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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL

O trabalho sócio educativo nos Centros de Referência em Assistência Social: uma


reflexão a partir do Estágio Curricular do curso de Serviço Social

Adriele Marlene Manjabosco

ABRIL - 2006
Mabel Mascarenhas Torres, em Artigo intitulado: “As múltiplas dimensões
presentes no exercício profissional do assistente social: intervenção e o trabalho sócio
educativo”, compreende o trabalho sócio - educativo como uma das possibilidades
interventivas do exercício profissional do assistente social, cuja referência teórico-
metodológica é a matriz crítica presente no serviço social na contemporaneidade. Com
base nas reflexões e nos apontamentos de Torres, será realizado uma reflexão crítica
acerca do Estágio Curricular que vem sendo realizado nos Centros de Referência em
Assistência Social - CRAS. Sendo o estágio I no CRAS Oeste e o estágio II, no CRAS
Leste, ambos situados no município de Santa Maria – RS.
A análise abarcará três momentos com enfoques diferenciados. No primeiro
momento será abordada a relação do trabalho sócio educativo no serviço social com a
política de estágio. No segundo, será realizada uma reflexão sobre a importância do
trabalho sócio educativo na política de Assistência Social e na Política de Proteção Social
Básica, efetivada pelos CRAS. E, por fim, será realizada uma reflexão sobre o trabalho
sócio - educativo no processo de trabalho do Assistente Social no CRAS.
O estágio curricular, como parte da formação profissional do curso de Serviço
Social, é um processo que propicia o exercício teórico-prático, capacitando para os
estudantes para exercício profissional. Ao articular o conhecimento apreendido na
formação acadêmica com a realidade social, este, conforme coloca a Política Nacional de
Estágio – PNE, é um instrumento:

Fundamental na formação da análise crítica e da capacidade


interventiva, propositiva e investigativa do(a) estudante, que precisa
apreender os elementos concretos que constituem a realidade social
capitalista e suas contradições, de modo a intervir, posteriormente como
profissional, nas diferentes expressões da questão social [...] (PNE,
2011, p11)

O estágio não deve ser compreendido um “treinamento” apenas técnico e


operativo, mas como uma etapa da formação capaz de articular todas as dimensões
constitutivas do fazer profissional: técnica – operativa, ético – política e a teórico -
metodológica. Nisso, ao entrar em contato com o mundo do trabalho e vivenciá-lo, ao
confrontar as atividades desenvolvidas com o arcabouço teórico do Serviço Social, o
estágio é também um momento de reflexão sobre a questão social, a realidade dos espaços
sócio – ocupacionais e os processos de trabalho desenvolvidos pelos assistentes sociais.
Nesse sentido, é possível afirmar que o próprio estágio possui uma perspectiva
sócio educativa, sendo, também, um momento fundamental para compreender e
apreender o trabalho sócio – educativo, considerando que os (as) estudantes/estagiários
brevemente serão futuros profissionais. Além da constante investigação da realidade, a
construção dos planos, as supervisões (acadêmicas e de campo), a realização da análise
institucional e a elaboração de um projeto de intervenção, são processos de reflexão
crítica e de construção coletiva que podem, e de certa forma devem, contemplar a
perspectiva sócio - educativa. Um exemplo disso, é quando o projeto de intervenção é
formulado e construído com base na avaliação conjuntural – propiciada com a elaboração
análise institucional -, com a identificação das demandas e das manifestações da questão
social e com a garantia da participação dos usuários.
Conforme Torres (2009), o trabalho socioeducativo deve compreender o protagonismo
dos usuários no trato interventivo. Entre outras coisas, “visa consolidar a visão da educação
popular, em que o profissional atua tomando como referência os modos de vida da população
usuária, possibilitando a realização de uma prática crítica” (Torres, 2009, p.18). No serviço
social, o trabalho socioeducativo tem como finalidade a consolidação das políticas sociais e
públicas como políticas de direitos, cujo objetivo final é a proteção social e a garantia dos
direitos sociais. (Id.)
O Centro de Referência em Assistência Social é uma das instituições que
operacionaliza a política de Assistência Social, o trabalho sócio educativo é uma
“referência metodológica para o trabalho dirigido à proteção social básica1 (Id.). A
perspectiva sócia educativa também está em consonância com os princípios2 do SUAS e
com as diretrizes para a política de proteção social básica. Além disso, é um instrumento
para a superação do paternalismo que ainda se faz presente no exercício profissional e que
perpetuou historicamente a política de assistência social.
A política de assistência social é resultante da ação do estado sobre as sequelas da
questão social administrando as suas contradições e visando um sistema de consensos e

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A proteção social básica tem como objetivos prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de
potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina−se à
população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de
renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos
− relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências,
dentre outras). (Disponível em: >http://www.mds.gov.br/suas/guia_protecao/> Acesso 11 de novembro de
2016
2
Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II –
Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas
demais políticas públicas; III – Respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a
benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer
comprovação vexatória de necessidade; IV – Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem
discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V –
Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos
oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão.
legitimidade social. Contraditoriamente, é também reflexo das lutas da classe
trabalhadora e dos movimentos sociais em busca de respostas a necessidades sociais e a
efetivação de direitos. (RACHELIS, 2010).
As assistentes sociais são, historicamente, profissionais de referência na política de
assistência social. Tal como a política de assistência social, conforme Torres (2009), o
Serviço Social, colaborou substantivamente para reforçar o controle e a coerção exercidos
pela classe dominante diante do crescimento acelerado da pobreza e da generalização da
miséria. Destaca-se ainda, que o serviço social “acompanha o desenvolvimento e a expansão
das organizações socioassistenciais, no qual é contratado para prestar serviços, sendo
reconhecido como profissional da prática” (Id.p.5).
A partir da democratização do país e com a constituição de 1988, como resultado
da luta da classe trabalhadora por direitos, é estruturado um sistema de seguridade social
que integra a saúde, a previdência e a assistência social. Neste contexto, a assistência
social passou a ser reconhecida como um direito a ser garantido pelo Estado, exigindo um
ordenamento institucional, que posteriormente culminou na implementação do Sistema
Único de Assistência Social – SUAS. No entanto, ainda que o reconhecimento da
assistência social como um direito represente um avanço significativo, as práticas
assistencialistas, clientelistas e paternalistas ainda se fazem presentes, permeando
inclusive, o trabalho dos assistentes sociais.
O trabalho sócio educativo é estratégico na superação destas “heranças malditas”
que marcam historicamente a política de assistência social. Torres, reforça esta percepção,
quando fala do protagonismo do usuário no trato interventivo. Segundo a autora:

Reconhecer esse protagonismo pode ser uma via de superação


do paternalismo que ainda se faz presente no exercício profissional de
parcela dos assistentes sociais, como se os usuários precisassem ser
ouvidos somente por suas queixas e não por sua capacidade e autonomia
de decisão (Id, p.17)

Os espaços sócios – ocupacionais, nos quais as assistentes sociais estão inseridas,


como os Centros de Referência em Assistência Social, são espaços de disputa de
hegemonia, possuindo elementos tanto de manutenção e reprodução da ordem como de
resistência e transformações. Pois, “mesmo vivendo sob condições adversas, a classe
apresenta vias de resistência a essa estrutura social quando reivindica sua inserção nos
serviços mantidos pela rede de proteção social como uma das formas de enfrentamento para
suprir suas necessidades”. (Id, p.8)
Levando em consideração que a realidade é dialética e portanto as políticas e espaços
sócio - ocupacionais, que os assistentes sociais atuam, são permeados por contradições,
disputas, avanço e retrocessos, destaca-se dois caminhos para o exercício profissional. O
primeiro está em assumir o objeto construído pela organização em que o assistente social atua
como dele mesmo. O segundo pode ser construído a partir das determinações decorrentes da
correlação de forças entre conjuntura, contexto institucional, demandas do usuário, demandas
organizacionais e o projeto ético-político construído pelos profissionais (Id.). A
possibilidades de realizar um trabalho sócio educativo condiz com o segundo caminho, pois
este, pressupõe um profissional investigativo, capaz de analisar a realidade, tecer táticas e
estratégias de transformação.
A partir da experiência de estágio, identifica-se a perspectiva sócio – educativa
como de fundamental relevância no processo de trabalho dos assistentes sociais nos
CRAS. No entanto, para que esta perspectiva seja efetiva, é necessário considerar os limites
e as contradições que se manifestam no cotidiano de trabalho dos assistentes sociais, como:
a terceirização, a precarização das condições de trabalho, a sobrecarga dos profissionais para
responder as demandas institucionais e a individualização dos atendimentos aos usuários
mediante situações coletivas.
A terceirização é uma das facetas da reestruturação produtiva. Esta, nada mais é
do que a permanente necessidade de resposta do capital frente ás suas próprias crises.
Estas respostas, visam a perpetuação do modo de produção capitalista, as altas taxas de
exploração e têm provocado mudanças qualitativas na organização, na gestão da força de
trabalho e na relação de classes, interferindo fortemente nos trabalhos profissionais das
diversas categorias.
No estágio realizado no CRAS Oeste, os serviços eram terceirizados através de
um convênio realizado entre o poder público e um instituto, o qual era responsável pela
contratação dos profissionais e pela execução dos serviços. Na análise institucional,
realizada durante o estágio I, foi possível construir uma síntese sobre as condições de
trabalho. Estas, além de dificultar a qualidade dos serviços e o atendimento às demandas,
acarretavam na alta rotatividade dos profissionais. Esta rotatividade, inviabilizava o
trabalho intersetorial e atingia diretamente a possibilidade de trabalho continuo no
acompanhamento das famílias referenciadas. Conforme Torres (2009):

“Inserido no mundo do trabalho como trabalhador assalariado, o


profissional de Serviço Social, ao mesmo tempo em que sofre as consequencias
da reestruturação produtiva, atua sobre ela quando em contato com os usuários.
Essa reestruturação incide sobre o trabalho e as condições de trabalho do
assistente social, ou seja, os profissionais trabalham em precárias condições de
trabalho que também comprometem a autonomia do profissional. P.10

A questão da Autonomia Profissional é dos principais limitantes para a realização do


trabalho na perspectiva sócio – educativa, principalmente em um contexto de terceirização.
Na maioria das vezes, o profissional não possui instabilidade, podendo a qualquer momento
ter seu vínculo empregatício ameaçado. Acaba portanto, sendo condicionado, a atuar de
acordo com demandas institucionais e em determinadas condições de trabalho, que podem
não estar em inconformidade com o que resguarda o código de ética e com a proposta do
projeto ético – político da profissão. Conforme a autora:

Por autonomia compreende-se a capacidade e a competência do


profissional de tomar decisões, determinar seu exercício profissional,
dar direção ao que faz. Essa autonomia é relativa na medida em que é
mediada pelos objetivos e determinantes presentes na organização. (Id.
p. 9)

Entendo, entretanto, que as condições em que o trabalho do


assistente social se realiza colaboram para que a autonomia e o poder
de decisão do profissional sejam restritos. Esse pequeno espaço
favorece também a subordinação do profissional aos determinantes da
organização. (Id, p. 16)

No Estágio, foi possível visualizar a trama que envolve o cotidiano dos profissionais
que sentem medo de questionar e confrontar os interesses institucionais, e ao mesmo tempo,
empresam discordância e a indignação, sentido - se também no dever de resguardar o projeto
ético político e as atribuições e competências do serviço social.

(... )ao mesmo tempo em que a organização determina o que é a


atribuição do assistente social, o profissional pode também propor
alternativas interventivas com base na análise das condições objetivas
de vida do usuário, no conhecimento da rede de proteção e de
atendimento socioassistencial e no conhecimento da realidade social.
Negar a análise e as contradições presentes no espaço institucional
compromete o exercício profissional, pois dificulta a possibilidade do
próprio reconhecimento da organização como espaço de superação, de
construção de respostas profissionais (Id. p. 14)

Ao exercitar um olhar comparativo, acerca das condições de trabalho e a perspectiva


sócio educativa no estágio I CRAS – Oeste e o estágio II, que atualmente está sendo realizado
no CRAS Leste, é possível identificar algumas diferenças no que se refere à autonomia. No
estágio II, o serviço já não é terceirizado e o profissional do serviço social é concursado pela
prefeitura municipal. Ainda que o espaço compartilhe de diversos aspectos identificados no
estágio I, sem dúvidas, os profissionais possuem maior autonomia. Nisso, além dos
profissionais estarem insatisfeitos e apresentarem discordâncias com a gestão, estes
comumente manifestam a sua posição, cobrando do poder público, questionando,
reivindicando e propondo mudanças. É possível portanto, afirmar que além da perspectiva
crítica e o conhecimento do projeto ético político, a forma como ocorre as condições de
trabalho são centrais para viabilizar o trabalho sócio - educativo.
No entanto, nos Centros de Referência em Assistência Social, os profissionais
esbarram em outra limitação, sendo esta também uma barreira para a perspectiva sócio
educativa: a sobrecarga de trabalho. Quase todos os dias, chegam aos assistentes sociais,
solicitações de acompanhamento e estudos sociais requeridos pelo ministério público e pela
justiça, com prazos estipulados para encaminhamentos dos relatórios e pareceres. Nisso, os
profissionais, buscando cumprir estes prazos, acabam realizando parte do processo de
trabalho, como a elaboração dos relatórios, em suas casas, o que representa um aumento da
jornada de trabalho. É importante considerar ainda, que o fato de ter poucos profissionais para
muita demanda, a precariedade - no caso do CRAS Oeste, por meses, o serviço funcionou
sem os instrumentos de trabalho essenciais como telefone, computador e impressora –
acarreta também na rotina do “fazer por que tem que fazer” ou aquilo que Torres(2009) chama
de “fazer por repetição”:

A rotina é parte determinante no exercício profissional do assistente social. Por


um lado, possibilita a organização e a avaliação das atividades desenvolvidas,
bem como a identificação das atividades por parte dos usuários; mas, por outro,
pode distanciar o profissional daquilo que ele faz, uma vez que mecaniza as
ações. O fazer por repetição pode levar à desqualificação daquilo que é próprio
do exercício profissional do assistente social: a necessária relação entre o pensar
e a ação, entre a análise e a intervenção. (Id. p. 11)

Nisso, a relação entre o pensar e a ação, entre a análise e intervenção, fundamentais


no trabalho sócio educativo, são comprometidas quando o profissional está submetido à
sobrecarga de trabalho. Atinge diretamente a qualidade dos serviços e do atendimento aos
usuários, uma vez que dificulta o acompanhamento, a articulação com a rede, uma análise
mais profunda sobre a realidade e a construção de possibilidades de intervenção. Destaca-
se ainda, a indidualização das demandas, onde questões que fazem parte de uma realidade
coletiva são tratadas somente forma individual e pontual, não efetivando as diretrizes da
proteção social básica que devem contemplar o trabalho preventivo na perspectiva da
territorialização.
Sobre a metodologia de trabalho, destaca-se três aspectos do trabalho sócio educativo,
retratados por torres (2009):
1) O usuário é o sujeito, reconhecido como protagonista dessa relação. O assistente
social deve ser capaz de democratizar informações e fomentar a tomada de decisão
por parte do usuário.
2) Os serviços prestados não são vistos como favor, mas, como um direito que será
acessado para suprir as necessidades apresentadas pelo usuário e/ ou identificadas
pelo assistente social.
3) O trabalho socioeducativo demarca, na relação assistente social – usuário, a
ultrapassagem da visão de problema individual para demandas de atendimento, ou
seja, amplia-se a visão, articulando-se os problemas apresentados pelo usuário, a
realidade social vivenciada e os limites da organização onde o assistente social presta
serviço.

Por fim, compreende-se que o CRAS é um espaço sócio - ocupacional bastante


privilegiado para a realização do trabalho sócio- educativo. Encontra-se inserido na
comunidade, é um ponto de acesso e de referência para os usuários, os serviços são
direcionados para a prevenção de riscos e vulnerabilidades, é também a porta de entrada para
outras políticas e serviços. No entanto, além dos profissionais do serviço social serem
orientados pelo perspectiva crítica, serem comprometidos com o projeto ético político da
profissão e apropriarem-se da metodologia socioeducativa, para que trabalho sócio -
educativo seja viabilizado de fato, é necessário enfrentar limitadores que encontram-se
fundamentalmente nas precárias condições de trabalho e nos resquícios de uma trajetória
permeada pelo assistencialismo e paternalismo que marca a política de assistência social em
nosso país.

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