Em um dos momentos mais graves da história brasileira o NEMPS,
(Núcleo de Estudos em Movimentos e Práticas Sociais) vinculado ao Departamento de Serviço Social da UFES, não poderia se omitir.
Temos ao longo de nossos 20 anos de existência primado pela
promoção do debate franco, crítico e fraterno sobre os mais graves problemas da sociedade brasileira e as mais criativas formas criadas por aqueles que lutam por um Brasil mais justo e igualitário para enfrentá-los.
Estas formas de resistência e lutas possuem como sujeitos políticos
os diversos movimentos sociais, coletivos e outras formas de organização que levantam bandeiras pela garantia de direitos sociais reais e não apenas formalmente inscritos na lei, como direitos trabalhistas que amparem o trabalhador, direitos dos povos tradicionais negros e indígenas, historicamente invisibilizados, direitos da população LGBTI que tem sido exterminada diariamente, direitos das mulheres que estão cotidianamente sendo violentadas e mortas.
Acreditamos que neste momento temos uma contribuição a dar
para que a reflexão sobre as visões apresentadas por uma das candidaturas a respeito dos problemas do Brasil e das soluções para os mesmos, possa ser feita em bases minimamente racionais.
Infelizmente, às vésperas do segundo turno de uma das eleições
mais turbulentas da história deste país, a população brasileira está diante de uma candidatura que lançando mão da produção de falsas notícias como arma de propaganda política, promove e difunde um discurso de ódio.
Tais propagandas têm mobilizado a opinião pública a reproduzir um
discurso de intolerância contra as mulheres, a população indígena, negra e LGBTI, bem como contra toda forma de militância e ativismo progressista e de esquerda, sobretudo, de um determinado partido político tido como mais ameaçador dada a sua representatividade.
A candidatura que se assenta nestas propagandas tem oferecido,
ao mesmo tempo, propostas que atendem a uma agenda neoliberal que banaliza necessidades e interesses populares, fragiliza direitos humanos, retira direitos trabalhistas conquistados e censura a liberdade de pensamento.
Se o país for governado por uma estrutura de poder de tal ordem,
será difícil não apenas manter nossa democracia e lutar pelo seu aprofundamento, como também construir espaços de discussão e luta que fomentem legítimas preocupações com uma sociedade mais justa e igualitária.
Não devemos nos render às forças de dominação que nos afastam
ainda mais do Estado Democrático de Direito. Vamos lutar e resistir!
Portanto, com o intuito de alertar a sociedade brasileira sobre os
rumos que estão postos neste pleito eleitoral para o futuro do nosso país, listamos dez razões que nos desafiam a combater com vigor e repudiar o projeto político expresso no programa de governo registrado no TSE do candidato Jair Bolsonaro:
1) Ele não fará esforços para revogar a Emenda Constitucional 95,
a EC do teto de gastos do Estado, que congela os recursos para saúde, educação, assistência social e segurança pública por 20 anos (Não há nada no programa sobre o tema).
2) Ele não fará a revisão da reforma trabalhista que, entre outras
medidas, possibilita que mulheres grávidas trabalhem em locais insalubres, que podem trazer danos à saúde da mulher e/ou do feto (Não há nada no programa sobre o tema).
3) Ele implementará a redução da maioridade penal para 16 anos
(Slide 32 do programa), medida ineficaz para a redução da criminalidade, especialmente homicídios. Segundo o Anuário de Segurança Pública do Brasil (2015), apenas 4% dos menores de 18 anos em regime de privação de liberdade, são autores de homicídios. O percentual de menores de 18 anos fora da escola, segundo o MEC e o IBGE, é muito maior. 4) Ele incentivará os policiais matarem em serviço, pois, independentemente da situação, de quem e de quantas forem as vítimas, os policiais não serão investigados, e em caso de ações desmedidas, não serão punidos. Ao contrário, eles ainda receberão um benefício chamado excludente de ilicitude (Slide 32 do programa). Ou seja, a polícia brasileira além de ser a mais letal do mundo, passará a ter um benefício jurídico que a incentivará a matar mais!
5) Ele não aumentará os gastos com saúde e educação, ao
contrário, afirma que é possível melhorar os serviços prestados e fazer mais com os mesmos recursos disponíveis hoje (Slides 37 e 41 do programa).
6) Ele introduzirá uma carreira de Estado para médicos, mas nada
fará pela carreira dos outros profissionais do SUS (Slide 40 do programa).
7) Ele não respeitará a diversidade e pluralidade que devem
caracterizar a formação de professores e estudantes (Slides 41 e 46 do programa).
8) Ele acabará com o regime geral da previdência. Todos os
trabalhadores deverão contratar planos privados de previdência (regime de capitalização) para se aposentarem (Slide 57 do programa).
9) Ele privatizará todas as empresas estatais do país, o que inclui
Caixa Econômica, Banco do Brasil e Eletrobrás (Slides 60 e 61 do programa).
10) Ele usará recursos do Estado para subsidiar os processos de
privatização, pois o BNDES será considerado um banco investidor (Slide 62 do programa). O dinheiro do Estado será usado para financiar a privatização de empresas estatais!