“A missão vital do conhecimento comporta assim a dupla, contraditória e
complementar exigência: simplificar e complexificar, e as estratégias cognitivas devem combinar, alternar, escolher a via da simplificação e a via da complexificação.” Edgar Morin
Ter a pretensão de explicar o que é a epistemologia da complexidade seria
um exercício muito semelhante à prática científica tradicional, que tudo procura explicar, e se explica, o faz de modo simplificador, mutilando a realidade supostamente explicada e desconhecendo seus próprios limites elucidativos, bem como a necessidade de alternância entre simplificação e complexificação, como diz Morin. Embora sempre que pensemos em explicação, estejamos relacionando isso ao conhecimento científico já consagrado e experimentado até pelas “pessoas comuns”, ou seja, o conhecimento acumulado pelas ciências físico-químicas, a pretensão à explicação também acontece nas chamadas ciências humanas. Ocorre que nas ciências que chamamos de físico-químicas, a necessidade da explicação parece mais contundente. Sendo seu objeto de estudo considerado (geralmente de forma equivocada) estático, é possível a elaboração de fórmulas, “aproximações” o mais possível “exatas” etc. É Walter Trinca que diz com muita propriedade que o mundo está em constante processo de transformação, logo, “a significação das coisas não é fixa”. Entretanto, mesmo nessas ciências, que durante muito tempo e até hoje são até chamadas de exatas, descobriu-se que existe a incerteza. Heisenberg “descobre” o princípio da incerteza estudando a luz: a luz é composta de ondas ou partículas? Pode parecer inútil responder a essa pergunta, porém, não se conseguiu, seja através da técnica ou através do conhecimento científico estabelecido, resolver essa questão que certamente terá implicações tanto sobre o mesmo saber científico, como poderá responder, aí segundo o pensamento tradicional, uma série de questões relacionadas. Daí que o método utilizado pelos físicos que estudam a mecânica ondulatória ou a termodinâmica, terá de passar pelo processo de complexificação e simplificação para que chegue a uma suposta explicação do fenômeno. Seria interessante responder ao problema da luz da seguinte maneira: se a luz for quente, será onda, mas se incidir sobre um corpo feminino, partícula, porém, se o homem que estiver ao lado for triste, onda, mas se negro, partícula, se pobre, fragmentos, se rico, onda e partícula, se o lugar for aberto, onda, se fechado, bem é necessário criar outro termo para definir essa situação específica etc. etc. etc. Uma série de fenômenos estariam interagindo, necessitando de explicações e pergunta, gerando explicações e pergunta, e fazendo parte do mesmo “objeto”de estudo: a luz. Ao fim não teríamos uma explicação, necessariamente, mas um elenco de indagações, outro bem menor de possíveis respostas, e uma consciência tácita das limitações dessas resposta. Seria, talvez, um equívoco e uma simplificação (embora um pouco complexa) de minha parte, dizer que isso é a epistemologia da complexidade, mas é uma forma como vejo a complexidade hoje. Também não creio que trata-se apenas de reconhecer a “precariedade do material teórico disponível para dar conta da totalidade dos fenômenos”, pois isso até pressupõe uma condição de estágio de acumulação do conhecimento. Essa disponibilidade não precária será alcançada então? Será apenas uma questão de tempo? A complexidade não é temporal. Aliás “a complexidade é uma palavra problema, e não uma palavra solução”, como bem colocaram nossos parceiros de viagem, animadores do respectivo seminário, em seu texto. E voltando a Walter Trinca (A Imaterialidade e o Espírito Científico, in Novo Pacto da Ciência, citações extraídas do texto apresentado pelo grupo) para discutir esse problema, ele diz também que o cientista deve estar aberto às surpresas dos momentos em que a realidade se transforma, exigindo novas problematizações. “Deve estudar os fenômenos como experiência e não como saber, deve não aprisionar os fenômenos em estruturas e conceitos pré-definidos da própria ciência”. Bem, dentro dessa problemática da complexidade, é Cremilda Medina que apresenta uma estratégia complexa de produção de sentidos na comunicação social. Para isso resgata noções apresentadas por físico contemporâneos, propondo a passagem a uma nova noção complexa. Por exemplo, da noção de sujeito e objeto, passa-se à noção de sujeitos intercondicionantes, num processo de reversibilidade. Diversas noções são resgatadas nesse sentido “alternativo” visando evitar o reducionismo e o empobrecimento simbólico. Bem, seria eu injusto e reducionista ao tocar nesse tema sem falar em Cremilda Medina, por tratar-se de um tema central em sua trajetória profissional/acadêmica. Por outro lado, também é muito difícil falar desse tema para Cremilda Medina, por isso, pretendo falar mais dessa pessoa e quem sabe de sua trajetória, que acaba de “colidir” com a minha e a de outros companheiros da agradável viagem desse primeiro semestre de 97, no ensaio final.