ATUALIZAÇÕES
ANTECEDENTES
A preocupação com os fatores psicossociais de risco no trabalho (FPRT) não é
nova e começa a ser mais bem sistematizada na década de 1970 quando a World Health
Organization realiza um fórum interdisciplinar em Estolcomo para discutir a influencia
dos fatores psicossociais na saúde, formular medidas e propor políticas de saúde,
inclusive baseadas nestes fatores (WHO, 1976). Já na década de 1980 a Organização
Internacional do Trabalho e a OMS publicam um documento chamando a atenção sob
os efeitos adversos dos fatores psicossociais relacionados ao trabalho (ILO, 1986).
No documento, havia concordância das duas organizações sobre o crescimento e
progresso econômico não dependerem apensa da produção, mas também das condições
de vida e trabalho, saúde e bem estar dos trabalhadores e seus afirmando que não apenas
os riscos de natureza física, química e biológica tinham importância, mas vários fatores
psicossociais de risco no trabalho.
Desde então, houve um avanço significativo no conhecimento cientifico, sobre
as influencias das interações entre esses elementos e os efeitos da saúde. Nas duas
últimas décadas, pesquisas sobre fatores psicossociais de risco no ambiente de trabalho
têm produzido um grande corpo de pesquisa empírica e teórica (THEORELL, 1998).
DEFINIÇÕES
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) (ILO, 1986) definiu risco
psicossocial em termos da interação entre conteúdo do trabalho, organização do trabalho
e gerenciamento, e outras condições ambientais e organizacionais, por um lado, e
competências e necessidades dos empregados, de outro. Para a OIT, os Fatores
Psicossociais do Trabalho compreendem os aspectos do trabalho em si e do ambiente,
tais como: o clima ou cultura da organização; as funções laborais; as relações
interpessoais no trabalho; a forma e o conteúdo das tarefas (variedade, alcance, caráter
repetitivo, significado) (SAUTER et al., 1998). Além disso, compreendem também o
ambiente externo à organização (e.g., situações domésticas) e os aspectos do indivíduo
(e.g., personalidade e atitudes).
Cox e Griffiths (1995, p. 23) afirmam que os riscos psicossociais no trabalho
podem ser definidos como “todos aqueles aspectos do desenho e gerenciamento do
trabalho e os contextos social e organizacional que têm potencial para causar dano físico
ou psicológico”.
Segundo Guimarães (2013), os Fatores Psicossociais de Risco no Trabalho
(FPRT) podem ser entendidos como aquelas características do trabalho que são
“estressoras”, isto é, que implicam em grande exigência e são combinadas com recursos
insuficientes para seu enfrentamento. Para a autora também podem ser entendidos como
as percepções subjetivas dos fatores de organização do trabalho, resultantes das
características físicas da carga, da personalidade do indivíduo, das experiências
anteriores e da situação social do trabalho.
No Manual da ISASTUR [s.d.] os fatores psicossociais podem ser definidos
como:
[...] aquelas características das condições de trabalho e, sobretudo, da sua
organização que afetam a saúde das pessoas através de mecanismos psicológicos e
fisiológicos a que também chamamos de stress. (MÉTODO ISTAS21 apud MANUAL
DA ISASTUR, [s.d.], [online]).
O ambiente psicossocial no trabalho engloba a organização do trabalho e as
relações sociais de trabalho. Fatores psicossociais no trabalho são aqueles que se
referem à interação entre e no meio ambiente de trabalho, conteúdo do trabalho,
condições organizacionais e habilidades do trabalhador, necessidades, cultura, causas
pessoais, extra trabalho que podem, por meio de percepções e experiência, influenciar a
saúde, o desempenho e a satisfação no trabalho (OIT, 1984).
Para o National Institut of Occupational and Safety Health (NIOSH, 1988), os
FRPT podem também ser definidos como aquelas características do trabalho que
funcionam como “estressores”, ou seja, implicam em grandes exigências no trabalho,
combinadas com recursos insuficientes para o enfrentamento das mesmas
Neste contexto, o conceito de fatores psicossociais do trabalho introduz aspectos
subjetivos na gestão dos riscos ocupacionais, em contrapartida aos aspectos
considerados objetivos, com os quais os profissionais da segurança e da saúde
ocupacional estão naturalmente mais familiarizados.
Os fatores psicossociais podem ser definidos como os fatores que derivam da
psicologia do individuo, da estrutura e da função da organização do trabalho e
influenciam a saúde e o bem estar do individuo e do grupo (RODRIGUES, 2012)
Os FRPT provocam tanto danos psicológicos no indivíduo, e.g., diminuição da
motivação para o trabalho, irritabilidade, estresse, burnout, etc., como conseqüências
negativas nas organizações, e.g., diminuição do rendimento, absenteísmo e acidentes de
trabalho, da rotatividade, aumento de custos diretos e indiretos, deterioração da imagem
institucional, mal ambiente psicológico nos locais de trabalho, aumento das situações de
conflito, greves e agressões, entre outras.
Guimarães (2013) afirma que os fatores psicossociais de risco caracterizados
pela urgência de maior produtividade, redução de contingente de trabalhadores, pressão
do tempo e complexidade das tarefas, aliados a expectativas irrealizáveis e relações de
trabalho tensas e precárias, podem gerar tensão, fadiga e esgotamento profissional,
constituindo-se em fatores responsáveis por situações de estresse relacionado ao
trabalho e consequente prejuízo na saúde mental.
Os riscos acima são riscos emergentes porque (i) aumenta cada vez mais o
numero de pessoas expostas (freqüência); (ii) são cada vez mais graves as suas
consequencias: (para os indivíduos, para as organizações e para a sociedade, (iii) é cada
vez maior a percepção social pública para este tipo de risco.
Embora ainda não estejam completamente estabelecidos os fatores psicossociais
de risco no trabalho e os fatores de proteção para saúde psíquica do trabalhador, já
existe uma ampla literatura relacionando fatores da organização do trabalho com a
etiologia dos agravos psicoemocionais relacionados ao trabalho (MOON, 1999).
Existem diversas classificações e significados dos riscos psicossociais (PEIRÓ,
1999) que podem ser categorizados em dois tipos:
1) estressores ou demandas laborais (grifo nosso)- entendidos como aspectos físicos,
sociais e organizacionais que requerem manutenção do esforço e estão associados a
certos custos fisiológicos e psicológicos (e.g., esgotamento). Algumas exigências
psicossociais são a sobrecarga quantitativa (e.g., ter sobrecarga de trabalho a ser feito
num período de tempo determinado) ou o conflito de papéis (e.g., ter que responder a
demandas que são incompatíveis entre si);
(2) (falta de) recursos pessoais e laborais (grifo nosso)- são aspectos físicos,
psicológicos, sociais e organizacionais que são funcionais na consecução das metas:
reduzem as demandas laborais e estimulam o crescimento e desenvolvimento pessoal e
profissional
Guimarães (2006) aponta dois tipos de recursos: os pessoais e os laborais. Com
relação ao primeiro aspecto, os mesmos se referem às características individuais, como
a auto-eficácia profissional ao segundo aspecto. Os segundos são, entre outros, o nível
de autonomia no trabalho, a retroalimentação sobre as tarefas realizadas e a formação
que a organização proporciona ao trabalhador. Cita alguns principais exemplos de riscos
psicossociais, conforme o Quadro 1 a seguir:
1) COM A TAREFA
Conteúdo e significado do trabalho: o trabalhador sente que a tarefa desenvolvida não é útil
para a sociedade em geral nem lhe oferece a possibilidade de aplicar e desenvolver os seus
conhecimentos e capacidades.
Carga de trabalho: as exigências do trabalho superam a capacidade do sujeito para responder
às mesmas (sobrecarga), ou, pelo contrário, a realização das tarefas apresenta poucas exigências
ao trabalhador (infra carga).
Autonomia: a falta de autonomia (ex.: impossibilidade de controlar a duração e distribuição das
pausas, impossibilidade de influir na ordem das tarefas, etc.) traz menor envolvimento do
trabalhador na organização, afetando a sua motivação, gerando insatisfação e reduzindo o seu
rendimento no trabalho.
Grau de automatização: na maioria dos processos automatizados, a organização e o ritmo de
trabalho dependem do equipamento, limitando a tarefa do trabalhador a uma série de operações
rotineiras e repetitivas. Pode ocorrer igualmente um empobrecimento das relações pessoais e
das possibilidades de comunicação com outros trabalhadores, aparecendo o risco de isolamento.
1
http://www.arbnejdsmilijoforskning.dk/
Conditions and control Questionnaire2, FPSICO–Cuestionario de evaluación de riesgos
psicosociales3 e o Modelos HSE Indicator Tool4 (2004).
A gestão dos fatores psicossociais de risco constitui não só uma obrigação moral
e um bom investimento para as entidades empregadoras, que pode ser reforçado por
acordos- com os parceiros sociais. Reconhecer a mutação das solicitações e a
intensificação das pressões no local de trabalho e incentiva as entidades empregadoras a
implementar medidas voluntárias suplementares para a promoção do bem-estar mental.
Embora as entidades empregadoras tenham a responsabilidade legal de assegurar
a avaliação e o controlo adequados dos riscos no local de trabalho, é essencial garantir
também o envolvimento dos trabalhadores. Os trabalhadores e os respectivos
representantes têm uma melhor percepção dos problemas que podem ocorrer no local de
trabalho. A sua participação garantirá que as medidas aplicadas sejam adequadas e
eficazes.
Uma campanha de inspeção sobre as questões psicossociais, que já é feita na
União Européia (ISLE, 2012) poderia, em nosso meio, ser direcionada ao setor da
saúde, (instituições públicas, privadas, cooperativas, instituições particulares de
solidariedade social, centros de reabilitação hospitalar e unidades de cuidados
continuados), com internamento e com objetivo promover a avaliação dos riscos
psicossociais nos locais de trabalho, e incrementar a melhoria da qualidade das
avaliações de riscos existentes.
Neste sentido o Comitê dos Altos Responsáveis da Inspeção do Trabalho (SLIC,
2012), com o apoio da União Européia (UE) recomenda centrar as análises nas
condições psicossociais de trabalho, ter por base um enfoque mais coletivo do que
individual, envolver a participação de todos (trabalhadores e gestão) e desenvolver e
aplicar metodologia e técnicas específicas. Neste sendo, o referido comitê desenvolveu
alguns intrumentos, visando os objetivos acima e que podem ser acessados em
português5
As mudanças requeridas nos ambientes de trabalho ao longo do tempo e do
lugar, mais a heterogeneidade dos ambientes psicossociais do trabalho para as diferentes
ocupações são um objetivo almejado.
A OSHA (2012) refere como medidas que as empresas têm empreendido para
lidar com os riscos psicossociais, em porcentagem: ações de formação (58%, alterações
na forma como o trabalho é organizado (40%), remodelação da área de trabalho,
alterações às disposições do horário de trabalho, aconselhamento confidencial para
trabalhadores, implementação de um procedimento para resolução de conflitos. Pode-se
observar, no entanto, que as medidas mais tomadas não dependem de modificações na
estrutura da organização do trabalho.
É necessário monitorar e melhorar constantemente os ambientes de trabalho
em nível psicossocial, a fim de criar empregos de qualidade e assegurar o bem-estar dos
trabalhadores. Ao desenvolver um modelo integrado de monitoramento de riscos
psicossociais, vários critérios devem ser levados em conta:
2
http://www.woccq.be
3
http://www.insht.es/
4
http://www.hse.gov.uk.stress/standards/downloads.htm
5
Comitê dos Altos responsáveis da Inspecção do Trabalho (SLIC). www.av.se/slic2012
Identificar os indicadores de exposição (e.g., fatores de riscos
psicossociais) resultados de ações preventivas intervenções)
Ilustrar o processo ciclico da gestão de riscos psicossociais;
Identificação das lacunas entre os indicadores disponíveis, que são
considerados necessários para o monitoramento de riscos psicossociais
no trabalho, e o processo de gestão de riscos psicossociais.
Fatores Impacto
sociais social
ssoc Impacto
Fatores organizacionais Estresse
organizacional
(incluindo os FPRT) ocupacional
REFERENCIAS
COX, T.; GRIFFITHS, A. The nature and measurement of work stress: theory and
practice. In: WILSON, J. R.; CORLETT, E. N. (Orgs.). Evaluation of human work: a
practical ergonomics methodology. London: Taylor & Francis, 1995.
GIL-MONTE, P. R., & PEIRÓ, J. M. Validez factorial del Maslach Burnout Inventory
en una muestra multiocupacional. Psicothema, 11 (3), 679-89, 1999.
HANSSON, S. O. Setting the Limit: Occupational Health Standards and the Limits of
science. Oxford University Press, 1998.