40 41
Luís de Camões Rimas
A representação da amada A representação da amada
6. A beleza de Leonor
Descalça vai para a fonte A representação da mulher tem sido um tópico constante nas manifestações artísticas. é descrita a partir da
conjugação de elementos
Visione uma reportagem sobre a obra de Pinar Yolaçan, uma artista turca, que tem petrarquista, como as mãos
a este mote: de prata ou os cabelos de ouro,
tratado em fotografia o tema da mulher, encarada com naturalidade e realismo. e a descrição dos elementos
físicos associados ao seu
Descalça vai para a fonte vestuário, que aponta a origem
Leanor pela verdura; campesina da mulher, e ainda
a comparação com elementos
Vai fermosa e não segura. da Natureza (“mais branca que
a neve pura”).
7.1 Trata-se de um vilancete,
voltas
composto por um mote de três
PROFESSOR versos e duas voltas de sete
versos cada.
Leva na cabeça o pote,
Educação Literária 7.2 O poema está construído
o testo nas mãos de prata, em redondilha maior
14.2; 14.3; 14.4; 14.8;
14.9; 16.2 cinta de fina escarlata1, (“Des/cal/ça /vai/pa/ra a/ fon/
[te]”. O esquema rimático
saínho2 de chamalote3, é emparelhado no mote (abb)
1. Para caracterizar a mulher, 5 traz a vasquinha de cote4, e emparelhado e interpolado
são referidos elementos nas voltas (cddccee fggffee).
físicos (mão, tez, cabelo, pés), mais branca que a neve pura;
peças de vestuário (cinta, vai fermosa, e não segura. Oralidade
saínho, vasquinha, touca,
fita) e a atividade que ela 5.1; 5.3; 6.1; 6.2; 6.3
desenvolve (ir buscar água Descobre a touca a garganta, 1
à fonte). Trata-se de uma cor vermelha viva, tecido
mulher do mundo rural, cabelos d’ouro o trançado, que tem essa cor
pertencente ao povo, o que 10 fita de cor d’encarnado, 2
veste sem mangas de formato Vídeo
se conclui pela atividade que As Mulheres
tão linda que o mundo espanta; redondo e sem abas
executa (ir buscar água 3 de Pinar Yolaçan
tecido de lã ou pelo,
à fonte) e pelo vestuário. chove nela graça tanta
geralmente com seda
2. São referidas as seguintes que dá graça à fermosura; 4
cores: branco (associado casaco curto e muito justo
à sua pureza), a cor de prata vai fermosa, e não segura. ao corpo de uso diário
e de ouro (associadas à sua
preciosidade) e o vermelho
Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro
(que remete para um traço As Mulheres (2014), Pinar Yolaçan.
de sensualidade da mulher). J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], pp. 55 e 56.
3. Por exemplo, metáfora
(“mãos de prata” (v. 2) ou Apresente uma apreciação crítica da reportagem dedicada à obra de Pinar Yolaçan,
“cabelos d’ouro”, v. 9),
que aponta para a cor dos 1. Refira os elementos mobilizados para a caracterização da figura feminina, referin- referindo:
elementos físicos (brancura do, ainda, a condição social da Leonor.
ou louro) e para a preciosidade • o tema central da reportagem;
/ raridade destes traços; a
comparação (“mais branca 2. Atente no cromatismo presente no poema. • a informação significativa;
que a neve pura”, v. 6), que
permite realçar a brancura
Refira as cores selecionadas, associando-as a traços caracterizadores da mulher. • a relação entre os dados biográficos da autora e as suas opções artísticas;
da tez da mulher, superior à
brancura natural da neve; a 3. Refira três recursos colocados ao serviço da caracterização de Leonor, referindo a • a adequação da seleção de imagens como forma de ilustrar a perspetiva de Pinar Yolaçan;
hipérbole (“tão linda que o sua expressividade no poema.
mundo espanta”, v. 11), que • os modelos de mulher explorados pela fotógrafa e as intenções subjacentes ao seu
destaca a beleza rara e quase trabalho.
inumana da mulher. 4. Interprete o significado da expressão “chove nela graça tanta / que dá graça à fer-
4. O sujeito lírico destaca, por mosura”. (vv. 12 e 13)
meio de uma metáfora (“chove A apresentação crítica deverá ter uma duração de 2 a 4 minutos.
nela graça tanta”, v. 12), 5. Apresente uma proposta de interpretação para o verso “vai fermosa, e não segura”.
a perfeição e a beleza da
mulher, concluindo que esta BLOCO INFORMATIVO – p. 331
acrescenta beleza à própria 6. Comprove que o retrato de Leonor resulta da conjugação de elementos petrarquis- MANUAL – p. 88
formosura, ultrapassando tas com elementos campesinos.
o próprio modelo de beleza.
5. A mulher exibe a sua beleza, 7. Este poema integra as redondilhas camonianas.
mas esta formosura traz-lhe
insegurança, uma vez que ela 7.1 Identifique o subgénero a que pertence.
está mais exposta ao amor.
7.2 Classifique o tipo de redondilha bem como o esquema rimático presentes no poema.
178 179
Gil Vicente Farsa de Inês Pereira
LEITURA E S C R I TA
O cinema, tal como o teatro, é uma arte que cria formas de representação e de (des)cons- Observe atentamente a pintura de Giorgione, pintor renascentista italiano.
trução da realidade. Proceda à leitura do seguinte artigo de apreciação crítica sobre
uma adaptação da obra homónima de José Saramago.
“Não é nenhuma obra-prima, mas pode entretê-lo durante uma hora e meia”.
A frase é tirada de O Homem Duplicado, o próprio livro de José Saramago, e é dirigida
à sua personagem, o soturno professor de História Tertuliano Máximo Afonso, por um
colega de trabalho. Seria de enorme crueldade revertê-la contra a adaptação ao cinema
5
do romance, feita pelo canadiano Denis Villeneuve. Uma injustiça, não por faltar à verda-
de, mas por ser maliciosamente incompleta. As obras-primas rareiam por natureza, e um
filme pode ser muito bom sem alcançar tal patamar, e proporcionarmo-nos uma hora e
meia bem passada não é defeito. A questão é que o filme, efetivamente, vai além disso.
PROFESSOR Se não é a melhor adaptação de sempre de um livro do Nobel português, é pelo menos
10
a mais fascinante.
Leitura
7.1; 7.6; 8.1; 8.2 Convenhamos que, na verdade, as adaptações não foram assim tantas. […]
Este O Homem Duplicado, que não é uma obra-prima, mas uma hora e meia bem passa-
da no cinema, tem a vantagem, logo à partida, de fazer uma distinção clara entre o objeto-
1. O artigo faz uma apreciação -filme e o objeto-livro. Baseia-se, inspira-se em, numa fase preliminar, mas logo se afasta,
crítica do filme O Homem 15
Duplicado, baseado na obra entendendo bem a distinção entre os formatos e a sua existência autónoma. Não está lá a
homónima de José Saramago. escrita de Saramago nem tinha que estar. Não se julgue que Denis Villeneuve transformou
2. (1) “A questão é que o filme,
efetivamente, vai além disso.
O Homem Duplicado (que tem um título mais pobre em inglês, Enemy) num thriller, no fa-
Se não é a melhor adaptação tídico destino de um homem que anda à caça de si próprio ou do “outro que era eu”, como
de sempre de um livro do
Nobel português, é pelo
diria Ruben A. Faz algo diferente, sem intuitos megalómanos ou de block-buster. Deixa de
20
menos a mais fascinante”; (2) lado grande parte do poder reflexivo do romance e adquire uma outra dimensão, que torna
“não é uma obra-prima, mas
uma hora e meia bem passada
o plano filosófico, existencial, mais palpável e deixa mesmo a porta escancarada para a in-
no cinema”; (3) “[…] mas logo terpretação psicótica, alucinogénia. Cria, ou adensa, os traços psicológicos do consciente
se afasta, entendendo bem a
distinção entre os formatos
e subconsciente, na busca de um outro, que na verdade é o mesmo, não se encontrando A tempestade, c. 1508, Giorgione (c. 1478-1510), Gallerie dell'Accademia, Veneza.
e a sua existência autónoma.” necessariamente no exterior, mas em si próprio. […]
3. Um dos argumentos
prende-se com o facto JL, Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.o 1140, de 11 a 24 de junho de 2014, p. 25. 1. Elabore um texto de apreciação crítica, com 120 a 150 palavras, baseando-se na
de o filme não misturar imagem e nos tópicos abaixo elencados:
a linguagem verbal com
a cinematográfica e não tentar 1. Identifique o objeto comentado e apreciado. a. Estrutura tripartida do texto:
seguir a par e passo a obra.
Por outro lado, esquece 2. Destaque do texto três frases reveladoras da opinião do autor sobre o filme. • Introdução: descrição sucinta do objeto.
o caráter reflexivo do
livro, substituindo-o por • Desenvolvimento: opinião pessoal sobre a obra (comentário crítico, valorativo
3. Indique dois argumentos que sustentam a posição do autor deste artigo.
um adensamento quer ou depreciativo, recorrendo a dois argumentos, devidamente
do consciente quer do
subconsciente e a sua 4. Complete a seguinte afirmação, no seu caderno, selecionando o vocábulo adequado. exemplificados).
implicação na busca PROFESSOR
da identidade. • Conclusão: fecho do texto e reforço da posição pessoal.
4. a. valorativa. b. sucinta. Num texto de apreciação crítica faz-se uma exposição • pormenorizada • sucinta Escrita
b. Redação clara e objetiva, respeitando os mecanismos de coesão e coerência textual. 11.1; 10.2; 12.1; 12.2;
c. argumentos. a.__________ de um filme, disco, peça de teatro... Procede-se à • valorativa • exemplos 12.3; 12.4
c. Utilização de vocabulário adequado e diversificado.
apresentação b. __________ do objeto ou produto bem como
• imparcial • argumentos BLOCO INFORMATIVO – p. 331
dos c. __________ que validam a posição do autor. MANUAL – p. 88 Resposta de caráter pessoal.
• conjetura CADERNO DO ALUNO – p. 49
136 137