregados não podiam fazer
a mesma coisa?
Era possível até que Derek tivesse planejado essa viagem com o
intuito de rever Margarita; Trixie achava muita coincidência que a atriz
estivesse no México e ele também. Melhor assim; ocupado com a
namorada, Derek esqueceria que ela existia e a deixaria trabalhar em paz.
Passou os dedos pelos cabelos. Por que se sentia tão deprimida?
Normalmente ela era uma pessoa alegre e otimista! Por que então essa
sensação de vazio, de solidão, que pesava tanto em seu coração?
Está certo que não tinha namorado, mas era uma opção sua. Tinha
estado tão ocupada, tentando construir uma carreira, que há três anos não
pensava em ninguém. Além do que, não tinha encontrado um homem que
realmente a satisfizesse e com quem quisesse manter um relacionamento
mais duradouro.
Perdida em seus devaneios, chegou a cochilar. Acordou, assustada,
mas viu que se andasse depressa ainda ficaria pronta em tempo. Foi para
o banheiro e tomou um chuveiro rápido, mas suficiente para deixá-la
refrescada. Voltou para o quarto e se arrumou.
Pouco depois de sete e meia ela estava pronta; usava um vestido de
crepe bege, que a deixava muito elegante. Saía quando ouviu que a porta
do outro lado do corredor se abria, dando passagem a Derek Storm. Seus
olhos se encontraram.
— Não... não sabia que seu quarto era em frente ao meu — ela
comentou, sentindo o rosto em fogo devido à surpresa.
— Boa noite, Trixie. — Ele não estava surpreso por vê-la. Usava um
terno cinza escuro que ainda o deixava mais alto e forte. — Pelo jeito, está
preparada para sair.
— Você também está vestido para sair! — ela tomou o tom mais
insolente que conseguiu.
— Acho que você fica melhor com o tipo de roupa que estava usando
à tarde. — Havia um brilho estranho nos olhos dele. Trixie teve certeza de
que ele queria insultá-la.
— Ainda bem que não me visto para agradá-lo; assim, não terei que
correr para mudar de vestido. Com licença, estão me esperando para
jantar. — Ela se virou, erguendo bem o queixo. Ele que ficasse
imaginando com quem era o compromisso.
Embora o corredor fosse carpetado, Trixie pôde sentir que Derek a
seguia. Não olhou para trás, mas quando parou para esperar o elevador,
ele a alcançou. Trixie fingiu que não o viu e, quando o elevador chegou,
entrou e se preocupou com os números dos andares que se acendiam e
apagavam à medida que desciam. Mesmo sem olhar, sabia que Derek a
examinava.
No térreo, Trixie saiu depressa do elevador, suspirando, aliviada.
Mas seu sossego durou pouco, pois Derek continuava a segui-la. Teve uma
vontade louca de correr, mas teve medo de escorregar no soalho encerado
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e dar um vexame pior ainda. Já pensou como ele iria se divertir ao vê-la
caída no chão?
A sala de jantar estava repleta, mas Jack a viu e acenou-lhe da mesa.
— Espero não ter chegado muito tarde. — Ela estava com a
respiração curta.
— Está bem no horário. Mas eu a teria esperado, mesmo que se
atrasasse. — Nesse momento Jack ergueu os olhos. — Como vai, Derek?
Estava procurando por mim?
Trixie quase morreu de raiva ao notar que Derek estava de pé a seu
lado. O chefão pegou um pedaço de papel do bolso e entregou-o a Jack.
— Marquei uma série de coisas que gostaria que fizesse amanhã. Se
eu não o vir amanhã de manhã, já saberá o que precisa providenciar.
Então ele já sabia que eu ia jantar com Jack, — Trixie pensou. — E
por que não iria ver Jack no dia seguinte? Será que ele ia dormir até tarde
ou já tinha programa para passar o dia fora?
— Muito bem, Derek. Vou seguir suas instruções. Gostaria de jantar
conosco? — Jack mostrava relutância ao fazer o convite.
— Não, obrigado. — Derek deve ter percebido a hesitação em Jack,
pois sua recusa foi imediata. — Já tenho outro compromisso. Boa noite.
— Olhou para Trixie como se tivesse alguma coisa para acrescentar, mas
acabou não dizendo nada, saindo em seguida.
Trixie imaginou que o compromisso era com Margarita Lopez.
Tomara que ela fosse tão arrogante e egoísta quanto ele, pois fariam uma
bela dupla.
Procurou se concentrar na conversa de seu companheiro e logo se viu
dando risada, muito à vontade. A noite estava sendo muito agradável e
Jack era uma pessoa simpática e alegre.
Quando terminaram a refeição, Jack sugeriu que fossem dar uma
volta pelo parque.
— Obrigada, Jack, mas estou realmente cansada e preciso deitar um
pouco mais cedo. — Não queria ir para o parque com Jack. Era um lugar
cheio de casais de namorados e ela não queria alimentar idéias erradas a
seu respeito.
— Então vou acompanhá-la até o quarto.
Chegando, Jack insinuou que ela o convidasse a entrar, mas Trixie se
despediu com um breve beijo.
Fechou a porta e tratou de se preparar para dormir. Vestiu uma
camisola curta, bem leve e muito prática, pois quase não ocupava lugar na
mala. Deitou e leu um pouco a respeito do que havia para ser visto na
Cidade do México. Sentindo as pálpebras pesadas, acomodou-se para
dormir.
Apesar de muito cansada, teve um sono agitado, acordando várias
vezes durante a noite. Levantou às nove horas, com uma ligeira dor de
cabeça, talvez por ter dormido mal. O melhor era voltar para a cama e
pedir que levassem o café no quarto.
Pouco depois, bateram na porta. Devia ser a garçonete trazendo o
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café, pensou. Não havia trazido robe e ainda não se vestira, pois ia voltar
para a cama. Mas que diferença faria se abrisse a porta como estava?
Afinal, a camisola não era transparente. Além disso, poria só a cabeça
para fora.
— O serviço aqui é muito rápido. Parabéns! — ela disse, estendendo
os braços para pegar a bandeja.
— Foi o que me disseram — Derek estava de pé, encarando-a com
um olhar malicioso. Nas mãos, trazia a bandeja do café.
De onde ele tinha surgido? E por que estava segurando a bandeja?
Onde estava a garçonete? Trixie não sabia se segurava a bandeja ou se
colocava as mãos sobre os seios, para impedir que o decote profundo os
deixasse a descoberto.
— Posso entrar? — Antes que ela respondesse, Derek passou pela
porta e colocou o café sobre a mesinha perto da cama.
Com muita calma, Trixie voltou para a cama e se cobriu, colocando a
bandeja no colo. Ia tomar o café conforme tinha planejado.
— Desculpe se não lhe ofereço café, mas só tenho uma xícara. Como
vê, não esperava convidados tão cedo. O que fez da moça que deveria ter
trazido o que pedi?
Derek tirou um maço de papéis do bolso traseiro de seus jeans.
— A garçonete estava sobrecarregada de trabalho. Eu passava pelo
hall e quando vi que ela se aproximava de sua porta, me ofereci para
trazer o café. Dei até a gorjeta, você não vai se mostrar agradecida por
isso?
Trixie dedicou toda sua atenção a passar manteiga na torrada. Ele
precisava perceber que ela o estava ignorando, para ir logo embora. Derek
não se mostrava impressionado por vê-la com tão pouca roupa;
provavelmente estava acostumado a mulheres que usavam muito menos.
— Vim lhe trazer meu artigo sobre o Calendário Asteca. — Ele
estendeu os papéis que tinha tirado do bolso.
—Preciso ter aulas sobre civilizações antigas até mesmo antes de
terminar a primeira refeição? E ainda por cima no domingo!
— Hoje é domingo? — Ele olhou-a, fingindo inocência.
Trixie tinha certeza de que ele estava fingindo; senão, por que
demoraria tanto olhando seus seios, cujos bicos marcavam o tecido fino
da camisola?
— Você ia me falar a respeito do calendário de pedra.
— Exatamente. O que sabe sobre ele?
— Pouca coisa — ela teve de admitir.
— Mas sabe que o rosto é de Tonathiua, o deus do sol, não é? — Ele
apontava para o centro da fotografia, que aparecia no canto da página.
— Ele não tem uma cara muito simpática. Ainda mais com a língua
para fora, como se estivesse ávido de sangue humano!
— É isso mesmo — Derek ficou contente com o comentário. —
Esses quatro quadrados ao redor do rosto dele representam as quatro
estações do ano, assim como as quatro destruições que, de acordo com a
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lenda Asteca, o mundo havia sofrido num passado longínquo: a
destruição pelos animais selvagens, pelo vento, pelo fogo e pela água.
Trixie começou a ficar interessada.
— E esses quatro quadrados menores, que surgem no próximo
círculo?
— Eles representam os vinte dias do mês Asteca. Para eles, o ano
estava dividido em dezoito meses, de vinte dias cada. Isso perfaz o total de
360 dias, que eram acrescidos desses cinco pontos, os dias dedicados aos
sacrifícios.
Trixie colocou a bandeja de lado e se aproximou mais, indicando um
ponto na fotografia.
— E que são esses oito ângulos, no próximo círculo? — Sem querer
seus dedos tocaram os de Derek e o efeito foi instantâneo. Ela parecia ter
levado um choque e uma corrente elétrica se estabeleceu entre os dois.
— São os raios do sol nos oito pontos cardeais. Os Astecas tinham
uma ótima noção de orientação e construíam suas cidades baseados
nesses pontos.
— E essas cobras aqui embaixo?
— Em asteca, elas eram chamadas "Xiuhcoatl". Repare bem que elas
têm o tronco de elefantes e as patas dianteiras são as de um jaguar. Essas
chamas ao seu redor justificam o nome de "cobras de fogo". Muitos
especialistas acham que as chamas representam um ciclo de cinqüenta e
dois anos.
Trixie procurava se concentrar apenas no que Derek dizia, mas era
muito difícil, estando assim tão perto dele.
— É impressionante, não acha? — Os olhos escuros de Derek
pousaram no rosto dela, que ficou ainda mais sem jeito. Será que ele
percebia como a afetava? Sem dúvida!
Trixie se recostou novamente no travesseiro, procurando manter
uma distância razoável.
— Não tem a impressão de que eles estavam obcecados pela idéia de
tempo? — ela arriscou a perguntar.
— É uma observação muito inteligente. Nesses buracos, na beirada,
eram colocados palitos de madeira, que ficavam em posição horizontal e
projetavam sombras sobre as figuras do calendário. Assim, ele também
era usado como um relógio de sol.
Ela apenas balançava a cabeça, mostrando que estava prestando
atenção. No seu íntimo, no entanto, rezava para que aquela estranha
tortura acabasse. Ele a perturbava como nenhum outro homem havia
conseguido antes e ela o odiava por causa disso. Queria que ele acabasse
com todas aquelas explicações e fosse logo embora.
— Não entendeu, Trixie?
Ela não queria se mostrar desatenta, por isso tratou de contornar a
situação, fazendo um elogio.
— Entende tanto dessa civilização porque admira muito os astecas,
não é?
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— Naturalmente, mas isso acontece com todo mundo. O
conhecimento que os Astecas tinham sobre Matemática e Astronomia é
por demais impressionante, para a era em que viveram.
Derek estava tão seguro do que dizia que ela quis discordar dele,
fosse como fosse.
— Porém, mal se pode chamá-los de civilizados!
— Acho que isso vai depender do que considera como civilizado.
Qual é sua definição para povo civilizado, Trixie?
— Está brincando comigo, não é?
— De maneira nenhuma. Estou muito interessado em saber como
pensa. Aliás, precisamos nos conhecer melhor, já que vamos trabalhar tão
próximos um do outro.
— Está bem, vou lhe dizer o que penso. Acho que uma sociedade
baseada em sacrifícios humanos não pode ser considerada como
civilizada.
— Ah! É nesse ponto que você se baseia!
— Claro! Tirar o coração das pessoas enquanto ainda estavam vivas,
é uma coisa boa? — Trixie se entusiasmava ao exprimir sua opinião. —
Como pode admirar uma cultura que adotava esses rituais?
— Sabia que os melhores sacrifícios eram aqueles feitos com moças
virgens? Ainda bem que os Astecas já não comandam o destino do
México.
Nesse momento os dois olhares se cruzaram; no dele havia malícia;
no dela, uma atitude de defesa. Derek continuou:
— Tem que pensar no ambiente em que os Astecas moravam.
Levavam uma vida difícil, precária e curta. Os sacrifícios eram uma
tentativa para aplacar os deuses, pois eles representavam o destino.
Trixie estava encantada com os detalhes de uma vida passada em
outros tempos. Como era interessante saber que, séculos atrás, as pessoas
já possuíam uma sociedade organizada, com seus hábitos e religiões
estabelecidos. No entanto, não devia deixar que a conversa continuasse
dentro do quarto. Tinha de tirar Derek dali, senão poderia até se
arrepender. Estava tão empolgada com o que ele dizia que já nem ligava
por estar de camisola. Onde isso poderia levá-la?
— O pouco tempo de vida que os Astecas tinham era aproveitado
com vigor, com paixão. Podemos aprender uma boa lição com eles, Trixie.
Para nós, a vida ainda é incerta e flutuante. — Ele passou a mão pela
perna dela, que continuava coberta pelos lençóis. — Você ainda é muito
jovem e provavelmente não me acredita, mas não devia desperdiçar sua
juventude e beleza. — Suas mãos subiram e começaram a acariciar o
rosto e o cabelo dela.
Trixie estava hipnotizada. Não conseguia se mexer, presa por aquele
olhar indefinido, embalada por carícias suaves e pela voz profunda
daquele homem sedutor.
Para sua surpresa, convenceu-se de que não queria que o carinho
terminasse. Uma onda de calor a invadiu, despertando-lhe o desejo.
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Desejo? Mas o que ela queria? Uma célula perdida em seu cérebro
começou a lhe mandar avisos de que a situação era perigosa. Precisava
fazer com que ele parasse.
Finalmente, Trixie tomou consciência do que devia fazer. Levantou o
braço e afastou os dedos que a mantinham em transe. Derek segurou-lhe
a mão, sem tirar os olhos de seu rosto espantado.
— Sossegue, Trixie. Pode aprender muita coisa comigo.
— Não quero aprender nada! Prefiro que me deixe em paz! — Ela
segurou a ponta do lençol, puxando-o até o queixo, numa atitude
ofendida.
Mesmo assim Derek não se retirou. Pelo contrário, apoiou-se na
cama e chegou o rosto bem perto do dela.
— Do que é que está com medo?
— Não tenho medo! — Ela deu um riso amarelo. Estava morrendo
de medo!
Com muita calma, ele acompanhou os traços do rosto dela com
dedos leves e macios, até pousarem sobre os lábios.
— Não faça assim. Não gosto que me toque.
— É mesmo? Acho que mente muito mal, Trixie. O rosto de Derek
estava tão perto do seu, que ela podia sentir sua respiração morna.
— Você quer que eu a toque. Por que não admite a verdade? Diga
que é isso o que deseja, que você me quer tanto quanto eu a quero.
Jamais! Ele estava louco! Ela queria dizer exatamente que ele nunca
mais se aproximasse tanto. No entanto, as palavras ficaram apenas em
sua mente e ela não conseguiu proferir nenhuma. Só via os olhos dele, os
lábios que se aproximavam... Fechou os olhos ao sentir a boca que tocava
a sua, enquanto mãos quentes e fortes a seguravam mais apertado.
Trixie sentiu um arrepio, ficou mole, incapaz de reagir. Era a mesma
sensação de estar bêbada e sem vontade. Sabia apenas que tinha colocado
os braços ao redor do pescoço de Derek e que se entregava ao beijo com
enorme satisfação.
— Está vendo como é bom quando se pára de lutar? — Ele
murmurou-lhe ao ouvido.
Ela ficou assustada. Não só queria que ele a beijasse, como também
que esse beijo se repetisse muitas outras vezes. Ela o desejava! Estava
adorando aquele contato mais íntimo.
Foi então que se deu conta do que estava acontecendo. Que loucura!
Bem depressa, recolheu os braços, segurando as mãos para que elas a
obedecessem. Olhando Derek bem profundamente notou, para sua
infelicidade, que embora ela tivesse ficado sem fôlego pela emoção do
beijo, ele continuava impassível. Ele não havia sentido nada, enquanto ela
se derretera!
Derek se endireitou, um sorriso misterioso nos lábios.
— Vamos trabalhar agora.
Só isso? "Vamos trabalhar", como se nada tivesse acontecido? Ela se
odiou por ter permitido que ele chegasse tão perto e a deixasse tão
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abalada. Mas não ia acontecer de novo. Agora sabia que ele apenas se
aproveitara do momento, sem nenhuma emoção. Não seria boba e daqui
para a frente manteria o relacionamento em bases estritamente
comerciais. Ia cumprir com sua obrigação, mas não ficaria mais à
disposição daquele D. Juan.
— Hoje é domingo e já fiz um programa com Mike e Jack. Vamos ver
os pontos turísticos da cidade.
— Sinto muito, mas os planos foram mudados. Mandei Jack fazer
uma pesquisa na biblioteca e Mike está datilografando o que já escrevi.
Quero que vá comigo para conhecer Teotihuacán de Arista.
— Divirta-se por lá. Tenho outros planos para hoje.
Derek ficou de pé, ao lado da cama, olhando-a do alto de seu metro e
oitenta e cinco.
— Se não quer trabalhar hoje, talvez deva ficar na cama até estar
bem descansada, para ter forças suficientes para trabalhar amanhã.
— Sou muito saudável e posso trabalhar tanto quanto qualquer
outra pessoa e em qualquer dia da semana. — Ela estava indignada.
— Melhor assim. — Ele foi para a porta— Encontro-a lá embaixo,
em meia hora.
Trixie pôs a bandeja no chão.
― Pode esperar, pois vou demorar, no mínimo, uma hora ― ela falou
para a porta fechada.
Enquanto se vestia, considerou sua situação. Por que estava se
comportando dessa maneira? Primeiro, derretendo-se por causa de um
beijo e agora ficando tão brava que nem percebeu que estava fazendo tudo
o que Derek queria. Que estranho poder esse homem tinha sobre ela?
CAPÍTULO III
Trixie tirou várias roupas do armário, até se resolver por uma. Tinha
posto primeiro o jeans que usara na véspera e uma camiseta. Depois
lembrou que Derek tinha dito que ela ficava bem daquele modo e achou
melhor usar uma coisa diferente, senão ele podia encarar isso como um
convite.
Por outro lado, vestido ou blusa seria impróprio para escalar as
pirâmides. Depois do que havia passado de manhã, queria usar a roupa
mais discreta que tivesse. Afinal de contas, estava trabalhando!
Acabou se resolvendo por um conjunto de calça comprida bege,
completado por uma blusa da mesma cor com bolinhas marrom.
Enquanto se arrumava, deu-se conta de que estava feliz por fazer o
passeio com Derek. Embora o achasse um tipo desagradável, não podia
deixar de se interessar pelo que ele contava. Ia ser maravilhoso ver as
ruínas Astecas em companhia de um especialista.
Verificou a sacola com a câmara, para ver se não tinha esquecido
nada. Não poderia perder a oportunidade de tirar esplêndidas fotografias
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das pirâmides. Lembrou também de deixar um recado na portaria, para
que Jack a procurasse mais tarde.
Já que Derek tinha mudado os planos, queria deixar bem claro para
Jack que ela não estava aborrecida com ele. Na primeira vez que
conseguissem uma folga, veriam a catedral. Talvez pudessem ir hoje
mesmo. Claro que ela e Derek voltariam assim que escurecesse, pois não
haveria mais luz para tirar fotos.
Ao final de um dia todo passado com o insolente e sedutor patrão,
seria um alívio gozar da companhia calma e tranqüila de Jack. Bobagem
de Derek achar que podia evitar que seus empregados saíssem juntos. O
que ele ia fazer para impedir? Matá-la de trabalho? Nada disso! Derek ia
estar tão distraído com Margarita Lopez que nem se lembraria do
trabalho, quanto mais de seus auxiliares!
Exatamente uma hora depois que Derek tinha saído do quarto, Trixie
chegou à recepção. Ele estava encostado no balcão e a expressão de seu
rosto mostrava como estava irritado. Assim que a viu, ele se aproximou,
os olhos faiscando de raiva.
― Por que, diabo, demorou tanto?
― Eu o avisei de que ia levar mais tempo. Não sou um robô, que
basta apertar os botões e já está pronto para funcionar.
― Se pretendia me deixar zangado, saiba que conseguiu. Está feliz
agora?
― Não sei porque acha que minha intenção era deixá-lo nervoso,
Derek. Você não deveria controlar melhor seu temperamento? Pessoas
agitadas estão sempre sujeitas a úlceras e outras doenças. Além disso, por
que se abalar se me atrasei um pouco? Não seja infantil e aceite o que não
tem remédio. Sabe muito bem que o mundo não pode girar de acordo com
a sua vontade.
― Você está exagerando, sua pestinha. Não puxe muito a corda que
ela arrebenta, e sempre para o lado mais fraco. ― Ele a tomou pelo braço
e levou-a para a calçada.
Trixie estava exultante de felicidade. Tinha conseguido tirar a calma
daquele gigante. Sabia que, no momento, deveria ficar quieta, mas só o
fato de ele ter-se abalado tinha valido a pena. Sensacional!
Entraram no carro e tomaram a Insurgentes Norte e depois a estrada
Cuota. As pirâmides ficavam a quarenta quilômetros dali. Depois de
alguns minutos de silêncio pesado, Derek acabou iniciando a conversa.
― Esse sítio arqueológico que vamos ver é muito antigo. As
estruturas originais são ainda anteriores aos Astecas, pertencendo ao
período Tolteca. Sua construção começou por volta de 85 d.C.
Ele já está novamente com esse tom pedante de professor que sabe
tudo ― Trixie disse a si mesma. ― Mas se ele queria manter a prosa em
tons profissionais, ela poderia fazer a mesma coisa.
― Os Astecas conquistaram a cidade aos Toltecas?
― Os especialistas acreditam que os Toltecas já haviam abandonado
suas construções quando os Astecas se estabeleceram aí.
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Jeanne Stephens Homem de pedra
― De onde vieram os Astecas?
― Ninguém sabe ao certo. Uma das primeiras notícias que se tem
desse povo é que eles são descendentes de uma tribo emigrante de um
lugar chamado Aztlán, no norte do país, por volta do ano 1166. A
localização de Aztlán é desconhecida, mas de acordo com a história, eles
procuravam uma terra, que lhes tinha sido prometida pelos deuses. Sua
nova capital deveria ser construída no local em que vissem uma agiria
pousada num cacto, devorando uma cobra.
― Eles seguiram a lenda?
― Segundo a tradição, eles encontraram a águia pousada numa
pequena ilha que havia no meio de um lago. Então o povo tomou para si o
pesado encargo de encher o lago com terra e a cidade foi erguida no local
exato em que a águia pousara. Assim, essa cidade ficou cercada de água e
se ligava à terra firme por pontes. À medida que o tempo passou, outras
tribos se estabeleceram nos sítios vizinhos e a primeira dessas áreas a ser
descoberta foi Teotihuacán.
― Lembro de ter visto qualquer coisa sobre a origem da cidade num
dos livros que li sobre o assunto. Não é verdade que algumas partes da
Cidade do México começaram a afundar porque sob o solo existia o lago?
― Exatamente. ― Derek lançou-lhe um olhar de aprovação. ―
Alguns dos mais importantes desses lugares históricos ficaram
condenados por esse motivo. Um deles é o Santuário de Guadalupe.
Espero conseguir visitá-lo, enquanto estivermos aqui.
O resto da viagem transcorreu em paz e Derek continuou a contar
fatos interessantes sobre os Astecas. Dava uma boa perspectiva da
importância do lugar que iam visitar.
Pararam primeiro num enorme quadrado com cerca de quatrocentos
metros de largura, que continha escadas em todas as faces. Esse pátio
estava coberto por ruínas de antigos altares dedicados aos sacrifícios
humanos. Desceram um lance de escadas e se viram no pátio que, se-
gundo Derek, já tinha sido pavimentado na antiguidade.
― Aqui era o Templo de Quetzalcoatl, a serpente emplumada, que
era originalmente um deus Tolteca. Só mais tarde ele foi transformado em
deus Asteca.
Trixie andou por entre as ruínas, tirando fotos daqueles lugares tão
interessantes. Enquanto isso, Derek se dedicou a examinar gravações
feitas nas pedras. Mais de uma hora se passou, com os dois entretidos em
seus afazeres. Ela tinha tirado dezenas de fotografias, tinha subido e
descido escadas e pedras e estava cansada e suada, a blusa grudada como
se fosse uma segunda pele.
Derek se aproximou quando ela estava colocando o terceiro rolo de
filme na máquina. Ele não tirou os olhos dos seios de Trixie, que se
delineavam sob a blusa colante.
― Está precisando de um descanso. Vamos procurar uma sombra e
um lugar onde possamos tomar uma bebida gelada.
Trixie o seguiu com a melhor boa vontade. No carro, o ar
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condicionado ligado, seguiram por uma estrada cheia de curvas até que
chegaram a um local movimentado, onde vendiam bebidas, sanduíches e
souvenirs. Compraram refrigerantes e procuraram a sombra de uma
árvore para saborear a bebida.
Sentada junto ao tronco, Trixie matou a sede. Derek estava a seu
lado.
― Ainda há muito mais coisas para se ver, mas não quero que tenha
insolação por minha culpa. Quando achar que chega é só me avisar.
― Posso agüentar tanto quanto você, Derek. ― Ela fez questão de
mostrar que aceitava o desafio.
― Vai agüentar até que desmaie ao pé da pirâmide do Sol, não é?
― Não sou do tipo frágil, Derek. Ainda não percebeu? Pelo jeito, sua
experiência com mulheres não é tão boa, pois julga que somos todas
delicadas e insípidas. ― Ela deu mais um gole longo, gozando a frescura
do líquido borbulhante.
― Muito bem, Trixie. Já sei que não é do tipo que desmaia à toa,
então de que espécie é? Estou muito curioso por saber.
― Ainda não conseguiu descobrir? Pensei que, com todo o seu
conhecimento e experiência, já tivesse posto um rótulo em mim.
De repente, sem o menor aviso, Derek estendeu a mão e pegou a
dela, que estava sobre a grama. Com o dedo indicador ele seguiu a linha
da vida na palma de Trixie. Ela queria puxar o braço e ir embora, pois já
sentia um ligeiro calor, prenúncio de uma onda de desejo. Tinha certeza
de que ele podia notar a emoção que sentia, por mais que tentasse
disfarçar. Estava vulnerável, assim tão perto dele.
― Sou obrigado a dizer a que tipo de mulher você pertence. Tenho
que salvar minha reputação de homem entendido no sexo frágil.
Pouco a pouco Trixie ia compreendendo porque Derek atraía tanto as
mulheres. Ele era o exemplo do homem maduro, atraente, insinuante, que
sabia dizer a palavra certa no momento adequado.
― Para começar com o que é óbvio, você é jovem e... muito bonita. —
Os dedos de Derek começaram a acariciar a curva do pulso de Trixie, que
já não sabia o que fazer para manter seu pensamento afastado do que seu
corpo sentia. No entanto, ia ser uma batalha perdida, pois já estava
começando a se balançar nas nuvens. Como ele podia fazer de um gesto
tão simples uma verdadeira explosão sensual?
― Também é inteligente, tem muita força de vontade, mas de uma
certa maneira ainda é bastante ingênua e inocente.
Trixie ficou apavorada. Inocente? Era isso mesmo, uma boba que
estava caindo na armadilha que ele armara. Tinha que levantar e quebrar
aquele encantamento. Ele não deveria estar sentindo emoção alguma,
pois passara a vida seduzindo todas as moças que encontrava, mas ela...
acabaria perdendo o poder de raciocinar para cair nos braços dele.
Finalmente Trixie conseguiu encontrar voz para responder. Queria
dizer alguma coisa irônica e que o ferisse.
― Ser inocente é um estado que você prefere mudar, não é? Como se
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Jeanne Stephens Homem de pedra
fosse um dever seu, não é?
Derek não fez nenhum comentário, mas continuou com suas carícias,
subindo os dedos para a curva do cotovelo.
― Não adianta, Derek, não fico nada impressionada com suas
técnicas de sedução. Não pretendo cair sob a tentação do método Storm.
Com um brilho no olhar, ele levou a mão dela aos lábios e depositou
um beijo ardente em sua palma. Trixie sentiu o corpo em chamas. Como
ia resistir?
― Pare com isso! Não vê que todos estão reparando em nós?
― Quer dizer que tenho sua permissão para continuar, desde que
ninguém nos observe?
― Claro que não!
― Você é muito puritana, Trixie, mas só exteriormente. Quando vai
sair da casca de suas inibições? Sei que por baixo dessa fachada existe
uma mulher ardente, capaz de grandes paixões. A única coisa que lhe falta
é uma pessoa que a faça quebrar essas muralhas por trás das quais se
escondeu.
― Não sei por que acha que as muralhas ainda não foram quebradas.
Quem sabe já estão por terra e, por obra de alguém que seja mais do meu
tipo do que você?
Ele a olhou muito sério, colocando as mãos sobre os joelhos.
― Já não sou criança, Trixie, me considero um homem vivido. Posso
dizer com muita facilidade quando o amor já tocou uma mulher. Sua
educação foi muito falha nesse ponto.
― Se pensa que vou deixar que você me treine na... na...
― Na difícil arte do amor? Era isso o que queria dizer? De qualquer
modo, tenho pena de você, Trixie, pois não sabe o que está perdendo. Sou
um excelente professor nessa arte e sei que não me engano ao dizer que
você vai ser ótima aluna. Tem tudo que é preciso para sê-lo.
― Você é insuportável! ― Ela levantou, passando a mão na roupa
para tirar os vestígios da grama. ― Fique certo de que não vou ser mais
uma de suas conquistas. Agora, podemos voltar ao trabalho?
Num salto. Derek estava de pé ao lado dela. Seus olhos escuros e
expressivos não deixavam o rosto corado de. Trixie.
― Não esteja tão segura de sua decisão. Você não seria capaz de
resistir, se eu realmente me dedicasse a conquistá-la. Sei que não me acha
tão sem atrativos como me faz supor. Acho até que se emociona demais
com a minha presença.
Por que suportava aquela conversa? ― Trixie se perguntava. ― Devia
era dar um tapa na cara daquele atrevido para que ele se convencesse de
que ela não queria nada com ele. Chegou a erguer a mão, que foi agarrada
por Derek.
― Está vendo como tenho razão? Devia seguir o conselho que me deu
e tratar de controlar o seu temperamento impetuoso, pimentinha.
Derek não esperou que ela respondesse. Saiu andando como se
estivesse sozinho e ela não teve outra solução senão segui-lo. Tinha medo
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de que ele tentasse castigá-la por todos aqueles insultos, mas, para sua
surpresa, assim que o alcançou, ele começou a falar sobre os Astecas. Ela
ficou furiosa. Que homem estranho! Podia controlar as próprias emoções
com a mesma facilidade com que abria e fechava uma torneira.
Tentou se acalmar. E, ao olhar para cima, soltou uma exclamação
admirada.
― Que maravilha! Qual delas é?
― Esta é a pirâmide da Lua ― ele explicou. Apontando para um lugar
mais longe, completou: ― Ali é a pirâmide do Sol.
― Já li muito sobre elas e até já vi fotografias, mas são muito mais
bonitas do que podia imaginar. Não sei, mas acho que nem as pirâmides
do Egito são mais impressionantes.
Derek a escutava, um sorriso brincando nos lábios. Estava contente
ao ver a sensibilidade de Trixie.
― Não é estranho, Derek, que haja pirâmides no Egito e aqui? São
dois locais tão afastados!
― Esse é um dos grandes mistérios que desafiam os estudiosos da
História Antiga. Há muitos especialistas que dizem que não é coincidência
e que existe uma explicação para o fato: seria uma ligação entre essas
duas civilizações.
― Como assim, Derek?
― Muitos estudiosos defendem a idéia de que as pirâmides da
América Central foram construídas por alguém proveniente do Egito, ou
pelo menos daquela área, possivelmente da antiga Babilônia. Dizem até
que a Torre de Babel mencionada na Bíblia era uma pirâmide.
― Mas como eles podiam ter viajado uma distância tão grande,
atravessando até mesmo o oceano?
― Através de pontes feitas de terra, ou mesmo através de viagens
curtas entre uma ilha e outra. Existe também uma outra teoria que diz
que tanto as pirâmides do Egito, como as daqui, foram feitas por povos
que tinham a mesma origem, uma ilha situada a meio caminho entre a
América e o Oriente Médio. Essa ilha ficaria em Atlântida, o continente
desaparecido.
― Você concorda com alguma dessas teorias?
― Nem concordo, nem discordo. ― Ele sorriu. ― Em meus livros
apenas apresento os fatos documentados. Depois, discuto os pontos
favoráveis e desfavoráveis de ambas as teorias e deixo que o leitor tire
suas próprias conclusões. Mas as pirâmides egípcias eram destinadas a
serem túmulos dos faraós, ao passo que as americanas são apenas
plataformas altas onde ficavam os templos. ― Eles tinham chegado à base
da pirâmide da Lua e Trixie se impressionou com sua altura.
― Por que eles a construíram tão alta, se a finalidade era apenas
fazer um templo?
― Na verdade, no início não eram assim tão grandes. O que se vê
aqui é uma pirâmide sobre a outra e assim por diante. Ao fim de cada
ciclo de cinqüenta e dois anos, segundo eles acreditavam, o mundo
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Jeanne Stephens Homem de pedra
renascia; então, construíam uma pirâmide sobre as preexistentes. O tem-
plo já não está lá em cima, mas pode-se ver um completo em Chichén Itzá.
Que tal, vamos subir?
Trixie concordou e começaram a escalada. Por sorte, havia várias
plataformas intermediárias onde podiam parar por uns instantes para
recobrar o fôlego. Quando chegaram ao topo, Trixie sentia os pulmões em
fogo, não só pelo esforço, como pelo ar rarefeito. Sentou-se na pedra
respirando regularmente para conseguir vencer a sufocante sensação.
Derek estava muito mais bem disposto, mas ela não ia dar o braço a
torcer e demonstrar que tinha percebido isso. Um pouco melhor, Trixie
começou a tirar fotografias do alto da pirâmide. Pegou cenas do lindo vale
que ficava a seus pés, registrou os degraus íngremes e estreitos, os turistas
que se mostravam tão encantados como ela.
Quando se deu por satisfeita, desceram e, através de um caminho
largo, que tinha ruínas de altares de sacrifício em suas margens,
aproximaram-se da pirâmide do Sol.
― Esta estrada é chamada a Avenida dos Mortos ― Derek explicou.
― Os arqueólogos a batizaram assim porque muitos esqueletos humanos
foram encontrados aqui, quando se descobriu as ruínas.
Apesar do sol forte, Trixie tremeu.
― Essas mortes foram devidas aos sacrifícios?
― É bem capaz. Sabemos que os Astecas faziam essas cerimônias em
várias ocasiões durante o ano. Era sua crença que os deuses precisavam
de sangue humano e também de corações, e os Astecas faziam o máximo
possível para agradá-los. Em certos lugares onde hoje é a Cidade do
México, os arqueólogos encontraram mais de cinqüenta templos, onde
eram feitos sacrifícios humanos.
― Meu Deus! Mas os Astecas eram bárbaros! Como se pode matar
seres humanos como se fossem gado?
Derek sorriu e todo o seu rosto se iluminou.
― De acordo com o nosso ponto de vista moderno, acho que tem
toda razão, Trixie. Mas dentro da realidade desse povo, era considerado
um grande privilégio ser escolhido para participar desses rituais.
Subir a pirâmide do Sol foi uma tarefa ainda mais árdua do que a da
Lua. Trixie parava em cada plataforma e se encostava na pedra para
respirar melhor. Quando chegaram em cima, ela se jogou no chão,
totalmente sem forças. Fechou os olhos, respirando com dificuldade, e
ficou quieta, até que seu coração, voltasse ao ritmo normal. A seu lado,
Derek também se mostrava cansado e sentindo um pouco de falta de ar.
Ela estava exausta demais para gozar o prazer de ver que ele também se
ressentira da subida, como qualquer ser humano.
Pelo menos, tinha encontrado forças para fazer a escalada penosa,
mostrando-se à altura dele. Não havia desmaiado nem pedido ajuda.
Tinha se saído vitoriosa! Quando se sentiu melhor, tirou algumas fotos
antes de descer, completando o rolo de filme com várias tomadas da
Avenida dos Mortos.
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― Aproveitamos bem o dia para o nosso trabalho ― Derek comentou,
quando voltavam para o carro. ― Podemos agora parar para jantar, pois
bem merecemos. Conheço um ótimo restaurante que fica a meio caminho
da cidade. Que tal?
― Acho excelente! Estou com bastante fome por causa do exercício.
O restaurante era tipicamente mexicano, com pratos coloridos e
música alegre. Trixie pediu licença e foi até o toalete. Ficou impressionada
com a própria aparência. Estava vermelha por ter passado o dia todo sob
o sol forte e seu cabelo, todo despenteado. Arrumou-se o melhor que pôde
e voltou para a mesa.
― Está melhor agora? ― Derek sorriu.
― Muito bem! ― Ela exagerou ao responder.
― É melhor ir cedo para a cama, Trixie. Não deve fazer coisas demais
num só dia. Afinal, não está acostumada ao clima e à altitude.
Trixie se ressentiu do tom de comando. Já não bastava ele dar todas
as ordens referentes ao trabalho? Também queria mandar no que ela
deveria fazer nas poucas horas de folga?
― Nada disso, Derek. Só preciso de um banho demorado e já estarei
pronta para passear de novo. Vou sair com Jack, já que não pudemos
fazer nosso programa de dia.
― Não acho boa idéia querer aproveitar o dia de uma maneira tão
exaustiva. ― Derek agradeceu à moça que lhes viera trazer a comida e não
abandonou mais seu ar de professor. Nem parecia que tinha brincado e
agido como uma pessoa despreocupada durante o dia todo. ― Reconheça
que está cansada e trate de dormir logo depois do banho. Eu darei as
necessárias explicações a Jack.
― Pode deixar que sou capaz de resolver minha própria vida. ― Ela
estava furiosa. ― Por isso, por favor, não tente comandar meus atos.
Aceito o que disser em relação ao trabalho, mas o que faço depois não é de
sua conta.
― Deixe de ser criança, Trixie. Sabe muito bem que se não estiver
descansada, seu trabalho não vai render e você vai acabar perdendo a
sensibilidade, tão necessária a uma boa fotógrafa. ― Como se o assunto
estivesse resolvido, Derek voltou a atenção para o que comia. Mas, depois
de uns minutos, atacou de novo. ― Também acho que é minha obrigação
preveni-la de que Jack não é o rapaz adequado para sair com uma moça
direita.
― Já lhe disse que saí da infância há muito tempo, Derek. Tenho
capacidade para decidir quem deve ser meu amigo.
Depois dessa troca rude de palavras, os dois terminaram a refeição
em silêncio. No carro, Trixie começou a se sentir tensa e pouco à vontade.
A distância que Derek havia criado era pior do que os conselhos ou
sermões. Não queria que a mudança de humor do chefe tivesse tanta
influência sobre ela, mas o que podia fazer? Além de preocupada, estava
brava. Tinha vontade de chorar de ódio!
Mas... o que estava havendo com ela? Nunca fora chorona e agora,
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sem mais nem menos, sentia que as lágrimas queriam saltar de seus
olhos. Logo ela, que sempre detestara mulheres que derramavam
lágrimas à menor provocação.
Trixie engoliu o nó que tinha na garganta e fechou bem as pálpebras
para mandar o choro embora. Porém, uma gota escapou e desceu pelo seu
rosto. Disfarçadamente, enxugou-a com os dedos. Foi nesse exato mo-
mento que seus olhos encontraram os de Derek. Se ele tinha percebido
que ela estava prestes a chorar, não iria se acovardar. Era melhor
enfrentá-lo.
Derek suspirou fundo e seu rosto se abrandou. Teria sentido pena
dela?
― Tudo o que lhe disse até agora foi para seu próprio bem, Trixie.
Não encare nada como uma crítica destrutiva. Sei que tem um grande
potencial e quero ajudá-la a crescer dentro de sua profissão. ― Ele
estendeu a mão e segurou a dela. ― Quero que acredite no que digo, pois é
a verdade.
Ela o olhava, sem conseguir tomar uma decisão. Ele continuava com
a mão dela presa na dele.
― Posso fazer de você a fotógrafa mais procurada de toda a América,
desde que me deixe guiá-la. Está interessada em progredir, não está?
— Claro que estou! ― Ela fazia o possível para não notar a carícia que
ele fazia em sua mão.
― Então tem que confiar em mim.
Trixie o observou. Como gostaria de saber o que existia por trás
daqueles olhos misteriosos e profundos! Mas ele era impenetrável e não
demonstrava o que sentia.
― É difícil pôr em palavras o que quero dizer, Trixie. Você tem que
sentir, em primeiro lugar. Desde o início dos tempos as pessoas têm dado
vazão a seus sentimentos, sejam eles de paixão, amor ou ódio. É isso que
posso ajudá-la a descobrir, se me der a oportunidade. Vamos estabelecer
uma trégua, minha amiga.
Trixie estava hipnotizada e não saberia dizer se era por causa dos
olhos de veludo ou da voz sedutora de Derek. Sentia que sua força de
vontade se esmigalhava e era vencida pelo domínio perigoso do encanto
daquele homem. Seu raciocínio lhe mostrava que existia um duplo sentido
no que Derek lhe dissera, mas uma parte de seu ser ansiava por conhecer
esses sentimentos de que ele falara, preocupando-se apenas com o
presente, como se não pudesse existir um futuro capaz de trazer
arrependimentos.
No entanto, não podia esquecer que havia o amanhã, muitos
amanhãs, e que Derek Storm era um homem que vivia cada dia de uma
maneira muito completa. Ela tinha quase certeza de que ele havia passado
a noite anterior com Margarita Lopez. Portanto, menos de vinte e quatro
horas antes, ele tinha dedicado sua atenção a outra mulher. Como podia
acreditar que era sincero?
Reconhecia que muito do que Derek dissera era verdade.
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Profissionalmente, a ajuda que ele podia lhe dar era enorme; da mesma
maneira que ele poderia arruiná-la, se quisesse. Por isso tinha que tomar
cuidado para não cair nas garras daquele homem e depois ser deixada de
lado, como havia acontecido com muitas outras moças antes dela. Depois
que ele a seduzisse e se cansasse dela, ainda estaria interessado em ajudá-
la?
Por outro lado, algumas noites de paixão e êxtase valeriam sua
tranqüilidade emocional? Ela se conhecia bem e tinha certeza de que, se
acabasse se envolvendo com ele, não seria nada fácil recuperar seu
equilíbrio emocional quando fosse esquecida.
― Está querendo concordar comigo, Trixie. Sei que está. Não vai se
arrepender, posso lhe prometer. ― Havia um lampejo de glória no olhar
macio de Derek. Ele sentia que já havia vencido. Nenhuma mulher
conseguira resistir a seus encantos e Trixie não seria uma exceção.
― Você pede que eu tenha confiança em você, mas se quer que eu
seja bem sincera, confiaria mais numa cobra venenosa ― Trixie pôs muita
amargura na voz. Estava trêmula e indignada. Continuou a falar, com
tanta veemência, que ficou surpresa com sua coragem: ― Sabe o que você
é, Derek Storm? É um porco chauvinista! Acho até que deveria ser objeto
de estudos de um psiquiatra, pois é um exemplo clássico do tipo. Pensa
que as mulheres são apenas objetos e que pode usá-las! Quero que fique
bem claro, de uma vez para sempre, que não estou interessada em nada
do que pode me oferecer.
Derek virou a direção de repente, fazendo os freios guincharem no
asfalto, enquanto parava o carro sobre o capim que margeava a estrada.
Trixie teve que se segurar para não bater com a cabeça no vidro.
Espantada, ela se virou para olhá-lo. Ficou com medo da expressão
fechada que via no rosto bonito de Derek. Sabia que devia ter tocado
algum ponto sensível daquele homem de aço.
― Então sou um porco chauvinista, não é Trixie? Você, em
compensação, é a garota frígida, a donzela feita de gelo! ― Num gesto
rápido ele se apossou das mãos dela. Trixie estava tão assustada que nem
percebeu que ele chegava cada vez mais perto dela. ― Gostaria muito de
saber o que é necessário para penetrar nessa muralha que construiu ao
seu redor. E para que se esconder por detrás dela?
Trixie tinha uma vontade imensa de dizer os maiores insultos de que
fosse capaz e de mandá-lo ficar longe dela. Mas sua língua estava travada
pelo choque da reação, que não esperara. Não conseguia tirar os olhos do
rosto de Derek e o achava ainda mais sedutor com os olhos fuzilando de
revolta. Ouvia um coração batendo forte, mas não poderia dizer se era o
seu ou o dele. Derek chegou ainda mais perto e num fio de voz ela
reclamou:
― Você fala sobre paixão, mas acho que considera todas as emoções
como um jogo! Acontece que não sou brinquedo de ninguém, Derek. Não
pode simplesmente me dar corda para que eu aceite todas as suas
vontades.
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― Sei disso, Trixie. Você não é uma boneca movida a pilha ou a
corda. Pelo contrário, é feita de carne macia e sangue quente. ― Ele
passou os olhos pelo rosto dela, pela curva suave de seu pescoço, pelo
decote profundo de sua blusa. A mão acompanhava esses movimentos
tranqüilos dos olhos, até que encontrou a elevação redonda de seus seios,
para aí parar, acariciando-os. Trixie sentiu um arrepio percorrer seu
corpo. Tentou retirar a mão dele, mas continuava presa aos encantos
daqueles olhos castanhos e atraentes.
Derek continuou explorando o corpo jovem, parando em cada curva,
memorizando cada segredo. Trixie não pode evitar que um gemido de
prazer escapasse de sua garganta. Seu corpo vibrava com o prazer daquele
toque divino.
Com um suspiro fundo, Derek pressionou o corpo rijo contra a
maciez do dela, enquanto a beijava com tal intensidade, que ela chegou a
sentir dor por se ver comprimida contra os dentes dele. Mas depois o
beijo se suavizou, quando ele procurou entreabrir os lábios de Trixie com
o contato sensual de sua língua. Ela sentia o corpo mole, sem vontade,
cada vez se entregando mais à magia do beijo ardente. Fechando os olhos,
passou os braços ao redor do pescoço de Derek, seus lábios corres-
pondendo àquele contato mais íntimo. Estava perdida! Naquele
momento, ele podia fazer dela o que quisesse.
Finalmente, Derek afastou os lábios, chegando-os mais perto do
ouvido dela.
― Então você não está interessada no que tenho para lhe oferecer,
não é? ― ele murmurou, um pouco sem fôlego, mostrando assim que se
sentia tocado pelo beijo que haviam partilhado. Afastando-se de repente,
continuou: ― Se eu não tivesse um outro compromisso, poderia lhe
mostrar como você está interessada. Poderia lhe mostrar o que é a paixão
verdadeira, Trixie. ― Com um gesto firme ele a pôs de lado e deu partida
no motor, voltando para a estrada.
Trixie ficou gelada e solitária no seu canto afastado. Ele a havia
deixado num auge para depois largá-la como se faz com um brinquedo
velho! Que homem frio e calculista! Será que ele tinha sentido alguma
coisa? Ou estava apenas tentando provar que podia dominá-la na hora
que quisesse? E ela tinha caído na armadilha como se fosse uma idiota!
Como podia ter sido tão fraca?
Olhando pelo rabo dos olhos, percebeu que ele tinha a atenção
voltada para a estrada, os braços apoiados no volante, algumas mechas de
cabelo caindo em sua testa alta. Ela nunca havia conhecido um homem
com tanto poder de sedução. Mesmo que continuasse negando que se
interessava por ele, permanecia presa a seu magnetismo. Fechou os olhos
e afundou mais no assento. Depois do que acontecera, não tinha vontade
nenhuma de conversar. Precisava se livrar, o mais depressa possível, da
influência dos encantos de Derek Storm.
Como resistir ao charme poderoso dele? Não era amor, ela tinha
certeza; no entanto, desde o primeiro dia sentira que a presença e,
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principalmente, o menor contato com ele lhe despertavam um desejo
insuportável.
Estava tão perdida em seus pensamentos que nem percebeu que
haviam chegado ao hotel. Foi só quando o porteiro lhe abriu a porta que
ela notou que precisava descer.
Derek deu as chaves para que estacionasse o carro.
― Vou precisar do carro mais tarde, John. Telefono pedindo que o
tragam até a porta.
― Pois não, senhor.
Derek ajudou Trixie a descer e juntos entraram no hall da recepção.
― Tivemos um longo dia, não é, Trixie?
Ela nem respondeu e se apressou em direção ao elevador. Ficou
contente por ver que estava cheio, pois assim podia se esconder no meio
dos outros hóspedes. Antes que a porta se fechasse, viu que uma mulher
morena, muito alta e elegante, com um corpo voluptuoso que atraía os
olhares, se dirigia para Derek.
― Querido, estou esperando por você há séculos. ― A beldade
morena se aproximou e Derek a tomou nos braços.
Lentamente o elevador se fechou, escondendo a cena. Trixie sentiu
que seus olhos se enchiam de lágrimas.
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
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Trixie levantou bem cedo e foi buscar os filmes que havia mandado
revelar. Às dez para as nove estava em frente ao balcão de recepção do
hotel.
As nove horas em ponto Derek apareceu, elegante e descansado,
combinando, com muita desenvoltura, os detalhes da viagem com os
rapazes da portaria. Ela se sentiu mal vestida, de jeans e camiseta. Que
pena que Derek estivesse estragando sua primeira visita ao México!
Esperara essa oportunidade com tanto entusiasmo e Derek, com seu ar
superior e mandão, transformava tudo em sacrifício.
― Já está pronta? ― ele perguntou, com visível cinismo.
― Como vê, estou preparada.
― Ótimo! Chegou na hora, também! Está melhorando dia a dia,
Trixie.
Ela não respondeu. ― Como ele conseguia ser tão desagradável?
― Se você carregar minha máquina de escrever, levo nossa bagagem.
O táxi já está nos esperando.
Os dois foram para o veículo, ele na frente, ela seguindo pouco atrás.
Durante a viagem até o aeroporto, Trixie se manteve muda. Estava
aborrecida, sentindo-se como um cachorrinho de estimação que seguia o
dono sem reclamar.
Somente depois que se ajeitaram nos bancos do avião é que Derek
quebrou o silêncio, que se prolongava há tanto tempo.
― O que quer que esteja se passando em sua cabeça, chegou o
momento de pôr para fora. Tem que ser aqui e agora. Não vou suportar
esse voto de silêncio durante uma semana.
― Não vejo por que você está interessado no que penso. ― Ela
procurou se manter fria e indiferente.
― Tenho que saber, já que vamos trabalhar juntos.
― Não suporto sua atitude dominadora, Derek. Não ligou a mínima
quando lhe disse que não queria fazer essa viagem sozinha com você.
Nunca me consulta para decidir sobre minha própria vida. Acho essa sua
atitude revoltante.
Derek soltou um suspiro de impaciência.
― Não estamos aqui para passear, Trixie. Você veio para tirar
fotografias que deverão ser aprovadas por mim, para aparecerem em meu
livro. Não deve se espantar se exijo que cumpra essas condições e não
posso me preocupar com o que pensa a respeito de minha pessoa. Temos
um trabalho a cumprir, portanto devemos nos tolerar para que ele seja
feito. Concorda comigo?
― Estou um pouco cansada de suas insinuações sobre o que faço.
Sempre fala como se não confiasse em minha capacidade profissional.
― Acha mesmo que já sabe tudo? Não dá margem a uma melhoria
aqui ou ali? Será mesmo que se considera perfeita?
― Ninguém é perfeito!
― Ainda bem que admite isso! Começo a achar que há uma sombra
de esperança de que nosso trabalho saia bom. ― Os olhos de Derek se
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abrandaram e ele se recostou melhor no assento. ― Já esteve no Yucatán?
― Não, e sempre tive vontade de visitá-lo, até...
― Até que soube que iria comigo? ― ele interrompeu-a ― Trixie,
vamos parar com esses caprichos infantis. Quero que capte a atmosfera
dessa parte do país. Vai ver que é bem diferente daquela da Cidade do
México. A própria terra é completamente diferente. É estéril, desolada e,
no entanto, os Maias construíram nela um magnífico império. Por
centenas de anos eles viveram e trabalharam na península do Yucatán e,
de repente, desapareceram misteriosamente. Ninguém sabe para onde
foram ou porque o fizeram. Vamos respirar o mesmo ar que eles
respiraram, andar por onde eles viviam, vamos ver os centros religiosos
que tinham e talvez, depois de algum tempo, você possa começar a
compreendê-los.
Trixie ouvia, maravilhada. Como gostava de saber a respeito
daquelas civilizações desaparecidas, sobre seus hábitos e religião! Tinha
mesmo vontade de conhecer mais sobre um povo cujos deuses eram tão
caprichosos. Mas, no fundo de sua mente, desconfiava de que Derek tinha
outros motivos para trazê-la sozinha naquela viagem. Teria intenções de
seduzi-la? Será que o grande Derek Storm achava necessário raptá-la e
ficar com ela longe de tudo e de todos, para conseguir seus intentos? E
por que estava se incomodando com ela, se tinha Margarita Lopez?
Espere o melhor ― ela se aconselhou; ― e, se por acaso ele chegar às
últimas conseqüências, vai ter a chance de aprender a se defender.
― Teremos tempo para conhecer Mérida, antes de irmos para a
plantação —, Derek interrompeu seus devaneios ― É uma cidade antiga e
encantadora. Vai gostar muito.
No aeroporto de Mérida, Derek alugou um carro e seguiu por uma
avenida de trânsito congestionado, em direção à cidade. No entanto, para
surpresa de Trixie, havia poucos veículos no centro.
― É a hora da siesta. ― Derek explicou: ― Todos descansam por
umas duas horas durante o tempo mais quente do dia.
Trixie olhava para os lados, procurando captar todos os aspectos
interessantes. Reparou na catedral em estilo mourisco, que ocupava uma
boa parte da praça central.
― Essa é a catedral de Mérida, construída no século quatorze ―
Derek estava sempre pronto a esclarecer os pontos turísticos.
Trixie já havia visto muitos outros templos no México e esse não era
o maior nem o mais imponente de todos. Mesmo assim, ficou abismada
com a construção, que mais lembrava uma fortaleza do que uma igreja.
― As torres parecem um pouco pequenas para o conjunto. Dá até a
impressão de que foram construídas depois, por não constar do projeto
original ― Trixie comentou.
― O prédio foi usado como forte e como igreja. Repare que, nas
muralhas, há lugares onde os soldados apoiavam suas armas. O interior,
porém, é de uma beleza extrema ― ele esclareceu.
Derek estacionou o carro e eles entraram na catedral. De fato, ele não
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havia exagerado. A igreja era linda, de uma beleza simples e harmoniosa,
sem ornamentos que estragassem a pureza de suas linhas. Por trás do
altar, um enorme Cristo, esculpido em madeira escura, dominava o
ambiente e atraía a atenção.
― A singeleza dessa imagem é muito mais impressionante do que se
fosse feita de pedras preciosas e ouro ― Trixie murmurou. Derek
concordou e, levando-a pela mão, se encaminharam pela nave até uma
capela, à esquerda do altar. Lá, uma simples cruz de madeira ocupava o
lugar de honra.
― Esta cruz é uma relíquia, e é chamada "A Cruz das Cicatrizes".
― Por quê? ― Trixie estava curiosa.
― Diz a lenda que em Ichmul, uma cidade Maia, os índios viram uma
árvore ardendo, numa determinada noite. No dia seguinte, procuraram
nela sinais de fogo e nada encontraram. A mesma coisa se repetiu várias
noites seguidas. Então, os índios derrubaram a árvore e dela fizeram essa
cruz, que foi colocada na igreja de Ichmul. Tempos mais tarde, a igreja
pegou fogo e ardeu completamente. Somente a cruz restou, apresentando
algumas cicatrizes em seu lenho. Daí seu nome. Ela foi trazida para esta
igreja e todos os anos se fazem cerimônias comemorando os
acontecimentos milagrosos.
― A madeira deve conter algum elemento que a torne à prova de fogo
― Trixie comentou, estudando a cruz mais de perto.
― Você não acredita em milagres?
Ela levantou os olhos e viu que Derek tinha uma expressão
zombeteira.
― Deveria acreditar ou procurar uma explicação científica?
― Esperava que acreditasse em milagres, pois é muito romântica.
― Talvez seja, mas também sou bastante realista.
― Deve ser interessante descobrir qual lado pesa mais em sua
personalidade ― O sorriso de Derek era misterioso.
Em seguida foram para o Palácio do Governo. Trixie registrou em
filme os murais pintados pelo artista Pacheco, mas nem de longe eles
eram tão interessantes como os de Diego de Rivera, na Cidade do México.
Já passava das quatro quando voltaram para o carro e seguiram em
direção às plantações.
― Temos que ir muito longe? ― Trixie perguntou, depois de um
longo silêncio.
― Cerca de quarenta quilômetros. Por lá também existem lugares de
grande valor arqueológico.
Os dois se mantiveram quietos e Trixie olhava a paisagem, que se
mostrava árida e desolada.
― Esse seu amigo, que lhe ofereceu a casa, é muito rico? ― Trixie
perguntou de repente.
― Ele se chama Salvadore Divila e é milionário. Sua fortuna vem
através de gerações; o bisavô de Salvadore foi quem começou as
plantações de sisal, sendo a dele uma das maiores em Yucatán.
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Derek diminuiu a marcha e mostrou a Trixie umas plantas grandes,
de folhas longas, que pareciam rígidas.
— Esses são os vegetais que produzem o sisal. Leva cinco anos para
que eles cresçam o suficiente para começar a produzir. Depois, durante
cerca de vinte anos, tira-se quatro ou cinco folhas de cada vez, de cada
planta. A colheita é feita duas vezes ao ano. Do campo, as folhas são
levadas para outro local, onde as fibras são separadas e postas para secar.
Derek acelerou de novo e durante algum tempo Trixie só conseguia
ver a plantação de sisal que se estendia até onde a vista podia alcançar. Ao
cruzarem uma elevação, viu dois pilares muito altos, indicando o início do
terreno da casa da fazenda. O mundo pareceu se transformar quando
apareceu a maravilhosa sede, grande e espalhada, muito branca e com
telhas vermelhas para fazer o contraste. A mansão estava colocada no
meio de um gramado muito verde, onde havia palmeiras e outras árvores
mais copadas, que davam uma sombra convidativa. À direita do gramado,
via-se uma casa bem menor, provavelmente destinada a hóspedes.
Derek parou o carro em frente à casa principal.
― Vou ver se encontro alguém para me dar a chave. Pouco depois ele
voltou e dirigiu o carro para a casinha que se erguia por trás de uma cerca
de madeira, também pintada de branco. Trixie notou que, entre as duas
habitações, havia quadras de tênis e também uma piscina de água muito
azul.
Derek desceu do carro e abriu o porta-malas, para pegar a bagagem.
Trixie foi para junto dele.
― Seu amigo não estava em casa?
― Não. Ele teve que viajar por causa de negócios e não esperam que
ele volte nos próximos dias.
― E o resto da família, também foi com ele?
Derek soltou uma gargalhada sonora.
― Salvadore não é casado. Ele mora sozinho, a não ser que
consideremos os empregados, que são em grande número. Mas, por causa
da viagem, Salvadore resolveu dar férias a muitos deles. Somente um
casal de mexicanos ficou encarregado de tomar conta do lugar. Teremos
que fazer tudo para nós mesmos. É uma pena que não possa lhe oferecer a
mordomia a que Salvadore está acostumado.
Derek pegou as malas e se encaminhou para a porta de entrada.
Trixie permanecia parada, a boca aberta de espanto, o ódio e a suspeita
crescendo em seu coração. Pegando a máquina de escrever, correu atrás
dele.
― Você planejou tudo isso! ― gritou com raiva. ― Foi um golpe!
Sabia que não ia ter ninguém aqui! Mas não pense que vai levar seus
planos até o fim, porque vou voltar imediatamente para o aeroporto!
Derek apenas lhe dirigiu um olhar de desafio e abriu a porta. Entrou
e tornou a fechá-la, com estrondo. Trixie ficou de pé, parada, olhando o
lugar e tentando elaborar um plano de fuga, se isso se tornasse necessário.
Para seu desespero, notou que os campos de sisal começavam logo atrás
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da casa e se estendiam a perder de vista, sem que ela pudesse divisar uma
estrada. Pelo jeito, o único caminho que existia era a estrada por onde
tinham vindo. Com um suspiro, entrou na casa.
Lá dentro, estava fresco e agradável graças ao ar condicionado.
Parecia que eram esperados, pois tudo estava preparado. A sala era
grande, bem decorada, com vários tapetes mexicanos sobre o chão
tratado. No fundo, a sala se abria para a cozinha, onde Derek já estava,
abrindo e fechando os armários. Na extrema direita da sala havia um
pequeno hall, de onde partia um corredor com várias portas.
― Temos bastante provisões para os dias que ficarmos aqui ―, Derek
voltou para a sala com um sorriso nos lábios. ― Vamos ficar
confortavelmente instalados.
― Você vai ficar ― ela corrigiu ―, porque eu vou embora.
― Deixe de bancar a donzela ofendida!
― Você está sendo insolente, Derek. Me fez acreditar que seu amigo
estaria aqui e que poderíamos contar com a companhia dele.
― Trixie, ponha em sua cabeça que não faz diferença nenhuma se
Salvadore está aqui ou não. Viemos para trabalhar. Já basta o dia que
perdemos em Mérida, onde não produzimos nada. Em todo caso, achei
que apreciaria ver o que havia de antigo por lá. Mas, de agora em diante,
vamos trabalhar duro. Então, pegue suas coisas, escolha o quarto em que
quer ficar e deixe de bobagens. Poderemos começar nosso serviço logo de-
pois do jantar.
Ela tinha vontade de armar um escândalo e exigir que ele a levasse
de volta para o aeroporto. Porém, ao ver sua expressão fria e decidida,
percebeu que seria ainda mais humilhante se ele se recusasse a atendê-la.
Ia pensar mais um pouco. Pegou a mala e foi para o corredor. Havia três
quartos decorados com simplicidade, mas muito confortáveis. Entrou no
que ficava no fim do corredor.
Desfez a mala e guardou suas coisas no armário. Depois ficou
olhando a paisagem pela janela. Era hora do crepúsculo e logo mais a
noite desceria, transformando aquela casa numa prisão. Trixie tremeu de
medo ao pensar que estava sozinha com Derek, e sem sombra de ajuda.
Um cheiro de café recém-coado chegou-lhe às narinas. Ela saiu do
quarto e foi para a cozinha, onde encontrou Derek preparando uma
omelete, enquanto o café acabava de coar. Ficou impressionada ao ver
como o grande escritor se transformara numa figura doméstica, que
parecia perfeitamente à vontade diante de um fogão.
― Chegou na hora certa! Espero que goste de omeletes, porque
minhas habilidades culinárias são um pouco restritas.
― Gosto muito!
― Ótimo! Não quer colocar o café no bule e levá-lo para a sala? Já
deixei a mesa preparada.
Sentaram e começaram a refeição improvisada. Trixie ficou
encantada ao saborear o prato, tão bem feito. Derek era um poço de
surpresas!
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― Acho que ainda poderemos trabalhar um pouco hoje. Que tal? São
só seis e pouco.
― Não sei por onde quer começar.
― Quero dar uma olhada no que já fez, para ver o que é possível
utilizar. Talvez até me convença de que é mais capaz do que imaginava. ―
O tom de Derek permanecia cínico, apesar de seus modos simples de cozi-
nheiro amador.
― Claro! ― ela respondeu, com o mesmo sarcasmo. ― Acho que nada
como um escritor para julgar o trabalho de um fotógrafo!
― Não pretendo julgar nada, Trixie. Quero apenas fazer algumas
observações e acho que não é avessa à crítica construtiva, não é?
― Guarde suas opiniões para si mesmo e para seu próprio trabalho.
― Trixie sentia uma raiva incontrolável daquele homem que não perdia a
menor oportunidade de ser desagradável em relação ao que ela fazia.
― Você não age como profissional, Trixie. Não vamos começar
brigando, porque não estou disposto a enfrentar cenas. Acertaremos
nossos ponteiros no tempo preciso.
― Não vamos acertar nada, a não ser nosso trabalho, Derek... ― Ela
se interrompeu. Quisera falar de modo impessoal, mas sabia que dera a
impressão contrária.
― Pensei que a finalidade dessa viagem fosse o nosso trabalho,
Trixie. É exatamente isso que eu estava tentando lhe explicar. Não prestou
atenção?
― Presto muita atenção ao que diz, Derek. Principalmente ao que
fala por entrelinhas. Com você é preciso agir dessa forma.
― Deve ser muito cansativo estar sempre desconfiando de uma
pessoa com quem se tem de conviver, Trixie. Mas tenho certeza de que
poderei lhe provar que suas suspeitas são infundadas.
― Não vamos ter tanto tempo assim! ― Ela estava irritada e tensa.
Derek mudou sua maneira de agir. Tornou-se brusco e mandão.
― Termine de comer e depois lave a louça e não vá passar a noite
toda fazendo só isso.
― Estou cansada e acho que vou dormir.
― Se está pensando que vai se livrar de sua parte nos trabalhos
caseiros, está muito enganada. Não adianta ficar dando parte de fraca.
Temos que dividir tudo aqui, não só para cozinhar como para manter as
coisas limpas.
Trixie não tentou argumentar. Sabia que ele tinha razão. Ia guardar
suas forças para discutir sobre coisas mais importantes. Terminando de
jantar, tirou a mesa e num instante lavou a louça suja. Quando deixou a
cozinha em ordem, voltou para a sala e viu que Derek estava fora, junto à
porta de vidro, olhando a noite estrelada. Foi até o quarto, pegou o maço
de fotografias reveladas e colocou-as na mesa.
Derek entrou e imediatamente começou a examiná-las, separando
algumas.
― Essas aqui estão muito boas. O contraste está perfeito e vão
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ilustrar muito bem o que escrevi.
Derek continuou examinando as fotos, passando-as de um lado para
outro, como se procurasse alguma coisa que estava faltando. Trixie
começou a ficar nervosa. Ele ia criticá-la e ela não estava disposta a ouvir.
Em todo caso, se tinha que ser assim, era melhor que ele falasse de uma
vez.
― Que é que está errado? Não parece muito satisfeito com o que está
vendo ― ela desafiou.
Derek continuou a olhar as fotos, uma expressão de desagrado em
seu rosto moreno. No entanto, continuava quieto, como se não a tivesse
ouvido.
― Vamos, fale alguma coisa, Derek. O que está errado? Se alguma
delas não está bem, desembuche de uma vez! Ou será que está espantado
por ver que elas estão ótimas e que realmente posso dar conta de meu
trabalho?
― Tenho certeza de que a maioria dos leitores não encontraria nada
de errado nessas fotos. No entanto, uma pessoa mais familiarizada com as
civilizações antigas do México notará a falta de algo indefinível. Talvez os
críticos a elogiassem muito, mas isso lhe é suficiente, Trixie? Fica
satisfeita produzindo menos do que é capaz? ― Ele fez uma pausa, para
depois acrescentar: ― Vai lutar comigo em cada detalhe desse projeto?
― Talvez você tenha errado em não contratar o mesmo fotógrafo que
o ajudou em seus outros livros, Derek.
― Já conhecia o seu trabalho, Trixie, e sabia que seu potencial era
enorme. Quis lhe dar essa chance e sei que ela representa muito para a
sua carreira.
― Tem razão. Se eu conseguir sobreviver até alcançar suas
expectativas...
― Acho que vai conseguir e é para isso que está aqui. Não tenho
vontade de desistir e pretendo que você alcance o seu auge nesse meu
livro.
― Acho que deveria ficar agradecida pela oportunidade que me
oferece, mas...
― Vamos esquecer o assunto por enquanto, Trixie. Não foi uma boa
idéia começar nosso trabalho imediatamente. Estamos cansados e tudo
parece aborrecido. ― Derek sorriu. ― Vamos sair um pouco para nos
distrair. Podemos dar um passeio a pé.
Trixie concordou. Qualquer coisa era melhor do que ficar ali,
ouvindo críticas sobre suas fotos. Começaram a descer o caminho que
levava ao fim do gramado, onde principiava a plantação de sisal. Derek
pegou a mão dela, mas permaneceu impassível, sem olhá-la, como se não
se desse conta do que tinha feito. Trixie teve vontade de puxar a mão, mas
sabia que ele ia de novo chamá-la de donzela ofendida. Era melhor não se
dar por achada.
Em silêncio, ele levou-a até o início da plantação, onde o céu parecia
mais repleto de estrelas, por causa da escuridão.
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― Gostaria de morar aqui, Trixie?
― Não sei. Acho que não.
― Por quê?
― Aqui me sinto um pouco melancólica, triste. Não posso deixar de
pensar naqueles pobres índios que viviam nessas terras antes da vinda
dos espanhóis. Eles devem ter passado o tempo todo tentando plantar e
colher comida suficiente para alimentá-los. E não acredito que tenha sido
fácil, com esse solo árido.
― Ainda tinham que fazer sacrifícios em honra de seus deuses, para
que lhes mandassem chuva.
― Pois é. Parece que ficou no ar essa luta tão grande que eles
enfrentaram. Só de pensar que gerações desse povo sofrido passou a vida
toda em busca de uma sobrevivência difícil, tenho vontade de chorar, de
gritar de ódio.
― Eles não sabiam que podiam viver de outra maneira, Trixie. Nem
ao menos esperavam que a vida lhes fosse mais fácil.
― Talvez esse fosse o grande segredo de sua felicidade, Derek. Como
não esperavam nada de bom, não ficavam desapontados quando tudo ia
mal.
― É verdade. Nós, criaturas do século XX, é que temos sempre
grandes esperanças. Por isso é que estamos sempre nos desencantando
com tudo. Por vezes as pessoas nos falham e nos sentimos atraiçoados.
Trixie notou tanta amargura na voz de Derek que levantou o olhar,
para ver a expressão de seus olhos; mas estava muito escuro. Por alguns
instantes ficaram em silêncio, apenas Apreciando a noite.
― Vamos voltar? ― ele propôs.
Retornaram para casa andando lado a lado, mas sem se tocarem. No
entanto, ela se sentiu mais próxima dele do que nunca!
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO X
Bem cedo, na manhã seguinte, Trixie foi até as ruínas que estavam
sendo exploradas e que ficavam bastante próximas da cidade. Tirou várias
fotos e ficou contente com o que conseguiu. Depois de um almoço rápido,
encaminhou-se ao Museu, onde passou a tarde trabalhando.
Já estava escuro quando chegou ao hotel. Na recepção, hesitou entre
subir e se trocar para jantar ou ir assim como estava, com a roupa
amassada e os cabelos despenteados. Pensou, porém, que se fosse para o
quarto não teria mais vontade de se arrumar e descer para jantar. Era
melhor comer e descansar de uma vez.
Foi para o salão e estava esperando uma vaga quando ouviu que
Mike a chamava, de uma mesa de canto. Ela sorriu e foi em sua direção
até que percebeu que ele não estava sozinho. Sentado num canto mal
iluminado, um vulto moreno, de cabelos pretos muito brilhantes, olhava-a
com uma expressão de ódio.
Era Derek. Trixie quase desmaiou ao vê-lo e teria dado meia-volta e
ido embora, se seu raciocínio não lhe dissesse que não adiantava fugir.
Era melhor enfrentá-lo junto de Mike do que sozinha.
Mike veio encontrá-la e puxou a cadeira, para que ela sentasse. Trixie
se acomodou, colocando a bolsa e a sacola com a câmara sobre a cadeira
que ainda restava vazia.
― Derek acabou de chegar ― Mike explicou. ― Estava vindo jantar
quando o encontrei no hall. ― Ele olhava de Derek para Trixie, sem saber
direito como agir.
Uma pausa longa e pesada pairou sobre a mesa. Depois Derek se
virou para Trixie.
― Mike me disse que você passou o dia todo tirando fotografias. ―
Não havia nenhuma emoção em sua voz, nem interesse, nem censura,
nada.
― É verdade ― Trixie sentia a garganta seca demais para falar. Mas
precisava se controlar! ― Fui até as escavações que estão fazendo aqui
perto, depois até o Museu.
Derek não respondeu e tomou um gole de vinho. Nesse momento um
garçom se aproximou para pegar o pedido. Mais uma vez se fez um
silêncio desagradável entre os companheiros de trabalho. Mike estava
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pouco à vontade, sem saber o que dizer ou fazer. Trixie achou melhor
continuar a conversa.
― Passei pela loja e recolhi as fotografias que tinha mandado revelar.
Algumas ficaram excelentes. ― Ela não se dirigiu a ninguém em especial,
mas esperava que alguém respondesse. Pegou o copo d'água para fazer
alguma coisa, mas suas mãos tremiam tanto, que logo o recolocou na
mesa.
― O sr. Divila voltou com você? ― Trixie se dirigiu a Derek que a
olhava com expressão dura.
― Ele veio num vôo anterior ao meu.
Ela tinha muitas outras perguntas, que lhe queimavam a língua, mas
faltava-lhe coragem. Por que ele tinha voltado, se Margarita ia para a
plantação? Ou tinham mudado os planos? Se Derek tinha vindo para a
Cidade do México, por que Salvadore Divila também viera? Quando Derek
ia encontrar sua amada?
A voz de Mike arrancou-a de seus devaneios.
― Trixie não me contou nada sobre a viagem a Yucatán, Derek. Isso
ajudou a adiantar o livro?
― Não tanto como eu esperava ― Derek olhou diretamente para
Trixie.
O que ele queria dizer com isso? Que não tinha conseguido levá-la
para a cama? Ou que ela não era boa fotógrafa? Cada vez mais Trixie se
convencia de que Derek ia despedi-la. Por que ele já não falava de uma
vez? Do jeito que estava, ela não conseguia nem responder; e qualquer
coisa que dissesse, ele levaria a mal. Que situação!
Os pratos foram trazidos e Mike começou o relato de suas atividades
durante o tempo de ausência do chefe. Trixie ficou quieta, feliz por poder
jantar com calma, sem precisar participar da conversa. Trataria de
arranjar uma desculpa e sairia da mesa assim que terminasse de comer.
Antes que isso acontecesse, Derek afastou a cadeira, pondo-se de pé.
― Com licença, vou cuidar de minha bagagem.
Ele saiu e Trixie deu um suspiro de alívio.
― Minha nossa! ― Mike comentou. ― Esse homem está com alguma
coisa entalada na garganta!
― Acha mesmo, Mike? Eu o achei tão... descontraído.
― Nada disso, Trixie. Ele queria aparentar calma, mas trabalho com
ele há muito tempo e sei o que se escondia por baixo dessa aparência. Já o
vi assim antes e sei que vai estourar logo mais.
Trixie se sentiu tensa novamente. Tinha se tranqüilizado depois que
Derek saiu da mesa, mas sabia que o assunto entre eles ainda não havia
terminado. Derek não tinha dito nada porque ela não estava sozinha, mas
ainda teria de ouvir muitas críticas e repreensões antes de ser demitida.
Pegando a bolsa e a sacola, Trixie se levantou.
― Onde vai? ― Mike estava espantado. ― Ainda não acabou de
jantar.
― Estou muito cansada, Mike. O dia foi exaustivo e o melhor que
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tenho para fazer é ir dormir, para amanhã estar disposta de novo.
― Não é pior ficar sozinha? Não prefere me contar seus problemas?
― Obrigada, Mike. Sei que tenho seu apoio e solidariedade, mas
realmente acho melhor descansar. Uma noite de sono vai me ajudar
muito, tenho certeza.
Trixie chegou ao quarto como se estivesse carregando o mundo nas
costas. Tinha medo de que Derek ainda exigisse um acerto de contas hoje.
Havia acabado de colocar suas coisas na cadeira, lavado o rosto e as mãos,
penteado o cabelo, quando o telefone tocou.
― Trixie, quero vê-la em minha suíte o mais depressa possível ―
Derek comunicou.
― Já estou indo. ― Ela sabia que não adiantava adiar o momento
temido. Era melhor enfrentá-lo de uma vez.
Ele abriu a porta assim que ela bateu. Trixie entrou e viu que,
conforme temia, estavam sozinhos. Ele foi para junto de uma mesa e
colocou whisky num copo.
― Quer beber alguma coisa?
— Não, obrigada.
― Sente-se então, Trixie. Não vou matá-la, embora tenha muita
vontade de fazê-lo.
Ela sentou na beirada da cadeira, sentindo o coração bater tão forte
que quase sobrepujava as palavras de Derek.
― Quero que saiba que passei horas desesperadas, tentando
descobrir o que tinha acontecido com você, até que David me ligou para
avisar que você viera para cá. ― Ele andava de um lado para o outro,
agitado demais para sentar. Trixie tinha a impressão de ver uma fera
enjaulada, insatisfeita e perigosa.
― Não tive a intenção de deixá-lo preocupado.
― Preocupado? Trixie, o que deu em você? Por que partiu desse jeito,
sem uma palavra, como uma doida?
― Achei que nosso trabalho na plantação havia terminado e que eu
produziria muito mais aqui.
― Não pense que sou idiota, Trixie. Não foi nada disso. Faço questão
de saber porque fugiu de mim, nem que para isso a gente tenha que ficar
aqui a noite toda.
― Se não quer mais que eu continue nesse trabalho, é só me avisar.
Não precisa ficar arranjando motivos. ― Ela levantou e foi até a janela,
procurando achar tempo para controlar o tremor da voz.
― Já vamos chegar a esse ponto, não precisa me apressar. O que
insisto em saber agora é por que fugiu do Yucatán? Só me satisfaço com o
motivo real. ― A atitude calma e controlada de Derek assustava Trixie
ainda mais do que sua braveza. ― Estou esperando sua resposta, Trixie.
Sabia que eu a seguiria, então por que tomou essa atitude estúpida e
inconseqüente?
― Não pensei que você fosse voltar tão depressa... ― Ela continuava
de costas, sem coragem de encarar aqueles olhos frios e duros.
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― O que quer dizer com isso? ― Derek colocou as mãos nos ombros
dela, forçando-a a virar-se. ― Responda, vamos!
― Sabe muito bem e não preciso explicar-lhe.
― Sei? De qualquer jeito, quero que me conte.
― Não tenho obrigação de dar explicações, Derek ― ela escapou e foi
para a porta. Derek foi mais rápido e se interpôs em seu caminho.
― Não vou deixá-la sair daqui até que me explique que idéias loucas
andam aparecendo em sua cabeça.
Derek usara seu tom de comando, que não admitia desobediências.
Trixie já não agüentava mais o jogo de palavras que estava havendo entre
eles e acabou explodindo de uma vez. Se tudo tinha de acabar agora, ela
diria o que a estava aborrecendo há tanto tempo!
― Está bem, Derek! Não quis ficar por lá para ver os dois pombinhos
em suas cenas de amor! Fui bastante clara?
― Ainda não. Continua falando sem dizer nada. Para começar, que
pombinhos?
― Faz mesmo questão que eu fale, não é? ― Trixie estava quase
chegando à histeria. ― Não quis bancar a vela, enquanto você e Margarita
trocavam juras de amor.
― Sua imaginação é fértil, Trixie. Não lhe disse que Margarita ia ficar
na sede da fazenda?
― E achou que eu ia acreditar numa mentira dessas?
― Tem todos os motivos para acreditar em mim. Nunca lhe menti e,
se pudesse raciocinar com calma, entenderia que Salvadore jamais poria
sua noiva na casa de hóspedes, principalmente porque ela já estava
ocupada.
Trixie sentiu o chão sumir sob seus pés. Abriu bem os olhos, engoliu
em seco, incapaz de acreditar no que tinha ouvido.
― Acho que não entendi direito. Falou que Margarita e Salvadore
estão... noivos?
― Exatamente. E agora marcaram o casamento.
― Então por que você passava tanto tempo com ela antes de irmos
para o Yucatán?
― Somos amigos. Fui à casa dela várias vezes, onde sempre encontrei
Salvadore.
― Derek, não se pega nos braços a noiva de um amigo!
― Está se referindo àquele dia em que fomos a Teotihuacán?
― É. Eu vi quando a abraçou.
― Naquela noite íamos jantar com Salvadore e, como eu não
conhecia o local do restaurante, Margarita foi comigo para me mostrar o
caminho. Quanto a abraçá-la... Quando conhecer Margarita melhor, você
vai ver como ela é desinibida e exuberante. No entanto, está apaixonada
por Salvadore e é com ele que vai casar.
― Mas... cheguei até a ler sobre vocês dois em colunas sociais.
― Você sabe que os repórteres estão sempre à cata de notícias
sensacionais. Mas Margarita e eu somos bons amigos e nunca nos
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incomodamos com esse tipo de boato.
Trixie começava a perceber como as aparências podem enganar e
perturbar o discernimento das pessoas. Mas ainda havia uma coisa que a
preocupava.
― Então Salvadore estava aqui o tempo todo! Você me levou para a
fazenda sabendo que ele estava aqui, com Margarita. Você mentiu para
mim!
― Não menti, Trixie. Posso não ter dito tudo, mas não menti. ―
Derek chegou mais perto, colocando a mão em seu ombro. ― Confesso
também que um dos motivos porque a levei para lá foi para poder ficar
algum tempo sozinho com você.
― Para poder me seduzir? ― Ela tomou um ar de desafio.
― Trixie, você está parecendo um disco quebrado. ― Ele a segurou
pela cintura, envolvendo-a num abraço. Inclinou a cabeça e lhe deu um
beijo rápido, mas possessivo.
Ela foi tomada de surpresa e nem conseguiu reagir.
― Admito também que queria seduzi-la e ainda quero. ― Tornou a
beijá-la e Trixie sentiu que sua força de vontade começava a desaparecer.
O cérebro de Trixie estava em grande confusão, dividido entre dois
sentimentos opostos. Sentia-se feliz por saber que Derek não tinha nada
com Margarita, mas usada pela insistência dele em seduzi-la. Derek
queria levá-la para a cama e já dizia isso de modo bem claro. Honesto, ele
mostrava que seu interesse era apenas sexual e que não havia nenhuma
emoção ou amor em seu relacionamento com ela.
Ele não relaxava a pressão do abraço. Ao contrário, colocou a mão
por baixo da camisa dela, acariciando-lhe os contornos suaves. Trixie se
sentia mole, sem vontade; gozando o prazer que aquelas mãos lhe davam.
Correspondia ao beijo, apertando Derek contra seu corpo, sentindo sua
masculinidade. Por alguns segundos deliciosos imaginou a sensação de
ser amada por esse homem adorável.
Ele levantou a cabeça, os olhos repletos de desejo.
― Trixie, você é atraente demais para ter ciúmes de Margarita Lopez.
Não me torture mais. Baixe suas defesas e vamos fazer o que nós dois
desejamos tanto!
Seus lábios novamente se juntaram. Trixie se colava a ele,
hipnotizada, ardendo de desejo. Tinha vontade de se dar toda, de se
entregar totalmente, de aceitar o que ele queria lhe dar. Mas, mesmo com
os sentidos tomados pelo desejo intenso, sabia que isso não era o
suficiente. Não queria ser apenas uma outra mulher na vida de Derek.
Amava-o demais para ser apenas um capricho passageiro.
Reuniu suas forças e se afastou ligeiramente.
― Não, Derek...
― Por que não, Trixie?
Ela queria fugir, para poder chorar à vontade, para gritar de dor por
ver que a única vez em que tinha entregue o coração a um homem, ele
queria apenas seu corpo!
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― Já lhe expliquei tudo sobre Margarita. O que quer mais, Trixie?
― Uma coisa que não posso jamais conseguir ― ela respondeu,
desesperada. Arrancou-se dos braços dele e, mal vendo o caminho por
causa das lágrimas que jorravam de seus olhos, correu para seu quarto.
CAPÍTULO XI
Em sua última noite no México, Trixie saiu para dar uma volta no
parque que ficava em frente ao hotel.
Encontrou vários casais de namorados que caminhavam felizes,
olhos nos olhos, de braços dados, contentes de estarem juntos. Como
devia ser maravilhoso amar e ser amada! Existiria alguma coisa melhor
no mundo?
Durante algum tempo andou pelos caminhos iluminados,
observando o pequeno lago, a vegetação, os turistas falando diferentes
línguas. Depois, sentou-se num banco para descansar. Já estava lá há uns
quinze minutos, a mente divagando sobre tudo que acontecera, quando
percebeu que uma pessoa se sentava a seu lado. Assustou-se e teve
vontade de fugir, quando viu que essa pessoa era Derek.
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― Que está fazendo aqui? ― Trixie apertava as mãos, uma contra a
outra, para esconder o tremor.
― Vim conversar com você.
Fazia dias que Derek se limitava apenas a cumprimentá-la e a dar
ordens relativas ao trabalho. Agora, o que ele queria conversar?
― A respeito de quê?
― Sobre a Guatemala. Esperei todo esse tempo, para que você
mostrasse ao menos um ligeiro interesse em completar o trabalho das
fotografias lá. No entanto, acabei de saber, por Mike, que você não
pretende se manifestar.
― Esteve conversando com Mike?
― Se disser o contrário, acerta melhor. Mike esteve falando comigo.
Trixie tentou ver a expressão dos olhos de Derek, mas não conseguiu
chegar a nenhuma conclusão. Desviou o olhar. Sabia que tinha de dizer
alguma coisa, mas não conseguia pôr em palavras tudo que havia em seu
cérebro tumultuado. Murmurou:
― Mike devia ter ficado quieto. Conversei com ele na base da
confiança.
― Acho que já era mais do que tempo de que alguém dissesse alguma
coisa. Pelo jeito, você ia tomar o avião amanhã e ir embora sem dizer
nada, não é?
― Nunca pensei que trabalhar junto com você fosse uma tarefa tão
difícil e... ― Ela apertava as mãos contra o ferro do banco, nervosa
demais.
― Ainda não confia em mim, não é, Trixie?
― Derek, não me entenda mal. Isso não tem nada a ver com
confiança... ― Ela lutava para manter o controle de suas emoções. ―
Quero apenas ir para casa e tentar esquecer...
― Esquecer tudo o que aconteceu entre nós? ― Derek suspirou e,
num tom de voz suave, acrescentou: ― Peço desculpas por tentar colocá-
la numa situação para a qual ainda não estava preparada.
― Ainda bem que reconhece, Derek. De fato, não estou pronta para
ter um caso passageiro... e nunca estarei.
Trixie olhou-o. Derek parecia cansado, linhas de preocupação
marcavam sua testa alta, o ar de extrema arrogância estava ausente de seu
rosto. Apesar de tudo, como tinha vontade de acariciá-lo!
― Trixie, é isso o que pensa de mim? Vou lhe dizer a verdade toda.
De fato, no início foi só nisso que pensei. Não esqueça de que sou treze
anos mais velho que você e que você é jovem, bonita e atraente. Ainda vai
encontrar muitos homens para depois decidir qual é aquele que ama.
Sabia de tudo isso, e, no entanto, continuava esperando... alguma coisa
acontecer.
Os nervos de Trixie estavam à flor da pele. Era quase impossível
agüentar aquele estado de agitação.
― Derek, preciso saber corno você se sente a respeito de nós... de
mim, em especial. ― Finalmente conseguia pôr seu orgulho de lado, para
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ser sincera e direta.
Lentamente, Derek colocou os braços nos ombros dela,
inconscientemente acariciando-a.
― Mike me disse... será mesmo verdade... ele... Trixie, é verdade que
me ama?
― É verdade, Derek. ― Ela tinha que botar para fora, de uma vez
para sempre, aquela torrente de amor que abafava seu coração.
― Então me ouça, minha querida, e fique certa de que nunca fui tão
sincero em minha vida. Esperava que você me amasse desde o momento
em que desceu do avião, um mês atrás. Claro, não sabia disso, na ocasião.
Sabe quando finalmente descobri o que você significava para mim?
Ela negou com a cabeça, sentindo a alegria dominar seu coração e
extravasar em seus olhos.
― Naquela noite em que fomos ver a aldeia Maia. Olhei-a diante do
altar naquela velha igreja, e foi como se um raio me atingisse e eu
finalmente ficasse sabendo.
Ela também tinha se sentido muito unida a ele naquela noite, mas
pensou que fosse uma emoção só sua.
― Derek... por que não me disse antes como se sentia?
Ele a abraçou, fazendo com que ela encostasse a cabeça, em seu
ombro.
― Achei que, se lhe contasse meus sentimentos eu iria assustá-la. Eu
mesmo fiquei espantado por me sentir tão unido a você. Eu a amo, minha
querida, e é a primeira vez que digo essas palavras a uma mulher.
Um beijo cheio de ternura e carinho selou essa declaração de amor.
Trixie se aninhou novamente nos braços de Derek, enquanto ele
continuava.
― Quando a conheci, já tinha chegado ao ponto de não acreditar
mais no amor. Achava que era apenas uma palavra que se usava para
justificar atitudes irracionais. ― Ele riu, gostoso. ― Aliás, tenho agido de
maneira bem irracional, não é? É por causa do amor que sinto por você!
― Nós dois temos agido assim, Derek. É o amor que nos une.
Um outro beijo, mais demorado e apaixonado, ligou aquelas duas
almas que finalmente se encontravam.
― Trixie, você aceita casar comigo e ir para a Guatemala como minha
esposa?
Trixie olhou para ele, encantada com o que ouvira, desejando
ardentemente dizer que sim, mas precisando ter certeza absoluta de que
ele queria casar com ela com a mesma intensidade com que ela desejava.
― Tem certeza de que é isso que quer, Derek?
― A coisa de que tenho mais certeza no mundo, Trixie. Se não posso
tê-la como minha esposa, pelo resto de minha vida, jamais encontrarei
sentido em continuar vivendo.
Trixie estava extasiada. A felicidade abriu um sorriso brilhante em
seus lábios e, com o coração, ela respondeu:
― Quero ser sua esposa, Derek. Sim, mil vezes sim!
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Centelhas de alegria encheram os olhos escuros de Derek, que se
inclinou, depositando nos lábios de Trixie o beijo mais amoroso. Até a
noite pareceu se alegrar com a descoberta dessa paixão, pois a lua os
iluminou, como se trouxesse uma bênção para esse amor que por tanto
tempo permanecera escondido.
― Adoro você, Trixie, preciso desesperadamente de você. Por favor,
diga que nunca mais fugirá de mim!
Trixie respondeu-lhe da única maneira que sabia: apertando seu
corpo contra o dele e selando com um beijo as promessas de amor que
durariam pelo resto de suas vidas.
Fim...
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