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Cinco minutos de lavagem cerebral programada via Whatsapp

Áudio destinado à cristãos do Brasil para induzir ao voto em Bolsonaro é exemplo de como tentam
manipular a mente das pessoas

Por Arnaldo V. Carvalho*

Precisarei de meia hora para desconstruir menos de cinco minutos de um áudio perverso que me foi
encaminhado com o propósito de análise.

O áudio que analisarei aqui está circulando com força pela comunidade evangélica. Trata-se da
leitura de um texto repleto de artimanhas, onde a autora utiliza técnicas de persuasão
(convencimento) bastante conhecidas na psicologia e da ciência da comunicação. Não é um uso
bondoso desse conhecimento, e foi meticulosamente escrito e narrado para influenciar pessoas que
seguem a Fé Cristã.

Explicarei passo a passo cada segundo do áudio, e o leitor poderá escutar e depois acompanhar
minha análise à medida que escuta, pausando para refletir em cima das minhas observações.+

Transcrição essencial do texto, com análises comentadas:

mm:ss

00:00: A locutora começa dizendo que não sabe de quem é o texto.

Análise comentada:

1. Isenção. Ao dizer que não sabe de que é, a locutora “se livra” da responsabilidade sobre o
mesmo.

00:09: A autora começa enumerando “coisas boas” que aconteceram para ela nos governos do Lula
e Dilma (que são do PT) (supostos benefícios do período):

- Enem
- Estágio
- Reforma da casa
- Carro
- Prouni
- Pessoas carentes justamente ajudadas
- Água no nordeste.

Análise comentada:
1. Lavagem cerebral. O texto é feito em primeira pessoa, o que já gera de início de técnica de
persuasão do tipo “lavagem cerebral”. Quando uma pessoa lê o texto de outra em nome do “eu”, o
inconsciente d ouvinte pode associar esse “Eu fiz, eu vivi, eu penso, eu acredito” a si própria sem
que a pessoa se dê conta.
2. Técnica de subterfúgio de comunicação. A autora começa enumerando pontos positivos de quem
atacará em seguida (leia o texto e/ou ouça o áudio) para parecer mais confiável, já que
aparentemente o texto que ela leu "pesa os dois lados".
3. Anacronismo. Os eventos “positivos” que a autora da carta lida diz te vivido reúnem conquistas
da sociedade de diferentes governos. Alguns desses “positivos” não são do período do governo PT
(principal alvo do texto, mas não somente ele). Outros são citados de maneira confusa e
tendenciosa. Voltemos a eles:
- Enem é de 1998, período FHC (PSDB)
- Ela conseguiu um estágio, e isso quer dizer que conseguiu avançar na formação que cursava a
partir do ENEM. Ok.
- Reforma da casa possivelmente atrelada ou a estabilidade econômica (período FHC – PSDB)
- Prouni é de 2004, do período Lula (PT). Note que é um programa anterior ao do candidato
Haddad.
- Pessoas carentes justamente ajudadas: Essa afirmativa fará a ponte com o que o texto acusará mais
a frente de “assistencialismo”. Ajudar pessoas carentes é serviço de todos os governos (e sempre fez
parte da sociedade cristã), e sempre existiu ao longo da história, de diferentes modos.
- “Água no nordeste”: Aqui há uma generalização sem fundamentos. O governo do período não
“fez chegar água no nordeste”. O que houve foi um conjunto de investimentos governamentais que
fizeram as pessoas conseguissem enfrentar melhor a forte seca. O texto aqui quer dizer que a vida
do nordestino, no geral, melhorou, mas não quer dizer que foi especialmente por programas
igualmente “assistencialistas” na visão do texto (como bolsa família, seguro-safra, aposentadoria
rural, entre outros).

00:32 Ela começará a virar agora, dizendo que essas coisas a transformaram em um simpatizante da
"esquerda".

Análise comentada:
1. Trata-se de uma estratégia de transição. Ela falava do positivo e agora falará do negativo. Nota
que a primeira palavra que marcará o “ciclo negativo” da mensagem é a palavra “esquerda”
(comentarei sobre o peso negativo atribuído a ideia de “esquerda” ao final).
2. Na estratégia de transição, está armada uma armadilha que levará a ouvinte da comunicação a
sensação de que “fui enganada”, já que o momento que antecede a declaração negativa a tornou
uma “simpatizante”.

00:41 Agora ela começará uma lista de coisas que ela diz que foram ruins no mesmo governo, de
Lula e Dilma (PT):

- Família tradicional ser extinta


- Educação rebaixada a zero
- Petrobrás quebrar
- Empresas fecharem as portas
- Planalto central virar um circo
- Bandidos soltos vítimas
- Cidadão de bem preso sendo feito refém da violência
- Vi as escolas violarem a inocência de nossas crianças expondo a imoralidade, homossexualidade
e a sexualidade precoce;
- Vi a escola se transformar em centro de formação de delinquentes
- Vi policial ser morto sem poder atirar
- Vi um ex-presidente ser preso
- Vi ministros serem buscados em casa como bandidos que são
- Eu vi a mídia manipular tudo e todos por poder
- Vi a gasolina virar 5,40 e vi o dólar a 4,20
- Vi a nossa dignidade de ter saúde de excelência ser extinta
- Direito de andar a hora que quer sem ser roubado ir por água abaixo.
- Jesus virar chacota em manifestações patrocinadas com dinheiro público

Análise comentada:
1. Precisarei ir ponto a ponto nas supostas negativas ocorridas no Brasil:

- Vi a família tradicional ser extinta:

Análise comentada:
1. Distorção. As famílias tradicionais estão aí. As saudáveis seguem firmes e fortes e assim serão. O
que aconteceu – no mundo inteiro, não só no Brasil – é uma uma abertura de espaço para novos
modelos familiares não diminui em nada o espaço da família tradicional, normalmente tipificada
por “pai, mãe e filhos”. O fenômeno não está relacionado a este ou aquele governo.

2. Anacronismo. Vamos estudar um pouco de história? Quando os avós mais velhos de hoje
nasceram (início do século XX), “família tradicional” tinha um contexto que hoje a gente repensa a
sério. Se pensarmos no sentido conservador, família tradicional cristã tinha que ser católica (nem
pensar em outras religiões cristãs, tidas todas como “seitas”), e se branca, nem pensar em casar com
um negro. Na família tradicional onde vovós e vovôs cresceram uma moça bem criada saberá
controlar seu filho, dele criará, e essa será sua vida. Trabalhar não é digno a uma moça direita de
família tradicional. Casamentos arranjados ainda eram comuns, embora isso estivesse mudando (o
que era um absurdo para os pais defensores da “família tradicional” da época!). Também mudariam
outros conceitos, como a aceitação de outras doutrinas cristãs, não católicas, o direito ao trabalho e
ao voto, etc. Agora, a família tradicional para uma pessoa dos anos de 1950 tinha outras ideias sobre
a vida. E a família tradicional dos anos de 1980 mudou… Na verdade, os modelos familiares
SEMPRE mudaram ao longo da história, e isso é fato. O que se quer no modelo cristão é uma
família SAUDÁVEL, o que significa que o matrimônio é contraído por Amor, os filhos são
recebidos e criados com Amor; “Família tradicional” é uma família com laços afetivos fortes, com
identidade de clã.

Os modelos familiares não mudam por iniciativa de um governo. O que os governos fazem (todos,
inclusive os “governantes familiares”, pais e mães) é irem criando adaptações (políticas públicas)
para tornar a convivência saudável, a medida que surgem tais demandas. Assim como o pai
engenheiro precisa aprender a respeitar que o filho estude geografia, o governo precisa conseguir
acomodar os arranjos interfamiliares que vão se formando.

O governo pode ajudar as famílias a serem saudáveis oferecendo boas condições de vida a seus
membros (boa educação para os filhos, boa condição de trabalho para os pais, saúde para todos,
etc.). Mas não pode cuidar do que não é da alçada dele, que é o ambiente intra-familiar.

Resumindo, associar um suposto desmantelamento do modelo familiar diretamente com o governo


é desonesto.

b) Educação rebaixada a zero

Análise comentada:
1) Distorção. Todos os números de educação no Brasil melhoraram consideravelmente no período
de governo de Lula e primeiro governo Dilma. Como a educação foi rebaixada a zero? Atenção, não
confundir a obrigação da união com a dos estados e municípios. A escola é competência
principalmente dessas esferas. Os cristãos do Rio de Janeiro precisam mesmo lamentar a
precariedade da educação mas não é com o governo federal, e sim com o municipal e estadual, que
durante esses anos todos de Lula e Dilma no poder jamais teve um governo petista sequer.

c) Petrobrás quebrar

Análise comentada:
1. Distorção. A Petrobrás alcançou seu apogeu na era Lula:

Dados comparativos entre a Petrobras antes de Lula e a Petrobras de 2013: O lucro passou de 8 para
23 bilhões. O valor de mercado, de 54 para 216 bilhões. O investimento em pesquisa e
desenvolvimento saltou de 147 milhões para 1,2 bilhões. A participação do PIB, passou de 3 a 13%.

E viu sua ruína após o conturbado período Dilma, que viu o preço do barril do petróleo cair pela
metade de 2014 para 2015, o que colocou a empresa, já bem afetada pelos problemas de corrupção
que surgiram antes disso, em maus lençóis. Mas ela atualmente está saudável, retomou rumo é bem
lucrativa. Ou seja, “quebrou” foi na verdade “quase quebrou”. Mas não está quebrada como dizem.

- Empresas fecharem as portas


Análise comentada:
1. Distorção. Empresas abrem e fecham as portas o tempo todo no mundo inteiro, e o nome disso é
capitalismo. Não vai mudar, independente do presidente.

- Planalto central virar um circo

Análise comentada:
1. Associação negativa e desqualificação. O que você entende por “circo”? Que estão
transformando o governo numa “palhaçada”, um organismo que não se pode levar a sério. Por que?
Por conta de tanto escândalo de corrupção. Então vamos ser francos: Roubalheira no cenário
político é um “clássico” que parece acompanhar o país desde que ele se formou. O circo sempre
esteve aí. O que está mudando para melhor é que as coisas estão aparecendo, já tem um ou outro
poderoso sendo preso ou “tomando sustos”. É muito difícil mesmo para os especialistas determinar
até onde os esquemas de corrupção do país podem ter ido, mas é fato: alastrou-se entre TODOS os
partidos, e causa um prejuízo imenso. O que é certo é que os governos do PT não impediram a
justiça e a polícia federal de fazerem seus trabalhos. O medo agora é que o candidato do ódio está
de fato indo a público para falar toda hora de atitudes que aparentemente vão contra esse espírito.

- Bandidos soltos são feitos de vítimas

Análise comentada:

1. Anacronia e distorção. A constituição brasileira, de 1988 não é do tempo do PT no poder. É


considerada uma das melhores do mundo, e prevê direitos básicos a presos. Não há nada que o PT
possa fazer por isso, bem como não haverá nada que outros partidos possam fazer. É constitucional,
que se queira ou não queira. As leis não dizem que bandidos não devam ser tratados como tal, e
avaliam cada caso de forma distinta. Generalizar isso é leviano, porque tenta mexer com as
emoções das pessoas revoltadas com a violência. As leis se preocupam em não ser injustas. Quantos
negros e pobres são presos somente porque são negros pobres, eternos “suspeitos”?

A explosão da violência não está ligada à “leis que protegem e transformam bandidos em vítimas”,
mas em uma falta de estrutura social que deixe de produzir bandidos. E aqui voltamos a falar algo
que também passa pela política DOS ESTADOS. Atualmente tanto a união como os municípios
estão tendo que se meter porque os estados não estão fazendo um bom trabalho – e nem farão
enquanto ficarem prometendo mais polícia e colocando menos saúde, trabalho e educação para as
pessoas das áreas críticas.

- Cidadão de bem preso sendo feito refém da violência


Análise comentada:
1. Anacronia e distorção. Eu fui assaltado pela primeira vez aos seis anos de idade, moleques
levaram minha bicicleta; De lá para cá vivi vários assaltos, enquanto o país ia trocando de
presidentes… Dizer que a violência começou neste ou naquele governo é no mínimo ingênuo. Um
processo contínuo e crescente, facilmente atribuída a um não projeto de longo prazo e que
realmente priorize as pessoas.

- Vi as escolas violarem a inocência de nossas crianças expondo a imoralidade, homossexualidade


e a sexualidade precoce;

Análise comentada:
1. Anacronia e distorção. A autora atribui a exposição à sexualidade às escolas do tempo do PT, e
nada disso é fato.

O Xou da Xuxa foi ao ar em 1986, na transição da ditadura para a democracia, com o país sob a
presidência do General Figueiredo… Logo veríamos menininhas sendo vestidas como Xuxa e
contra isso, campanhas contra a erotização precoce. Não tardaria a aparecer a turma do “É o
Tcham” e as criancinhas pequeninas a dançar “na boquinha da garrafa” em churrascos de família.
Quem sempre expôs as crianças a uma sexualidade precoce foi a TV. Nunca vi uma escola
incentivar esse tipo de coisa. Sinto muito, mas nada disso tem qualquer relação com o PT, que só
assumiu presidência em 2003.

- Vi a escola se transformar em centro de formação de delinquentes

Análise comentada:
1. Distorção. Onde que se viu escola formar delinquentes? A escola pública ainda é um lugar que
tenta segurar as crianças do que elas vivem do lado de fora. É verdade que as condições oferecidas
para isso são covardes: salas de aula lotadas e precarizadas, professores tendo que fazer jornada
dupla ou tripla para sobreviver… Não é fácil ajudar essas crianças que já chegam na escola armadas
com facas e as vezes pistolas. Agora, dizer que a escola forma delinquente?

- Vi policial ser morto sem poder atirar

Análise comentada:
1. Distorção. Os artigos da lei relacionados à legítima defesa vale para os policiais. Eles podem sim
atirar para defender a sua vida ou a de um terceiro que esteja em risco. É lei. Nunca houve isso.
Agora, o que ele não pode é ir na Favela da Maré por exemplo e atirar num estudante pelas costas
por esporte, como aconteceu com o Marcus Vinícius.

- Vi um ex-presidente ser preso

Análise comentada:
1. Associação negativa. Vimos Lula ser preso. E deveríamos ter visto muitos outros políticos presos,
do PT e de outros partidos (Aécio é o grande símbolo mas a lista é gigante), e estão todos soltos.
Vergonha não é quando a justiça funciona, mas quando ela seleciona para quem ela vale e para
quem não vale.

- Vi ministros serem buscados em casa como bandidos que são

Análise comentada:
1. Associação negativa. Políticos e empresários. Graças a Deus, o governo não desautorizou as
ações da Polícia. Dizem que não acontecia antes porque não dava liberdade de ação para essas
investigações. Não é confirmado. Fato: Políticos de todos os partidos, especialmente dos partidos do
“Centrão”, foram investigados e alguns presos. Muitos estão hoje eleitos pelo PSL, o partido de
Bolsonaro, que esse audio apoia. Vários foram soltos depois… Deixaram de ser bandidos?

- Eu vi a mídia manipular tudo e todos por poder

Análise comentada:
1. Anacronismo e distorção. A mídia sempre joga com as notícias a seu favor. Quando não foi
assim? Se ela não viu isso acontecer antes, então não tinha acordado para isso. Todos sabem por
exemplo do apoio da Globo à ditadura, e do papel dela a eleger o Collor por exemplo. A vantagem
de hoje é que temos acesso a diversos jornais e revistas, do Brasil e do exterior, que já publicam em
língua portuguesa, e podemos comparar as informações e tirar conclusões mais acertadas. Mas é
preciso determinação para ler.

- Vi a gasolina virar 5,40 e vi o dólar a 4,20

Análise comentada:
1. Associação negativa. Não se pode acusar o PT de crise absoluta: Foram 8 anos de período Lula e
esses aumentos de preço não haviam acontecido. No meio do governo Dilma isso começou a
acontecer. Então temos no mínimo metade do tempo com relativa prosperidade na economia, com
dólar e gasolina com preços que quem usa isso conseguia pagar. Se as coisas mudariam se ela não
fosse afastada? Não dá para dizer. Mas também não dá para dizer que Temer foi um presidente
melhor. O que de fato ele fez pelo país, além de aprovar novas leis trabalhistas que permitem impor
condições as vezes bem difíceis aos empregados? Claro que ele foi melhor para os empresários
nesse sentido. E só.

2. A autora da carta não deve ter trinta anos, porque não deve saber o que foi a inflação. Não deve
ter visto as maquininhas que reajustavam preços TODOS OS DIAS nos supermercados.

3. Cá entre nós, e o povo tem carro para usar gasolina? E tem dinheiro para investir ou viajar
usando dólar? Essas notícias só servem na prática para quem tem dinheiro.

- Vi a nossa dignidade de ter saúde de excelência ser extinta

Análise comentada:
1. Falsa atribuição do fato (ao governo PT). QUANDO na história tivemos saúde de excelência e
para todos nesse país? NUNCA.

- Direito de andar a hora que quer sem ser roubado ir por água abaixo.

Análise comentada:
1. Falsa atribuição do fato (ao governo PT). QUANDO pudemos andar sem medo dentro da cidade
grande? NUNCA. Dos malandros da Lapa do início da república, chegando aos “trombadinhas” dos
anos 1980 e para os roubos atuais, nunca pudemos andar descansados. Não se pode atribuir isso ao
governo PT.

- Jesus virar chacota em manifestações patrocinadas com dinheiro público

Análise comentada:
1. Mensagem disfarçada. Bolsonaro já disse que eliminaria o Ministério da Cultura (depois voltou
atrás) e que queria acabar com as leis de incentivo à cultura. Há artistas de todos os tipos e é um
direito de todos eles pedir enquadramento na lei de incentivo. O estado é laico e não pode julgar as
peças, apenas dentro do que diz a lei. Quem patrocina são empresas, que recebem desconto de
imposto quando patrocina. Ao usar a palavra “chacota”, a autora do texto lido no áudio utiliza
vocabulário utilizado pelos críticos a uma peça encenada no Nordeste, onde Jesus era apresentado
como “travesti”. Muitos evangélicos se sentiram ofendidos e eu posso compreender o ponto de
vista, mas esse é um caso pontual, e não deve ser usado para que se corte incentivo à cultura.

02:05 Aqui o texto lido começa uma "conclusão" de que os benefícios antes citados não adiantavam
frente aos malefícios.

- Ter carro e ser roubado ou não ter gasolina para andar


- Ter faculdade ou cursos e não ter emprego ou salário digno
- Criança na escola se de lá ela sai funcionalmente analfabeta e moralmente desvirtuada
- Não adianta de nada ter tudo e não ter nada

Análise comentada:

1. Aqui o texto usa uma técnica de encaixar negativos nos antigos positivos, destruindo as
informações positivas do início do áudio.

2. O texto aqui praticamente diz: PT deu vida material e esqueceu dos valores. Queremos os valores
de volta, e assim prepara o ouvinte para o que vem em seguida: o apelo à ideias que ela julga serem
cristãs.
02:30 Agora ela vai jogar com a Fé Cristã:

- Dignidade Cristã não está à venda


- Nem serve para troca por bolsa-família, financiamento estudantil, ou qualquer assistencialismo
- Sou a favor da restituição da família
- Sou a favor de bandido na cadeia (sem preconceitos, bandido é bandido e pronto)
- Sou a favor de um governo honesto
- Sou a favor de uma mudança desesperada
- Sou a favor de um Brasil patriota, de orgulho
- Onde pessoas honestas vão crescer e prosperar

Análise comentada:

1. Mecanismo de lavagem cerebral (fala em primeira pessoa). Aqui é o ponto crítico do texto nesse
sentido. Quando ela fala repetidamente “eu sou a favor”, incute a mensagem no cérebro do ouvinte,
que já seduzido pela retórica anterior começa a introjetar esses valores como seus.

2. Utilização de valores cristãos reais e distorções: A ordem de apresentação das frases de afirmação
faz um perfeito revezamento entre valores notadamente cristãos com outros do sentido político que
quer conduzir o ouvinte. O desejo é de que o todo das mensagens seja aceito e compreendido como
uma coisa só, de forma que o valor real cristão vai sempre “confirmando” que o valor distorcido
seria também mais um valor cristão.

Então se enumerarmos as frases da mensagem:

1. Dignidade Cristã não está à venda


2. Nem serve para troca por bolsa-família, financiamento estudantil, ou qualquer
assistencialismo
3. Sou a favor da restituição da família
4. Sou a favor de bandido na cadeia (sem preconceitos, bandido é bandido e pronto)
5. Sou a favor de um governo honesto
6. Sou a favor de uma mudança desesperada
7. Sou a favor de um Brasil patriota, de orgulho
8. Onde pessoas honestas vão crescer e prosperar

Veremos que as mensagens 1 (dignidade Cristã), 3 (família), 5 (honestidade), 7 (patriotismo), se


intercalam com a 2 (ataque aos benefícios do governo PT, chamados de “assistencialismo”), 4
(problema da segurança que se pretende resolver prendendo mais trabalhando para jovem deixar de
virar bandido), 6 (mudança DESESPERADA, que praticamente induz a pessoa a acreditar em uma
mudança A QUALQUER PREÇO), e 8 (para o “vitimismo” adjetivo que Bolsonaro tanto aponta
contra o povo), a solução é a meritocracia, onde vence o honesto, o melhor; O que não funciona em
um país desigual, onde o acesso às oportunidades é completamente diferente para homens e
mulheres, brancos e negros, ricos e pobres).

3:10 A esquerda não pode me dar nada disso com seus candidatos, todos ex-ministros de Lula.

Análise comentada:

1. Lavagem cerebral. Já tinha “destruído” positivos de uma “esquerda”, então retoma essa palavra
para anular qualquer questionamento acerca dos candidatos Marina, Ciro e Haddad. Todos foram
ministros do Lula, e se analisarmos suas trajetórias no governo, veremos que estão entre os que
mais fizeram. No período inclusive mais próspero do governo do PT.
2. A afirmativa mostra que esse áudio foi criado antes do primeiro turno, e visa derrubar todos os
mais fortes adversários políticos de Bolsonaro, incluindo Alckmin (PSDB), o único da lista “à
direita” (agora ficou claro porque entre os “positivos” do início do áudio estão incluídos feitos do
período de FHC (PSDB).

3. Vale a menção de que o condidato Henrique Meirelles do MDB também acaba sendo “atacado”
nessa frase, pois apesar de ser de um partido de direita, trabalho por quase todo o governo Lula e à
frente do Banco Central teve poder de ministro.

NOTA sobre “esquerda”:

Não cabe nessa análise instruir sobre o conceito político de “direita” e “esquerda”, menos ainda as
amplas visões dos cientistas políticos do mundo inteiro. Apenas devo dizer que os partidos “de
esquerda” silenciosamente mencionados pela citação do termo “esquerda” e associação com o
governo do período PT são, além do próprio PT, o PDT (de Ciro Gomes), e REDE (de Marina
Silva), e que dentro da conjuntura nacional, são partidos que costumam dar mais atenção às causas
sociais.

3:18 Sou pobre e não venha me encher o saco com teorias e achismos influenciados por uma
imprensa imoral e parcial.

Análise comentada:

1. Técnica de identificação. Ao afirmar que é pobre, o autor do texto se sintoniza com o alvo dessa
mensagem, que é exatamente o eleitor pobre.

2. Nova Identificação: A autora do texto lido sabe que a ouvinte, pobre e cristã, pode estar se
sentindo confusa, bombardeada por informações contraditórias, o “não encher o saco” soa como
identificação para com os sentimentos do ouvinte.

3. Desqualificação (“Só ouça a mim”). Técnica que tenta impedir que a pessoa possa refletir.
Em seguida à técnica da identificação, imediatamente imprime uma mensagem marcada pela
agressividade (não venha me encher o saco), para mais uma vez destruir a escuta do ouvinte em
posteriores conversas (aqui chamadas de “achismos influenciados”), bem como invalida os acessos
ao estudo e leitura da situação (desqualificação da imprensa).

3:28 Construí minhas convicções com argumentos, não com ofensas.

Análise comentada
1. Reforço da mensagem anterior, tentando dizer que usou a razão
2. Desqualificação: quando diz que fez de um jeito e não de outro, está expondo que alguém fez do
outro jeito (com ofensas). Ou seja, “o adversário ofende”. Essa é a mensagem escondida. Mas
afinal, quem é o candidato que de fato abre a boca para ofender pessoas e grupos?

3:30 Talvez ele não tenha toda a experiência que você espera. Mas ele e mais ninguém foi o único a
se levantar para levantar os valores que também defendo.

Análise comentada

1. Contraste do “ruim” com o “bom” e Associação positiva. A autora coloca a reconhecida


fragilidade de Bolsonaro em seu curriculum (nunca esteve a frente de um cargo executivo ou gestão
de qualquer espécie) em contraste com os valores que antes ela havia dito ter, agora associados a
figura do político.

3:46 Gente preparada já governou e tudo só piorou. Por que eram imorais, or exemplo Sérgio
Cabral

Análise comentada:

1. Desqualificação e Associação negativa. Em antítese relacionada à mensagem anterior, ela


desqualifica o preparo, e busca criar uma associação negativa de candidatos que já foram prefeitos
e/ou governadores (notadamente Ciro, Alckmin, Haddad) com o ex-governador Sérgio Cabral que
hoje está preso.

3:52 Competente e honesto é ideal, mas se não puder, que seja honesto, que isso será o suficiente
para melhorar a vida

Análise comentada
1. Reafirmação. A mensagem é clara: Não importa competência (que Bolsonaro não tem), só a
honestidade (que o ouvinte já foi induzido a acreditar que ele tem).

4:11 Dedique tempo para tentar descobrir quem é seu candidato, se o que ele pensa é o que
realmente você quer para o Brasil.

1. Discurso de neutralidade e benevolência. A técnica aqui inicia uma importante parte das retóricas
típicas da mente perversa (termo psicanalítico). “dedique tempo” quer dizer “sou neutra, não quero
me meter, sou uma pessoa boa e quero que você pense”. Contradição total, depois de tudo o que
disse.

2. Indução à fonte de informação. Depois de tecer uma série de relações distorcidas, afirmações, de
esbravejar para mostrar emoção, sentimento de mulher traída, a autora do texto guiará para a pessoa
dedicar tempo a “descobrir quem é seu candidato”. Uma contradição, já que ela antes havia
afirmado que “não venham me encher o saco”. Se ela seguir essa prerrogativa, não deve conversar,
nem recorrer à mídia; Como então se informará? A fonte de informação é a autora? Pastores?
Quem?

4:23 Eleição não é futebol. No futebol o fim do jogo determina o resultado final. Na eleição o
resultado só inicia. Pense.

1. Criação de pressão por sentenciamento. A mensagem é “se você não tomar sua decisão se dará
mal”. É uma técnica de persuação muito comum em vendas: o vendedor tem pressa para que a
pessoa escolha logo o produto e o compre, porque se ela sair da loja, poderá refletir sobre a mesma
compra e chegar a conclusão de que não precisava do que ia comprar.
2. Técnica de neutralidade e lavagem cerebral. “Pense”, como palavra final, aparenta desejo de que
a pessoa reflita. Mas a autora sabe que as informações antes incutidas vão reger os pensamentos da
pessoa pelas próximas horas e modelar o pensamento. Terminar com “pense” é terminar de forma
mentirosa (e perversa) o texto de convencimento.

Em resumo, o áudio investe em*:

10 segundos de introdução onde se isenta


20 segundos de conteúdo positivo acerca do objeto que será atacado
10 segundos de justificativa de “transição do positivo para o negativo”
1 minuto e meio de enumeração de negativos do objeto atacado.
20 segundos de “conclusão” no pesar de positivos e negativos
40 segundos de indutivas do que seriam os valores da Fé Cristã
10 segundos de transição final com reafirmação do “traidor”
10 segundos onde determina que não se deve ouvir mais nada ou ninguém, que os argumentos já
estão apresentados de forma “razoável”.
20 segundos justificando porque se pode admitir um governante “despreparado”
20 segundos polarizando honestidade e competência para forçar a uma decisão
10 segundos para reforçar a idoneidade do áudio (“pesquise”)
15 segundos para sentenciar o ouvinte (intimidação)

*Segundos aproximados

Se reparar, teremos aqui uma métrica relativamente precisa, e isso não é fruto da espontaneidade.

Esse audio-texto deve ter sido ouvido por milhares e milhares de pessoas. Imagine o estrago que
fez.

* * *

Arnaldo V. Carvalho é terapeuta, escritor, pedagogo. Chegou a estudar comunicação social e utiliza
análise de discurso em seu consultório, como parte dos recursos terapêuticos.

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