Pág. 331 – As ligações íntimas entre religião e política durante muito tempo foram desprezadas
pela história do político, que se interessava sobretudo pelas relações entre as Igrejas e o Estado
e pelos períodos de crise. (...) Hoje, as forças religiosas são levadas em consideração como fator
de explicação política em numerosos domínios. Elas fazem parte do tecido do político,
relativizando a intransigência das explicações baseadas nos fatores socioeconômicos.
“A história religiosa não é mais estritamente eclesiástica ou apologética, ela se estende a todos
os domínios da vida religiosa e de suas expressões culturais e sociais, apreende a permanência
e a mudança da Igreja numa sociedade em transformação” citação 3
Como corpos sociais, as Igrejas cristãs difundem um ensinamento que não se limita às ciências
do sagrado e aos fins últimos do homem. Toda a vida elas pregaram uma moral individual e
coletiva a ser aplicada hic et nunc; toda a vida elas proferiram julgamentos em relação à
sociedade, advertências, interdições, tornando um dever de consciência para os fiéis se
submeter a eles. Definitivamente, nada do que concerne ao homem e à sociedade lhes é
estranho, mesmo que de uma época para outra a insistência em certos preceitos tenha
eclipsado outros.
Pág. 335 No entanto, o religioso informa em grande medida o político, e também o político
estrutura o religioso.
Pág. 336 Historiadores e sociólogos estabeleceram correlações bastante estreitas entre prática
religiosa e atitudes políticas. Podemos nos espantar que o simples praticante, que tem como
único alimento o culto ou a missa semanal, seja modelado pelo ensinamento da Igreja a ponto
de nele se inspirar em suas condutas sociais e políticas.
A própria missa semanal, ou o culto, é carregado de influência em função de seu efeito repetitivo
e sua valorização afetiva. (...) A homilia, os cantos, a prece universal são assim atualizações da
mensagem que reúnem os crentes na sua vida quotidiana. (...) sob a luz do ensinamento sobre
a unidade em Cristo, eles adquiriram a certeza de que a paz entre os homens, a reconciliação e
a união eram valores supremos, diante dos quais o combate político, que implica confronto e
lutas, aparece como um mal, um lugar onde se “sujam as mãos”. 17
Os cristãos adquirem um sistema de valores muito profundamente interiorizado que subtende
suas atitudes políticas.
Pág. 344 Enquanto as declarações episcopais são uma constante da história da Igreja, uma nova
forma de expressão organizada dos cristãos apareceu no século XX: os movimentos leigos. Sem
dúvida, os séculos passados conheceram uma multiplicidade de obras dirigidas por notáveis e
de associações de caridade, mas os movimentos confessionais são de uma outra natureza.
Criados e animados por leigos, mesmo que pastores e capelães exerçam neles uma função
importante, são representativos das aspirações espirituais e humanas de seus membros. Os
movimentos como tais são lugares de formação total, particularmente cívica, extremamente
rica pois que ela se encarna em ações concretas desenvolvidas em comunidades. Suas
atividades, que em geral não comportam engajamentos políticos, a não ser em períodos
excepcionais, ultrapassam em muito o quadro de seus membros; são com frequência
reconhecidos como corpos representativos pelos poderes públicos.