CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO EM CONTRATO INTERNACIONAL DE
COMPRA E VENDA
1.1 – O Contrato Interno, o Contrato Internacional e o Pacto de Compra e
Venda
O Contrato, também chamado de Contrato Interno, pode ser conceituado
como o acordo de vontade firmado entre duas ou mais partes, capaz de criar, modificar ou extinguir direitos.
O Contrato de Compra e Venda, por sua vez, é definido como o pacto de
vontades pelo qual se convenciona a transferência do domínio de um bem móvel ou imóvel mediante contraprestação.
Assim, apresentados os conceitos de Contrato e de Pacto de Compra e
Venda, parte-se à análise do conceito de Contrato Internacional e do Pacto de Compra e Venda de caráter internacional.
O Contrato Internacional, quando comparado ao Contrato Interno, difere dele
pela existência de conflitos entre dois o ordenamento jurídico de dois ou mais Estados soberanos ao quais se submetem as partes contratantes.
Nesse sentido, tendo em vista a realização de Pacto de Compra e Venda de
firmado entre partes submetidas à ordenamentos jurídicos diferentes e potencialmente conflitantes, possibilitou-se a eleição de foro instituído de comum acordo como recurso para se evitar a aplicação de legislação estranha as pretensões das partes contratantes.
1.2 - Cláusula de eleição de foro
Em Contratos Internacionais podem ser realizadas cláusulas de eleição de
foro cuja a finalidade é de remeter a solução de eventual litígio à autoridade jurisdicional estrangeira. Durante a vigência do CPC de 1973 o STJ, bem como os tribunais brasileiros, firmou entendimento no sentido de que a competência da autoridade judiciária brasileira nos casos do art. 88 do CPC/73, seria concorrente com a da autoridade estrangeira eleita no contrato, em contraponto com a competência exclusiva disciplinada no art. 89 do CPC/73: “Art. 88. (CPC/73): É competente a autoridade judiciária brasileira quando: I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III – a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no nº I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal.”
“Art. 89. (CPC/73): Compete à autoridade judiciária brasileira, com
exclusão de qualquer outra: I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil II – proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional.”
Porém, com o CPC/15 houve o afastamento da competência da autoridade
judiciária brasileira no caso de eleição de foro exclusivo estrangeiro. Leia-se: “Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação.”
Assim, a competência do juiz ou tribunal estrangeiros não será válida
somente nos casos de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira, definida no art. 23 do CPC/15. Além disso, depende da arguição de incompetência pelo réu em contestação, garantida a formação dialética da decisão:
“Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de
qualquer outra: I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.”
Ademais, a cláusula de eleição de foro não pode ser abusiva, conforme o art. 63, do CPC/15 e só produz efeitos quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico.
“Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do valor e do
território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações. § 1o A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico. § 2o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes. § 3o Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. § 4o Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão.”