Uma outra questão levantada: De quem originaria minha existência? Descartes irá
analisar estas possíveis origens da sua existência. Elimina logo de início a possibilidade
da origem da existência partir do próprio eu, pois, com certeza, se o eu fosse o autor do
ser, o pensador não duvidaria de nada, não desejaria nada, não lhe faltaria perfeição
alguma; "pois eu me teria concedido todas aquelas (perfeições) das quais possuo
alguma idéia e, assim, seria Deus" - Dizia Descartes. Chega ele a conclusão inevitável
de que a sua própria existência enquanto sujeito pensante deriva de um ser mais
perfeito que ele, pois só assim teria ele as concepções “perfeitas” de atributos que
nele, como homem imperfeito, não poderia as achar em si.
De fato, Descarte confessa que não a recebeu dos sentidos, nem é uma pura produção ou
ficção do seu espírito, Daí concluir que a idéia de Deus, semelhante à idéia do eu
(cogito: a certeza do eu que existe), nasceu e foi produzida no eu desde o instante da sua
criação.
Agora, então, encontram-se preparados todos os fundamentos diante dos quais
Descartes lançará o seu argumento que defende que a idéia de Deus é como "a marca
do operário impressa em sua obra". Conforme dizia, toda a força do argumento que ele
usava para demonstrar a existência de Deus consistia em que para qualquer pessoa
seria impossível que nela estivesse a idéia de um Deus, se Deus não existisse de
fato; embora este Deus do qual existe uma idéia em mim, possamos não compreendê-lo
na sua essência. Nesse passo, na minha opinião, partindo dessa conclusão de Descarte, a
brecha para o ateísmo fica plenamente justificável – mas não razoável – na medida em
que a razão na sua limitação natural não pode apreender Deus na sua plenitude. Para
aqueles que admitem a existência de Deus como real, como é o meu caso, deriva
fundamentalmente DEUS > razão(Deus indo ao encontro da razão, ou se manifestando à
ela): quando Ele assim quer pode tornar qualquer pessoa conscientemente certo de sua
existência. Não ocorrendo isso, a razão>Deus encontrará limitações na busca da
realidade “concreta” de Deus.
Os pensamentos de Descarte não possuem nada de novo, original, pois tais argumentos
já se encontravam na Bíblia(não de maneira filosófica, é claro); e na idade média Santo
Anselmo fez um belíssimo tratado sobre o tema. A prova é originada da distinção entre
o ser necessário(Deus) e o ser possível(homem), onde este não existe por si, mas tem
necessidade de alguma coisa para existir. Em Descartes, se algo existe (eu mesmo, o
cogito — como Descartes afirma), logo existe o ser necessário, Deus.
Para Hegel, filósofo do século XIX, Deus para Hegel é transcendente e imanente
no mundo, ele está neste mundo e fora dele. Deus, o infinito no finito. Deus é histórico,
vivo e atuante na história. Como eterno, Ele funda a história do homem e do mundo,
sendo ao mesmo tempo, origem, centro e futuro do homem e do mundo. Deus é um ser
absoluto, sendo interessante a idéia de absoluto na filosofia de Hegel como a síntese da
tese e da antítese. O que é a dialética? É a tese afirmada, em contraposição à antítese,
sua negação. Desse contrários entre tese e antítese surgirá a síntese. Esta é uma nova
substancia. Deus estaria na história presente de modo dialético: O pai(Deus) é idéia
positiva, o ser infinito. Jesus Cristo seria a antítese, o Deus-homem, o Deus que se fez
homem, finito. Dessa dialética dos contrários, teríamos o Espírito absoluto – o Espírito
Santo. O ser de volta a si. O ser que revela Deus-Pai e Deus-filho. Deus seria este
espírito absoluto em processo dinâmico na historia: ele está no mundo abstrato, na idéia
na mente humana, está na natureza(na física) tangível da realidade humana, e está nos
processos de mudanças de modo absoluto(aperfeiçoado, neste vir-a-ser) na história em
sua dinâmica dialética. No meu ver, as idéias de Deus dentro dessa dialética de
contradições não se encaixam, pois Deus é um ser imutável em quem não há sombra ou
variação. Erra também quando afirma que Deus está presente na natureza e que esta
natureza é parte da natureza de Deus. Não, Deus se revela através do que ele criou,
mas não é parte do que ele criou. Nada de panteísmo. Contudo, Hegel está com a razão
quando diz que Deus estar presente na história e atuando do devir dos acontecimentos, e
a história tem um sentido e que Deus é um Espírito Absoluto e que Deus pode ser
manifestado ao espírito humano.
Na realidade, Nietzsche decepcionou-se mais com a igreja de sua época que com Deus,
ou decepcionou-se com Deus, mormente, por causa da religião cristã, isto é, em função
da forma como essa lhe apresentou a divindade. A insanidade de Nietzsche foi real,
como foram precoces alguns dos juízos “teológicos” que ele fez acerca de Cristo, de
Paulo e da Palavra. Mas embora a infantilidade e imprecisão de algumas concepções
teológicas desse autor, no entanto sua suposta “loucura” não nos outorga o direito de
desprezar o que ele disse. Afinal de contas, louco ou não, ele escreveu coisas muito
sábias acerca das bestagens dos cristãos de seu tempo.
Postado por Marco Pablo às 07:00
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