REVISTA
y
ECLESIASTICA
BRA.SILEIRA
VOL. 3 DEZEMBRO 1943 . FASC. 4
SUMARIO
.
O u g1i e 1 m e 11 i; Pe. Domingos, C. M., A Ação Católica
· e a Eucaristia . . . . . . . ..
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.
· 935
O i 11 e s, Fr. Felisberto, O. F. M., Os religiosos e as paró-
quias (Conclusão) . . .......................... 944
R õ w e r, Fr. Basílio, O. F. M., A contribuição franciscana
na formação religiosa da Capitania das Minas Gerais 972
SUMARIO (Continuação)
Documentação . . . . . .. . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . .. . . . 1027
Littenc E nc y c l i c re Pii Papre XII de M ys t ico Iesu Ch ri st i
Cor po re dequc nostra cum C h r is to coniunc t io ne ( 1 02 7 ) .
- Carta Pastoral do Arcebispo Metropolitano do Rio de
janeiro sôbre a I g reja (1057).
Pelas Revistas . . ... . . . .......... . . . . ........... . . 1073
B a i s n é e, Maritain e sua o b ra O Crepí1sculo da Civi li -
"
Tendo dito que, assim como o Verbo Eterno para nos remir
se serviu da nossa natureza, também se serve de modo seme
lhante da Igreja para continuar perenemente a obra começada,
afirma : "Ora, para definir e descrever esta verdadeira I grej a
de Cri. s to, - que é a santa, católica, apostól ica I grej a Romana,
- nada h á mais nobre, nem mais excelente, nem mais divino do
que o conceito expresso na denominação Corpo Místico de Jesus
<::;risto; conceito que imediatamente resulta de quanto nas sagra-
840 K e 1 1 e r, "Mystici Corporis Christi"
a Deus, é sempre a sua graça que nos m ove. A graça e a glória brotam
da sua inexau rível plenitude. Sobretudo aos membros mais e m i ne ntes
de seu C o rpo Místico enriquece o Salvador contin u a mente com os dons
de conselho, fortaleza, temor, piedade, para que todo o Corpo cresça
cada dia mais e m santidade e perfeição. E q u a n d o com rito externo se
m i nistram os Sacramentos d a I grej a, é 1:.le que opera o efeito dêles n a s
almas. E' t:: l e também q u e , n u t r i n d o os f i é i s com a própria Carne e S a n
gue, s e r e n a os movimentos desordenados das paixões ; é 1:. l e que a umenta
as graças e prepara a futura glória das almas e dos corpos. Todos êstes
tesou ros d a divin a bondade reparte i::l e aos membros d o seu Corpo Mís
tico não só e n q u anto os o btém do Eterno Padre como Vítima eucarística
na terra e como Vítima glorificada n o céu mostrando as suas chagas e
a p resentando as suas súplicas, m a s t a m b é m porque "segundo a med i d a
d o dom de Cristo", escolhe, determina, distribui a cada u m as s u a s
g raças. Donde se segue que do d i v i n o Redentor, como de f o nte m a n a n
c i a l , " t o d o o C o rpo b e m o r g a n i z a d o e u n i do recebe por tôdas a s a rticula
ções, segundo a medida de cada membro, o i nfluxo e energia q u e o faz
c rescer e aperfeiçoa r n a caridade."
Termina dêste modo a doutrina de Cristo C abeça, que mos
tra tanto a superioridade e excelência quanto o íntimo conexo
e influxo vital . Passa a Encíclica a t ratar do terceiro grande mo
tivo pelo qual a I grej a é Corpo de Cristo. Vimos 1 .º, que é o
Fundador ; 2.0 que é a Cabeça. Segue agora o terceiro.
c ) Cristo é o Sustentador do Corpo. A doutrina exposta
-
a expl anar " esta coisa grande, misteriosa e divin a", para só na
terceira grand e parte d a E n c íclica falar expressamente dos erros.
E' uma união estreitíssim a, comparada na Sagrada Escritura
à união do casto Matrimônio, à unidade vital dos sarmentos com
a videira e dos membros do nosso corpo, dizendo a tradição an
tiqu íssima, continuada nos Ss. Padres, "que o divino Redentor
forma com o seu Corpo social uma única Pesso a m ística."
Trata primeiro dos vínculos j ur ídicos e sociais. �stes são
mais estreitos na I grej a do q u e em qualquer outro corpo social
e em qualquer outra sociedade humana. Pois "quanto mais nob r e
é o fim a que tende esta conspiração, tanto m ais divina é a fonte
donde ela procede, tanto m ais excelente é a u nião . O ra o fim
é a l tíssimo, a contínu a santificação dos membros do mesmo C o r
po para a glória d e Deus e do Cordeiro que foi santificado." In
siste depois na manifestação externa d esta conspiração para o mes
mo fim , j á que o Corpo de C risto é visível .
Mais fortes são os vínculos d as três virtu des teologais : a fé,
a esperança e a caridade q u e nos unem estreitissimamente com
D eus e com C risto N osso S enhor.
A caridade que n os u n e a D eus deve manifestar-se no amor ao
p róximo. Pois, temos d e ser "membros uns dos outros" ( Rom
1 2, 5 ) "so l í citos uns pelos outros." ( 1 Cor 1 2, 2 5 . ) Porquanto
para sermos unidos à Cabeça temos de amar os i rmãos ; e quanto
mais unidos estivermos ao Senhor, tanto mais amaremos aos
irmãos.
Mas não é só a caridade em nós i nfusa que nos une ao S e
nhor ; com muito m aior fôrça nos abraça o amor, com que desde
tôd a a eternidade nos ama. Amor e conhecimento que mesmo
em sua natureza humana teve de nós desde o primeiro instante
da su a I n carnação, de tal modo "que excede tudo quanto a r a
zão humana pode alcançar."
Estando C risto em nós e nós em C risto pelo Esp írito S anto,
"que �l e nos comunica e pelo qual opera em n ós", " a I grej a vem
a ser como o complemento e a p l enitu d e do Redentor e C risto
como q u e se completa na I grej a."
Tendo falado de n ovo no Espírito S anto, fal a m ais d etidamente
das dificuldades que apresenta a explicação da nossa união com
o divino Redentor e especialmente da h abitação do Espírito S anto
em n ós. O que segue p ertence também aos trechos mais sublimes
da Encíclica : "Mas sabemos também que da investigação bem feita
e persistente e do conflito e concurso das várias opiniões, se a
investigação fôr o rientad a pelo amor d a verdade e pela d evid a
submissão à I grej a, bro tam faíscas e s e acendem l uzes com que,
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das Três Pessoas divinas à união beatífica : " Esta admirável união
- diz êle - que com próprio têrmo se chama inabitação, difere
apenas na condição ou estado daquela com que Deus no céu
abraça e beatifica os bem-aventu rados."
Fala o Sumo Pontífice por último da Eucaristia como sinal
e manifestação de unidade. E' de modo especi al manifestação da
unidade, como Sacrifício : "no qual o celebrante faz as vêzes
não só do divin o Salvador mas também de todo o Corpo Mís
_
tico e de cada um dos fiéis : e por sua parte os fiéis, unidos n as
orações e votos comuns, pelas mãos do celebrante apresentam
ao Eterno Pai o Cordeiro imaculado, - presente no altar à voz
unicamente do sacerdote - como vítima agradável de louvor e
propiciação pelas necessidades de tôda a I grej a." Como Sacra
mento, ao mesmo tempo que é "viva e admirável imagem da uni
dade da I grej a - pois que o pão da Hóstia é um, resultante de
muitos grãos - dá-nos o próprio Autor da graça sobrenatural, para
d�le haurirmos o Espírito de caridade que nos fará viver, não a
nossa, mas a vida de Cristo e amar o próprio Redentor em todos
os membros do seu Corpo social."
E is a união dos fiéis com Cristo. Vai das manifestações ex
ternas, sociais, visíveis até o mais recôndito interior, onde habita
o Esp írito do Cristo, como princípio de vida e atividade. Possui
a sua manifestação maior no Santo Sacrifício e alcança o auge
na Santa Comunhão.
Erros indigitados
Terminadas as duas partes doutrinárias, tira a Encíclica na
terceira parte as consequências práticas, primeiro proscrevendo os
erros, que apontara no quarto motivo da escolha do assunto, se
gundo exortando os fiéis ao amor sólido e prático da I grej a.
" A investigação dêste difícil assunto quando feita a capri
cho, como alguns a fazem" expõe a erros, "não sem grande pe
rigo para a fé católica e p erturbação das almas" . Ao tratar do
quarto motivo da escolha do assunto, n a parte introdutória, e
quando ao falar da habitação do Espírito Santo n a segunda parte
da Encíclica, recomenda o Santo Padre a atitude que o Concílio
do Vaticano prescreve na investigação dos mistérios da fé ; reco
menda o amor à verdade e a submissão à Igrej a. A atitude con
trária é a investigação feita por capricho, ao sabor da vaidade,
do orgulho, das inclinações e preferências humanas.
São indigitados cinco erros. O p r i m e i r o afirma "que o
Redentor e os membros da I greja formam uma pessoa físic a"
e consequentemente atribui aos homens p ro p ried a d es divinas e
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das Três Pessoas divinas à união beatífica : " Esta admiráve l união
_ diz êle - que com próprio têrmo se chama inabitação, difere
apenas na condição ou estado daquela com que Deus no céu
abraça e beatifica os bem-aventu rados."
Fala o Sumo Pontífice por último da Eucaristia como sinal
e m anife stação de unidade. E' de modo especial manifestação da
un idade, como Sacrifício : "no qual o celebrante faz as vêzes
não só do divino Salvador mas também de todo o Corpo M ís
tico e de cada um dos fiéis : e por sua parte os fiéis, uni dos nas
orações e votos comuns, pelas mãos do celebrante apresentam
ao E terno Pai o Cordeiro i maculado, - presente no altar à voz
unicamente do sacerdote - como vítima agradável de louvor e
propici ação pelas necessidades de tôda a I grej a." Como S acra
mento, ao m esmo tempo que é "viva e admirável imagem da uni
dade da I grej a - pois que o pão d a H óstia é um, resultante de
m u i tos grãos - dá-nos o próprio Autor da graça sobrenatural, para
d f. l e haurirmos o Espírito de caridade que nos fará viver, não a
nossa, m as a vida de Cristo e amar o próprio Redentor em todos
os membros cio seu Corpo social."
Eis a união dos fiéis com Cristo. Vai das manifestações ex
ternas, sociais, visíveis até o mais recôndito interior, onde habita
o Espírito do Cristo, como p rincípio de vida e atividade. Possui
a sua m an ifestação maior no S anto S acrifício e alcança o auge
na Santa Comunhão.
Erros indigitados
Term inadas as duas partes doutrinárias, tira a Encíclica na
tercei ra parte as consequências práticas, primeiro p roscrevendo os
erros, que apontara no quarto motivo da escolha do assunto, se
gundo exortando os fiéis ao amor sólido e prático da Igrej a .
"A investigação dêste difícil assunto quando feita a capri
cho, como alguns a fazem" expõe a erros, "não sem grande pe
rigo para a fé católica e p erturbação das almas" . Ao tratar do
quarto motivo da escolha do assunto, na parte introdutória, e
quando ao falar da habitação do Espírito Santo na segunda parte
da Encícl ica, recomenda o Santo Padre a atitude que o Concílio
do Vaticano prescreve na investigação dos mistérios da fé ; reco
menda o amor à verdade e a submissão à Igreja. A atitude con
trária é a investigação feita por capricho, ao sabor da vaidade,
do orgulho, das inclinações e pr ef e rê ncias h u ma n as .
h ros da Igrej a, pelos que não são ainda membros e pelos que
governam. As palavras do Sumo Pontífice nestes trechos mani
fest am imensa solicitude paterna, amor sem limites ao mundo
que s ofre.
Temos ainda - eis a última manifestação dêste amor à I gre
ja - de completar por ela o que falta à Paixão de Cristo. Fa
la ndo da chuva ·dos dons celestes que depende não pouco das
nos sas boas obras, diz : "Será esta chuva abundantíssima, se, não
con tentes de oferecer a Deus fervorosas preces, sobretudo parti
cipando devotamente e, quanto possível, todos os dias, ao S acri
fício eucarístico, procurarmos com obras de misericórdia cristã
aliviar os sofrimentos de tantos indigentes ; se preferirmos os bens
eternos às coisas caducas dêste mundo ; se refrearmos êste corpo
mortal com vol untária mortificação, negando-lhe todo o il ícito,
e impondo-lhe fadigas e austeridades ; se recebermos com humil
dade, como da mão da Deus, os trabalhos e dores desta presente
vida. E' assim que, segundo o Apóstolo, completaremos o que·
falta à paixão de Cristo em nossa carne, por amor do seu Cor
po, que é a I grej a."
Lembrando-se da infinita multidão de infelizes, cuj a sorte
lhe arranca lágrimas da maior compaixão, exorta-os a oferecer a
Deus os seus trabalhos, tendo certeza de que a dor não é inútil
"mas será proveitosíssima a êles e também à I grej a, se com esta
intenção a sofrerem pacientemente." Recomenda ainda "o ofere
cimento quotidiano de si mesmos a Deus, como usam fazer os
membro'S do Apostolado da O ração, pia associação, que Nós aqui
encarecidamente recomendamos."
Tendo insistido mais uma vez na gravidade da hora e no
dever decorrente de fugir cios vícios, das sedu r ões do século, das
paixões desenfreadas da carne e não menos da vaidade e futili
dade das coisas terrenas, repete o Santo Padre a exortação ao
amor à Igrej a, amor que reza e sofre e tem a peito a salvação de
tôda a fam í l i a humana remida com o Sangue divino.
Deveri a tratar-se num artigo próprio o í logo, que contém
�
um admirável resumo da mais sublime teolo a Mariana. Impos
sível resumir êste trecho. Deveria ser desdo do e explicado. Só
posso recomendá-lo à leitura e ao estudo. ·
Será necessário falar ainda da importância desta Encíclica
quer da parte doutrinária quer da p arte prática ? Justamente a
exortação longa e explícita faz-nos ver quanta importância o San
to P adre atribui a esta verdade conscientemente vivida pelos fiéis.
856 p e n i d o, A meditação anselmiana sôbre o Verbo eterno
videlicet, ut si quid dixero, quod maior non confirmet au ctoritas, quam vis
illud ratione pro bare videar, non alia certitudine, accipiatur, nisi q u i a i n
terim ita mihi videtur, donec Deus mihi mel ius aliquomodo revelei." Cf.
M., c. 1 . , onde diz o mesmo.
33) M., prolog. : " . . . hanc mihi fo rmam prrestituerunt (fratres) : qua
tenus auctoritate scriptu rre penitus n i h i l in ea persuaderetu r, sed qu idquid
per singulas investigationes finis assereret, is ita esse plano stilo et vul
garibus a rgumentis simplicique disputatione et rationis necessitas breviter
cogeret, et veritatis claritas patenter ostenderet."
34) P reciosa l ição para os teólogos hodiernos que tantas vêzes se
contentam com o papel de relatores : com grande erud ição narram as ori
gens dum dogma, o seu progressivo desenvolver-se, as vicissitudes por
que passa ram as diversas teorias explicativas excogitadas no decorrer dos
sécu los ; sem perceber que tal conj u n to de dados positivos constitui apenas
o status qu<Zstionis. Não tentar esfôrço algu m de aval i ação e de e l abora
ção pessoais é permanecer decidi damente no limiar da teologia. - Como
exemplo frisante de teólogo-relator, citemos A. d A 1 é s. D e Deo Tritw,
'
53) M., 1. e.
54) Muitas passagens de S. A n s e 1 m o como que confirmam ante
cipadamente, os ditos de S. J o ã o d a C r u z, sôbre a alma contemplativa ;
êste, por exemplo : "A alma sente sempre vontade de entender clara e
puramente as verdades divinas e, qu anto mais ama, mais profundamente
as desej a penetrar." ( Ccfotico espiritual, estrofe 35, verso 5.)
57 *
870 P e n i d o, A meditação a n selmiana sôbre o Verbo eterno
57 ) M., c. 66 : "Sicut sola est mens rationalis i n ter omnes creatu ras,
qure ad eius i nvestigationem assurgere valeat, ita n i hilominus eadem sola
est, per quam maxime i psamet a d eiusdem i nventionem proficere queat.
Nam j am cognitum est, quia hrec i l l i maxime per naturalis essentire pro
pinquat similitudinem. Qui d igitu r apertius, quam q u i a mens r ationalis,
quant� studiosius a d se discendum i ntendit, tanto efficacius a d i l l i u s cogni
tionem ascendit ; et q uanto seipsam i n tueri negligit, tanto a b eius spec u l a
tione· descend i t ?"
58) M., c. 67 : "Aptissime igitur ips� (mens) s i b i met esse velut spe
culum dici potest, i n q u o speculetur, u t i t a d i c am, imaginem eius, quam
facie a d faciem videre nequit." - A nselmo parece i nc i d i r num círculo vi
cioso ; ensin a que a mente human a é imagem d a Trindade pela memória,
i ntelecção e amor, o r a j ustamente a divi n a essên c i a desabrocha em Trin
dade pela memória, i ntelecção e a m o r. Mas, pergu ntaremos, como sabeis
dêsse desabrochar por essas operações, senão porque a s encontrais n a
mente humana, conceb i d a já como i m a gem d a Trindade? - A resposta
talvez sej a a seg u inte : 1 .º não posso conhecer a Deus di retamente ; 2.º posso
con hecê-Lo i n d i retamente por suas obras ; 3.º sendo a alma a mais perfeita
dessas o bras, dela haurirei o con hecimento menos i nadequado de Deus ;
4.º n a alma hâ memó ria, i nteligência, amor, logo também n a essfncia
divina ( até aqui ten h o apenas a a l m a como imagem do Deus u n o ) ; 5.0
raciocinando sôbre a s operações i m a nentes a Deus, ( i ndependentemente do
recu rso à i m agem criada) vej o que a Essência desabrocha em Trindade ;
6.º posteriormente, voltan d o a considera � a a lma, verificarei que e l a é
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tam bém i m agem da Trindade. H averia pois duas fases no estudo da men
te como imagem : a) da alma até o Deus uno (via causalitatis efficientis)
b) do Deo Trino até a alma (via causalitatis exemplaris) .
59) M., e. 66 : "Mens rationalis, quanto studiosius ad se discendum in-
·
tendit, tanto efficacius a d illius cogn itionem ascendit."
60) M., e. 68. esse capitulo dá-nos preciosas indicações sõbre o que
pode ser uma moral exemplarista cristã. Cf. A u g u s t . , De Trinitate,
1. 1 5, e. 20, n. 39. .
6 1 ) P i o X I I recorda-nos êsse ponto de doutrin a na s u a Enciclica
Mystici Corporis Clzristi : "Retenham (os teólogos) firmemente aquêle prin
cipio certíssimo que nestas matérias é comum à SS. Trindade tudo o que
se refere e enquanto se refere a Deus como suprema causa eficiente."
62) R i e a r d o d e S. V í t o r propôs na verdade uma teoria ori
ginal, mas que entretanto não sai por completo dos moldes agostinianos,
porquanto é também psicológica, isto é, procura pela análise do nosso
psiquismo superior entrever . algo das processões divinas.
872 P e n i d o, A meditação a n sel m i a n a sôbre o Verbo e terno
da racionalidade
ao contr ário , se persegue apenas a manifestação
da fé ; ne sse ca so, não só pode como deve escolher a analogia
que m elh or escla recerá o dado revelado (pressuposto pelo menos
i mpli c ita ment e) . Estudemos pois a locutio. Anselmo distingue-lhe
qua tro ace pç ões, que podemos resumir no seguinte esquema :
ext erna: a palavra falada v. g. : pronunciar o vocábulo "homem"
{
1 '
1 a imagem verbal ; v. g. : imaginar
o vocábulo " homem"
Locttçáo imagina t tva
· ·
. a imagem representativa, v. g. :
imane nte ·
imaginar um homem.
i ntelectual : o verbo mental ou conceito ; v. g. :
pensar no homem 73 .
E' claro que a locução intelectual desempenha o papel de
summum analogatum, pois só o verbo mental nos dá a conhecer,
verdadeiramente, a realidade ; os três outros existem unicamente
em relação ao conceito, para manifestá-lo 74. Vamos agora unir
as nossas duas linhas de investigação : sabemos, de um lado, que
0 ato de criar deve ter si d o precedido por uma locução ima
nente, na qual Deus diz interiormente o que há de fazer ; temos
do outro lado que, dentre as locuções, a mais perfeita é a in
telectual. Surge, espontânea, a conclusão : a locução intelectual
de Deus ou verbo divino serviu de plano ou modêlo ao ato de criar
e, posteriormente, de meio para conhecer o mundo, uma vez tira
do êle do nada 75 . Encontra-se agora Anselmo aparelhado para
dar exação maior à analogia entre o verbo do Criador e o plano
de um artífice ; põe na devida luz as dissemelhanças que separam
as duas causalidades exemplares. O artista, propriamente falan
do, nada cria. Por maior que sej a o gênio que lhe assista, não
73) M., c. 1 0 : "Aliter dico hominem, cum eum hoc nomine, quod est
homo, significo ; aliter, cum i dem nomen tacens cogito ; aliter, cum eum
ipsum hominem mens aut per corporis imaginem aut per rationem in
tuetur."
74) L. c. : "alia omnia verba propter hrec sunt i nventa . . . nullum
aliud verbum sic videtur rei símile, cuius est verbum, aut sic casu ex
primit, quomodo illa similitudo, qure in acie mentis rem ipsam cogitantis
exp rimitur. l llud i_gitur iure d icendum est maxime proprium et principale
rei verbum." - S. A g o s t i n h o admitia 3 verbos : a palavra (verbum
prolativum i n sono) , a i magem verbal (verbum cogitativum i n similitudine
soni) e o conceito (verbum rationalis animantis) . Cf. De Trinitate, 1. 1 5,
c. 1 1 , n. 20. A n s e 1 m o completou-o, acrescentando a representação ima
ginária das coisas : M., c. 33 : "Cum enim cogito notum mihi hominem ab
sentem, formatur acies co � itationis mere in talem imaginem eius, qualem
illam per visum oculorum m memoriam attra.x i."
75) M., c. 1 0 : "non immerito videri potest apud summam substantiam
talem rerum locutionem et fuisse, antequam essent, ut · per eam fierent,
et esse, cum facta sunt, ut per ea sciantur." Fiel a seu propósito, A n s e 1 m o
não cita a Bíblia, porém os seus monges entenderam, sem dúvida, . êsse
capitulo 10 do Monologion como demonstração da racionabilidade daquele
lin � uaj ar interior - prévio e subsequente à criação - que o Génesis
atribm a Deus : "Dixit Deus . . . et fecit Deus e t vocavit Deus
. • . . • • "
876 p e n i d o, A meditação ansel m i a n a sôbre o Verbo eterno
quod facta sunt omnia" ; ibid., in fine : "satis i taque manifestum est, in
verbo per quod facta stmt omTZia, non esse ipsorum similitudinem . . . " -
O processo anselmiano é interessante porque aproxima a Unidade da Trin
dade ; dificultoso também, pois que ocasiona a tentação de passar horno
g�neamente da primeira à segunda, atribuindo à idéia-exemplar o que
S. joão disse do Verbo pessoal.
82) Problema amplamente debatido na escolástica, o de saber se o
nome de "Verbo" era exclusivamente pessoal (o fruto da i ntelecção do Pai)
ou também esseTZcial ( intelecção comum às três Pessoas) .
83 ) M., c . 33 : "Ecce qurerenti mihi d e verbo, quo Creator dicit omnia
qure feci t, obtulit se verbum quo seipsum dic i t, qui omni a fecit."
Revis ta Eclesiástica Brasileira, vol . 3, fase. 4, dezembro 1 943 879
89) M., 1. e . "Nulla ratione negari potest, cum mens rationalis seipsam
cogitando intelligit, imaginem ipsius nasci in sua cogitatione . . . H abet igi
tur mens rationalis, rnm se cogitando intelligit, secum imaginem suam
ex se natam . . . Qure imago eius, verbum eius est."
90) M., e . 38 : "Verbum, hoc ipsum quod verbum est aut imago, ad
alterum est, quia nonnisi alicuius verbum est aut imago."
9 1 ) Aliás todo o tratado da personalidade em Deus está sacrificado.
Agostinho confessava-se incapaz de responder à questão "Quid tres?" ; com
Anselmo o problema não progrediu de modo algum. (Cf. M., e. 38. )
92) Se até . na criatura o verbo não é realmente distinto da intelecção,
a fortiori não o será em Deus.
93) Pode-se também mostrar - e Anselmo o fêz - que Deus atua
"pela sua sabedoria", mas não se pode mostrar, ante .revelationem, que
Deus atua pela "sabedoria-concebida-eternamente". A primeira verdade
é apenas aprnpriada ao Verbo, a segunda lhe é própria. Cf. S. T o m á s,
in Joan., e. 1 , 1. 2, n. 1 .
882 P e n i d o, A medita ção ansel miana sôbre o Verbo eterno
. 94) Cf. o titu l o do capítulo 38 do Monologion : " Quod cjici non possit
quid duo sint, quamvis necesse sit esse duos", no mesmo capitul o : "Qu am
vis necessitas cogat ut sint duo, nullo tamen modo exprimi potest, quid
duo sint."
95) M., c. 38 : "propriu m est unius esse ex altero, et proprium est al
terius,_ alterum esse e x i l lo" ; c. 43 : "sic sunt oppoi;; i ti relationibus, ut alter
nunquam suscipiat propri um alterius ; sic sunt concordes natu ra, u t a lter
semper teneat cssentiam alterius."
96) De procession e Sp. Sancti. (PL. , t. 1 58, col. 288 c.) Sabido é que
esta fórmu l a foi "canonizada" pelo Concílio Florentino : "trium est una
su bstantia . . . omniaque sunt unum ubi non obviat relationis oppositio."
D-B., n.º 703. .
97) M., c. 38 : "Verbum hoc ipsum quod verbum est aut imago, ad
alterum est, quia non nisi alicuius verbum est aut ima ç: o ; et sic propria
sunt hrec a lterius, u t nequaquam a lteri coaptentur. Nam 11le, cuius est ver
bum aut imago, nec imago nec verbum est."
Re vista Eclesiástica Brasileira, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 883
58
884 P e n i d o, A meditação anselmiana sôbre o Ve rbo ete rn o
para h aver teol ogia, não basta a fé, é ainda indispensável a razã o
- fides qucerens intellectum. Louvemos pois S . A n s e 1 m o que
tem perou admiravelmente o aço de que é feito o instrumento da
teologia ; permitindo aos Doutores que lhe sucederam levar a
profundezas nunca ainda atingidas a meditação do sumo mistério.
J. Concepção jurídica
A H ierarquia recebeu de Cristo uma tríp lice missão : ensinar,
governar e dirigir.
E n s i n a r. - " I de e ensinai a tôda a criatura." E' a missão
de testemunhar perante o mundo o que o Verbo, Palavra viva do
Pai, ensinou também. Ensinar com a mesma autoridade do Filho.
A I grej a é mestra, coluna e fundamento da verdade. Ela é aqui na
terra, em face dos homens, esta grande luz colocada no alto, o
Verbo de Cristo como Cristo é o Logos do P a i.
S a n t i f i c a r. - A Igrej a é mãe também. Pelo Sacrifício
e Sacramentos ela comunica vida nova, a vida da graça, e gera f i
lhos não nascidos da carne e do sangue, mas nascidos do Espírito
do Pai e do Filho : "A caridade de Deus é difundida em nossos
corações pelo Esp írito, no qual clamamos Abba : Pai ! "
O o v e r n a r. - A Igrej a n ão t e m apenas u m elemento in
visível, a corrente vital da graça que l iga membro a membro e
êstes à cabeça. Assim como Cristo não tem apenas uma função
' vital mas j urídica perante a humanidade, assim a I grej a tem tam
bém a sua parte visível . Ela é também uma sociedade visível na
qual há uma autoridade, uma H ierarquia, um serviço de caridade
que se ordena para a santificação das almas, com a tríplice mo
dalidade de todo o império : poder l egisl ativo, j udiciário e executivo.
Em poucas palavras, a Igrej a tem o poder de ordem e de j u
risdição. este último é um gênero que comporta uma espécie :
o magistério.
O poder de Ordem é conferido no Sacramento da Ordem e,
quando fundamentado no caráter, é imutável. R efere-se à santi
fiq1ção individual de cada membro da I grej a e ordena-se para o
centro e sumo de todo o culto litúrgico : O Sacrifício-Sacramento
e o Sacramento-Sacrifício.
Revista Eclesiástica B rasilei ra, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 889
Agostinho.
I I . O Pap a tem ainda o poder de j u r i s d i ç ã o : O Pon
tífice Romano possui também o poder de jurisdição no que se re
fere não somente à fé e costumes, mas ao govêrno da Igreja em
todo o Universo, sendo seu poder :
a) supremo : superior a todo outro poder na Igreja e é
inapelável.
b) íntegro : isto é, perfeito, completo.
890 Ma e h a d o, Paróquia e Diocese em face da Ação Catól ica
Cânon.
A C atedral onde celebra, pontifica e prega, é o centro d a s u a
D iocese e as igrejas paroquiais l h e s ã o como que outras tantas
filiais.
Basta recordar uma cerimônia litúrgica : a do Sábado S anto.
Só o Pontífice sagra os ·s antos óleos rodeado de seu Clero e d e
s e u povo. N a ordenação sacerdotal, senta-se ê l e n a catedral, hem
em f rente do altar, e ali, como de uma fonte, vão receber as O r
dens sacras os seus filhos, a fim de ·p articiparem da plenitude da
su a P aternidade espi ritual . E' que o B ispo traz e m si todo o mis
tério da fecundidade espiritual d a I grej a. Unir-se a ê l e é estar em
comunhão com o Corpo Místico d e Cristo, com a I greja Univers-a l.
Outrora, realizava-se a unidade perfeita e visível em u m só
poyo, uma só cátedra, um só . Baptisterium, u m só Presbyterium.
A D i ocese, o u Paróquia Episcopal, é o fruto d a Paternidade
ep iscopal . E' um ser vivo, é um organismo vivente e que assim
cresce aos seus olhos e ao do Clero, gerada no Batismo e alimen--
Introdução geral.
a ) Direito litúrgico. b ) Fontes do Direito.
1 . Fontes "essendi et existendi" do Direito litúrgico.
1 . Causa eficiente da S. Liturgia.
a ) Causa eficiente djvina.
b ) Causa eficiente humana.
c ) H istórico do poder lit(1rgico da I grej a.
2. Exercício do poder litúrgico na I grej a.
§ 1 . O Papa e a D isciplina atual.
a) Principio de exclusividade ;
b) natureza dêste poder pontiffcio ;
c) exercício do poder pontiffcio ;
d) Congregação do Concilio ;
e) Congregação da Disciplina dos Sacramentos ;
f) Congregação do Cerimonial ;
g) Congregação da I grej a Oriental ;
h) Congregação dos Ritos (S. R. C . )
§ 2. O s Bispos e a D isciplina atual.
a ) I ntrodução.
b ) Disciplina atual.
c) Restrições.
d ) Atribuições.
e) Facu ldades.
§ 3. Erros dogmático-j urfdicos em matéria de Direito litúrgico .
. a) Introdução.
'' b ) Erros protestantes.
c) Erros galicanos.
§ 4. A autoridade civil e . o Direito litúrgico da Igrej a.
Introdução geral
Liturgia, na acepção mais comum e generalizada do têrmo é,
em grande s íntese, o Culto da Igreja, ou mais explicitamente, o
seu Culto público.
Efetivamente, em todo ato de culto há sempre dois elementos
essenciais a considerar : uma prestação de honra à pessoa cul
tuada, e uma expressa protestaçã4> de suj eição ou dependência de
quem pratica o ato de culto. Donde o dizer-se que o Culto divino
não é mais do que a honra que tributamos a Deus, de conj unto
com a manifestação humilde da nossa inteira e absoluta depen
dência : " honor Dei cum servitute coniunctus."
�ste culto pode ser dirigido a Deus diretamente, como tributo
da nossa adoração (culto de latria ) ; ou indiretamente, como culto
de veneração ( dulia) àquelas criaturas que, pela virtude e emi
nente santidade, melhor e mais esplendorosamente manifestam as
grandezas de Deus. E' o culto relativo, pelo qual honramos os
Anjos e os Santos.
Re vista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 899
d ) A tribuições
O cânon 1 26 1 estabelece a linha das atribuições episcopais,
em matéria de Liturgia. Sumariamente é a seguinte :
a) direito e dever de mandar executar as decisões do Sumo Pontífice,
das Congregações Romanas e do Direito comum : "Locorum Ordinarii
advigilent ut prrescripta canonum sedu lo observentur." ( 1 26 1 . )
b) cuidar q u e nenhuma prática supersticiosa s e introduza no cu lto di
vino público ou privado e na vida quotidiana dos fiéis : "prresertim in
cultum publicum sive privatum, aut in quotidiana fidelium vitam supersti
ciosa ulla praxis inducatur" (cãn. 1 26 1 ) , como seria, v. gr., colocar uma
coroa · na cabeça dos esposos para evitar malefícios 2 1 ; imergi r o Santo
Lenho ou as Santas Relíqu ias na água, para obter chuva 2 s .
e) Faculdades
Além das atribuições do Direito comum, a Santa Sé costuma
conceder aos Exmos. Senhores Bispos do Orbe católico determi
nadas faculdades, válidas por poucos anos, e que devem ser pe-
29) S. Oficio. decr. Iam olim, de 26-5- 1 937. De novis cultus formis
non inducendis. A. A. S., vol. X X I X , p. 304.
30) S . R . C . decr. 3304, de 1 4-6- 1 873:
3 1 ) S . R . C . decr. 38 1 8, de 20-2- 1 894.
32) S . R . C . decr. 1 26 1 , § 1 -2.
Revista Eclesiástica Brasileira, vol . 3, fase. 4, dezembro 1 943 915
nários as segui ntes facu ldades : N.º 1 . de permitir que nas igrej as paro.
qma1s do território diocesano se possam celebrar três Missas imediata.
m en te depois da m eia-noite da Natividade do Senhor, com poder de ad
min istrar a Sagrada Comunhão aos fiéis, cautelosamente, porém, a fim
de que tudo se faça com a devida reverência.
N.• 2. de permitir aos sacerdotes que nos domingos e outras festas
de p receito possam trinar a Santa Missa, contanto que se trate do bem
das almas.
N . º 3. de permitir aos sacerdotes que possam binar a Santa Missa na
prim eira sexta-feira de cada mês e também nas festas suprimidas, contanto
que sej a em benefício das a lmas.
N .º 4. de permitir aos sacerdotes que, durante todo o tempo que a
Santa Sé concede aos fiéis do B rasil para cumprimento do preceito da
Comunhão pascal e da Confissão anual, isto é, desde a dominga da Setua
gésima até à festa dos Ss. Apóstolos Pedro e Paulo, possam celebrar duas
Missas em dias m esmo de semana, nos campos distantes da i grej a paro
quial, em beneficio dos fiéis, isto é, para que n aqueles lugares onde rara
mente chega o sacerdote, o p receito pascal sej a mais facilmente cumprido
pelos fiéis.
N .º 6. de permitir que se celebre na Catedral e igrejas paroquiais a
Missa imediatamente depois da meia-noite da Circuncisão do Senhor, por
ocasião d a exposição pública e da adoração do SS. Sacramento, nas ho
ras finais do ano, em ação de graças pelos benefícios recebidos da libera
lidade divina, com a faculdade de se admitirem os fiéis à S. Comunhão.
N .º 7. de permitir que se possa celebrar, em caso de verdadeira ne
cessidade, m esmo sem ajudante, observando-se o prescrito no cânon 8 1 3,
§ 2, si f ieri poterit.
2. Da Sagrada Congregaçiío do Concílio . Aos 22 de fevereiro de 1 941
foram benignamente concedidas as seguintes faculdades : N .º 2. de conceder,
·
que, terminado o Ofício divino do dia, havendo uma causa racional ( ape
nas em razão da liceidade ) , se possam recitar privadamente Matinas e
Laudes do dia seguinte, imediatamente depois do m eio-dia.
3. Da Sagrada Congregação dos Ritos. Aos 14 de fevereiro de 1 94 1
foram concedidas as segui ntes faculdades : N.º 1 . d e conceder a o s sacer
dotes que, h avendo causas graves, possam b enzer água batismal, com a
fórmu l a mais b reve concedida aos Missionários peruanos, para os índios,
pelo Sumo Pontífice Paulo I I I . - N.º 3. Quanto à redução, com j usta
causa, do número de velas para oito na exposição pública do SS. Sacra
mento, máxime nas i grej as e oratórios mesmo de religiosos, nos quais se
faz habitualmente a exposição pública ao menos por algumas horas ao
dia, a S . R . C . respondeu do seguinte modo : " N ão convém, a não ser no
caso de verdadeira deficiência de cera, e nesse caso supra-se por outros
modos, mesmo pelo emprêgo de lâmpadas elétricas." 36
a) Introdução
I números são os erros dogmático-j urídicos em matéria de Di
reito litúrgico. Os principais, entretanto, e que refletem todos os
36) Boletim Eclesiástico de São Paulo, setembro 1 94 1 , p. 28 1 .
Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 919
b) Erros protestantes
Costumam os autores classificar os erros jurídicos dos pro
testantes, relativos ao Direito litúrgico, em três grandes sistemas :
episcopaliano, territorial e colegial .
1 . Sistema episcopaliano. J:: s te sistema surgiu na Alema
-
Cartas a um Neo-Sacerdote
( Conclusão)
pelo Pe. Ascânio B randão, Sanatório de Maria Imaculada, São josé dos
Campos, Estado de São Paulo
A p i ed a de sacerdotal
Reza o cânon 1 25 do Código do Direito Canônico : "Curent
locorum O rdinarii : 1 .0 Ut clerici omnes prenitentire sacramento fre
quenter conscientire maculas eluan t ; 2 .0 Ut quotidie orationi men
tali per aliquod tempus incumbant, Sanctissimum Sacramentum vi
sitent, Deiparam Virginem mariano rosario colant, conscientiam
suam discutiant."
Cinco exercícios de vida espiritual indispensáveis à nossa pie
dade ; se quisermos corresponder à graça incomparável de nossa
vocação e nos sustentar em meio de tantos e tamanhos pei'igos
à virtude no mundo em que vivemos, havemos de ser fiéis e escru
pulosamente fiéis ao que nos pede aqui o Direito Canônico :
1 .0 A Confissão frequente ;
2 .0 A Meditação quotidiana ;
3 .0 A visita ao SS. Sacramento ;
4.0 O Rosário de Mari a ;
5 . 0 O Exame d e consciência.
A Encíclica Mystici Corporis Christi de P i o X 1 1 veio con
denar o êrro dos que diziam "que a oração feita em particular
pouco vale e que é a oração pública, feita em nome · da Igreja, que
tem verdadeiro valor, por partir do Corpo Místico de jesus Cristo."
"Não é exato - diz o Santo Padre ; - o divino Redentor n ão só
uniu estreitamente a si a Igreja como Espôsà queridíssima, senão
também nela as almas de todos e cada um dos fiéis, com quem
desej a ardentemente conversar na intimidade, sobretudo depois da
Comunhão. E embora a oração pública, feita por tôda a Igreja,
sej a mais excelente que qualquer outra, graças à dignidade da Es
pôsa de Cristo, contudo tôdas as orações, ainda as mais parti
culares, têm o seu valor e eficácia, e aproveitam também grande
mente a todo o Corpo Místico." E diz ainda o Santo Padre : "Quan
to à meditação das coisas celestes, os documentos eclesiásticos,
a prática e exemplo de todos os Santos provam bem em quão
grande estima deve ser tida por todos."
Eis ai, meu caro ,Neo-Sacerdote, como a Igrej a mais uma vez
inculca a necessidade da meditação e dos exercícios de piedade
sem deixar de realçar a p rimazia, a excelência e a dignidade da
oração litúrgica, isto é, da oração pública.
Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 923
gil ância dos Srs. B ispos, "Curent locorum Ordinarii . . . " ; se o Pa
d re descura estas práticas salutares e necessárias para o santo
desempenho das funções divinas, a rotina, a tibieza o podem le
var em pouco tempo a algum abismo a que êle n unca pudera ima-
ginar lhe fôsse possível tocar. .
Clerici omnes poenitentiae sacramento frequenter maculas
eluant . . . diz em primei ro lugar o Cânon 1 25. A Confissão fre
quente nos é necessá ria para o fervor de nossa vida sacerdotal .
Lembremos o conselho do D i retório do Padre : "Tende um Con
fessor certo, esclareci do, edificante, doce, firme e que cumpra êsse
cargo subl ime e tremendo com probidade de consciência. Entre um
D i retor mais piedoso mas ignorante da vida espiritual e suas vias,
e um outro menos virtuoso, porém mais esclarecido, n ão hesiteis em
dar preferência a êste. Se andais voando de um Confess·or a outro
Confessor, cuidado ! Tremei por isto !"
" Valde utile esset ut sacerdos certum ac firmum confessarium
sacerdotem habeat a quo non recederei, nisi magna necessitate;
siquidem animae solei non minus obesse conf essariorum mutatio,
quam corpori m edicorum." ( S. Caro l . )
'
Procuremos um Confessor q u e real ize o co nselho de Santo
Afonso : ln excipiendis sacerdotum confessionibus sit suavis atque
ur.banus corzf essarius sed contra, sit f ortis in correctionibus de bitis
adhibendis, aut ln deneganda absolutione, cum judicii ratio sic
exigit. E duas coisas exige o santo D outor, sej am objeto de cuida
doso exame de consciência para o Padre e energia dos Confes
sores : O estudo da teologia moral para ouvir confissões e . . . a
Meditação / Por quê? Responde o santo Moralista, o D outor seguro
da salvação : Affirnzo ln statu danznationis esse eum confessarium
qui sine sufficienti scientia ad confessiones excipiendas se exponit.
·
E depois : Est moraliter impossibile, nempe difficillimum ne
quis ln gravia peccata labatur, sine meditatione.
E m nossas confissões temos o cuidado, o zêlo de fazê-las bem ?
E j á pensamos n a responsabil idade de um sério exame sôbre êstes
deveres tão graves do estudo e da Meditação ?
Fala a Encíclica Mystici Corporis Christi, e não sem muita
oportunidade entre nós, contra o êrro, " a falsa opi n i ão dos que -
diz Pio X I I - pretendem que n ão se deve ter em grande conta
a f requente Confissão das faltas veniais ; pois que i mportante é a
confissão geral que a Espôsa de Cristo, com seus filhos e ela uni
dos no Senhor, faz todos os dias, por meio dos sacerdotes antes
de subirem ao altar. E' verdade, e vós · bem o sabeis, Veneráveis
I rmãos, que há muitos modos e todos muito louváveis, de obter o
perdão destas faltas ; mas para progredir mais rapidamente no ca
minho da vi rtude, recomendamos vivamente o pio uso, introduzido
Revista Eclesiástica Brasi leira, vol . 3, fase. 4, dezembro 1 943 925
a Teologia.
· O prurido vaidoso d a cultura profana está criando entre · nós
uma mentalidade superficial e afastando do campo do apostolado
do ministério s acerdotal -n ão poucos Padres moços, -c ultos, espe
ranças da I grej a, p a ra os reduzir a p u ros intelectuais e l iteratos
e mestres de cátedras de ciência p rofana, sem proveito algum para
a Igrej a e a salvação das almas.
Se a obediência e o i n terêsse das almas1 meu caro Neo-Sa
cerdote, t e fêz professor e te obriga a aprofundar a ciência, cum
pre a tua missão n a cátedra d e um Seminário ou d e u m Colégio,
porém não te esqueças da tua ciência : - a ciência eclesiástica !
Três livros aconselhav a aquêl e venerável Sulpiciano e incom
parável D i retor de almas sacerdotais, o Pe . L e t o u r n e a u, três
livros que n ão podem sair das mãos de um bom Padre, que deseje
cada vez mais s e guiar com segurança n a ciência das ciências, a
da s alvação das almas : A Sagrada Escritura, A Suma Teológica
Revista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 927
nistério.
A teologia do Cura de Ars estava muito longe da celebér
rima teologia do bom senso.
A doutrina dos seus catecismos e sermões revela muito es
tudo e sólida cultura teológica. O Dogma, e a Moral, o Direito
.
928 B r a n d ã o, Cartas a um N eo-Sacerdote
rec toribu s 4, mas sim as normas que para êles serão dadas em di
fe ren tes lugares do Código. De fato encontramo s frequentemente
e ssas leis referentes aos Capelães. Na Parte II do Livro II que
é dos Religiosos, chegando ao Cap. II do Título X, encontramos
a inscriç ão De .Confessariis et Capp ellanis. O leitor e ainda mai�
0 es tudioso diante dêsse título talvez se engane e leve uma desilu
são quando, ao chegar ao fim do capítulo, não encontre mais do
que um cânon de cinco linhas no qual se fala dos capelães, sem
q ue nem sequer apareça a palavra Capelão, e dos Pregadores.
Para fazer, portanto, um pequeno estudo prático teremos de
ir respigando aqui e acolá determinações da legislação comum e
particular.
Nome e definição
Depois de diligentes estudos, prevaleceu a opm1ao dos que
encontram o étimo de Capelão em capa. Segundo T o m a s s i n o
e D u O a n g e que seguem a opinião de muitos antigos, cape
lães se chamavam os Clérigos encarregados de guardar a rel í
quia preciosa da capa de São Martinho de Tours. Chamou-se bem
cedo capela o lugar onde se guardava a capa, muitas vêzes uma
tenda, pois a famosa relíquia conservada em tempo de paz no pa
lácio real, acompanhava em tempo de guerra os Reis dos fran
cos nas suas expedições militares. Com o tempo veio a chamar
se capela a uma igreja pequena e capelães aos Clérigos 5 encarre
gados das capelas ou de determinadas entidades religiosas.
O Código, sem querer dar uma definição do ofício de Cape
lão, define contudo o Capelão dos rel igiosos a , quando no cân. 529
o chama de sacerdos a sacris, sacerdote encarregado de celebrar
as funções sagradas próprias da Ordem sacerdotal 1 . Quais se
jam essas funções, qual o ofício do Capelão nas comunidades re
ligiosas, veremos logo. Devemos notar, porém, que chamamos de
4) Note-se de passagem aquêle hic do cânon 479, § 1 ; pois o mesmo
Código noutras passagens chama de Reitor da igrej a ao Superior religioso
que tem ao seu cuidado a igrej a dos religiosos.
5) Dizentos Clérigos, mas existe ainda o costume de se chamar vul
garmente de Capelão a um leigo p iedoso que di rige certas funções religio
sas em falta do sacerdote.
6) Isso já mandavam as Normas, § 1 , n. XI : "Sacerdos a sacris . . .
designare . . . munus Episcoporum est . . . " E em o ní1mero V I I I do § 2 : " l n
his q u re a d spiritualia pertinent subduntur sodalitates Episcopis direcesium
i n quibus versantur. Horum igitur erit sacerdotis ipsis et a sacris et a
concionibus designare." C o r o n a t a, lnstitutiones luris Canonici, 1, 556,
nota 3, diz que o cânon 529 se refere somente aos religiosos l eigos e não
às religiosas. Cremos que esta opinião não se pode admitir; j ulgamo-la
até destituída de fundamento. Contudo êle concorda em afirmar que se
pode aplicar às rel igiosas o estabelecido no cân. 529.
7) C o r o n a t a, lnstitutiones luris canorzici, 1, n. 556 ; L a r r a o n a,
CpR, X I I ( 1 93 1 ) , pág. 1 20 : "Sacerdos a sacris idem valet ac Cappellanus,
ut constat ex inscriptione ipsa cap itis."
930 F e r n a n d e s, O Capelão das re!.i giosas
1. Considerações gerais
N ão é a Ação Católica, como todos sabem, uma simples mo
dalidade da piedade cristã individual, nem tão-pouco uma nova
confraria que se estabelece, com fins específicos, cuidadosamen
te deli mitados. O que distingue a Ação Católica das associações
até hoj e existentes, o que a desliga das formas particulares da
piedade, é sua perfeita hegemonia e sua real transcendência.
Esta hegemonia não permite que ela se filie a nenhum mo
vimento ou forma de piedade, pois, é u m todo orgânico, completo.
Sua transcendência evita-lhe o paralelismo com as demais
manifestações de piedade, criadas para as necessidades particulares
de indivíduos e de épocas. A natureza d a Ação Católica expri
me-se muito bem pela fórmula : ela está para as associações pie
dosas, assim como a Liturgia está para as devoções particulares.
Esta eminência, por isso mesmo que é eminência, não estabele
ce antagonismo nem, o que é p ior, concorrência. Nem ainda a
Ação Católica absorve tudo o que a piedade cristã, no correr dos
936 G u g 1 i e 1 m e 1 1 i, A Ação Católica e a Eucaristia
1 ) 1 Cor 1 2, 4.
2) E' interessante n o t a r q u e , por ser católica, atravessa as mesmas
vicissitudes que a Igrej a Católica. Como esta, é a grande incomp reendida,
é superficialmente anal isada, mais por fora do que em sua estrutura ínti
ma, e ainda, olhada com desconfiança à maneira de êmula, inovadora,
açamb arcadora.
Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 937
1 6) At 2, 43.
17) P. C o s t e, St. Vincent de Paul, IX, 33 1-333.
942 O u g 1 i e 1 m e 1 1 i, A Ação Católica e a Euca ristia
23) l Cor 9, 1 9.
24) Prefação de Cristo Rei.
944 O i 1 1 e s, Os religiosos e as paróquias
, .
Os rel i gi osos e as paroquias
( Conclusão)
Sumário
C ) Prescrições acêrca dos atos administrativos
1 . Qual a legislação que entra em conside ração ao l avrar con
tratos
2. Prescrições gerais sôbre a al ienação de bens eclesiásticos
a ) O conceito de alienação
b) Requ isitos para a alienação
Para a val idade
Para a liceidade
3. Consequên ci.as de uma al ienação ilegítima
4. Determinações adicionais a respeito de certos atos de
alienação
a ) Doações ; b ) Comodato ; c) Empenho, hipoteca, em
p réstimos em dinheiro ; d ) V,enda ; e) Troca de tí
tulos ao portado r ; f) Locação ; g) Enfiteuse ;
h) Mútuo
5. Colocação de dinheiro
a) Como o din heiro pode ser emp regado frutuosamente
b) Determinações canôn icas sôbre as colocações de di
nheiro
VII. A p restação de contas da administração de bens eclesiásticos
A) O dever dos admin istradores de p restar contas, em geral
1 ) A pessoa moral
2) Ao Ordinário do lugar
B ) A p restação de contas, em particular, nas Paróquias admin istradas
pelos religiosos
1 ) Prestação de contas sôbre a administração dos bens perten-
centes a uma igrej a (fabrica ecclesiae)
2) Do beneficio paroquial
3 ) Dos bens destin ados à Paróquia
4) Dos bens das irmandades, sodallcios e associações ecle
siásticas
5 ) Dos institutos pios
6 ) Dos bens conventuais
1 9) Cf r. AAS, 1 9 1 9, p. 4 1 6-4 1 9.
20) Cfr. AAS, 1 922 , p. 1 60- 1 6 1 .
2 1 ) Cfr. P r ü m m e r , Theol. Mor., vol. I I I , n. 525 ; C h e 1 o d i , Jus
poenale, n. 79, p. 103, nota 4 ; C e r a t o, Censurae vigentes, n. 43.
22) C fr. C a p e 1 1 o, De censuris, n. 408, p. 355.
23) Cfr. V e r m. - C r., o. e., vol. 1, n. 607 ; vol. l i , n. 8 1 9 ; C a p e 1 1 o,
o. e., n. 407, p. 355 ; S c h ã f e r, o. e. , n. 206, p. 337, nota 5; F e r r e r e s,
lnst. Can., n. 47 1 , p. 1 99.
24) Cf r. AAS, 1 9 1 9, p. 41 8.
25) Para a avaliação dos objetos são fatores determinantes : a) a
moed a ouro e não a moeda papel. (Cfr. V e r m. C r., o. c., vo l . 1, n. 607 ;
-
dec laração da Comissão do Código, esta l icença é exigida também nos ca
sos em que são vend idos de um a vez (per modum· unius) vários objetos
de uma mesma pessoa moral, excedendo o valor global dos objetos a soma
de 30.00 0 l i ras 28.
bb) E' mister a licença do Ordinário do lugar, e isto da se
guinte forma :
I .º Obtido o consentimento do Cabido da Catedral, do Consel ho Admi
nistrativo e dos interessados, p a ra a alienação de coisas cuj o p reço está
contido entre 1 .000 e 30.000 l i ras ou francos. (C. 1 532, § 3.) 2 9
2.º Obtido o parecer do Conselho Administrativo e o consentimento
dos interessados, para a a l ienação de bens cujo valor não excede 1 .000
francos. (C. 1 532, § 2.)
3.º Obtido o consentimento dos interessados, para a alienação de coi
sas de pequen a importância. (C. 1 532, § 2.) Determinar quais as coisas
que sej am de pouca importância (res minimi m omenti) é da competência
do Ordinário, uma vez que o Código o não delimita.
1 1 ) Para a liceidade duma alienação se requer :
aa) Um motivo j usto e razoável. Segundo o Código são motivos jus
tos : uma necessidade u rgente, uma evidente utilitlade da Igrej a (pessoa
moral ) , ou de obras pias. (C. 1 530, § 1 . )
bb) A avali ação da coisa, realizada por pessoas probas e peritas e
apresentada por escrito. (C. 1 530, § 1 , l .º) Abaixo do p reço avaliado o '
objeto não pode ser vendido. (C. 1 53 1 , § 1 . )
cc) A al ienação deve-se fazer por meio de leilão público, ou, .p elo
menos, por meio de publ icação, se as circunstâncias não aconselharem
outro p rocesso ; o objeto alienável deve ser dado àquele que, omnibus per
pensis, oferecer mais. ( C. 1 53 1 , § 2 . )
dd) O dinheiro obtido p e l a alienação deve ser empregado, cuidadosa,
segura e utilmente em favo r da Igrej a . ( C. 1 53 1 , § 3.) s o Em virtude dêste
cânon é vedado o emprêgo dêste dinheiro para outros fins, sej a embora
para pagamento de dívidas o u para reparos necessários n a I grej a .
Que dizer, porém, do caso, · e m que c o m a devida licença s e fizeram
alienações j ustamente no intuito de solver dívidas o u de realizar neces
sários repa ros, que só assim poderão ser feitos? Será que esta licença,
nos casos, em que se pode recorrer ao Ordinário (po r conseguinte, nas
52) Trtulos j ustos são : dano emergente, lucro cessante, perigo da coi
sa emprestada, pena convencia! para o caso de não restituir o mutuário
no tempo aprazado.
53 ) Esta tolerância claramente se depreende de várias respostas da
Cúria Romana, p. ex., da S. Pamit., 1 6 set. 1 830 ; 14 agôsto 1 83 1 ; 1 1 nov.
1 83 1 ; 23 nov. 1 832 ; 1 8 dez. 1 872 ; e do S. Oficio, 17 jan. 1 838 ; 26 mar
ço 1 840.
Revista Eclesiástica Brasileira , vol. 3, fase. 4, dezem b ro 1 943 96 1
l ) A pessoa moral
Esta obrigação de ajustar contas com a pessoa moral, que têm
os administradores, deflui imediatamente da natureza de seu ofi
cio. São apenas administradores e não proprietários dos ·b ens que
administram . Todo aquêle, porém, que administra bens alheios, es
tá obrigado a prestar contas ao proprietário. Proprietário dos bens
eclesiásticos é a ·p essoa jurídica. A ela por conseguinte é que os
administradore s em primeiro lugar têm que prestar contas, e isto
tantas vêzes- quantas os estatutos o exigirem .
.
2) Ao Ordinário do lugar
O direito de posse da pessoa moral na Igreja não é absolu
to. Na aquisição, na posse e na administração, tôdas as pessoas
j urídicas na Igrej a se acham sujeitas às prescrições canônicas. Isto
58) Cfr. AAS, 1 9 1 9, p. 4 1 8.
59) Cfr. J a n s e n, o. e., p. 277.
60) Cfr. 1> i s t o e e h i, o. e., p. 403.
63
964 Oi 1 1 e s, Os religiosos e as paróquias
encon tramos claramente exp resso no cânon 1 495, § 2 : " E tiam · ec
clesiis singularibus ali isque person is moralibus qure ab ecclesiastica
auctoritate in iuri dicam personam e rectre sint, ius est, ad normam
sacrorum canonum bona temporal i a acqu irendi, retinendi et admi
nis tran d i . "
O D i reito ecles iástico obriga a todos os admin istradores de
bens ecles iásticos, que se en con tram sob a j u risdição do O rdiná
rio do lugar, a lhe prestarem conta tôdas as vêzes que êste o de
sej a r ; além disso casos há, em que têm que fazê-lo, ainda que não
solicitados nos tempos marcados pela lei.
a) Esta obri gação ressal ta em geral, se bem que indi reta
mente, do cânon 1 5 1 9, § 1 : " Loci O rdinarii est sedulo advigilare
administration i omnium bonorum ecclesiasticorum, qure i n suo ter
ritorio sint, nec eius iurisdiction i fuerin t subducta . . '! E' por con
.
ao Sr. Bispo, mas isto cm virtude de ou tras determin ações do Código e não
pelo cânon 1 525. Assim é que as i rmãs de votos solenes ( moniales) estão
ob rigadas pelo c. 535, § 1 , I .º a prestar anualmente ao Ordinário contas
de Mda a admin istração de seus bens. Para os reli giosos iuris dioecesani
( c. 488, 3.0) o Sr. B i spo, apoiando-se -no c. 535, § 3, I .º, pode p rescreve r
p restação anual de contas.
S ob o têrmo locus p ius se enten dem os i nst i tutos pios de que nos falam
os cânones 1 489- 1 494, como hospitai s, o rfan atos, escolas e estabelecimen
tos congêneres, que se acham destinados ao exercício da rel igião o u para
o b ras da misericórdia corporal ou esp i ritual, suposto po rétn que sej am
canôni camente e retos e portanto possuam personalidade j u rfdico-ecle
siástica 5.
A tercei ra cl asse de pessoas morais eclesiásticas, cujos admin istra
dores estão ob rigados a p restar conta ao Ordinário do lugar, em virtu
de do c. 1 525, são as i rmandad e s. O Código emprega a palavra con fra
temitas, têrmo que aqui não deve ser tomado no sentido estrito do cânon
707, § 2; pois confratemitas aqui designa tôdas as associações eclesiásti
cas, que possuam personal idade j u rldica. I sto nos patenteiam cla ramente
o s di zeres do cânon 69 1 , § 1, que de maneira explfcita i mpõe a p re sta
ção de contas, na forma do e. 1 525, a tôda a associação legitimamente
e reta 6 . Até m esmo as asso ciações e retas nas igrej as regul a res não se po
dem esquivar das p rescrições do c. 1 525, ainda que se trate de associa
ções q ue, graças a u m privilégio apostól ico, são e retas pelos regulares em
suas p róprias igrej as, como são p . ex., os sodalfcios da Ordem I l i . (C. 690. )
dd) A apresentação de contas deve ser feita anualmente e i s to ex of/icio,
por consegu inte sem nenhuma i ntimação.
ee) Também nos casos em q ue, devido a u m d i re ito ·p a rticular, se tenha
de prestar conta a outras autori dades o u pessoas, p. ex., por causa de con
cordatas, prescrições n a fundação, legltimos costumes, leis civis, ainda as
sim p revalece a obrigação da p restação de contas ao Ordinário do l ugar 7 .
glória.
28) Registo dos Religiosos Bras., fls. 63.
29) D. j o a q u i m S i 1 v é r i o d e S o u s a, op. cit., 43 ss.
30) Não abrange êste esbôço o tempo atual, em que os Franciscanos,
residentes em 2 Conventos e 1 9 Residênci as, exercem o ministério no Estado
de Minas.
Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 3, fase. 4, .dezembro 1 943 983
CO M U N I CAÇÕ ES
D. Jaime de Barros Câmarà, homenageado pelo Clero do
Rio de janeiro
Na reunião do Clero do Rio de janeiro, que se real izou em 4 de outu
bro p. p., o Exmo. é Revmo. Sr. Arcebispo D. Jaime de Barros Câmara
foi saudado pelo Revmo. Mons. M a x i m i a n o d a S i 1 v a L e i t e que
proferiu o seguinte discurso :
Exmo. e Revmo. Sr. Arcebispo Metropolilano. - E' a primeira reunião
do Clero do Rio - em conferêndas eclesiásticas - a que preside V. Excia.
E' o Pastor que, em harmonioso concêrto com seus auxiliares, aqui se
acha para discutir planos, para afastar dificuldades, na campanha sagra
da da conquista de almas para o céu l
Neste mesmo recinto, há mais de 40 anos, o 3.º Arcebispo do Rio, D.
A r c o v e r d e, instituíra as conferências eclesiásticas Por motivos que não
vêm à baila, tiveram vida efêmera . . .
Após a promulgação do novo C. D. C., o mesmo D. Arcoverde, já o
1 .º Cardeal da América Latina, pelo seu Vigário Geral Mons. F e r n a n
d o R a n g e 1, restabelecera ditas Conferências. E desde então continuam
regularmente, p roduzindo seus frutos benéficos, quando mais não seja, dan
do o ensejo de, ao menos uma vez por mês, se comunicarem os levitas do
Senhor, os sacerdotes que mourejam em prol do mesmo ideal, na porção
da grei que o Divino Mestre lhes confiou.
Os Estatutos que regem estas Conferências passaram por três refor
mas : os primei ros eram mui sucintos e os segundos eram mais adstritos
ao Cân. 1 30 e aos seus três parágrafos do que os atuais.
S. Emcia. o Cardeal L e m e teve a delicada idéia de redigi r uma be
la e edificante oração para ser recitada pelos sacerdotes reunidos; é uma
verdadeira consagração ao Coração Eucaristico de jesus.
Desde a segunda reforma dos Estatutos, ouvimos palavras autorizadas
e próprias para sacerdotes de lábios de venerandos Padres da Compa
nhia de jesus : Pe. Locher, Pe. Madurei ra, Pe. Lombárdi, Pe. Natúzzi e
tantos outros Mestres.
Sr. Arcebispo, sou um dos veteranos assistentes a estas conferências,
desde -as primeiras presididas pelo Em. Cardeal Arcoverde ou por seu Vi
gário Geral Mons. Fernando Rangel.
Sua Emcia. o Cardeal Leme levando em conta minha pouca virtude,
satisfez sua generosidade para com êste Clero que me dispensa estima,
conservando-me a seu l ado na presidência destas reun iões - presidência,
aliás, sem deveres especiais, cuja razão de ser outra não é senão a delica
deza de Sua Emcia. ; é uma como Presidência /1011oris causa.
Há 1 6 anos tivemos diante de nós, ao lado do Em. Cardeal Leme,
a Mons. R o s a 1 v o C o s t a R ê g o. Estamos de parabéns, vendo-o re
conduzido por V. Excia. ao pôsto que vinha ocupando com dedicação e com
petência. Ninguém mel hor do que êle poderá ser o Cireneu valente de
V. Excia., continuando a ser para nós o Amigo leal do Clero.
Sr. Arcebispo, apesar de terem decorridos tão poucos dias de sua per
manência entre nós, posso afirmar, em nome do Clero, que V. Excia. ga
nhou a estima filial de vossos Padres do Rio. V. Excia. tem o fado sagrado
984 Comunicações
O sacrifício
Ubi cst victima liolocaus t i t (Gn 22, 7 . )
A baía ampla e azul, a l i n d a Guanabara,
Sob a arcada dos céus, era u m temp l o , êsse d i a :
Entre n uvens de i n censo, ao sol de o u ro, se erguia,
Vasta, a Esco l a N aval, q u a l m ajestosa ara :
E r a o altar d o holocausto ! E d a a l ta serrania,
Cristo, à e spera, p a ra êle o s b raços a l a rga ra,
Um cantochão solene, a l ém, na serra c l a ra,
Se rra dos órgãos, lento e lento j á se ouvia . . .
M a s a vítima, ó Deus, o n de, onde está ela?
E que hóstia pode ser, i n d a que p u ra e bela,
D i g n a de tão grandiosa oferenda ao Senhor?
Revista Eclesiástica B rasileira, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 985
n ó dia do grito do lpi ranga, data da independência n a c io nal . E' exato dizer :
o grito do lpi ranga d eu ensejo para se fixar a festa da Aparecida no dia
7 de setembro. Todavia não é exato afirmar : a festa da Aparecida deriva
se do fato hi stórico do grito do l pi ran g a. O desenvolvimento da festa, a
contar do dia em que pescadores acharam a estátua de Nossa Senhora
no rio até o decreto da Congregação dos Ritos prescrevendo-a para o d ia
7 d e setembro, levou mais ou menos duzentos anos. E' um desenvolvi
mento vagaroso, dependente de muitas circunstâncias privadas e públicas,
p rofanas e rel i g ios a s O resultado dêste conj unto é a festa da Padroeira
.
fesl'- do Natal nas regiões, que estão sob a influência galicana. Canta-se o
Venite exultemus e o terceiro noturno e segue-se a missa de galo. Em al
gumas regiões, na Epifania, o si . 94 Venite exultemus não se rezava no
7.º lugar, i. é, no início do terceiro noturno, mas no fim do segundo, por
tanto no 6.º l ugar. (Beletho c. 73 ; Amalârio 1 c.) Posição esta incom
preensível para um salmo tão solene de convite, mas muito natural, consi
derando-se a entrada sucessiva do povo na igrej a no fim do segundo no
turno, a fim de assistir ao terceiro noturno e .ai;; demais funções. O si. de
convite preenche neste caso perfeitamente sua finalidade.
Pe. J. B. R e u s, S. �· (São Leopoldo)
I ta be rn b a s
.
do meio dia.
Colaborava nisto o seu temperamento, sem oscil ações p ro fundas ou
bruscas, como êsses traços da agulha nos aparelhos sismográficos quando
os movimentos geológicos são normais. Ti rante uma série de anos j uvenis,
demonstrou sempre bom humor. Possuo dêle uma vintena de cartas que va
lem por um florilégio da alegria tais as observações engraçadas que ti rava
dos acontecimentos privados e p(1blicos. Em Roma, esta excelente qual ida
de atraia ao pé de si uruguaios, argentinos, chilenos, venezuelanos e porto
riquenhos. Sabia tirar partido do calembu r ou da an edota. Perto dêle, co
mo perto das parrei ras italian as, nunca havia frontes pensativas e bôcas
intei ramente mudas. Mesmo depois de Bispo, quando os seus hábitos tive
ram que mudar p o r fôrça das circunstâncias, tinha para os seus íntimos
o comentário facêto, a frase chistosa ou a exclamação expansiva. Guardou
o segrêdo de ser alegre sem perder jamais a compostura. De boa mente,
segundo penso, estaria com Renan, para quem o Novo Testamento é a obra
religiosa da antiguidade onde mais amiúde aparece a palavra alegria.
I n tel igente, apanhava de p ronto as idéias dos outros, como certos caça
dores peritos acertam nas aves em pleno .vôo. Na conversação se revel ava
um ouvinte atento e um interrogado r oportuno. De bom grado conco rda
ria com Madame de Stael, para quem o melhor dos cursos superiores de
ensino se realiza com os anônimos que o acaso coloca ao nosso lado. Es
pirituosamente disse um dia que seguira, em Roma, mais o "Corso Italia"
que o "Corso do Palazzo Borghese". Gostava imenso dos l ivros, com os
quais mantinha um p roveito s o comércio de idéias ; mas dava preferência
à biblioteca das ruas, salas de audiência, confessioná rios, hosp itais, cami
nhos de ferro e transatlânticos. Não escondia o seu fraco pelas viagens,
p referindo atravessar o deserto na corcova do dromedário, a sestear inutil
mente, numa casa de férias, sob a canícula civilizada de L ivorno.
Desde aluno se interessara pelos assuntos arquitetônicos e, quando p ro
fessor do seminário, não esquecia levar, de quando em quando, os seus
discípulos à aula viva de uma catedral em construção. Foi por meio dêle que
adquiri dois pesados volumes de Charles Blanc a respeito das a rtes do
desenho e das artes decorativas. Há di:z anos atrás, confessava-me, em
carta, o entusiasmo de que se sentira acometido quando lêra a Vida de
Miguel Angelo, de Romain Roland. N ac!a o preocupou mais durante um
lustro inteiro do que a bibliografia da H istória da Arte, dizendo-se interes
sado em encontrar, por qualquer p reço, o volume de Lecoy de La Marche
sôbre os manuscritos e calígrafos da Idade Média. A num ismática não lhe
tomou menos tempo que os seus estudos de direito canônico. A música en
controu nêle um entusiasta tão enternecido quanto Santo Agostinho nas
festividades de Milão. Era dos que p referiam adiar um dever escolástico
a deixar escap a r a oportunidade ou de ouvi r a missa do Papa Marcelo, diri
gida por Casimiri, no "Gesú" de Roma. Aqui mesmo em S. Paulo tentou
criar uma "Schola Cantorum", comm'il faut, subsidiada diretamente pela
992 Comunicações
Ct'i ria, com uma contribuição mensal por parte dos catól icos. Nesse intuite .
organizou a infel izmente t'm ica audição de mllsica polifônica que se real izou,
com grande repercussão social, na Igrej a de ·sa nta I figên ia, ao tempo do
Interventor Armando Sales Oliveira.
Se não chegou a fazer versos, apreciava-os com singular intuição, pe
sando atentamente as gradações de sentido com a mesma dil igência com
que o droguista pesa miligramas de substâncias terapêuticas na sua ba
lança de precisão. Certa vez f�1i encontrá-lo, na sua "câmera" do Colégio
Pio Latino, terminando a leitura dos Lusíadas, no comentário em dois tomos
de Lancastre. "N unca penséi (segredou-me então) que isso fôsse tão bo
nito ; e dizer que vim a ler Camões fora do Brasil." De Dante Alighieri se
tornara um degustador oficial, uma espécie de rep resentante estrangeiro
da Academia da Crusca. Desde Roma, vivia esgaravatando um exempl ar
minllsculo da Divina Comédia, edição Hoepl i. Introduziu, no curso antigo do
Seminário, um estudo do poema que sintetizou o pensamento medieval. E
mesmo depois de Bispo, tinha sempre na bõca alguns tercetos de Dante
como outras pessoas andam a chupar confeitos e pastilhas.
Estou que se poderia falar dêle como poeta, da mesma forma com
que, dadas as proporções, Hipólito Taine se referia a Michelet qual um dos
quatro vates do seu tempo. Várias cartas inéditas o poderiam comprovar.
Numa delas, - que se diria escrita na quinta de Refaldes, sob as olaias
do Minho, por algum discípulo retardatário de Fradique Mendes, - êle ob
sen•a finamente os cambiantes do céu nas horas da madrugada, sente a pas
sagem das b risas que fixaram residência nos grotões da serra, escuta o diá
logo das cachoeiras gêmeas no alto da montanha e sobretudo se delicia
com o cõro polifônico dos pássaros b rasll icos. Poucos terão esquecido o
encerramento de certo mês de maio na Rádio-Bandei rante quando êle des
creveu uma das romarias à Aparecida : os carros da Central transforma
dos em cated ral volante, os romei ros subindo lentamente a ladeira sagra
da, as velas "balouçando no ar frio da manhã suas chamas inquietas e me
drosas", e os grandes sinos da basílica cabriolando no espaço. "na ânsia
de impor às brisas que passam os sons que andaram compondo em lon
gas horas de silêncio" no cimo das tôrres. E no entanto era o mesmo ho
mem que disse, poucos anos depois, aos bacharelandos do Ginásio do Car
mo : "Encontro mais atração nos rugidos de um coração revoltado à p ro
cura de Deus, do que em tôdas as harmonias literárias."
Por isso p rezava em muito a eloquência. Quando eu, certa feita, lhe
dissera que a oratória de hoje voltara à idade da pedra lascada, êle me
respondeu que cumpria aos Padres elevá-la à idade de ouro. Tinha um
timbre agradável, de gongo noturno num tombadilho ao luar. Não ·l he fal
tavam idéias nem sentimentos. Pregando, no comêço da sua carreira, re
velava sestros que a experiência tribunfcia eliminou por inteiro. Certa tona
lidade cantada e chorona foi aos poucos substituída por uma eloquência
direta e masculina. Dava-se nos improvisos melhor do que nos discursos
lentamente preparados. Seus brindes, nos almoços de gala, traziam quase
sempre a nota certa, o elogio discreto e a observação oportuna, não raro
interrompida pelo aplauso dos convivas. Entre os discursos, alguns me
moráveis, que ouvi sob as arcadas da Faculdade de Direito, um dos mais
acabados pela gravidade do tom, densidade e pensamento e sobriedade das
imagens, foi o p ronunciado por D. josé, quando da homenagem que lhe pres
taram estudantes e doutores de borla e capelo. Ninguém possivelmente
esqueceu ainda os que êle dirigiu ao povo de São Paulo finalizando a pri
meira procissão luminosa em louvor da Aparecida, ou abrilhantando as ce-
Revista Eclesiástica B rasilei ra, vol . 3, fase. 4, dezembro 1 943 993
do prado?"
994 Comunicações
Tristão de Ataíde
Não se pode silenciar a jubilosa data do 50.º aniversário natallcio (ocor
rido no dia 1 1 de dezembro) e 1 5.º aniversário de conversão ( 1 .ª comunhão
1 5-VII I-928) do conhecido católico, brasileiro e homem de letras. Todo o
mundo catól ico no Brasil lerá com intima satisfação o interessante e belo
estudo da autoria de Luís Santa Cruz : "Tristão de Ataíde e seu itinerário
de conversão" (Stella Editôra) para festej ar as datas acima mencionadas.
Não é possível silenciar estas datas, embora a campanha do silêncio seja,
em nosso meio, a mais p referida e mais eficiente para abafar - em público
e principalmente na imprensa i - as manifestações de real valor católico.
Mas repito, não se pode silenciar estas datas por dois motivos : gra
tidão e reconhecimento.
Gratidão a Deus Trino que escolheu e encontrou em Tristão um ins
trumento dócil para realizar os seus desígnios na Igreja Católica em ter
ras brasileiras.
65 *
998 Comunicações
catól ico, faz dêle uma autêntica figura de mestre na atualidade católica
e brasileira.
Neste sentido o saudamos franciscanamente - in I PSO - por oca
sião de seu 50.º aniversário natalicio e 1 5.0 an iversário de conversão com
um cordial - pax et bo11uml
Frei M a n s u e t o K o h n e n, O. F. M. (Rio)
na realidade não existe, porque o ato pelo qual fôra conferido estava
su bstancia lmente viciado (v. g., por simonia ) ; pode ser ainda presumido
(existimatus) , quando de fato não existe título algum, nem válido nem
inválido, mas razoavelmente se j u lga existir em virtude de certas cir
cunstâncias peculiares. �sse título presumido, que existiria em dadas cir
cunstâncias, refere-se a tempo futuro e, por isso, nada vale e nada ope
ra, porque é meramente hipotético ; deve o titu lo ser real, sej a no sen
tido objetivo sej a no sentido subjetivo, i. é, na opinião dos que j u lgam
haver realmente um título.
Hoj e em dia, como ficou dito acima, já não é necessário que haj a
um título coloratus ; é indispensável, porém, ao menos o título suposto,
presu mido ou presu ntivo ( existimatus) , pois sem titulo não é concebível
a j u risdição. Sempre que houver êrro comum, existe também êsse titulo
presuntivo na suposição daqueles que j u lgam alguém provido da neces
sária j u risdição ; e tal título é suficiente. ( Cf. C a p e 1 1 o, De Prenit., n .
494-496.)
Em que êrro comum supre a Igrej a a j u risdição? já que o cân. 209
diz simplesmente, sem especificação nenhuma, "a Igrej a supre em êrro
comu m", afi rmam os mel hores e mais afamados autores, como Capello,
Vermeersch-Creusen, Wernz-Vidal, Bucceroni, D'Ann ibale, jombart,
Schrepman, Hegatil lo, etc., etc., que a Igrej a supre a j u risdição não so
mente em êrro comum de fato, mas também em êrro comum de direito
sob as segu intes condi ções : a) que sej a necessário para o bem comum,
ainda que num ou noutro caso o benefício sej a desfrutado por uma só
pessoa ; por isso não supre em êrro privado e particu lar ; b) que se trate
dum caso em que a Igrej a possa e queira suprir, por ex., a Igrej a não
pode suprir a incapacidade de quem não é sacerdote para ouvir con
fissões ; para isto se requer de D i reito divino o poder da Ordem sacer
dotal ; c) que haj a causa grave, (mas é condição de liceidade apenas ) ,
o u da parte dos fiéis ( ficar e m estado de pecado mortal ) ou da parte
do sacerdote (calúnias, di famação, murmurações, etc. ) Havendo, pois,
na realidade êrro comum de fato ou de direito, a Igreja supre certissi
mamente a j u risdição "pro utroque foro", e por isso o ato realizado é
válido.
Os poucos fiéis que sabem que o sacerdote não está provido da ne
cessária j u risdição, num caso de êrro comum, também recorrem valida
mente ao beneficio de tal j u risdição suprida, mas licitamente o farão so
mente em caso de grave necessidade.
Quanto ao ministro devemos dizer que provocará o êrro comum
licitamente só por uma grave necessidade sua (murmu rações, etc . ) ou
da parte dos fiéis, se bem que um só membro da comunidade desfrute
o beneficio no caso. A êsse respeito escreve C a p e 1 1 o (De Prenit., n.
493 ) : " l n praxi difficile est interdum fidelium necessitatem cognoscere. At
seponendi sunt scrupu li et anxietates, ita ut vix non semper ilia admit
tenda vi deatur, quoties sponte fideles audiri in confessione postu lent, aut
peculiaris occurrat circumstantia. Certe, nostro iudicio, sacerdos licite
agit in casu erroris communis, si diebus dominicis et festis de prrecepto
aut alia occasione extraordinaria fideles cupiant confiteri, et alius sacer
dos desit, aut nonnisi cum notabili i ncommodo adiri possit." Provocando
um sacerdote o êrro comum sem necessidade, seu pecado será provavel
mente apenas venial ; assim afirmam C a p e 1 1 o e outros bons autores.
Ora, sendo o pecado provavelmente só · venial, o ministro não incorre na
pena do cân. 2366.
Revista Eclesiástica B rasileira, vol . 3, fase. 4, dezembro 1 943 1 005
Jul gamos necessário insisti r : para que haja €rro comum de direito,
basta ter o fundamento público, em virtude do qual os fiéis, por causa
das circunstâncias concretas, forçosa e razoavelmente serão levados ao
êrro. O Pe. M o r a t i n (na controvérsia acima mencionada) ataca êste
conceito do ê r ro comum, dizendo que tal êrro não é de verdade comum ;
o fato não deve ser apenas público, mas também conhecido po r muitos;
e tal é a signifiacção que tem a palavra "públ ico" em tôdas as línguas
e, segu ndo o cân. 1 8, devemos entender as leis eclesiásticas segundo a
significação própria das palavras no texto e contexto.
Entretanto não é bem assim, como diz o Pe. M o r a t i n, pois o cân.
2 1 97, por ex., reza : "Publiwm, si jam divulga tum est aut talibus contingit
seu versatur in adiunctis ut prudenter iudicari possit et debeat facile divul
gatur iri." Por consegu inte, público é também aquilo que pode e deve
ser divulgado, se as coisas segu i rem o curso natu ral. Além disso, o Le
gislador falando dos impedimentos matrimoniais, diz no cân. 1 037 : "Pu
bl icum censetur impedimentum quod in foro externo probari potest" ; e
para isto j á são suficientes duas testemunhas. Como se vê, para que algo
seja público, não é preciso que muitos o conheçam.
Não resta, pois, dúvida alguma : aquêles bons e afamados
autores acima mencionados têm motivos sobej os e bem fundados
para afirmar que a Santa I grej a supre a j u risdição, segundo as
normas do cân . 209, não somente em êrro comum de fato, quan
do muitos erram, mas também em êrro comum de direito, se
gundo as explicações dadas.
Enfim, sendo esta doutrina defendida por tão numerosos co
mo doutos doutores, é sem dúvida doutrina provável, que sem es
crúpulos e ansiedades pode ser seguida em prática, sem expor
os Santos S acramentos ao perigo de nulidade. Porque, sendo
doutrina provável, defendida por tantos autores, temos aqui o
caso da "ju risdição positiva e provável", em o qual a Santa Igre
j a, segundo o mesmo cânon 209, supre certamente a j urisdição.
Logo, a Santa I grej a supre certissimamente a j urisdição em êrro
comum de direito.
Com esta sábia disposição do cân. 209, a nossa Santa Madre
I grej a, segundo o axioma Sacramenta propter homines, assegura
às almas a validade dos Santos Sacramentos e livra os ministros
sagrados de muitas perplexidades e ansiedades. Nem há tão gran
de perigo de abusos como os adversários dizem, porque os sa
cerdotes, obrigados a tendtfr seriamente à perfeição e santidade,
não negligenciarão de pe d ir a tempo a j urisdição e faculdades
necessárias ; e, se forem culpavelmente negligentes neste ponto,
obrigando assim a I grej a a supri r a j urisdição, cometerão ao me
nos pecado venial . A tal perigo, porém, os verdadeiros ministros
do Senhor não se irão expor.
Tudo quanto até aqui ficou exposto trata da suplência da
jurisdição em geral, em grande parte até se refere ao fôro in
terno ; segue agora a parte mais difícil do nosso estudo, isto é :
1 006 Assuntos pastorais
gado para um caso particular, quando não é tido pelos fiéis, com
boas razões, como Pároco p resuntivo. E' uma questão de fato,
dizemos com C a p e 1 1 o ; é preciso avaliar o fundamento que
causa o êrro, o modo de p roceder do sacerdote e a opinião dos
paroquianos e, havendo deveras ( será dificílimo) êrro comum,
não hesitamos em afirmar a suplência da I grej a . Não raras vê
zes, em nosso País o casamento será válido por se verificar o
caso exceto do cân. 1 098.
Por fim um breve aviso ao amável Consulente : Poderá haver,
ainda em nossos dias, casamentos nulos por falta de j u risdição no
assistente, i . é, por falta de delegação, sendo, por isto, as afirma
ções do colega do Consulente bastante temerárias. Nem devemos
esquecer os cc. 1 O 1 9- 1 032 que falam dos requisitos antes de ad
mitir os nubentes ao casamento e dos proclamas. Tudo isto, em
circunstâncias ordinárias, só poderá ser feito convenientemente
pelo próprio Pároco e, por isto mesmo, não há grande perigo
que sacerdotes não competentes se atrevam a provocar o êrro
comum. Frei A 1 e i x o, O. F. M. ( Petrópolis)
Pró-Seminário
Numa reuntao do Clero diocesano, estando presente quase todo o
Clero secular e regular da Diocese, exortou o Sr. Bispo encareci damente
os seus Padres a uma cooperação mais ativa e mais eficaz em tavor do
Seminário em constru ção. Manifestando um dos Padres presentes as suas
dificuldades para angariar esmolas, surgiu uma discussão pró e contra,
até que o Sr. Bispo, para cortar tôdas as controvérsias, decidiu : " I mpo
nho a todos os Vigários e Reitores de igrej as o preceito de pedir esmolas
dos fiéis para a construção do nosso Seminário sob a cominação de uma
sanção penal." Cessaram logo as discussões, mas não os comentários :
uns aprovaram o procedimento do Sr. Bispo, outros o reprovaram. Quid
de iure? - ( Pe. M. L. )
a ciência é guia cios fiéis, que, como diz antigo p rovérbio, serão tais quais
forem os sacerdotes : Sicut sacerdos, sic p opulus."
O S. Padre Pio X I , fala em sua Epistola Apostólica De se
minariis et studiis ( 1 ag. 1 922) desta grande necessidade do
Clero, tão intimamente relacionada com a existência da própria
I grej a que a Providência divina cuidará sempre para que haj a
número suficiente de sacerdotes. Contudo o S . Padre acrescenta :
"Todos conhecemos a palavra de N . Senhor : Messis quidem multa,
operarii autem pauci. Rogate ergo Dominum messis, ut mittat
operarios in messem suam." (Mt 9, 37-38.) Por isso para que
cresça sempre mais o número dos apóstolos sagrados, queremos
que se observe o que o Código de Direito Canônico assim pres
creve : Dent operam sacerdotes, prresertim parochi, ut pueros,
qui. indicia prrebeant ( i . é, boas qualidades físicas, morais e in
te lectuais) ecclesiasticre vocationis, peculiaribus curis a sreculi
contagiis arceant, ad pietatem informent, primis litterarum studiis
imbuant divinreque i n eis vocationis germen foveant. (C. 1 353. ) "
NB. O Concflio Plenário B rasileiro ( decreto n. 443) recomenda mais
uma vez esta prescrição do Código, dizendo : § 1. Sacerdotes et p rreser
"
gário geral do Rio de janeiro baixou o segui nte aviso : "Lembro o opor
tu níssimo Aviso n.º 375 da Cú ria . Arquidiocesana, pela qual nosso cardeal
arcebispo, de s. m., solicitava a atenção do Revmo. Clero, das Comunidades
religiosas, bem como das Ordens Terceiras, I rmandades, Associações e
Obras Pi as, para os decretos 363, 364, 365 e 366 do Concilio Plenário Bra-
Revista Eclesiástica Brasilei ra, vol . 3, fase. 4, dezembro 1 943 1 023
M I N I STER I U M VERBI
Lições do Evangelho
As bodas de Canâ
(Segu1Zdo Domillgo depois da Epifallia; ]o 12, 6-1 6)
jesus Cristo manifestou su a glória, e seus disclpulos creram nêle.
São estas as ú .l timas palavras do Evangelho que, como as demais, nos
sugerem reflexões. A vista do estupendo m i lagre, (conversão instantânea
de água em vinho ) , os primeiros apóstolos creram mais viva e mais
perfeitamente no Mestre. Eis a fôrça dos prodígios operados por jesus
Cristo. Mais fervorosos se tornam os apóstolos e os que o ouvem se tor
nam fiéis. Multidões imensas o seguiam ou se transportavam com rapidez
a qualquer sítio onde �!e apa recesse. Vinham de tôda a Palestina, da
I duméia, da Síria, da Fenícia e dos l ados do mar. Corriam todos para
vê-lo, ouvi-lo, ser testemunhos dalgum milagre, pedir a cura de seus
doentes, aproveitar-se, por alguma forma, de tudo o em que jesus ma
n ifestasse o seu poder e bondade. Apinhavam as casas onde sabiam que
Ble se encontrava. Nem sequer lhe davam tempo para tomar alimento.
O entusiasmo do povo tocara o delírio na multiplicação dos pães.
Quiseram aclamá-lo rei (Jo 6, 1 5) . Aos milagres j untava jesus a bon
dade, a misericórdia, a paciência, a mansidão. Otimamente amparada es
tava a doutrina que pregava. Sublime exemplo deixara aos apóstolos de
todos os tempos. �eguindo os passos do Mestre, Pedro opera maravi lhas
na Igrej a n ascente. Paulo congrega os gentios dispersos, funda as famo
sas igrej as, prega, exorta, repreende, pede, aconselha, e sua palavra é
ouvida e acatada pelos disclpulos. Admirável fôra o apostolado de joão,
André, Tiago e dos demais disclpu los de jesus Cristo. Explica-se. Re
produziram, em tudo, a doutrina e os exemplos do grande Mestre. Tôda
a históría da Igrej a se resume no triunfo da p regação, baseada nos mi-
1 024 Ministerium verbi
O semeador
D O C U M E N TACAO
Litterre Encyclicre Pii Papre XII de Mystico lesu Christi Corpore
deque nostra cum Christo coniunctione
locando celebremus.
Ac spes est hrec prrecepta hortamentaque Nostra uberiores esse, i n
p nesentibus rerum adiunctis, christifidelibus paritura fructus : quandoquidem
novimus tot procel losre h u i u s retatis rerumnas doloresque, quibus pene
67
1 028 Documentação
20. ) Constat siquidem totius humani generis parentem in tam excelsa fuisse
a Oco condicione constitutum, ut una cum terrena supernam posteris
traderet crelestis gratire vitam. Attamen post miserum Adre casum, u n i
versa hom i n u m stirps, hereditaria labe i n fecta, divinre n aturre consortiu m
( c f . li Petr., 1 , 4 ) amisit, omnesque facti sumus f i l i i irre. (Eplz., l i, 3.)
Sed miserentissimus Deus "sic . . . dilexit mundum, ut Filium suum u n i
genitum daret" (loann., 1 1 1 , 1 6) , et Verbum JEterni P atris u n a eadem
divina dilectione sibi ex Adre progenie humanam assumpsit naturam, in
n ocentem tamen omnique labe expertem, u t ex novo ac crelesti Ada
Spiritus Sancti gratia i n omnes protoparentis filios deflueret ; qui quidem
cu m fuissent per peccatum primi hominis divinre subolis adoptione privati,
per l ncarnatum Verbum, fratres secundum carnem effecti Filii Dei U n i
geniti, potestatem acciperent, q u a filii Dei fierent. ( Cf. loann., 1 , 1 2. ) Atque
adeo pendens e Cruce Christus lesus non modo violatam resarsit JEterni
Patris iustitiam, sed ineffabilem nobis consanguineis suis gratiarum co
piam promeruit. Quam directo per se ipse un iverso humano generi dilargiri
potuerat ; voluit tamen per adspectabilem, in quam homines coalescerent
Ecclesiam, u t per eam omnes i n divinis i mpertiendis Redemptionis fructibus
sociam quodammodo sibi operam prrestarent. Sicut enim Dei Verbum,
ut doloribus cruciatibusque suis homines redimeret, nostra voluit natura
uti, eodem fere modo, per sreculoru m decu rsum utitur Ecclesiá sua, ut
i nceptum opus perennet. ( Cf. Cone. Vat., Const. de Eccl., pro l . )
lamvero ad definiendam describendamque h a n c veracem Christi Ec
clesiam - qure sancta, catholica, apostolica, Romana Ecclesia est (cf.
ibidem, Const. de /ide cath ., cap. 1 ) - nihil nobilius, nihil prrestantius,
nihil denique divinius i nvenitur sententia ilia, qua eadem n uncupatur
" mysticum lesu Christi Corpus" ; qure quidem sententia ex iis effluit ac
veluti efflorescit, qure et in Sacris Litteris et i n sanctorum Patrum
scriptis crebro proponuntur.
Ecclesiam esse corpus srepe Sacra Eloqui a prredicant. "Christus,
inquit Apostolus, est Caput Corporis Ecclesire." ( Col., 1, 1 8. ) Quodsi
corpus est Ecclesia, unum quiddam et indivisum sit oportet secundum illud
P au l i : "Multi unum corpus sumus i n Christo." (Rom., XII, 5. ) Nec solum
modo unum quiddam et i ndivisu m esse debet, sed aliquid etiam concretum
ac perspicibile, ut Decessor Noster fel. rec. Leo X I I I i n Encyclicis Litteris
Satis cognitwn affirmat : "Propter eam rem quod corpus est, oculis cer
n itur Ecclesia." ( Cf. A . S. S., XXVl l l , p. 7 1 0. ) Quapropter a divin a ve
ritate ii aberrant, qui Ecclesiam ita effingunt, ut neque attingi neque videri
possit, sitque tantum "pneumaticum" aliquid, u t aiunt, quo multre Christia
norum communitates, licet fide ab se i nvicem seiunctre, inter se tamen
haud adspectabili nexu coniungantur.
At corpus multitudinem quoque membrorum exigit, qure ita inter se
connectantur, ut mutuo sibi auxilio veniant. Et quemadniodum i n mortali
concretione nostra cum membrum dolet, cetera omnia condelescunt ; et
qure sana sunt regrotantibus suppetias veniunt : ita i n Ecclesia singula
membra non sibi u nice vivunt, sed aliis quoque opitulantur, atque omnia
sibi i nvicem adiutricem operam prrestant, cum ad mutuam consolationem,
tum ad ampliorem usque redificationem totius Corporis.
Ac prreterea sicut i n natura rerum non ex qualibet membrorum con
gerie constitu itur corpus, sed organis, uti aiunt, instructum sit oportet,
seu membris, qure non eundem actu m habeant ac sint apto ordine com
posita : ita Ecclesia ea maxime de causa Corpus dicenda est, quod recta
consentaneaque coalescit partium temperatione coagmentationeque, ac di-
Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 1 03 1
pro Jaco b ,· Mansi, XXXI, 1 738) , ut Novo Testamento locum cederet, cuius
quidem Christus i doneos ministros Apostolos elegerat (cf. li Cor., I I I , 6) :
atque e Crucis virtute Servator noster, etsi iam i n utero V i rginis Caput
totius humanre familire constitutus, ipsum Capitis munus i n Ecclesia sua
plenissime exercet. "Per Crucis enim victoriam, ex Angelici Communisque
Doctoris sententia, meru it potestatem et dominium super gentes" ( cf. S.
Thom., 1 1 1 , q. 42, a. 1 ) : per eandem i n immensum nobis auxit thesau ru m
i l lum gratiarum, quas gloriosus regnans i n creio, membris suis mortalibus
nulla intermissione elargitu r ; per sanguinem i n Cruce profusum i d effecit,
u t d ivinre i rre remoto obice, omn i a crelestia dona imprimisque spiritualia
Novi et JEterni Testamenti munera e fontibus Servatoris i n salutem ho
minum, maximeqüe fidelium, effluere possent ; in a rbore Crucis denique
sibi suam acquisivit Ecclesiam, hoc est omnia mystici sui Corporis mem
bra, quippe qure per Baptismatis lavacrum mystico huic Corpori nori
coagmentarentu r, nisi ex salutifera virtute Crucis, in qua quidem iam
plenissimre Christi ditionis facta essent.
Quodsi morte sua Servator noster, plena atque i ntegra verbi signifi
catione, factus est Ecclesire Caput : haud secus Ecclesia per sanguinem
eius uberrima ilia Spiritus communicatione ditata est, qua quidem, i n de
a " filio hominis" i n saum dolorum patibulum elato ibique clarificato, divi
nitus i l lustratur. Tunc enim, u t A ugustinus animadvertit ( cf. De pecc.
orig., XXV, 29 ; Migne, P. L., X L I V, 400 ) , concisso templi velo factum
est, ut ros charismatum Paracliti, qui eo usque descenderat i n solu m
vellus, h o c est i n populum I srael, large abundanterque, exsiccato et re
licto vellere, universam terram, Catholicam scilicet Ecclesiam irrigaret,
qure nullis vel stirpis, vel territorii finibus terminaretur. Sicut igitur primo
i ncarnationis momento, A:: t erni Patris Filius humanam naturam sibi substan
tialiter unitam Sancti Spi ritus plenitudine ornavit, ut aptum divinitatis
instrumentum esset in cruento Redemptionis opere : ita pretiosre sure mortis
hora Ecclesiam suam uberioribus Paracliti muneribus ditatam voluit, u t i n
divinis Redemptionis fructibus impertiendis validum evaderet incarnati Ver
bi instrumentum, numquam utique defuturu m. l u ridica enim, quam vocant,
Ecclesire missio, ac docendi, gubernandi sacramentaque administrandi po
testas, idcirco ad redificandum Christi Corpus supernam vim h abent atque
vigorem, quod Christus J esus e Cruce pendens Ecclesire sure divinorum
munerum fontem aperu it, quibus et fallentem numquam doctrinam homines
docere posset, et eos per divinitus illuminatos Pastores salutariter regere,
ac crelestium gratiarum imbre perfundere.
Quodsi hrec omnia Crucis mysteria attente consideramus, iam ea non
obscura nobis sunt Apostoli verba, q uibus docet Ephesios, Christum san
guine suo ludreos et Gentes unum fecisse, "medi um parietem . . . solvens . . .
i n carne sua'', quo duo popul i dividebantur ; itemque Legem Veterem
evacuasse "ut duos conderet i n semetipso i n unum novum hominem", Ec
clesiam videlicet : "et ambos in uno Corpore reconciliaret Deo per Crucem."
(Cf. Eph., I I, 1 4- 1 6. )
Quam autem sanguine s u o condidit Ecclesiam, e a m Pentecostes die
peculiari virtute, crelitus delapsa, roboravit. Siqu i dem, i n excelso suo munere
sollemniter eo constituto, quem suum iam antea designaverat Vicarium,
crelum ascenderat ; ac sedens ad Patris dexteram, Sponsam suam adspecta
bili Spiritus Sancti adventu, cum sonitu flaminis vehementis ignitisque linguis
(cf. Act., II, 1 -4) , manifestare ac promulgare voluit. Nam, sicut ipse, cum
concionandi munus inchoaret, ab JEterno Patre suo per Spiritum Sanctum,
s u b spe c ie colu mbre descen dentem manentemque super eum (cf. Luc., I I I,
Revista Eclesiástica Brasilei ra, vol. :J, fase. 4, dezembro 1 943 1035
Cruce clarificatus est, eius Spi ritus c u m Ecclesia uberrima effusione com
mu nicatur, ut i psa eiusque singu l a membra magis in dies magisque Ser
vatori nostro adsimu lentu r. Spiritus Christi est, q u i nos adoptivos Dei fi
lios effecit (cf. Rom., V I I I , 1 4- 1 7 ; Gal., IV, 6-7 ) , ut aliquando " omnes
revelata facie gloriam Domini speculantes, in eandem imaginem transfor
memur a claritate in claritatem." ( Cf. li Cor., I l i , 1 8. )
H u i c autem Christi Spiritui tamquam n o n adspectabili principio i d
quoque attribuendum est, ut omnes Corporis partes t a m inter sese, quam
cum excelso Capite suo coniu ngantur, totus i n Capite cum sit, totus i n
Corpore, totus i n singulis membris ; quibus p r o diversis eoru m muncribus
atque officiis, p ro maiore vcl minore, quo fru u ntur spiritualis san itatis
gradu, diversis rationibus prresens est atque adsistit. l lle est, qui c<elesti
vitre halitu i n omnibus corporis partibus cuiusvis est habendus actionis
vitalis ac reapse salutaris principium. llle est, qui licet per se ipse in
omnibus membris habeatur, i n iisdemque divinitus agat, i n i nferioribus
tamen etiam per superiorum ministerium operatu r ; ille denique est, qui
dum Ecclesire nova semper in dies, sua afflante gratia, incrementa parit,
membra tamen, a Corpore omnino abscissa, renuit sanctitatis gratia in
habitare. Quam quidem Iesu Christi Spiritus prresentiam operationemque
sapientissimus Decessor Noster imm. mem. Leo X I I I Encyclicis Litteris
Divinum illud per hrec verba presse 11ervoseque significavit : "Hoc affir
mare sufficiat, quod cum Christus Caput sit Ecclesire, Spiritus Sanctus sit
eius anima.'' (A. S. S., X X I X, p. 650. )
Si vero vitalem iliam vim virtutemque, qua tota Christianorum com
munitas a Conditore suo sustentatu r, iam no11 i n semet ipsa, sed in creatis,
qui inde oriuntur, effectibus spectamus, in crelestibus ea muneribus con
sistit, qure Redempto r 11oster una cum Spiritu suo Ecclesire impertit, u 11aque
cum Spiritu suo, supernre lucis dator sanctitatisque effectór, operatur. Ec
clesia igitur haud aliter ac sancta eius omnia membra, grandem hanc
Apostol i sententiam sibi sumere potest : "V ivo autem, iam non ego ; vivit
vero in me Christus." (Gal. , I I , 20. )
Hrec N ostra de "Capite mystico" (cf. Ambros., De Elia et ieiun.,
1 0, 36-37 et llZ Psalm . 1 1 8, ser1J1 . 20, 2; Migne, P. L., XIV, 7 1 0 et XV,
1 483 ) facta eloquia imperfecta quidem manerent, si 11011 paucis saltem
attingeremus hanc eiusdem Apostoli sententiam : "Christus Caput est Ec
clesire : l pse Salvator Corporis eius." (Eph., V, 23. ) H isce enim verbis
postrema i 11dicatur ratio, cur Corpus Ecclesire Christi nomine donetur. Est
nempe Christus huius Corporis divinus Servator. I pse enim i u re meritoque
a Samaritanis prredicatur "Salvator mundi" (Joann., IV, 42) ; immo absque
ullo dubio dicendus est "Salvator omnium" ; quamvis cum Paulo sit ad
dendu m : "maxime fidelium". (Cf. J Tim ., IV, 1 0. ) Prre aliis vi delicet
omnibus, membra sua, qure Ecclcsiam constituu11t, acquisivit sa11g11 i 11e suo.
(A ct., XX, 28.) Hrec tamen, cum supra de Ecclesia e Cruce orta, de Christo
lucis datore efiectoreque sanctitatis, deque eodem mystici sui Corporis
susteutatore, enucleate satis scripserimus, non est cur amplius explanemus,
sed cur potius om11es, immortales grates agentes Deo, demisso intcntoquc
animo meditemur. Quod a utcm Servator noster, olim e Cruce pendens,
inchoavit, id perpetuo continenterque in crelesti beatitate pcragere . non
desinit : " Caput nostrum, ait Augustinus, i nterpellat pro nobis : a l i a mem
bra rccipit, alia flagellat, alia mundat, alia co11solatur, alia creat, alia
vocat, alia revocat, a l i a corrigit, ali a redintegrat." ( Enarr . in Ps., LXXXV,
5; Mig11e, P. L., X X XV I I , 1 085. ) Nos autem omnes Christo in salutifero
hoc opere debemus sociam p rrestare operam, "qui ex uno et per unum sal-
1 042 Documentação
( Ioann . , XX, 22) , sed etiam clara voce imperavit : "Sicut misit me Pater,
et ego mitto vos" (loamz., XX, 21 ), itemque : "Qui vos audit, me audit."
(Luc., X , 1 6. )
Quodsi i n Ecclesia aliquid cernitur, quod hum anre arguit conditionis
nostrre infirm itatem, id quidem non i u ridicre est e i u s constitutioni attri
buendum, sed lamentabili potius singulorum ad malum procl ivitati, quam
idcirco divi nus eius Condito r i n al tioribus etiam mystici sui Corporis mem-
68
1 044 Documentação
P ater meus d i l i get eum, et a d eum ven iemus et mansionem apud eum
faciemus." (loann., X I V, 28. ) Caritas igitur omni alia virtute a rctius nos
coniungit cum Christo, cuius - crelesti ardore i nflammati, tot Ecclesire f i l i i
gavisi sunt pro eo contumeli a m p a t i , et a d supremum u s q u e vitre halitum
sangu i n isque effusionem, qurelibet, etsi maxime ardua, o b i re atque evin
cere. Quapropter divinus Servator noster hisce verbis vehementer nos
adhortatu r : "Manete in d i lectione mea." Et quandoquidem caritas ieiun a
res est ac prorsus vacua, si bonis operibus n o n panditur et quodammodo
efficitur, idcirco hrec continuo subiungit : "Si prrecepta mea servaveritis,
manebitis in dilectione mea ; sicut et ego Patris mei p rrecepta servavi et
maneo i n eius di lectione." ( loann., XV, 9- 1 0. )
H uic tamen erga Deum, erga Christum amori caritas i n proximos res
pondeat oportet. Siquidem quomodo asseverare possumus divinum nos
Redemptorem d i l i gere, s i eos oderimus, quos ipse u t mystici s u i corporis
membra faceret, pretioso suo sanguine redemit? Quamobrem ita ille nos
admonet, quem prre ceteris Christus d i lexit Apostolus : " S i quis dixerit
quon iam diligo Deum, et fratrem suum oderit ; mendax est. Qui enim
n o n diligit fratrem suum, quem videt, Deum quem non videt, quomodo
potest d i l i gere? Et hoc mandatum habemus a Deo, ut q u i diligit Deum,
diligat et fratrem suum." (/ loann., I V , 20-2 1 . ) I mmo i d etiam est affirman
dum, eo magis nos fore c u m Deo, cum Christo coniu nctos, quo magis futuri
simus alte r alterius membra (Rom., X I I , 5), pro i nvicem sollicita (/ Cor.,
X I I , 25) ; sicut ex altera p arte, eo magis nos fore i nter nos cohrere ntes
caritateque copul atos, quo flagrantiore amore ad Deum divinumque Caput
nostrum adstricti fuerimus.
Nos autem U n i genitus Dei F i l ius, i a m ante mundi exordium, rete m a
i nfinitaque cognitione sua perpetuoque amore amplexus est. Q u e m quidem
amorem, ut adspectabili ac m i randa prorsus ratione patefaceret, nostram
' ·
sibi i n hypostaticam u n itatem adiunxit n aturam ; q u a fit - quod candida
q u adam s implicitate Maximus Taurinensis a n i madvertit - u t " i n Christo
caro nostra nos d i l i gat." (Serm ., X XI X ; Migne, P. L., LV I I , 594. )
E i u smodi vero amantissim a cognitio, q u a divinus Redemptor a primo
I ncarnationis sure momento nos p rosecutus est, studiosam quamlibet hu
manre mentis vim exsupera t ; quandoquidem per beatam i l i a m visionem,
qua vixdum in Deiparre sinu exceptus, fruebatur, o m n i a mystici Corporis
membra continenter perpetuoque sibi prresentia h abet, suoque complectitur
salutifero amore. O ·mira erga nos divinre pietatis dignatio : o i nrestim a
bilis ordo i mmensre c aritatis ! l n p rresepibus, i n cruce, i n sempite rn a Patris
gloria omnia Ecclesire membra Christus s i b i conspecta s i b ique coniu ncta
habet longe clarius, longeque a m a ntius, quam mater filium suum i n gre
mio positum, quam q u i l i bet semetipsum cognoscit ac dil igit.
E x hucusque allatis facile cern itur, Venerabiles F ratres, cur Paulus
Apostolus tam frequentei· scribat Christum esse i n nobis, nosque esse in
Christo. Quod quidem subtiliore quoque ratione comprobatur. Est nempe
Christus in nobis, u t supra enucleate satis exposu imus, per Spiritum suum,
quem nobiscum commun icat, et per quem ita i n nobis operatu r, u t qure
cumque divi n a a Spiritu Sancto i n animis peraguntur, etiam a Christo ibi
peracta · dicantur oporteat. ( Cf. S. Thom., Comm. irz Ep. ad Eplz., cap.
11, lect. 5. ) "Si quis Spiritum Christi n o n h abet, i nquit A postolus, hic non
est eius : s i autem Christus i n vobis est . . . , spiritus vivit propter i ustifi
cationem." (Rom., V I I I , 9- 1 0. )
Revista Eclesiástica B rasilei ra, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 1 047
Hrec sunt, Venerabi les Fratres, qure, si Ch ristifideles pie ac recte in-
tellegant diligenterque retineant, faeilius a b illis etiam erroribus cavere
possunt, qui ex difficilis huius causre i nvestigatione, per arbitrium a qui
busdam peracta, non sine magno· catholicre fidei discrimine animorumque
pertu rbatione scateant.
Non enim desunt, qui haud satis considerantes Paulum Apostolum,
translata tantummodo verborum significatione, hac i n re fuisse locutum,
nec peculiares ac propria corporis physici, . moralis, mystici sign ificationes,
u t omnino opoi:tet, distinguentes, perversum aliquod inducunt unitatis com
mentum ; quandoquidem divinum Redemptorem et Ecclesire membra i n phy
sicam unam personam coi re et coalescere iubent, et dum hominibus divina
attribuunt, Christum Domi num erroribus hu manreque in malum proclivitati
obnoxium faciunt. A qua quidem doctrinre fallacia quemadmodum catholica
fides sanctorumque Patrum prrecepta prorsus abhorrent, ita pariter gen
tium Apostoli mens ac sententia omnino refugit, qui, quamvis Christum
eiusque mysticum Corpus mira i nter se coagmentatione coniungat, alterum
tamen alteri ut Sponsum Sponsre, opponit. ( Cf. Eph., V, 22-23.)
Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 3, fase. 4, dezemb ro 1 943 1 049
nec vi rtute carent, et ad totius etiam mystici Corporis util itatem, multopere
conferunt ; in quo quidem nihil bene, nihil recte a singulis membris perfici
potest, quod per Sanctorum Communionem in universorum quoque saiu
tem non redundet. Neque singuli homines prohibentu r, idcirco quod huius
Corporis sunt membra, quominus peculiares quoque gratias, vel ad prresen
tem vitam quod attinet, servata tamen divinre voluntati obtemperatione,
sibimet ipsis petant ; manent enim iidem sui iuris personre, et singularibus
suis obnoxii necessitatibus. (Cf. S. Thom., II, II, q. 83, a . 5 et 6. ) Creles
tium vera rerum meditationem quanti debeant facere omnes, non solum
modo Ecclesire documentis, sed omnium etiam sanctitate prrestantium usu
atque exemplo comprobatur.
Non desunt postremo, qui dicunt suppticationes nostras non ad ipsam
Iesu Christi personam, sed ad Deum potius, vel ad reternum Patrem per
Christum esse dirigendas, cum Servator noster, prout mystici sui Cor
poris Caput, "mediator Dei et hominum" (1 Tim., I I , 5) solummodo sit h a
bendus. Attamen id non solum Ecclesire menti adversatur Christianorumque
consuetudini, sed veritati etiam offendit. Christus enim, ut proprie accu ra
teque loquamu r, secundum utramque n aturam una · simul, totius Ecctesire
est Caput (cf. S. Thom., de Veritate, q. 29, a. 4, e.) ; ac ceteroquin ipse sol
lemniter asseveravit : "Si quid petieritis me in nomine meo, hoc faciam."
(loann., XIV, 1 4. ) Et quamvis i n Eucharistico prresertim Sacrificio - i n quo
Christus, cum sacerdos ipsemet et hostia sit, conciliatoris mu nere peculiari
modo fungitur - orationes ad JEternum Patrem per Unigenitum suum
plerumque admoveantur, nihilo secius non raro, ac vel in ipsa litatione,
ad Divinum quoque Redemptorem preces adhibentur ; quandoquidem Chris
tianis omnibus cognitum clareque perspectum esse debet hominem Christum
Iesum eundem esse Dei Filium ipsumque Deum. Atque adeo, dum militans
Ecclesia i ntaminatum Agnum sacratamque Hostiam adorat ac precatur,
triumphantis videtur Ecclesire voei quodammodo respondere, perpetuo ca
nentis : "Sedenti in throno et Agno : benedictio et honor et golria et po
testas in srecula sreculorum." (Apoc., V, 1 3. )
Postquam, Venerabites Fratres, in huius comméntatione mysterii, quod
arcanam omnium nostru m amplectitur cum Christo coniunctionem, ut u n i
versalis Ecclesire Magister, mentes veritatis luce collustravimus, pastorali
·
miliam tuam, pro qua Dominus noster lesus Christus non dubitavit ma
nibus tradi nocentium et Crucis subire tormenh1m." (Olf. Maior. Hebd.)
* * *
desej amos afastar "vossos sentidos daquela simplicidade que está em Cris
to" 5 ; pelo que, assentamos tomar-Lhe o conselho de fornecer e " rep a r
tir com simplicidade". 6 E estamos que mais não esperais de nós, se nos
olhais como a bispo e pastor de vossas almas 7 . Se, pois, é assim que a
vós nos d irigimos, de que outras credenciais mister h avemos para falar-vos?
Apenas, devemos advertir que, por isso mesmo, a doutrina que expomos não
é nossa, mas d Aquele que nos enviou s.
Oxalá das considerações que vamos explanar, apareça melhor qual
deva ser o p rocedimento de n ós todos para com a I grej a de Cristo, cuj os
direitos, e p o rtanto deveres n ossos, de sua p rópria n atureza decorrem,
e das qualidades características com que a distinguiu o divino Fundador,
bem como d a s prerrogativas que o mesmo Cristo lhe conferiu.
Natureza da Igreja. - Longe de ser a Igreja, como preten diam Harnack
e Loisy, o resultado de uma evolução que jesus Cristo j amais sonhara, é a
concretização do reino de Cristo, não só anunciado e p reparado pelo Ho
mem-Deus, mas realmente por �le fundado e defin i tivamente estabelecido,
com forma determinada de sociedade religiosa, visível e perpétua. Fôra
nosso i n tento apresenta r-vos uma dissertação apologética, prezados Coope ra
dores e amados fil hos, e seria esta a ocasião de apontar-vos jesus C risto
a reu n i r discípulos, escolhendo apóstolos, nomeando um Chefe supremo
entre os doze encarregados de ensin a r, reger e santificar, com os quais
estar i a "até o fim do mundo" o e isso p a ra que não só "na j u déia e Sa
maria, mas até os extremos da terra" 1 0 fôssem evangelizadas tôdas as
n ações, e se salvassem todos os que adquirissem a fé e fôssem batizados 1 1 .
Entretanto, mesmo sem aprofundar a explicação dos textos aduzidos, j á se
torna bem p a tente a mútua dependência entre o Cristian ismo e a Igrej a.
"Que rel ação existe entre o Cristia n i smo e a I g rej a ? Não h á Cristianis
mo sem I grej a. O Cristian ismo sem I g rej a é só um "ente de razão'', abstra
ção morta e sem rea l idade, que n ã o é nem foi. Como a idéia de humani
dade só vem à realidade no homem, e só aí tem obj etividade, também o
Cristianismo só se mostra cheio de l u z e esp l êndido de vida dentro da I g re
j a . A Igrej a é a revelação convicta do Cristiani smo . . . 12 Torna-se-nos
agora evidente que o Cristianismo não tem só por fim salvar algumas al
mas, mas fundar uma comunhão de fiéis e de vida, .uma e xistência real
mente comum, uma sociedade de Deus no mundo ; que a I grej a é um reino
independente, forma essencial da mani festação do Cristianismo. E como
entre a idéia de humanidade e a sua realização h á apenas distinção men
tal, e não separação real, podemos fazer uma distinção entre o Cristia
n i smo e a I g rej a ; mas d istinção e sep a ração reais destruiriam ambos. O
Cristianismo é a I g reja, e esta aquêle. Pelo mesmo ato p o r q u e jesus C ris
to estabeleceu a sua Religião fundou também a sua Igrej a, i sto é, a comuni
dade visível de todos os fiéis sôbre a terra, n a qual com auxílio do mi
nistério doutrinal e p astoral, p o r �le estabelecido, v ive o seu espírito, se
4 ) II Cor. , XII, 6 : Ne quis me exlstlmet supra ld, quod vldet ln me.
6 ) I I Cor. , 3 : Ne . . . excl'dant a slmpllcltate, qure est ln Chrlsto.
6) Rom . , XII, 8 : Qul trlbult l n slmpllcltate.
7 ) I Petr. , II, 26 : . . . ad pastorem et eplscopum anima.rum vestrarum.
8) .Joan. , XIV, 10 : Verba, qure ego loquor vobis, a me lpso non loquor . .Joan . ,
I I , 34 : Quem e n l m mlslt Deus, verba D e i loquitur.
9 ) Math. , XXVI II, 20 : Et ego vob!scum sum omnlbus dlebus, usqu o ad con-
summatlonem srecull.
10) Act. , I, 8 : . . . Et ln omn! .Judrea, et Samaria, et usque ad ultlmum terrre.
11 ) Marc. , XVI, 16 : Qu! credlderit, et baptlzatus fuerlt, salvus erlt.
12) Aqui o autor cita Thomaslus em "Das Wledererwachen des evangellschen
Lebens und der lutherlschen Klrche. " Erlangen 1867, pág. 247.
Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 3, fase. 4, dezembro t 943 1 059
perp �tua na sua palavra e beati �ica a sua graça. O mesmo ato, pelo qual
os d1scfpulos creram nêle o enviado de Deus, un iu-os como membros ao
seu corpo m ístico 13, tornou-os fiéis e cidadãos do seu império celeste e
cordeiros do seu rebanho. Com a mesma solenidade e autoridade deri
vada do Pai, com que anuncia a sua Religião, sempre nova e sempr� anti
ga, funda l!le também a sua Igrej a." 1 4
Até aqui Hettinger em sua conhecida Apologia do Cristianismo. Não
são p orém menos íntimas, como j á veremos, as re'ações da I grej a para
com o Homem-Deus. "Para nos dar uma idéia exata desta obra prima da
sabedoria do Verbo Incarnado, assevera o apóstolo São Paulo que jesus
Cristo é a cabeça d a I grej a, e a Igrej a o corpo de Cristo 1 5 ; fazendo-nos
claramente ver que entre jesus Cristo e a sua Igreja existe uma união
Intima, análoga à que existe entre a cabeça e o corpo humano. Não é uma
simples união moral, como, por exemplo, a de um rei com os seus súditos.
É, antes, uma união física, como a que existe entre a cabeça e o corpo,
en tre o tronco da videira e os seus ramos 16 consoante a exp ressão do
-
dign idade , se não quisermos por mãe a sua I grej a, pois garante São Ci
priano : "Não pode ter a Deus por pai, quem não ·tem a I grej a por mãe." 22
A Igrej a é, pois, nossa mãe : não nos envergonhemos dessa filiação.
A Igrej a é nossa mestra : aprendamos em sua escola.
A Igrej a é salvadora : lancemo-nos em seus braços.
Notas características. - Não só a natureza da verdadeira Igreja, mas
tôdas as suas qualidades distintivas, se bem conside radas, são aptas a nos
aliciar sincera afeição e filial estima para com essa boa Mãe.
Espôsa (m ica de Cristo 23, a Igrej a se aprese n ta coroada com o d i a
dema de sua unidade, e aureolada com o n imbo da santidade ,· o riquíssimo
colar de sua catolicidade lhe adorna o materno sei o ; e pode marcar seus
documentos com o sinete d a apostolicidade, cujo anel possui como .prova da
aliança com o d ivino Espôso. Sentada no trono real de sua indefectibili
dade, ela p roclama a lei de Cristo, e conservando na esquerda o cetro da
j urisdição esp iritual, derrama com a destra o cálice das bênçãos e graças
sacramentais.
Coroa da unidade. - O diadema que orna a legítima Espôsa de Cristo
é a un idade mais perfeita na fé que professa, no regime hierárquico de seu
govêrno e no culto que tributa ao Deus de majestade infinita.
E m todos os recantos do mundo, uma só é a doutrina que a Igrej a
implanta entre os homens das mais variadas categorfas. N e m todos esta
rão à altura de penetrar no sentido mais profundo dos seus dogmas, nem
na apreensão mais perfeita da sua moral puríssima. Mas, desde que se
p ro fessem e tenham por filhos d a Igrej a, admitem-lhe implicitamente os en
sinos na acepção em que ela os p roporciona. Submetem-se ao Pontlfice Ro
mano, como a Sucessor de Ped ro e Chefe visfvel d a Igreja, reconhecen
do-lh e a autoridade p a rticipada de lugar-tenente do Homem-Deus. Mais;
recebem os mesmos sacramentos e assistem ao sacrifício (mico, o da Missa,
celebrado nas grandes basílicas ou nas humildes capelin has rurais, quando
não à orla das m atas perante os selvagens, ou nos campos de batalha ante
os que vão morrer pel a Pátria.
"E' claro como o sol que não há nem pode haver senão uma só e ver
dade i ra Igrej a de Cristo, na qual p u ra e completa deslise a corrente da ver
dade e da Fé, porque o Cristianismo verdadei ro sempre estêve onde a ver
dadeira Igrej a ; mas esta I grej a não é nem podia ser senão a católica. Ao
catolicismo da doutrina corresponde um catolicismo de forma. A Igrej a é
o reino do céu, que Cristo trouxe sôbre a terra : deve necessariamente · apa
recer como tal e em unidade, encerrado em si e compreendendo todos em
si, como u m grande todo, n a história do mundo." 24
A Igrej a, tendo recebido esta pregação e esta fé de que acima fala
mos, apesar de disseminada pelo mundo, guarda-a com tôda a dil igência,
como se habitasse n a mesm a casa ; e c rê igualmente nela como se tivesse
uma só alma e um só coração e uniformemente a prega e ensina e transmi
te como se tivesse uma só bôca. Pois ainda que no mundo as línguas se
j am diversas, é uma só e a mesma a fôrça da tradição. Pois não c rêem nem
transmite m a doutrina de outro modo as Igrej as fundadas n a Germânia,
na Esp anha, nas Gálias, n o O riente, no Egito, na Llbia ou as que estão
no meio do mundo. Mas como o sol, criatura de Deus, é em todo o mundo
um só e o mesmo, assim a p regação da verdade em tôda a parte se mostra,
22) Cyprlanus, De unltate Eccleslie, n . 0 6 : Habere jam non potest Dewn
patrem, qul Eccleslam non habet matrem.
23) Cant. , VI, 8 : Una est columba mea ; Math. , XVI, 18 : ACdl!lcabo Eccle
elam meam.
24) H e t t l n g e r, loc. clt.
Revista Eclesiástica B rasileira, vol. 3, fase. 4, dezemb ro 1 943 1 06 1
69 •
1 062 Documentação
se ignorado santuário, quão outra seriam a sua e stimati va ' a sua estim a
e admiração I " 36
Por o utra parte nada há de admirar no fato de se mistura r na I gre
j a tanto j oio ao trigo eleito 3 7 . já o Senhor o havia p redito : a mesma rêde
pesca maus peixes j unto com os bons 3 8 . Consideremos : nos sapient íssi
mos planos da Providência divina já não entrava essa aparente falha? " De
fato, por que fundou Cristo sua Igrej a ? - inquire certo pregad or de Notre
Dame de Paris 39 . - Para reunir numa sociedade a elite da human idade,
os santos? - Ah l vós não o afirma reis, sem negar sua intenção de evan
gelizar tôdas as n ações 40, de reunir num só aprisco a universalidade dos
homens 4 1 ; e ainda mais, sem esquecer sua p alavra expressa : não vim cha
mar os j ustos, mas os pecadores . . . 4 2 Cristo não constituiu, portanto, uma
Igrej a para agrup a r santos, mas para os formar."
A êsse respeito comenta Bossuet : " Está escrito no Evangelh o que a
ovelha que o Salvador busca não está mais e m companhia de todo o reba
nho ; p o r consequência está separada. Entendamos o sentido dessa pará
bola. O rebanho dos filhos de Deus é a Igrej a. E aquêle que está separado
do rebanho, parece estar fora da verdadeira I greja. Poderemos acaso dizer
que o Filho de Deus não fala neste lugar senão dos hereges que romperam
o l aço d a unidade? Mas a sequência do nosso Evangelho refutará manifes
tamente essa explicação, pois jesus Cristo nos faz compreender que fala
geralmente de todos os pecadores, porque desej a encoraj a r todos os peni
tentes. E poderemos nós dizer - fiéis - que todos os pecadores estão
separados do sagrado rebanho e da comunhão da Igrej a ? De modo ne
nhum. E' êrro de Calvino e dos calvinistas, contra o qual o F ilho de Deus
nos p revine ao falar da zizânia mesmo no seu campo, porque h á escândalo
mesmo em sua casa, como h á m aus peixes mesmo nas suas rêdes." 4 3
Desde a c ristandade primitiva até n ossos dias, e mesmo até o fim dos
séculos, fiel ao ·seu programa de redenção, a Igrej a terá de l amentar a exis
tência de fraquezas morais em os elementos que a constituem, mas não
se limitará a deplorar-lhes as misérias, porque há de procurar lenir as cha
gas à imitação do bom Samaritano d a parábola, e há de combater as cau
sas das enfermidades esp i rituais, como fêz seu divino F undador e Mestre,
denunciando nos fariseus as máscaras de virtudes. F risemos bem a cir
cunstância que segue : "E' n a Igrej a que o inal é mais visível, porque nela
é que êle é mais ardentemente combatido." 44
"E' certo, o ideal de uma cristandade sem mancha e sem ruga não po
derá j amais realizar-se completamente na Igrej a da terra. Pode-se-lhe apli
car o que Nosso Senhor dizia aos seus discípulos : "Sois p u ros mas não
todos . . " 45 Enquanto a Igrej a estiver à espera aqui em baixo, da volta de
.
jesus, não se contentará com dizer a Deus : "Santificado sej a o Vosso no
me, ven.ha a nós o Vosso reino." Ser-lhe-á preciso implorar sempre : "Per
doai-nos as nossas dívidas e não nos deixeis cai r em tentação." 4 6
36) A. H u o n d e r S. J. , Aos Pés do Mestre, 166, 4.
37) Math., XIII, 30 : Slnlte utraque crescere usque ad roessem.
38) Math. , XIII, 47 : Ex omnl genere p l sclum congregantl.
39) H . Plnard de L a B o u l a y e S. J . , Jésus vlvant dana l' J!:gllse, pág. 254.
40) Math . , XXVIII, 19 : Euntes, ergo, docete omnes gentes ; Marc . , XVI, 15 :
Euntes in mundum unlversum, prredlcate Evangellum omni creaturre.
41) Joan . , X, 16 : Et alias oves habeo, qure non sunt ex hoc ovili ; et mas oportet
me adducere, et vocem meam audlent, et flet unum ovlle et unus pastor.
42) Luc. , V , 32 : Non venl vocare justos, sed peccatores ad pcenltentlam .
43) Oeuvres complêtes de Bossuet, Tome VI. Sermon sur la glolre qui revlent
à Dleu de la converslon des p écheurs, pág. 300.
� 4 4 ) K a r l A d a m, A essência do Cristianismo, cap. XI.
46) Joan . , XIII, 10 : Et vos mundl estls, aed non omnes.
46) K a r l A d a m , A essência do Cristianismo, cap. XI.
1 064 Documentação
De fato o nimbo de luz, tanto pode ser ampla claridade que de sua
ves eflúvios banhe por inteiro o corpo bem-aventurado, como pode tam
bém ser copiosa emissão de raios luminosos que, dêle partindo, clareiem tu
do em derredor. Aquêle é ininterrupto clarão, êste apresenta estrias que
separam os raios. Bste é o da Igrej a militante na terra. Aquêle, o da Igre
ja triunfante no céu.
Colar da universalidade. -Eis a Espôsa de Cristo : a unidade lhe coroa
a fronte ; a santidade a emoldura em seus raios luminosos : agora, colar de
variegadas pérolas lhe adorna o seio maternal. E' a representação sim
bólica de miríades de cristãos do mundo inteiro, gerados para a Fé na
pia batismal da Igrej a de jesus. As profecias messiânicas 52 já ostentam
a un iversalidade dêsse reino.
O mandamento de jesus "Ide, ensinai a todos os povos" 53 é o pre
gão da catolicidade de direito. Quando São Paulo se referia aos frutos do
Evangelho já amadurecendo "em todo o mundo" 5 4 aludia por certo p
catolicidade ·relativa, ou sej a a uma expansão do cristianismo em muito s
povos, embora não absolutamente em todos êles. A catolicidade da Igrej a
é qualidade tão exclusivamente sua, que já Santo Agostinho se consola
va de ver que os adversários, querendo ou não, a chamavam católica, isto
é, universal 55,
A I greja se chama Católica porque está difundida por todo o mundo
até os últimos confins da terra. E também porque, universalmente e sem
excetuar nada, ensina todos os dogmas que o homem deve conhecer, quer
das coisas visíveis e invisíveis, quer das coisas celestes e terrenas. E tam
bém porque sujeita ao verdadeiro culto tôda a sorte de homens, gover
nantes ou governados, sábios ou ignorantes. Enfim porque cura e sara
em geral todos os pecados, quer perpetrados pelo corpo quer pela alma.
E possui todo o gênero de virtudes e dons espirituais, quaisquer que se
j am os nomes e formas com que se indicam 5 6 ,
São Policarpo, quando estava para morrer, o rou por todos os que
tinham tratado com êle, pelos pequenos e grandes, pelos cultos e obscuros,
e por Mda a Igreja Católica, difundida por todo o mundo 57.
Foi Santo Inácio de Antioquia, no fim do primeiro século, quem por
primeiro lhe deu o titulo de católica.
São Paciano declarara : Cristão é meu nome. Católico é meu sobre
nom e ; um me nomeia, o outro me mostra ; o primeiro me designa, o se
gundo me recomenda . . . Por isso o nosso povo se distingue dos hereges
com êste apelativo, quando é chamado católico 58,
52) Dan . , I I , 35 e 44 ; Mal . . I, 1 0 e 11.
53) Math., XXVJII, 19.
54) Rom . , !, 8 ; Col . . !, 6.
55) Aug. De vera rellglone, n . 0 12 : Vellnt nollnt, !psi quoque hreretiel . , , ca
thollcam nlhil allud quam cathollcam vocant.
56) Cathollca vocatur (Ecclesla) eo quod per totum orbem ab extremls terrre
tlnlbus ad extremos usque fines dlffusa est ; et qula unlverse et absque defectu
doeet omnla qure ln homlnum notltlam ventre debent dogmata, slve de vlslbl
llbus et lnvlslblllbus, slve de ccelestlbus et terrestrlbus rebus ; tum etlam eo quod
omne homlnum genus recto cultul subjlclat, prlnclpes et prlvatos, doctos et lm
perltos ; ac denlque quis generallter quldem omne peccatorum genus, qure per ani
mam et · corpus perpetrantur, curat et sanat : eadem vero omne possldet, quovls
nomlne slgnlflcetur, vlrtutls genus, ln factls et verbls et splrltuallbus culusvls
apeclel donls. S. Cyrlllus Hlerosolymltanus, ln "Catecheses" 18.• n. 23. Ano 313-386.
· 57) Cum autem (S. Polycarpus) precatlonem tandem flnlvlsset, ln qua men
tlonem fecerat omnlum qul allquando cum tpso versatl fuerant, parvorum quldem
et magnorum, clarorum et obscurorum, totlusque per orbem terrarum Catholl
Clll Eccleslre . . . Martyrlum S. Polycarpl, 8, 1. Ano 156/7.
58) Chrletlanus mlhl nomen est, Cathollcus vero cognomen ; lllud me nuncupat,
lstud ostendlt ; hoc probor, lnde' slgnlflcor . . . Quare ab hreretlco nomlne noster
populua hac appellatlone dlvldltur, cum cathollcus nuncupatur. S. Paclanus, ln
Eplst. 1.•, e. '· Ano 390.
1 066 Documentação
régia s' majestades levarem no dedo um anel, não propriamente como or
nato senão como sinete fiel, capaz de garantir a procedência e autentici
dade de qualquer documento real . Assim é que no livro de Ester se lê o
seguinte : "Escrevei aos j udeus como vos agradar, em nome do Rei, mar
cando a carta com o meu anel. Pois segundo o costume, ninguém ousava
opor-se às cartas enviadas em nome do Rei e seladas com seu anel." 6 3
· Duas passagens cita o profeta Daniel 6 4 em que foi usada a impres
são do anel do Rei de Babilônia como sêlo de valor inquebrantável.
Pois bem : êste sêlo de sua procedência, êste anel de garantia e au
tenticidade traz a Igrej a Católica em sua ex istência duas vêzes milenar.
E' apostólica. Eis tudo. Fundada sôbre a rocha inabalável que é Simão
Pedro 65, "o príncipe dos Apóstolos" 66, a Igrej a Católica é, por isso mes
mo, apostólica. Como para mais confirmar êsse caráter de apostolicidade
na I grej a Romana, São Paulo chama também de fundamento os demais
apóstolos 6 7 em razão da doutrin a que pregaram, plantando e solidificando
a I greja, como também pelo munus episcopal que exerceram e que ainda
hoje persiste n a assembléia dos cristãos 6 8 .
Na sucessão perene do mandato apostólico reside a firmeza de nos
sas crenças, que através dos séculos apresenta o sêlo da tradição divina.
"A revelação sobrenatural não é uma sabedoria humana, mas, sim, a
palavra de Deus. A nova verdade não emerge do substrato primitivo da
humanidade, nem das profundidades do inconsciente ; é, essencialmente,
um dom do alto. Sua comunicação aos homens não pode ser feita senão
por via da autoridade, pela série viva dos apóstolos e dos bispos que, pelo
sacramento da Ordem, se lhes conj ugam na un idade do espírito, e antes
de tudo pelo sucessor de Pedro. A autoridade na I grej a é uma conse
quência necessária do caráter sobrenatural da revelação. Um dos dois po
los da vida da Igrej a é, pois, a autoridade que lhe vem do Crh;to pelos
62) K a r 1 A d a m, l o c . cit.
63) Eather, 8, 8.
64) Daniel, 6 , 17 e 14, 10.
65) Math . , .xvr, 18.
66) Orlgenes, ln Luc. hom. 17 : Apostolorum Prlnceps.
67) Eph. , II, 20.
68) Chr. P e s e h, Proolectlones Dogmatlcoo, Cap. 1, n,o 291.
1 068 Documentação
P E LAS R EV ISTAS
Marltain e sua obra "O Crepúsculo da Civilização"
A Revista "The New Scholaatlclsm", órgão da "Amerlcan Cathollc Phllosophlcal
Assoclatlon", sob a responsabilidade da "Cathollc Unlvers lty o! Amarica"
( Washington) publicou, no seu mlmero de julho de 1948, pp. 289-295, um estudo
de J u 1 e s A. B a 1 s n é e, da Universidade católica, sôbre a \lltlma obra de
J. Marltaln : "The Twll lght o!• Clvlllzatlon", New York, 1943. Damos a seguir os
trechos principais dêsae estud o, que Interessará. sem d11vlda também o no ã so
}
· público, visto a atualidade d os prob emas ventilados.
familia cristã com os quais nos acontece de divergir. O Sr. Maritain que
tão eloquentemente prega o Evan gelho do amor, parece esquecer o es
� �
pírito que o anima, quand o denuncia t o duramente o que êle c ª ?' ª . a
cumplicidade dos colabor adores do nazismo, para pe rverter o cnshams
mo por dentro . . . l!le tem di reito de achar (a política de P é t a i n ) i m
p ru dente, desassfsada , débil, mas condená-la incondicion almente, imputar
lhe motivos não-cristãos, i dentificar-lhe os principias com os do nazismo
e do racismo ' se nos afigura parcial, inj usto e pouco cristão. Que i nspi
ração nazista ou racista pode-se encontrar, no abandono do anticlericalismo
oficial da 3. • Repú blica, n a revogação das leis que restringiam a ativi
dade das Ordens religiosas, no reco nhecimento mais équo da contri
buição das esco las católicas para a educação nacional, nas medidas que
..
e os primeiros anos dêste século XX, assim começou uma das célebres
encfclicas : "O Filho Unigênito do Eterno Pai, aparecido no mundo para
trazer ao gênero humano a salvação e a luz da divina sabedoria, grande
e admirável benefício preparou para a humanidade, ao volver de novo
aos céus, ordenando aos Apóstolos fôssem e ensinassem a todos os po
vos, e fundando e deixando-nos a I grej a, mestra universal e suprema
dos povos."
Estabelecida, pois, como grande foco de luz divina, autoridade en
carregada de a conserva r, e fonte da maternidade santa que gera os elei
tos, a I greja reune, em grande organismo social, as almas remidas, im
pedindo-lhes a dispersão e o seu isolamento no espaço. N a Igrej a do céu
não serão recebidos senão os que houverem pertencido à I grej a da terra.
Está escrito : quem não crer e não fôr batizado não se salvará. Pedia,
pois, a j ustiça de Deus que a sociedade, depositária autêntica da doutrina
divina, não só brilhasse entre os homens com os resplendores duma luz
inconfundível mas, também, atingisse de pronto todo homem de boa von
tade. E Deus não faltou à sua j ustiça. Por isso iluminou o berço da
I grej a com a auréola dos milagres e lhe cingiu a fronte com o diadema
vislvel da verdade, e fê-la, apenas nascida, já apta para o eficaz ensina
mento popular das verdades mais sublimes que, du rante séculos, não
pôde inventar a sabedoria pagã.
E ela, de fato, cristianizou e reformou o mundo. Disse ao homem :
Até agora foste escravo da ambição, do orgulho e da volúpi a ; submete
te, doravante, à pobreza, humildade e castidade.
A Igrej a católica transformou o mundo. Sob a influência de sua
doutrina, instituições e coisas tomaram novo aspecto. Ela modificou
a ordem doméstica, consolidando o casamento na unidade dum vinculo
perpétu o ; a ordem social, tornando o poder um serviço e a obediência
uma honra. O direito, a ciência e a arte, nada escapou à transfiguração
geral. Além da alteração do antigo estado de coisas, criou um mundo
novo, repleto de heróicas falanges da penitência, da virgindade, do aposto
lado, do martírio.
Assim como ensinou a refrear as paixões do homem e da sociedade,
ela venceu o espaço. Qualquer sociedade, em se desenvolvendo, esbarra
em três grandes obstáculos que lhe entravam os movimentos. Avançando,
ganhando terreno, o horizonte parece que vai fugindo mas, ao depois,
ergue-se barreira intransponível - uma cadeia de montanhas, ou a vas
tidão dos mares. Vencida a dificuldade do território, outra surge - a
sepa ração das nacionalidades. E' um cêrco de ferro, donde só se logra
sair sacudindo o jugo de idéias, crenças, costumes, tudo o que constitui
as tradições dum povo. E ainda há um terceiro obstáculo que detém a ex
pansão duma sociedade e, êste, maior que os outros dois - o limite das
raças. Nada há na superfície da terra que mais profundamente aparte os
homens que essa espécie de trincheira, erguida pela diferença de línguas
e sangue.
A fim de obedecer ao divino mandamento, a Espôsa de Cristo en
frentou o triplice obstáculo do território, das nacionalidades e das raças.
"Basta um meridiano para mudar, por completo, a j u risprudência", disse
'
um grande pensador ; mas a I grej a católica só conhece um meridiano,
aquêle que passa pelo Presépio e pelo Calvário, envolvendo o Universo
num circulo de amor. A geografia humana fala de tribos, povos e raças.
Na I grej a católica, raças, povos e tribos confundem-se, misturam-se ; para
ela não há latinos, semitas, ari anos, eslavos, só existe·m i rmãos, filhos
Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 1 077
cadência.
E como se não bastasse tão grande mudança de aspectos e de lu
gares, vão aparecendo, ainda, outras c i rcunstârrcias prej udiciais. N as
ruas estreitas das grandes cidades, n as oficinas sombrias, no meio da
Revista Eclesiástica B rasileira, vol . 3, fase. 4, dezembro 1 943 1 079
poderiam desej ar, nem mais alta, nem mais consoladora. tste labor
apostólico realizado no espírito da I grej a, consagra, por assim dizer, o
leigo e f �z dêle um ministro de Cristo, no sentido que Santo Agostinho
explica assim : Qu ando ouvis, meus irmãs, Cristo dizer : lá onde eu estou,
aí estará, também, o meu ministro, guardai-vos de pensar somente nos
Bispos e no clero. Também vós, à vossa maneira, sois ministros de Cris
to, vivendo dignamente, dando esmolas, pregando o seu nome e a sua
doutri na àqueles que puderdes, para que neste mesmo nome todos os
pais de família reconheçam dever, aos seus, afetos paternais. Sej a por
Cristo e pela vida eterna que os repreendam, os ensi nem, os exortem,
os corrij am, sej am benévolos ou exerçam sôbre êles a sua autoridade ;
porque assim cumprirão, na sua casa, o ofício de pai e, até de certa
maneira, de Bispo, sendo ministros de Cristo . aqui na terra para o se
rem, eternamente, com �le."
tste é o conceito essencial da Ação Católica, que exige tenham os
leigos consciência de sua eminente dignidade e de seu papel ativo na
Igreja. E' a doutrina expendida por Pio XI, na sua encíclica : Chamai
a atenção dos fiéis que, dizia êle aos Bispos, trabalhando nas obras de
analogia com o método que apontamos para os missionários : pad res in
dlgenas, para os indígenas. Cada situação deve ter o apóstolo corres
pondente : operários, apóstolos de operários ; l avradores, apóstolos de
l avradores ; marinhei ros, apóstolos de marinheiros ; estudantes, a.póstolos
de estudantes."
O Santo Padre outra coisa não prega senão aquêle sistema para 0
q u a l j á está consagrada a fórmula : "o apostolado do meio pelo meio" .
O padre pode esforçar-se para a evangelização do meio onde exerce
sua atividade ; podem ser muito cordiais e assíduas as relações com seus
paroquianos. Por ser padre, êle sempre será alguém não intei ramente i den
tificado com todos os meios da sociedade. �ste alheamento natu ral i m
põe-se, dadas as exigências de seu estado e vocação. Nem todos veriam,
com bons olhos, o padre tratando de coisas materiais, nas quais, no en
tanto, há muita relação com grandes inte rêsses espi rituais. I nstintivamente
está no desej o de todos que o homem de Deus paire acima das contin
gências práticas onde, não obstante, entra em combate a verdade evangélica.
Quem fará a aplicação dos princípios rel igiosos às ci rcunstâncias da
vida de cada dia? Quem fará penetrar a lei de C risto !)OS costumes duma
localidade ou dum oficio? Quem corrigirá o que aí estiver errado? Quem
defenderá o ideal cristão e a liberdade das almas na sociedade e no
meio das i nstituições cívicas? Quem, debaixo dos tetos das famílias, ve
lará pela observâ ncia das normas morais apregoadas no alto do p ú l
pito? Tão somente os leigos devidamente preparados, v ivendo em orga
nização e tornando-se, por tôda parte, agentes apaixonados, posto que
discretos e prudentes, do reino de Cristo.
Convém rÍ otar que o trabalho de difusão do cristianismo não se im
põe aos leigos somente n as regiões mais ou menos paganizadas, onde
não se tolera a presença do padre. Mesmo não havendo país a conquistar
o u a reconquistar para C risto, no sentido da extensão, há sempre algo
que fazer no sentido de p rofu ndeza.
Ouve-se falar que a obra da Ação Católica é u m esfôrço de penetra
ção. E esta tarefa consiste, não só em espalhar o Evangelho exterior
mente ; importa também, e mu ito, i mplantar a palavra divina internamente,
em meio dos que crêem e praticam, mas que nem sempre vivem no lar,
no ofício, nas relações sociais, conforme os princípios de C risto e da
I grej a.
Que golpe profundo n a causa católica, se se reconhecer serem os
elementos representativos do cristianismo menos entusiastas dos grandes
ideais da j ustiça e da caridade que os próceres de outras correntes?
Pesa sôbre a sociedade cristã a grande responsabil idade de realizar, em
seu viver, as mais subtis exigências da moral de Cristo. Quem poderá
instilar no Intimo das existências, e nos gestos aparentemente profanos,
o sôpro de Deus para que os cristãos notórios se tornem fotografias au
tênticas e exatas da divina fisionomia do Salvador? Naturalmente, aquêles
que estão na convivência dos pais, dos concidadãos, dos companhei ros de
trabalho e, por isso, podem reerguer ou orientar o mínimo movimento
das atividades quotidianas.
As di retrizes dadas pelo Santo Padre produziram admirável exu be
rância, em todos os ramos da Ação Católica. Uma dessas organizaçües,
a J . O . C . , mereceu de Pio X I o grande elogio de ser o tipo perfeito,
apresentando uma fórmula geni a l do movimento especializado, indispen
s ável para consegui r a verdadeira recristianização. O então Cardeal Pa
celli assim escreveu em nome de Pio XI : "O que visa a J . O . C . , sub-
1 088 Pelas revistas
Resumos
S. Roberto Belarmino e a Música Sacra. - Nem todos sabem que
S. Roberto Belarmino se distinguiu pela defesa empenhada que tomou da
música religiosa, qu ando esta, no seu século, se paga nizava, e no con
cílio de Trento, em 5 de agôsto de 1 562, muitos Prelados perguntavam
se não devia acabar na Igrej a a música figu rada, por serem grandes os
abusos e a profanação da tradição cristã. O paganismo do renasci mento
infi ltrara-se na música religiosa, fizera decai r o canto gregoriano, o ór
gão litúrgico e a polifonia clássica. Por outro lado, a corrente musical
suscitada pelo luteranismo e anglicanismo tomou preponderância, pois
o canto era principalíssimo no culto protestante, ou se tornou veículo
dos dogmas reformistas de Lutero, como j á acontecera com joão Huss.
S. ·Roberto não foi profissionalmente compositor, com tocar cra
vo e cantar, mas foi oportuno no que escreveu sôbre a música, e tenaz:
defensor desta arte, como jesuíta, como teólogo e como arcebispo.
Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 1 089
CRÔNICA ECLESIÁSTICA
DO BRASIL
D O ESTRANGEIRO
N ECROLOG IA
Monsenhor Conrado J ac a randá .
que com êle privavam, sem j amais fazer alarde do seu saber, que l he ·p er
mitiu escrever importantes obras conserv adas em manuscrito pela Compa-
,
nhia de jesus, o Padre josé Maria Natuzzi deixa um claro enorme no seio
do clero e saudade profunda entre os seus incontáveis amigos, sobremodo
abalados com o falecimento, por ainda no dia anterior, pela manhã, o emi
nente sacerdote aparentar saúde e se encontrar entregue aos seus afazeres.
talidade e docil idade aos princíp ios católicos. Apesar, porém, de ter sido
dotado de brilhante i ntel igência e cap acidade i ntelectual, Pe. Ludovico, como
verdadeiro sábio, foi um Religioso sincero e p rofundamente humilde, prefe
rindo sempre a vida oculta e de recol himento, às atividades que poderiam
evidenciar aos olhos do mundo o fulgor de sua e scl arecida ciência.
A P R E C I A-C Õ E S
lnstltutiones Theologlre Fundamentalls, a uctore ] o s e p h o M o r s, S. ] .
Tomus 1, De Revelatione chrlstlana. -Editôra Vozes Ltda., Petrópolis,
1943, 352 págs.
A s " l nstitutiones Theologire Fundamentalis" abrangem dois volumes.
este primeiro que trata d a divindade d a religião cristã e o segundo que
sairá em b reve, tendo por objeto, os tratados da I grej a e das Fontes
d a rev e l ação.
N ã o h á dúvida q u e o trabalho do Pe. Mors - com a p u b licação
das " l nstitutiones Theologire dogmaticre" , já completas, e agora com
o primeiro tomo das " l nstitutiones Theologire Fundamentalis" - repre-
72
1 1 08 Apreciações
E' esta, portanto, uma obra por vários títulos digna de leitura e que,
de certo, muito há de interessar, em todo o Brasil, áos padres e aos es
tudantes dos seminários. P. A . Oliveira
Prrelectlonum Bibllcarum
· Compendiam, a uctore P. J o h. Pr a d o,
C . SS . R . Tomus 1 . Propaedeutica. - Editorial EI Perpetu o Socorro,
Madri, 1 943, 272 págs. e 26 figs. Peset. 1 6.
Bste l ivro é a quarta edição da obra iniciada pelo Pe. Simón e que,
pelo esfôrço do infatigável Pe. Prado chegou a ser uma obra mestra
no terreno bíblico. Bste primeiro volume abrange a I n trodução geral, tra
zendo os tratados sôbre a i nspiração, a canonicidade, a integridade e a
interpretação da Sagrada Escritura. O primeiro tratado se d ivide em
três artigos : a existência d a I nspi ração, sua natureza e seus efeitos. O
terceiro se refere aos textos e versões e traz um interessante capítu lo
. sôbre as traduções para o castelhano e o utras línguas modernas. ( págs.
1 30- 1 37.) Não faltam as leis eclesiásticas vigentes sôbre a leitura da
Bíblia, nem tão-pouco as recomendações papais para ler diariamente um
trecho do Santo Evangelho. Os mapas e gravu ras se referem à geografia
e à arqueologia bíblica, em parte também aos códigos principais em que
se conserva a Palavra divina. O Clero pode congratular-se com o incansável
1 1 14 Apreciações
Autor que não visa outra coisa senão a glória de Deus e a intensificação
dos estudos bíblicos. Oxalá sej am dados à publicidade, num futuro
próximo, os volu mes seguintes. /. St.
B I BLIOGRAFIA
Esta secção registra a literatura, nas diversas Unguas, das ciências teológicas e
afins, enquanto de lnterêsse para os nossos leitores
Penldo, M. T.-L., Gloses sur Ia pro ção Pop. Formação Espiritual, vol.
cesslon d'amour dana la Trinitá. 17, Edltôra Vozes Ltda., Petrópo
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33-68. Cardoso, Tomás Lopes, O castigo
Puech, Léonard, M., O. F. M., Le corporal perante a Pedagogia e o
r6Ic du caractere sacramentei. - Direito Português. Livraria
Culture, Québec, 1943, pâgs. 200- Educação Nacional, Pôrto, 1942,
210, 358. 203 pâgs.
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Virgo Ma.ter. Gregorlanum , cativo del canto popular. - Rev.
1937, pâgs. 3-29. Llt. Argentina, Buenos Aires, set.
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Solesmes. - Institut des Salnts 1942, 175 págs.
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apostólica dos leigos. - A Ordem, Paris, Edftlone Spee, 1984. Rélm
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Bastos, Mona. Francisco, O Evan Costa, Dr. Joaquim, Bibliotecono
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milias ( radiofônicas ) . - Edltôra Pôrto, 1943, 131 págs.
Anchieta Ltda., São Paulo, 1942, Couturler, Marie Alaln, Arte y Ca
292 pâgs. Cr $ 12,00 . tolicismo. Difuslón Chilena,
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professlon rellgleuse. Eph. Crenler, D. Léonce, O. S. B., Le
Theol. Lov., 1937, pâgs. 5-32. jeune chrétlen devant Ie mlnlstere
Bernardo, Héctor, El reglmen corpo d e sanctlflcatlon de l'Egllse. -
rativo y el mundo actual. Cahlers d'Actlon Cathollque, 1943,
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Rosário. - Ed. Mensageiro do canto gregoriano. - Rev. Blbllca,
Rosário, Rio, 1943, 294 págs . La Plata, set.-out. 1943, pâgs. 285-
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thentlca Codlcls Jurls Canonicl. - Ferreira, Dr. Antônio, O Casamento
Jus Pontlf., 1936, págs. 217-256. segundo a Concordata. Anotações
Bressane de Araujo, D. Hugo, O Sa ao decreto-lei n. 30 . 615 . - Lisboa,
grado Coração de Jesus. - Cole- 1942, 180 págs.
Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 3, fase. 4, dezembro 1 943 1 1 21
REVISTA BtBLICA
com Secção Litúrgica e Ho m ili a s para os domingos e fest a s
Direlor : .Mo ns. D r. J u a n Straub i n g e r, Prof. de S a g r . Escritura no Semin ário
de La P l a t a . órgão bi m e s t r a l i l ustrado, ú n ico em seu gênero
·
na Am érica do Sul
A Revista t e m p o r objeto : Fo m e n tar a com preensão das Sagradas
Escri turas ; promo ver os estudos ex e g é ti c os ; orientar para Cristo m ediante
sua Palavra e a L itu r gia d a I g rej a .
Assinatura anual : A r g e n t i n a �$ a rg. 5 ; Bolívia - $ boi. 40 ;
B ra s i l - Cr $ 20,00 ; C o l ô m b i a - $ c o l . 2 ; C h i l e - $ c h i l . 25 ; E q u a dor
- 1 5 sucres ; Paraguai - $ p a r. 300 ; Peru - 6 soles ; U r u g u a i -
$ ur. 2.50 ; Estàdos U n i d os N. A. e Mé x i c o - dól ares 1 .25 ; Espa n h a
- 1 2 pes.
Representantes d a "Revista Bíblica" no exterior : B O LI V I A , R. P. Clem ente
M a u rer, c a s . 3 1 , _Tuplza. - Brasil : Tipografia do Cen trç, caixa postal 1 080
Pôrlo Alegre, Rio Gr. do S ul. - C O L O M B I A : R . P. Teodoro Wilhelm, Pro
fessor cio S e m i n á ri o, Cali. - CHI LE : Sr. Miguel S ie b er , Barros Luco 3078,
Sail tfago. - M É X I CO : " B u e n a Pren�a", Apartado 2 1 8 1 , Mé xi co , D. F. -
PAl�A O U A I : Professor O. T a b o r, Méj i c o 473, Assunción. - PERU : R. P.
J u a n Le ugeri ng, c a l l e Ma rco ni, 1 80, Lima, O rrant l a. - URUGUAI : Apos
tol a d o L i t úr g i c o , Paisa n a ú , 759 , Montevidéo.
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