Sumário
1. Introdução. 2. Conceito de direitos huma-
nos. 3. Breve história dos direitos humanos. 4. Os
direitos humanos no pensamento jurídico con-
temporâneo. 5. Os direitos humanos e a tradição
constitucional brasileira. 5.1. Direitos humanos e
preceitos constitucionais historicamente solidifi-
cados. 5.2. Os direitos humanos e a Constituição
Imperial. 5.3. A primeira Constituição Repu-
blicana e os direitos humanos. 5.4. Os direitos
humanos e a primeira fase da Revolução de 30.
5.5. A Constituição de 34 e os direitos humanos.
5.6. Os direitos humanos no Estado Novo. 5.7.
1946 e a volta do estado de direito. 5.8. Os direitos
humanos na primeira fase da ditadura. 5.9. Os di-
reitos humanos e a Constituição de 1967. 5.10. Os
direitos humanos sob o Ato Institucional no 5. 6.
A vinculação histórica dos direitos humanos com
o Poder Judiciário. 7. Dos meios de proteção aos
direitos. 7.1. Garantias de regulação. 7.2. Garan-
tias de controle e fiscalização. 7.3. Garantias de
interpretação. 7.4. Garantias internas ao direito.
7.5. Garantias judiciais. 8. Conclusão.
1. Introdução
Este artigo é um trabalho produzido em
conjunto, tendo como autor um professor
do Mestrado em Direito da Universidade
Federal do Espírito Santo e como co-autor
um mestrando, orientando do professor.
João Baptista Herkenhoff é Juiz de Direito
Co-autor, como ensina o dicionarista
aposentado, Professor do mestrado da UFES, Antônio Houaiss, é “o que faz ou produz,
mestre pela PUC/RJ, Livre Docente da UFES, pós- com outro, determinado trabalho ou obra”.
doutor em Havard (EUA) e Rauen (França). Não há assim uma gradação de valor entre
Antonio Côrtes da Paixão é Juiz de Direito no autor e co-autor, ressalva que o autor faz
Estado do Espírito Santo, mestrando pela UFES. questão de inserir nesta introdução.
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A produção de trabalhos, em parceria, fundamentais”, são aqueles direitos que o
por professores e mestrandos está dentro homem possui pelo fato de ser homem, por
do espírito com o qual foi concebido o sua própria natureza humana e pela digni-
Mestrado em Direito da UFES. dade que a ela é inerente (HERKENHOFF,
Com este texto, pretende o autor, com a 2002, p. 19). Tais direitos não resultam de
colaboração do co-autor, resgatar, atualizar concessão da sociedade política, mas esta
e ampliar um ensaio publicado no número tem o dever de reconhecê-los, consagrá-los
7 da revista “Encontros com a Civilização e garanti-los porquanto nenhuma socieda-
Brasileira”, que veio à luz em janeiro de de se justifica se não zela pelo bem-estar
1979, com o título “Os Direitos Humanos dos indivíduos.
e sua Proteção Jurisdicional”.
Nesse ensaio defendeu o autor a tese da 3. Breve história dos direitos humanos
diferença entre “preceitos constitucionais
meramente formais” e “preceitos constitu- A evolução do pensamento filosófico,
cionais históricos ou solidificados”. jurídico e político da humanidade, por-
No momento da vida brasileira em que tanto, da própria humanidade, resultou
o ensaio apareceu, a defesa dessas idéias não só no reconhecimento e consolidação
era particularmente importante porque de diversos direitos humanos, como no
“preceitos constitucionais históricos ou so- próprio conceito deste.
lidificados”, como o ensaio defendeu, eram Um “sobrevôo” pela história permi-
as garantias constitucionais conquistadas te visualizar direitos atribuídos a seres
ao longo da vida política do país, pela luta, humanos – direitos humanos em sentido
pela resistência, pelo martírio. Por sua vez, amplo – desde a Antigüidade, no Código
os “preceitos constitucionais meramente de Hamurabi (Babilônia), na filosofia de
formais” (gerados pelos atos institucionais) Mêncio (China), na República de Platão e
eram aqueles que, sem radicação na história no direito Romano, embora precários, haja
brasileira, eram simplesmente determina- vista a ausência de limitação de poder do
dos pelos que detinham o poder. Estado em relação ao indivíduo.
Os “preceitos constitucionais históricos Embora Aristóteles haja definido “cons-
ou solidificados”, segundo a tese que o tituição”, o constitucionalismo, em razão
texto original defendeu, apontavam para da mencionada limitação, só teve início
o Brasil o caminho da Democracia. na Inglaterra, tendo como marco a Carta
A revista Encontros com a Civilização Magna de 1215, imposta ao rei João Sem
Brasileira, fundada e dirigida pelo saudoso Terra pelos bispos e barões. Nela foram
Ênio Silveira, foi um símbolo da resistência consignados limites ao poder do Rei, entre
democrática num período em que nosso eles, o “habeas corpus”.
país estava submetido à ditadura. Publi- Eventuais direitos antes reconhecidos
cando este ensaio naquela revista, o autor, em documentos ingleses a homens comuns
que era na oportunidade magistrado da – vassalos – não passavam de direitos de
ativa, no Espírito Santo, juntava sua voz estamentos reconhecidos pelo rei – suse-
à voz de todos aqueles que lutavam pela rano – que se comprometia a respeitá-los
supressão do arbítrio, pela anistia e pela em contratos feudais. Porém, deve ser re-
constitucionalização do país. conhecida a importância de tais contratos
pela influência que irradiou para outros
grupos dominantes e outras categorias de
2. Conceito de direitos humanos súditos1. Os direitos assim reconhecidos
“Direitos humanos” ou “direitos do 1
Cf. Magna Carta, art. 20 e 39 in O direito de ser ho-
homem”, também denominados “direitos mem, Seleção de textos organizada por Jeanne Hersch,