Anda di halaman 1dari 6

Terrorismo Terrorismo

Entrevistas a Oscar D’Ambrosio

Vista das torres do World


Trade Center, em Lower
Manhattan, New York City,
depois dos ataques de
11 de setembro.

Mas o que é terrorismo, afinal?


Para
especialistas
da Unesp,
P ara discutir o conceito e o estágio de
terrorismo no mundo de hoje, a revista
unespciência entrevistou dois especialistas
e jornalistas e um dos menos refletidos. Na
verdade, o escopo semântico desse conceito
goza de uma elasticidade assombrosa que sa-
conceito é da área da Universidade: Héctor Luis Saint tisfaz as necessidades de todo político para
um dos mais Pierre, da Faculdade de Ciências Humanas e eliminar oponentes. Tenho trabalhado espe-
usados sem Sociais de Franca; e Sérgio Luiz Cruz Aguilar, cificamente o conceito de “terrorismo” desde
uma devida da Faculdade de Filosofia e Ciências de Ma- muito antes do 11/9, que funcionou como um
reflexão rília. Fez a ambos as mesmas três perguntas ímã de “especialistas” oportunistas (https://
com o objetivo de gerar um amplo material goo.gl/Sryw2Z).
para pensar cada vez mais e melhor o tema. Ele foi usado amplamente durante as dita-
duras militares para se referir aos movimentos
uc Sendo especialista na área, como o se- de resistência armada, antes disso foi empre-
nhor avalia a atual existência de ações gado pelo governo francês para se referir ao
terroristas no mundo? Elas vêm crescendo movimento de liberação da Argélia. Depois do
© Wikimedia Commons

de fato ou apenas estão sendo mais divul- 11/9, em que os EUA facilitaram créditos para
gadas pela mídia? a luta contra o terrorismo, todos encontraram
héctor luis saint pierre O conceito de ”ter- terroristas no seu próprio quintal. Assim, o pre-
rorismo” é um dos mais usados por políticos sidente da Colômbia Uribe mudou o apelativo

10 UnespCiência UnespCiência 11
Terrorismo Terrorismo

Entrevistas a Oscar D’Ambrosio

de “narcoguerrilha” para “narcoterrorismo” para serve catalogá-los como terroristas se devo


se referir às Forças Armadas Revolucionárias combatê-los convencionalmente? Não obstan-
da Colômbia – Exército Popular. te a ampliação semântica do conceito, hoje os
No Peru, o presidente Toledo marcou mo- atentados ou ataques terroristas diminuíram.
vimentos indígenas ambientalistas também Minha impressão é que esta diminuição deve-
como “terroristas”. No Brasil, o ministro da -se menos aos cuidados tomados pelos países
Reforma Agrária do governo FHC, Raul Jung- e mais ao fato de que a repetição dos atos de
mann, tentou enquadrar o MST como grupo terror banaliza os atos e estes perdem eficácia.
“terrorista”. Hoje o Congresso brasileiro brinca Até as degolas do EI diminuíram e quase
com uma bomba de tempo discutindo uma Lei pararam, porque já produziam repugnância,
Antiterrorista para enquadrar movimentos so- mas não terror. É que uma característica do
ciais sem refletir sobre as consequências disso. ataque terrorista é sua espetacularidade, sur-
Por isso prefiro empregar a palavra “terro- presa e ineditismo da crueldade. Voltando então
rista” como adjetivo e não como substantivo. à pergunta: de fato há uma maior divulgação
Primeiro, porque o que é terrorista é o ato dos atentados terroristas e essa divulgação é
que visa estrategicamente provocar terror e procurada pelos grupos que procuram aterro-
não a tomada do poder. Atos terroristas são rizar, mas o excesso de divulgação os bana-
empregados por todos os exércitos para di- liza, com o que perdem sua eficácia. Talvez
minuir a resistência do inimigo e por muitos isso explique a diminuição de atos verdadei-

© Wilson Dias/ABr
governos para paralisar a oposição, o que não ramente terroristas.
torna terroristas nem esses exércitos nem es-
ses governos.
Não há critério objetivo para determinar que Hoje se publicitam muitos atos como sendo
Acima, cerca de 18 mil grupo é terrorista e qual não. O único critério terroristas sem discutir sequer se realmente são
militantes participam da
marcha de encerramento
é o de pertença à lista de grupos terroristas, terroristas e em função do que o são
do 5.º Congresso assim, terrorista será todo grupo incluído nessa
do Movimento dos lista. Mas quem define que grupos pertencem
Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), a essa lista? Com que critérios? São critérios sérgio luiz cruz aguilar Se tratarmos pura-
Brasília, 14 de junho de definicionais do tipo “gênero próximo e dife- mente de “ações terroristas” a resposta é sim
2007.
rença específica” ou meramente políticos? Se – as ações terroristas cresceram nesse início
Ao lado, chegada de 23 são políticos obedecem ao capricho de quem? de século XXI. Mas a questão principal tal-
supostos colaboradores
de narcoterrorismo à Note-se que o grupo comandado por Bin vez seja, elas são praticadas como meio de
cidade de Lima, que Laden, considerado num momento “Guerreiros ação ou como um fim em si mesmas? Nesse
foram presos na VRAEM.
da Liberdade” pelos Estados Unidos, noutro caso teríamos que partir de um conceito de
momento passou a ser considerado “terrorista”, consenso sobre terrorismo para analisar os
muito embora mantivesse o mesmo ordena- inúmeros grupos existentes atualmente que
mento ideológico e táticas operacionais. Assim, utilizam a violência como forma de alcançar
hoje se publicitam muitos atos como sendo seus objetivos.
terroristas sem discutir sequer se realmente Aí temos o primeiro problema, a falta de
© Galeria del Ministerio de Defensa del Perú / Flickr

são terroristas e em função do que o são. consenso sobre o que é “terrorismo”. Surgido
O próprio Estado Islâmico, que cometeu no final do século XVIII, o termo se relacio-
abomináveis “atos terroristas”, hoje combate nava com o período em que a França esteve
com características convencionais: ocupação governada pelos jacobinos (agosto de 1792 –
de território, uniformes e bandeiras, arma- julho de 1794) e, consequentemente, com o
mento convencional, controla a lei e a ordem terrorismo de Estado. No entanto, a origem
nesse território... do termo já apresentava características co-
Suas práticas são inaceitáveis, mas de que muns ao entendimento atual: o “terrorismo”

12 UnespCiência UnespCiência 13
Terrorismo Terrorismo

Entrevistas a Oscar D’Ambrosio

para atingir um objetivo político. Outra coisa


é atuar contra um grupo que utiliza o terro-
rismo como “lógica de ação”.
O primeiro caso se relaciona com a insur-
gência e, normalmente, o terrorismo é utilizado
por um ator com certa legitimidade que, por
debilidade ou por cálculo, se mantém dentro
de um espaço político determinado, ou bus-
ca penetrar nele, utilizando ações terroristas.
Pensando dessa forma, o Boko Haram na
Nigéria, o Al Shabaab na Somália, os Tuaregues
no Mali, o Estado Islâmico (EI) no Iraque e na
Síria, dentre outros, seriam grupos insurgentes
que implementaram um movimento político

© Jawad Zakariya / Flickr

© Wikimedia Commons
armado que desafia esses Estados por con-
ta da formação de um “contra-Estado”. Esse
“contra-Estado” seria construído sob as leis e
valores islâmicos – no caso do Boko Haram,
Al Shabaab e EI – ou sob a cultura e os va-
Bombardeamento
Islamabad Marriott era organizado, deliberado, sistemático e seu Hoje ainda há dificuldade de um consenso lores tuaregues que têm sido reprimidos por Mas, quando governos denominam esses Um militante do Estado
Islâmico carregando a
Hotel. Cerca de 35.000 objetivo e justificativa eram a criação de uma sobre o termo. Desde de 1996 discute-se na sucessivos governos no Mali. grupos simplesmente como “terroristas”, ou bandeira do grupo.
paquistaneses morreram
em ataques terroristas
“sociedade nova e melhor”. ONU uma resolução que conceitue terroris- Com base nesses exemplos, e em vários como “bandidos terroristas” como ouvi bas-
nos últimos anos. A partir daí, o termo foi associado a grupos mo, sem sucesso. Nos Estados Unidos, talvez outros com a Líbia e o Iêmen, pode-se afir- tante em um evento na África que tratou do
organizados que lutavam contra governos au- o país mais interessado em estabelecer meca- mar que esses grupos surgiram e cresceram terrorismo naquele continente ano passado,
toritários, como o Narodnaya Volya na Rússia nismos de prevenção e combate ao terrorismo, em países com graves problemas sociais, po- praticamente se excluem as outras questões,
– Vontade do Povo, em russo (fim do século diversos departamentos e agências apresentam líticos, econômicos e de segurança. Já a Al- focando apenas no combate mediante a uti-
XIX), a grupos nacionalistas como o Mlada definições próprias. -Qaeda deixou de utilizar o terrorismo como lização do aparato de segurança estatal, ou
Bosna – Jovem Bósnia, em servo-croata (iní- No entanto, mesmo com a falta de con- um meio de ação, passando a utilizá-lo como coletivo como no caso do Al Shabaab, que é
cio do século XX), retornou ao terrorismo de senso, há alguns pontos comuns na maior lógica, ou seja, o terror se converteu no obje- combatido pelas tropas da Missão da União
Estado com o nazismo, o fascismo e o socialis- parte dos conceitos: o uso ilegal ou ameaça tivo do grupo. Africana na Somália (AMISOM), do Boko
do uso da violência; civis ou propriedades co- Assim, o combate à Al-Qaeda se dá basi- Haram, contra o qual foi formada a Força
mo alvos; propósitos políticos dirigidos a uma camente usando o aparato de segurança dos Tarefa Conjunta Multinacional (Benin, Ca-
Hoje ainda há dificuldade de um consenso instituição (Estado, organização) de modo a Estados. No caso dos demais, se os conside- marões, Chade, Níger e Nigéria), e do EI,
sobre o termo. Desde 1996 discute-se na ONU uma compelir seus agentes a agir ou abster-se de rarmos insurgentes, as medidas militares e que é combatido pela coalisão internacional
resolução que conceitue terrorismo, sem sucesso agir de determinada forma; e provocação ou policiais deveriam vir acompanhadas de ações liderada pelos Estados Unidos, além da Rússia
manutenção de um estado de terror em uma nos outros campos – social, político, econômi- e de grupos locais.
população ou em um setor dela. co, etc. – que atuem nas causas do surgimento
mo soviético, para ser associado aos grupos de Dessa forma, poucos países como os Es- e crescimento desses grupos. uc Existe uma tendência mundial de amplia-
libertação nacional a partir da década de 1950 tados Unidos da América (EUA), de maneira Caso isso não aconteça, mesmo que esses ção ou recrudescimento de ações terro-
e, posteriormente, a grupos religiosos funda- unilateral, declaram determinados grupos co- grupos sejam derrotados militarmente, eles ristas? Onde? Por quais motivos?
mentalistas nas últimas décadas do século XX. mo terroristas. A lista divulgada em 2016 pelo não desaparecerão. Podem até trocar de no- héctor luis saint pierre A ampliação das ações
Para complicar ainda mais a questão, na Bureau de Contraterrorismo do Departamen- me, como normalmente acontece, mas parte terroristas leva à perda da sua eficácia, por is-
década de 1990 foi associado ao narcotráfico, to de Estado norte-americano, por exemplo, de seus militantes continuarão propensos a so acredito que elas continuarão a acontecer,
surgindo o termo “narcoterrorismo”. Dessa for- apresentou 59 grupos terroristas no mundo. usar a violência em prol de seus objetivos. mas de maneira mais precisa, espetacular e
ma, o termo “terrorismo” mudou de significado Isso gera um problema. Talvez aí esteja a explicação de por que es- surpreendente. As ações terroristas não têm
para acomodar vernáculos políticos e diferentes Uma coisa é atuar contra um grupo que se fenômeno tem crescido e se espalhado por eficácia em campos de batalha, mas em cida-
discursos em diferentes contextos e épocas. utiliza o terrorismo como “método de ação” várias regiões do globo. des totalmente alheias ao terror, o que satisfaz

14 UnespCiência UnespCiência 15
Terrorismo Terrorismo

Entrevistas a Oscar D’Ambrosio

© Guillaume Highwire / Flickr


© Wikimedia Commons
Vista aérea da quadra do o critério da surpresa. realizar atentados de grande porte como no possíveis consequências. Isso pode se dar por Os atentados de Paris em novembro de Rue Nicolas-Appert,
Memorial Rendering. Paris , um dia depois do
Todavia, outro critério, no caso do terroris- 11 de setembro de 2001 fez com que os gru- conta de interesses imediatos, pela incapaci- 2015 “empurraram” países como a Alema- tiroteio Charlie Hebdo.
mo sistemático (aquele que escolhe sua vítima pos passassem a agir com homens/mulheres dade de pensar em longo prazo ou por certa nha e o Reino Unido para as ações militares
por uma característica determinada), é a deter- bombas e militantes portando explosivos e “vaidade histórica” de achar que o poderio na Síria. Após os atentados em Paris, o pre-
minação simbólica do alvo. Portanto, o teatro fuzis, que são mais difíceis de serem desco- militar pode ainda resolver todas as questões sidente François Hollande declarou “guerra”
do atentado terrorista deve se sentir alheio ao bertos e combatidos. de segurança. ao EI mediante o pressuposto de legítima de-
terror, mas ainda assim contar com a presen- No entanto, esses ataques não deixam de A luta contra o terrorismo no século XXI fesa e invocou a cláusula de defesa mútua da
cia simbólica que é alvo do grupo terrorista. ser destrutivos nem de ter grande repercus- resultou nas intervenções no Afeganistão, no União Europeia, fato inédito na história da
Finalmente, a terceira característica exige são. A partir da Al-Qaeda houve uma “inter- Iraque, na Líbia e na Síria. Se as ações com o organização internacional, numa tentativa de
a espetacularidade, a possibilidade do atenta- nacionalização” do terrorismo. Vários grupos uso da força resolveram problemas imediatos envolver todos os membros da União na sua
do ser filmado ao vivo e em tempo real, o que no mundo haviam se filiado a ela. de segurança, acabaram criando outros no “guerra ao EI”.
limita o loco do atentado. Assim, estas carac- No caso do EI pode estar acontecendo o mesmo local ou em Estados vizinhos. No entanto, não se pode relevar o fato de
terísticas limitam tanto a frequência quanto mesmo fenômeno. Pessoas e grupos que se A situação no Afeganistão continua instável, que são justamente as potências que acabam,
a localização espaçotemporal do atentado. dizem filiados ao EI, como o que derrubou o o Taliban ainda controla partes do país, a Al- com suas ações, provocando o surgimento de
As motivações dos ataques terroristas são avião russo na Península do Sinai e os respon- -Qaeda permanece viva e o conflito aumentou novos focos de violência e de novos atores não
tão variadas que podem ir desde alegadas lou- sáveis pelos atentados em Paris e em Bruxelas. a instabilidade no Paquistão. O Iraque conti- estatais geradores de violência.
curas individuais (como o Unabomber ou os Pessoas que simpatizam com grupos realizam nua dividido e luta para resolver o problema A revolta contra o ditador Bashar al-Assad,
serial killers nos Estados Unidos) até causas atentados em nome deles, mas a real filiação de uma vasta área ainda sob o controle do EI. apesar de ter raízes antigas, pode ser creditada
políticas globais, como a criação de um Ca- é difícil de ser determinada. Pode ter sido o A Líbia tem dois governos autodeclarados e à decisão da França e da Arábia Saudita de in-
lifado Universal, ou transcendentes, como os caso do atentado na Califórnia – EUA reali- uma série de grupos que controlam áreas no centivarem e financiarem grupos de oposição
atentados no metrô de Tóquio. zado em nome do EI. Esses fatos complicam país, incluindo os filiados da Al-Qaeda e do EI. na Síria após o atentado que matou o primeiro-
ainda mais as ações preventivas e repressivas E todas essas intervenções resultaram numa -ministro libanês Rafik Hariri em 2005 e que
Além do surgimento
sérgio luiz cruz aguilar ao terrorismo. massa de refugiados e desalojados em intensi- teve a participação de agentes sírios.
de novos grupos, os mais recentes atentados Uma das dinâmicas de segurança nesse dade que remonta à 2.ª Guerra Mundial e que A Al-Qaeda surgiu do financiamento dos
demonstram a capacidade de adaptação dos século XXI são as intervenções que parecem atinge principalmente a Europa. A cada novo mujahedins para lutarem contra os soviéticos
mesmos. Os atentados se tornaram mais sim- ser realizadas pelas potências sem levar em problema novas ações com o uso da força são no Afeganistão por parte de Estados Unidos,
ples de serem executados. A dificuldade de consideração – ou sem se importar com – as implementadas. Arábia Saudita, Paquistão, Reino Unido, Chi-

16 UnespCiência UnespCiência 17
Terrorismo Terrorismo

Entrevistas a Oscar D’Ambrosio

OS ENTREVISTADOS
Héctor Luis Saint Pierre
Licenciado em Filosofia pela Universidad Nacional de La Plata,
Argentina, realizou mestrado em Lógica, Epistemologia e Filosofia da
Ciência pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 1988.
Na mesma universidade concluiu o doutorado em Filosofia Política em
1996 e o pós-doutorado FAPESP/Universidade Autónoma de México
em 1999. Defendeu sua Livre-docência na Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, em 2002, com tese sobre “Formas
contemporâneas da violência Política”. Realizou seu Concurso de
Professor Titular em Segurança Internacional e Resolução de Conflitos
em 11/5/2011. Desde 10/2015 desempenha-se como coordenador
executivo do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais
da Unesp. Coordena a área de “Paz, Defesa e Segurança Internacional”
da Pós-graduação em Relações Internacionais “San Tiago Dantas”.
Fundador e líder do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança
Internacional (GEDES) da Unesp. Participa como membro do Diretório
da Red de Seguridad y Defensa de América Latina (RESDAL). De 2012
a 2014 foi diretor institucional da Associação Brasileira de Estudos
de Defesa (ABED). Membro do Diretório da Associação Brasileira de
Relações Internacionais de 2013 a 2015 e coordenador da área de
Segurança Internacional, Defesa e Estratégia da ABRI. Membro do
Diretório da Associação Brasileira de Relações Internacionais ABRI e
coordenador da Área de Segurança Internacional, Defesa e Estratégia
© jan Sefti / Wikimedia Commons

da ABRI para o período 2015-2017. Publicou 30 artigos em periódicos


especializados, 56 capítulos de livros, 6 livros e muitos artigos de
opinião em veículos de comunicação. Participou em mais de 90
eventos científicos no exterior e de 80 no Brasil. Supervisionou 1 pós-
doutorado e orientou 4 doutorados, 24 dissertações de mestrado,
além de muitos trabalhos de conclusão de curso nas áreas de História,
Ciência Política e Relações Internacionais. Recebeu 4 prêmios e/
ou homenagens, entre elas, a Medalha da Ordem do Mérito Militar
no grau de Cavaleiro. Atua na área de Ciência Política e Relações
Um manifestante na e Egito. Para lutar contra a insurgência no Na Líbia, foi a intervenção internacional rança a que nos referimos, a Turquia faz um Internacionais, com ênfase em Integração Internacional, Conflito,
anti-Assad grafitando na
Iraque, os EUA fortaleceram tribos sunitas que permitiu a queda do ditador Kadafi. No jogo interessante, apoiando grupos contra al- Guerra e Paz. Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes
parede de um prédio a na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-
frase “Derrubem al- moderadas. Algumas delas após serem alijadas entanto, era ele que conseguia manter as di- -Assad, combatendo o EI, mas permitindo o cultural são: Forças Armadas, América Latina, Defesa, Segurança
-Assad”, em maio de 2011. do processo político se juntaram ao EI e auxi- versas tribos e grupos “satisfeitos” com o poder mercado negro (ou pelo menos o trânsito) do Internacional, Guerrilha, Terrorismo, Segurança Cooperativa,
Estratégia, Segurança e Defesa.
liaram no seu crescimento. No caso da Síria, local que mantinham dentro do Estado. Sem petróleo explorado pelo EI no seu território, e
os grupos contrários ao governo foram cres- o ditador, o país mergulhou numa violência utiliza o fluxo migratório como arma de barga- Sérgio Luiz Cruz Aguilar
cendo e, em 2011, iniciaram a revolta armada. interna que permitiu o crescimento de gru- nha e de pressão por um maior envolvimento Pós-doutor em Segurança Internacional no Departamento de
Política e Relações Internacionais da Universidade de Oxford, Reino
Logo os líderes ocidentais perceberam que pos ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico. dos EUA e dos europeus no conflito e pela Unido, doutor em História pela Universidade Estadual Paulista
a revolta não era liderada por grupos mode- Ainda, parte do arsenal das forças armadas de evolução do processo de seu ingresso na UE. Júlio de Mesquita Filho (Unesp – Assis/SP), mestre em Integração
rados, mas por grupos extremistas como a Kadafi acabou nas mãos de grupos além das No entanto, acaba pagando o preço de suas Latino-Americana pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
especialista em História das Relações Internacionais pela Universidade
Al-Nusra (ligada à Al-Qaeda) e, mais tarde, fronteiras líbias, como os tuaregues no Mali. ações com o crescimento do movimento curdo e do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em Estratégias de Relações
o EI. Assim, a partir do momento em que Agora as potências discutem como resolver o aumento de atentados que gera instabilidade Internacionais pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), e
potências ocidentais apoiaram e financiaram o problema líbio. Com os atentados de Paris e política e de segurança no país. A decisão dos graduado em Ciências Militares (AMAN). Atualmente é professor do
Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-
grupos contrários ao presidente sírio, acaba- a decisão de eliminar o EI sem enviar tropas sauditas de atuarem com mais dinamismo na -Graduação em Ciências Sociais e coordenador do Grupo de Estudos
ram sendo responsáveis pelo crescimento de terrestres, os EUA e os europeus passaram região, apoiados pelos EUA e, pricipalmente, e Pesquisa sobre Conflitos Internacionais (GEPCI) e do Observatório de
alguns considerados por elas como terroristas. a fortalecer ainda mais os grupos que lutam pela França, resultou no recrudescimento da Conflitos Internacionais (OCI), todos da Unesp – Câmpus de Marília/
SP. Foi observador da ONU na United Nations Peace Force (UNPF), na
O caso sírio parece comprovar certa inca- contra o EI na Síria e no Iraque. Os curdos violência no Iêmen e em graves problemas Bósnia Herzegovina, e na United Nations Transitional Administration
pacidade de pensar segurança em longo prazo peshmergas são os principais beneficiários da diplomáticos com o Irã. for Eastern Slavonia (UNTAES), na Croácia, durante a guerra civil na
antiga Iugoslávia. Foi diretor da Associação Brasileira de Estudos
ou de avaliar corretamente as decisões. Os ajuda da coalisão. Esses exemplos servem para demonstrar o
de Defesa (ABED) no biênio 2012-2014. Atua na área das relações
líderes que se aventuraram no apoio à queda No entanto, como nos casos citados acima, o quanto complexo, volátil e imprevisível está o internacionais com ênfase em segurança internacional, conflitos e
de al-Assad não esperavam a firme determi- fortalecimento desse grupo certamente aumen- sistema internacional neste início de século. resolução de conflitos, direito internacional dos conflitos armados e
operações de paz. É membro de várias associações acadêmicas, como
nação do presidente russo Putin e do governo tará o poder dos curdos que lutam pela inde- Dessa forma, a assimetria e os problemas em a Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) e a International
iraniano de apoiar o ditador, muito menos a pendência do Curdistão, com repercussões mais inúmeros campos continuarão atuando como Political Science Association (IPSA), onde é membro do Research
gigantesca onda de migrantes que se dirigiram fortes na Turquia, como já se pode perceber. incentivo para o surgimento de atores propen- Committee 44.
à Europa a partir de 2015. Dentro dessa complexa dinâmica de segu- sos a utilizar a violência em busca de seus

18 UnespCiência UnespCiência 19
Terrorismo Terrorismo

Entrevistas a Oscar D’Ambrosio

sença da imprensa internacional, mas tam- para prevenir e combater o terrorismo, o país
bém contará com a participação de atletas e faz parte dos tratados e organismos internacio-
algumas autoridades de países que, sim, são nais que tratam do tema, mas internamente
considerados inimigos pelos grupos terroristas. não se percebem ações rápidas que indiquem
As Forças Armadas brasileiras estão de a preocupação com o fenômeno.
sobreaviso desde há muito tempo e se pre- A Lei do Terrorismo foi sancionada em mar-
param intensamente para o caso, os sistemas ço e não há uma estrutura permanente anti e
de inteligência, vigilância e cibernética estão contra terrorismo, nem a definição da autori-
atentos e operantes. Mas sabem, como todos dade responsável em alto nível. No entanto,
sabemos, que nenhum sistema de seguran- os grandes eventos que ocorreram, como a
ça é perfeito, e que quem quer cometer um Conferência Rio+20, a Copa das Confede-
atentado está atento ao sistema e suas falhas rações, a Jornada da Juventude e a Copa de
para operar nelas. Mundo de futebol, e os Jogos Olímpicos que
Sabendo da preocupação e preparo do sis- serão realizados daqui a alguns meses fizeram
tema, o que cabe à população brasileira é cur- com que, dentro das medidas de segurança
tir o evento com tranquilidade; preocupar a adotadas, ou a serem adotadas, o tema terro-
sociedade com a possibilidade de falha não rismo ganhasse destaque.
resolverá a falha e propagará o terror, reali- Foi montada uma estrutura ad hoc para esses
zando assim o objetivo do terrorismo, sem ter
realizado nenhum esforço.
A América Latina não é alvo específico de nenhum

© Wikimedia Commons
sérgio luiz cruz aguilar A América Latina dos grupos chamados “terroristas” operando na
é uma região do mundo que tem se mantido atualidade nem nesta região reconhecem inimigos
afastada da ação terrorista internacional. Os declarados
atentados que ocorrem, com algumas exceções,
estão ligados a grupos internos, por exemplo,
Acima, soldados do objetivos – e os atos terroristas continuarão o Sendero Luminoso no Peru e os grupos que eventos sob a direção da Secretaria Extraor-
Exército brasileiro
durante uma parada para
fazendo parte dos problemas de segurança a atuam na Colômbia, cuja classificação como dinária de Segurança para Grandes Eventos
o Dia da Independência serem enfrentados. “terroristas” pode ser questionada. (SESGE) criada pela Presidência da Repúbli-
em Brasília.
No entanto, não podemos esquecer dos ca no Ministério da Justiça que, junto com o
Ao lado, os dois uc Dentro desse contexto mundial, quais atentados ocorridos em Buenos Aires. Eles Estado-Maior Conjunto do Ministério da De-
mascotes das Olimpíadas indicativos temos na América Latina e no não visaram o Estado ou a sociedade argen- fesa, assumiu a responsabilidade de planejar,
e Paralimpíadas
Rio/2016. Conhecidos Brasil especificamente? tina mas sim a comunidade judaica. Usando definir, coordenar, implementar, acompanhar
no mundo todo, Vinicius héctor luis saint pierre A América Latina esse exemplo, nenhum país estaria imune ao e avaliar as ações de segurança nesses eventos.
(alusão a Vinicius de
Moraes) e Tom (Tom não é alvo específico de nenhum dos grupos terrorismo. Nesse sentido, em qualquer um O órgão de coordenação máximo para a
Jobim), respectivamente. chamados “terroristas” operando na atualidade deles podem ocorrer atentados, o que coloca segurança da Copa do Mundo foi constituído
nem nesta região reconhecem inimigos decla- os governos e as agências responsáveis em por um chamado triunvirato, formado pelo Mi-
rados. Todavia, na região podem se apresentar constante estado de alerta. nistro Chefe da Casa Civil da Presidência da
alguns dos fatores favoráveis para a perpetração Além disso, como a prevenção e o combate República, o Ministro da Justiça e o Ministro
de um atentado, como a relativa liberdade de ao terrorismo necessitam de coordenação de da Defesa, assessorados pelo Ministro Chefe
movimento e a facilidade de acesso aos ma- esforços e de uma vasta cooperação interna- do Gabinete de Segurança Institucional da
teriais explosivos ou armas. cional, os países latino-americanos devem se Presidência da República, e operacionalmente
No caso do Brasil, deve-se somar a estas ligar de alguma forma aos esforços internacio- envolve inúmeras instituições em nível federal,
características a realização de um evento in- nais de ação contra esse fenômeno. estadual e municipal. Ou seja, o tema ganhou
© Divulgação/EBC

ternacional de grande porte, como é o caso O Brasil não tem o terrorismo como prioridade força em decorrência dos grandes eventos no
das Olimpíadas. Este espetáculo não apenas em sua agenda de segurança. Há um apoio do país e não por ser considerado importante na
representa um palco ideal pela pesada pre- governo brasileiro aos esforços internacionais agenda de segurança do Brasil.

20 UnespCiência UnespCiência 21

Anda mungkin juga menyukai