1. O caso banal: Amanhã eu trago ela para a minha casa aqui na Lapa.
2. Um caso a se pensar: Ontem, eu fui ao cinema, mas vi o filme.
3. Pensando de outro ângulo: X guarda 70% do salário que ele ganha.
Ele é econômico ou é muquirana?
4. O próximo pode chocar os/as mais sensíveis...
Ou empolgar...
O problema da ancoragem
na significação:
a enunciação
5. E o que dizer desta situação?
1. Estruturação máxima: não há agência; ela é apenas uma ilusão. As coerções discursivas, de origem histórica, falam por
meio de nós. Visão do indivíduo como ‘caixa de ressonância’. Terminologia: sujeito [assujeitado].
2. Estruturação + agência: concebe-se a possibilidade de o indivíduo construir, discursivamente, a realidade ao mesmo
tempo em que se concebe que ele é constrangido pelas estruturas discursivas, de origem sócio-histórica. O processo de
subjetificação [tornar-se sujeito] decorre de sua inserção em redes de práticas sociais. Nesse sentido, um indivíduo
pode ser diferentes sujeitos, pois sujeitos, no fundo, são posições em práticas, mas as práticas determinam seu modo
de discursivização. Contradições de posicionamento geram a resistência.
3. Estruturação + agência: reconhece-se, concomitantemente, o papel coercitivo dos condicionamento sócio-históricos (e
cognitivos) e valoriza-se a capacidade de agência e a possibilidade de resistência, empoderamento, mobilização,
estratégia. Também é central a posição do indivíduo na rede de práticas, sendo inclusive o nó por meio do qual a
mudança pode emergir. As práticas são vistas como inerentemente contraditórias. Terminologia: ator social.
4. Agência máxima: não há estruturação; o indivíduo é plenamente consciente e escolhe, deliberadamente, os recursos
que usará. O ouvinte/leitor tem clareza acerca dos modos como interpreta. Tem-se um agente estratégico.
1 -- Pêcheux II -- 2 Pêcheux III / Foucault / Maingueneau / Bakhtin -- 3 Fairclough / Van Dijk / Pragmática II -- 4 Retórica / Pragmática I
Modelo tridimensional de análise discursiva
[Fairclough (2003); Chouliaraki & Fairclough (1999)]
Estrutura
Língua
Social
Prática Ordem do
Social discurso
Evento
Texto
Social
Engendramento Inculcação
Ordem
do Interdiscurso
Discurso
gêneros (padrões estilos (padrões
de agir) de ser)
*Cuidado: Há dois usos diferentes do termo discurso. O Discurso entendido de forma ampla, como prática de geração de sentido,
como coerção estrutural sobre produção e interpretação do sentido, e o discurso, como padrões de representação da realidade,
como o discurso neoliberal, o discurso machista, o discurso de esquerda.
Modelo tridimensional de análise discursiva:
entendendo interdiscursividade e intertextualidade
A interdiscursividade diz respeito à relação constitutiva de um enunciado com a
rede de enunciados que lhe antecedem e sucedem em cadeias de associação,
confrontação, concordância, discordância, complementação, resistência. Todo
texto é socialmente estruturado e socialmente estruturante. A sua estruturação
decorre de sua ligação com padrões semióticos prévios: gêneros, estilos,
discursos. A esse condicionamento denomina-se interdiscursividade. O
interdiscurso é, portanto, o conjunto de discursos, gêneros e estilos que circula
em diferentes ordens do discurso, em complexas relações uns com os outros -
memória social (Fairclough; Pêcheux; Halbwachs; Koch).
Texto
Dimensão Dimensão
referencial léxico-
gramatical
Dimensão
multimodal
Sobre discurso: em resumo
Em resumo, pode-se dizer que “o discurso é encaixado socialmente,
constituído pela história e desenvolvido interacionalmente. Além disso, é
constitutivamente dialógico, cognitivamente (re)construído e materializado
na forma de texto em distintas modalidades semióticas. Por fim, é
atravessado por padrões de representar, agir e ser” (GONÇALVES-SEGUNDO
& ZELIC, no prelo).
Sobre a Análise Crítica do Discurso
Estudos Críticos do Discurso Norman Fairclough; Ruth Wodak; Carmen Rosa Caldas-Coulthard; Teun van Dijk; Gunther
Kress; Emília Pedro; Theo van Leeuwen; Paul Chilton; Christopher Hart.
No Brasil Viviane Heberle; Izabel Magalhães; Viviane Ramalho; Viviane Resende; Iran Melo; Denize Elena Silva; Karina
Falcone; Célia Magalhães; Maria Lúcia Andrade; Zilda Aquino; Paulo R. Gonçalves-Segundo.
Para Fairclough (2010), a ACD possui três propriedades básicas: ela é dialética, relacional e transdisciplinar.
1. Ela é relacional, uma vez que o foco da abordagem não reside apenas na língua, no texto, nos indivíduos ou nos objetos,
mas sim, nas redes de práticas, nas ações que envolvem atores posicionados em contextos sócio-históricos e situacionais
nos quais significados são construídos e negociados interacionalmente. Tais significados, por sua vez, estruturam modos de
ser, agir e representar que passam a se configurar como parâmetros e modelos interdiscursivos associados à continuidade
da práxis. Em consequência disso, a atividade linguística passa a ser estruturada por esses mesmos modelos.
2. Ela é dialética, na medida em que não é possível conceber o discurso como uma categoria discreta, plenamente
separável das relações de poder e solidariedade, por exemplo. Se o foco da ACD encontra-se nas relações sociais mediadas
pela semiose, entender o discurso como categoria discreta é isolá-lo do seu potencial socialmente estruturado e
estruturante. O poder é, frequentemente, legitimado por meio do discurso, embora não seja a ele limitado. Uma categoria
se imbrica na outra. A questão ideológica é um claro exemplo de tal complexidade.
3. Por fim, a ACD também é transdisciplinar, na medida em que não se limita apenas à análise do texto propriamente dito
— muito embora esta consista em uma etapa metodológica a ela inerente —, mas preconiza, especialmente, o exame das
relações dialéticas entre o discurso e as práticas sociais e entre o discurso e os recursos semióticos. Tal abordagem
requisita, segundo o autor, o ofuscamento de fronteiras rígidas entre as diversas disciplinas.
Para mim, a ACD não é ainda transdisciplinar; ela é multidisciplinar – quem sabe, interdisciplinar.
Sobre a Análise Crítica do Discurso
Fairclough (2010: 10-11, tradução livre)
[A ACD] não é apenas uma análise do discurso (ou mais concretamente de textos). Ela é parte de alguma
forma de análise sistemática transdisciplinar das relações entre o discurso e outros elementos do processo
social.
Ela não é apenas um comentário geral sobre o discurso. Ela inclui alguma forma de análise sistemática de
textos.
Ela não é apenas descritiva, ela também é normative. Ela se volta a mazelas sociais [social wrongs] em seus
aspectos discursivos e a possíveis formas de mitigá-las ou corrigi-las.
Etapas de análise:
1. Descrição dos textos.
2. Interpretação da prática discursiva.
3. Explanação dos processos de estruturação sócio-histórica, cultural e/ou psicológica.
Reflexões iniciais sobre DESCREVER, INTERPRETAR e EXPLICAR