Anda di halaman 1dari 8

23/09/2018 Penhor de escravos e queima de livros de registro | Observatório do Registro

Pular para o conteúdo

Observatório do Registro
Kollemata – informação e sentido
Menu

Início
O fato do autor
Termo de uso

InícioPenhor de escravos e queima de livros de registro

Penhor de escravos e queima de livros de registro


25 de janeiro de 201028 de outubro de 2010 iacominvs CartóriosBadaró, Escravatura, Penhor de escravos,
Registro, Ruy Barbosa

Dando seguimento aos debates acerca da queima de arquivos relativos à escravatura no Brasil, dialogando
com os textos já publicados anteriormente¹, hoje trago à reflexão dos nossos leitores os textos de decisões
administrativas que serviram de base para as medidas draconianas baixadas por Ruy Barbosa, apresentando
algumas das razões que podem subjazer à decisão ministerial a que se aludirá abaixo.

Avalanche indenizacionista

Após a quartelada a que o povo assiste impotente e “bestializado”, o país viveria um período tumultuado
relativamente às questões relacionadas com a lavoura e a abolição da escravatura. Após a abolição, vários
foram os projetos “indenizaconistas” – propostos, por exemplo, por Coelho Rodrigues, Cotejipe e João
Alfredo² -, somente arrefecendo com a proclamação da república e, especialmente, com a atuação firme e
decidida de Ruy Barbosa.

Bandeira do Brasil - Primeira República


Bandeira do Brasil - Primeira República

A resposta aos “aristocratas mendicantes”, que pleiteavam alguma forma de compensação pela abolição
imediata e sem indenização, articulada no requerimento firmado por Anfriso Fialho e outros, viria em forma
de despacho ministerial:

Despacho do Ministro da Fazenda.

Requerimentos despachados:

De José Porfírio Rodrigues de Vasconcelos e seus filhos, José Melo Alvim e o Dr. Andriso
Fialho, apresentando as bases para a fundação de um banco encarregado de indenizar os ex-
proprietários de escravos ou seus herdeiros, dos prejuízos causados pela lei de 13 de maio de
1888, deduzidos 50% de seu valor em favor da República,

Mais justo seria, e melhor se consultaria o sentimento nacional, se se pudesse descobrir meio de
indenizar os ex-escravos, não onerando o Tesouro. Indeferido. (Diário Oficial. Rio de Janeiro, 12
de novembro de 1890, p. 5.216, col. 2).

Mas as medidas tomadas pelo Ministro da Fazenda não se deteriam ali. Logo a seguir, a 14 de dezebro de
1890, Rui Barbosa proferiria uma decisão polêmica, cujo texto integral é este:

https://cartorios.org/2010/01/25/penhor-de-escravos-e-queima-de-livros-de-registro/ 1/8
23/09/2018 Penhor de escravos e queima de livros de registro | Observatório do Registro

Decisão s/n. de 14 de dezembro de 1890

Manda queimar todos os papéis, livros de matrícula e documentos relativos à escravidão,


existentes nas repartições do Ministério da Fazenda.

Ruy Barbosa, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda e presidente do Tribunal
do Tesouro Nacional:

Considerando que a nação brasileira, pelo mais sublime lance de sua evolução histórica,
eliminou do solo da pátria a escravidão — a instituição funestíssima que por tantos anos
paralisou o desenvolvimento da sociedade, inficionou-lhe a atmosfera moral;

Considerando, porém, que dessa nódoa social ainda ficaram vestígios nos arquivos públicos da
administração;

Considerando que a República está obrigada a destruir êsses vestígios por honra da Pátria, e em
homenagem aos nossos deveres de fraternidade e solidariedade para com a grande massa de
cidadãos que pela abolição do elemento servil entraram na comunhão brasileira;

Resolve:

1º — Serão requisitados de todas as tesourarias da Fazenda todos os papéis, livros e documentos


existentes nas repartições do Ministério da Fazenda, relativos ao elemento servil, matrícula dos
escravos, dos ingênuos, filhos livres de mulher escrava e libertos sexagenários, que deverão ser
sem demora remetidos a esta capital e reunidos em lugar apropriado na Recebedoria.

2º — Uma comissão composta dos Srs. João Fernandes Clapp, presidente da Confederação
Abolicionista, e do administrador da Recebedoria desta Capital, dirigirá a arrecadação dos
referidos livros e papéis e procederá à queima e destruição imediata deles, que se fará na casa da
máquina da Alfândega desta capital, pelo modo que mais conveniente parecer à comissão.

Capital Federal, 14 de dezembro de 1890 — Ruy Barbosa. (Obras completas de Rui Barbosa,
Vol. XVII, 1890, tomo II, pp. 338-40).

Vimos no artigo Soriano Neto, Machado, Ruy e a queima de arquivos que outra disposição incendiária de
Ruy seria veiculada em 1891 por meio do Decreto 370, cujo parágrafo único do art. 11 registrava:

Paragrapho unico. Os livros do registro sob o n. 6, nos quaes era transcripto o penhor de
escravos, serão incinerados, e si delles constarem outros registros, estes serão transportados com
o mesmo numero de ordem para os novos livros de ns. 2, 4 ou 5.

Princesa Imperial D. Isabel do


Brasil
Princesa Imperial D. Isabel do Brasil

Qual a razão dessas medidas?

A resposta que se fez corrente é: eliminar os comprovantes fiscais que se achavam no Ministério da Fazenda
e que poderiam servir de base e fundamento à onda indenizacionista.

O texto da decisão de 14 de dezembro de 1890 parece centrar o seu foco nos arquivos da administração
fazendária.

Segundo Francisco de Assis Barbosa, os objetivos de Ruy Barbosa (e de seu sucessor, Alencar Araripe) se
resumiriam a eliminar o comprovante fiscal da propriedade servil, esboroando a evidência da propriedade do
escravo:

É importante insistir no objetivo determinante dos atos, tanto o de Rui Barbosa, como do seu
sucessor Alencar Araripe, que era o de eliminar o comprovante fiscal da propriedade servil, para
assim evitar, como salientamos, a situação de fato, sempre questionada na época, em torno da
https://cartorios.org/2010/01/25/penhor-de-escravos-e-queima-de-livros-de-registro/ 2/8
23/09/2018 Penhor de escravos e queima de livros de registro | Observatório do Registro

propriedade do escravo, desde que a entrada de africanos fora considerada ilegal pela lei de 7 de
novembro de 1831, assinada por Diogo Antônio Feijó, ministro da Justiça, declarando livres
todos os escravos vindos de fora do Império e impondo penas aos importadores dos mesmos
escravos. Lei que, seguida do Decreto de 12 de abril de 1832 e assinada ainda por Feijó,
regulamentou a anterior sobre o tráfico de africanos”. (BARBOSA. Francisco de Assis.
Apresentação in Rui Barbosa e a queima de arquivos. LACOMBE. Américo Jacobina. SILVA.
Eduardo, BARBOSA. Francisco de Assis. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1988,
p. 19).

Como se vê, a entrada ilegal de escravos deixou um rastro probatório que os republicanos gostariam de
apagar, desfalcando seus antagonistas de um poderoso foco de tensão política, livrando muitos dos que já se
alinhavam em suas fileiras – à parte o comprometimento do orçamento com o pagamento de indenizações.

Mas e a disposição do Regulamento Hipotecário? Essa disposição descansou na remansosa irrelevância das
questões técnicas e jurídicas. Não há registros desse dispositivo legal nos acesos debates sobre a queima de
arquivos e em seus livros.

Crimen fué del tiempo…

Américo Jacobina Lacombe encerra o seu texto lembrando o verso do poeta hispano-americano: crimen fué
del tiempo, no de España (op. cit. p. 39).

Com isso absolve Ruy Barbosa pelo cometimento que não hesitou em qualificar de “pedra de escândalo” da
nossa história cultural. Aliás, diga-se de passagem que Lacombe faz uma defesa paradoxal de Ruy, pois não
hesita em qualificar o ato ministerial de “espetáculo inquisitorial”, “desvario”, “espantosa obnubilação do
pensamento nacional”, “espantoso ato de vandalismo”, “malefício” – vituperando o ato realmente
abominável.

Muito mais lúcida, sem dúvida, terá sido a voz dissonante de Francisco Coelho Duarte Badaró (MG), que em
sessão que aprovaria a moção de apoio à iniciativa de Ruy Barbosa ousou discordar de seus pares:

“Sr. Presidente, não quero que ninguem entenda que, ao levantar para pronunciar-me contra esta
moção, eu pretenda condemnar a obra meritoria dos abolicionistas. O que faço é protestar contra
o acto de cremação de todo o archivo da escravidão no Brazil, porque envolve interesse
historico. Nós, em vez de procurarmos destruir, o que é uma obra de verdadeiros iconoclastas,
deviamos ter a nossa Torre do Tombo, um edificio destinado a recolher os papeis de todos os
archivos do paiz.

Somos um povo novo que corremos o risco de ter difficuldades para escrever a nossa historia,
porque é deploravel o que se observa em todas as municipalidades e nas repartições das antigas
provincias: por toda a parte o mesmo abandono, o mesmo descuido, e por ultimo o facto de
mandar-se queimar grande numero de documentos que podiam servir para se escrever com
exactidão a historia do Brazil, no futuro. (Muito bem; muito bem.)”. (Diário de Notícias, Rio de
Janeiro, 22.12.1890, p. 1).

Os livros de registro sobreviveram

https://cartorios.org/2010/01/25/penhor-de-escravos-e-queima-de-livros-de-registro/ 3/8
23/09/2018 Penhor de escravos e queima de livros de registro | Observatório do Registro

Livro de Transcrição de Penhor de Escravos - 1

Livro de Transcrição de Penhor de Escravos - 2

Apesar do “desvario” barbosiano, suas determinações ministeriais não se concretizariam plenamente – apesar
das fogueiras acendidas em 1891 no Rio de Janeiro e em 1893 na Bahia.

Saúdam os defensores de Ruy Barbosa que a sua criticada decisão não se cumpriria por uma triste sina da
administração pública brasileira – afinal, neste país nem todas as leis e decisões são feitas para serem
cumpridas! Fosse de outra forma e “a nossa emperrada máquina burocrática terá funcionado eficazmente
pela primeira vez, para nossa infelicidade”. (LACOMBE. Américo Jacobina. op. cit. p. 35).

Seja como for, as decisões dos primeiros republicanos não foram atendidas. Comprova-os arquivos dos
Registros de Imóveis espalhados por todo o país, que mantiveram, diligentemente, os seus livros de registro
intactos e preservados do incêndio republicano.

Passeio aos livros de registro


V. pode consultar aqui uma seleção de registros feitos no Livro de Transcrição de Penhor de Escravos, que se
acha mantido e conservado no Primeiro Registro de Imóveis da Comarca de Franca, neste Estado, a cargo do
registrador Lincoln Bueno Alves, a quem agradeço o acesso e manuseio dessas preciosidades.

– Transcripção de Penhor de Escravos. Extrato.

Notas
¹ Confira: Soriano Neto, Machado, Ruy e a queima de arquivos e Memorial de Ayres, texto do Dr. Ermitânio
Prado.

https://cartorios.org/2010/01/25/penhor-de-escravos-e-queima-de-livros-de-registro/ 4/8
23/09/2018 Penhor de escravos e queima de livros de registro | Observatório do Registro

² A reprodução dos projetos referidos podem ser apreciados no livros Rui Barbosa e a queima dos arquivos.
LACOMBE. Américo Jacobina, SILVA. Eduardo, BARBOSA. Francisco de Assis. Rio de Janeiro: Fundação
Casa de Rui Barbosa. 1988, p. 51 et seq.

Compartilhar:

Compartilhar

Curtir isso:

Curtir

2 blogueiros gostam disto.

Navegação de Posts
← Esmigalhando os cartórios da Bahia
Estatização de cartórios = ineficiência →

6 comentários sobre “Penhor de escravos e queima de livros de


registro”

1. Murilo Prado Badaró disse:


26 de janeiro de 2010 às 5:29 am

Muito bom! Será que a intenção era somente evitar uma onda de indenização? Você que tem
acompanhado o assunto vê alguma outra motivação?
Abs

Curtir

Responder

2. José Campolina Castelo Branco Filho disse:


26 de outubro de 2010 às 8:28 pm

Parabéns pelo site!


Sou históriador e as informações contidas aqui serão importantes em uma pesquisa que estou
realizando.
Obrigado pela generosidade.
josé Campolina C.B. Filho

Curtir

Responder
3. Os números de 2010 | Observatório do Registro disse:
4 de janeiro de 2011 às 10:38 pm

[…] Penhor de escravos e queima de livros de registro janeiro, 2010 2 comentários 5 […]

Curtir

https://cartorios.org/2010/01/25/penhor-de-escravos-e-queima-de-livros-de-registro/ 5/8
23/09/2018 Penhor de escravos e queima de livros de registro | Observatório do Registro

Responder

4. Ivan Rodrogues Gregorio disse:


17 de agosto de 2014 às 3:13 pm

Agora posso concruir minhas pesquisa muito bom..

Curtir

Responder

5. fernando bettiol prado da silva disse:


24 de agosto de 2014 às 12:33 am

Além de evitar uma onda indenizatória, os atos do Escravocrata Rui Borbosa tinham por finalidade, a
perpetuação da Escravidão, afanando assim a autoestima e identidade cultural de vários povos
africanos, ou seja, um ato de má fé, praticado por meio de engenharia social oligárquica estatal, da
qual a o clã Rui Barbosa ainda hoje é integrante.

 Carregando...
Responder

6. Cadu disse:
19 de janeiro de 2016 às 11:30 am

Parabéns pela pesquisa! Excelente. Vale ressaltar que tivemos um excelente segundo reinado. É sabido
que este era o legítimo regime brasileiro onde enfim, após a proclamação da independência, nosso país
se formou. Não é com cotas em universidades que vamos resolver essa questão ainda pertinente
abandonada pela República. Mas as coisas estão caminhando…

 Carregando...
Responder

Deixe uma resposta

Digite seu comentário aqui...

Estatísticas
915.638 acessos

Pesquise:
Pesquisar por: Pesquisar … Pesquisar

Categorias

https://cartorios.org/2010/01/25/penhor-de-escravos-e-queima-de-livros-de-registro/ 6/8
23/09/2018 Penhor de escravos e queima de livros de registro | Observatório do Registro

ABDRI
BE
Café com jurisprudência
Cartórios
Coimbra – 2016
Doutrina
Ermitanices
IPRA-CINDER
Kollemata
NEAR
News
notário
NSCGJSP em discussão
ONR – Operador Nacional do Registro de Imóveis Eletrônico
Registro de Imóveis
Registros Públicos e Notas Eletrônicos
SINTER
Tio Jacaré

Registradores no Twitter
1077079-05.2018.8.26.0100 – CND –@dispensa quintoregistro.wordpress.com/2018/09/17/107…
4 days ago
1077073-95.2018.8.26.0100 – CND INSS e RF quintoregistro.wordpress.com/2018/09/17/107…
4 days ago
Subdelegação de funções e a subversão do sistema registral e notarial cartorios.org/2018/09/15/sub…
https://t.co/kPnA1CUEv6 6 days ago
Digitalização da matrícula – hiper-saturação textual cartorios.org/2018/08/23/dig…
https://t.co/CWwqd3whjQ 4 weeks ago
O Registro de Imóveis eletrônico tarda. É imperioso implantá-lo nacionalmente, a exemplo do
Registro do Comércio. N… twitter.com/i/web/status/1… 1 month ago
As Carolinas e as vivandeiras na janela registral cartorios.org/2018/08/18/as-…
https://t.co/XkhipfhQLI 1 month ago
Sendas para o futuro do Registro de Imóveis cartorios.org/2018/08/17/sen… https://t.co/KfpUu98S7K
1 month ago
Alienação fiduciária- independência jurídica do registrador cartorios.org/2018/08/17/ali…
https://t.co/NpLbDC564l 1 month ago
1044002-05.2018.8.26.0100 – união estável –@formalização
quintoregistro.wordpress.com/2018/08/15/104… 1 month ago
0006051-91.2018.8.26.0100 – Matrícula – bloqueio. Falsidade documental. Procuração falsa.
quintoregistro.wordpress.com/2018/07/03/000… 2 months ago

Contexto

Way back machine | O… on BBS-Registral – o ancest…

Marco Antonio Violin on Digitalização da matrícula…

Cristina Minatto on Digitalização da matrícula…

Allyson Cavalcanti on Digitalização da matrícula…

Meire Jacomel Jacome… on Digitalização da matrícula…


https://cartorios.org/2010/01/25/penhor-de-escravos-e-queima-de-livros-de-registro/ 7/8
23/09/2018 Penhor de escravos e queima de livros de registro | Observatório do Registro

Tema: Big Brother por WordPress.com.

https://cartorios.org/2010/01/25/penhor-de-escravos-e-queima-de-livros-de-registro/ 8/8

Anda mungkin juga menyukai