Linguagem técnica é própria e específica de cada área. Trata-se de palavras que podem ser
encontradas no dicionário comum da língua, mas que são aplicadas, com sentido diverso ou não,
pelos operadores daquele campo restrito de conhecimento. A linguagem técnica do direito significa
que muitas das palavras que aparecem nas petições, apesar de parecerem complexas ou preciosas,
têm função de definir conceitos do Direito. Vejamos o texto a seguir:
A) Art. 5º, LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal.
...devido processo legal – não basta que haja processo, é necessário que ele seja legal.
...hediondo – é aquele crime abjeto, vil. Para o leitor comum todo homicídio é hediondo, mas se o
advogado usa o termo, significa que ele faz referência à enumeração taxativa da lei específica
(8.072/90). Pode-se dizer que o homicídio é crime grave, repugnante, indesejado, violento, mas isso
não significa, tecnicamente, hediondo.
A linguagem técnica é necessária para exposição eficaz dos conceitos do direito. Ela é
imprescindível na redação dos textos jurídicos.
O condutor afirma que deu voz de prisão ao meliante, o qual empreendeu fuga do
local dos fatos, em desabalada carreira, adentrando a um estabelecimento comercial de
vendas de roupas, onde tomou por refém um indivíduo; ato contínuo, quando o meliante
fazia menção de agredir um cidadão, o condutor disparou a arma, alvejando a perna do
meliante, que passou a claudicar; ato contínuo, não conseguindo empreender nova
fuga, o condutor o algemou, prontamente providenciando sua condução ao nosocômio...
A exordial ministerial apresentou uma miríade de falsas afirmações, que não passam
de bazófias que devem ser repelidas por esse Douto Areópago, como foram pelo
Tribunal Popular, quando proferida defesa por este mesmo causídico.
O uso recorrente e insistente de algumas palavras e termos arcaicos ou pouco usuais pelos
operadores do direito, ao contrário de exibir erudição, revela pobreza de estilo, falta de conhecimento
e/ou de segurança no uso de termos mais comuns e fluentes de nossa língua.
O jargão ou gíria profissional não deve ser repetido várias vezes no mesmo texto, o termo
técnico, ao contrário, é necessário para clarear as intenções do autor.
1.2 Linguagem jurídica: análise de textos.
Para redigir um texto jurídico, o autor deve considerar aspectos como precisão, concisão,
clareza, formalidade, coesão e coerência. Considerando que a coesão e coerência são tópicos a
serem abordados em nossas próximas aulas, centremo-nos nas noções de precisão, concisão, clareza
e formalidade.
PRECISÃO: requer conhecimento dos termos e de seu valor. Um dicionário, o aprendizado de figuras,
o estudo de expressões usadas em direito resolve o problema da precisão.
Deve-se evitar o uso de expressões polissêmicas (que permitem muitos sentidos). Elas serão tão
mais polissêmicas quanto mais ensejarem abstrações e generalizações. Segundo Othon Garcia (1982:
169)1:
Atividade 2: Continue o texto, considerando uma elaboração que dê à expressão ‘a regra que a
acusação pretende fazer valer não é aceitável’ maior precisão:
‘A acusação afirma que o réu deve ser responsabilizado pelo homicídio, admitindo que sua
participação foi apenas a de vender a arma ao verdadeiro executor. Afirma que pouco importa se
conhecia o motivo para o qual a arma seria usada, já que a venda era ilegal. Para tanto, apresenta
o artigo 13 do Código Penal, considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido. Sustenta a acusação, então, que se a arma não fosse vendida ao executor, ele não poderia
matar a vítima e, portanto, o resultado não teria ocorrido.
A regra que a acusação pretende fazer valer não é aceitável.
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1GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar. 10ª ed.
Rio de Janeiro: ed. Da Fundação Getúlio Vargas, 1982.
Atividade 3: Substitua as expressões destacadas por outras mais adequadas:
1. Substantivos: coisa, trem. 2. Verbos: Dar, dizer, estar, fazer, pôr, ter, ver.
a) Nadar e caminhar são coisas indispensáveis à saúde física.
b) Desrespeitar as autoridades é uma coisa inconcebível.
c) Diante da prova colhida, é uma coisa evidente.
d) Isso é uma coisa que jamais me passou pela cabeça.
e) Nesse processo, ocorreu um trem esquisito.
f) O juiz parece estar dando sinais de impaciência.
g) As instalações do fórum não dão o conforto necessário às partes.
h) O juiz determinou que as partes dessem suas razões finais.
i) O judiciário anda em baixa na pesquisa popular. Os jornais deram a notícia ontem.
j) Ao ser ouvido, o réu deu sua versão do fato.
k) A defesa disse que os argumentos da acusação eram falsos.
l) Amedrontada, a testemunha não disse uma palavra.
m) Os brocardos jurídicos, muitas vezes dizem grande verdade jurídica.
n) A solução está na ampliação do prédio.
o) O ladrão estava de camisa branca e calça jeans.
p) Os religiosos fizeram uma campanha a favor dos desabrigados.
q) O juiz fez um discurso em homenagem ao Presidente do Tribunal.
r) O devedor pôs o dinheiro na conta judicial.
s) O ladrão foi pego ao pôr a chave na fechadura.
t) A faca usada pelo condenado tem 30 cm de tamanho.
u) O Dr. Paulo sempre foi tido como advogado estudioso, calmo e íntegro.
CONCISÃO: refere-se à qualidade de dizer o máximo possível com o mínimo de palavras. Ideia
antônima à concisão é a prolixidade, manifestada no exagero, nas redundâncias desnecessárias, nas
repetições exaustivas. CONCISÃO é uma das principais qualidades da linguagem forense. Consiste na
busca da forma breve, incisiva para o pensamento.
Atividade 4: Reelabore o texto abaixo, em que um biólogo se posiciona sobre o tema do controle da
natalidade, no sentido de torná-lo conciso e preciso:
“O que eu acho engraçado é que toda vez que um biólogo começa a falar em controle da natalidade
e programação da sociedade, ele é taxado imediatamente de nazista e fascista, porque essa
ressalva que eles fazem, essa reação que o povo tem em geral até hoje eu não entendi. Porque
olhe, se nós vivemos numa sociedade em que as camadas mais pobres da população apresentam
um índice de natalidade mais alto significa o quê? Que daí a um determinado tempo o índice mental
dessa sociedade vai cair. Então se a gente faz um controle científico dessa natalidade eu acho que
vai repercutir para o bem da sociedade e não para o mal. Outra coisa: o controle também de
pessoas que não podem ter filhos porque geneticamente elas são inaptas, são capazes de transmitir
doenças, que seria válido esse controle. Quer dizer que uma pessoa antes de casar faria um controle
genético, um cariótipo, e se ela fosse transmitir alguma doença então ela seria impedida de ter
filhos. Mas sempre que a gente fala sobre isso, imediatamente a reação ‘é nazista’, ‘é fascismo’.
Eu não sei de onde provém isso. Talvez vocês tenham alguma ideia. Eu não sei de onde vem essa
reação do homem ou então, é original de religião. O que é que você acha?”
FORMALIDADE: relaciona-se com a observância das regras gramaticais, no sentido de o autor alcançar
um alto grau de correção na elaboração de seu texto. Refere-se, também, ao uso de um vocabulário
pouco usual e sofisticado e à formulação complexa das orações.
“Impor à mulher o dever de carregar por nove meses um feto que sabe, com plenitude de certeza,
não sobreviverá, causando-lhe dor, angústia e frustração, importa violação de ambas as vertentes
de sua dignidade humana. A potencial ameaça à integridade física e os danos à integridade moral
e psicológica na hipótese são evidentes. A convivência diuturna com a triste realidade e a lembrança
ininterrupta do feto dentro de seu corpo, que nunca poderá se tornar um ser vivo, podem ser
comparadas à tortura psicológica”.
A afirmação é do advogado que representou a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde
(CNTS) que pedia ao ministro Marco Aurélio para autorizar a interrupção de gravidez cujo feto é
anencéfalo, ou seja, sem cérebro.
“A vida é sempre um dom de Deus e deve ser respeitada, desde o seu início até o seu fim natural.
Não temos o direito de tirar a vida de ninguém. A mulher que gera um filho com anencefalia pode
passar por um drama grave e por muitos sofrimentos, sabendo que o feto pode morrer ainda no
seu seio, ou então, morrerá logo depois de nascer. Temos que ter muita compreensão para com
essa mãe e a sociedade dispõe de muitos meios para ajudá-la. Mesmo o risco para a saúde da mãe
pode ser controlado pela medicina. Mas o sofrimento da mãe não é justificativa suficiente para tirar
a vida do filho dela. Além disso, fazer o aborto, nestes casos, pode marcar a mãe com um segundo
drama, que ela vai carregar para o resto da vida. Abortar um filho não é solução, mas é um
problema a mais para a mãe. Melhor, neste caso, é deixar que a natureza siga o seu curso natural.”
A afirmação é do advogado que representou a Igreja Católica nessa mesma ação.
1.4 Características do texto jurídico: formalidade (sinonímia, paronímia, homonímia, antonímia,
ambiguidade e tautologia
É o caráter polissêmico (uma palavra possuir vários significados) da língua que amplia a definição de
um vocabulário; na ausência de uma relação direta palavra/coisa, vai-se alargando o valor
semântico dos signos, tornando-se eles um feixe de significados. Exemplos:
1.4.2.1 – Unívocos: são os que contêm um só sentido. A codificação vale-se deles para
descrever delitos e assegurar direitos:
↔ Furto – (art. 155 CP – subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel;
↔ Roubo – (art. 157 CP - subtrair, para si ou para outrem, coisa móvel alheia mediante grave ameaça
ou violência, depois de reduzir a resistência da pessoa;
↔ Mútuo (art. 586, CC – empréstimo oneroso de coisas fungíveis [que se gastam];
↔ Comodato (art. 579 CC – empréstimo gratuito de coisas não fungíveis;
↔ Seduzir ⇒1o) Linguagem usual = exercer fascínio sobre alguém para benefício próprio.
2o) Direito Penal = manter conjunção carnal com mulher virgem, menor de dezoito anos
e maior de catorze, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança.
1.4.2.3 – Análogos – São os que não possuindo étimo comum, pertencem a uma mesma família
ideológica ou são tidos como sinônimos. Exemplos:
↔ Vão – O vão do prédio (substantivo)/ Eles vão fugir (verbo) / Era um projeto vão (adjetivo).
↔ São – São José / Homem são / São eles.
↔ Escudo (arma defensiva)
Escudo (moeda)
↔ Manga (fruta)
Manga (parte do vestuário)
↔ Egrégio (ex grege): usava para designar a ovelha separada do rebanho; hoje, fala-se de Egrégio
Tribunal (Nobre Tribunal);
↔ Formidável: que causa medo (do latim formidare) e cujo sentido, hoje, é excelente;
↔ Escrúpulo: antes, pedrinhas de areia que perturbavam quando entravam no sapato; hoje,
perturbação de consciência.
1.4.4 – SINONÍMIA E PARONÍMIA
1.4.4.1. Sinônimos
De acordo com a Linguística moderna, seria sinônimo perfeito aquele permutável em todos os
contextos, Segundo Mario Quintana não há sinônimos perfeito:
↔ Desvirginamento, defloramento:
O primeiro traz uma conotação de pudor e o segundo de violência.
1.4.4.2. Parônimos
1.4.4.3. Antonímia
É a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que apresentam significados diferentes,
contrários - ANTÔNIMOS.
1.4.4.4. Ambiguidades
A ambiguidade, também chamada de anfibologia, é a duplicidade de sentidos numa mesma
sentença. Pelo fato de reunir mais do que uma interpretação possível, as ambiguidades podem gerar
um desentendimento no discurso, motivo pelo qual devem ser evitadas nos discursos formais. Assim,
quando surgem por descuido, as ambiguidades são consideradas vícios de linguagem.
Por sua vez, quando a ambiguidade resulta da posição das palavras na oração, ela é estrutural.
Exemplo: Exigiu o dinheiro do marido. (o dinheiro é do marido ou apenas estava com ele?)
Confira abaixo exemplos de frases ambíguas e as diversas situações em que podem ocorrer:
2) Estamos falando acerca de um prato daquele novo restaurante, o qual faço questão que você
experimente.
(O que você gostaria que eu experimentasse, o prato ou o novo restaurante?)
Agora veja:
Estamos falando acerca de um prato daquele novo restaurante. Faço questão que você
experimente o lugar.
1.4.4.5. Tautologia
Exemplos de Tautologia
• Elo de Ligação - A ligação aqui é desnecessária, pois só a palavra elo já pressupõe a existência de
uma relação.
• Surpresa inesperada - Toda surpresa é inesperada, de outra forma não seria surpresa.
• Encarar de Frente - encarar já é estar à frente, cara a cara.
• Há anos atrás - o uso do "há" já demarca que se trata de tempo passado, não sendo necessária a
inclusão do "atrás".
• Expressamente proibido - se é proibido, não há forma de ser permitido. Portando o "expressamente"
para demarcar o modo não é preciso.
• Empréstimo temporário - se é emprestado, já demonstra que não é definitivo, do contrário seria dado
e não emprestado.
↔Verbos prolatar, proferir, exarar e pronunciar: TODOS se referem à decisão judicial, não
representando, no entanto, a mesma ideia.
Prolatar – é usado em sua acepção ampla: tanto significa declarar oralmente a sentença,
quanto dá-la por escrito.
Proferir – ajunta-se à ideia da sentença oral.
Exarar – corresponde a lavrar, consignar por escrito a decisão judicial.
Pronunciar – decisão anunciada em voz alta (sentido antigo).
↔ Verbos acordar e pactuar:
Pactuar, do latim pactum deveria ser usado para representar o ajuste, a combinação, a própria
manifestação da vontade. – Pacto antenupcial (que se desfaz naturalmente se o casamento não se
realiza).
Acordar – aplica-se mais à vontade firmada no plano concreto, no concreto, exemplo, estarem
concordes as partes quanto às cláusulas ou condições estabelecidas no ajuste, na convenção, no
contrato.
↔ Dilatar – é alargar, ampliar. No sentido jurídico é tico como equivalente a prazo, exemplo, Dilatam-
se os prazos.
4 - CACÓFATO – Palavra descabida que resulta da união de partes de outras palavras vizinhas.
Ela tinha muito dinheiro (é latinha)
Não tenho pretensões acerca dela. (a ser cadela)
É preciso ter fé demais! (fede mais)
5 – COLISÃO – é a sequência de sons consonantais iguais, da qual resulta um efeito acústico
desagradável.
Sabe, se você se sair satisfatoriamente bem, seremos salvos.
Futebol define finalistas na rodada de hoje.
6 – ECO – É a rima em prosa. Será um defeito quando não se tratar de prosa literária.
O requerimento que enviamos naquele momento era o único instrumento de que dispúnhamos.
10 – O duplo sentido é muito comum nos textos de propaganda. Indique a frase a seguir em que não
ocorre um duplo sentido.
a) Compre nossos pneus e não fique na lona!
b) Ninguém fica frio com os cobertores Primavera!
c) Classificados de O Globo: palavra que vende!
d) Príncipe veste hoje o homem de amanhã!
e) Neste açougue a carne não é fraca!
11 – As palavras hits e big-bang são exemplos de:
a) neologismos b) estrangeirismos c) sinônimos
d) arcaísmos e) regionalismos.
1.5 Características do texto jurídico: formalidade (aspectos gramaticais relevantes para o texto
jurídico).
1.5.1. Pesquisar no dicionário de termos jurídicos o significado dos termos grifados:
1) “De início cumpre registrar, a respeito do instituto da litispendência, as imprecisões do Código de
Processo Civil no trato do vocábulo, empregado indiscriminadamente, para duas situações totalmente
distintas.”
2) “Em regra, a fungibilidade é própria dos bens móveis, e a infugibilidade, dos imóveis. Entretanto, há
bens móveis que são infungíveis.”
3) “Essa restauração de eficácia é categorizável como repristinação, e admitida em nome do princípio
da segurança e da estabilidade das relações sociais.”
4) A ab-rogação, expressão raramente usada hodiernamente, pode ser tácita ou expressa.
5) “Daí a parecença entre a rescisão por vício redibitório e a resolução por inadimplemento, conforme
a concebeu no art. 1.092, parágrafo único, do Código Civil.”
6) “Os poderes e as obrigações do curador são fixados pelo juiz, conforme as circunstâncias.”
7) “O sequestro e o arresto são medidas cautelares cuja diferença se situa no objeto da medida.”
8) “É função típica, prevalecente, do Poder Judiciário exercer a jurisdição.”
9) “Os casos de contrafação são previstos pelo Código Civil.”
10) “Nada tem a teoria da decadência, ou seja, da temporariedade dos direitos, com a teoria da
prescrição.”
11) “Na ementa do acórdão, o relator já dá a conhecer a decisão final.”
12) “A teoria de Direito Penal distingue os dois tipos de delito: furto e roubo, que o povo tem por hábito
considerar como sinônimos.”
13) “A Constituição Federal assegura a isonomia no art. 5º.”
14) “O Código de Processo Civil de 1973 alterou profundamente o sistema das exceções.”
15) “A notificação, em regra, é ato dirigido à pessoa que não contende em juízo, no que difere da
intimação e da citação.”
1.5.5. Sabemos que todos os institutos jurídicos contêm dois sujeitos, o ativo e o passivo.
Os sufixos gramaticais nos auxiliam na formação desses sujeitos, a partir do substantivo que nomeia tais
institutos. Assim, para o sujeito ativo, são comuns os sufixos: -ante, -ente, -inte, -or; por exemplo, agravo
– agravante. Para o sujeito passivo, são comuns os sufixos: -ado, -ário; por exemplo, agravado.
Com base na explicação supra, escrever os sujeitos ativo e passivo dos institutos arrolados abaixo:
INSTITUTO JURÍDICO SUJEITO ATIVO SUJEITO PASSIVO
Agravo
Alienação
Apelação
Comodato
Depósito
Deprecação
Doação
Embargos
Exceção
Notificação
Outorga
Querela
Reclamação
Reconvenção
Requerimento
Súplica