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38 REVISTA
38 REVISTA PROTEÇÃO
PROTEÇÃO MAIO // 2017
MAIO 2017
EM RITMO
LENTO
Diferente da rapidez exigida nas linhas de produção dos frigoríficos,
o processo de adequação das empresas aos requisitos da NR 36
ainda é lento, expondo os colaboradores a diversos riscos laborais
Reportagem de Raira Cardoso
ASCOM/MPT-RS
to Brasileiro de Geografia e Estatística),
no ano passado, o Brasil bateu seu recor-
de no abate de frangos, atingindo a marca
de 5,9 bilhões, além de ter contabilizado
42,3 milhões de suínos e 29,7 milhões de
cabeças de gado. Enquanto os estados da
Região Sul lideram na produção avícola e
suína, o Mato Grosso continua liderando
o ranking no abate de bovinos, seguido
de perto pelo Mato Grosso do Sul, Pará,
São Paulo e Goiás.
O grande crescimento do setor frigorí-
fico ao longo dos anos e seu importante
papel na economia do país impulsionou
sua modernização no que se refere à tec-
nologia e à automação, mas a realidade é
que a maior parte dos processos que leva
a proteína animal à mesa dos consumido-
res ainda conta com a mão de obra do tra-
balhador. Até o último levantamento da
RAIS para o ano de 2015, essa demanda
era realizada por 463.205 colaboradores,
espalhados pelos 4.303 estabelecimen- Fatores de riscos diversos podem comprometer a saúde dos trabalhadores
tos ativos dentro do território nacional. desses colaboradores está vigente des- dos nos frigoríficos, em geral, são per-
As atividades desenvolvidas por esses de 2013, mas a quantas será que anda meados por fatores de riscos diversos
trabalhadores durante o abate e proces- a implantação dessas exigências no dia que exercem grande influência no com-
samento de carnes, que em sua grande a dia dentro dos frigoríficos? E será que prometimento da saúde e segurança dos
maioria acontecem no mesmo local, vão elas têm sido capazes de neutralizar os trabalhadores.
desde o sacrífico do animal, a sangria, perigos desses ambientes, que englobam Para a tecnologista da Fundacentro
escaldagem e depenagem (no caso das uma série de riscos ocupacionais listados Maria Muccillo, que acompanha o tra-
aves), evisceração, cortes, desossa até a pelo Ministério do Trabalho? balho da Força-Tarefa de Adequação
embalagem e expedição do produto final. das Condições de Saúde e Segurança no
A regulamentação referente aos cuidados PERIGOS Trabalho em Frigoríficos realizada pelo
à saúde e segurança durante o trabalho Os ambientes de trabalho encontra- Ministério Público do Trabalho no Rio
Grande do Sul, a organização do trabalho
no setor chega a ser perversa, sob o co-
PRINCIPAIS AUTUAÇÕES mando de uma exigência exacerbada de
produção diária, frente aos parâmetros
Confira abaixo os 10 principais motivos sem dispositivos de parada de emergência;
científicos e legais dos aspectos psicofi-
6º
de autuações nos frigoríficos brasileiros no Ausência de pausas psicofisioló-
ano de 2015, segundo dados do Sistema siológicos do ser humano. “O cenário é
gicas;
hostil pela presença de baixas tempera-
7º
Federal de Inspeção do Trabalho:
Relatório anual do PCMSO sem
8º
detecção precoce de vazamentos Ausência de barras de apoio pa- vistos na NR 12, sistema elétrico às ve-
nos pontos críticos, acoplados a sistema ra os pés; zes deficitário, presença de amônia com
9º
de alarme, quando da utilização de amônia; sistema de controle que em alguns casos
Materiais e produtos erguidos/ar-
4º Ausência de chuveiros ou sprinklers acima dos ombros; a monotonia e fatores psicossociais sig-
10º
acima dos grandes vasos de amô- Ausência de rodízios de ativi- nificativos”, lista a técnica de Segurança
nia; dades. do Trabalho.
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da então Comissão Nacional de Ergono- com os patrões do estabelecimento, que
mia do Ministério do Trabalho, e também se negaram a alterar seu modo de traba-
um dos membros pioneiros do grupo que lho, pois temiam que isso fosse afetar os
atuou na criação da NR 36, cita ainda a resultados da produção.
falta de autonomia e de reconhecimen- A partir daí, a entidade desencadeou
to dos trabalhadores de frigoríficos, que uma campanha em nível nacional, que
têm seu ritmo de trabalho imposto pela acabou não chamando a atenção dos ór-
máquina e, em sua grande maioria, não gãos públicos ligados às questões traba-
têm o seu serviço valorizado. “O especia- lhistas, conforme o esperado. Siderlei
lista em Medicina do Trabalho, psiquia- conta que essa foi a gota d’água que le-
tria e psicanálise Christophe Dejours já vou a Contac a realizar uma denúncia em
nos dizia há décadas que o sofrimento âmbito internacional. “Fizemos uma re-
mental tem relação, entre outros mo- vista em inglês em que denunciamos que
tivos, com falta de autonomia e de re- o frango que estava chegando na Europa
conhecimento. Quais frigoríficos estão causava mutilação nos trabalhadores bra-
atentos a este enfrentamento? Quem sileiros e o distribuímos na sede da OIT,
está trabalhando com a organização e a em Genebra, durante um encontro que
gestão do trabalho para mitigar os efei- reuniu representantes de 162 países”. A
tos destas agressões? ”, indaga. Confor- ação, que foi acompanhada pelo masco-
me ele, parte importante dos corpora- te da campanha, um homem vestido de
tivos ainda vê o investimento em SST frango empurrando um trabalhador em
como custo. uma cadeira de rodas, deu o que falar. A
iniciativa pode até ter gerado represálias
ESFORÇO inicialmente, mas fomentou a discussão
Setor lidera estatísticas de doenças do trabalho,
Antes de avaliar como as questões de que já existia no Brasil e que, mais tar-
saúde e segurança estão sendo tratadas de, gerou a NR 36 (Segurança e Saúde possível observar importantes melhorias
nos frigoríficos, o presidente da Contac no Trabalho em Empresas de Abate e nas condições de Saúde e Segurança do
CUT (Confederação Brasileira Democrá- Processamento de Carnes e Derivados), Trabalho nos estabelecimentos respon-
tica dos Trabalhadores nas Indústrias da publicada com a Portaria nº 555, em abril sáveis pelo abate e processamento de
Alimentação), Siderlei de Oliveira, per- de 2013. carne no país. “As empresas frigoríficas e
cebe a importância de relembrar a pri- suas representações investiram nos últi-
meira vez em que se chocou com os pe- INVESTIMENTOS mos anos dezenas de milhões de reais em
rigos trazidos pelo setor. “Há 15 anos eu Quatro anos mais tarde, todos os pra- prol da SST, proporcionando, por exem-
estava em cima de um palanque quando zos estabelecidos na norma para ade- plo, a adequação de inúmeros postos de
notei várias pessoas na plateia com fai- quação por parte dos empregadores já trabalho, inclusão de pausas durante as
xas brancas amarradas no braço. Des- se esgotaram e, de acordo com o consul- jornadas e investimentos para controle
cobri um diagnóstico em comum: pulso tor técnico da ABPA (Associação Brasi- dos fatores de risco”, relata. Segundo
aberto. Logo deduzi que aquela situação leira de Proteína Animal – entidade que ele, também foram realizados seminá-
só podia estar vinculada a alguma doença nasceu da junção da União Brasileira de rios, workshops, reuniões e cursos para
ocupacional. Mas o médico do Trabalho Avicultura e da Associação Brasileira da orientação de empregadores e seus ges-
da empregadora daqueles trabalhadores Indústria Produtora e Exportadora de tores quanto às medidas necessárias para
desconhecia esse diagnóstico como de- Carne Suína), Moacir Cerigueli, que tam- garantir um ambiente seguro e saudável.
sencadeado por atividade profissional. bém é representante dos empregadores Heiler Natali, procurador do Trabalho
Nem mesmo o Secretário de Saúde do na Comissão Nacional Tripartite Temá- e coordenador do projeto de Adequação
município tinha conhecimento do que tica responsável por acompanhar a im- das Condições de Saúde e Segurança no
eram as Lesões por Esforço Repetitivo”, plementação da NR 36 nos frigoríficos, é Trabalho em Frigoríficos em nível nacio-
nal, cuja iniciativa já ajuizou uma série de
ações civis públicas nos estados em que a
atividade frigorífica se faz mais presente,
concorda que a legislação trouxe enor-
mes avanços. Segundo ele, sua imple-
mentação, que antes era vista com maus
olhos por parte do segmento econômico,
hoje é encarada como uma oportunidade
para a efetivação de medidas capazes de
reduzir as taxas de absenteísmo e rotati-
vidade de mão de obra, ainda abundante
no setor. A adequação nos postos de tra-
CARGAS
O manuseio, levantamento e transporte
de produtos e cargas apresentam maiores
desafios nos frigoríficos de suínos e bovi-
Adequação dos postos de trabalho e alternância de postura ainda são desafios a serem vencidos nos. Conforme Mauro Muller, auditor fis-
Todo ambiente de trabalho sujeita seus com a base mostram-se imprescindíveis”, cal do Trabalho do RS e representante do
trabalhadores a algum tipo de risco, que avalia. Em relação aos mobiliários e postos governo na Comissão Nacional Tripartite
dependerá muito da atividade que o cola- de trabalho, por exemplo, em que a norma Temática, responsável por acompanhar
borador exerce e da indústria em que ele prevê alternância da posição do trabalha- a implantação da NR 36 nas empresas,
está inserido. Para extinguir ou ao menos dor de pé e sentada, sempre que possível, existe nessas atividades a exigência de
mitigá-los dentro dos frigoríficos, a Nor- ele afirma ter encontrado problemas para posturas de torção do tronco e de flexão
ma Regulamentadora 36 passou a vigorar uma aplicação adequada. “Às vezes nem irregular da coluna (abaixamento). “Ela
em 2013. Ao todo, ela conta com 16 itens mesmo os assentos são preparados para ocorre na deposição das caixas ou em-
e 216 subitens, além do anexo publicado as baixas temperaturas dos frigoríficos, balagens de produtos na altura do chão,
em 2016, que pretende padronizar e regu- sendo ainda de inox puro”, conta. produtos com peso muito acima de 20kg,
larizar as máquinas utilizadas nas indús- Em Minas Gerais, a situação é pareci- como sacos de 50kg ou carcaças de 100kg
trias de abate e processamento de carnes da. Conforme o auditor fiscal do Traba- sendo suportadas manualmente pelo tra-
e derivados. Grande parte da redação da lho Francisco Reis, ainda existem vários balhador. Também durante o levantamen-
norma busca combater a preocupante in-
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colaborador e na movimentação manual tico interdisciplinar”, pontua o médico
de cargas acima dos limites recomenda- do Trabalho.
dos para jornada de oito horas, em que o Também são as AETs que avaliarão a
máximo é de 10 mil quilos por trabalha- adaptação das condições de trabalho às
dor”, explica. Uma das soluções que ele características psicofisiológicas dos tra-
tem visto em vários estabelecimentos para balhadores e subsidiarão as demais me-
evitar essa exposição é a utilização de pa- didas e adequações necessárias, confor-
leteiras elétricas ou empilhadeiras para o me previsto na NR 17. O auditor fiscal do
transporte de cargas com mais de 500kg. Trabalho da SRTE/MT José Almeida de
Para avaliar a compatibilidade do es- Jesus conta que chegou a visitar estabe-
forço físico dos trabalhadores com a sua lecimentos no Mato Grosso que nem se-
capacidade de força é essencial que o quer possuíam o documento. Outros ti-
empregador elabore uma Análise Ergonô- nham um parecer ergonômico incorreto,
mica do Trabalho. O problema, segundo que nada ajudava a melhorar a situação
o médico do Trabalho e AFT aposenta- dos trabalhadores.
do Paulo Barros de Oliveira, desde 2005
envolvido com a prevenção neste setor, MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS
é a grande quantidade de AETs (Análises Na recepção e descarga de animais nos Medidas de proteção para serra fita estão em discussão
Ergonômicas do Trabalho) fracas, sem frigoríficos, Muller ainda percebe a neces- rança Específicos para Máquinas Utiliza-
qualificação, que se encontra diariamen- sidade de se limitar o tempo de trabalho das nas Indústrias de Abate e Processa-
te nos frigoríficos. Para ele, falta aos em- de cada funcionário durante a jornada mento de Carnes e Derivados Destinados
pregadores entenderem que contratar o no descarregamento manual das caixas ao Consumo Humano, da NR 36, o AFT
serviço de corpo técnico e consultoria de frango, para evitar a fadiga e a exaus- percebe avanços nessa área. “No novo
com menor preço também significa con- tão. No caso da carne bovina e suína, ele anexo conseguimos regulamentar três ti-
tratação de menor qualidade. “Com isso, percebe a necessidade de cobertura das pos de máquinas para o setor frigorífico:
não estou afirmando que o preço caro áreas externas de trabalho, visando a pro- a máquina automática para descourear e
resulte necessariamente em trabalho de teção dos trabalhadores das intempéries. retirar pele e película, a máquina aberta
qualidade, mas certamente um preço que Coordenador da subcomissão respon- para descourear a pele e a membrana e
sequer pagaria um trabalho interdiscipli- sável pelo Anexo 2 – Requisitos de Segu- a máquina de repasse de moela”, conta.
O procurador do Trabalho e coordena-
dor do projeto de Adequação das Condi-
OS PERIGOS DA AMÔNIA ções de Saúde e Segurança no Trabalho
Um dos riscos que ultrapassa os muros balhadores nas Indústrias da Alimentação), em Frigoríficos em nível nacional, Heiler
dos frigoríficos, podendo também causar Siderlei de Oliveira, representante dos tra- Natali, também percebe progressos. “Tem
problemas para os moradores do entorno, balhadores na CNTT, esse é um dos maio- sido cada vez mais comum constatar in
é a amônia, um produto químico perigoso, res problemas do setor. “Cada vez mais fi- loco a adequação de máquinas e equipa-
corrosivo para a pele, olhos, vias aéreas su- camos sabendo de vazamentos de amônia mentos aos preceitos da NR 12, evitando
periores e pulmões, que pode levar à morte nos frigoríficos, com muitos trabalhadores assim uma série de interdições que antes
e é utilizado no sistema de refrigeração dos atingidos. O que acontece é que estabele- eram rotineiras”, relata. Em contrapon-
frigoríficos. Frente ao importante risco, a NR cimentos velhos estão sendo comprados
to, o AFT Francisco Reis garante que é
36 instituiu uma série de medidas para pre- pelas grandes empresas, mas elas não re-
comum empresas que instalam as prote-
venir o vazamento de amônia, ou controlá- novam as tubulações”, pondera. Segundo
lo, caso aconteça. Mas, de acordo com o ele, o agente também é abortivo e, nesse
ções adequadas somente durante a ação
auditor fiscal do Trabalho Mauro Muller, que caso, basta as gestantes aspirarem uma fiscal. “Muitas vezes, a empresa mantém
também faz parte da bancada do Governo quantidade pequena. as máquinas desprotegidas, pois algumas
na Comissão Nacional Tripartite Temática Como solução, o procurador do Trabalho destas proteções implicam em perda de
responsável por acompanhar a implementa- do Rio Grande do Sul, Ricardo Garcia, cita produtividade”, revela.
ção da NR 36 nas empresas, pouco se tem a substituição da amônia pelo etileno glicol, Embora entenda que a ideia central da
evoluído nesse sentido. “Não encontramos que não teria nenhuma agressividade à saú- NR 12 é proteger as zonas de risco das
quase nenhuma medida implantada em re- de dos trabalhadores. “Em uma planta nova máquinas, para o consultor técnico da
lação ao sistema de monitoramento de va- no município de Seberi/RS eles já utilizam o ABPA (Associação Brasileira de Proteína
zamento de amônia, destacando-se a falta glicol. Mas existem outras opções”, afirma.
Animal) Moacir Cerigueli, representante
de sensores de detecção de vazamentos, Para ele, a forma mais adequada de sanar
dos empregadores na CNTT da NR 36, es-
bem como a inexistência de painel de con- o risco seria a proibição do uso de amônia
trole, previstos na norma”, revela. nos estabelecimentos e a introdução de
ta premissa da norma se tornou imprati-
outras opções, que deveriam constar na cável para diversos setores dos frigorífi-
SUBSTITUIÇÃO NR 36. “Claro que essa é uma modificação cos. “Um exemplo clássico é a máquina de
Para o presidente da Contac CUT (Con- que exige investimentos e um longo prazo, serra fita, muito comum nos frigoríficos
federação Brasileira Democrática dos Tra- mas é uma tendência necessária”, conclui. e açougues brasileiros. A NR 12, inicial-
mente, simplesmente impediu o uso des-
ASCOM/MPT-RS
CNNT lembra ainda do frio intenso a riscos, é essencial que as empresas im-
que os colaboradores têm de conviver, plantem um sistema de gestão de SST,
visto que a maior parte dos estabeleci- que seja integrado aos níveis gerenciais
mentos é mantida entre 10 e 12 graus, e com a participação dos trabalhadores.
já tendo visto algumas inclusive a 20 Frente a isso, o AFT Francisco Reis per-
graus negativos, ou calor, em pontos cebe uma grande dificuldade de integra-
específicos como a escaldagem; o ris- ção das empresas. “O maior problema
co químico oferecido principalmente talvez seja o fato da equipe de Saúde e
pela amônia que é utilizada no sistema Segurança dos frigoríficos ainda não ser
de refrigeração dos frigoríficos (Leia parte integrante da equipe de gestão da
mais no box Os perigos da amônia, na empresa, não tendo poder de decisão.
página 46); e os riscos biológicos pelo Médicos, engenheiros, ergonomistas,
contato com animais antes de serem também costumam desenvolver seu tra-
considerados livres de contaminação balho de forma compartimentada, sem
por bactéria, no começo do processo um trabalho conjunto e convergente”,
produtivo dos frigoríficos, e que po- avalia. Realidade essa que pode ser per-
dem causar as chamadas zoonoses. cebida, segundo o AFT José de Almeida,
“Também precisamos considerar a do Mato Grosso, pela falta de CAT, exem-
grande incidência das LER/DORTs e plo do descaso das empregadoras. “Che-
dos transtornos psíquicos, como de- guei a fiscalizar um frigorífico em que o
pressão, síndrome do pânico e ansie- responsável simplesmente pegou o PPRA
dade, que, juntos somam mais de 85% de um ano e colocou no outro, sem fazer
das doenças relacionadas ao trabalho um monitoramento. Há uma necessidade
vistas nos frigoríficos. Além dos aci- de gerenciamento de riscos e até de uma
Pausa e rodízio: urgência na adoção dentes mecânicos, em que as quedas cultura de gestão de risco ocupacional vi-
bem aceita até pelas empresas, que não são as mais comuns”, informa. sando a eliminação”, destaca.
adotavam medidas concretas diante do
grande número de empregados afasta-
dos e doentes.
Contudo, Garcia observa uma situação
Boas práticas reconhecidas
um pouco diferente em relação ao rodízio Iniciativas têm colaborado para melhoria dos ambientes
de atividades durante a jornada de traba-
lho. “Excepcionalmente, uma ou outra Sem dúvida, a publicação da NR 36 foi tali, os frutos mais visíveis destas ações
empresa faz o rodízio, mas é mais com- um passo importante rumo à efetivação foram a aprovação da Súmula do Tribu-
plexo que isso. O rodízio tem que ser feito de melhores condições de segurança e nal Superior do Trabalho de nº 438, pu-
de forma que o trabalhador saia de uma saúde para os funcionários de frigorí- blicada em 2012, que implantou o inter-
atividade que ofereça determinado risco ficos brasileiros, mas o avanço de fato valo para recuperação térmica do empre-
para outra em que este esteja ausente. precisa ser visto no dia a dia de trabalho gado submetido a trabalho contínuo em
Por exemplo, alguém que está cortando dos estabelecimentos. Para garantir que ambiente artificialmente frio, e, no ano
frango, com forte repetição dos membros isso aconteça, diversas iniciativas públi- seguinte, a NR 36. “Tornar visível o adoe-
superiores, durante duas horas, deveria cas foram elaboradas. Boas práticas das cimento decorrente da sujeição a um rit-
exercer função que não exigisse repeti- empresas também têm sido evidenciadas mo de trabalho incompatível com a con-
ção pelas duas horas seguintes”, explica. durante as fiscalizações. dição humana, sob jornadas medievais e
Em âmbito nacional, o Projeto Nacio- em bancadas e postos de trabalho total-
GERENCIAMENTO DE RISCOS nal de Adequações das Condições de mente inadequados despertou o senso
A exposição a ruído, que além de seus Trabalho em Frigoríficos foi criado em comum para a necessidade de se discu-
efeitos auditivos, apresenta os efeitos ex- 2011 pelo Ministério Público do Traba- tir o tema com profundidade”, justifica.
tra auditivos, tais como, elevação de ní- lho visando contribuir para a diminuição Desde então, uma série de ações civis
vel de estresse, maior tensão muscular das doenças ocupacionais e acidentes de públicas foram ajuizadas e adequações
e hipertensão arterial, ainda é um obs- trabalho no setor de abate e processa- foram feitas. Segundo ele, esse resultado
táculo nos frigoríficos. Conforme expli- mento de carnes, por meio de inspeções, se deu também por meio de audiências
ca o médico do Trabalho da Contac CUT Termos de Ajustamento de Conduta e públicas e inúmeras reuniões de trabalho
(Confederação Brasileira Democrática desenvolvimento de ações preventivas, com a representação dos trabalhadores, a
dos Trabalhadores nas Indústrias da Ali- repressivas e pedagógicas voltadas para Contac (Confederação Brasileira Demo-
mentação) Roberto Ruiz, a nória, aquela a regularização das questões trabalhistas crática dos Trabalhadores nas Indústrias
linha de produção aérea onde a carne do no setor de frigoríficos. da Alimentação) e a ABPA (Associação
animal é pendurada, é um dos processos Conforme o coordenador dessa inicia- Brasileira de Proteína Animal), que de-
que mais expõe o trabalhador ao barulho. tiva, o procurador do Trabalho Heiler Na- senvolveram projetos próprios para a