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FILOSOFIA – 11º ANO
[...] o hábito filosófico de raciocinar nasce na Grécia Juntamente com as instituições políticas
da democracia [...] Raciocinar exige, consequentemente, a universalidade humana da razão,
e não excluir ninguém do diálogo em que se argumenta. De tal modo que a razão esteve na
Grécia sempre à frente do seu próprio sistema social e está sempre a frente dos sistemas
sociais desiguais que conhecemos, em direcção à verdadeira comunidade de todos os seres
pensantes. No fim de contas, a disposição para filosofar consiste em decidir-se a tratar dos
outros como se tossem também filósofos: oferecendo-lhes razões, escutando as suas e
construindo a verdade, sempre num quadro de raciocínio, a partir do encontro entre umas e
outras.
[...] Na sociedade democrática, as opiniões de cada um não são fortalezas ou castelos onde
se encerram como forma de auto-afirmação pessoal. «Ter» uma opinião não é ter uma
propriedade que ninguém tem direito a tirar-nos. Oferecemos a nossa opinião aos outros
«onde estamos e quem somos». E desde logo nem todas as opiniões são igualmente
válidas: valem mais as que tenham melhores argumentos a seu favor e as que melhor
resistem à prova de fogo do debate com as objecções que lhes são colocadas.
A lógica
As premissas são o ponto de partida, ou o que se aceita ou presume, no que respeita ao
argumento. Um argumento pode ter uma ou varias premissas. A partir das premissas, os
argumentos derivam uma conclusão. Se estamos a reflectir sobre um argumento, talvez por
termos relutância em aceitar a sua conclusão, temos duas opções. Em primeiro lugar,
podemos rejeitar uma ou mais das suas premissas. Em segundo lugar, podemos também
rejeitar o modo como a conclusão é extraída das suas premissas. A primeira reacção e que
uma das premissas não é verdadeira. A segunda é que o raciocínio não e valido. É claro que
o mesmo argumento pode estar sujeito a ambas as críticas: as premissas não são
verdadeiras e o raciocínio aplicado é inválido. Mas as duas críticas são distintas (e as duas
expressões «não é verdadeira» e «não e válido», marcam bem a diferença).
No dia-a-dia, os argumentos também são criticados noutros aspectos. As premissas podem
não ser muito sensatas. É uma tolice apresentar um argumento intrincado a partir da
premissa de que eu vou ganhar a lotaria da próxima semana se não houver qualquer
hipótese de isso acontecer. E muitas vezes inapropriado recorrermos a premissas que sejam,
elas mesmas, controversas. Não revela qualquer tacto nem é de bom gosto argumentar a
favor de certas coisas em certas circunstâncias. Mas «lógico» não é sinónimo de «sensato».
A lógica interessa-se em saber se os argumentos são validos, e não se são sensatos. E vice-
versa, muitas das pessoas a que chamamos «ilógicas» podem até usar argumentos válidos,
mas que são patetas por outros motivos.
A lógica só tem uma preocupação: saber se não há outra maneira de as premissas serem
verdadeiras e a conclusão falsa.
Simon Blackburn, Pense: uma Introdução à Filosofia
A argumentação
Argumento Argumentar e produzir considerações destinadas a apoiar uma conclusão.
Argumentar é quer o processo de fazer isso (e, neste sentido, argumentação pode ser uma
discussão acalorada ou prolongada), quer o seu produto, i.e., o conjunto de proposições
aduzidas (as premissas), o padrão da inferência e a conclusão alcançada. Um argumento
pode ser dedutivamente válido, caso em que a conclusão se segue das premissas, ou ser
persuasivo de outras maneiras. A lógica é o estudo das formas válidas e inválidas dos
argumentos.
Simon Blackburn, Dicionário de Filosofia
Filosofia e argumentação
Nem todos os pontos de vista são iguais. Algumas conclusões podem ser defendidas com
boas razões e outras com razões menos boas. No entanto, não sabemos na maioria das
vezes quais são as melhores conclusões. Precisamos, por isso, de apresentar argumentos
para sustentar diferentes conclusões e, depois, avaliar tais argumentos para ver se são
realmente bons.
Neste sentido, um argumento é uma forma de investigação.
Os argumentos também são essenciais por outra razão. Uma vez chegados a uma
conclusão baseada em boas razões, os argumentos são a forma pela qual a
explicamos e defendemos. Um bom argumento não se limita a repetir as conclusões.
Em vez disso, oferece razões e dados suficientes para que as outras pessoas possam
formar a sua própria opinião. Ter opiniões fortes não é um erro. O erro é não ter mais
nada.
Anthony Weston, A Arte de Argumentar, Edições Gradiva, Lisboa. 1 996, pp. 14-15