Funcional
MANUAL DE ATUAÇÃO
FUNCIONAL
BELO HORIZONTE
2008
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA
CENTRO DE ESTUDOS E APERFEIÇOAMENTO FUNCIONAL
DIRETORIA DE PRODUÇÃO EDITORIAL
ISBN 978-85-61532-02-4
ISBN 978-85-61532-02-4
CDU 347.921.5
MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS
(em 24/09/08)
PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA
Procurador de Justiça Jarbas Soares Júnior
CHEFE DE GABINETE
Promotor de Justiça Paulo de Tarso Morais Filho
OUVIDOR
Procurador de Justiça Mauro Flávio Ferreira Brandão
SECRETÁRIO-GERAL
Promotor de Justiça Luciano Luz Badini Martins
DIRETOR-GERAL
Fernando Antônio Faria Abreu
CONSELHO EDITORIAL
Procurador de Justiça João Cancio de Mello Junior
Promotor de Justiça Adilson de Oliveira Nascimento
Promotor de Justiça Carlos Alberto da Silveira Isoldi Filho
Promotor de Justiça Cleverson Raymundo Sbarzi Guedes
Promotor de Justiça Lélio Braga Calhau
Promotor de Justiça Marcelo Cunha de Araújo
Promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda
Promotor de Justiça Renato Franco de Almeida
CONSELHO CIENTÍFICO
Procurador de Justiça Antônio Joaquim Fernandes Neto
Procuradora de Justiça Gisela Potério Santos Saldanha
Procurador de Justiça Júlio Cezar Guttierrez Vieira Baptista
Promotor de Justiça Fernando Rodrigues Martins
Promotor de Justiça Marcos Pereira Anjo Coutinho
Promotor de Justiça Luciano Luz Badini Martins
Promotor de Justiça Jairo Cruz Moreira
Promotor de Justiça Sérgio Gildin
COORDENAÇÃO DO MANUAL
Procurador-Geral de Justiça Adjunto Institucional Fernando Antônio Fagunde Reis
Procurador de Justiça João Cancio de Mello Junior
Procurador de Justiça Júlio Cezar Guttierrez Vieira Baptista
Promotor de Justiça Gregório Assagra de Almeida
Promotora de Justiça Célia Beatriz Gomes dos Santos
Promotor de Justiça Marcos Pereira Anjo Coutinho
PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA
Procurador-Geral de Justiça Jarbas Soares Júnior
Promotor de Justiça Roberto Heleno de Castro Júnior (Assessor Especial PGJ)
CHEFIA DE GABINETE
Procurador de Justiça Carlos André Mariani Bittencourt
Promotor de Justiça Paulo de Tarso Morais Filho
SECRETARIA-GERAL
Promotor de Justiça Luciano Luz Badini Martins
COMISSÃO DE CONCURSO
Promotor de Justiça Eduardo Nepomuceno de Sousa (Coordenador de Promotoria)
ÓRGÃOS COLEGIADOS
Procurador de Justiça João Batista da Silva (membro titular do Conselho Superior
do Ministério Público - exercício 2008)
REVISÃO
Dalvanôra Noronha Silva – Diretora de Formação e Aperfeiçoamento de Servidores
Daniela Paula Alves Pena – Analista do Ministério Público
Diogo Mesquita Maia – Analista do Ministério Público
Fabíola de Sousa Cardoso – Analista do Ministério Público
Hugo de Moura – Revisor à disposição do Ministério Público
Ivone Ribeiro da Silva – Analista do Ministério Público
Josane Fátima Barbosa – Analista do Ministério Público
Maria das Graças de Souza Luz – Analista do Ministério Público
Nirely Aparecida de Oliveira – Analista do Ministério Público
Beatriz Garcia Pinto Coelho (estágio supervisionado)
ARTE E DIAGRAMAÇÃO
Marcia Odete Corrêa da Silva – Analista do Ministério Público
PREFÁCIO
Que este Manual possa servir, enfim, não só para aprimorar e harmonizar a atuação
institucional, mas também contribuir para a construção do Estado Democrático de
Direito!
Seu caráter prático e a leitura fácil não interferem na qualidade do trabalho, na for-
ma profunda com que a obra traz aos leitores as matérias de interesse do Parquet
mineiro, a experiência teórica, a técnica e a prática sedimentadas na Instituição
mineira e nos demais Ministérios Públicos do país.
O MANUAL ANTERIOR
Tendo como paradigma o Manual Prático do Promotor de Justiça, excelente e ino-
vadora obra da Corregedoria-Geral do Ministério Público, publicada pela editora Del
Rey, no ano de 1997, aprovou-se o projeto do novo manual pelo Conselho Editorial
do CEAF, após parecer do Conselho Científico do mesmo Órgão da Instituição.
Buscou-se uma estruturação e contextualização que levasse em conta as últimas
transformações ocorridas no âmbito do Ministério Público, especialmente por força
do novo constitucionalismo que está, dia após dia, sendo consolidado no País. Por-
tanto, pretendeu-se não só a atualização de conteúdos já sedimentados, ligados
essencialmente ao cotidiano profissional dos órgãos de execução ministeriais, mas
também a ampliação do objeto do trabalho, decorrente das modificações legislati-
vas e jurisprudenciais significativas para o Ministério Público mineiro.
O NOVO MANUAL
O Manual de Atuação Funcional é dividido em nove capítulos: Capítulo I – Evolução
do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica; Capítulo II – Ministério Pú-
blico: Garantias, deveres e atribuições; Capítulo III – Ministério Público: Procurado-
ria-Geral de Justiça, com todos os órgãos da Administração; Capítulo IV – Ministério
Público: Corregedoria-Geral do Ministério Público; Capítulo V – Órgãos Colegiados;
Capítulo VI – Ouvidoria do Ministério Público; Capítulo VII – Procuradorias de Justi-
ça; Capítulo VIII – Promotorias de Justiça, com todas as áreas de atuação funcional;
e Capítulo IX – Atuação funcional dos servidores do Ministério Público do Estado de
Minas Gerais. A sua estruturação consiste em introdução, composta de considera-
ções gerais e pontuais da temática do capítulo; técnica de atuação judicial e extra-
judicial; jurisprudência de cortes internacionais, tribunais nacionais (STF e STJ etc.)
e regionais (TJMG, TJSP, tribunais regionais federais, etc.); ementário de legislação
pertinente constitucional e infraconstitucional; bibliografia específica recomendada,
contendo doutrina nacional e internacional, teses, dissertações e artigos.
Por fim, esperamos que o Manual de Atuação Funcional possa, de fato, servir como
relevante instrumento de aperfeiçoamento funcional dos membros da Instituição
e que, com ela, possamos tornar os direitos e interesses tutelados pelo Ministério
Público cada vez mais efetivos!
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
2.3.7 - Exercício do controle externo da atividade policial (art. 129, VII, CF/88)
........................................................................................................................155
2.3.8 - Requisição de diligências investigatórias e instauração de inquérito poli-
cial. Manifestações fundamentadas (art. 129, VIII, CF/88) .............................158
2.3.9 - Exercício de outras funções compatíveis com sua finalidade e vedação à
representação judicial e à consultoria jurídica de entidades públicas (art. 129, IX,
CF/88) .............................................................................................................163
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
Evolução do Ministério
Público e a estrutura de
sua Lei Orgânica
CAPÍTULO I
TÉRIO PÚBLICO
A carta imperial de 1824 não cuidou do Ministério Público, embora tenha sido em
seu regime que o Procurador da Coroa, Soberania e Fazenda Nacional recebeu o
encargo de acusar no juízo dos crimes os delitos que não fossem de competência
da Câmara dos Deputados, sem ter, todavia, a categoria de Chefe da Instituição.
Daí o porquê da observação de Pimenta Bueno: “Nosso Ministério Público é incom-
pleto, sem centro, sem ligação, sem unidade e harmonia”.
1
Lembra Roberto Lira, que o título de promotor Público foi dado, com tratamento de Excelência, por um
Alvará de 1700 e tantos.
2
FERREIRA, Sérgio de Andréa. Princípios institucionais do Ministério Público. 3 ed. Rio de Janeiro,
1985. p.11.
29
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
3
VASCONCELOS, Fernando Antônio. Posição do Ministério Público na Constituição. In: Anais do VI
Congresso nacional do Minisitério Público São Paulo. p. 65
4
SALGADO, César apud INACARATO, Marco Antônio. In: Revista de Informação Legislativa. n. 29.
p. 40
30
Evolução do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica
CAPÍTULO I
rico do Ministro André Cavalcanti, teve oportunidade de apreciar caso que se referia
à demissão do Promotor de Justiça. Entendeu que exercendo o cargo há mais de
vinte anos, “[...] não podia ser demitido sem processo administrativo ou sentença
judicial [...]” eis que inexistia nos autos “[...] indicação de ato ou omissão do mesmo
no exercício de se cargo, e que pudesse resultar de prevaricação, falta de exceção,
peita ou suborno”. 5
5
Ap. nº 3.535, Ver. For. 34/74
6
O Ministério Público brasileiro.
31
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
7
PEREIRA, Vitalino C. Apontamentos e sugestões sobre a posição constitucional do Ministério Público.
In: Anais do III Congresso nacional do Ministério Público. RS. p. 402-403.
8
Perspectiva do Ministério Público na conjuntura nacional brasileira. In: Anais do III Congresso do
Ministério Público Fluminense. p.6.
32
Evolução do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica
CAPÍTULO I
tulo do Executivo, sem grandes modificações no seu texto.
Aquela lei especial seria, por quase cinqüenta anos, a Lei de Organização Judiciária
do Estado. Vale dizer: por quase meio século, o Ministério Público nada mais era do
que um capítulo daquela Organização Judiciária.
33
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Quando o velho Conselheiro Saraiva, nos anos de 1892 a 1894, assumiu o cargo de
CAPÍTULO I
Com o tempo, a Chefia do Ministério Público passou a ser exercida por Advogados,
e, durante muitos anos, cada campanha político-partidária do velho Partido Republi-
cano Mineiro acabava por se refletir no seio de nossa Instituição, pois nem sempre
o escolhido reunia as condições ideais para o exercício do cargo.
Foi em razão disso que o espírito de classe do Ministério Publico formou-se lenta-
mente. Só os seus membros realmente vocacionados se importavam em estruturá-
lo por meio de normais legais claras e precisas, na busca da sua modernização.
Como o ingresso no Ministério Público não era feito em razão de concursos de in-
gresso, as nomeações dos Promotores de Justiça eram de cunho político, e, para
tanto, tinham preferência os bacharéis. Era comum, todavia, encontrarem-se nos
seus quadros funcionais cidadãos no exercício de Promotorias de Justiça. E para
piorar ainda mais a situação, a Lei nº 72, de 27 de julho de 1893, passou a não mais
exigir-lhes, para nomeação, a prova de que tinham os requisitos necessários para a
concessão da provisão de advogados !10
Não podemos esquecer que, ao seu início, o Ministério Público tinha absoluta falta
de estrutura – administrativa, legislativa, física e de pessoal – e que os princípios
que o animavam eram diferentes dos que hoje nele prevalecem.
10
Era então possível a concessão do título de advogado provisionado, vale dizer, não regularmente
formado em uma Faculdade de Direito. Eram conhecidos com rábulas.
34
Evolução do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica
CAPÍTULO I
Pior ainda! Durante anos, nós não éramos nada mais, nada menos, do que funcio-
nários nomeados pelo governo, servindo enquanto bem servissem. Nós éramos de-
missíveis ad nutum e só ficávamos no cargo enquanto agradássemos aos interes-
ses do governo! Uma carreira para o Ministério Público ainda era um sonho, e o que
então se queria era apenas alguma garantia temporal para o exercício do cargo!
A Lei nº 567, de 19 de setembro de 1914, em seu art. 12, chegou a determinar que
“[...] os membros remunerados do Ministério Público que, durante os períodos das
férias forenses se ausentassem da sede do seu exercício, perderão, quando subs-
tituídos, metade dos vencimentos que reverterão aos substitutos legais”. Noutras
palavras: além de ganharem mal, ainda não podiam gozar suas férias fora da seda
da comarca.
11
Conf. Relatório do Procurador-Geral do Estado de Minas Gerais, 1892.
12
Conf. Decreto nº 76, de 03 de junho de 1935.
35
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
“[...] que lhe será imposta mediante representação de qualquer cidadão, pelo presi-
dente do Tribunal da Relação e pelos seus superiores hierárquicos, respectivamen-
te, logo que tenham conhecimento do fato, sem prejuízo de outras penalidades em
que possam incorrer!”
Enquanto ele lutava por isso, enquanto a nossa Assembléia relutava por modernizar
o Ministério Público (porque nós de Minas temos uma resistência muito grande às
transformações), os Estados do Amazonas, do Ceará, do Espírito Santo e de São
Paulo já falavam em ingresso no Ministério Público mediante concurso, o que só
veio a ser admitido em Minas Gerais, em 1946, pela Lei nº 616.
Uma observação deve ser feita com relação aos primeiros Concursos de Ingresso,
estabelecidos na Constituição Federal de 1946. O provimento inicial da carreira
passou a ser feito, no entanto, mediante concurso de títulos, sendo realizado “[...]
perante comissão composta do Procurador-Geral, Advogado-Geral e Presidente da
Secção da Ordem dos Advogados do Estado, sob a presidência do primeiro”.13
36
Evolução do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica
CAPÍTULO I
carreira, são criticáveis. Porém, não se pode negar que começou a surgir um novo
sistema, o qual acabaria por ser aperfeiçoado com o tempo.
O espaço físico da Procuradoria-Geral de Justiça nos seus primeiros anos nunca foi
estável e próprio. Quando de sua transferência da Capital do Estado de Ouro Preto
para Belo Horizonte ela esteve sempre em pequenas dependências do Tribunal da
Relação, depois Tribunal de Justiça. Mesmo no final do segundo quartel do século
vinte, ela funcionava no último andar do vetusto e imponente edifício de nosso Tri-
bunal de Justiça, debaixo de uma escada.
Por outro lado, para que se tenha uma noção de quão pequena era a estrutura
administrativa da Procuradoria-Geral em 1929, basta que se diga que o seu quadro
de pessoal constava de um oficial, um amanuense, dois datilógrafos e um contínuo.
Para ilustrar também o quão lentamente crescia o próprio quadro dos membros da
Instituição, somente em 1933 é que foi criada a 3ª Promotoria de Justiça de Belo
Horizonte.
No início do segundo quartel do século XX, grande número dos integrantes do Minis-
tério Público de Minas Gerais era, ainda, remanescente do Velho Ministério Público
de Minas Gerais. Os Promotores de Justiça eram nomeados de acordo com interes-
ses políticos locais, em que o filho do chefe político, quando se formava em Direito,
já tinha a sua nomeação garantida para tal cargo! Foi assim que Ozanan Coelho
37
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
assim que Raul Soares tornou-se Promotor15 e também foi nosso Governador. Foi
igualmente desse modo que Tancredo de Almeida Neves foi Promotor em sua terra
natal16 e chegou à Governança do Estado e à Presidência da República.
14
Foi Promotor de Justiça na Comarca de Bom Sucesso.
15
Foi Promotor de Justiça na Comarca de Carangola.
16
Foi Promotor de Justiça na Comarca de São João Del Rei.
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Evolução do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica
CAPÍTULO I
simbolizando e refletindo uma Instituição independente, só surgiu com ele. Foi ele
quem nos retirou daquele capítulo e, com seu prestígio pessoal, conseguiu dar ao
Ministério Público uma lei própria, a famosa Lei nº 616, na qual se estabeleceu o
ingresso na Instituição através de concurso público, e se criou uma carreira para
seus servidores.
Foi, pois, somente por meio da citada Lei nº 616 que o Ministério Público de Minas
Gerais passou a ter um diploma legal próprio, dando azo ao início da mudança de
todo o seu arcabouço institucional e ao início de uma nova filosofia de atuação.
Em 1955, surgiu a Lei Estadual nº 1.283, que veio substituir a Lei nº 616/50, e,
em 1973, adveio a nova Lei Orgânica do Ministério Público do Estado, recebendo
o número 6.276, fruto de estudos e experiências de muitos dos integrantes da Ins-
tituição. A Exposição de Motivos ao Governador Rondon Pacheco, encaminhando
aquele trabalho que resultaria na Lei nº 6.276, realçou:
39
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
doras daquela lei, sendo o Corregedor e os seus substitutos eleitos para um período
de dois anos.
De igual forma, o preenchimento das vagas nos Tribunais, 33 vagas pelo quinto
constitucional, relativas ao Ministério Público, passou, pela primeira vez, a ser disci-
plinado: “O membro do Ministério Público, se de carreira, de notório merecimento e
idoneidade moral, com dez anos, pelo menos de exercício, poderá ser indicado para
compor o quinto do Tribunal de Justiça e do Tribunal de Alçada.”
Deve-se registrar, para efeito histórico, que foi naquela lei que, pela primeira vez,
reconheceu-se a existência de um órgão de classe do Ministério Público em nível
estadual – a Associação Mineira do Ministério Público, dela fazendo parte os mem-
bros do Ministério Público em atividade, disponibilidade e aposentados.
Foi, todavia, somente com o advento da Lei Estadual nº 8.222, editada em cum-
primento a disposição da Lei Complementar Federal nº 40/81 que foi alterada a
nomenclatura de Procurador do Estado para Procurador de Justiça, “[...] a fim de
equipará-la à de Promotor de Justiça, já tradicional na legislação histórica”.
As disposições daquela lei criaram uma nova dinâmica para o Ministério Público do
40
Evolução do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica
CAPÍTULO I
dos seus princípios, mas também pelas denominações e estruturas de órgãos e
quadros que traçou para os Estados da Federação.
Aquela lei complementar abriu o caminho para toda uma nova estrutura do Parquet,
que acabaria por influenciar o próprio Ministério Público federal. De fato, poucos
anos depois, ele iria provocar o aparecimento de uma nova lei que produziria con-
dições de criação de uma bifurcação naquele Ministério Público quando, com a
criação da Advocacia Geral da União, remeteria ao Parquet federal exercer com ex-
clusividade em nível federal as funções de defensor dos interesses da sociedade.
41
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Na história administrativa do Brasil, uma das Instituições que mais cresceu, neste
século, foi o Ministério Público. E esse desenvolvimento assentou-se em dois prin-
cípios: democratização e atualização.
Hoje ele computadorizou os seus serviços, não apenas no nível da sua segunda
instância mas também no da primeira; dotou todas as suas Procuradorias e Promo-
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Evolução do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica
CAPÍTULO I
a atuação de todos os seus membros. Por outro lado, ele começa a mudar sua
imagem institucional, ampliando suas atividades a campos de atividade que não se
inseriam em suas atribuições: a proteção e a defesa do meio ambiente, dos direitos
humanos, do patrimônio artístico e cultural, das contas públicas dos acidentados em
trabalho, o controle externo da atividade policial e a defesa do consumidor.
43
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Hoje, tão logo se encerra um concurso, e se forma uma lista de classificação dos
CAPÍTULO I
Como ato final de uma tragédia funcional ou opereta bufa, o Secretário da Justiça
verificava os trunfos de cada um e levava as respectivas pastas para o despacho do
Governador, que não queria se indispor com o Deputado regional de seu partido!
44
Evolução do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica
CAPÍTULO I
aqui se formem grupos ou igrejinhas para proteger ou para perseguir alguém.
Não se pode fazer nenhum previsão de uma perspectiva de futuro, de qualquer área
da atividade humana, sem se atinar para o fato de que o poder vai, lentamente,
saindo da esfera política para ficar sob a influência da econômica. É evidente que
isso também irá produzir conseqüências jurídicas, pois, num acentuado processo
de globalização, também o Direito e suas formas de aplacação tendem a ser glo-
balizados.
Dentro dessa colocação, os tipos penais bem como a busca de sua apuração e a
procura de marginais ficarão, numa primeira etapa, sob uma orientação ou uma po-
lítica de grupos culturais internacionais para, a longo prazo, subsumirem-se a uma
ordem global.
Esses interesses forçarão, lentamente, uma união legislativa crescente, sobre vá-
rios ramos do Direito: aduaneiro, fiscal e tributário. Como os tipos penais de cunho
econômico tendem a se ampliar, também o Direito Penal sofrerá influência dessa
globalização legislativa. Igualmente, como os tipos devem ser apurados em proces-
so regular, também o Direito Processual Penal será influenciado por tais modifica-
ções.
O Ministério Público é uma instituição que, na verdade, ainda está dando seus pri-
meiros passos de afirmação social.
45
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A figura do homem de dedo em riste, dizendo eu acuso, tem os seus dias contados!
CAPÍTULO I
Não que ela vá desaparecer, mas porque ao lado desse homem, há de surgir, e já
está aparecendo, uma nova dinâmica social para o Ministério Público, transforman-
do-o, na verdade, no velho Tribunal da Plebe!
Hoje ele é, e ainda mais o será, aquele que defende o meio ambiente, o desvalido,
o patrimônio histórico e artístico, a comunidade contra os avanços econômicos dos
grandes cartéis.
Não há nenhuma instituição no Brasil em que os seus membros elejam uma lista
tríplice, para que dela seja escolhido o seu Chefe, com mandato certo, pelo Chefe
do Poder Executivo. Não há nenhuma instituição na qual seus integrantes elejam,
anualmente, os membros de seu Conselho Superior, ou seja, os integrantes do
órgão responsável pela carreira de seus membros, eis que responsável pela for-
mação de listas de promoções ou remoções destes, vedada a recondução de seus
membros enquanto todos os demais integrantes do Colégio de Procuradores não
compuserem aquele Conselho. Isso se chama democratização!
O Ministério Público será uma instituição que a cada avanço legislativo, a despeito
de ocasionais retrocessos, irá adaptar-se ao meio social e avançar. E como irá cres-
cer ainda mais em deveres e responsabilidades, é preciso que essa visão seja feita
aquém de estritas vantagens materiais. Estas são conseqüência de espaços ocu-
pados e atividades efetivamente prestadas ao meio social. Se vantagens materiais
resolvessem os problemas, algumas instituições não estariam tão desmoralizadas!
Uma instituição que seja meramente corporativista não gera nem respeito nem con-
fiabilidade e cria em torno de si uma crescente rejeição.
Nenhuma mudança social é feita para os dias em que se vive: algumas são produto
de dezenas, ou centenas, de anos de vivenciamento.
46
Evolução do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica
As conquistas de nossa instituição ocorrem de forma tão acelerada que nós mesmos
CAPÍTULO I
nos esquecemos de quanto temos evoluído. O que não podemos é nos esquecer que
essas conquistas têm um preço: honestidade pessoal e funcional, atualização profis-
sional e respeito aos direitos humanos em todos os momentos de nossa atuação!
Como bem observou Vianna Lopes 18, com a independência e autonomia do Ministé-
rio Público romperam-se definitivamente seus laços institucionais de subordinação
com os poderes constituídos, produzindo dois efeitos importantíssimos para a Insti-
tuição: o seu fortalecimento, em face de pressões de natureza política e econômica,
e a imprescindibilidade da busca de legitimidade na sociedade, como fundamento
de sua existência institucional. Com a independência institucional, a legitimidade 19
deixou de ser dada, tornando-se necessário construí-la.
18
LOPES, Júlio Aurélio Viana. Democracia e cidadania: O novo Ministério Público brasileiro. Rio de
Janeiro: Lúmen Júris, 2000. p. 203.
19
A legitimidade tratada aqui é aquela correspondente a legalidade acrescida de sua valoração, exercida
em conformidade com crenças, valores e princípios ideológicos contidos em determinado regime político,
no nosso caso, o democrático.
47
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
po normativo que dará vida à Instituição. Esta foi a finalidade da Lei federal nº 8.625,
de 12 de fevereiro de 1993, que Instituiu a Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público (LONMP), e dispôs sobre normas gerais para a sua organização. O DNA
da Instituição está justamente na lei que determina sua existência e seu funciona-
mento. Assim, a lei federal, apesar de editada pela União, não só dispôs sobre o
Ministério Público Federal, mas também estabeleceu normas básicas estruturais e
funcionais as quais deveriam ser obedecidas pelos legisladores estaduais na orga-
nização dos Ministérios Públicos estaduais.
Com base no princípio da autonomia dos entes federativos, as normas gerais de-
vem se limitar em delinear apenas princípios básicos e diretrizes que orientarão a
regulamentação da Instituição no âmbito estadual, sem adentrar em pormenores ou
regular exaustivamente matérias a ponto de aniquilar a iniciativa dos Estados.
Embora o art. 61, § 1º, II, “d”, da Constituição Federal disponha que são de iniciativa
privativa do Presidente da República lei sobre normas gerais para a organização do
Ministério Público dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, o art. 24 pres-
creve que a União se limitará a estabelecer normas gerais, não excluindo a compe-
tência suplementar dos Estados. Destarte, não havendo normas gerais sobre deter-
minado ponto, caberá aos Estados o exercício pleno dessa competência, legislando
sobre normas gerais de matérias não discriminadas na LONMP, que permaneceram
eficazes até posterior regulamentação por norma de âmbito nacional.
Na esfera federal, tal dispositivo veio em desencontro com o disposto no art. 61, §
1º, II, “d”, da CF/88, o qual prevê a existência de lei ordinária dispondo sobre organi-
zação do Ministério Público da União, bem como normas gerais para a organização
do Ministério Público dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
48
Evolução do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica
CAPÍTULO I
organização do Ministério Público local, de que uma lei ordiná-
ria federal não se poderia impor à observância da Constituição
e da lei complementar estaduais: ao contrário do aforismo de
Bryce, divulgado entre nós por Rui, a questão da prevalência
entre normas infraconstitucionais emanadas da União e o direito
estadual não se resolve por critérios de hierarquia, mas sim de
competência (v.g., Victor Nunes, Leis Federais e Leis Estaduais,
em Problemas, cit., I/109, 125; Gonçalves de Oliveira, Hierarquia
das Leis e Competência Legislativa da União e dos Estados,
ArgMJ 3/42): portanto, se a matéria é da competência legislativa
da União, o princípio federativo não obsta a que, no trato dela,
a lei federal ordinária se imponha a leis complementares ou à
própria Constituição dos Estados20.
Com base nas normas gerais estatuídas pela LONMP, o legislador estadual promul-
gou a nossa Lei Complementar nº 34, de 12 de setembro de 1994, pormenorizando
a existência e o funcionamento do Ministério Público no Estado de Minas Gerais. O
detalhamento fica claro ao cotejarmos as duas leis: enquanto a Lei Federal contém
84 artigos, a Lei Estadual inclui 282.
A Lei Orgânica Estadual do Ministério Público foi alterada pelas Leis Complemen-
tares nº 61, de 12 de julho de 2001; nº 66, de 22 de janeiro de 2003; nº 80, de 9 de
agosto de 2004, e, recentemente, pela Lei nº 99, de 14 de agosto de 2007.
20
RE 262.178-DF. Acórdão publicado no DJU de 24/11/2000.
49
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
50
Evolução do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica
CAPÍTULO I
também exprime a importância da lei organizadora do Ministério Público como es-
trutura básica legitimadora da Instituição e expressão maior do legislador constituin-
te na garantia da independência e autonomia do Ministério Público.
Desses tópicos, o único que não consta da Lei Orgânica Nacional do Ministério Pú-
blico (LONMP) é o relativo ao regime e processo disciplinar. Isso porque o legislador
federal tratou apenas dos casos de perda do cargo para os membros vitalícios,
deixando para as leis estaduais as demais questões disciplinares.
suspensão de eficácia de diploma legal quando notada modificação substancial do projeto inicialmente
encaminhado pelo Procurador-Geral de Justiça, a implicar, até mesmo, aumento de despesa.
22
MACEDO JÚNIOR, Ronaldo Porto. Evolução institucional do Ministério Público brasileiro. In: FERRAZ,
A. A. M. de C (Coord.). Ministério Público: Instituição e processo. São Paulo: Atlas, 1997. p. 36-63.
23
GUIMARÃES JUNIOR, João Lopes. O Futuro do Ministério Público – O desafio da profissionalização.
In: XIV CONGRESSO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, Recife 17 a 20 de outubro de 2000.
51
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A lei orgânica estadual, seguindo as diretrizes da LONMP, tem como princípio bá-
CAPÍTULO I
24
“Teratologia que ainda persistiu no sistema da LONMP e da LOEMP é a de que o corregedor é o mes-
mo órgão que acusa, preside a instrução e, em certos casos, ainda pode até mesmo impor a pena”.(Cf.
MAZZILLI, Hugo Nigro. Introdução ao Ministério Público. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 175).
52
Evolução do Ministério Público e a estrutura de sua Lei Orgânica
Portanto, verifica-se que uma única decisão sobre aplicação de penalidade adminis-
CAPÍTULO I
trativa pode passar pelo crivo de 31 membros (dez do Conselho Superior e vinte e
um da Câmara de Procuradores de Justiça, em ambas as casas exclui-se da vota-
ção o Corregedor, que é membro nato e interessado direto).
Ao que parece, um dos objetivos da criação do Conselho Superior, órgão eleito por
todos os Promotores de Justiça, com o número de integrantes seis vezes maior que
a Câmara de Procuradores, foi retirar das mãos da administração certas decisões,
evitando, assim, atitudes tendenciosas e autocráticas. Pois bem, com o passar do
tempo, o cargo de Conselheiro é também utilizado, com alguma freqüência, como
forma de oposição à administração, por pretensos candidatos ou componentes da
oposição, apesar das limitações impostas pela própria lei orgânica estadual (art.
29). Daí a chamada interferência política em determinadas decisões, facilitando o
corporativismo em detrimento dos verdadeiros interesses em busca de um aprimo-
ramento institucional.
Outra importante forma de participação popular nas decisões interna corporis que
não foi prevista na lei orgânica estadual é a possibilidade do Colégio de Procurado-
res rever, mediante requerimento de legítimo interessado, decisão de arquivamento
de inquérito policial ou peças de informação determinada pelo Procurador-Geral de
Justiça, nos casos de sua atribuição originária (art. 12, XI, da LONMP).
Assim, dos três órgãos colegiados - Colégio, Câmara e Conselho, o único com atri-
buição de órgão de execução expressa é o Conselho Superior do Ministério Público,
qual seja a de rever o arquivamento do inquérito civil (art. 70).
É sabido por todos que a partir da Constituição Federal de 1988, o Ministério Públi-
co teve sua autonomia reconhecida e independência administrativa, podendo dispor
53
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
vi do art. 129, § 4º, c/c art. 93, II, da CF/88, pois, até recentemente, pelo fato de o
Ministério Público ter se desenvolvido ao lado do Poder Judiciário, ele adotava tam-
bém a mesma divisão administrativa, a saber a classificação das entrâncias25.
Apesar da liberdade conferida pela LONMP, a qual, ao dispor sobre a carreira, exi-
giu apenas que se observasse a promoção de “[...] uma para outra entrância ou
categoria ou da entrância ou categoria mais elevada para o cargo de Procurador
de Justiça [...]” (art. 61), o nosso legislador agiu com certa prudência, evitando em
pormenorizar, a divisão administrativa da carreira, como preferiram outros Estados.
Entretanto, utilizou-se em inúmeras passagens, de expressões como primeira ent-
rância, entrância especial e, ainda, da mais elevada entrância.
25
Alguns Estados já iniciaram um processo de adequação administrativa da carreira, como foi o caso do
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que adota um modelo diferente do Poder Judiciário.
26
FERRAZ, A.A.M.C. (Coord.). Um novo modelo de gestão para o Ministério Público: base de uma
necessária reengenharia institucional. São Paulo: APMP, 2003. p. 31.
54
Capítulo II
Princípios, Garantias,
Deveres e Atribuições
2.1 - INTRODUÇÃO
Promotor de Justiça Gregório Assagra de Almeida
CAPÍTULO II
ação, em nome da sociedade, do interesse público, da defesa
do regime, da eficácia e salvaguarda das instituições1.
Paulo Bonavides
A Constituição Imperial de 1824 não dispunha sobre o Ministério Público como ins-
tituição, tanto que, no capítulo reservado ao Senado (Capítulo III), previa o seu art.
48: “No Juízo dos crimes cuja acusação não pertence á Câmara dos Deputados,
acusará o Procurador da Coroa, e Soberania Nacional.”
1
BONAVIDES, Paulo. Os dois Ministérios Públicos do Brasil: o da Constituição e o do Governo. In MOU-
RA JÚNIOR, Flávio Paixão et al (coords.). Ministério Público e a ordem social justa. Belo Horizonte:
Del Rey, 2003. p. 350.
2
Para uma consulta aprofundada sobre a evolução constitucional do Ministério Público no direito com-
parado, consultar a excepcional obra do Professor Doutor Joaquim Cabral Netto, O Ministério Público
na Europa Latina. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1974.
3
MAZZILLI, Hugo Nigro. Introdução ao Ministério Público. p. 38.
59
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A Constituição Federal autoritária de 1937 é apontada por Hugo Nigro Mazzilli como
um severo retrocesso em relação ao Ministério Público. Somente alguns artigos es-
parsos do capítulo reservado ao Supremo Tribunal Federal (arts. 97 a 102) faziam
menção a escolha e demissão do Procurador-Geral da República e competência
para o seu julgamento.
60
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
A CF/1967, promulgada sob o golpe militar de 1964, inseria o Ministério Público no
capítulo do Poder Judiciário (art. 137 a 139), contudo manteve, em geral, as garan-
tias do Ministério Público conferidas pelas Constituições de 1934 e 1946. Previa o
art. 137: “A lei organizará o Ministério Público da União junto aos juízes e tribunais
federais.” O Chefe do Ministério Público continuava sendo escolhido livremente pelo
Chefe do Executivo.
Foi, entretanto, somente com a CF/88 que o Ministério Público se consagrou como
uma instituição constitucional fundamental do Estado Democrático de Direito. Ele
foi inserido na Magna Carta de 1988, no Título IV - Da Organização dos Poderes
porém em capítulo separado dos demais Poderes do Estado, intitulado Das Fun-
ções Essenciais à Justiça, dentro do qual lhe é deferida uma seção própria (art. 127
usque art. 130 da CF/88).
61
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Foi realmente a partir da CF/88 que a instituição Ministério Público passou a ser
legítima defensora dos direitos fundamentais, individuais e coletivos, direitos esses
protegidos constitucionalmente como cláusulas pétreas.
Embora muitas das mudanças impingidas à Instituição Ministerial tenham sido des-
critas no capítulo da Constituição que trata do Poder Judiciário, essas inovações
também se aplicam, em regra, no âmbito do Ministério Público, tendo em vista a
cláusula constitucional de reciprocidade e simetria expressamente prevista entre
essas duas importantes instituições no § 4º do art. 129 da Lei Fundamental.
5
ALMEIDA, Gregório Assagra de. Direito processual coletivo brasileiro - um novo ramo do direito
processual. p. 506/508.
62
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
tidária, tendo em vista a incompatibilidade entre essas duas funções e como forma
de prestigiar uma atuação mais centralizada do membro do Ministério Público nas
suas atribuições constitucionalmente previstas; 2) distribuição imediata de proces-
sos, privilegiando o acesso à justiça como garantia constitucional; 3) proibição do
exercício da advocacia por três anos no juízo onde exerceu o seu mister, contados
CAPÍTULO II
do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração, como forma de se evi-
tar qualquer forma de discriminação ou favorecimentos ilegítimos ou não tolerados
pela lei; 4) criação do Conselho Nacional do Ministério Público 6, órgão responsável
por zelar pela autonomia administrativa e financeira da instituição, além de instância
revisora dos processos disciplinares instaurados contra membros do Ministério Pú-
blico e de órgão com atribuição originária para receber reclamações contra órgãos
e membros do Ministério Público; 5) criação do sistema de súmula vinculante, com
o objetivo de racionalizar o acesso à Justiça, em cujos procedimentos de criação,
alteração ou cancelamento deverá constar obrigatoriamente a participação funda-
mentada do Ministério Público brasileiro, aí representado pela figura do Procura-
dor-Geral da República; 6) criação de ouvidorias do Ministério Público nos âmbitos
estadual e federal, o que denota a nítida preocupação em trazer a população para
dentro da Instituição; 7) novo formato ao concurso de ingresso na carreira do Minis-
tério Público, o qual visará à seleção de candidatos mais experientes e mais prepa-
rados, haja vista a previsão da exigência de atividade jurídica para a inscrição no
certame e de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e vitaliciamento dos
membros do Ministério Público; 8) proibição de férias coletivas, possibilitando uma
atividade jurisdicional ininterrupta, o que também prestigia a dimensão fundamental
do acesso à Justiça; 9) obrigatoriedade de o membro do Ministério Público residir na
comarca em que atua, salvo por autorização do Chefe da Instituição7, como forma
de deixar, com o desempenho de suas atribuições, o órgão ministerial mais próximo
da população diretamente atendida.
6
Sobre o poder normativo primário do Conselho Nacional do Ministério Público, vale a pena conferir o
excelente trabalho de Emerson Garcia intitulado de Poder Normativo Primário dos Conselhos Nacionais
do Ministério Público e de Justiça: a gênese de um equívoco. In: MPMG Jurídico – Boletim Jurídico do
Ministério Público do Estado de Minas Gerais. 4 ed., fev./mar. de 2006, p.10/14.
7
No texto constitucional anterior, não havia a possibilidade de o Chefe da Instituição autorizar o membro
do Ministério Público a residir fora da comarca. Nesse sentido, para disciplinar a matéria nesse particu-
lar, o próprio Conselho Nacional do Ministério Público veio regulamentar, com a Resolução nº 26, de
17 de dezembro de 2007, a forma pela qual o Procurador-Geral poderá conceder tal autorização, em
caráter excepcional e por meio de ato devidamente motivado, desde que o membro, já vitaliciado, esteja
regularmente em dia com o seu serviço. Não obstante, dispõe o art. 4º do citado ato normativo: “Art. 4º.
A autorização é de caráter precário, podendo ser revogada a qualquer momento por ato do Procurador-
Geral, quando se tornar prejudicial à adequada representação da Instituição ou pela ocorrência de falta
funcional por parte do membro do Ministério Público.”
63
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
(arts. 127 a 130 da CF/88), dentro do capítulo Das Funções Essenciais à Justiça.
Está, portanto, separado dos demais Poderes do Estado.
O perfil constitucional do Ministério Público está estabelecido pelo art. 127, caput,
da Constituição, que o define como “[...] instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime de-
mocrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. É, portanto, institui-
ção permanente e, em assim sendo, é cláusula pétrea, instituída para a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses fundamentais da socieda-
de, individuais indisponíveis e sociais.
64
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
vocação democrática do Ministério Público8, o qual hoje, com o papel que lhe é
reservado pela Constituição, é instituição de fundamental importância para a trans-
formação da realidade social e a efetivação do Estado Democrático de Direito.
CAPÍTULO II
a este incumbida a elaboração da lei e ao Ministério Público, a fiscalização do seu
fiel cumprimento. Há quem defenda que a atividade do Ministério Público é emi-
nentemente jurisdicional, razão pela qual estaria ele atrelado ao Poder Judiciário.
E há, ainda, quem afirme que a função do Ministério Público é administrativa, pois
ele atua com o fim de promover a execução das leis e estaria atrelado ao Poder
Executivo9.
8
Escreve ainda Antônio Alberto Machado: “[...] a instituição do Ministério Público parece ter uma espécie
de vocação democrática, talvez inerente à sua ratio; ou até mesmo concluir-se que a existência dela
só faz sentido numa democracia, sendo certo que a sua ausência ou tibieza, de outra parte, é sempre
indício de regime autoritário”. Ministério público: democracia e ensino jurídico. Belo Horizonte: Del
Rey, 2000. p. 140.
9
Sobre a polêmica, consultar Hugo Nigro Mazzilli. Introdução ao Ministério Público. São Paulo: Sa-
raiva, 1997. p. 19-20.
10
É o entendimento de Marcelo Pedroso Goulart (In: Ministério público e democracia - teoria e práxis,
p. 96) e de Antônio Alberto Machado (Ministério público: democracia e ensino jurídico. p. 141-142).
65
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
da sociedade.
Dentro deste novo perfil constitucional do Ministério Público, Marcelo Pedroso Gou-
lart sustenta que existem dois modelos de Ministério Público: o demandista e o reso-
lutivo. O Ministério Público demandista, que ainda prevalece, é o que atua perante
o Poder Judiciário como agente processual, transferindo a esse órgão a resolução
de problemas sociais, o que de certa forma, afirma o autor, é desastroso, já que o
Judiciário ainda responde muito mal às demandas que envolvam os direitos mas-
sificados 12. O Ministério Público resolutivo é o que atua no plano extrajurisdicional,
como um grande intermediador e pacificador da conflituosidade social.
11
Ministério público e democracia - teoria e práxis, p. 96. No mesmo sentido, Antônio Alberto Macha-
do, Ministério público: democracia e ensino jurídico, p. 141-142.
12
Op. cit. nota anterior, p. 119-123.
13
Op. cit. notas anteriores, p. 120-121
66
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
para o Poder Judiciário, por intermédio das ações coletivas previstas, da solução
dos conflitos coletivos não tem sido tão eficaz, pois, em muitos casos, o Poder Judi-
ciário não tem atuado na forma e no rigor esperados pela sociedade. Muitas vezes
os juízes extinguem os processos coletivos sem o necessário e imprescindível en-
frentamento do mérito. Essa situação tem mudado, mas de forma muito lenta e não
retilínea. Não se nega aqui a importância do Poder Judiciário no Estado Democrático
de Direito; ao contrário, o que se constata e deve ser ressaltado é o seu despreparo
para a apreciação das questões sociais fundamentais. Um Judiciário preparado e
consciente de seu papel é das instâncias mais legítimas e democráticas para confe-
rir proteção e efetividade aos direitos e interesses primaciais da sociedade.
14
Op. cit. notas anteriores, p. 121-122.
15
Mais uma vez colhem-se as lições de Goulart: “Do ângulo político, só poderemos entender o promotor
de justiça como trabalhador social, vinculado à defesa da qualidade de vida das parcelas marginaliza-
das da sociedade, a partir do momento em que rompa as barreiras que historicamente o isolaram dos
movimentos sociais, passando a articular sua ação com esses movimentos. Deve assumir o seu com-
promisso político, não apenas nos aspectos da retórica e das elaborações doutrinárias, mas, sobretudo,
na atuação prática, como intelectual orgânico”. Op. cit. notas anteriores, p. 98.
67
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
É dentro dessa concepção de custos societatis e custos juris que o Ministério Públi-
co, no seu papel demandista, é hoje o principal legitimado ativo no plano das ações
coletivas.
Essa hegemonia da Instituição, como legitimada ativa para a defesa dos interesses
massificados, decorre certamente de dois fatores básicos. O primeiro está funda-
mentado no seu próprio perfil constitucional como instituição permanente, essencial
à função jurisdicional do Estado e defensora da ordem jurídica, do regime demo-
crático e dos interesses sociais (art. 127, caput, da CF/88). O outro fator decorre do
próprio exercício prático de suas atribuições constitucionais.
Gustavo Tepedino ressalta esse novo papel outorgado pelo Constituinte de 1988 ao
Ministério Público, alçado como o principal agente de promoção dos valores e dos
direitos indisponíveis, o que lhe conferiu, nas palavras do autor mencionado, função
promocional, especificada no art. 129 da CF/8817.
Assim, é hoje público e notório que o Ministério Público é a instituição que mais
tem atuado para a defesa dos interesses e direitos massificados, seja no campo
extrajurisdicional, seja no jurisdicional, especialmente por intermédio do inquérito
civil e do ajuizamento de ações civis públicas. Antônio Augusto de Camargo Ferraz
faz essa observação ao afirmar que mais de 90% dos casos de atuação jurisdicional
na defesa dos interesses massificados no País decorrem da iniciativa do Ministé-
rio Público, o que para o autor é motivo de preocupação com essa tímida atuação
dos demais legitimados ativos, já que tal situação é efeito da fragilidade de nossa
democracia 18.
16
O tempo do direito alternativo – uma fundamentação substantiva. Porto Alegre: Livraria dos Advo-
gados, 1997. p. 84-87.
17
Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 300.
18
Inquérito civil: dez anos de um instrumento de cidadania. In: Ação civil pública. Lei nº 7.347/85 -15
68
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
2.1.5 - Ministério Público e a nova Summa Divisio
A summa divisio Direito Público e Direito Privado não foi recepcionada pela Consti-
tuição da República Federativa do Brasil de 1988. A summa divisio constitucionali-
zada no País é Direito Coletivo e Direito Individual. O texto constitucional de 1988
rompeu com a summa divisio clássica ao dispor, no Capítulo I do Título II — Dos
Direitos e Garantias Fundamentais —, sobre os Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos 19.
anos. Obra conjunta, coord. Édis Milaré. São Paulo: RT, 2001. p. 64.
19
ALMEIDA, Gregório Assagra de. Direito material coletivo – superação da summa divisio direito pú-
blico e direito privado por uma nova summa divisio constitucionalizada. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
69
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O Ministério Público atua na defesa da Constituição e dos dois planos da nova sum-
ma divisio. Além de guardião da Constituição, na sua condição de Lei Fundamental
da ordem jurídica, a Instituição Ministerial atua na defesa de todos os direitos cole-
tivos em geral, bem como na defesa dos direitos individuais indisponíveis (art. 127,
caput, e art. 129, III, da CF/88).
20
No mesmo sentido, sustentando que o dualismo clássico (Estado e sociedade) não subsiste no Estado
Democrático de Direito, ZIPPELIUS, Reinhold: “A distinção entre Estado e sociedade provém de uma
época histórica durante a qual a centralização do poder político na mão de um soberano absoluto e re-
spectiva burocracia dava origem à novação de que o Estado constituía uma realidade autônoma em face
à sociedade”. Teoria geral do Estado, p. 158.
21
ZIPPELEUS, Reinhold: “[...] no processo de formação da vontade estadual cada indivíduo surge, pe-
rante os outros, na posição de igual e livre. Mas a orientação do Estado não tem de ser marcada pelo
egoísmo dos interesses particulares que domina a vida social, mas em vez disso — deve-se concluir
— pelo justo equilíbrio daqueles interesses”. Teoria geral do Estado, p. 159.
22
É inquestionável que a Constituição contém tanto normas de Direito Público quanto de Direito Privado
e, assim, não é tecnicamente nem metodologicamente adequado o enquadramento do Direito Constitu-
cional como um dos capítulos do Direito Público, conforme o faz a summa divisio clássica.
23
ALMEIDA, Gregório Assagra de. Direito material coletivo – superação da summa divisio direito pú-
blico e direito privado por uma nova summa divisio constitucionalizada. Belo Horizonte: Del Rey, 2008..
70
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
2.1.6 - Alguns aspectos das atribuições e das garantias constitu-
cionais do Ministério Público
24
ALMEIDA, Gregório Assagra de. Direito material coletivo – superação da summa divisio direito pú-
blico e direito privado por uma nova summa divisio constitucionalizada. Belo Horizonte: Del Rey, 2008..
71
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
ponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério; não exercer
atividade político-partidária e não receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as
exceções previstas em lei.
72
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
A interpretação das cláusulas pétreas não pode ser conduzida por métodos inter-
pretativos fechados, de forma que a interpretação meramente gramatical é recha-
çada. A interpretação constitucional adequada, consoante melhor entendimento
doutrinário, é aquela que possa retirar do rol das cláusulas pétreas a sua melhor
e mais legítima eficácia social. Com isso, a interpretação dessas cláusulas super-
constitucionais é aberta, flexível, no sentido ampliativo. Por exemplo, na leitura do
inciso IV do § 4º do art. 60 devem estar incluídos os direitos coletivos, tendo em
vista que esses direitos estão, ao lado dos direitos individuais, inseridos no plano da
teoria dos direitos e garantias constitucionais fundamentais (Título II, Capítulo I, da
CF/88). Nesse sentido, já sustentamos: “Assim, apesar das concepções em sentido
contrário, o melhor entendimento tem sustentado que o art. 60, § 4º, da CF/88, não
deve ser interpretado restritivamente. O Direito Coletivo, como direito constitucional
fundamental, beneficia-se do sistema constitucional das cláusulas pétreas e está
protegido contra as reformas constitucionais. Ademais, no Estado Democrático de
Direito (art. 1º, da CF/88), a tutela jurídica é integral, a Direito Coletivo e a Direito
Individual, não havendo razão para qualquer discriminação que represente restrição
a um ou a outro”26.
73
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
27
E acrescenta: “Assim, aqueles direitos que possam ser moralmente reivincados e reacionalmente justi-
ficados, enquanto elementos essenciais à proteção da dignidade humana e que habilitem a democracia,
como procedimento para a tomada de decisão entre seres racionais, iguais e livres, devem ser protegi-
dos como superconstitucionais – estejam eles positivados por intermédio de normas constitucionais ou
decorram dos princípios adotados pela Constituição ou, ainda, de tratados de direitos humanos dos quais
o Brasil seja parte, o que é expressamente admitido pelo § 2º do art. 5º da Constituição”. A Constituição
e sua reserva de justiça: um ensaio sobre os limites materiais ao poder de reforma, p. 245-6.
28
Constituição Federal Anotada, p. 775.
29
ALMEIDA, Gregório Assagra de. Codificação do direito processual coletivo brasileiro. p. 35-40.
74
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
conhecido como não-positivismo ou não-positivismo principiológico, é detentor de
um status provisório e genérico, na sua categoria terminológica, e a sua utilização
não é pacífica, inclusive entre os autores que partilham de suas teses axiais. Escla-
recem, ainda, que as suas bases filosóficas são ecléticas e compõem uma constela-
ção de autores, os quais mantêm ponto de contato com concepções de um Gustav
Radbruch tardio e passam pelas influências da teoria da justiça de John Raws, além
de incorporarem elementos da filosofia hermenêutica e as bases da teoria do dis-
curso de Habermas. No quadro da concepção pós-positivista, afirmam que seriam
destacáveis cinco aspectos: 1º) o deslocamento da agenda, com ênfase à impor-
tância dos princípios gerais do Direito e à dimensão argumentativa na compreensão
da funcionalidade do direito no âmbito das sociedades democráticas atuais, bem
como o aprofundamento no papel que deve ser desempenhado pela hermenêutica
jurídica; 2º) a importância dos casos difíceis; 3º) o abrandamento da dicotomia des-
crição/prescrição; 4º) a busca de um lugar teórico para além do jusnaturalismo e do
positivismo jurídico; 5º) o papel dos princípios na resolução dos casos difíceis31.
30
A respeito, formulando crítica ao positivismo e demonstrando sua incompatibilidade com o neoconsti-
tucionalismo, escreveu STRECK, Lenio Luiz: “Daí a possibilidade de afirmar a existência de uma série
de oposições/incompatibilidades entre o neoconstitucionalismo (ou, se assim se quiser, o constituciona-
lismo social e democrático que exsurge a partir do segundo pós-guerra) e o positivismo jurídico. Assim:
a) o neoconstitucionalismo é incompatível com o positivismo ideológico, porque este sustenta que o
direito positivo, pelo simples fato de ser positivo, é justo e deve ser obedecido, em virtude de um dever
moral. Como contraponto, o neoconstitucionalismo seria uma ‘ideologia política’ menos complacente
com o poder; b) o neoconstitucionalismo não se coaduna com o positivismo enquanto teoria, estando a
incompatibilidade, neste caso, na posição soberana que possui a lei ordinária na concepção positivista.
No Estado constitucional, pelo contrário, a função e a hierarquia da lei têm um papel subordinado à
Constituição, que não é apenas formal, e, sim, material; c) também há uma incompatibilidade entre neo-
constitucionalismo com o positivismo visto como metodologia, porque esta separou o direito e a moral,
expulsando esta do horizonte jurídico [...]”. A hermenêutica filosófica e as possibilidades de superação
do positivismo pelo (neo)constitucionalismo. In: ROCHA, Leonel Severo e STRECK, Lenio Luiz (orgs.),
Constituição, sistemas sociais e hermenêutica. p. 155.
31
Pós-positivismo. In: BARRETTO, Vicente de Paulo (coord.), Dicionário de filosofia do direito. p.
650-4.
75
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
res33. A interpretação constitucional passa a ser pluralista, dentro daquilo que Peter
Häberle denomina de sociedade aberta dos intérpretes da Constituição34.
32
Nesse sentido, BARROSO, Luís Roberto: “[...] o pós-positivismo não surge com o ímpeto da descon-
strução, mas como uma superação do conhecimento convencional. Ele inicia sua trajetória guardando
deferência relativa ao ordenamento positivo, mas nele reintroduzindo as idéias de justiça e legitimidade”.
Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito constitucional brasileiro: pós-modernidade, teoria
crítica e pós-positivismo. In: BARROSO, Luís Roberto (org.), A nova interpretação constitucional:
ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. p. 28.
33
BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito constitucional brasileiro:
pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo. In: BARROSO, Luís Roberto (org.), A nova interpre-
tação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. p. 34-35.
34
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica constitucional – a sociedade aberta dos intérpretes da Constitu-
ição: contribuição para a interpretação pluralista e ‘procedimental’ da Constituição. p. 12-13.
35
Sobre o assunto, ALEXY, Robert. El concepto y la validez del derecho. p. 159-161.
36
Nesse sentido, BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 18 ed. p. 592.
76
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
sagração da tese mais importante, “[...] de que a Constituição é direito, e não idéia
ou mero capítulo da Ciência Política, como inculcava a tese falsa de Burdeau e de
outros constitucionalistas francesas filiados à linha da reflexão constitucional que se
vinculava à ideologia já ultrapassada do liberalismo clássico.”37
37
Curso de direito constitucional, 18 ed. p. 583-584.
38
Acrescentou ALEXY, Robert: “A la polémica entre constitucionalistas y legalistas subyacen profundas
diferencias sobre la estructura del sistema jurídico. Por ello, una respuesta bien fundamentada a la
cuestión acerca de quién tiene razón puede ser respondida sólo sobre la base de una teoría del sistema
jurídico [...]”. El concepto y la validez del derecho, p. 160-161. A polêmica entre constitucionalistas e
legalistas subjazem profundas diferenças sobre a estrutura do sistema jurídico. Por isso, uma resposta
bem fundamentada a essa questão acerca de quem tem razão pode ser respondida somente com fun-
damento em uma teoria do sistema jurídico (tradução livre pelo autor).
77
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
por força da Lei Fundamental de Bonn (1949) e das Constituições da Itália (1947),
de Portugal (1976) e da Espanha (1978), também merecendo ser citada a Cons-
tituição Federal do Brasil de 1988. Segundo, pelo aspecto filosófico, o que deve
ser realizado pelo estudo das vertentes teóricas que compõem o pós-positivismo
jurídico. Terceiro, pelo aspecto teórico, o qual engloba o estudo da força normativa
da Constituição, da expansão da jurisdição constitucional e do desenvolvimento de
uma nova dogmática da interpretação constitucional 40. No mesmo sentido, também
são os ensinamentos de Eduardo Cambi, o qual aponta o neoprocessualismo como
decorrência do neoconstitucionalismo41.
78
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
direitos, especialmente no plano coletivo, que é potencializado, transformará a re-
alidade social, diminuindo as desigualdades quanto ao acesso aos bens e valores
inerentes à vida e à dignidade da pessoa humana. Para isso, é imprescindível a
construção de novos modelos explicativos, superando as amarras construídas em
um passado de repressão e de liberdade limitada, por valores não mais subsisten-
tes no cenário da sociedade atual.
79
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O art. 127, caput, da CF/88, diz expressamente que o Ministério Público é insti-
tuição permanente. Com base na interpretação lógica e na sua correta e perfeita
relação com a interpretação teleológica, verifica-se que a Constituição, ao estabe-
lecer que o Ministério Público é instituição permanente, está demonstrando que a
Instituição é cláusula pétrea que recebe proteção total contra o poder reformador,
ao mesmo tempo em que impõe a sua concretização social como função constitu-
cional fundamental. Nesse sentido, aduziu Cláudio Fonteles: “Se o Ministério Públi-
co é instituição permanente, enquanto existir a concepção constitucional do Estado
brasileiro, como posta na chamada Carta-cidadã – a Constituição Federal de 1988
– ele jamais poderá ser extinto”46.
Não bastasse isso, observa-se que o Ministério Público tem o dever de defender o
regime democrático, conforme está expresso no próprio art. 127, caput, da CF/88.
O regime democrático, na sua condição de regime do Estado da cidadania brasi-
80
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
leira, é cláusula pétrea, com previsão, inclusive, no art. 60, § 4º, incisos II e IV, da
CF/88. Ora, se a Instituição ministerial é defensora do regime democrático, torna-se
inquestionável a sua inserção no plano das cláusulas pétreas.
CAPÍTULO II
rial que deve existir entre referido preceito e a legislação infraconstitucional, o fato
de o Constituinte originário ter considerado o Ministério Público uma Instituição per-
manente e essencial à função jurisdicional do Estado traz reflexos outros, limitando,
igualmente, o próprio poder de reforma da Constituição. Com efeito, partindo-se
da própria natureza da atividade desenvolvida pelo Ministério Público, toda ela vol-
tada ao bem-estar da coletividade, protegendo-a, em especial, contra os próprios
poderes constituídos, a sua existência pode ser considerada como ínsita no rol dos
direitos e garantias individuais, sendo vedada a apresentação de qualquer proposta
de emenda tendente a aboli-la (art. 61, § 4º, IV, da CF/1988)”.47
81
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
âmbito das cláusulas superconstitucionais, podem ser ampliadas, mas não restrin-
gidas ou eliminadas da Constituição.
sulas superconstitucionais.
Conclui o autor:
Além disso, a limitação material ao poder de reforma alcançará,
com muito maior razão, qualquer iniciativa que, indiretamente,
busque alcançar idêntico efeito prático (v.g.: redução das garan-
tias e prerrogativas de seus membros e supressão da autonomia
da Instituição, tornando-a financeiramente dependente do Exe-
cutivo e, com isto, inviabilizando a sua atuação, que é o elemen-
to indicativo de sua própria existência)48.
48
Ministério Público: organização, atribuições e regime jurídico, p. 48.
82
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
utilizadas para o benefício particular do seu próprio titular. Nesses casos, princípios
como a independência funcional e a inamovibilidade se destinam a proteger o cargo
contra investidas arbitrárias, quaisquer que sejam elas. O membro do Ministério Pú-
blico não poderia, por exemplo, utilizar-se da independência funcional para deixar
de cumprir atribuição constitucionalmente estabelecida; da mesma forma, a inamo-
vibilidade não pode servir de óbice à redistribuição de atribuições em determinada
comarca ou unidade de serviço quando patentemente injusta e desproporcional.
83
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Não é, contudo, qualquer tipo de atuação que irá constituir-se em fator de ampliação
da legitimação social do Ministério Público; daí a importância em se compreender
o verdadeiro perfil constitucional da Instituição e suas dimensões no novo constitu-
CAPÍTULO II
cionalismo.
84
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
Por intermédio da tutela jurídica preventiva, poderá ser atacado diretamente, em
uma das suas dimensões, o ilícito, evitando-se a sua prática, continuidade ou re-
petição. Com isso, evita-se o dano, que é objeto da tutela jurídica repressiva, mais
precisamente a ressarcitória.
Ocorre que muitos danos, especialmente os de dimensão social (aqueles que afe-
tam o ambiente, a saúde do consumidor, a criança e o adolescente, o idoso, a saúde
pública etc.), não são possíveis de reparação in natura. Portanto, só restaria nesses
casos uma tutela repressiva do tipo compensatória ou do tipo punitiva, que é espé-
cie de tutela jurídica apequenada, já que não responde ao direito, a uma tutela jurí-
dica genuinamente adequada, na sua condição de garantia fundamental do Estado
Democrático de Direito (arts. 1º, 3º e 5º, XXXV, da CF/88).
85
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Em vez de esperar a aplicação de lei inconstitucional com danos sociais, é mais re-
comendável que se priorize o controle da constitucionalidade para que seja evitada
a aplicação da lei ou do ato normativo inconstitucional.
CAPÍTULO II
Na área coletiva, o Ministério Público deverá priorizar a atuação preventiva para evi-
tar a violação dos direitos sociais, além de combater de modo articulado e eficiente
as condutas danosas aos direitos massificados51.
86
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
la inibitória, evitando-se assim a prática do ilícito, sua continuidade ou repetição.
Um dos grandes problemas educacionais no Brasil, talvez um dos mais graves, de-
corre do fato de nosso ensino ser muito formal e distante dos direitos da cidadania.
O aluno, no ensino primário e secundário, é obrigado a estudar e a aprender mate-
mática, química e física, mas não aprende o mais importante para a sua convivência
social: os direitos e deveres para o exercício da cidadania e da convivência demo-
crática. Ele sai do ensino médio sem saber quais são os seus direitos políticos, os
seus principais direitos fundamentais, os seus direitos como trabalhador, como se-
gurado da previdência social, como consumidor etc. Ele nem sabe quais são as vias
legítimas de acesso a esses direitos. Grande parte dos cidadãos brasileiros ainda
pensa que o Promotor de Justiça está subordinado ao Juiz. Essa grande massa
popular não conhece o Ministério Público, não conhece o Poder Judiciário e nem
tem noção dos seus compromissos constitucionais e, assim, não consegue exercer
a fiscalização legítima e necessária dessas e de outras instituições constitucionais.
87
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
poder emana do povo, exerce por meio de seus representantes eleitos ou direta-
mente, nos termos desta Constituição”, também é desmembramento do princípio
da solidariedade coletiva, presente no art. 3º, I, da CF/88, constituindo-se, também,
em direito social fundamental (arts. 6º e 205, ambos da CF/88), fundado na própria
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88).
53
Ao sustentarem a necessidade de um pensamento complexo, escreveu MORIN, Edgar: “O conhe-
cimento deve certamente utilizar a abstração, mas procurando construir por referência do contexto. A
compreensão dos dados particulares necessita da ativação da inteligência geral e a mobilização dos
conhecimentos de conjunto. Marcel Mauss dizia: ‘É preciso recompor o todo’. Acrescentemos: é pre-
ciso mobilizar o todo. Certamente, é impossível conhecer tudo do mundo, bem como apreender suas
transformações multiformes. Mas, por mais aleatório que seja, o conhecimento dos problemas-chave do
mundo deve ser perseguido, sob pena da imbecibilidade cognitiva. Tanto mais que hoje o contexto de
todo conhecimento político, econômico, antropológico, ecológico constitui o próprio mundo. É o problema
universal para todo cidadão: como adquirir a possibilidade de articular e organizar as informações sobre
o mundo. Mas para articulá-las e organizá-las é preciso uma reforma do pensamento”. O pensamento
complexo, um pensamento que pensa. In: MORIN, Edgar; MOIGNE, Jean-Louis Lê. Tradução de Nirimar
Maria Falci. A inteligência da complexidade. 3 ed. São Paulo: Peirópolis, 2000. p. 207-208.
54
Nesse sentido, ALMEIDA, Gregório Assagra de; SOARES JÚNIOR, Jarbas; GONÇALVES, Samuel
Alvarenga. Audiência pública: um mecanismo constitucional de fortalecimento da legitimação social do
Ministério Público. In: MPMG Jurídico. Ano 1, abril/maio/junho 2006, n. 5, p. 9-15.
88
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
pois o cidadão, por si, ou por seus entes sociais representativos, é convidado a
apresentar propostas, reivindicar direitos, exigir a observância de deveres cons-
titucionais e infraconstitucionais, bem como a tomar ciência de fatos ou medidas
adotadas ou a serem adotadas pelas autoridades públicas 55.
Faz-se importante ressaltar que o direito à democracia é apontado por Paulo Bona-
vides, ao lado dos direitos à informação e ao pluralismo, como direito fundamental
de quarta dimensão (geração), configurando-se como forma de democracia direta
que marca o futuro da cidadania e a própria liberdade de todos os povos 57.
Assim, audiência pública é o mecanismo constitucional por intermédio do qual as
autoridades públicas e os agentes públicos em geral abrem as portas do poder
público à sociedade para facilitar o exercício direto e legítimo da cidadania popular,
em suas várias dimensões, permitindo-se a apresentação de propostas, a apresen-
tação de reclamações, a eliminação de dúvidas, a solicitação de providências, a
fiscalização da atuação das instituições de defesa social, de forma a possibilitar e
viabilizar a discussão em torno de temas socialmente relevantes.
55
Sobre o exercício do poder diretamente pelo povo, aduz SILVA, José Afonso: “O poder que o povo ex-
erce diretamente. O princípio participativo caracteriza-se pela participação direta e pessoal da cidadania
na formação dos atos do governo. As primeiras manifestações da democracia participativa consistiram
nos institutos ‘democracia semidireta’, que combinam instituições de participação direta com instituições
de participação indireta, tais como: a iniciativa popular, pela qual se admite que o povo apresente pro-
jetos de lei ao legislativo de lei ao Legislativo; o referendo popular, que se caracteriza no fato de que
projetos de lei aprovados pelo Legislativo devem ser subjetivos à vontade popular; o plebiscito é também
uma consulta popular, semelhante ao referendo; difere porque este ratifica (confirma) ou rejeita o projeto
aprovado; o plebiscito autoriza a formulação da medida requerida [...]”. Comentário contextual à Con-
stituição. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 40-1.
56
Sustenta RODRIGUES, Geisa de Assis: “A audiência pública é um importante instrumento do Estado
democrático de Direito construído a partir da extensão do princípio da audiência individual [...]”. Ação
civil pública e termo de ajustamento de conduta: teoria e prática. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p.
94.
57
Afirma BONAVIDES, Paulo: “A democracia positivada enquanto direito de quarta geração há de ser,
de necessidade, uma democracia direta. Materialmente possível graças aos avanços da tecnologia de
comunicação, e legitimamente sustentável graças à informação correta e às aberturas pluralistas do
sistema [...]”. Curso de direito constitucional. 11 ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 525-526.
89
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O art. 58, § 2º, da CF/88, prevê a realização de audiências públicas pelas comissões do Congresso
58
Nacional.
59
Inquérito civil. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 330.
90
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
No plano infraconstitucional, a realização de audiência pública pelo Ministério Públi-
co tem amparo em texto expresso de lei. É o que prevê o art. 27, parágrafo único,
IV, da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público):
91
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
2. Princípio da publicidade ampla, irrestrita e popular (art. 5º, LX, e 37, caput, da
CF/88). À audiência pública deve ser conferida a máxima publicidade, com sua di-
vulgação por todos os meios legítimos, tais como editais, convites e outros veículos
de comunicação.
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Tutela coletiva: visão geral e atuação extrajudicial. Brasília: ESMPU
60
92
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
e coletivos (arts. 127, caput, e art. 129, III, ambos da CF/88). Com base nisso e em
outras diretrizes constitucionais, não é permitida a limitação em abstrato do objeto
da audiência pública, a qual poderá ser designada para discutir questões relativas
tanto a direitos individuais quanto a direitos coletivos. Essa orientação não impede a
designação de audiência extraordinária para discutir fatos ou temas determinados,
tais como um dano ambiental, o funcionamento de um certo hospital etc.
Por tudo que foi dito, percebe-se que existem múltiplas finalidades das audiências
públicas. Entre elas convém destacar o debate sobre fato determinado, a coleta de
61
GAVRONSKI, Alexandre Amaral demonstra, com muita precisão de raciocínio, a necessidade de expe-
dição de convite ao público com a antecedência necessária e a escolha do local que facilite o acesso dos
interessados. Tutela coletiva: visão geral e atuação extrajudicial. Brasília: ESMP Manual de atuação,
2006, p. 92.
62
A respeito da oralidade e da informalidade da audiência pública, explica RODRIGUES, Geisa de As-
sis: “O que caracteriza a audiência pública é a existência do debate oral e informal, embora ordenado
pelo órgão que a preside, sobre uma medida administrativa qualquer que tenha repercussão social.
Na audiência púbica, ao mesmo tempo que se informa o ter e implicações da medida administrativa
analisada, se consulta a opinião sobre o assunto, sem contudo haver a vinculação da vontade do ad-
ministrador, posto que na audiência pública se tem voz mas não voto. Não se confunde com os atos de
colegiados públicos nos quais só participa quem é formalmente autorizado. Ação civil pública e termo de
ajustamento de conduta: teoria e prática”. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 95.
93
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
94
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
que vem causando, sua amplitude e decorrências), identificar
a aspiração e as necessidades coletivas em dada questão, re-
partir com a comunidade interessada a responsabilidade quanto
às decisões que se impõem ao membro do Ministério Público
Federal (ajuizar ou não uma ação, firmar compromisso de ajus-
tamento de conduta nos termos aceitos pelo infrator ou optar
pela discussão judicial, por exemplo) ou mesmo buscar o en-
tendimento entre contendores cuja controvérsia vem afetando a
comunidade. Para esta última finalidade, todavia, às vezes uma
reunião reservada é mais proveitosa, dependendo do número de
pessoas que influenciam na decisão e do grau de belicosidade
existente entre os cidadãos afetados e os responsáveis pela vio-
lação dos direitos coletivos64.
Hugo Nigro Mazzilli, ao escrever sobre o objeto das audiências públicas realizadas
pelo Ministério Público, conclui:
Inúmeras são as finalidades das audiências públicas que poderão ser realizadas
pelo Ministério Público66. Todavia, duas delas merecem especial destaque. A primei-
ra é a elaboração dos Programas de Atuação Funcional. Com base nas propostas
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Tutela coletiva: visão geral e atuação extrajudicial. Brasília: ESMPU
64
95
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
96
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
Todavia, adverte Goulart que o Ministério Público ainda não conseguiu superar mui-
tas barreiras: a velha Instituição (pré-88) morreu; porém o novo Ministério Público
CAPÍTULO II
(pós-88) ainda não se firmou:
Portanto, para o Ministério Público cumprir essa sua tarefa constitucional não mais
se sustenta o modelo institucional antigo que ainda se arrasta pelo País. É pre-
ciso avançar no planejamento funcional e nas estratégias de atuação. A atuação
individual e intuitiva dos membros do Ministério Público deve ser superada por um
novo modelo, em que o compromisso com a transformação social, o planejamento
estratégico e a eficiência passem a ser condições naturais em todos os âmbitos da
atuação institucional, jurisdicional ou extrajurisdicional.
68
Princípios institucionais do Ministério Público: a necessária revisão conceitual da unidade institucional
e da independência funcional. In: Livro de Teses do XVII Congresso Nacional do Ministério Público:
os novos desafios do Ministério Público. Salvador: CONAMP, 2007. p. 713.
69
Princípios institucionais do Ministério Público: a necessária revisão conceitual da unidade institucional
e da independência funcional. In: Livro de Teses do XVII Congresso Nacional do Ministério Público:
os novos desafios do Ministério Público. Salvador: CONAMP, 2007. p. 713-714.
70
A respeito do surgimento dos indicadores sociais e da sua importância para demonstrar que cresci-
mento econômico não é evidência certa da melhoria das condições de vida das pessoas, escreve JAN-
NUZZI, Paulo Martino: “O aparecimento e o desenvolvimento dos indicadores sociais estão intrinseca-
mente ligados à consolidação das atividades de planejamento do setor público ao longo do século XX.
Embora seja possível citar algumas contribuições importantes para a construção de um marco conceitual
sobre os indicadores sociais nos anos 20 e 30, o desenvolvimento da área é recente, tendo ganha-
do corpo científico em meados dos anos 60 no bojo das tentativas de organização de sistemas mais
abrangentes de acompanhamento das transformações sociais e aferição do impacto das políticas sociais
nas sociedades desenvolvidas e subdesenvolvidas. Nesse período começaram a se avolumar evidên-
cias do descompasso entre crescimento econômico e melhoria das condições sociais da população em
países do Terceiro Mundo. A despeito do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), persistiam altos os
níveis de pobreza e acentuavam-se as desigualdades sociais em vários países. Crescimento econômico
não era, pois, condição suficiente para garantir o desenvolvimento social [...]”. Indicadores sociais e as
97
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
98
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
garantias constitucionais fundamentais. A impossibilidade, que
poderá servir como impedimento, é somente a real, amparada
em elementos e circunstâncias fáticas, e mesmo assim deve ser
sopesada concretamente.72
72
Direito material coletivo: superação da summa divisio direito público e direito privado por uma nova
summa divisio constitucionalizada, p. 334.
73
WEINGARNER NETO, Jaime; VIZZOTTO, Vinícius Diziz. Ministério Público, ética, boa governança
e mercados: uma pauta de desenvolvimento no contexto do direito e da economia. In SALET, Ingo
Wolfgang; TIMM, Luciano Benetti (org.). Direitos fundamentais: orçamento e ‘reserva do possível’, p.
292-293.
99
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
74
Princípios institucionais do Ministério Público: a necessária revisão conceitual da unidade institucional
e da independência funcional. In: Livro de Teses do XVII Congresso Nacional do Ministério Público:
os novos desafios do Ministério Público. Salvador: CONAMP, 2007. p. 713.
100
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
que possui natureza de garantia constitucional fundamental (art. 5º, XXXV, da Cons-
tituição Federal/88)75.
Com efeito, é mais razoável provocar, primeiramente, nas hipóteses em que as cir-
cunstâncias venham a comportar, a atuação do Poder elaborador da norma aponta-
da como inconstitucional, deixando para depois, em caso de recusa do autocontrole
da constitucionalidade pelo poder competente, a via do controle abstrato e concen-
trado da constitucionalidade perante a Corte Constitucional competente.
101
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A atuação extrajudicial por intermédio das recomendações, dos inquéritos civis, das
audiências públicas, dos termos de ajustamento de conduta, é uma via necessária
e muito eficaz para o Ministério Público cumprir os seus compromissos constitucio-
nais perante a sociedade e ter ampliada a sua legitimidade social.
MEIDA, Renato Franco. O poder de recomendação do Ministério Público como instrumento útil para a
provocação do autocontrole da constitucionalidade. In: MPMG Jurídico. Belo Horizonte, setembro 2005.
p. 16-17. Também, ALMEIDA, Gregório Assagra de. Manual das ações constitucionais. p. 770-773.
77
Nesse sentido, cabe destacar que foi criada, no âmbito do Ministério Público do Estado de Minas
Gerais, a Coordenadoria de Controle da Constitucionalidade (Resolução PGJ-MG nº 75/2005), com as
finalidades apresentadas acima.
102
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
O novo modelo constitucional implantado na CF/88 para o Ministério Público
vincula sua atuação e revela a real dimensão da sua especificação funcional.
O art. 127, caput, da CF/88 é a cláusula-mãe de toda e qualquer atribuição do
Ministério Público, seja no plano da sua normatização em abstrato, seja no da
sua aferição concreta. A cláusula aberta de encerramento das atribuições insti-
tucionais previstas no art. 129, IX, da CF/88, deve ser lida em perfeita sintonia
com o art. 127, acima citado.
103
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Para o jurista Marcelo Zenkner, o Ministério Público precisa ingressar em uma nova
fase, em que são fundamentais os resultados adequados e efetivos da sua atuação
CAPÍTULO II
78
A palestra foi proferida na Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas
Gerais, em Belo Horizonte, no dia 22 de janeiro de 2008, às 14h, para o curso de formação dos novos
Promotores de Justiça do XLVII Concurso, com o seguinte título: Inquérito civil: técnicas de investigação
em improbidade administrativa, formalização de TAC e de Recomendação.
Vale a pena destacar a seguinte obra do autor: Ministério Público e efetividade do processo civil.
79
104
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
O planejamento estratégico da atuação funcional deve vincular todos os órgãos do
Ministério Público. Não pode o órgão de execução alegar a independência funcional
para deixar de cumprir as estratégias de atuação funcional da Instituição, presentes
nos seus planos e programas de atuação.
Nesse sentido, Marcelo Pedroso Goulart propõe uma revisitação à leitura dos prin-
cípios institucionais do Ministério Público. Diz ele que, no âmbito do seu objetivo
estratégico de promoção da transformação social, o Ministério Público deve definir
políticas públicas nos seus Planos e Programas de Atuação Institucional, com a
fixação de metas prioritárias que orientem a atuação dos órgãos de execução e até
mesmo da Administração Superior. Essas metas prioritárias devem ser seguidas
pela Instituição e por seus membros como decorrência do princípio da unidade ins-
titucional. Para o autor, o princípio da unidade ganhou na CF/88 conotação política
que supera as dimensões meramente administrativas presentes em sua concepção
clássica, passando a informar e a orientar a própria atuação político-institucional do
Ministério Público81. Afirma, também, Marcelo Goulart que o princípio da indepen-
dência visa a garantir ao órgão da Instituição o exercício independente das suas
atribuições funcionais:
81
Conceitua GOULART, Marcelo Pedroso: “PRINCÍPIO DA UNIDADE - a atuação dos membros do
Ministério Público deve estar voltada à consecução da estratégia institucional, qual seja: a promoção
do projeto de democracia participativa, econômica e social delineado na Constituição da República”.
Princípios institucionais do Ministério Público: a necessária revisão conceitual da unidade institucional e
da independência funcional. In: Livro de Teses do XVII Congresso Nacional do Ministério Público:
os novos desafios do Ministério Público. Salvador: CONAMP, 2007. p. 714.
82
Princípios institucionais do Ministério Público: a necessária revisão conceitual da unidade institucional
e da independência funcional. In: Livro de Teses do XVII Congresso Nacional do Ministério Público:
os novos desafios do Ministério Público. Salvador: CONAMP, 2007. p. 715.
105
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
antes mesmo de ser uma garantia do membro do Ministério Público, conforme con-
clui Marcelo Goulart:
O Ministério Público concretiza o objetivo estratégico abstrata-
mente previsto na Constituição por meio da execução das metas
prioritárias dos Planos e Programas de Atuação. Essas metas
decorrem de imposição constitucional, portanto, contemplam
hipóteses de atuação obrigatória e vinculam os membros do Mi-
CAPÍTULO II
nistério Público83.
83
Princípios institucionais do Ministério Público: a necessária revisão conceitual da unidade institucional
e da independência funcional. In: Livro de Teses do XVII Congresso Nacional do Ministério Público:
os novos desafios do Ministério Público. Salvador: CONAMP, 2007. p. 715-716.
84
Ministério Público e direitos humanos: um estudo sobre o papel do Ministério Público na defesa e
na promoção dos direitos humanos. Campinas: Bookseller, 2006. p. 395.
106
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
nhecimento, tais como a Engenharia, a Biologia, Agronomia, Sociologia, Economia,
Ciência Política, Geologia etc.
85
ALMEIDA, Gregório Assagra de. Direito material coletivo: superação da summa divisio direito público
e direito privado por uma nova summa divisio constitucionalizada. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
86
Ministério Público: democracia e ensino jurídico, p. 194.
107
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
108
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
MAZZILLI, Hugo Nigro. Introdução ao Ministério Público. 4 ed., rev. e ampl. São
Paulo: Saraiva, 2002.
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cional contemporâneo: estudos em homenagem ao professor Paulo Bonavides.
Belo Horizonte: Del Rey, 2005.
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ciais e hermenêutica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.
VIEIRA, Oscar Vilhena. A Constituição e sua reserva de justiça. São Paulo: Ma-
lheiros, 1999.
109
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
idéia adotada pela moderna doutrina de que os princípios “a exemplo das regras,
carregam consigo acentuado grau de imperatividade, exigindo a necessária confor-
mação de qualquer conduta com seus ditames, denotando o seu caráter normativo
(dever ser)”.87
CAPÍTULO II
No campo prático, compete a cada Ministério Público traçar as metas que permi-
tam a realização dos objetivos que foram abstratamente estabelecidos pela Cons-
87
GARCIA, Emerson. Ministério Público Organização, Atribuições e Regime Jurídico. 3 ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2008.
88
MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2001
89
GOULART, Marcelo Pedroso. Princípios Institucionais do Ministério Público: A necessária revisão con-
ceitual da unidade institucional e da independência funcional. Livro de teses do XVII Congresso Nacio-
nal do Ministério Público – CONAMP, 2007
110
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
o papel que lhe foi conferido (órgão de execução na promoção de medidas que per-
mitam a concretização dos objetivos delineados no texto constitucional e Adminis-
tração Superior no fornecimento da estrutura necessária para tal fim e com firmeza
para fiscalizar o real cumprimento das metas instituídas), o Ministério Público estará
garantindo a sua unidade institucional.
Apenas como curiosidade, registra-se que o mestre Roberto Lyra já sinalizava que o
princípio da unidade merecia uma interpretação mais avançada. Em sua obra Teoria
e Prática da Promotoria Pública, ele consignou que a unidade era uma tese sem
sentido definido e explicou que
90
LYRA, Roberto. Teoria e Prática da Promotoria Pública. 2 ed. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris,
2001
111
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Existem decisões no sentido de autorizar que o ato praticado pelo Promotor de Jus-
tiça prevaleça, mesmo quando praticado perante juízo incompetente.
Todavia, o melhor entendimento segue a tese oposta e determina que outra mani-
festação ministerial seja colhida (a manifestação do Promotor de Justiça que tenha
atribuição para atuar perante o juízo que foi tido como competente) a fim de se
preservar a estrutura organizacional da instituição e de se respeitar os comandos
legais que regem a matéria.
112
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
de suas funções”.93
Entretanto, essa liberdade de atuação não pode ser ilimitada, sob pena de se des-
caracterizar a própria razão de ser do princípio, que é o de permitir o exercício da
atividade finalística dos agentes ministeriais com foco, apenas, na satisfação do
CAPÍTULO II
interesse da sociedade.
Com efeito, os membros do Ministério Público não podem ficar à mercê de censu-
ras oportunistas nem de patrulhamento ideológico. Há que se garantir liberdade e
serenidade para que os agentes ministeriais possam defender suas teses e suas
convicções jurídicas.
Contudo, devaneios desarrazoados ou, o que é pior, defesa (que também pode se
manifestar por omissão) de interesses dissociados dos previstos constitucionalmen-
te não podem ser justificados com a invocação de um princípio tão nobre como é
o da independência funcional. A ponderação de valores, no caso, é imprescindível
para se assegurar a concretização daqueles mais significativos e que devem pre-
valecer.
93
Recurso em Mandado de Segurança 12.479-SP-2000/0109039-9 STJ.
94
RT 715/571
113
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
estabelece metas que permitam o desempenho do papel que lhe foi conferido na
Constituição. Os órgãos de execução não poderão levantar o princípio da indepen-
dência funcional para deixar de atender ao que foi democraticamente deliberado.
Não há como os agentes ministeriais se desvincularem das orientações que permi-
tirão o cumprimento do objetivo constitucional. A independência funcional está inse-
rida nesse contexto, uma vez que no cumprimento dessas orientações, o exercício
livre e independente das atribuições estará sempre garantido.
É sempre importante destacar que as garantias constitucionais não podem ser con-
fundidas com privilégios. Privilégio não se encaixa em um Estado Democrático de
Direito. Assim, as garantias concedidas ao Ministério Público (e a seus agentes) só
podem ser admitidas como instrumentos hábeis a permitir que a Instituição se de-
sincumba de sua destinação constitucional com eficiência e resolutividade.
A - Vitaliciedade
114
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
Considerando que alcançar a vitaliciedade é um marco na carreira de um agente
ministerial, a Instituição, durante esse biênio inicial, avalia, de forma mais acentu-
ada, alguns requisitos relativos aos aspectos pessoais e profissionais do Promotor
de Justiça iniciante.
B - Inamovibilidade
115
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Vale ressaltar que a inamovibilidade não abrange, apenas, o aspecto físico ou geo-
gráfico no sentido de impedir que o Promotor de Justiça seja removido da comarca
x para a comarca y. Sua extensão é muito mais profunda. Essa garantia não per-
mite que as atribuições ministeriais sejam suprimidas no decorrer do exercício da
titularidade, pois de nada adiantaria manter o Promotor de Justiça em determinada
CAPÍTULO II
comarca e retirar dele as funções que foram previamente definidas. Admitir tal pos-
sibilidade é burlar o mandamento constitucional. Hugo Nigro Mazzilli resume com
precisão essa idéia: “A garantia da inamovibilidade se liga ao exercício das funções
do promotor, e não à sua presença física na promotoria”.95
Por outro lado, não se pode confundir alteração do exercício das funções ministe-
riais (que é inconstitucional) com reestruturação das atividades. Essa é possível e
desejável, uma vez que a Instituição, sempre obediente ao princípio da legalidade,
deve velar pela eficiência na prestação dos serviços que lhe são inerentes. Endos-
sando o raciocínio: “Administrativo. Promotor de Justiça. Reestruturação do Ministé-
rio Público. Extinção de circunscrições. Garantia da Inamoviblidade. Violação. Não
Ocorrência”.96
C - Irredutibilidade de subsídio
95
RT 494/269
96
Recurso Ordinário em MS 7770-SC 1996/0065366-6-STJ.
97
SANTIAGO, Alexandre Jésus de Queiroz. Promotor de Justiça: agente político ou funcionário público?.
Disponível em < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7149>. Acesso em: 17.4.2008.
116
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
vo motivador dessa garantia constitucional seja alcançado: “[...] evitar que, como
forma de intimidação ou mesmo de retaliação, os membros do Ministério Público
sofram perdas financeiras sempre que contrariem os interesses dos detentores do
poder”.98
O art.110 da Lei Complementar nº 34/94 enuncia alguns dos deveres a serem cum-
pridos pelos membros ministeriais. A enumeração é meramente exemplificativa,
uma vez que em dispositivos distintos identificam-se outras obrigações a serem
desempenhadas pelos agentes da Instituição.
Destacam-se, por fim, as vedações constitucionais que são impostas aos agentes
do Ministério Público.
Emerson Garcia ensina que as “[...] vedações visam a assegurar o correto exercício
da atividade funcional, proibindo a prática de condutas que, de forma direta ou indi-
reta, possam comprometê-lo”.99
98
GARCIA, Emerson. Ministério Público: Organização, Atribuições e Regime Jurídico. 3 ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2008.
99
GARCIA, Emerson. Ministério Público: Organização, Atribuições e Regime Jurídico. 3 ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2008.
117
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
no art.128, § 5º, II, “a”, “b”, “c”, “d”, “e”, “f”, e respectivo § 6º da Constituição.
Assim, com essas sucintas considerações sobre aspectos tão relevantes do Minis-
tério Público, vale registrar a reflexão do sempre citado Emerson Garcia: “O mem-
bro do Ministério Público deve ser, não pensar ou aparentar que é”.100
CAPÍTULO II
ANEXOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GARCIA, Emerson. Ministério Público: Organização, Atribuições e Regime Jurídico. 3 ed. Rio de
100
118
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
2.3.1 - Modelo constitucional do Ministério Público
Inspirada por uma Assembléia Nacional Constituinte com ideais progressistas, li-
bertários e humanistas101, mesmo sobre influências contrárias e pressões de alguns
segmentos sociais que defendiam interesses menos nobres, eclodiu o Ministério
Público brasileiro delineado na Carta Maior com autonomia, independência e uni-
dade funcionais, apartado dos Poderes do Estado, voltado à defesa dos interesses
maiores da sociedade. Enfim, veio a lume o desenho constitucional de uma insti-
tuição que, seguramente, seria reconhecida, em momento posterior, como um dos
maiores avanços sociais concebidos pelo Poder Constituinte originário.
Assim, para a salvaguarda dos interesses sociais e individuais mais caros, caberá
ao Ministério Público, no desempenho de seu mister, utilizar-se dos instrumentos
processuais dispostos pelo legislador, não apenas como mecanismo de atuação
da Instituição mas como garantia conferida à sociedade, de molde a viabilizar ou
Sobre o Ministério Público na Constituição Federal de 1988, ver RIBEIRO, Diaulas Costa. Ministério
101
Público – Dimensão Constitucional e Repercussão no Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2003. p.
57-67.
119
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
102
Sistema Instituzionale di Diritto Amministrativo Italiano.3 ed. Milão: Guiffrè, 1960. p. 2.
GARCIA, Emerson. Ministério Público: Organização, Atribuições e Regime Jurídico. 2 ed. Rio de
103
120
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
as linhas diretivas a que se deve ater a ação dos que são colocados no governo.106
CAPÍTULO II
tico, mister é que tome ele, por exemplo, a iniciativa de propor
mandado de injunção, quando a falta de norma regulamentado-
ra torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucio-
nais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania,
e à cidadania, como a falta de regulamentação da participação
popular nas decisões políticas, quer pelo plebiscito, quer pelo re-
ferendo, quer pela iniciativa do processo legislativo; necessário
é que proponha ações diretas de inconstitucionalidade por omis-
são de medida para tornar efetiva norma constitucional; preciso é
que intervenha na fiscalização de todo o processo eleitoral, bem
como nas hipóteses de perda ou suspensão de direitos políticos,
e no zelo do livre funcionamento dos partidos políticos.107
Assim, na dicção do art. 127 da CF/88 e art. 1º, caput, da Lei nº 8.625/93, será legíti-
ma a tutela ministerial nas questões que tenham por objeto interesses sociais e indi-
viduais indisponíveis, bem como interesses difusos ou coletivamente considerados.
121
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
109
Sobre o tema, consultar: arts. 22 e 26, VIII e § 1º, § 32, § 45, § 83, § 87, § 116, § 120, § 149 e § 155,
todos da LC nº 75/93.
122
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
ministeriais na defesa dos interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos,
podendo interferir sobre os interesses nacionais, com resvalo nos interesses regio-
nais.
Tanto o Ministério Público estadual como o Ministério Público federal poderão de-
mandar em conjunto ou separadamente na Justiça federal ou estadual, respectiva-
mente, haja vista que a Carta Magna não vincula, exclusivamente, sua atuação ao
órgão jurisdicional que ordinariamente se vê atrelado o órgão ministerial.
De outra banda, na defesa dos direitos e interesses dos índios e da população indí-
gena, do meio ambiente, de bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, tu-
rístico e paisagístico, integrantes do patrimônio nacional (art. 37, II da LC nº 75/93),
poderá o Ministério Público federal litigar em quaisquer juízos ou tribunais.
V. art. 5º, § 5º, da Lei nº 7.347/85; art. 210, § 1º, da Lei nº 8.069/90 (ECA); art. 81, § 1º da Lei nº
110
1996. p.80-92; NERY JUNIOR Nelson. Comentários ao Código de Processo Civil. 6 ed. São Paulo:
Saraiva, 2002. p. 1.343 e outros.
123
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A denúncia, cujos requisitos foram pinçados pelo art. 41 do Código de Processo Pe-
nal, constitui a peça inaugural da ação penal pública, cabendo ao Ministério Público
a opinio delitis e, portanto, a palavra final sobre o oferecimento da acusação.
GARCIA, Emerson. Ministério Público: Organização, Atribuições e Regime Jurídico. 2 ed. Rio de
112
124
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
logo será pública ante o critério legal adotado pelo art. 100 do Código Penal114, ca-
bendo, pois, ao Ministério Público o seu exercício.115
CAPÍTULO II
Em decorrência do amplo espectro de atuação, terá o Ministério Público plena legi-
timidade, por exemplo, para fiscalizar e propor medidas destinadas a proteger os di-
reitos da criança e do adolescente no que concerne ao ensino obrigatório, tendo em
vista que a educação constitui direito fundamental da pessoa e dever do Estado.
114
Art. 100. A ação penal é pública, salvo quando a lei, expressamente, declara-a privativa do ofendido.
115
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. v.I. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 1997.
p.451
116
GARCIA, Emerson. Ob. cit., p. 383.
125
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
nistrativo inquisitivo, não sendo obrigatório o contraditório, haja vista que por esse
procedimento não se visa aplicar qualquer tipo de sanção.117
Sensível ao tema, afirma Antonio Augusto Mello de Camargo Ferraz 119 que não é
difícil perceber que essas atribuições do Ministério Público, recebidas na qualidade
de órgão de defesa social, têm por inequívoco escopo a promoção da cidadania.
Aliás, o inquérito civil é e tem sido um eficiente instrumento de cidadania, estando
hoje disseminado o hábito de associações, partidos políticos e cidadãos, isolada ou
coletivamente, representarem ao MP para apuração de fatos possivelmente lesivos
aos interesses difusos.
Terá o inquérito civil como objeto os direitos difusos, coletivos, individuais indisponí-
Nesse sentido consulte-se: Manual das Ações Constitucionais, Gregório Assagra de Almeida, Belo
117
126
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
Como adverte Emerso Garcia, tratando-se de matéria que se insira nas atribuições
do Ministério Público e que não esteja enquadrada sob a epígrafe dos interesses
difusos, coletivos, individuais indisponíveis e homogêneos, conforme previsão do
art. 25, IV, da Lei nº 8.626/93, não é aconselhável a instauração de inquérito civil
para a sua apuração. Justifica-se a assertiva, pois o inquérito civil está sujeito a uma
sistemática específica de arquivamento, suprimindo do órgão de execução a deci-
são final a respeito da investigação por ele presidida. Nesses casos, o correto será
instaurar um procedimento administrativo, no qual o agente poderá utilizar todos os
instrumentos contemplados na Constituição e na legislação infraconstitucional com
o fim de instrui-lo.121
Inspirado pela informalidade, nem por isso o inquérito civil encontra-se imune de
um regramento básico. Perceptível ao menos três fases distintas: a) instauração;
b) instrução; c) conclusão. Desde a instauração, mediante portaria inaugural ou por
despacho do órgão ministerial, passando-se à etapa apuratória, com a coleta de
provas, e à sua conclusão, deverá o órgão de execução atentar para o procedimen-
to traçado pelo ato normativo que a disciplina. A Resolução nº 23, de 17 de setem-
bro de 2007, do Conselho Nacional do Ministério Público regulamenta, no âmbito da
Instituição, a instauração e tramitação do inquérito civil.
120
Cf. ALMEIDA, Gregório Assagra de. Manual. p.295
121
GARCIA, Emerson. ob. cit., p. 295/296.
Instituiu ainda, no âmbito do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, o Sistema de Registro
122
127
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
legislativa concorrente entre a União e os Estados, a teor do art. 24, XI, da Consti-
tuição da República123. Contudo, nada obsta a que, no âmbito do Estado de Minas
Gerais, o Procurador-Geral de Justiça, em razão de competência administrativa ex-
pressa e por delegação legislativa (Lei Complementar Estadual nº 34/94), edite ato
normativo disciplinando normas complementares do procedimento do inquérito ci-
CAPÍTULO II
Cabe relembrar que, no curso do inquérito civil, poderá sobrevir, entre o Ministério
Público e o investigado, a celebração de termo de ajustamento de conduta, cujo
descumprimento ulterior poderá dar ensejo à ação civil pública em forma de ação
de execução do acordo, válido como título extrajudicial.
José Carlos Barbosa Moreira e Waldemar Mariz de Oliveira Junior foram precurso-
res do tema no País nos idos dos anos 70. Posteriormente, os professores Ada Pel-
123
Nesse sentido: STF, Pleno, ADI nº 1.285/SP, rel. Min. Moreira Alves, DJU de 23/03/2001, Inf. nº 221.
124
No Estado de Minas Gerais, vigora a Resolução nº 03/2007, Resolução Conjunta do PGJ/CGMP que
regulamenta o inquérito civil e o procedimento preparatório na área dos interesses difusos ou coletivos e
institui o Sistema de Registro Único de Inquéritos Civis e Procedimentos Preparatórios (SRU)
125
MAZZILI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
p.339.
128
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
Posteriormente, apresentou o Ministério Público do Estado de São Paulo ao Poder
Executivo outro anteprojeto que foi acolhido pelo Governo Federal, vindo a resultar
na Lei nº 7.347/85, a Lei de Ação Civil Pública (LACP).
Outras leis esparsas alargaram as hipóteses de ACP para a defesa de outros bens
jurídicos relevantes tais como a Lei nº 7.853/89, que visa proteger as pessoas por-
tadoras de necessidades especiais, a Lei nº 7.913/89 (investidores no mercado de
capitais), a Lei nº 10.741/2003, que ampara os idosos e a própria Lei nº 8.078/90,
que traçou as linhas de defesa do consumidor, além de outros instrumentos norma-
tivos que visem à proteção massificada de direitos e interesses.
126
Art. 117. Acrescente-se à Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, o seguinte dispositivo, renumerando-se
os seguintes:
“Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível,
os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor”.
127
Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e da Lei
n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não contrariar
suas disposições.
129
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Explica Mazzilli128 que nem tudo foi progresso em matéria de defesa de interesses
transindividuais no País. Sucessivas alterações legislativas cuidaram de restringir
o âmbito das liminares em matéria de ações civis públicas; outras mudanças na le-
gislação buscaram limitar a eficácia da coisa julgada formada nessas ações (Lei nº
9.494/97); outras questões que o governo federal não pretendia ver resolvidas, tais
CAPÍTULO II
Tem a ação civil pública status constitucional (art. 129, III, da CF/88). Por isso, fala-
se que a ACP constitui verdadeira garantia constitucional processual colocadas à
disposição de seus legitimados ativos para a tutela dos direitos difusos ou coletivos
e individuais homogêneos.
Conforme leciona Hugo Nigro Mazzilli, inexiste taxatividade de objeto para a defesa
judicial de interesses transindividuais. Por isso, além das hipóteses já expressa-
mente previstas em diversas leis (defesa do meio ambiente, do consumidor, do
patrimônio cultural, das crianças e adolescentes, das pessoas portadoras de de-
ficiência, dos investidores lesados no mercado de valores mobiliários, da ordem
econômica, da economia popular, da ordem urbanística) – quaisquer outros interes-
ses difusos, coletivos e individuais homogêneos podem em tese ser defendidos em
juízo por meio da tutela coletiva, tanto pelo Ministério Público como pelos demais
co-legitimados do art. 5º da LACP e art. 82 do CDC129.
128
MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. 2002. p. 104.
129
Ob. cit., p.112
130
NERY JUNIOR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de Processo Civil Comentado. São
130
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
Aponta Celso Antonio Pacheco Fiorillo131, citando a visão de Nelson Nery Junior, que
um direito caracteriza-se como difuso de acordo com o tipo de tutela jurisdicional e
a pretensão levada a juízo aduzindo que a pedra de toque do método classificatório
para qualificar um direito como difuso, coletivo ou individual é o tipo de tutela jurisdi-
cional que se pretende quando se propõe a competente ação judicial, sendo certo,
para o autor que, da ocorrência de um mesmo fato, podem originar-se pretensões
difusas, coletivas e individuais.
131
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Vale notar que a legitimação ativa da Defensoria Pública na ação civil pública rela-
ciona-se com a defesa de direitos ou interesses coletivos de pessoas necessitadas,
em consonância com a regra preconizada no art. 5º, II, da Lei nº 7.347/85 e art.134,
caput, da Constituição da República. Exigir-se-á, pois, da Defensoria Pública tal
pertinência temática específica (atuação concreta de acordo com suas finalidades
institucionais), sob pena de desvio de sua função social, regrada em sede constitu-
cional, consistente na representação judicial e defesa dos necessitados133.
No plano da defesa dos interesses individuais homogêneos, vale mais uma vez o
ensinamento de Gregório Assagra de Almeida, ao afirmar que a legitimidade ativa
também seria uma forma de legitimação autônoma para a condução do processo,
133
ALMEIDA, Gregório Assagra de. Manual das Ações Constitucionais. Belo Horizonte: Del Rey, 2007,
p.124
134
MAZZILLI, Hugo Nigro, ob. cit., p. 53/5.
135
NERY JUNIOR, Nelson; ANDRADE, Rosa Maria de. Código de Processo Civil comentado e legis-
lação extravagante. p. 399 e 1466
136
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação Civil Pública. p. 123
132
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
pois não tem o legitimado ativo que identificar de forma individualizada os respecti-
vos titulares para o ajuizamento de ação coletiva para a tutela de tais direitos. Basta
que haja a afirmação de direitos ou interesses individuais homogêneos para que,
por exemplo, esteja legitimado para sua defesa o Ministério Público, ex vi legis137.
Vigora aqui o princípio da presunção da legitimidade ad causam ativa coletiva pela
CAPÍTULO II
afirmação do direito coletivo tutelável. Assim, bastaria a afirmação do direito ou in-
teresse para presumir a legitimidade, sendo, pois, desnecessária a busca pela real
titularidade do direito coletivo alegado.138
O art. 5º, § 3º, da LACP139 prevê o princípio da desistência motivada da ação civil
pública e a proibição de seu abandono.
A desistência da ação civil pública poderá ocorrer; contudo, caberá ao autor legi-
timado motivar sua decisão. Em caso de serem infundadas as razões invocadas,
qualquer outro co-legitimado ativo ou o Ministério Público (desde que não seja o
autor) assumirá o pólo ativo da ação.
Por isso, considerando que a sistemática da LACP não admite o abandono da ação
civil pública, haveria incompatibilidade no reconhecimento da contumácia das partes
(art. 267, II, do CPC) ou da contumácia do autor (art. 267, I, do CPC), afastando-se,
por tais motivos, a possibilidade de extinção do processo sem resolução de mérito.
137
ALMEIDA, Gregório Assagra de. Manual. p.136
138
Nesse sentido: ALMEIDA, Gregório Assagra de. Manual. p. 34/5.
Art. 5º, § 3°: “Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o
139
133
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
141
ALMEIDA, Gregório Assagra. Direito Processual Civil Coletivo brasileiro: um novo ramo do direito
processual. p. 512.
134
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
Na tutela jurisdicional coletiva, irradia o princípio do máximo benefício, consistente
na resolução, num só processo, de variados conflitos interindividuais ou um forte
conflito social, tanto que o CDC, no § 3º do art. 103142, expressamente prevê a trans-
ferência da coisa julgada coletiva, oriunda da tutela metaindividual, para a seara
individual.
Vale destacar que a ação civil pública, vocacionada para a proteção, a prevenção
e a reparação dos danos causados aos direitos ou interesses coletivos em sentido
amplo, poderá tutelar ainda, com fundamento no art. 127, caput, da Carta Magna,
cláusula mater da estrutura constitucional do Ministério Público, os interesses indi-
viduais indisponíveis143.
Em vista da ação civil pública ser voltada para a proteção coletiva, nada impedirá
que a tutela individual pura indisponível seja aviada como verdadeira ação individu-
al proposta pelo Ministério Público, como legitimado extraordinário. A denominação
de ação civil pública será individual, repita-se, e está jungida à qualidade da parte
142
“Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24
de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas
individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas
e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.”
Sobre o tema, consulte-se: ALMEIDA, Gregório Assagra de. De Jure, Revista Jurídica do Ministério
143
Público do Estado de Minas Gerais, v. 8, 2007, p. 596/621. “Legitimidade do Ministério Público para a
Defesa dos Direitos Individuais Indisponíveis, mesmo quando vise à Tutela de Pessoa Individualmente
Considerada.
144
Idem, p. 605.
135
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por isso, ainda que ação civil pública seja concebida, originariamente, à tutela de
CAPÍTULO II
145
Nesse sentido: TJMG, Reexame Necessário nº 10220059782932001, Rel. Des. Geraldo Augusto, j.
30.03.2006
MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. A intervenção do Ministério Público no Processo Civil
146
136
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
O controle de constitucionalidade assenta em sistemas jurídicos que impõem a su-
premacia da Constituição sobre o ordenamento jurídico vigente, comum em mode-
los que adotam a rigidez constitucional como regra, pelo qual exige especial pro-
cesso para sua revisão.
O sistema difuso, ou por via de exceção (ou defesa), autoriza o exercício do controle
de constitucionalidade por qualquer juiz ou tribunal, em qualquer processo. O con-
trole difuso tem origem histórica nos Estados Unidos, em julgamento da Supreme
Court no caso Madison versus Marbury, em 1803, ocasião em que o Juiz Marshall
147
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 699.
148
Direito Constitucional, p. 701.
149
Curso de Direito constitucional positivo, p. 50/2
137
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
determinou caber aos juízes aplicar e interpretar as leis devendo sobrepor a Cons-
tituição a qualquer lei ordinária caso esta se coloque em posição contraditória com
a Lei Maior150.
tal, pois é exercido incidenter tantum, como matéria sediada em linha preliminar
ou como questão prejudicial, conforme a natureza (material ou processual) do ato
impugnado. É chamado incidental tendo em vista que é manifestado no âmbito das
fundamentações das decisões judiciais, sendo que os seus efeitos operam inter
partes, sem os efeitos, contudo, da coisa julgada.
O sistema jurisdicional concentrado e abstrato ou por via das ações diretas, também
conhecido como modelo austríaco, impõe a centralização da competência jurisdi-
cional. O controle se dá por via de ação direta, com efeito erga omnes.
No sistema jurisdicional misto, o controle de constitucionalidade é manejado pela
via concentrada ou abstrata (por ação direta) ou pelo modo difuso ou incidental e
concreto. É o modelo adotado no Direito brasileiro (art. 5º, XXXV, art. 97, art.102, I,
a, e art.103, todos da CF/88).
138
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
ser efetivado pela forma difusa ou pela via de exceção nos inúmeros processos em
andamento.
CAPÍTULO II
concreto, pode recusar a aplicação de uma lei por entendê-la inconstitucional.
É considerado pela doutrina pátria como cláusula pétrea (art. 60, §4º, IV, CF/88),
visto tratar-se de direito e garantia fundamental (art.5º, XXXV, CR).
151
Jurisdição constitucional: controle abstrato das normas no Brasil e na Alemanha. p.1
152
Manual, p. 690.
Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário, ou ao órgão es-
153
139
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
julgou inconstitucional a norma faz coisa julgada erga omnes, tendo o efeito de tirar
a eficácia da lei em todo o território nacional.
O controle repressivo pelo Poder Legislativo ocorre quando a Carta Magna permite
ao Congresso Nacional, em seu art. 49, V, sustar os atos normativos do Poder Exe-
cutivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa.
Nesta situação, ante a inconformidade constitucional verificada, caberá ao Congres-
so Nacional editar um decreto legislativo sustando o ato normativo presidencial.
Por ocasião da votação das medidas provisórias editadas pelo Poder Executivo,
tendo ingressado no ordenamento jurídico, poderá o parlamento rejeitá-las com
base em inconstitucionalidade. Sobreleva destacar que as medidas provisórias po-
derão ser submetidas ao controle concentrado de constitucionalidade (ação direta),
haja vista que, desde a sua edição, terá a espécie normativa vigência e eficácia
imediata.154
Atos normativos que se sujeitam ao controle são aqueles que encerram um dever-
ser, veiculado pauta prescritiva de comportamento, subordinante da vontade huma-
na, a ser cumprida e observada pelos órgãos do Estado.155
154
Nesse sentido: STF – Pleno – Adin nº 295-3/DF – Rel. Min. Paulo Brossard, j. 22/6/1990.
Cf. KELSEN, Hans. Teoria geral das normas. Trad. José Florentino Duarte. Porto Alegre:Sérgio A.
155
140
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
d) deliberações dos Tribunais Regionais do Trabalho judiciários;
e) atos estatais de conteúdo meramente derrogatório.
Discute-se sobre a possibilidade de a Adin ter por objeto súmula vinculante do STF.
Nelson Nery Júnior158 entende possível o controle abstrato, ante a possibilidade de
os legitimados ativos previstos no art. 103 proporem a edição, a revisão e o cance-
lamento da súmula de efeito vinculante (cf. art. 103-A, § 2°).
157
idem
158
Constituição Federal Anotada, p. 537
141
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
deste instituto, não obstante ser desprovido de força vinculante ao Poder Público,
poderá servir como instrumento de autocontrole de constitucionalidade pelo Poder
competente na produção da normatividade tida como inconstitucional.
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV- a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa
do Distrito Federal;
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso Nacio-
nal;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito na-
cional.
A ação é imprescritível, tendo em vista a sua natureza social e difusa, sendo ainda,
pelos mesmos motivos, inadmissível a sua desistência.
142
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
vas Constituições estaduais (art. 125, § 2°, CF/88).
A ação por descumprimento de preceito fundamental, que vem disciplinada pela Lei
n° 9.882/99, terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultan-
te de ato do Poder Público (art. 1°, caput). Cabível ainda quando relevante o funda-
mento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou
municipal, incluídos os anteriores na Constituição (art. 1°, cit. lei).
Por ato do Poder Público entende-se o normativo e o administrativo, sejam eles co-
missivos ou omissivos. Todas as pessoas jurídicas de direito público interno (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios), seus respectivos órgãos (Ministérios, Se-
cretarias) e entidades da administração indireta (fundações e empresas públicas,
autarquias e sociedades de economia mista) sujeitam-se a esta via de controle.
A argüição por via da ação direta ao STF vem regulada no art. 1°, caput, da Lei n°
9.882/99, enquanto o parágrafo único permite o aforamento por via incidental, em
casos de relevância.
Outra via direcionada pela doutrina também como instrumento de controle de cons-
titucionalidade das leis e dos atos normativos refere-se à ação interventiva ou repre-
sentação interventiva, prevista nos arts. 35, IV (intervenção estadual), e 36, III, c.c. o
art. 34, VII (intervenção federal), introduzida no ordenamento jurídico brasileiro pela
Constituição de 1934 (art. 12, § 2°).
143
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
- autonomia municipal;
- prestação de contas da administração pública, direta e indire-
ta;
- aplicação do mínimo exigido da receita resultante dos impostos
estaduais, compreendida a proveniente de receitas de transfe-
rência, na manutenção e no desenvolvimento do ensino e nas
ações e serviços públicos de saúde.
Vale notar que o Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas
ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supre-
mo Tribunal Federal (§ 1°, art. 103).
Trata a doutrina como legitimidade ativa pluralista e concorrente.
brasileiro. p. 252.
160
Constituição do Brasil Comentada, p.756
144
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
constitucionalidade.161
161
Nesse sentido: Adin n° 1971-SP, rel. Min. Celso de Mello, j. 25/6/1999
162
NERY JUNIOR, Nelson. Constituição Federal Comentada. p. 278.
163
RTJ 93/459
164
STF-RDA 184/208
145
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O procedimento da ação vem estabelecido pela Lei n° 4.337/64, por força da Lei n°
5.778/72, bem como no regimento interno dos Tribunais de Justiça, havendo possi-
bilidade de concessão de liminar no processo da ação interventiva.
146
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
omnes, com possibilidade de invasão de competência do STF, vez que a decisão
proferida seria equivalente ao controle concentrado exercido pelo Excelso Pretório.
O entendimento prevalente é no sentido de que poderá a ação civil pública ter,
como causa de pedir, fundamento de inconstitucionalidade de ato normativo, sendo
vedada, por esta via processual, o controle abstrato de constitucionalidade. No ADI,
ao contrário, a declaração de inconstitucionalidade não é a causa de pedir, mas o
próprio pedido.165
A questão das terras indígenas, bem como a preservação cultural desses povos, foi
objeto de previsão constitucional, cabendo à União legislar sobre o assunto. Caberá
ainda ao Congresso Nacional autorizar a exploração mineral em terras indígenas.
Já se decidiu que, em casos de lesões corporais de silvícola contra outro índio, sem
conotação especial, a competência será da Justiça Comum166. A dimensão do caso
concreto, em seu aspecto subjetivo, ditará, decisivamente, a fixação da competên-
cia envolvendo a tutela sobre o índio.
Nesse sentido: STJ, 2ª. T. REsp 175222-SP, rel. Min. Franciulli Netto, j. 19/03/2002; JTJ 84/78 e
165
182/10.
166
Nesse sentido: STJ, Comp 575/MS, rel. Min. Costa Leite, 3ª Seção, j. 21/09/1989; STJ, CC 3910/RO,
rel. Min. Ademar Maciel, j. 17/12/1992;
147
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
para o ajuizamento de ação civil pública e de outras ações coletivas, nos termos
do art. 232 da Constituição da República, cabendo ao Ministério Público intervir em
todos os atos do processo.
A - Considerações gerais
Para tanto, não pode o Ministério Público ter um papel passivo; tem o Órgão de
buscar elementos necessários para sua plena atuação, tanto na área cível como na
criminal, podendo, por isso, valer-se de notificações e requisições.
O art. 129, VI, da Constituição da República, assim como o art. 26, I, da Lei nº
8.625/93, assegura ao Ministério Público a expedição de notificações para colher
depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não-comparecimento injustificado,
autoriza ao órgão ministerial requisitar condução coercitiva do faltoso.
O precitado art. 26, I, da LONMP não fixou prazo entre a comunicação e a data
designada para inquirição, podendo gerar a necessidade de comparecimento ime-
diato do notificando. O uso da força policial será conveniente em casos mais graves,
quando a recalcitrância do notificando for deliberada, indiferente e descompromis-
sada.
148
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
A requisição ministerial oderá ser destinada a qualquer autoridade ou órgão público
ou particular, com o fim de obter certidões, informações, exames ou perícias168. Res-
salte-se que o exame, em sentido mais amplo, é aferição de determinada realidade
fática, podendo ser realizada por qualquer pessoa. A perícia, por sua vez, cuida de
um exame mais específico, elaborado por profissional habilitado quanto aos fatos
que se pretende constatar. Certidões compreendem declarações formais extraídas
de registros e assentamentos administrativos. As informações cingem-se a quais-
quer esclarecimentos referentes a dados ou acontecimentos em geral.
Cabe ao destinatário dar cumprimento ao ofício requisitório, não lhe sendo lícito
recusar o atendimento.
Na lição de José dos Santos Carvalho Filho170, “[...] qualquer agente público ou in-
168
Veja-se art. 26, inciso I, letras “a”, “b” e “c”, e inciso II, da Lei nº 8.625/93
169
Cf. art. 67, § 6º e 67, inc. XII, letra “b”, ambos da LC nº 34/94
170
Ação Civil Pública. Rio de Janeiro: Lumem Juris. 3 ed. p.253
149
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A garantia constitucional do sigilo dos dados (art. 5º, XII) deve ser conjugada com a
necessidade de ser tutelada a intimidade da vida privada (art. 5º, X, CF/88).
Os dados bancários e fiscais existentes em cadastros junto a instituições financei-
ras, Receita Federal e outras entidades ou serviços similares são dotados de densa
carga de informações de conteúdo privado de seus titulares. Por isso, somente po-
derão ser devassadas em caráter excepcional, com observância das formalidades
171
Código de Processo Civil Anotado. RT. 7 ed. p 1.339/40
172
Nesse sentido RT 499/304.
173
“Art. 211 - A pena de advertência será aplicada nos seguintes casos:
[...]
V- descumprimento do disposto no art. 110, IV, [...]”
150
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
seguintes bens jurídicos:
a) sigilo de correspondência;
b) sigilo das comunicações telegráficas;
c) sigilo das comunicações de dados;
e) sigilo das comunicações telefônicas;
f) sigilo das comunicações telemáticas.
O sigilo dos dados se entrelaça com o segredo das comunicações telefônicas, o que
robustece a proteção da intimidade. São informações personalíssimas.
174
Nesse sentido: STF, Pleno – ACO nº 730/RJ – rel. Min. Joaquim Barbosa, Informativo STF nº 362,
p. 3.
175
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 23 ed. São Paulo: Atlas. p. 72-73
Nesse diapasão: STF, Inq. Nº 2.245 Agr/MG – rel. Min. Joaquim Barbosa, Informativo STF nº 450,
176
seção I, p. 1.
177
Nesse sentido: STF, Inq. Nº 899-1 – DF – rel. Min. Celso de Mello, DJ, p. 25341, set. 1994.
151
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Dessa forma, não há qualquer ofensa à Constituição Federal, quanto pelas leis
infraconstitucionais, não tendo sido fixada como critério a natureza do estabeleci-
mento que deverá fornecer os dados, pois o pedido não se reveste, em relação a
estes, de caráter contencioso. Dessa forma, o pedido não se enquadra nos casos
previstos no art. 109, da Constituição Federal. Assim, ora será competente a Justiça
Federal, ora a Comum.
1º Tribunal de Alçada Cível de São Paulo, Agr. Inst. Nº 596.655, 3ª Câm., Rel. Juiz Aloísio Toledo;
178
JTA-LEX 151/39.
179
STF – 2ª T – HC nº 85.088/ES – re. Min. Ellen Gracie, DJ, Seção I, 23.09.2005, p. 50 e RTJ 195/978.
180
STF – HC nº 55.447 e 69.372, Pleno, Agr. Reg. em Inquérito nº 887, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ
de 24.05.1995, p. 6806.
181
Sobre o tema, consulte-se: NERY JUNIOR, Nelson. Constituição Federal Comentada e legislação
constitucional. RT, 2006, p. 129, item 10; LAMMÊGO BULOS, Uadi. Constituição Federal Anotada. 4
ed. São Paulo: Saraiva. p. 119-120.
152
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
Preceitua o art. 5º, incisos X e XII da Carta Magna, verbis:
182
Cf. art. 129, VI
183
Cf. art. 26, III, da Lei nº 8.625/93
184
Cf. art. 26, § 2º, da Lei nº 8.625/93
153
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
cários ou fiscais.
Nada obstante, parte da doutrina185 admite a quebra de sigilo diretamente pelo Mi-
nistério Público, amparada no poder de requisição eriçado constitucionalmente, bem
como na legislação infraconstitucional supracitada.186 Assim, a LC nº 105/2001 não
alcançou o Ministério Público, que possui pleno poder de requisição.
Contudo, o próprio Supremo Tribunal Federal por seu Pleno, em 17/12/2007, Pleno,
no julgamento do Mandado de Segurança nº 22.801-6 – DF, rel. Min. Menezes Di-
reito, por unanimidade de votos, admitiu válida a LC nº 105/01, sufragando que os a
norma complementar, a qual exaustivamente tratou a matéria, outorgou apenas ao
Poder Judiciário e às comissões parlamentares de inquérito, possuidoras de pode-
res próprios das autoridades judiciárias, o poder para determinar a quebra do sigilo
bancário e fiscal. Por tais razões, negou-se ao Tribunal de Contas o acesso direto
às informações sigilosas.
185
Conferir: NERY JUNIOR, Nelson. Direito Constitucional, p.506.; No mesmo sentido: MAZZILI, Def.
Interesses difusos em juízo, p.327.
186
Nesse sentido, consulte-se: MORAES, Alexandre de. ob. cit., p. 74-76.
STJ, 5ª T. HC nº 18060-PR, rel. Min. Jorge Scartezzini, v.u., j. 07/02/2002, DJU 26/8/2002. No mesmo
187
sentido: STJ, re. Min. José Arnaldo da Fonseca, RSTJ 147/453; RSTJ 139/579.
188
STF, Pleno, MS 21729-4-DF, rel. Min. Marco Aurélio (vencido), m.v., j. 5.10.1995, DJU 19/10/2001, p.
33.
154
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
2.3.7 - Exercício do controle externo da atividade policial (art.
129, VII, CF/88)
A política de segurança pública tem por escopo a manutenção da ordem pública, por
meio da qual se busca a convivência harmoniosa e pacífica da população, fundada
em valores jurídicos e éticos, indispensáveis à consecução do bem comum. Almeja
o Estado (detentor do monopólio do jus puniendi e garantidor da ordem pública)
banir a violência das relações sociais através de seu poder de polícia.
155
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
189
Artigo intitulado “O Ministério Público e o Dever Constitucional do Controle Externo da Atividade Poli-
cial”.
190
Cf. Teoria e Prática da Promotoria Pública. Co-Edição de Sergio Antonio Fabris e Escola Superior
do Ministério Público RS, 1989. p.121.
156
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
objetivando a melhoria dos serviços públicos prestados (art. 129, II, da CF/88).
Ademais, o policial que respeita seu cargo e a instituição a qual pertence jamais
poderia sentir-se ultrajado diante desse mister; ao contrário, deveria aplaudi-lo, uma
vez que tem consciência de que os policiais incautos, corruptos ou que pratiquem
outro desvio de conduta funcional poderão ser responsabilizados nos tribunais e
nas instâncias administrativas.
157
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
to jurídico na ordem constitucional (art. 127, caput, e art.129, I e II) e nos diplomas
de organização funcional do Ministério Público insertos na Lei nº 8.625/93 (art. 80)
e na LC nº 75/93 (art 9º), esmiuçando a atividade fiscalizadora de forma clara e
inafastável.
158
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
procedimento investigatório; cremos, assim, que não exercita o órgão ministerial
seu poder requisitório.
A requisição ministerial, regra geral, precede a ação penal, eis que direcionada às
investigações que servirão de escora para o ajuizamento da denúncia. Contudo,
tem-se que a requisição poderá ultrapassar a fase inquisitiva, remanescendo ao
Ministério Público seu poder requisitório que deve ser orientado para a captação de
elementos probatórios necessários à busca da verdade real.
De outra ótica, o poder de requisição não exclui a intervenção do Juiz, como pro-
vedor da regularidade do processo, com iniciativa no campo probatório (art. 156 e
art. 502, caput, ambos do CPP), podendo determinar providências eventualmente
pleiteadas pelo Ministério Público e imprescindíveis para a elucidação dos fatos ou
mesmo de ofício,192 não estando, na busca da verdade real, sujeito a preclusões.193
Nesse sentido: STJ, 1ª Séc., MS 5370-DF, rel. Min. Demócrito Reinaldo, v.u., j.12/11/1997- RSTJ
191
107/21.
192
Nesse sentido: STJ, RT 683/361.
193
Tacrim/SP, RT 626/318.
159
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Na espécie, não se cuida de presidir inquéritos policiais, tarefa afeta à Polícia Civil,
por via de seus valorosos Delegados.
194
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
[...]
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-
lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.”
195
“Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em
outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:”
196
“Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá:
[...]
IV - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar,
observado o disposto no art. 129, inciso VIII, da Constituição Federal, podendo acompanhá-los;”
197
“Art. 80. Aplicam-se aos Ministérios Públicos dos Estados, subsidiariamente, as normas da Lei Orgâni-
ca do Ministério Público da União.”
“Art. 5º São funções institucionais do Ministério Público da União:
198
160
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
lece caber ao Parquet a promoção privativa da ação penal pública, resultando em
harmônica interação entre a desafiadora missão de investigar e, sucessivamente,
com lastro nos elementos investigativos colhidos, matéria por si só impregnada de
essencialidade social, a missão de o titular da ação penal deflagrar o jus accusatio-
nis in judicio.
Como bem ponderado por Pedro Henrique Demercian e Jorge Assaf Maluly,
161
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
próprios das autoridades judiciárias. Os relatórios das CPIs terão como destino tam-
bém o Ministério Público.
O mesmo seja dito quanto aos membros do Ministério Público (art. 40, III, da Lei
nº 8.625/93), havendo delegação legal da atribuição investigatória ao Procurador-
Geral de Justiça. Como se vê, a pretensão ao poder investigatório exclusivo não
ressoa como norma afinada com o regime democrático esboçado no texto da Carta
Maior.
162
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
rais, a matéria mereceu tratamento através da Resolução Conjunta PGJ/CGMP nº
2/2004
Sobreleva dizer que o desate da apuração, ainda que não esteja atrelado à autu-
ação funcional do órgão de execução requisitante, deverá o ofício requisitório ser
cumprido, refugindo da esfera de atribuição do destinatário a análise de sua conve-
niência.
163
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por óbvio, legislação municipal jamais poderá disciplinar matéria relacionada com
as funções do Ministério Público sendo, pois, inconstitucionais, por exemplo, nor-
mas locais que obriguem a participação do membro do Ministério Público em con-
selhos municipais.203
ANEXOS
JURISPRUDÊNCIA DE INTERESSE
Súmulas
Nesse sentido: STF, Ag. Inst. Nº 168.964-1/040 - rel. Min. Néri da Silveira, DJU 29/05/1996, p.
203
18352.
164
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
SÚMULA Nº 608: Nos crimes de estupro, praticado mediante violência real, a ação
penal é pública incondicionada.
CAPÍTULO II
SÚMULA Nº 609: é pública incondicionada a ação penal por crime de sonegação
fiscal.
SÚMULA Nº 643: O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil
pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares.
Julgados
165
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
o Ministério Público intervirá como fiscal da lei, pena de nulidade da ação (art. 17, §
4º, da Lei nº 8.429/92). Recurso não conhecido (STF, Pleno, RE nº 208.790/SP, rel.
Min. Ilmar Galvão, j. em 27/09/2000, DJU de 15/12/2000, p. 105).
166
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
direitos individuais para o fim de ser vedada a sua defesa em ação civil pública,
porque sua concepção finalística destina-se à proteção desses grupos, categorias
ou classe de pessoas. 5. As chamadas mensalidades escolares, quando abusivas
ou ilegais, podem ser impugnadas por via de ação civil pública, a requerimento
do Órgão do Ministério Público, pois ainda que sejam interesses homogêneos de
origem comum, são subespécies de interesses coletivos, tutelados pelo Estado por
esse meio processual como dispõe o art. 129, inciso III, da Constituição Federal.
5.1. Cuidando-se de tema ligado à educação, amparada constitucionalmente como
dever do Estado e obrigação de todos (CF, art. 205), está o Ministério Público inves-
tido da capacidade postulatória, patente a legitimidade ad causam, quando o bem
que se busca resguardar se insere na órbita dos interesses coletivos, em segmento
de extrema delicadeza e de conteúdo social tal que, acima de tudo, recomenda-se o
abrigo estatal. Recurso extraordinário conhecido e provido para, afastada a alegada
ilegitimidade do Ministério Público, com vistas à defesa dos interesses de uma co-
letividade, determinar a remessa dos autos ao Tribunal de origem, para prosseguir
no julgamento da ação (STF, Pleno, RE nº 163.231/SP, rel. Min. Maurício Corrêa, j.
em 26/02/1997, DJ 29/06/2001, p. 55).
167
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
EMENTA: Ação civil pública para proteção do patrimônio público. Art. 129, III, da
CF. Legitimação extraordinária conferida ao órgão pelo dispositivo constitucional em
referência, hipótese em que age como substituto processual de toda a coletividade
e, conseqüentemente, na defesa de autêntico interesse difuso, habilitação que, de
resto, não impede a iniciativa do próprio ente público na defesa de seu patrimônio,
caso em que o Ministério Público intervirá como fiscal da lei, sob pena de nulida-
de da ação (art. 17, § 4º, da Lei nº 8.429/92). (RE 208.790, Rel. Min. Ilmar Galvão,
julgamento em 27/9/00, DJ de 15/12/00)
168
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
Área Criminal
CAPÍTULO II
do Ministério Público. Nulidade. Violação do art. 129, I, da Constituição Federal.
É da jurisprudência do Supremo Tribunal – que a fundamentação do leading case
da Súmula 696 evidencia: HC 75.343, 12/11/97, Pertence, RTJ 177/1293 –, que
a imprescindibilidade do assentimento do Ministério Público, quer à suspensão
condicional do processo, quer à transação penal, está conectada estreitamente à
titularidade da ação penal pública, que a Constituição lhe confiou privativamente
(CF, art. 129, I). Daí que a transação penal – bem como a suspensão condicional do
processo – pressupõe o acordo entre as partes, cuja iniciativa da proposta, na ação
penal pública, é do Ministério Público. (RE 468.161, Rel. Min. Sepúlveda Perten-
ce, julgamento em 14/3/06, DJ de 31/3/06).
EMENTA: Correição parcial (CPPM, art. 498): compatibilidade com o art. 129, I, CF,
que outorgou legitimação privativa ao Ministério Público para a ação penal pública
(HC 68.739, 01/10/91, Pertence, RTJ 138/524).” (HC 78.309, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, julgamento em 2/2/99, DJ de 26/3/99).
EMENTA: Ministério Público. Privatividade da ação penal pública (CF, art. 129,
I): incompatibilidade com os procedimentos especiais por crime de deserção, no
ponto em que prescindem da denúncia (C. Pr. Pen. Militar, art. 451 ss): preceden-
te HC 67.931.” (HC 68.204, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 30-10-90,
DJ de 23/11/90).
169
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
de algum fato que merecesse ser elucidado.” (Inq 1.957, Rel. Min. Carlos Velloso,
julgamento em 11/5/05, DJ de 11/11/05). No mesmo sentido: HC 83.463, Rel. Min.
Carlos Velloso, julgamento em 16/3/04, DJ de 4/6/04.
170
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
equalização da taxa de juros, sob a forma de subvenção econômica ao setor pro-
dutivo, de acordo com a Lei nº 8.427/1992. Mandado de segurança indeferido.” (MS
21.729, Rel. p/ o ac. Min. Néri da Silveira, julgamento em 5/10/95, DJ de 19/10/01).
“A ação penal pública é privativa do Ministério Público (CF, art. 129, I), admitida
apenas a exceção inscrita no art. 5º, LIX, da Lei Maior. As disposições legais, que
instituiam outras exceções, foram revogadas pela Constituição, porque não recep-
cionadas por esta. STF, Pleno, HC 67.931-5-RS. O processo das contravenções
penais somente pode ter início mediante denúncia do MP. Revogação dos arts. 26
e 531, CPP, porque não recepcionados pela CF/88, art. 129, I.” (RE 134.515, Rel.
Min. Carlos Velloso, julgamento em 13/8/91, DJ de 13/9/91). No mesmo sentido: HC
72.073, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 2/4/96, DJ de 17/5/96
“O Ministério Público, nas ações penais públicas condicionadas, não está vincula-
do à qualificação jurídica dos fatos constantes da representação ou da requisição
de que lhe haja sido dirigida. A vinculação do Ministério Público à definição jurídica
que o representante ou requisitante tenha dado aos fatos é nenhuma. A formação
171
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
6/11/90, DJ de 15/3/91).
“A quebra de sigilo não pode ser manipulada, de modo arbitrário, pelo Poder Público
ou por seus agentes. É que, se assim não fosse, a quebra de sigilo converter-se-ia,
ilegitimamente, em instrumento de busca generalizada e de devassa indiscriminada
da esfera de intimidade das pessoas, o que daria, ao Estado, em desconformidade
com os postulados que informam o regime democrático, o poder absoluto de vascu-
lhar, sem quaisquer limitações, registros sigilosos alheios. Doutrina. Precedentes.
Para que a medida excepcional da quebra de sigilo bancário não se descaracterize
em sua finalidade legítima, torna-se imprescindível que o ato estatal que a decrete,
além de adequadamente fundamentado, também indique, de modo preciso, dentre
outros dados essenciais, os elementos de identificação do correntista (notadamen-
te o número de sua inscrição no CPF) e o lapso temporal abrangido pela ordem
de ruptura dos registros sigilosos mantidos por instituição financeira. Precedentes.”
(HC 84.758, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 25/5/06, DJ de 16/6/06). Agra-
vo regimental. Inquérito. Quebra de sigilo bancário. Remessa de listagem que iden-
tifique todas as pessoas que fizeram uso da conta de não-residente titularizada pela
agravante para fins de remessa de valores ao exterior. Listagem genérica: impossi-
bilidade. Possibilidade quanto às pessoas devidamente identificadas no inquérito.
Agravo provido parcialmente. Requisição de remessa ao Supremo Tribunal Federal
de lista pela qual se identifiquem todas as pessoas que fizeram uso da conta de
não-residente para fins de remessa de valores ao exterior: impossibilidade. Con-
figura-se ilegítima a quebra de sigilo bancário de listagem genérica, com nomes
172
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
“O sigilo bancário, espécie de direito à privacidade protegido pela Constituição de
1988, não é absoluto, pois deve ceder diante dos interesses público, social e da
Justiça. Assim, deve ceder também na forma e com observância de procedimento
legal e com respeito ao princípio da razoabilidade. Precedentes. (AI 655.298-AgR,
Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 4/9/07, DJ de 28/9/07).
173
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
j 11/05/2005).
Súmulas
174
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
da denúncia.
SÚMULA Nº 329: O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil públi-
ca em defesa do patrimônio público.
CAPÍTULO II
Julgados
175
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1ª T., REsp. nº 406.545/S, rel. Min. Luiz Flux, j. em 26/11/2002, DJU de 09/12/2002,
p. 292).
- O Ministério Público é parte legítima para a defesa dos interesses dos compra-
dores de imóveis loteados, em razão de projetos de parcelamento de solo urbano,
em face da inadimplência do parcelador na execução de obras de infra-estrutura
ou na formalização e regularização dos loteamentos.- A iterativa jurisprudencia do
Pretório Excelso, acompanhada por incontáveis julgados desta Eg. Corte, vem re-
conhecendo a legitimidade do Ministério Público para a defesa dos interesses difu-
sos, coletivos e individuais homogêneos. - Recurso conhecido e provido. (STJ, 2ª T.,
REsp. nº 108.249/SP, rel. Min. Francisco Peçanha Martins, j. em 06/04/2000, DJU
de 22/05/2000, Revista de Direito do MPRJ nº 13/466).
176
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
ciedade contemporânea, marcadamente de massa, e sob os influxos de uma nova
atmosfera cultural, o processo civil, vinculado estreitamente aos princípios constitu-
cionais e dando-lhes efetividade, encontra no Ministério Público uma instituição de
extraordinário valor da defesa da cidadania (STJ, 4ª T., REsp. nº 34.155/MG, j. em
14/10/1996, Revista de Direito do MPRJ nº 7/407).
177
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
mais que a soma de interesses dos respectivos titulares, mas verdadeiros interes-
ses sociais, sendo cabível sua proteção pela ação civil pública. 2. É o Ministério
Público ente legitimado a postular, via ação civil pública, a proteção do direito ao
salário mínimo dos servidores municipais, tendo em vista sua relevância social, o
número de pessoas que envolvem a economia processual. 3. Recurso conhecido
CAPÍTULO II
e provido (STJ, 5ª T., REsp. nº 95.347/SE, rel. Min. Édson Vidigal, j. em 24/11/998,
DJ 01/02/1999 p. 221).
178
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
Público Estadual, que poderá instaurar inquérito civil, visando a reunir os elementos
necessários a justificar sua atuação (STJ, 3ª T., RMS nº 8785/RS, rel. Min. Eduardo
Ribeiro, j. em 02/03/2000, DJ 22/05/2000, p. 104).
PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. Ação civil pú-
blica que, não obstante possa ter reflexos em interesses privados, foi ajuizada para
preservar padrão urbanístico. Recurso especial conhecido e provido (STJ, 3ª T.,
REsp. nº 166.714/SP, rel. Min. Ari Pargendler, j. em 21/08/2001, DJ 01/10/2001, p.
203).
179
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
180
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
das entre si ou com a parte contrária através de uma única relação jurídica (direitos
coletivos). - Recurso especial conhecido e provido (STJ, 2ª T., REsp. nº 162.026/MG,
rel. Min. Francisco Peçanha Martins, j. em 20/06/2002, DJ 11/11/ 2002, p. 171).
CAPÍTULO II
ESPECIAL). RELAÇÃO DE CONSUMO. PRETENSÃO DE DECRETAR-SE A NU-
LIDADE DE DETERMINADAS CLÁUSULAS TIDAS COMO ABUSIVAS. INTERES-
SES OU DIREITOS COLETIVOS. LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. - O
contrato bancário de abertura de crédito (cheque especial) submete-se à disciplina
do Código de Defesa do Consumidor. - Tratando-se de ação que visa à proteção
de interesses coletivos e apenas de modo secundário e conseqüencial, à defesa de
interesses individuais homogêneos, ressai clara a legitimação do Ministério Público
para intentar a ação civil pública. Precedentes do STJ. Recurso especial não conhe-
cido, prejudicada a Medida Cautelar nº 2640-RJ (STJ, 4ª T., REsp. nº 292.636/RJ,
rel. Min. Barros Monteiro, j. em 11/06/2002, DJ 16/09/2002, p. 190).
181
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Área criminal
182
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
posto o regular exercício da advocacia, no debate da causa, em defesa do direito
postulado. Se a descaracterização do elemento subjetivo do crime contra a honra
requer o revolvimento da prova condensada no bojo dos autos, o tema situa-se fora
do alcance do habeas corpus, que não é instrumento processual próprio para se
obter sentença de absolvição sumária. Recurso ordinário desprovido.(STJ, 6ª T.,
RHC 7829/SP, Rel. min. Vicente Leal, j. 6/5/1999).
183
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
127 e 129), resulta, daí, que as suas atividades se revestem de interesse público
relevante - oponível a qualquer outro - que deve ser cuidado com previdência, eis
que a outorga desse poder constitui reflexo de suas prerrogativas institucionais. A
ocultação e o não fornecimento de informações e documentos é conduta impediti-
va da ação ministerial e, consequentemente, da Justiça, se erigindo em abuso de
poder. Os documentos e informações requisitadas (e em poder do Ministério da
Aeronáutica) não serão, desde logo, acolhidos como verdadeiros e incontestáveis,
mas, submetidos ao crivo da autoridade judiciária e do Ministério Público; deste,
para auxiliar e, ate, impulsionar as diligências subseqüentes e do Judiciário para
que as submeta, em tempo oportuno, ao contraditório, em que se assegurara aos
indiciados ou acusados a mais ampla defesa. Nada importa que as conclusões dos
Órgãos da Aeronáutica sejam diametralmente opostas às do Ministério Público ou
do Judiciário. A responsabilidade civil é independente da criminal (Código Civil, art.
1525), como também a ação do Ministério Público independe do juízo de valor que,
na esfera administrativa, a autoridade aeronáutica atribuir aos fatos, não ficando,
por isso mesmo, o MP, adstrito, quer às conclusões do relatório preliminar, quer às
do relatório final. A publicidade dos atos administrativos e demais atividades estatais
decorre de preceito constitucional (art. 5, XXXIII) que só ressalva a hipótese em que
o sigilo seja imprescindível à segurança da Sociedade e do Estado. “O novo Esta-
tuto Brasileiro – que rejeita o poder que oculta e não tolera o poder que se oculta
– consagrou a publicidade dos atos e das atividades estatais como valor constitu-
cionalmente assegurado, disciplinando-o como direitos e garantias fundamentais”
(STF). - Já existindo inquérito instaurado em torno do fato, com o acompanhamento
do Parquet, torna-se evidente o interesse público na ultimação dessas investiga-
ções cujo fito é o de desvendar a existência de possíveis crimes. O sigilo, in casu,
não pode ser oponível à ação do Ministério Público, visto como o inquérito policial
está-se desenvolvendo sob absoluta reserva (CPC, art. 20), inexistindo temor sob
possíveis desvirtuamentos das informações e documentos requisitados.- É enten-
dimento assente na doutrina que o Ministério Público, em face da legislação vigen-
te, tem acesso até mesmo às informações sob sigilo, não sendo lícito a qualquer
autoridade opor-lhe tal exceção. Segurança concedida. Decisão unânime. (STJ, 1ª
Seção, MS 5370/DF, Rel Min. Demócrito Reinaldo, j. 12.11.1997).
184
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
investigatórios realizados pelo Ministério Público, na medida em que a atividade
de investigação é consentânea com a sua finalidade constitucional (art.129, inciso
IX, da Constituição Federal), a quem cabe exercer, inclusive, o controle externo
da atividade policial. 2 - Esta Corte mantém posição no sentido da legitimidade da
atuação paralela do Ministério Público à atividade da polícia judiciária, na medida
em que, conforme preceitua o parágrafo único do art. 4º do Código de Processo
Penal, sua competência não exclui a de outras autoridades administrativas, a quem
por lei seja cometida a mesma função. Precedentes. 3 - Hipótese na qual se trata
de controle externo da atividade policial, uma vez que o órgão ministerial, tendo em
vista a notícia de que o adolescente apreendido pelos policiais na posse de subs-
tância entorpecente teria sofrido torturas, iniciou investigação dos fatos, os quais
ocasionaram a deflagração da presente ação penal. 4 - Os elementos probatórios
colhidos nesta fase investigatória servem de supedâneo ao posterior oferecimento
da denúncia, sendo o Parquet o titular da ação penal, restando justificada sua atu-
ação prévia. 5 - “A participação de membro do Ministério Público na fase investiga-
tória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento
da denúncia” (Súmula nº 234/STJ). 6 - Ordem denegada.(STJ, 5ª T. HC84266/RJ
HABEAS CORPUS 2007/0128840-3, Rel. Ministra Jane Silva (Desemb. convocada
do TJMG), J. 04/10/2007).
185
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
186
Princípios, Garantias, Deveres e Atribuições
CAPÍTULO II
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instrumento útil para a provocação do autocontrole da constitucionalidade. In: MPMG
187
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
188
Capítulo III
Procuradoria-Geral de
Justiça
CAPÍTULO III
Como chefe da Administração Superior, é extenso campo de atuação do Procura-
dor-Geral.
1
Lei Complementar Estadual nº 34/94 – Lei Orgânica do Ministério Público de Minas Gerais.
2
É preciso esclarecer que o Ministério Público não tem personalidade jurídica plena; contudo, possui ca-
pacidade de ser parte nas hipóteses de sua legitimidade ativa em relação às ações penais e civis públicas
e para defender, em juízo, suas prerrogativas institucionais quando há conflito com os Poderes. Nesta
última hipótese, a representação judicial da instituição compete ao Procurador-Geral de Justiça.
193
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
3
Ao Procurador-Geral de Justiça compete a iniciativa de projetos de lei complementar que disponha so-
bre organização, atribuições e Estatuto do Ministério Público (CE, art. 125) e de projetos sobre a criação,
transformação e extinção de cargo e função públicos do Ministério Público e dos serviços auxiliares e a
fixação da respectiva remuneração (CE, art. 66, § 2º).
4
Pode o Procurador-Geral, inclusive, celebrar convênios com os órgãos municipais, estaduais e federais
para atendimento das necessidades da instituição (LC, art. 18, inc. LII).
5
[CE]Art. 155. […].§ 1º - O projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, de iniciativa do Governador do
Estado, resultará das propostas parciais de cada Poder, do Ministério Público, do Tribunal de Contas e
da Defensoria Pública, compatibilizadas em regime de colaboração.
§ 2º - Para proceder à compatibilização prevista no parágrafo anterior e à efetiva verificação dos limites
estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias, será constituída comissão permanente, composta de
seis membros, indicados:
I – um, pela Mesa da Assembléia;
II – um, pelo Governador do Estado;
III – um, pelo Presidente do Tribunal de Justiça;
IV – um, pelo Procurador-Geral de Justiça;
V – um, pelo Presidente do Tribunal de Contas;
VI – um, pelo Defensor Público-Geral do Estado.
194
Procuradoria-Geral de Justiça
remoção, permuta e outras formas de provimento derivado (LC, art. 18, inc. XIII);
b) determinar a abertura de concurso para ingresso na carreira e presidir a respec-
tiva comissão (LC, art. 18, inc. XXVII);
c) convocar membro do Ministério Público em atividade para colaboração com a
Comissão de Concurso (LC, art. 18, inc. XXIX);
d) designar, mediante eleição do Conselho Superior do Ministério Público, os mem-
bros da Comissão de Concurso e seus substitutos e arbitrar-lhes gratificação pelos
serviços prestados durante a realização das provas (LC, art. 18, inc. XXX);
e) prover os cargos iniciais dos serviços auxiliares e editar atos que importem em
CAPÍTULO III
movimentação, progressão e demais formas de provimento derivado (LC, art. 18,
inc. XIV);
f) propor ao Poder Legislativo a fixação, a revisão, o reajuste e a recomposição dos
vencimentos dos membros do Ministério Público e de seus servidores (LC, art. 18,
inc. XV);
g) deferir o compromisso de posse dos membros do Ministério Público e dos servi-
dores do quadro administrativo (LC, art. 18, inc. XVI);
h) praticar atos e decidir sobre a situação funcional e administrativa do pessoal ativo
e inativo da carreira e dos serviços auxiliares (LC, art. 18, inc. XVII);
i) propor a verificação de incapacidade física ou mental de membro do Ministério
Público (LC, art. 18, inc. LVIII)6;
j) editar atos de aposentadoria, exoneração e outros que importem em vacância de
cargos da carreira ou dos serviços auxiliares, bem como decidir sobre o aproveita-
mento de membro da instituição em disponibilidade, ouvido o Conselho Superior do
Ministério Público (LC, art. 18, inc. XVIII);
k) editar atos de concessão, alteração e cassação de pensão por morte (LC, art. 18,
inc. XIX).
6
Também compete ao Procurador-Geral representar ao Presidente do Tribunal de Justiça para instaura-
ção de processo de verificação de incapacidade física ou mental de magistrado e serventuário de justiça
(LC, art. 18, inc. LIX).
195
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
196
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
porário, ausência, impedimento ou suspeição de titular de cargo, ou ainda em caso
de excepcional volume de feitos, com o consentimento deste;
g) por ato excepcional e fundamentado, exercer as funções processuais afetas a
outro membro da instituição, submetendo sua decisão previamente ao Conselho
Superior do Ministério Público;
h) oficiar perante a Justiça Eleitoral de primeira instância ou junto ao Procurador
Regional Eleitoral, quando por este solicitado;
i) propor ação de perfilhação compulsória;
j) atuar em plantão nas férias forenses.
8
O art. 18, inc. XXXVII, faculta ao Procurador-Geral de Justiça convocar Procuradores de Justiça ou
Promotores de Justiça, estes da mais elevada entrância, para prestar, temporariamente, serviços à Pro-
curadoria-Geral de Justiça ou ocupar cargos de confiança. Já o inc. LXI do mesmo artigo permite ao
Procurador-Geral convocar membro do Ministério Público para deliberação sobre matéria administrativa
ou de interesse da instituição.
9
Como bem salienta Cândido Rangel Dinamarco, não existe um princípio da unidade e outro, da indivisi-
bilidade. A locução unidade-e-indivisibilidade expressa uma idéia só (In: Instituições de Direito Proces-
sual Civil. v. I. São Paulo: Malheiros. p. 684).
10
Nesse sentido, Dinamarco – ob. cit., p. 684/685.
197
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
11
A ausência de caráter normativo das recomendações decorre do respeito ao princípio constitucional
da independência funcional (CF, art. 127, § 1º), que deve conviver harmonicamente com o princípio da
unidade.
12
[Constituição Federal] Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
(...)
VII – assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta;
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveni-
ente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos
de saúde.
13
Conforme art. 106, inc. I, letras “a” e “b”, da Constituição Estadual, compete ao Tribunal de Justiça
processar e julgar originariamente nos crimes comuns, ressalvada a competência das justiças especial-
198
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
g) ajuizar mandado de injunção, quando a falta de norma regulamentadora inviabi-
lizar o exercício de direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos e a inicia-
tiva de sua elaboração for do Governador do Estado, de Secretário de Estado, da
Assembléia Legislativa ou de Tribunal (LC, art. 69, inc. XII);
h) oficiar nos processos de competência originária dos Tribunais (LC, art. 69, inc.
IX);
i) representar o Ministério Público nas sessões plenárias dos Tribunais de Justiça e
Militar, podendo intervir para sustentação oral ou esclarecimento de matéria de fato
(LC, art. 69, inc. V);
j) interpor recursos aos Tribunais locais e Superiores e neles oficiar (LC, art. 69, inc.
VIII);
k) requisitar de qualquer autoridade, repartição, secretaria, cartório ou ofício de jus-
tiça, certidões, exames, diligências e esclarecimentos necessários ao exercício de
suas funções (LC, art. 18, inc. LIII)15.
199
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
sos do regime republicano17, foi adotado um processo híbrido para sua escolha em
nível estadual, de molde que a independência funcional, retratada pela totalidade
dos membros da instituição ministerial, e a legitimidade popular, representada pelo
Chefe do Poder Executivo estadual, se fundissem em um nome selecionado pelo
Governador do Estado dentre uma lista tríplice eleita por Procuradores e Promoto-
res de Justiça (CF, art. 128, § 3º). Guardando coerência com esse processo, a sua
destituição dependerá de deliberação de maioria absoluta do Poder Legislativo, na
forma da lei complementar respectiva (CF, art. 128, § 4º).
CAPÍTULO III
Por fim, releva acrescentar que o Procurador-Geral de Justiça, diante de tantas atri-
buições, seja como Chefe da Administração Superior, seja como órgão de execução
nas hipóteses especiais elencadas na Constituição Estadual e nas Leis Orgânicas
Nacional e Estadual, pode delegar significativa parcela de suas funções administra-
tivas18, bem como a integralidade de suas funções de órgão de execução19.
3.2.1 – Introdução
dicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis.
17
Dentre tantas atribuições na esfera criminal ou cível da mais alta relevância, uma se destaca pelo seu
caráter intrinsecamente político-institucional de participação no próprio processo legislativo: o poder-de-
ver de ajuizar ações diretas de inconstitucionalidade.
18
LC, art. 18, inc. XX, c/c § 1º do mesmo artigo.
19
LC, art. 69, inc. XIII.
200
Procuradoria-Geral de Justiça
A Resolução PGJ 35/2005, em seu art. 1º, § 1º, incisos I a XXVI, define as atri-
buições do Procurador-Geral de Justiça Adjunto Jurídico. Algumas delas merecem
destaque:
CAPÍTULO III
a) “distribuir os autos de processos aos Procuradores de Justiça, por Câmaras e
Grupos dos Tribunais, e coordenar o serviço dos órgãos de execução do Ministério
Público em 2ª instância”.
Nesse campo, por força do disposto no art. 93, XV, da Constituição Federal, a distri-
buição dos processos oriundos dos Tribunais é realizada de forma imediata, respei-
tando-se o disposto na Resolução CAM PJ 27/2007.
Como cediço, “o conflito de atribuições pressupõe a existência de, pelo menos, duas
opiniões discordantes entre órgãos de execução a respeito de determinado ato a
ser praticado (de natureza judicial ou extrajudicial)20”. O conflito pode-se verificar
quando dois ou mais órgãos de execução entenderem que não são detentores de
atribuição para praticar determinado ato ou, de maneira oposta, quando avaliarem
que cada qual tem atribuição para prática do mesmo ato.
201
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
202
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
Procuradora de Justiça Elaine Martins Parise
Procurador de Justiça João Batista da Silva
Promotor de Justiça Renato Franco de Almeida
A - Introdução
203
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Tal preponderância do público sobre o privado irá levar o Estado a uma legislação
de caráter socializante, é dizer, a uma preocupação com o aspecto social do direito
cada vez mais profunda, surgindo, conseqüentemente, a socialização do jurismo.
Isso não importa dizer que o Estado absorveu a sociedade civil (entendida aqui
como sociedade burguesa), pois que tal efeito redundaria no Estado totalitário, nem
CAPÍTULO III
que no primeiro capitalismo – como já anotamos – este fora absorvido por aquela, o
que significaria uma sociedade sem Estado.
204
Procuradoria-Geral de Justiça
cionais que previam os direitos sociais, culturais e econômicos como meras normas
de programas (normas programáticas), promessas irrealizáveis concretamente,
cujo conteúdo não ultrapassava a boa intenção do legislador constituinte, e assim
não ensejavam reivindicação jurídica, dando ensejo ao que se denominou constitui-
ção programática.
CAPÍTULO III
cionismo. [...] Esse embate entre o liberalismo com seu conceito
de democracia política, e o intervencionismo ou o socialismo
repercute nos textos das constituições contemporâneas, com
seus princípios de direitos econômicos e sociais, comportan-
do um conjunto de disposições concernentes tanto aos direitos
dos trabalhadores como à estrutura da economia e ao estatuto
dos cidadãos. O conjunto desses princípios forma o chamado
conteúdo social das constituições. [...] São os princípios que
constituem as normas constitucionais de princípio programático.
(Grifos do autor)
A réplica não tardou a surgir. Com efeito, o pós-positivismo, ou, para outros, o ne-
oconstitucionalismo, foi a resposta dada à ausência de normatividade que os libe-
rais-conservadores propunham conferir às Constituições do Estado Social, notada-
mente do bloco de preceitos que encerravam os direitos fundamentais de segunda
e terceira dimensões. (BONAVIDES, 1997, passim)
205
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Dessa forma, Dworkin rejeita as teorias jurídicas comuns, tais como o positivismo e
o jusnaturalismo, em razão de sua incapacidade de alcançar a coerência que todo
ordenamento jurídico exige. Para o autor, a primeira corrente traduz-se no “ponto
de vista da maioria dos leigos e o hino dos conservadores em questões de direito”
(1999, p. 141). Na segunda (DWORKIN, 1999, p. 185):
206
Procuradoria-Geral de Justiça
O pragmático adota uma atitude cética com relação ao pressuposto que acredita-
mos estar personificado no conceito de direito: nega que as decisões políticas do
passado, por si sós, ofereçam qualquer justificativa para o uso ou não do poder
coercitivo do Estado.
Para rechaçar, como afirmado, as referidas teorias jurídicas como fontes interpre-
tativas adequadas à consecução da integridade no Direito, Dworkin parte de uma
premissa inegável:
CAPÍTULO III
Mas as pessoas reais na vida política comum atuam dentro de
uma estrutura política e também sobre ela. Para nós, a política é
mais evolutiva que axiomática; reconhecemos, ao trabalharmos
em prol de um Estado perfeitamente justo, que já pertencemos a
um Estado diferente. (DWORKIN, 1999, p. 199)
207
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
[…] los principios son normas que ordenan que algo sea realiza-
do en la mayor medida posible, dentro de las posibilidades jurídi-
cas y reales existentes. Por lo tanto, los principios son mandatos
de optimización, que están caracterizados por el hecho de que
pueden ser cumplidos en diferente grado y que la medida debida
de su cumplimiento no sólo depende de las posibilidades reales
sino también de las jurídicas. El ámbito de las posibilidades jurí-
dicas es determinado por los principios y reglas opuestos.
208
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
nificação do Estado e da aparição da respectiva Constituição, o homem e o cidadão
possuíam direitos sagrados e invioláveis pelos governantes. Daí o insuspeito teor
da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que, já em seu art. 1º, asse-
verava tal característica. É que, como salienta Bobbio (2004, p. 25):
209
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Bem se nota a natureza histórica, e, portanto, o caráter relativista dos princípios que
encerram os direitos fundamentais.
Por corolário, impõe-se reconhecer que o absolutismo filosófico (e, por conseqüên-
cia, o absolutismo jurídico) deve radicar nos recantos da obscuridade histórica da
Idade Média e suas inquisições, não se adequando hodiernamente ao pluralismo
social, econômico, político e jurídico.
210
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
coerente e permanente.
Nessa linha de raciocínio, esclarece a doutrina existir uma subcorrente que em nada
é incompatível com o pós-positivismo, antes o ratifica (MENDES, 2008, p. 118):
Com efeito, ao assumir posição que confira normatividade máxima a princípios inser-
tos no texto constitucional, notadamente aqueles que encerram direitos fundamen-
tais, o intérprete deverá estar cônscio de três coisas, a saber: a) que tais princípios
informam, de forma cogente, a interpretação das demais normas constitucionais; b)
que, além disso, os princípios insertos na Constituição vinculam a interpretação das
normas infraconstitucionais; c) que a concretude normativa ofertada a um princípio,
em um determinado caso concreto, poderá não ser a mesma em outra hipótese com
a qual se depare.
211
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Isso porque, na medida em que a regra possui seu código de abordagem do lí-
cito/ilícito, os princípios ofertam uma orientação que, uma vez seguida, não ex-
tinguirá definitivamente o grau de vinculação que outro princípio possa oferecer
(DWORKIN, 2002, p. 39). Assim, em um conflito aparente de regras, uma prevale-
cerá em detrimento de outra, e a preterida restará extinta ou inválida, segundo os
padrões aceitos do sistema jurídico em questão (princípio cronológico, hierárquico,
da especialização, etc.).
Mas não podemos dizer que uma regra é mais importante que
outra enquanto parte do mesmo sistema de regras, de tal modo
que se duas regras estão em conflito, uma suplanta a outra em
virtude de sua importância maior. Se duas regras entram em
conflito, uma delas não pode ser válida.
212
Procuradoria-Geral de Justiça
Cabe evidenciar, por oportuno, que a proporcionalidade, entendida por muitos como
um princípio com autonomia, encerra, a nosso aviso, tão-somente uma metodologia
de interpretação, com suas próprias características, eis que não estão em estado
relacional com algo diferente, para ser, ela própria, ponderada. (ALEXY, 1993, p.
112)
CAPÍTULO III
Destarte (ALEXY, 1993, p. 111-112):
Ya se ha insinuado que entre la teoría de los principios y la má-
xima de la proporcionalidad existe una conexión. Esta conexión
no puede ser más estrecha: el carácter de principio implica la
máxima de la proporcionalidad, y ésta implica aquélla. Que el
carácter de principio implica la máxima de la proporcionalidad
significa que la máxima de la proporcionalidad, con sus tres
máximas parciales de la adecuación, necesidad (postulado del
medio más benigno) y de la proporcionalidad en sentido estricto
(el postulado de ponderación propiamente dicho) se infiere lógi-
camente del carácter de principio, es decir, es deducible de él.
213
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Como não poderia deixar de ser, a percepção desse novo aspecto dos princípios,
notadamente os constitucionais, aliada ao relativismo de seus significados no mo-
mento de eventual colisão, careceu de uma releitura da posição até então ocupada
pelos tribunais, desenganadamente aqueles que exercem, como o Supremo Tribu-
CAPÍTULO III
Nessa esteira, é possível asseverar que os órgãos que a exercem, diante de docu-
mentos constitucionais que não mais internalizavam tão-somente a ideologia liberal
– organizando o Estado e prevendo direitos fundamentais de primeira dimensão
(liberdades negativas) – não podiam renunciar aos seus destinos constitucionais, e,
à luz de cláusulas constitucionais com densidade normativa e diretiva, tiveram que
214
Procuradoria-Geral de Justiça
Entretanto, imperioso assinalar que o novo status conferido aos órgãos da jurisdi-
ção constitucional revelou um aspecto inconcebível à luz da doutrina liberal.
Com efeito, forçoso reconhecer que atualmente não se pode admitir que o juiz – no-
tadamente aquele que exerce a jurisdição constitucional – seja tão-somente a boca
CAPÍTULO III
da lei. Definitivamente, não devemos deslembrar que juízes, ordinários ou constitu-
cionais, julgam – mesmo que inconscientemente – consoante princípios políticos,
sendo de uma candura incomensurável o raciocínio oposto.
Não pretendemos afirmar com isso que os juízes exercem suas atividades judi-
cantes consoante ideologias político-partidárias. Ao revés, os condicionamentos
do julgador, notadamente aquele que exerce a jurisdição constitucional, dão-se na
medida da aceitação dos ideais políticos e axiológicos plasmados nos documentos
constitucionais. Isso porque, como lembra Dworkin (2005, p. IX), deve-se rejeitar:
215
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Não é possível inferir daí que a concepção do Estado de Direito, como concepção
centrada no direito, importa, em verdade, a aplicação de direitos naturais – não po-
sitivados – ou quaisquer formas de superdireitos, de modo símile ao que ocorre no
direito alemão, ao menos em sistemas jurídicos de constituição rígida.
216
Procuradoria-Geral de Justiça
tentativas da comunidade para captar direitos morais e requer que qualquer princí-
pio rejeitado nessas tentativas não tenha nenhum papel na prestação jurisdicional.”
(DWORKIN, 2005, p. 16)
Sob esse prisma, mister assinalar que, nos sistemas de constituição rígida e diri-
gente – como o nosso –, os princípios políticos diretores da atividade judicial – e que
devem servir para fundamentá-la – não serão extraídos indutivamente do conjunto
de regras aprovadas pelos corpos legislativos, senão que estarão plasmados, explí-
cita ou implicitamente, no corpo do documento constitucional, carecendo, dessarte,
CAPÍTULO III
da dedução, para que sejam compreendidos e se tornem conformadores da reali-
dade social. É o que ocorre atualmente, v. g., com o art. 4º da Lei de Introdução ao
Código Civil (LICC), que deve ser relido, sob pena de incompatibilidade, à luz dos
princípios e regras contidos na Constituição de 1988.
Vinculado que está – como de resto, qualquer outra instituição estatal – aos prin-
cípios políticos estampados no texto constitucional, notadamente àqueles que en-
cerram direitos fundamentais, o Ministério Público, como instituição democrática,
não pode se furtar a contribuir para a conformação e concretização, na linha teórica
do pós-positivismo, das cláusulas constitucionais, seja em virtude de uma omissão
legislativa seja em razão de uma ação legislativa incompatível com a idéia de justiça
que a unidade da Constituição incorpora.
Daí se infere que a Instituição não poderia se colocar à margem dessa nova atitude
interpretativa surgida no panorama jurídico-político.
217
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Podemos citar, a título de exemplo, o que ocorre em relação a assunto que atormen-
ta a todos: o nepotismo na administração pública.
Sendo lido sob a perspectiva dos princípios insertos na Constituição de 1988, con-
fere-se maior peso aqueles norteadores da administração pública, em especial aos
da moralidade e da impessoalidade, além de se ofertar uma necessária revisão do
218
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
O sentido de constitucionalidade da lei e dos atos normativos primários se recon-
duz à idéia de rigidez e supremacia do documento constitucional. Sob esse as-
pecto, somente poderemos falar de constitucionalidade ou inconstitucionalidade se
possuirmos um parâmetro superior e perene em relação ao qual se possa aferir a
compatibilidade daqueles atos inferiores. Desde Kelsen, com sua engenhosa teoria
piramidal do ordenamento jurídico, a Constituição se revelou esse documento rígido
e supremo dos Estados contemporâneos. Não nos deslembremos, no entanto, do
conselho estampado na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que vin-
culava a existência da Constituição à previsão de garantia dos direitos e à absorção
do princípio da separação de poderes.
219
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
C.2 - Metodologia
220
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
Ao revés, o controle de constitucionalidade difuso, concreto ou
incidental, caracteriza-se, fundamentalmente, também no Direito
brasileiro, pela verificação de uma questão concreta de incons-
titucionalidade, ou seja, de dúvida quanto à constitucionalidade
de ato normativo a ser aplicado num caso submetido à aprecia-
ção do Poder Judiciário. (MENDES, 1999, p. 15)
Pela perspectiva agora dos efeitos da decisão, o julgado, no controle difuso, tem o
condão tão-somente de afastar a incidência do ato viciado (MENDES, 1999, p. 17)
reconhecendo a inconstitucionalidade naquele processo em que se agitou a pecha
de inconstitucionalidade, não sendo correto afirmar que a norma foi extirpada do
mundo jurídico.
Anote-se, ademais, que, conquanto o art. 52, X, da Constituição de 1988 esteja
passando por nova interpretação no Supremo Tribunal Federal (Rcl. nº 4.335-5/AC,
Rel. Min. Gilmar Mendes), no controle difuso ou concreto a decisão que afasta a in-
cidência da norma invectivada possui efeitos inter partes (somente reconhece, não
declara a inconstitucionalidade), sendo necessária a suspensão de sua execução
pelo Senado Federal para se conferir àquela, efeitos erga omnes.
221
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Pensamos que toda celeuma que o tema provoca se resume à distinção que deve
ser feita entre pedido e causa de pedir.
222
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
treme de obscuridade.
223
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nesse diapasão, o Supremo Tribunal Federal tem dado agasalho à tese acima ex-
posta, na medida em que deixou consignado, no Recurso Extraordinário nº 424.993-
6/DF, Rel. Min. Joaquim Barbosa, ratificando precedentes anteriores, que:
224
Procuradoria-Geral de Justiça
sobediência à lei (e a isso se reduz), como ato normativo primário, por ato normativo
secundário. Crise de constitucionalidade é fenômeno diverso, na medida em que
se traduz em violação de dispositivo normativo de magnitude constitucional por ato
normativo primário.
Não raras vezes ocorre relativa confusão entre os institutos, sendo certo que a con-
ceituação rigorosa refletirá diretamente no controle de constitucionalidade, seja por
via de ação seja por via de exceção.
CAPÍTULO III
Tanto no controle por via de ação quanto naquele por via de exceção, o Supremo
Tribunal Federal não aceita tratar judicialmente da mera crise de legalidade, para
“se o ato regulamentar vai além do conteúdo da lei, ou se afasta dos limites que esta
lhe traça, pratica ilegalidade e não inconstitucionalidade, pelo que não se sujeita à
jurisdição constitucional” (STF, ADI nº 2.618-6/PR, Rel. Min. Carlos Velloso).
Ambas as hipóteses são rejeitadas por nossa Suprema Corte como potenciais obje-
tos de controle concentrado ou difuso de constitucionalidade, uma vez que somente
a inconstitucionalidade direta e frontal à Constituição poderá ensejar a sindicação
judicial de constitucionalidade.
225
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
dade.
Nessa esteira, impende realçar a hipótese, muito comum no cotidiano, a qual, po-
rém, não enseja a sindicação judicial quanto à constitucionalidade – de lei ordinária
municipal que viola tão-somente dispositivo da lei orgânica do município (LOM).
Nesse caso, estamos diante de uma crise de legalidade, já que não há de se consi-
derar a LOM como parâmetro para averiguação de constitucionalidade de lei ou ato
normativo, em razão de expressa proibição constitucional (CF/88, art. 125, § 2º).
Importa realçar, consoante as lições doutrinárias, que esse controle, conquanto ain-
da inexistente a espécie normativa, “possui natureza repressiva, e não preventiva,
pois visa expurgar do ordenamento atos inconstitucionais. Ou seja, não vigora, no
226
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
ser sindicada pela via da exceção.
Entendemos, entretanto, que a posição da nossa Suprema Corte encerra uma in-
terpretação reducionista do problema no que concerne à legitimidade para as de-
mandas concretas. Isso porque, ao conferir somente aos parlamentares legitimi-
dade ad causam para a impetração, exclui os outros eventuais participantes do
devido processo legislativo, notadamente quando a iniciativa do iter for conferida,
com reserva, a atores extraparlamentares. É o caso, por exemplo, de mencionar a
hipótese de projeto de lei iniciativa reservada do Procurador-Geral de Justiça cuja
tramitação, no seio do Poder Legislativo respectivo, desobedeça aos parâmetros
constitucionais de regência.
227
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Daí imperioso afirmar que a mera exegese conferida às normas regimentais por
parlamentares se constitui em atos interna corporis, ao passo que as normas do
regimento, objetivamente consideradas, na medida em que malfiram as cláusulas
constitucionais pertinentes, notadamente aquelas referentes ao processo legisla-
tivo, podem ser objeto de controle de constitucionalidade, pelo método difuso, e a
legitimidade ad causam – frise-se – deve ser reconhecida a todos os co-autores da
realização da espécie normativa em consideração.
Coerente com esse raciocínio, decidiu o Supremo Tribunal Federal, pelas palavras
do Ministro Francisco Rezek, que as normas regimentais:
228
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
G - Controle concentrado de constitucionalidade: histórico
Dessa forma, o controle por via de ação integrou o ordenamento jurídico pátrio so-
mente pela inserção, na Constituição de 1946, da Emenda Constitucional nº 16/65.
H - Metodologia
229
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
230
Procuradoria-Geral de Justiça
Dessa forma, é de se reconhecer o esforço realizado por nossa Suprema Corte nos
Mandados de Injunção nº 670, nº 712 e nº 708, ao proferir decisão aditiva, reco-
nhecendo o direito de greve dos servidores públicos, ao aplicar na hipótese a Lei nº
7.783/89, que dispõe sobre o direito de greve na iniciativa privada. Devemos, agora,
reivindicar a proferição de decisões positivas, já que, no diploma constitucional cida-
dão, nada há que as impeça.
CAPÍTULO III
No que concerne à ação de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), o
Constituinte relegou à lei ordinária sua completa conformação. Nesse sentido, com
o advento da Lei federal nº 9.882/99, que regulou o instituto, à norma constitucional
limitada foi conferida eficácia plena.
Ademais, podem ser objeto de ADPF, ao contrário do que ocorre em regra no con-
trole concentrado de constitucionalidade, lei ou ato normativo municipal, mesmo
aqueles anteriores à Constituição. Anterioridade esta que se estende às leis e atos
normativos federais e estaduais. Infere-se, daí, a possibilidade de se aforar ADPF
com o fim de cotejar ato normativo municipal com a Constituição da República,
como parâmetro. Da mesma forma, para atos normativos anteriores à Constituição
(ou pré-constitucionais) que não foram revogados expressamente.
231
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Estamos que os autores trazidos à baila conferiram uma concepção de caráter re-
ducionista à expressão em exame.
CAPÍTULO III
Com efeito, pensamos que a concepção adequada à expressão passa pelo ra-
ciocínio que utiliza, obrigatoriamente, a teoria na qual a Constituição de 1988 se
sustenta. Destarte, impende reconhecer – como alhures afirmamos – que a atual
Constituição da República se traduz naquilo que J. J. Gomes Canotilho denomi-
nou Constituição Dirigente. Dessa forma, segundo o renomado professor lusitano, a
constituição dirigente é o “bloco de normas constitucionais em que se definem fins e
tarefas do Estado, se estabelecem directivas e estatuem imposições. A constituição
dirigente aproxima-se, pois, da noção de constituição programática.” (2001, p. 224)
Nessa linha de raciocínio, além daqueles apontados pela doutrina, forçoso adicio-
nar outros preceitos que possam ser, à luz da teoria subjacente, fundamentais, por
se traduzirem em características próprias de uma constituição dirigente. Assim, as
cláusulas insertas na Ordem Econômica e Financeira, na Ordem Social, do Sistema
Tributário e quaisquer outros dispositivos que se caracterizem por ser imposições,
tarefas ou diretivas ao Estado ou à sociedade, aí incluídos os agentes econômicos
privados.
232
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
ser resumida em poucos diplomas legais, a saber:
- Lei Federal nº 9.868/1999 – que dispõe sobre o processo e julgamento da ação di-
reta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade perante
o Supremo Tribunal Federal;
- Lei Federal nº 9.882/1999 – que dispõe sobre o processo e julgamento da argüi-
ção de descumprimento de preceito fundamental, nos termos do § 1º do art. 102 da
Constituição.
- Lei federal nº 5.869/1973 (Código de Processo Civil) – arts. 480 e ss.;
- Lei federal nº 11.417/2006 – que regulamenta o art. 103-A da Constituição da Re-
pública e altera a Lei nº 9.784/1999, disciplinando a edição, a revisão e o cancela-
mento de enunciado de súmula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal;
- Lei federal nº 11.418/2006 – que acrescenta à Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de
1973 (Código de Processo Civil), dispositivos que regulamentam o § 3º do art. 102
da Constituição da República, dispondo sobre a repercussão geral da questão cons-
titucional nos recursos extraordinários interpostos.
- Constituição do Estado de Minas Gerais – arts. 106, I, h, e 118.
- Resolução PGJ nº 77/2005 – cria a Coordenadoria de Controle de Constitucionali-
dade e fixa suas atribuições no âmbito da Procuradoria-Geral de Justiça.
JURISPRUDÊNCIA
233
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
234
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
contributo para a compreensão das normas constitucionais programáticas. 2. ed.
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ricanos por seu estado social democrático. Trad. Eduardo Brandão. v. 1. 2. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2005.
235
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
ANEXOS
TÉCNICAS DE ATUAÇÃO
- RECOMENDAÇÃO
Lei municipal que regula a contratação temporária por excepcional interesse pú-
blico. Afastamentos e vacâncias de cargo público. Excepcionalidade. Inexistência.
Concessão de direitos sociais aos contratados além do tempo trabalhado. Enrique-
cimento sem causa. Previsão de hipóteses dessa espécie de contratação fora de
lei formal. Violação do princípio da reserva legal. Contratação de servidor público
efetivo. Impossibilidade. Inconstitucionalidade dos dispositivos.
Dos prolegômenos
236
Procuradoria-Geral de Justiça
Da fundamentação
CAPÍTULO III
a) Do texto legal a merecer reparos
Art. 2º – [...]:
[...]
IV – contratação de professor e cantineira, em substituição ou vacância do cargo;
V – execução de serviços que não exijam habilitação legal dos servidores, desde
que inexistente o cargo no plano de carreira dos servidores municipais;
VI – execução dos servidores (sic) para cujas atividades não existam servidores
aprovados no concurso;
VIII – atendimento a situações de urgência não referidas expressamente nesta lei.
Art. 6º – [...]
§ 1º – É vedado a servidor público celebrar contrato, na forma desta lei com a ad-
ministração pública direta, indireta ou fundacional, salvo motivo fundamento (sic)
aceito pelo prefeito municipal e ocorrente compatibilidade horária.
237
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
b) Lei Municipal que autoriza contratação temporária para hipótese em que não há
excepcionalidade nem temporariedade. Inconstitucionalidade.
Como é possível inferir do dispositivo legal transcrito (art. 2º, IV, V, VI), a autorização
conferida pelo Legislador local ao Chefe do Poder Executivo para contratar tempo-
rariamente agentes nas hipóteses ali referidas malfere, às escâncaras, a tempora-
riedade e excepcionalidade do interesse público.
É sabido que as contratações temporárias (art. 22, caput, da CE/89) possuem três
pressupostos intrínsecos22, a saber: a determinabilidade temporal, a temporarieda-
CAPÍTULO III
de e a excepcionalidade.
A determinabilidade temporal traz o condicionamento da vigência do contrato tem-
porário a prazo certo e determinado, em antagonismo às regras comuns, estatutária
ou celetista, cuja relação jurídica funcional tem, por excelência, prazo indetermina-
do.
Nesse sentido, José dos Santos Carvalho Filho conceitua a determinabilidade tem-
poral:
22
MADEIRA, José Maria Pinheiro. Servidor público na atualidade. 3 ed. Rio de Janeiro: América
Jurídica, 2006. p. 30.
23
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 15 ed. Rio de Janeiro: Lu-
men Iuris, 2006. p. 500.
238
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
aplicável a hipótese constitucionalmente manifestada pela expressão ‘necessidade
temporária’. Quer-se, então, dizer que a necessidade das funções é contínua, mas
aquela que determina a forma especial de designação de alguém para desempe-
nhá-las é temporária. Esse é o caso, por exemplo, de função de magistério ou de
enfermeiro ou de médico a prestar o serviço em posto de saúde [...] Até o advento
do concurso público [...] 24
239
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A regra é a admissão de servidor público mediante concurso público: CF/88, art. 37,
II. As duas exceções à regra são para os cargos em comissão referidos no inciso
II do art. 37, e a contratação de pessoal por tempo determinado para atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público. CF/88, art. 37, IX. Nessa
hipótese, deverão ser atendidas as seguintes condições: a) previsão, em lei, dos
cargos; b) tempo determinado; c) necessidade temporária de interesse público; d)
interesse público excepcional. II. Lei nº 6.094/2000, do Estado do Espírito Santo,
240
Procuradoria-Geral de Justiça
E mais:
Servidor público: contratação temporária excepcional (CF/88, art. 37, IX): inconstitu-
cionalidade de sua aplicação para a admissão de servidores para funções burocrá-
ticas ordinárias e permanentes.29
CAPÍTULO III
Inconstitucionalidade da previsão da nomeação de auditores e controladores sem
aprovação em concurso de provas ou de provas e títulos, conforme determina o art.
37, II, da Constituição Federal30.
Constatada, assim, clara ofensa aos arts. 21, § 1º e § 4º, e 22, caput, da Constitui-
ção do Estado pelos apontados incisos do art. 2º da Lei Municipal nº 205/95. Isso se
dá, a toda vista, pelo fato de a lei sub examen não cogitar da temporariedade e da
excepcionalidade nas hipóteses transcritas. Ao revés, tais hipóteses administrativas
em nada se compatibilizam com os aspectos da temporariedade e da excepcionali-
dade, haja vista que ocorrerão sempre nos meandros da administração pública.
28
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 2.229-6/ES. Pleno. DJU
25/06/04.
29
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 2.987. Pleno. DJ
02/04/2004.
30
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 2.280. Pleno. DJ
25/06/2004.
31
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Ação Cível n.º 1.000.263.180-4/00. 5ª C.
Cível. Rel. Des. Maria Elza, j. 16/05/2002.
241
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Como é possível inferir do dispositivo legal contido no art. 2º, VIII da Lei, a autori-
zação conferida pelo legislador local para que outras situações urgentes possam
ensejar a contratação temporária mesmo que não prevista em lei malfere, às escân-
caras, o princípio da legalidade, na sua vertente de reserva legal.
CAPÍTULO III
[...]
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender
a necessidade temporária de excepcional interesse público; (Grifo nosso)
Divisa-se, daí, que o inciso constitucional transcrito encerra desenganadamente
exemplo perfeito do princípio da reserva legal, o qual não admite exceções que
abarquem outras espécies normativas na concretização das cláusulas constitucio-
nais limitadas, como ocorre em relação ao dispositivo legal mencionado, o qual
conferiu competência indelegável ao Chefe do Poder Executivo.
242
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
levaram o legislador constituinte originário a tal exigência, verbis:
A regra é a admissão de servidor público mediante concurso público: CF, art. 37, II.
As duas exceções à regra são para os cargos em comissão referidos no inciso II do
32
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 5 ed. Coimbra: Alme-
dina, 2002. 1504p. p. 718.
33
Ob. cit. p. 719.
243
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
art. 37, e a contratação de pessoal por tempo determinado para atender a necessi-
dade temporária de excepcional interesse público. CF, art. 37, IX. Nessa hipótese,
deverão ser atendidas as seguintes condições: a) previsão, em lei, dos cargos; b)
tempo determinado; c) necessidade temporária de interesse público; d) interesse
público excepcional. II. Lei nº 6.094/2000, do Estado do Espírito Santo, que autoriza
o Poder Executivo a contratar, temporariamente, defensores públicos: inconstitucio-
nalidade34. (Grifo nosso)
Por outro lado, infere-se que o § 1º do art. 6º da Lei sob exame confere a autoriza-
ção legal para contratação temporária de servidores efetivos, componentes do qua-
dro de servidores permanente da administração municipal, quando houver motivo
fundamentado e aceitação pelo alcaide, bem como compatibilidade de horário.
É sabido que a exceção aberta à regra do concurso público pela cláusula cons-
titucional de regência (CF/88, art. 37, IX) tem por escopo prover a administração
pública de mão-de-obra para extirpar fato imprevisível, temporário, e que releve sob
o aspecto do interesse público, quando o quadro de servidores permanentes (efeti-
vos) não seja suficiente para tal desiderato.
Isso porquanto, caso o servidor efetivo possa ser contratado temporariamente, tal
fato por si só já é indicador de que a Administração possui número suficiente de
servidores do quadro permanente para fazer frente à ocorrência imprevista e ex-
cepcional, não havendo, nessa hipótese, necessidade de contratação temporária,
a inchar os quadros do poder público, o que enseja gastos de dinheiro público, sem
34
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.229-6/ES. Pleno. DJU
25/06/04.
244
Procuradoria-Geral de Justiça
quaisquer carências.
CAPÍTULO III
contratado tem direito. Enriquecimento sem causa. Inconstitucionalidade.
Consoante se infere dos incisos III, VI e VII do art. 8º da Lei Municipal hostilizada,
os agentes contratados nos termos da referida Lei terão direito aos seguintes bene-
fícios: décimo terceiro salário (gratificação natalina), adicional de férias e férias.
Com efeito, a leitura dos incisos apontados nos leva a crer que tais determinações
legais não prevêem a proporcionalidade e razoabilidade em tais pagamentos, mes-
mo que o eventual contratado preste serviços à administração pública tão-só pelo
período de seis meses.
245
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
246
Procuradoria-Geral de Justiça
129, IV, ambos da Constituição da República/88; do art. 6º, I, II e III, da Lei Comple-
mentar Federal nº 75/93; do art. 25, I, da Lei Federal nº 8.625/93; do art. 66, I e II,
da Lei Complementar Estadual nº 34, de 12 de setembro de 1994, e, ainda, do art.
120, IV, da Constituição do Estado de Minas Gerais.
CAPÍTULO III
Contudo, essa atribuição do Ministério Público não o impede de utilizar outros me-
canismos para assegurar o respeito aos direitos assegurados constitucionalmente.
Um dos fortes mecanismos de atuação do Ministério Público, que decorre da Cons-
tituição e está previsto expressamente no plano infraconstitucional, é a recomenda-
ção, que poderá ser dirigida ao poder público em geral, tendo-se em vista o respeito
aos direitos assegurados constitucionalmente.
Nesse sentido estabelece o art. 6º, XX, da Lei Complementar Federal nº 75, de 20
de maio de 1993:
247
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
g) Conclusão
248
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
cionalidade, valendo-se das suas atribuições constitucionais e infraconstitucionais,
e a fim de que sejam excluídos os vícios assinalados e salvaguardado o requisito
da legalidade das contratações temporárias e a obediência à regra constitucional
insculpida no art. 21, § 4º, da Constituição Mineira, inspirada no art. 37, § 2º, da
Carta Política de 1988, recomenda a Vossa Excelência:
2) Fixa-se, nos termos do inciso IV, parágrafo único, do art. 27 da Lei Federal nº
8.625, de 12 de fevereiro de 1993, o prazo de trinta dias, a contar da data de sua
notificação pessoal, para que Vossa Excelência cumpra a presente recomendação,
a ela anuindo.
3) Na ocasião, também nos termos do disposto no inciso IV, parágrafo único, do art.
27, da Lei Federal nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, requisita-se ainda a Vossa
Excelência:
a) a divulgação adequada e imediata da presente recomendação;
b) informações por escrito, no prazo de dez dias, contados a partir do vencimento
do prazo de trinta dias acima fixado, sobre o cumprimento ou não da presente re-
comendação.
Anexas, a cópia da portaria de instauração do presente procedimento administrativo
e a da certidão de vigência da lei impugnada.
Cumpra-se.
249
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
- REPRESENTAÇÃO
OFÍCIO n° 147/2007
Assunto: requerimento (faz)
Betim, 6 de março de 2007.
Excelentíssima Senhora,
250
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
do Estado), requerimento à Procuradoria-Geral de Justiça também se faz necessá-
rio, no âmbito da especial atribuição de controle de constitucionalidade das leis e
atos normativos municipais.
251
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Desse modo, requer-se a Vossa Excelência a promoção das medidas cabíveis para
o reconhecimento da inconstitucionalidade da atual redação do art. 39 da Lei Orgâ-
nica Municipal de Betim.
CAPÍTULO III
Promotor de Justiça X
3.3.1 - Introdução
252
Procuradoria-Geral de Justiça
No que se refere aos produtos e serviços oferecidos pelas unidades que integram a Pro-
curadoria-Geral de Justiça Adjunta Administrativa, serão apresentados os seguintes:
CAPÍTULO III
material permanente em desuso.
- Finanças – setor encarregado dos adiantamentos diversos, das diárias de viagem
e despesas de viagem.
- Serviços Gerais e Transportes - engloba os serviços de conservação, limpeza e
apoio administrativo, cópias reprográficas, serviço postal telegráfico, veículos, ser-
viço de telefonia, serviços de manutenção e manutenção preventiva.
- Informática – área que cuida da assistência técnica nos equipamentos, acesso à
internet e outros assuntos correlatos.
3.3.2 - Unidades
253
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Procuradoria-Geral
de Justiça
Gabinete
Procuradoria-Geral de
CAPÍTULO III
Justiça Adjunta
Administrativa
Gabinete
Central de Atendimento
às Promotorias de
Justiça Assessoria Especial
Administrativa e
Financeira
Central de Apoio
Técnico
Diretoria-Geral
Assessoria Comissão
Jurídico- Permanente
Administrativa de Licitação
Diretoria de
Diretoria de
Serviços Gerais Pessoal do
e Transporte Ministério Público
Diretoria de
Departamen- Pagamento
to de de Pessoal
Perícia Médica
e Saúde
Ocupacional
Atualização: Diretoria de Modernização Administrativa/SPC/DG
Emissão: 06 de maio de 2008
254
Procuradoria-Geral de Justiça
Legislação pertinente:
- Lei Complementar nº 66, de 22 de janeiro de 2003 – Cria o Fundo de Proteção e
Defesa do Consumidor – (FEPDC), o Conselho Gestor do Fundo Estadual de Prote-
ção e Defesa do Consumidor e dá outras providências. Art. 89, § 2º - Dispõe sobre
as competências do Procurador-Geral de Justiça Adjunto Administrativo.
- Resolução PGJ nº 35, de 30 de maio de 2005 – Define atribuições aos Procurado-
res-Gerais de Justiça Adjuntos Jurídico, Administrativo e Institucional, ao Chefe de
CAPÍTULO III
Gabinete e Secretário-Geral.
- Resolução PGJ nº 02, de 19 de janeiro de 2006 – Altera dispositivos da Resolução
PGJ nº 35, de 30 de maio de 2005.
- Resolução PGJ nº 14, de 9 de março de 2006 – Altera dispositivos da Resolução
PGJ nº 35, de 30 de maio de 2005.
Sigla: PGJAA
Atribuições:
- substituir o Procurador-Geral de Justiça na falta do Procurador-Geral de Justiça
Adjunto Jurídico;
- assistir o Procurador-Geral de Justiça no desempenho de suas funções adminis-
trativas e legislativas;
- executar a política administrativa da instituição;
- elaborar anteprojeto de lei sobre matéria de interesse do Ministério Público e
acompanhar sua tramitação;
- coordenar a elaboração da proposta orçamentária do Ministério Público e encami-
nhá-la ao Procurador-Geral;
255
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
256
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
- solicitar ao Procurador-Geral de Justiça a requisição de policiamento para guarda
dos prédios e das salas do Ministério Público ou para a segurança de seus mem-
bros e servidores;
- delegar atribuições ao Diretor-Geral para autorizar despesas e/ou assinar notas,
reforços e liquidações de empenho que integrem os processos de execução da des-
pesa, bem como exercer outras atribuições que lhe forem conferidas;
- delegar e definir atribuições a outros servidores que lhe sejam subordinados;
- planejar, organizar, dirigir, coordenar e acompanhar as atividades de recursos hu-
manos, informática, material e patrimônio, incluídas as que englobem caráter licita-
tório, bem assim aquelas relativas a finanças, controladoria, documentação, arquivo
e demais atividades de serviços auxiliares, nestas compreendidas as de manuten-
ção, zeladoria e transportes;
- coordenar a elaboração da Proposta Anual de Orçamento e da Proposta Plurianual
de Investimentos do Ministério Público, para apreciação da Procuradoria-Geral de
Justiça;
- coordenar, orientar e acompanhar a elaboração e execução de programas perti-
nentes à formação, capacitação, desenvolvimento e reciclagem dos servidores do
Ministério Público Estadual;
- promover a realização de pesquisas e estudos, visando à utilização de novas
técnicas e instrumentos de ação administrativa, destinados ao desenvolvimento e
aprimoramento das atividades internas;
- coordenar a elaboração de normas e instruções destinadas à racionalização de
métodos e procedimentos, articulando-se com os demais órgãos internos, bem as-
sim orientar e supervisionar sua implementação, avaliando os resultados respecti-
vos;
- emitir pareceres, em processos e outros documentos, sobre matérias que englo-
bem assuntos afetos à sua área de atuação;
- coordenar e supervisionar as tarefas destinadas ao suprimento das demandas
materiais dos órgãos de execução;
257
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Legislação pertinente:
Sigla: CEAT
Atribuições:
- dar suporte técnico-científico aos Centros de Apoio Operacional e às funções de
execução, de natureza civil ou criminal, quanto a perícias, laudos, estudos e pare-
ceres, nas diversas áreas do conhecimento;
258
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
cedimentos administrativos, de inquéritos civis e de inquéritos policiais, podendo
requisitar perícias, estudos, pareceres, informações e documentos de órgãos públi-
cos, particulares, entidades de pesquisa e universidades;
- manter intercâmbio e solicitar informações, diretamente, de quaisquer pessoas,
órgãos e entidades, visando ao cumprimento de suas atribuições;
- promover permanente interlocução com os Centros de Apoio Operacional na con-
secução dos objetivos da CEAT e especialmente no tocante a troca de informações,
orientações técnica e jurídica do corpo técnico quanto à atuação funcional e exigên-
cias de ordem prática;
- exercer outras funções ou serviços, compatíveis com a sua finalidade.
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 5, de 1º de fevereiro de 2005 - Institui na estrutura da Procura-
doria-Geral de Justiça Adjunta Administrativa a Central de Atendimento às Promoto-
rias de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais – CAP.
Sigla: CAP
Atribuições:
- assistir a Procuradoria-Geral de Justiça Adjunta Administrativa no desempenho de
259
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 10, de 2 de março de 2006 - Cria a Assessoria Especial Admi-
nistrativa e Financeira, subordinada ao Procurador-Geral de Justiça Adjunto Admi-
nistrativo.
- Instrução Normativa PGJ Adj. Adm. nº 01, de 6 de abril de 2006 - Disciplina as atri-
buições conferidas à Assessoria Especial Administrativa e Financeira, nos termos
da Resolução PGJ nº 10, de 2 de março de 2006.
Sigla: AEAF
Atribuições:
- analisar e propor medidas que envolvam situação funcional e administrativa do
pessoal ativo e inativo da carreira e do Quadro de Serviços Auxiliares do Ministério
Público;
- analisar e propor medidas nas áreas administrativa, orçamentária e financeira do
Ministério Público;
- auxiliar, e, quando requisitada, representar o Procurador-Geral de Justiça Adjunto
Administrativo em reuniões pertinentes a assuntos orçamentários e financeiros jun-
to a outros órgãos do Estado;
- acompanhar as atividades administrativas, financeiras ou orçamentárias conside-
radas, pelo Procurador-Geral de Justiça Adjunto Administrativo ou pela Administra-
ção Superior, como relevantes para a Instituição;
260
Procuradoria-Geral de Justiça
Cargos de chefia:
- Assessor Especial Administrativo
- Assessor Especial Financeiro
CAPÍTULO III
A.4 - Diretoria-Geral
Legislação pertinente:
- Lei Complementar nº 34, de 12 de setembro de 1994 – Dispõe sobre a organiza-
ção do Ministério Público e dá outras providências. Art. 87 – Dispõe sobre o provi-
mento do cargo de Diretor-Geral.
- Resolução PGJ nº 46, de 1º de novembro de 1995 – Dispõe sobre as funções da
Diretoria-Geral da Procuradoria-Geral de Justiça, define sua estrutura complemen-
tar e atribuições de suas unidades administrativas.
- Resolução PGJ nº 40, de 3 de maio de 2004 – Delega à Diretoria-Geral a atribui-
ção de autorizar a instauração de processos administrativos nos casos especifica-
dos nesta Resolução.
- Instrução Normativa PGJ Adj. Adm. nº 2, de 18 de agosto de 2005 – Disciplina a
delegação das atribuições previstas no § 2º do art. 1º da Resolução PGJ nº 35, de
30 de maio de 2005.
Sigla: DG
261
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Atribuições:
- praticar atos e decidir sobre a situação funcional e administrativa do pessoal ativo
e inativo da carreira e do quadro de serviços auxiliares do Ministério Público;
- deferir o compromisso de posse e exercício dos servidores do quadro de serviços
auxiliares do Ministério Público;
- interromper, por conveniência de serviço, férias ou licença, salvo por motivo de
CAPÍTULO III
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 6, de 31 de janeiro de 2000 – Dispõe sobre a criação da As-
262
Procuradoria-Geral de Justiça
Sigla: AJAD
CAPÍTULO III
Atribuições:
- prestar assessoramento jurídico em questões de natureza administrativa à Direto-
ria-Geral, sempre que solicitado, e, a seu comando, às Superintendências Adminis-
trativa, Judiciária, de Planejamento e Coordenação e de Finanças;
- orientar e emitir parecer sobre aplicação da legislação de pessoal referente a
direitos, vantagens, concessões, deveres e responsabilidades dos servidores do
Quadro de Pessoal dos Serviços Auxiliares do Ministério Público, sempre que soli-
citado pela Diretoria-Geral;
- apresentar sugestões visando à racionalização e à melhoria das atividades admi-
nistrativas da Procuradoria-Geral de Justiça;
participar de estudos objetivando a estruturação, regulamentação e implementação
de Plano de Carreira dos servidores do Ministério Público;
- realizar outros trabalhos, de natureza jurídica, que venham a ser determinados
pelo titular da Diretoria-Geral;
- prestar assessoramento jurídico-administrativo ao Gabinete do Procurador-Geral
de Justiça, quando solicitado.
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 64, de 2 de setembro de 2003 – Dispõe sobre a reestruturação
do Serviço Médico da Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais e
dá outras providências.
Sigla: DPMSO
263
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Atribuições:
- avaliar o ambiente de trabalho dos diversos setores, com a finalidade de corrigir
distorções que possam prejudicar a saúde dos membros e servidores;
- realizar e analisar exames, pareceres e outros procedimentos médicos para mem-
bros e servidores, visando à:
- concessão de licença para tratamento de saúde;
CAPÍTULO III
264
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 46, de 1º de novembro de 1995 – Dispõe sobre as funções da
Diretoria-Geral da Procuradoria-Geral de Justiça, define sua estrutura complemen-
tar e atribuições de suas unidades administrativas – Anexo XIV.
Sigla: DINF
Atribuições:
- coordenar a elaboração do plano diretor de informática;
- elaborar plano de investimento e emitir parecer técnico prévio quanto a utilização
e compra de novos equipamentos, softwares, sistemas aplicativos, suprimentos e
serviços necessários na área de informática;
- exercer o acompanhamento e controle das despesas contratuais decorrentes da
prestação de serviços de informática;
- definir normas e procedimentos para a utilização dos recursos de informática;
- identificar demandas internas de processamento de dados e definir a criação de
novos serviços, bem como integração, fusão e extinção dos existentes;
- dar suporte técnico aos usuários para o cumprimento de suas atividades e desen-
volver sistemas aplicativos;
- identificar e promover programação de treinamento, visando à melhoria de desem-
penho dos servidores nas ações internas relacionadas à informática;
- elaborar métodos de coleta de dados que possibilitem a implantação de um eficaz
sistema, interno e externo, de preservação e divulgação de informações;
- divulgar e acompanhar a aplicação, no âmbito da Procuradoria-Geral de Justiça,
dos instrumentos normativos e das orientações emanadas dos órgãos e entidades
265
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
oficiais de informática;
- acompanhar e orientar a implantação de sistemas sob sua responsabilidade, prio-
rizando atividades, dirimindo dúvidas e corrigindo desvios ocorridos em função de
mudanças no ambiente de operação do sistema;
- controlar a qualidade dos serviços processados face aos padrões preestabeleci-
dos;
- exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
posteriores.
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ n° 46, de 1º de novembro de 1995 – Dispõe sobre as funções da
Diretoria-Geral da Procuradoria-Geral de Justiça, define sua estrutura complemen-
tar e atribuições de suas unidades administrativas – Anexo II.
Sigla: SAD
Atribuições:
- coordenar a prestação de serviços de apoio administrativo a todas as unidades da
Procuradoria-Geral de Justiça, exercer vigilância patrimonial, bem como a guarda e
manutenção de veículos, máquinas e equipamentos;
- coordenar a execução de atividades de zeladoria e vigilância das instalações do
edifício-sede da Procuradoria-Geral de Justiça;
- planejar, orientar e coordenar as atividades de administração de serviços gerais,
266
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
Cargo de chefia: Superintendente
Diretoria de Contratos
Legislação pertinente:
- Lei nº 16.180, de 16 de junho de 2006 – Cria cargos no Quadro de Pessoal dos
Serviços Auxiliares do Ministério Público do Estado de Minas Gerais e dá outras
providências. Anexo IV: Dispõe sobre a distribuição de Cargos de Provimento em
Comissão.
Sigla: DICT
Atribuições:
- solicitar e analisar, junto às entidades competentes, a documentação necessária
para a celebração de contratos, convênios, dos ajustes e outros instrumentos;
- elaborar, em conjunto com as unidades tecnicamente competentes, minutas de
contratos, convênios, termos aditivos e instrumentos congêneres;
- providenciar a formalização de contratos, convênios, termos aditivos e de resci-
são, atos de apostilamento e instrumentos congêneres;
- prestar contas mensalmente ao Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais dos
contratos, convênios e instrumentos congêneres;
- analisar os relatórios de execução, planilhas, pareceres e prazos de vencimento
inerentes aos contratos, convênios e instrumentos congêneres, encaminhados pe-
los fiscais contratuais;
- propor a abertura de processo administrativo para apurar irregularidades na exe-
267
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
anexo IV.
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ n° 46, de 1º de novembro de 1995 – Dispõe sobre as funções da
Diretoria-Geral da Procuradoria-Geral de Justiça, define sua estrutura complemen-
tar e atribuições de suas unidades administrativas – Anexo IV.
Sigla: DMAP
Atribuições:
- coordenar, controlar e executar as atividades de recebimento, guarda e forneci-
mento de material e equipamentos;
- propor normas para aquisição, recebimento, guarda, distribuição, permuta, doa-
ção, utilização, conservação, recuperação, baixa, registros e inventários de material
e equipamentos;
- zelar pela observância das normas, instruções e regulamentos referentes a mate-
rial e patrimônio;
- promover a elaboração do cadastro sintético e analítico dos bens móveis da Proc
- uradoria-Geral de Justiça, bem como mantê-lo atualizado;
- receber, avaliar e tomar as medidas necessárias à concretização dos pedidos de
material e equipamentos;
- efetuar a coleta de informações para conhecimento de custos de material e equi-
268
Procuradoria-Geral de Justiça
pamentos;
- instruir e subsidiar os processos de licitação para fins de aquisição de material e
equipamentos;
- instruir e acompanhar os processos de locação de imóveis;
- acompanhar a execução dos contratos afins;
- analisar o consumo de material das unidades da Procuradoria-Geral de Justiça;
- elaborar balancetes mensais e balanço anual de almoxarifado;
- propor o seguro dos bens imóveis, móveis e mobiliários, quando conveniente e/ou
obrigatório;
CAPÍTULO III
- informar à Superintendência de Finanças as variações verificadas no patrimônio;
- promover o recolhimento ou redistribuição dos bens móveis ociosos;
- exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ n° 46, de 1º de novembro de 1995 – Dispõe sobre as funções da
Diretoria-Geral da Procuradoria-Geral de Justiça, define sua estrutura complemen-
tar e atribuições de suas unidades administrativas – Anexo III.
Sigla: DSGT
Atribuições:
- executar atividades de protocolo e movimentação de expediente;
- executar serviços de reprografia e controlar o consumo de material;
- dirigir, orientar e executar as atividades de telefonia e comunicação;
- promover os consertos urgentes, limpeza, conservação das instalações, móveis e
equipamentos, bem como adotar providências necessárias à adequada manuten-
ção dos serviços de telefonia, refrigeração, elevadores, energia elétrica e combate
a incêndio;
- dirigir, orientar e fazer executar as atividades de vigilância, portaria, copa e zela-
doria;
- orientar e fazer executar as atividades de mudanças físicas, conservação e manu-
269
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 46, de 1º de novembro de 1995 – Dispõe sobre as funções da
Diretoria-Geral da Procuradoria-Geral de Justiça, define sua estrutura complemen-
tar e atribuições de suas unidades administrativas – Anexo VII.
Sigla: SUF
Atribuições:
- cumprir e fazer cumprir as normas legais que disciplinam a realização de despesa
270
Procuradoria-Geral de Justiça
pública;
- dirigir a execução financeira;
- identificar e gerir os elementos necessários ao acompanhamento da execução
contábil e da prestação de contas do exercício financeiro, a serem encaminhados
aos órgãos competentes;
- propor e coordenar a implantação de normas que complementem e disciplinem
as atividades de administração financeira e contábil ou que sejam requeridas para
atender às condições específicas da Procuradoria-Geral de Justiça;
- coordenar e controlar a movimentação das contas bancárias da Procuradoria-Ge-
CAPÍTULO III
ral de Justiça;
- exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Informações adicionais: Composição da Superintendência de Finanças constante
no anexo VIII da Resolução nº 46/1995 foi alterada por ato normativo posterior.
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 46, de 1º de novembro de 1995 – Dispõe sobre as funções da
Diretoria-Geral da Procuradoria-Geral de Justiça, define sua estrutura complemen-
tar e atribuições de suas unidades administrativas – Anexo IX.
Sigla: DAFI
Atribuições:
- coordenar, orientar e executar as atividades relativas ao acompanhamento e ao
controle financeiro da execução orçamentária;
- emitir e exercer o controle de empenhos e providenciar a liquidação das despe-
sas;
- preparar processos de despesas para pagamento e verificar sua conformidade
com as normas pertinentes;
- efetuar pagamento das despesas regularmente autorizadas;
- controlar as disponibilidades financeiras de recursos;
- controlar a movimentação bancária e conciliar, periodicamente, os saldos de conta
271
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
corrente;
- acompanhar a execução de contratos, convênios e ajustes, sob o aspecto orça-
mentário e financeiro;
- acompanhar e verificar, mensalmente, os demonstrativos de execução orçamen-
tária e financeira;
- exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Diretoria de Contabilidade
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 46, de 1º de novembro de 1995 – Dispõe sobre as funções da
Diretoria-Geral da Procuradoria-Geral de Justiça, define sua estrutura complemen-
tar e atribuições de suas unidades administrativas – Anexo VIII.
Sigla: DCON
Atribuições:
- realizar a contabilidade analítica e a sintética, observando a legislação e o Plano
de Contas vigentes;
- acompanhar a execução orçamentária, apontando diferenças existentes entre as
operações previstas e as realizadas;
- verificar a legalidade dos documentos geradores dos fatos contábeis;
- examinar e conferir os processos de pagamento e adiantamento de numerário;
- exercer o controle contábil e das contas bancárias;
- elaborar balancetes e demonstrativos mensais, nos termos da legislação vigente,
bem como providenciar o seu encaminhamento aos órgãos competentes;
- manter em sua guarda os documentos financeiros/contábeis comprobatórios das
despesas/receitas de exercícios anteriores para a devida prestação de contas,
quando necessário;
- exercer outras atribuições correlatas que lhe forem delegadas.
272
Procuradoria-Geral de Justiça
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 31, de 24 de maio de 2006 – Dispõe sobre as atribuições e a
estrutura orgânica da Superintendência de Planejamento e Coordenação (SPC).
Sigla: SPC
CAPÍTULO III
- Diretoria de Modernização Administrativa;
- Diretoria de Orçamento.
Atribuições:
- propor, acompanhar e avaliar estudos sobre a estrutura organizacional e seu fun-
cionamento, visando à modernização e à otimização das atividades;
- coordenar, acompanhar e avaliar o processo de planejamento global e setorial e
propor ações que visem assegurar os objetivos e metas estabelecidos;
- coordenar, acompanhar e avaliar a execução de planos, programas e projetos
técnicos e administrativos;
- elaborar proposta à Lei de Diretrizes Orçamentárias e ao Plano Plurianual de Ação
Governamental;
- coordenar e elaborar a proposta orçamentária anual e programar a utilização dos
créditos aprovados;
- programar, negociar, acompanhar e avaliar a execução orçamentária;
- promover a elaboração de análises econômico-financeiras para subsidiar procedi-
mentos licitatórios;
- coordenar as atividades de modernização administrativa e desenvolvimento insti-
tucional;
- manter intercâmbio permanente com órgãos ou entidades na sua área de compe-
tência;
- coordenar, elaborar, acompanhar, orientar, avaliar e promover a coerência de pla-
nos, projetos, convênios, programas, ações e medidas institucionais e administra-
tivas, globais, regionais ou setoriais, incluindo os relativos à modernização do Mi-
nistério Público e à captação de recursos nacionais ou internacionais, públicos ou
273
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
privados;
- exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 31, de 24 de maio de 2006 – Dispõe sobre as atribuições e a
CAPÍTULO III
Sigla: DIMA
Atribuições:
- acompanhar, de forma sistemática, a dinâmica de atuação da Procuradoria-Geral
de Justiça, identificando necessidades e sugerindo mudanças organizacionais;
- propor, desenvolver, acompanhar e avaliar estudos sobre a estrutura administra-
tiva e seu funcionamento, visando à modernização e à otimização das atividades
executadas;
- analisar e compatibilizar propostas de definição e transferência de atribuições,
competências e funções de unidades administrativas internas, observadas as dire-
trizes estabelecidas pelo órgão;
- elaborar e coordenar a implantação de normas, sistemas e métodos de simplifica-
ção e racionalização de trabalho, bem como proceder à sua revisão e adequação e
indicar o treinamento interno necessário à sua operacionalização;
- promover a padronização de formulários e representações gráficas;
- dar suporte técnico às unidades no que se refere à sua organização interna para o
exercício de suas competências;
- apoiar o serviço de informática no desenvolvimento de sistemas informatizados,
sugerindo rotinas para o estabelecimento do fluxo de informações;
- levantar e analisar dados sobre métodos e procedimentos implantados, identifi-
cando oportunidades de melhoria para elaboração e manutenção dos sistemas,
sugerindo modificações para sua racionalização, agilização dos processos e mini-
mização dos custos;
- desenvolver organogramas, fluxogramas, cronogramas e outros instrumentos de
274
Procuradoria-Geral de Justiça
análise organizacional;
- elaborar, desenvolver e atualizar manuais administrativos;
- participar de estudos de viabilidade de conversão dos sistemas manuais para in-
formatizados, adaptando os procedimentos, visando uma maior racionalização do
fluxo de informações;
- propor atos administrativos necessários à implantação de projetos de moderniza-
ção administrativa;
- exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
CAPÍTULO III
Cargo de chefia: Coordenador II
Diretoria de Orçamento
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 31, de 24 de maio de 2006 – Dispõe sobre as atribuições e a
estrutura orgânica da Superintendência de Planejamento e Coordenação (SPC).
Sigla: DIOR
Atribuições:
- coordenar a elaboração das propostas orçamentárias anuais, bem como acompa-
nhar e avaliar sua execução;
- promover a solicitação de recursos orçamentários e financeiros para implantação,
manutenção, adequação e ampliação dos programas, projetos e atividades;
- controlar, centralizadamente, os convênios, contratos, acordos, ajustes, protocolos
ou similares, com vistas ao acompanhamento da utilização de recursos e forne-
cimento de subsídios às unidades na gestão técnica, orçamentária, financeira e
administrativa;
- coordenar a programação de utilização de créditos, acompanhar a liberação de
recursos e proceder adequação à disponibilidade orçamentária e financeira;
- exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
275
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 25, de 1° de maio de 2008 – Cria a Superintendência de Recur-
sos Humanos (SRH) e dispõe sobre suas atribuições e sua estrutura orgânica.
Sigla: SRH
Atribuições:
- propor, elaborar, coordenar, executar, acompanhar e avaliar políticas, diretrizes,
planos e normas referentes:
a) ao desenvolvimento de recursos humanos e ao plano de carreiras dos Quadros
de Pessoal dos Serviços Auxiliares do Ministério Público;
b) ao cadastro funcional dos membros e servidores, ativos e inativos, e ao registro
dos cargos das carreiras do Ministério Público;
c) ao registro dos pensionistas dos membros e servidores do Ministério Público;
d) à concessão de benefícios diretos e indiretos, bem como ao processamento de
folha de pagamento de pessoal.
- gerir, aprimorar e supervisionar a sistemática da avaliação de desempenho dos
servidores;
- promover a melhoria do ambiente organizacional e a valorização profissional, fun-
damentada em diagnóstico correlato prévio;
- promover a potencialização dos recursos humanos do Ministério Público, para
atendimento dos princípios de eficiência e eficácia;
- disponibilizar informações para fins de estudos internos e institucionais;
- exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
276
Procuradoria-Geral de Justiça
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 25, de 1° de maio de 2008 – Cria a Superintendência de Recur-
sos Humanos (SRH) e dispõe sobre suas atribuições e sua estrutura orgânica.
Sigla: DDRH
CAPÍTULO III
ao desenvolvimento dos recursos humanos e à gestão dos cargos dos Quadros de
Pessoal dos Serviços Auxiliares do Ministério Público do Estado de Minas Gerais.
Atribuições:
- propor normas e diretrizes para a atualização ou concessão dos direitos e deveres
dos servidores;
- estabelecer diretrizes e propor critérios técnicos para a elaboração, implementa-
ção e revisão do plano de carreiras dos servidores, bem como operá-lo e preparar,
quando couber, a publicação dos atos referentes à implantação e efetivação do
plano de carreiras;
- planejar e propor normas, orientar, coordenar e operar o sistema de avaliação de
desempenho individual dos servidores;
analisar e propor a criação, transformação, fixação, extinção e provimento de car-
gos efetivos e comissionados dos Quadros de Pessoal dos Serviços Auxiliares do
Ministério Público e preparar, quando couber, a publicação dos atos referentes à
fixação;
- identificar, propor normas e atualizar as atribuições de cargos, de acordo com as
relações estruturais, funcionais e de autoridade, compatibilizando-as com seu grau
de dificuldade e respectiva remuneração;
- diagnosticar e analisar as demandas de recursos humanos dos Quadros de Pes-
soal dos Serviços Auxiliares e as necessidades de capacitação, propondo diretrizes
para o aprimoramento técnico e o desenvolvimento funcional dos servidores;
- propor a lotação ou a remoção de servidor de acordo com o perfil profissional,
desde que atenda às necessidades institucionais;
- identificar, propor e implementar planos de ação para melhoria do ambiente or-
ganizacional e a valorização profissional, em conjunto com as demais unidades
competentes;
- planejar, propor, coordenar e acompanhar as políticas de benefícios indiretos dos
servidores;
277
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 25, de 1° de maio de 2008 – Cria a Superintendência de Recur-
sos Humanos (SRH) e dispõe sobre suas atribuições e sua estrutura orgânica.
Sigla: DPAG
Atribuições:
- planejar, coordenar, executar, acompanhar e controlar o processamento da folha
de pagamento de pessoal;
- zelar pela guarda de documentos relativos à folha de pagamento;
- controlar e manter registro das ocorrências relativas à folha de pagamento de
pessoal;
- emitir certidões e declarações fundamentadas nos registros concernentes à folha
de pagamento de pessoal;
- emitir os demonstrativos de pagamentos e os comprovantes de rendimentos pa-
gos e de retenção de imposto de renda, para fins de preenchimento da declaração
de ajuste anual do imposto de renda;
- disponibilizar informações para fins de estudos internos e institucionais, conces-
são de direitos, benefícios e vantagens;
- processar a Declaração de Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF) anual e a
Relação Anual de Informações Sociais (RAIS);
- exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
278
Procuradoria-Geral de Justiça
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 25, de 1° de maio de 2008 – Cria a Superintendência de Recur-
sos Humanos (SRH) e dispõe sobre suas atribuições e sua estrutura orgânica.
Sigla: DPAD
CAPÍTULO III
cionadas ao cadastro funcional de servidores e ao registro dos cargos dos Quadros
de Pessoal dos Serviços Auxiliares do Ministério Público e dos beneficiários das
pensões por morte de servidor da instituição.
Atribuições:
- cadastrar e manter atualizados os dados funcionais e pessoais dos servidores
ativos e inativos em banco de dados apropriado;
- registrar e manter atualizados os dados cadastrais de beneficiários das pensões
por morte de servidor do Ministério Público;
- manter atualizado e controlar o cadastro de cargos efetivos e comissionados, re-
gistrando a criação, a fixação, a extinção, o provimento e a vacância;
- elaborar e, quando couber, preparar para a publicação os atos referentes a nome-
ação, designação, exoneração, dispensa, demissão, posse, movimentação funcio-
nal, aposentadoria, concessão de direitos e vantagens na sua área de competência,
e demais atos administrativos que resultem na alteração cadastral do servidor;
- analisar os requerimentos de averbação de tempo de serviço ou de contribuição
previdenciária, bem como registrá-los e contabilizá-los;
- registrar e controlar a freqüência, férias regulamentares, férias-prêmio, abonos,
plantões, horas extras, licenças e reduções de jornada de trabalho e, quando cou-
ber, preparar a respectiva publicação;
- analisar os requerimentos de aposentadoria, preparar e acompanhar os respecti-
vos processos;
- promover a emissão de cédulas de identidade funcional, certidões, atestados e
declarações com base nos registros funcionais;
- disponibilizar informações para fins de estudos internos e institucionais, conces-
são de direitos, benefícios e vantagens, e para instruir sindicância ou processo ad-
ministrativo;
- promover o cadastramento de servidores no Programa de Formação do Patrimô-
nio do Servidor Público (PASEP);
279
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Legislação pertinente:
CAPÍTULO III
Sigla: DPMP
Atribuições:
- cadastrar e manter atualizados os dados funcionais e pessoais de Promotores e
Procuradores de Justiça, ativos e inativos, em banco de dados apropriado;
- registrar e manter atualizados os dados cadastrais de beneficiários das pensões
por morte de membro do Ministério Público;
- manter atualizado e controlar o cadastro de cargos, registrando a criação, a fixa-
ção, a extinção, a transformação, o provimento e a vacância;
- elaborar e, quando couber, preparar para a publicação os atos referentes a nome-
ação, exoneração, posse e demais atos administrativos que resultem na alteração
cadastral de membro, exceto os relativos a promoção, remoção, designação e dis-
ponibilidade;
- registrar a lista de antigüidade dos membros do Ministério Público;
- analisar requerimento de averbação de tempo de serviço ou de contribuição previ-
denciária, bem como registrá-lo e contabilizá-lo;
- analisar os requerimentos de aposentadoria, preparar e acompanhar os respecti-
vos processos;
- instruir processo de concessão de ajuda de custo por motivo de promoção ou
remoção compulsória;
- registrar e, quando couber, preparar para a publicação a escala de férias, a con-
280
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
- manter atualizadas as informações para Relação Anual de Informações Sociais
(RAIS);
- exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 46, de 1º de novembro de 1995 – Dispõe sobre as funções da
Diretoria-Geral da Procuradoria-Geral de Justiça, define sua estrutura complemen-
tar e atribuições de suas unidades administrativas – Anexo XV.
Sigla: SUJ
Atribuições:
- coordenar a distribuição de autos judiciais cíveis e criminais recebidos dos Tribu-
nais de Justiça e Alçada, bem como dos Juizes de Direito e demais autoridades
judiciárias;
- efetuar, semanalmente, a publicação no “Minas Gerais” da resenha da distribuição
de processos cíveis e criminais, bem como da súmula dos pareceres emitidos;
281
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Legislação pertinente:
CAPÍTULO III
Sigla: DCIV
Atribuições:
- registrar nos processos cíveis, mediante termo específico, o seu recebimento;
- realizar o controle dos registros em fichários de processos cíveis;
- efetuar atos relacionados com a distribuição dos processos cíveis;
- levar termo de vista nos processo cíveis distribuídos;
- controlar a devolução dos processos cíveis pelos Procuradores de Justiça;
- providenciar a digitação de pareceres emitidos pelos Procuradores de Justiça,
- promover a sua conferência e a assinatura dos mesmos;
- anexar os pareceres digitados aos respectivos processos cíveis;
- manter sempre atualizado o arquivo de cópias de pareceres;
- efetuar remessa de processos cíveis aos órgãos judiciários de origem;
- expedir certidões na área de sua competência;
- atender partes interessadas nos processos cíveis em andamento;
- exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Legislação pertinente:
282
Procuradoria-Geral de Justiça
Sigla: DCRI
CAPÍTULO III
Atribuições:
- registrar nos processos criminais, mediante termo específico, o seu recebimento;
- realizar o controle dos registros em fichários de processos criminais;
- efetuar atos relacionados com a distribuição dos processos criminais;
- levar termo de vista nos processos criminas distribuídos;
- controlar a devolução dos processos criminais pelos Procuradores de Justiça;
- providenciar a digitação de pareceres emitidos pelos Procuradores de Justiça,
- promover a sua conferência e a assinatura dos mesmos;
- anexar os pareceres digitados aos respectivos processos criminais;
- manter sempre atualizado o arquivo de cópias de pareceres;
- efetuar remessa de processos criminais aos órgãos judiciários de origem;
- expedir certidões na área de sua competência;
- atender partes interessadas nos processos criminais em andamento;
- exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
A - Material e Patrimônio
Legislação pertinente:
- Instrução Normativa DG nº 04, de 20 de julho de 2001 – Regulamenta, no âmbito
do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, as requisições de cartuchos utili-
zados em impressoras.
- Instrução Normativa DG nº 04, de 4 de dezembro de 2003 – Disciplina a requi-
sição, o controle e a distribuição de material de consumo no âmbito do Ministério
283
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nas comarcas do interior, o formulário deve ser assinado pelo Promotor de Justi-
ça ou pelo servidor responsável pela Secretaria das Promotorias de Justiça, e, na
CAPÍTULO III
Observações:
- A entrega dos materiais seguirá a ordem de chegada das solicitações.
- Em caso de extrema necessidade de algum material, e com a devida justificativa
do solicitante, poderá o Almoxarifado priorizar o seu atendimento.
- Poderá a unidade solicitante que possuir veículo retirar os materiais solicitados
284
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
Toda devolução de material de consumo – novo ou usado – deverá ser feita acom-
panhada de ofício, endereçado ao Almoxarifado. Nos casos das unidades do inte-
rior, o ofício, juntamente com o material, deverá ser remetido via correio.
Legislação pertinente:
285
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
286
Procuradoria-Geral de Justiça
Legislação pertinente:
- Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 – Estatui normas gerais de Direito Financeiro
para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos
Municípios e do Distrito Federal. (arts. 94 a 96)
CAPÍTULO III
- Resolução PGJ nº 35, de 13 de agosto de 2001 – Dispõe sobre criação de códigos
numéricos para Promotorias/Unidades Administrativas, aquisição, movimentação,
controle e formas de baixa de bens móveis permanentes pela Diretoria de Material
e Patrimônio no âmbito do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. (art. 5º)
d) Que se deve fazer no caso de algum bem não ser localizado na comarca ou
unidade?
Deve-se comunicar ao Procurador-Geral de Justiça Adjunto Administrativo por meio
de ofício enviado pelo Promotor de Justiça ou pelo servidor responsável pelo con-
trole patrimonial da comarca ou da unidade.
287
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
monial?
O servidor responsável pelo controle dos bens patrimoniais deverá conferir, jun-
tamente com o substituto, a relação de bens sob sua responsabilidade, lavrando
termo de transferência, e nele devem ser feitas observações que couberem.
f) Que providências deverão ser tomadas pelo responsável pelo controle patrimonial
em caso de furto, extravio ou perda de bens?
Ele deverá providenciar de imediato o registro da ocorrência policial e, em sendo
necessária, solicitar a realização de perícia técnica pela Polícia Civil. Posteriormen-
CAPÍTULO III
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 35, de 13 de agosto de 2001 – Dispõe sobre criação de códigos
numéricos para Promotorias/Unidades Administrativas, aquisição, movimentação,
controle e formas de baixa de bens móveis permanentes pela Diretoria de Material
e Patrimônio no âmbito do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. (arts. 8º
a 11)
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 35, de 13 de agosto de 2001 – Dispõe sobre criação de códigos
numéricos para Promotorias/Unidades Administrativas, aquisição, movimentação,
288
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
Pede-se, por ofício, o recolhimento do material, relacionando-o aí ou em formulário
de recolhimento de bens, que acompanha a entrega ou recolhimento de bens nas
comarcas.
B - Finanças
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 101, de 22 de outubro de 2002 – Estabelece critérios e pro-
cedimentos para realização de despesas não submetidas ao processo normal de
pagamento e dá outras providências. (art. 2º)
- Resolução PGJ nº 2, de 15 de janeiro de 2003 – Altera o formulário instituído pelo
Anexo III da Resolução PGJ nº 101, de 24 de outubro de 2002, de solicitação de
adiantamentos diversos.
- Resolução PGJ nº 36, de 27 de abril de 2004 – Altera dispositivos da Resolução nº
101, de 24 de outubro de 2002 e dá outras providências.
- Resolução PGJ nº 43, de 2 de junho de 2004 – Altera dispositivos da Resolução nº
101, de 24 de outubro de 2002 e dá outras providências.
- Portaria DG nº 2050, de 6 de novembro de 2002 – Regulamenta a aplicação de
adiantamento para realização de despesa miúda e de pronto pagamento nas co-
marcas integrantes de Região Administrativa, nos termos da Resolução nº 101, pu-
blicada no Minas Gerais em 24 de outubro de 2002 e dá outras providências.
- Portaria DG nº 904, de 27 de abril de 2004 – Altera dispositivos da Portaria DG nº
2.050, de 8 de novembro de 2002.
289
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
290
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
do Diretor-Geral, no interesse do serviço e de acordo com as disponibilidades orça-
mentária e financeira, nos termos do art. 2º, § 4°, da Resolução PGJ nº 101/2002,
com a redação dada pela Resolução PGJ nº 043/2004.
f) Existe algum critério para estipulação dos valores constantes no anexo I-A?
Os critérios para o estabelecimento dos valores do Anexo I-A estão dispostos no art.
2º, § 4°, da Resolução PGJ nº 101/2002, com redação dada pela Resolução PGJ
nº 43/2004.
g) Que despesas NÃO podem ser realizadas com adiantamento de despesa miúda
e de pronto pagamento?
São exemplos de vedações ao uso dos recursos desse tipo de adiantamento:
- aquisição de bens classificados como material permanente;
- material existente no Almoxarifado da Procuradoria-Geral de Justiça;
- passagens aéreas;
- realização de obras civis ou reformas, exceto pequenos reparos em instalações e
na edificação do prédio;
- alimentos, artigos de luxo, artigos para festas e comemorações, cartões de visita;
- contratação mensal de serviços de manutenção e limpeza ou de qualquer outro
291
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A lista completa e as exceções previstas para os itens acima podem ser consultados
CAPÍTULO III
292
Procuradoria-Geral de Justiça
mento (de acordo com o art. 4° da Resolução PGJ nº 101/2002) e deverá ser enca-
minhado à Diretoria de Contabilidade até o dia vinte e cinco do mês anterior ao da
liberação do adiantamento, no caso de despesa miúda e de pronto pagamento.
CAPÍTULO III
blico credenciado a receber o adiantamento, no próprio formulário, no item emitir
pagamento em nome de, implica na delegação da responsabilidade de receber,
gastar e prestar contas dos recursos disponibilizados mediante depósito em conta
movimento.
293
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O formulário possui ainda, uma outra folha para se fazer a relação dos documentos
encaminhados, caso o espaço da primeira página não seja suficiente.
294
Procuradoria-Geral de Justiça
Caso tenha havido um gasto maior que o adiantamento, não haverá ressarcimento,
pois a legislação geral o veda, no caso de adiantamento de despesa miúda e de
pronto pagamento.
CAPÍTULO III
de validade do adiantamento.
295
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
296
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
B.2 - Diárias de viagem
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 24, de 12 de maio de 2006 – Disciplina a concessão de diárias
a membro e servidor do Ministério Público e a empregado terceirizado.
- Resolução PGJ nº 4, de 13 de janeiro de 2007 – Acrescenta os § 3º e § 4º ao art.
2º da Resolução PGJ nº 24, de 11 de maio de 2006.
- Resolução PGJ nº 59, de 11 de dezembro de 2007 – Altera o Anexo I da Resolução
PGJ nº 24, de 11 de maio de 2006.
297
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Veículo, etc.
298
Procuradoria-Geral de Justiça
Indenização de despesas de
0,60 Km rodado
deslocamento (Art. 1°, § 1°)
CAPÍTULO III
a) Poderá ser utilizado veículo próprio ou táxi para deslocamentos?
Não existe vedação à utilização de veículos não-oficiais nos deslocamentos de via-
gens para fora da sede.
A referida norma não cita expressamente a palavra táxi, mas nada obsta que o ve-
ículo utilizado seja o táxi.
299
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 103, de 22 de novembro de 2005 – Racionaliza gastos com ma-
teriais de informática, de escritório, gráfico, combustível, manutenção de veículos
na Procuradoria-Geral de Justiça e dá outras providências. (art. 19, inciso III).
- Resolução PGJ nº 36, de 27 de abril de 2004 – Altera dispositivos da Resolução nº
101, de 24 de outubro de 2002 e dá outras providências. (art. 1º).
- Resolução PGJ nº 43, de 2 de junho de 2004 – Altera dispositivos da Resolução nº
101, de 24 de outubro de 2002 e dá outras providências. (art. 1º).
300
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
c) Como é realizado o controle diário do número de cópias reprográficas?
O controle diário é feito por meio do formulário de Requisição de Fotocópia, junta-
mente com a leitura dos registros de cópias constantes nos equipamentos.
e) No que diz respeito aos usuários do convênio com o Tribunal de Justiça, deve ser
dada ciência da quantidade de cópias feitas, trimestralmente, por ofício, à Diretoria
de Material e Patrimônio.
Em caso de contratos com terceiros, o formulário, obtido da empresa contratada,
deve ser encaminhado a ela por meio de fax, com a leitura mensal da quantidade de
cópias tiradas. Em seguida, a contratada emitirá as respectivas faturas, enviando-
as à Superintendência Administrativa.
301
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
manutenção contratada.
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 101, de 22 de novembro de 2005 – Otimiza o uso de postagens
de correspondências no Ministério Público do Estado de Minas Gerais.
- Resolução PGJ nº 13, de 26 de fevereiro de 2004 – Dispõe sobre critérios de de-
terminação dos valores das despesas postais.
302
Procuradoria-Geral de Justiça
sua movimentação.
CAPÍTULO III
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 102, de 22 de novembro de 2005 – Racionaliza o uso do serviço
de telefonia no âmbito do Ministério Público do Estado de Minas Gerais.
303
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
304
Procuradoria-Geral de Justiça
imóveis?
São dois os tipos de procedimento:
- imóvel próprio ou locado: a solicitação, por ofício, deve ser encaminhada à Supe-
rintendência Administrativa, para análise da viabilidade de atendimento.
- em prédio do Fórum: primeiramente, deve-se analisar com a direção do Fórum
se a responsabilidade é do Tribunal de Justiça ou da PGJ. Sendo da PGJ, deve
ser encaminhado o pedido da reforma, juntamente com a autorização do Diretor do
Fórum, à Superintendência Administrativa.
CAPÍTULO III
e) Após a conclusão do serviço, quais os procedimentos a serem adotados em re-
lação à nota fiscal?
A nota fiscal deve ser atestada, conforme o modelo abaixo, pela unidade/Promotoria
de Justiça e conter assinatura do membro e de um servidor, e, logo em seguida, ser
encaminhada, por ofício, à Superintendência Administrativa.
Modelo de Atestado
Atestamos que os
Serviços __
Materiais__
Foram recebidos em condições satisfatórias em ___/___/___
_______________________________
Nome legível – MAMP
_______________________________
Nome legível – MAMP
305
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
306
Procuradoria-Geral de Justiça
serviço é realizado por um operador fixo da empresa contratada. Nos demais ende-
reços, por um usuário designado para isso. Em caso de dúvida, entrar em contato
com a Diretoria de Serviços Gerais e Transportes/Manutenção.
CAPÍTULO III
C.7 - Transporte
Legislação pertinente:
- Resolução PGJ nº 103, de 22 de novembro de 2005 – Racionaliza gastos com ma-
teriais de informática, de escritório, gráfico, combustível, manutenção de veículos
na Procuradoria-Geral de Justiça e dá outras providências.
Nas comarcas do interior que possuem um veículo para prestação de serviços, mas
não dispõem de batalhão da PMMG com bomba de combustível própria, deve-se
solicitar ao Diretor-Geral, por ofício, a celebração de contrato com posto de combus-
tível, para fornecimento do produto.
b) Manutenção de veículos
A manutenção deve ser feita nas oficinas contratadas pela PGJ, sendo a preventiva
efetuada a cada 10.000 km, e a corretiva quando necessário.
307
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
c) Requisição de veículos
As requisições devem ser feitas com 24 horas de antecedência, para atendimento
na região metropolitana de Belo Horizonte, e de 48 horas, para as demais localida-
des.
Quando se tratar de viagem fora do município, a requisição deve ser feita por meio
de ofício dirigido ao Diretor-Geral. No caso de deslocamentos dentro da região me-
tropolitana, o agendamento é feito com a Diretoria de Serviços Gerais e Transporte,
CAPÍTULO III
por telefone.
D - Informática
Legislação pertinente:
- Instrução Normativa DG nº 3, de 1º de outubro de 2002 – Disciplina utilização dos
recursos de informática à disposição dos membros e servidores do Ministério Públi-
co do Estado de Minas.
308
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
O acesso à internet é oferecido de duas formas: banda larga ou acesso discado. A
primeira é oferecida em todas as comarcas nas quais existe o serviço disponível,
enquanto nas demais o acesso é discado.
- Banda larga:
Nas comarcas de segunda entrância e de entrância especial, o serviço é oferecido
por empresa terceirizada, devendo o usuário contatar, em caso de problemas na
conexão, a Diretoria de Informática, para que ela providencie a solução.
Já nas comarcas de primeira entrância, nas quais o serviço de banda larga é contra-
tado com fornecedores locais, o usuário poderá contatá-los diretamente.
- Acesso discado:
Nas comarcas de primeira entrância nas quais se utilizam os serviços de acesso
discado, o tempo máximo de acesso oferecido é de 20 horas por Promotor e 10
horas para a comarca.
309
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
pela rede.
- Em caso de dúvida, nunca acessar, no correio eletrônico, o link apresentado no
conteúdo da mensagem ou o seu anexo, quando não tiver conhecimento prévio do
assunto e do remetente.
- Não permitir a retirada dos equipamentos da Promotoria de Justiça sem autori-
zação da Diretoria de Informática, nem mesmo pelas empresas responsáveis pela
manutenção.
- Não instalar software sem autorização da Diretoria de Informática.
- Acessar somente os endereços eletrônicos relacionados ao trabalho.
- Seguir as orientações de uso dos recursos da informática, contidas na Instrução
Normativa DG nº 3, de 1º de outubro de 2002.
Importante: o correio eletrônico deve ser utilizado estritamente para fins de traba-
lho.
310
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
endereços eletrônicos confiáveis.
311
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por fim, edita a revista MP Institucional, publicação voltada para a divulgação das
ações institucionais do Ministério Público, bem como para a discussão de temas de
interesse do mesmo teor.
3.5.1 - Introdução
Não obstante as dificuldades hoje constatadas, pode-se afirmar, sem receio de erro,
que muito evoluímos nos últimos anos e que, em breve, será possível alcançar
maior nível de provimento nas pequenas comarcas, conclusão de um trabalho de
planejamento que conjuga racional distribuição de membros e servidores da Insti-
tuição.
312
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
V - designar outro Promotor de Justiça para funcionar em feito determinado de atri-
buição do titular, com concordância deste;
VI - autorizar, na forma da lei, o Promotor de Justiça a ausentar-se da Promotoria de
Justiça, justificadamente, pelo prazo máximo de cinco dias úteis;
VII - designar Promotores de Justiça para plantões em finais de semana, em feria-
dos ou em razão de outras medidas urgentes;
VIII - elaborar a escala de férias individuais dos Promotores de Justiça, asseguran-
do a continuidade do serviço;
IX - conceder férias, férias-prêmio, licenças e afastamentos previstos em lei aos
Promotores de Justiça;
X - promover a indicação, ao Procurador Regional Eleitoral, dos Promotores Eleito-
rais, nos termos das Resoluções PGJ nº 10/01 e nº 43/01;
XI - formular a minuta da movimentação, inclusive eleitoral, da escala anual de fé-
rias e de licença especial dos membros do Ministério Público, encaminhando-a ao
Procurador-Geral de Justiça, para decisão;
XII - exercer outras atribuições que lhe forem delegadas pelo Procurador-Geral de
Justiça, inclusive a de representação.
313
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
cução;
4. formular proposta de divisão de atribuições para deliberação pela Câmara de
Procuradores de Justiça, na hipótese de inexistência de consenso entre os mem-
bros do Ministério Público integrantes de determinada comarca;
5. elaborar as normas, resoluções e atos relativos às atividades da Chefia de Ga-
binete, tais como regime de férias, plantões, designação para função eleitoral e
autorizações para moradia fora da comarca;
6. autorizar ou não o afastamento de membros do Ministério Público de suas fun-
ções, nas hipóteses de férias, compensações, deslocamento para fora do país,
CAPÍTULO III
314
Procuradoria-Geral de Justiça
3.5.5 - Metas
CAPÍTULO III
1. Obter, através da racional distribuição dos membros do Ministério Público em ati-
vidade no Estado, proporcional divisão de atribuições entre os órgãos de execução
e estruturação das Promotorias de Justiça com pessoal de apoio, maior eficiência
funcional, de forma a atender à demanda proveniente das múltiplas áreas de atua-
ção da Instituição;
2. otimizar os recursos humanos e materiais existentes, diante da limitação de gas-
tos com pessoal imposta pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
3.6 - SECRETARIA-GERAL
3.6.1 - Introdução
315
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
3.6.2 - Unidades
316
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
videotapes, audiotapes e spots para programação de canais de televisão e emis-
soras de rádio; organização de entrevistas coletivas; elaboração de clipping diário;
atendimento dos profissionais de imprensa e encaminhamento de solicitações de
entrevistas para Procuradores e Promotores de Justiça, da Capital e do interior;
divulgação de matérias no Portal do Ministério Público.
317
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
318
Procuradoria-Geral de Justiça
Público na defesa dos interesses difusos e coletivos, tem por finalidade proporcio-
nar ao Órgão de Execução maior controle e acompanhamento dos procedimentos
extrajudiciais. Com efeito, através do SRU, o procurador ou promotor de Justiça
poderá acompanhar a tramitação de inquéritos civis, procedimentos preparatórios e
de peças de informação.
CAPÍTULO III
áreas de atuação, palavras-chave, etc.), rígido controle dos prazos dos expedientes
instaurados, de dilações de prazo, de diligências, dos termos de ajustamento de
conduta e das medidas judiciais derivadas dos procedimentos lançados no siste-
ma.
319
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por fim, a inclusão de inédita rubrica orçamentária para construção de sedes pró-
prias assegurou recursos necessários – e cada vez mais significativos – à conso-
lidação do projeto, que, após três anos, legitimado pelo singular apoio da classe
e seu destinatário final, o cidadão, alcançou todas as regiões administrativas do
Estado.
320
Procuradoria-Geral de Justiça
3.7.1 - Introdução
CAPÍTULO III
nistério Público do Estado de Minas Gerais, dirigido por Procurador ou Promotor de
Justiça da mais elevada entrância, de livre escolha do Procurador-Geral de Justiça.
Tem como finalidade precípua a promoção do conhecimento jurídico e a valorização
e aproveitamento do patrimônio intelectual e cultural dos membros e servidores do
Ministério Público estadual.
Nos termos do art. 83, II, da Lei Complementar nº 34/94, incumbe ao CEAF, entre
outras, as atribuições de instituir cursos de aperfeiçoamento e especialização de
membro do Ministério Público e de serviços auxiliares. A Resolução PGJ nº 25/08
estabelece que o CEAF tem como objetivo operacional planejar, coordenar, exe-
cutar, supervisionar, controlar e avaliar as atividades de formação, capacitação e
desenvolvimento funcional de membros e servidores integrantes das carreiras do
Ministério Público, formulando políticas para obtenção, preservação, compartilha-
mento e disseminação do conhecimento.
321
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
322
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
3.7.2 - Diretoria
A - Unidades Administrativas
323
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Centro de Estudos
e Aperfeiçoamento
Funcional
Conselho Conselho
Científico Científico
CAPÍTULO III
Superintendência
de Formação e
Aperfeiçoamento
Diretoria de Diretoria de
Diretoria de Diretoria de Formação e Formação e Diretoria Diretoria
Estágios e Estudos Aperfeiçoamento Aperfeiçoamento de de
Convênios e de Membros do de Servidores do Produção Informação e
Acadêmicos Pesquisa Ministério Ministério Editorial Conhecimento
Público Público
Legenda
Unidades Administrativas
Unidades Colegiadas
Elaboração: Diretoria de Modernização Administrativa/SPC/DG
Emissão: 20 de junho de 2007
324
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
palestras, seminários, simpósios, painéis, encontros e ciclos de estudos;
V - dirigir a execução do currículo pleno dos cursos de formação inicial, observando
as normas de seu funcionamento e a legislação em vigor;
VI - manter os registros acadêmicos dos cursos e demais atividades de formação e
aperfeiçoamento realizadas;
VII - articular as atividades de divulgação e produção editorial relativas às atividades
de formação e de aperfeiçoamento realizadas.
VIII - planejar, executar e acompanhar as atividades concernentes a captação, ge-
ração, registro, codificação, preservação, apropriação e disseminação do conheci-
mento; e
IX - promover a implementação de políticas de gestão e informatização de acervos
bibliográficos e arquivísticos, de mídias de informáticas e de outros suportes infor-
macionais no âmbito do Ministério público.
325
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
326
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
atividades de formação e de aperfeiçoamento e remeter exemplares à Diretoria de
Informação e Conhecimento, objetivando sua disponibilização, uso, registro e pre-
servação da história e da memória resultantes das atividades culturais, de formação
e de aperfeiçoamento.
327
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
nacional e internacional.
Essas duas revistas, que possuem registro de ISSN, são compostas de artigos, co-
mentários sobre jurisprudências e técnicas processuais e visam promover o diálogo
multidisciplinar, sendo instrumentos democráticos que têm adquirido reconhecimen-
to tanto nacional como internacional.
328
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
própria Escola-CEAF, como forma de se garantir uma contínua e plena evolução
dos programas de formação inicial e permanente dos integrantes da Instituição mi-
nisterial. Assim, ela visa subsidiar a própria evolução acadêmica e pedagógica da
Escola-CEAF em seu perfil cada vez mais voltado à viabilização de grandes proje-
tos educacionais com visibilidade e impacto inclusive nacionais.
329
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
330
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
Divisão de Referência Legislativa
A Divisão disponibiliza na internet, no campo serviços, o texto integral dos atos nor-
mativos publicados pela Instituição e alimenta bases de dados textuais em winisis,
para o tratamento e disponibilização da legislação de interesse e de informações
produzidas no âmbito do Ministério Publico e relativas à sua ação normativa, deli-
berativa e funcional.
São seis bases de dados alimentadas pela Divisão de Referência Legislativa, con-
forme se segue:
331
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
332
Procuradoria-Geral de Justiça
rio Público a aquisição das obras solicitadas, o seu processamento técnico e a sua
consulta pelo Sistema Pergamum.
CAPÍTULO III
Estado de Minas Gerais.
Cargo de chefia:Coordenador I
333
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Cargo de chefia:Coordenador I
334
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
de um ano, com possibilidade de recondução.
335
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A.6.1 – Publicações
A expressão latina DE JURE, que significa de acordo com o direito, foi acrescentada
ao nome original da publicação. A Revista é dividida nas seguintes áreas: doutri-
na nacional e doutrina internacional, direito penal e processo penal, direito civil e
processo civil, direito coletivo e processo coletivo e direito público constitucional,
administrativo e institucional – além de contar com a seção diálogo multidisciplinar,
voltada a profissionais de outras áreas, e com uma palestra de interesse institucio-
nal. A Revista DE JURE tem sido constantemente aprimorada, visando conseguir
avaliação positiva pela CAPES, através de seu programa QUALIS de avaliação de
periódicos. Para tanto, foram convidados diversos juristas de renome nacional e in-
ternacional para integrarem o Conselho Editorial como convidados, e a análise dos
artigos submetidos ao Conselho Editorial é feita por revisão cega de pares.
336
Procuradoria-Geral de Justiça
Os artigos para publicação na Revista DE JURE devem ser remetidos para o ende-
reço eletrônico dejure@mp.mg.gov.br, digitados conforme as especificações técni-
cas constantes do site www.mp.mg.br/ceaf, no ícone Revistas do CEAF/DE JURE.
A Revista MPMG Jurídico é estruturada com artigos de opinião nas seguintes esferas
do Direito: penal e processo penal, civil e processo civil, coletivo, processo coletivo e
público. Possui também uma seção de entrevistas com personalidades do meio jurí-
CAPÍTULO III
dico e outra destinada a promover diálogo interdisciplinar com domínios variados.
Informativo On Line
337
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
338
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
do conteúdo apresentado no relatório e as considerações reflexivas sobre os temas
tratados nas palestras e nos cursos. As atividades facultativas são avaliadas me-
diante apresentação do certificado de participação e relevância das manifestações
do participante.
339
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A Escola Virtual permite uma eficaz combinação de estudo e trabalho, sem a neces-
sidade de deslocamento de membros e servidores de seus locais de trabalho.
340
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
cimento sobre a importância da utilização dessas novas ferramentas.
341
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A.8.2 – Pesquisa
são de Atendimento e Pesquisa Jurídica. Os pedidos podem ser feitos por telefone
ou encaminhados por e-mail para o endereço biblioteca@mp.mg.gov.br.
ANEXOS
342
Procuradoria-Geral de Justiça
3.8.1- Introdução
CAPÍTULO III
2001, é órgão de assessoramento do Procurador-Geral de Justiça e tem como obje-
tivo planejar, em nível estratégico, as atividades institucionais do Ministério Público
e desenvolver as atividades de inteligência e segurança institucionais.
A – Competências
343
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
B – Histórico
344
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
A gratificação de apoio à investigação concedida a policiais que estejam à disposi-
ção do Ministério Público, instituída pelo art. 26 da Lei nº 14.323/2002 e regulamen-
tada pelas Resoluções PGJ nº 97/2002 e PGJ nº 92/2004, permitiu à COPLI receber
policiais civis e militares, e também bombeiros militares, para atuarem nas ações de
segurança e inteligência institucionais.
Por sua vez, o CESIN se subdivide, em três setores, com atribuições, estrutura e
coordenação distintas:
345
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
3.8.2 - Atuação
346
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
O documento final do Plano Geral de Atuação, contendo objetivos, metas e es-
tratégias de atuação prioritária, é apresentado pelo Procurador-Geral de Justiça à
Câmara de Procuradores de Justiça, para aprovação (LC nº 34/94, art. 19). Nesse
processo, também estão incluídas as fases de planejamento, elaboração participa-
tiva, acompanhamento da execução e avaliação dos resultados.
B – Audiências públicas
347
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
348
Procuradoria-Geral de Justiça
A COPLI, por meio da ASTEC, atua também em projetos e ações dos Órgãos da
Administração Superior e dos Centros de Apoio Operacional, realizando análise,
emitindo de pareceres e prestando apoio técnico-operacional. Entre os trabalhos
mais recentes e de maior repercussão nessa área estão o sistema de audiências
públicas (2006-2008) e o Simpósio MP-Cível em Debate (2006-2007), dos quais a
COPLI foi responsável pela elaboração do projeto, pela organização dos eventos e
pela secretaria-executiva.
CAPÍTULO III
Na execução dessa competência, a COPLI cuida, por meio de sua Assessoria Téc-
nica, da elaboração e intermediação de convênios de segurança e inteligência, e
outros de interesse institucional.
349
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
E – Inteligência institucional
Quando se fala em segurança da informação, trata-se não somente dos dados di-
gitais que trafegam pela rede lógica de computadores ou que estejam armazena-
dos em um sistema eletrônico; mas de toda informação registrada em documentos,
autos de processos e procedimentos, publicações, gravações de áudio e vídeo ou
mesmo transmitida oralmente por conversação, por telefonia etc., de importância
e valor para a Instituição, necessitando ser adequadamente protegida. Esses do-
cumentos e materiais são alvos permanentes de ações adversas, em particular de
espionagem e de sabotagem, efetivadas por meio de furto ou de técnicas especiali-
zadas, tais como fotografia e memorização, e ainda daquelas que objetivam destruir
ou adulterar o documento ou material sigiloso, impedindo o correto aproveitamento
de seu conteúdo.
350
Procuradoria-Geral de Justiça
a) intermediação institucional junto à Polícia Civil de Minas Gerais com vistas à exe-
cução de atividades inerentes ao MP, mas que se relacionam, sobretudo legalmen-
CAPÍTULO III
te, com aquela instituição. Nesse sentido são promovidos agendamentos de visita
a estabelecimento prisional da PCMG; cadastramento de membros e servidores do
MP, para acesso ao Sistema de Informações Policiais (SIP), em consonância com
o convênio firmado; encaminhamento de solicitações diversas (como laudos peri-
ciais); busca de parceria e aproximação institucional, objetivando a superação de
obstáculos historicamente evidenciados;
b) varredura telefônica em casos de suspeita justificada de escuta não autorizada.
O CESIN realiza a inspeção nas linhas telefônicas das Promotorias de Justiça e, em
situações excepcionais, nas residências dos membros do MP;
c) auxílio a investigações desenvolvidas pelos Centros de Apoio Operacional (CAO)
do MP, em suas diversas áreas, quando solicitado;
d) ações/operações de inteligência e investigação por demanda direta do gabinete
do Procurador-Geral de Justiça;
e) ações/operações de inteligência nas audiências públicas e outros eventos do MP
com grande afluxo de público e/ou que representem risco potencial;
f) desenvolvimento do projeto de sistema de inteligência do Ministério Público e de
manuais e cartilhas de inteligência e segurança;
g) pesquisa para instrução de procedimento de investigação social ou sindicância
preliminar de candidatos aprovados em concurso público para ingresso no Ministé-
rio Público, Poder Judiciário, Polícia Federal e outros órgãos públicos, inclusive de
outros Estados da Federação;
h) localização e qualificação de pessoas físicas e jurídicas – o Núcleo de Inteligência
realiza pesquisas nos diversos bancos de dados conveniados com a PGJ e outras
fontes abertas, para subsidiar a instrução de processos ou outros procedimentos
em trâmite no Ministério Público.
351
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Também contém a seguinte advertência, por força dos termos dos convênios e co-
352
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
(...@mp.mg.gov.br).
F – Segurança de instalações
353
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
G – Segurança de pessoas
354
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
de documentos junto a outros órgãos (passaporte, carteira de identidade, carteira
de habilitação);
g) orientação e acompanhamento de membros do Ministério Público para compra e
registro de armas junto ao Exército Brasileiro e Polícia Federal;
h) organização de curso de direção defensiva e de curso de tiro a membros do
Ministério Público, para aquisição de arma ou treinamento para os que já possuem
arma e desejam aprimorar suas habilidades.
Todo acontecimento que possa causar ou representar algum risco ou dano ao Mi-
nistério Público, ou a seu pessoal, instalações, materiais ou conhecimentos, deve-
rá ser comunicado imediatamente à Coordenadoria de Planejamento Institucional
(COPLI).
Em casos de urgência, as solicitações poderão ser feitas por telefone, devendo ser
formalizadas posteriormente, para registro.
355
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A – Contatos
356
Procuradoria-Geral de Justiça
ANEXOS
CAPÍTULO III
Dispõe sobre as atribuições e a estrutura orgânica da Coordenadoria de Planeja-
mento Institucional (COPLI)
O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS, no uso
das atribuições que lhe confere o art.18, incisos XI e XX, da Lei Complementar nº
34, de 12 de setembro de 1994,
RESOLVE:
Art. 1º A Coordenadoria de Planejamento Institucional (COPLI) é órgão de assesso-
ramento do Procurador-Geral de Justiça, ao qual é subordinada técnica e adminis-
trativamente, e tem como objetivos promover, desenvolver, orientar, acompanhar e
avaliar as atividades de inteligência e segurança institucionais e o Plano Geral de
Atuação do Ministério Público de Minas Gerais.
357
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
358
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
Regulamenta o art. 26 da Lei nº 14.323/02, que dispõe sobre a concessão de gra-
tificação de apoio à investigação devida a policiais que estejam à disposição do
Ministério Público.
Art. 1º. Fica instituída a Gratificação de Apoio à Investigação, devida a policiais que,
no exercício de suas funções, estejam à disposição do Ministério Público, corres-
pondente a 40% (quarenta por cento) do vencimento básico do policial civil ou da
remuneração básica do policial militar, nos termos da presente resolução.
Art. 3º. Compete ao titular da Promotoria de Justiça, na qual estiver atuando o po-
licial, comunicar o início e o término da disposição à Diretoria-Geral, para efeito de
controle do direito e pagamento da gratificação.
Art. 4º. Não será computada nem acumulada a percepção da gratificação instituída
na forma do artigo primeiro, para fins de concessão de acréscimos ulteriores, em
359
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Art. 5º. O policial fará jus à percepção da gratificação a partir da data do seu reque-
rimento à Procuradoria-Geral de Justiça.
Art. 6º. Esta resolução entra em vigor a partir de 25 de setembro de 2002, revogan-
do-se as disposições em contrário.
RESOLVE:
Art.1º O art.1º da Resolução PGJ nº 97, de 1º de outubro de 2002, passa a viger
com o acréscimo do seguinte parágrafo:
“Art.1º ......................
360
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
Belo Horizonte, 24 de novembro de 2004.
NEDENS ULISSES FREIRE VIEIRA
Procurador-Geral de Justiça
3.9.1 - Natureza
3.9.2 - Composição
361
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A lei não estabelece quais disciplinas serão avaliadas pela Comissão de Concurso.
Tal definição depende de atos do próprio Procurador-Geral e da Administração Su-
perior do Ministério Público. Compete à Procuradoria-Geral de Justiça ou a outro
órgão auxiliar, no caso o Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional, a elabo-
ração do regulamento do concurso.
Cada concurso para ingresso na carreira possui regulamento próprio, que é subme-
tido à aprovação da Câmara de Procuradores de Justiça37.
37
Art. 24, inciso XVII, da LC nº34/93.
362
Procuradoria-Geral de Justiça
A escolha dos representantes da OAB não é feita pelo Conselho Superior do Minis-
tério Público, mas pelo Procurador-Geral de Justiça – dois nomes (titular e suplente)
de uma lista sêxtupla de advogados especialistas na disciplina encaminhada pela
direção da entidade. A escolha é comunicada ao Conselho, devendo, após, ser pu-
blicada a composição da banca examinadora no órgão oficial.
CAPÍTULO III
Compete ao secretário, com auxílio do suplente, a tarefa de assumir toda a burocra-
cia necessária para a realização do concurso e os atos de execução, desde a publi-
cação do edital, devendo acompanhar a inscrição dos candidatos e o desenrolar de
todas as fases do certame, comunicando os fatos relevantes à própria Comissão de
Concurso, a qual tem competência para decidir, inclusive, os casos omissos.
Foi, contudo, a Resolução nº 14, de 6 de novembro de 2006, que criou maior ce-
leuma, ao determinar a composição da Comissão de Concurso, com participação
obrigatória do Procurador-Geral de Justiça, além de representantes da Ordem dos
Advogados do Brasil e de dois juristas de notável saber jurídico. Diante do conflito
da norma resolutiva com as previsões de Leis Orgânicas do Ministério Público de di-
versos Estados, tal previsão acabou sendo revista pelo próprio Conselho Nacional.
363
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Em Minas Gerais, tal incompatibilidade também sempre foi observada nos regula-
mentos de concurso, de forma a impedir a presença ou participação de donos ou
professores de cursos preparatórios na Comissão de Concurso.
3.9.3 - Atribuições
364
Procuradoria-Geral de Justiça
do órgão auxiliar.
CAPÍTULO III
se, nesse aspecto particular, o exame a respeito do tempo de atividade jurídica, que
passou a ser uma exigência para o ingresso na carreira desde a Emenda Constitu-
cional nº 45/2004.
Cabe à Comissão, acompanhar a realização das provas, que seus membros, indi-
vidualmente, elaborem e, posteriormente, julgar os eventuais recursos dos candi-
datos.
39
Segundo o texto: “Art. 1º Considera-se atividade jurídica, desempenhada exclusivamente após a ob-
tenção do grau de bacharel em Direito, aquela exercida por ocupante de cargo, emprego ou função,
inclusive de magistério superior, para cujo desempenho se faça imprescindível a conclusão do Curso
de Direito.
Parágrafo único. Consideram-se, também, atividade jurídica, desde que integralmente concluídos com
aprovação, os cursos de pós-graduação em Direito, ministrados pelas Escolas do Ministério Público,
da Magistratura e da Ordem dos Advogados do Brasil, de natureza pública, fundacional ou associativa,
bem como os cursos de pós-graduação reconhecidos, autorizados ou supervisionados pelo Ministério da
Educação ou pelo Órgão competente.
Art. 2º A comprovação do período de três anos de atividade jurídica deverá ser documentada e formal-
izada no ato da inscrição definitiva ao concurso”.
365
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
É possível apresentar recurso nessa fase, e o titular da disciplina atua como uma
espécie de relator, em seu voto, com o suplente na função de revisor e os demais
integrantes titulares, inclusive o Procurador-Geral de Justiça, como vogais.
A última fase, dada a impossibilidade de sigilo, da forma como ocorre nas fases an-
teriores, é aberta ao público. Desde o concurso de 2007, tem-se tomado a cautela
de gravar as provas, para fins, inclusive, de facilitar a interposição e julgamento de
eventual recurso.
366
Procuradoria-Geral de Justiça
CAPÍTULO III
3.9.4 - Remuneração
A gratificação é paga em parcela única, ao final do certame, não podendo ter valor
superior ao teto remuneratório estabelecido para o Ministério Público.
EMENTÁRIO
367
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
368
Capítulo IV
Corregedoria-Geral do
Ministério Público
4.1 - INTRODUÇÃO
Nada obstante a Corregedoria ser identificada, com maior evidência, por seu contorno
disciplinar, a estrutura legislativa orgânica lega ao órgão, concomitantemente
ao atuar fiscalizatório, militância de cunho orientador, tornando essa instância
administrativa sítio destinatário de relevantes demandas institucionais.
CAPÍTULO IV
Na esteira do desempenho dessas atribuições, cumpre ao órgão – personificado na
figura do Corregedor-Geral – a sensibilidade de perscrutar as eventuais deficiên-
cias emanadas dos órgãos de execução, fornecendo-lhes os ensinamentos hábeis
para otimização do labor desenvolvido, tanto na seara finalística como em sede de
atividade-meio.
1
A Corregedoria-Geral do Ministério Público do Estado de Minas Gerais foi criada, de fato, por ato ad-
ministrativo do então Procurador-Geral de Justiça Wagner Luna Carneiro, no ano de 1972, passando
a existir, de direito, pela Lei nº 6.226, de 26 de dezembro de 1973, consoante informa o Procurador de
Justiça aposentado e ex-Corregedor-Geral Joaquim Cabral Netto na apresentação do compêndio Con-
solidação dos Atos Normativos – Corregedoria-Geral do Ministério Público do Estado de Minas Gerais,
Ato CGMP nº 1, de 04 de junho de 2003. Belo Horizonte, 2003, p. 5.
2
Conforme prelecionado nos arts. 5º, inciso IV, e 17 da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, normas
reproduzidas nos arts 4º, inciso I, alínea “d”, e 38 da Lei Complementar nº 34/94. Insta registrar que,
nada obstante a terminologia Corregedoria-Geral, a atuação disciplinar desempenhada não atinge aos
servidores do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, ficando a cargo do Procurador-Geral de
Justiça o exercício de tal munus.
373
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
4.2 - CORREGEDOR-GERAL
374
Corregedoria-Geral do Ministério Público
No elenco atributivo, cujo rol não se encerra exaustivo, prevê a legislação orgânica
iniciativas de cunho correcional, como a realização de inspeções ordinárias nas
Procuradorias de Justiça, assim como inspeções e correições nas Promotorias de
Justiça.
CAPÍTULO IV
Cominado ao Corregedor-Geral a compilação de dados estatísticos advindos das
atuações funcionais e ainda a formalização e manutenção atualizada dos assentos
funcionais dos membros do Ministério Público, cabendo-lhe informar ao Conselho
Superior acerca da conduta pessoal e atuação laborativa dos órgãos de execução
375
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
7
Ressalvadas as hipóteses de exercício temporário do cargo de Corregedor-Geral ou durante a realiza-
ção de inspeções e correições.
376
Corregedoria-Geral do Ministério Público
CAPÍTULO IV
momento pretérito ao novel perfil institucional, delineado pela Constituição Federal
de 1998.
8
A Consolidação dos Atos Normativos e Orientadores da Corregedoria-Geral do Ministério Público restou
aprovada, originariamente, pelo Ato nº 1, de 04 de junho de 2003, baixado pelo então Corregedor-Geral
377
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Manoel Divino de Siqueira, sendo publicada no Minas Gerais em 5 de junho do mesmo ano.
9
Consideradas recomendações as deliberações que destinam aos órgãos de execução aconselhamen-
tos genéricos, de relevância jurídica e institucional, objetivando otimização da atuação na atividade fim
(art.4o.). As orientações, por sua vez, são provimentos decursivos da análise de determinado caso con-
creto, ressalvada a não-substituição do órgão de execução natural pelo Órgão Correcional em casos de
eventuais consultas dirigidas à Corregedoria-Geral (art. 5o.).
378
Corregedoria-Geral do Ministério Público
consoante Seção I, arts. 9.o e seguintes, assim como os livros obrigatórios (arts. 14
a 23, Subseção I) e facultativos (arts. 24 e 25, Subseção II). O segundo elenca os
disciplinamentos das posturas funcionais de observância cogente pelos órgãos de
execução nos aspectos administrativos em geral, delineados nos arts. 25 usque 54.
Nesse rol, a Corregedoria-Geral procura levar aos órgãos de execução as cautelas
e as providências necessárias ao escopo de cunho organizacional10.
CAPÍTULO IV
Justiça, Procuradores de Justiça, Assessoria do Procurador-Geral, ocupantes de
Coordenadorias de Centros de Apoio).
10
Em termos ilustrativos, entre as posturas cominadas realçam-se as providências a serem adotadas por
ocasião das correições ordinárias nas Promotorias de Justiça (art. 41, incisos I a VII); possibilidade de
disciplinamento de datas e horários para atendimento ao público (art. 32, § 1o e § 2o); cautelas no con-
tato com a mídia (art. 42, § 1o a § 5o); providências iniciais quando da assunção à Promotoria de Justiça
(art. 44, § 1.o e § 2.o); procedimento quanto às expedições de requisições e notificações às autoridades
elencadas na Lei nº 8.625/93 (art. 47, § 1o e § 2o); procedimento de comunicação de suspeição (art. 51,
§ 1o a § 7o) e impedimento (art. 52, § 1o a § 3o).
11
O Relatório Mensal deve ser encaminhado pelo Promotor de Justiça à Corregedoria-Geral, via intranet,
do primeiro ao décimo dia do mês subseqüente ao de referência (art. 57, § 1o), podendo ser delegado a
servidor do Ministério Público lotado na respectiva Promotoria de Justiça o preenchimento dos campos.
379
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
380
Corregedoria-Geral do Ministério Público
91, 97 e 98).
CAPÍTULO IV
Incidindo o membro do Ministério Público em exercício irregular da função, mediante
postura omissiva ou comissiva, responde penal, civil e administrativamente.
13
No Ato vigente, presentes nos Anexos a Resolução Conjunta PGJ CGMP nº 1, de 13 de março de 1987
(Regimento Interno da Corregedoria-Geral do Ministério Público do Estado de Minas Gerais); Ato CGMP
nº 2, de 18 de setembro de 2003 (Dispõe sobre o regulamento do processo disciplinador administrativo);
Resolução CSMP nº 90, de 15 de dezembro de 2003 (Dispõe sobre o estágio probatório dos membros
do Ministério Público); Resolução TSE nº 21.702, de 2 de abril de 2004 (Instrução sobre o número de
vereadores a eleger segundo a população de cada município); Resolução Conjunta PGJ CGMP nº 2, de
14 de setembro de 2004 (Regulamenta o art. 67, I, da LC nº 34/94, disciplinando, no âmbito do Ministério
Público do Estado de Minas Gerais, a instauração e tramitação do Procedimento Investigatório Criminal,
e dá outras providências); Resolução Conjunta nº 01, de 4 de março de 2005 (Dispõe sobre o procedi-
mento e requisitos para homologação da divisão de atribuições entre Promotorias de Justiça); Resolução
Conjunta CSMP CGMP nº 2, de 07 de março de 2005 (Especifica critérios para fundamentação de voto
na promoção e remoção por merecimento na carreira de membro do Ministério Público); Resolução PGJ
nº 57, de 23 de agosto de 2006 (Dispõe sobre estágio para estudantes de Direito no âmbito do Minis-
tério Público do Estado e Minas Gerais); Resolução CNMP nº 20, de 28 de maio de 2007 (Disciplina,
no âmbito do Ministério Público, o controle externo da atividade policial); Resolução PGJ nº 45, de 10
de setembro de 2007 (Consolida os atos normativos que versam sobre designação de Promotores de
Justiça da Capital para plantões); Recomendação Conjunta PGJ CGMP nº 03, de 12 de novembro de
2007 (Fixa orientações funcionais, sem caráter normativo, sobre a intervenção do Ministério Público no
processo civil); Resolução Conjunta PGJ CGMP nº 03, de 14 de dezembro de 2007 (Regulamenta o in-
quérito civil e o procedimento preparatório na área de interesses difusos ou coletivos e institui o Sistema
de Registro Único de Inquéritos Civis e Procedimentos Preparatórios - SRU); Resolução CNMP nº 26,
de 17 de dezembro de 2007 (Disciplina a residência na comarca pelos membros do Ministério Público e
determina outras providências).
381
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
14
Sendo o Regimento Interno anterior à Lei Orgânica, as Inspeções Ordinárias em Procuradorias de
Justiça não têm regulamentação, arrefecendo a atuação correcional em sede de órgãos ministeriais
oficiantes junto à 2a Instância.
382
Corregedoria-Geral do Ministério Público
CAPÍTULO IV
Quanto ao processo disciplinar administrativo, demanda instauração por portaria
do Corregedor-Geral, subdividindo-se em sindicância e procedimento disciplinar
administrativo.
15
O Promotor de Justiça deve afixar o edital de correição no âmbito forense; providenciar espaço físico
adequado para os trabalhos; recepcionar a Comissão – constituída de regra de um Subcorregedor-
Geral que preside o labor e um Promotor de Justiça Assessor; apresentar pastas e livros obrigatórios,
disponibilizando, ainda, acervo de feitos – judiciais ou administrativos, arquivados e em andamento – de
sua esfera de atuação, cadernos destinados ao manuseio dos membros da Corregedoria-Geral para fins
de emissão de conceito.
383
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
insertas nos incisos I a VII do art. 211 da Lei Complementar nº 34/9416, devendo a
sanção ser aplicada pelo Corregedor-Geral ou, supletivamente, pelo Procurador-
Geral de Justiça, por escrito e de forma reservada.
16
Quanto aos atos punidos com a pena, tipificados a negligência no exercício da função; inobservân-
cia das determinações e instruções de caráter administrativo expedidas pela Administração Superior;
prática de ato reprovável; utilização indevida das prerrogativas do cargo; descumprimento de alguns
dos deveres funcionais estipulados no art. 110, LC nº 34/94; constatação de irregularidade em serviço;
afastamento injustificado do exercício das funções ou do local onde o membro ministerial exerça suas
atribuições; desatendimento de convocações.
17
Para fim orgânico-disciplinar, considera-se reincidente o membro do Ministério Público que praticar
nova infração antes de obtida a reabilitação ou verificada a prescrição de falta funcional anterior, conso-
ante art. 224 da Lei Complementar nº 34/94.
18
Conduta incompatível com a dignidade do cargo, nas hipóteses declinadas pelo art. 110, II, III e XVI,
do referido Diploma Orgânico; procedimento funcional incompatível com o desempenho das atribuições
do cargo; acumulação indevida de funções, ressalvado o disposto no art. 111, IV, e parágrafo único, LC
nº 34/94; descumprimento do disposto no art. 137, § 3o, da mesma Lei.
19
Exposição de membro ministerial a risco de descrédito quanto às prerrogativas do cargo ou à insti-
tuição; recusa de atendimento ao Procurador-Geral de Justiça ou ao Corregedor-Geral do Ministério
Público quando em visita, inspeção ou correição; descumprimento do disposto no art. 111, III, V e VI.
20
A remoção compulsória nem sempre terá caráter disciplinar, podendo se estabelecer, como realçado,
por interesse público alheio à eventual prática de infração.
384
Corregedoria-Geral do Ministério Público
CAPÍTULO IV
de 1/3 da remuneração, sendo a vaga decorrente do afastamento preenchida,
obrigatoriamente, por promoção.
21
Grave omissão nos deveres do cargo; ocorrência de fatos que, envolvendo o membro ministerial,
resulte em perigo iminente ao prestígio da Instituição; capacidade de trabalho reduzida, produtividade
escassa, atuação funcional comprometedora ou demonstração superveniente de insuficientes conheci-
mentos jurídicos; induzimento dos órgãos da administração superior a erro, por meio reprovável; inob-
servância da vedação prevista no art. 111, I, LC nº 34/94.
385
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Atendendo comando do art. 231, Lei Complementar nº 34/94, baixado o Ato CGMP
nº 2, de 18 de setembro de 2003, que dispõe sobre o regulamento do processo
disciplinar administrativo, diploma que compila disposições gerais sobre a persecução
disciplinar, esmiuçando o rito pertinente à sindicância e ao procedimento disciplinar
administrativo23 balizando ainda as dinâmicas afetas à revisão e à reabilitação (arts.
22
Art. 232, Lei Complementar nº 34/94, esclarecendo-se que o Estatuto dos Funcionários Civis do Es-
tado é identificado como Lei nº 869/52.
23
Basicamente, em sede de rito, difere a sindicância do procedimento disciplinar administrativo pelo
prazo cominado à conclusão dos trabalhos apuratórios (trinta dias para a sindicância, sessenta para o
PDA, em ambas as hipóteses sendo permitida uma prorrogação); prazo de apresentação de defesa pre-
liminar (cinco dias na sindicância, dez dias no PDA); rol de três testemunhas, na sindicância, e cinco, na
386
Corregedoria-Geral do Ministério Público
36 e seguintes do Regulamento).
CAPÍTULO IV
que o dispositivo impede deferimento de inscrição para promoção, por antigüidade
ou merecimento, a membro ministerial que esteja submetido a processo disciplinar
administrativo.
hipótese de PDA, cômputo que se vincula a cada fato discutido, consoante prelecionam os arts. 19, § 1o,
e 28, inciso II, ambos do Ato CGMP nº 2, de 18 de setembro de 2003. A sindicância, de caráter sigiloso,
pode servir, outrossim, para instruir o procedimento disciplinar administrativo (art. 234, LC nº 34/94).
387
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Lado outro, havendo justa causa para instauração, entendida como indícios
suficientes da prática imputada, assim como materialidade do ilícito administrativo,
quando a infração deixar vestígios, impõe-se o encetamento do processo, visto que
o art. 236 da Lei Complementar nº 34/94 permite o arquivamento das representações
– ou de eventuais peças de informação – somente quando manifestamente
improcedentes.
CAPÍTULO IV
A revisão poderá ser requerida pelo próprio interessado ou, se falecido ou interdito,
por cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão.
Caso julgada procedente a pretensão, tornar-se-á sem efeito o ato punitivo ou será,
conforme a hipótese, aplicada pena disciplinar adequada, restabelecendo-se os
direitos atingidos e cerceados pela punição.
A reabilitação poderá ser obtida pelo membro ministerial, junto ao Conselho Superior,
quando ocorridas punições tipificadas como advertência ou censura, objetivando
24
Além das casuísticas previstas legalmente, estabelece o Ato CGMP nº 2/03, expressamente, a pos-
sibilidade de revisão quando fundada a sanção em prova falsa (art. 33, inciso II). Veda o Ato, como fun-
damento para a revisão, a simples alegação de injustiça, assim como a reiteração do pedido por mesmo
fundamento (art. 33, § 1o e § 2o).
388
Corregedoria-Geral do Ministério Público
CAPÍTULO IV
viabilizando que, em seara de fiscalização externa, poder-se-ia otimizar combate a
práticas funcionais – omissivas e comissivas – dotadas de vicissitudes.
Com efeito, o controle externo, nos contornos estabelecidos, não tem aptidão para
menoscabar a militância finalística dos membros ministeriais, que continuam gozando
de independência funcional, incidindo, a rigor, sobre a atuação administrativa
e financeira da Instituição, assim como destinado ao cumprimento dos deveres
funcionais de seus membros.
389
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
25
Mensagem da Presidência da República remetida ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da
sessão legislativa.
26
Vide art. 87, inciso III, do Regimento Interno do Conselho Nacional do Ministério Público.
27
Vide arts. 30 e 31 do Regimento Interno do Conselho Nacional do Ministério Público.
390
Corregedoria-Geral do Ministério Público
CAPÍTULO IV
legalismo.
ANEXOS
391
Capítulo V
Órgãos
Colegiados
5.1 - INTRODUÇÃO
CAPÍTULO V
eficaz exercício das múltiplas e díspares atividades funcionais do Ministério Público
mineiro, nelas incluídas, também, as denominadas atividades-meios que deman-
dam a intervenção dos Órgãos da Administração Superior da Instituição, neles in-
cluídos os Órgãos Colegiados.
A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei Federal nº 8.625/93), que dispõe
sobre normas gerais para a organização do Ministério Público dos Estados e dá
outras providências, estabelece no seu art. 5º que os Órgãos da Administração Su-
perior2 do Ministério Público são: I - a Procuradoria-Geral de Justiça; II - o Colégio
de Procuradores de Justiça; III - o Conselho Superior do Ministério Público; IV - a
1
“Órgãos colegiados ou pluripessoais são todos aqueles que atuam e decidem pela manifestação con-
junta e majoritária da vontade de seus membros. Nos órgãos colegiados não prevalece a vontade in-
dividual de seu Chefe ou Presidente, nem a de seus integrantes isoladamente: o que se impõe e vale
juridicamente é a decisão da maioria, expressa na forma legal, regimental ou estatuária”. (MEIRELLES,
Hely Lopes apud. PONDÉ, Lafayette. Direito Administrativo Brasileiro. 32. ed. Malheiros, p. 74.)
2
“Órgãos superiores são os que detêm poder de direção, controle, decisão e comando dos assuntos
de sua competência específica, mas sempre sujeitos à subordinação e ao controle hierárquico de uma
chefia mais alta .Não gozam de autonomia administrativa nem financeira, que são atributos dos órgãos
independentes e dos autônomos a que pertencem. Sua liberdade funcional restringe-se ao planejamento
e soluções técnicas, dentre da sua área de competência, com responsabilidade pela execução, geral-
mente a cargo de seus órgãos subalternos.” (idem)
395
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
“Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às hipóteses previstas nos
incisos I, IV, V e VI do artigo anterior, bem como a outras atribuições a serem deferi-
das à totalidade do Colégio de Procuradores de Justiça pela Lei Orgânica.”
396
Órgãos Colegiados
curadores de Justiça.
O art. 10, II, da Lei Federal nº 8.625/94 dispõe que o Procurador-Geral de Justiça
preside o Colégio de Procuradores de Justiça como membro nato e isso se fez ne-
cessário por ser possível, dependendo da Lei Orgânica de cada Estado, a indicação
de Promotor de Justiça, e não apenas de Procurador de Justiça, para o cargo de
Procurador-Geral. Esse não é o caso de Minas Gerais, onde, em face do disposto
no § 1º do art. 5º da LC nº 34/94, “O Procurador-Geral de Justiça será nomeado
pelo Governador do Estado, entre os Procuradores de Justiça com o mínimo de dez
anos de serviço na carreira [...]”.
CAPÍTULO V
Justiça, competindo-lhe:
Nota: 1) Vide art. 12 da Lei nº 8.625/93.
I- opinar, por solicitação do Procurador-Geral de Justiça ou de-
liberação de 1/4 (um quarto) de seus integrantes, sobre matéria
relativa à autonomia do Ministério Público e outras de interesse
institucional;
Nota: 1) Vide art. 12, I, da Lei nº 8.625/93.
II- representar, na forma desta lei, ao Poder Legislativo para a
destituição do Procurador-Geral de Justiça;
Nota: 1) Vide arts. 9º, § 2º, e 12, IV, da Lei nº 8.625/93.
III- conferir exercício ao Procurador-Geral de Justiça;
IV- eleger, dar posse e exercício ao Corregedor-Geral do Minis-
tério Público;
V- destituir, na forma desta lei, o Corregedor-Geral do Ministério
Público;
Nota: 1) Vide art. 12, VI, da Lei nº 8.625/93.
VI- eleger, na segunda quinzena do mês de novembro dos anos
pares, 10 (dez) membros do órgão especial, conferindo-lhes,
concomitantemente, posse e exercício com os demais compo-
nentes, nos termos do regimento interno;
Nota: 1) Vide art. 13 da Lei nº 8.625/93.
VII- conferir posse e exercício, na segunda quinzena do mês
de dezembro, aos membros do Conselho Superior do Ministério
Público;
Nota: 1) Vide art. 14 da Lei nº 8.625/93.
VIII- autorizar, em caso de omissão da Câmara de Procuradores
de Justiça e por iniciativa da maioria de seus integrantes, que o
Procurador-Geral de Justiça ajuíze ação civil de decretação de
perda do cargo de membro do Ministério Público;
Nota: 1) Vide art. 12, X, da Lei nº 8.625/93.
397
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
três esferas da Administração Pública, firmam-se nas leis e no apoio político ema-
nados dos colegiados legislativos, além de se cercarem de Ministérios, Secretarias,
Conselhos e dos mais diversos órgãos de apoio, no Ministério Público o Colégio
de Procuradores de Justiça inegavelmente representa o necessário apoio políti-
co-institucional aos demais órgãos de sua Administração Superior. É o potencial
da experiência institucional, angariada pelos mais antigos membros da Instituição,
colocado a seu serviço.
398
Órgãos Colegiados
CAPÍTULO V
ça, mas tão-somente pelo plenário do Colégio de Procuradores de Justiça.
399
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
8.625, no seu citado art. 13, facultou aos Ministérios Públicos Estaduais com mais
de quarenta cargos de Procuradores de Justiça a criação do Órgão Especial do Co-
légio de Procuradores. Naturalmente, os Estados que instituíram o Órgão Especial
do Colégio de Procuradores também definiram, pela legislação local, os critérios
para a escolha de seus membros.
400
Órgãos Colegiados
CAPÍTULO V
as atribuições do Colégio de Procuradores de Justiça, salvo nos
casos de eleição e posse de seus próprios membros, de propo-
sição ao Poder Legislativo da destituição do Procurador-Geral
de Justiça e do Corregedor-Geral do Ministério Público, ou ain-
da de decisão sobre matéria relativa à autonomia do Ministério
Público.
401
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
402
Órgãos Colegiados
CAPÍTULO V
Nota:1) Vide art. 12, parágrafo único, da Lei nº 8.625/93.
§ 4º As propostas referentes a homenagens, votos de congra-
çamento e atos assemelhados, ressalvados os casos de notório
interesse institucional, não serão objeto de publicação.
403
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
3
Como cediço, quorum é número de membros de um órgão colegiado, exigido por lei, para que sejam
tomadas determinadas decisões em conjunto. A técnica de positivação constitucional e legal adotada
para estabelecer as maiorias nos órgãos colegiados se desdobra em: a) maioria simples, que é a metade
mais um dos membros do órgão colegiado presentes no ato da votação; b) maioria qualificada, que pode
ser de 1/3 (um terço), de 2/3 (dois terços) ou de 3/5 (três quintos) da totalidade dos membros do órgão
colegiado e c) maioria absoluta, que é o número inteiro imediatamente superior à metade da totalidade
dos membros do órgão colegiado.
4
O chamado voto de qualidade, também conhecido como voto minerva, ocorre quando, estando previsto
na lei ou no regimento, o Presidente do órgão colegiado, após ter votado como os demais membros do
órgão, exerce, se necessário, o direito ao voto de desempate.
5
“Princípio da unidade: Os membros da instituição ministerial integram um só órgão, sendo chefiados,
somente, por um procurador-geral. Enfatize-se, contudo, que inexiste unidade entre o Parquet Federal
e os Ministérios Públicos Estaduais. De igual modo, não há que se falar em unidade entre o Ministério
Público de um Estado e de outro nem entre os diversos ramos do Ministério Público da União. É que o
princípio da unidade só incide no âmbito de cada Ministério Público. Princípio da Indivisibilidade: A indi-
visibilidade decorre do próprio colorário da unidade, ou seja, o Parquet não pode ser subdividido inter-
namente em várias outras instituições autônomas e desvinculadas entre si. Por isso, seus membros não
se vinculam aos processos nos quais oficiam, podendo ser substituídos uns pelos outros, conforme dis-
puser a lei. Princípio da Independência Funcional: Em primeiro lugar, vale anotar que a importância dada
pela Constituição ao princípio da independência funcional do Parquet foi tamanha que constitui crime de
responsabilidade do Presidente da República o cometimento de atos atentatórios ao livre exercício da
instituição ministerial (art. 85, II). A independência funcional do Ministério Público deve ser concebida da
forma mais ampla possível. Isto quer dizer que seus integrantes só devem dar satisfações à Constituição,
às leis e à sua própria consciência (RTJ, 147:142) [...]” (BULOS,Uadi Lammêgo. Constituição Federal
anotada.7. ed. São Paulo: Saraiva, p. 1.124)
404
Órgãos Colegiados
CAPÍTULO V
subseqüente à convocação da eleição. O processo eleitoral para a composição do
Conselho Superior do Ministério Público está disciplinado nos arts. 28, 29 e 31 da
LC nº 34/94. O art. 32 da mesma lei dispõe que “O Conselho Superior do Ministério
Público reunir-se-á quinzenalmente, em sessão ordinária, por convocação extraor-
dinária de seu Presidente ou por proposta de 1/3 (um terço) de seus membros”.
405
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
406
Órgãos Colegiados
CAPÍTULO V
§ 3º Na indicação para promoção ou remoção voluntária por an-
tigüidade, observar-se-á o disposto no art. 186.
§ 4º Na indicação para promoção ou remoção voluntária por me-
recimento, o processo de votação será oral, atendidos os crité-
rios estabelecidos no art. 177.
§ 5º Das decisões referentes aos incisos VI, VII e VIII, caberá
recurso à Câmara de Procuradores de Justiça no prazo de 5
(cinco) dias contados da publicação do ato no órgão oficial.
§ 6º Não será admitida a inscrição nas listas a que se refere o
inciso I dos membros do Ministério Público que, nos 12 (doze)
meses anteriores à data da elaboração, tenham exercido, ainda
que transitoriamente, o cargo de Procurador-Geral de Justiça,
Procurador-Geral de Justiça Adjunto ou Corregedor-Geral do
Ministério Público.
407
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
legal, o CSMP tem editado súmulas de orientação institucional relativas aos proce-
dimentos administrativos e judiciais na área dos direitos difusos e coletivos e bem
assim relativas aos critérios adotados pelo Órgão Colegiado para decidir sobre a
movimentação na carreira. De 29/02/1996, data da aprovação da Súmula nº 1 do
CSMP, até a presente data, já foram aprovadas quarenta e três súmulas, sendo
vinte e duas relativas a procedimentos na área dos direitos difusos e coletivos, mor-
mente meio ambiente. As outras vinte e uma súmulas são relativas a critérios para
movimentação da carreira, sendo que dessas, seis foram revogadas.
no art. 7º, II, ambos da Lei Federal nº 8.625/93, e no art. 4º, I, “c”, III, “b”, da LC n°
34/94, respectivamente, como órgão da Administração Superior do Ministério Pú-
blico e órgão de execução do Ministério Público. Como já visto, dizem-se órgãos
de Administração Superior do Ministério Público aqueles aos quais a lei atribui a
responsabilidade pela gestão institucional. Por sua vez, órgãos de execução do Mi-
nistério Público são aqueles incumbidos do desempenho das funções institucionais.
Os primeiros administram a Instituição e os segundos executam as funções que a
Constituição e as leis lhes atribuem.
Ora, sendo o inquérito civil uma função constitucional e legal dos órgãos de execu-
ção do Ministério Público, a revisão da promoção de seu arquivamento pelo Conse-
lho Superior está contida em sua natureza de função de execução institucional.
408
Órgãos Colegiados
Além da revisão de arquivamento do inquérito civil tradicional, por assim dizer, pre-
visto no art. 9º, e seus parágrafos, da Lei nº 7.347/85 (LACP), a Lei nº 7.853/89, que
cuida da defesa dos interesses coletivos e difusos relacionados às pessoas porta-
doras de deficiência, e a Lei nº 7.913/80, que dispõe sobre a defesa dos interesses
coletivos dos investidores no mercado de valores mobiliários, por referência ao rito
da Lei nº 7.347/85, também atribuem ao Conselho Superior do Ministério Público a
função de órgão revisor do arquivamento dos inquéritos civis instaurados com base
nas referidas leis. Assim, na legislação vigente ou em futuras normas a serem edita-
as, cabe ao Conselho Superior do Ministério Público, a par de suas atribuições ad-
ministrativas, exercer funções institucionais; logo, típicas de órgãos de execução.
CAPÍTULO V
de Justiça, composta em parte por membros eleitos tão-somente pelo Colégio de
Procuradores de Justiça e em parte pelos Procuradores de Justiça mais antigos,
está mais jungida à Instituição.
409
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
410
Capítulo VI
Ouvidoria do
Ministério Público
6.1 - INTRODUÇÃO
CAPÍTULO VI
por imposição do art. 130-A, § 5º, da CF, com a redação dada pela EC nº 45. Sua
instalação data de 13 de fevereiro de 2008, com a posse do Ouvidor nomeado.
6.3 - NATUREZA
6.4 - PRINCÍPIOS
As Ouvidorias Públicas passaram a ser instituídas para dar efetividade aos prin-
cípios constitucionais (art. 37 da CF/88) da publicidade – por meio da necessária
transparência dos processos e dos atos da administração – e da eficiência do ser-
viço público.
415
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
6.4.1 - Transparência
6.4.2 - Eficiência
6.5 - O OUVIDOR
de Justiça, recaia sobre membros da instituição com mais de dez anos de carreira,
sendo sua nomeação para mandato certo de dois anos. O Ouvidor preserva as prer-
rogativas próprias dos membros do Ministério Público e sua destituição se processa
na mesma forma do procedimento previsto para o Corregedor-Geral.
6.7 - ACESSO
416
Ouvidoria do Ministério Público
6.8 - PROCEDIMENTOS
CAPÍTULO VI
de seus membros e servidores, a Ouvidoria poderá, após necessária instrução,
representar diretamente ao Conselho Nacional do Ministério Público, nos termos do
art. 130-A, § 5º, da Constituição Federal.
ANEXOS
Constituição Federal
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de le-
galidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao se-
guinte:
417
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
(...)
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública
direta e indireta, regulando especialmente:
Art. 1º Fica criada, na forma desta Lei e em consonância com as disposições do art.
130-A, § 5º, da Constituição da República, estabelecidas pela Emenda Constitucio-
nal nº 45, de 8 de dezembro de 2004, a Ouvidoria do Ministério Público do Estado
de Minas Gerais, órgão autônomo que tem por objetivo contribuir para elevar con-
tinuamente os padrões de transparência, presteza e segurança das atividades dos
membros, órgãos e serviços auxiliares do Ministério Público.
418
Ouvidoria do Ministério Público
CAPÍTULO VI
ções, críticas, apreciações, comentários, elogios, pedidos de informações e suges-
tões recebidas, bem como dos seus encaminhamentos e resultados;
VIII - dar ciência ao interessado das providências adotadas e dos resultados obti-
dos, exceto nos casos em que a lei assegurar o dever de sigilo;
419
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
I - correspondência;
420
Ouvidoria do Ministério Público
CAPÍTULO VI
Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
421
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
422
Ouvidoria do Ministério Público
CAPÍTULO VI
Art. 5º As manifestações que importarem em elogio, crítica, reclamação ou denúncia
serão endereçadas:
423
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
I - Gabinete do Ouvidor;
II - Secretaria Executiva da Ouvidoria;
III - Assessoria da Ouvidoria;
IV - Núcleo Técnico da Ouvidoria.
CAPÍTULO VI
424
Ouvidoria do Ministério Público
CAPÍTULO VI
XI - diligenciar no sentido de manter e aumentar a credibilidade do Ministério Públi-
co junto à população;
XII - zelar pelo nome do Ministério Público, refutando, com franqueza e altivez, crí-
ticas injustas e acusações infundadas ou de má-fé;
425
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
VIII - acompanhar e zelar pelo pronto e eficaz retorno das manifestações dirigidas
à Ouvidoria;
426
Ouvidoria do Ministério Público
XII - colaborar com o Ouvidor, com a Assessoria e com o Núcleo Técnico no aten-
dimento ao público, na busca e prestação de informações, bem como em outras
atividades correlatas;
CAPÍTULO VI
IV - redigir relatórios, despachos, correspondências explicativas ou de encaminha-
mento, submetendo os respectivos textos à consideração do Ouvidor;
427
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
III - por via telefônica, através de contato com o Núcleo Técnico da Ouvidoria, hipó-
tese em que, para efeito de registro e encaminhamento, o conteúdo da conversação
poderá será gravado e será reduzido a termo;
428
Ouvidoria do Ministério Público
II - análise efetuada pela Assessoria da Ouvidoria, que deverá, sempre que possí-
vel, delinear proposta de encaminhamento e de resposta ao interessado;
Art. 14. Os casos duvidosos ou omissos serão resolvidos pelo Ouvidor do Ministério
CAPÍTULO VI
Público ou submetidos à deliberação do Colégio de Procuradores de Justiça.
429
Capítulo VII
Procuradorias de
Justiça
a) habeas corpus;
b)crimes dolosos contra a vida;
c) crimes contra os costumes;
d) crimes de tóxicos;
e) estatuto da Criança e do Adolescente;
f) execução penal;
g) crimes contra a ordem tributária;
h) crimes diversos;
i) matéria afeta ao Procurador-Geral de Justiça;
j) crimes contra o patrimônio. CAPÍTULO VII
433
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A – O parecer recursal
Note-se que, não obstante o debate sobre o tipo de atuação que deve ter a Procura-
2
Vide arts. 19, § 1º, e 43, V, da Lei nº 8.625/93.
3
Vide. art. 25, V, da Lei nº 8.625/93.
4
Vide art. 41, IV, da Lei nº 8.625/93.
434
Procuradorias de Justiça
5
MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Rio de Janeiro: Forense, 1965, v.
4. p. 220. Apud CRUZ, Rogério Shietti Machado. Atuação do Ministério Público no processamento
dos recursos.
435
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
436
Procuradorias de Justiça
Ainda que o Tribunal a quo, ao debater a questão federal, alegue fazê-lo de ofício,
não mencionando a argüição do prequestionamento da mesma matéria no parecer
ministerial, tal igualmente aproveitará ao Parquet, para fins de interposição de re-
curso excepcional.
Ressalto que, até mesmo para a oposição de embargos de declaração com objeti-
vo prequestionatório, faz-se necessário a prévio levantamento da matéria junto ao
Tribunal local por meio de razões, contra-razões ou de parecer recursal, sob pena
de ser considerado verdadeiro pós-questionamento, nos termos do julgamento pro-
ferido no REsp nº 31.257-SP, relatado pelo Eminente Ministro Humberto Gomes de
Barros, invocado no julgamento do Agravo de Instrumento nº 91.123-RS:
437
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
no processo.
Na hipótese, não haveria prequestionamento, mas pós-questio-
namento.
O direito processual brasileiro não admite embargos declara-
tórios para pós-questionar temas estranhos ao debate. (DJU
22/08/1994; DJU 26/09/1996, p. 35.988).
ANEXOS
BANCO DE DADOS
O banco de dados conta com trabalhos cedidos por Procuradores de Justiça, pos-
sibilitando a divulgação de novas idéias e a consolidação das mais antigas, bem
como o intercâmbio de informações entre os membros da Instituição.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
438
Procuradorias de Justiça
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.0145.04.187428-3/001
COMARCA: BELO HORIZONTE
RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
RECORRIDO: JESIEL DE SOUZA OLIVEIRA
OBJETO: RECURSO EXTRAORDINÁRIO, com fundamento no art. 102, III, “a” da
Constituição Federal
RELATÓRIO
DO PREQUESTIONAMENTO
439
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
440
Procuradorias de Justiça
Não obstante o zelo e a erudição da decisão colegiada, data venia, apresenta erro
de procedimento, conforme se demonstrará.
Também do Vogal:
441
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Com efeito, em respeito à soberania dos veredictos, não poderia o Tribunal de Jus-
tiça Mineiro, em grau recursal, a pretexto de corrigir uma injustiça (que no caso não
houve), ter reconhecido a absorção do crime de porte ilegal de arma de fogo pelo
crime de tentativa de homicídio qualificado. Agindo assim, o Tribunal das Alterosas
442
Procuradorias de Justiça
DO PEDIDO
Procurador de Justiça
AGRAVO DE INSTRUMENTO
443
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Procurador de Justiça
DOS FATOS
DA ADMISSIBILIDADE
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Procuradorias de Justiça
A respeitável decisão que não admitiu seguimento do Recurso Especial, data venia,
está a merecer reforma, porquanto o óbice apontado não existe. Vejamos:
[...]
Não obstante, para procederem ao julgamento dos recursos ex-
cepcionais, adotam as Cortes Superiores a moldura fática deli-
neada definitivamente pelo tribunal a quo, ou seja, partem das
conclusões acerca do arcabouço fático apurado no processo,
determinado de forma soberana na decisão guerreada, sem, en-
tretanto, discutir seu acerto, apenas analisando se foi correta a
interpretação das normas federais ou constitucionais aplicáveis
445
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
7
PANTUZZO, Giovanni Mansur Solha. Prática dos Recurso Especial e Extraordinário. 3 ed. Belo
Horizonte: Del Rey, 2004. p. 69
446
Procuradorias de Justiça
447
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Impende ressaltar que esse augusto Tribunal Constitucional já analisou, por deze-
nas de vezes, casos semelhantes, sem que isso importasse em exame de provas.
A propósito, peço venia para trazer à colação julgado em que essa augusta Corte
teve ensejo de apreciar caso envolvendo a análise do elemento subjetivo do agente
na fase de pronúncia e, diga-se de passagem, foi confirmada a decisão, para man-
ter a competência do Tribunal Popular.
Recurso em Sentido Estrito, que foi acompanhado pelos seus pares, ingressado em
análise valorativa do elemento anímico do agente, tarefa que lhe era vedada por
expressa disposição de lei, uma vez que na fase da pronúncia há apenas um juízo
de admissibilidade da acusação. E assim deve proceder para render ensanchas a
que Tribunal Popular tenha pleno conhecimento e possibilidade de apreciação do
mérito, notadamente porque, em sendo realmente culposa a conduta do agente,
poderá o Conselho de Sentença desclassificá-la, ao passo que, se desclassificada
na fase da pronúncia, o Júri terá subtraída a sua competência.
Com tais considerações, o Ministério Público de Minas Gerais requer seja o presen-
te Agravo de Instrumento recebido e encaminhado ao Colendo Superior Tribunal de
Justiça, para conhecê-lo e dar-lhe provimento. Pugna, ainda, pela aplicação do §
448
Procuradorias de Justiça
3º do art. 28 da Lei nº 8.038/90, uma vez que o presente agravo está instruído com
todos os documentos necessários para o julgamento do Recurso Especial.
Procurador de Justiça
Procurador de Justiça
Trata-se de medida cautelar, com pedido liminar, proposta pelos requerentes acima
mencionados, com o fito de obter efeito suspensivo nos recursos especial e extra-
ordinário por eles interposto contra o v. acórdão de fls. 285/290, que manteve suas
condenações nas seguintes penas: Eliseu como incurso nas sanções do art. 180,
caput, do CP, às penas definitivas de dois anos e seis meses de reclusão, regime-
aberto, e Luis Fabiano como incurso nas sanções do art. 155, § 4º, IV, do Código
Penal, às penas definitivas três anos de reclusão, regime semi-aberto, e 10 dias-
multa, no mínimo legal, sendo que lhe foram negados quaisquer benefícios.
449
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Ocorre, porém, que a jurisprudência dos Tribunais Superiores vem, em caráter ex-
cepcional, conferindo efeito suspensivo aos apelos extremos, desde que estejam
presentes os requisitos para a obtenção da cautelaridade. Ilustrativamente, colacio-
namos julgados nesse sentido:
Sobre a matéria, vem a calhar trazermos à colação excerto do voto proferido pelo
Ministro Felix Fischer no julgamento do HC nº 40.827, vejamos:
450
Procuradorias de Justiça
451
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Lecionando sobre o tema a doutrina mais abalizada assim manifesta sobre os pres-
supostos da medida cautelar:
CAPÍTULO VII
Impende considerar ainda que, da leitura detida das razões dos recursos especial
8
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 4 ed. São Paulo: RT, 2005. p.
964)
9
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria
Geral do Processo. 11 ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 317.
452
Procuradorias de Justiça
Procurador de Justiça
PARECER DE APELAÇÃO
Antônio Silva Meira de Oliveira e Ueberte de Oliveira Souza, com seus dados de
qualificação constantes dos autos foram denunciados como incursos nas penas do
art. 121 c/c o art. 14, II, ambos do Código Penal, e do art. 10 da Lei nº 9.437/97, acu-
sados pelo atentado contra a vida de Flávio Henrique da Silva, mediante disparos
de arma de fogo, fato ocorrido no dia 3 de agosto de 2001, por volta das 10h30min,
na Rua Arthur Trindade, Bairro Angola, Comarca de Betim.
453
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Diz ainda a exordial que o crime de homicídio somente não se consumou devido ao
fato de a vítima ter sido imediatamente socorrida e levada ao Hospital Regional de
Betim, onde recebeu atendimento médico.
Pugna também pela nulidade da r. sentença condenatória, por ter sido ela prolatada
contrariamente à lei, uma vez que teria o MM. Juiz de Direito admitido à figura do
homicídio culposo tentado, inexistente em nosso ordenamento jurídico.
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Procuradorias de Justiça
No mérito, pelo que se extrai das razões de recurso, a pretensão do Ministério Pú-
blico centra-se na argüição de que o acatamento da tese do excesso culposo na
legítima defesa representa decisão manifestamente contrária à prova dos autos.
Finalmente quanto ao mérito, como pedido alternativo, busca a reforma da r. sen-
tença, sustentando ser incabível o benefício do sursis, tendo em vista que o crime
foi cometido com violência contra a pessoa.
O apelo mereceu a devida contrariedade pela ilustre defesa do acusado, que requer
o seu desprovimento.
É o relatório do essencial.
455
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Portanto, se o agente conduziu-se com vontade e direcionou sua conduta para al-
cançar o fim visado – atentou contra a vida do semelhante – não se pode admitir a
tentativa culposa, principalmente porque na tentativa, pela própria definição legal,
circunstâncias diversas impedem a consumação do ato idealizado pelo autor. De
456
Procuradorias de Justiça
outro lado, no crime culposo o agente não atua com vontade de produzir o evento,
inexistindo a possibilidade de interrupção do iter criminis. Enfim, no crime culposo,
não há o percurso do iter criminis de forma incompleta: ou o agente produz o resul-
tado por imprudência, negligência ou imperícia ou não o produz, resultando, nesse
último caso, a atipicidade da conduta por inexistência do elemento normativo do
tipo.
O caso dos autos não se refere à hipótese de tentativa culposa de homicídio, mas
sim ao reconhecimento de que houve excesso no uso dos meios empregados pelo
agente quando se viu em situação de legítima defesa. O acusado, pelo que disse
o Conselho de Sentença, agiu finalisticamente com o escopo de defender-se licita-
mente, mas se excedeu nos limites da causa de exclusão da ilicitude. A culpa reco-
nhecida não é elementar do tipo delituoso, mas conseqüência do descumprimento
do dever de cuidado quando do excesso na legítima defesa. Desse modo, pune-se
o acusado com a pena do crime culposo, decorrente do excesso.
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
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Procuradorias de Justiça
No mérito, entendo que assiste razão ao douto Promotor de Justiça que subscreve
as razões recursais.
O que restou apurado é que a vítima encontrava-se em fuga do local e foi persegui-
da pelo executor, o qual, valendo-se da arma de fogo, endereçou-lhe cinco dispa-
ros, dos quais um a atingiu em região letal.
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Ademais, a ação desenvolvida pelo acusado em repulsa a uma agressão finda não
se apresentou comedida. Nesse sentido, vê-se que, estando a vítima em fuga e ten-
do desaparecido a situação de perigo inicialmente existente, o emprego da arma de
fogo, além de constituir meio desnecessário, ocorreu sem a exigível moderação, le-
vando-se em consideração que foram cinco os disparos endereçados ao ofendido.
O que se verifica, portanto, é que o réu repeliu agressão finda e efetuou cinco dispa-
ros contra uma pessoa que estava em fuga do local, resultando evidente, portanto,
a falta de comedimento na repulsa da agressão que alega ter sofrido e a flagrante
desproporção entre a agressão e a reação exercitada.
Resulta evidente, ademais, que se excesso houve ele foi de natureza dolosa, pois
emerge evidente da análise do iter criminis percorrido que o réu perseguiu o fim de
matar o ofendido, agindo com consciência e vontade, dirigindo sua ação delituosa
à produção do evento letal. Ora, nessas condições, como se admitir que o excesso
tenha decorrido de mera ação culposa, por inobservância do dever objetivo de cui-
460
Procuradorias de Justiça
Julgando caso análogo ao dos autos, o Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul
enfatizou:
Assim sendo, tenho que a decisão, como foi ditada, encontra-se totalmente divor-
ciada da prova emergente, razão pela qual deve ser cassada por essa Superior
Instância, determinando-se a submissão do acusado a novo julgamento popular.
Por fim, quanto à pena aplicada, entendo ser cabível a concessão do benefício do
sursis.
O art. 77 do Código Penal não veda a concessão do sursis nas hipóteses de crimes
cometidos mediante violência ou grave ameaça à pessoa. Somente seria vedada a
concessão da substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos
na forma do que preconiza o art. 44 do Código Penal.
CAPÍTULO VII
77, III, do Código Penal.
Procurador de Justiça
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
RECURSO ESPECIAL
PROCURADOR DE JUSTIÇA
Processo n° 10188.05.030945-2/001
Recorrente: Ministério Público do Estado de Minas Gerais
Recorridos: Ronei da Silva Domingos
Valdir Silva Filho
RELATÓRIO
CAPÍTULO VII
RSD, JMN e VSF foram denunciados perante o Juízo de Direito da Vara Criminal de
Nova Lima como incursos nas penas do art. 157, § 3° e do art. 288, parágrafo único,
combinados com o art. 69, caput, todos do CP.
462
Procuradorias de Justiça
Emiti parecer às fls. 500 a 512, em que opinei pelo conhecimento dos recursos e
provimento parcial dos mesmos, apenas para ser aplicado o concurso formal aos
ilícitos.
a) O recurso é interposto com fulcro no art. 105, inciso III, alínea “a” da Constituição
Federal, na espécie “contrariar lei federal e negar-lhe vigência”.
Ao comentar esta espécie, do inciso III, letra “a”, do art. 105, da Constituição Fede- CAPÍTULO VII
ral, escreveu o Prof. José Carlos Barbosa Moreira:
463
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
No caso dos autos, antecipa-se, está-se a alegar que o acórdão recorrido contrariou
o disposto no art. 157, § 3°, do CP, que se transcreve:
464
Procuradorias de Justiça
Transcreve-se trecho de Ronaldo Cunha Campos, no início dos seus limites Objeti-
vos da Coisa Julgada:
E para fins de conhecimento de recurso especial, para ir a passo largo, esta questão
deve ter se formado nos autos tendo em conta texto expresso de lei federal, ou seja,
um ou mais artigos de lei.
É o momento, pois, de transcrever a questão que se faz objeto deste recurso, qual
seja: o acórdão recorrido entendeu que a morte da vítima VFMC, em decorrência
do acidente do automóvel - conduzido pelo acusado V -, durante o curso do assalto
praticado pelos imputados, não configura a violência própria do latrocínio, tipificado
no § 3°, do art. 157, do CP.
Ressalte-se que argumentei em meu parecer à fl. 505 ser irrelevante que o resul-
tado morte tenha se dado com dolo eventual ou culpa dos agentes, porquanto ao
latrocínio basta que o tal desfecho ocorra, ainda que não tenha sido desejado pelos
meliantes, citando repositórios, e que a matéria foi analisada pelo Tribunal Estadual, CAPÍTULO VII
o qual, inclusive, citou expressamente o dispositivo legal supramencionado em sua
fundamentação, restando, destarte, prequestionado o tema.
RAZÃO DE RECORRER
Tendo em vista que a violência do roubo perdura enquanto a vítima, tomada como
refém, não for libertada, a morte da mesma em virtude de acidente de automóvel
dirigido por um dos agentes, quando todos trafegavam no veículo, configura latro-
cínio, porquanto o evento decorreu da conduta dos meliantes e verificou-se no iter
criminis do assalto.
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
466
Procuradorias de Justiça
Por fim, esse Augusto Superior Tribunal de Justiça possui entendimento pacífico no
sentido de que o resultado morte no latrocínio, pode ser imputado na forma de dolo
ou culpa.
467
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
gal.
VI. Não se aplica a continuidade delitiva entre os crimes de rou-
bo e latrocínio, eis que, apesar de serem do mesmo gênero,
não são da mesma espécie, pois possuem elementos objetivos
e subjetivos distintos, não havendo, portanto, homogeneidade
de execução. Precedentes desta Corte e do STF.
VII. No delito de roubo, a objetividade jurídica do tipo penal é o
patrimônio, ao passo que, no delito de latrocínio, por sua vez,
buscar-se proteger, além do patrimônio, a vida da vítima, incidin-
do a regra do concurso material. Precedentes.
VIII. Ordem denegada. (STJ, HABEAS CORPUS Nº 37.583 - SP
(2004/0113175-4) RELATOR: MINISTRO GILSON DIPP) (ínte-
gra do acórdão anexa)
Frise-se, finalmente, que não estamos aqui tencionando com o presente recurso
revolver a prova dos autos, o que, como é cediço, encontra óbice na jurisprudência
sumulada desta Egrégia Corte (Súmula nº 7), haja vista que os fatos narrados nas
presentes razões encontram-se delineados no acórdão vergastado, não carecendo
nenhuma análise de prova. O que se pretende, é a correta aplicação do direito ao
caso concreto, o que é perfeitamente viável em sede de recurso especial.
CONCLUSÃO
Ex positis, espera o Ministério Público do Estado de Minas Gerais que seja admitido
e provido o presente recurso, para que seja restabelecida a vigência do art. 157, §
3º, do CP.
PANTUZZO, Giovanni Mansur Solha. Prática dos Recurso Especial e Extraordinário. 3 ed. Belo
10
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Procuradorias de Justiça
PROCURADOR DE JUSTIÇA
REXT E Resp.
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”, assim diz
o caput do art. 5º da Constituição Federal. O princípio, por certo, busca minorar, ao
menos no plano da ideação, as grandes diferenças e desigualdades sociais exis-
tentes no País.
Não obstante, o texto constitucional prevê que certas autoridades públicas, como,
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11
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. p. 246
12
Editada em 03/04/1964.
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13
ADI nº 2797.
14
Vide estadao.com.br/nacional/not_nac142425,0.htm. Última consulta: 18/04/2008.
15§
1º do art. 125, CF/88.
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O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, por meio de suas cinco Câmaras
Criminais, tem competência para processar e julgar os Prefeitos Municipais nos
crimes comuns, inclusive aqueles afetos aos juizados especiais, e nos chamados
crimes de responsabilidade, previstos no Decreto-Lei nº 201/67. Não é competente,
no entanto, para processar e julgar os referidos agentes políticos nas hipóteses de
crimes eleitorais, militares e aqueles afetos à Justiça Federal comum16.
Regionais Federais julgar Prefeito por desvio de verba federal de natureza volun-
tária,17 destinada à aquisição de bens ou à prestação de serviços públicos ou de
interesse da sociedade, sujeita à fiscalização de órgão federal.
16
Nesses casos, os Prefeitos serão julgados pelo Tribunal Regional Eleitoral, Tribunal de Justiça Militar
e Tribunal Regional Federal, respectivamente.
17
LRF – “Art. 25 - Para efeito desta Lei Complementar, entende-se por transferência voluntária a entrega
de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou as-
sistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema
Único de Saúde”.
472
Procuradorias de Justiça
Porém, ao que tudo indica, a fiscalização de tais recursos, que está a repercutir na
definição da competência jurisdicional, permanecerá inalterada.
Em Minas Gerais, o FUNDEF era formado por recursos originários dos Governos
Estadual e Municipais (15% do Fundo de Participação do Estado e dos Municípios
– FPE e FPM, do ICMS e do IPIEXP, de que trata a Lei Complementar nº 87/96), não
havendo, destarte, nenhum aporte de recursos da União a título de complementa-
ção, de acordo com o disposto no art. 6º da Lei Federal nº 9.424/96. CAPÍTULO VII
O texto legal supracitado, em seu art. 11, previa o controle do Tribunal de Contas da
18
Dessa divisão – transferências obrigatórias ou voluntárias – “o que resulta é uma dicotomia no Controle
Externo dos Recursos que passam pelo Caixa da União. Os valores repassados a título voluntário devem
ter suas contas prestadas e aprovadas pelo Congresso Nacional após parecer prévio e obrigatório do
Tribunal de Contas da União nos termos do art. 71, VI da CF/88. Já os valores repassados a título ob-
rigatório ingressam nas contas dos municípios como Transferência Corrente de Cota Parte de Impostos,
ou seja, estas Receitas são desvinculadas e versam à custeio geral do Ente com fulcro no anexo 3, item
1.4, da Lei nº 4320/64. Dessarte, e obedecendo o comando do art. 31, § 2º da CF/88 que determina que
os Prefeitos prestem conta anualmente à Câmara Municipal com parecer prévio do Tribunal de Contas do
Estado” (in A competência criminal do Prefeito Municipal por desvio de verbas federais, de Rafael Jayme
Tanure, Advogado Militante em Belo Horizonte/MG, Especialista em Controle Externo. Disponível em:
timjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=126. Acesso em 17/04/08).
473
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
474
Procuradorias de Justiça
Não bastasse isso, a fim de espancar qualquer dúvida sobre o tema, o nosso po-
sicionamento foi reafirmado pela Medida Provisória nº 339, de 28 de dezembro de
2006, convertida na Lei Federal nº 11.494/07, que regulamenta o art. 60 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias. Senão, vejamos.
Destarte, por força do disposto nos arts. 29, inciso X, 70, 71, inciso VI, e 109, inciso
I, todos da nossa Carta Magna, bem como da legislação infraconstitucional retro-
mencionada, e até por uma questão de simetria, há de prevalecer o entendimento
de que compete à Justiça Estadual apreciar e julgar os fatos delituosos relaciona-
dos à aplicação irregular dos recursos do FUNDEB.
Não podemos deixar de consignar, entretanto, que há decisões que tentam restabe-
475
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Outrossim, a teor do que dispõe a Súmula nº 209, competiria aos Tribunais de Justi-
ça Estaduais julgar Prefeito por desvio de verba federal já transferida e incorporada
ao patrimônio ou receita municipal.
476
Procuradorias de Justiça
de Processo Penal.
Considerando que uma ação penal intentada contra um chefe do Poder Executivo
pode tramitar por período superior ao de um mandato ou dois subseqüentes, dú-
vidas podem surgir sobre o procedimento a ser adotado pelo Órgão do Ministério
Público e pelo próprio Magistrado ao receberem os autos da Instância Superior.
477
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
der Executivo, era detentor do direito ao foro por prerrogativa de função. O mesmo
ocorrerá no sentido inverso, isto é, se o agente político perder o cargo durante a
tramitação da ação penal. Nada impede, no entanto, que o Magistrado, a seu talan-
te, realize novo interrogatório19.
19
Art. 196 do CPP.
478
Procuradorias de Justiça
Se, por um lado, o julgamento do mesmo fato delituoso por órgãos jurisdicionais dis-
tintos pode ensejar, decisões contraditórias – v.g., o Tribunal de Justiça reconhece
a existência do homicídio e condena o denunciado Prefeito, enquanto o júri nega a
ocorrência do episódio criminoso quanto aos co-réus –, por outro, não se pode per-
der de vista que o preceito constitucional que estabelece a competência do Tribunal
do Júri para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida e aquele que prevê o
foro por prerrogativa de função para os Chefes do Executivo possuem a mesma
hierarquia e, como tal, devem ser respeitados.
20
Art. 5º, XXXVIII, “d”, CF/88.
21
Art. 29, X, CF/88.
22
Art. 21, II, do Regimento Interno do Tribunal de Justiça.
479
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480
Procuradorias de Justiça
23
STF. HC nº 70581-2. Alagoas. Rel. Ministro Marco Aurélio. j 21/09/1993. DJ 29/10/1993.
24
STJ. HC nº 36.844. MA (2004/0100656-7). Rel. Ministra Laurita Vaz.
481
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Em seu voto, o Ministro Relator fez alusão à decisão proferida pelo Supremo Tribu-
nal Federal, no Habeas Corpus nº 83.583/PE, da relatoria da Ministra Ellen Gracie,
cuja ementa tem o seguinte teor:
482
Procuradorias de Justiça
Muito embora a questão pareça simples, temos observado que, em alguns casos,
Juízes e Promotores de Justiça têm encontrado alguma dificuldade para estabele-
cer a competência para julgamento de crimes previstos no Código Penal e na legis-
lação extravagante, quando há concurso de pessoas, sendo uma dessa detentora
de foro privilegiado. Oportunidades houve em que o Ministério Público ofereceu
denúncia contra os co-réus que não detinham o privilégio, narrou na citada peça a
participação do Alcaide, não o incluiu na imputação e postulou a remessa de cópia
dos autos a PJCCAP para ajuizamento de outra ação penal contra o Prefeito.
26
Art. 29, X, CF/88.
27
Arts. 78, III, e 79, CPP.
483
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
484
Procuradorias de Justiça
gativa de função.
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Das decisões que recebem ou rejeitam a denúncia, assim como das condenatórias
e absolutórias, são cabíveis embargos de declaração e recursos especial e extra-
CAPÍTULO VII
36
Arts, 4º e 5º da Lei nº 8.038/90.
37
Art. 23, I, “a”, do Regimento Interno do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
38
Art. 2º e parágrafo único, Lei nº 8.038/90.
39
Art. 9º, § 1º, Lei nº 8.038/90.
486
Procuradorias de Justiça
O exercício da ação penal pública foi conferido ao Ministério Público de forma ex-
clusiva. Dessa maneira, quando vislumbrar suficientes indícios de autoria e prova
da materialidade, é obrigado a oferecer a denúncia. Para conferir justa causa à
ação penal, o Ministério Público utiliza-se, sobretudo do inquérito policial. Contudo,
atenta ao Código de Processo Penal (arts. 12, 27, 39, § 5º, e 46, § 1º), a doutrina
sempre se referiu ao inquérito como um instrumento facultativo e dispensável43 para
o exercício, pelo dominus litis, do seu direito de ação44. E a essa linha aderiu a juris-
40
MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal. 4 ed., São Paulo: Atlas, 1995, n. 3.1.2, p. 77, e Código
de Processo Penal Interpretado, 2 ed., São Paulo: Atlas, 1995, nota 4.4 ao art. 4º, p. 36; DOTTI, René
CAPÍTULO VII
Ariel. O Ministério Público. ob. cit., p. 130; LIMA, Marcelo Polastri. Ministério Público e Persecução
Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 1997, p. 84-92; DEMERCIAN, Pedro Henrique; MALULY, Jorge As-
saf. Curso de Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2001, 2 ed., p. 104-108; NOGUEIRA, Carlos Frederico
Coelho. Comentários ao Código de Processo Penal, Bauru, Edipro, 2002, v. 1, p. 179-185.
41
Cf., v.g., STF, 2ª Turma, HC nº 77.371-3/SP, rel. Min. NELSON JOBIM, DJ 23/10/98; STF, RHC nº
37.053, rel. Min. NELSON HUNGRIA, RF 197/298; STJ, 5ª Turma, RHC 3.457-2/SP, j. em 18/04/94,
Rel. Min. FLÁQUER SCARTEZZINI; STJ, 6ª Turma, RESP nº 223.395/RJ, rel. Min. FERNANDO GON-
ÇALVES, DJ 12/11/2001, p. 176; STJ, 5ª Turma, HC nº 7.445/RJ, 5ª Turma, rel. Min. GILSON DIPP,
DJ 01/02/99; STJ, 5ª Turma, HC nº 10.275/PB; TJRS, Câmara de Férias, HC 690000351, j. 4.1.90, RT
651/314-321; TARS, JTAERGS 79/128.
42
Cf. O controle externo da atividade policia. São Paulo: Revista dos Tribunais v. 664, p. 392; também,
do mesmo autor, Regime Jurídico do Ministério Público. 2 ed., São Paulo: Saraiva, 1995, p. 228
43
O inquérito policial e o termo circunstanciado nas infrações penais de menor potencial ofensivo são
apenas obrigatórios para a autoridade policial.
44
Cf. TOURINHO FILHO, FERNANDO DA COSTA. Processo Penal. 6 ed., São Paulo: Saraiva, 1982,
p. 175-176; JOSÉ FREDERICO MARQUES – Elementos..., cit., v. I, 76 e 79, p. 143 e 146-147; TOR-
NAGHI, HÉLIO. cit., p. 138; ESPINOLA FILHO, EDUARDO. Código de Processo Penal Brasileiro
Anotado. Rio de Janeiro: Rio, 1980, v. 1, n. 37, p. 246-248.
487
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
45
Cf. v.g, RTJ 76/741 e 64/343; também HC 41.205, Pleno, j. em 10/3/65, Rel. Min. VICTOR NUNES;
RHC 58.644, j. em 10/3/81, Rel. Min. MOREIRA ALVES, DJU de 22/5/81, pág. 4.736, RTJ 101/571; RHC
58.743, j. em 10/3/81, Rel. Min. MOREIRA ALVES, DJU de 8/5/81, p. 4.117, RTJ 101/580; RHC 62.300-
RJ, j. em 13/12/84, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO, j. em 13/12/84, DJU de 15/3/85, p. 3.137.
46
cf. O Monopólio da Ação Penal Pública, tese de doutorado da Faculdade de Direito da Pontifícia Uni-
versidade Católica de São Paulo, sob a orientação do Prof. Hermínio Alberto Marques Porto, Biblioteca
da Pontifícia Universidade Católica, 2001.
47
Cf. FERNANDES, Antônio Scarance. Constituição da República. Código de Processo Penal e sua
reforma. In Justiça penal: críticas e sugestões. São Paulo: Centro de Extensão Universitária - RT, 1984.
p. 63; MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal, cit., p. 77; GRECO FILHO, Vicente. Manual de Pro-
cesso Penal. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 82.
48
Cf. Elementos, ob. Cit., v. 1, p. 140.
488
Procuradorias de Justiça
CAPÍTULO VII
Como órgão de promoção e fiscalização da lei, como parte ins-
trumental que promove a ação penal ou civil, que requisita os
elementos de investigação e quaisquer diligências para a desco-
berta da verdade material, o Ministério Público é uma das instân-
cias formais de controle da criminalidade e da violência. A sua
posição foi posta em destaque com muita clareza por Sessar,
lembrando que se a vítima é a instância mais importante no que
toca à iniciativa e controle do delito, o Ministério Público é, segu-
ramente, a mais relevante no que toca ao seu desfecho.
Não é por outro motivo que a Constituição Federal, em seu art. 127, definiu o Mi-
nistério Público como uma instituição essencial à função jurisdicional do Estado,
49
Curso de Direito Constitucional Positivo. 6 ed., São Paulo: RT, 1990, p. 650; sem destaque no
original
50
cf. O Ministério Público ob. cit., p. 138.
489
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Na mesma linha, o art. 129, inciso II, da Carta Magna também atribuiu à Institui-
ção Ministerial o zelo pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços
de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as
medidas necessárias a sua garantia. A compatibilidade do exercício da atividade
investigatória com as funções institucionais do Ministério Público pode ser verifi-
cada também pelo disposto no art. 129, inciso IX, que confiou a essa Instituição o
exercício de outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com
sua finalidade.
Sendo assim, não se pode subtrair do Ministério Público seu dever, como órgão
incumbido de defender a sociedade, de agir em prol da segurança pública, cumprin-
do-lhe, pois, atentar para a prevenção da criminalidade, em defesa de um direito
fundamental assegurado a todos pela Constituição.
A Carta Política, em seu art. 129, inciso VI, confere ainda ao Ministério Público o
poder de expedir notificações e proceder a requisições de informações e docu-
mentos nas investigações que diretamente realizar, tanto na área cível como na
criminal. Esse dispositivo constitucional, dessa forma, assegura a possibilidade de
instauração de procedimentos administrativos próprios para a coleta de elementos
de convicção para a formação da opinio delicti. Sobre o tema, Hugo Nigro Mazzilli51
ressalta:
51
MAZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público. 2 ed. São Paulo: Saraiva,1995, p.
228; NOGUEIRA, Carlos Frederico Coelho. Comentários ao Código de Processo Penal. v. 1. Bauru:
Edipro. p. 181.
490
Procuradorias de Justiça
Ora, é por demais evidente que, nessa etapa preparatória da persecutio criminis,
não vige a obrigatoriedade de observância dos princípios constitucionais referidos
no art. 5º, LV, da Constituição Federal, garantias dos acusados nos processos ju-
diciais e administrativos, sendo apenas informativa a finalidade daqueles procedi-
mentos.
Assim, orientado pelo comando do art. 129, inciso VI, da Constituição Federal, o art.
26, inciso I, letras “a” e “b”, da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público) prevê a expedição de notificações para colher depoimentos ou esclareci-
mentos, bem como a requisição de informações, exames periciais e documentos de
autoridades e órgãos públicos. CAPÍTULO VII
491
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Com efeito, após deflagrado o procedimento investigatório, muito embora o art. 129,
inciso VIII, da Constituição Federal não faça expressa menção à possibilidade de
que o Ministério Público apresente e produza provas, tem-se que os dispositivos
legais supra-referidos não afrontam a Magna Carta, ao contrário integram e com-
plementam o comando constitucional, visto que se afiguram conseqüência natural
do próprio poder de requisição do inquérito policial.
53
DE CASTILHO, Ela Wiecko V. Investigação Criminal pelo Ministério Público. Boletim dos Procura-
dores da República. n. 11, ano I, março 99, p. 4.
492
Procuradorias de Justiça
54
SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na Investigação Criminal. São Paulo: Edipro. 2001. p.
60.
493
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Aliás, o art. 4º, parágrafo único, do Código de Processo Penal, recepcionado pela
Constituição da República, já previa a possibilidade de investigação também por
outras autoridades administrativas, emparelhando à investigação policial outras re-
alizadas em diversas esferas.
A Constituição, em seu art. 144, na única alusão que faz ao termo exclusividade
(inciso IV do § 1º), tão-somente pretendeu afastar a superposição de atribuições
entre a Polícia Federal e as Polícias Rodoviária e Ferroviária – também vinculadas
à União, mas que têm funções de simples patrulhamento ostensivo das rodovias
e ferrovias federais, respectivamente –, bem como entre a Polícia Federal (pro-
55
Ibidem, p. 64.
494
Procuradorias de Justiça
priamente dita) e as Polícias Civis dos Estados, impedindo que haja a invasão das
respectivas esferas de atuação.
Com efeito, a destinação específica da Polícia Federal e das polícias civis na apura-
ção de crimes e exercício de Polícia Judiciária não quer dizer que as demais polícias
não possam investigar, porque o objetivo estatal é o exercício da segurança pública,
que pressupõe a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio (art. 144, caput, CF/88). No trabalho ostensivo é visível a atividade
de investigação para a detecção da preparação ou início da execução de crime e
para sua imediata repressão, que se encaixa no exercício de atividade de apuração
de crimes. As atividades de prevenção, repressão e investigação são interligadas,
e a busca do interesse público exige que todas exerçam essas funções; a posição
restritiva afrontaria a finalidade de prestação de segurança pública integral pelo
Estado (art. 144, caput, CF/88) e de forma eficiente (art. 37, caput, CF/88). O inte-
resse social deve sobrepor-se ao interesse corporativo de algumas das polícias de
monopolizarem determinadas atividades.
495
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
496
Procuradorias de Justiça
penal foi analisado por René Ariel Dotti,56 com a sua notória percuciência:
Com a mesma orientação, Hélio Pereira Bicudo57 assevera que, no sistema pelo
qual o Ministério Público limita-se a iniciar a ação penal, esta Instituição perde a
dimensão que deve ter, em detrimento do bom funcionamento de todo o aparelha-
mento judiciário. Esclarece o eminente jurista:
497
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
É evidente que não pretende o Parquet tomar para si a tarefa exercida pelas polí-
cias, ou, como dizem alguns, assumir a presidência de inquéritos policiais no lugar
dos delegados, o que se caracterizaria como rematado absurdo. Seria reivindicar
para o Ministério Público a exclusividade que não se quer admitir seja conferida a
qualquer outro órgão.
Muito embora não seja nova a testilha em torno dos poderes de investigação do
Parquet, as constantes investidas questionando a constitucionalidade das normas
de organização do Ministério Público que contemplam a possibilidade de coleta
direta dos elementos necessários à formação da opinio delicti, através de procedi-
mentos administrativos investigatórios, vêm evidenciando aspectos dessa proble-
mática, tornando, pois, imperiosa e oportuna a discussão do tema.
498
Procuradorias de Justiça
Com efeito, as não raras impugnações propostas perante o Supremo Tribunal Fe-
deral, somadas aos oscilantes e casuísticos julgados que assentam na Polícia Judi-
ciária a exclusividade da atividade investigatória, negando-a ao Ministério Público,
estão a exigir, de nossa parte, algumas considerações sobre a interpretação da
legislação infraconstitucioal e constitucinal que estão a conferir à Instituição prerro-
gativas para a colheita de provas em matéria penal.
Confiram:
499
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
500
Procuradorias de Justiça
CAPÍTULO VII
A atividade de investigação é consentânea com a finalidade
constitucional do Ministério Público (art. 129, inciso IX, da Cons-
tituição Federal), vez que cabe a este exercer, inclusive, o con-
trole externo da atividade policial.
A interpretação sistêmica da Constituição e a aplicação dos po-
deres implícitos do Ministério Público conduzem à preservação
dos poderes investigatórios do MP, independentemente da in-
vestigação policial.
Segundo preceituam os arts. 127 e 129 da Constituição Fede-
ral, o Parquet que tem a seu cargo a “defesa da ordem jurídica
e do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis”, exerce “o controle externo da atividade policial,
incumbindo-lhe ainda requisitar diligências investigatórias e ins-
tauração do inquérito policial, bem como outras punições (sic)
que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com a sua fi-
nalidade”.
59
HC 38581/MG, 5ª Turma do E. STF, relatado pelo Ministro GILSON DIPP, j. em 14/12/2004, DJ
21/02/2005, p. 202.
501
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
B.3 – Lei Maior – exegese dos incisos. I, II, VI, VII, VIII e IX do art. 129 e arts.
127 e 144, todos da Constituição Federal
- exercício de outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com
sua finalidade (art. 129, inc. IX).
Pois bem, o art. 144 da Lei Maior, tantas vezes invocado por aqueles que advogam
a tese de que a investigação de ilícitos seria exclusiva da Polícia Civil, estabelece
ser a segurança pública dever do Estado. O inc. II do art. 129 da Lei Fundamental
afirma ser função institucional do Ministério Público zelar pelos serviços de relevân-
cia pública, entre os quais se inclui, por certo, o próprio gênero segurança pública,
502
Procuradorias de Justiça
Demais disso, o art. 127 da Constituição Federal definiu o Ministério Público como
uma instituição essencial à função jurisdicional do Estado, impondo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis.
De fato, na medida em que o inc. III do art. 129 da Constituição Federal estabelece
ser função institucional do Ministério Público a promoção do inquérito civil e a ação
civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de
outros interesses difusos e coletivos e, logo abaixo, no inc. VI, o mesmo legislador
constituinte atribui à Instituição a função de expedir notificações nos procedimentos CAPÍTULO VII
administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para
instruí-los, na forma da lei complementar respectiva, é de se concluir – mormente
porque constitui princípio basilar de hermenêutica que a lei não contém expressões
inúteis – que esse último inciso está a possibilitar a instauração de procedimentos
administrativos de outra natureza que não os já possibilitados pelo inciso VI, nota-
damente para apuração de ilícitos penais.
60
STF - HC 83.157, Min. JOAQUIM BARBOSA DO COLENDO. J. 01/07/03.
61
MAZZILLI, Hugo Nigro. O controle externo da atividade policial. São Paulo: Revista dos Tribunais.
v. 664, p. 392. Também do mesmo autor: Regime jurídico do Ministério Público. 2. ed., São Paulo:
Saraiva, 1995, p. 228.
503
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Essa idéia fica reforçada com a análise dos incisos I e IX do art. 129 da Constituição
Federal. O primeiro (inc. I) conferindo ao Ministério Público, de forma exclusiva, a
titularidade da ação penal, e o outro (inc. IX) possibilitando o exercício de outras
funções, desde que compatíveis com sua finalidade.
Oriunda das teses federalistas dos Estados Unidos da América, a teoria dos pode-
62
MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime jurídico do Ministério Público. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p.
228. NOGUEIRA, op. cit., p. 181.
63
Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 6 ed., São Paulo: Saraiva, 1982, p.
175-176; MARQUES, José Frederico – Elementos..., cit., v. I, 76 e 79, p. 143 e 146-147; TORNAGHI,
Hélio. cit., p. 138; ESPINOLA FILHO, Eduardo. Código de Processo Penal Brasileiro Anotado. Rio de
Janeiro: Rio, 1980, v. 1, n. 37, p. 246-248.
504
Procuradorias de Justiça
Dessa doutrina decorrem duas premissas de fácil compreensão, quais sejam, quem
pode o mais, pode o menos e onde se pretende o fim se autorizam os meios.
Ora, não seria mesmo de nenhuma razoabilidade que o legislador constituinte con-
ferisse ao Ministério Público a função institucional de promover privativamente a
ação penal pública (inc. I do art. 129 da CF/88) e não reconhecesse, se não ex-
plicitamente – como sustentamos –, ao menos implicitamente, a possibilidade de
amplamente desenvolver procedimentos administrativos investigatórios.
A tese encampada por aqueles que não querem ver o Ministério Público investigan-
do é velha e está na contramão da melhor interpretação jurisprudencial.
Confiram:
505
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nem se argumente que não seria dado ao Ministério Público investigar matéria pe-
nal, pois tal função seria exercida pelas Polícias Civis. Veja-se:
65
STJ, HC 10725/PB, relator Ministro Gilson Dipp.
66
TFR/4ª Reg. , HC nº 97.04.26750-9-PR, Rel. Juiz Fábio Bittencourt da Rosa, 1ª T., v.u., julg. em
24/06/97, DJU de 16.07.97.
67
HC nº 24493/MG, 6ª Turma, relatado pelo Ministro HAMILTON CARVALHIDO, j. em 23/09/2003, DJ
17/11/2003, p. 383, RSTJ v. 179 p. 516.
506
Procuradorias de Justiça
Entre os diversos órgãos que o Estado mantém para propiciar segurança pública,
limitou-se o artigo em estudo a indicar qual deles tem a incumbência específica de
investigar as infrações penais e de exercer a polícia judiciária. Daí não se pode ex-
68
RBCCrim 46-2004, p. 371/389, MARCELLUS POLASTRI LIMA.
507
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
trair a exclusividade para o seu exercício. A exegese da norma deve ser feita dentro
do contexto em que foi criada, ou seja, sistematicamente e em harmonia com os
demais princípios constitucionais.
Observe-se que o caput do art. 144 em análise estabelece ser dever do Estado, di-
reito e responsabilidade de todos a prestação da segurança pública, o que alicerça
a tese de que a segurança pública não é só repressão e não é problema apenas de
polícia, pois a Constituição acolheu a concepção do I Ciclo de Estudos sobre Segu-
rança, segundo a qual é preciso que a questão da segurança seja discutida e assu-
mida como tarefa e responsabilidade permanente de todos, Estado e população.69
69
SILVA, José Afonso, in Curso de Direito Constitucional Positivo. 12 ed. São Paulo: Malheiros, p.
711.
70
SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. São Paulo: Edipro, 2001. p.
60.
508
Procuradorias de Justiça
Ainda que assim não fosse, o argumento restritivo, assentado basicamente na inter-
pretação literal do dispositivo em estudo, igualmente não autoriza a compreensão
de que caberia exclusivamente à Polícia Civil o desenvolvimento de investigações
penais, porquanto o inc. IV do art. 144 da CF/88 estabelece ser destinação exclu-
siva da Polícia Federal exercer as funções de polícia judiciária da União, enquanto
que o § 4º do artigo em estudo – agora tratando das Polícias Civis –, assevera que
a estas incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judi-
ciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
Observe-se que a conjunção aditiva “e” está a indicar que às Polícias Civis cabe,
ressalvada a competência da União, as funções exclusivas de polícia judiciária e
a apuração de infrações penais, exceto as militares, restando cristalino que a ex- CAPÍTULO VII
clusividade iteralmente está circunscrita às funções de polícia judiciária, e não à
apuração de infrações penais.
Assim, por todo exposto, conclui-se que cumpre ao Ministério Público a tarefa que
lhe foi constitucionalmente confiada de não só fiscalizar as atividades da Polícia
Judiciária, no curso da investigação policial, mas também promover as medidas ne-
cessárias para a diminuição da criminalidade, aprimorando a apuração da infração
penal e especialmente atuando de modo a reprimir as irregularidades ou abusos
cometidos por agentes policiais.
71
ALE SANDRO TEIXEIRA DA CRUZ. Promotor de Justiça no Estado de Santa Catarina. in Revista
Jurídica Consulex. Ano VII, n. 159 – 31/08/2003.
509
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Restou, pois, reafirmada a legitimação dos Atos Institucionais pretéritos, agora por
ato emanado do Poder Executivo Federal, que, autorizado a legislar sobre todas as
matérias, conforme disposto no § 1º do art. 2º do Ato Institucional nº 5, de 13 de de-
zembro de 1968, tomou a posição de verdadeiro poder constituinte originário diante
da situação de recesso parlamentar.
510
Procuradorias de Justiça
Portanto, mostra-se absolutamente impróprio afirmar que o art. 181, da CF/69 não
se aplica às possíveis ilegalidades cometidas durante o golpe militar de 1964, ten-
do em vista que, por motivos óbvios, atos já constitucionais não necessitariam ser
reconhecidos como tais, o que significa dizer que a legitimação trazida pelo citado
dispositivo refere-se às inconstitucionalidades anteriormente cometidas.
511
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
512
Procuradorias de Justiça
A propósito, a própria lei que disciplina a ação civil pública (Lei nº 7.347, de 24 de CAPÍTULO VII
julho de 1985) dispõe, em seu art. 5º, § 1º, que “O Ministério Público, se não inter-
vier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei”. Ou seja,
proposta a ação civil pública pelo Ministério Público, nela não oficiará outro órgão
de execução como custos legis.
72
MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. A Intervenção do Ministério Público no Processo Civil
Brasileiro. São Paulo: Saraiva. p. 598.
73
MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. p. 189
513
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Isso porque ser parte não significa ser fiscal da lei ou vice-versa, como, acertada-
mente, frisou Cândido Dinamarco74:
Logo, sendo o Ministério Público parte no feito, será representado em segunda ins-
tância pelo Procurador de Justiça, o qual deve atuar de modo eficaz e célere para
que sejam atingidas as aspirações e as necessidades que se buscam através da
ação proposta. Deve-se pautar pelo critério da efetividade, que, em muitos casos,
vem sendo desprestigiado através da emissão de pareceres, data venia, desneces-
sários.
Como bem enfatizou o Dr. Antônio Araldo Ferraz Dal Pozzo, digníssimo Procurador
de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, urge “revitalizar a Segun-
da Instância, dar-lhe função da qual derive uma contribuição prática e efetiva na
realização da justiça [...]”.75
514
Procuradorias de Justiça
Vale dizer, o Procurador de Justiça deve ser mais atuante, e não mero parecerista.
Cumpre-lhe acompanhar efetivamente o trâmite do feito no juízo ad quem e mani-
festar-se formalmente somente quando necessário. Após o julgamento, se entender
cabível, deverá recorrer em prol da tese defendida pelo Promotor de Justiça, caso
seja o Ministério Público vencido, contribuindo para a formação da jurisprudência.
Tal atuação permite ainda que, quando necessário, sejam feitas considerações so-
bre o objeto do recurso a fim de se suprirem eventuais deficiências processuais que
possam inviabilizar o êxito da ação e de acesso aos Tribunais Superiores na hipó-
tese de a tese ministerial de primeiro grau não ser acolhida pelo Tribunal Estadu-
al. Além disso, esses novos argumentos apresentados pelo Procurador de Justiça
certamente servirão de orientação para futuras atuações dos Promotores de Justiça
em casos semelhantes.
515
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
forme se pode constatar pelas estatísticas dos resultados obtidos no decorrer des-
ses cinco anos de atividades.
Os recursos aviados nas ações civis públicas relacionadas com a defesa do patri-
mônio público correspondem, em média, a 53,43% do total julgado pelos tribunais
estaduais. Os demais seguem a seguinte ordem: consumidor – 14,60%, meio am-
biente – 10,45% e Saúde – 2,64%. As demais áreas (ECA, patrimônio histórico e
cultural, habitação e urbanismo, deficiente físico e idosos) e as matérias processu-
ais correspondem aos 18,88% remanescentes.
interposição de recursos, sendo certo que a maioria ainda está pendente de julga-
mento nos tribunais superiores, que, de 2002 a 2007, julgaram 754 recursos/ações
do Parquet mineiro. Desses, 484 foram decididos favoravelmente ao MP (64,19%)
e 270 contrariamente (35,80%), incluindo-se nesses dados os recursos nos quais o
MP figura como recorrente e como recorrido.
Concluímos, assim, que, nas ações civis públicas ajuizadas pelo Ministério Público,
a atuação do órgão de execução em segundo grau é como parte.
76
Embora a estatística de rendimento seja realizada semestralmente, é possível verificar que, nos primei-
ros quatro meses de 2008, foram produzidas 411 peças recursais.
516
Procuradorias de Justiça
A – Introdução
De fato, o objetivo não é outro senão estimular o Promotor de Justiça a, cada vez
mais, atuar na defesa dos direitos difusos, os chamados direitos de terceira geração,
especialmente nos dias atuais, quando a população clama por seus direitos, mas
não encontra uma ressonância dos seus anseios nos Poderes constituídos nem a
solidariedade dos que se autodenominam legítimos representantes do povo.
77
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 16. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 569.
517
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por fim, foram compilados julgados que demonstram que a vocação do Ministério
Público do terceiro milênio é esta, qual seja, a atuação cada vez mais incisiva na
defesa dos direitos difusos, assim entendidos, repita-se, os direitos de terceira ge-
ração, que têm o condão de resgatar o cidadão da submissão ao poder econômico,
restaurar o meio ambiente, moralizar o trato com a coisa pública e tantas outras
providências que não podem deixar de ser tomadas.
518
Procuradorias de Justiça
O Ministro Teori Albino Zavascki82, por seu turno, em discurso proferido por ocasião
da formatura da turma de 1998 da Faculdade de Direito da UFRGS, resumiu a
classificação dos direitos fundamentais nos exatos termos em que colocado o lema
revolucionário francês, ou seja, direitos de primeira geração – a liberdade; direito de
segunda geração – a igualdade; e direito de terceira geração – a fraternidade. E o
eminente jurista complementa seu entendimento asseverando que o esgotamento
do modelo, todavia, faz com que, mais uma vez, os homens e as mulheres do nosso
tempo sejam chamados a dar um novo e importante passo à frente. Tem-se consci-
ência, no moderno Constitucionalismo, de que, assim como o ideal de liberdade não
pôde ser adequadamente cumprido sem a implementação efetiva e material dos di- CAPÍTULO VII
reitos de igualdade – e daí o surgimento do Estado do Bem-Estar Social –, também
não se poderá implantar uma sociedade igualitária sem que se promova a efetiva-
ção do terceiro sonho dos revolucionários franceses: o sonho da fraternidade.
Mais adiante, citando os autores German J. Bidart Campos e Adolfo Gelsi Bidart, o
douto Ministro, com o objetivo de conclamar seus alunos formandos a se dedicarem
à causa dos direitos difusos, concluiu que, no limiar de um novo século, nascem
80
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 16 ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 562.
81
BONAVIDES, Paulo. Direito constitucional. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 1999.
82
ZAVASCKI, Teori Albino. Direitos Fundamentais de terceira geração. Revista da Faculdade de Di-
reito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. n. 15. 1998. p. 227-232.
519
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
83
ALVIM, J. E. Carreira. Ação civil pública e direito difuso à segurança pública. ano 7, n. 65, Teresi-
na: Jus Navigandi maio 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4079>.Parte
inferior do formulário
520
Procuradorias de Justiça
Kazuo Watanabe84, por seu turno, ao se manifestar a respeito do nomen juris uti-
lizado no estudo das demandas coletivas – interesses ou direitos –, faz expressa
menção ao art. 81 do Código de Defesa do Consumidor, assim aduzindo:
Como a vigente Carta Política, no art. 5º, inciso XXXV, suprimiu o termo individual
quando consagrou o direito de ação, os doutrinadores que defendiam a tutela de in-
teresses metaindividuais ganharam campo fértil para suas considerações. Portanto,
não será passível de censura quem utilize direito ou interesse para o trato de ações
coletivas, mera opção terminológica.
CAPÍTULO VII
A experiência angariada ao longo dos anos, a maioria dos quais lidando com os
direitos do cidadão, permite afirmar que as Associações de Bairros, as Organiza-
ções Não-Governamentais ou mesmo um Grupo de Moradores, quando procuram
o Promotor de Justiça para que patrocine a sua causa, utilizam-se da mesma forma
empregada por um particular quando busca os serviços de um advogado, ou seja,
como se o bem a ser tutelado fosse pessoal e, portanto, reclamasse a mesma pos-
tura diante do Judiciário. O Promotor de Justiça, por seu turno, embora não abrace
a causa como se ela se referisse a um direito subjetivo seu, por outro lado, especial-
84
WATANABE, Kazuo. in GRINOVER, Ada Pelegrini et al. Código brasileiro de defesa do consumi-
dor: comentado pelos autores do anteprojeto. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 1998, p. 623.
TOMASZEWSKI, Adauto de Almeida. A tutela jurisdicional dos direitos difusos e coletivos. Londrina:
85
521
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
mente por dizer respeito a questões sensíveis e, no mais das vezes, humanitárias,
acabam avocando para si a responsabilidade pelo êxito da ação, não se satisfa-
zendo, no entanto, com o esgotamento da sua atuação quando da interposição de
um recurso, em casos de insucesso, ou do oferecimento das contra-razões, nas
hipóteses de um resultado satisfatório na primeira instância.
Procuradores de Justiça que a integram, ainda que não haja uma especificidade na
atuação do Procurador, ou seja, todos atuam nas várias vertentes das questões que
envolvem os direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos: meio ambiente,
patrimônio público, criança e adolescente, consumidor, etc.
Não bastasse essa especialização que constitui um fator facilitador para integração
do Procurador de Justiça com a causa discutida nos autos, registre-se ainda que
também as sucessivas manifestações em processos sempre voltados para os as-
suntos relacionados aos direitos do cidadão resultaram na formação de um precioso
banco de dados, apto a dar maior celeridade ao trabalho e, principalmente, um rumo
seguro para a delimitação do caminho a ser percorrido, segundo o que predomina
na jurisprudência mais atualizada dos nossos tribunais.
522
Procuradorias de Justiça
No início, conforme todos acompanharam, houve uma grande batalha para con-
vencer o Judiciário de que o Ministério Público tem legitimidade para ingressar em
juízo na defesa do patrimônio público e, assim, superar uma barreira que se sus-
tentava na tese de que a Lei da Ação Civil Pública não fazia referência a esse bem
na relação constante do seu art. 1º e demais incisos. Inúmeras foram as decisões
que afastavam a legitimidade do Parquet para se imiscuir na defesa do patrimônio
público.
Exemplo disso foi a decisão proferida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, se-
gundo a qual a Ação Civil Pública não constituía meio adequado para se perseguir
o ressarcimento de danos causados ao patrimônio público, por Prefeito Municipal,
decisão essa que acabou reformada pelo Superior Tribunal de Justiça, por inter-
médio do Resp. nº 180.712-MG. Antes disso, entretanto, o próprio STJ afastava a
legitimidade do Ministério Público para ingressar em juízo na defesa do patrimônio
público, como no caso lembrado pelo eminente Adilson Abreu Dallari86, em que, na
ação civil pública proposta pelo Ministério Público visando à defesa de interesses
patrimoniais do Município de Marília, decidiu o Superior Tribunal de Justiça87 “Ação
para ressarcimento de possíveis danos ao erário municipal não se insere nas con-
dições previstas na referida lei, não tendo o Ministério Público legitimidade para
promover ação civil pública para esse fim específico”.
Hoje, essa discussão não tem mais espaço no meio jurídico, ou seja, a legitimidade
do Ministério Público para a defesa do patrimônio público constitui matéria devida-
mente consolidada não só no STJ, mas também no STF. O resgate dessa antiga
CAPÍTULO VII
polêmica, no entanto, tem o mérito de incutir em todos nós a convicção de que não
há dogmas jurídicos que se sobreponham à nova ordem constitucional, que, na
esteira da lição de Lenio Luiz Streck88 está alicerçada em um novo modo de com-
preender o direito.
86
DALLARI, Adilson Abreu. Limitações à atuação do Ministério Público na ação civil pública. In: BUENO,
Cássio Scarpinella; PORTO FILHO, Pedro Paulo de Rezende (Coord.). Improbidade administrativa:
questões polêmicas e atuais. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 32.
87
RSTJ 65/352.
88
STRECK, Lenio Luiz. Ao contrário do ministro, devemos nos importar (muito) com o que a doutri-
na diz. ano 3, n. 92, 19 set. João Pessoa: Revista Juristas, 2006.
523
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O Promotor de Justiça, ao receber tal documento, que tem força de título executi-
vo90, promove a respectiva ação de execução. O Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais tem-se mantido intransigente em não admitir a legitimidade do Minis-
tério Público para tal iniciativa, sob o argumento de que, assim agindo, o Parquet
estaria substituindo indevidamente a Fazenda Pública Municipal, quando o ente
beneficiado é o próprio município.
Com isso, extrai-se da tese acima transcrita o truísmo de que a ação civil pública
consiste num gênero de natureza constitucional, admitindo qualquer espécie pro-
cessual para atingir os fins delineados na Carta Política, a qual em nenhum momen-
to obsta a possibilidade de o Parquet propor execução dos títulos previstos no art.
71, § 3º, aplicável ao Estado pelo art. 75, também da Constituição Federal. Sobre
89
Para os fins do disposto no art. 227, § 3º e § 7º, do RITCMG.
90
Constituição Federal - Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com
o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete: [...]
§ 3º. As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título execu-
tivo.
91
NERY JÚNIOR, Nelson. Código brasileiro de defesa do consumidor. Rio de Janeiro: Forense Uni-
versitária, p. 619-620.
524
Procuradorias de Justiça
525
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
526
Procuradorias de Justiça
Art. 125
[...]
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os
policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares, de-
finidos em lei, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a
perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das
praças. (Antiga redação)
527
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
94
CAMPOS, Paulo Frederico Cunha. A Justiça Militar e a Emenda Constitucional nº 45. , ano 9, nº 710, 15
jun. Teresina: Jus Navigandi, 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6811>.
95
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Apelação Cível nº 1.0702.03.090724-
1/001. Relator: Des. Ernane Fidélis. Belo Horizonte, 19 de setembro de 2006. Minas Gerais, Belo Hori-
zonte, 21 nov. 2006.
528
Procuradorias de Justiça
96
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Apelação Cível nº 1.0105.03.100918-
3/001. Relator: Desembargadora Maria Elza. Belo Horizonte. Data do Julgamento: 22 de novembro de
2007. Minas Gerais, Belo Horizonte, 4 dez. 2007. Veja-se também a Apelação Cível nº 1.0702.05.218259-
1/001.
97
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo Regimental nº 286.636-7. Relator: Min. Maurício Corrêa.
Brasília, DF, 7 nov. 2000. DJ: 23 fev. 2001.
529
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
530
Procuradorias de Justiça
Gylliard Matos Fantecelle, discorrendo sobre a matéria, adverte que não fora recep-
cionada a pena de perda do cargo público prevista na Lei nº 4.898/65,98 bem como
que seria inconstitucional a mesma previsão constante da Lei nº 9.455/97,99 ambas,
frise-se, quando aplicadas no âmbito da Justiça Comum ao agente público mili-
tar estadual. Do contrário, estaremos admitindo que leis infraconstitucionais violem
competência funcional e absoluta regulada pela Magna Carta100.
O Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais também enfrentou essa CAPÍTULO VII
matéria, dando-lhe uma solução consonante com a lógica processual, uma vez que,
de fato, se a Justiça Comum não é competente para impor a perda do cargo ao
Policial Militar e sendo essa sanção uma decorrência da condenação por improbi-
dade, pressupõe-se desarrazoado o entendimento segundo o qual uma fração do
julgamento se daria na Justiça Comum e outra, a imposição da pena de perda do
98
Regula o direito de representação e o processo de responsabilidade civil e penal, nos casos de abuso
de autoridade.
99
A Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997, definiu os crimes de tortura e deu outras providências.
100
FANTECELLE, Gylliard Matos. Aplicabilidade da pena de perda do cargo público na Justiça co-
mum ao policial militar: inconstitucionalidade. ano 9, n. 606, 6 mar. Teresina: Jus Navigandi, 2005.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6362>.
531
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
101
A previsão constitucional de competência para decretar a perda do posto e da patente, bem como da
graduação das praças, é o critério absoluto que define a Justiça Militar Estadual como competente para
julgar a ação civil de improbidade administrativa. Como se pode facilmente constatar do exame do art.
12 da lei de regência, a pena de perda da função pública é a conseqüência direta da condenação por
ato de improbidade. Não seria possível conceber que a Justiça Comum fosse competente para decidir
sobre a condenação e, em seguida, remetesse os autos à Justiça Militar para a aplicação da pena. Tal
solução implicaria em fracionamento do julgamento, o que fere toda a lógica do sistema processual. Se
a Justiça Militar é competente para aplicar a pena, também o é para processar e julgar a ação que tem
como pedido direto a aplicação da pena de perda da função pública.- A decisão concessiva de tutela
antecipada foi proferida por juiz absolutamente incompetente, devendo o recurso ser provido para anular
a decisão hostilizada. - Reconhecida a competência originária deste E. Tribunal, é necessário avocar-
se os autos da ação principal para que esta tenha curso no órgão jurisdicional competente.- Recurso
provido para anular a decisão hostilizada e determinar a avocação dos autos ao Tribunal. (Processo nº
1.0702.05.218259-0/002. 5ª Câmara Cível. Rel. Juiz Cel PM Sócrates Edgard dos Anjos, publicado em
1º de junho de 2007)
GARCIA, Emerson. Improbidade administrativa. 2. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p. 211-
102
212.
532
Procuradorias de Justiça
Embora possa parecer que tal constatação tenha um cunho de obviedade, o fato é
que, como dito anteriormente, o Tribunal de Justiça mineiro tem rejeitado ações de
improbidade administrativa manejadas com o propósito de punir agentes policiais
que cometem ilegalidades contra o cidadão, em cuja inicial não se cuidou de en-
fatizar esse aspecto específico, sendo de todo oportuna a lembrança de que, em
casos como tais, tenha-se a preocupação de instaurar o debate já na exordial, de CAPÍTULO VII
modo que, na segunda instância, a matéria não seja argüida de ofício, como tem
ocorrido.
F – Conclusão
103
MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Probidade administrativa. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
533
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
ou seja, em última análise, toda vez que o Parquet executa um título oriundo da
referida Corte de Contas, ele está se imiscuindo na seara do direito difuso, o que
lhe é assegurado tanto pela Lei nº 7.347/85 (LACP) como pela Constituição Federal
– art. 129, inciso III.
Essas anotações despretensiosas, como a sua leitura revela, não trazem no seu
conteúdo um ensinamento propriamente dito, como sugere um manual, mas, antes,
expõem algumas constatações extraídas do dia-a-dia da Procuradoria de Direitos
Difusos, as quais, cotejadas com as soluções mais positivas às iniciativas do Minis-
tério Público, autorizam as recomendações feitas, repita-se, sem nenhum caráter
534
Procuradorias de Justiça
A – Introdução
104
Veja a lição da doutrina francesa, em relação ao consumidor: “Tout citoyen qui s’estime lésé a théo-
riquement la liberté de saisir un tribunal pour obtenir justice. Mais il s’agit là d’une liberté toute formelle,
dont l’exercice est entravé par le poids des réalités. Parmi les consommateurs qui ont des griefs envers
les professionnels, rares sont ceux qui intentent individuellement une action en justice. Des obstacles CAPÍTULO VII
les dissuadent de le faire: raisons psychologiques, la difficulté de savoir quel est le tribunal compétent,
la complexité de la procédure, l’ésotérisme du langage juridique, jusqu’à la robe des magistrats et des
avocats, font naître chez le simple citoyen l’impression que la justice est un monde à part où il vaut
mieux ne pas s’aventurer; la lenteur de la justice; le coût du procès” (CALAIS- AULOY, Jean. Droit de
la Consommation. 3 ed., Paris: Dalloz, 1992. p. 353-354). A esse respeito: “O sistema judicial não está
suficientemente aparelhado para solucionar o grande número de litígios que decorrem das relações de
consumo. A garantia constitucional de acesso ao serviço público prestado pelo poder judiciário amiúde
se frustra. Barreiras de toda ordem nos impedem de ter acesso ao serviço jurisdicional, impossibilitando
a concretização dos direitos conferidos pela ordem jurídica, comprometendo ainda mais o combalido
sentimento jurídico do povo e agravando o fenômeno da anomia social. Fatores econômicos, culturais,
psicológicos, dentre outros, impedem que a maior parte da população tenha assegurado seu direito de
acesso ao serviço jurisdicional” (COSTA, Geraldo de Faria Martins da. Acesso frutífero à Justiça e a
realização dos direitos, in Revista Jurídica do Ministério Público de Minas Gerais, nº 1, Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1997. p. 53).
105
Por todos, cf. ALMEIDA, Gregório Assagra. Direito processual coletivo brasileiro, São Paulo: Sa-
raiva, 2003.
106
Nesse sentindo, cf. DIEBOLT, Serge. Le droit en mouvement – Eléments pour une compréhension
535
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Analisando decisões judiciais relativas aos interesses coletivos, Nelson Nery Júnior
explica que “os conceitos e diferenciações entre interesses difusos e coletivos en-
contram-se em pleno desenvolvimento doutrinário, nada havendo, ainda, de caráter
CAPÍTULO VII
constructiviste des transformations complexes des systèmes juridiques. Thése, Paris X, 2000.
107
Nesse sentido: COSTA, Geraldo de Faria Martins da. Consumidor e profissional: contraposição
jurídica básica. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. p. 29.
NERY JÚNIOR, Nelson. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores
108
536
Procuradorias de Justiça
brasileiro. RF n. 276/1.
537
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
resses difusos porque eles têm, como titulares, os grupos, categorias ou classes de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base.
do sistema do common law, o CDC permite que interesses individuais sejam prote-
gidos como coletivos112 Trata-se dos interesses ou direitos individuais homogêneos,
assim entendidos os decorrentes de origem comum (art. 81, parágrafo único, III).
GRINOVER, Ada Pellegrini. A Ação Civil Pública e a Defesa dos Interesses Individuais Homogê-
112
neos. Revista de Direito do Consumidor. São Paulo: RT, n. 5, jan-mar 1993. p.209.
538
Procuradorias de Justiça
Mais adiante, no mesmo texto, o Juiz gaúcho mostra que tal atribuição está em con-
formidade com o perfil constitucional estabelecido para o Ministério Público:
A Lei nº 7.347/85 restringia a ação civil pública à tutela de interesses difusos e cole-
Revista do Ministério Público do Rio Grande do Sul. São Paulo: RT, 1993. p. 30.
114
ZAVASCKI, Op. cit. p. 34.
539
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
tivos por meio da ação cautelar e da ação de obrigação de fazer e não fazer. Hoje,
no regime do CDC, são admissíveis todas as espécies de ação (art. 83) e, o que é
mais importante, o tratamento coletivo de interesses individuais homogêneos.
Nas ações judiciais, para identificar os interesses discutidos, devemos verificar qual
o pedido formulado. E será comum encontrarmos, na mesma petição inicial, pedi-
dos relativos a mais de uma espécie de interesse coletivo.
115
NERY JÚNIOR, Nelson. Op. cit. p. 619.
116
No dia 20/04/2008, os grandes jornais brasileiros estampavam um comunicado da Volkswagen, que,
após relutar, chamara o consumidor para corrigir um grave defeito no sistema de travamento do banco
traseiro (veja Estado de Minas p. 20).
540
Procuradorias de Justiça
cos). Não importa se seriam cinco ou seis ou sete ou trezentas as vítimas do aciden-
te, ou se estas residiriam em São Paulo ou Manaus: todas estariam protegidas por
normas jurídicas materiais e processuais de ordem pública e interesse social. Todo
indivíduo que se encontrasse na situação jurídica declarada na sentença poderia
fruir concretamente do direito que lhe fosse devido.
Eros Roberto Grau aponta a ambigüidade contida nas expressões ordem pública,
ordem privada, ordem econômica e ordem social. Todavia, traça conceito elucidati-
vo do que podemos entender por ordem pública ou por normas de ordem pública:
É evidente o alcance social das normas processuais de proteção dos interesses CAPÍTULO VII
coletivos em sentido lato (difusos, coletivos em sentido estrito e individuais homo-
gêneos). Nesse sentido, a lição de Ada Pellegrini Grinover:
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica de 1988 (interpretação e crítica), 2 ed. São Paulo: RT,
117
1991, p. 63.
541
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
D – Conclusão
542
Procuradorias de Justiça
Como sabido, a admissão dos recursos para o Superior Tribunal de Justiça e Su-
premo Tribunal Federal é extremamente restritiva e plena de requisitos, muitos dos
quais inatingíveis, o que faz com que o cuidado para o preenchimento de todas as
exigências comece já da peça de ajuizamento da ação civil pública.
543
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Como destaque, cumpre lembrar que a ampliação trazida pela alínea d do inciso III
do art. 102 da CF/88 não resolveu questão recorrente em nosso trabalho, que é o
questionamento, via controle incidental de constitucionalidade e/ou confronto com
norma federal, de normas locais tributárias ou previdenciárias, cuja vedação legal
A pretexto de prequestionar determinado tema, não pode o recorrente embargar de declaração o
120
acórdão, suscitando questão nova, não agitada até o momento; neste caso, a omissão não é do acórdão,
mas da parte (RTJ 107/412). No mesmo sentido, entre outros: RTJ 107/827, 109/371, 109/415, 113/789,
115/866, 122/393, 152/243, 152/648 . Assim: “A jurisprudência do STF é pacífica ao afirmar que o tema
constitucional suscitado originariamente em embargos de declaração não enseja o seu prequestion-
amento” (STF-2ª Turma, AI 220.472-9-PE-AgRg, rel. Min. Maurício Corrêa, j. 26/10/98, negaram provi-
mento, v.u., DJU 16/04/99, p. 11).
544
Procuradorias de Justiça
Porém, é de bom alvitre que, quando da interposição das ações, essa relevância
já seja destacada, sendo também recomendável que a abrangência das ações ex-
trapole os limites da comarca, quando possível, com a propositura de ações pelos
Centros de Apoio da Capital, como por exemplo, na área do consumidor.
Podem ser destacadas as principais, retiradas da sinopse feita por Teotônio Negrão
em seu Código de Processo Civil:
Súmula nº 281 do STF e Súmula nº 207 do STJ (Decisão recorrí- CAPÍTULO VII
vel): “É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na
Justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada.”
545
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O objetivo deste trabalho não é ensinar ou mesmo explicar o que venha a ser pre-
questionamento, objeto de longas dissertações doutrinárias e inúmeros posiciona-
mentos jurisprudenciais. Porém, não custa lembrar que o mais eficiente preques-
tionamento é o comparativo, ou seja, aquele que aborda a norma discutida em
confronto com a norma desejada – espelho. Normalmente, por serem as normas
constitucionais principiológicas (moralidade, legalidade, ampla defesa, etc), esse
questionamento fica subentendido, ao invés de ser explicitado e fundamentado já
na petição inicial. Assim, por exemplo, a contratação irregular de servidores pode
ferir o art. 37 da Constituição Federal em tese, e para que ela seja efetivada no caso
concreto, como prequestionamento, deve ser explicado porque aquela contratação
específica feriu o texto constitucional especificamente.
Quanto ao Recurso Especial, sua previsão também tem sede constitucional, art.
105, III:
Como se vê, também aqui, a EC nº 45/2004 inseriu a questão da lei local, como
havia feito na alínea d, referente a recurso extraordinário.
Como destaque, deve ser lembrado que o Código de Processo Civil, em seu art.
541, parágrafo único, prevê que:
546
Procuradorias de Justiça
Esse cuidado, ou, melhor dizendo, a falta dele, é responsável por grande parte da
inadmissão de recursos opostos em agravos e que poderiam ser pertinentes (cer-
ceamento de defesa, por exemplo) os quais, entretanto, perdem sua valia por não
serem conhecidos quando da inadmissão do recurso contra a decisão final.
547
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
ANEXOS
- JURISPRUDÊNCIA
REPERCUSSÃO GERAL
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Procuradorias de Justiça
STJ
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Procuradorias de Justiça
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
STF
RECLAMAÇÃO nº 5081
Relator: Ministro Cezar Peluso
Reclamante: Damião Zelo de Gouveia Neto
Reclamado: JD Comarca de Soledade - Paraíba
CAPÍTULO VII
554
Procuradorias de Justiça
de que o julgamento da Rcl nº 2138 ainda não foi concluído, alega que há grande
probabilidade de que prevaleça o voto do Ministro Relator, NELSON JOBIM, para
quem os agentes políticos não se sujeitam à lei de improbidade, como os demais
agentes públicos, haja vista que seu regime, por suas essenciais particularidades, é
o de responsabilidade político-administrativa, definido pela Lei nº 1079/50.
Requer a suspensão dos feitos, que tramitariam em órgão jurisdicional incompeten-
te, em especial porque seus bens estariam na iminência de ser bloqueados.
2.Inviável o pedido.
A reclamação é remédio jurídico que, de previsão constitucional, se presta à dupla
função de garantir a autoridade de decisões desta Corte e de preservar-lhe a com-
petência.
A jurisprudência deste Tribunal é assente no sentido de que, na primeira hipótese
- garantia de suas decisões -, a reclamação só pode ser manejada ante o des-
cumprimento daquelas proferidas com efeito vinculante e eficácia erga omnes, nas
ações de controle abstrato de constitucionalidade, ou, então, nos processos de ín-
dole subjetiva, desde que, neste último caso, o reclamante deles haja participado
(Rcl nº 5027, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, DJ de 30/03/2007; Rcl nº 4730, Rel. Min.
CARLOS BRITTO, DJ de 31/10/2006; Rcl nº 3.847-AgR, Rel. Min. CARLOS BRIT-
TO, Tribunal Pleno, DJ de 20/10/2006; Rcl nº 4.175-AgR, Rel. Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE, Primeira Turma, DJ de 22/9/2006; Rcl nº 3.051-AgR, Rel. Min. CAR-
LOS BRITTO, Tribunal Pleno, DJ de 15/09/2006; Rcl nº 2723, Rel. Min. JOAQUIM
BARBOSA, DJ de 9/06/2005, e Rcl nº 447, Rel. Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal
Pleno, DJ de 31/3/1995).
Ora, o reclamante não é parte nas reclamações cujos julgamentos reputa violados
e que carecem dos efeitos que marcam o controle concentrado de constitucionali-
dade.
Por fim, não custa advertir que o Plenário desta Corte, ao julgar procedentes as CAPÍTULO VII
ADINs nº 2.797-DF e nº 2.860-DF, declarou, por maioria, inconstitucionais os § 1º e
§ 2º do art. 84 do Código de Processo Penal, introduzidos pela Lei nº 10.628, de 24
de dezembro de 2002 (DJ de 19/12/2006 e Informativo STF nº 401).
Prevaleceu, a respeito, o entendimento do Relator, Min. SEPÚLVEDA PERTENCE,
de que é inconstitucional a regra que estendia o foro especial ao momento posterior
à cessação da investidura do agente político. Por essa especial razão, os ex-prefei-
tos, como o ora reclamante, devem ser julgados pelos juízes de primeira instância,
aos quais assiste competência para tal.
3.Do exposto, com fundamento no art. 21, § 1º, do RISTF, nego seguimento ao pe-
dido, porque inadmissível. Oportunamente, arquivem-se.
Publique-se. Int.
555
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
MEIO AMBIENTE
TJMG
556
Procuradorias de Justiça
atuação do Município para a preservação das condições vitais dos munícipes, por
meio da adoção de medidas concretas e eficazes para impedir o descarte de lixo
e de resíduos de construção e de demolição em áreas de preservação ambiental
do perímetro urbano, determina a intervenção do Poder Judiciário para assegurar o
primado do interesse social. Confirma-se a sentença, prejudicado o recurso volun-
tário. (AP. CÍVEL / REEXAME NECESSÁRIO nº 1.0672.05.171865-4/002 -RELA-
TOR: DES. ALMEIDA MELO – Data do Julgamento: 24/01/2008 – Data Publicação:
12/02/2008 – 4ª Câmara Cível)
STJ
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SAÚDE
STJ
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Procuradorias de Justiça
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cer, de forma gratuita, medicamentos excepcionais para pessoas que não puderem
prover as despesas com os referidos medicamentos, sem privarem-se dos recursos
indispensáveis ao próprio sustento e de sua família. Parágrafo único. Consideram-
se medicamentos excepcionais aqueles que devem ser usados com freqüência e
de forma permanente, sendo indispensáveis à vida do paciente”. 14. A Constituição
não é ornamental, não se resume a um museu de princípios, não é meramente
um ideário; reclama efetividade real de suas normas. Destarte, na aplicação das
normas constitucionais, a exegese deve partir dos princípios fundamentais, para os
princípios setoriais. E, sob esse ângulo, merece destaque o princípio fundante da
República que destina especial proteção a dignidade da pessoa humana.
15. Outrossim, a tutela jurisdicional para ser efetiva deve dar ao lesado resultado
prático equivalente ao que obteria se a prestação fosse cumprida voluntariamente.
562
Procuradorias de Justiça
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
TJMG
564
Procuradorias de Justiça
Vale como referência este extrato de jurisprudência, formulado pela estagiária Paula CAPÍTULO VII
Cançado e que pode ser utilizado, pelo número dos processos, para a obtenção de
julgados específicos.
STF
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
LEGITIMIDADE
RE-AgR nº ED 470135 O Ministério Público tem legitimidade para ação civil públi-
ca em tutela de interesses individuais homogêneos dotados de alto relevo social,
como os de mutuários em contratos de financiamento pelo Sistema Financeiro da
Habitação.
RMS nº 25627 O órgão do Ministério Público, que oficiou na instância de origem,
na forma do art. 10 da Lei nº 1.533/51, tem legitimidade para recorrer da decisão
proferida em mandado de segurança.
MEDICAMENTOS
NÃO-ESGOTAMENTO DE INSTÂNCIA
CAPÍTULO VII
OFENSA INDIRETA
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Procuradorias de Justiça
PATRIMÔNIO PÚBLICO
RE-AgR nº 372658 O Ministério Público detém legitimidade para propor ação civil
pública na defesa do patrimônio público.
AI-AgR nº 642034 O Ministério Público, como substituto processual de toda a coleti-
vidade e na defesa de autêntico interesse difuso, tem legitimidade ativa para propor
ação civil pública com o objetivo de evitar lesão ao patrimônio público.
RE-AgR nº 262134 O Ministério Público dispõe de legitimidade ativa ad causam
para ajuizar ação civil pública, quando promovida com o objetivo de impedir que se
consume lesão ao patrimônio público.
PREQUESTIONAMENTO
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REPERCUSSÃO GERAL
CURIOSIDADES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Procuradorias de Justiça
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570
Procuradorias de Justiça
A Procuradoria de Justiça Cível conta com uma Secretaria e uma Assessoria Técni-
co-Jurídica composta de seis servidores.
CAPÍTULO VII
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Capítulo VIII
Promotorias de Justiça
Procurador de Justiça Afonso Henrique de Miranda Teixeira
Procurador de Justiça André Estevão Ubaldino Pereira
Procurador de Justiça Antônio Joaquim Fernandes Neto
Procurador de Justiça José Ronald Vasconcelos de Albergaria
Procurador de Justiça Marco Paulo Cardoso Starling
Procurador de Justiça Tomáz de Aquino Resende
Procuradora de Justiça Valéria Dupin Lustosa
Promotor de Justiça Alex Fernandes Santiago
Promotor de Justiça César Augusto da Glória Campos
Promotora de Justiça Cláudia Ferreira de Souza
Promotora de Justiça Cláudia Ferreira Pacheco de Freitas
Promotor de Justiça Edson de Resende Castro
Promotora de Justiça Élida de Freitas Rezende
Promotor de Justiça Elvézio Antunes de Carvalho Júnior
Promotora de Justiça Érika de Fátima Matozinhos Ribeiro Lisboa
Promotor de Justiça Fernando Ferreira Abreu
Promotora de Justiça Flávia Albergaria de Carvalho Bilac Pinto
Promotor de Justiça Franklin Higino Caldeira Filho
Promotor de Justiça Geraldo Ferreira da Silva
Promotor de Justiça Geraldo Magela Carvalho Fiorentini
Promotor de Justiça Iraídes de Oliveira Marques
Promotor de Justiça Joaquim José Miranda Júnior
Promotor de Justiça Jorge Tobias de Souza
Promotor de Justiça José Renato Rodrigues Bueno
Promotora de Justiça Karen Thomé Seni de Silva e Oliveira Goulart
Promotora de Justiça Laís Maria Costa Silveira
Promotora de Justiça Luciana Imaculada de Paula
Promotor de Justiça Luis Eduardo Telles Benzi
Promotor de Justiça Luiz Gustavo Gonçalves Ribeiro
Promotor de Justiça Marcelo de Oliveira Costa
Promotor de Justiça Marcelo Mattar Diniz
Promotor de Justiça Marco Antônio Borges
Promotor de Justiça Marco Antônio Picone Soares
Promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda
Promotora de Justiça Maria Juliana de Brito Santos Moysés
Promotora de Justiça Marisa Furtado Coelho
Promotora de Justiça Marta Alves Larcher
Promotora de Justiça Mônica Aparecida Bezerra Cavalcanti Fiorentino
Promotora de Justiça Nadja Kelly Pereira de Souza Miller
Promotor de Justiça Rodrigo Filgueira de Oliveira
Promotor de Justiça Rodrigo Iennaco de Moraes
Promotor de Justiça Rodrigo Otávio Gonçalves e Silva
Promotor de Justiça Rogério Felippetto de Oliveira
Promotor de Justiça Ruy Alexandre Neves da Motta
Promotora de Justiça Sandra Maria da Silva
Promotora de Justiça Shirley Fenzi Bertão
Promotora de Justiça Sumaia Chamon Junqueira Morais
Assessor II Luciano José Alvarenga
Supervisora Evelange Leão Rabelo
Analista do Ministério Público Daniel Augusto dos Reis
Analista do Ministério Público Camila Gontijo de Paiva
Analista do Ministério Público Fabiana Mattoso Lemos
Analista do Ministério Público Franciane Mary de Souza
Analista do Ministério Público Júnia Elizabeth dos Reis Rezende
Oficial do Ministério Público Márcia Borges Freire
Oficial do Ministério Público Márcia Dutra de Morais
Oficial do Ministério Público Rodrigo Gonçalves Marciano de Oliveira
Estagiária do Ministério Público Aline Maria dos Santos
Servidora Terceirizada Silésia Batista Marinho
Servidor Terceirizado Wanderley Carlos de Souza
Promotorias de Justiça
De mero defensor dos interesses do Rei que remonta sua origem próxima à Orde-
nance de Felipe IV, em 1302, na França, o Ministério Público de hoje deve ser com-
preendido como Instituição de funções ecléticas a quem compete, especificamente
na área penal, a titularidade da pretensão punitiva estatal2, sem prejuízo da defesa
dos direitos fundamentais do investigado e do acusado.
tivas), em razão do princípio do nulla poena sine iudicio. Portanto, para que a tutela penal e a pretensão
punitiva possam ser exercidas, há órgãos estatais da Justiça Penal destinados a preparar a ação penal,
a impulsionar a persecutio criminis e a participar dos procedimentos preliminares que compõem esta; e
após a condenação do autor do crime, os órgãos destinados à execução penal. Funções se repartem,
portanto, na Justiça Penal, entre os seus órgãos administrativos, para preparar-se a ação penal e fazer
efetiva e concreta a pretensão de punir. Todavia, como a atividade preparatória da persecutio criminis vai
levar à propositura da ação penal, com o pedido de julgamento favorável da pretensão punitiva por meio
da acusação; e como o titular da ação penal é o Ministério Público, dúvida não há de que, ao formular a
acusação, esse órgão está agindo como titular, também, da pretensão punitiva. A afirmativa de Giuliano
Vassali e outros, de que o juiz penal é órgão do direito de punir e da pretensão punitiva, não tem o menor
fundamento e não pode, por isso, ser aceita. (MARQUES, José Frederico. Tratado de direito processual
penal. São Paulo, Saraiva, 1980. v. 2, p. 63-64).
575
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Daí que o Ministério Público de hoje, embevecido pela matriz Constitucional que
assegura direitos e garantias e que o aponta como ferrenho defensor deles, tem por
dever atuar como parte a quem verdadeiramente interessa uma decisão justa, qual
seja a que, conhecendo as limitações do direito penal, busque a aplicação da nor-
ma incriminadora somente quando ocorra uma infração penal que mereça a devida
retribuição3.
3
“Interessando à comunidade jurídica não só a punição de todos os culpados, mas também – e sobre-
tudo, dentro de um verdadeiro Estado-de-direito – a punição só dos que sejam culpados, segue-se daí
que ao MP, como órgão de administração da justiça, há-de competir trazer à luz não só tudo aquilo que
possa demonstrar a culpa do argüido, mas também todos os indícios da sua inocência ou da sua menor
culpa”. (DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito processual penal. Reimp. 1. ed. Coimbra: Coimbra Editora,
2004, p 369)
576
Promotorias de Justiça
Mas não basta a preocupação com a elaboração de uma denúncia bem formulada.
É preciso que cada ato processual seja devidamente acompanhado, desde a cita-
ção válida e do interrogatório do acusado, mormente em razão da Lei nº 1.0792/03,
que exige hoje, a par da requisição, também a citação pessoal do preso e a partici-
pação do Ministério Público e da defesa técnica no outrora ato solitário de contato
do juiz com o acusado. E esse acompanhamento deve se afirmar não apenas pelo
comparecimento, mas pelo zelo no exercício da função, de molde a garantir a efeti-
va imparcialidade do órgão julgador e a fazer com que ele, diante do espírito acusa-
tório-constitucional, seja um órgão verdadeiramente provocado, que não deve, de
ofício, suprir a prova ou corrigir, como se titular fosse da acusação, as falhas de uma
atuação ministerial açodada e descomprometida.
Ao Promotor criminal não é dado ignorar que o Ministério Público representa, ou-
trossim, o acesso das vítimas ao Poder Judiciário e, por isso, é seu dever requisitar
a instauração de inquéritos policiais e fiscalizar, efetivamente, todo o curso das
investigações, sendo assim possível sustentar em juízo a versão mais próxima pos-
sível da realidade histórica.
ter sempre em mente que também é fiscal da lei, e por isso deve obediência a
prazos – que incluem a proibição de dilações desnecessárias - e a práticas que
conduzam sempre ao fiel cumprimento daquela, como, por exemplo, a fiscalização
do quantum de pena, do regime inicial de seu cumprimento e de seus efeitos, dentre
4
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana Paula Zomer et al.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 558.
5
Como subjetivo é direito à suspensão condicional do processo, o qual, por isso, deve ser abordado
quando da denúncia, seja no sentido de afirmá-lo, seja no sentido de negá-lo, sempre de forma justifi-
cada.
577
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
578
Promotorias de Justiça
Proceder do mesmo modo descrito no item acima, caso receba comunicação escri-
ta, verificando, ainda, a possibilidade de propositura da ação penal com fulcro nos
elementos constantes da notitia criminis (demonstração do fato, autoria, materiali-
dade e qualificação do suposto autor do fato). Se não houver condições de oferecer
denúncia, enviar as peças à autoridade policial, por meio de ofício requisitório.
579
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
580
Promotorias de Justiça
Recebendo inquérito policial versando sobre infração de ação pública e que conste
581
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
a)se houver inquérito, requerer o apensamento das duas peças investigatórias, para
posterior exame conjunto;
b)se já houver denúncia, requerer o apensamento do inquérito policial militar a ação
CAPÍTULO VIII
582
Promotorias de Justiça
Evitar retornar a autoridade policial inquéritos em que figure indiciado preso, ofere-
cendo, desde logo, a denúncia e requisitando, por meio de manifestação separada,
a realização das diligências faltantes.
Fixar prazo razoável para cumprimento das diligências, quando requisitadas direta-
mente à autoridade policial, ou sugeri-lo, caso pleiteadas ao juiz, procurando reali-
CAPÍTULO VIII
6
Sobre o inquérito policial o aviso nº 6/87 da PGJ lembra aos representantes do MP sobre a existên-
cia de portaria do então Secretariado de Segurança Pública do Estado, publicada em 12/06/1987, que
proibia a “praxe viciosa de (se) juntarem a confissão do indiciado da autoria de diversos crimes que lhe
são atribuídos”.
7
No retorno dos autos para diligência perante a autoridade policial, o Ofício circular 1/92 da CGMP
recomenda que se evite a utilização de dos termos “ordenar, mandar, determinar ou exigir, atendo-se aa
terminologia legal e técnica, qual seja, requisitar, conforme consta dos textos atinentes à espécie, isto é,
art 129, VIII, da Constituição Federal; art. 120, VII, da Constituição do Estado de Minas Gerais; art 15,
I, da Lei Complementar nº40/81 e arts. 5º II, e 47 do Código de Processo Penal” (a atual Lei Orgânica
nacional – Lei nº8625/93 – faz referência ao termo “requisitar” no art. 26, I, “b”).
583
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Zelar para que os autos do inquérito não baixem à Delegacia de Polícia sem a pré-
via oitiva do Ministério Público, ainda que haja pedido da autoridade policial.
584
Promotorias de Justiça
Caso inexistam tais informações, requisitar o aditamento do laudo para este fim.
legais, só se apóia em confissão policial retratada” (HC n° 70.936-2-SP, Ia. Turma, rel. Mi Sepúlveda
Pertence, j. 8/11/94, DJU de 6/9/96, p. 31.849, ementa parcial).
10
Reconhecimento de pessoa: sua realização sem observância do procedimento determinado impera-
tivamente pelo art. 226 do Código de Processo Penal elide sua força probante e induz à falta de justa
causa para a condenação que, além dele e se sua reiteração em juízo, também sem atendimento às
mesmas formalidades legais, só se apóia em confissão policial retratada (HC nº 70.936-2-SP, 1ª Turma,
rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 8/11/94, DJU de 6/09/96, ementa parcial)
11
PROCESSO-CRIME - Nulidade - Alegada nulidade de reconhecimento - Art. 288 do Código de Pro-
cesso Penal - Inocorrência - Reconhecimento fotográfico - Deslocamento inútil do réu até outro estado,
apenas para ser visualizado - Fotografias nítidas e perfeitamente identificáveis - Preliminar rejeitada.
585
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Verificar, ainda, a distinção entre a posse e o porte de arma de fogo, eis que, embo-
ra o legislador tenha concedido prazo para a regularização da posse de armas, tal
não se aplica do porte, eis que esse não exige tão-somente o registro da arma, mas
também o preenchimento de várias outras condições estabelecidas na legislação
em vigor.
(Tribunal de Alçada de São Paulo -Apelação Criminal nº 235.505-3 - Nova Granada - 2ª Câmara Criminal
de Férias “Janeiro/98” - Relator: Prado de Toledo - 16.02.98 – V.U.). O reconhecimento fotográfico à base
da exibição da testemunha da foto do suspeito é meio extremamente precário de informação, ao qual a
jurisprudência só confere valor ancilar de um conjunto de provas juridicamente idôneas no mesmo sen-
tido; não basta para tanto a chamada de co-réu colhida em investigações policiais e retratada em juízo.
(STF – HC nº 74.368 – Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 01/07/1997 , DJU de 28/11/1997).
12
O que temos, em face da relação de dependência entre as normas e do vício de inconstitucionalidade
da medida provisória, é o que o renomado Clémerson Merlin Cléve conceitua como sendo uma incons-
CAPÍTULO VIII
titucionalidade conseqüente:
“(...) a inconstitucionalidade conseqüente ou derivada decorre de um efeito reflexo de inconstituciona-
lidade antecedente ou imediata. Assim, será inconstitucional (inconstitucionalidade derivada ou conse-
qüente) a norma dependente de outra declarada inconstitucional (inconstitucionalidade imediata ou ante-
cedente) e pertencente ao mesmo diploma legislativo (relação de dependência). Padecerá, igualmente,
de vício de constitucionalidade ou derivado o ato normativo que encontra o seu fundamento de validade
em outro ou mantém relação de dependência com um terceiro já declarado inconstitucional. É o caso
do regulamento em relação à lei; da lei em relação à Medida Provisória (no caso de conversão) e da lei
delegada em relação à lei de autorização (resolução do Congresso Nacional), etc.” (GANGONI, Bruno
Corrêa. A Plena Vigência do art.12 do Estatuto do Desarmamento face a inconstitucionalidade da
Medida Provisória em Matéria Penal. Boletim IBCCrim, ano 12, nº149, abril/05, p.15).
586
Promotorias de Justiça
13
No mesmo sentido: “HABEAS CORPUS” - ESTATUTO DO DESARMAMENTO - ALEGA-
ÇÃO DE ATIPICIDADE DA CONDUTA - INOCORRÊNCIA - PRISÃO EM FLAGRANTE REGU-
LAR - PRESENÇA DOS REQUISITOS DA PRISÃO PREVENTIVA - GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA
- PRIMARIEDADE, BONS ANTECEDENTES E RESIDÊNCIA FIXA - CIRCUNSTÂNCIAS IRRELEVAN-
TES - PERICULOSIDADE DO AGENTE - ORDEM DENEGADA. O fato de ter o legislador concedido
um prazo para que aqueles que possuem armas de fogo não registradas providenciem o registro ou as
CAPÍTULO VIII
entreguem à Polícia não confere a estes o direito provisório ao porte, prerrogativa exclusiva das pessoas
mencionadas no art. 6º da Lei 10.826/2003. Ausentes quaisquer vícios na prisão em flagrante do pacien-
te, e verificada a necessidade da manutenção da custódia pela garantia da ordem pública, face à peri-
culosidade do agente, irrelevantes tornam-se os aspectos de primariedade, residência fixa ou trabalho
honesto. (Habeas Corpus - C. Criminais Isoladas - Nº 1.0000.04.411142-5/000 - Comarca de Governador
Valadares - Paciente(S): Hudson Martins Rastes - Coator(Es): Jd 3 V Cr Comarca Governador Valadares
- Relatora: Exmª. Srª. Desª. Márcia Milanez). “A excepcional vacatio legis contida nos arts. 30 e 32 do
Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/03), que autoriza a entrega das armas de fogo não registradas
à Polícia Federal, no prazo de cento e oitenta (180) dias, fazendo com que nesse interregno as condutas
delituosas descritas no referido diploma deixem de ser puníveis, não abrange o porte ilegal de arma de
fogo sem registro ou sem autorização da autoridade competente exercido fora da residência do agente
ou de seu posto de trabalho” ( TJSC – Ap. nº 2003.030633-1, julgada em24/03/04).
587
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Verificar, nas hipóteses de porte ilegal de arma, se há laudo pericial acerca da po-
tencialidade do instrumento lesivo, requisitando-o no caso de omissão.
14
“HABEAS CORPUS” - LEI Nº 10.826/03 - A DISPOSIÇÃO CONSTANTE DO ESTATUTO DO DE-
SARMAMENTO, VEDANDO A LIBERDADE PROVISÓRIA, TRADUZ-SE NUMA INACEITÁVEL RESTRI-
ÇÃO A UM DIREITO FUNDAMENTAL, CONSAGRADO NO ART. 5º, INCISO LXVI, ALÉM DE ATENTAR
CONTRA O PRINCÍPIO DO ESTADO DE INOCÊNCIA SENDO, SOBRE ESSE ASPECTO, MANIFES-
TAMENTE INCONSTITUCIONAL - LIBERDADE PROVISÓRIA - POSSIBILIDADE - INCIDÊNCIA DA
REGRA GERAL, PREVISTA NO ART. 310 DO CPP, QUE CONDICIONA A MANUTENÇÃO DA PRISÃO
EM FLAGRANTE, À PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA PRISÃO PREVENTIVA”.
(TJMG- HABEAS CORPUS N° 1.0000.06.434332-0/000 - COMARCA DE JUIZ DE FORA - PACIENTE(S):
SAMUEL VIEIRA DE MOURA FONTES - AUTORID COATORA: JD 2 V CR COMARCA JUIZ FORA - RE-
LATOR: EXMO. SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS)
15
“O crime de porte ilegal de arma de fogo, tipificado no art. 16, caput, da Lei nº 10.826/2003, consiste
na conduta de “possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ain-
da que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo,
CAPÍTULO VIII
acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação
legal ou regulamentar”, é delito de perigo abstrato que se configura ainda que a arma de fogo se encontre
desmuniciada, uma vez que o tipo penal não exige o municiamento da arma de fogo para tipificação do
delito. 3. Ordem denegada. (TJDF – HBC 20050020039877 – 2ª T.Crim. – Rel. Des. Nilsoni de Freitas
Custodio – DJU 14.09.2005 – p. 117)”
“PENAL E PROCESSO PENAL – PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO – PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO
– ATIPICIDADE DO FATO – ARMA DESMUNICIADA – IRRELEVÂNCIA PARA CONFIGURAÇÃO DO
DELITO – RECURSO IMPROVIDO – UNÂNIME – Para que se caracterize a tipicidade da conduta elen-
cada no art. 16 da lei nº 10.826/03, basta, tão-somente, o porte de arma sem a devida autorização da
autoridade competente. A circunstância desta se encontrar desmuniciada não exclui, por si, a tipicidade
do delito, eis que ela oferece potencial poder de lesão. (TJDF – APR 20040910045030 – 1ª T.Crim. – Rel.
Des. Lecir Manoel da Luz – DJU 14.09.2005 – p. 114)”
588
Promotorias de Justiça
Por outro lado, também não há que se dizer que o raciocínio empregado para a não
criminalização da arma desmuniciada seria o mesmo para aquela inapta a efetuar
disparos eis que, neste caso, “a atipicidade do comportamento, provocada pela ine-
ficácia absoluta do meio (CP, art. 17 – crime impossível), não decorre da manifesta
ausência de perigo real, mas da impossibilidade jurídica de se conceituar aquele
instrumento como arma e, consequentemente, da inexistência de adequação típica
por ausência de elementar”17
16
SILVA, César Dario Mariano da. Estatuto do desarmamento de acordo com a Lei n. 10826/2003. 2. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 96.
17
CAPEZ, Fernando. Arma de fogo. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 23.
589
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Verificar, ainda, que a prisão temporária somente poderá ser decretada quando haja
fundada suspeita de participação do representado em um dos delitos elencados no
inciso III do art. 1º da Lei n. 7.960/89, além da presença dos requisitos estatuídos
nos incisos I ou II da mesma Lei.
18
Código de Processo Penal Interpretado: referências doutrinárias, indicações legais, resenha jurispru-
dencial. 5. ed., São Paulo: Atlas, 1997, p. 338.
19
Acerca da possibilidade de condução coercitiva do indiciado diretamente pela Autoridade
Policial, confira-se: “HABEAS CORPUS. PRISÃO TEMPORÁRIA. AUSÊNCIA DE REQUISITOS. Inca-
bível a prisão temporária de indiciado que possui residência fixa, ainda que em outra unidade da fede-
ração, forneceu os elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade e já foi submetido a
reconhecimento pela vítima. Se imprescindível sua presença aos atos da investigação, poderá, se não
atender ao chamado da autoridade, ser determinada sua condução coercitiva, medida menos gravosa
do que a prisão”. (grifo nosso - Habeas Corpus nº 19980020027583/DF (111741), 2ª Turma Criminal do
TJDFT, Rel. Des. Getulio Pinheiro. j. 03.12.1998, Publ. DJU 22.04.1999, p. 52). “(...) O investigado pode
ser submetido a interrogatório pela autoridade policial mais de uma vez, quando se entender necessárias
novas declarações para elucidação dos fatos, tendo o investigado dever de comparecer sob pena de
condução coercitiva, embora tenha a garantia constitucional ao silêncio (...)”(ementa parcial – grifo nosso
- TRF 3ª Região - Habeas Corpus nº 11764/SP (200103000270236), 2ª Turma do TRF da 3ª Região, Rel.
CAPÍTULO VIII
590
Promotorias de Justiça
Observar, ainda, a disposição do parágrafo primeiro do art. 201, do CTB, que prevê
a possibilidade de transação penal para alguns crimes, excetuadas as hipóteses
previstas nos incisos I a III do mesmo dispositivo legal. Se for o caso de transação
penal, verificar a presença dos requisitos do art. 76 da Lei nº 9099/95, e oferecendo
a respectiva proposta em audiência, se for o caso.
Lembrar que pela disposição do art. 296 do CTB, em sendo o réu reincidente em
crimes do CTB, além das penas previstas no dispositivo penal infringido deverá ser
imposta a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo
automotor.
DECRETADA. I - O delito do art. 306 da Lei nº 9.503/97 é de perigo concreto, exigindo a prova efetiva
do perigo de dano à incolumidade pública. II - O princípio da adequação social deve nortear o intérprete
da norma penal na aferição do juízo de lesividade de uma conduta necessário para a caracterização da
tipicidade material de um fato que, em conjunto com sua tipicidade formal, caracteriza a conduta como
típica, primeiro elemento do conceito analítico do crime. III - Não há tipicidade formal ou material na
conduta do réu de beber três doses de cachaça e uma cerveja e ficar importunando os seus amigos num
bar que tem o costume de freqüentar, seja pela ausência de escândalo ou perigo para a sua segurança
e de outras pessoas, como exige o tipo penal do art. 62 da Lei de Contravenções Penais, seja pela ine-
xistência de lesão à polícia de costumes, bem jurídico tutelado pela indigitada norma penal. IV - Recurso
provido para absolver o réu. Decisão:Dar provimento.”(Apelação Criminal nº 0321887-3/2000, 2ª Câmara
Criminal do TAMG, Nova Serrana, Rel. Juiz Alexandre Victor de Carvalho. j. 24.04.2001, unânime).
591
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Verificar, nas hipóteses em que sejam necessários exames laboratoriais, como nos
crimes contra a saúde pública e no homicídio praticado mediante envenenamento,
se os laudos periciais encontram-se ilustrados por provas fotográficas ou asseme-
lhadas, desenhos ou esquemas, requisitando o aditamento caso inexistam tais pe-
ças.
do laudo pericial
Verificar, nos crimes em que se deve apurar violência contra a coisa, como no furto
qualificado pelo rompimento ou destruição de obstáculo a subtração da coisa e
dano, se os laudos periciais contêm a indicação dos instrumentos utilizados para
o cometimento dos delitos e da época presumida da prática do fato, requisitando a
complementação caso ausentes tais informações.
592
Promotorias de Justiça
Verificar, nas hipóteses de porte ilegal de arma, se há laudo pericial acerca da po-
tencialidade do instrumento lesivo, requisitando-o no caso de omissão.
Opinar, nas hipóteses de inquéritos policiais instaurados por crimes de ação penal
21
Lembrar que a Súmula nº 51 do STJ acentua que “a punição do intermediador, no jogo do bicho,
independe da identificação do apostador ou do banqueiro” (DJU de 24/9/92).
593
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Verificar, nas hipóteses em que a idade ou o estado civil do indiciado produzir efeito
jurídico, se a respectiva certidão encontra-se juntada aos autos, providenciando tal
medida caso não tenha sido tomada pela autoridade policial; da mesma forma em
relação à vítima.
594
Promotorias de Justiça
C - Fase processal
Usar os termos requerer quando titular da ação penal e opinar quando se tratar de
ação penal privada.
595
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
fase pré-processual, sejam encaminhados a juízo, onde deverão ser recebidos pela
secretaria, através de termo próprio nos autos. 23
23
Sobre o destino das armas apreendidas ver Aviso nº 1/94 da CGMP, que reproduz a Instrução n.
216/93 da Corregedoria-Geral de Justiça regulando a matéria.
24
É dever do membro do Ministério Público “indicar os fundamentos jurídicos de seus pronunciamentos
processuais, elaborando relatório em sua manifestação final ou recursal” (art. 43,111, da Lei nº 8.625, de
12/2/93 e art. 110, IV, da LC nº 34, de 12/9/94).
596
Promotorias de Justiça
597
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
598
Promotorias de Justiça
599
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Indicar, na denúncia relativa aos crimes contra o patrimônio, qual(is) o(s) objeto(s)
subtraído(s), apropriado(s) etc., não sendo de boa técnica a mera referência ao auto
de apreensão, de arrecadação ou de avaliação constantes do inquérito policial ou
outra peça informativa. Caso seja possível, é importante mencionar em poder de
quem estão os objetos apreendidos e o valor dos mesmos.
600
Promotorias de Justiça
onde poderá ser facilmente encontrado para tornar ciência pessoal dos atos do
processo. Se o acusado estiver preso, indicar o estabelecimento onde se encontra
recolhido: Não é aconselhável a mera indicação das folhas do inquérito policial ou
de qualquer outra peca informativa em que se encontre a qualificação.
601
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Mencionar na denúncia, sempre que possível, a data e o lugar em que o fato infra-
cional foi praticado, com o detalhamento de todas as circunstâncias relevantes para
CAPÍTULO VIII
602
Promotorias de Justiça
do-as à capitulação.
603
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Velar para que o réu seja citado pessoalmente, por meio de Oficial de Justiça, antes
de requerer a citação por edital, pleiteando de órgãos como o TRE, SPC, SEDES,
entre outros, informações sobre a residência ou local de trabalho do acusado28.
28
O MPE firmou importante convênio com a Receita Federal, através do qual o CAOCrim tem acesso à
base de dados de endereço dos contribuintes, atendendo aos colegas na medida em que solicitado.
29
Verificar que o STJ já decidiu: “Em se tratando de acusado revel, inviável a suspensão do processo
sem a suspensão do curso do prazo de prescrição (art. 366 do CPP, Com a redação dada pela Lei nº
9.271/96) e vice-versa. A Lei nº 9.271/96, versando também sobre direito material (causa impeditiva da
prescrição) não se aplica as infrações cometidas anteriormente a sua vigência. Concessão de habeas
corpus de ofício para que suas disposições nestas circunstâncias não se apliquem, em virtude de a
suspensão do processo em sua inteireza, abrangendo a suspensão do curso da prescrição, não ter sido
atacada no writ, com inovação do pedido no recurso” (RHC nº 6.372-SP, 6a. Turma, rel. Min. Fernando
Gonçalves,j. 9/6/97, DJU de 30/6/97, p. 31.083).
604
Promotorias de Justiça
Zelar para que o réu seja interrogado na presença de defensor, constituído ou no-
meado. Sua ausência tem sido causa recorrente de nulidade processual reconheci-
da por tribunais superiores; em caso de haver mais de um réu, velar para que sejam
defendidos por diferentes patronos, quando suas teses de defesa forem colidentes
ou se mostrarem como tal no curso da instrução.
Velar para que seja observado o rito procedimental, cuidando para que as testemu-
nhas sejam ouvidas em primeiro lugar, no prazo máximo de vinte dias, em caso de
30
Observar que depois da edição da Lei nº 11.690/08, que alterou os arts. 212, 473 e § 1º do 474, todos
do CPP, há entendimento no sentido de que teria sido extinto o sistema de reperguntas – também no
caso de indagações feitas ao interrogado.
605
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nos casos onde houver dúvida sobre a ocorrência da prescrição, visando maior
clareza e facilidade de análise, é prudente registrar nas alegações finais, razões e
CAPÍTULO VIII
31
Observar o prazo de 90 dias para conclusão do “procedimento”, constante do art. 412 do CPP, após
a edição da Lei nº 11.689/08.
32
Nesse sentido, ver Súmula nº 21 do STJ: “pronunciado o réu, fica superada a alegação do constran-
gimento ilegal da prisão por excesso de prazo de instrução” (DJU de 11/12/90) e Súmula nº 52 do STJ:
“ encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento por excesso de prazo”
(DJU 24/9/92).
606
Promotorias de Justiça
Apontar e provar, nas alegações finais, por meio de certidão cartorária, a reincidên-
cia.
Postular, nas alegações finais, em caso de crime que prevê condenação a pena
restritiva de liberdade, a suspensão dos direitos políticos (art. 15, III, CF)33.
33
Nesse sentido ver Recomendação nº 1/96 da CGMP.
34
“Já se firmou entendimento desta Corte no sentido de que o princípio constitucional da presunção de
inocência não impede a prisão antes do trânsito em julgado da ação penal condenatória, nem revogou
o art. 594 do Código de Processo Penal (assim, nos HHCC 68.841 e 68.342). Por outro lado, no caso,
não se aplica o disposto no art. 594 do Código de Processo Penal, porquanto, na sentença, se declarou
que os ora pacientes não tem bons antecedentes” (HC nº 71.700-4-AP, 1ª. Turma, rel. Mi Moreira Alves,j.
29/11/94, DJU de 16/8/96, p. 28.107).
607
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Velar, mediante requerimento, para que as cartas precatórias contenham prazo para
seu cumprimento e que sejam instruídas com cópias da denúncia e das declarações
prestadas na fase inquisitória, bem como com fotografia do acusado, caso seja
necessário o reconhecimento; Cuidar para que a Secretaria judicial providencie a
intimação do advogado do réu, quando expedida a carta precatória. 35
Produzir alegações orais com os mesmos elementos das escritas, ou seja, conten-
do relatório, onde se resumirá o processo, ainda que sucintamente; fundamentação,
em que deverá haver exame do fato material e do direito aplicável; e conclusão,
onde se deverá opinar sobre a condenação ou a absolvição do acusado. Em caso
de ser cabível a condenação, delinear os contornos das circunstâncias judiciais do
art. 59, CP, de modo a demonstrar ao magistrado o patamar da pena-base o regime
prisional que deve ser inicialmente aplicado ao réu. Cuidar para que seja realizado
o fiel registro das alegações orais quando da lavratura do termo judicial pelo ser-
ventuário responsável.
35
Sobre o terna, ver a Súmula nº 155 do STF: “é relativa a nulidade do processo criminal por falta de
intimação da expedição de precatória para inquirição de testemunha”.
36
Ver art. 41, IV, da Lei nº 8.625/93.
608
Promotorias de Justiça
C.56 - Apelação
CAPÍTULO VIII
Interpor a apelação da forma como especificada nos arts. 593 e 600, CPP, ou seja,
por termos nos autos ou por petição, que deverá ser dirigida ao Juiz de Direito, com
a indicação da vara criminal, e menção ao nome do réu, à suma da decisão recor-
rida, ao permissivo legal embasador do apelo, com o pedido de processamento do
37
Sobre a petição de interposição de apelação, ver Aviso nº 1/88 cIa COMP, recomendando que os Pro-
motores de Justiça, dentro do prazo legal, detalhem e especifiquem a parte ou as partes dos decisórios
que pretendam atacar.
609
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Propor a ação civil para reparação do dano, em se tratando de vítima pobre, quando
CAPÍTULO VIII
houver o devido requerimento, nos termos do art. 68, CPP39 e o juiz de direito não o
houver fixado em sentença criminal condenatória.
38
Nesse sentido, conferir Aviso nº 9/90, da CGMP
39
Ver, ainda, Aviso nº 11/86 da CGMP no sentido de que os membros do Ministério Público “orientem as
vítimas de infrações penais ou a seus familiares, sobre a possibilidade e alcance da Ação Civil, decorren-
te dos danos causados pelo crime”.
610
Promotorias de Justiça
A - Alegações finais
Elaborar as alegações finais nos processos do júri de forma concisa, sem adentrar
em demasia na questão de mérito ou no detalhamento da prova, limitando-se a
confirmar a presença dos pressupostos da autoria, da materialidade e da realidade
fática das qualificadoras.
40
NOTA DO CONSELHO EDITORIAL: No caso de processos que se encontram suspensos em virtude
de não localização do pronunciado, os promotores devem diligenciar junto à secretaria do Fórum para a
identificação destes feitos, para providências, uma vez que agora é possível a intimação editalícia. Além
disso, é conveniente mencionar que o pedido de desaforamento agora funciona com maior ênfase como
mecanismo de controle da morosidade processual.
41
Convém lembrar que a jurisprudência do STJ vem se firmando no sentido de não permitir a exclusão
de qualificadora em sede de juízo de admissibilidade (Resp. nº 75.102 – DF, 6ª Turma, Re!. Mm. Adhe-
mar Macid, DJU de 11/3/96, p. 6.686 e RT 730/475).
611
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Lembrando que não mais existe o libelo, quando o promotor de justiça receber
os autos na fase do art. 422 do CPP, deverá arrolar somente as testemunhas que
forem necessárias ao esclarecimento da causa em plenário – até o máximo de
5, fazendo-o, sempre, com a cláusula de imprescindibilidade. Deverá ainda juntar
eventuais documentos e requerer diligências cabíveis para sanar qualquer nulidade
ou esclarecer fato que interesse ao julgamento da causa.
612
Promotorias de Justiça
I - Recusa de jurado
Prevê o art. 457 do CPP que o julgamento não será adiado pelo não compareci-
mento do acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver
CAPÍTULO VIII
613
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Na exposição da causa o Promotor de Justiça não deve injuriar o réu. Ali ele destrói
a defesa sem negar as evidências e interpreta os fatos contrários, se possível, se
não, os admitirá francamente.
CAPÍTULO VIII
Atentar para o uso de documento novo introduzido a destempo pela defesa, o que
deve gerar a imediata impugnação e o registro em ata da decisão.
614
Promotorias de Justiça
Q - Concessão de apartes
615
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
U - Réplica
A fase da réplica é de extrema utilidade. Seu tempo, de uma hora, deve ser ocupa-
do para refutação das teses da defesa que não foram antecipadas e/ou reforço de
algum ponto importante da sustentação da acusação. No entanto, a réplica não é
obrigatória. O juízo pessoal e as circunstâncias da causa que vão determinar sua
necessidade. É admitida, nesta fase, a reinquirição de testemunha já ouvida em
plenário (art. 476, § 4º, do CPP).
X - Fase recursal
42
Sobre a redação de quesitos em homicídio culposo. ver Aviso nº 3/94 da CGMP, recomendando aos
Promotores de Justiça que “no momento oportuno, requeiram aos MM. Juizes a inclusão da causa ob-
jetiva que consistiria na forma culposa. Não basta que se diga que a conduta tenha sido negligente (ou
imprudente), é preciso que o quesito explicite em que consistiu a conduta considerada negligente (ou
imprudente)”.
616
Promotorias de Justiça
A - Fase pré-processual
Legalmente falando, não cabe liberdade provisória nos crimes de tráfico de drogas.
Existia uma grande polêmica por conta da edição da Lei n° 11.464/07, que retirou a
proibição da concessão da liberdade provisória aos crimes hediondos. Alguns ope-
radores do direito entenderam que tal norma legal teria revogado o art. 44 da Lei n°
11.343/06 por ser norma posterior, enquanto outros operadores do direito entende-
ram que a norma do art. 44 da Lei n° 11.343/06 continua em vigor por se tratar de
norma especial atinente ao tráfico de drogas. Em 2008 o Supremo Tribunal Federal
manifestou-se pela vigência e constitucionalidade do art. 44 da Lei n° 11.343/06.
617
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Preliminarmente, não se pode olvidar que, nos termos do art. 51, parágrafo único,
618
Promotorias de Justiça
O art. 50 da Lei n.° 11.343/06 estabelece que ocorrendo a prisão em flagrante delito,
a autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz compe-
tente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Mi-
nistério Público, em 24 (vinte e quatro) horas. Assim, pergunta-se: Em que momento
se dá a homologação da prisão em flagrante delito, antes ou depois da manifesta-
ção do Ministério Público? Evidentemente o Ministério Público tem interesse em se
43
Atentar agora para a previsão do art. 412 do CPP, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº 11.689/08
– 90 dias para a conclusão do “procedimento”, nos casos de crimes dolosos contra a vida, contados até
antes da sentença de pronúncia.
619
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
manifestar antes da decisão judicial, mas a inobservância desta exigência não tem
sido encarada como nulidade, nem pela doutrina nem pela jurisprudência.
prisão por entendê-la arbitrária, caso o Promotor de Justiça discorde de tal posicio-
namento poderá ajuizar o competente recurso em sentido estrito para tentar corrigir
o dano (art. 581, inciso V, do CPP).
620
Promotorias de Justiça
O tráfico de drogas é um delito em expansão por ser uma das atividades ilícitas
mais rentáveis no meio criminoso. Quando se fala em tráfico de drogas, é comum
CAPÍTULO VIII
621
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
é suficiente para fazer com que ele se enriqueça ou melhore significativamente sua
qualidade de vida. Incorreto, portanto, pensar que alguém não pode ser traficante
de drogas, já que não ostenta riquezas. Eis que, o tráfico de drogas, como qualquer
outra atividade comercial, conta com pequenos, médios e grandes empresários. A
doutrina alista algumas modalidades de traficantes, dentre os quais alistamos, a
título ilustrativo, os principais:
622
Promotorias de Justiça
Não obstante, pelo menos num primeiro momento, ainda que de forma provisória, já
que no momento do oferecimento da denúncia vige o princípio in dúbio pro societa-
tis, o Promotor de Justiça precisa saber o que se caracteriza grande quantidade de
droga. Alguns julgamentos já foram feitos discorrendo sobre tal tema a saber:
Importante ressaltar ainda que, no que tange a cocaína, é preciso se ter idéia do
que seja a dose letal de tal droga, já que a apreensão de um peso muito superior a
tal porção é um indicativo de que se está diante de uma grande quantidade.
623
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por sua vez é possível se falar em dose elevada de anfetamina, cujo tipo mais popu-
lar se denomina ecstasy, no caso da ingestão de 150 a 250 mg\dia. A esse respeito
transcrevemos trecho do livro Toxicologia Forense, Teoria e Prática quando discorre
sobre anfetaminas:
A maioria dos usuários toma a droga por via oral. Começa com
uma sensação de bem estar, melhora do humor, aumento da
atividade, redução da fadiga, logorréia (necessidade mórbida de
falar que apresentam certos alienados, falando indefinidamente,
sem razão aparente e às vezes sem darem conta disso), inquie-
tude e insônia. Doses maiores apresentam apreensão, tremores
e hiperexcitabilidade. Fisicamente, observa-se dilatação pupilar,
sudorese, respiração acelerada, pressão arterial aumentada, ta-
quicardia, rubor, secura de boca e vômitos. Como a tolerância
aos euforizantes desenvolve-se de modo rápido, a dose é au-
mentada gradualmente de 5 a 10 mg/dia para grandes quantida-
des como 150 a 250 mg/dia (Toxicologia Forense, Teoria e Práti-
ca, Marcos Passagli, Editora Millenium, ano 2008, pág.118).
Por sua vez é possível se falar em dose elevada de LSD a partir de 10 mg. A esse
respeito transcrevemos trecho do livro Toxicologia Forense, Teoria e Prática que
trata do LSD - Dietilamida do Ácido Lisérgico quando trata de tal droga:
624
Promotorias de Justiça
625
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Insta observar que, no que diz respeito ao tipo entregar a consumo, no caso de tal
entrega ser efetuada a criança ou adolescente e a substância entregue não possuir
princípio ativo de qualquer droga, prevista no rol das substâncias proibidas, está-se
diante do crime previsto no 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Nesse
diapasão, os ensinamentos dos Procuradores da República Andrey Borges de Men-
donça e Paulo Roberto Galvão de Carvalho:
Nota-se que em relação ao revogado art. 12 § 1° inciso I da Lei n.° 6368/76, o le-
gislador trouxe uma importante inovação. Enquanto a Lei n.° 6368/76 incriminava,
tão somente, as condutas típicas em relação à matéria-prima, a nova Lei menciona,
626
Promotorias de Justiça
ainda, o insumo ou produto químico utilizado para produção da droga. A esse res-
peito a explicação dos Procuradores da República Andrey Borges de Mendonça e
Paulo Roberto Galvão de Carvalho:
627
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A grande inovação da Lei foi o fato de não mais tipificar a conduta de ceder local
para que se faça uso indevido de substância que determine dependência física ou
psíquica (redação do revogado art. 12 § 2°, inciso II, da Lei n.° 6.368/76).A respeito
da redação do art. 33 § 1° inciso III da Lei n.° 11.343/06 discorrem os Procuradores
da República Andrey Borges de Mendonça e Paulo Roberto Galvão de Carvalho:
628
Promotorias de Justiça
Trata-se de novatio legis in mellius, já que permite ao juiz, à vista do caso concre-
to, efetivar uma diminuição, considerável, na pena do traficante de drogas que ao
exercer pela primeira o delito em questão foi surpreendido pelos agentes policiais
do Poder Estatal.
Para gozar do benefício é preciso que estejam presentes todos os requisitos legais.
A primariedade é verificada por exclusão, ou seja, aquele que não é reincidente
629
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
630
Promotorias de Justiça
631
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O mais importante que se deve saber sobre tal tipo é a necessidade, decorrente de
se tratar de crime material, de se fazer perícia para que se possa constatar a apti-
dão do objeto que se destina à consecução dos fins propostos no tipo.
632
Promotorias de Justiça
delitos visados forem os previstos nos arts. 33, § 2º e § 3º, 37, 38 e 39 da Lei de
Drogas.
O Juiz de Direito do Estado do Espírito Santo, Dr. Sérgio Ricardo de Souza, adepto
de tal teoria, assim discorre sobre o assunto:
(...) A Lei 11.343/06 não faz, em seu art. 35, qualquer distinção
CAPÍTULO VIII
633
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
financiar e custear, existindo mesmo o caso daqueles que entendem serem expres-
sões sinônimas, enquanto outros entendem ter sido desnecessário inserir no tipo
tais comportamentos. De qualquer sorte, transcreveremos a lição dos Procuradores
da República Andrey Borges de Mendonça e Paulo Roberto Galvão de Carvalho
que diferenciam tais expressões:
O mais importante no tipo é ter conhecimento de que o delito está configurado mes-
mo que a colaboração se dê para um concurso eventual de agentes.Neste sentido a
lição dos Procuradores da República Andrey Borges de Mendonça e Paulo Roberto
Galvão de Carvalho:
634
Promotorias de Justiça
Existe discussão na doutrina quanto ao fato deste crime ser de perigo concreto ou
abstrato.Assim, sua caracterização, no caso concreto, dependerá de qual tese a ser
adotada.
635
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
636
Promotorias de Justiça
B - Fase processual
Lembrar que o tráfico de drogas com o exterior pode ser objeto de julgamento pe-
rante a Justiça Estadual, com recurso para o Tribunal Regional Federal.
637
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
638
Promotorias de Justiça
639
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
ou não o direito do réu apelar em liberdade47, bem como houve suspensão dos di-
reitos políticos na forma do art.15, III, CR.
C - Fase recursal
C.1 - Recursos
47
Lembrar que o STF tem se posicionado contra a liberdade provisória de traficantes, em qualquer fase
do processo, conforme jurisprudência já transcrita:
“A proibição de liberdade provisória, nos casos de crimes hediondos e equiparados, decorre da própria
inafiançabilidade imposta pela Constituição da República à legislação ordinária (Constituição da Repú-
blica, art. 5º, inc. XLIII): Precedentes. O art. 2º, inc. II, da Lei n. 8.072/90 atendeu o comando constitu-
cional, ao considerar inafiançáveis os crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos. Inconstitucional seria a legislação ordinária que dispu-
sesse diversamente, tendo como afiançáveis delitos que a Constituição da República determina sejam
inafiançáveis. Desnecessidade de se reconhecer a inconstitucionalidade da Lei n. 11.464/07, que, ao
retirar a expressão “e liberdade provisória” do art. 2º, inc. II, da Lei n. 8.072/90, limitou-se a uma alteração
textual: a proibição da liberdade provisória decorre da vedação da fiança, não da expressão suprimida,
a qual, segundo a jurisprudência deste Supremo Tribunal, constituía redundância. Mera alteração textu-
CAPÍTULO VIII
al, sem modificação da norma proibitiva de concessão da liberdade provisória aos crimes hediondos e
equiparados, que continua vedada aos presos em flagrante por quaisquer daqueles delitos. 3. A Lei n.
11.464/07 não poderia alcançar o delito de tráfico de drogas, cuja disciplina já constava de lei especial
(Lei n. 11.343/06, art. 44, caput), aplicável ao caso vertente. 4. Irrelevância da existência, ou não, de
fundamentação cautelar para a prisão em flagrante por crimes hediondos ou equiparados: Precedentes.
5. Licitude da decisão proferida com fundamento no art. 5º, inc. XLIII, da Constituição da República, e
no art. 44 da Lei n. 11.343/06, que a jurisprudência deste Supremo Tribunal considera suficiente para
impedir a concessão de liberdade provisória. Ordem denegada. (...)” (HC 93302/SP, Rel. Min. Carmen
Lúcia, 25.3.2008).
48
“§ 10. Terão apenas efeito devolutivo os recursos interpostos contra as decisões proferidas no curso
do procedimento previsto neste artigo”.
640
Promotorias de Justiça
O delito de tráfico de drogas por ser perpetrado de forma clandestina, ou seja, lon-
ge dos olhares da população de uma forma geral, e com o máximo de discrição,
tornando quase impossível a uma pessoa do povo assistir a sua prática. Além disto,
quando ocorre em aglomerados as pessoas que ali residem não querem tomar
partido, pois testemunhar contra um traficante de drogas, na maioria das vezes,
redunda em retaliação por parte de tais criminosos que são capazes de matar só
para mostrar o seu poderio na localidade. Por sua vez, quando o tráfico de drogas é
cometido no interior de uma boate, a maioria das pessoas próximas ao traficante de
droga ou são consumidores do mesmo ou estão no local para se divertir ou a traba-
lho, sendo que qualquer destas condições é um obstáculo para a Polícia conseguir
arrolá-las como testemunhas.Quem trabalha teme porque é facilmente localizável,
já quem ali está a passeio, não tem interesse em largar seu lazer para se envolver
numa questão que só lhe trará dissabores. A dificuldade é tanta para se conseguir
o apoio popular para combater tal prática ilícita que o estado se viu forçado a criar
os denominados disque-denúncias, que garantem o anonimato de toda pessoa que
quiser delatar tal prática criminosa, sem incorrer em risco para sua própria vida.
O jornal Estado de Minas em uma reportagem de 09 de julho de 2008 salientou a
importância de tal iniciativa governamental, divulgando que apenas nos 06 (seis)
primeiros meses de 2008 o Disque-Denúncia Unificado (181) recebeu 13334 de-
núncias de tráfico de drogas. Tal empenhou da população em ajudar a combater a
violência na Região Metropolitana de Belo Horizonte começou a render os primeiros
resultados, já que o balanço do serviço Disque-Denúncia Unificado (181) mostrou
CAPÍTULO VIII
que nos seis primeiros meses do ano as informações passadas por moradores le-
varam à prisão de 1133 pessoas, além da apreensão de 1546 quilos de drogas, 282
armas de fogo e 12 mil munições.Quanto a validade das denúncias anônimas para
encetar diligências policias a jurisprudência pátria:
641
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nesse diapasão, como resolver tal questão ? Seria correto deixar impune os tra-
ficantes de droga em razão da denominada “Lei do Silêncio” que foi criada pelos
próprios malfeitores ? A jurisprudência pátria, ao reconhecer tal situação, conforme
mostrado alhures, passou a basear suas decisões nas principais testemunhas dos
642
Promotorias de Justiça
fatos, sendo, talvez, estas as únicas que ainda não se curvaram às ameaças do
crime organizado, no caso, os policiais que atuaram na abordagem e prisão de tais
criminosos. Nota-se que tais testemunhas compareceram no local preocupadas em
notar detalhes, já que foram treinadas para coibir uma prática criminosa cuja prin-
cipal característica é a maneira discreta como é perpetrada. Ademais, não existe
razão plausível para desmerecer seus depoimentos, já que fugiria a razoabilidade
o Estado dotar seu agentes de meios para garantir a ordem pública e quando estes
viessem prestar contas de seus serviço não fossem valoradas suas declarações
como ocorre com qualquer outra testemunha. A respeito da importância do depoi-
mento dos policiais assim tem se manifestado a jurisprudência pátria:
643
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
ridade não goza de qualquer simpatia por parte daqueles que estão encarcerados.
A respeito da importância do depoimento dos agentes penitenciários assim tem se
manifestado a jurisprudência pátria:
TJRJ-006450) SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE - DEPÓSITO -
PRISÃO EM FLAGRANTE - CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO
DE PENA - AGENTE PENITENCIÁRIO - DEPOIMENTO VALI-
DADE - RECURSO DESPROVIDO - AÇÃO PENAL. ART. 12 DA
LEI Nº 6.368/76. NULIDADES INEXISTENTES. GUARDA DE
SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. DEPOIMENTO DAS AGEN-
TES PENITENCIÁRIAS. AUMENTO DE PENA PREVISTO NO
ART. 18, IV, DA MESMA LEI. (...) Assim, embora não demons-
trada a comercialização da erva, o fato é tipificado no art. 12, da
Lei nº 6.368/76, na modalidade de guarda. O depoimento das
agentes penitenciárias merece crédito na medida em que são
coerentes, precisos e se adequam aos fatos descritos na de-
núncia, não havendo motivo para duvidar da veracidade do que
narram. A presunção de inidoneidade dos depoimentos policiais,
de forma genérica, é inadmissível, invertendo a ótica de se acre-
ditar nos presos, sempre perseguidos pelo sistema desprezando
as Autoridades. (...) (Apelação Criminal nº 2001.050.00943, 7ª
Câmara Criminal do TJRJ, Rel. Des. Paulo Cesar Salomao. j.
27.06.2001).
É muito comum policiais civis comparecerem nos grandes aglomerados para ouvi-
rem populares e vizinhos para apurarem o envolvimento de um investigado com o
tráfico de drogas. Tais oitivas são feitas de forma informal e com bastante discrição,
CAPÍTULO VIII
sendo que tais pessoas só falam sobre o envolvimento dos investigados com o trá-
fico de drogas se lhes for garantido o anonimato. O argumento legal para o policial
civil manter tais pessoas no anonimato é o art. 5º inciso XIV da Constituição de Re-
pública (É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fon-
te, quando necessário ao exercício profissional). Os depoimentos destes policiais
civis que compareceram no aglomerado e tiveram a oportunidade de ouvir diversos
moradores que confirmaram para os mesmos o envolvimento dos investigados com
o tráfico de drogas serve de supedâneo para a condenação quando encontra res-
644
Promotorias de Justiça
paldo nos demais elementos de prova carreados aos autos. Nesse sentido ao pro-
ferir seu voto na apelação criminal n°1.0024.07.589890-8/001, o Desembargador
Ediwal José de Morais enfatizou a importância das diligências levadas a efeito pelos
policiais civis, em especial a realização do estudo da vida pregressa dos acusados,
averiguando o envolvimento dos mesmos com a traficância. Senão vejamos:
Por fim, outro fator que não pode ser deixado de lado é a atuação de policias milita-
res à paisano cujo único objetivo é descobrir onde está se desenvolvendo a prática
do tráfico de drogas a fim de orientar o policiamento ostensivo em sua atuação.
Tal atuação não se confunde com investigação, já que é uma atuação prévia que
apenas permite a identificação dos criminosos, possibilitando as suas prisões. Tal
atuação está dentro da normal atuação da Polícia Militar. A esse respeito as sábias
palavras do Desembargador do Estado de São Paulo Álvaro Lazarinni:
645
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O Estado tem lançado mão de todos os meios para combater o crime, sendo que
uma das últimas novidades é a instalação de câmeras pelos logradouros públicos,
o que tem sido alvo de muita polêmica. A gravação ambiental, que tanto pode ser
do som como da imagem, ou ambas conjuntamente, deve ser diferenciada, quanto
a seu aspecto legal, em duas situações diversas: a gravação de um local público
ou aberto ao público e de um local privado. A esse respeito os ensinamentos do
professor Adalberto José Q.T. de Camargo Aranha:
646
Promotorias de Justiça
imagem é feita em local privado, como, a título de exemplo, uma residência. Nessa
hipótese, a prova será ilícita por que violado o princípio constitucional da defesa da
intimidade, resguardado expressamente pelo art.5°, X, da Constituição Federal.
Como sabemos, o direito à intimidade pode ser traduzido como aquele que nos pro-
tege em nossa vida e refúgio privados, sem ser arrastado para o cenário dos acon-
tecimentos mundanos. É a nossa privacidade protegida, sem que sejamos levados
à ribalta da vida. ‘A esfera secreta da vida do indivíduo, na qual este tem o poder
legal de evitar os demais’, no dizer de René Ariel Dotti.
Há, todavia, uma exceção legal prevista no art. 2° da Lei nº 9.034/95, que cuida dos
crimes praticados por organizações criminosas. O art. 2°, IV, da citada lei, com a
redação que lhe foi dada pela Lei n.10.217/2001, preceitua:
CAPÍTULO VIII
647
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nesse diapasão, as gravações de imagens e som ambiental são válidas como pro-
va, não podendo ser olvidadas no curso de uma ação penal.
relevante;
− Inspecionar o desenvolvimento do regime aberto e semi-aberto, bem como as
disposições legais pertinentes;
− Fiscalizar o regime disciplinar e zelar pela legalidade das prisões e dignidade do
preso.
648
Promotorias de Justiça
B - Da execução da pena49
B.1 - Introdução
Para que estes objetivos sejam efetivados são previstos na LEP vários direitos rela-
cionados aos condenados, como também, órgãos responsáveis pela execução da
pena e sua fiscalização, o que determina a natureza jurídica da execução penal.
49
Sobre competência para execução de pena ver Súmula n. 192 do STJ: “compete ao Juízo das Execu-
ções Penais do Estado a execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou
Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a administração estadual
649
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
650
Promotorias de Justiça
A unificação pode redundar também, por óbvio, em diminuição de pena, v.g. nos
casos de reconhecimento de ocorrência de crime continuado.
651
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nada impede seja o condenado intimado a indicar o local onde prestará os serviços,
desde que a entidade seja congênere às citadas pelo art. 149 da LEP. Em qual-
quer caso, deverá a entidade, mensalmente, enviar a secretaria do juízo, relatório
pormenorizado acerca das atividades exercidas pelo condenado, com a respectiva
jornada de trabalho (art. 150, LEP).
O órgão de execução deve atentar para o dever de, sempre que possível, fiscalizar
in locu a prestação do serviço pelo condenado, manifestando-se nos respectivos
autos processuais a respeito de qualquer anomalia percebida.
Observar que com o advento da Lei n. 9.268, de 1/4/96, que alterou dispositivos
do Código Penal e, em especial, a redação do art. 51, a multa51 aplicada, após o
trânsito em julgado da sentença condenatória, foi transformada em dívida de valor,
sujeitando-se, portanto, as normas legais relativas à dívida ativa da Fazenda Pú-
blica (Lei n. 6.830/80), tais como o momento de incidência da correção monetária,
que passará a ser o da data do cometimento do ato ilícito, bem como, ainda, ao
procedimento estabelecido na Lei de execução fiscal, inclusive, quanto as causas
de suspensão e interrupção da prescrição.
50
Atentar para o fato de que nas hipóteses de Juizados Especiais cumpre ao órgão do MP indicar a
entidade onde serão prestados os serviços, bem como a forma e a duração, o que torna obrigatório após
a sentença judicial homologatória (art. 76 e ss. da Lei nº 9.099/95).
51
As receitas originadas das multas são recolhidas ao fundo penitenciário estadual, cabendo ao Pro-
motor de Justiça informar, mensalmente, a Conselho Penitenciário Estadual o montante arrecadado
(Recomendação n. 3/96 da CGMP).
652
Promotorias de Justiça
Observar que o sursis não é incidente da execução da pena, razão pela qual as
condições para a concessão serão ditadas em audiência admonitória realizada no
juízo da condenação, cabendo ao juiz da execução fiscalizar o cumprimento das
obrigações.
Lembrar que independe de fixação judicial a condição prevista no § 10, do art. 78,
CP, por ser uma condição obrigatória, salvo quando da ocorrência da hipótese pre-
vista no § 2°, do mesmo artigo.
52
Nesse sentido ver Aviso n. 4/96 da CGMP esclarecendo que continua sendo atribuição exclusiva do
Ministério Púbico, após extração de certidão da sentença transitada em julgado, a execução da pena de
multa, com a observância do rito previsto na Lei n. 6.830/80, mantida a fase preliminar referida nos arts.
164 e seguintes da Lei n. 7.210/84.” Ver, ainda, Aviso n. 4/94, da CGMP, cujo modelo de petição inicial
deverá ser adaptado para a lei de execução fiscal.
Sobre o assunto ver artigo “Alguns aspectos sobre a reforma do Código penal”, Alexandre Victor de
53
653
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
F - Do exame criminológico
Se o estabelecimento penal não contar com nenhum dos órgãos acima, recomen-
da-se:
G - Do trabalho do Condenado
G.1 - Obrigatoriedade
654
Promotorias de Justiça
A Lei estabelece que o trabalho externo poderá ser concedido, também, ao conde-
nado em regime fechado independentemente de autorização judicial (art. 37, LEP),
somente em serviço ou obras públicas realizados por órgãos da administração dire-
ta ou indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga
(art. 36, LEP).
Observar que o condenado em regime fechado, após cumprimento de 1/6 (um sex-
to) da pena e preenchidos os requisitos subjetivos, progredirá para o semi-aberto
tendo, também, direito às saídas temporárias54.
54
Súmula n. 40 do STJ: “Para obtenção dos benefícios de saída temporária e trabalho externo, conside-
ra-se o tempo de cumprimento da pena no regime fechado” (DJU de 12/5/92).
655
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Exige-se como condição do condenado ser contemplado com o regime aberto que
ele esteja trabalhando ou comprove a possibilidade de fazê-lo imediatamente. Ne-
cessário que o Promotor de Justiça esteja alerta a realidade socioeconômica da re-
gião, levando em consideração ainda o preconceito que dificulta o preso se ocupar
com a brevidade exigida pela lei56.
O art. 118, LEP prevê a hipótese do regime aberto em prisão domiciliar. Além dos
casos enumerados pelo dispositivo legal, tem-se decidido que, na falta da casa
do albergado, admite-se a concessão da prisão albergue domiciliar, pois o preso
não pode pagar pela incúria do Estado. Neste caso, quando for concedida a prisão
albergue domiciliar, em razão da inexistência na comarca de casa do albergado,
impõe-se rígida fiscalização às condições do art. 115, LEP.
O art. 118, LEP prevê as hipóteses em que ocorrerá a regressão do regime prisional.
CAPÍTULO VIII
55
Respeitado posicionamento doutrinário minoritário defendido por alguns advogados.
56
Tem sido usual a aceitação da “carta de emprego” emitida pelo Poder Público Municipal.
656
Promotorias de Justiça
A saída temporária poderá ser concedida num total de até trinta e cinco dias ao ano
(art. 124, LEP). A prática tem demonstrado que, para melhor fiscalizar o benefício,
os dias sejam concedidos em uma única decisão judicial, contudo, o pedido formu-
lado pelo condenado deverá ser instruído com calendário elaborado pelo Diretor do
Presídio ou Delegado de Polícia, dando conta, previamente, dos dias em que se
pretende que ocorram as saídas.
J - Da remissão
No exame do pedido de remição de pena – que poderá ser postulado também pelo
Ministério Púbico, exigir que seja juntada a certidão pormenorizada da jornada de
trabalho (dia, mês e função desempenhada). Isto evitará que eventualmente o con-
denado seja contemplado várias vezes com o benefício com uma única jornada de
trabalho.
CAPÍTULO VIII
657
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Recordar que o regime aberto não comporta a remição (art. 126, LEP).
K - Do livramento condicional
K.1 - Requisitos
Quando houver condenação por crime hediondo e por outro crime assim não consi-
derado, por força dos arts. 84, CP e 111, LEP, deverá ser levado em consideração
para a concessão do benefício, o somatório das penas. Sendo assim, há de se cum-
prir, em primeiro lugar, o estágio temporal previsto para o crime hediondo (2/3 da
pena), que nem sempre coincidirá com o estágio exigido para o total das penas.58
L - Do agravo em execução
Das decisões proferidas no juízo de execução caberá o recurso de agravo (art. 197,
LEP), que seguirá o rito do recurso em sentido estrito, haja vista que a utilização do pro-
cedimento do agravo previsto na legislação processual civil poderá impor ônus conside-
rável ao Ministério Público e ao réu, na medida em que a inadequada instrução do recur-
CAPÍTULO VIII
so referido poderá gerar o seu não conhecimento, o que não ocorre com o primeiro.59
57
“Penal. Processual. Execução. Recurso. Deve o Juiz das Execuções apreciar pedido do Ministério
Público para submeter réu a exame criminológico, concedendo-lhe também nova vista dos autos” (Resp
n. 39.578-0-MG, 5a. Turma, rel. Mm. Edson Vidigal, j. 2418/94, DJU de 24/10/94, P. 28.773).
58
Um exemplo: X é condenado a 4 (quatro) anos de reclusão, por crime de tráfico de substância entorpe-
cente, e ao mesmo tempo, em outro juízo, é condenado a 5 (cinco) anos por roubo. Em razão do que foi
exposto acima, X terá de cumprir o total de quatro anos (4) e seis (6) meses de reclusão para angariar o
benefício, ou seja, metade da pena total, conforme disposto no art. 83, II, CP.
59
Essa matéria não se encontra pacificada nos tribunais estaduais.
658
Promotorias de Justiça
M - Sobre o indulto
A praxe tem sido reeditar os termos do Decreto do ano anterior, com mínimas mo-
dificações. Nos termos do Decreto nº 6.294/07, por exemplo, a pessoa condenada
até oito anos de prisão deveria ter cumprido no mínimo um terço da pena para obter
o benefício. O preso que completasse 60 anos de idade até o dia 25 de dezembro,
tendo cumprido um terço da pena, voltaria para casa a partir do Natal. Se reinciden-
te, deveria ter cumprido ao menos a metade da sentença de condenação.
O indulto natalino será concedido, ou não, pelo juiz de execução depois da manifes-
tação do Ministério Público, da defesa e do Conselho Penitenciário Estadual.
CAPÍTULO VIII
659
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
N - Da comutação
Nos termos ainda do Dec. nº 6.294/07, o condenado não reincidente, que até dia 25
de dezembro de 2007 tenha cumprido um quarto da pena, teria a sua pena rema-
nescente comutada em um quarto.
Ao condenado reincidente que tenha cumprido até dia 25 de dezembro de 2007 te-
nha cumprido um terço da pena terá comutado um quinto da pena remanescente.
A existência de falta disciplinar cometida pelo condenado nos últimos doze meses,
retroativamente a publicação do Decreto Lei n.º 6.294, obsta a concessão do bene-
fício de indulto e comutação.
A – Introdução
CAPÍTULO VIII
60
Ministério Público - atuação no Juizado Especial Cível:
O entendimento predominante é que, as ações atualmente permitidas no Juizado Especial Cível não
reclamam qualquer atuação do Ministério Público, nem como custus legis e nem como parte ativa. Nem
mesmo nas causas relativas a consumo, de natureza individual, não se faz necessária, igualmente, a
intervenção ministerial.
660
Promotorias de Justiça
importante instrumento jurídico que permite a rápida e eficaz resolução dos conflitos
no âmbito penal, sem prejuízo de permitir a interação do Direito com outros ramos
do saber humano, tais como a assistência social, a psicologia, as ciências e técni-
cas de conciliação e outros.
Em relação aos crimes, observar o limite máximo de dois anos da pena prevista em
abstrato, qualquer que seja o procedimento a ser adotado (atual art. 61 da Lei nº
9.099/95).
3- Ainda que a pena abstrata seja igual ou inferior a dois anos, a complexidade do
661
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
4- Uma vez não encontrado o réu para ser citado (portanto, devendo já houver de-
núncia oferecida) a competência deslocar-se-á para a Justiça Comum (parágrafo
único do art. 66 da Lei nº 9.099/95). Esgotar, primeiro, os meios para se tentar
localizar o réu. É conveniente requerer a localização do mesmo através do CA-
OCRIM , que tem moderno sistema que conjuga as informações provenientes de
vários órgãos estatais e tem alcançado sucesso em localizar o endereço atualizado
de réus, vítimas ou testemunhas61.
5- O Juizado Especial Criminal é competente para execução somente da pena de
multa (art. 86 da Lei nº 9.099/95).
6- A necessidade de qualquer incidente processual (v.g., de sanidade mental) des-
loca a competência para a Justiça Comum..
7-A competência ratione loci para fins da Lei nº 9.099/95 é definida em função do
lugar em que foi praticada a infração penal, ao contrário da regra do art. 70 do CPP,
que consagra o princípio do resultado.
principalmente, a relação das testemunhas, com uma oitiva sumária das mesmas,
sempre que possível, a fim de não se permitir notitia criminis infundadas ou visando
fins diversos e escusos (indenizações, fazer prova em ações cíveis – principalmente
em matéria de família, etc.).
61
A solicitação pode ser feita por ofício, por e-mail (caocrim@mp.mg.gov.br) ou por telefone (31) 3330-
8401.
662
Promotorias de Justiça
a) No âmbito criminal:
Quando o órgão de execução do MP discordar da decisão judicial nos crimes de
menor potencial ofensivo, ou de receber com vistas autos com apelação da Defesa,
é importante que se faça primeiro uma análise sobre a presença ou não dos requisi-
tos de admissibilidade da apelação - que é o único recurso cabível de decisões cri-
minais no âmbito do Juizado Especial Criminal, para só depois se analisar o mérito,
cotejando as razões recursais (que têm de ser, necessariamente, apresentadas jun-
CAPÍTULO VIII
Lembrar que quando o órgão do Ministério Público interpuser a apelação, não ha-
verá parecer recursal, conforme art. 33 do Regulamento das Turmas Recursais do
62
O MP tem feito gestões junto ao TJMG no sentido de se unificar a CAC. Enquanto isto não acontece,
o CAOCRIM tem prestado apoio aos colegas na obtenção de certidões criminais de quaisquer comarcas
do Estado de Minas Gerais ou fora dele.
663
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
664
Promotorias de Justiça
Não encontrado o autor do fato, poderá ser diligenciado junto a diversas instituições,
tais como Tribunal Regional Eleitoral, companhias telefônicas, Receita Federal e
Setarin a fim de localizá-lo. O CAOCrim possui acesso a vários bancos de dados
sendo grande facilitador neste trabalho63. Frustradas as diligências, se for o caso,
deverá ser oferecida denúncia, observando-se que a remessa do TCO ao Juízo
Comum somente é cabível após a tentativa de citação e o seu insucesso64.
665
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A.12 - Composição de danos civis em ação penal privada e ação penal pú-
blica condicionada
Nos casos de ação penal privada e pública condicionada, a composição civil é cau-
sa de extinção da punibilidade, devendo o Ministério Público fiscalizar se o acordo
é exeqüível, lícito e razoável à vítima.
Há entendimento de que a composição dos danos civis pode ser parcial, podendo
haver repartição entre os danos materiais (imediatamente compostos) e morais (a
serem apurados no juízo civil). Existe porém entendimento, de que uma vez reali-
CAPÍTULO VIII
zada a composição dos danos civis, conforme prevê o art. 72 da Lei 9099/95, nos
termos do que estabelece o art. 74, da mesma Lei, há renúncia ao direito de pleitear
demais indenizações originadas do alegado evento danoso. Assim, após a homolo-
gação do acordo, só haveria possibilidade de pleitear na esfera cível o ressarcimen-
to dos prejuízos advindos do sinistro, se estes forem verificados pela vítima após a
transação das partes, cabendo este ônus à vítima.
666
Promotorias de Justiça
667
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Mediante uma exegese do parágrafo único do citado artigo, verifica-se que o legis-
lador entendeu, em consonância com o princípio da ultima ratio norteador do direito
penal, que havendo pacificação social entre as partes, mediante composição civil,
desnecessária é a continuidade do processo na esfera criminal.
Assim, homologado o acordo (seja em ação privada, seja em ação pública condi-
668
Promotorias de Justiça
Importante mencionar que no caso de ação penal pública incondicionada, com víti-
ma determinada, quando houver acordo civil entre as partes é possível a extinção
da punibilidade do autor da infração penal, mediante a utilização do princípio da
pacificação social, regente do Juizado Especial. Este entendimento tem sido justi-
ficado ante a consideração de que se o acordo entre as partes foi suficiente para
restabelecer o equilíbrio social e a confiança no ordenamento jurídico desnecessá-
ria seria então a intervenção do direito penal para solucionar a questão (princípio da
intervenção mínima).
Insta destacar que em alguns casos de ação privada e pública condicionada é ins-
taurado o TCO, mas não se apura a autoria do delito e a vítima, mesmo devida-
mente intimada para prestar esclarecimentos, mantém-se inerte. Em tais hipóteses,
decorrido o prazo de 6 meses sem qualquer manifestação do ofendido, o entendi-
mento predominante é no sentido de se pleitear o arquivamento do procedimento
por ausência de autoria e desinteresse tácito da vítima.
669
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A.20 - Análise dos óbices dos incisos I, II e III do parágrafo segundo, do art.
76 da Lei nº 9.099/95.
No que tange ao inciso I do referido dispositivo legal, observar que não obstará a
transação penal se:
Uma questão a ser discutida é se, após 5 anos da extinção da punibilidade do au-
tor, a condenação ainda seria motivo para impedir a transação penal, pois nesses
casos a mesma condenação não mais seria considerada para fins de reincidência,
consoante art. 64, Inciso I, do CP. Mediante uma interpretação lógico-sistêmica do
ordenamento jurídico, tem prevalecido o entendimento de que, após o decurso do
citado lapso temporal da extinção da punibilidade do autor, a condenação anterior
não inviabiliza a propositura de transação penal. As condenações anteriores nestes
casos (art. 64, inciso I, do CP) poderiam servir como óbices à transação penal por
CAPÍTULO VIII
Já com relação ao inciso II do citado artigo, para uma análise mais precisa, é neces-
sário diligenciar para que venham aos autos certidões criminais acerca de eventuais
registros de transações penais anteriores, especialmente junto aos Juízos referen-
tes à cidade natal do autor e aos seus últimos domicílios, no caso dessas informa-
ções ainda não constarem nos autos. Vale ressaltar que, consoante o entendimento
majoritário, conta-se o prazo de 5 anos para aferir a possibilidade de nova transa-
670
Promotorias de Justiça
ção penal conforme o art. 64, inciso I, do CP, ou seja, da extinção da punibilidade do
autor pelo cumprimento da transação penal.
Por fim, verifica-se que o inciso III do mesmo artigo possui natureza subjetiva, ca-
bendo ao Promotor de Justiça, no uso de sua independência funcional, averiguar
no caso concreto o preenchimento de tais requisitos, salientando que, para alguns,
os maus antecedentes, por si só, podem ser suficientes para o impedir a aplicação
da transação penal.
Tais infrações penais desafiam as autoridades públicas, posto ser extremamente di-
fícil de se apurar quem são os verdadeiros responsáveis pelo local onde são realiza-
dos os chamados jogos de azar e do bicho. Eis que geralmente se consegue chegar
aos chamados “laranjas”, mas dificilmente aos verdadeiros donos do negócio. Uma
forma de se tentar averiguar tais fatos é pugnar pela expedição de ofício à Prefeitura
Municipal para que informe o nome do proprietário do imóvel. Opção interessante
também é pedir que seja revisto o alvará de funcionamento do estabelecimento
671
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
destinação específica, havendo entendimento no sentido de que não deve ser re-
vertida à vítima como forma de indenização, nem tampouco ser destinada direta-
mente a entes públicos.
672
Promotorias de Justiça
Lembrar que a proposta de transação, em princípio, não deve ter por objeto pena
mais grave, qualitativa ou quantitativamente, que aquela passível de ser aplicada
na hipótese de condenação.
Não obstante, entendimento em sentido contrário sustentado por uma segunda cor-
rente entende que a proposta de transação penal e suspensão condicional do proces-
673
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
so pelo Ministério Público só é viável desde que não haja formal oposição do quere-
lante.65 Por fim, terceira corrente defende que a legitimidade para a propositura dos
institutos despenalizadores em questão caberiam exclusivamente ao querelante66.
Nos processos criminais de ação privada, o Ministério Público atua como custus
legis e, como tal, deverá se manifestar após a apresentação das alegações finais
do querelante e do querelado.
A outra hipótese ocorre como conseqüência à proibição de citação por edital, elen-
cada no art. 18, §2º, da Lei nº 9.099/95, em consonância com os princípios da
simplicidade, economia processual e celeridade. Somente depois de esgotados os
meios de localização do autor do fato requer-se a remessa dos autos à Justiça Co-
mum para a citação por edital.
CAPÍTULO VIII
A solução para a presente questão não é pacífica na doutrina e nos tribunais pátrios.
65
STJ 6.ª T., no RHC n. 8.123/AP, rel. Min. Fernando Gonçalves, j. em 16.4.1999, DJ de 21.6.1999, p.
202
66
STF, RT 765/527; TJRJ, RSE 128/98. j. 8.9.98, in Bol. IBCCr 80/369
674
Promotorias de Justiça
Um solução encontrada por alguns tem sido o pensamento de que a transação pe-
nal se constitui de um suposto acordo entre o Ministério Público e o autor do fato,
para a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, que tem o condão
de suspender o ajuizamento da ação penal. Uma vez descumprida a transação pe-
nal, desconstituir-se-ia o acordo, retornando-se a questão ao estado anterior. Como
conseqüência, cabível seria o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público. A
crítica a este entendimento tem sido que ele violaria o devido processo legal firmado
nos atos anteriores, tendo-os por invalidados.
É certo também que o Superior Tribunal de Justiça sustenta que, uma vez descum-
prida a transação penal, deve-se executá-la como dívida civil, pois a homologação
do acordo faz coisa julgada material, sendo incabível a propositura de nova ação
penal.
675
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A denúncia deverá obedecer aos requisitos do art. 41, do CPP, mesmo se tratando
de denúncia oral reduzida a termo.
- Rol de testemunhas
67
Lembrar que, diferentemente da transação penal, na Suspensão a especificação das condições a que
fica submetido o beneficiado são privativas do Juiz de Direito.
676
Promotorias de Justiça
Observando não ter sido o denunciado encontrado para ser pessoalmente citado,
buscar novas localizações dele através de diligências no TRE, Receita Federal,
CAOCRIM, concessionárias de serviços públicos e outras, porém esgotadas estas
possibilidades sem sucesso, requerer a remessa dos autos ao juízo comum para
adoção do procedimento previsto no art. 66, parágrafo único, da Lei nº 9.099/95.
Observar que a decisão que rejeita a denúncia desafia recurso de apelação, cujo
pedido deve ser interposto no prazo de 10(dez) dias acompanhado das respectivas
razões.
677
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Na hipótese de crime de lesão corporal culposa no trânsito, observar que pelos in-
cisos do parágrafo 1º do art. 291 do CTB, não se poderá conceder transação penal
se o agente dirigia embriagado, participava de “racha” ou estava em velocidade
excessiva. Já em relação ao art. 303 do CTB, deve-se observar que o seu parágrafo
único remete às causas de aumento de pena do art. 302 cuja incidência, faz com a
pena máxima em abstrato ultrapasse 2 (dois) anos, devendo os autos serem reme-
tidos à Justiça Comum.
CAPÍTULO VIII
678
Promotorias de Justiça
A.41 - Crime de trânsito – Art. 303 caput do CTB - Não instauração de TCO
O delito previsto no art. 303 caput da Lei nº 9.503/97 (praticar lesão corporal culposa
na direção de veículo automotor) é de ação penal pública condicionada a represen-
tação.
6. O TCO deverá ser instruído, ao menos, com perícia sumária - descrição dos da-
nos sofridos pelos veículos envolvidos – croquis do local e posição do(s) veículo(s)
envolvidos; informações sobre a sinalização e preferência da via, condições da pis-
ta de rolamento e condições climáticas no momento do fato etc., para se evitar que
o expediente recebido na Promotoria sem tais formalidades seja alvo das sempre
prejudiciais dilações de prazo com o objetivo único de se colher tais elementos.
679
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nos crimes de lesão corporal leve (art. 129 do Código Penal) e lesão corporal cul-
posa na direção de veículo automotor (art. 303 da Lei 9.503/97), se ausente re-
presentação do ofendido ou de seu representante legal, a fim de verificar se o fato
não constitui crime mais grave, requerer a juntada do Exame de Corpo de Delito da
vítima ou relatório da assistência médica prestada à mesma antes de postular pela
extinção de punibilidade do autor pela decadência do direito de representação (art.
107, IV, do Código Penal).
A primeira posição é aquela que considera típica a conduta do art. 310 do CTB mes-
mo quando considerada atípica a conduta daquele agente não habilitado, a quem
foi entregue a condução do veículo, por não ter gerado perigo concreto de dano.
Sustentam seus defensores que o tipo do art. 310 do CTB não exige perigo de dano
para caracterizar a tipicidade da conduta, como faz o art. 309.
A segunda corrente, aquela que considera também atípica a conduta daquele que
entrega, oferece ou permite a condução de veículo automotor à pessoa não habilita-
da, art. 310 do CTB, quando essa condução por pessoa não habilitada não causou
perigo concreto de dano que sendo considerada atípica, entende deva ser estendi-
da a atipicidade também para a conduta lesiva do art. 310 do CTB, justificando que
CAPÍTULO VIII
680
Promotorias de Justiça
681
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Ou, finalmente:
682
Promotorias de Justiça
B.1 - Incidência
Notar que nos crimes tentados deve-se proceder a diminuição da pena mínima em
2/3 (dois terços), a fim de se apurar o quantum mínimo exigido pelo art. 89 da Lei
n. 9.099/95.
683
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Sugerir ao juiz, como uma das condições da proposta e com fundamento no art. 89,
§ 2º, da Lei n. 9.099/95, a prestação de serviços à comunidade, envidando esforços
no sentido de catalogar judicialmente entidades que possam auxiliar o juízo nesse
sentido – que devem ser fiscalizadas pelo MP na medida do possível.
Observar que, se o réu residir em outra jurisdição, a proposta deverá ser feita pelo
Promotor de Justiça que ofereceu a acusação e não pelo órgão de execução que
oficiará na audiência junto ao juízo deprecado, a quem, contudo, também caberá a
CAPÍTULO VIII
B.3 - Revogação
684
Promotorias de Justiça
685
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A - Introdução
686
Promotorias de Justiça
Quer gostemos ou não deste novo contexto, não temos como fugir à sua influência.
O importante é não perdermos de vista que a realidade virtual que se materializa por
meio da internet, assim como todas as demais invenções humanas, não passa de
uma “coisa”, um objeto, um instrumento. A forma como vai ser usada ou o fim para
o qual será instrumentalizada será sempre fruto da ação humana.
687
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Não é tarefa fácil definir de forma conceitual o que vem a ser crime de internet.
Talvez se consiga uma definição aplicando-se o tradicional conceito de crime - ato
típico, antijurídico e culpável, quando verificados no mundo virtual, seja para atingir
o sistema de máquinas e programas que o compõem seja para adulterar, subtrair
ou destruir as informações por eles veiculadas, alem de toda e qualquer ação juri-
dicamente reprovável.
688
Promotorias de Justiça
não disponível para os demais membros da Instituição, no qual pode contatar a di-
reção da Google diretamente nos EUA e pedir a exclusão da página. Pelo convênio
firmado com a Google, eles se comprometeram a retirar a página do site de relacio-
namento “Orkut” em menos de 24 horas.
− Ponderar se é ocaso de seguir-se um processo criminal – a ação penal pode ser
privada e o particular não ter interesse nela, só desejando a exclusão da página. Se
a ação for condicionada, colher a representação.
− Se for a hipótese de se iniciar persecução penal, precisar-se-á, evidentemente,
identificar a autoria do delito. As empresas de internet (salvo o MSN) costumam não
fornecer os dados do autor da página diretamente ao Ministério Público. Nesses
casos é necessário, então, ordem judicial. Os juízes da capital têm sido solícitos às
demandas do CAOCrim, e muito embora questionável a competência, eles têm de-
ferido pedidos de quebra de sigilo de dados impetrados pelo CAOCrim em relação
a crimes praticados em tese, por cidadãos residentes no interior do Estado, mesmo
porque o dano tem repercussão em toda a rede de internet.
− Se o membro do Ministério Público desejar ele mesmo mover a ação, o CAOCrim
pode dar orientação e fornecer eventuais modelos de ações interpostas em casos
similares.
− Se desejar que o CAOCrim o faça, há uma equipe treinada para isto no órgão.
− De qualquer forma, o pedido judicial haverá de ser no sentido de requisitar da
empresa que hospedou a página a remoção do material ilegal, o fornecimento dos
dados do provável autor, em especial o “internet protocol”, IP. O IP é uma espécie
de número de identificação gerado cada vez que alguém utiliza a internet. Depois
a investigação segue normalmente. Esse número de IP deve ser solicitado junto
ao provedor de internet. Nesse ponto nos deparamos com dois problemas: os ser-
vidores e provedores que gerenciam o acesso à internet nem sempre armazenam
essas informações. O outro problema é muitos servidores, a Google, por exemplo,
se negam a fornecer informações, alegando que estas devem ser requisitadas pelo
Juiz à matriz americana. Não há, ainda, Lei que obrigue estes servidores a preser-
var essas informações, bem como fornecê-las, quando requisitadas.
CAPÍTULO VIII
− Ato seguido poderá ser solicitada a busca e apreensão dos objetos utilizados na
prática criminosa, como computadores, scanners e fotografias, bem como realizar
perícia nos equipamentos de informática.
689
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
cartões ou transmissores;
− Calúnia, difamação e injúria;
− Apologia ao crime: racismo, xenofobia, homofobia, aborto;
− Pedofilia; pornografia infantil;
− Propagação de pragas virtuais: criar, inserir ou difundir pragas virtuais, conhecidas
como códigos maliciosos (conceito de código malicioso é amplo, definição mais
precisa);
− Acesso não autorizado: acessar redes sem autorização quando esta é exigida;
− Obtenção não autorizada de dados;
− Divulgação não autorizada de banco de dados;
− Furto;
− Atentado contra serviço público: equiparam-se telecomunicações ou informação a
serviço de utilidade pública;
− Ataque a redes de computadores.
− A maioria dos crimes de internet são relacionados ao usuário comum. A faixa etá-
ria está entre 18 e 30 anos. Geralmente são homens inteligentes, de classe média,
com boa situação financeira.
690
Promotorias de Justiça
SUBSTITUTIVO
(ao PLS 76/2000, PLS 137/2000 e PLC 89/2003) Altera o Decreto-Lei n’2.848, de 7
de dezembro de 1940 (Código Penal), o Decreto-Lei n° 1.001, de 21 de outubro de
1969 (Código Penal Militar), a Lei n° 9.296, de 24 de julho de 1996, o Decreto-Lei n°
3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código do Processo Penal), a Lei n° 10.446, de 8
de maio de 2002, e a Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código do Consu-
midor), para tipificar condutas realizadas mediante use de sistema eletrônico, digital
ou similares, de rede de computadores, ou que sejam praticadas contra dispositivos
de comunicação ou sistemas informatizados e similares, e da outras providencias.
Art. 3° O Titulo I da Parte Especial do Código Penal fica acrescido do Capitulo VI-A,
CAPÍTULO VIII
assim redigido:
“Capitulo VI-A
691
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
692
Promotorias de Justiça
“Art. 155...
§ 4° ...
V - mediante use de rede de computadores, dispositivo de co-
municação ou sistema informatizado ou similar, ou contra rede
693
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
694
Promotorias de Justiça
Art. 8° Os arts. 265 e 266 do Código Penal passam a vigorar com as seguintes
redações:
Art. 9° O art. 298 do Código Penal passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo
único:
...
Falsificação de cartão de crédito ou débito ou qualquer disposi-
tivo eletrônico ou digital ou similar portátil de captura, processa-
mento, armazenamento e transmissão de informações.
Parágrafo único. Equipara-se a documento particular o cartão de
crédito ou débito ou qualquer outro dispositivo portátil capaz de
capturar, processar, armazenar ou transmitir dados, utilizando-
se de tecnologias magnéticas, óticas ou qualquer outra tecnolo-
gia eletrônica ou digital ou similar. (NR)”
Art. 10. O Código Penal passa a vigorar acrescido do seguinte art. 298-A:
CAPÍTULO VIII
695
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
“Art. 240
Furto qualificado
§6...
- mediante use de rede de computadores, dispositivo de comu-
nicação ou sistema informatizado ou similar, ou contra rede de
computadores, dispositivos de comunicação ou sistema.
(NR) ”
Art. 13. O Titulo VII da Parte Especial do Livro I do Código Penal Militar, Decreto-
Lei, no 1.001, de 21 de outubro de 1969, fica acrescido do Capitulo VII-A, assim
redigido:
“Capitulo VII-A
DOS CRIMES CONTRA REDE DE COMPUTADORES, DISPO-
SITIVO DE COMUNICAÇÃO OU SISTEMA INFORMATIZADO
Acesso não autorizado a rede de computadores, dispositivo de
696
Promotorias de Justiça
697
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
698
Promotorias de Justiça
acesso a eles.”
Art. 16. O art. 2º da Lei n° 9.296, de 24 de julho de 1996, passa a vigorar acrescido
do seguinte § 2°, renumerando-se o parágrafo único para § 1°:
“Art. 2°
caput não se aplica quando se tratar de interceptação do fluxo
de comunicações em rede de computadores, dispositivo de co-
municação ou sistema informatizado.” (NR)
Art. 17. 0 art. 313 do Decreto-Lei n° 3.689, de 3 de outubro de 1941, Código do Pro-
cesso Penal (CPP), passa a vigorar acrescido do seguinte inciso V:
Art. 19. 0 art. 1 ° da Lei n° 10.446, de 8 de maio de 2002 passa a vigorar com a
seguinte redação:
699
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
“Art. 1°
- os delitos praticados contra ou mediante rede de computadores,
dispositivo de comunicação ou sistema informatizado. (NR)”
Art. 20.O art. 9° da Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990 passa a vigorar com a
seguinte redação:
“Art. 9°..
Parágrafo único. 0 disposto neste artigo se aplica a segurança
digital do consumidor, mediante a informação da necessidade
do use de senhas ou similar para a proteção do uso do produto
ou serviço e para a proteção dos dados trafegados, quando se
tratar de dispositivo de comunicação, sistema informatizado ou
provimento de acesso a rede de computadores ou provimento
de serviço por meio dela. (NR)”.
700
Promotorias de Justiça
Art. 23. Esta Lei entrara em vigor sessenta dias após a data de sua publicação.
F - Outros projetos
CAPÍTULO VIII
701
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Uma vez recebida a denúncia, uma equipe de Analistas de Conteúdo, com forma-
ção em Direito e Ciências da Computação irá, com ajuda de ferramentas específi-
cas, realizar uma verificação prévia dos dados recebidos. Terminada a verificação
prévia, inicia-se a análise do conteúdo da denúncia propriamente dito, ocasião em
que os analistas irão identificar ou não indícios que possam confirmar a materiali-
dade de um ou mais crimes e cuja ação penal seja pública - condicionada ou não a
representação. Vale dizer a equipe de analistas de conteúdo além de processar as
denúncias recebidas também realiza periodicamente um monitoramento dos princi-
pais serviços da rede Internet, com o objetivo de identificar novos incidentes e regis-
trar os indícios de crimes. Esta ação é denominada de rastreamento pró-ativo.
702
Promotorias de Justiça
− Seja prudente, não se sabe o que ou quem está por trás da tela do computador;
− Não diga seu nome ou idade;
− Nunca divulgue sua senha (password);
− Não fornecer seu endereço residencial ou dos locais que costuma freqüentar;
− Nunca envie qualquer foto sua;
− Nunca aceite propostas de encontro sem antes informar seus pais ou responsá-
veis;
− Não acredite em todas as informações fornecidas;
− Não responda a e-mails ofensivos
.
H - Onde denunciar os crimes da internet
CAPÍTULO VIII
A Comunidade precisa saber que além do Ministério Público Estadual existem inú-
meros outros órgãos que prestam relevantes serviços de combate aos ilícitos na
rede mundial de computadores:
703
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
JURISPRUDÊNCIA
704
Promotorias de Justiça
tação, na difamação, não necessita ser falsa para se caracterizar o crime. Difamar
uma pessoa consiste em divulgar fatos infamantes à sua honra objetiva, sejam eles
verdadeiros ou falsos. V - O princípio da consunção só é aplicável nos casos de
concurso aparente de tipos. Se verificada a ocorrência de dois delitos, resultados
de uma única conduta, a hipótese é de concurso formal. VI - Se o agente pratica
injúria e difamação, com uma mesma conduta, ocorre o chamado “”concurso formal
imperfeito”” ou “”impróprio””, já que ambos os delitos exigem o elemento subjetivo
do tipo específico para a sua caracterização, ou seja, o chamado “”dolo específico””,
não se podendo, por isso, negar que tenham ocorrido “”desígnios autônomos””. V
- Tratando-se de concurso formal imperfeito, aplicam-se cumulativamente as penas
dos delitos, nos termos da segunda parte do caput do art. 70 do CP. VI - Se o agente
distribui panfletos ofensivos pela cidade e, dias depois, alternadamente, ainda faz
publicar, na internet, o mesmo texto gravoso, comete delitos autônomos e não crime
único. VII - Na interpretação do parágrafo único do art. 12 da Lei de Imprensa, deve-
se concluir que a internet é uma espécie de “”serviço noticioso””, por dar a mais
ampla publicidade possível a toda informação que nela se disponibiliza. Assim, a
conduta de se fazer publicar, na rede mundial de computadores, um texto ofensivo
à honra de outrem, independentemente de constar de um site de um órgão de im-
prensa, uma vez imputada como crime, deve ser analisada à luz das disposições da
Lei de Imprensa, e não do Código Penal. V.V.P.: O valor da pena pecuniária deve ser
condizente com a intensidade de culpa ou dolo; forma e circunstâncias em que pra-
ticada a ofensa; repercussão e conseqüências do fato; função ocupada e posição
social do ofendido; grau de cultura do ofensor e situação econômica dos envolvidos
(Desembargador Eli Lucas de Mendonça).
Súmula: rejeitaram a queixa-crime, nos termos do voto do relator. deu-se por sus-
peito o des. Aluízio Quintão.
705
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Processo: HC 92232 / RJ
HABEAS CORPUS
2007/0238345-3
Relator: Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG)
(1136)
Órgão julgador: T5 - QUINTA TURMA
Data do julgamento: 08/11/2007
Data da Publicação: 26/11/2007
Ementa:
HABEAS CORPUS – FURTO EM CONTINUIDADE DELITIVA – OPERAÇÃO TRO-
JAN – OBTENÇÃO
AS SENHAS DOS DEPOSITANTES EM CONTAS BANCÁRIAS- PROVA QUE
PODE SER OBTIDA POR MEIOS DIVERSOS DA PERÍCIA NOS COMPUTADO-
RES – AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. ORDEM DENEGADA.
1- Os crimes praticados pela internet podem ser comprovados por muitos meios de
provas, como interceptações telefônicas, testemunhas e outros e até por documento
juntado aos autos, não constituindo a prova pericial nos computadores, difícil de ser
realizada, o único meio de prova, não havendo ofensa ao art. 158 do Código de
Processo Penal. 2- Sem demonstração de prejuízo não se pode reconhecer qual-
CAPÍTULO VIII
Processo: HC 48255 / GO
HABEAS CORPUS
2005/0158569-9
Relator: Ministro GILSON DIPP (1111)
Órgão julgador: T5 - QUINTA TURMA
Data do julgamento: 06/12/2005
706
Promotorias de Justiça
707
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
HC 88905 / GO – GOIÁS
HABEAS CORPUS
Relator(a): Min. GILMAR MENDES
Órgão Julgador: Segunda Turma
Julgamento: 12/09/2006
Publicação: 13/10/2006
Ementa:
Habeas Corpus. 1. Crimes previstos nos arts. 288 e 155, § 4º, incisos II e IV, ambos
do Código Penal e art. 10, da Lei Complementar nº 105/2001 (formação de qua-
drilha, furto qualificado e quebra de sigilo bancário). 2. Alegações: a) ausência de
fundamentação do decreto de prisão preventiva; b) excesso de prazo para forma-
ção da culpa e conclusão do processo. 3. No caso concreto, a decretação da pre-
ventiva baseou-se no fundamento da garantia da ordem pública, nos termos do art.
312 do CPP. O Juiz de 1º grau apresentou elementos concretos suficientes para a
caracterização da garantia da ordem pública: a função de “direção” desempenhada
CAPÍTULO VIII
708
Promotorias de Justiça
ANEXOS
709
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Difamação - Art. 139 do CP. Detenção e 3 meses a 1 Espalhar um boato sobre alguém.
ano e multa.
Injúria - Art. 140 do CP. Detenção de 1 a 6 meses Ofender a honra, a dignidade ou o decoro.
ou multa. Chamar a pessoa de “vaca“, “gorda” ou
“feia”.
Ameaça - Art. 147 do CP. Detenção de 1 a 6 meses Dizer que vai agredir alguém na próxima
ou multa. vez que o encontrar.
Incitação ao crime - Detenção de 3 a 6 meses Ensinar como fazer “um gato”, burlar meca-
Art. 286 do CP. ou multa. nismos de segurança ou construir bombas.
Incitar a violência a grupos, étnicos, religio-
sos orientação sexual semelhante.
Apologia de crime ou crimi- Detenção de 3 a 6 meses Vangloriar ato criminoso ou quem o tenha
noso - Art. 287 do CP. ou multa. praticado.
Pornografia infantil Multa de 3 a 20 salários, Ver ou enviar pela internet fotos de crianças
Art. 241 da Lei 8.069/90 aplicando-se o dobro em nuas.
caso de reincidência.
710
Promotorias de Justiça
Finalidades:
O monitoramento eletrônico pode se destinar a manter o indivíduo em lugar pre-
determinado (normalmente em casa), mas, alternativamente, o monitoramento é
utilizado também para garantir que o indivíduo não entre (freqüente) determinados
locais, ou ainda se aproxime de determinadas pessoas, mormente testemunhas,
vítimas e co-autores. Uma outra utilização tem sido para sistemas de vigilância.
Nessa ótica, o monitoramento é utilizado para que se mantenha vigilância contínua
sobre o indivíduo, sem a restrição de sua movimentação.
Diz-se assim que o monitoramento via GPS pode ser utilizado de forma ativa (quan-
do permite a localização do usuário em tempo real) ou na forma passiva (quando o
dispositivo utilizado pelo usuário registra toda sua movimentação ao longo do dia.
Os dados são retransmitidos uma única vez a uma central, que gera o relatório
diário)70.
69
Em regime experimental, na Capital, para presos sentenciados que estavam no regime semi-aberto
com todos os requisitos preenchidos para progressão para o regime aberto.
70
MARIATH, Carlos Roberto. Monitoramento eletrônico: liberdade vigiada. www.mj.gov.br
71
Esta tem sido a instalação preferencial no vizinho país da Argentina – em presos provisórios.
711
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
− Alguns estelionatos;
− Homicídios culposos;
− Pessoas em fim de pena;
− Enfermos graves;
− Gestantes.
Ainda que escape aos objetivos do presente capítulo, é de se registrar que o equi-
pamento se presta também para fins civis como:
− Afastamento de agressor do lar conjugal
− Pedófilo - não aproximação de escola
− Mau torcedor - não aproximação de estádio em dias e horários de certos jogos
pena
− A opinião pública geralmente aprova
− Estudos demonstram que nos países em que foi empregado, o equipamento con-
tribuiu para diminuição da Reincidência em cerca de 8%.
Outras Características:
712
Promotorias de Justiça
DESVANTAGENS:
− Em absoluto, não evita fuga
− Não serve para qualquer preso
− Implica em altos custos para o Estado
− Há quem tenha receio de eventual crescimento de condenações em casos de
relativa dúvida
É uma entidade civil, sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria, cons-
tituída mediante estatutos próprios, que prevêem como finalidade a recuperação
do preso, a proteção da sociedade, o socorro da vítima e a promoção da justiça, e
como filosofia “matar o criminoso e salvar o homem”.
713
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Não tem sido comum o registro de rebeliões, fugas, atos extremos de violência ou
de morte.
714
Promotorias de Justiça
CAPÍTULO I
Da Denominação, Sede, Fins, Duração e Organização
acordo com o que dispõe o presente Estatuto, o qual constitui a sua lei orgânica, de
conhecimento e observância de todos os seus associados.
CAPÍTULO II
Dos Associados
715
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Art. 6º - Os associados de que tratam as letras “b” e “c”, do artigo anterior, ficam
isentos de qualquer contribuição pecuniária em caráter permanente.
Art. 7º - Para os associados da letra “c” do art. 5º, o não pagamento de três (3)
mensalidades consecutivas, salvo por motivo de força maior, importará na perda
dos direitos sociais e conseqüente exclusão do quadro associativo.
716
Promotorias de Justiça
717
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
CAPÍTULO III
Dos Poderes Sociais
CAPITULO IV
Da Assembléia Geral
§ 1º - Excetuam-se das normas deste artigo os itens II e IV do art. 14, uma vez que
nesses casos é exigido o voto concorde de dois terços dos presentes à Assembléia
especialmente convocada para esse fim, não podendo ela deliberar, em primeira
convocação, sem a maioria absoluta dos associados, ou com menos de um terço
nas convocações seguintes”.
§ 2º - As decisões serão sempre tomadas por maioria simples.
718
Promotorias de Justiça
Art. 19 - A Assembléia Geral, além dos Conselheiros efetivos, elegerá cinco Su-
plentes, que serão chamados a servir na ordem de maior votação, aplicando-se o
disposto no parágrafo único do artigo 21, em caso de empate, para preenchimento
de vaga temporária ou definitiva no Conselho Deliberativo.
Art. 20 - As eleições do Conselho Deliberativo, de sua Mesa Diretora, da Presidên-
cia da Diretoria Executiva e do Conselho Fiscal serão feitas por escrutínio secreto e
CAPÍTULO VIII
719
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
CAPITULO V
Do Conselho Deliberativo
720
Promotorias de Justiça
721
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Art. 33 - Os Conselheiros que, sem causa justificada, faltarem a três reuniões con-
secutivas perderão automaticamente seus mandatos, o que deverá constar da ata
da reunião respectiva.
CAPITULO VI
Da Administração Geral
b) Vice-presidente;
c) Primeiro Secretário;
d) Segundo Secretário;
e) Primeiro Tesoureiro;
f) Segundo Tesoureiro;
g) Diretor do Patrimônio; e,
h) Consultor Jurídico.
§ 1º - A Administração da APAC poderá ainda ser auxiliada por comissões e depar-
722
Promotorias de Justiça
tamentos, sempre que a diretoria o julgar conveniente, as quais serão criadas pelo
presidente, que lhes dará denominação, atribuição e nomeará seus membros, cujo
número fixará.
§ 2º - Excetuando-se o cargo de Presidente da Diretoria Executiva os demais mem-
bros serão nomeados, demitidos e substituídos pelo Presidente da Diretoria Execu-
tiva, ouvido previamente o Conselho Deliberativo.
Art. 37 - A Diretoria, que exercerá todos os poderes que são conferidos por este
Estatuto, reunir-se-á, no mínimo, uma vez por mês, em dia e hora que serão pre-
viamente designados pelo presidente e decidirá por maioria absoluta de seus mem-
bros.
§ 1º - Compete à Diretoria a decisão a respeito de exclusão de associados por co-
metimento de falta grave.
§ 2º - Os trabalhos de cada reunião da Diretoria serão registrados em ata, em livro
próprio redigida por um dos secretários, devidamente assinada, após aprovação
pelo presidente e secretário.
§ 3º - O Diretor que, sem justa causa, faltar a três reuniões consecutivas perderá
automaticamente seu mandato, o que deverá constar da ata da reunião respectiva.
723
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
CAPITULO VII
Da Diretoria Executiva
724
Promotorias de Justiça
Art. 49 - Cada diretor terá autonomia de atuação para exercer as suas atribuições
previstas neste estatuto ou determinadas por ato Presidencial, ressalvado ao dis-
posto no art. 38.
CAPITULO VIII
Do Conselho Fiscal
725
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Art. 52 - As deliberações do Conselho Fiscal serão tomadas pela maioria dos seus
membros.
CAPITULO IX
Dos Voluntários e dos Estagiários
726
Promotorias de Justiça
727
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
rio poderá receber bolsa, ou outra forma de contraprestação que venha a ser acor-
dada, ressalvando o que dispuser a legislação previdenciária, devendo o estudante,
em qualquer hipótese, estar segurado contra acidentes pessoais.
§ 1º - A jornada de atividade em estágio, a ser cumprida pelo estudante, deverá
compatibilizar- se com o seu horário escolar e com o horário da parte em que venha
a ocorrer o estágio.
§ 2º - Nos períodos de férias escolares, a jornada de estágio será estabelecida de
comum acordo entre o estagiário e a parte concedente do estágio.
CAPÍTULO X
Do Patrimônio e do Fundo Social
728
Promotorias de Justiça
f) subvenções governamentais; e,
g) verbas oriundas dos Juizados Especiais.
CAPÍTULO XI
Dos Regimentos, Regulamentos e Avisos
CAPITULO XII
Disposições Gerais
729
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Art. 71 - Os casos omissos ou não previstos neste Estatuto serão resolvidos pela
Diretoria Executiva ou pelo Conselho Deliberativo, de acordo com os princípios de
direito.
Processo n º:
Requerente:
730
Promotorias de Justiça
Meritíssimo Juiz,
Fulano, já qualificado nos autos, autuado em flagrante delito por haver
violado, em tese, o preceito proibitivo dos arts. 33 da Lei 11.343/06 e 14 da Lei
10.826/03, através de advogada constituída, requer a liberdade provisória.
Ao fundamentar o presente pedido, o requerente alega ser primário, de
bons antecedentes, possuidor de residência fixa e profissão definida. Acres-
centou que a Lei 11.464/07, a qual alterou a Lei de Crimes Hediondos, retirou a
expressa vedação à concessão do benefício em comento. Ademais, assevera
que não se encontram presentes os requisitos da prisão preventiva, pelo que
deve ser posto em liberdade.
Conforme consta da inclusa cópia do auto de prisão em flagrante, na
madrugada do dia 27 de abril do corrente ano (2008), policiais militares en-
contravam-se em patrulhamento, ocasião em que receberam uma denúncia
anônima, informando que dois indivíduos estariam armados, comercializando
drogas nas proximidades do Beco João Alfredo, nesta Capital.
Diante disso, os militares dirigiram-se ao local indicado, onde avista-
ram o requerente Fulano e o também autuado João, os quais empreenderam
fuga ao visualizar os policiais, oportunidade em que dispensaram algo.
Os referidos indivíduos foram detidos e os objetos dispensados arreca-
dados, os quais se tratavam de 22 (vinte duas) pedras de “crack”, um revolver
calibre 38 e outra arma de fogo do mesmo calibre, com numeração raspada.
Os fatos narrados denotam o envolvimento de Fulano com a traficân-
cia.
Diante disso, o pleito de liberdade provisória em questão não poderá
ser acolhido, eis que a nova legislação de tóxicos, Lei n.º11.343/06, em seu
art. 44, proibiu explicitamente a concessão de liberdade provisória no caso dos
delitos previstos nos arts. 33, caput e §1º, e 34 a 37:
“Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta
Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberda-
de provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.”
CAPÍTULO VIII
731
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
em testilha. Vejamos:
732
Promotorias de Justiça
Comarca, (data).
------------------------
CAPÍTULO VIII
Promotor de Justiça
733
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
73
Art. 7º As penas correspondentes a infrações diversas devem somar-se para efeito do indulto e da co-
mutação. Parágrafo único. Na hipótese de haver concurso com infração descrita no art. 8º, o condenado
não terá direito a indulto ou comutação enquanto não cumprir, integralmente, a pena correspondente ao
crime impeditivo dos benefícios (art. 76 do Código Penal).
CAPÍTULO VIII
74
Os benefícios previstos neste Decreto não alcançam os condenados: I - por crime de tortura, ter-
rorismo ou tráfico ilícito de drogas, nos termos do art. 33 da Lei no 11.343, de 23 de agosto de 2006,
excetuadas as hipóteses previstas nos §§ 2º e 3º do artigo citado; II - por crime hediondo, praticado após
a edição da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, observadas as alterações posteriores; III - por crimes
definidos no Código Penal Militar que correspondam aos delitos previstos nos incisos I e II deste artigo.
Parágrafo único. As restrições deste artigo e do inciso I do art. 1º não se aplicam às hipóteses previstas
no inciso VI do citado art. 1º.
75
não-reincidente ou reincidente
76
A concessão dos benefícios deste Decreto fica condicionada à inexistência de falta disciplinar de
natureza agrave cometida nos últimos doze meses de cumprimento da pena, e, no caso de crime militar,
da inexistência de falta disciplinar prevista nos respectivos regulamentos disciplinares, verificada nos
últimos doze meses de cumprimento da pena, contados, em ambos os casos, retroativamente à publi-
734
Promotorias de Justiça
trata o art. 42 do Código Penal (art. 3.º, do Decreto 6.294/07) e/ou a remição
de que trata o art. 126 da LEP.
Assim sendo, o sentenciado preenche os requisitos objetivos para a obten-
ção do INDULTO, nos termos do Decreto nº 6.294, publicado no D.O.U. de
11/12/2007, conforme anexa documentação comprobatória77, pelo que re-
quer o signatário, após os trâmites legais, com a oitiva do CONSELHO PE-
NITENCIÁRIO ESTADUAL (art. 70, LEP), nova vista dos presentes autos ao
MINISTÉRIO PÚBLICO e à DEFESA (art. 9.º, § 2.º do Decreto n.º 6.294/07)
para ao final ser concedido o benefício, declarando-se extinta a (s) pena (s)
privativa (s) de liberdade do agente nos termos do art. 107, inc. II, 3ª figura,
do Código Penal, com as comunicações e anotações de estilo.
......................., ...........de ................................................. de 20...........
...............................................................................................................
a)
Promotor de Justiça
− Constituição da República
− Código Penal
− Lei de Execução Penal (Lei nº 7210/1984)
− Lei de Assistência Judiciária (Lei nº 1060/1950)
− Decretos Presidenciais relativos a indulto e comutação (Decretos nº 6.294/2007,
5.993/2006, 5.620/2005, 5.295/2004, 4.904/2003, etc.)
− Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto São José da Costa Rica
(Decreto nº 678/1992)
− Regulamento Disciplinar Prisional do Estado de Minas Gerais (REDIPRI de
10/03/2004)
− Resolução nº 297/1996 do TJMG
CAPÍTULO VIII
735
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
“De todo ello resulta que, certamiente, la efectividad del principio acusatório exige
para excluir la indefensión ‘que el hecho objeto de la acusación y el que es base de
la condena permanezcan inalterables’(...), y ello no solo por razón de la necesaria
congruencia con el objeto del proceso, sino porque la modificación e introducción
CAPÍTULO VIII
736
Promotorias de Justiça
C) Manter sigilo sobre o que sabe, a não ser que o cumprimento do dever ou as
necessidades da justiça exijam o contrário;
737
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
violações graves dos direitos humanos e outros crimes reconhecidos pelo direito
internacional e, quando autorizado pela lei ou consistente com a prática local, pro-
ceder à investigação de tais delitos;
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARQUES, José Frederico. Tratado de direito processual penal. São Paulo, Sa-
raiva.
AMBOS, Kai. Impunidade por violação dos direitos humanos e o direito penal inter-
nacional. In: Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, n. 49, p. 48-88,
jul./ago. 2004.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado. 2. ed. São Paulo: Sarai-
va, 2004. 1298p.
738
Promotorias de Justiça
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JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal - Parte Geral. São Paulo: Saraiva,
2005.
A - Escorço Histórico
A Justiça Militar apenas foi criada no Brasil em 1936, através da Lei Federal nº 192,
de 17 de janeiro de 1936, que autorizou a organização da Justiça Militar nos Esta-
dos, aproveitando-se de comando da Constituição de 1934, que conferiu à União
competência privativa para legislar sobre a organização, instrução, justiça e garan-
tia das forças policiais dos Estados, sendo que no Estado de Minas Gerais somente
CAPÍTULO VIII
A Constituição Federal de 1988 no que se refere à Justiça Militar dispõe sobre sua
competência e criação dos Tribunais de Justiça Militar, já que esses só existem atu-
almente em três Estados: Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.
742
Promotorias de Justiça
De tal arte, assim como nas promotorias criminais afetas à justiça comum, os pro-
motores com atuação perante a Justiça Militar oficiam nos inquéritos policiais milita-
res, peças de informações recebidas e processos criminais deflagrados.
A Justiça Militar estadual não julga civis, por expressa vedação constitucional, di-
ferentemente da Justiça Militar da União que tem essa competência, nos casos
especificados.
CAPÍTULO VIII
743
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por via de exceção legal, compete à Justiça Comum processar e julgar os policiais
militares pela prática de crime de abuso de autoridade (Lei n° 4.898/65), facilitação
de fuga de preso de cadeia pública e crimes dolosos contra a vida praticados por
militar contra civil (Lei n° 9.299/96).
Noutro giro, nossos tribunais têm entendido que compete, ainda, à Justiça Militar
processar e julgar os delitos cometidos em lugares sujeitos à Administração militar
e os crimes de favorecimento pessoal, mas somente quando se imputa ao favore-
cido um crime militar. Igualmente, sedimentaram o entendimento de que compete à
Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de trânsito
CAPÍTULO VIII
envolvendo viatura militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares em situ-
ação de atividade (Súmula nº 6 do Superior Tribunal de Justiça) e que compete à
Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito
tenha sido praticado em outra unidade federativa (Súmula nº 79 do Superior Tribu-
nal de Justiça).
Referidas conclusões têm como esteio o art. 9º do Código Penal Militar, que define
os crimes militares, de sorte que a atuação do Ministério Público pautar-se-á, estri-
744
Promotorias de Justiça
Assim como o inquérito policial afeto á Justiça Comum Estadual, os inquéritos poli-
ciais militares visam reunir prova da materialidade e indícios de autoria para supe-
danear a deflagração da ação penal.
Pode ser instaurado de ofício através de portaria, por requisição do Ministério Pú-
blico, por auto de prisão em flagrante delito, por requerimento de parte interessada,
por decisão do STM e, ainda, quando se verificar, no curso de sindicância, a prática
de fato definido como crime, nos termos do art. 10 do Código de Processo Penal
Militar. Naturalmente, as hipóteses mais comuns são as da instauração de ofício,
por requisição do Parquet e auto de prisão em flagrante delito.
Os inquéritos policiais militares, por se constituírem peças que visam apurar a prá-
tica de infração penal, não possuem rito próprio, havendo tão somente o norte legal
(art. 13) para realização de diligências para apuração do fato.
Recebido o inquérito militar pelo órgão ministerial, este poderá adotar as seguintes
providencias:
1 - Propor ação penal através de denúncia;
2 - Requerer o arquivamento;
3 - Requerer a devolução dos autos ao encarregado solicitando diligências;
4 - Requerer a declinação da competência.
5 - Ofertar proposta de transação penal
Tal fato ocorre por não haver um único órgão responsável para realização dos in-
quéritos, sendo que qualquer oficial de maior graduação que o investigado pode
ser encarregado do inquérito, pesando contra o investigador, no caso de descum-
primento da determinação para investigação, os delitos de descumprimento de mis-
745
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
E - Processo Criminal
O tempo para os debates é relativamente longo, três horas para acusação e três
horas para a defesa, com réplica e tréplica de até uma hora, salvo nos casos de
deserção em que o limite para as explanações é de trinta minutos, com réplica e
tréplica de no máximo quinze minutos.
CAPÍTULO VIII
Com relação a estes, cumpre destacar que as infrações penais praticadas por mili-
tares contra civis são julgadas pelo juiz de direito singularmente, salvo nos casos de
crimes dolosos contra a vida, cuja competência é do tribunal do júri por força cons-
746
Promotorias de Justiça
O Código de Processo Penal Militar prevê, em seu art. 263, o instituto da menagem,
prisão fora do cárcere mediante a palavra do agente, concedida como homenagem
a este em razão de seus antecedentes e aspectos funcionais.
Nas hipóteses em que não caiba liberdade provisória (art. 270 do CPPM), poderá
ser concedida a menagem ao agente, em respeito à sua situação pessoal e obser-
vância ao interesse da coletividade. Admite-se na doutrina a menagem intra-muros
e a menagem extra-muros. A primeira revela-se verdadeira prisão, pois o militar está
proibido de deixar a sede onde está preso, sendo-lhe permitido apenas o trânsito
livre dentro do estabelecimento militar, sem a obrigação de permanecer na cela. Por
outro turno, a menagem extra-muros assume contornos de liberdade por palavra,
adequando-se à normatização dos art. 263 usque 269 do CPPM.
Feito o pedido de menagem, o Ministério Público terá vista dos autos por três dias
para se manifestar, devendo posicionar quanto a concessão ou não do instituto.
Segundo o art. 510 do Código de Processo Penal Militar, das decisões proferidas
em primeira instância cabem recurso em sentido estrito e apelação.
O recurso em sentido estrito segue as diretrizes dos arts. 516 usque 525 do CPPM,
CAPÍTULO VIII
devendo ser interposto no prazo de três dias, sendo que as razões deverão ser
apresentadas no prazo de cinco dias após a abertura de nova vista para tal fim, não
possuindo, em regra, efeito suspensivo.
747
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O recurso de apelação, por sua, é residual, consoante se infere do art. 526 e se-
guintes do CPPM. O prazo para interposição é de cinco dias, sendo que as razões
recursais devem ser apresentadas em dez dias, contados após a abertura de vista
para aludida finalidade, tendo, em regra, efeito suspensivo.
Assim, pode-se afirmar que não existe lei própria a reger a execução de pena de
militares condenados que cumprem pena em estabelecimentos prisionais militares,
salvo o próprio CPPM.
Diante da lacuna legal, o Juiz Militar tem, por força dos arts. 588 e 590 do CPPM,
competência para apreciação dos incidentes da execução penal, sendo certo, igual-
mente, que diante de tamanha discricionariedade, não se torna possível a definição
de padrões.
De bom alvitre nos parece que nos casos não previstos no CPPM, subsidiariamen-
te seja aplicada a Lei de Execuções Penais para nortear as decisões relativas à
matéria, como forma de se preservar o princípio da isonomia, pois inexiste norma
distintiva em nosso ordenamento jurídico.
Ainda que em diversas situações o militar tenha tratamento diverso do civil, assim
CAPÍTULO VIII
748
Promotorias de Justiça
A lida diária do Promotor de Justiça com atuação na Justiça Militar apresenta si-
tuações diferentes de sua atuação no juízo criminal comum. É importante para o
Promotor de Justiça conhecer os termos e expressões utilizadas na caserna, bem
como seus significados.
O convívio com o Conselho Permanente de Justiça perdurará por três meses, sen-
do importante o estabelecimento de relacionamento cordial com seus componentes
(Juiz Auditor e quatro oficiais militares). Da mesma forma, revela-se imprescindível
averiguar a formação profissional e pessoal de seus membros, pois não há a obri-
gatoriedade de que sejam formados em direito.
Diante de tal fato, a preparação para os julgamentos deve ser diferente para cada
Conselho Permanente, haja vista a diversidade de sua composição. Certo é que a
existência de oficiais formados em direito no Conselho facilita a preparação e en-
curta os debates, assim como mais árduo será o trabalho quando inexistam oficiais
bacharéis em direito.
Constituição Federal
Código Penal Militar
Código de Processo Penal Militar
Código Penal
CAPÍTULO VIII
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSIS, Jorge César de. Código de Processo Penal Anotado. Curitiba: Juruá, 2005.
749
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
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ROMEIRO, Jorge Alberto. Curso de Direito Penal Militar. São Paulo: Saraiva,
1994.
78
Art. 16, inciso III, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948.
750
Promotorias de Justiça
A inicial será assinada, em audiência, por ambos os cônjuges e deverá vir acompa-
nhada dos seguintes documentos:
a) procuração;
b) certidão de casamento;
c) certidões de nascimento dos filhos;
d) pacto antenupcial, se houver.
A.2 – Audiência
751
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Caso qualquer dos cônjuges não compareça à audiência ou não ratifique o pedido,
o processo deverá ser arquivado (art. 1.122, § 2º, do CPC).
A.3 – Acordo
A.5 – Partilha
Lembrar que a partilha não é obrigatória, podendo ser feita após homologada a
CAPÍTULO VIII
80
“2ª Turma do TJMG – Apelação Cível n° 28.104-8, Comarca de Contagem, publicada em 16/05/95,
Rel. Des. Lauro Pacheco Filho, que determinou a realização de ratificação por procuração em caso
semelhante ao destes autos”.
“Agravo de Instrumento n° 124.928-1 – TJSP - RJTJSP 125-367 que determinou o prosseguimento do
feito com a realização da audiência através de procurador, em caso idêntico ao versado nestes autos”.
752
Promotorias de Justiça
Não se apura a culpa nas hipóteses dos arts. 1.572, § 1º, e 1.573, parágrafo único,
do Código Civil, desde que evidenciada a impossibilidade da vida em comum. A
apuração somente se faz necessária para os fins do art. 1.702 do CC.
B.4 – Sentença
753
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
nome a ser adotado pelos cônjuges, não constituindo a partilha obstáculo à decreta-
ção da separação, o que poderá ser discutido em ação distinta de partilha de bens.
C.2 – Audiência
Não havendo acordo, o feito seguirá o rito ordinário, que prevê prazo de quinze dias
para apresentação da contestação.
C.4 – Partilha
CC.
A inicial deverá ser assinada por ambos os cônjuges, em audiência, conter a indica-
ção dos meios probatórios da separação de fato e os itens especificados no item 3,
754
Promotorias de Justiça
D.2 – Audiência
D.3 – Partilha
Tendo em vista que o único requisito a ser analisado é o decurso de um ano do trânsito
em julgado da sentença que houver decretado a separação judicial ou da decisão con-
cessiva da medida cautelar de separação de corpos (art. 1.580, caput, do CC), prescin-
dível a intervenção do Ministério Público, salvo se um dos cônjuges for incapaz.
F – Ações cautelares
Observar que, na área de família, as medidas cautelares mais comuns são: sepa-
ração de corpos, guarda de filhos, visitação, alimentos provisionais, seqüestro e
81
Têm por fundamento os arts. 796 e seguintes do CPC e poderão ser interpostas como preparatórias
ou incidentais à ação principal.
755
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Deverão ser observados os requisitos legais (arts. 282 e 283 do CPC), devendo,
ainda, estar presentes o periculum in mora e o fumus boni iuris.
756
Promotorias de Justiça
É possível a cumulação das ações, não obstante os ritos sejam diferentes, hipótese
na qual deverá ser observado o rito das cautelares inominadas.
Observar que, se um dos cônjuges já deixou o lar conjugal, a liminar poderá ser
concedida para os fins de contagem de tempo para o divórcio por conversão, art.
1.580 do Código Civil, especialmente nos casos em que o pedido for consensual e
o casamento não tenha ocorrido há mais de um ano. É necessária a realização da
separação judicial, sem a qual resta impossível o divórcio pela via da conversão.
Verificar que medida liminar de caráter expulsório só deverá ser deferida diante
de fatos comprovadamente graves, a fim de se evitar agravamento das relações
conjugais.
O pedido deverá ser formulado perante o juízo da separação, nos termos do art. 46
da Lei nº 6.015/77, e vir instruído com cópia da certidão de casamento, contendo a
averbação da separação.
Caso o pedido não tenha sido assinado pelos requerentes, necessária a juntada de
procuração com poderes especiais para tanto.
CAPÍTULO VIII
H – A união estável
757
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
H.2 – Requisitos
O estado civil das partes deverá estar comprovado nos autos, observando-se que,
caso os conviventes sejam civilmente casados, será necessária a comprovação de
eventual separação de fato, para os fins do art. 1.723, § 1º, Segunda Parte, do Códi-
go Civil. Nessa hipótese, o cônjuge deverá integrar o pólo passivo da ação. Também
se faz necessário comprovar o período da união, apurando-se seu início e término.
I – Ação de alimentos
I.2 – Audiência
758
Promotorias de Justiça
Verificar que os alimentos são devidos a partir da citação (art. 13, § 2, da Lei nº
5.478/68) e que na fixação do quantum, deverão ser levados em conta os seguintes
critérios:
a) se autor e réu forem maiores e capazes, observar recomendação Conjunta PGJ
CGMP nº 3, de 12 de novembro de 2007;
b) a capacidade financeira do alimentante;
c) a quantidade de filhos menores que possui o alimentante;
d) caso seja o réu profissional autônomo, fixam-se os alimentos, via de regra, em
um percentual do salário mínimo, podendo, contudo, ser estipulado um determinado
valor, sujeito a um dos índices oficiais de correção;
e) obrigatoriamente, conforme determinação do art. 1.710 do CCB, deverá existir
previsão de reajuste para os alimentos;
f) sendo o alimentante assalariado, fixa-se a verba alimentar, em regra, sobre per-
centual da remuneração bruta ou líquida do alimentante, entendendo-se como re-
muneração líquida, salvo algumas poucas e individualizadas exceções, o valor bru-
to, descontando-se a contribuição previdenciária e eventual imposto de renda;
g) não existe um percentual previamente estabelecido para a fixação de alimentos,
devendo os aplicadores da lei, ao fixarem a verba alimentar, observar o trinômio
possibilidade/necessidade/proporcionalidade;
h) se a mulher ou o marido possuírem renda própria, não se justifica pleitear pensão
alimentícia um do outro (art. 226, CF/88). Contudo, mesmo possuindo o ex-consor-
te o seu próprio labor, sendo a renda insuficiente para atender suas necessidades
básicas, poderá um pleitear alimento do outro;
i) não existe compensação em ações de alimentos, a teor do art. 1.707 do CCB.
759
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
esta permanece com sua eficácia. Uma vez sobrevindo uma variante na vida do
alimentante ou do alimentado, será possível se discutir um novo valor para os ali-
mentos.
Não é, contudo, toda e qualquer variante financeira que poderá beneficiar o pres-
tador de alimentos com a redução do encargo. Possuindo a revisão de alimentos
raízes na teoria da imprevisão, somente aquelas situações futuras e inesperadas
poderão beneficiar o prestador de alimentos, cabendo observar se o alimentante
criou, com plena consciência, situações que venham lhe comprometer os ganhos e,
em virtude de tais situações, pleiteou a redução dos alimentos.
K – Execução de alimentos
conto em folha.
760
Promotorias de Justiça
K.2.1 – Cabimento
761
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
K.2.3 – Iniciativa
de quinze dias para pagamento voluntário dos alimentos, a partir do qual poderá
instaurar-se a fase executiva do processo sincrético (art. 475-J do CPC).
762
Promotorias de Justiça
Existem três correntes sobre o termo inicial para contagem da fluência do prazo de
quinze dias: a primeira considera a intimação pessoal do devedor como termo inicial
de contagem; a segunda, a intimação do advogado e a terceira, defendendo a des-
necessidade de intimação, conta o prazo a partir da publicação da decisão.
Feita a penhora e avaliação, será dela intimado o devedor, por intermédio de seu
advogado ou, na falta deste, pessoalmente, fluindo-se a partir daí o prazo de quinze
dias para impugnação.
A matéria que pode ser argüida pela impugnação não é ampla, estando taxativa-
mente elencada no art. 475-L, do CPC, segundo o qual tal peça defensiva não ad-
mite cognição ampla ao devedor, pois já teve essa oportunidade durante o processo
de conhecimento.
De regra, a impugnação não tem efeito suspensivo, razão pela qual o cumprimento
de sentença prossegue a despeito de seu oferecimento. Contudo, pode o juiz, a
requerimento do impugnante, atribuir efeito suspensivo à impugnação, desde que o
763
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Deferido efeito suspensivo à impugnação, essa correrá nos próprios autos do cum-
primento de sentença e, no caso de indeferimento, em autos apartados, a despeito
de sua natureza de incidente processual, conforme previsto no art. 475-M, § 2º, do
CPC.
Aqui se trata da execução por quantia certa contra devedor solvente, procedimento
que continua aplicável em matéria de execução de alimentos, quando a obrigação
alimentar fundar-se em título executivo extrajudicial.
764
Promotorias de Justiça
No entanto, não pode o devedor ser compelido a cumprir a prisão civil por mais de
uma vez, por causa da mesma parcela da verba alimentar, motivo pelo qual, venci-
do o prazo de prisão civil determinado pelo juiz, a parcela alimentícia pode ser no-
vamente executada, através de constrição patrimonial, não sendo mais possível a
execução com coerção pessoal pela mesma parcela, sob pena de constrangimento
ilegal.
765
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
terior ao CPC, revogou o art. 733, § 1º, desse diploma legal, o qual previa o prazo
máximo de três meses para a prisão civil por dívida de alimentos.
K.4.2 – Cabimento
Com relação ao prazo de três meses fixado jurisprudencialmente, foi feita interpre-
tação analógica com o prazo máximo de prisão civil por dívida de alimentos fixado
originalmente no CPC, entendendo assim razoável firmar-se o entendimento de que
seriam pretéritas e sem caráter alimentar as prestações vencidas há mais de três
meses.
ção como possivelmente executáveis pelo rito do art. 733 do CPC, já que se trata
de obrigação de trato sucessivo, em que há a inclusão das prestações vencidas no
curso da execução por força de lei (CPC; art. 290).
Vale salientar que não podem integrar a execução de alimentos com coerção pesso-
al os honorários advocatícios e demais despesas processuais, em razão da ausên-
cia de caráter alimentar dessas verbas, sob pena de constrangimento ilegal.
766
Promotorias de Justiça
K.4.3 – Procedimento
Essa execução principia com uma petição inicial, que deve atender os requisitos
das iniciais em geral, bem como estar acompanhada de título executivo e memória
discriminada de cálculo, sob pena de indeferimento, valendo, com relação a essa
memória de cálculo, o que já foi falado na parte relativa ao cumprimento de senten-
ça.
A citação deve ser pessoal e por mandado, pois descabe citação por via postal no
processo de execução (art. 222, “d”, do CPC). Cabível, contudo, citação ficta, por
edital ou com hora certa, nessa modalidade executiva, desde que atendidos os
requisitos legais para a citação ficta, ao contrário do que ocorre na execução autô-
noma com constrição patrimonial, na qual se aplica o art. 653 do CPC.
Procedida a citação do devedor e não tendo esse pago, provado que o fez ou justi-
ficado a impossibilidade de fazê-lo, será decretada sua prisão civil pelo prazo máxi-
mo de sessenta dias, como meio coercitivo do cumprimento da obrigação, valendo
quanto à prisão civil o que já ficou consignado no item K.4.1 acima.
Tendo sido paga a dívida, bem como as parcelas vencidas no curso da execução,
essa será extinta (art. 794, I, do CPC); a execução poderá prosseguir, caso não
tenham sido pagas as ditas parcelas vencidas, nos termos do art. 290 do CPC e
Súmula nº 309 do STJ.
CAPÍTULO VIII
Embora a lei processual civil não preveja fase instrutória nesse procedimento exe-
cutivo, entende-se que, se o devedor alegar em sua justificativa matérias fáticas
que dependam de dilação probatória, bem como de produção de prova oral, poderá
767
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
designar-se audiência para colheita de provas orais, assim como realizar prova pe-
ricial, se for o caso.
Saliente-se, entretanto, que esse rito de execução de alimentos não deve atender
às fases do procedimento ordinário, sob pena de retirar-lhe a necessária celerida-
de, admitindo-se apenas uma instrução sumária a fim de oportunizar ao devedor
a possibilidade de exercer o direito ao contraditório, só sendo cabível tal instrução
quando estritamente necessária.
Após tal fase, o Ministério Público emitirá parecer sobre o caso, decidindo após o
Juiz, se decreta ou não a prisão do devedor inadimplente.
O art. 734 do CPC prevê que a execução de alimentos será feita por simples des-
conto em folha do devedor quando esse for funcionário público, militar, diretor ou
gerente de empresa, bem como empregado sujeito à legislação do trabalho, i.e.,
CAPÍTULO VIII
quando tiver rendimentos certos, sendo esse meio executivo o mais simples pos-
sível, tendo, por isso, prioridade sobre as demais modalidades executivas, como
prescrevem os arts. 17 e 18 da Lei nº 5.478/68.
768
Promotorias de Justiça
A Lei de Alimentos (Lei nº 5.478/68), em seu art. 22, parágrafo único, tipifica como
crime contra a administração da Justiça a conduta de quem se recusa ou procras-
tina a execução de ordem de desconto em folha de pagamento, expedida por Juiz
competente.
Vale salientar, entretanto, que a citada conversão não poderá deixar de observar os
princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, razão pela qual será
imprescindível que o devedor disponha de novo prazo para apresentação dos meios
de defesa que entender cabíveis, sob pena de ofensa ao due process of law.
K.7 – Prescrição
Com relação ao prazo prescricional acima aludido, deve-se ainda observar as cau-
sas interruptivas da prescrição previstas na lei civil.
769
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
L – Tutela
L.3 – Legitimidade
L.4 - Documentos
L.5 - Alvará
770
Promotorias de Justiça
Se o produto da venda for depositado em conta judicial, pugnar para que seja em
estabelecimento oficial de crédito, com juros e correção monetária, exigindo, ainda,
a comprovação nos autos do aludido depósito.
Nas hipóteses previstas nos arts. 1.735 e 1.766, CC, requerer a remoção do tutor,
adotando o procedimento previsto no art. 1.194 e seguintes do CPC.
M – Curatela
M.2 – Legitimidade
CAPÍTULO VIII
A interdição deve ser promovida por: pais, tutores (I); cônjuge ou qualquer parente
(II); Ministério Público (III) (art. 1.768 do Código Civil).
771
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Código Civil;
- atestados médicos do autor e do requerido;
- declaração de bens e rendimentos do interditando;
- documento de identidade de ambos;
- certidões cíveis e criminais, inclusive perante o Juizado Especial Criminal, do au-
tor;
- declaração do autor acerca de sua eventual incidência nas vedações do art. 1.735
do Código Civil.
772
Promotorias de Justiça
M.5 – Prova
Verifica-se que a impressão pessoal do Juiz por ocasião do interrogatório não supre
a perícia médica, que é obrigatória, a teor do art. 1.183 do CPC. Com base no art.
54 da Lei nº 3.807/60, foi consolidado entendimento jurisprudencial acerca da pos-
sibilidade de se aceitar atestado médico do interditando pormenorizado exarado por
profissional cadastrado no INSS, contendo todas as informações necessárias.
Zelar para que a sentença de interdição seja levada a registro, requerendo a sus-
pensão dos direitos políticos do incapaz, conforme art. 15, inc. III, da CF/88, bem
como para que seja averbada a que puser termo à interdição ou determinar altera-
ção de curador ou dos limites da curatela (absoluta ou relativa).
N – Guarda
N.1 – Competência
773
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Há três espécies de guarda que são previstas pelo Estatuto: a provisória, a perma-
nente e a peculiar:
- a nominada guarda peculiar (art. 33, § 2º, 2ª hipótese) traduz uma novidade introduzida pelo
Estatuto. Visa ao suprimento de uma falta eventual dos pais, permitindo-se que o guardião
represente o guardado em determinada situação82.
N.3 – Legitimidade
Além das provas requeridas pelo autor, recomenda-se pugnar pela realização de
estudos social e psicológico.
N.5 – Documentos
CAPÍTULO VIII
Quando a guarda se destina a atender uma situação peculiar, ou seja, não é reque-
rida por um dos detentores do poder familiar, recomenda-se pugnar pela juntada de
certidões cíveis e criminais e pelo atestado de saúde do autor.
82
ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente – Doutrina e Jurisprudência. Atlas,
1998. p.67-68
774
Promotorias de Justiça
O – Investigação de paternidade
O.2 – Competência
O.4 – Prova
CAPÍTULO VIII
775
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
c) o conteúdo dos depoimentos prestados pela mãe do autor e pelo réu, cotejando-o
com o das testemunhas arroladas pelas partes e com outros elementos probató-
rios;
d) o comportamento da mãe do autor;
e) as conclusões do laudo pericial genético ou hematológico;
f) observar o disposto na Súmula nº 301 do STJ e arts. 231 e 232 do CC.
Sem prejuízo das provas requeridas pelas partes ou determinadas de ofício pelo
Juiz, pugnar pela produção de outras que entenda necessárias, tendo em vista a
indisponibilidade do direito material invocado pelo autor.
O.5 – Sentença
P – A exclusão da paternidade
Cabível observar o disposto nos arts. 1.601, 1.602 e 1.604 do CC. A exclusão da
paternidade poderá ser promovida pelo pai registral ou por outros interessados,
tais como mãe, filhos, pretensos irmãos, aquele que se diz verdadeiro pai e mesmo
CAPÍTULO VIII
outros herdeiros. O art. 1.601 do Código Civil dispõe especificamente sobre a ação
negatória de paternidade, a qual pode ser promovida pelo marido. As ações funda-
das em falsidade ideológica tratam-se de impugnação de paternidade ou de ação
declaratória de inexistência de filiação legítima.
P.2 – Competência
776
Promotorias de Justiça
Além das provas requeridas pelas partes, nos casos em que o autor foi o declarante
do registro civil o qual pretende impugnar, recomenda-se observar a necessidade
de estar provada a ocorrência de vício de consentimento, além da exclusão da pa-
ternidade biológica e pugnar pela realização de estudo social e psicológico do caso,
visando constatar a possível existência de vínculo socioafetivo entre o pai registral
e o filho, hipótese esta em que é plenamente possível sustentar a paternidade so-
cioafetiva, o que inviabiliza a exclusão da paternidade.
Recomenda-se a realização de audiência para oitiva dos nubentes e dos seus ge-
nitores.
Observar que os pais são citados não para contestar o pedido, mas para dar o con-
CAPÍTULO VIII
84
“Os Estados contratantes adotarão as medidas legislativas necessárias para determinar a idade mín-
ima para contrair casamento. Não poderão contrair casamento legalmente as pessoas que não tiverem
atingido essa idade, salvo dispensa da autoridade competente ao requisito da idade, por causas justifica-
das e em interesse dos futuros cônjuges” (art. 2o, do Decreto nº 66.605, de 20/05/70)
777
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Lembrar que o Ministério Público não é parte legitimada para ajuizamento da ação
anulatória, tendo em vista o disposto nos arts. 1.552, 1.555 e 1.559 do CC.
85
SZANIAWSKI, Elimar. Limites e Possibilidades do Direito de Redesignação do Estado Sexual.
São Paulo: RT, 1998.
86
FARINA, Roberto, citado por Szaniawski, Elimar. Limites e Possibilidades do Direito de Redesig-
nação do Estado Sexual. São Paulo: RT, 1998.
778
Promotorias de Justiça
Verificar se a documentação juntada atesta que a cirurgia foi realizada, sendo con-
veniente a análise de relatório de equipe multidisciplinar que deve acompanhar o
redesignado, bem como sua oitiva em audiência.
V – União homoafetiva
779
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Y – Central de conciliação
A Central de Conciliação foi criada pela Portaria Conjunta nº 4/2000 da Corte Supe-
rior do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais e regulamentada pela Reso-
lução nº 407/2003.
CAPÍTULO VIII
87
Art.1.639, § 2º, do CC
780
Promotorias de Justiça
ANEXOS
MODELOS
- Adoção
Autos n.º
Requerentes:
Espécie: Adoção
CAPÍTULO VIII
Meritíssimo Juiz:
781
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Acostados aos autos o relatório do estudo psicológico (fls. 23) e o laudo do estudo
social (fls. 24).
Impende anotar que a adotanda atualmente conta com vinte e seis anos, já tem
companheiro e nunca teve a paternidade reconhecida, como se vê na certidão de
nascimento de fls. 08.
O art. 1.621 do Código Civil traz redação equivalente à do art. 45 da Lei nº 8069/90,
cujo escopo é o de proteger aquele cuja adoção é almejada.
A adotanda, ouvida em juízo (fls. 33), expressa com segurança o seu desejo de ser
CAPÍTULO VIII
782
Promotorias de Justiça
Com efeito, na hipótese sob exame, a adoção se presta a solidificar o afeto recíproco
dispensado entre o adotante e a adotanda durante praticamente toda a existência
desta. Pensar o contrário seria seguramente, concretizar prejuízos de toda ordem à
adotanda. Aí sim, haveria franca violação ao art. 1.625 do Código Civil em vigor.
Por sua vez, como se infere da petição inicial, pretende a adotanda a manutenção
de seu nome, sem acréscimo do patronímico do adotante. Em caso similar, decidiu
o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul que:
Por força do parágrafo único, do art. 1.626, do Código Civil, os vínculos de filiação
entre o adotado e o companheiro do adotante e seus parentes mantêm-se, razão
pela qual a pretensão da adotanda encontra amparo legal. Note-se que se trata de
regra cogente, de ordem pública e não mera faculdade.
CAPÍTULO VIII
Isto posto, o Ministério Público opina pela procedência total da presente ação.
783
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
- Alimentos
MM. Juiz,
784
Promotorias de Justiça
É o relatório.
Alega, ainda, o requerido que a “genitora dos requerentes tem condições físicas e
mentais de, através de sua força laboral, obter os meios necessários e suficientes
para custear, juntamente com o pai, a subsistência dos filhos” (fl. 51), estando,
inclusive, empregada na [...]. Por fim, aduz que é casado e mantém, sob sua de-
pendência econômica, a esposa e três irmãs idosas e enfermas, e, “a despeito de
perceber um bom salário, de justificar, em contrapartida, que sua despesa mensal
é exorbitante” (fl. 54).
De início, cumpre esclarecer que não é possível impetrar ação judicial diretamente
CAPÍTULO VIII
“Não tem fundamento a ação de alimentos impetrada diretamente contra o avô pa-
terno, sem antes acionar o próprio pai. Somente depois de evidenciado nos autos,
785
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
através do conjunto probatório, que o pai não tem condições de prestar alimentos, é
que a parte passará a ter ação contra o avô, porque a obrigação deste é subsidiária
e não direta.” (Jurisprudência Mineira, v. 143/120).
In casu, ação foi aforada em face do avô paterno, sob o argumento de que o seu
genitor, embora condenado ao pagamento de pensão alimentícia, não a presta de
forma regular, o que ensejou as diversas ações de execução apensas. Além disso,
afirmou que o valor fixado é insuficiente para suprir as suas despesas mensais
que são bastante elevados, sobretudo porque a requerente é portadora de paralisia
CAPÍTULO VIII
786
Promotorias de Justiça
No que concerne ao mérito, observa-se que, de fato, o genitor dos autores está
obrigado ao adimplemento da mensalidade e transporte escolar do filho, além de
fornecer aos alimentados moradia e soma mensal equivalente a R$ 600,00. Toda-
via, ela não cumpre, regularmente, com o ajuste.
Alega, ainda, o requerido que a “genitora dos requerentes tem condições físicas e
mentais de, através de sua força laboral, obter os meios necessários e suficientes
para custear, juntamente com o pai, a subsistência dos filhos” (fl. 51), estando, inclu-
sive, empregada na . Por fim, aduz que é casado e mantém, sob sua dependência
econômica, a esposa e três irmãs idosas e enfermas, e, “a despeito de perceber um
bom salário, de justificar, em contrapartida, que sua despesa mensal é exorbitante”
(fl. 54).
Em que pese a afirmação de que a genitora dos menores “tem condições físicas e
mentais de, através de sua força laboral, obter os meios necessários e suficientes
para custear, juntamente com o pai, a subsistência dos filhos” (fl. 51), restou pro-
vado que ela aufere parcos R$ 620,00 (seiscentos e vinte reais) mensais (fl. 202).
Tal montante revela-se insuficiente, ainda que somado aos R$ 600,00 a que está
obrigado o pai dos autores, para a mantença destes.
CAPÍTULO VIII
787
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
É o parecer.
Autos nº :
Autora :
Réu :
Espécie : Ação de Alimentos
Parecer Final do Ministério Público
788
Promotorias de Justiça
Meritíssimo Juiz,
Trata-se de ação de alimentos proposta por ... face a ..., ambos devidamente qua-
lificados nos autos.
A autora alega que, desde meados do ano de 1975, ela e o réu passaram a viver
em união estável, advindo dessa relação dois filhos, atualmente, maiores. Todavia,
por culpa exclusiva do suplicado, tal convivência não mais perdura. Afirma, também,
que “contribui exaustivamente para o crescimento da família, dedicando-se exclusi-
vamente ao marido e aos filhos”, razão pela qual não tem nenhuma fonte de renda
e, até que se efetive a partilha dos bens adquiridos pelos conviventes, ela não tem
como prover o próprio sustento. Requer, ao final, seja fixada a pensão alimentícia
em importe equivalente a 41,8 salários mínimos, porquanto o réu, próspero empre-
sários, sempre permitiu que a família gozasse de elevadíssimo padrão social.
É o sucinto relato.
789
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
que, durante a união estável, ou seja, por vinte e três anos, dedicou-se exclusiva-
mente ao marido e aos filhos. Ela não tem formação profissional e, não obstante
seja sócia da empresa, que sempre administrou todos os bens, de forma exclusiva,
fora o suplicado.
Demais disso, era altíssimo o padrão de vida mantido pela família, com moradia de
alto luxo, viagens internacionais freqüentes, festas, aquisição de veículos importa-
dos, manutenção dos filhos em colégios particulares. Prossegue, afirmando que “os
alimentos devem ser fixados no mesmo patamar que sempre usufruiu, enquanto
durou a união estável do casal e que o requerido sempre pagava, ou seja 41,8 salá-
rios mínimos mensais” (fl. 10). Através da planilha elaborada às fls. 20/21, consigna
despesas mensais da ordem de R$ 14.660,00.
Às fls. 21 e 24, reitera que o suplicado enriqueceu-se, nos últimos anos, e seus
ganhos mensais não são inferiores a R$ 120.000,00, excluída a renda proveniente
do patrimônio acumulado. Assim, propugna pela fixação dos alimentos, mediante
aplicação da “teoria da aparência”.
Lado outro, alega o suplicado que “o rompimento definitivo da união estável ocorreu
no ano de 1993” e, desde então, ele não paga qualquer pensionamento à autora,
“arcando apenas com as despesas dos filhos advindos da relação”. Sustenta, ainda,
que não há provas “da dependência econômica da demandante junto ao demanda-
do, após o rompimento da relação” (fl. 415). Reitera as informações prestadas, em
CAPÍTULO VIII
sede de depoimento pessoal, segundo as quais arcava apenas com o sustento dos
filhos, os quais se formaram no final do ano de 2006 (fl. 415).
Prossegue, o réu, asseverando que não tem condições financeiras de arcar com a
pensão alimentícia pleiteada pela autora, pois sua situação econômica piorou, nos
últimos anos, porquanto foi decretada a falência de sua empresa e a indisponibili-
dade de seus bens.
790
Promotorias de Justiça
Ultima, pugnando pela improcedência do pedido, uma vez que a autora é uma “mu-
lher com plena capacidade para trabalhar e se sustentar” (fl. 417) e que ele não é
proprietário da empresa “ Ltda.”, mas tão só administrador, auferido pro labore no
importe de dez salários mínimos.
Restou inconteste nos autos, que as partes conviveram durante um longo período.
O art. 7 da Lei 9.278/96 garante a assistência material a ser prestada por um dos
conviventes ao que dela precisar, quanto estabelece, que “dissolvida a união está-
vel por rescisão, a assistência material prevista nesta Lei será prestada por um dos
conviventes ao que dela necessitar, a título de alimentos”.
Em que pese a separação de fato das partes, ocorrida há mais de dez anos, a
CAPÍTULO VIII
É cediço que a quantificação da verba alimentar a ser fixada amolda-se aos dita-
mes do princípio da proporcionalidade, insculpido no § 1º, do art. 1.694, do Código
Civil.
791
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A propósito, sobre a questão dos alimentos, Sílvio de Salvo Venosa ensina que:
“Não tem o alimentante, por seu lado, obrigação de dividir sua fortuna com o neces-
sitado. O espírito dos alimentos não é esse. O pagamento é periódico, tendo em
vista a natureza dessa obrigação. Nessa fixação reside a maior responsabilidade
do juiz nessas ações... Desse modo, a prova dos ganhos do alimentante é funda-
mental. Não há norma jurídica que imponha um valor ou padrão ao magistrado...
Por outro lado, os alimentos devem ser fixados com base nos rendimentos do ali-
mentante, e não com fundamento em seu patrimônio. O sujeito pode ter bens que
não produzem renda. Não há mínima condição de forçá-lo, direta ou indiretamente,
a vender seus bens para suportar o pagamento”. (Direito Civil - Direito de Família.
4 ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 408)
Destarte, leciona Maria Helena Diniz (Código Civil Anotado. 4 ed., São Paulo:
Saraiva. p. 361), que:
Na hipótese dos autos, ante tudo o que foi expendido, restou demonstrado que o
réu é um conceituado empresário, cuja renda mensal declarada em seu imposto de
renda já alcançou, outrora, cerca de R$ 96.000,00.
Contudo, restou provado que a saúde financeira do mesmo sofreu sérios abalos,
uma vez que uma das empresas das quais é sócio teve a falência decretada, con-
soante se depreende dos documentos de fls. 308/346.
792
Promotorias de Justiça
793
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Diante do exposto, o Ministério Público opina no sentido de que seja julgado par-
cialmente PROCEDENTE o pedido inicial, fixando-se a verba alimentar devida pelo réu
à autora no importe equivalente a vinte e três salários mínimos.
É o parecer.
CAPÍTULO VIII
MM. Juiz,
... ajuizou ação de alimentos em face de, aduzindo, em síntese, ser filho do requeri-
794
Promotorias de Justiça
do, e que, embora maior, necessita da contribuição paterna, para que possa pagar
as despesas com plano de saúde, medicamentos, consultas, bem como concluir o
curso de Direito, em instituição particular de ensino superior. Afirma, ainda, que sua
genitora aufere parcos rendimentos de sua aposentadoria. Assevera ainda, que seu
genitor possui condições de arcar com pensão alimentícia a ser fixada em importe
equivalente a três salários mínimos.
A peça inicial de fls. 02/08 foi instruída pelos documentos de fls. 08/29.
O réu apresentou contestação às fls. 47/49. Nesta ocasião, foram acostados aos
autos os documentos de fl.50/55.
Impugnação à contestação às fls. 57/60.
É o relatório.
CAPÍTULO VIII
795
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
No caso, verifica-se que o suplicante, tem 31 anos de idade, como prova o docu-
mento acostado às fls. 09. Outrossim, depreende-se do relatório médico de fls.26/28,
que o autor apresenta transtornos mentais como sintomas psicóticos, o que lhe im-
possibilitou, inclusive, continuar o curso de Direito (fl.23).
Asseverou o réu, em sede de contestação, que está, doente, é pessoa idosa, bem
CAPÍTULO VIII
Insta consignar, que em 22/11/99, nos autos em apenso sob o nº 024 91 789245 7
(fl. 111), o suplicado consignou ser “sócio ultraminoritário de uma firma e represen-
tação comercial, na qual aufere pró-labore, de cerca de R$ 500,00 por mês”, o que
se pode inferir que o suplicado é microempresário. Portanto, o fato de a carteira de
796
Promotorias de Justiça
trabalho do suplicado não estar assinada não se pode concluir que o mesmo esteja
desempregado.
Ademais disso, é certo que ao réu incumbia provar a insuficiência de seus ren-
dimentos, a teor do art. 333, II, do CPC, mas não o fez. Não há, pois, nos autos
elementos robustos capazes de ensejar a impossibilidade do réu em arcar com a
obrigação alimentar.
Com efeito, considerando-se, pois, que o alimentante vem arcando com as des-
pesas ora alegadas, e, considerando, ainda, o binômio possibilidade-necessidade,
insculpido no § 1 do art. 1.694 do Código Civil, deverá a pensão alimentícia ser
fixada no importe de um salário mínimo, conquanto seja referido importe “o míni-
mo capaz de atender as necessidades vitais básicas”, ex vi do art. 7º, inciso IV, da
Constituição Federal.
É o parecer.
Belo Horizonte, 05 de novembro de 2007.
CAPÍTULO VIII
Processo nº:
Parecer Final do Ministério Público
MM. Juiz,
Trata-se de ação de alimentos proposta por ... face a seu filho ..., ambos já qualifi-
cados.
797
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O requerente alegou que é aposentado, mas os proventos que recebe não são su-
ficientes para se sustentar, o que lhe ocasiona toda a sorte de privações. Afirmou,
ainda, que sua idade avançada e as precárias condições de saúde impedem que
trabalhe, a fim de complementar a renda mensal. Requereu, ao final, seja fixada
pensão em seu favor no valor de um salário mínimo.
É o sucinto relato.
Parecer do M. Público.
CAPÍTULO VIII
É cediço que o Código Civil, especialmente os arts. 1.694, 1.696 e 1.697, estabele-
cem a reciprocidade do dever de prestar alimentos entre pais e filhos.
798
Promotorias de Justiça
“[...] a doutrina, de maneira uniforme, inclusive com respaldo na lei, identifica duas
ordens de obrigações alimentares, distintas, dos pais para com os filhos: uma resul-
tante do pátrio poder, consubstanciada na obrigação de sustento da prole durante a
menoridade e outra, mais ampla, de caráter geral, fora do pátrio poder e vinculada
à relação de parentesco em linha reta.” (Dos Alimentos. São Paulo: RT, 1994. p.
401).
Desta feita, o pedido de alimentos, formulado pelo pai aos filhos, funda-se em obri-
gação decorrente do parentesco. Segundo o art. 1.695 do Código Civil, serão de-
vidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode
prover pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclama, pode
fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento. Neste diapasão, para
que o autor faça jus aos alimentos, a jurisprudência fixou alguns requisitos legais,
ou seja:
No caso dos autos, o requerente conta 65 anos de idade, mas embora seja idoso,
ficou claro que ele goza de plena saúde. Em que pese tenha alegado que possui
problemas de saúde, não carreou aos autos qualquer laudo médico que comprovas-
CAPÍTULO VIII
se tal assertiva. Não juntou qualquer receita médica que prove faça uso controlado
de medicamentos e nem que deva ser considerado pessoa com grave enfermidade
decorrente da velhice.
Outrossim, não restou claro que possa ser considerado carente, visto que reside em
imóvel próprio, possui telefone celular, cartões de crédito (fls. 22/67). Demais disso,
a prova oral revelou que ele é visto, na vizinhança, freqüentando fliperamas e casas
de apostas de jogo do bicho, o que permite inferir que não se encontre em estado
799
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
de penúria ou miserabilidade.
Quanto ao bem imóvel de sua propriedade, provou-se que o cedeu em parte, a fim
de que o filho pudesse construir a própria residência. Todavia, não é possível, pois,
considerar que o autor se despojou de bens em favorecimento do filho, o qual não
usufruiu sozinho desse bem doado.
Com relação à capacidade de prover o próprio sustento com seu trabalho, o re-
querente também não se desincumbiu de provar que não pode se sustentar. Ao
contrário, restou provado que recebe proventos de aposentadoria (fls. 98) e não
logrou êxito em provar que as dívidas tenham sido contraídas, exclusivamente, com
o intuito de garantir-lhe a subsistência.
O fato de a idade o impedir de conseguir trabalhar não pode prevalecer, pois a crise
econômica é comum a todos os brasileiros, e não há provas de que esteja incapa-
citado ou mesmo de que o valor dos proventos sejam insuficientes para lhe suprir
as necessidades básicas.
“Um dos princípios mais antigos no âmbito das relações pessoais, independen-
temente da espécie de vínculo, é o da solidariedade entre as pessoas, e que é
sumamente reforçado no âmbito das relações familiares. Os alimentos no Direito
de Família, tais como previstos nas legislações em vigor na maior parte dos países,
representam a concretização do princípio da solidariedade familiar. Como se sabe,
uma das técnicas originárias da proteção social que até hoje se mantém é a família.
Na ordem jurídica, as pessoas que mantém vínculos de natureza familiar – e, por-
tanto, integrantes da família – são, em regra, reciprocamente credoras e devedoras
de alimentos sob o prisma do Direito objetivo” (Direito de Família e o Novo Código
Civil. 3 ed. Belo Horizonte: IBDFAM, 2003. p. 104).
CAPÍTULO VIII
Noutro giro, restou patente que o réu é viúvo e responsável pelo sustento de uma
filha e um neto ainda menores (fls. 100 e 102), além de auxiliar uma filha maior, mas
portadora de deficiência física.
800
Promotorias de Justiça
Ainda, a filha portadora de deficiência física recebe pensão por morte deixada pela
mãe, de valor ínfimo.
O autor não cuidou, contudo, de demonstrar, cabalmente, que o réu detém capaci-
dade financeira para lhe auxiliar no sustento, sem desfalque à própria subsistência
e a de seus dependentes, consoante lhe incumbia, nos termos do art. 333, I, do
CPC.
Isto posto, o Ministério Público opina pela total improcedência da presente ação.
Meritíssima Juíza:
... ... ambos qualificados nos autos, propuseram a presente ação de alteração de
regime de bens. Alegam os requerentes que se casaram em 11 de julho de 2003,
sob o regime de comunhão parcial de bens, conforme certidão de casamento de fls.
06. Pretendem a alteração do regime de bens da comunhão parcial para o regime
CAPÍTULO VIII
801
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
petição de fls. 02/05, no sentido de ser alterado o regime de bens do casal, como se
infere do termo de fl. 112.
Em síntese, o relatório.
Com efeito, o novo Estatuto Civil, em seu art. 1.639, § 2º, permite a alteração,
condicionada à autorização judicial e à procedência das razões invocadas pelos
cônjuges, ressalvados os direitos de terceiros.
Nada obstante, sabe-se que a razão pela qual a antiga legislação proibia a altera-
CAPÍTULO VIII
Não há, pois, motivos para se vedar a alteração de regime de bens, sob o funda-
802
Promotorias de Justiça
“No caso, nada estará sendo modificado, e aquilo que até então foi realizado não
sofrerá qualquer alteração, na medida em que o novo regime de bens só produzirá
efeitos a partir da alteração, sem retroatividade, portanto.
Permitir a alteração do regime de bens do antigo casamento não alterará os efeitos
jurídicos do matrimônio, na medida em que o novo regime não modificará aquilo
que, em relação aos bens até então existentes, e para os novos cônjuges, já terá
se operado88”
803
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Além disso, no que diz respeito às ressalvas exigidas, que é o caso da preservação
do direito de terceiro, inclusive dos órgãos públicos, a documentação carreada às
fls. 21/110 é suficiente para comprovar que tais interesses não se encontram ame-
açados .
Diante do exposto, opina o Ministério Público pela procedência da ação, para que
seja autorizada a alteração do regime de bens da comunhão parcial para o regime
da separação de bens, bem como seja determinada a expedição dos competentes
mandados, conforme preceitua o art. 1.150 do Código Civil.
- Alvará Judicial
CAPÍTULO VIII
Requerente: ..........
Parecer do M. P.
MM. Juíza:
804
Promotorias de Justiça
priedade da interditada, da qual é curadora. Para tanto, alega que a referida venda
seria vantajosa, vez que o imóvel, correspondente ao lote, quadra, Bairro, por não
ser edificado, é tributado com elevado valor, a título de IPTU, o que acarreta ônus
para a curatelada. Ademais, os recursos advindos do negócio serão empregados na
melhoria da residência da interdita, com a instalação de porta para a passagem de
cadeira de rodas, troca de pisos e adaptação do banheiro.
O auto de avaliação de bem imóvel foi juntado à fl. 99, sobre o qual se manifestou a
requerente à fl. 100, oportunidade em que reiterou o pedido inicial.
Com efeito, nos termos da lei civil, para que seja procedente a autorização postula-
da, exige-se a demonstração da real necessidade, utilidade e proveito do incapaz
quanto ao negócio que se pretenda levar a efeito em seu nome, porquanto tais
interesses são o verdadeiro objeto da proteção estatal.
In casu, aduziu a curadora que o imóvel, correspondente ao lote, quadra, Bairro, por
não ser edificado, é tributado com elevado valor, a título de IPTU, o que acarreta
CAPÍTULO VIII
ônus para a curatelada. Contudo, do auto de avaliação de fls. 99, exsurge que se
trata de imóvel em que foi edificada uma casa, com três quartos, copa, cozinha,
banheiro, área de serviço, garagem e um “barracão” de fundos.
Portanto, depreende-se que tanto a casa, quanto o barracão poderiam ser aluga-
dos, o que implicaria na transferência do pagamento do IPTU ao locador e, ainda,
geraria renda extra para a inteditada.
805
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por último, em que pese a alegação de que as despesas da interditada são altís-
simas, e, suplantam o valor do benefício previdenciário por ela auferido, outra é a
realidade que deflui dos autos, Da análise dos documentos de fls. 24/83, exsurge
que os gastos pessoais da curatelada (UNIMED, medicamentos, e cuidadoras), so-
mados às despesas da casa – que diga-se, não é habitada apenas pela interditada
–, alcançam a soma de cerca de R$ 2.166,00. São, pois, inferiores aos R$ 2.262,85
recebidos à título de pensão.
- Anulação de casamento
806
Promotorias de Justiça
Meritíssimo Juiz,
Por tais motivos, pugnou pela decretação da anulação do casamento, vez que ca-
racterizado o erro essencial sobre a pessoa do requerido. Outrossim, sob o fun-
damento do cúmulo objetivo de ações, aforou pedido alternativo de decretação da
separação judicial por culpa do réu.
Nomeada curadora ao réu citado por edital, foi ofertada a contestação de fls. 30/32.
Alegou, preliminarmente, a nulidade de citação e no mérito, contestou por negativa
geral.
807
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A autora alega que se casou com o requerido no dia 5 de fevereiro de 2004, como
prova a certidão de casamento de fl. 11, após apenas dois meses de namoro. Afir-
ma, outrossim, que após a realização do matrimônio, o réu “passou a dotar uma
postura diversa da até então adotada, tratando-a mal, contraindo dívidas em nome
da autora e a desmoralizando perante terceiros” (fl.03).
Após uma análise da vida pregressa do requerido, a autora descobriu que ele havia
sido denunciado por crime contra o patrimônio, além de ser devedor contumaz, com
inscrição de seu nome nas instituições de proteção ao crédito. Além disso, após
ameaçá-la de morte, o suplicado teria abandonado o lar conjugal, em março de
2004, ou seja, apenas um mês após a celebração do matrimônio.
CAPÍTULO VIII
Aduz, ainda, a requerente que foi vítima de um golpe financeiro arquitetado pelo réu
que a levou a contrair dívidas e, conseqüentemente, a ver seu nome inscrito nos
órgãos de proteção ao crédito.
808
Promotorias de Justiça
[...] que depois que os dois casaram é que ‘a gente foi descobrin-
do a fama dele’; que descobriu que W era enrolado; que W falsi-
ficava documento [...] que o fato de W ter pretendido comprar o
carro aconteceu antes do casamento e ele ia comprar o veículo
em nome da futura esposa G; que a depoente contou para G
esse fato somente depois que ela se casou; que W contou para
a depoente que comprou todos os móveis em nome de G; que
depois que ela ficou sabendo que ele tinha nome sujo eles tive-
ram uma briga, que ele ameaçava a autora [...].
A autora fundamentou o seu pedido nos arts. 1.556 e 1.557, II do Código Civil.
CAPÍTULO VIII
809
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
trinta dias.
810
Promotorias de Justiça
Conclusão:
- Busca e apreensão
CAPÍTULO VIII
Processo nº:
Parecer Final do Ministério Público
MM. Juiz,
811
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O pedido de busca e apreensão refere-se à menor ...., cuja guarda judicial foi con-
cedida à requerida, por ocasião da decretação da separação judicial das partes.
Todavia, a suplicada mudou-se para o estado do Paraná, levando consigo a filha,
sem o consentimento paterno, o que tem gerado prejuízos à menor, razão pela qual
pretende lhe seja concedida da guarda desta.
Realizada audiência, ausente a parte ré, requereu o autor a expedição de carta pre-
catória para a colheita do depoimento pessoal da requerida, para a oitiva da menor,
CAPÍTULO VIII
bem como para a expedição de ofícios para a instituição de ensino da menor e para
a Prefeitura de ..., segundo termo de fls. 143
812
Promotorias de Justiça
182/verso).
É o sucinto relato.
Parecer do M. Público.
O presente feito é medida cautelar que se processa consoante disposto nos arts.
839 a 843 do Código de Processo Civil.
É cediço que a ação de busca e apreensão, ainda que submetida ao rito das me-
didas cautelares, é instrumento hábil para reaver a companhia da filha menor que
se encontra na posse da mãe, sem qualquer decisão judicial que autorizasse essa
situação de fato.
813
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
selhável que a guarda de filhos menores seja atribuída à mãe, exceto naquelas si-
tuações em que reste demonstrado a inidoneidade da genitora para o desempenho
de seu papel, o que, nestes autos, não se comprovou.
Logo, se a mãe preenche as condições necessárias para ter sua filha menor em sua
companhia, não há que ser deferida a busca e apreensão ao requerente, que tem
resguardado o direito de visitas.
Isto posto, o Ministério Público opina pelo indeferimento da medida liminar pleiteada
pelo requerente.
814
Promotorias de Justiça
Processo nº:
Parecer Final do Ministério Público
MM. Juiz,
O pedido de busca e apreensão refere-se à menor ..., cuja guarda de fato passou
a ser exercida pelo requerido, “em virtude de um episódio no qual a requerente
solicitara a ajuda da ex-sogra, a fim de que a mesma a orientasse, no que tange
aos cuidados médicos com a criança” (fls. 03). Aduz que, desde então, o requerido
proibiu o contanto entre mãe e filha, inclusive impedindo a amamentação.
fls. 35/36.
Foi realizada audiência conciliatória que restou frustrada, ante à intransigência das
partes, consoante termo colacionado às fls. 42/43. Na oportunidade, foram colhidos
os depoimentos pessoais da requerente e do requerido.
É o sucinto relato.
815
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Parecer do M. Público.
O presente feito é medida cautelar que se processa consoante disposto nos arts.
839 a 843 do Código de Processo Civil.
É cediço que a ação de busca e apreensão, ainda que submetida ao rito das me-
didas cautelares, é instrumento hábil para reaver a companhia da filha menor que
se encontra na posse do pai, sem qualquer decisão judicial que autorizasse essa
situação de fato.
Segundo se depreende do Estudo Social, a menor foi deixada aos cuidados da fa-
mília paterna, por sugestão do próprio requerido, já que ela apresentou problemas
gastroentestinais e a requerente passava por dificuldades financeiras e para conci-
liar o horário de trabalho e os cuidados demandados pela menor.
abandono da menor por parte da mãe. Ao contrário do afirmado pelo suplicado, a re-
querente está inserida no mercado de trabalho e, durante o período de afastamento,
buscou preservar os laços de afetividade com a filha, através das visitas.
816
Promotorias de Justiça
Logo, se a mãe preenche as condições necessárias para ter sua filha menor em sua
companhia, há que lhe ser deferida a busca e apreensão, como medida de zelo aos
interesses da criança, que conta apenas dois anos de idade (fls. 08). Sobretudo,
porquanto os laudos técnicos acostados aos autos respaldam tal medida.
Isto posto, o Ministério Público opina pelo deferimento da medida liminar pleiteada
pela requerente, tendo-se em vista o melhor interesse da menor e por estarem pre-
sentes o periculum in mora e fumus boni iuris.
Requerente:
Requerida:
Espécie: Cautelar Inominada
Parecer Final do Ministério Público
Meritíssimo Juiz,
Aduz que o fumus boni juris e o periculum in mora restaram configurados, uma vez
que a requerida não exerce com adequação o munus de guardiã dos menores,
o que, inevitavelmente, os expõe à situação de risco à integridade física e moral.
Requereu, por fim, a concessão de liminar, deferindo-lhe a guarda provisória dos
menores.
817
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A peça exordial de fls. 02/03 foi devidamente instruída pelos documentos de fls.
04/10.
Foi realizado o estudo social do caso, cujo laudo se encontra às fls. 47/49, sobre o
que as partes se manifestaram às fls. 59/63 e fls. 63.
O relatório do estudo psicológico foi acostado às fls. 64/68, seguindo-se nova ma-
nifestação às fls. 70/71.
A requerida manifestou-se, nos presentes autos, às fls. 86/88 e às fls. 95/98, as-
severando o fato de que a menor A, residente em companhia paterna, não estaria
freqüentando instituição regular de ensino.
Foi realizado novo estudo social na comarca de Nova Lima, cujo relatório se encon-
818
Promotorias de Justiça
A rigor, o processo cautelar não é a via adequada para a discussão acerca da modi-
ficação da guarda, sendo imperiosa a propositura de ação principal.
In casu, verifica-se que as partes contendem pela guarda dos filhos menores des-
de novembro de 2004. O prolongamento da discussão acerca da situação litigiosa
acarretou a separação dos menores, sendo que, de fato, A se encontra sob a guar-
da paterna, enquanto M está sob os cuidados maternos.
A análise dos documentos carreados às fls. 130/131 revela que a falta de decisão
acerca da guarda tem trazido enormes prejuízos aos interesses dos menores, so-
bretudo de A Como se infere, ainda, do laudo do estudo social de fls. 122/124, as
“idas e vindas” das crianças entre o lar paterno e materno acarretou a perda do ano
escolar para A.
Lado outro, o interesse maior dos menores não reside em uma precipitada mudança
de guarda, mas na apuração cautelosa das denúncias de ambas as partes, e numa
decisão que evite alterações desnecessárias em suas rotinas de vida.
819
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Diante de tal fato, deverá a presente medida cautelar inominada ser convertida em
ação ordinária de modificação de guarda, para a melhor apuração dos fatos, me-
diante ampla instrução probatória. Nesse sentido é o precedente jurisprudencial:
Autora:
Réu:
Espécie: Medida Cautelar Inominada
Parecer Final do Ministério Público
Meritíssimo Juiz,
requerido uma união estável entre os anos de 1991 e 2003. Pretende o acolhimento
liminar dos pedidos como medida preparatória da propositura de ação de reconhe-
cimentos e dissolução de união estável.
820
Promotorias de Justiça
Às fls. 159/170 foi acostada a cópia do acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça de
Minas Gerais que negou provimento ao agravo, mantendo os alimentos provisórios
fixados em 15% dos rendimentos líquidos do requerido, bem como o arrolamento
cautelar dos bens.
821
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Enfatize-se, sobretudo, que o pedido consignado às fls. 389/390 deverá ser deduzi-
do em processo autônomo de execução.
Em relação ao direito, sabe-se que a tutela jurisdicional cautelar tem objetivo espe-
cífico, ensejar à parte ativa uma garantia provisória, de natureza processual, para
assegurar a prova ou eventual futura execução. Eis, a propósito, a lição de THEO-
DORO JÚNIOR, Humberto. Processo Cautelar. 4. ed. São Paulo: LEUD, 1980. p.
40:
“Não basta ao ideal de justiça garantir a solução judicial para todos os conflitos; o
que é imprescindível é que essa solução seja definitivamente justa, isto é, apta, útil
e eficaz para outorgar à parte a tutela prática a que tem direito, segundo a ordem
jurídica vigente.
Assim, não podem ser confundidas a tutela jurisdicional cautelar da tutela jurisdicio-
nal principal. Esta visa à solução do conflito de interesses (processo cognitivo) ou
satisfação do direito material acertado (processo de execução), enquanto aquela
CAPÍTULO VIII
tem por escopo, exclusivamente, a garantia de efetividade dos dois tipos de proces-
sos mencionados.”
822
Promotorias de Justiça
“Processo Civil. Cautelar. Ajuizamento da ação principal. Trintídio legal. Termo ini-
cial. Efetivação da liminar. Art. 806, CPC. Efeito. Perda de eficácia. Precedentes.
Recurso desacolhido.
I. Na linha da jurisprudência desta Corte, o trintídio legal previsto no art. 806, CPC,
conta da data da efetivação da liminar.
II. Entende também este Tribunal que o não-ajuizamento da ação principal acarreta
a perda da eficácia da liminar e não a extinção da cautelar.
III. Sem preqüestionamento, não se inaugura a via do recurso especial. (Ac. no
REsp. nº 431.418/MG, Quarta Turma, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. em
23/09/2003, DJU 19/12/2003, p. 472).”
Com efeito, as partes não divergem em relação à existência da união estável entre
março de 1991 e julho de 2003, o que restou corroborado pela prova testemunhal.
No que toca ao filho comum, a guarda provisória deverá ser mantida em favor da
requerente, posto não haja nos autos qualquer prova acerca de condutas que invia-
bilizassem o exercício do munus de guardiã, com o que concorda o requerido.
Por fim, uma vez demonstrado o receio de dissipação dos bens, deverá ser deter-
minada a expedição dos ofícios requeridos ao DETRAN e aos Cartórios de Registro
de Imóveis de ... e ..., para que se proceda ao bloqueio dos bens descritos às fls.
09/10.
823
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
- Curatela
Requerente:
Interditanda:
Espécie : Interdição e curatela
Parecer Final do Ministério Público
Meritíssimo Juiz,
A petição inicial preenche os requisitos legais, tendo sido instruída com a prova de
CAPÍTULO VIII
Por ocasião do interrogatório (fl. 37), a interditanda deu mostras de sua deficiência,
sendo certo que, decorrido o qüinqüídio legal, não houve qualquer impugnação ao
pedido.
824
Promotorias de Justiça
Outrossim, conforme prescrição do art. 1.184 do Código de Processo Civil c-c art.
92 da Lei nº 6.015/75, a decisão a ser proferida deverá ser publicada no diário oficial
por três vezes e inscrita no registro de pessoas naturais.
Processo nº
Curatela/Interdição.
Espécie: Parecer Final do Ministério Público.
MM. Juiz,
qualificado nos autos, ingressou com ação de interdição de seu filho, aduzindo,
em síntese, na inicial de fls. 03/09, instruída por docs. fls. 10/100, que em virtude
de acometimento de enfermidade mental, advinda de “uso e abuso de substâncias
químicas lícitas e ilícitas” o réu está incapacitado de gerir sua própria pessoa e seus
bens. Assevera, ainda, que diante “da volúpia por angariar novas dívidas, faz-se ne-
cessária a imediata interferência dos seus genitores, para cuidar de seus bens e de
CAPÍTULO VIII
sai saúde, uma vez que o requerido atualmente está inabilitado para o trabalho”.
Em face da decisão que indeferiu o pedido de curatela provisória (fl. 142), foi inter-
825
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Parecer do Ministério Público às fls. 353/355, pugnando pela remessa dos autos ao
juízo de Família da Comarca de ..., domicílio do interditando.
O feito foi recebido no estado em que se encontrava (fl. 179) e as partes manifesta-
ram-se, novamente, acerca das declarações de imposto de renda do réu, relativas
aos exercícios de 200/2003 (fls.386/390 e fls. 391/397).
Laudo psiquiátrico forense às fls. 573/579, acerca do qual tiveram vista as partes
(fls. 585/589 e fls.590/593).
CAPÍTULO VIII
826
Promotorias de Justiça
É o relatório, em síntese.
Restou provado, a partir das duas provas periciais, que o interditando é portador
de transtorno afetivo bipolar (CID10, F31.7) e de transtorno mental decorrente da
dependência de álcool e cocaína (CID10, F10.2 e F14.2). As enfermidades aponta-
das nos laudos periciais de fls. 423/433 e de fls. 573/579 acarretaram um “quadro
de prodigalidade, secundário ao alcoolismo e à dependência química” o que o trona
relativamente incapaz para os atos da vida civil.
CAPÍTULO VIII
827
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
828
Promotorias de Justiça
Cumpre, ainda, esclarecer que o laudo do estudo psicossocial de fls. 550/551 con-
cluiu que “do ponto de vista técnico, percebe-se que o Sr. J encontra-se, no mo-
mento, com algumas dificuldades de ordem social e psicológica, uma vez que, em
função da própria doença, podem ocorrer recaídas e a adesão ao tratamento, em
geral, torna-se difícil para o paciente. Além disso, nota-se que os medicamentos
utilizados pelo requerido limitam-no em algumas ações cotidianas, como o próprio
exercício laborativo” (fl. 551).
829
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Com efeito, a interdição do requerido só o privará de, sem curador, emprestar, tran-
sigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em
geral, os atos que não sejam de mera administração. Na oportunidade, o Parquet
não se opõe ao deferimento do pedido formulado às fls. 697/698.
Ex positis, face as considerações d’ante tecidas e, por tudo mais que dos autos
consta, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, por sua Pro-
motora de Justiça no uso de suas atribuições legais, opina seja a presente ação jul-
gada PROCEDENTE, com a decretação da interdição de , nos termos do art. 1.767,
V e do art. 1.782 do Código Civil, sendo nomeado curador o Sr.
Processo nº
Curatela/Levantamento de Interdição.
Espécie: Parecer Final do Ministério Público.
MM. Juiz,
830
Promotorias de Justiça
Às fls. 151/152, a irmão do interdito requereu sua nomeação como curadora provi-
sória do autor. Juntou os documentos de fl. 158, pelo que foi deferido o pedido à fl.
159/verso.
Do cotejo dos laudos técnicos, acostados às fls. 76/77 e fls.78/80, exsurge que os
peritos nomeados pelo juízo concluíram, em setembro de 2003, que “M apresen-
tou-se às entrevistas com cuidados satisfatórios em relação a sua aparência, lúcido
e bem orientado quanto ao tempo e ao espaço. Seu discurso é lógico e atualmente
demonstra possuir uma boa consciência de si e da realidade a sua volta. Do ponto
de vista psicológico, como foi observado e descrito no presente estudo, os motivos
que justificaram o pedido de interdição parecem cessados no momento ” (fl. 80).
831
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por último, consigna-se que os pedidos formulados pelo interdito às fls. 194/195 e
204/205 devem ser deferidos, uma vez que os valores depositados em conta cor-
rente de titularidade da antiga curadora foram auferidos pelo ora autor em novem-
bro de 2004, data em que as partes já se encontravam separadas de fato.
Ex positis, face as considerações d’ante tecidas e, por tudo mais que dos autos
consta, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, por sua Pro-
motora de Justiça no uso de suas atribuições legais, opina seja a presente ação
julgada procedente, determinando-se o levantamento da interdição de, com escopo
no § 2º do art. 1.186 do Código de Processo Civil.
Processos nº:
Parecer Final do Ministério Público
MM. Juiz,
Trata-se de Ação de Prestação de Contas proposta por em face de, todos devida-
mente qualificados nos autos.
CAPÍTULO VIII
Alegam os autores que, através de sentença prolatada nos autos da ação de in-
terdição, em apenso, nomeou-se o réu como curador definitivo de .... Entretanto,
asseveram que, com base em perícia contábil realizada pela empresa, verificou-se
o desvio de recursos de propriedade do interditado, utilizados em proveito próprio
do curador. Requereram a citação do réu para que preste as devidas contas em
relação à administração das despesas e receitas do curatelado, bem como a desti-
tuição do curador.
832
Promotorias de Justiça
Foi realizada nova perícia contábil, cujo laudo foi juntado às fls. 357/391 (anexos às
fls. 392/1.067).
Realizada audiência, conforme termo de fls. 1.189, oportunidade em que foi indefe-
rida a oitiva da testemunha (fls. 1.190) e dispensada a produção de outras provas
pelas partes.
O Ministério Público ofertou parecer final às fls. 1.257/1.259 e foi prolatada sentença
às fls. 1.260/1.264, condenado-se o réu à devolução de R$ 153.544,06.
833
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
mento do recurso.
O réu pugnou pela intimação do autor, para que apresentasse todos os documentos
referentes à curatela, desde 1996 até a presente data (fls. 1312/1.313).
É o relatório.
Parecer do M. Público.
Não há nulidades a serem sanadas, tendo em vista a abertura de prazo para que o
réu produzisse todas as provas por ele requeridas.
A análise dos autos da ação de interdição, em apenso, revela que o ora réu exerce
o munus da curador do interdito,
Com efeito, constitui princípio de direito universal que todos aqueles que adminis-
834
Promotorias de Justiça
tram ou têm sob sua guarda bens alheios, devem prestar contas. Conseqüentemen-
te, aquele que está obrigado à referida prestação, se presume devedor enquanto
não forem havidas por boas.
Não há, nos autos, provas capazes de desconstituir o relatório da perícia contábil, o
qual motivou a decisão recorrida.
Considerando que as contas prestadas não fora havidas como boas, e, consideran-
CAPÍTULO VIII
835
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Autos n.º
Interditado:
Requerente:
Requerido:
Ação de Remoção de Curador
Parecer Final do Ministério Público
MERITÍSSIMO JUIZ:
836
Promotorias de Justiça
É o relatório.
Trata-se a curatela de instituto que tem por escopo a proteção ao incapaz maior, ou
conforme assevera Clóvis Beviláqua, “curatela é o encargo público, conferido, por
lei, a alguém, para dirigir a pessoa e administrar os bens de maiores, que por si não
possam fazê-lo”. (Código Civil, cit, obs. 1 ao art. 447).
837
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
vida civil.
O estudo técnico, cujo relatório foi carreado às fls. 329/331 dos autos nº, apurou
que a interditanda sempre viveu na companhia do requerido. Todavia, a partir de
um acidente que lhe afetou o fêmur e acarretou a paralisia dos membros inferiores,
a curatelada passou a depender de cuidados médicos freqüentes, motivo pelo qual
optaram por institucionalizá-la.
Com efeito, o Estudo Social destacou que “... a instituição ..., além de oferecer um
preço acessível, localiza-se perto da casa do curador, facilitando o contato com a
mãe .... Em visita ao local, pudemos perceber que a interditanda recebe os atendi-
mentos adequados à sua atual situação, os quais implicam em dar-lhe banhos diá-
rios, medicá-la, alimentá-la e, se possível, fazer com que possa usufruir de alguma
atividade que a instituição ofereça aos seus internos como forma de passar o tempo
de modo mais produtivo ... O local é bastante simples, e parece atender às deman-
das de seus internos. Ao conversarmos com D., esta verbaliza que se encontra
muito feliz naquele local, pois é bem tratada por todos ali ....
CAPÍTULO VIII
Destarte, a perícia técnica foi conclusiva no sentido de que “... o requerente (reque-
rido nos presentes autos) apresenta, no momento, as condições necessárias para
ser o curador da interditanda, apesar dos contratempos havidos até então por parte
de sua irmã, Sra. (ora requerente) (fls. 331).
Assim, restou provado que a curador provisório vem zelando adequadamente dos
interesses da mãe incapaz.
838
Promotorias de Justiça
No que tange à requerente, a perícia técnica realizada nos autos em apenso con-
signou que, após providenciar a internação da interditanda no Hospital ..., “as visitas
da Sra. M conteciam de forma esporádica e rápida e depois de um certo tempo dei-
xaram de existir, caracterizando assim o abandono da mãe naquela instituição por
quase um ano, após ter recebido alta” ().
O mesmo Estudo Social já mencionado apurou que a Sra. não possui profissão
definida e nem aufere renda fixa e dificultou os procedimentos médicos realizados
na interditanda, tornando-se necessária até a intervenção da polícia, a fim de asse-
gurar que o tratamento prescrito não fosse prejudicado.
- Divórcio
MM Juiz.
Cuida-se de Ação de Divórcio Direto Litigioso proposta por ... em face de ..., sob o
fundamento de estarem separados há mais de dois anos, situação fática suficiente
a autorizar a dissolução do vínculo conjugal. Consigna, ainda a peça vestibular,
proposta versando sobre a partilha de bens e pensão alimentícia ao filho menor do
casal, no importe correspondente a 15% dos rendimentos líquidos do varão.
839
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Audiência conforme termo de fls.95, oportunidade na qual foi colhida a prova teste-
munhal.
1 - Do lapso temporal
Assim, decorrido o biênio legal, autorizado está o cônjuge a ingressar com ação de
CAPÍTULO VIII
divórcio direto.
89
Divórcio e Separação. 10.ed.rev. e atual. de acordo com o novo código civil. São Paulo: RT.
p.1178/1179
840
Promotorias de Justiça
desde 1/08/00.
2 - Da partilha de bens
O imóvel, segundo desejo do varão, deve ser vendido e dividido o produto da alie-
nação entre os divorciandos. Por outro giro, a requerida, quanto ao mesmo imóvel,
pretende seja o bem doado ao filho do casal, com reserva de usufruto aos doado-
res.
rior discussão em torno dos bens já partilhados e até vendidos, como por exemplo
eventual direito à torna, escapa da competência deste juízo, devendo ser dirimida
nos lindes civis, por cuidar de direito meramente patrimonial, onde haverá possibi-
lidade de se produzir, de forma mais adequada, a prova dos valores dos bens, fins
dados às quantias auferidas com as vendas — que até podem ter sido revertidas
para o interesse da sociedade conjugal, ainda não dissolvida, etc.
Assim, ao sentir do Ministério Público, urge seja o imóvel do casal partilhado, ex-
841
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
4 - Dos alimentos
Contestando, a requerida afirmou que os 15% oferecidos pelo varão são evidente-
mente insuficientes para a mantença do filho menor, alegando que até então vinha
o autor contribuindo com valores que excedem aquele patamar sugerido. Declarou,
mais, que o varão é servidor da “Ltda”, mas aufere outros rendimentos, já que re-
cebe, assim como a requerida, R$ 750,00 (setecentos e cinqüenta reais) mensais,
CAPÍTULO VIII
provenientes de alugueres da casa que o casal tem em comum (fls.3 4). Ultima
pugnando pela fixação da pensão alimentícia em 40% dos rendimentos líquidos do
varão, junto à “Ltda”.
842
Promotorias de Justiça
inicial. Propugnou, ainda a suplicada, pela fixação da verba alimentar em 30% dos
rendimentos líquidos do varão, a incidir inclusive sobre o 13° salário.
A varoa, por seu turno, também é servidora da “Ltda”, mas recebe mais que o reque-
rente, já que seus rendimentos brutos alcançam a cifra de R$ 2.026,85 (dois mil, vin-
te e seis reais e oitenta e cinco centavos). Todavia, certamente a genitora do menor
gasta mais que o requerido, porquanto paga aluguel, condomínio, IPTU, empregada
doméstica, escola, lazer, material escolar, roupas, calçados, farmácia, enfim, todos
os gastos diários inevitáveis e que são inerentes à mantença de uma criança com
a idade de xx. O varão, por outro lado, mora com sua mãe e não tem outra família,
fatos que sinalizam para uma vida menos onerosa, o que demonstra que, com um
pouco de esforço e, quiçá, renúncia, pode mesmo o requerente pensionar de forma
mais generosa seu próprio filho, como meio de se tentar preservar ao máximo o pa-
drão socioeconômico que tinha a criança antes da separação dos pais.
Assim sendo, por tudo que consta dos autos, opina o Ministério Público no sentido
de ser acolhido o pleito da requerida, para fixar em 30% dos rendimentos líquidos
que o autor aufere na “Ltda” (bruto menos descontos obrigatórios – INSS e imposto
de renda), a pensão alimentícia a ser prestada ao filho menor do casal; quantum
que seria hoje praticamente suficiente apenas para fazer frente à mensalidade es-
colar da criança.
Ressalte-se que efetivamente o suplicante tem outra fonte de renda (R$ 750,00
mensais), a qual não está sendo considerada para fins do cálculo da pensão, fato
que justifica o pensionamento nos moldes pugnados pela requerida.
CAPÍTULO VIII
5 - Conclusão
843
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Processo nº
Espécie- Ação de Divórcio por Conversão
Autor –
Ré –
MM Juiz
Cuida-se de pedido de divórcio indireto aviado por em face de, ambos qualificados
nos autos. Aduz o suplicante que as partes separaram-se judicialmente perante
esse juízo há mais de um ano, cumprindo, pois, o lapso temporal legal exigido para
a dissolução do vínculo conjugal.
Pretende, pois, seja decretado o divórcio indireto das partes, além de partilhado o
bem imóvel descrito às fls. 37/39.
A requerida foi citada por edital (fls. 40/41), tendo sido nomeada curadora especial
que ofertou a peça de defesa de fls. 42 e 42/verso.
CAPÍTULO VIII
Do cotejo dos autos, exsurge que o bem imóvel, composto pela fração ideal do
apartamento n.º do Edifício, situado na Rua, Bairro, foi adquirido pelo varão, por
844
Promotorias de Justiça
Assim, preenchidas que foram as formalidades legais próprias à espécie, com fincas
no art. 1.580 do Código Civil, opina o Ministério Público no sentido do acolhimento
do pedido de ingresso, decretando-se o divórcio indireto do casal postulante, bem
como expedindo-se o formal de partilha.
- Guarda
Autos n.º
Requerente:
Requeridos:
Espécie: Modificação de Guarda
Parecer Final do Ministério Público
Meritíssimo Juiz:
Aduz o autor que é progenitor do menor, mas que os genitores do menino não pos-
suem condições financeiras para criá-lo e nem para lhe oferecer educação e saúde.
CAPÍTULO VIII
Requer lhe seja concedida a guarda do neto, uma vez que também os genitores
deste vivem sob sua dependência econômica.
A peça exordial foi instruída pelos documentos de fls. 05/13.
Acostados aos autos o relatório do estudo psicológico (fls. 41/43) e o laudo do es-
845
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
No que pertine ao mérito, o art. 1.584 do Código Civil estabelece que a guarda será
atribuída à pessoa que revelar melhores condições para exercê-la.
Certo é que a guarda caberá à pessoa que demonstrar melhores condições de exer-
cê-la, ou seja, que puder velar para que o menor receba os cuidados necessários
para seu adequado desenvolvimento físico, moral, intelectual e social.
No caso sub judice, alega o avô materno, ora requerente, que o menor, nascido em
9 de agosto de 2006 (certidão de nascimento de fls. 05), desde o nascimento, vive
sob seus cuidados e às suas expensas, posto que seus genitores não possuem
condições financeiras nem psicológicas para criá-lo e educá-lo satisfatoriamente.
846
Promotorias de Justiça
Com efeito, o avô materno possui situação econômica estável, visto que é asses-
sor parlamentar e aposentado, razão pela qual requereu a legalização da guarda
do menor, de vez que já a possui de fato, a fim de que possa beneficiá-lo com a
inclusão como dependente para fins previdenciários, prestando-lhe a assistência de
que necessitam. Aduz que o menor é portador de doença crônica, o que acarreta
a necessidade de tratamento médico periódico e a imprescindibilidade da inclusão
daquele como dependente do plano de saúde fornecido pela Assembléia Legislativa
de Minas Gerais.
Ao contrário, além deste fim, a guarda pleiteada objetiva regularizar a posse de fato
que os avós maternos exercem em relação ao menor, porquanto a mãe da criança,
cuja guarda se postula, embora seja manicure e resida em habitação diversa da dos
pais, também depende do auxílio econômico do requerente.
No que tange ao pai do menor, que reside em casa própria em companhia de outro
núcleo familiar, nunca ofereceu ao filho ajuda necessária para sua sobrevivência.
Tampouco o visita, desde que rompera o relacionamento com a genitora, quando o
menor era ainda recém-nascido.
847
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O procedimento de guarda, por vezes, visa a regularizar uma situação de fato exis-
tente e o bem-estar do menor e a sua segurança econômica e emocional devem
ser o norte para a solução do litígio, o que poderá determinar que este fique com
outrem, que não os pais, se assim for melhor.
É cediço que o estado de pobreza dos genitores não é causa suficiente que habilite
a alteração da guarda de menor. Assim “não basta a simples conveniência econô-
mica para se alterar a ordem natural de posse e proteção aos filhos, mas sim que a
companhia do genitor que os tem se mostre deletéria à formação física, psíquica ou
moral das crianças” (RT 525/68). Somente circunstâncias que possam comprome-
ter a saúde, a segurança e a formação do filho ensejam a mudança da guarda.
Nesse diapasão, entende-se que há, nos autos, causa bastante a justificar a alte-
ração no estado de guarda do menor em questão, mormente se considerado que
a exclusão deste como beneficiário do plano de saúde poderá acarretar-lhe graves
problemas (relatório médico de fls. 44). Ainda, há provas de que a mãe do menor
não goza de boas condições emocionais para acercar-se dos cuidados que ele de-
CAPÍTULO VIII
848
Promotorias de Justiça
Autos nº
Autor :
Ré :
Espécie : Ação de Modificação de Guarda
CAPÍTULO VIII
Meritíssimo Juiz,
Alega o autor que é pai de, menores cuja guarda foi deferida à genitora por oca-
849
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
sião da separação judicial das partes. Todavia, afirma que a genitora das crianças
“passou a manter uma conduta indesejável e desregrada”, uma vez que “deixou de
cumprir as determinações judicias no que concerne ao sustento e à educação dos
filhos” (fl. 03). Requer, pois, o autor lhe seja conferida a guarda definitiva dos filhos,
bem como seja exonerado da obrigação de lhes pagar alimentos.
A petição inicial foi aditada às fls. 71/76, oportunidade em que o requerente alegou
que a genitora dos menores, além de não utilizar a pensão alimentícia para adimplir
as mensalidades escolares dos menores, se furta da obrigação de acompanhar o
desenvolvimento escolar dos mesmos. Acostou outros documentos às fls. 77/78.
Citada (fl. 85), a ré ofertou a contestação de fls. 89/92, acompanhada pelos docu-
mentos de fls. 93/120.
segundo termo de fl. 160. Foram colhidos os depoimentos pessoais das partes (fls.
159/160) e procedeu-se à oitiva dos menores (fls. 161/162).
850
Promotorias de Justiça
Do cotejo dos autos exsurge que os menores, atualmente com doze e dez anos de
idade, respectivamente, permanecem desde a separação judicial dos pais sob a
guarda materna. Todavia, pretende o autor, genitor dos menores, que a guarda dos
mesmos lhe seja deferida, sob o argumento de que a ré não administra os recur-
sos pagos a título de pensão alimentícia em benefício dos filhos. Aduz, ainda, que
os menores manifestaram expresso desejo de residirem juntamente com o pai e a
madrasta.
Noutro giro, afirma a genitora dos menores que foi vítima de crime de extorsão,
razão pela qual não pode adimplir, regularmente, as suas obrigações financeiras
relativas ao ano de 2005. No entanto, tal situação já foi contornada . Quanto às suas
obrigações como mãe, afirmou que jamais deixou de zelar pela educação dos filhos,
tanto assim que o rendimento escolar deles sempre foi excelente. Pugnou pela total
improcedência da ação.
O art. 1.584 do Código Civil estabelece que a guarda será atribuída à pessoa que
revelar melhores condições para exercê-la.
foram quitadas e as do corrente ano vêm sendo pagas. Ademais, percebemos que
as despesas com o lar e com as crianças são compatíveis com a receita da pensão
repassada pelo requerente” (fls. 133).
Importante enfatizar que o estudo técnico aferiu que “os menores demonstram man-
ter uma saudável convivência e estreito vínculo afetivo com a mãe. Mostram-se,
ainda, satisfeitos com os cuidados cotidianos que recebem na companhia materna”
(fls. 133). Concluiu, portanto, a assistente signatária do laudo que “depreendeu-se
851
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
que a Sra. vem atendendo as demandas dos filhos com adequação, não sendo
observados, no momento, fatores impeditivos para que ela continue exercendo a
função da guarda perante” (fls. 133).
Deflui da oitiva do menor, consignada às fls. 161, a afirmação de que “se ele pu-
desse escolher, preferiria ficar com o pai porque tem mais lazer”. Também o menor
aduziu que “que gosta tanto do pai quanto da mãe, mas gostaria de ficar na casa do
pai porque lá tem alimentação melhor e lazer melhor” (fls. 162). Alegou, ainda, que
“gosta mais de ficar na casa do pai, que na casa do pai ele pode dormir mais tarde
CAPÍTULO VIII
e que na casa da mãe ele tem que dormir as nove horas” (fls. 162).
Parece nítido que a imaturidade das crianças em tela obsta que elas optem pelo
guardião, até porque a escolha manifestada em audiência baseia-se em critérios
relativos ao lazer e à maior liberdade experimentada na casa paterna. Em caso
similar, manifestou-se, brilhantemente a i. desembargadora Vanessa Verdolim, in
verbis:
852
Promotorias de Justiça
Autos nº:
Autor:
Ré: Espécie: Ação de Guarda
Parecer Final do Ministério Público
Meritíssimo Juiz,
Trata-se de ação de guarda proposta por em desfavor de, com esteio nos fatos nar-
CAPÍTULO VIII
Alega o autor que é pai de, menor que, desde fevereiro de 2006, reside em sua
companhia, uma vez que “não estava sendo devidamente cuidado pela requerida”
(fls. 03).
Pretende, pois, o autor lhe seja conferida a guarda definitiva do filho, para a regula-
rização de situação de fato já existente há mais de dois anos.
853
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A competência para processar e julgar o presente feito foi declinada para a Vara de
Família (fl. 31).
Citada (fl. 43), a ré ofertou a contestação de fls. 46/49, acompanhada pelos docu-
mentos de fls. 50/93. No mérito, aduziu que “um pai que abandona a sua esposa
e aos próprios filhos a própria sorte” não poderá ser um bom guardião. Afirmou
que “sempre demonstrou aptidão para manter os filhos em sua companhia” e que
mesmo sem a presença do requerente, “a duras penas manteve bem estar e um
ambiente familiar tranqüilo” (fl. 48). Pugnou pela improcedência da ação.
na data de 08/02/2006, o menor foi entregue ao pai, ora requerente (termo de entre-
ga e responsabilidade – fl. 09).
É certo que desde o início do ano de 2006, o adolescente passou a viver continu-
amente na casa paterna e o genitor exerce a guarda provisória de ... desde janeiro
de 2007 (termo de compromisso – fl. 36)
854
Promotorias de Justiça
zindo que “um pai que abandona a sua esposa e aos próprios filhos a própria sorte”
não poderá ser um bom guardião. Afirmou, ainda, que “sempre demonstrou aptidão
para manter os filhos em sua companhia” e que mesmo sem a presença do reque-
rente, “a duras penas manteve bem estar e um ambiente familiar tranqüilo” (fl. 48).
Porém, não cuidou de produzir quaisquer provas acerca do alegado, restringindo-se
a acostar aos autos cópia da ação de separação judicial das partes..
No que toca à convivência do menor com a família paterna, o relatório do estudo so-
cial consignou que “K estuda a 6ª série do ensino fundamental na Escola Estadual
.... O adolescente informou que prefere residir com o pai, pois o mesmo lhe oferece
melhores condições de moradia e afeto, além de se preocupar com a sua educação.
K demonstrou estar adaptado ao ambiente familiar paterno e se sentir bem residin-
do em companhia do requerente” (fl. 103).
interesse em exercer o múnus de guardiã do filho, apurou-se que ela reside na co-
marca de ..., em local distante da escola da menor, da casa paterna e do ambiente
de referência dele.
855
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por derradeiro, nos termos do art. 35 do ECA, a guarda sempre é deferida a título
precário, ou seja, poderá ser revista mediante pedido de modificação, inclusive re-
conquistada pela mãe, desde que haja mudança das condições que constituíram a
razão de decidir.
Isto posto, o Ministério Público opina pela concessão da guarda do menor ao au-
tor.
Autos n.º
Ação: Investigação de Maternidade c/c Anulação de Adoção
Autoras:
Réus :
856
Promotorias de Justiça
por e em face de ... e ..., representada por sua curadora, todas já qualificadas nos
autos.
Alegam as requerente que a adoção implica em ato jurídico simulado, já que elas
mantiveram-se vinculadas à mãe biológica, com ela residindo até o casamento. Afir-
mam que a existência de duas certidões de nascimento e mais uma escritura públi-
ca de adoção causa-lhes transtornos, inclusive acusações de falsidade ideológica.
É o relatório.
857
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Reza o § 1º, do art. 167, do Código Civil que: “haverá simulação nos negócios jurí-
dicos quando:
I – aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais
realmente se conferem, ou transmitem;
II – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III – os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.”
“Há simulação, quando o ato existe apenas aparentemente, sob a forma, em que o
agente o faz entrar nas relações da vida. É um ato fictício, que encobre e disfarça
uma declaração real de vontade, ou que simula a existência de uma declaração que
não se fez. É uma declaração enganosa da vontade, visando produzir efeito diverso
CAPÍTULO VIII
Assim, resta claro que a tia materna, ao adotar as requerentes, pretendia ampará-
las, ainda que financeiramente, como se fossem suas filhas. Portanto, a declaração
de vontade firmada na escritura pública não era fictícia, tampouco visava à produ-
ção de efeitos diversos do ostensivamente indicado.
Outrossim, não há nenhuma prova consistente nos autos no sentido de que a ré não
858
Promotorias de Justiça
Demais disso, ainda que tivesse sido provado que a adotante não pretendia subs-
tituir a mãe das autoras, mas tão-só suprir as necessidades financeiras das então
menores, não haveria simulação. O vício que estaria a inquinar a declaração de
vontade seria o erro, consoante reiterado entendimento jurisprudencial dos tribunais
brasileiros.
em 31/05/1989).
É o parecer.
859
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
MM. JUIZ
1. Histórico da ação
Regularmente citado (fl. 13), o réu ofertou a contestação de fls. 17/19, rechaçando a
pretensão do autor, sustentando que não manteve relações sexuais com a genitora
do menor. Sustentou não ter a mínima condição financeira de assumir encargo ali-
CAPÍTULO VIII
mentício nos moldes pleiteados na proemial, pugnando pela fixação dos alimentos,
caso provada a paternidade, em 10% do salário mínimo. A contestação foi impug-
nada às fls. 23/26.
860
Promotorias de Justiça
Na fase instrutória realizou-se a audiência, cujo termo encontra-se às fls. 48, proce-
dendo-se à inquirição de duas testemunhas (fls. 49/50). A parte autora aduziu suas
alegações finais orais.
2. Mérito da causa
De início, a análise detida dos autos revela que foi marcado exame de DNA, para o
qual o réu restou devidamente intimado, como se vê à fl. 32/verso. Todavia, apesar
da intimação, o suplicado esquivou-se da realização da prova pericial.
“No que se refere ao prejuízo em face da intimação, frise-se que o fato do Recorren-
te ter sido intimado da coleta de material genético para a realização do exame de
DNA, apenas na noite anterior ao dia marcado, por si só não demonstra cerceamen-
to de defesa do Apelado. Principalmente porquanto o mesmo não compareceu ao
laboratório, e quedou-se inerte sem oferecer qualquer justificativa nos autos, ape-
nas afirmando agora, tardiamente, em sede recursal, que “...já estava de viagem
marcada para a capital mineira”, sem, todavia, que tal informação esteja acompa-
nhada de qualquer indício de prova, nem mesmo a motivação da aludida viagem...
Pelo exposto, deixo de acolher a preliminar suscitada. Passo ao exame do mérito.”
(TJMG – Apelação Cível nº 1.0701.96.007564-9/001, rel. Des. Jarbas Ladeira, p.
12/03/2004)
Com efeito, aplicável ao caso tanto o art. 231 do Código Civil, quanto o art. 232 do
mesmo diploma legal. Saliente-se brilhante entendimento jurisprudencial, in verbis:
“O art. 231 traz disposição inovadora que, no entanto, já vinha sendo aplicada por
força de entendimento jurisprudencial. Dispõe o referido artigo que “aquele que se
nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar- se de sua
861
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
recusa”. O art. 232 complementa a regra referida, ao dispor que “a recusa à perí-
cia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o
exame”. O alvo dos referidos dispositivos é claramente as ações de investigação de
paternidade, nas quais não raro se negam os supostos pais a se submeterem ao
exame de DNA. Não se trata, no entanto, da criação de uma presunção legal abso-
luta. Segundo refere HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, o que se autoriza no art.
232 é “o uso da circunstância de ter a parte se recusado ao exame pericial médico
como uma presunção, cuja valoração não deve se dar à luz isoladamente da própria
recusa, mas em cotejo com o quadro geral dos elementos de convicção disponíveis
no processo. Se nada mais se produziu como prova direta ou indireta do alegado
na inicial, não será razoável nem aconselhável uma sentença de procedência da
demanda fundada exclusivamente no gesto processual do réu”.
862
Promotorias de Justiça
Nítido, pois, que ao suplicado incumbia a prova de que não manteve relações se-
xuais com a genitora do menor, de que a concepção do menor ocorreu em período
diverso daquele em que se relacionou com a genitora do mesmo, ou, ainda, da plu-
ralidade de relacionamento concomitantes da mãe do autor. Ao contrário, limitou-se
a afirmar “não namorou e nem teve qualquer relacionamento durante oito meses
com a mãe do suplicante” (fl.17).
Por último, importante destacar que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais já decla-
rou que o exame de DNA não é prova absoluta. No entanto, se os fatos narrados
na exordial são confirmados pela prova testemunhal, o pedido deve ser julgado
procedente. In verbis:
863
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O réu, a seu turno, afirmou que está desempregado e “vive de bicos” dos quais
“extrai rendimento de R$ 40,00 semanais” (fl. 17). Dessa feita, não teria condições
de prestar os alimentos no valor reivindicado pelo autor, ofertando alimentos no
importe de 10% do salário mínimo.
CAPÍTULO VIII
É firme a jurisprudência no sentido de que o desemprego, sem que haja outros obs-
táculos para o alimentante conseguir serviço lícito, não é justificativa bastante para
afastar a obrigação alimentar. Demais disso, “a pessoa que goza de boa saúde não
pode alegar falta de serviço, quando lhe for possível dedicar-se a atividade diversa
da que tinha, desde que compensadora90”.
90
TJMG – Ap.Civ. nº 1.0702.02.024958-8/001(1), Rel. Des. Célio César Paduani, p.02/09/2005
864
Promotorias de Justiça
Do cotejo dos autos exsurge que o valor da última remuneração, percebida pelo
réu, consoante ele próprio alegou, alcançou o importe de R$ 360,00. Todavia, aduz
que vive da ajuda de sua companheira, já que o rendimento que aufere é totalmente
absorvido com as suas despesas pessoais.
Embora não haja qualquer prova acerca das alegações do requerido, também o
autor não logrou êxito em demonstrar, efetivamente, os reais ganhos do réu. Por
conseguinte, a fixação da verba alimentar deve pautar-se pela realidade fática, se-
gundo a qual, in casu, o devedor aufere menos do que um salário mínimo por mês.
3. Conclusão
865
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
- Revisional de Alimentos
Autos n.º
Requerente:
Requerido:
Ação: Revisional de Alimentos
Parecer Final do Ministério Público
Meritíssimo Juiz,
Trata-se de ação revisional de alimentos ajuizada por ..., menor devidamente repre-
sentada por ... em desfavor de ..., todos já qualificados. Argumenta que, em virtude
do crescimento adveio aumento de novas despesas, em razão disso, pretende a
majoração dos alimentos para o importe de um do salário mínimo.
A peça exordial de fls. 05/04 foi instruída pelos documentos de fls. 05/10.
866
Promotorias de Justiça
Quanto ao mérito, estabelece o Código Civil Brasileiro, em seu art. 1.699, que, “se,
fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre,
ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as cir-
cunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.” (grifo nosso)
Com efeito, ensina Yussef Said Cahali que “a redução, exoneração ou agravação
do encargo alimentar, quando já fixados os alimentos, só se recomenda quando
‘sobrevier mudança na fortuna de quem os supre ou de quem os recebe’, [...] não
se pode alterar o quantum arbitrado em favor da alimentada se prova não se fez de
qualquer alteração de ordem econômica [...]”(Dos Alimentos – p. 982)
Assim, para que seja acolhido o pedido de revisão da verba alimentar, imprescin-
dível a verificação da modificação das condições econômicas dos interessados,
confrontando-se àquelas existentes à época da fixação da pensão com as atuais.
Primeiramente, verifica-se que a pensão alimentícia foi fixada, inicialmente, por sen-
tença prolatada, por ocasião da ação de investigação de paternidade cumulada com
alimentos, no patamar de 25% (vinte e cinco por cento) do salário mínimo (fl. 05).
Assim, a autora não se desincumbiu do ônus probandi que lhe competia, atinente
a suposta mudança na situação financeira, para melhor, do réu a contento do ônus
da prova que lhe é atribuído pelo art. 333, inciso I, do Código de Processo Civil, não
867
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
“O autor deve provar os fatos constitutivos, isto é os fatos que normalmente produ-
zem determinados efeitos jurídicos; o réu deve provar os fatos impeditivos, isto é
a falta daqueles fatos que normalmente concorrem com os fatos constitutivos, falta
que impede a estes de produzir o efeito que lhe é natural.”
“Raro será, mas é, no entanto, sempre possível o caso de, excluída a presença do
fato a avaliar, não haver também quaisquer provas. Dentro do possível, o direito
procura obtemperar a essa eventualidade por meio do que chamei disponibilidade
das provas, e a obrigação de prova testemunhal constitui uma dessas típicas situa-
ções jurídicas que se relacionam com tal instituto. Mas tal meio não pode ir além de
certos limites, pelo que a falta de prova de um fato não é uma hipótese meramente
teórica mas um dado da realidade.”
Lado outro, o réu carreou aos autos prova de que sua situação financeira mudou
para pior quando da fixação da pensão alimentícia, conforme se constata no docu-
mento de fls. 17/18.
Autos nº
Autora :
Réu :
1998. p. 451.
92
CARNELUTTI, Francesco. Teoria Geral do Direito. Lejus, 1999. p. 540/542.
868
Promotorias de Justiça
Cuida-se de ação revisional de alimentos ajuizada por, menor representada por sua
mãe, em face de, todos já qualificados nos autos.
A peça exordial de fls. 02/05 foi instruída pelos documentos de fls. 06/17.
Citado (fl. 21), o réu apresentou a contestação de fls. 24/28, acompanhada pelos
documentos de fls. 29/35.
A autora apresentou suas alegações finais às fls. 478/486 e o réu, às fls. 491/494.
869
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Na hipótese em tela, verifica-se que pretende a autora seja majorado o valor de sua
pensão alimentícia, sob o fundamento de que houve o aumento de suas necessi-
dades, em razão da idade e, sobretudo, da elevação das despesas concernentes à
mensalidade escolar e à aquisição de material escolar.
Lado outro, resiste o réu, ao alegar que arca com o pagamento de alimentos men-
sais em valor superior a um salário mínimo, além das despesas concernentes a con-
sultas médicas e à aquisição de medicamentos, já que a autora é sua dependente
junto ao IPSEMG. Assevera que a majoração das necessidades da alimentada não
restou claramente demonstrada e que a genitora daquela pretende matriculá-la em
instituições de ensino muito caras, incompatíveis com o padrão de vida que ele
pode lhe proporcionar.
Afirmou, ainda, que é responsável pelo sustento de outra filha menor, além de arcar
com o pagamento das despesas de seu novo lar.
É cediço que a revisão do valor dos alimentos só pode prosperar quando houver
alteração no binômio necessidade/possibilidade. Estabelece o Código Civil, em seu
artigo 1.699, que, “se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação finan-
ceira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar
ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encar-
go.”
Com efeito, ensina Yussef Said Cahali que “a redução, exoneração ou agravação
do encargo alimentar, quando já fixados os alimentos, só se recomenda quando
‘sobrevier mudança na fortuna de quem os supre ou de quem os recebe’, [...] não
se pode alterar o quantum arbitrado em favor da alimentada se prova não se fez de
qualquer alteração de ordem econômica [...]”(Dos Alimentos. p. 982)
Assim, para que seja acolhido o pedido de revisão da verba alimentar, imprescin-
CAPÍTULO VIII
870
Promotorias de Justiça
Outrossim, embota a constituição de nova família e nova prole seja um fato jurídico
relevante, por si só, não desautoriza a majoração dos alimentos. Portanto, não de-
monstrada a alteração da capacidade financeira do alimentante, há que se acolher
o pleito revisional.
Assim, do cotejo probatório produzido nos autos pode-se inferir que, nada obstante
tenha constituído nova família, houve a majoração dos rendimentos mensais do réu,
os quais somavam R$ 2.341,42 em agosto de 2007 (fls. 276/278 e fl. 348).
CAPÍTULO VIII
Noutro giro, incumbe a ambos os pais prover a subsistência dos filhos menores,
calhando trazer a baila lição do ilustre jurista Yussef Said Cahali, em sua obra Dos
Alimentos. 2 ed. São Paulo: RT, p. 400:
871
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por último, sabe-se que a forma híbrida de prestação de alimentos, a despeito de le-
galmente admitida, é recomendada, tão somente, nas hipóteses em que se revelar
impossível a contribuição material exclusivamente em espécie. Logo, o pensiona-
mento em espécie constitui a regra, sendo que a forma híbrida de pensão constitui
hipótese excepcional. Percebe-se, pois, que no presente caso, o uso do cartão de
convênio médico e farmacêutico pela menor é fonte de constantes conflitos entre as
partes. Assim, mostra-se prudente que seja majorado o montante da verba alimen-
tar fixado em pecúnia, para que sejam atendidas todas as necessidades da menor
e, para que seja desonerado o devedor do ônus de arcar com o pagamento in na-
tura. Ressalte-se que a genitora da infante é servidora pública estadual, e ambas
podem utilizar-se do IPSEMG para tais fins.
Autos n.º
Ação: Revisional de Alimentos
872
Promotorias de Justiça
Autor:
Rés :
Trata-se de ação revisional de alimentos proposta por ... em face de ..., menor re-
presentada por sua genitora, todos já qualificados nos autos.
Impugnação às fls.162/164.
É o relatório.
873
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
É cediço que a revisão do valor dos alimentos só pode prosperar quando houver
alteração no binômio necessidade/possibilidade.
Reza o art. 1.699 do Código Civil que: “se, fixados os alimentos, sobrevier mudan-
ça na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o
interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou
majoração do encargo.”
Com efeito, ensina Yussef Said Cahali que “a redução, exoneração ou agravação
CAPÍTULO VIII
Assim, para que seja acolhido o pedido de revisão da verba alimentar, é impres-
cindível a verificação da modificação das condições econômicas dos interessados,
confrontando-se àquelas existentes à época da fixação da pensão com as atuais.
874
Promotorias de Justiça
Dessa feita, restou patente que a capacidade econômica do requerente sofreu sen-
sível redução.
Lado outro, cabe observar que uma vez atingida a maioridade, o filho que não es-
tiver em condições de prover sua subsistência tem direito aos alimentos, mas se
sujeita à comprovação dos requisitos da necessidade e da possibilidade.
Portanto, nos termos do art. 333, II, do CPC, à ré incumbia a prova de que não pode
trabalhar, em virtude da carga horária do curso superior, razão pela qual se justifica
a redução da verba alimentar a ela devida.
CAPÍTULO VIII
875
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
outro lado, as alimentadas demonstraram que são estudantes e não pode sobrevi-
ver sem a ajuda paterna.
Por fim, sabe-se que, fixados os alimentos em salário mínimo, quando da separa-
ção, possível é a alteração dos mesmos para percentual dos vencimentos do ali-
mentante, cuja remuneração não é vinculada àquele indexador. Pretende-se evitar
que a maior parte da parcela líquida dos vencimentos seja consumida com o paga-
mento da pensão alimentícia. Porém, no caso em apreço, verifica-se que a remu-
neração do autor é variável, porque depende de comissões percebidas. Além disso,
descontada a verba alimentar no montante de um salário mínimo, restará parcela
líquida significativa e apta a manutenção digna do alimentante.
É o parecer.
Autos nº.:
Requerente:
Requerido:
MM. Juiz,
Trata-se de Ação Revisional de Alimentos proposta por ..., em face de ..., todos já
qualificados nos autos, sob a alegação que o autor se encontra obrigado a prestar
alimentos definitivos os réus no importe de um salário mínimo e ½ (meio). Aduz
ainda, que após a fixação da aludida prestação alimentícia, houve alteração na sua
CAPÍTULO VIII
situação financeira, posto que ficou desempregado e, ainda, constituiu nova família.
Alega ainda, que a genitora do menor possui condições financeiras suficientes para
suportar a mantença do réu. Ao final, requer a redução da pensão alimentícia para
o importe de ½ (meio) salário mínimo.
A petição inicial de fls. 02/14 foi instruída pelos documentos de fls. 15/41.
Foi determinada a emenda da peça inaugural, às fls. 43, sob o fundamento de reti-
876
Promotorias de Justiça
Em nova audiência de conciliação, conforme termo de fls. 69, restou infrutífera ante
a intransigência de acordo entre as partes.
À fl. 90, foi indeferido o pedido de tutela antecipada constante na exordial, sob o ar-
gumento de não existir nos autos elementos suficientes ensejadores da pretensão.
É o relatório.
da presente ação.
877
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Dessa forma, para que seja acolhido o pedido de revisão da verba alimentar, impres-
cindível a verificação da modificação das condições econômicas dos interessados,
confrontando-se àquelas existentes à época da fixação da pensão com as atuais.
“Para que seja acolhido o pedido de revisão, deve ser provada a modificação das
condições econômicas dos interessados”. (CAHALI, Yussef Said. In: Dos Alimen-
tos. 1984. p. 591)
Ora, o Código de 1916 dispunha que era necessária a mudança da fortuna de quem
presta ou recebe alimentos. Enquanto o Código Civil atual alude à mudança da
situação financeira dos envolvidos na obrigação alimentar. Com efeito, o autor não
logrou êxito em comprovar que sobreveio mudança nas suas condições econômi-
cas que justificasse a redução do encargo alimentar.
Além disso, conforme se verifica através da análise dos autos de ação de execução,
o suplicante alegou na justificativa que auferia junto à empresa, a título de pro-la-
bore, a quantia de um salário mínimo (autos em apenso fl.26) e, posteriormente
acorda em fixar a pensão alimentícia no valor supracitado. Insta consignar ainda,
que na exordial, o autor alegou que se encontrava desempregado, mas também
não fez provas deste fato constitutivo de seu direito, consoante determina o art. 333,
CAPÍTULO VIII
I do CPC.
Mas, do cotejo probatório dos autos exsurge que não houve a piora da situação
financeira do requerente, ao contrário do alegado por ele. Com efeito, a análise as
provas orais produzidas foram uníssonas em afirmar que, atualmente, o autor traba-
lha como vendedor autônomo. Assim, a testemunha do autor, asseverou: que atu-
almente o autor trabalha vendendo churrasquinho defronte um restaurante popular
situado no bairro ..., possuindo ele uma churrasqueira móvel [...]”. (Termo de fl.152).
878
Promotorias de Justiça
Nesse sentido:
Alegou que a situação da mãe das menores melhorou muito desde a época da fixa-
ção dos alimentos. Todavia, tal afirmação não pode prosperar, pois no caso em tela
não se discute a pensão paga à mãe da menor, como parece, pois o autor em seu
fundamento para redução da verba alimentar invoca a modificação de fortuna da
mãe, esquecendo que isto não serve de argumento para aludida redução.
Em casos tais, o próprio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul já determinou que
“A pensão alimentícia, devida pelo pai ao filho, não é influenciada pela fortuna da
mãe, pois que o vínculo é entre alimentando e alimentante (4º c.c., TJRS, AC 5900
28148, 12/9/90, Repert. IOB Jurisprudência 3/5011)”.
CAPÍTULO VIII
Lembrando que, por se tratar de questão alimentícia, esta não faz coisa julgada
material, razão pela qual qualquer melhora (alteração) na situação financeira do
879
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
“A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado, e pode a qualquer tem-
po ser revista em face da modificação da situação financeira dos interessados” (Lei
nº 5.478/68)
Ante o exposto, o Ministério Público opina pela improcedência do pedido, para que
sejam mantidos os alimentos anteriormente fixados no valor correspondente a um
salário mínimo e ½ (meio).
É o parecer.
- Separação judicial
Autos nº:
Separação Judicial
Requerente:
Requerido:
MMª. Juíza,
A autora alegou que se casou com o réu em 25/03/1999, sob o regime de comunhão
parcial de bens. Dessa união advieram dois filhos, ainda menores, bem como a
aquisição do patrimônio composto pelo veículo ..., placa ....
880
Promotorias de Justiça
Devidamente citado (fls. 25/v.), o réu ofertou a contestação de fls. 26/29, aduziu que
não se opõe à decretação da separação, mas a requerente é que seria a respon-
sável pela ruptura da vida em comum. Afirmou que concorda com a concessão da
guarda dos filhos menores à autora e com a partilha do veículo. Ofertou alimentos
aos filhos no importe de 35% (trinta e cinco por cento) do salário mínimo. Acostou
os documentos de fls. 32/33.
É o sucinto relato.
881
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Não foram argüidas preliminares de mérito, razão pela qual é possível adentrar as
questões de fundo da demanda. Não obstante a autora tenha requerido a decreta-
ção da separação-sanção, o asseverado descumprimento dos deveres matrimo-
niais não restou provado. Isso porque, não houve a produção de prova documental
conclusiva e o depoimento testemunhal coligido não conduziu à conclusão de que o
ora réu tenha sido violado os deveres inerentes ao casamento.
Contudo, ambas as partes reconhecem que, desde a saída da autora do lar conju-
gal, em janeiro de 2006, encontram-se separadas de fato. A ruptura da vida em co-
mum , há mais de um ano, restou provada através da prova testemunhal produzida
nos autos (fls. 61).
Com efeito, uma vez provada a ruptura da vida em comum há mais de um ano e a
impossibilidade de sua reconstituição, autorizada está a decretação da separação
judicial, com fulcro no § 1º do art. 1.572 do Código Civil, nos termos do pedido do
autor.
As partes não divergem com relação ao pedido de desistência recíproca dos ali-
mentos e a varoa pretende voltar a usar o nome de solteira.
CAPÍTULO VIII
Quanto ao pedido de partilha do único bem móvel adquirido pelas partes, o veículo
..., placa ..., não há provas acerca da existência e propriedade do mesmo. Contudo,
concordam as partes em que o valor do bem seja partilhado na proporção de 50%
para cada uma.
882
Promotorias de Justiça
É cediço que, conforme dispõe o art. 1.584 do Código Civil, a guarda será atribu-
ída à pessoa que revelar melhores condições para exercê-la. Já o art. 33 da Lei
nº 8.069/90 fixa que a guarda obriga à prestação de assistência material, moral e
educacional à criança. Nos autos não há nada que impeça a concessão da guarda
à autora, com a estipulação de visitas livres.
O réu, a seu turno, restringiu-se a afirmar que aufere apenas um salário mínimos
por mês, motivo pelo qual oferta alimentos aos menores no importe de 35% do
salário mínimo. Nada obstante, não produziu qualquer prova acerca de sua capa-
cidade financeira, o que se daria com a simples juntada de seu demonstrativo de
pagamento.
CAPÍTULO VIII
Portanto, presume-se que a renda auferida pelo suplicado seja maior do que a
declarada por ele. Tal presunção é corroborada pelo fato de que ele vem suportan-
do o pagamento dos alimentos provisórios ficados no montante de 50% do salário
mínimo.
883
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
mês, devendo ser expedido ofício à empregadora, no endereço constante às fls. 35,
para que proceda aos descontos mensais em folha de pagamento.
É o parecer.
Autos nº
Autora:
Réu:
Parecer do Ministério Público
MM Juiz,
já qualificada nos autos, propôs ação de separação judicial litigiosa em face de,
pleiteando a decretação da separação judicial do casal, imputando ao requerido o
descumprimento dos deveres conjugais da mútua assistência e coabitação, tornan-
do insuportável a vida em comum.
884
Promotorias de Justiça
Realizada audiência, não foi possível a composição de um acordo pelas partes (fl.
240).
Processo em ordem e sem nulidades a serem supridas. Não foram argüidas prelimi-
nares, razão pela qual é possível passar-se à análise do mérito.
885
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Com efeito, o art. 1.566, V, do Código Civil, fixa que, dentre os deveres inerentes
ao casamento está o de respeito e consideração mútuos, e o descumprimento por
parte de um cônjuge constitui, evidentemente, conduta desonrosa para com o ou-
tro. Juntamente com a contestação o réu/reconvinte acostou os documentos de fls.
81/149, que comprovam um envolvimento íntimo entre a autora/reconvinda e ....
Ora, sem ao menos uma justificativa para tal conduta, a autora/reconvinda deu ao
seu marido fundadas razões para a suspeita da infidelidade. Demais disso, feriu o
sentimento de honra e dignidade moral do réu/reconvinte, o que acarretou a insu-
portabilidade da continuação da vida comum de ambos.
Segundo Washington de Barros Monteiro, “urge não esquecer que, pelo matrimônio,
o casal passa a constituir uma só unidade moral, de sorte que o desvio de um dos
cônjuges inevitavelmente no outro repercute, afetando-o na sua dignidade.” (Curso
de Direito Civil. v.2., 31 ed. São Paulo: Saraiva. p. 201). Assim, é forçoso concluir
que ..., ainda que não tenha mantido “contatos reais” com ..., afetou a dignidade de
seu consorte, de forma a incorrer em uma das causas que autorizam a decretação
da separação judicial. Sobretudo, porque, o fato de ela “manter um amante via
Orkut”, site através do qual ela “usava lingerie branca e se despia”, mantendo “diálo-
go pornográfico”, chegou a conhecimento público, como se vê do termo de fl. 250.
886
Promotorias de Justiça
Enfatize-se que ela conta apenas 32 anos de idade, é auxiliar de enfermagem e não
logrou êxito em provar que a alegada depressão a incapacite para o trabalho.
Quanto aos bens a partilhar, como se extrai da prova testemunhal produzida às fls.
250/251, os separandos, antes do enlace matrimonial, não moravam juntos e não
mantinham comunhão financeira. Inclusive restou provado que a autora/reconvinda
não contribuiu financeiramente na compra do imóvel situado em ... (fl. 15), apesar
de, naquela época trabalhar e ter rendimento próprio.
Conclui-se, pois, que o que havia realmente antes do casamento entre os litigantes
não passava de simples namoro, jamais podendo a relação entre eles configurar
união estável. Uma vez que o matrimônio constituiu-se, sob o regime da separação
CAPÍTULO VIII
887
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Logo, o imóvel descrito à fl. 15, adquirido em 5/05/2000, e o automóvel (fl. 17), ad-
quirido em 2003, devem ser excluídos da partilha. Os bens móveis que guarnecem
a residência do casal também não poderão ser partilhados, em virtude da ausência
de prova acerca da existência dos mesmos. Por fim, o imóvel descrito à fl. 16, ad-
quirido em 09/12/2005, deverá ser partilhado à razão de 50% para cada cônjuge, já
que a presunção de aquisição por esforço comum das partes não restou elidida.
Por último, a requerente deverá voltar a usar o nome de solteira (CC; art. 1.578, §
1º).
Ante o exposto, opina o Ministério Público para que se julgue parcialmente proce-
dentes o pedido inaugural e o pedido reconvencional, a fim de decretar a separação
judicial do casal, com a conseqüente dissolução da sociedade conjugal e produção
das demais conseqüências acima mencionadas, por ser de direito e justiça.
É o parecer, s.m.j..
- Tutela
Processo n.º
Parecer, pelo Ministério Público
Meritíssimo Juiz,
..., já qualificada nos autos, interpôs a presente ação de destituição de poder fami-
888
Promotorias de Justiça
liar de ... sobre a menor ... . Alega a autora que a menor é filha das partes, nascida
em 13 de novembro de 1992, conforme certidão de nascimento de fls. 10.
Aduz, ainda, a requerente que o pai da menor possui passagens pela Polícia Civil
do Estado de ..., onde responde a processos criminais pela prática de estelionato e
crime de falsidade ideológica.
Diante do abandono perpetrado pelo réu, desde o nascimento da filha ora adoles-
cente, e, por ter ele praticado crimes atentatórios à moral e aos bons costumes,
pretende a autora a decretação da perda do poder familiar do réu sobre a menor.
Expedida carta precatória para a Comarca de ..., para a citação do réu. Frustrada a
tentativa (fls. 47/verso), procedeu-se a citação editalícia (fls. 57/62).
O curador nomeado ao réu citado por edital ofertou a contestação de fls. 64/70.
Argüi, preliminarmente, a incompetência da Vara da Infância e Juventude para o
processamento do feito, bem como a inépcia da inicial e a nulidade de citação. No
mérito, contestou por negativa geral.
CAPÍTULO VIII
889
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Memorial apresentado pela autora às fls. 116/124 e pelo réu às fls. 126/127.
A prova produzida em AIJ foi ratificada pelo curador especial nomeado ao réu revel,
às fls. 129.
Do cotejo dos autos exsurge que a menor com onze anos de idade, desde o seu
nascimento reside apenas na companhia materna. O genitor da adolescente, embo-
ra tenha declarado, espontaneamente, a paternidade no registro civil, manteve um
único contato com cinco meses após o nascimento da mesma.
890
Promotorias de Justiça
Outrossim, com base nas informações prestadas, em juízo, pela própria genitora
do réu:
[...] ela não tem contato nem notícia do réu há oito anos [...]; O
réu possui uma outra filha, que conta 16 anos de idade. A depo-
ente é quem exerce a guarda de fato de [...]; O réu não concorre
para a mantença de ” (termo de depoimento de fls. 111)
Deflui, ainda, da oitiva da testemunha que tem uma excelente convivência e adapta-
ção com o atual marido da genitora, com quem vive há cerca de cinco anos.
891
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
892
Promotorias de Justiça
to de sua paternidade, não lhe trouxe nenhuma vantagem, já que seu pai nunca
lhe prestou assistência material nem afetiva e muitas vezes sentiu-se prejudicada,
como, no momento que tentou providenciar o seu passaporte para viajar para a
Disney e não obteve êxito, devido ao desaparecimento do pai. Além disso, pretende
fazer intercâmbio cultural no exterior e teme que, mais uma vez, não consiga alcan-
çar seu objetivo” (fls. 55).
Ora, a se manter intacto o poder familiar, estar-se-ia preservando uma relação fa-
miliar meramente formal entre a menor e o requerido, a qual destoaria da realidade
retratada nos autos. Do comportamento revel e irresponsável do mesmo, deduz-se
que ele não pretende adotar qualquer atitude para modificar o quadro delineado
pelos longos anos de abandono, tanto material, quanto moral e afetivo.
Destarte, o acolhimento do pedido traduz-se em verdadeiro reconhecimento de uma
situação consolidada no mundo fático.
Por fim, ressai do cotejo probatório dos autos que o requerido, de fato, abandonou
moral, afetivo e materialmente a menor, além de se encontrar em local incerto e não
sabido, hipóteses graves capazes de ensejar a destituição do poder familiar.
Isto posto, o Ministério Público opina pela procedência da presente ação, uma vez
que se afigura a conveniência e a necessidade de se destituir o poder familiar de ...
em relação à filha menor, ... .
- União estável
MM. Juiz,
893
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Alega o requerente que conviveu com a ré, sob o mesmo teto, em uma relação
pública, contínua e duradoura, com o objetivo de constituição e família. Aduziu que,
desta relação, adveio o nascimento de dois filhos, ainda menores. Todavia, diante
do fato de que se encontram separados há mais de cinco anos, pretende seja dis-
solvida a união estável havida pelas partes.
Emenda à inicial à fl. 18, para a juntada da certidão de casamento do autor (fl. 19).
Citação da ré à fl. 22.
Memorial apresentado pela autora às fls. 82/85 e pela parte ré às fls. 87/90.
É o relatório.
894
Promotorias de Justiça
Relatados. Examino
Sobre a preliminar arguida pela ré, no que toca à inépcia da petição inicial, já se
manifestou o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, no sentido de que:
Assim, uma vez que dos fatos narrados na exordial é possível se inferir o período de
convivência das partes, não há que se falar em inépcia. Sobretudo, porque, como
informa a moderna concepção de processo, sustentada pelos princípios da econo-
mia, instrumentalidade e celeridade processual, deve prevalecer o aproveitamento
máximo dos atos processuais, principalmente quando não há prejuízo para a defesa
das partes.
No mérito, reza o art. 1.723 do Código Civil que “é a entidade familiar entre homem
e mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura estabelecida
com o objetivo de constituir família”.
895
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O requerente asseverou na peça exordial que a união estável foi contínua e du-
radoura, dela advindo o nascimento de dois filhos, um em 1195 e outro em 1997,
consoante certidões de nascimento de fls. 08/09. Afirmou, também, que as partes
já estavam separadas há mais de cinco anos, ou seja, desde 2000. Quanto a tal
reconhecimento não se opôs a requerida, consoante se depreende das fl. 88.
Com efeito, a prova testemunhal produzida nos autos confirmou que as partes man-
tinham um relacionamento ostensivo, inclusive mantendo posse de estado de casa-
dos no ambiente familiar e social. Vale ressaltar o que foi dito pela testemunha,:
É cediço que, para que haja união estável é necessária a conjugação de elementos
subjetivos (animus de constituir família, relacionamento afetivo recíproco) e objeti-
vos (convivência alastrada no tempo e em caráter contínuo). No caso em apreço,
como se infere da prova oral e documental, o relacionamento do requerente e da
requerida gozava de ostensividade e, principalmente, ânimo de constituir família.
896
Promotorias de Justiça
Ex positis, opina o Ministério Público que seja reconhecida a união estável e dissol-
vida.
Quanto à guarda dos filhos menores, apurou-se, mediante realização de estudo psi-
cossocial do caso, que residem em companhia da genitora a qual “tem assumido as
responsabilidades referentes às necessidades de”, de forma que “as crianças sen-
tem-se seguras na companhia da requerida e adaptadas ao ambiente sócio-familiar
materno” (fl. 66). Não há, pois, razão para a modificação da guarda.
No que toca aos alimentos devidos aos menores, na inicial, o demandante ofertou
pensão alimentícia no importe equivalente a 1/3 do salário mínimo, ao argumento
de está desempregado e possui outros filhos menores e uma companheira para
prover o sustento.
897
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
É o parecer.
Autos n.º
Requerentes :
Espécie: Reconhecimento de União Estável
Parecer Final do Ministério Público
Meritíssimo Juiz:
Cuida-se de ação declaratória de união estável, proposta por ..., sob o fundamento
898
Promotorias de Justiça
de que residem sob o mesmo teto há mais de trinta e oito anos. Aduz, ainda, o autor
que era casado com a Sra. ..., tendo sido decretada a sua separação judicial em ja-
neiro de 2006. Acrescenta o requerente que possui inúmeros problemas de saúde,
tendo sido submetido à cirurgia para a retirada de tumores cerebrais. Ao final, as
partes pretendem a homologação do pedido de reconhecimento de união estável.
A audiência de instrução e julgamento foi realizada, conforme termo de fls. 45, opor-
tunidade em que foram ouvidas duas testemunhas (fls. 46/47) e colhido o depoi-
mento pessoal do autor (fls. 48/49).
No mérito, não restou provada a existência da união estável havida entre os reque-
rentes.
Com efeito, as partes alegaram, inicialmente, que residem sob o mesmo teto há
CAPÍTULO VIII
mais de trinta e oito anos, advindo da união o nascimento de dois filhos, ambos
maiores.
Todavia, posteriormente, o autor aduziu que, por um breve período de tempo, ocor-
rera uma ruptura em referida união estável, oportunidade em que ele contraiu ma-
trimônio com a Sra., tendo sido decretada a sua separação judicial em janeiro de
2006.
899
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nítido, pois, que o relacionamento das partes padecia tanto de estabilidade quanto
de durabilidade, requisitos essenciais para a configuração de união estável.
Restou provado, pois, que entre o ano de 1973 e janeiro de 2006, os requerentes
mantiveram tão somente um relacionamento amoroso esporádico. Outrossim, o res-
tabelecimento da convivência entre eles, sob o mesmo teto, parece motivado pela
doença do autor, com o intuito de facilitar o tratamento e a assistência até mesmo
por parte dos filhos comuns.
CAPÍTULO VIII
Conclui-se que não ocorrem, in casu, os requisitos que poderiam configurar uma
união estável, como o objetivo de constituição de família e a estabilidade na rela-
ção e nem mesmo a coabitação regular que, se em certos casos pode mostrar-se
desnecessária, aqui se justifica precisamente pela existência de matrimônio havido
entre o requerente e outra mulher.
900
Promotorias de Justiça
Ocorre que, in casu, não obstante a aventada união tenha resultado filhos, e, até
mesmo uma convivência próxima mantida entre as partes, impossível a configura-
ção da estabilidade de tal relacionamento.
Ex positis, o Ministério Público opina pela total improcedência da presente ação.
JURISPRUDÊNCIA
901
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
902
Promotorias de Justiça
- Exoneração
903
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
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Promotorias de Justiça
905
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
- Investigação de paternidade
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Promotorias de Justiça
- Negatória
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
908
Promotorias de Justiça
909
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
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Promotorias de Justiça
911
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
- Separação Judicial
912
Promotorias de Justiça
- Guarda
EMENTA: BUSCA E APREENSÃO - INTERESSE DO MENOR -
MÃE BIOLÓGICA - Estando a criança bem cuidada pela guardiã
provisória, e não tendo a mãe biológica condições para criá-la
deve ser indeferida a medida de busca e apreensão, preser-
vando os interesses do menor, que sobrepõem-se aos dos pais
biológicos.(TJMG, processo 055703900025-1/001(1), Relator
Carreira Machado, data do acórdão 22/04/2004, data da publi-
cação 25/05/2004)
913
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as
acima indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do
Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do
recurso especial e dar-lhe provimento, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Castro Filho, Humberto
Gomes de Barros e Ari Pargendler votaram com o Sr. Ministro
Relator. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Nancy Andri-
ghi. Brasília (DF), 22 de março de 2007 (data do julgamento).
Documento: 3084073 - EMENTA / ACORDÃO - Site certificado
- DJ: 21/05/2007 Página 1 de 2 Superior Tribunal de Justiça MI-
NISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Relator
- Separação
- União Estável
EMENTA: UNIÃO ESTÁVEL. COMPANHEIRA. HERDEIRA. RE-
GIME DE BENS. A discussão acerca da existência da união está-
vel torna-se inócua, pois, na data de dois de abril de 2002, o Juízo
da 2ª Vara Cível da Comarca de Pouso Alegre, homologou, após
manifestação favorável do Ministério Público, o acordo celebra-
914
Promotorias de Justiça
915
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
- União Homoafetiva
916
Promotorias de Justiça
- Alimentos
Alimentos avós
23/08/2002)
917
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Alimentos ex-mulher
DIVÓRCIO. ROMPIMENTO DO VÍNCULO. DESCABIMENTO
DO PEDIDO DE VERBA ALIMENTAR. DIREITO NÃO RESSAL-
VADO. Findo o casamento, com o rompimento dos vínculos le-
gais entre os cônjuges pelo divórcio, descabe à mulher receber
alimentos se tal direito não veio estipulado ou ressalvado na
918
Promotorias de Justiça
Alimentos pais
919
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
- Divórcio
920
Promotorias de Justiça
- Execução
921
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
beralidade.
Eventual dificuldade financeira não afasta o dever de prestar ali-
mentos, que deve ser exercido pelo pai, ainda que com extremo
sacrifício.
Por fim, o pagamento parcial do débito alimentar não torna ile-
gítimo o decreto prisional, pois as parcelas vencidas no curso
do processo também devem ser quitadas. Entender o contrário
é beneficiar o devedor contumaz e desidioso, como revela ser
o agravante. (Número do processo: 1.0024.02.881981-1/002(1)
- Relator: MARIA ELZA - DJ: 28/05/2004) (grifei)
Logo, é de se concluir que o agravante, de fato, não só deixou
de efetivar a devida quitação dos valores referentes aos 03 (três)
922
Promotorias de Justiça
923
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
924
Promotorias de Justiça
decretada.
SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, VENCI-
DA A SEGUNDA VOGAL.
925
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
cutado.
AGRAVO N° 1.0024.05.627762-7/001 - COMARCA DE BELO
HORIZONTE - AGRAVANTE(S): M.F.C.F. - AGRAVADO(A)(S):
M.C.C. E OUTRO(S), REPDO(S) P/ MÃE V.C.C. - RELATOR:
EXMO. SR. DES. JARBAS LADEIRA
ACÓRDÃO
(SEGREDO DE JUSTIÇA)
Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CÍVEL do Tribu-
nal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e
das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR
PROVIMENTO.
Belo Horizonte, 25 de setembro de 2007.
DES. JARBAS LADEIRA - Relator
NOTAS TAQUIGRÁFICAS
O SR. DES. JARBAS LADEIRA:
VOTO
Cuida-se, na espécie, de agravo de instrumento interposto de
decisão que decretou a prisão do Agravante por 60 dias, justi-
ficando-se este pelas dificuldades que vem enfrentando e pelo
fato de que não desamparou suas filhas, pagando parte da pen-
são em dinheiro e parte diretamente das mensalidades escola-
res, materiais e despesas de saúde.
Argumenta, destarte, que a pensão somente não foi paga em
sua totalidade por absoluta impossibilidade financeira, mas, ain-
da assim, não deixaram de ser quitadas as mensalidades esco-
lares, tratamentos ortodônticos, além da quantia depositada na
conta da mãe das Agravadas.
Demonstra que nunca foi empresário de transportes, mas ape-
nas caminhoneiro autônomo, deixando de exercer a profissão em
razão da impossibilidade de concorrer com grandes transporta-
doras e mineradoras. Afirma, então, que passou a trabalhar, em
1º de outubro de 2004, como empregado da Ltda, percebendo
R$ 1.500,00, mas foi demitido em 31 de março de 2006.
Aduz que, não obstante toda a crise por ele vivida, utilizou a qua-
se totalidade dos recursos provenientes do FGTS e das verbas
rescisórias trabalhistas para custear as despesas das Agrava-
das.
Alega que ajuizou ação revisional de alimentos, reputando ex-
cessiva a obrigação de pagar cinco salários mínimos às filhas,
ora Agravadas, argumentando que seu salário atual é de R$
700,00, sendo necessária, inclusive, a ajuda de seus pais para
custear tal pensão.
Aduz que o rito do art. 733, do CPC, não é aplicável à espécie,
tendo em vista que o Agravante não deixou de pagar a totalidade
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NOTAS TAQUIGRÁFICAS
(SEGREDO DE JUSTIÇA)
AGRAVO Nº 1.0694.06.033667-4/001 - COMARCA DE TRÊS
PONTAS - AGRAVANTE(S): M.F.B. - AGRAVADO(A)(S): I.L.F.B.
E OUTRO(A)(S) - RELATORA: EXMA. SRª. DESª. VANESSA
VERDOLIM HUDSON ANDRADE
Proferiu sustentação oral, pelo agravante, o Dr. Ronaldo Bretas
de Carvalho Dias.
A SRª. DESª. VANESSA VERDOLIM HUDSON ANDRADE:
Sr. Presidente.
Em razão de alguns pontos colocados da tribuna, peço vista dos
autos.
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Processo Civil”.
Dispõe o mencionado art. 734 que, “quando o devedor for fun-
cionário público, militar, diretor ou gerente de empresa, bem
como empregado sujeito à legislação do trabalho, o juiz manda-
rá descontar em folha de pagamento a importância da prestação
alimentícia”.
O jurista Yussef Said Cahali leciona na sua obra Dos Alimentos.
4 ed. rev. ampl. e atual. de acordo com o Novo Código Civil. São
Paulo: RT, 2002. p. 970, que “[...] a forma de execução da sen-
tença de alimentos mediante desconto em folha ou da renda é
prioritária a benefício do alimentando pela sua eficiência prática,
proclamando-se que sobre ela não tem precedência a penhora
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- Revisional de Alimentos
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Sétima Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em pro-
ver o apelo.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além da signatária (Presidente), os
eminentes Senhores DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCON-
CELLOS CHAVES E DES. RICARDO RAUPP RUSCHEL.
Porto Alegre, 24 de outubro de 2007.
DES.ª MARIA BERENICE DIAS,
PRESIDENTA E RELATORA.
RELATÓRIO
Des.ª Maria Berenice Dias (PRESIDENTa E RELATORA)
Trata-se de apelação interposta por Márcia N. S., representada
CAPÍTULO VIII
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É bem por tais razões que a sentença merece reforma, com de-
terminação da manutenção da pensão em dois salários mínimos
nacionais mensais, pois o apelado não se desincumbiu do ônus
processual probatório que lhe cabia e, ante tal quadro, é impos-
sível dizer que era da apelante aquela obrigação.
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mínimos.
Com a devida vênia do honrado juízo de 1º grau, acredito que
a forma como vem sendo descontada a pensão do alimentante,
prejudica, sobremodo, os valores que lhe sobram para sobrevi-
ver, ainda que se leve em conta o ganho que o mesmo possui, a
partir da vendas que faz, em um cômodo alugado.
Conforme se apura do documento de fls. 06, o benefício pre-
videnciário recebido pelo alimentante era, em janeiro de 2002,
da ordem de R$ 519,12. Tal valor, como o próprio apelante re-
conhece, em seu depoimento de fls. 58, sofreu uma pequena
elevação, representando, em valores de hoje, R$ 587,00.
Considerando que o valor de referência do salário mínimo, hoje,
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VOTO
Trata-se de apelação cível interposta por W.R.C., contra a sen-
tença proferida pelo MM. Juiz de Direito da 1ª Vara de Família
da comarca de Belo Horizonte que, nos autos da ação revisional
de alimentos proposta por I.E.S.C., representada por sua mãe
L.G.S.V., julgou procedente o pedido para majorar os alimentos
para sete salários mínimos mensais e condenou o requerido em
custas e honorários advocatícios arbitrados em R$ 1.800,00.
Foram interpostos embargos de declaração pela autora às f.
223/225, os quais restaram rejeitados à f. 359 e 359 v.
Em suas razões recursais, de f. 366/368, apela o apelante asse-
verando que para fixação dos alimentos deve-se levar em conta
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Pois bem.
A par da conhecida dificuldade em solucionar a controvérsia ins-
taurada no caderno processual, estou convencido, após análi-
se do acervo probatório e dos dispositivos legais aplicáveis à
espécie, que o apelo edificado merece parcial acolhida. Senão
vejamos.
O pedido revisional encontra suas raízes no art. 401 do Código
Civil revogado (vigente à época da propositura da ação)e no art.
15 da Lei nº 5.478/68, que dispõem, verbis:
“Art. 401 (Código Civil - atual art. 1699) - Se, fixados os alimen-
tos, sobrevier mudança na fortuna de quem os supre, ou na de
quem os recebe, poderá o interessado reclamar do juiz, confor-
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apelante.
Primeiramente, quanto aos honorários advocatícios fixados, re-
versamente do que decidiu o magistrado a quo, não é o valor da
causa a base de cálculo dos mesmos. Com efeito, tendo havido
condenação em valor certo e, ainda, tratando-se de prestações
sucessivas, os honorários devem incidir sobre tal valor, que, nos
termos da jurisprudência desta Corte Mineira, equivale ao so-
matório de 12 (doze) prestações (levando-se em consideração o
novo valor arbitrado), como, aliás, deve ser feito para valoração
da causa (art. 259, VI, do Código de Processo Civil).
Nesse sentido estão os seguintes arestos, verbis:
“EMENTA: DIREITO DE FAMÍLIA - ALIMENTOS - VALOR - CA-
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INAPLICABILIDADE.
Omissis
II. Considera-se a postulação inicial da verba alimentar mera-
mente estimativa, dada a subjetividade na sua avaliação, de
sorte que se fixada, ao final, pensão inferior à pretendida, porém
com a procedência da ação revisional para elevar a prestação
anterior, não se configura a hipótese de sucumbência recíproca
prevista no art. 21 do CPC, cabendo ao réu-alimentante arcar,
por inteiro, com tais ônus, os quais, em concreto, já ficam pro-
porcionalizados, pela incidência do percentual sobre o montante
menor em que resultou a condenação.
III. Recurso especial não conhecido.” (REsp nº 290939/PB.
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providas.
Embora se reconheça que o réu tem uma esposa e três filhas
para cuidar, tendo uma grande parte de seu salário consumida
pelas despesas da família, não se pode admitir que ele possa
gastar quase R$ 5.600,00 com esta (conforme planilha à f. 70),
e não possa arcar com um aumento de 0,37 salários mínimos
na pensão de seu filho; o que atualmente corresponde a apenas
R$ 96,20.
Portanto, entendo que deve ser mantida a sentença no tocante
à majoração dos alimentos.
Mas observo que, no presente caso, a procedência do pedido do
autor, independentemente de ser parcial ou não, não implica na
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NOTAS TAQUIGRÁFICAS
O SR. DES. ARMANDO FREIRE:
VOTO
Trata-se de apelação interposta por V.J.M. contra a r. sentença
de fl. 54/55, proferida nos autos da presente Ação Revisional
de Alimento c/c Regulamentação do Direito de Visitas, pelo ilus-
tre Juiz de Direito da 2ª Vara da Comarca de Frutal, que julgou
improcedente o pedido de revisão de alimentos e procedente o
pedido de regulamentação de visitas.
V.J.M. aviou apelação às fl. 56/60. Em resumo, sustenta que:
a) obrigou-se a pagar uma pensão alimentícia para sua filha cor-
respondente a meio salário mínimo mensal, conforme sentença
homologatória constante do processo nº 1677/2000;
b) sem querer se esquivar de suas obrigações pretendeu a re-
dução da pensão para o percentual de 30% (trinta por cento) do
salário mínimo, a ser depositado em conta bancária todo dia 05
de cada mês;
c) a redução é a melhor solução na hipótese de modificação na
situação econômica do alimentante;
d) ocorreram mudanças efetivas em suas condições financeiras,
pois o mesmo não possui trabalho fixo, estando no momento
desempregado, além de possuir gastos com aluguel, água, luz
e alimentação;
e) foram expedidos mandados de citação e intimação para que a
apelada comparecesse à audiência, porém, a mesma não com-
pareceu nem contestou a ação, uma vez que mudou de residên-
cia sem mencionar o novo endereço;
f) restou caracterizada a revelia, nos termos do art. 319 do
CPC.
Ao final, ratifica os termos da inicial e pede o provimento do re-
curso pra que seja reformada a sentença, julgando procedente o
pedido de revisão da pensão alimentícia.
A apelação foi recebida em despacho de fl. 61.
Manifestação do i. Defensor Público a fl. 61-verso.
O digno Promotor de Justiça ratificou o parecer de fl. 50/53.
A douta Procuradoria de Justiça, por meio do r. parecer de fl.
70/73, opinou pelo desprovimento do recurso.
Diante da presença dos exigidos pressupostos de admissibilida-
de, conheço do recurso.
Passo a expor meu voto.
V.J.M. ajuizou ação revisional de alimentos c/c pedido de regu-
lamentação de visitas em relação sua filha S.Q.M., representa-
da por sua A.Q.M. Afirmou que se obrigou a pagar uma pensão
mensal para sua filha correspondente a meio salário mínimo,
através de sentença homologatória de acordo em ação de ali-
CAPÍTULO VIII
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da este pediu que fosse anulada a citação por edital, bem como
forneceu o endereço da requerida e informou ter protocolizado
pedido de execução de alimentos em face do autor (fl. 33-ver-
so).
Mandado de citação cumprido juntado às fl. 35/36 (08/06/2005).
Na audiência de instrução e julgamento foi ouvida uma testemu-
nha (fl. 48/49).
O ilustre Promotor de Justiça, em parecer de fl. 50/53, opinou
pela improcedência da ação revisional de alimentos mantendo-
se a pensão alimentícia em 50% (cinqüenta por cento) do salá-
rio-mínimo.
O MM. Juiz de primeiro grau proferiu sentença às fl. 54/55. Jul-
gou improcedente o pedido consistente na revisão de alimentos
e procedente o pedido de regulamentação de visitas. Conside-
rou que o requerente não provou o seu estado de impossibilida-
de para o cumprimento do dever legal e moral ao sustento de
sua filha no valor estipulado em 50% (cinqüenta por cento) do
salário-mínimo.
Analisando detidamente os autos, tenho que a sentença não
merece reforma.
Inicialmente, sustenta o apelante que com a ausência de con-
testação ficou caracterizada a revelia, segundo a qual, conforme
previsão do art. 319 do CPC:
“Art. 319. Se o réu não contestar a ação, reputar-se-ão verdadei-
ros os fatos afirmados pelo autor”.
Concordo que contra o réu revel haja presunção de veracidade
dos fatos não contestados, conforme disposto no artigo acima
transcrito.
Todavia, a mencionada presunção de veracidade é relativa, po-
dendo ceder ante a evidência dos autos, consoante o princípio
do livre convencimento do julgador.
Portanto, o não-comparecimento da representante da requerida
na audiência, bem como a ausência de contestação, conquanto
importe em revelia não induz ao acolhimento integral da preten-
são do autor, nem mesmo na veracidade de toda alegação da
petição inicial. Primeiro, porque o direito discutido nos autos é
indisponível, qual seja, a prestação alimentícia para menor, filha
do requerente. Também, porque a presunção da revelia não reti-
ra do autor o dever de provar o fato constitutivo de seu direito.
Nesse sentido, tenho que não houve demonstração suficiente
da alegada modificação na situação econômica do alimentante.
Nos termos do art. 1.694, § 1º, do Código Civil, a fixação dos
alimentos deve observar a proporção da necessidade do alimen-
tando e dos recursos do alimentante.
Concordo com a observação feita pelo ilustre Promotor de Justi-
CAPÍTULO VIII
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NOTAS TAQUIGRÁFICAS
A SRª. DESª. HELOISA COMBAT:
VOTO
Conheço do recurso, presentes os pressupostos de sua admis-
sibilidade.
Trata-se de recurso de apelação interposto por G. G. S. de B.,
contra a r. sentença proferida pela MM. Juíza de Direito da 1ª
Vara de Família e Sucessões, de f. 80/87, que julgou proceden-
te o pedido formulado na Ação de alimentos ajuizada por G. A.
B., representada por sua mãe, L. M. da S. A., para condenar o
requerido ao pagamento de pensão alimentícia no valor corres-
pondente a 90% do salário mínimo, mais custas processuais e
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Promotorias de Justiça
A atual Carta Magna trouxe um novo conceito jurídico de família, encampando prin-
cípios que já eram adotados pela evolução social, pela doutrina e pela jurispru-
dência. Nesse contexto, outorga uma especial proteção à família, enfatizando os
direitos fundamentais da criança e do adolescente94 que, na verdade, são os mes-
mos de todo e qualquer ser humano (art. 5º), o que demonstra a preocupação do
constituinte em proteger a criança e a entidade familiar.
CAPÍTULO VIII
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
garantido no art. 1º, inciso III, da Carta Magna, inserido dentre os fundamentos nor-
teadores da República Federativa do Brasil e, desse modo, a dignidade é colocada
como o centro, o vértice normativo e axiológico de todo o sistema jurídico, tendo o
constituinte reconhecido que o homem constitui a finalidade precípua e não apenas
o meio da atividade estatal. A dignidade da pessoa humana, hoje garantida em
praticamente todas as constituições como o sustentáculo do Estado democrático
de direito, abrange várias categorias de direito, dentre as quais, o direito ao nome e
ao estado de filiação determinado. Ana Paula de Barcellos lembra que “o princípio
da dignidade da pessoa humana há de ser o vetor interpretativo geral, pelo qual o
intérprete deverá orientar-se em seu ofício95”. E é exatamente sob esse prisma que
deve ser considerado o direito à filiação determinada, uma vez que, como defende
Cláudia Bellotti Moura e Vitor Hugo Oltramari, uma vida digna se inicia “por evi-
dente, pela inserção (do indivíduo) no ambiente familiar96”. E Roberto de Ruggiero
chega a afirmar que, em um sentido mais restrito, pode-se dizer que “ao filho de pais
incógnitos falta um estado de família97”.
95
BARCELLOS, Ana Paula de. A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: o princípio da dig-
nidade da pessoa humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 146.
96
MOURA, Cláudia Bellotti; OLTRAMARI, Vitor Hugo. A quebra da coisa julgada na investigação de
paternidade: uma questão de dignidade. In Revista Brasileira de Direito de Família. Ano VI, n. 27,
dez/jan 2005, p. 83.
97
RUGGIERO, Roberto de. Instituições de direito civil. Tradução de Paolo Capitanio. Atualizado por
Paulo Roberto Benasse. v. 1. Campinas: Bookseller, 1999. p. 487.
98
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Filiação e reprodução assistida: introdução ao tema sob
a perspectiva civil-constitucional. In Problemas de Direito Civil-Constitucional. Coord. Gustavo Te-
pedino. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 522.
986
Promotorias de Justiça
Adriano de Cupis salienta que “a identidade constitui um bem por si mesma, inde-
pendentemente do grau da posição social, da virtude ou dos defeitos do sujeito. A
todo o sujeito deve reconhecer-se o interesse a que sua individualidade seja pre-
servada99”.
99
CUPIS, Adriano de. Os direitos da personalidade. Tradução de Afonso Celso Furtado Rezende.
Campinas: Romana, 2004, p. 185.
100
Art. 7º - 1. A criança é registrada imediatamente após o nascimento e tem desde o nascimento o
direito a um nome, o direito a adquirir uma nacionalidade e, sempre que possível, o direito de conhecer
os seus pais e de ser educada por eles.
Art. 8º - 1. Os Estados Partes comprometem-se a respeitar o direito da criança e a preservar a sua identi-
dade, incluindo a nacionalidade, o nome e relações familiares, nos termos da lei, sem ingerência ilegal.
2. No caso de uma criança ser ilegalmente privada de todos os elementos constitutivos da sua identi-
dade ou de alguns deles, os Estados Partes devem assegurar-lhe assistência e proteção adequadas,
de forma que a sua identidade seja restabelecida o mais rapidamente possível. Disponível em: <www6.
senado.gov.br>. Acesso em: 17 jul. 2005.
101
Direito da criança de conhecer a própria ascendência biológica (tradução nossa).
987
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Algumas estatísticas indicam que de 25% a 30% das crianças nascidas no Brasil
não têm o pai declarado em seu registro. Esse índice é alarmante e causa um sério
problema de ordem emocional, social e econômica, dando uma dimensão exata da
importância do papel do Ministério Público, como defensor dos direitos individuais
indisponíveis.
988
Promotorias de Justiça
Todavia, deve-se atentar para que essa prova pericial seja realizada com a obser-
CAPÍTULO VIII
vância dos requisitos pertinentes, pois a precisão de seus resultados depende dos
cuidados recomendados na coleta do material, da quantidade de alelos analisados,
assim como da capacidade técnica dos peritos e dos laboratórios.
989
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
garantir não só a segurança jurídica das partes envolvidas, mas também que se-
jam atendidos os rigores técnicos da perícia, com a regulação dos procedimentos
de identificação das partes, coleta das amostras, técnicas admitidas, requisitos do
laudo, dentre outros. Esse estudo foi apresentado à Deputada Federal Jô Moraes,
que apresentou o Projeto de Lei nº 1.497/07, no dia 4 de julho de 2007, estando
ainda em trâmite no Congresso Nacional. No intuito de facilitar a atuação do órgão
de execução e garantir a preservação do direito fundamental à filiação, a Procura-
doria-Geral de Justiça promoveu, de forma inovadora, o credenciamento de labo-
ratórios, através do Edital nº 01/2007, para que os exames possam ser solicitados
pelos seus membros a laboratórios que atendam aos requisitos devidos, pelo menor
preço, mesmo que ainda custeado pelas partes, inclusive com coleta de material
genético na própria Promotoria de Justiça.
O art. 7º da Lei nº 8.560/92 determina que se busque a fixação dos alimentos pro-
visionais ou definitivos, quando o reconhecido deles necessitar. O Promotor de Jus-
tiça pode tentar acordar, desde já, tanto os alimentos quanto a regulamentação de
visitas, mas deve, nesse caso, requerer a homologação judicial do acordo, para
possibilitar a eventual execução dos alimentos pelo rito do art. 733 do Código de
Processo Civil. Quando o pai é falecido, existem casos em que se consegue o
reconhecimento dos seus herdeiros (filhos, pais, cônjuges ou irmãos), e o acordo
celebrado tem obtido homologação judicial:
990
Promotorias de Justiça
cientes para a interposição da ação investigativa, ou ainda por ter a parte interes-
sada constituído procurador ou estar assistida por outra entidade, o procedimento
deve ser devolvido ao juízo, quando utilizar o original, com dispensa de sua remes-
sa ao Conselho Superior do Ministério Público, nos termos do Enunciado nº 03102.
Em caso de instauração do procedimento com cópias do expediente judicial, ele
deve ser arquivado na Promotoria de Justiça, também sem remessa ao Conselho
Superior, por interpretação extensiva dos próprios termos do Enunciado nº 03.
nada impedindo que seja fornecida cópia do expediente ao interessado, quando de-
sejar constituir procurador, ou, nos casos de hipossuficiência, procurar a Defensoria
Pública ou outro serviço de assistência judiciária, onde houver, para que intente a
102
Enunciado nº 03: O arquivamento do procedimento de averiguação oficiosa de paternidade, instituído
pela Lei nº 8.560/92, não está sujeito à revisão pelo Conselho Superior do Ministério Público. Sendo o
referido expediente, na forma da Lei, originário do juízo, ainda que complementado pelo Promotor de
Justiça, deve ser restituído ao órgão de origem no caso de não ser intentada a investigatória de paterni-
dade pelo Parquet (Aprovado na 2ª Sessão Ordinária, realizada em 29/02/96, publicado no Diário Oficial:
23/03/96 e republicado e republicado no Diário Oficial, em 4/09/2001).
991
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Deve-se atentar para evitar ações temerárias, cujo feito mal instruído possa gerar
coisa julgada material em desfavor do substituído, embora hoje se discuta a inci-
dência da coisa julgada nas ações de Estado, mormente quando não se realizou o
Exame de DNA.
105
ASSUMPÇÃO, Luiz Roberto de. Aspectos da paternidade no novo código civil. São Paulo: Sa-
raiva, 2004. p. 135-147.
106
MADALENO, Rolf. A coisa julgada na investigação de paternidade. In: LEITE, Eduardo de Oliveira
(Coord.). Grandes temas da atualidade: DNA como meio de prova da filiação. Rio de Janeiro: Forense,
2000.
107
ALMEIDA, Maria Christina de. DNA e estado de filiação à luz da dignidade humana. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2003. p. 160-176.
108
NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na constituição federal: com as novas
Súmulas do STF e com análise sobre a relativização da coisa julgada. 8. ed. rev., ampl. e atual. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 37-59.
109
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. O dogma da coisa julgada: hipóte-
992
Promotorias de Justiça
B.4.3 - Sentença
Outra conseqüência é o direito à prestação alimentícia, uma vez que o art. 7º da Lei
nº 8.560/92 já determina a fixação dos alimentos provisionais ou definitivos, quando
o reconhecido deles necessitar. Sendo o reconhecido menor, sujeita-se também
ao poder familiar do pai. A procedência da ação gera uma outra importante conse-
qüência, que é a equiparação para efeitos sucessórios, passando o reconhecido a
993
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Existe uma discussão doutrinária quanto à natureza jurídica das ações de filiação,
especialmente a ação de investigação de paternidade. Autores como Maria Helena
Diniz110 defendem a idéia de que, quando se busca somente a declaração do estado
familiar, as ações de filiação são meramente declaratórias, podendo ser constitu-
tiva/condenatória quando se requer a declaração do vínculo de parentesco e os
conseqüentes pedidos de alimentos, herança ou danos morais. Já Luiz Guilherme
Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart entendem que a ação declaratória tem por objeto
somente a determinação da existência, inexistência ou o modo de ser de uma rela-
ção jurídica111.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Maria Christina de. DNA e estado de filiação à luz da dignidade huma-
na. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.
ASSUMPÇÃO, Luiz Roberto de. Aspectos da paternidade no novo código civil.
São Paulo: Saraiva, 2004.
CHAVES, Adalgisa Wiedemann. Efeitos da coisa julgada: as demandas para o reco-
nhecimento da filiação e o avanço da técnica pericial. In: WELTER, Belmiro Pedro;
Madaleno, Rolf Hanssen (Coord.). Direitos Fundamentais do Direito de Família.
Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2004.
MADALENO, Rolf. A coisa julgada na investigação de paternidade. In: LEITE, Edu-
ardo de Oliveira (Coord.). Grandes Temas da Atualidade: DNA como meio de pro-
CAPÍTULO VIII
110
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. v. 11. 5. ed. aum. e atual.
São Paulo: Saraiva, 1996. p. 321.
111
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento. 3.
ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 464.
994
Promotorias de Justiça
ANEXOS
MODELOS
CAPÍTULO VIII
- Notificação.
- Termo de reconhecimento paterno, com anuência materna.
- Petição para o registro do reconhecimento.
- Petição inicial de Ação de Investigação de Paternidade.
NOTIFICAÇÃO
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ridas pelo art. 129, inciso VI, da Constituição Federal e art. 26, inciso I, alínea “a”, da
Lei nº 8.625/93, NOTIFICA ____________ a comparecer à Central de Investigação
de Paternidade da Promotoria de Justiça da Comarca de _____, instalada no Edifí-
cio do Fórum _______, sito na Rua _____, nº , nesta cidade, no dia data e hora, a
fim de prestar depoimento no procedimento administrativo nº ____/_____, instaura-
do para averiguação da paternidade do menor _______, filho de ________.
Local e data.
TERMO DE RECONHECIMENTO
Local e data.
CAPÍTULO VIII
___________________________________
(Pai declarante)
996
Promotorias de Justiça
___________________________________
(Mãe do menor)
997
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
998
Promotorias de Justiça
Dos fatos.
999
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Do direito.
Quanto aos alimentos, prevê o art. 1694, do Código Civil que: “Podem os
parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que
necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive
para atender às necessidades de sua educação” e, segundo o § 1º deste art., “Os
alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos
recursos da pessoa obrigada”.
A Lei nº 889/49, em seu art. 5º, estabelece que: “Na hipótese da ação inves-
tigatória da paternidade, terá direito o autor a alimentos provisionais desde que lhe
seja favorável a sentença de primeira instância, embora se haja, desta interposto
recurso”.
E, com a Lei nº 8.560/92, em seu art. 7º, mais uma vez ficou estabelecido
que: “Sempre que na sentença de primeiro grau se reconhecer a paternidade, nela
se fixarão os alimentos provisionais ou definitivos do reconhecido que deles neces-
site”.
Com fundamento nos dispositivos legais acima transcritos, dúvidas não
existem de que, uma vez reconhecida a paternidade, em sentença de primeiro grau,
surge o direito à percepção dos alimentos provisionais, a partir da data da sentença,
mesmo que tenha sido interposto recurso.
In casu, a menor necessita dos alimentos provisionais e definitivos, e sen-
do-lhe favorável a sentença de primeira instância e havendo recurso, deve-se apli-
car a exceção de suspensividade dele, prevista no art. 520, II, do CPC, o qual pre-
CAPÍTULO VIII
ceitua que: “A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será,
no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que: II
– condenar à prestação de alimentos”.
E com o trânsito em julgado da sentença que julgar procedente a ação
investigatória da paternidade, os alimentos definitivos devem retroagir à data da
citação aplicando-se, analogicamente, o disposto no art. 13, § 2º, da Lei de Alimen-
tos quando diz que: “Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da
citação”. É nessa trilha o entendimento do STJ estampado na seguinte ementa:
1000
Promotorias de Justiça
Do pedido.
1001
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Das provas
Nestes Termos,
Registrada e Autuada, com os autos em apenso,
Pede deferimento.
Local e data.
Rol de testemunhas:
A – Sucessão legítima
1002
Promotorias de Justiça
Quando o rito proposto for o do art. 1.036 do Código de Processo Civil, ou ainda o
procedimento previsto na Lei nº 6.858/80, regulamentada pelo Decreto nº 85.845/81,
examinar a viabilidade, requerendo adaptação ao rito do inventário se vedadas as
outras modalidades.
a) nomeação de inventariante;
b) apresentação das primeiras declarações, nos termos do art. 993 do CPC;
c) citação dos interessados (art. 999 do CPC);
d) últimas declarações;
1003
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Exigir avaliação judicial em caso de pedido de alvará para alienação de bens inven-
tariados ou quando o plano de partilha não contemplar todos os interessados com
quotas ideais proporcionais sobre todos os bens do espólio. As avaliações devem
sempre ser judiciais, ante a existência de herdeiros menores, ausentes ou declara-
dos ausentes.
Ao opinar pela expedição do alvará, requerer que faça constar do mesmo as seguin-
1004
Promotorias de Justiça
tes condições:
A.8 – Permutas
Se for constatada lesão ao patrimônio do incapaz, pugnar para que o prejuízo seja
debitado no quinhão do responsável, sugerindo utilização das vias ordinárias para a
reparação, se impossibilitada tal solução.
1005
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O capital do seguro não pertence ao espólio, pois não faz parte do patrimônio cons-
titutivo da herança. Cuida-se de benefício estipulado em favor de terceiro.
Portanto, neste caso, requerer a juntada da apólice do seguro e verificar quem são
os beneficiários estipulados pelo segurado.
B – A sucessão testamentária
B.3 – Partilha
No feito de partilha:
1006
Promotorias de Justiça
Aplica-se, ainda, no que couber, o que já foi exposto para a sucessão legítima.
JURISPRUDÊNCIA
militares, tem direito à habilitação para efeito de aquisição dessa unidade residen-
cial, ainda que esta se ache sujeita à administração castrense. - A Lei n. 8.068/90
reconheceu ao cônjuge supérstite do servidor público falecido - inclusive ao cônjuge
supérstite do servidor civil lotado em Ministério militar - a condição jurídica de le-
gítimo ocupante do imóvel funcional, possibilitando-lhe, desse modo, e desde que
satisfeitos os requisitos fixados pela Lei n. 8.025/90, a aquisição preferencial dessa
unidade imobiliária.
1007
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1008
Promotorias de Justiça
que este teve ou podia ter ciência inequívoca da existência do contrato a ser inva-
lidado.
- Na ausência de elementos que indiquem o momento efetivo do conhecimento
pelo terceiro da celebração da cessão de direitos hereditários, a data do registro do
negócio no Cartório Imobiliário deve ser considerada como termo inicial do prazo
decadencial.
Recurso especial não conhecido.
1009
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1010
Promotorias de Justiça
proposta, não pode prosseguir contra os herdeiros. Agravo regimental não provi-
do.
anterior.
II. Situação peculiar dos autos, traduzida em diversos incidentes processuais, que
torna infrutífera a extinção da ação de sonegados, já ultrapassada longa fase cogni-
tiva e sentença de mérito proferida no grau singular, para, equivocadamente, presti-
giar-se etapa agora inócua e indiretamente ultrapassada, causando desnecessário
retardo na prestação jurisdicional, dando ensejo a mais outros anos de litígio entre
os herdeiros.
III. Recurso especial conhecido em parte e provido.
1011
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
STJ - CC 51061 / GO
Relator(a) Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO (1108)
Órgão Julgador S2 - SEGUNDA SEÇÃO
Data do Julgamento 09/11/2005
Conflito de competência. Inventário já encerrado. Ação de investigação de paterni-
dade, cumulada com petição de herança e de alimentos. Domicílio do alimentan-
do.
1. A regra especial prevalece sobre a regra geral de competência, daí que, segundo
dispõe a Súmula nº 1/STJ, “o foro do domicílio ou da residência do alimentando é
o competente para a ação de investigação de paternidade, quando cumulada com
a de alimentos”.
2. Encerrado o inventário, com trânsito em julgado da sentença homologatória res-
pectiva, deixa de existir o espólio e as ações propostas contra as pessoas que de-
têm os bens inventariados não seguem a norma do art. 96 do Código de Processo
Civil, prevalecendo, no caso concreto, a regra especial do art. 100, inciso II, do mes-
mo diploma, segundo a qual a demanda em que se postula alimentos deve correr no
foro do domicílio ou da residência do alimentando.
3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito de Brasília/
DF.
CAPÍTULO VIII
STJ - MC 14509 / SP
MEDIDA CAUTELAR
Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento 21/08/2008
Medida cautelar. Atribuição de efeito suspensivo a recurso especial. Inventário. De
cujus que, após o falecimento de sua esposa, com quem tivera uma filha, vivia, em
união estável, há mais de trinta anos com sua companheira, sem contrair matri-
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
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Promotorias de Justiça
1017
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
2. A enumeração contida no artigo 1.650, nos incisos I, II e III, refere-se aos inca-
pazes e, nos incisos IV e V, àqueles que são beneficiários, diretos ou indiretos, do
testamento. O legislador busca proteger a higidez e a validade da disposição testa-
mentária, vedando como testemunhas os incapazes e os que têm interesse no ato.
3. A liberdade de testar encontra restrições estabelecidas na lei, porém esta não
distingue, quanto às conseqüências jurídicas, a sucessão testamentária em relação
aos legatários e herdeiros necessários.
4. Há o mesmo fundamento para a restrição de figurarem como testemunhas, no
ato do testamento, os parentes do herdeiro instituído e do legatário: qual seja, o
interesse direto ou indireto do beneficiário, em relação ao ato de disposição de
vontade. inexiste diferença em relação às conseqüências para o herdeiro instituí-
do e o legatário, por isso que a conclusão dedutiva é de que ao inciso V do artigo
1.650, do Código Civil de 1.916, deve se aplicar a mesma essência do inciso IV do
dispositivo.
5. Nas palavras de Clovis Bevilaqua: “seria atribuir à lei a feia macula de uma gros-
seira inconsequencia, suppôr que somente o cônjuge ou descendente, o ascen-
dente e o irmão do herdeiro estão impedidos de ser testemunhas em testamento.
o impedimento prevalece em relação ao cônjuge e aos mencionados parentes do
legatário.” (Código Civil do E.U.B., Vol. II, 6ª tiragem, Editora Rio, f. 848).
6. Recurso especial não conhecido.
1018
Promotorias de Justiça
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1019
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A – Introdução
O presente trabalho nem de longe tem a pretensão de ser uma monografia acadê-
mica, em razão das especificidades metodológicas rígidas exigidas para a concreti-
zação do tema aqui proposto. Contudo, em face da necessidade de elaboração de
um manual de atuação funcional do Ministério Público do Estado de Minas Gerais,
no sentido de divulgar a experiência teórica e prática sobre a matéria regulamen-
tada pela Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, com as modificações trazidas
pela Lei nº 10.931/04, apresento-lhes a minha pequena colaboração, de molde a
solucionar os problemas que surgem na atuação cotidiana, baseando-me, princi-
palmente, nos questionamentos que recebo dos colegas da Capital e do interior
CAPÍTULO VIII
B – Princípios
112
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo,: Saraiva, 2001, p.
57.
1020
Promotorias de Justiça
não teria sido elaborada em tempo hábil e nos moldes em que se encontra. Obrigado, Zatti! Há, também,
princípios políticos constitucionalmente conformadores, que explicitam as valorações políticas funda-
mentais do legislador constituinte. Aqui se situam os princípios definidores da forma do Estado, princípios
caracterizadores da forma de governo e princípios estruturantes do regime político. Há, ainda, aqueles
chamados de princípios constitucionais impositivos, que se subsumem em todos os princípios que no
âmbito da Constituição dirigente impõem aos órgãos do Estado, sobretudo ao legislador, a realização de
fins e a execução de tarefas. Os órgãos encarregados da aplicação do direito devem tê-los em conta,
seja em atividades interpretativas, seja em atos inequivocadamente conformadores. Por fim, há uma
quarta categoria de princípios, que vem a ser a dos princípios garantia. São mais voltados à estatuição
de garantias para os cidadãos. Em função disso, o legislador se encontra estreitamente vinculado a sua
aplicação. Exemplo: nullum crimen sine lege, in dúbio pro reo, non bis in idem.
115
Bastos, op. cit., p. 60-61: quais seriam então esses princípios gerais de direito, e como os distinguiría-
1021
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
so)
C.1 - O prenome
mos dos meros princípios constitucionais, quando também aqueles podem estar expressos em norma
constitucional?
Os princípios gerais de direito, que, como já se assinalou, têm, entre suas diversas funções, de orientar
a atividade interpretativa, nota comum que os coloca em franca igualdade com os princípios constitu-
cionais.
Qual a razão que fundamentaria então essa distinção, já que ambos cumprem a mesma função no
tocante à hermenêutica? A diferenciação seria fundamentalmente a seguinte: ao contrário dos princípios
constitucionais, os princípios gerais do direito são cânones de incidência obrigatória, seja qual for a
parte do ordenamento constitucional (ou até infraconstitucional) com que se esteja lidando. Isso significa
dizer que os princípios gerais de direito sempre deverão impor-se na atividade interpretativa, enquanto
os princípios constitucionais só serão invocados conforme a área na qual se esteja atuando. Em outras
palavras, surgirá a necessidade de saber, em dado momento, qual ou quais são os princípios constitucio-
nais aplicáveis ao caso concreto, o que não ocorrerá, decerto, com os princípios gerais de direito.
Concluindo, podemos dizer que, basicamente, os princípios gerais de direito se identificam e se dife-
renciam dos demais princípios constitucionais pelo fato de apresentarem como nota características à
generalidade absoluta de sua incidência.
Como conseqüência desse verdadeiro pressuposto de aplicação dos princípios gerais de direito, tam-
bém os princípios constitucionais, quando estiverem sendo aclarados em seu conteúdo, terão de ob-
servar e respeitar os princípios gerais de direito. Estes só entram na Constituição pelo caminho da
interpretação. São exatamente eles que permitem a evolução do Texto Constitucional. São eles que vão
preencher a vaguidade de suas normas. Mas não podendo ter os princípios gerais de direito submetendo
a Constituição, contrariando-a.
CAPÍTULO VIII
De outra parte, não faria sentido algum pretender tornar a Constituição impenetrável aos princípios
gerais de direito, dada a força civilizatória que exercem. Dar-lhes, contudo, força normativa superior à
da Constituição não encontra respaldo na doutrina e não pode ser admitido. Esses princípios penetram
na Constituição, mas pelas mãos dela própria. Enumeramos como princípios gerais de direito, dada sua
larga abrangência, informadores que de todo o ordenamento jurídico, os princípios da justiça, da igual-
dade, da liberdade e da dignidade da pessoa humana.
116
CARVALHO, Afrânio. Registros de Imóveis. 4.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. Princípio de in-
scrição, Princípios de Presunção e de Fé Pública, Princípio de Prioridade, Princípio de Especialidade,
Princípio de Legalidade, Princípio de Continuidade e Princípio de Instância.
Assim estabelece o art. 16 do NCC: “Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o pre-
117
nome e o sobrenome”.
118
Assim estabelece o art. 1º, inciso III, da CF/88: “a dignidade da pessoa humana”.
1022
Promotorias de Justiça
119
O Novo Código Civil enumerou alguns direitos da personalidade, entre eles, o direito ao nome.
120
Assim estabelece o art. 58 da Lei nº 6.015/73: “O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a
sua substituição por apelidos públicos notórios. Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda
admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime,
por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público”.
121
Assim estabelece o art. 6º da LICC: “A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado
segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que
o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-
fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso
julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”.
122
Assim estabelece o art. 1º, caput, da CF/88: “A República Federativa do Brasil, formada pela união
1023
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Di-
reito e tem como fundamentos:”.
123
Assim estabelece o art. 129, § 1º, da CF/88: “São princípios institucionais do Ministério Público a
unidade, a indivisibilidade e a independência funcional”.
1024
Promotorias de Justiça
C.2 - O patronímico125
1025
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
tro Civil poderá fazê-lo por petição fundamentada dirigida ao Juiz, instruída com
documentos ou com indicação de testemunhas, ouvido o Ministério Público e os
interessados.
Nesses pedidos, deverá o Promotor de Justiça tomar várias cautelas, eis que pode-
rá o interessado requerer correções que impliquem em prejuízos aos seus apelidos
de família, requerendo em juízo supressões que implicam nos referidos prejuízos, o
que não se permite. Frise-se que a substituição de patronímico por outro oriundo da
mesma linhagem familiar não encontra vedação legal.
com indicação de testemunhas, que o Juiz o ordene, ouvido o órgão do Ministério Público e os interes-
sados, no prazo de cinco dias, que correrá em cartório. § 1° Se qualquer interessado ou o órgão do
CAPÍTULO VIII
Ministério Público impugnar o pedido, o Juiz determinará a produção da prova, dentro do prazo de dez
dias e ouvidos, sucessivamente, em três dias, os interessados e o órgão do Ministério Público, decidirá
em cinco dias. § 2° Se não houver impugnação ou necessidade de mais provas, o Juiz decidirá no prazo
de cinco dias. § 3º Da decisão do Juiz, caberá o recurso de apelação com ambos os efeitos. § 4º Julgado
procedente o pedido, o Juiz ordenará que se expeça mandado para que seja lavrado, restaurado e reti-
ficado o assentamento, indicando, com precisão, os fatos ou circunstâncias que devam ser retificados,
e em que sentido, ou os que devam ser objeto do novo assentamento. § 5º Se houver de ser cumprido
em jurisdição diversa, o mandado será remetido, por ofício, ao Juiz sob cuja jurisdição estiver o cartório
do Registro Civil e, com o seu “cumpra-se”, executar-se-á. § 6º As retificações serão feitas à margem
do registro, com as indicações necessárias, ou, quando for o caso, com a trasladação do mandado, que
ficará arquivado. Se não houver espaço, far-se-á o transporte do assento, com as remissões à margem
do registro original”.
1026
Promotorias de Justiça
A referida correção ocorrerá nas hipóteses em que não se exige maior indagação,
ou seja, nos casos em que se objetiva simples retificação de erro de grafia. Contu-
do, não dispensa a chancela judicial, conforme ensina Walter Ceneviva.128
127
Assim estabelece o art. 110 da Lei nº 6.015/73: “A correção de erros de grafia poderá ser processada
no próprio cartório onde se encontrar o assentamento, mediante petição assinada pelo interessado, ou
procurador, independentemente de pagamento de selos e taxas”.
128
Cuida de lançamento no registro civil em que uma letra ou um termo foi mal reproduzido, ou encontra-
1027
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
se em dissonância com a forma gráfica de documento anterior. Embora mais simplificado, não dispensa
a decisão judicial.
1028
Promotorias de Justiça
1029
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Estabelece o art. 1.565, § 1º, do NCC que qualquer dos nubentes poderá acrescer
ao seu o patronímico do outro. No entanto, o momento para o referido requerimento
é o da celebração do casamento sob pena de preclusão.
Estabelecia o parágrafo único do art. 240 do Código Civil de 1916 que “A mulher
poderá acrescer aos seus os apelidos do marido”. O referido dispositivo encontra
correspondência no § 1º do art. 1.565 do NCC: “Qualquer dos nubentes, querendo,
poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro”. Logo, extrai-se da lei que o(a) con-
traente poderá acrescer ao seu o patronímico do outro cônjuge, mas não poderá
suprir o sobrenome de sua família, o que configuraria flagrante violação ao disposto
no art. 56 da LRP. Os dois dispositivos devem ser analisados em conjunto.
1030
Promotorias de Justiça
1031
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nesse caso, o interessado deverá instruir o procedimento com certidões que com-
provem os erros e as omissões, como, por exemplo, no caso de omissão do decla-
rante do óbito quanto à existência de filhos do falecido ou certidões que comprovem
a existência de bens e direitos deixados pelo morto. Em tais situações, por vezes
esdrúxulas, é de todo recomendável que o Órgão de Execução requeira ao juízo a
designação de Audiência de Instrução e Julgamento, porquanto, por vezes, a sim-
ples prova documental não é suficiente para a formação da convicção do Promotor
de Justiça, resolvendo-se tal lacuna por meio da dilação probatória em audiência,
que, na maioria das vezes, supre as dúvidas existentes e propicia a entrega da
prestação jurisdicional.
1032
Promotorias de Justiça
No entendimento esposado nos itens C.1 e C.2, a pessoa humana não prescinde do
registro, tendo em vista que, sem o referido ato, encontrará obstáculos para a imple-
mentação dos direitos elementares garantidos pelo Estado de direito democrático.
Por conseguinte, caso não exista o mencionado documento, recomendamos aos
Promotores a juntada de certidões negativas do suposto local do nascimento, sem
prejuízo de outras referentes ao local onde se pleiteia a constituição do registro.
130
Assim estabelece o art. 77 da Lei nº 6.015/73: “Nenhum sepultamento será feito sem certidão do
oficial de registro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do
atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem
presenciado ou verificado a morte”.
131
Assim estabelece o art. 3º da Lei 8.560/92: “É vedado legitimar e reconhecer filho na ata do casamen-
1033
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Estabelece o art. 212 da Lei nº 6.015/73133 que o interessado poderá optar pelo pro-
cedimento de retificação de área judicial ou extrajudicialmente.
to. Parágrafo único. É ressalvado o direito de averbar alteração do patronímico materno, em decorrência
do casamento, no termo de nascimento do filho”.
132
Assim estabelece o § 6º do art. 227 da CF/88: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou
por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação”.
133
Assim estabelece o art. 212 da Lei nº 6.015/73: “Se o registro ou a averbação for omissa, imprecisa
ou não exprimir a verdade, a retificação será feita pelo Oficial do Registro de Imóveis competente, a
requerimento do interessado, por meio do procedimento administrativo previsto no art. 213, facultado
ao interessado requerer a retificação por meio de procedimento judicial. Parágrafo único. A opção pelo
CAPÍTULO VIII
procedimento administrativo previsto no art. 213 não exclui a prestação jurisdicional, a requerimento da
parte prejudicada”.
134
Assim estabelece o art. 49 da Lei nº 10.931/04 : “A Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, passa
a vigorar com as seguintes alterações: [...] art. 213. O oficial retificará o registro ou a averbação: I - de
ofício ou a requerimento do interessado nos casos de: a) omissão ou erro cometido na transposição de
qualquer elemento do título; b) indicação ou atualização de confrontação; c) alteração de denominação
de logradouro público, comprovada por documento oficial; d) retificação que vise a indicação de rumos,
ângulos de deflexão ou inserção de coordenadas georeferenciadas, em que não haja alteração das
medidas perimetrais; e) alteração ou inserção que resulte de mero cálculo matemático feito a partir das
medidas perimetrais constantes do registro; f) reprodução de descrição de linha divisória de imóvel con-
frontante que já tenha sido objeto de retificação; g) inserção ou modificação dos dados de qualificação
pessoal das partes, comprovada por documentos oficiais, ou mediante despacho judicial quando houver
1034
Promotorias de Justiça
1035
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
edital, o país que recusar o cumprimento de carta rogatória. § 2º No caso de ser inacessível o lugar em
que se encontrar o réu, a notícia de sua citação será divulgada também pelo rádio, se na comarca houver
emissora de radiodifusão.
art. 232. São requisitos da citação por edital: I - a afirmação do autor, ou a certidão do oficial, quanto
às circunstâncias previstas nos ns. I e II do art. antecedente; II - a afixação do edital, na sede do juízo,
certificada pelo escrivão; III - a publicação do edital no prazo máximo de 15 (quinze) dias, uma vez no
órgão oficial e pelo menos duas vezes em jornal local, onde houver; IV - a determinação, pelo juiz, do
prazo, que variará entre 20 (vinte) e 60 (sessenta) dias, correndo da data da primeira publicação; V - a
advertência a que se refere o art. 285, segunda parte, se o litígio versar sobre direitos disponíveis. § 1º
Juntar-se-á aos autos um exemplar de cada publicação, bem como do anúncio, de que trata o nº II deste
art.. § 2º A publicação do edital será feita apenas no órgão oficial quando a parte for beneficiária da As-
sistência Judiciária.
1036
Promotorias de Justiça
art. 233. A parte que requerer a citação por edital, alegando dolosamente os requisitos do art. 231, I e
II, incorrerá em multa de 5 (cinco) vezes o salário mínimo vigente na sede do juízo. Parágrafo único. A
multa reverterá em benefício do citando.
137
Ver: TJSP – Ccomp. 34.201-0/1 – Câm. Especial – RT 741/246-7, voto do Des. Dirceu de Mello.
1037
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
E - Procedimento de dúvida
No exercício das atribuições dos oficiais registradores, a eles cabe perquirir sempre
as regularidades intrínsecas e extrínsecas do título, indagando sobre a legalidade
desse, como vero fiscal que é, ainda que este tenha sido originado do Poder Ju-
diciário, o que, por si só, não lhe confere livre ingresso ao fólio real sem análise e
cumprimento dos requisitos legais. Portanto, caso haja pendência ou a existência
de alguma exigência por ele formulada, sua indicação por escrito é obrigatória.
138
Ver: TJSP – Ccomp. 34.201-0/1 – Câm. Especial – RT 741/246-7.
139
Ver: TJMG, Processo nº 1.0105.02.068467-3/001, 28/11/2003. Rel. Des. Eduardo Andrade
140
Ver: TJMG, Apelação Cível nº 1.0000.00.305167-9/000 – Comarca de Uberlândia. Rel. Des. Brandão
Teixeira
141
No mesmo sentido: Apelação Cível nº 0305166-9, 1ª Câmara Cível do TAMG, Juiz de Fora, Rel. Des.
Vanessa Verdolim Andrade. j. 06.06.2000, unânime; Ap. Cível nº 1.0000.00.316511-5/000 - Comarca de
Belo Horizonte. 19/09/2003. Rel. Des. Brandão Teixeira.
142
Ver: Ac. unân. da 1a T. do STF, RE 90.530-RJ, rel. Min. Xavier de Albuquerque, RTJ, 94:345.
1038
Promotorias de Justiça
O prazo para impugnação é de quinze dias e corre a partir da notificação feita pelo
oficial.
Sendo assim, caso a parte permaneça inerte, os autos irão imediatamente ao juiz,
para que este decida, independentemente de manifestação do Ministério Público,
eis que sua manifestação é exigida apenas na hipótese de impugnação, conforme
estabelece a Lei nº 6.015/73144.
Por ser o oficial vero fiscal do título, portanto, aquele que inquire acerca dos requi-
sitos legais, deverá o Promotor de Justiça analisar caso a caso, orientado pelos
princípios do direito emanados da Lei nº 6.015/73145
A dúvida inversa, aquela deflagrada pelo próprio apresentante do título, não é mais
prevista no ordenamento jurídico, visto que não atende ao que estabelece o art. 198
da Lei nº 6.015/73. Todavia, há entendimento do sentido de admiti-la por recusa do
registrador em suscitá-la, apesar de requerida. Não havendo recusa e sendo ajuiza-
da dúvida inversa, a pretensão afigura-se como juridicamente impossível.
143
Assim estabelece o art. 198 da Lei nº 6.015: “Havendo exigência a ser satisfeita, o oficial indica-la-á
por escrito. Não se conformando o apresentante com a exigência do oficial, ou não a podendo satis-
CAPÍTULO VIII
fazer, será o título, a seu requerimento e com a declaração de dúvida, remetido ao juízo competente
para dirimi-la, obedecendo-se ao seguinte: I - no Protocolo, anotará o oficial, à margem da prenotação,
a ocorrência da dúvida; Il - após certificar, no título, a prenotação e a suscitação da dúvida, rubricará o
oficial todas as suas folhas; III - em seguida, o oficial dará ciência dos termos da dúvida ao apresentante,
fornecendo-lhe cópia da suscitação e notificando-o para impugná-la, perante o juízo competente, no
prazo de 15 (quinze) dias; IV - certificado o cumprimento do disposto no item anterior, remeter-se-ão ao
juízo competente, mediante carga, as razões da dúvida, acompanhadas do título”.
144
Assim estabelece o art. 199 da Lei nº 6.015/73: “Se o interessado não impugnar a dúvida no prazo
referido no item III do art. anterior, será ela, ainda assim, julgada por sentença”.
145
Princípios enumerados por Afrânio de Carvalho na obra Registro de Imóveis: princípio de inscrição,
princípio de presunção e de fé pública, princípio de prioridade, princípio de especialidade, princípio de
legalidade, princípio de continuidade e princípio de instância.
1039
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Não se retifica escritura pública senão por outra escritura pública, visto que não
há, no ordenamento jurídico, procedimento ou ação judicial que importe na referida
retificação.
A Lei nº 6.015/73 não se aplica aos notários, uma vez que esses não desempenham
atividades de natureza registral.
Portanto, não se retifica escritura pública por meio de mandamento judicial. A solu-
ção, no caso da pretensão de retificação de escritura pública, surge com a realiza-
ção de outra, de rerratificação, entre as mesmas partes ou entre os seus herdeiros
e sucessores.
Estabelece o novo Código Civil quais são os documentos necessários para a habi-
litação para o casamento:
1040
Promotorias de Justiça
G.2 – Trasladação
no País, ou, antes, por meio de segunda via que os cônsules serão obrigados a remeter por intermédio
do Ministério das Relações Exteriores. § 2° O filho de brasileiro ou brasileira, nascido no estrangeiro,
e cujos pais não estejam ali a serviço do Brasil, desde que registrado em consulado brasileiro ou não
registrado, venha a residir no território nacional antes de atingir a maioridade, poderá requerer, no juízo
de seu domicílio, se registre, no livro “E” do 1º Ofício do Registro Civil, o termo de nascimento. § 3º Do
termo e das respectivas certidões do nascimento registrado na forma do parágrafo antecedente constará
que só valerão como prova de nacionalidade brasileira, até quatro (4) anos depois de atingida a maiori-
dade. § 4º Dentro do prazo de quatro anos, depois de atingida a maioridade pelo interessado referido no
§ 2º deverá ele manifestar a sua opção pela nacionalidade brasileira perante o juízo federal. Deferido o
pedido, proceder-se-á ao registro no livro “E” do Cartório do 1º Ofício do domicílio do optante. § 5º Não
se verificando a hipótese prevista no parágrafo anterior, o oficial cancelará, de ofício, o registro provisório
efetuado na forma do § 2º”.
1041
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
150
in Lei de Registros Públicos Comentada.
151
ROCHA, Osiris. Curso de direito internacional privado. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 1975. p. 209.
152
ROCHA, op. cit., p. 209.
153
Assim estabelece o art. 148 da LRP: “Os títulos, documentos e papéis escritos em língua estrangeira,
uma vez adotados os caracteres comuns, poderão ser registrados no original, para o efeito da sua
conservação ou perpetuidade. Para produzirem efeitos legais no País e para valerem contra terceiros,
deverão, entretanto, ser vertidos em vernáculo e registrada a tradução, o que, também, se observará em
relação às procurações lavradas em língua estrangeira.”
154
Só poderá ser junto aos autos documento redigido em língua estrangeira, quando acompanhado de
versão em vernáculo, firmada por tradutor juramentado.
1042
Promotorias de Justiça
Problema que por vezes surge, refere-se a estrangeiro que se encontra em situação
irregular no país. Não raras são as situações, em que aquele outorga procuração
em território nacional e alega que se encontra fora do país. Forçoso é de se concluir
que, se o mandato foi outorgado em nosso país, o estrangeiro aqui se encontra,
CAPÍTULO VIII
155
CENEVIVA, op. cit., p. 152.
1043
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
H - Averbações
1044
Promotorias de Justiça
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1045
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1046
Promotorias de Justiça
A – Introdução
B – Mandado de segurança
CAPÍTULO VIII
Em sede de Mandado de Segurança, ação civil de rito sumário especial que tem por
escopo repelir ofensa a direito subjetivo individual ou coletivo, privado ou público,
via comando judicial corretório, cumpre ao autor demonstrar de plano a liquidez e
certeza do direto a ser protegido.
Com o escopo de facilitar o acesso ao Judiciário, a Carta Federal, em seu art. 5º,
inciso LXX, permitiu que pessoas jurídicas defendam o interesse de seus membros
1047
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Vale anotar que não cabe ao Juiz alterar de ofício o pólo passivo da relação proces-
sual, adentrando na vontade da parte, ainda que objetivando corrigir errônea indi-
cação da autoridade dita coatora. Verificada a ilegitimidade passiva da autoridade
impetrada, impõe-se a extinção do feito sem exame do mérito159.
158
Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de Injução, Habeas Data. RT
12. ed.
159
STJ-139045) PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. AUTORIDADE COATORA. ILE-
GITIMIDADE PASSIVA. CORREÇÃO EX OFFICIO PELO JUIZ. IMPOSSIBILIDADE.
1 - Constatada a ilegitimidade passiva ad causam da única autoridade indicada como coatora, a extinção
1048
Promotorias de Justiça
Importante ressaltar que, dadas as repercussões cíveis e até criminais que podem
ocorrer após o deslinde do feito, a notificação da autoridade dita coatora deve ser
pessoal, não se admitindo, como não raro acontece, a simples entrega do mandado
judicial na repartição pública com recebimento pelo servidor presente no momento
da diligência. No dizer de Hely, “deferindo a inicial, o Juiz ordenará a notificação
do mandado de segurança, sem julgamento de mérito, se impõe, não podendo o Juiz, de ofício, corrigir
o pólo passivo da demanda, redirecionando-a para o juízo competente.
CAPÍTULO VIII
1049
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
pessoal do impetrado. [...]”. Mais adiante reforça o Mestre: “as intimações aos ad-
vogados das partes serão feitas por publicação no órgão oficial, na forma comum,
mas a notificação do julgado, para ser cumprido pelo impetrado, deve ser feita direta
e pessoalmente ao coator”. (in Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil
Pública, Mandado de Injunção Habeas Data. RT 12 ed.).
1050
Promotorias de Justiça
de exibição.
Em alguns feitos, tem-se verificado, com razoável freqüência, que o Juiz posterga
a apreciação da liminar para após as informações, devendo o Ministério Público,
nesses casos, zelar pela efetiva manifestação judicial a propósito do pleito urgente,
uma vez que tal pronunciamento constitui direito subjetivo da parte. Aliás, pela reda-
ção do art. 7º, da LMS, a suspensão ab ovo do ato impugnado deveria ser apreciada
pelo Juiz ao despachar a inicial, quando puder ser ineficaz a medida futura e for
relevante o fundamento do pedido.
Anote-se que o desate liminar pode ser combatido pela via do Agravo de Instrumen-
to, embora parte da jurisprudência seja contrária a esse entendimento. Todavia,
deve o recurso ter como fundamento a existência ou não do fumus boni iuris e do
periculum in mora161 .
Cumpre registrar que a decisão liminar e mesmo a sentença podem ter sua exe-
cução suspensa, a requerimento da pessoa jurídica interessada, para evitar grave
lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, nos termos do art. 4º
da Lei nº 4348/64, mediante pedido fundamentado dirigido ao Presidente do Tribu-
nal competente.
161
Relator: WANDER MAROTTA Data do acórdão: 14/02/2006 Data da publicação: 24/03/2006 Emen-
ta:
EMBARGOS DECLARATÓRIOS - AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO QUE INDEFERE
CAPÍTULO VIII
1051
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Tem-se entendido que a autoridade apontada como coatora não detém legitimidade
para defender, em grau de recurso, o ato impugnado. Assim, a legitimidade recursal
pertence à pessoa jurídica de direito público a cujos quadros ela pertence e que
suportará os efeitos da decisão concessiva da segurança. Casos há, entretanto, em
que a ordem mandamental reconhece a prática de ilegalidade, com contornos de
improbidade administrativa, pela autoridade impetrada, situação que permitiria, em
tese, o recurso da autoridade pública162. Não obstante a existência de entendimento
diverso, a legitimidade recursal do Ministério Público no writ deve ser ampla, ainda
que denegada a segurança e inexistente recurso da parte impetrante, consoante
orientação da Súmula nº 99, do STJ. Nos casos em que a sentença se omite em
relação ao duplo grau de jurisdição obrigatório, recomenda-se a interposição de em-
bargos declaratórios, mormente quando o Promotor oficiante concorda com mérito
do decisum.
162
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA - AUTORIDADE COATORA - ILEGITIMIDADE RECURSAL
- AUSÊNCIA DE SUCUMBÊNCIA - NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO. A autoridade coatora não
CAPÍTULO VIII
possui interesse recursal, sendo parte ilegítima para irresignar-se com a decisão monocrática que deferiu
a liminar, salvo em situações nas quais a concessão da ordem reconhece a prática por parte da auto-
ridade coatora de uma ilegalidade, que em alguns casos poderá constituir improbidade administrativa,
causando-lhe prejuízos, ou naqueles casos em que o ato ilegal foi praticado pelo Prefeito Municipal,
que possui a qualidade de agente da pessoa jurídica de direito público, podendo representá-la em juízo.
Como é a Fazenda Pública quem suporta os efeitos patrimoniais da decisão concessiva de liminar em
mandado de segurança, cabe ao Município de Santos Dumont, representado pelo Sr. Prefeito, a legitimi-
dade para recorrer, com a apresentação de eventual inconformismo com a decisão judicial.
AGRAVO N° 1.0607.05.026890-5/001 - COMARCA DE SANTOS DUMONT - AGRAVANTE(S): DIRE-
TOR SECRETARIA MUN SAUDE DESENV SOCIAL SANTOS DUMONT - AGRAVADO(A)(S): MARCOS
PAULO MANSUR DE SOUZA REPRESENTADO(A)(S) P/ MÃE SILVANE MANSUR DE SOUZA - RELA-
TORA: EXMª. SRª. DESª. TERESA CRISTINA DA CUNHA PEIXOTO
1052
Promotorias de Justiça
C – Ação popular
Deve o Ministério Público cuidar para que a ação popular seja instrumento de defe-
sa da coletividade, não se prestando ao amparo de interesses individuais.
Nos termos do art. 6° da Lei nº 4.717/65 são legitimados passivos para a ação
popular as pessoas indicadas no art. 1° na mencionada legislação de regência, as
autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado,
ratificado ou praticado o ato impugnado, as autoridades, funcionários ou adminis-
tradores que, por omissão, tiverem dado oportunidade à lesão e aos beneficiários
diretos do ato lesivo, razão pela qual impõe-se ao Parquet zelar pela correta forma-
ção da relação processual.
Importante questão exsurge quando o autor popular abandona o feito, dando causa
à absolvição de instância prevista no art. 9º da LAP e, após, a publicação dos editais
ali previstos, não comparece qualquer cidadão objetivando promover o prossegui-
mento da presente ação. Cumpre, nesses casos, verificada a ausência de qualquer
cidadão interessado em dar prosseguimento ao feito, apreciar-se a possibilidade de
o Ministério Público promover o prosseguimento da ação popular.
1053
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
contratar com o poder público e receber benefícios ou incentivos fiscais. Nesse nor-
te, tem-se que, não raro, o prosseguimento da ação popular pelo Ministério Público,
longe de proteger o interesse público, somente iria beneficiar o agente público ao
qual se imputa a prática de improbidade administrativa.
Não se afirma que o art. 9º da LAP perdeu sua eficácia em relação ao Parquet, uma
vez que, cuidando-se de faculdade conferida ao Ministério Público, deve-se, tendo-
se em conta as peculiaridades do caso concreto e da prova já produzida, avaliar-se
acerca da conveniência de sua aplicação, o que ocorre, v.g., quando já realizada a
instrução do feito ou a prova for somente documental, além daqueles casos em que
o abandono do autor popular ocorrer na fase de execução, impondo nesta última
situação o prosseguimento pelo Promotor de Justiça oficiante. Com efeito, casos há
em que o eventual prosseguimento pelo Ministério Público iria transformar a ação
popular em verdadeiro inquérito civil, procedimento que evidentemente deve ser
prévio à instauração da ação de improbidade, sem que se pudesse aplicar todas as
sanções pertinentes, caso confirmada a prática de improbidade administrativa.
Vale anotar que a Corte Máxima de Minas Gerais já reconheceu cuidar-se o art. 9º
da Lei nº 4.717/65 de uma faculdade conferida ao Ministério Público163. No corpo
do julgado, destaca-se: O Ministério Público, que poderia utilizar-se da faculdade
que lhe assegura a lei de promover o prosseguimento da ação popular, após a
desistência do autor e publicação dos editais, requereu a extinção do processo
sem julgamento de mérito, em síntese, por entender seu i. Representante que há
necessidade de apuração das irregularidades apontadas na inicial, através de pro-
cedimento de investigação já instaurado.
Assim, na hipótese de abandono pelo autor popular, não sendo de interesse público
o julgamento meritório do feito, deve o Ministério Público pugnar por sua extinção,
nos termos do art. 267, II ou III (conforme o caso), do CPC, provocando a instauração
de procedimento investigatório para apuração devida dos fatos descritos na inicial.
CAPÍTULO VIII
163
EMENTA: AÇÃO POPULAR - DESISTÊNCIA DO AUTOR - INTERESSE DE OUTRO CIDADÃO PARA
DAR PROSSEGUIMENTO AO FEITO - INEXISTÊNCIA - MINISTÉRIO PÚBLICO PELA EXTINÇÃO DO
PROCESSO - EXTINÇÃO DECRETADA. Inexistindo cidadão interessado em promover o prosseguimento
da ação popular e tendo o representante do Ministério Público optado por não se utilizar da sua faculdade
de assim o fazer, deve ser decretada a extinção do processo, sem julgamento de mérito. APELAÇÃO
CÍVEL Nº 000.170.643-1/00 - COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES - APELANTE(S): JD 1ª V CV
COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES - APELADO(S): PREFEITO MUNICIPAL DE GOVERNA-
DOR VALADARES E OUTROS, FUSHP FUND SERVIÇO HOSPITALAR GOVERNADOR VALADARES
- RELATOR: EXMO. SR. DES. JOSÉ ANTONINO BAÍA BORGES
1054
Promotorias de Justiça
A ação civil pública é instrumento de defesa dos interesses sociais, que integram
o interesse de preservação do patrimônio público e social, do meio ambiente e de
outros interesses difusos e coletivos, que são de todos e de cada um, não passível
de individualização dos direitos subjetivos ou situações jurídicas inerentes.
Ao Ministério Público custos legis compete zelar pela utilização da ação civil pública
para os fins a que legalmente se destina, sob pena de ser utilizada como substi-
tutivo de ações ordinárias, em que devem ser julgados os interesses individuais
ou meramente patrimoniais da administração, apenas pelo rito especial da ação e
seus consectários legais. Assim, entendemos que o interesse público defensável
via ação civil pública pelos legitimados legais é o conhecido por interesse primário
– que é o interesse social da coletividade e, não o interesse secundário da adminis-
tração, que, segundo Celso Antônio Bandeira de Mello164,
A propósito da natureza dos interesses públicos sociais que podem ser objeto da
ação civil pública, ou outros interesses difusos e coletivos, vale a pena citar o acór-
dão proferido em julgamento de Recurso Especial pela e. 1ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça, relatado pelo i. Ministro Luiz Fux, citando ZAVASKI, Teori Albino.
Processo Coletivo: Tutela de Direitos Coletivos e Tutela Coletiva de Direitos.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 52-54165:
diante ação popular (CF, art. 5.°, LXXIII), o exercício probo da administração pública,
que sujeita seus infratores a sanções de variada natureza, penal, civil, e política (CF,
art. 37, § 4.º), e a manutenção da ordem econômica, que “tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social” (CF, art. 170). São
164
Celso Antônio Bandeira de Mello. Curso de Direito Administrativo. 12 ed. São Paulo, Malheiros.
2000, p 67-68.
REsp 786328 / RS - 2005/0165035-2
165
1055
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
interesses, não apenas das pessoas de direito público, mas de todo o corpo social,
de toda a comunidade, da própria sociedade como ente coletivo.
Não sendo parte ativa, atuando como custos legis – art. 5º, § 1º, da lei em comento,
zelará pela correta formação da relação processual observando se presentes as
condições específicas da ação civil pública, verificando nos estatutos da associação
ou sindicato se, além do tempo de constituição, o seu objetivo social está arrolado
na letra “b” do inciso V do art. 5º da LAP ou em outro dispositivo legal que tenha
acrescido outro interesse social, além desses.
Por fim, quanto à atuação dos Promotores como custos legis nos Juízos das Varas
da Fazenda Pública, entendemos relevante a busca da efetividade do processo e da
prestação jurisdicional que haja interação entre os Membros do Ministério Público
oficiantes como custos legis e os atuantes perante as promotorias especializadas
CAPÍTULO VIII
no direito social objeto da ação, de forma a robustecer a prova produzida pelo outro
legitimado, se for o caso, e ainda levar ao conhecimento os termos que a ação foi
proposta e a resposta do Judiciário.
1056
Promotorias de Justiça
E – Técnica de atuação
Legislação Federal
- Constituição Federal
166
Há cópia da ação civil pública, promovida nesses termos, nas peças práticas que acompanham este
Trabalho.
1057
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
cias.”
- Lei nº 9.711, de 20 de novembro de 1998 - “Dispõe sobre a recuperação de have-
res do Tesouro Nacional e do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, a utilização
de Títulos da Dívida Pública, de responsabilidade do Tesouro Nacional, na quitação
de débitos com o INSS, altera dispositivos das Leis nº 7.986, de 28 de dezembro de
1989, nº 8.036, de 11 de maio de 1990, nº 8.212, de 24 de julho de 1991, nº 8.213,
de 24 de julho de 1991, nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e nº 9.639, de 25 de
maio de 1998, e dá outras providências.”
1058
Promotorias de Justiça
1059
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Legislação Estadual
- Constituição Estadual
- Estatuto dos Servidores Públicos Civis;
- Estatuto dos Servidores Militares;
- Lei nº 14.310 2002 - Dispõe sobre o Código de Ética e Disciplina dos Militares do
Estado de Minas Gerais.
- Decreto nº 23.085 1983 - Aprova o Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do
Estado de Minas Gerais (R-116).
Código de Saúde
- Lei Complementar nº 64/2002 - Institui o Regime Próprio de Previdência e As-
sistência Social dos Servidores Públicos do Estado de Minas Gerais e dá outras
providências.
- Lei nº 6.763 1975 - Consolida a Legislação Tributária do Estado de Minas Gerais
CAPÍTULO VIII
e dá outras providências.
Legislação Municipal
Lei Orgânica do Município;
Código de Posturas Municipais;
Estatuto do Servidor Público Municipal.
1060
Promotorias de Justiça
JURISPRUDÊNCIA
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PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Parcerias na Administração Pública. São Pau-
CAPÍTULO VIII
1062
Promotorias de Justiça
ANEXOS
MM. Juiz:
Urge verificar, a princípio, que o instrumento da ação civil pública detém verossimi-
lhança em prol do bem que se busca aqui tutelar. Além do que restou consignado
na clarividente e admirável exordial, sobressai nos autos o interesse bem dilucidado
pelo i. Min.TEORI ALBINO ZAVASCKI:
1063
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1064
Promotorias de Justiça
Porém, peremptoriamente, aduz inexistir local para internar os detentos hoje reco-
lhidos no Departamento de Investigações (DI), não obstante diga que os interesses
cuja tutela se busca nesta via processual, sejam os mesmos perseguidos pela ad-
ministração pública estadual. Daí conclui restar inexeqüível ou restar impossível ju-
ridicamente o pedido, sem deteriorar a situação dos presos situados em estabeleci-
mentos prisionais que não apresentam os problemas administrativos reclamados.
A dicção da norma magna (aliás instalada no bojo dos direitos e garantias funda-
mentais; a propósito, a inicial busca a prevalência desse cânon) é peremptória ao
dizer que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito”.
1065
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nessa senda, o em. Des. José Domingues Ferreira Esteves, nos autos da Apelação
Cível nº 1.0090.04.007540-1/001, admoestou:
1066
Promotorias de Justiça
Concluindo, se é assim, se os interesses de autor e réu não são de modo algum co-
lidentes, se deseja e quer o Estado solucionar o imbróglio que perpassa - urge reco-
nhecer - inúmeras administrações estaduais, sem que seja encontrada uma solução
efetiva e de longo prazo, nada melhor que este feito sirva de instrumento na busca
e solução de um comum e coincidente intento (sem que a respectiva prestação ju-
1067
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
risdicional possa ser traduzida em uma invasão a determinado atributo, cujo mister
suposta ou inadvertidamente resida com exclusividade em determinado Poder).
Vale dizer, tem capacidade esta Ação Civil Pública de adequar suficiente solução de
forma a possibilitar, em coerente lapso de tempo, a remoção integral dos detentos
instalados nas dependências carcerárias do DI, impedindo, ao mesmo tempo, que
os respectivos presos sejam transferidos para estabelecimentos prisionais igual-
mente inadequados ou que eles acabem (também) superlotados, prejudicando ou-
tros, numa progressão sem fim.
Nada impede, por fim, que ato contínuo à instrução deste feito, diante das péssimas
condições do estabelecimento prisional objeto desta Ação Civil Pública que, nos
moldes do art. 66, inciso VII, da Lei nº 7.210/84, o juiz da execução penal (e o órgão
do Ministério Público ali oficiante) determine a realização de inspeção do precitado
estabelecimento penal, determinando a adoção de providências para o seu adequa-
do funcionamento, com a eventual apuração de responsabilidade; decretando, se
for o caso, a interdição do recinto carcerário, administrativamente.
1068
Promotorias de Justiça
respeitosamente, interpor embargos declaratórios, com fincas nos arts. 535 e s., do
Código de Ritos, conforme a seguir exposto.
Nota-se que esse douto juízo concedeu a segurança buscada pelo impetrante, ver-
bis:
Todavia, a r. sentença restou omissa quanto ao disposto no art. 12, parágrafo único,
da Lei nº 1.533/51, a saber:
MM. JUIZ,
1069
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Alega, em síntese, que ajuizou ação contra o Estado de Minas Gerais buscando
anular o ato que o considerou contra-indicado no exame psicotécnico levado a efei-
to no concurso CTSP/04; que obteve medida liminar que lhe autorizou matricular-
se no aludido CTSP/04, freqüentou todo o curso e se formou em abril do corrente
ano, quando foi promovido a soldado de 1ª classe, e designado para trabalhar em
cidades da região; que durante a instrução da ação já mencionada, foi submetido
a exame pericial minucioso e foi considerado indicado; que durante todo o tempo
em que freqüentou o CTSP/04 demonstrou aptidão física, intelectual e psicológica
e dedicou-se exclusivamente à corporação; que, enquanto tramitava a ação judicial
supramencionada, foi julgado o Agravo de Instrumento interposto pelo Estado de
Minas Gerais, contra a decisão que lhe concedeu a liminar pleiteada, tendo sido
dado provimento a dito recurso; que a súmula do acórdão foi publicada no mesmo
dia em que foi publicada a sentença de primeiro grau, que anulou o exame psico-
técnico e lhe garantiu o direito à freqüência do curso e permanência na PMMG; que,
no entanto, o impetrado, mesmo após tomar conhecimento da interposição de Re-
curso Especial contra o acórdão proferido no julgamento do Agravo de Instrumento
já aludido, e do julgamento da sentença de primeiro grau que lhe foi favorável,
acabou por lhe excluir da PMMG, desconsiderando os princípios constitucionais
da legalidade, moralidade e razoabilidade. Requereu a concessão da segurança
“[...] declarando a exclusão nula e portanto, ineficaz o ato, considerando portanto o
impetrante apto a continuar integrando as fileiras da PMMG, tornando definitiva sua
matrícula anulando ainda os atos de cancelamento e exclusão do curso”, determi-
nando, ainda, que “nada deverá sofrer o impetrante, inclusive quanto as faltas, que
não foram da sua vontade.”.
A análise do pleito de liminar foi postergada para após as informações (fls. 62).
CAPÍTULO VIII
1070
Promotorias de Justiça
Da análise dos autos, data venia, entendemos que o impetrante não possui o direi-
to líquido e certo alegado, pois o ato impugnado não se reveste de ilegalidade ou
abuso de poder.
CAPÍTULO VIII
Ora, o impetrante foi matriculado no CTSP/04, realizado pela Polícia Militar de Mi-
nas Gerais, e posteriormente promovido a soldado de primeira classe, por força de
decisão que concedeu a antecipação de tutela por si requerida em ação ordinária
em que pleiteou a anulação do teste psicotécnico por si realizado.
1071
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
É sabido que o recurso especial possui efeito apenas devolutivo; lado outro, a ape-
lação interposta na ação ordinária ajuizada pelo impetrante foi recebida nos efeitos
devolutivo e suspensivo.
Assim é que, nem o recurso especial interposto pelo impetrante contra o acórdão
que cassou a liminar que lhe permitia permanecer na PMMG, nem a sentença de
primeiro grau que julgou procedente seu pleito de anulação do teste psicotécnico,
de matricular-se do CTSP/04 e de ser promovido a soldado de primeira classe, têm
o condão de lhe permitir que permaneça na Polícia Militar.
No entanto, poderá o impetrante se valer das medidas próprias para pleitear a con-
cessão do efeito suspensivo no recurso especial por si interposto, contra o acórdão
que cassou a tutela antecipada que lhe havia sido concedida em ação ordinária,
v.g., medida cautelar.
1072
Promotorias de Justiça
[...]
Diante do exposto, e do mais que dos autos consta, o Ministério Público, através de
sua Promotora de Justiça em exercício neste r. Juízo, manifesta-se pela denegação
da segurança, com revogação da liminar concedida.
MM. Juiz:
047 571 –3, presente o trânsito em julgado, pleito negado pela autoridade impe-
trada, ao argumento de que a obrigação do Estado de pagar somente nasce após
a previsão orçamentária e tem vencimento certo na forma prevista no art. 100 da
CF/88. Registram que o pedido administrativo tem lastro no art. 12 da Lei Estadual
nº 14.699/03, verbis: O Poder Executivo realizará a compensação de crédito inscrito
em dívida ativa com crédito líquido e certo do interessado, ainda que adquirido de
terceiros, contra a Fazenda Pública Estadual. Dizem que a utilização de certidão
hábil para a compensação para o pagamento de crédito tributário inscrito em dívida
1073
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
ativa não viola a ordem cronológica dos precatórios, uma vez que o EMG não faz
qualquer desembolso de moeda. Nesse norte, buscam comando judicial corretório,
para que os impetrantes possam ceder o crédito a terceiros, para ser utilizado no
pagamento de débito tributário inscrito em dívida ativa.
Em seara preliminar, sustenta a sua ilegitimidade passiva, pois sua atuação limi-
tou-se à emissão de parecer jurídico, não praticando qualquer ato decisório, além
de sugerir possível ausência de liquidez e certeza do direito buscado nessa via.
Quanto à controvérsia de fundo, alerta que, cuidando-se débito oriundo de conde-
nação judicial contra a Fazenda pública a execução do valor correspondente deve
necessariamente seguir a regra do art. 100 da CF/88, bem como do art. 730 do
CPC. Anota que não pode haver a compensação pretendida sem a expedição do
precatório, após prévia dotação orçamentária, lembrando que o rito imposto pela
CF/88 objetiva assegurar a isonomia entre os credores. Pretende a denegação da
segurança, registrando que o STF no julgamento da Adi nº 2.099/4 – ES, estabele-
ceu que a previsão normativa de cessão de precatório e utilização subseqüente na
liquidação do débito fiscal conflitam, de início, com o preceito maior do art. 100 da
Constituição Federal.
167
In: Mandado de Segurança Ação Popular Ação Civil Pública Mandado de Injução Habeas Data.
12 ed. São Paulo: RT.
1074
Promotorias de Justiça
não normativo, não praticando qualquer ato decisório. Tanto isso é verdade que o
requerimento administrativo formulado pelos impetrantes restou direcionado ao Ex-
celentíssimo Senhor Secretário da Fazenda, conforme se verifica às fls. 16-19.
Anote-se que não cabe ao Juiz alterar de ofício o pólo passivo da relação processu-
al, adentrando na vontade da parte, ainda que objetivando corrigir errônea indica-
ção da autoridade dita coatora.
Referência Legislativa:
Leg. Fed. Lei nº 5869/73 - CPC-73 Código de Processo Civil Art.
267 Inc. VI - gn
Mais:
1075
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Em sede de Mandado de Segurança, ação civil de rito sumário especial que tem por
escopo repelir ofensa a direito subjetivo individual ou coletivo, privado ou público,
via comando judicial corretivo, cumpre ao autor demonstrar de plano a liquidez e
certeza do direto a ser protegido. Cinge-se a controvérsia na possibilidade de se
exarar comando judicial corretório, reconhecendo-se aos impetrantes/advogados
o direito à cessão do crédito oriundo de verba de sucumbência, vencido o EMG no
CAPÍTULO VIII
1076
Promotorias de Justiça
Ora, o art. 12 da Lei nº 14.699/03 não pode ser tomado isoladamente, exsurgindo
claro, com fincas na legislação invocada pelos impetrantes, que a compensação
pretendida somente tem lugar quando houver precatório vencido, sob pena de se
admitir violação ao art. 100 da Carta Máxima, quebrando-se a isonomia entre os
credores.
1077
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Destarte, ainda que se trate de precatório vencido e não pago, deve ser respeitado
o art. 100 da CF, com obediência à ordem cronológica, a fortiori, cuidando-se de
mera certidão, ainda que expedida por Secretaria Judicial. Não é só. Como bem
exposto pela autoridade informante, o crédito dos impetrantes é qualificado como
de natureza alimentar, afastando-se a incidência do art. 78 do ADCT da CF/88.
1078
Promotorias de Justiça
EGRÉGIO TRIBUNAL,
CAPÍTULO VIII
COLENDA CÂMARA
DOUTA PROCURADORIA DE JUSTIÇA,
Trata-se de MANDADO DE SEGURANÇA com pedido de liminar impetrado por
TITO MAURO CAMPOS, apontando como autoridades coatoras os Srs. FISCAL
DE TRIBUTOS ESTADUAIS e DELEGADA FISCAL DFBH-2, integrantes da DELE-
GACIA FISCAL/1º NÍVEL-2/SRF-1 e da DELEGACIA FISCAL/1º NÍVEL-DF/BH-1,
respectivamente, insurgindo-se contra ato que indeferiu seu pleito de isenção de
IPVA sobre o veículo de sua propriedade, Fiat Strada Adventure, placa GZK 8090,
1079
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
ano de fabricação 2001, modelo 2002, alegando, em síntese, que tem direito à isen-
ção pleiteada, nos termos previstos na Lei nº 14.937/03, art. 3º, inciso III, por ser
portador de poliomielite, hipotrofia da musculatura, membros inferiores e marcha
claudicante, conforme certidão expedida pelo DETRAN/MG, tendo aludido órgão de
trânsito lhe fornecido laudo concluindo pela necessidade de adaptação do veículo
a ser conduzido por si, recomendando-lhe uso de câmbio automático ou semi-au-
tomático.
A r. decisão de fls. 40-42 indeferiu não só a liminar pleiteada, mas a própria inicial,
ao fundamento de que
Com efeito, a r. sentença recorrida indeferiu a inicial, com fulcro no art. 8º da Lei nº
1.533/51, que assim dispõe: “Art. 8º A inicial será desde logo indeferida quando não
for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos requisitos desta lei.”
Ocorre que o impetrante juntou aos autos os documentos de fls. 23-24, no intuito
CAPÍTULO VIII
E, ainda que o honrado Juízo a quo já tenha convicção jurídica formada sobre a
matéria tratada no mandado de segurança, para haver o enfrentamento do mérito
1080
Promotorias de Justiça
Diante do exposto e de tudo mais que dos autos consta, o Ministério Público, atra-
1081
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
vés de sua Promotora de Justiça que esta subscreve, requer seja dado provimento
ao presente recurso, para que seja anulada a r. sentença a quo, determinando-se o
normal prosseguimento do feito, com a notificação do impetrado e, posteriormente,
vista dos autos ao Ministério Público para oferecimento de parecer.
Nos autos de ação ordinária movida por Lídia da Silva Rosa, Gedewashington Silva
Rosa e Isaque da Silva Rosa, qualificados, em face do Estado de Minas Gerais, o
douto sentenciante julgou parcialmente procedente o pedido exordial, reconhecen-
do o dever de indenizar do réu, por conta da morte de Geraldo José Rosa, esposo
e pai dos autores, ocorrida no dia 8 de março de 2003, em cela da Delegacia de
Furtos e Roubos desta Capital.
Relatados, à fundamentação.
1082
Promotorias de Justiça
Nesse norte, foi o pedido inicial julgado parcialmente procedente, arbitrando o cul-
to magistrado de primeiro grau indenização por danos morais no importe de R$
10.000,00 (dez mil reais), isto é, R$ 3.333,33 (três mil, trezentos e trinta e três reais,
trinta e três centavos), pouco mais de 11(onze) salários mínimos para cada um dos
autores.
A nosso pensar, não agiu com o costumeiro acerto o douto magistrado a quo, afas-
tando-se dos critérios jurisprudenciais e doutrinários que delimitam a fixação do
dano moral.
Como é de curial sabença, na fixação do dano moral, deverá o juiz, atendo-se ao
nexo de causalidade inscrito no art. 1.060 do Código Civil, levar em conta critérios
de proporcionalidade e razoabilidade na apuração do quantum, atendidas as condi-
ções do ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado.
(RT, 602/180).
É verdade que a indenização por dano moral não pode constituir-se em locupleta-
mento ilícito para quem a postula, devendo o arbitramento operar-se com cometi-
mento, proporcional ao grau de culpa e ao porte econômico das partes. Todavia,
não se pode esquecer, lado outro, que semelhante recomposição deve servir de
verdadeiro desestímulo ao ofensor, caso pretenda repetir aziago ato.
1083
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nos presentes autos, tem-se mais uma das inúmeras condutas omissivas perpe-
tradas pela administração pública que, como cediço, entrega seus presos à própria
sorte.
Ora, dos vinte e dois assassinatos de presos ocorridos até o mês de agosto de
2003, dezesseis foram da Divisão de Crimes Contra o Patrimônio (fls.60-70).
Repete-se a malfadada conduta: pouco importou à administração pública estadual
se entre as inúmeras pessoas que dividiam o exíguo espaço de uma cela, existiam
pessoas que por qualquer motivo (ou sequer imbuídas de motivação plausível) en-
tenderam por dar cabo à vida do marido e pai dos autores.
Nesse sentido, o irrisório dano moral fixado presta-se a fomentar a notória negligên-
cia do Estado no tocante aos presos sob sua custódia, sendo, de outra parte, insufi-
ciente para compensar ainda que precariamente a dor sofrida pelos autores, dada a
gravidade objetiva dos fatos – duas crianças perderam estupidamente o pai.
Sobre o assunto:
1084
Promotorias de Justiça
Destarte, não merece prosperar o dano moral fixado na instância primeva, sendo
claramente irrisório o valor de pouco mais de onze salários mínimos para cada um
dos autores.
1085
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
PROCESSO nº 024.06.206.486-0
:
PRISCILA ALZIRA DE AZEVEDO o presente mandado de segurança, com pedido
liminar, em face do CHEFE DO DEPARTAMENTO DE TRÂNSITO DE MINAS GE-
RAIS – DETRAN/MG.
petrada.
1086
Promotorias de Justiça
É o relatório, no essencial.
Da preliminar de decadência
Argüiu o Impetrado a decadência do direito à impetração, ao argumento de que o
ato impugnado há que ser a normatização do processo de habilitação por parte do
CONTRAN, cujo ato se exteriorizou através das Resoluções nº 168/04 e nº 169/05,
publicadas no Diário Oficial da União em 22/12/04, republicada em 17 de março de
2005, com as alterações introduzidas pela Resolução 169/05.
A propósito do tema, assim ensina HELY LOPES MEIRELLES, em sua Obra, MAN-
DADO DE SEGURANÇA, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de Injunção,
“Habeas Data”, 19 ed. São Paulo: Malheiros. p. 49:
Nesse ponto, melhor sorte não assiste ao Impetrado, pois que é a autoridade indica-
da no proêmio a responsável, administrativamente, no âmbito do Poder Executivo de
CAPÍTULO VIII
Vale lembrar que autoridade coatora é aquela que detém poderes para praticar ou
não o ato, não importando que a ordem provenha de seu superior, não sendo con-
tra a autoridade de onde emanou o ato, mas contra quem o executa que deve ser
dirigido o writ. Tanto é verdade, que buscou a nominada autoridade espancar, com
veemência, as múltiplas assertivas exaradas no instrumento exordial.
1087
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Do mérito
Em sede de Mandado de Segurança, ação civil de rito sumário especial, que tem
por escopo repelir ofensa a direito subjetivo individual ou coletivo, privado ou públi-
co, via comando judicial corretivo, cumpre ao autor demonstrar de plano a liquidez
e certeza do direito a ser protegido.
A Constituição Federal, conquanto não defina o writ, reza, em seu art. 5º, inciso
LXIX, que:
Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito
líquido e certo, não amparado por habeas-corpus ou habeas-
data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder
for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício
de atribuição do Poder Público.
Na clássica lição de Hely Lopes Meirelles, “direito líquido e certo é o que se apre-
senta manifesto em sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exerci-
tado no momento da impetração”.
Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro, além da ausência de dúvidas quanto aos fatos,
CAPÍTULO VIII
o direito líquido e certo para fins do mandamus deve apresentar alguns requisitos,
quais sejam “certeza jurídica, direito subjetivo próprio do impetrante e objeto deter-
minado”.
1088
Promotorias de Justiça
A propósito, ensina o Prof. HELY LOPES MEIRELLES, em sua Obra Direito Admi-
nistrativo Brasileiro. 23 ed. São Paulo: Malheiros, fls. 158-159, que os atos admi-
nistrativos normativos possuem caráter geral e abstrato, mas quando surgem sob a
aparência de norma, com efeitos concretos, podem ser atacados e invalidados pelo
Judiciário, e que, nem o Decreto regulamentar e nem em Resolução podem extra-
polar o previsto na Lei. Vejamos.
1089
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Isso posto, opino pela parcial concessão da segurança, afastando-se a decisão ad-
ministrativa tão-somente em relação ao exame médico e psicotécnico já realizado,
nos termos do art. 147, § 2º, do CTB.
Belo Horizonte, 15 de setembro de 2008.
AUTOS nº 442.924-2
MM. Juiz:
1090
Promotorias de Justiça
Informa que após requerer a conferência dos proventos a que faria jus, foi infor-
mada que estes ultrapassariam o teto estadual previsto na sobredita legislação
estadual. Em face disso, a primeira autoridade impetrada decotou em seu desfavor
o suposto excesso, limitando sua pensão em R$10.500,00.
Busca prestação liminar para que seja efetuado o pagamento de seus proventos,
sem o expurgo do aludido limite constitucional mineiro, situação a ser consolidada
em sede meritória.
1091
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
É o relatório no essencial.
1092
Promotorias de Justiça
1093
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por sua vez, a Lei Estadual nº 15.013/04 - alterada pela Lei nº 16.658/2007, esta-
belece:
1094
Promotorias de Justiça
Semelhante cânon tem alcance geral e irrestrito, submetendo não apenas as rela-
ções erigidas sob o império do Direito Privado, mas, também, aquelas constituídas
sob a égide do Direito Público171.
Ora, como visto alhures, a cláusula norma, ao medir forças com as normas constitu-
CAPÍTULO VIII
ídas sob o império da norma anterior, não pode, de maneira sub-reptícia, submeter
as pretéritas aos novos horizontes normativos, sem acautelar-se ou respeitar deter-
minados limites e condições, absolutamente inafastáveis.
Urge assinalar: a novel norma não pode retrotrair seus efeitos para alcançar situ-
170
In: Grundzüge des Verfassungsrechts der Bundesrepublik Deustschland Heidelberg, Constitu-
ição Federal Muller, 1978. p. 16.
171
JHERING, Rudolf von. In: Léprit du Droit Romain, Libraire Marescq Ainné, 1936, v. II, p. 75.
1095
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Noutro giro, o princípio da segurança das relações jurídicas merece destaque quan-
do eclodem os inevitáveis conflitos de normas temporais. Semelhante postulado en-
contra predomínio na regulação da maioria das nações civilizadas, sendo certo que,
em terras tupiniquins, outorgaram-lhe, em boa hora, a condição de direito universal,
assim erigida no preâmbulo e art. 5o, caput, da Constituição Federal de 1988.
1096
Promotorias de Justiça
Por isso mesmo, submetida a um complexo de relações interpessoais cada dia mais
dinâmico e abstruso, uma das principais incumbências ou gravames dirigidos ao
Direito, quer público ou privado, indica ser a de resguardar (ou ressalvar) um razoá-
vel grau, não de vaticinação, mas de ponderável seqüência das expectativas e das
escolhas antes priorizadas pelo sistema jurídico.
É isso, aliás, que vem o Judiciário realizando quando licitamente espanca as ma-
nobras econômicas e sociais realizadas por inúmeras administrações públicas que,
perseguindo o idílio do populismo, reiteradamente editam normas cujos aziagos
conteúdos redundaram em infesto sismo no seio das relações econômicas e sociais
deste País.
Por isso mesmo, Reinhold Zippelius (p. 338), leciona: “Benthan e outros conside-
raram praticamente como finalidade principal do Direito criar segurança jurídica e,
conseqüentemente, uma base segura para as regulações”, postulado esse dirigido,
principalmente, ao próprio legislador.
CAPÍTULO VIII
De tudo isso, extrai-se hoje a ratio da vedação, via de regra, de normas retroativas
de Direito, de molde a ensejar a integridade teleológica do próprio arcabouço jurídi-
co (e do próprio sistema democrático).
Vale trazer a balha a frase esculpida por Paul Ricouer, para quem democracia “é um
sistema que só funciona se as pessoas acreditarem nele. Pois não repousa sobre a
1097
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1098
Promotorias de Justiça
Sem hesitar, é sabido que dita indicção é ou foi aplicada, sendo indubitável que
o art. 17 já foi ou deixou de ser aplicado, muito antes do nascimento da Emenda
Constitucional nº 41/2003. Essa norma não tem, absolutamente, a dádiva de re-
vigorar semelhante cânon, pelo menos no tópico que não permite a invocação de
direito adquirido (porquanto o dispositivo originário, diante de sua transitoriedade,
exauriu-se, urge repetir).
Nesse aspecto, a emenda deve sempre, sob pena de restar natimorta, reverenciar
as cláusulas intangíveis, exatamente porque exterioriza uma vontade não processu-
almente habilitada, mas, principalmente, um anelo constitucional derivado.
A norma prevista no art. 5o, XXXVI, não enfrenta apenas o legislador ordinário.
1099
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Jorra aos olhos a abundante certeza de que semelhante e novel excerto constitu-
cional entremostra-se em dissensão com a Constituição originária, pois, segundo o
disposto no art. 60 da Carta Republicana de 1988, é vedado o implemento de norma
derivada tendente a abolir direitos individuais. Assim, o art. 9o da EC nº 41/2003,
não poderá emprestar novo corpo ao teor do inumado art. 17 do ADCT. Do contrá-
rio, fustigará as regras de direito intertemporal, mormente aquela que distingue as
ocasiões claramente delimitadas dos momentos originário e derivado, no exercício
do poder constituinte.
Por que, adiante, não se ousará canhonear o próprio regime democrático de direito?
Outros, em eras recentes ou de antanho, muito fizeram contra as garantias individu-
ais, aliás, em nome de regras ou garantias muito menos vitais.
A missão de inovar é mister do qual não podemos nos afastar. Mas esse encargo
não pode desviar-se do zelo pela vitalidade do sistema. Não se pode desprezar o
enfermiço, mas também de maneira nenhuma deve ser ministrado fármaco exces-
sivo.
176
LARENZ, Karl. In: Richtiges Recht, München, Verlag C. H. Beck. 1979. p 131.
1100
Promotorias de Justiça
A medicação e o seu quantum devem fazer frente à mazela, sendo certo que a te-
rapia deve sempre avaliar a capacidade do corpo de enfrentar o mal e reabilitar-se.
O excesso de fármaco aniquila. Assim deve ser a intenção do legislador constituinte
derivado. Ao tratar a mazela, deve buscar e, se possível, experimentar os mesmos
processos mentais e espirituais do Criador (in casu, o constituinte originário).
Estabilizar é feito que não comporta apenas um parâmetro perseguido pelos di-
rigentes de uma nação (o fiscal). É empreitada que diz respeito principalmente à
própria norma originária. Não se encontrará, jamais, a sonhada estabilidade social,
enquanto se fustigar toda a sorte de direitos e garantias individuais.
Tanto isso é verdade que neste País o Judiciário encontra-se mergulhado em de-
mandas multifacetadas, provocadas (e sempre proteladas) pelo poder público. En-
trementes, assistimos boquiabertos os eventuais administradores públicos, perante
os meios de comunicação, confessando a marosca incutida nessas ações; porém,
nada fazem para espancá-las, de molde a possibilitar ou mesmo fazer a justiça so-
cial que tanto pregam nos momentos eleitoreiros!
177
“Previdência, imprevidência do constituinte”.
1101
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A conduta perpetrada pela autoridade impetrada não pode alcançar situação já con-
solidada nos termos da legislação anterior, sob pena de iniludível ofensa, também,
ao ato jurídico perfeito, também garantido pela Constituição Federal. O § 1º do art.
6º da Lei de Introdução ao Código Civil assim estipula ato jurídico perfeito:
Art. 6º - […]
§ 1º - Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a
lei vigente ao tempo em que se efetuou.
A Lei de Introdução ao Código Civil, na verdade, não define o que seja ato jurídico,
mas apenas diz o que se entende como ato jurídico perfeito, que é o ato consumado
ou concretizado no tempo de vigência de uma lei que o tornou possível. A definição
de ato jurídico perfeito nos é dada pelo art. 81 do Código Civil de 1916, cujo cânon
considera ato jurídico todo ato lícito que tenha por fim imediato adquirir, resguardar,
transferir, modificar ou extinguir direito.
Depreende-se, pois, do conceito de ato jurídico que nem toda ação humana é con-
siderada ato jurídico, mas somente aquela conduta que, praticada em conformidade
com a ordem jurídica vigente, objetiva adquirir, resguardar, transferir, modificar ou
extinguir direito.
Com efeito, o ato jurídico perfeito a que se refere o art. 5º XXXVI da CF/88 diz
respeito ao ato que se aperfeiçoou em período anterior a uma lei que, para não ser
retroativa, não pode alcançá-lo, nem aos seus efeitos futuros. Está, pois, esse con-
ceito ligado ao direito intertemporal.
CAPÍTULO VIII
O ato jurídico, portanto, constitui-se de uma declaração de vontade, que visa obter
um resultado. Hoje, pela doutrina moderna, esta declaração de vontade denomina-
se negócio jurídico.
1102
Promotorias de Justiça
to jurídico assentam então na vontade, não uma vontade qualquer, mas aquela que
atua em conformidade com os preceitos ditados pela ordem legal. E tão relevante
é o papel da vontade na etiologia do negócio jurídico, que se procura identificar a
sua própria idéia conceitual com a declaração de vontade, erigindo-se, desta forma
a sua definição.
A lei não pode retroagir, pois os vencimentos e/ou proventos da inatividade preexis-
tentes, porquanto pactuados de acordo com as leis vigentes à época, configuram
um ato jurídico perfeito.
A propósito, vale a pena transcrever as lições do saudoso Caio Mário da Silva Pe-
reira178, ao aderir à cátedra de Pontes de Miranda também registra que a regra que
declare nula ou anule comando legal pretérito, não poderá ter efeito retroativo, em
razão do suporte fático-jurídico que regia ao tempo em que se deu a incidência da
lei velha (tempus regit factum):
Vejo que se por absurdo não prevalecer a tese alhures, outros argumentos devem
vir a balha, cujos fundamentos, não obstante singelos, dão cabo à conduta teratoló-
gica perpetrada pelo Estado.
Ora, evidente, como afirmado suso, que vantagens pessoais que se incorporaram
em data pretérita ao patrimônio jurídico do autor do benefício a que faz jus a impe-
178
In: Instituições de Direito Civil. v. I. p. 105.
1103
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
trante, não podem ser afetadas pela Emenda nº 41/03, ainda que o quantum dos
proventos somente tenha ultrapassado o teto estadual após a discutida alteração
constitucional.
Desse molde, defeso alterar a situação jurídica da impetrante – mesmo que conso-
lidada em momento superveniente ao advento de novel e írrito excerto magno (ou
diploma ordinário estadual nele inspirado) – sob pena de se admitir, embora reco-
nhecida, no âmbito jurisdicional ordinário derradeiro, a manutenção da teratologia
perpetrada em desfavor da autora.
Sim, evidente que a autora continuaria a ser penalizada com a incúria da administra-
ção, desta feita com espeque na Lei nº 15.013/2004. Pensar e agir de outro modo,
certamente ensejará (ou, melhor, perdurará o) locupletamento ilícito do Estado em
detrimento de determinada pensionista.
1104
Promotorias de Justiça
AUTOS Nº 004.776-8
MM. JUIZ:
Relata o autor que pretende participar do concurso público para o Curso Técnico em
Segurança Pública, da Força Pública estadual. Entrementes, relata que ao buscar
inscrever-se no referido certame, semelhante pretensão restou obstada pelas au-
toridades policiais militares sobreditas, ao aviso de que ultrapassara a idade limite
fixada em edital.
O recurso de apelação aviado pelo autor (fls. 51/2) logrou provimento, mediante
decisão relatada pelo em. Des. Fernando Bráulio (fls. 115/9). Proferido o despacho
de fls. 124/5, compareceram aos autos as duas primeiras autoridades impetradas
(fls. 137/44, 146/54). Assinalam, após suscitarem preliminares, que o limite etário,
CAPÍTULO VIII
inscrito na Lei nº 5.301/69 (art. 5º, III, “a”, nº 3) encontra guarida nos cânones dos
arts. 37, I e II, e 142, § 3º, VIII e X, além do art. 42, § 1º, da vigente Constituição Fe-
deral. Apontam, também, a exigência contida no item 3.1., “d”, do edital do certame,
cujo cânon informa as datas de nascimento – máxima e mínima – como condição
ou requisito para a inscrição no mencionado certame público.
É o breve relatório.
1105
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Pelo teor das informações, vislumbra-se que o concurso (em suas fases subse-
qüentes) teve o seu andamento regular sem a participação do autor (fls. e encerra-
do em 7/12/07 – fls. 139). Efetivamente, indeferida a liminar, o certame teve desate,
situação que provoca a perda e objeto desse mandamus. Com efeito, tem-se por
exaurida a pretensão formulada na exordial, não havendo pedido alternativo, objeti-
vando uma possível reserva de vagas ou mesmo inclusão em concurso posterior.
Sobre o assunto:
1106
Promotorias de Justiça
Urge salientar que mencionada disposição não foi revogada ou sequer modificada
por qualquer legislação superveniente. Analisando essa condição, não vejo como
prevalecer, em prol do autor, qualquer argumento, situação pessoal ou quiçá norma
magna específica (ao contrário). Tenho que a pretensão do autor esbarra em severo
óbice, visto que as regras alinhavadas no art. 7º, XXX, da vigente Constituição Fe-
deral, admitem exceções, e os servidores militares encontram-se jungidos à regra
especial do § 9º do art. 42, da mesma Carta Republicana.
CAPÍTULO VIII
1107
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1108
Promotorias de Justiça
179
“[...] as discriminações são recebidas como compatíveis com a cláusula igualitária apenas e tão-
somente quando existe um vínculo de correlação lógica entre a peculiaridade diferencial acolhida por
residente no objeto, e a desigualdade de tratamento em função dela conferida, desde que tal correlação
não seja incompatível com interesses prestigiados na Constituição” (MELLO, Celso Antônio Bandeira de.
In: Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3 ed. Malheiros, 2001. p. 17).
1109
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1110
Promotorias de Justiça
Com efeito, a norma que trata dos servidores policiais militares no âmbito federal
(Decreto nº 92.577/86 – art. 34, § 2º), bem recepcionada pela Constituição Federal
vigente e o ordenamento jurídico estadual (Lei nº 5.301/69), antes de permitir ou fa-
CAPÍTULO VIII
1111
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Contudo, tenho que as regras magnas alhures discriminadas, devem ser analisadas
e enfeixadas entre si, de molde a fornecer, em derradeira análise, o máximo de efici-
ência à administração pública (mormente em sede de servidores da Força Pública,
como destacam as decisões que acolhem o estabelecimento de limite etário para
ingresso nos quadros militares).
Aliás, admoesta com precisão o ínclito Min. José de Jesus Filho, verbis:
Edital que fixa idade limite para o ingresso na corporação, o que a Lei ordinária (Lei nº 7.289/84), não
restringiu. Jurisprudência assentada. Ausência de razões novas. Decisão mantida. Agravo regimental
improvido - RE-AgR 307112 / DF - DISTRITO FEDERAL AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
- Relator(a): Min. CEZAR PELUSO Julgamento: 02/05/2006 - Órgão Julgador: Primeira Turma
181
APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE SEGURANÇA - CONCURSO PÚBLICO PARA INGRESSO NA
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS - EXIGÊNCIA DE IDADE MÁXIMA DE 30 ANOS
- REQUISITO DISCRIMINATÓRIO E ARBITRÁRIO - VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL - SENTENÇA MAN-
TIDA. 1 - A exigência editalícia de que o candidato tenha no máximo 30 anos de IDADE, para concorrer
ao cargo de AUXILIAR de SAÚDE da polícia militar de Minas Gerais revela-se contrária à nova ordem
constitucional, na medida que tal restrição só ganha validade quando constituir requisito indispensável em
CAPÍTULO VIII
1112
Promotorias de Justiça
tormentoso ainda mais se for visto à luz do art. 3o, item IV, da
Lei Maior [...].
MM. JUIZ,
1113
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
jurídica, ainda que integre eventual grupo econômico de que faça parte; que o que
está demonstrado é que a impetrante adquiriu, contratualmente e por meios lícitos,
a tecnologia de construção, que é o conhecimento técnico-científico do qual era de-
tentora outra empresa, não estando demonstrado que a impetrante tem experiência
concreta na execução das tarefas que foram elencadas no edital, item 7.1.16, de
organização e arregimentação de elementos, pessoas e materiais.
1114
Promotorias de Justiça
Argumenta que em 7 de abril de 1998 foi aprovada a incorporação dos bens per-
tencentes a Mendes Júnior Engenharia S/A, Mendes Júnior Montagens e Serviços
Ltda. e Mendes Júnior Empreendimentos Ltda., ao capital da Mendes Júnior Tra-
CAPÍTULO VIII
1115
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Já o impetrado alega que o que está demonstrado é que a impetrante adquiriu, con-
tratualmente e por meios lícitos, a tecnologia de construção, que é o conhecimento
técnico-científico do qual era detentora outra empresa, não estando demonstra-
do que a impetrante tem experiência concreta na execução das tarefas que foram
elencadas no edital, item 7.1.16, de organização e arregimentação de elementos,
pessoas e materiais.
Com efeito, é sabido que o procedimento licitatório é integrado por atos e fatos da
administração, que abre a todos os interessados, que se sujeitam às condições fixa-
das no instrumento convocatório, a possibilidade de formularem propostas, dentre
as quais a administração pública selecionará a mais conveniente para a celebração
do contrato. Certo é que o procedimento licitatório rege-se pelo princípio da legali-
dade, estando vinculado à Lei nº 8.666/93, que disciplina rigorosamente todas as
fases do procedimento, bem como ao edital, que é a lei interna da licitação.
A fase de habilitação é reservada para a abertura dos envelopes, contendo os docu-
mentos exigidos no edital, indicados no art. 27 da Lei nº 8.666/93, podendo se referir
somente à habilitação jurídica, qualificação técnica, qualificação econômico-finan-
ceira e regularidade fiscal. Nos dizeres de HELY LOPES MEIRELLES, em sua Obra
Direito Administrativo Brasileiro, 16 ed. 2ª tiragem. São Paulo: Malheiros. p. 266:
1116
Promotorias de Justiça
No entanto, da análise dos documentos acostados aos autos, constata-se que hou-
ve incorporação de acervos técnicos das empresas Mendes Júnior Engenharia S/
A, Mendes Júnior Empreendimentos Ltda. e Mendes Júnior Montagens e Serviços
Ltda. pela ora impetrante, sendo que todas as empresas são participantes de um
mesmo grupo econômico, controladas pela Mendes Júnior Participações S/A.
Constata-se mais que a incorporação dos acervos técnicos das empresas supra-
mencionadas foi registrada na Junta Comercial e aceita pelo CREA, razão por que,
conforme bem exposto pela Professora CARMEM LÚCIA ANTUNES ROCHA, no
parecer acostado às fls. 489/505, a impetrante
1117
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Diante do exposto e do mais que dos autos consta, o Ministério Público, através
de sua Promotora de Justiça em exercício perante este r. Juízo, manifesta-se pela
concessão da segurança.
MM. JUIZ,
Alega, em síntese, que em 23/06/2004 a impetrada instaurou contra si, através dba
Portaria 86/2004, processo administrativo “objetivando apurar o possível descum-
primento dos deveres previstos no art. 216, incisos V, VI e VIII, e possível infringên-
cia aos ilícitos previstos no art. 217, inciso II, 245 e parágrafo único, 246, incisos I
e III, e 250, inciso III, da Lei nº 869/52”; que elaborou sua defesa em relação a tais
imputações, mas acabou sendo punido por argumento novo, “criado pela comissão
processante no momento da elaboração do relatório”, do qual não teve oportuni-
dade de defender-se especificadamente, qual seja, descumprimento ao dever de
discrição, previsto no art. 216, III, da Lei nº 869/52; que o fundamento utilizado pela
CAPÍTULO VIII
comissão processante foi o de que o art. 383 do CPC, que permite dar ao fato uma
definição jurídica diversa daquela inicialmente proposta, e o de que a infração pre-
vista no inciso III do art. 216 está implícita no inciso VI do mesmo artigo legal; que,
no entanto, não foi aberto novo prazo para se defender contra tal imputação, o que
afronta o direito à ampla defesa; que, ademais, se foi punido porque descumpriu o
dever de discrição, não poderia lhe ser aplicada a pena de suspensão, pelo prazo
de noventa dias, mas tão-somente a pena de repreensão, tendo em conta o dispos-
to no art. 245 da Lei nº 869/52, e tendo em conta ainda não ter sido constatado, pela
1118
Promotorias de Justiça
comissão processante, dolo ou má-fé de sua parte; que o mesmo raciocínio se apli-
ca ao inciso VI do art. 216 da Lei nº 869/52, no qual estaria implícito o inciso III, se-
gundo a impetrada, que classificou a falta como grave, usando o critério subjetivo de
considerar os transtornos supostamente decorrentes da aludida falta; que, ademais,
os deveres elencados no art. 216 não constituem, de forma alguma, transgressões
da mesma natureza e severidade daquelas capituladas nos incisos do art. 246,
não podendo um fato ser enquadrado concomitantemente como descumprimento
de dever funcional e falta grave, sob pena de se considerar duas penalidades para
um mesmo fato; que, lado outro, a impetrada não justificou porque teria majorado a
penalidade sugerida pela comissão processante, de 30 para 90 dias de suspensão.
Requereu a concessão da segurança para o fim de revogar o ato administrativo
que culminou com o decreto condenatório contra si, e “reenquadrar a penalidade
aplicável em decorrência do evento danoso para repreensão, como determina o
art. 245, caput, da Lei Estadual nº 869/52”, e, alternativamente, para revogar o ato
administrativo que culminou em seu decreto condenatório “e determinar que a au-
toridade apontada como coatora profira nova decisão, desta feita fundamentando a
dosimetria da penalidade aplicável, levando em consideração a atenuante reconhe-
cida no inciso V, do item 11.3, do relatório que lhe foi encaminhado pela comissão
processante”.
A autoridade apontada como coatora foi devidamente notificada às fls. 65/66; às fls.
68 encontra-se acostado ofício procedente do e. Tribunal de Justiça, acompanhado
dos documentos de fls. 69/144, dando conhecimento da decisão proferida no man-
dado de segurança impetrado contra a r. decisão indeferitória da liminar.
1119
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
vencimentos.
Manifestamo-nos pela rejeição de tal preliminar, pois o ato contra o qual se insurge
o impetrante foi praticado pela impetrada, e a concessão da segurança não atinge
nenhum interesse jurídico do DER/MG, já que, sendo o impetrante servidor da alu-
dida autarquia, a presença dele em suas dependências, bem como o recebimento
dos vencimentos, são decorrentes do vínculo existente entre o impetrante e o DER/
MG, nos termos da lei, não importando em nenhum ônus extra para dita autarquia a
1120
Promotorias de Justiça
Alegou ainda a impetrada não existir prova do direito líquido e certo alegado. No en-
tanto, data venia, entendemos que a análise da existência ou não do direito líquido
e certo, na ação mandamental, é matéria que concerne ao próprio mérito da ação e
como tal será analisada.
Argumenta a impetrada não ser cabível mandado de segurança contra ato discipli-
nar.
Com efeito, o art. 5º, inciso III, da Lei nº 1.533/51 prescreve que:
Art. 5º - Não se dará mandado de segurança quando se tratar:
III - de ato disciplinar, salvo quando praticado por autoridade in-
competente ou com inobservância de formalidade essencial”.
1121
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Com efeito, da análise do processo administrativo juntado aos autos pelo impetran-
te, constata-se que a Portaria de instauração do dito processo administrativo não
mencionou fatos, mas sim possível descumprimento dos deveres previstos no art.
216, incisos V, VI e VIII, e possível infringência aos ilícitos previstos nos arts. 217,
inciso II, 245 e parágrafo único, 246, incisos I e III, e 250, inciso III, da Lei nº 869/52,
que estão sujeitos às penalidades previstas no art. 233, inciso I ou III ou VI, do ci-
tado diploma legal.
missão de Inquérito.
- O inquérito administrativo disciplinar instaurado para apuração
da prática de ilícito administrativo mediante Portaria que não
contém a descrição dos fatos imputados ao servidor público
contém grave vício de nulidade, porque afronta os princípios do
contraditório e da ampla defesa.
- Recurso ordinário provido.
1122
Promotorias de Justiça
sucinta dos fatos, melhor dizendo, não consta uma palavra sobre os fatos a serem
apurados, menciona apenas as infrações a serem punidas, tratando-se de nulidade
insanável, da qual decorre grande prejuízo, como o que ocorreu in casu, data venia,
conforme se demonstrará.
No entanto, conclui ainda a comissão processante que, apesar de não ter restado
provado que o impetrante forneceu cópia de um memorando ao advogado Joel Re-
zende Júnior, que o juntou a um processo judicial, dito memorando chegou às mãos
do advogado Joel Rezende porque o impetrante, hipoteticamente, deixou sobre sua
mesa cópia “de alguma versão anterior” ou “impressão dessa versão que se encon-
CAPÍTULO VIII
trava em rede”, não agindo, portanto, com a discrição necessária, o que caracteriza
infração prevista no art. 216, III, da Lei nº 869/52.
1123
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Ora, data venia, não há se falar em aplicar ao fato definição jurídica diversa da
inicialmente proposta, pois, conforme já dito, a Portaria inaugural do processo admi-
nistrativo disciplinar não se referiu a nenhum fato, e, ademais, nem mesmo no ofício
dirigido ao Sr. Procurador-Geral do Estado, pela Dra. Ana Paula Muggler Rodarte,
Dr. Sérgio Timo Alves, Dra. Liana Portilho Mattos e Dr. Marco Túlio Caldeira Gomes,
ilustres Procuradores do Estado, consta o fato pelo qual o impetrante acabou sendo
punido.
Não se está aqui a analisar o mérito do ato administrativo, mas sim a legalidade do
ato que puniu o impetrante, no bojo de um processo administrativo disciplinar.
A se admitir tal situação, com base em um dispositivo legal que prevê uma infração
específica, pode o processado administrativamente ser punido por qualquer fato
que a comissão processante e a autoridade responsável pela punição venham a
CAPÍTULO VIII
1124
Promotorias de Justiça
Ressalte-se que “...o pedido não deve ser extraído apenas do capítulo da petição
especificamente reservado para os requerimentos, mas da interpretação lógico-sis-
temática das questões apresentadas pela parte ao longo da petição.” (STJ-AgRg
no Resp 511670/MG, Relator Min. Franciulli Netto, 2ª Turma, DJ 08/08/2005, pág.
240).
Diante do exposto, e do mais que dos autos consta, o Ministério Público, através
de sua Promotora de Justiça em exercício neste r. Juízo, manifesta-se pela rejeição
da preliminar aduzida pela autoridade apontada como coatora, e, no mérito, pela
concessão da segurança, para o fim de reconhecer a nulidade do ato administrativo
impugnado.
Processo nº 024.04.257.274-3
MM. juiz:
Otávio de Abreu Portes impetra Mandado de segurança Preventivo contra ato imi-
nente do Diretor de Contagem de Tempo e Aposentadoria da Secretaria de Estado
CAPÍTULO VIII
1125
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Liminar indeferida às fls. 43/46, sob alegação de ausência de fumaça do bom direi-
to.
Que a renúncia é ato de vontade, que consiste na extinção dos efeitos do ato ante
a rejeição pelo beneficiário de uma situação jurídica favorável de que desfrutava em
consequência daquele ato182. Logo, é um ato unilateral, uma vez que consiste na
182
MELO, Celso Antônio Bandeira de, Curso de Direito Administrativo. 11 ed. São Paulo: Malheiros.
p. 320.
1126
Promotorias de Justiça
Aposentadoria, por sua vez, é o direito de receber proventos nos termos e condi-
ções estatuídas no art. 40 da Constituição Federal, em decorrência de contribuição
efetivada, quando na atividade, ao sistema previdenciário vigente. Portanto, revela
natureza patrimonial e, portanto, disponível.
Logo, com as premissas retro esposadas, pode-se concluir que, sendo disponíveis
os benefícios decorrentes da aposentadoria, o cidadão titular desses benefícios
poderá renunciá-los, independentemente da aquiescência do Estado, quando lhe
convier.
Quanto aos efeitos do exercício da renúncia, por princípio geral de direito, é certo
que deverão surtir após a postulação da mesma, permanecendo a condição de apo-
sentado, no período anterior à renuncia da aposentadoria, visto que lícito e legítimo
o ato da aposentação, não passível de invalidação.
183
FRANÇA, R. Limongi. Instituições de Direito Civil. 5 ed. São Paulo: Saraiva. p. 114.
184
MELO, Celso Antônio Bandeira de, Curso de Direito Administrativo. 11 ed. São Paulo: Malheiros.
p. 222.
1127
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por fim, o tempo de serviço prestado é patrimônio do impetrante, sendo direito seu
a obtenção de documento público certificando-lhe que o utilize ou não, conforme
queira.
Se o tempo de serviço prestado poderá ou não ser utilizado em outro sistema, como
adianta o autor ser sua pretensão futura, não é objeto do presente mandamus.
É que, salvo melhor juízo, nestes autos, a análise da existência ou não de direito à
averbação do tempo de serviço como Defensor Público para ingresso em outro sis-
tema previdenciário que, aliás, sequer restou afirmado lhe tenha sido negado esta
averbação, extrapola os limites do pedido e da relação processual formada.
1128
Promotorias de Justiça
1129
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Processo nº 01.006.761-9
Mandado de Segurança Coletivo
MM. Juiz:
Fundamenta o pedido alegando que apesar de que a competência para legislar so-
CAPÍTULO VIII
bre produção e consumo seja concorrente da União e Estados, nos termos do art.
24 da Constituição Federal, há Lei Federal nº 8974/95, que dispõe sobre as normas
gerais. A competência dos municípios é apenas suplementar, de forma a regula-
mentar em face das peculiaridades locais – art. 30, I e II, da Constituição Federal.
Instruíram a inicial os documentos de fls. 30/86.
Liminar deferida às fls. 88/90 para o fim de suspender os efeitos concretos da Lei
Municipal nº 8.111, de 9 de novembro de 2000.
1130
Promotorias de Justiça
1 – Preliminarmente:
I – Da Ilegitimidade Passiva:
O impetrado arguiu ilegitimidade passiva da Câmara Municipal de Belo Horizon-
te, porque cumpriu o dever de legislar obedecendo ao processo legislativo e que
não há nenhum ato seu ameaçando direito do impetrante, que não pode praticar
qualquer ato para o fim de deixar de atribuir efeitos àquela lei regularmente votada
e aprovada e nem mesmo declarar sua nulidade. Acresce que a lei destina-se ao
órgão administrativo, quem poderá praticar atos.
Efetivamente, com razão o impetrado, salvo melhor juízo, visto que aos administra-
dores, primeiramente, destina-se a lei e, portanto, o administrador é que poderia ter
sido indicado como autoridade que poderia estar ameaçando lesar ou lesando direi-
CAPÍTULO VIII
tos líquidos e certos do impetrante, sob o pálio da Lei que considera ora inconstitu-
cional. A ordem judicial destina-se ao administrador para que faça ou deixe de fazer
o ato considerado lesivo e ilegal. Como não foi o administrador a autoridade tida
como coatora, a liminar deferida não interferiu no mundo jurídico concretamente,
visto que o Prefeito Municipal não recebeu nenhuma determinação judicial para que
deixe de cumprir a lei ora atacada. Portanto, os alimentos podem ser apreendidos
pela sua fiscalização, sob alegação de cumprimento da lei em vigor.
1131
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
É diferente quando é aplicado o texto legal, surgindo uma situação concreta, quan-
do então poderá ser levantada a argüição de inconstitucionalidade, incidenter tan-
tum, em Mandado de Segurança visando atacar a situação concreta, os efeitos de
determinada lei.
Neste sentido, apenas para ilustrar, merecem ser trazidas algumas das reiteradas
decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal quanto ao não-cabimento de
Mandado de Segurança contra lei em tese, que desaguou na Súmula 266 - Não
cabe mandado de segurança contra lei em tese. (Referência: C. F., art. 141, § 24;
CAPÍTULO VIII
185
STF – AGRMS 20.797 – DF – T.P. – Rel. Min. Djaci Falcão- DJU 01.07.1988
1132
Promotorias de Justiça
Ora, a lei como qualquer ato normativo, em sentido material, ostenta características
de generalidade, impessoalidade e abstração, não tendo, portanto, operatividade
imediata, necessitando, para a sua individualização, da expedição de ato adminis-
trativo.
1133
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O impetrante não trouxe aos autos prova da expedição de ato administrativo de-
monstrando que a norma está sendo operada, apenas fez juntar simplória notícia
jornalística de que os alimentos estão sendo apreendidos pela fiscalização –fls. 68,
onde não se tem a certeza da existência do ato. Poderia, se realmente está haven-
do lesão, ter acostado aos autos os autos de apreensão ou similares. No entanto,
não o fez.
Por fim, tanto que se trata, in casu, de Mandado de Segurança contra lei em tese
que o impetrante apontou como autoridade coatora a Câmara Legislativa e não o
Prefeito ou seus fiscais.
Logo, não há provas sequer da existência de ato concreto lesivo ou ameaçador dos
CAPÍTULO VIII
direitos do impetrante.
Desta forma, entende o Ministério Público que o impetrante é carecedor da ação por
ilegitimidade passiva da autoridade apontada como coatora e pela impropriedade
do Mandado de Segurança para invalidar ou suspender efeitos da Lei Municipal nº
8111/00, visto que ela tem efeitos gerais, abstratos, não concretos, por depender de
ato administrativo, em que o remédio próprio seria a ação direta de inconstituciona-
1134
Promotorias de Justiça
lidade.
2 – Do Mérito:
186
SOARES, Sônia Barroso B. Temas de Biodireito e Bioética. Renovar, 2001. p.321.
187
LEITE, Marcelo. Os alimentos Transgênicos. São Paulo: Publifolha, 2000. p 36.
1135
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1136
Promotorias de Justiça
pedindo ao final:
1) que a CTNBio seja obrigada a elaborar as normas relativas à
segurança alimentar, rotulagem e comercialização dos transgê-
nicos, devendo estas normas estarem adequadas ao Código de
Defesa do Consumidor e à Constituição Federal;
2) que a CTNBio se abstenha de emitir parecer técnico conclu-
sivo a qualquer pedido (inclusive o pedido da Monsanto que
recebera parecer favorável da CTNBio em 29/09/98) antes de
elaborar as referidas normas;
3) que a CTNBio seja obrigada a exigir da Monsanto e de outras
empresas (já existem dezenas de pedidos aguardando para se-
rem apreciados pela CTNBio) o Estudo de Impacto Ambiental
antes de emitir parecer técnico conclusivo.
1137
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Desta forma, verifica-se que o inciso XIV do Decreto nº 1752/95, que regulamentou
a Lei nº 8.974/95 foi judicialmente declarado inconstitucional, visto que deixava ao
arbítrio da CTNBIO exigir ou não o Estudo de Impacto Ambiental e o respectivo
relatório, bem como foi condenada a União a exigir da CTNBio, no prazo de no-
venta dias, a elaboração de normas relativas à segurança alimentar, comercializa-
ção e consumo dos alimentos transgênicos, em conformidade com as disposições
vinculantes da Constituição Federal, do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº
8.078/90) e da legislação ambiental.
Como se verifica, a União está omissa e/ou negligente quanto ao tema e é de suma
importância social o pedido do impetrante, diante do seu reflexo para a saúde da
comunidade local. Logo, pode-se afirmar que a questão é de interesse local, em que
o poder público municipal tem o dever de se posicionar de forma a evitar danos ir-
reparáveis ao meio ambiente e aos consumidores, que nem sabem se o que conso-
mem contém ou não organismo geneticamente modificado, já que essa informação
não é ofertada pelo fornecedor, fabricante ou importador do alimento e nem há uma
normatização pelo poder público federal, de forma a resguardar a sociedade.
O interesse local é aquele que repercute na vida dos cidadãos locais de forma que
a omissão do poder público pode acarretar danos irreparáveis à vida, saúde e se-
gurança das pessoas.
CAPÍTULO VIII
1138
Promotorias de Justiça
1139
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Como alerta Cláudia Lima Marques189, nesse contexto, qualquer prerrogativa que
desequilibre, contra o consumidor, a relação estabelecida com o fornecedor, é in-
constitucional.
189
MARQUES, Cláudia Lima et al. Saúde e Responsabilidade: seguros e planos de assistência privada
à saúde. São Paulo: Revista dos Tribunais. p. 75.
1140
Promotorias de Justiça
O §1º, por sua vez, atribui aos três entes políticos – incluindo,
portanto, os Municípios – competência para fiscalizar e controlar
o fornecimento de bens ou serviços, no interesse da preserva-
ção da vida, saúde, segurança, informação e bem-estar do con-
sumidor, baixando as normas que se fizerem necessárias.
Acresce que “nesta passagem, o dispositivo tanto faz alusão às
CAPÍTULO VIII
190
Zelmo Denari, Código de Defesa do Consumidor. Forense, 5 ed. p.468.
191
idem.
1141
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
e quando a União edita normas gerais legisla para os legisladores, não para os
súditos da nação192”.
Desta forma, a União outorgou à sociedade o Código de Defesa do Consumidor
como norma geral de produção e consumo, aplicável ao fornecimento de produtos
transgênicos.
Concluindo, entende o Ministério Público que:
1) Município de Belo Horizonte tem competência constitucional e infraconstitucional
para legislar sobre questões interesse público local;
2) a produção e comercialização de produtos contendo OGMs é de interesse do
consumidor local, porque trata-se da proteção à vida e saúde, ante a incerteza cien-
tífica dos seus benefícios e malefícios à saúde a curto e longo prazo;
3) o Código de Defesa do Consumidor é a Lei Federal que estabelece normas ge-
rais de produção e consumo - art. 24, V, da CF, que autoriza o município a fiscalizar
e controlar a produção, industrialização e distribuição de produtos e serviços e o
mercado de consumo no interesse da preservação da vida, da saúde, da seguran-
ça, da informação e do bem-estar do consumidor, podendo baixar as normas que
se fizerem necessárias;
4) a única Lei Federal existente sobre OGM visa tão-somente resguardar o Meio
Ambiente – Lei nº 8974/95 (como depreende-se de sua ementa), esquecendo-se
do Consumidor;
5) a Lei nº 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor é hierarquicamente supe-
rior à Lei nº 8.974/95, pelo status constitucional que possui e por regular um direito
fundamental do cidadão – art. 5º, inciso XXXII, CF/88.
6) as disposições da Lei nº 8.974/95 ainda não são suficientes para resguardar a
vida e saúde do consumidor, bem como o meio em que vive e, portanto, de consti-
tucionalidade duvidosa, diante da delegação do poder normativo a uma comissão
técnica, sem o mínimo de parâmetros e limites, com outorga de poderes que ofen-
dem o Código de Defesa do Consumidor;
7) é de competência comum dos entes públicos a promoção e proteção da saúde do
cidadão, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução
CAPÍTULO VIII
Desta forma, não restou demonstrado pelo impetrante que a Lei Municipal nº
192
idem.
1142
Promotorias de Justiça
8.111/2000 constitui ofensa a direito do impetrante e, muito menos, que este pre-
tenso direito seja líquido e certo, que na conhecida lição do Mestre Helly Lopes
Meirelles193, é aquele que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na
sua extensão e apto a ser exercitado no momento de sua impetração.
Meritíssimo Juiz:
1143
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
É o relatório, do essencial.
1144
Promotorias de Justiça
Desta forma, coube à Lei complementar 87/96, regulamentando o art. 146, inciso III,
alínea “a”, da Constituição Federal, disciplinou que o ICMS incide sobre prestações
onerosas de serviços de comunicação, por qualquer meio, inclusive a geração, a
emissão, a recepção, a transmissão, a retransmissão, a repetição e a ampliação de
comunicação de qualquer natureza, por qualquer processo, ainda que iniciada ou
prestada no exterior (art. 13, inciso III).
Partindo da premissa de que lei deve estabelecer o fato gerador, de forma que o
tipo contenha claramente operações que constituam o fato gerador e que não seja
permitido o uso da analogia, torna-se imprescindível analisar o artigo supracitado
de forma a aferir se o serviço que o provedor de internet presta está ou não enqua-
drado dentre uma ou mais das operações contidas como elementares do tipo do art.
13, inciso III, da Lei Complementar nº 87/96.
De início pode-se afirmar que somente a operação onerosa é fato gerador do ICMS.
Logo, se o usuário não efetua pagamento ao provedor, a operação não é fato gera-
dor do ICMS. O que não é o caso dos autos, pelo que consta dos autos.
res com esses dados, com informações e compartilhá-lo com outros computadores
espalhados pelo mundo, desde que conectados a uma rede telefônica, ou empresa
prestadora de serviço de telecomunicação, podendo fazê-lo gratuitamente ou de
forma onerosa com a inscrição de assinantes que pagam mensalidades.
Em seguida, ainda analisando o art. 13, inciso III, da Lei Complementar nº 87/96, ve-
rifica-se que ela traça como fato gerador a prestação de serviços de comunicação.
Resta saber se a atividade desenvolvida pelo provedor é ou não uma prestação de
serviço de comunicação. Comunicação, segundo Dicionário Aurélio, é o processo
1145
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
E, a citada Lei Geral das Comunicações, nos parágrafos do mesmo art. 60, define o
que é Telecomunicação e o que é Estação de Telecomunicação:
Desta forma, verifica-se que o provedor não realiza telecomunicação e não é uma
estação de telecomunicação, já que apenas processa dados, organiza, agrupa as
informações e somente pode disponibilizá-las a outros computadores se estiverem
conectados com empresa prestadora de serviço de telecomunicações ou de te-
lefonia. Isto é, mesmo sendo os seus computadores dotados de um modem, são
eles incapazes de transmitir qualquer mensagem, porque esses aparelhos não são
destinados a gerar, emitir, transmitir ou recepcionar comunicações de um ponto a
outro.
Logo, a atividade que desempenha o provedor de internet não está tipificada no art.
13, inciso III, da Lei Complementar nº 87/96 e pelo princípio da reserva legal e tipici-
dade cerrada, não pode constituir fato gerador do ICMS, sendo ilegal a Lei Ordinária
Estadual ou Decreto que instituir o imposto para essas prestações de serviço.
CAPÍTULO VIII
1146
Promotorias de Justiça
PROCESSO nº 06.193.704-1
4ª VARA DOS FEITOS TRIBUTÁRIOS
Meritíssimo Juiz:
CAPÍTULO VIII
1147
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
É o relatório, do essencial.
A lei brasileira (Lei nº 6.099/74, alterada pela Lei nº 7.132/85) define o leasing finan-
ceiro ou arrendamento mercantil da seguinte forma: “considera-se arrendamento
mercantil, para efeitos desta lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica,
na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrenda-
tária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora,
segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta.”
1148
Promotorias de Justiça
Poderia afirmar que sim, que há fato gerador na operação mercantil, pela leitura
pura e simples do art. 155, § 2º, IX, “a”, da CF/88, especialmente após a alteração
promovida pela Emenda Constitucional nº 33/2001, que dispõe que o ICMS incide:
Entretanto, mister não esquecer o comando do inciso XII do mesmo art. 155 da
Carta Magna, visto que determina que competirá à Lei Complementar:
Por sua vez, a atual Lei Complementar nº 87/96, apesar de estatuir no art. 2º, inciso
I que incidirá o ICMS sobre a entrada de mercadoria ou bem importados do exterior,
por pessoa física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte habitual do imposto,
qualquer que seja a sua finalidade (Redação dada pela LC nº 114, de 16/12/2002),
é clara em seu art. 3º, inciso VIII, ao estabelecer que:
1149
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Desta forma, somente haverá o fato gerador do ICMS, salvo melhor juízo, se houver
a circulação econômica, ou seja, após a transferência de domínio, quando o arren-
datário exercer a opção de compra ao final, ocasião em que, então, deverá promo-
ver o recolhimento do tributo estadual, na modalidade do auto-lançamento.
1150
Promotorias de Justiça
Ademais, como bem lembrado pelo nobre julgador Cláudio Santos, Ministro do Su-
perior Tribunal de Justiça195:
Enquanto não houver a transferência de domínio, será devido o ISSQN, tributo mu-
nicipal, já que a operação de arrendamento mercantil encontra-se hoje incluída na
lista de serviços editada pela Lei Complementar nº 56/87.
É o parecer.
195
LEASING - QUESTÕES CONTROVERTIDAS, Publicada na RJ nº 223 - MAI/96, p. 5.
1151
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
MM. Juiz,
É o relatório, à fundamentação.
Sobredita alteração constitucional deu nova dicção ao art. 40 da CF/88, que passou
1152
Promotorias de Justiça
Daí porque vem a lume a idéia de tributo causal, uma vez presente a contrapres-
CAPÍTULO VIII
tação pelas despesas que o ente público deverá arcar em relação ao contribuinte,
fundando-se tudo no princípio da equivalência. Portanto, não é difícil concluir que
a contribuição previdenciária é a contraprestação pelo benefício previdenciário que
o órgão público arrecadador, em momento oportuno, tem que conceder ao contri-
buinte. Ora, se o cidadão já alcançou o ócio com dignidade, tendo completado toda
a sua carga de trabalho, não há como sustentar-se a cobrança de contribuição
previdenciária, que teria como fundamento fatos passados, causa ilegítima para a
exação.
1153
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Em uma visão míope, poder-se-ia argumentar que a proibição contida no art. 5º,
XXXVI, CF/88, não tem aplicação quando a violação sobrevier de emenda cons-
titucional. Todavia, não se pode olvidar que a proteção ao direito adquirido, ao ato
jurídico perfeito e à coisa julgada qualificam-se entre os direitos e garantias indivi-
duais. Ora, ex vi do art. 60, § 4º, CF/88, não será objeto de deliberação a proposta
de emenda tendente a abolir: IV – os direitos e garantias individuais.
CAPÍTULO VIII
Por acaso, algum jurista poderia conceber que futura emenda constitucional vedas-
se a apreciação de certos atos administrativos, ainda que teratológicos, pelo Poder
Judiciário, invocando-se a literalidade do art. 5º, XXXV, CF/88?
1154
Promotorias de Justiça
Não obstante tais reflexões, esposadas inclusive pelos Ministros Marco Aurélio,
Celso de Melo, Ellen Gacie e Carlos Ayres Britto, em recente decisão plenária, to-
mada em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pela CONAMP, a
Suprema Corte decidiu pela constitucionalidade da contribuição previdenciária dos
inativos, conforme amplamente divulgado pela mídia (doc. anexo).
Assim, uma vez proferida a decisão pelo STF, haverá uma vin-
culação obrigatória em relação a todos os órgãos do Poder Exe-
cutivo e do Poder Judiciário, que deverão pautar o exercício de
sua funções na interpretação constitucional dada pela Corte Su-
prema, afastando-se, inclusive, a possibilidade de controle difu-
so por parte dos demais órgãos do Poder Judiciário (In: Direito
Constitucional. 10 ed. São Paulo: Atlas. p. 616).
Lado outro, cumpre registrar que o Supremo Tribunal Federal elevou o chamado
teto previdenciário, entendendo inconstitucionais as expressões 50% do e 60% do,
constantes nos incisos I e II, parágrafo único, do art. 4º da Emenda Constitucional
nº 41/03. Todavia, embora tenhamos que admitir, com fincas nesse novel entendi-
CAPÍTULO VIII
1155
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Mercê de tais considerações, estando os autores amparados pela res judicata, não
tendo a Municipalidade editado nova legislação em harmonia com a Emenda Consti-
tucional nº 41/03, o parecer Ministerial é pela concessão da segurança pretendida.
1156
Promotorias de Justiça
Não se justifica que semelhante ato seja combatido, de forma individual, abarrotan-
do o Judiciário com demandas absolutamente idênticas, ensejando decisões simila-
res, que poderiam (e podem) ser proferidas através de um instrumento processual
exclusivo, trazendo celeridade à prestação jurisdicional.
1157
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Ada Pelegrini Grinover também empresta o seu valioso escólio, fornecendo argu-
mentos jurídicos que concedem ao Parquet a tutela coletiva de direitos individuais
homogêneos de relevante repercussão social:
Todo o Título II do CDC, portanto, pode ser utilizado nas ações de que trata a LACP,
disciplinando o processo civil dos interesses difusos, coletivos ou individuais homo-
gêneos.
Esses direitos individuais, desde que homogêneos, podem ser
tutelados pela ação civil pública (In: O Processo em Evolução,
São Paulo: Forense. p. 427).
A tutela jurisdicional coletiva, embora ainda incipiente em nosso País, deixou de ser
apenas aquela idealizada pelo legislador pátrio a partir das class actions norte-ame-
ricana e das relator actions inglesa, traduzindo em sincero eficaz meio de reduzir o
malefício maior que hoje aflige o Judiciário e fonte de todas as críticas que a socie-
dade impõe àquele Poder: a demora na prestação jurisdicional.
Evidente que com o advento desse novel mecanismo processual, até então inédito
1158
Promotorias de Justiça
Com efeito, o art. 147, § 2º, do Código de Trânsito Brasileiro disciplina o prazo de
validade para o exame preliminar de aptidão física e mental, para o candidato à
habilitação, fixando-o em cinco anos e, excepcionalmente, em três para maiores de
65 anos de idade. Vejamos.
A propósito, ensina o Prof. HELY LOPES MEIRELLES, em sua Obra Direito Admi-
nistrativo Brasileiro. 23 ed. São Paulo: Malheiros, fls. 158/159, que os atos admi-
CAPÍTULO VIII
nistrativos normativos possuem caráter geral e abstrato, mas quando surgem sob a
aparência de norma, com efeitos concretos, podem ser atacados e invalidados pelo
Judiciário, e que, nem o Decreto regulamentar e nem em Resolução podem extra-
polar o previsto na Lei. Vejamos.
1159
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1160
Promotorias de Justiça
Nesse norte, constando do art. 147, § 2º, do CTB que os exames de aptidão física
e mental têm validade por cinco anos, não se permite à administração adentrar no
terreno legislativo, ao arrepio do princípio da legalidade, inovando por meio de ato
normativo inferior à lei, com a redução, ainda que indireta, de prazo legalmente
fixado. Sobre o assunto:
Mais:
TRF1-083593) CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVI-
DOR PÚBLICO. RESTRIÇÕES AO INGRESSO NA CARREIRA
DE MAGISTÉRIO IMPOSTAS POR RESOLUÇÃO. AFRONTA
AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE E À ORDEM HIERÁRQUICA
DAS NORMAS JURÍDICAS.
1. Conforme entendimento jurisprudencial e com base no art. 37,
I, da CF/88, somente lei, ato normativo primário, pode estabele-
cer requisitos para o ingresso no serviço público.
2. Ilegítima a criação de restrições para o acesso ao cargo públi-
CAPÍTULO VIII
1161
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
IV – DO PEDIDO LIMINAR
A Lei nº 7.347/85, embasadora da ação civil pública, garante em seu art. 12 a con-
cessão de mandado liminar. Por seu turno, a Lei nº 8.078/90, disciplinadora da ação
civil coletiva, prevê em seu art. 84, § 3º, idêntico provimento, quando presentes a
relevância do fundamento da demanda e o justificado receio da ineficácia do pro-
vimento final. A quantidade excessiva de ações individuais tendo como objeto o
narrado na presente ação civil pública, aliada ao termo final de validade dos proces-
sos de habilitação, conforme Portaria nº 001/2006 do DETRAN/MG, demonstra que
estão sendo atingidos diretamente os interesses de todos os indivíduos candidatos
à obtenção da CNH no Estado de Minas Gerais, que vêm tendo seus processos de
habilitação cancelados, com a determinação de nova submissão a todos os exa-
mes, inclusive o de aptidão física e mental.
Essa situação exige pronta e preventiva intervenção de órgão estatal: o Poder Judi-
ciário, equilibrador e garantidor dos interesses individuais homogêneos constitucio-
nalmente protegidos. Tal abusividade vem sendo constatada pelo elevado número
de ações individuais distribuídas contra o ato administrativo descrito, tratando-se de
fato público e notório, noticiado amplamente pela imprensa mineira.
A demora na concessão da tutela jurisdicional tem reflexo imediato, qual seja, can-
celamento dos processos de habilitação dos candidatos a obtenção da CNH, em
ofensa ao CTB e ao princípio constitucional da legalidade, obrigando os candidatos
à obtenção da CNH que ainda tenham seus exames de sanidade física e mental
válidos se submeterem a novo exame.
CAPÍTULO VIII
V – DOS PEDIDOS
Assim, na forma do CPC, art. 282, IV, requer o Ministério Público que V. Exa. se
digne:
1162
Promotorias de Justiça
EM PROVIMENTO DEFINITIVO:
Requer ainda:
do art. 12, inciso I, do Código de Processo Civil, para que responda, querendo, ao
pedido, sob pena de revelia, seguindo-se o rito ordinário.
- na forma do art. 236, § 2º, do Código de Processo Civil, as intimações dos atos
e termos processuais deverão ser dirigidas ao autor, na sede da 1ª Promotoria de
Justiça/Juízo da Fazenda Pública e Execuções Fiscais da comarca de BH, situada
na Rua Timbiras, 2.928, 8º andar, Barro Preto, nesta Capital, CEP 30140-062, tel.
31 3250-5000.
- a condenação dos réus nas custas processuais.
1163
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Senhor Tenente-Coronel,
ao texto:
1. Suprimir dos textos a condição exclusiva de ser o candidato solteiro, como requi-
sito para admissão de sua inscrição, porquanto fustiga os princípios da isonomia e
razoabilidade, preceitos que devem imperar em toda e qualquer conduta desenvol-
vida pelo Administrador Público;
2. Instalar nos textos a observância, no que se refere aos testes psicológicos, às
disposições insertas na Resolução nº 002, de 24/03/2003, do Conselho Federal de
1164
Promotorias de Justiça
Senhor
Antônio Expedido Ribeiro, Ten Cel PM
Chefe do Centro de Recrutamento e Seleção da Polícia Militar do Estado de Minas
Gerais
BELO HORIZONTE – MG
CAPÍTULO VIII
1165
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A – Introdução
Nesse novo enfoque, o Ministério Público não mais intervém nos seguintes feitos:
separação e divórcio judiciais em que não houver interesse de incapazes; ação
declaratória de união estável e respectiva partilha de bens em que não houver in-
teresse de incapazes; ação ordinária de partilha de bens entre partes capazes;
ação executiva de alimentos entre partes capazes, excetuada a hipótese do art.
733 do CPC; ação relativa às disposições de última vontade, sem interesse de
incapazes, excetuada aquela que imponha encargos ou cláusulas restritivas, bem
como a aprovação, o cumprimento e o registro de testamento, e aquela que envolva
reconhecimento de paternidade ou legado de alimentos; requerimento de falência,
na fase pré-falimentar; ação em que for parte a massa falida - por exemplo, nas
execuções fiscais, nas ações de cobrança etc. - fora do Juízo Universal; ação aci-
dentária ou ação revisional do valor do benefício (e respectivas execuções), propos-
tas por advogado regularmente constituído ou nomeado, salvo nos casos em que o
beneficiário seja incapaz ou idoso em condições de risco; usucapião não coletiva de
imóvel registrado, exceto na hipótese em que haja interesse de incapazes (art. 82,
I, do CPC) ou em que se vislumbre risco, ainda que potencial, de lesão a interesses
sociais e individuais indisponíveis; processo de avaliação da renda e dos prejuízos
decorrentes da pesquisa mineral (art. 27, VIII, do Decreto-Lei n.º 227/67), conforme
incisos I a X da Recomendação Conjunta PGJ CGMP nº 03, de 12/11/2007.
CAPÍTULO VIII
1166
Promotorias de Justiça
Art. 99. Recomenda-se aos Promotores de Justiça, como forma de legitimar a atu-
ação do Ministério Público na defesa dos direitos dos idosos, a interpretação con-
junta dos arts. 75 e 43 da Lei Federal nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto
do Idoso), atentando-se para a obrigatoriedade da atuação ministerial somente nas
hipóteses em que o idoso encontrar-se em situação de risco.
O conceito de que não há nulidade se não houve prejuízo deve inspirar a atuação
ministerial. O pleito de nulidade do feito pela falta de intimação do Ministério Público
só deve ser feito se verificado que houve efetivo prejuízo à parte a quem cumpria o
MP tutela. Caso contrário, cumpre ratificar os atos realizados até então, contribuin-
do para a celeridade processual.
Se a incapacidade da parte é alegada nos autos sem que haja a interdição, requerer
a comprovação médica do status e, sendo o caso, requerer a nomeação de curador
ad hoc e insistir na promoção da ação de interdição no juízo próprio, sem que haja
suspensão do processo.
Para não onerar o jurisdicionado, não exigir procuração por instrumento público e
documentos autenticados, desde que não haja impugnação séria.
atuação mais voltada para o incapaz, requerendo a baixa dos autos em diligência
quando necessário, solicitando provas, etc.
A seguir, abordaremos aspectos práticos das ações mais recorrentes nesta área de
atuação.
1167
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
B - Ação de usucapião
- Pólo ativo
Deve se atentar para o estado de viuvez da parte autora e requerer a juntada da cer-
tidão de óbito do cônjuge, para cotejar com a data de início da posse, visto que se
a posse foi exercida também pelo falecido, a rigor, seus herdeiros deverão integrar
o pólo ativo. Havendo co-legitimidade dos herdeiros, eles também podem renunciar
seus direitos em favor do cônjuge supérstite, lembrando que renúncia é ato formal
e requer, quando menos, declaração com firma reconhecida. O condômino pode
usucapir a integralidade da propriedade em condomínio se estiverem presentes to-
CAPÍTULO VIII
dos os requisitos legais. Também o herdeiro pode usucapir contra co-herdeiro, nas
mesmas circunstâncias.
- Pólo passivo
1168
Promotorias de Justiça
O imóvel urbano deve ser descrito num contexto de lote, quadra e bairro. A certidão
de registro imobiliário atualizada deverá ser apresentada com base no indicador real
do imóvel (sua descrição) e não extraída em nome do seu proprietário. Não raro,
certidões desses cartórios consignam somente o nome do promitente-comprador
do imóvel, devendo, nesse caso, ser requisitada nova certidão, para identificação
do proprietário.
respectivas certidões, expedidas com base no indicador real, se o imóvel não for
matriculado. Por vezes o imóvel não tem registro e, nessas circunstâncias, o feito
deve ser instruído com certidão de origem expedida pela prefeitura local, que pode,
quando menos, identificar um interessado certo na relação processual.
1169
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Deve ser elaborada por profissional habilitado, porém hábil à instrução do feito tam-
bém é a planta oficial do bairro, que a parte pode obter junto à Prefeitura Munici-
pal.
- Velar para que o valor da causa seja compatível com o valor do imóvel usucapien-
do
- No usucapião constitucional, zelar para que o feito seja instruído com certidões
negativas de propriedade, extraídas com base no indicador pessoal.
C - Jurisdição voluntária
Assentado está, pelas Cartas de Ipojuca e Araxá, que nos procedimentos de juris-
dição voluntária, devem coexistir pelo menos uma das hipóteses do art. 82 do CPC,
para ensejar a intervenção do Ministério Público. Mas em qualquer procedimento de
jurisdição voluntária deve ser feita uma prévia análise da legitimidade ativa, verificar
se efetivamente inexiste interesse de incapazes, antes de se declinar pela não-in-
tervenção. Comumente vêem-se pedidos encabeçados por parte capaz, que não
1170
Promotorias de Justiça
Deve-se velar para que os alvarás de pequena monta sejam expedidos em favor
dos representantes legais dos incapazes e não de seus patronos. Para os de gran-
de monta, evitando-se dispersão do numerário, solicitar seja feita sua transferência
para depósito em conta judicial
- Conferir se ambos os genitores do menor estão anuindo ao pleito (art. 1.690, pará-
grafo único, CC). Havendo divergência, ela poderá ser dirimida nos próprios autos
- Certidão atualizada do registro imobiliário é indispensável nesses casos
- O foco é impedir a defasagem patrimonial do menor, por isso velar para que a alie-
nação não se dê por valor inferior ao valor de mercado, o que será obtido mediante
avaliação judicial. Solicitar guia de IPTU atualizada para se ter um parâmetro míni-
mo desse valor. Excepcionalmente, avaliações realizadas por imobiliárias (mínimo
de três) poderão substituir a avaliação oficial.
- Evitando-se fraude à execução e contra credores, em detrimento do incapaz, nos
casos de permuta e de sub-rogação do preço, exigir, além da certidão de registro
imobiliário atualizada do imóvel a ser adquirido, certidões relativas aos alienantes
CAPÍTULO VIII
1171
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Exigir escritura pública de compra e venda do imóvel cuja alienação foi autorizada e
a certidão de registro imobiliário do imóvel adquirido, se for o caso.
-Velar pelo depósito judicial em caso de venda de imóvel, sem sub-rogação do
preço
O numerário poderá ser levantado a posteriori nos próprios autos se forem compro-
vadas a oportunidade e a conveniência, preferencialmente com a aquisição de um
outro bem de raiz. Um estudo social, com a visita do profissional na residência do
incapaz, pode ser solicitado para aferir-se a necessidade desse levantamento.
- Manter certa flexibilidade nos casos em que o imóvel tenha advindo ao patrimônio
do incapaz por doação dos pais. Muitas vezes, na intenção de garantir o futuro dos
filhos, os doadores acabam por privar-lhes de vivenciar um presente digno. Dívi-
das sobre esse imóvel, desemprego dos pais e outras situações podem ensejar a
alienação do imóvel com sub-rogação do preço em outro imóvel de menor valor, de
forma que parte do dinheiro seja utilizada para quitar débitos ou suprir outras neces-
sidades (sempre em benefício do incapaz).
- Verificar o pólo ativo e a eventual necessidade de sua integração. Para tanto, exigir
certidão de óbito da vítima e, se necessário, certidão de dependentes habilitados
emitida pelo INSS.
- Solicitar sejam requisitadas peças do eventual processo criminal, se as partes não
o fizerem.
1172
Promotorias de Justiça
F – Homologação de acordo
Nos pedidos de homologação de acordo, seja no curso do processo, seja nos pedi-
dos autônomos de homologação de acordo extrajudicial, velar para que o incapaz
tenha seus direitos resguardados. Para tanto, pode o Promotor de Justiça impugnar
cláusulas e exigir nova redação, requerer perícias se houver necessidade de aferi-
ção da extensão do dano para cotejar com o valor acordado a título de indenização,
etc.
- Constituição Federal
CAPÍTULO VIII
1173
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JURISPRUDÊNCIA
1174
Promotorias de Justiça
1175
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1176
Promotorias de Justiça
Thomas Hobbes definiu o Estado em termos seculares, como uma entidade des-
tinada a proteger os direitos naturais do indivíduo à vida e segurança. Enquanto
John Locke e Jean-Jacques Rousseau propugnavam um Estado concebido para
garantir os direitos do indivíduo à propriedade, à representação política e à igualda-
CAPÍTULO VIII
de perante a lei, outros como Hugo Grotius, Abbé Charles de Saint-Pierre, Thomas
Paine, Immanuel Kant e Maximilien Robespierre aprofundaram o debate propondo
um alcance internacional para os direitos humanos
É nesse período da história da humanidade que alguns textos, obras e leis elabo-
199
ISHAY, Micheline R. Direitos Humanos: Uma Antologia – Principais Escritos Políticos desde a Bíblia
até o Presente. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006. p. 17.
200
ISHAY (2006), p. 23.
1177
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Durante esse período, a concentração das propriedades nas mãos dos ricos foi
duramente atacada como meio de centralização da riqueza, em detrimento de uma
demanda pelo mesmo direito de propriedade por parte dos pobres. A propriedade
concentrada de terras e dos meios de produção era vista como forma de exclu-
são social, além de configurar exploração da mão-de-obra. São dessa época obras
como O que é a Propriedade (1840), de Pierre-Joseph Proudhon, O Manifesto Co-
munista (1848), de Karl Marx e A Origem da Família, da Propriedade Privada e do
Estado (1884), de Engels.
ra Mundial, a luta pelo socialismo galgou outro nível, sendo que, paralelamente, a
criação da Sociedade das Nações em 1919 representou um marco na agenda dos
direitos humanos.
1178
Promotorias de Justiça
Para elucidar o exposto, cita-se Comparato201, que demonstra a crueldade dos cam-
pos de concentração do regime nazista, no trecho que se segue:
Para selar essa nova perspectiva, a Organização das Nações Unidas, em Assem-
bléia Geral, no ano de 1948, aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
o qual foi sucedido por uma gama de outros documentos internacionais versando
sobre os direitos humanos, firmados pelos Estados.
Consoante Hersch Lauterpacht, citado por Flávia Piovesan203, “os indivíduos pas-
saram a adquirir um status e uma estrutura que os transformaram de objetos de
compaixão internacional em sujeitos de direito internacional”. Reconhece-se o ser
humano como titular de direitos e liberdades fundamentais, a ele inerentes e ina-
lienáveis, não passíveis de redução ou negação pelo Estado, qualquer que seja o
CAPÍTULO VIII
motivo.
1179
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Não obstante o reconhecimento cada vez mais acentuado dos direitos humanos no
cenário internacional, apenas com a promulgação da Constituição da República de
1988, o Brasil passou a comungar dessa nova perspectiva humanitária.
PEREZ LUÑO, Antonio Enrique. Derechos Humanos, estado de derecho y Constitución. 3 ed.
204
1180
Promotorias de Justiça
O nosso País tem ainda como objetivos primordiais construir uma sociedade livre,
justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a margi-
nalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação (art. 3°, da CF/88). Como bem salienta Flávia Piovesan206: “Infere-se
desses dispositivos quão acentuada é a preocupação da Constituição em assegurar
os valores da dignidade e do bem-estar da pessoa humana, como imperativo de
justiça social”.
A Constituição de 1988 preceitua, em seu art. 127, caput, que o Ministério Público
205
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. v. 4. Coimbra: Coimbra. 1988 p. 166.
206
PIOVESAN (2007), p. 27.
1181
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Ora, a efetivação e a garantia dos direitos fundamentais são alicerces para a reali-
zação de um estado democrático de direito, que deve ser resguardado, na prática,
pelo Ministério Público.
207
MARUM (2005), p. 395.
1182
Promotorias de Justiça
B – Discriminação Racial
1183
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Essa convenção foi elaborada para conter as atrocidades cometidas pelo regime
nazista em nome da superioridade da raça ariana e impulsionada pelo ingresso de
países afro-asiáticos, recém-saídos do sistema colonial, como membros da Orga-
nização das Nações Unidas (ONU). De fato, o sentimento anticolonialista-escrava-
gista associado às repugnantes práticas racistas do nazismo serviram de substrato
à implementação de normas internacionais contrárias à discriminação racial com
aplicabilidade em âmbito global.
Art. I
1. Nesta Convenção, a expressão discriminação racial significa-
rá qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência base-
adas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica
que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o reconhe-
cimento, gozo ou exercício num mesmo plano (em igualdade
de condição), de direitos humanos e liberdades fundamentais
no domínio político, econômico, social, cultural ou em qualquer
outro domínio de vida pública.
Essa Convenção apresenta como metas básicas o combate a toda e qualquer for-
ma de discriminação racial e a promoção da igualdade material.
1184
Promotorias de Justiça
Nesse contexto de inclusão, o maior marco jurídico nacional contra todo e qualquer
tipo de discriminação é a Constituição da República de 1988.
Logo no preâmbulo, a nossa atual lei Suprema institui como função do Estado De-
mocrático de Direito, que então se constitui, garantir, entre outros, o exercício dos
direitos sociais e individuais, a liberdade, o bem-estar e a igualdade, como valores
de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos.
Ademais, o País rege-se, nas suas relações internacionais, pelo repúdio ao ter-
rorismo e ao racismo (art. 4º, VIII). Daí ser signatário e ter ratificado os principais
documentos internacionais gerais e especiais de proteção aos direitos humanos,
CAPÍTULO VIII
A Constituição assegura, ainda, como garantia individual, que a lei punirá qualquer
discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais e determina que
a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei (art. 5º, XLI e XLII).
208
DA SILVA, Jorge. Direitos civis e relações raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Luam, 1994. p. 132.
1185
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Ante tal quadro, é dever de todo cidadão e do Estado respeitar o outro, independen-
temente de suas características físicas e de sua ideologia, porque isso não enseja
cogitação alguma de hierarquia entre seres humanos, que têm, em si, um valor a
ser reverenciado.
1186
Promotorias de Justiça
cultural brasileiro por meio das mais diversas formas de acautelamento e preserva-
ção, o que inclui a defesa de tais comunidades (art. 126, § 1º, da CF/88).
1187
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A questão central que se instaura gira em torno da exegese do termo racismo ins-
crito na Constituição como sendo crime inafiançável e imprescritível. Discorre-se, a
seguir, sobre o tema, tendo como base o voto do Sr. Ministro Maurício Corrêa.
Nesse contexto, como bem elucida o Eminente Ministro em seu voto, mesmo que
fosse aceitável a tradicional divisão da raça humana segundo suas características
CAPÍTULO VIII
físicas, perderia relevância saber se o povo judeu é ou não uma delas. Configura
atitude manifestamente racista o ato daqueles que pregam a discriminação contra
os judeus, pois têm a convicção que os arianos são a raça perfeita e eles a anti-
raça. O racismo, pois, não está na condição humana de ser judeu. O que vale não
é o que pensamos, nós ou a comunidade judaica, se se trata ou não de uma raça,
mas efetivamente se quem promove o preconceito tem o discriminado como uma
raça e, exatamente com base nessa concepção, promove e incita a sua segrega-
ção, o que ocorre no caso concreto.
1188
Promotorias de Justiça
Dessa forma, embora hoje não se reconheça mais, sob o prisma científico, nenhu-
ma subdivisão da raça humana, o racismo persiste enquanto fenômeno social, o
que quer dizer que a existência das diversas raças decorre de mera concepção
histórica, política e social, e é ela que deve ser considerada na aplicação do direito.
É essa circunstância de natureza estrita e eminentemente social e não biológica
que inspira a imprescritibilidade do delito previsto no inciso XLII do art. 5º da Carta
Política.
1189
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
ficiados pela desclassificação. Diante disso, o legislador resolveu criar uma forma
típica qualificada contra a discriminação racial, majorando sua pena.
No que tange à Lei nº 7716/89 (Lei anti-racismo), também alterada pela Lei nº
9459/97, a modificação trazida por essa última alargou significativamente seu al-
cance ao incluir em seu bojo, além dos crimes resultantes de discriminação ou pre-
conceito de raça ou de cor, também os delitos que atentem contra a etnia, a religião
ou a procedência nacional. É de se notar que, ao abordar tais critérios, a legislação
pátria não só se alinhou à definição de discriminação racial prevista internacional-
mente pela Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Racial, transcrita no início deste texto, mas foi além, ao englobar o critério religião,
não abordado por essa Convenção.
Em relação à distinção entre o delito de injúria qualificada (art. 140, § 3º, do Código
Penal) e os crimes de racismo previstos na Lei nº 7.716/89, convém dispor que
CAPÍTULO VIII
a referida lei trata de condutas obstativas, enquanto que o Estatuto Penal tipifica
condutas ofensivas.
209
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 5.ed. São Paulo: RT, 2005. p 567.
210
NUCCI (2005), p. 571.
1190
Promotorias de Justiça
Por outro lado, os tipos penais descritos na Lei Anti-Racismo, com suas alterações,
tratam de toda conduta que impeça o acesso da pessoa a cargo profissional, a
estabelecimentos públicos, comerciais, de ensino e de lazer, ao convívio familiar e
social, em razão de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional
(arts. 3º ao 14, da Lei nº 7.716/89). Qualquer forma de prática, induzimento ou inci-
tação de tais discriminações e preconceitos também é considerado crime de racis-
mo, com pena majorada se tais condutas ocorrerem por intermédio de comunicação
social ou publicação de qualquer natureza ou se valendo de símbolos, emblemas,
ornamentos, distintivos, propagandas que utilizem a cruz suástica ou gamada para
divulgação do nazismo, conforme se verifica no art. 20, caput e § 1º e § 2º, da re-
ferida lei. Alguns juristas criticam o fato de a Lei nº 9459/97 ter minorado as penas
de alguns delitos e de não agasalhar como conduta delitiva o uso de caracteres de
outras seitas que apregoam a discriminação racial, além dos símbolos nazistas.
211
NUCCI (2005), p. 471
1191
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A diferença é essencial, uma vez que, de acordo com o art. 145 do CP, a ação penal
do delito de injúria preconceituosa é de iniciativa privada, enquanto no crime de
racismo a ação penal é pública incondicionada.
A Resolução mencionada, em seu art. 2º, dispõe sobre Diretrizes Curriculares Na-
cionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africanas, estabelecendo a finalidade das temáticas:
1192
Promotorias de Justiça
C – Diversidade sexual
Essa tradição tinha como base à crença de uma natureza comum aos homens e aos
animais, em que a conjugação de dois órgãos sexuais distintos acarretaria a perpe-
tuação da espécie. Logo, a sexualidade que se desviava dessa finalidade seria uma
prática sexual contrária à natureza.
à orientação sexual diversa assumida pela pessoa. Isso ocorreu, sobretudo, após
o incidente de Stonewall em Nova York, em junho de 1969, entre a polícia norte-
americana, que costumava fiscalizar severamente estabelecimentos para público
homossexual, proibidos na década de 1960, e os freqüentadores do bar. O episódio
ficou marcado porque, ao contrário do que ocorria normalmente, houve resistência
à ação policial, sendo que o grupo que estava freqüentando o local liderou uma sé-
rie de manifestações, que se prolongaram pelos três dias seguintes e mobilizaram
diversas pessoas.
1193
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Atualmente, a maioria dos países não mais criminaliza as relações entre pessoas
do mesmo sexo, havendo alguns, inclusive, que as tratam em absoluta igualdade
com as relações entre pessoas de sexo oposto.
No Brasil, contudo, há uma disposição no Código Penal Militar que define o crime
de pederastia (art. 235); tal dispositivo vem sendo motivo de acirrado debate entre
o Estado e os movimentos sociais de gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transe-
xuais e transgêneros (GLBT), que pleiteiam a sua supressão do ordenamento penal
miliciano.
C.1 – Conceitos212
212
Conceitos baseados no Texto-base da Conferência Nacional de Gays, lésbicas, bissexuais, travestis
e transexuais (2008), Presidência da República – Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
1194
Promotorias de Justiça
1195
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A partir dos anos 90, considerando, em especial, a luta dos movimentos sociais, as
entidades familiares passaram a apresentar as mais diversificadas formas. Comu-
mente, encontram-se as famílias monoparentais, formadas por um dos pais e seus
filhos – biológicos ou adotivos, as unidades familiares formadas por homossexuais,
homens ou mulheres, por irmãos, por avós e netos, tios e sobrinhos, primos, entre
outras.
De fato, o amor e a convivência homossexuais são uma realidade que não pode
mais ficar à margem da devida tutela jurídica, a fim de alçar-se como entidade fami-
liar reconhecida pelo Estado.
Também o art. 3º, inciso IV, da Constituição Federal estabelece, como um dos ob-
jetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, a promoção do bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e nenhuma outra forma
de discriminação.
214
ALMEIDA NETO, Luiz Mello de. Família no Brasil dos Anos 90: Um Estudo sobre a Construção So-
cial da Conjugalidade Homossexual. Tese de doutorado. Universidade de Brasília, 1999. In: http://www.
asselegis.org.br.
1196
Promotorias de Justiça
Se o legislador não enfrentou tal desafio, como não o fez no Código Civil de 2002,
que já nasceu ultrapassado no que tange à regulamentação do Direito de Família,
deve o Judiciário promover a interpretação constitucional e a integração das leis
para a melhor aplicação do direito.
1197
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, embora com mais atraso, também tem de-
cidido nesse sentido:
1198
Promotorias de Justiça
Não obstante, há projetos de lei em trâmite na Câmara dos Deputados que visam
à regulamentação legal da união homoafetiva, como o Projeto de Lei nº 2285/07
proposto pelo Sr. Sérgio Barradas Carneiro e o Projeto de Lei nº 580/07 do Sr. Clo-
dovil Hernandes, que foi justificado no sentido de acompanhar a tendência mundial
de tolerância em relação às diferenças, procurando-se atender a reivindicação dos
grupos homossexuais com vistas a integrá-los no ordenamento jurídico e caminhar
para a eliminação de preconceitos em razão da orientação sexual.
1199
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
pessoa transexual tem encontrado amparo nos tribunais brasileiros que vêm se
manifestando de modo favorável ao requerimento. Fundamentam que o nome da
pessoa, direito personalíssimo, enquanto fator determinante da identificação e da
vinculação de alguém a um determinado grupo familiar, assume fundamental impor-
tância individual e social, não podendo ser objeto de constrangimento pessoal.
Adoção é o ato pelo qual uma pessoa ou um casal acolhe criança ou adolescente
como seu filho ou filha, proporcionando-lhe a convivência no seio de uma família e
constituindo a relação de maternidade e/ou paternidade. No dizer de Padre Antônio
Vieira: “O filho por natureza ama-se porque é filho; o filho por adoção é filho porque
se ama”.
A Constituição da República Federativa do Brasil dispõe como dever da família, da
sociedade e do Estado salvaguardar, com absoluta prioridade, os direitos funda-
mentais da criança e do adolescente, incluindo-se, nessa proteção, o direito à con-
1200
Promotorias de Justiça
No que tange aos requisitos legais a serem preenchidos pelo adotante, essa lei não
traz nenhuma proibição à adoção por homossexual. Consoante o texto legal, pode
adotar o maior de 21 anos, independentemente de estado civil, que guarde uma
diferença etária mínima de 16 anos com o adotando, entre outros pressupostos (art.
42, caput e § 3º do ECA).
215
DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a justiça. 2 ed. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2001.
216
DIAS (2001)
1201
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
o modelo dos pais, o que as levaria, por lealdade afetiva, a se tornarem também
homossexuais.
Por outro lado, a grande questão apresentada pelas pessoas contrárias à adoção
por casal homossexual seria a de que possivelmente as crianças seriam alvo de
discriminação no meio que freqüentam, sofrendo ataques vexatórios, de modo a
dificultar seu convívio social.
Outro ponto invocado seria o que tange ao registro civil, que deveria consignar o
nome dos adotantes como pais (art. 47, § 1º, do ECA), pressupondo, assim, a di-
versidade de sexo do casal. Dessa forma, na adoção, ocorrendo a substituição da
filiação biológica, incoerente que os pais registrais sejam do mesmo sexo. Tal silo-
gismo impossibilitaria a formalização da adoção por dois homens ou duas mulheres,
porque não poderiam constar como pais no registro de nascimento.
CAPÍTULO VIII
1202
Promotorias de Justiça
Por fim, o tema em pauta pode ser apresentado invocando-se argumentos em sen-
CAPÍTULO VIII
1203
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
217
Definição de homofobia baseada no Texto-base da Conferência Nacional de gays, lésbicas, bis-
sexuais, travestis e transexuais (2008), Presidência da República – Secretaria Especial dos Direitos
Humanos.
218
Definição de lesbofobia baseada no Texto-base da Conferência Nacional de gays, lésbicas, bis-
sexuais, travestis e transexuais (2008), Presidência da República – Secretaria Especial dos Direitos
Humanos.
1204
Promotorias de Justiça
A Juíza Federal, que proferiu liminar de alcance nacional, na referida ação, assim
motivou sua decisão:
Dessa forma, o próprio Estado, através de seu órgão de seguridade social, reconhe-
CAPÍTULO VIII
1205
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1206
Promotorias de Justiça
Dessa forma, não se limita a assegurar qualquer alimento para ingerir, é muito mais
abrangente. Trata-se de garantia de uma alimentação diversificada, nutricionalmen-
te adequada, isenta de contaminação, sem ser veiculada através de propagandas
abusivas que imponham como necessidade de consumo alimentos pouco saudá-
veis, principalmente para crianças. O direito a alimentação adequada possui, ainda,
um viés cultural, visto que os hábitos culturais das diferentes raças e etnias que
vivem no território brasileiro devem ser observados na garantia desse direito.
Finalmente, engloba o direito de produzir o seu próprio alimento e de ter meios para
alimentar-se satisfatoriamente. Assim, a promoção e a garantia do direito à alimen-
tação adequada pressupõem a realização da reforma agrária, o apoio à agricultura
familiar, a eficiência das políticas de abastecimento, a vigilância sanitária regular
dos alimentos, a implementação da merenda escolar. Perpassa ainda pela garantia
de um bom atendimento pré-natal, do aleitamento materno como alimento exclusivo
da criança até seis meses de idade, de saneamento básico, de políticas de geração
de empregos, entre outros aspectos.
1207
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O marco legal nacional é a Lei n° 11.346/06, que cria o Sistema Nacional de Segu-
rança Alimentar e Nutricional (SISAN) visando a assegurar o direito humano à ali-
mentação adequada. Pioneiramente na América Latina, o Estado de Minas Gerais
editou a Lei n° 15.982/06 versando especificamente sobre a questão da segurança
alimentar.
CAPÍTULO VIII
1208
Promotorias de Justiça
em situação de vulnerabilidade;
- o fortalecimento das ações de vigilância sanitária dos alimentos;
- o apoio à geração de emprego e renda;
- a preservação e a recuperação do meio ambiente e dos recursos hídricos;
- o respeito às comunidades tradicionais e aos hábitos alimentares locais;
- a promoção da participação permanente dos diversos segmentos da sociedade
civil;
- a municipalização das ações;
- a promoção de políticas integradas para combate à concentração regional de ren-
da e à conseqüente exclusão social; e
- o apoio à reforma agrária e ao fortalecimento da agricultura familiar ecológica.
1209
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Dessa forma, deve o Promotor de Justiça, ante tal quadro, avaliar a viabilidade junto
ao Poder Legislativo municipal da implementação de legislação específica que re-
gulamente a matéria, como forma de minimizar os efeitos danosos que a expansão
desenfreada da monocultura de matriz bioenergética possa acarretar, atentando-se
também para o cumprimento da função social da propriedade aplicada à ordem
econômica (art. 170, III, da CF/88), bem como das propriedades rurais (art. 186 da
CF/88).
1210
Promotorias de Justiça
Considerando essa origem histórica através da qual o programa era gerenciado por
uma entidade da sociedade civil, o modelo hoje predominante no Brasil (exceção
Rio Grande do Sul) é de que as verbas para custeio do programa são estatais (es-
tado e união), mas a gestão do programa é feita por uma entidade da sociedade
civil. Em Minas Gerais, especificamente, a gestão se dá através de órgão ligado à
1211
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
igreja católica.
A equipe técnica é a parte da estrutura do Programa que trava contato direto com
os usuários na rede de proteção e, devido à especificidade da ação, é composta por
profissionais de especialidades diversas: assistentes sociais, psicólogos e advoga-
dos. São eles os responsáveis pela triagem dos pedidos, acompanhamento do usu-
ário durante sua permanência no Programa e elaboração de relatórios conclusivos
sobre os casos para apreciação do Conselho Deliberativo.
- o interessado;
- o Ministério público;
1212
Promotorias de Justiça
- ser pessoa capaz de exprimir de forma livre e autônoma sua vontade (pois o in-
gresso na proteção é voluntário);
- gozar de plena liberdade ambulatória legal (o que exclui pessoas contra as quais
pese quaisquer espécies de prisões processuais);
- colaborar com a apuração de delitos em sede de inquérito ou processo judicial;
- prestar depoimento de relevância para a apuração de delitos;
- não contar com nenhuma alternativa de resguardar sua integridade física e psico-
lógica, a não ser ingressar na rede solidária de proteção;
- possuir capacidade de adequar-se às rígidas normas de conduta e segurança do
programa.
1213
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1214
Promotorias de Justiça
O art. 15 da Lei nº 9807/99 dispõe sobre outras medidas especiais para a proteção
CAPÍTULO VIII
1215
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
F – Tortura
1216
Promotorias de Justiça
Assim, a tortura é usada como forma de obtenção ilícita de provas e/ou para incutir
castigo por algum fato delituoso.
Estado que tem como fundamento a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da
CF/88) e é regido nas suas relações internacionais pela prevalência dos direitos
humanos (art. 4º, II, da CF/88). Também, com tardia, foi promulgada a lei ordinária
pátria que define os crimes de tortura, Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997.
1217
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
[...] o termo tortura designa qualquer ato pelo qual dores ou so-
frimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencional-
mente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira
pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato co-
metido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas;
ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer
natureza; quando tais dores ou sofrimento são infligidos por um
funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções
públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento
ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou
sofrimentos conseqüência unicamente de sanções legítimas, ou
que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram.
1218
Promotorias de Justiça
1219
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
preso pela primeira vez? Com que freqüência essa assistência era prestada? Quan-
do ocorriam essas visitas, as conversas podiam ser ouvidas por terceiros?
− comparecimento perante membro do Judiciário: O depoente foi apresentado a um
magistrado ou tribunal? Quando? Isto é, quanto tempo depois de ter sido preso?
− suborno: o depoente teve de pagar suborno por alguma coisa e alguém pediu
suborno em algum momento?
Deve-se ter presente que tortura e maus-tratos também podem ocorrer fora da insti-
tuição e o profissional que toma o depoimento deve assegurar que se incluam todas
as supostas violências que a vítima alega ter sofrido, tanto físicas quanto psicológi-
cas, independentemente de onde aconteceram.
1220
Promotorias de Justiça
1221
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1222
Promotorias de Justiça
(art. 17). No Brasil, em âmbito interno, um Comitê foi instituído e está fomentando
a criação de mecanismos similares nos estados federados através de iniciativa da
Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH), não
tendo o Estado de Minas Gerais concretizado, até o presente momento, tal meca-
nismo.
1223
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Esse guia contém dicas e roteiros práticos para a melhoria de fiscalização e moni-
toramento dos locais em que pessoas se encontrem privadas de liberdade, sendo
um material valioso para a atuação do Ministério Público e de outros órgãos e insti-
tuições na erradicação da tortura e dos tratamentos desumanos.
F.5.1 – Conceitos
1224
Promotorias de Justiça
Detento
Tal expressão possui uma pluralidade de conceitos de acordo com o país em que é
empregada, bem como em documentos internacionais. Muitas vezes, é utilizada de
forma a identificar aquele que se encontra com a sua liberdade de ir e vir privada,
previamente a seu julgamento, ou em razão de prisão administrativa, onde houver.
Para fins do Protocolo e do guia prático, tal expressão é utilizada no sentido mais
amplo possível, contemplando quaisquer pessoas privadas de liberdade como re-
sultado de prisão administrativa, prisão cautelar, temporária ou em razão de conde-
nação transitada em julgado e sua reclusão em algum lugar de detenção.
Lugar de detenção
Da mesma forma que a expressão detento, aqui se busca o conceito amplo desse
termo, referindo-se a qualquer lugar em que uma pessoa encontra-se privada de
sua liberdade de ir e vir, tais como delegacias, cadeias públicas, presídios, peniten-
ciárias, centros de internação de adolescentes, instituições psiquiátricas, cárceres
ou celas de uso militar, entre outros lugares.
Visita
O termo visita deve ser entendido não somente como o deslocamento para o local
a ser monitorado, o ingresso e a circulação por seu interior, mas também a sua pre-
paração e acompanhamento.
CAPÍTULO VIII
F.5.2 – O monitoramento
1225
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Há de se ressaltar que, consoante dispõe o art. 6° das Regras Mínimas das Nações
Unidas sobre as Medidas não Privativas de Liberdade (Regras de Tóquio), adota-
das pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em sua Resolução nº 45/110 de
1990, a detenção preventiva não deve ser utilizada de forma sistemática, mas sim
como “[...] último recurso, tendo-se em conta a investigação do suposto delito e a
proteção da sociedade e da vítima”.
1226
Promotorias de Justiça
Trata-se de uma ação complexa e sensível, visto que envolve pessoas em situações
muitas vezes de tensão. Para tanto se impõe a necessária observância de princí-
pios básicos adaptados pela APT do Professional Trainning Series nº 7, Training
Manual on Human Rights Monitoring, New York, Geneva, 2001 (Manual de Capaci-
tação para a Fiscalização dos Direitos Humanos das Nações Unidas), do Escritório
do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU. São eles:
1227
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A duração das visitas deverá ser suficiente para que se realize um trabalho com o
grau de profissionalismo que a situação exige. Assim, o tempo gasto com a visita
deve permitir que a equipe possa estabelecer contatos com a direção do estabe-
lecimento, com os funcionários e com uma amostra representativa das pessoas
detidas, bem como examinar as condições de vida e das instalações.
A freqüência com que tais visitas se realizarão deverá atentar ao tipo e às peculia-
ridades do lugar de detenção. Fatores como superlotação, reiteradas reclamações
de abuso de autoridade, tortura, maus-tratos e deficiência assistencial devem ser
levados em consideração. É importante também avaliar a produtividade de visitas
reiteradas, pois elas quebram a rotina interna do estabelecimento, atrapalhando o
trabalho da direção e dos funcionários, nem sempre trazendo resultados satisfató-
rios.
A escolha de uma equipe para realizar tais visitas é de suma importância. A neces-
sidade de uma equipe multidisciplinar se deve ao fato de o monitoramento, proposto
através do estabelecimento de uma rotina de visitas, visar à avaliação da detenção
CAPÍTULO VIII
1228
Promotorias de Justiça
O tamanho da equipe responsável pela visita deverá ser balizado de acordo com
o seu objetivo, com o conhecimento sobre o estabelecimento e seus problemas,
com o tamanho físico e o número de pessoas privadas de liberdade no local e, por
fim, conforme quaisquer entraves que sejam colocados pelas autoridades por ele
responsáveis.
Com o advento da Lei nº 4.898/65, em plena ditadura militar, que dispõe sobre o
direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa, civil e
penal em relação à prática do delito de abuso de autoridade, surgiu a discussão
acerca da possível revogação dos arts. 322 e 350 do Código Penal, uma vez que
CAPÍTULO VIII
esta lei, em seu art. 3º, “i”, e art. 4º, “a”, “b”, “i”, teria englobado as condutas ante-
riormente disciplinadas.
1229
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A Lei nº 4.898/65, por sua vez, no art. 3º, dispõe que constitui abuso de autoridade
qualquer atentado: a) à liberdade de locomoção; b) à inviolabilidade do domicílio; c)
ao sigilo da correspondência; d) à liberdade de consciência e de crença; e) ao livre
exercício do culto religioso; f) à liberdade de associação; g) aos direitos e garantias
legais assegurados ao exercício do voto; h) ao direito de reunião; i) à incolumidade
física do indivíduo; j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício pro-
fissional (incluído pela Lei nº 6.657, de 05/06/1979).
Em seu art. 4º, preceitua que constitui também abuso de autoridade: a) ordenar ou
executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou
com abuso de poder; b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou
a constrangimento não autorizado em lei; c) deixar de comunicar, imediatamente,
ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa; d) deixar o Juiz de
ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada; e)
levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida
em lei; f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas,
emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio
em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor; g) recusar o carcereiro ou
agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem,
custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa; h) o ato lesivo da honra ou do
patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de
poder ou sem competência legal; i) prolongar a execução de prisão temporária, de
pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de
cumprir imediatamente ordem de liberdade.
1230
Promotorias de Justiça
Nesse sentido, o Juiz Lauro Malheiros discorre que “o art. 322 do Código Penal
não mais pode servir de suporte condenatório porque se acha revogado pela Lei nº
4.898/65. Trata-se de lei que regulou inteiramente a punição dos crimes de abuso
de poder, classe a que pertence o denominado delito de violência arbitrária219”.
Também o Tribunal de Justiça de Minas Gerais tem julgado conforme essa linha
doutrinária:
219
MALHEIROS, Lauro. Tacrim-SP-Rec. Revisa Tribunais nº436/410.
220
JESUS, Damásio de. Do abuso de Autoridade. Revista Justitia. p. 59/48.
1231
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
cação: 21/11/2007)
EMENTA: A violência arbitrária, tipo do art. 322 do CP, é enten-
dida como aquela ilegalidade do funcionário público que, violan-
do o Direito da Administração Pública, age arbitrariamente, isto
é, sem autorização de qualquer norma legal que lhe justifique
a conduta, contra o cidadão, não está compreendida no ‘aten-
tado à incolumidade física do indivíduo’, tipo inscrito no art. 3º,
‘i’, da Lei nº 4.898/65, norma referente ao abuso de autorida-
de ou exercício arbitrário de poder, pela qual o funcionário, ao
executar sua atividade, excede-se no Poder Discricionário, que
facultaria a escolha livre do método de execução, ou desvia, ou
foge da sua finalidade, descrita na norma legal que autorizava
o Ato Administrativo, ocorrendo aí uma lesão de direito que no
campo penal toma forma de abuso de poder ou exercício arbi-
trário de poder. Precedentes do STF e TJMG. (TJMG.1ª C. Ap.
1.0024.98.085532-4/001. Rel. Sérgio Braga. pub. 23/11/2004)
EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO - VIOLÊN-
CIA ARBITRÁRIA - Delito que não se enquadra no rol das in-
frações de menor potencial ofensivo, previsto no parágrafo úni-
co do art. 2º da Lei nº 10.259/01 - Emendatio libelli - Momento
processual - Sentença - art. 322 do CP - Revogação pela Lei
nº 4.898/65 - Inocorrência - Precedentes do STF - O crime de
VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA previsto no art. 322 do CP não foi re-
vogado pela Lei nº 4.898/65 - Conflito conhecido, dando-se pela
competência do juízo suscitado (9ª Vara Criminal da Comarca
de Belo Horizonte. Número do processo: 1.0000.04.415093-
6/000(1). Relator: GUDESTEU BIBER. Data do Julgamento:
07/06/2005. Data da Publicação: 14/06/2005)
G.1 – O crime do art. 209 do Código Penal Militar e a Lei de Abuso de Au-
toridade
É importante ressaltar que, por não estar tipificado no Código Penal Militar, o crime
de abuso de autoridade é da competência da Justiça Comum. Contudo, o delito de
CAPÍTULO VIII
1232
Promotorias de Justiça
Portanto, por serem as condutas disciplinadas por diplomas diferentes, cada qual
designando competência e procedimento específico, não se pode considerar sen-
sato que sejam avaliadas pelo mesmo juízo, ainda que derivadas de um mesmo
ato, podendo ser consideradas em separado.
H.1 – Introdução
Dessa forma, o controle externo deve ser entendido como instrumento de realiza-
ção do poder punitivo do Estado. Seu objetivo é dar ao Ministério Público um com-
prometimento maior com a investigação criminal e, conseqüentemente, um amplo
domínio e lisura na produção da prova, a qual lhe servirá de respaldo na eventual
propositura da ação penal pública, bem como na propositura pelo ofendido da ação
penal privada.
1233
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1234
Promotorias de Justiça
No que tange às atividades praticadas pelas Polícias Civil e Militar, suas atividades-
meio devem estar excluídas desse controle para que não se interfira no chamado
controle interno.
1235
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Conclui-se que o controle da atividade policial atua buscando promover maior trans-
parência, eficácia e celeridade da atividade policial, não adentrando na organização
interna dos órgãos relacionados às atividades investigativas desenvolvidas. Tal ins-
trumento é indispensável na construção de um Estado Democrático de Direito que
pretende a realização plena dos direitos e garantias fundamentais.
a ser realizada pelo Ministério Público não tem a pretensão de substituir o papel da
polícia judiciária, tampouco de comprometer a função a ser assumida pelo órgão
no desenvolvimento da ação penal. Assim, não se pode falar que tal atividade irá
comprometer a imparcialidade característica da atuação do membro do MP, uma
vez que objetiva tão-somente esclarecer os contornos do fato a ser analisado e
discutido em fase judicial.
1236
Promotorias de Justiça
221
Cléve, Clémerson. Investigação Criminal e Ministério Público. Disponível em: http://www1.jus.
com.br/doutrina/texto.asp?id=5760
1237
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1238
Promotorias de Justiça
administrativa.
1239
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1240
Promotorias de Justiça
àquele órgão, o que não impede que a investigação de policiais civis possa se dar
em delegacias regionais.
I – Apoio comunitário
Essa modalidade de atuação tem especial fim social e só poderá ser efetiva e satis-
fatoriamente realizada com o deslocamento do Promotor do interior de seu gabinete
ao local em que se encontra o problema ou pela participação em reuniões públicas
promovidas por lideranças comunitárias locais.
Não há, ainda, no país, uma cultura de mobilização e organização popular, sendo
constatada, por muitas vezes, a atuação desarticulada dos vários atores da socie-
dade civil. Para contribuir para a integração dos grupos sociais, o membro do Mi-
nistério Público local pode organizar palestras e/ou oficinas de capacitação popular,
nas quais o Promotor discorrerá sobre as principais demandas locais, os direitos da
população, órgãos que devem ser acionados e as medidas já tomadas pelo Minis-
tério Público em relação aos problemas recorrentes na Comarca.
CAPÍTULO VIII
Outros temas relevantes também devem ser abordados quando dessa capacitação,
tais como relações entre Estado e sociedade, controle social de políticas públicas,
criminalização e desafios dos movimentos sociais, programas oficiais de apoio dos
Governos Municipal, Estadual e Federal (tais como bolsa família, programas de
geração de trabalho e renda, benefícios de prestação continuada da assistência
social, programas alimentares etc.). Os materiais referentes a eventuais palestras
e capacitação de líderes ou da comunidade em geral poderão ser obtidos junto aos
1241
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
sites indicados neste manual e poderão, inclusive, ser fornecidos pelo CAO-DH.
J.1 – Introdução
cia doméstica e familiar contra a mulher. A edição dessa lei se fez necessária ante a
constatação de que a violência doméstica contra a mulher é grande, apresenta índi-
ces alarmantes, e, além de fragilizar a mulher brasileira, traz conseqüências graves
para toda a sociedade. A violência de gênero, basicamente aquela contra a mulher,
representa, além de um problema social grave a ser enfrentado pelas autoridades,
um fator de aumento da violência e da criminalidade em geral.
1242
Promotorias de Justiça
aspecto social, que levou à edição da citada Lei, como forma de coibir a violência
doméstica. Além da violência de gênero contra a mulher, busca-se, em última aná-
lise, combater a violência como um todo, que contamina a sociedade brasileira,
aprisiona cidadãos de bem dentro de suas casas e coloca toda a sociedade em
estado de alerta.
A Lei nº 11.340/2006 ganhou o nome de Lei Maria da Penha por ter sido resultado
da luta de Maria da Penha Maia Fernandes por justiça. Maria da Penha, em maio
de 1983, foi vítima de tentativa de homicídio praticado por seu próprio marido, o
colombiano Marco Antônio Heredia Viveros, que a deixou paraplégica. O processo
criminal culminou com a prisão de Marco Antônio a qual somente ocorreu em se-
tembro de 2002.
Com a edição da Lei nº 11.340/2006 foi dado um tratamento diferenciado aos casos
de violência doméstica, principalmente no que se refere à proteção da vítima mu-
lher. Desde então, muito se tem debatido acerca de vários aspectos dessa nova lei,
que veio em socorro das mulheres e das famílias brasileiras. O Ministério Público
Mineiro criou em Belo Horizonte, logo no início da vigência da lei, a Promotoria Es-
pecializada no Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.
Vamos ressaltar neste manual alguns pontos relevantes que vivenciamos neste pe-
1243
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Antes, porém, vamos frisar o quão importante é termos uma legislação específica
que trate deste tema. A violência doméstica é um mal que atinge todas as classes
sociais, de vários modos, muitas vezes quase imperceptível, pois inserida no con-
texto familiar de forma a se manifestar lenta e normalmente e, não raras vezes,
chega a alcançar conseqüências danosas para as mulheres e para a família. É
comum ditos populares que afirmam que mulher gosta de apanhar e que a mulher
que apanha e volta para seu companheiro é mulher de malandro.
Mulher não gosta de apanhar, de forma alguma, mas ela está ligada a sua família, a
seu companheiro, a seus filhos de forma tal que lhe é mais difícil, por diversos fato-
res, dar um basta na situação de opressão e seguir um caminho diferente. Os moti-
vos que mantêm a mulher junto ao homem agressor são vários, como por exemplo,
a dependência econômica, a dependência emocional, a baixa auto-estima, a dificul-
dade de colocação no mercado de trabalho para sua subsistência e de seus filhos,
a falta de apoio familiar e social, o apego emocional ao próprio agressor, o medo
do agressor, o receio de ter que voltar a viver com a família, de não ter com quem
deixar os filhos pequenos para ter que ir trabalhar, etc. Não conseguiríamos, neste
manual, esgotar em simples linhas de reflexão todos os vários motivos que mantêm
as mulheres juntas de seus agressores por anos e décadas. Esse tema tem sido
foco de estudo de vários sociólogos, antropólogos e psicólogos. Mas, com certeza,
a atual legislação pode ser um fator determinante a modificar esta dura realidade.
1244
Promotorias de Justiça
e a resposta é sempre a mesma: que ouviram, mas ninguém nada fez por se tratar
de briga de casal. Nesse caso, ser a colher pode salvar uma vida.
Daí constatamos que estamos tratando de um assunto intimamente ligado aos nos-
sos costumes, arraigado à nossa sociedade, e, portanto, vamos lidar com muitas
resistências, vindas de vários setores. O importante é abrirmos nossas cabeças e
já pensarmos de antemão que mulher não gosta de apanhar, que cão que ladra
morde e mata e que em briga de marido e mulher devemos nos intrometer para
salvar vidas, principalmente nas nossas próprias famílias. E, ainda, se a mulher que
foi agredida, porventura ou desventura, voltar a viver com o agressor, não nos cabe
julgar, mas alertar, ofertar a ela novas possibilidades, e até mesmo propiciar que
ela entenda o porquê de estar repetindo o padrão que favorece a agressão. Muitas
vítimas não têm consciência de que estão favorecendo a agressão ao perdoar seus
parceiros. É de fundamental importância entendermos o que é violência doméstica
e tudo o que está a sua volta para lidarmos de forma eficaz nessa área.
Logo no início da vigência da Lei nº 11.340/2006 nos deparamos com vários ques-
tionamentos jurídicos que estão sendo enfrentados quanto pelos doutrinadores tan-
to pelos tribunais. Tais questões são relativas à constitucionalidade dessa lei, à
constitucionalidade específica do seu art. 41, à questão relativa à ação penal nos
crimes de lesão corporal leve praticado em violência doméstica contra a mulher e à
interpretação do art. 16 da lei, que se refere à renúncia à representação da vítima.
Essas questões serão abordadas a seguir de forma a orientar o promotor de justiça
na sua atividade profissional. Procuramos expor os diversos pontos de vista, e o
que adotamos na nossa atividade diária na promotoria especializada, esclarecendo
os motivos de nosso posicionamento. Buscamos nos orientar interpretando a lei,
conforme expresso em seu próprio texto, de forma a sempre favorecer a mulher
vítima de violência. Nas questões polêmicas e controversas contidas no texto legal,
CAPÍTULO VIII
1245
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1246
Promotorias de Justiça
total investigado, 31% das mulheres relataram agressões nos doze meses ante-
riores à pesquisa, ou seja, trata-se de agressões relativamente recentes. Assim, é
justamente contra as relações desiguais que se impõem os direitos humanos das
mulheres, buscando-se a igualdade social.
Nesse ponto nos esclarece Celso Antônio Bandeira de Melo que a igualdade previs-
ta constitucionalmente deve ter como base o tratamento igual para situações iguais
e desigual para situações desiguais. Assim, havendo a presença de fatores que es-
1247
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Muito se tem questionado sobre a suposta ofensa à Constituição também das dis-
posições contidas no art. 41 da Lei nº 11.340/2006, o qual prevê que a “crimes pra-
ticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995”.
1248
Promotorias de Justiça
com pena máxima não superior a um ano e não sujeitos a procedimento espe-
cial, o que a Lei nº 10.259/2001 modificou posteriormente, ampliando esse limite,
e considerando crimes de menor potencial ofensivo aqueles a que se comina pena
máxima de dois anos. A Lei nº 11.313/2006 deu nova redação ao art. 61 da Lei nº
9.099/95, em observância à posição jurisprudencial pacífica que se firmou com a Lei
nº 10.259/2001, quando estabeleceu que as infrações penais de menor potencial
ofensivo da alçada do Juizado Especial Criminal seriam as de pena máxima de dois
anos.
Válida a transcrição do atual art. 61 da Lei nº 9.099/95, com a redação dada pela
Lei nº 11.313/2006:
Assim, o legislador quis definir os delitos cuja violência é doméstica ou familiar con-
tra a mulher como de maior potencial ofensivo porque ocorridos no seio da família,
cuja proteção do Estado está garantida pelo art. 226 da CF/88, sobretudo quanto
ao cumprimento do seu § 8º, que prevê que o “Estado assegurará a assistência à
família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir
CAPÍTULO VIII
A interpretação do art. 98, inciso I, da Constituição Federal deve ser feita conjunta-
mente ao art. 226, § 8º, sendo vista a lei que combate à violência doméstica como
uma garantia da família de proteção do Estado.
1249
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Torna-se explícito, pois, que a Lei Maria da Penha não se configura discriminatória,
na medida em que foi constitucionalmente prevista a especial proteção do Estado
aos materialmente desiguais. O Princípio da Igualdade precisa ser usado relevando
a condição das minorias e as particularidades de cada segmento, e amortecendo
as desigualdades, as quais, na relação homem/mulher assim considerados na so-
ciedade, são inúmeras.
O que fez a Lei nº 11.340/2006 foi afastar os crimes de violência doméstica e fami-
liar contra a mulher, modificando com isso a definição de crimes de menor potencial
CAPÍTULO VIII
1250
Promotorias de Justiça
Entendemos que, se se tratar de vítima mulher, pela Lei nº 11.340/2006, fica total-
mente afastada a aplicação da Lei nº 9.099/95. Se a mulher for a agressora, ainda
a socorre o benefício da suspensão condicional do processo, uma vez que a pena
mínima não excede a um ano.
Em 1995 foi editada a Lei nº 9.099/95, que tratou os crimes de lesão corporal leve e
ameaça, os principais crimes praticados contra mulheres dentro da relação familiar,
como de menor potencial ofensivo. Naquela época buscava-se a justiça rápida,
com a imediata aplicação da lei penal, de forma a dar uma resposta à sociedade,
lei essa que se pensou fosse a mais eficaz. A Lei nº 9.099/95 (Lei dos Juizados
Especiais) primou por ser conciliadora, pois por meio dela se busca o entendimento
entre as partes, sem a intervenção direta e radical da Justiça. Ela atua, eviden-
temente, em muitos casos, homologando acordos feitos entre as próprias partes
envolvidas diretamente. Nos casos em que o acordo não é possível, há a atuação
direta da Justiça.
CAPÍTULO VIII
Contudo, após mais de dez anos de vigência da Lei nº 9.099/95, com os Juizados
Especiais instalados em todos os cantos do Brasil, chegou-se à conclusão de que,
para os casos de violência doméstica, que representam parte expressiva dos pro-
cedimentos da competência do Juizado Especial, tais procedimentos se mostraram
ineficazes. A violência contra a mulher se intensificou e continua com índices alar-
mantes, chegando a ser um problema de preocupação do poder público.
1251
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Essa questão foi amplamente discutida pela sociedade civil organizada, pelos ór-
gãos públicos e privados, na busca da solução desse grave problema social.
Após grandes debates e lutas empreendidas por pessoas engajadas na busca por
políticas públicas que pudessem proteger a mulher brasileira contra seus agresso-
res diretos, editou-se a Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que afastou por
completo a Lei nº 9.099/95 dos casos de violência doméstica e familiar contra a
mulher.
Para entendermos melhor os caminhos que levaram à edição da Lei Maria da Pe-
nha, busquemos as origens das discussões e dos pontos levantados pelos res-
ponsáveis por todo esse processo, até mesmo do processo legislativo. Como a
Lei Maria da Penha cria mecanismos protetivos para a mulher em seu ambiente
doméstico e familiar, de forma específica, e é uma lei recente, que vem sendo bas-
tante analisada e discutida por estudiosos do Direito, pretendemos neste trabalho
esclarecer os caminhos pelos quais os textos de lei passaram para chegar ao texto
legal final aprovado pelo Poder Legislativo. Pensamos que, nesta pesquisa, conse-
guimos entender a vontade do legislador e os motivos que o levaram ao texto final
da lei como hoje está editada e publicada, e que deve ser cumprida.
Para a discussão do texto legal e confecção desse importante trabalho, foi criado
o Grupo de Trabalho Interministerial, formado pelos seguintes órgãos: Secretaria
Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República (co-
ordenação); Casa Civil da Presidência da República; Advocacia-Geral da União;
Ministério da Saúde; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da
Presidência da República; Ministério da Justiça e Secretaria Nacional de Seguran-
ça Pública.
1252
Promotorias de Justiça
Uma mudança processual prevista pelo anteprojeto de lei era a de uma audiência
de apresentação, em que o juiz ouviria a vítima antes de ouvir o agressor e ela não
poderia ser compelida a transacionar, mesmo havendo possibilidade de concilia-
ção. Tal audiência seria presidida diretamente pelo magistrado ou por bacharel em
Direito, especialmente capacitado para isso.
Era prevista ainda audiência para proposta de transação penal, porém tal audiência
CAPÍTULO VIII
somente seria realizada em um segundo momento, após a vítima ter passado pela
avaliação da equipe multidisciplinar capacitada para o atendimento específico. As
penas a serem aplicadas não poderiam ser restritivas de direito de prestação pecu-
niária, sendo vedado o pagamento de cesta básica e de multa.
1253
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1254
Promotorias de Justiça
Porém, nos casos em que a vítima da violência doméstica é homem, temos que é
possível aplicar alguns dispositivos da Lei nº 9.099/95, porque é evidente que a Lei
Maria da Penha se aplica aos casos de vítima mulher, sendo claramente uma lei
que procura combater a violência de gênero.
Com o afastamento total da aplicação da Lei nº 9.099/95, que instituiu a ação pe-
nal condicionada à representação da vítima nos casos de crime de lesão corporal
leve, conforme art. 88, temos que volta a vigorar o preceito legal anterior à Lei nº
9.099/95, em que tínhamos a regra clara de ser a lesão corporal leve um crime de
ação pública incondicionada. Para tal assunto, pela sua complexidade, dedicamos
o item J.3.2.
Portanto, pelas razões expostas, consideramos que o art. 41 da Lei Maria da Penha
afastou totalmente a aplicação da Lei nº 9.099/95 nos casos de violência doméstica
e familiar contra a mulher.
por ele sofridas, nota-se que a redação original do Projeto de Lei nº 4.559/2004, no
art. 32, que tratava da mediação (extirpada do procedimento dos crimes de violên-
cia doméstica quando do afastamento da aplicação da nº 9099/95), previa no § 6º:
“A retratação ou a renúncia da representação somente serão consideradas válidas
após audiência”. A lei em vigor extirpou a palavra retratação, de sua redação, sendo
possível perceber não se tratar de lapso de técnica legislativa, mas de expresso
afastamento da possibilidade da retratação.
1255
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por outro lado, faz a Lei Maria da Penha previsão da renúncia à representação,
hipótese na qual a ofendida deixa de exercitar o seu direito à representação. En-
tretanto, tendo a vítima representado, já não é cabível a renúncia, visto que esta é
“[...] a abdicação do ofendido ou de seu representante legal do direito de promover
a ação penal privada”.223 Se a vítima exerceu o direito de representar, dele não abdi-
cou. A representação não depende de nenhum outro ato para produzir seus efeitos
jurídicos, espelhando o desejo genuíno da vítima de ver a prestação da tutela juris-
dicional, e não a abdicação desse direito.
Tem-se que a representação feita perante a autoridade policial tem plena validade
jurídica. Não poderia o Estado violar o direito da vítima de ver o fato, em tese de-
lituoso, ser examinado pelo Judiciário, sob pena de flagrante inconstitucionalidade
por violação do art. 5°, inciso XXXV, da Constituição da República. A representação
não tem formalidade expressa em lei, sendo a autorização processual da vítima ao
Estado para a persecução penal.
No crime de ameaça, para o qual a lei exige autorização da vítima para o devido
processo, por meio de sua representação, apenas após essa representação está
o Ministério Público autorizado a dar início à ação penal. Nesse caso é exigida a
autorização da vítima para a propositura da ação penal. E se com a representação
forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, o órgão do
Ministério Público oferece a denúncia no prazo de quinze dias, dispensável até o
CAPÍTULO VIII
223
JESUS, Damásio de. Código de processo penal comentado. 13 ed. São Paulo
1256
Promotorias de Justiça
O Código Penal, no seu art. 102, e o Código de Processo Penal, no seu art. 25,
prescrevem que a representação será irretratável depois de oferecida a denúncia.
Não houve alteração legislativa nesse sentido, de modo que continuam vigentes os
dispositivos em comento.
Nesse caso, tendo a vítima renunciado ao seu direito de representar, deve o ma-
gistrado, quando tomar conhecimento dos fatos, designar audiência para oitiva da
vítima, ouvindo-se o Ministério Público. Tal audiência se justifica exatamente por se
tratar de caso de violência doméstica, que foi praticada dentro dos limites da afetivi-
dade da vítima, que pode renunciar tanto por seu afeto pelo agressor quanto por es-
tar subjugada à vontade dele. A audiência prevista no art. 16 da Lei nº 11.340/2006
representa mais um mecanismo de proteção à vítima, podendo-se avaliar se a re-
núncia é mesmo de sua livre vontade.
1257
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Apenas para esclarecer bem o nosso posicionamento, pensamos que não houve o
tal equívoco do legislador, até mesmo pelo estudo histórico da Lei nº 11.340/2006
a que procedemos. O afastamento proposital do termo retratação nos indica que
houve uma escolha do legislador nesse sentido. Não bastasse esse argumento,
pensamos que a possibilidade de conciliação está afeta diretamente aos Juizados
Especiais Criminais, que se mostraram ineficazes no combate à violência domésti-
ca. Com o afastamento total da Lei nº 9.099/95, temos que o legislador, claramente,
quis afastar também a possibilidade de conciliação, que, em verdade, somente en-
fraqueceu a vítima de violência.
Pensamos, ainda, para não sermos tão radicais em nosso posicionamento, que
mesmo que tenha o legislador se equivocado, e que o termo correto para o art. 16
da Lei nº 11.340/2006 seja a retratação, tal procedimento somente faria sentido se
houvesse, quando da apreciação da denúncia oferecida, algum indício de que a
vítima queira efetivamente se retratar. Assim, se iniciado o inquérito policial, com au-
torização da vítima por meio de representação criminal, a autoridade policial termina
seu trabalho via complementação das investigações e remete os autos à aprecia-
ção da justiça. O Promotor de Justiça, diante do inquérito concluído e esclarecidos
os fatos, com a representação da vítima num caso de crime de ameaça, oferece a
denúncia. Ao analisar a denúncia, e não tendo nenhuma informação pelo magistra-
do de que a vítima tenha interesse em se retratar da representação, não caberia ao
magistrado abrir tal oportunidade baseado no art. 16 da Lei nº 11.340/2006. O que
tal artigo prescreveria, em se tratando de representação, é que esta somente po-
derá ser feita em juízo, em audiência especialmente designada para tal finalidade,
ouvido o Ministério Público. Não há nada que nos faça entender que no caso des-
CAPÍTULO VIII
crito, sem qualquer indício de que a vítima queira se retratar (pelo contrário, a vítima
colaborou com as investigações, indicou testemunhas, compareceu na delegacia
de polícia, etc., por hipótese), deva o magistrado abrir espaço para ouvir a vítima, se
ela ratifica a representação já firmemente oferecida, ou se dela se retrata.
Várias são as conseqüências práticas de tal designação sem indicação alguma por
parte da vítima de que queira se retratar. Primeiramente, a vítima pode, por absoluta
falta de crença de que a justiça poderá socorrê-la, visto a morosidade dos atos pro-
1258
Promotorias de Justiça
Costumamos ficar até satisfeitos quando, via de regra, o casal chega ao fórum para
os atos processuais pertinentes, de mãos dadas, sendo a própria vítima a principal
defensora de seu agressor. E que bom que seja assim. Significa que a tomada de
providência por parte da vítima já surtiu efeito positivo em sua vida e que o casal
passou a conviver em paz, que é o objetivo principal de nosso trabalho. Mas a har-
monia não apaga o crime que já ocorreu e merece resposta da justiça, até mesmo
para que possa perdurar.
A reconciliação do casal é sempre fator positivo, mas não pode mais significar o
silenciar da Justiça naquele caso. As estatísticas são alarmantes ao nos informar
o alto índice de reincidência. A mulher brasileira, até por questões culturais, chega
a considerar normal viver anos seguidos suportando ameaças e agressões, e são
tentadas a perdoar, dar outra chance, mesmo que saibam, no seu íntimo, que as
agressões são parte da rotina da família.
que as lesões são leves ou se trata de ameaça, pode haver a condenação, com a
conseqüente substituição condicional da pena corporal, podendo, inclusive, uma
das condições a serem impostas implicar a freqüência do agressor a grupos de
apoio e de fortalecimento e valorização da mulher e da família. Há exemplos vários
de grupos que atuam nesse sentido, que já deram resultados bastante satisfatórios
atuando nos casos de violência doméstica, ainda sob a competência dos Juizados
Especiais.
1259
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Portanto, mesmo com a conciliação das partes, é necessário e legal que o processo
penal chegue a seu final, e não seja mais um processo arquivado à espera da pró-
xima agressão envolvendo, provavelmente, as mesmas partes.
Um ponto polêmico da Lei nº 11.340/06 diz respeito à ação penal pública incondicio-
nada no crime de lesão corporal leve.
eles a lesão corporal leve, crime bastante comum no ambiente familiar. Afastando-
se a Lei nº 9.099/95, afasta-se também o seu art. 88, uma vez que houve um afasta-
mento total e não parcial da citada lei. Dessa forma, volta o crime de lesão corporal
leve a ser de ação pública incondicionada.
Tal medida foi adotada para maior proteção da mulher, constantemente vítima de
violência doméstica. Entendeu o legislador que deixar a cargo da mulher vítima de
violência doméstica o destino da ação penal contra seu agressor a fragiliza mais
1260
Promotorias de Justiça
ainda no ambiente doméstico, pois ela pode ser intimidada a não oferecer represen-
tação, mantendo-se em constante situação de violência.
Essa situação foi amplamente debatida nas comissões parlamentares que dis-
cutiram a questão da violência doméstica, discussão que culminou com a Lei nº
11.340/2006. Chegou-se à conclusão de que os mecanismos trazidos pela Lei nº
9.099/95 não foram eficazes para diminuir a violência doméstica, sendo necessária
uma resposta mais efetiva por parte da Justiça, para combatê-la. Assim, o afasta-
mento total da Lei nº 9.099/95 nos crimes de violência doméstica contra a mulher foi
a forma escolhida pelo legislador nacional para dotar a Justiça de mecanismos que
possam, com efetividade, erradicar a violência doméstica no Brasil.
Porém, nesse assunto, também há correntes contrárias, que entendem que o afas-
tamento da Lei nº 9.099/95 nos casos de violência doméstica e familiar contra a mu-
lher se deu apenas quanto a seus dispositivos despenalizadores, como transação
penal, suspensão do processo, etc. Entendem que, no que diz respeito à modifica-
ção da ação penal no crime de lesão corporal leve introduzida pelo art. 88 da Lei
nº 9.099/95, tal modificação permanece, mantendo o crime de lesão corporal leve,
mesmo praticado contra a mulher em situação de violência doméstica, como crime
dependente de representação da vítima, ou seja, de ação pública condicionada à
representação da vítima.
Tal corrente se vale do estudo vitimológico o qual entende que deve se concentrar
na mão da vítima o poder de decidir se deseja ou não processar o agressor. Entre-
tanto, tal poder decisório se mostra parcial e comprometido, na medida em que as
vítimas não têm – no momento em que se vêem agredidas pelo parceiro ou cônjuge
–, equilíbrio ou discernimento emocional para optar sem se comprometer. Umas,
pelo medo da retaliação; outras, por vínculos gerados por relações afetivas de de-
pendência emocional ou por carência financeira; outras, ainda, porque nunca tive-
ram autonomia sobre suas próprias vidas. Enfim, por uma gama de particularidades
CAPÍTULO VIII
além da legalidade é que defendemos que deve ser entregue ao Estado a decisão
de processar ou não o agressor.
Um dos argumentos defendidos por essa corrente é de que, no art. 12, I, da Lei nº
11.340/2006, quando há descrição das medidas a serem tomadas pela autoridade
policial, há previsão expressa de reduzir a termo a representação da vítima. Ora,
o art. 12 foi necessário para definir quais seriam as condutas a serem adotadas
na delegacia de polícia na fase investigativa. Como as modificações quanto aos
1261
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Da mesma forma, o artigo prevê coleta de prova testemunhal e pericial. Nos casos
em que essa última não existir, por circunstâncias próprias de cada caso, não há
que se desconsiderar a existência do crime. Assim, o simples fato de se prever a
coleta do termo de representação na delegacia de polícia não tem o poder de trans-
formar todos os crimes ocorridos em situação de violência doméstica em crime de
ação penal pública condicionada.
Fica claro, no nosso entendimento, que a nova lei afastou por completo a Lei nº
9.099/95, restaurando a incondicionalidade para o processamento das lesões cor-
1262
Promotorias de Justiça
A Lei nº 11.340/2006 não definiu crimes nem prescreveu nenhuma figura típica,
1263
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O art. 5º da Lei Maria da Penha prevê literalmente que “Para os efeitos desta Lei,
configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psico-
lógico e dano moral ou patrimonial”.
Assim, toda ação ou omissão que cause dano moral, físico, psicológico e até patri-
monial à mulher em situação de violência familiar e doméstica pode ser objeto de
alcance da Lei nº 11.340/2006.
Entre os crimes mais comuns citam-se: homicídio, lesão corporal, ameaça, constran-
gimento ilegal, cárcere privado, crimes contra o patrimônio, crimes sexuais, etc.
Os crimes de lesão corporal leve juntamente com os crimes de ameaça são os mais
1264
Promotorias de Justiça
comuns envolvendo relação familiar. É habitual nos lares brasileiros mulheres que
suportam durante anos várias agressões físicas, que não chegam a causar dano
físico grave e configuram a lesão corporal leve. As lesões mais comuns resultam
do fato de a força física do homem ser superior à da mulher e decorrem de socos,
chutes, pontapés, tapas, bem como arremesso de objetos de toda natureza. Não ra-
ras vezes há ainda tentativa de asfixia. As agressões físicas, na maioria dos casos,
provocam hematomas, hemorragias, fraturas de ossos, principalmente de mãos e
face, e escoriações em geral.
Outro crime muito freqüente é o de ameaça de causar algum mal à vítima, como
ameaça de lesão corporal e, muitas vezes, ameaças de morte. Os crimes de ame-
aça são praticados pessoalmente, por interposta pessoa, por telefone e por mensa-
gens de computador. O certo é que as ameaças são firmes de forma a atemorizar
as vítimas, retirando-lhes a paz e a tranqüilidade e, muitas vezes, incapacitando-as
para a prática dos atos de sua vida diária. Muitas vítimas se vêem obrigadas até
mesmo a deixar o emprego tamanho o medo que sentem das ameaças. Assim, te-
mos que o crime de ameaça, devidamente efetivado contra as vítimas, é dos mais
comuns e o que mais nos preocupa pelas conseqüências danosas à vítima, pois
representa um dano psicológico grave.
Não se pode esquecer dos crimes sexuais (crimes contra os costumes), mais fre-
qüentes no ambiente familiar, muitas vezes praticados por marido e companheiro.
Essa questão é imensamente complexa pelo envolvimento cultural e social. Muitos
homens sentem-se no direito de se servir do corpo da sua mulher para a satisfação
de seus desejos sexuais. A mulher que por qualquer motivo não o atenda a tempo
e modo muitas vezes é vítima de abuso sexual. Esses crimes não são os mais fre-
qüentes que nos chegam no dia-a-dia da Promotoria Especializada e esperamos
CAPÍTULO VIII
que não seja por vergonha das mulheres em denunciar tal situação.
A lei ainda prevê crimes que lesem o patrimônio da vítima. Tais crimes ocorrem,
porém, com menor freqüência. Supomos que seja porque, quando a vítima procura
por ajuda, o que a faz tomar essa decisão são condutas criminosas mais ligadas ao
risco de vida, risco de integridade física e falta de tranqüilidade psicológica. A ques-
tão patrimonial não se revela como a mais importante na maioria dos casos. Mas
não raras vezes as mulheres relatam crimes patrimoniais associados aos demais.
1265
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Assim, nos conflitos familiares em que a mulher foi espancada, ameaçada, por ve-
zes ainda é posta para fora de casa ou lhe são subtraídos documentos necessários
para a tomada de providências protetivas, principalmente documentos de identidade
e certidão de nascimento de filhos, bem como seus cartões de vacinação. Evidente-
mente há crimes patrimoniais mais graves, principalmente como nos casos em que
a vítima chega à Promotoria de Justiça sem lugar para se abrigar e a seus filhos.
Todos esses crimes já estão previstos no Código Penal, que traz uma modificação
importante em relação à pena prevista para o crime de lesão corporal praticada
mediante violência doméstica, reprimenda que passou para três meses a três anos
de reclusão.
Os crimes contra a honra são muito comuns nos casos de violência doméstica, em
que muitas vezes as agressões físicas e as ameaças são acompanhadas de crimes
contra a honra, principalmente crime de injúria. As ofensas verbais são recorrentes
e muito freqüentes, o que demonstra a falta de respeito do casal e das pessoas
envolvidas. A falta de cuidado e delicadeza no trato familiar é flagrante e demonstra
a degradação da família moderna. É comum o agressor denegrir a honra da vítima,
deixando-a em farrapos, com a auto-estima completamente comprometida.
Além dos crimes já descritos, temos ainda as Contravenções Penais. Como já des-
crito anteriormente, o art. 5º da Lei nº 11.340/2006 fala em qualquer ação ou omis-
são praticada na situação de violência doméstica. Assim, as Contravenções Penais
também estão inseridas nesse contexto.
ções Penais, é uma das mais comuns entre as abrangidas pela Lei Maria da Penha.
Mas, em tese, outras contravenções penais são passíveis da aplicação dessa lei
especializada. O processamento das contravenções penais também será analisado
melhor nas modificações das leis, em seção à parte.
1266
Promotorias de Justiça
Pensamos que o aparente conflito de normas pode ser resolvido das duas formas
a seguir mencionadas.
1267
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Contudo, outros casos nos chegam aos gabinetes sem ter passado por nenhum dos
órgãos referidos. Daí a importância fundamental do atendimento à vítima ser feito
na promotoria de Justiça, de forma adequada, tranqüila, firme. Achamos, inclusive,
que tal atendimento merece um tópico independente, tamanha sua relevância em
todo esse processo.
Ouvida a vítima, vamos tomar as providências que se impõem, de acordo com cada
caso, e acompanhar o desenrolar dos procedimentos adotados.
Muitas vítimas saem dos atendimentos visivelmente satisfeitas por terem encontra-
do alguém que as ouvisse e que pudesse dar algum encaminhamento a seu caso.
1268
Promotorias de Justiça
requerer ao juízo as medidas protetivas solicitadas pela vítima, bem como requerer
prisão preventiva do agressor, conforme o caso.
O importante é informar à vítima o que vai ser feito, para que ela tenha ciência do
que pode acontecer e o que significa sua atitude de pedir ajuda ao Ministério Pú-
blico. As vítimas têm que ser alertadas, inclusive, de que o ofensor pode ficar mais
agressivo se souber que ela tomou alguma providência, sendo mais aconselhável
manter o sigilo quanto ao atendimento para que a situação em casa não piore, até
que alguma medida judicial possa ser efetivada. São muito comuns relatos aumento
de violência por parte dos agressores, quando as vítimas tomam alguma providên-
cia contra eles. Isso significa que, quando a vítima denuncia uma agressão, sua
integridade física poderá estar sob risco maior, e deve ser alertada sobre tal fato,
para se precaver.
A avaliação de risco é de grande valia para balizar a nossa atuação em cada caso:
em que situações vamos requerer a prisão preventiva, em quais vamos pedir o afas-
tamento do agressor do lar conjugal, em quais vamos encaminhar, sigilosamente, a
vítima para abrigos, etc.
1269
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Analisando melhor a questão, verificamos que não poderia ser outra a interpre-
tação, uma vez que as medidas protetivas estão relacionadas, obrigatoriamente,
à ocorrência de uma conduta delituosa, que deve ser combatida pelo direito penal.
1270
Promotorias de Justiça
Quanto aos requisitos das medidas cautelares civis, temos os já conhecidos e bas-
tante estudados fumus boni iuris e o periculum in mora. Ocorre que no caso das
medidas protetivas previstas na Lei nº 11.340/2006, de natureza criminal, não há
a presença do fumus boni iuris, já que estamos diante de uma prática de um ato
ilícito. Não há que se falar em fumaça de bom direito quando o que se vislumbra é
uma prática criminosa. Em verdade, o requisito presente que se constata é o fumus
commissi delicti.
Da mesma forma ocorre quando analisamos o outro requisito para a medida caute-
lar de natureza cível, ou seja, o periculum in mora. Vê-se claramente que tal requi-
sito não está presente como essencial para o deferimento das medidas protetivas
da Lei nº 11.340/2006, de natureza criminal. O que se tem é uma situação de risco
para a vítima, que precisa de proteção do Estado, uma vez que presente o requisito
da medida cautelar criminal periculum libertatis.
É o periculum libertatis o pressuposto da cautelar penal, uma vez que, solto ou, no
caso da medida protetiva, sem limitação de sua liberdade, poderá o agressor conti-
nuar a ofender a ordem pública.
224
Rogério Marcus Alessi
1271
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Assim, temos, como exemplo, uma medida protetiva que proíbe ao agressor apro-
ximar-se da vítima a uma distância, a ser fixada, suficiente para garantir a esta sua
integridade física. Não se trata da prisão do agressor, mas sim de uma limitação
em seu direito de liberdade. Dessa forma, estando presentes os requisitos pericu-
lum libertatis e o fumus commissi delicti, deve a medida protetiva ser aplicada de
imediato.
As previstas nos incisos IV e V são medidas de natureza civil. Todas obrigam dire-
tamente o agressor.
As medidas protetivas que protegem as vítimas são elencadas nos arts. 23 e 24,
transcritos a seguir.
1272
Promotorias de Justiça
Com efeito, o procedimento das medidas protetivas não segue o rito do processo
criminal. Muito bem fez o legislador em definir procedimento próprio para elas que,
dada à urgência do caso, não devem ficar adstritas ao processo investigativo nem
mesmo ao processo criminal. Assim, são autuadas em apartados, têm andamento
processual próprio, com finalidades distintas. O inquérito policial objetiva a investi-
gação dos fatos e a futura propositura de ação criminal. O expediente de medidas
protetivas visa à aplicação urgente de medidas que protejam a vítima e garantam a
paz social.
CAPÍTULO VIII
1273
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por essas questões apontadas, entendemos que as medidas protetivas são me-
didas cautelares de natureza criminal e devem ter a duração necessária para a
CAPÍTULO VIII
1274
Promotorias de Justiça
Uma questão que se apresenta bastante séria é o prazo de vigência das medidas
protetivas, se consideramos os procedimentos como independentes, e não como
acessórios. E se houver sentença condenatória, no processo penal, o agressor
cumprir a pena à qual foi condenado, como fica a proteção da vítima? Se o proce-
dimento de medidas protetivas for considerado acessório do processo penal, com
o cumprimento da pena, esse vai ser arquivado, e, conseqüentemente, as medidas
protetivas perderão a eficácia e a vítima ficará novamente sem proteção. A Lei nº
CAPÍTULO VIII
11.340/2006 silenciou sobre esse ponto. Nos EUA, mesmo findo o processo cri-
minal, as medidas protetivas podem prevalecer por um período de cinco anos, ou
seja, o agressor, após ter cumprido a pena, estará em liberdade total, mas ficará
proibido de se aproximar da vítima, e com isto não pode voltar a agredi-la. Aqui no
Brasil não há manifestação legal expressa a esse respeito. Já tivemos um caso
em que o agressor ficou preso por oito meses e meio, cumpriu totalmente a pena
que lhe foi aplicada, voltou às ruas, e, em menos de um mês, retornou a sua casa,
ameaçando novamente a família, principalmente a mulher, munido de um pedaço
1275
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Pensamos que essa situação precisa ser resolvida de melhor forma. Se as medidas
protetivas continuassem a ter validade após resolvido o processo criminal, teríamos
a esperança de que novas agressões e ameaças poderiam ser evitadas, diminuin-
do, assim, a violência doméstica. Esse é um ponto interessante e ainda sem fácil
resolução. Pensamos que, ao sentenciar condenando por crime em situação de
violência doméstica, o juiz poderá determinar que o agressor continue cumprindo as
obrigações constantes nas medidas protetivas, principalmente no que diz respeito à
proibição de se aproximar da vítima por um espaço determinado, que garanta a ela
e a sua família a integridade física. Assim, defendemos que as medidas protetivas
são de natureza criminal, devendo prevalecer até que sejam necessárias.
cia, devendo haver a apuração e o processo devido, sem prejuízo de avaliar, diante
da gravidade do caso e do risco que possa estar correndo a vítima, a possibilidade
de se decretar a prisão preventiva do agressor.
1276
Promotorias de Justiça
Não se trata aqui de um novo tipo de prisão preventiva diverso do já existente e pre-
visto. O que fez a Lei nº 11.340/2006 foi acrescentar ao Código de Processo Penal
mais uma hipótese em que é possível a decretação da prisão preventiva. Modifica-
ção como essa já foi feita anteriormente, com a inclusão de outros requisitos para
tanto, principalmente no que diz respeito à ordem econômica.
Com muito mais razão, vem a lei prever a possibilidade de decretação de prisão
preventiva nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, em que a
sua vida e a integridade de sua família correrem reais riscos.
1277
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
cominada ser de detenção ou de reclusão, desde que o crime tenha sido praticado
em situação de violência doméstica e quando as medidas protetivas previstas pela
Lei nº 11.340/2006 não forem suficientes para garantir à vítima a sua integridade
física, moral, psicológica.
A prisão preventiva, como medida cautelar criminal, deve ser mantida enquanto
persistirem os motivos ensejadores da medida extrema. Da mesma forma, desa-
parecendo tais motivos, pode a medida de prisão preventiva ser revogada. Nada
impede, portanto, que, mesmo revogada ou negada de início, não possa ser rea-
valiada e novamente decretada, observando-se os fatos e os requisitos para sua
decretação.
Assim, a situação de risco que abale um indivíduo, atinge toda a ordem jurídica, que
merece a ação da Justiça para a sua preservação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA NETO, Luiz Mello de. Família no Brasil dos Anos 90: Um Estudo
sobre a Construção Social da Conjugalidade Homossexual. Tese de doutorado.
CAPÍTULO VIII
1278
Promotorias de Justiça
JESUS, Damásio Evangelista de. Código de processo penal anotado. 13 ed. São
Paulo: Saraiva, 2002.
LEMOS, Aline Maria da Rocha. Convivências homoafetivas. Jus Navigandi,
Teresina, ano 10, n. 1030, 27 abr. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/
doutrina/texto.asp?id=8313>. Acesso em: 09 abr. 2008.
MARCÃO, Renato. Racismo ou injúria racial? O caso Grafite. Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, n. 651, 20 abr. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/
texto.asp?id=6604>. Acesso em: 18 abr. 2008.
1279
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1280
Promotorias de Justiça
ANEXOS
Modelo de parecer
Este parecer foi vencedor de três prêmios: Melhor Arrazoado Forense, concedido
pela Associação do Ministério Público do RGS; Direitos Humanos – Personalidade,
pelo Movimento de Justiça e Homem Comunidade, pela B’nai B’rith do Rio Grande
do Sul.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL
PROCESSO Nº 695 130 484
CAPÍTULO VIII
“Queremos afirmar desde já que não temos a intenção de incriminar o povo alemão.
1281
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Eram dez horas da manhã do dia 20 de novembro de 1945. Com essas palavras,
ressaltando que não pretendia de qualquer modo atentar contra a raça alemã, para
não incorrer em uma outra e criminosa discriminação racial, o acusador público
americano Robert Jackson instalou solenemente, em Nuremberg, Alemanha, o Tri-
bunal Militar Internacional que iria julgar os 23 réus - os sobreviventes da alta cúpula
do III Reich que foram capturados ou se entregaram aos aliados ao final da Segun-
da Guerra, o maior conflito da humanidade. As acusações: conjuração contra a paz,
crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Do recurso
Da imputação
1282
Promotorias de Justiça
Do fundamento absolutório
A absolvição está fundamentada no inc. I do art. 386 do CPP. “Os textos dos livros
publicados não implicam induzimento ou incitação ao preconceito e discriminação
étnica ao povo judeu. Constituem-se em manifestação de opinião e relatos sobre
fatos históricos contados sob outro ângulo. Lidos, não terão, como não tiveram,
porquanto já o foram e, por um grande número de pessoas, o condão de gerar
sentimentos discriminatórios ou preconceituosos contra a comunidade judaica [...]
As outras manifestações apresentadas pelas obras, com relação aos judeus, outra
coisa não são, senão simples opinião, no exercício constitucional da liberdade de
expressão” (fls. 861 e 862). Portanto, sob a ótica da sentença, o réu não obrou com
dolo, suas ações não incitaram nem induziram à discriminação racial, desprezo ou
preconceito contra o povo de origem judaica e, ao realizá-las, exercia direito cons-
titucional de opinião.
1283
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Independentemente disso, porém, vale notar que o devido processo legal não foi
respeitado. Este princípio-garantia constitucional pressupõe decisões fundamenta-
das do Poder Judiciário,225 sob pena de nulidade, e fundamentar significa o magis-
trado dar as razões, de fato e de direito, que o convenceram a decidir a questão
daquela maneira. A fundamentação tem implicação substancial e não meramente
formal, donde é lícito concluir que o juiz deve analisar as questões postas a seu jul-
gamento, exteriorizando a base fundamental de sua decisão226. Em se tratando de
processo penal, mais avulta a inadmissibilidade de motivação implícita, aliunde ou
per relationem. Absolutamente indispensável, na sentença condenatória, a demons-
tração da correlação entre o fato punível e o modelo legal. Na sentença absolutória,
não menos imperiosa a indicação das razões justificativas ou excludentes da auto-
ria, da criminalidade ou da tipicidade.227
Daí que, vênia da Dra. Promotora, sua posição é isolada e insustentável à luz dos
princípios reitores do processo penal. A sentença, como decisão do Poder Judiciá-
rio, deve ser fundamentada, para condenar ou absolver (art. 93, IX, da CF/88).
225
Cf. art. 93, inc. IX, da CF/88: “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir,
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes”.
CPP, art. 381: “A sentença conterá: [...] III - a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar
a decisão”.
226
Cf. Nélson Nery Júnior, Princípios do Processo Civil, p. 156.
227
Cf. Benedetto Pellingra, La motivazione della sentenza penale, p. 108.
228
O Juiz e a Função Jurisdicional, p. 347.
229
Justitia 65/23.
1284
Promotorias de Justiça
1285
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Quanto à outra preliminar, o parecer é pela rejeição. Não houve o alegado desvio,
devido ao entrelaçamento dos temas, e disso bem se encarregou a Dra. Promotora
em demonstrar.
Do error in judicando
Dentre os ingredientes do juízo absolutório, está o de que os livros, “[...] lidos, não
terão, como não tiveram, porquanto já o foram e, por um grande número de pes-
soas, o condão de gerar sentimentos discriminatórios ou preconceituosos contra a
comunidade judaica” (fl. 81).
A sentença não revela, porém, a base concreta de tal assertiva. E aí mais uma vez
peca em termos de fundamentação. É de se supor, em face desta injustificável
omissão, tenha procurado expressar que as obras, apesar de lidas por um vasto
número de pessoas, não produziram, como resultados fenomenológicos, sensíveis
no mundo da realidade, sentimentos discriminatórios ou preconceituosos contra a
CAPÍTULO VIII
230
Nesse sentido: R.Esp. 35.320-3-TO, 6ª Turma, Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, DJU, 08/08/94,
p. 19.575.
231
Cf. Ada Pellegrini Grinover, Das Nulidades do Processo Penal, p. 21.
1286
Promotorias de Justiça
como ato ou efeito de discriminar, de separar, de apartar, de segregar uma raça, cor,
religião, etnia ou procedência nacional, como política de segregação, de isolamento
de um grupo social. Preconceito como conceito ou opinião formados antecipada-
mente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos, geradores de suspeita,
intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões, etnias etc.
232
Cf. Fábio Medina Osório e Jairo Gilberto Schafer, Dos Crimes de Discriminação e Preconceito
- Anotações à Lei nº 8.081, de 21/9/90, Revista do Ministério Público do RGS, nº 34, p. 194.
1287
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
233
Cf. Giuseppe Bettiol, Direito Penal, p. 361.
CAPÍTULO VIII
234
A noção material de lesividade não diferencia o latrocínio do homicídio em legítima defesa, já que
em ambos há o resultado material danoso à vida. A ilicitude é uma qualificação do fato, qualificação que
é global, vale para todos os demais ramos. Ela se resolve num juízo de que o fato é lesivo de um bem
jurídico. Esta lesão realmente não tem realidade perceptível aos sentidos. Sob o aspecto naturalista, o
homicídio cometido em estado de legítima defesa e o homicídio premeditado não apresentam diferenças
porque na realidade naturalista o que se pode verificar em ambos os casos é a causação da morte de um
homem. Se dizemos que falta no primeiro ilicitude porque a lesão do bem jurídico é justificada enquanto
no segundo esta lesão é ilícita, julgamos o fato em relação às exigências da norma jurídica enquanto
norma de tutela de interesses. Mas a lesão como tal não é perceptível de um ponto-de-vista sensível
(Giuseppe Bettiol, ob. cit., p. 365).
235
Giuseppe Bettiol, ob. cit., p. 365.
236
Teoria Generale, p. 24.
1288
Promotorias de Justiça
Referindo-se aos judeus como inimigos mortais de toda a ordem social não judaica,
autocratas encarniçados comprometidos com a quebra dos sistemas nacionais dos
Estados e protagonistas deliberados de uma falsa adesão e defesa da democracia,
a obra os coloca como perigosos agentes da anarquia, que inspirados na negação
da autoridade, e por congênita deficiência moral, buscam romper o equilíbrio das
1289
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1290
Promotorias de Justiça
Em uma síntese, os livros publicados e editados pelo apelado tentam negar o holo-
237
Segundo o professor José Roberto Lopez, do Departamento de História da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, autor de livro que discute o revisionismo pregado pelo réu, um dos problemas do
Holocausto: Judeu ou Alemão ?, “é que ele apresenta erros históricos misturados com verdades indis-
cutíveis” (vide Zero Hora de 23 de julho de 1992, fl. 363 dos autos).
1291
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
causto, atribuindo aos judeus, como substrato da ação dos Aliados, e exatamente
pela congênita perversão de caráter, a falsificação de documentos e a montagem
de fotografias e filmes, simulando episódios que não teriam ocorrido na Alemanha e
nos territórios por esta ocupados, em uma criminosa distorção da realidade históri-
ca, realidade que é pública e notória, oficialmente reconhecida pela própria Alema-
nha, e veiculam, explicita e implicitamente, nas linhas e entrelinhas, mensagens de
cunho nitidamente anti-semitas, discriminatórias e preconceituosas.
Ainda a respeito desta potencialidade lesiva das obras incriminadas ao bem jurídico
protegido pelo tipo, cumpre ressaltar que os autos reúnem manifestações de repú-
dio emanadas de diferentes setores da sociedade civil (Associação Nacional dos
Veteranos da Força Expedicionária Brasileira - fl. 75; Associação Riograndense de
Imprensa - fls. 76/77; Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes
Marítimos Fluviais e Aéreos - fls. 78/79; Instituto Solano Trindade - fl. 80; Sindicato
dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de
Porto Alegre - fl. 81; Associação Gaúcha de Escritores - fls. 82/84; da Secção do
Rio Grande do Sul da Ordem dos Advogados do Brasil - fl. 87; Movimento Negro
Brasileiro e Movimento Popular Anti-Racismo - fls. 109/126) e de diversas pessoas
vinculadas ao judaísmo, que pelo fato de serem judias não perderam a condição
moral para depor (fls. 44/47; 53/59; 139/153). São dados concretos que não pode-
riam ter sido tão facilmente desprezados pela decisão apelada.
Desse modo, e que no pertine ao mérito da sentença, não há como mantê-la com
base na falta de produção de dano ao bem jurídico protegido. Não se deve permitir
a confusão entre dano (ofensa material e sensível) e lesão (ofensa potencial e ne-
gativamente valorada pelo cotejo da norma com as concretas exigências sociais de
tutela).
Da ausência de dolo
CAPÍTULO VIII
1292
Promotorias de Justiça
visão, é nitidamente dolosa, e por dolo direto. Sua obstinada atuação voltada ao
anti-semitismo e ao nazismo, feita através das publicações que promove e pelos
sentimentos espúrios que procura difundir, é amplamente conhecida no Brasil e
no exterior,240 e não se concilia à simples luz do razoável com propósitos diversos
daqueles que o tipo penal em questão pretende evitar. A propósito, o parecer do
Ministério Público integralmente endossa as alegações finais da Assistência da Acu-
sação, que, lastreadas em circunstanciado exame dos trechos, torna irrecusável
compreensão diversa, seja por inexistência de dolo, seja pela existência de dolo
diverso e não compreendido pelo tipo em questão (fls. 802/803).
Tamanho o exagero nas inverdades históricas, criadas por sua inteligência ou pela
de outros, cujas obras publica, e a voracidade nos assaques contra os judeus, ho-
mem e etnia, que somente podem ser entendidas em um contexto deliberadamente
criminoso, atentatório de um dos bens mais valiosos que o ser humano pode titular,
240
De acordo com CD-ROM IIª Guerra Mundial, Agência Estado e Estado de Minas, “A Universidade de
Telavive, em Israel, publicou em 1994 um relatório que alerta para o quanto as aparências podem enga-
nar: o Brasil, diz o documento, é um dos lugares do mundo em que a ideologia hitlerista mais cresce. O
CAPÍTULO VIII
documento foi feito com base em pesquisas realizadas em 1993, e aponta os grande centros urbanos
de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (onde também são incluídas pequenas cidades do
interior, como focos do pensamento hitlerista. Em São Paulo, o relatório de 92 páginas da Universidade
de Telavive refere-se às gangues de skinheads (cabeças peladas). No Rio Grande do Sul, é destacada
a ampla circulação do livro Judeu ou Alemão: nos Bastidores da Mentira do Século, de S.E. Castan. A
“mentira” seria o holocausto”. Também a respeito de sua notoriedade e influência no Neonazismo no
Brasil, a Revista Isto É publicou: “O ódio de S.M.C. contra judeus, negros e nordestinos surgiu há pouco
mais de três anos, quando abandonou a gangue Carecas do Subúrbio, na qual estava desde 1984. Pas-
sou a ler a biografia de Adolf Hitler e os livros sobre o neonazismo. Entrou em contato com os defensores
do Führer no Brasil, como o carioca Armando Zanine Júnior, 62 anos, presidente do Partido Nacionalista
Revolucionário Brasileiro, e com o gaúcho Siegfried Ellwanger Castan, autor de livros que desmentem o
holocausto” (p. 45 e 46, edição nº 1.201, de 7 de outubro de 1992, exemplar juntado a fls. 445/446).
1293
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
bem que a Conferência de Puebla disse ser inviolável, a dignidade do ser humano
e da raça a que pertence, e que a CF/88 erigiu em princípio fundamental, sem que
haja mínimo espaço a uma discussão rotulada pelo sugestivo título do revisionis-
mo,241 de que se vale o réu para fazer crer que seu único propósito é o de revisar a
história, como se esta trágica passagem da história, aliás o maior conflito da histó-
ria de humanidade e o momento decisivo da história do século XX, fosse passível
de revisão em suas principais circunstâncias e, especialmente, em seus efeitos
sobre a dignidade humana.242 Revisar o que é notório, fazendo-se de conta que o
racismo,243 as idéias de eugenia244 e o anti-semitismo245 não tenham dado corpo à
ideologia nazista, ideologia excludente e condenatória,246 é querer acobertar inver-
241
Os devotos de Hitler, e no Brasil o réu é o líder do movimento devido aos livros que publica, negam
a existência das câmaras de gás nos campos de concentração e a morte de 6 milhões de judeus que,
como o réu, qualificam de parasitas dispostos a dominar o mundo – Cf. Zero Hora de 30.7.95, fl. 944.
242
Como discutir o holocausto, o nazismo e o anti-semitismo enquanto fatos ? O que se dizer do pe-
dido de desculpas feito pelo ex-chanceler da Alemanha Oriental, Lothar de Maizière, pelo massacre
executado sobre a população judaica ? As obras incriminadas poderiam discutir os motivos dos assassi-
natos nazistas (como, por ex., há quem sustente que tanto a teoria como a prática nazista tiveram como
ponto central a aplicação de uma política biológica – Dr. Robert Proctor, higiene Racial – A Medicina na
Época dos Nazistas), ou a colaboração criminosa, por omissão, dos Aliados no holocausto, ou a injustiça
pela impunidade dos crimes cometidos pelos Aliados – Hiroshima e Nagasaki, por exemplo, sem que
estivessem a atentar contra os princípios constitucionais fundamentais da não-discriminação e do não-
preconceito. Aí sim estariam a revisar a história. O historiador gaúcho Décio Freitas, autor de vários arts.
de alerta sobre os perigos do renascimento do nazismo, assegura que os livros de Castan não têm com-
promisso científico. Para o historiador, eles são uma propaganda neonazista travestida de revisionismo
histórico – Cf. Zero Hora de 31.7.95, fl. 948 dos autos.
243
Erich Goldhagen, do Russian Research Center, da Universidade de Harvard, em um estudo sobre
o assunto, destaca que, para os nazistas, a história da humanidade era entendida como uma guerra
de raças em contraposição ao que pregavam os marxistas a respeito da luta de classes. Ocupando
importantes funções dentro da economia, artes, meios de comunicação e literatura, os judeus atingiram,
segundo os nazistas, seu objetivo para a conquista do poder através do liberalismo e democracia em
alguns países e, em outros, sob a máscara do socialismo e do comunismo. Ainda como práticas racistas,
as leis de Nuremberg, proibitivas de várias relações envolvendo judeus e do acesso destes a meios de
transporte coletivo, uso de bancos das praças públicas, contas bancárias, direito aos seus bens etc.
244
Estavam em evidência as teses sobre eugenia e em nome dela os médicos nazistas cometeram
várias atrocidades. Para os nazistas, os não-arianos eram inferiores. Inferioridade racial. Robert Lifton,
na obra The Nazi Doctors, cita o caso do médico Eduard Wirths, de Auschwitz, que inoculava o bacilo do
tifo em judeus sãos, sob a justificativa de que estes, naturalmente condenados a morrer, poderiam servir
de cobaias para teses de vacinas. Muitos morreram em experiências médicas que incluíam a exposição
CAPÍTULO VIII
a alta pressão e congelamento. Muitos médicos nazistas obtiveram destaque pela crueldade dos méto-
dos de que se utilizavam para assassinar. Josef Mengele, o Anjo da Morte, fazia experimentos genéticos
especialmente com crianças e gêmeos, tudo para melhoramento da raça.
245
O nazismo construiu uma ideologia que excluía e condenava à morte todos os que eram diferentes
e pensavam diferente do modelo (imaginário) de homem ariano. A Segunda Guerra foi desencadeada
também para impor uma ordem mundial baseada nesse modelo, no extermínio dos judeus e na idéia
de que outros povos deveriam se submeter aos alemães – Cf. Roney Cytrynowicz, O anti-semitismo no
nazismo, CD-ROM IIª Guerra Mundial.
246
Que digam os guetos, como o de Varsóvia, mundialmente conhecido pelo levante, palco das mais
variadas atrocidades à dignidade. Fotografias ainda hoje ilustram a trágica cena dos judeus humilhados
aos substituírem animais de tração. E os campos de extermínio, meios de consecução da chamada
Solução Final ? Que dizer de Klaus Barbie, o Carniceiro de Lyon, ou de Adolf Eichmann ? Ben Abraham,
1294
Promotorias de Justiça
valetas. Depois foram utilizados caminhões com o escapamento voltado para o interior de um baú mon-
tado sobre o chassis, onde as vítimas eram asfixiadas pelo monóxido de carbono. Em 1941 foram cria-
dos os campos de extermínio equipados com câmaras de gás. Durante o julgamento pelo Tribunal de
Nuremberg, Rudolf Höss, um dos chefes mais cruéis do campo de Auschwitz, prestou este depoimento:
“Em junho de 1941 recebi a ordem de organizar o extermínio de Auschwitz. Permaneci em Treblinka
para observar como era feito o extermínio. O comandante de Treblinka [...] utilizava óxido de carbono.
No entanto, seus métodos não me pareciam eficazes. Minha escolha era pelo cianeto de potássio. Nós
também conseguimos melhorar o procedimento em Treblinka, construindo câmaras de gás que poderiam
abrigar duas mil pessoas de uma vez” (CD-ROM IIª Guerra Mundial).
249
Cf. Winston S. Churchill, Memórias da Segunda Guerra, p. 31, quando Hitler chegou ao poder, foi o
livro mais cuidadosamente lido pelos governantes políticos e militares dos países Aliados.
250
Cf. Winston S. Churchill, ob. e p. cits.
1295
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Se esta cegueira jurídica252 não fosse o bastante para afastar a hipótese de exercí-
cio de um direito constitucional, há de se considerar que inexiste direito que compor-
te exercício ilimitado, direito que prescinda de regularidade em seu exercício.253
251
Sobre o assunto: Roney Cytrynowicz, Memória da Barbárie: A História do Genocídio dos Judeus
na Segunda Guerra Mundial, A Vida Secreta dos Relógios e outras Histórias, Integralismo e Anti-Semi-
tismo.
252
Cegueira jurídico no sentido de ação sabidamente contrária aos valores protegidos pelo sistema
CAPÍTULO VIII
jurídico.
253
Cf. art. 23, inc. III, do CP - “Há, entretanto, limites para que o exercício de um direito possa reputar-se
lícito. Esse limite vem definido na palavra regular, utilizada pelo legislador pátrio. Só o exercício regular
de um direito justifica o fato, não o eventual exercício abusivo desse mesmo direito. Admite-se, assim,
que o abuso de direito afaste a incidência da norma permissiva. Exercício regular de direito é o que se
contém nos limites impostos pelo fim econômico ou social do direito em causa, pela boa fé e pelos cos-
tumes. Assim, o exercício de um direito com o intuito de prejudicar caracteriza o seu irregular exercício,
ou seja, o abuso de direito” (Francisco de Assis Toledo, Ilicitude Penal e Causas de sua Exclusão, p.
110).
254
Art. 220: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição”.
255
Pontes de Miranda, Comentários à CF de 1967, v. V, p. 139.
1296
Promotorias de Justiça
Mas nem por isso está imune a uma limitação em termos de exercício, como con-
dição da própria licitude da conduta. É a própria Carta consigna que: “Os direitos e
garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte” (art. 5º, inc. LXXVII). Pelo Pacto de San José, ao qual
o Brasil aderiu, conforme Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992, publicado no
D.O.U de 9 de novembro do mesmo ano, “a lei deve proibir toda a propaganda a favor
da guerra, bem como toda a apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que consti-
tua infração à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência” (Cláusula 13).
É elementar a noção de que todo o direito tem o seu limite lógico na fronteira dos
direitos alheios. A ordem jurídica não pode deixar de ser um equilíbrio de interes-
ses. Não é lógico nem razoável a possibilidade de uma colisão de direitos, auten-
ticamente tais. O exercício de um direito degenera em abuso, e torna-se atividade
antijurídica, quando invade a órbita de gravitação do direito alheio.
Relativamente ao direito de opinião, em quase todo o mundo civilizado tem sido ob-
jeto de regulamentação especial,258 que lhe traça limites,259 não podendo, por outro
lado, ficar alheio a uma interpretação sistêmica do Direito, e aqui surge o princípio
constitucional da isonomia, que é indesjungível da lei, nos casos de conflito (apa-
rente) com outro direito constitucional, pois inexistem contradições entre dispositi-
vos internos da Constituição, e a CF/88 assegura que “todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza” (art. 5º, caput), que “a lei punirá qualquer
discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais” (art. 5º, inc. XLI),
como meio garantidor de um dos objetivos fundamentais da República Federativa
CAPÍTULO VIII
256
Cf. Sampaio Dória, Direito Constitucional, v. I, tomo II, p. 721.
257
Cf. Darcy Arruda Miranda, Comentários à Lei de Imprensa, p. 103.
258
Cf. Nelson Hungria, Comentários ao Código Penal, v. VI, p. 261.
259
Quando se pretende proteger os direitos de liberdade, como, por ex., o de opinião, há de se distinguir
entre os direitos individuais para os quais a Constituição não prevê, expressamente, qualquer possibili-
dade de limitação legislativa genérica, e que, por isso, são restringidos apenas em razão da salvaguarda
de interesses prevalentes, e os direitos de liberdade para os quais há, expressamente, esta previsão
constitucional, como no caso da Constituição do Brasil.
1297
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Havendo o conflito entre normas constitucionais, entre a que impõe o dever de não
discriminar e a que consagra o direito de expressar o pensamento, deve-se buscar a
conservação do valor de não fazer e, nesse passo, a liberdade de pensamento não
pode desprezar outros direitos fundamentais, sendo primordial a tutela do interesse
público prevalente.261 Nenhum direito fundamental, calcado na Constituição, possui,
em verdade, valência absoluta frente a outros direitos também fundamentais.262
Quando direitos fundamentais estão em conflito com outros bens ou direitos cons-
titucionalmente protegidos, é mister a ponderação dos bens e direitos a fim de se
obter, se possível, uma concordância prática entre os vários bens e direitos prote-
gidos em nível jurídico-constitucional. Estas tarefas de ponderação e concordância
prática são formas de concretização das normas consagradoras de direitos funda-
CAPÍTULO VIII
mentais (concretização-restrição).264
260
Art. 3º, inc. IV, da CF/88.
261
Cf. Garcia de Enterria, La Constituzione come norma giuridica. La Constituzione spagnola del
1978.
262
Cf. Silva Franco, Leis Penais Especiais e sua Interpretação Jurisprudencial, p. 1150.
263
RJD 9/240.
264
Cf. José Gomes Canotilho, Direito Constitucional, p. 601.
1298
Promotorias de Justiça
265
Cf. Fábio Medina Osório e Jairo Schafer, ob. cit., p. 190.
266
Nesse sentido, e relativamente ao conflito com o direito à honra, de bem mais tênue proteção penal,
vide RT 699/337 e RJD 17/206.
267
Cf. Fábio Medina Osório e Jairo Schafer, ob. e p. cits.
1299
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Para expressar a derradeira manifestação sobre a tese sustentada pelo réu, pa-
rafraseando Rudolf Von Ihering, consigna o Ministério Público que, se um direito
concreto se vangloria da sua existência para pretender um exercício ilimitado, sem
fronteiras, faz recordar o filho que levanta a mão contra a própria mãe, insultando a
idéia do direito, porque a idéia do direito será eternamente um movimento progressi-
vo de transformação com vistas ao bem comum, à realização do homem e dos mais
caros interesses da sociedade, objetivos inatingíveis quando atingida a dignidade
do ser humano, gratuita, leviana e criminosamente, considerado o ser humano em
sua individualidade ou como membro de grupo, raça, etnia.
Do parecer
1300
Promotorias de Justiça
Esta colocação foi unicamente da Defesa, pessoal e técnica, como expediente de-
fensivo, pois o ponto nuclear da demanda está na propositada violação da igual-
dade, da não-discriminação e do não-preconceito, como regras de direito natural,
historicamente consagradas nos textos constitucionais do Brasil, feridas pela reali-
zação das ações hipotizadas no art. 20 da Lei, imputadas e imputáveis ao réu.
268
A Luta pelo Direito, Rudolf Von Ihering, p. cit.
1301
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A advertência final é de Sebastian Soler: “Las penas más crueles han sido fundadas
en la afirmación de que un sujeto era brujo o hereje. En nuestros propios tiempos
hemos visto fundar las más extremas medidas sobre la base de la condición óntica
de judío o de negro”.269
- Modelos de Denúncias
Consta dos inclusos autos apuratórios que, no dia X do mês X do ano X, por volta
das X horas da tarde, os policiais civis ora denunciados, mediante unidade de de-
sígnios e vínculo psicológico, abordaram, de forma abusiva e truculenta, a vítima
CAPÍTULO VIII
269
Derecho Penal, v. 2, p. 8.
1302
Promotorias de Justiça
pontapés por todo o seu corpo. Naquela ocasião, também foi utilizado um instru-
mento de tortura denominado “cocota”, que gerou as lesões corporais positivadas
no E.C.D inserido às fls. 0, causando na pessoa da ofendida enorme sofrimento físi-
co e mental, a fim de que obtivessem “confissão” sobre episódio que investigavam.
A vítima GGG, por não participar e nem saber a respeito do assalto que estava sen-
do investigado pelos detetives, não confessou a autoria do roubo, fato que deixou
os policiais irritados e deu causa as novas brutalidades.
suas costas, então perpetrados de forma violenta pelos policiais denunciados que
procediam a sua condução.
Ao chegar em outra sala daquele sombrio prédio, FFF e III (2º e 3º denunciados),
munidos de um utensílio feito com borracha larga presa a um pedaço de madeira,
instrumento conhecido por “cocota”, inauguraram uma nova sessão de barbáries,
caracterizadores de autêntico ato de tortura. Diversas “cocotadas” foram desferidas
pelos detetives nas solas dos pés da vítima, enquanto a mesma era novamente
1303
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
indagada sobre o assalto. Depois de muito sofrer, a vítima inventou uma estória a
respeito do investigado roubo, passando para os policiais nomes de pessoas ima-
ginárias. Somente após a prestação de tais informações é que os policiais pararam
com as cruéis agressões, liberando-a, por conseguinte. Naquela ocasião esta ne-
cessitou de se deslocar para o hospital a fim de ser medicada.
Importa ressaltar que, em ambos os locais onde a vítima foi submetida aos cruéis
atos de violência, o policial civil CCC (1ª denunciado) esteve presente, represen-
tando, com a sua pessoa, a figura da chamada “presença encorajadora”. Apesar de
não ter mantido contato físico com a vítima, o denunciado assistiu, aderiu e coman-
dou as supramencionadas sessões de selvageria, haja vista que o mesmo exerce a
função de Chefe da Equipe que é composta pelos demais denunciados.
Assim, tendo os denunciados incorrido nas iras do art. 1º, inciso I, “a”, da Lei nº
9.455/97 e art. 350, inciso IV, c/c arts. 29 e 69 do Código Penal Brasileiro, requer o
Ministério Público que, recebida esta, sejam os mesmos devidamente citados para
interrogatório e defesa que tiverem, ouvidas as vítimas, testemunhas abaixo arro-
ladas e cumpridas as demais formalidades da lei, ao final, serem condenados nas
penas que lhes couberem.
1304
Promotorias de Justiça
Rol:
1) GGG, vítima – fls. 0;
2) NNN – fls. 0;
3) LLL – fls. 0;
4) AAA – fls. 0;
5)HHH – fls. 0;
6)RRR – fls. 0.
N. Termos.
Belo Horizonte, dia/mês/ano.
1305
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
cedido a detenção ilegal da pessoa de DR, eis que não estava em flagrante delito
e nem mesmo havia ordem prisional que justificasse o tolhimento de sua liberdade
ambulatorial.
Assim, tendo o denunciado incorrido nas iras do art. 3º, “a” e “i”, da Lei nº 4.898/65,
na conformidade do art. 69, este, do Código Penal Brasileiro, requer o Ministério
Público seja o mesmo devidamente citado para interrogatório e defesa que tiver, ou-
vidas as testemunhas abaixo arroladas, cumpridas as demais formalidades legais,
para, ao final, ser condenado nas penas que lhe couber.
1306
Promotorias de Justiça
Rol :
1) FA– testemunha fls.;
2) SC – testemunha fls.
3) WD– vítima fls.
N. Termos.
Belo Horizonte, x de fevereiro de 2000.
EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (ÍZA) DE DIREITO DA ___
VARA CÍVEL DA COMARCA DE RIBEIRÃO DAS NEVES
I – DOS FATOS:
1307
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O laudo pericial demonstrou que a Cadeia Pública de Ribeirão das Neves não apre-
senta as condições mínimas de higiene e segurança para a manutenção dos presos
encarcerados. Como consectário, os direitos dos presos à dignidade e da sociedade
de Ribeirão das Neves à segurança são violados pela manutenção das atividades
da Cadeia Pública Local.
Em virtude das precárias condições de segurança da Cadeia Pública, a Polícia Mili-
tar informou que os presos haviam serrado as grades de duas celas, comprovando-
se os riscos de fuga e rebelião dos presos.
Já no dia 15 de fevereiro de 2007, os presos rebelaram-se e destruíram a estrutura,
já combalida, do estabelecimento prisional, como demonstra o Boletim de Ocorrên-
cia elaborado pela Polícia Militar.
Amalgamados esses dois fatores – péssimas condições estruturais da Cadeia Pú-
blica de Ribeirão das Neves e a destruição total das celas pela rebelião - a manu-
tenção dos detentos no estabelecimento prisional configura a violação do princípio
da dignidade da pessoa humana, das normas internacionais e das leis infraconstitu-
cionais de proteção dos presos, além de representar perigo para toda a sociedade
de Ribeirão das Neves.
Urge salientar a omissão do Estado de Minas Gerais em cumprir a Constituição
Federal e a legislações em vigor no país, uma vez que, apesar da criação de novos
presídios de forma açodada e sem condições técnicas e ambientais adequadas para
o funcionamento, não oferece as condições mínimas de dignidade aos presos. Não
basta criar vagas no sistema prisional é preciso cumprir o princípio da dignidade da
pessoa humana, oferecendo condições dignas para que as pessoas cumpram suas
CAPÍTULO VIII
1308
Promotorias de Justiça
II - DO DIREITO
1309
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
270
Cf. PIOVESAN, Flávia.Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 5 ed. São Pau-
lo: Max Limonad, 2002. p. 81.
271
Julgamento do Recurso Extraordinário 80.004 (Flávia Piovesan, op. cit., p. 84)
272
Vide Julgamento da Segunda Turma do STF, em 19/03/1996, Relator Min. Maurício Correa. HC nº
73044/SP-São Paulo- Habeas Corpus. Publicado no DJ, 20-09-96, pp. 34534. Ement. Vol.- 01842-02,
pp. 00196. Julgamento da Primeira Turma do STF, Relator Min. Moreira Alves. Recurso Extraordinário n
º 365950/São Paulo.
1310
Promotorias de Justiça
1311
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1312
Promotorias de Justiça
beirão das Neves, foi omisso e, por conseguinte, deve ser compelido a transferir os
presos para outros estabelecimentos prisionais.
Por fim, urge esclarecer que, no prazo legal, será proposta Ação Civil Pública para
a punição dos agentes políticos e públicos responsáveis pela violação de direitos
humanos dos presos.
III-DOS PEDIDOS
1313
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Termos em que,
Pede Deferimento.
Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para efeitos fiscais.
1314
Promotorias de Justiça
cluir que não há outros meios aptos a protegê-la e garantir sua incolumidade física
e psíquica.
Por outro lado, a testemunha / vítima enquadra-se nos requisitos neces-
sários para que seja incluída no programa, uma vez que não está sob custódia do
Estado e por demonstrar interesse em colaborar com as investigações, apesar de
temer por sua vida, motivo pelo qual se submete às condições estabelecidas na Lei
Federal n° 9.807/99, nas Leis Estaduais n° 13.495/00 e 15.692/05, e no Decreto
Estadual n° 43.273/03.
Considerando os fatos acima expostos e com fundamento nas legislações
federal e estadual vigentes, solicita esta Promotoria de Justiça, como medida acau-
telatória para futura produção de prova a inserção de ___, no PROVITA/MG, como
forma de preservar sua vida e buscar a verdade real.
ao processo criminal;
Considerando as disposições da Lei Estadual nº 13.495/00, que institui o Programa
de Proteção a Vítimas e Testemunhas de Infrações Penais no Estado de Minas
Gerais;
Considerando as disposições do Decreto Estadual nº 41.140/00, que regulamenta
a instituição do Programa Estadual de Proteção, Auxílio e Assistência a Vítimas e
Testemunhas Ameaçadas - PROVITA/MG;
Considerando a necessidade de se agilizar o andamento dos processos em que
1315
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
- Modelo de Recomendação
Recomendação nº 01/2008
1316
Promotorias de Justiça
a) “falta de assistência jurídica regular aos internos carentes (art. 15, 16 e art. 41,
VII, da LEP);
b) precariedade do serviço de assistência social (art. 22 e art. 41 VII da LEP);
c) não oferecimento de cursos de qualificação contínua para o servidor penitenciário
(art. 77, § 1º da LEP e art. 49 da Resolução nº 14 CNPCP);
d) condições precárias de higiene e limpeza das celas (art. 9º da Resolução nº 14
do CNPCP);
e) inexistência de local para aquisição de produtos para higiene pessoal permitidos
mas não fornecidos pela administração (art. 13 da LEP);
f) ausência dos seguintes profissionais na equipe de saúde: assistente social (art.
1º, IV da Resolução nº 07 de 14/04/2003 do CNCPC e art. 8º da Portaria Interminis-
terial – Saúde e Justiça – nº 1777, de 09/09/2003);
g) inexistência de trabalho voltado para a reinserção social do condenado (art.23,
V da LEP)”;
Considerando que os expertos constataram que garrafas pet são utilizadas como
coletores de urina, o que pode acarretar danos à saúde dos internos em razão da
possibilidade dos mesmos contraírem infecções;
1317
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Considerando que o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos foi apro-
vado pelo Decreto Legislativo nº 226, de 12/12/1991, e promulgado pelo Decreto nº
592, de 06/07/1992;
Considerando que, de acordo com os princípios proclamados pela Carta das Na-
ções Unidas, em particular o disposto no art. 55, incumbe aos Estados promover o
respeito universal e a observância dos direitos humanos e liberdade fundamentais;
1318
Promotorias de Justiça
Considerando que a Constituição Federal garante o direito à vida (art. 5º, caput)
e garante que ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante (art. 5º, inciso III);
1319
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1320
Promotorias de Justiça
EMENTÁRIO
Direitos Humanos
CAPÍTULO VIII
1321
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Tortura
1322
Promotorias de Justiça
Discriminação Racial
1323
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Legislação Federal
Legislação Estadual
1324
Promotorias de Justiça
Diversidade Sexual
1325
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
e-mail: dcp@defesasocial.mg.gov.br
Ouvidoria de Polícia
Av. Amazonas, 91, 4° andar, Centro - CAPITAL
CEP: 30180-000
Tel.: 3237 7789
SEDESE/Provita
1326
Promotorias de Justiça
Processo nº
MM. Juiz,
Cuidam os autos de expediente apartado para análise das medidas cautelares pro-
CAPÍTULO VIII
tetivas de urgência, conforme previsão do art. 12, III da Lei nº 11.340/2006, no qual
a vítima pede várias medidas cautelares, além de demonstrar claramente a situação
fática, na qual é possível a ocorrência de novas violações morais, psicológicas e
físicas.
Impõe-se o deferimento de medidas protetivas, com a finalidade de prevenir e er-
radicar a violência, gerando a possibilidade de que se decretem tais medidas, res-
guardando a mulher na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica
(art.10 da Lei nº 11.340/06), independente de audiência das partes, (art. 19 da Lei
1327
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
nº 11.340/06).
Também não se faz justo que, após praticar conduta criminosa contra a vítima,
seja o agressor beneficiado permanecendo no lar e sendo afastada a vítima, se
não sobrevém outra questão que torne imperioso o afastamento da ofendida, se
ela assim não requer; Igualmente, se foi a vítima posta para fora de casa, deve ser
determinada a sua recondução, sob pena de ver beneficiado o agressor que agiu
com violência contra a pessoa.
Urge lembrar, por fim, que é imperiosa a tomada de medidas que inibam o perigo e
afiancem, efetivamente, a segurança da vítima, protegendo-a da ação do denuncia-
do. A vítima que se socorre no Judiciário pedindo proteção cria, em última análise,
uma responsabilidade do Estado em resguardar, em dar segurança jurídica e garan-
tir os direitos fundamentais através do provimento jurisdicional.
1328
Promotorias de Justiça
Loca, data
PROMOTOR DE JUSTIÇA
Processo nº
MM. Juiz,
CAPÍTULO VIII
Cuidam os autos de expediente apartado para análise das medidas cautelares pro-
tetivas de urgência, conforme previsão do art. 12, III da Lei nº 11.340/06, que anali-
1329
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Assim, temos que a mudança da nomenclatura quis, de forma bastante incisiva, dar
às “medidas protetivas” o cunho de medidas cautelares de natureza criminal.
Analisando melhor a questão, não poderia ser outra a interpretação, uma vez que
as “medidas protetivas” estão relacionadas, obrigatoriamente, à ocorrência de uma
conduta delituosa, devendo ser combatida pelo direito penal.
Enquanto o deferimento dos requisitos das medidas cautelares civis se reveste dos
1330
Promotorias de Justiça
temos: fumus boni iuris e o periculum in mora, no caso das medidas protetivas pre-
vista na Lei nº 11.340/2006 não há a presença do fumus boni iuris já que estamos
diante de uma prática de um ato ilícito, assim como não há que se falar em fumaça
de bom direito quando o que se vislumbra é uma prática criminosa.
Tal situação pode ser analisada da mesma forma quando analisamos o outro requi-
sito para a medida cautelar de natureza cível, ou seja, o periculum in mora. Vê-se
claramente que tal requisito não está presente como essencial para o deferimento
das medidas protetivas da Lei nº 11.340/2006. O que se tem é uma situação de risco
para a vítima, que precisa de proteção do Estado, uma vez que presente o requisito
da medida cautelar criminal periculum libertatis.
As medidas protetivas precisam ser deferidas com a rapidez necessária para que
o Estado consiga, efetivamente, dar proteção às vítimas de violência doméstica.
Evidentemente, estamos diante de um caso relacionado à ocorrência de um crime,
o outro requisito da medida cautelar criminal, ou seja, o fumus comssi delicti.
Com estas considerações, temos que as medidas protetivas não estão presas ao
processo previsto para as medidas cautelares do Código de Processo Civil, nem a
estas se igualam, em vista de sua natureza Criminal.
CAPÍTULO VIII
1331
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
anteriormente tem este efeito de bloquear a ação do tempo. Alerta-se, porém, que
a medida cautelar não tem a finalidade de resolver o conflito, apenas de evitar um
mal maior ou o acontecimento de novos delitos.
Local, data
PROMOTOR DE JUSTIÇA
Local, data
Promotor de Justiça
Razões do Recurso em Sentido Estrito
1332
Promotorias de Justiça
EGRÉGIO TRIBUNAL
COLENDA CAMARA,
ÍNCLITOS JULGADORES,
pela vítima.
É o necessário relatório.
Da preliminar de nulidade:
1333
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A audiência do art. 16 da Lei nº 11.340/2006 foi previsão legal cujo intuito inicial era
o de proteger a vítima, nas hipóteses em que por medo ou outras razões emocio-
nais, renunciavam ainda na fase inquisitiva.
A lei visou retirar das mãos da vítima o prosseguimento da Ação Penal Pública Con-
dicionada, por isto, só é admitida a renúncia, sob o manto protetivo do judiciário, na
presença do Juiz de direito! Ora, é para renunciar que é necessária a audiência!
Tendo a parte REPRESENTADO quanto ao delito de Ameaça, não há que se falar
em renúncia!
Quanto à lesão corporal, é de se ver que trata-se de Crime cuja Ação Penal é Pú-
blica Incondicionada à representação de acordo com o art. 100 do Código Penal,
ainda em vigor.
Impor, aí, uma Audiência para a “admissão da renúncia”, nada mais é que sugerir,
forçosamente, que a vítima renuncie, quando ela já deixou cristalino seu desejo de
representar!!!
Portanto, deve ser considerada NULA a audiência realizada ao arrepio da Lei, eis
que não prevista no Rito processual sumário. No rito especial da Maria da Penha,
é prevista antes do oferecimento da Denúncia nos crimes de Ação Penal Pública
Condicionada e não há previsão para os crimes de Ação Penal Pública Incondicio-
nada.
Tem-se, portanto, que no rito da Lei nº 11.340/06 não cabe audiência para induzir
a vítima à renúncia ou desencorajá-la ao prosseguimento da Ação Penal, visto que
1334
Promotorias de Justiça
Dito isto, impõe-se a nulidade dos atos praticados ao arrepio da Lei, tornando nulo e
sem efeito qualquer ato processual posterior ao oferecimento da Denúncia.
O oferecimento da peça inicial acusatória pelo Ministério Público submete se, após
a sua formalização, a estrito controle jurisdicional. Não há como fugir de sua apre-
ciação, não há caminho processual alternativo.
1335
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Assim, ou se confere o recebimento tácito à Denúncia nos autos deste feito, ante o
seu prosseguimento, ou se atribui nulidade à audiência feita, por expressa inaplica-
bilidade, bem como aos seus atos subseqüentes.
Da impossibilidade da retratação:
É sabido que os delitos de vias de fato e lesão corporal são crimes de Ação Penal
Pública Incondicionada e não se processam mediante representação. A fim de ad-
mitir a Ação Penal condicionada à representação, teria o legislador feito a mudança
expressa do Código Penal quando nele inseriu o parágrafo nono. Mas não o fez,
como se vê:
Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,
irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada
pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de três meses a três anos. (Redação dada
pela Lei nº 11.340, de 2006)
A Doutrina abaliza a posição de que Lesão Corporal é crime de Ação Penal Pública
Incondicionada:
1336
Promotorias de Justiça
A Lei nº 9.099/95, quanto aos crimes que a ela se submetem, diferenciava a apli-
cação quanto aos crimes de lesão corporal leve e culposa, quando estabeleceu em
seu art. 88 que estes crimes dependem de representação, sendo, portanto, de ação
penal pública condicionada, porque os considerou de menor potencial ofensivo.
No entanto, apesar da Lei nº 11.340/06, em seu art. 16, determinar que nas ações
penais públicas condicionadas à representação da ofendida só será admitida a re-
núncia perante o juiz, tal situação não se aplica aos crimes de lesão corporal leve
praticadas no âmbito doméstico, somente aos crimes em que o Código Penal ex-
pressamente determine que a ação seja condicionada à representação.
1337
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Ressalte-se, ainda, que a ação penal pública incondicionada é a regra geral, con-
forme dispõe o art. 100 do Código Penal, sendo exceção a lei que expressamente
a declare privativa do ofendido. Assim como tem, também, natureza de Ação penal
pública Incondicionada, o delito de Vias de Fato, por força do art. 17 da LCP.
Os elementos de prova colhidos nos autos sobre a ocorrência do fato delitivo, além
da prova da materialidade e autoria, comprovam que o acusado, efetivamente, rea-
lizou a conduta delitiva pela qual foi denunciado.
responsável por analisá-la e valorá-la. No caso em tela, a prova não foi relevada.
1338
Promotorias de Justiça
A valoração dada pela vítima quando desiste do prosseguimento, não deve ser leva-
da em conta, eis que não há, neste processo, igualdade de partes. Não cabe à parte
definir o quanto e como deve o agressor ser punido, eis que há sempre hierarquia
entre vítima e autor do delito de violência doméstica. Esta é tarefa do Estado por
excelência e nisto se fundam as razões para que o delito seja de Ação penal Pública
Incondicionada, a fim de efetivar a punição pelo Estado do agressor doméstico.
Por fim, cumpre expor que o fato de ter a vítima desistido de punir o agressor, não
deve tangenciar a aplicação errônea da Lei, eis que seu conhecimento jurídico é
incompleto, insuficientemente e seu vínculo com o agressor tem fundamento emo-
cional intenso, de modo que não pode balizar a importância da efetividade da norma
penal, eis que envolvida emocionalmente com a questão própria dos autos.
CAPÍTULO VIII
DA JURISPRUDÊNCIA ATUAL:
1339
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Dele se extrai:
1340
Promotorias de Justiça
Exmª. Srª. Desª. Maria Celeste Porto, com a qual votaram de acordo os Desembar-
gadores: Vieira De Brito e Hélcio Valentim, votou expressando a incondicionalidade
da Ação Penal quanto aos delitos de Lesão Corporal, o que reproduzimos em par-
te:
1341
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1342
Promotorias de Justiça
1343
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1344
Promotorias de Justiça
Dos pedidos:
Pelo exposto, caso Vossa Excelência, no juízo de retratação, entenda por manter a
decisão ora combatida, requer sejam os autos remetidos àquele Colendo Tribunal, a
fim de recorrer o Ministério Público em sentido estrito, requerendo o que se segue.
1345
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Local, data
PROMOTOR DE JUSTIÇA
Processo nº
MM. Juiz,
O agressor, conforme certidão de fls.e fls. está da decisão que deferiu medidas
protetivas em favor da vítima.
Uma vez que o escopo da Lei Maria da Penha é também de prevenir, além de punir
e erradicar a violência e, diante das declarações da vítima às folhas 24, urge a
tomada de medida protetiva mais apropriada à garantia do cumprimento da ordem
judicial.
1346
Promotorias de Justiça
“A prisão preventiva pode ter como fundamento a garantia da ordem pública. A cons-
trição ao exercício do direito de liberdade é justificada cautelarmente, a fim de evitar
repetição de conduta delituosa ou reagir a vilania do comportamento delituoso, que,
CAPÍTULO VIII
por suas características, gera vigorosa reação social.” (STJ. RHC 2775-4. rel. Min.
Luiz Vicente Cernicchiaro. julgado em 13/09/93)
1347
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Assim, deve ser decretada a PRISÃO PREVENTIVA DO AGRESSOR, vez que au-
toriza a Lei nº 11.340/06 a prevenção da violência doméstica, diante da iminência do
cometimento de novo delito contra a vítima, com base no art. 10:
Local, data
Promotor de Justiça
CAPÍTULO VIII
MM. Juiz,
1348
Promotorias de Justiça
À Lesão corporal cometida nos moldes de violência doméstica contra a mulher não
se aplica o art. 88 da Lei nº 9.099/95, que condicionou à representação a ação penal
por lesões corporais leves, tanto porque o delito do 129 § 9º tem a pena maior do
que o limite da Lei nº 9099/95, quanto por obediência ao art. 41 da Lei nº 11.340/06,
concluindo que a lesão corporal, por aplicação do art. 100 do CP, regra geral, tem
Ação Penal Pública Incondicionada.
Por isso, a audiência do art. 16, é bem-vinda nos casos em que a vítima renuncia
ou retrata-se da representação, sendo sua intenção fiscalizar a vontade das vítimas,
evitando que a retratação aconteça por ingerência e força do agressor, sendo que o
CAPÍTULO VIII
1349
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Denúncia.
Afirmando que a violência contra a mulher constitui violação dos direitos humanos
e liberdades fundamentais e limita total ou parcialmente à mulher o reconhecimen-
to, gozo e exercício de tais direitos e liberdades, a convenção tem como normas:
(art. 4º) que a mulher tem direito a um recurso simples e rápido diante dos tribunais
CAPÍTULO VIII
competentes, que a ampare contra atos que violem seus direitos; (art. 7º) que os
Estados-partes, empenham-se em tomar todas as medidas apropriadas, incluindo
medidas legislativas, para modificar ou abolir leis e modificar práticas jurídicas que
respaldem a tolerância da violência contra a mulher; e a estabelecer procedimentos
jurídicos justos e eficazes para a mulher que tenha sido submetida à violência, que
incluam, entre outros, medidas de proteção, um julgamento oportuno e o acesso
efetivo a tais procedimentos, até porque a “Lei Maria da Penha” revela o “status” de
1350
Promotorias de Justiça
Local, data
Promotor de Justiça
JURISPRUDÊNCIA
Da Prisão Preventiva
1351
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Dele se extrai:
1352
Promotorias de Justiça
1353
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1354
Promotorias de Justiça
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1356
Promotorias de Justiça
C ri me d e A me a ç a
1357
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Aplicação do Sursis
1358
Promotorias de Justiça
A – Introdução
O vexatório quadro fundiário do País sempre foi objeto de variados debates, notada-
CAPÍTULO VIII
mente por se apresentar como uma das mais cruéis causas da odiosa concentração
da renda nacional, do êxodo rural e da conseqüente ocupação desordenada das
capitais e de outros centros atrativos.
1359
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Com efeito, o Ministério Público Estadual, sempre na vanguarda da tutela dos direi-
tos humanos primários, fez inserir em sua Lei Orgânica (v. art. 61, IV, Lei Comple-
mentar estadual nº 34/94, alterada pela Lei Complementar nº 61/01) as atribuições
na área de conflitos agrários, no contexto da Promotoria Especializada de Defesa
dos Direitos Humanos, tendo a Procuradoria-Geral de Justiça criado o respectivo
Centro de Apoio, visando precipuamente ao fiel cumprimento das honrosas missões
atribuídas no art. 82, III, do Código de Processo Civil, com a alteração operada pela
Lei nº 9.415/96.
Com tais premissas de atuação, o Ministério Público revela o quanto pode contribuir
para as indispensáveis mudanças sociais, trabalhando nos efeitos, sem abstração
das causas, sempre procurando reduzir as desigualdades que imperam nos cinco
séculos de nossa existência.
276
GOULART, Marcelo Pedroso. Ministério Público e Democracia. São Paulo: Direito, 1998.
1360
Promotorias de Justiça
I – intervir, desde o início, nas ações que envolvam litígios fundiários (Lei nº 6.383/76)
e coletivos pela posse da terra rural, zelando pela observância dos direitos humanos
dos rurícolas e de suas famílias, especialmente de crianças, adolescentes, idosos,
pessoas com deficiência e gestantes;
II – fiscalizar, nas áreas de conflito agrário, o cumprimento, de maneira cumulativa,
dos requisitos relativos à função social da propriedade rural em questão;
III – zelar pelo respeito ao meio ambiente nos locais de conflito fundiário, adotando
as medidas necessárias com vista à preservação da função socioambiental da terra
rural;
IV – zelar pelo respeito à legislação trabalhista, notadamente no que concerne ao
trabalho infantil, forçado e/ou em condições degradantes;
V – atuar preventivamente na garantia da paz social, com o fim de coibir a violência
no campo, valendo-se da instauração dos procedimentos legais, e adotar as medi-
das cabíveis;
VI – mediar os conflitos agrários existentes, buscando solução conciliatória entre os
envolvidos;
VII – promover e defender os direitos humanos das pessoas acampadas e assenta-
das, adotando as medidas extrajudiciais e judiciais cabíveis;
VIII – adotar medidas que assegurem o direito humano à terra rural e o direito hu-
mano à alimentação adequada;
IX – desenvolver ações conjuntas com órgãos públicos e com entidades da socie-
dade civil visando à prevenção e mediação dos conflitos agrários.
C.1 – Considerações
A reforma agrária, política pública de grande relevo para a efetivação dos Princípios
Fundamentais da República (arts. 1º, 3º e 4º da CF/88), dos Direitos e Garantias Fun-
damentais (art. 5º da CF/88) e dos Direitos Sociais (arts. 6º e 7º da CF/88), tem sido
focada apenas em seu aspecto fundiário, ou seja, desapropriação de imóveis rurais
com pagamento através de TDAs, parcelamento e implantação de assentamentos.
Todavia, tal modelo tem encontrado diversos entraves, o que, por conseqüência, con-
1361
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Lado outro, há que ser registrada a importância da agricultura familiar, que repre-
senta cerca de 10% do PIB nacional e produz 60% dos alimentos que chegam à
mesa das famílias brasileiras, sendo o instituto jurídico da posse a principal fonte de
obtenção e permanência no imóvel rural como meio de produção.
Com efeito, a atuação do Ministério Público nos conflitos coletivos pela posse da
terra rural deve se dar no sentido de garantir aos trabalhadores rurais tutela jurisdi-
cional fincada nos comandos constitucionais, especialmente no tocante à imperiosa
observância do princípio da função social, possibilitando o acesso à posse da terra
a milhares de famílias.
A Lei nº 9.415/96 operou relevante alteração no art. 82, III, do Código de Processo
Civil quando, em razão dos conflitos sociais caracterizados pela luta pela terra, con-
sagrou a legitimação interventiva do Ministério Público nas lides que versem sobre
conflito coletivo pela posse da terra rural.
CAPÍTULO VIII
1362
Promotorias de Justiça
ventiva no âmbito do chamado interesse social: conflito coletivo, posse e terra rural,
sem afastar a intervenção em razão da hipossuficiência da parte.
Com efeito, exige-se que a ocupação do imóvel rural decorra de unidade psicoló-
gica ou mobilização por movimentos sociais, a exemplo do que vem ocorrendo em
alguns julgados, conforme se extrai do Feito nº 2.0000.00.471938-2/001 do TJMG,
in verbis:
de modo que as ações isoladas no tempo, sem nenhum vínculo ou relação com fato
de origem comum, não caracterizariam a coletividade descrita na Lei.
1363
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A posse (de terra rural) caracteriza-se não somente por atos de exteriorização do
domínio, dentro da concepção clássica do instituto, devendo ser analisados, ainda
que em juízo de prelibação, os elementos a ela intrínsecos e caracterizadores da
função social, princípio inserto na Constituição Federal de 1988 (art. 170, II) e minu-
denciado no art. 186 do aludido Pacto.
277
ROSENVALD, Nelson, e FARIAS, Cristiano Chaves. Direitos Reais. 3. ed. Rio de Janeiro: Impetus,
2006, p. 122/129.
1364
Promotorias de Justiça
278
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Procedimentos especiais. 38
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 131.
279
CÂMARA, Alexandre Freitas Câmara. Lições de Direito Processual Civil. v. III, 11 ed. Rio de Ja-
neiro: Lúmen Júris, 2006. p. 388-389.
1365
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
reito privado, ou seja, o Código Civil de 1916 e o Código de Processo Civil vigente,
procedimentos indesejáveis e de exclusão do Direito Agrário.
280
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direitos reais. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 128/130.
1366
Promotorias de Justiça
A intervenção ministerial nos conflitos pela posse da terra rural deve pautar-se
essencialmente pela verificação dos vetores de tal princípio, caracterizados pela
produtividade, respeito à legislação ambiental e social, exploração voltada ao bem-
estar dos proprietários e trabalhadores, ressaltando que tais comandos constitucio-
nais são perfeitamente aplicáveis à seara possessória, tendo em vista que a Consti-
tuição Federal conhece da posse agrária, como se extrai do caput do seu art. 191.
Esclarece José Afonso da Silva que “[...] a função social se manifesta na própria
configuração estrutural do direito de propriedade, pondo-se concretamente como
elemento qualificante na predeterminação dos modos de aquisição, gozo e utiliza-
ção dos bens”.281
Posto isso, como se extrai de vários despachos iniciais do Juízo de Conflitos Agrá-
rios de Minas Gerais, devem ser colacionados aos autos elementos probatórios,
v.g., no tocante à:
- produtividade do imóvel rural (art. 186, I, da CF/88, e arts. 6º e 9º, I, ambos da Lei
nº 8.629/93), apresentando o respectivo Certificado de Cadastro de Imóvel Rural
(CCIR) atualizado, bem como a ficha do gado porventura nele apascentado, seja
ele do(s) requerente(s) ou do possuidor direto;
CAPÍTULO VIII
- situação ambiental do imóvel (art. 186, II, da CF/88 e art. 9º, § 2º, da Lei nº
8.269/93), demonstrando se há averbação da reserva legal em certidões de intei-
ro teor das matrículas e/ou transcrições imobiliárias, bem como eventuais licenças
ambientais para exploração da terra e da água, concedidas para si ou em favor do
281
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 1994. p.
256.
282
ALFONSIN, Jaques Távora. Os conflitos possessórios e o Judiciário. Três reducionismos processuais
de solução. In DRESCH DA SILVEIRA, Domingos Sávio e Xavier, Flávio Santánna (Org.). O Direito
Agrário em debate. Livraria do Advogado, POA, 1998. p. 280.
1367
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
arrendatário;
- regularidade das relações trabalhistas (carteira de trabalho, recolhimento do INSS,
etc) mantidas com os eventuais empregados que laboram no imóvel, sejam ou
não eles subordinados ao requerente (art. 186, III, da CF/88 e art. 9º, III, da Lei nº
8629/93);
- eventuais medidas implementadas no sentido do favorecimento da saúde, lazer e
educação do requerente (proprietário, possuidor e/ou arrendatário) e dos trabalha-
dores (função bem-estar – art. 186, IV, da CF/88, e art. 9º, IV, da Lei nº 8.629/93).
1368
Promotorias de Justiça
Lado outro, há que ser observada a competência da Justiça Federal – que, em Mi-
nas Gerais, possui Vara Especializada (12ª Vara Federal de Belo Horizonte) – quan-
do a hipótese fática convergir para o art. 109, I, da Constituição Federal. As situa-
ções mais comuns de competência da Justiça Federal são: a) expedição de decreto
presidencial destinando o imóvel rural para fins de reforma agrária; b) existência de
ação na Justiça Federal relativa ao imóvel objeto de conflito; c) manifestação da
CAPÍTULO VIII
1369
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Art. 215
[...]
§1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas popula-
res, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos partici-
pantes do processo civilizatório nacional;
CAPÍTULO VIII
1370
Promotorias de Justiça
Não se apresenta concebível que a Constituição Federal cingiu-se apenas aos as-
pectos temporal e espacial da questão quilombola, quando direta (art. 68, ADCT) e
reflexamente (arts. 215, § 1º, e 216, §1º e § 5º) regulou a matéria; evidentemente,
considerou os aspectos sociológicos e históricos (em analogia à ocupação dos ín-
dios). É preciso, portanto, identificar os remanescentes de quilombos e os próprios
quilombos, vetores daquilo que a Constituição estabeleceu como que estejam ocu-
pando (v. art. 2º do Decreto nº 4.887/03), de modo a envolver o território necessário
ao pleno exercício dos direitos culturais e a difusão das manifestações culturais (art.
215, CF/88), bem como a proteção do patrimônio cultural tutelado (art. 216, CF/88).
Com efeito, a expressão terras que estão ocupando compreende o todo necessário
à sobrevivência e também às manifestações culturais e religiosas dos remanescen-
tes das comunidades quilombolas.
1371
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1372
Promotorias de Justiça
D.1 – Considerações
1373
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Assim, o Direito penal não pode ser visto como simples exercício de aplicação de
penas a infratores, a que mantenha a ordem posta e não é instrumento do que está
ditado. A fome não faz de famintos, criminosos, na precisa abordagem de Cláudio
Fontelles.284
Na esfera penal dos conflitos possessórios, o direito seletivo tem encontrado vasto
campo de atuação, impondo-se como instrumento de sobreposição do poder eco-
nômico, apresentando-se, portanto, como uma das perversas faces da violência.
283
BARROSO, Luiz Roberto. Fundamentos Teóricos e Filosóficos do novo Direito Constitucional
Brasileiro. PIP, nº 11, set./2001. p. 67.
284
FONTELLES, Cláudio. As Ocupações de Terras e o Direito Penal. In: A questão agrária e a justiça.
São Paulo: RT, 2000. p. 12 e segs.
1374
Promotorias de Justiça
Entretanto, hoje não poucos têm se manifestado pela atipicidade de tais condutas,
embasados em significativos pronunciamentos doutrinários e jurisprudenciais.
O que se extrai dos autos e dos objetivos do movimento social agrário ao qual per-
tencem os Denunciados (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), a ocu-
pação teve por finalidade pressionar o governo a implementar programa de reforma
agrária previsto na Constituição Federal (Título VII, Capítulo III), o que, como de
conhecimento comum, constitui fim lícito e legítimo, expressão do direito de cidada-
nia, conforme anunciado em alguns votos do Ministro Luís Vicente Cernicchiaro, no
Superior Tribunal de Justiça, cujos trechos serão adiante transcritos.
1375
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
fim, o movimento tem, como forma de luta mais importante, a ocupação pacífica
de terras que não atendam integralmente a função social (CF/88, art. 186). Cediço
também que a reforma agrária só avançará se houver mobilizações massivas, com
ocupações, com a luta direta, com a ação das massas. A propósito, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, quando ainda atento sociólogo, ensinava, de forma
inesquecível, que as transformações políticas dependem da rotinização das lutas:
“a ativação da sociedade urbano-industrial requer, mais do que nada, a substituição
da ideologia do compromisso por outra que rotinize o conflito e permita legitimar
socialmente a idéia de que sem movimento, luta e tensão será impossível fazer uma
genuína transformação política”.286
De uma análise mais aprofundada e isenta do MST, importante ressaltar que, como
movimento que pretende profunda transformação social, sua luta não acaba com a
conquista da terra. Daí se constata a preocupação do movimento no setor de pro-
dução, com o desenvolvimento da cooperação agrícola; no setor de educação, com
a formação de professores, a realização de programas de alfabetização, criação de
escolas; no setor de direitos humanos, etc. Em última análise, infere-se com clareza
solar a real pretensão do MST, qual seja:
286
CARDOSO, F. H. Autoritarismo e Democratização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
287
GARCIA, José Carlos. De Sem-rosto a Cidadão. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1999.
1376
Promotorias de Justiça
Com o Prêmio Paulo Freire de Compromisso Social, concedido pelo Conselho Fe-
deral de Psicologia de São Paulo, em 5/10/2000; entre outros “[...] Movimento popu-
lar visando a implantar a reforma agrária não caracteriza crime contra o patrimônio.
Configura direito coletivo, expressão da cidadania, visando a implantar programa
constante da Constituição da República” (Habeas Corpus nº 5.574/SP. Rel. Ministro
William Patterson. Julgamento em 8 de abril de 1997).
1377
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1378
Promotorias de Justiça
Violação de domicílio:
1379
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A sede da propriedade rural deve ser habitada por seus proprietários ou ser o local
onde estes efetivamente exerçam suas atividades profissionais, de modo que se viole
a intimidade. De todo modo, a prevalecer o equívoco de se achar que a mera proprie-
dade faz presumir a relação de intimidade nascida da relação com o espaço, ter-se-ia
que admitir que os mais abastados têm mais intimidade do que os menos aquinho-
ados, sendo certo que a intimidade é uma promanação da personalidade dos seres
humanos, que são iguais perante a lei. Aliás, ainda no sentido de que a ocupação de
propriedades rurais não configura o crime de violação de domicílio, já decidiram nos-
sos tribunais: A propriedade rural não está compreendida no conceito de domicílio,
por mais amplo que se considere (TACRIM-SP. HC. Rel. Reis Freire. RT 516/357).
1380
Promotorias de Justiça
Esbulho possessório:
CAPÍTULO VIII
288
DELMANTO JÚNIOR, Roberto. O movimento dos trabalhadores rurais sem terra em face do di-
reito penal. São Paulo. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 28, São Paulo: RT, 1999. Disponível
em: <http://www.delmanto.com>. Acesso em: 10 mar. 2008.
289
Sobre o tema: Roberto Delmanto Júnior, obra citada; Rogério Greco. In: Curso de Direito Penal – Par-
te Especial, v. III, pág. 144, ed. Impetus, 3 ed., 2007; Fernando Antônio Nogueira Galvão da Rocha, in A
ocupação coletiva em imóvel rural que não cumpre sua função social, Revista de Direito Comparado, v. I,
agosto/2000; Afonso Henrique de Miranda Teixeira, In: A intervenção policial em questões possessórias
- tese aprovada no XVI Congresso Nacional do Ministério Público – Anais, Belo Horizonte, 2006; e STJ,
no HC nº 5574/SP, 08/04/97.
1381
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Dano:
Tal delito, que pressupõe, por óbvio, fazer apologia, louvor, enaltecimento de fato
criminoso ou de autor de crime, evidentemente não se restará configurado nas con-
dutas relacionadas com as ocupações coletivas de imóveis rurais, uma vez que,
CAPÍTULO VIII
1382
Promotorias de Justiça
que se pode afirmar que o Direito penal tem sido usado para evitar manifestações
sociais e proteger o patrimônio privado, em detrimento de direitos e garantias fun-
damentais emergentes do princípio da dignidade humana, como a liberdade de ir e
vir e de associar-se.
A propósito:
1383
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Resistência:
Nesse sentido:
1384
Promotorias de Justiça
1385
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A Lei nº 4.947/66 fixa normas de Direito Agrário, estabelecido em seu art. 20:
O parágrafo único do aludido art. 20 da Lei nº 4.947/66, que fixa normas de direito
agrário, faz expressa referência ao elemento anímico e, à evidência, dirige-se a
potenciais sujeitos ativos que não sejam aqueles destinatários da reforma agrária,
quais sejam, os diversos tomadores de terras públicas, conhecidos por grilheiros.
Sobre o tema:
O desforço imediato, ou legítima defesa da posse, previsto no art. 1.210, § 1º, do Có-
1386
Promotorias de Justiça
digo Civil, pressupõe o uso da própria força, ou seja, sem apelar para a autoridade.
Lado outro, os delitos atribuídos aos sem terra são, em regra, de menor potencial
ofensivo, não se admitindo, portanto, a prisão em flagrante.
1387
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Havendo necessidade do uso da força pública para o cumprimento das ordens ju-
diciais decorrentes de conflitos coletivos sobre a posse de terras rurais, os atos
deverão ser executados com apoio da Polícia Militar e/ou Polícia Federal, observa-
da a respectiva esfera de competência, em virtude da sua função institucional e do
treinamento específico.
O comandante da operação tem direito de ter acesso ao mandado judicial que de-
terminou a manutenção, reintegração ou busca e apreensão para conhecer os limi-
1388
Promotorias de Justiça
As operações deverão ser documentadas por filmagens, o que deve ser permitido
pela polícia aos representantes de qualquer das entidades presentes ao ato.
- Do Planejamento e da Inspeção
- Da Efetivação da Medida
As ordens judiciais serão cumpridas nos dias úteis, das 6 às 18 horas, podendo
esse horário ser ultrapassado para a conclusão da operação. A autoridade policial
responsável comunicará o cumprimento da medida judicial aos trabalhadores, ao
requerente e aos demais envolvidos com antecedência mínima de 48 horas.
1389
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A polícia não permitirá, nem mesmo com utilização de mão-de-obra privada, des-
fazimento de benfeitorias existentes no local ou desmontagem de acampamento
durante o cumprimento da ordem judicial, salvo pedido de retirada voluntária de
objetos pelos desocupados da área objeto da lide.
A tropa deverá ser orientada quanto aos limites do poder de polícia, com base no
interesse social e na preservação dos direitos fundamentais dos indivíduos, nos
termos do art. 5º e seus respectivos incisos da Constituição Federal, observando-se
CAPÍTULO VIII
1390
Promotorias de Justiça
O efetivo policial a ser lançado no terreno deve ser esclarecido sobre a ação a ser
desenvolvida, com observação de que, apesar de ser de natureza judicial, tem co-
notação social, política e econômica, necessitando, em decorrência, de bom senso
do policial para que sejam respeitados os direitos humanos e sociais dos ocupan-
tes.
Os policiais devem ainda ser orientados sobre os limites do poder de polícia, com
base no interesse social e na preservação dos direitos fundamentais dos indivíduos,
nos termos do art. 5º e seus respectivos incisos da Constituição Federal.
- Do Relatório Final
1391
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
te, de forte aparato de armas de fogo, inclusive de explosivos. Tais condutas, além
de perniciosas e penalmente relevantes, subtraem da apreciação judiciária os com-
plexos e pulsantes conflitos agrários/fundiários.
1392
Promotorias de Justiça
1393
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1394
Promotorias de Justiça
Fontes Históricas
LEIS
- Lei de 26 de junho de 1375
Obriga a prática da lavoura e o semeio da terra pelos proprietários, arrendatários,
foreiros e outros, e dá outras providências.
RESOLUÇÕES
- Resolução nº 76 – Reino – de consulta da mesa do Desembargo do Paço de 17
de julho de 1822.
Manda suspender a concessão de sesmarias futuras até a convocação da Assem-
bléia Geral Constituinte.
ALVARÁS
- Alvará de 3 de março de 1770
(Sesmarias – Procedimentos)
CAPÍTULO VIII
1395
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Leis Complementares
Leis Ordinárias
- Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850 – Lei de Terras - (Dispõe sobre as terras de-
volutas no Império, e acerca das que são possuídas por título de sesmaria sem pre-
enchimento das condições legais, bem como por simples titulo de posse mansa e
pacífica: e determina que, medidas e demarcadas as primeiras, sejam elas cedidas
a título oneroso, assim para empresas particulares, como para o estabelecimen-
to de colônias de nacionais e de estrangeiros, autorizado o Governo a promover
a colonização estrangeira na forma que se declara).
Art. 1º - Ficam proibidas as aquisições de terras devolutas por
outro título que não seja o de compra.
CAPÍTULO VIII
[...]
Art. 3º São terras devolutas:
§ 1º As que não se acharem aplicadas a algum uso público na-
cional, provincial ou municipal.
§ 2º As que não se acharem no domínio particular por qualquer
título legítimo, nem forem havidas por sesmarias e outras con-
cessões do Governo, não incursas em comisso por falta do cum-
primento da condições de medição, confirmação e cultura.
§ 3º As que não se acharem dadas por sesmarias, ou outras
concessões do Governo, que, apesar de incursas em comisso,
forem revalidadas por esta lei.
§ 4º As que não se acharem ocupadas por posses, que, apesar
1396
Promotorias de Justiça
1397
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1398
Promotorias de Justiça
1399
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
fevereiro de 1993; dispõe sobre a intervenção da União nas causas em que figura-
rem, como autores ou réus, entes da administração indireta; regula os pagamentos
devidos pela Fazenda Pública em virtude de sentença judiciária; revoga a Lei nº
8.197, de 27 de junho de 1991, e a Lei nº 9.081, de 19 de julho de 1995, e dá outras
providências.
- Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998
Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e ativida-
des lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
1400
Promotorias de Justiça
1401
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Normas Estaduais
Decretos-Lei
CAPÍTULO VIII
1402
Promotorias de Justiça
1403
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1404
Promotorias de Justiça
e dá outras providências.
- Decreto-lei nº 2.398, de 21 de dezembro de 1987
Dispõe sobre foros, laudêmios e taxas de ocupação relativas a imóveis de proprie-
dade da União, e dá outras providências.
Decretos
lonização nas zonas prioritárias para a Reforma Agrária, nas áreas do Programa de
Integração nacional e nas terras devolutas da União na Amazônia Legal.
- Decreto nº 72.106, de 18 de abril de 1973
Regulamenta a Lei nº 5.868, de 12 de dezembro de 1972, que institui o Sistema
Nacional de Cadastro Rural, e dá outras providências.
- Decreto nº 74.965, de 26 de novembro de 1974
Regulamenta a Lei nº 5.709, de 7 de outubro de 1971, que dispõe sobre a aquisição
de imóvel rural por estrangeiro residente no País, ou pessoa jurídica estrangeira
1405
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1406
Promotorias de Justiça
Instrução Normativa
RESOLUÇÃO
1407
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Promotorias de Justiça
ANEXOS
1409
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
TÉCNICA DE ATUAÇÃO/PEÇAS
Autos nº ....................
Reintegração de Posse
MM. Juiz,
Versam os aludidos autos sobre Ação de Reintegração de Posse ajuizada por ......
em face de trabalhadores rurais que teriam ocupado imóvel rural, nesta Comarca,
com a expedição de ordem liminar reintegratória por esse Juízo.
Entretanto, tem o Ministério Público que trata-se de conflito coletivo pela posse da
terra rural, cuja competência ratione materiae é da Vara de Conflitos Agrários com
sede em Belo Horizonte, a teor do art. 2º, da Resolução nº 438/2004, do Egrégio
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (cópia anexa).
Posto isso, pugna o Ministério Público pela imediata remessa dos autos ao juízo
competente, com a consequente revogação do ato decisório.
Termos em que,
E. deferimento.
..............................................
Promotor de Justiça
Autos nº
Reintegração de Posse
MM. Juiz,
Em ....de .... de ..., como atesta o documento de fls... , o Presidente da República
CAPÍTULO VIII
1410
Promotorias de Justiça
Agravos de Instrumento
Autos de nº
Autor:
Réus:
Objeto do Conflito: Fazenda ................... (Comarca de ................)
Assunto: Agravo de Instrumento
COLENDA CÂMARA,
1411
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
DOUTO PROCURADOR,
O Ministério Público de Minas Gerais, através de seu órgão de execução com atri-
buições na Promotoria de Justiça de Conflitos Agrários, com fundamento nos arts.
522 e seguintes do Código de Processo Civil, vem interpor RECURSO DE AGRA-
VO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO contra a deci-
são de fls.., prolatada pelo MM. Juiz da Vara Agrária deste Estado que, em AÇÃO
POSSESSÓRIA (Processo nº.....) proposta por ..... em face de ...., que determinou
o cumprimento de mandado de reintegração de posse contra todos os atuais ocu-
pantes do imóvel, integrantes ou não da lide, desrespeitando frontalmente os limites
subjetivos da coisa julgada.
Para tanto, em atendimento ao disposto no art. 525 do CPC, junta cópia de todo o
processo na instância originária.
Trata-se de Ação de Reintegração de Posse ajuizada por ....... em face de .....,
aduzindo, em apertada síntese, que é proprietário do imóvel rural denominado “Fa-
zenda ........”, situado na comarca de ......, no lugar denominado ...., Comarca de
...../MG, com área de ...... hectares. Afirma que a fazenda está devidamente cerca-
da, existindo atividade de plantio e criação de gado. Relata, ainda, que no dia .... de
....... de....., parte do imóvel, cerca de ......hectares, foi ocupada pelos requeridos,
atingindo parte da reserva florestal, pelo que, requer a procedência do pedido, inclu-
sive em sede de liminar (....). Juntou os documentos de fls.
Recebida a inicial, o d. Magistrado da comarca deferiu liminarmente a pretensão
inicial do Autor, tendo sido cumprido o mandado de reintegração em ..... (fls....),
oportunidade em que se realizou a citação pessoal dos requeridos nominados na
inicial, bem como de ....., ......, ....., ......., e ....., todos ocupantes do imóvel no mo-
mento da desocupação (consoante se verifica na certidão lavrada pelo Oficial de
Justiça à fl. .).
Contestação apresentada às fls....
Às fls......., o Autor noticiou nova ocupação dos requeridos na área, ocorrida em .....,
e requereu a expedição de novo mandado de reintegração, que foi regularmente
cumprido (fls.).
CAPÍTULO VIII
1412
Promotorias de Justiça
1413
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
gração.
O Ministério Público manifestou-se às fls...., opinando pelo regular cumprimento
da decisão de reintegração, a qual, entretanto, deve respeitar os limites subjetivos
da coisa julgada, alcançando apenas aqueles ocupantes que foram devidamente
citados e integraram a lide.
Em decisão de fls...., o d. Magistrado a quo, mantendo entendimento anterior, deter-
minou o cumprimento da decisão transitada em julgado contra todos os ocupantes
do imóvel, estendendo irregularmente os limites subjetivos da coisa julgada.
Inconformado, o Ministério Público, a tempo e modo, interpõe o presente recurso,
cujas razões passa a expor.
DA TEMPESTIVIDADE
O recurso é próprio e tempestivo, vez que a decisão guerreada foi prolatada em
......., sendo certo, porém, que o processo somente foi recebido por esta Promotoria
Especializada em... (fl. ...), iniciando a contagem do prazo para sua interposição
em ..........
1414
Promotorias de Justiça
1415
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
imóvel litigado imune a qualquer ato que ameaçasse a posse autoral, criando uma
imunidade absoluta, com efeitos erga omnes, de caráter perpétuo, o que seria um
absurdo jurídico.
Assim, diante da ausência de citação pessoal e/ou editalícia de todos os ocupantes
da área objeto do litígio, faz-se necessário adequar a decisão vergastada aos es-
treitos limites subjetivos da coisa julgada, em observância ao disposto no art. 472
do Código de Processo Civil.
3DOS PEDIDOS
Ante o exposto, o Ministério Público requer o CONHECIMENTO do presente recur-
so, bem como a CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO, e, ao final, o seu PRO-
VIMENTO para que o mandado de reintegração de posse, expedido em acórdão
favorável ao proprietário do imóvel, alcance apenas os réus nominados que inte-
graram o pólo passivo da demanda, respeitando-se os limites subjetivos da coisa
julgada, nos termos do art. 472 do Código de Processo Civil.
Advogado do requerente:
Advogado dos requeridos:
Autos de nº
CAPÍTULO VIII
Autores:
Réus:
Objeto do Conflito: Fazenda .............. (Comarca de ....................)
Assunto: Agravo de Instrumento
COLENDA CÂMARA,
DOUTOR PROCURADOR,
O Ministério Público de Minas Gerais, através de seu órgão de execução com atri-
buições na Promotoria de Justiça de Conflitos Agrários, com fundamento nos arts.
1416
Promotorias de Justiça
1417
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
DA TEMPESTIVIDADE
O recurso é próprio e tempestivo, vez que a decisão guerreada foi prolatada em
..., sendo certo, porém, que o processo somente foi recebido por esta Promotoria
Especializada em .... (fls....-verso), iniciando a contagem do prazo para sua interpo-
sição em ....
Até porque, a questão vertida nesses autos é por demais complexa, devendo ser
resolvida em sede de cognição judicial exauriente e não sumária, como o fez o ilus-
tre juiz substituto a quo, concessa venia. Nesse sentido, temos decisão proferida
pela I. Juíza Heloísa Combat, prolatada em ...., em sede de Agravo de Instrumento
nº 034863038, a qual deferiu efeito suspensivo ao recurso aviado pelo Ministério
Público do Estado de Minas Gerais.
Finalmente, à vista da data em que foi concedida [...], com certeza a decisão liminar
ainda não foi cumprida, podendo ser imediatamente suspensa por este E. Tribunal,
1418
Promotorias de Justiça
processuais nos casos em que intervém, em especial, no que concerne aos atos de
caráter decisório, ressaltando-se que tal ciência deve se dar em tempo oportuno, ou
seja, adequado para eficácia de eventual utilização da via recursal, sob pena de se
ter por esvaziado o objetivo da própria intervenção ministerial.
Feitas essas considerações, forçoso concluir que o procedimento das ações pos-
sessórias é concebido, atualmente, como meio de tornar o processo um legítimo
instrumento para a realização do bem comum.
O Ministério Público deve atuar nas ações possessórias que trazem em um dos
1419
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1420
Promotorias de Justiça
e eficácia dos documentos acostados aos autos, bem como a realidade fática que
envolve a situação submetida à sua análise.
Este é um procedimento uniforme que vem sendo adotado pela operosa e eficiente
Vara Agrária em todos os processos, inclusive os relativos a interditos proibitórios.
A concessão da liminar possessória sem a designação de audiência de conciliação,
precedida de vistoria do imóvel, importa em mitigação da especialidade de jurisdi-
ção própria da Vara Agrária, quebrando a isonomia procedimental já de há muito
adotada pela Vara Especializada.
1421
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1422
Promotorias de Justiça
o error in procedendo ensejou prejuízo aos requeridos, em razão do que, deve ser
reconhecida a nulidade da decisão atacada.
Nesse sentido, colacionamos despacho do Eminente Desembargador Mariné da
Cunha, nos autos do Agravo de Instrumento nº 421.175-0:
“Além disso, não se pode perder de vista que a posse é o poder de fato sobre a
coisa, o exercício fático de um ou alguns poderes inerentes à propriedade, pelo que
não pode ser suficientemente demonstrada sua existência através da mera prova
documental – o que apenas se admite em relação ao domínio -, de forma que, em
casos como o presente, é fundamental a realização de audiência de justificação de
posse, a fim de que se possa verificar se estão efetivamente presentes os requisitos
necessários ao deferimento da liminar possessória, a qual deverá ser acompanha-
da pelo Ministério Público.” (grifos nossos)
Impende ressaltar, ainda, a importância dos acordos e conciliações obtidos em au-
diência pela Vara Agrária, sempre com a ajuda do ITER e do INCRA, órgãos funda-
mentais à solução dos conflitos, inclusive com a possibilidade de compra dos imó-
veis em litígio pelo INCRA, favorecendo a permanência dos movimentos sociais em
determinadas áreas, de modo a garantir a seus integrantes a mínima dignidade.
Além disso, o lema “conciliar é legal”, foi desenvolvido e incentivado pelo próprio
Poder Judiciário, buscando alternativas mais efetivas e eficientes à solução célere
dos conflitos. Desta forma, a tentativa de conciliação deve preceder a todas as ou-
tras, objetivando sempre a pacificação social.
DO MÉRITO
A análise dos autos demonstra que a decisão impugnada foi prolatada de forma
precipitada, desrespeitando a isonomia procedimental da Vara Agrária.
O d. Magistrado Substituto, ao deferir a liminar pleiteada sem prévia oitiva do Minis-
tério Público e sem designação de audiência de justificação, não fundamentou sua
decisão em qualquer situação de extrema urgência.
Isso seria imprescindível, sobretudo diante do fato de que o Juiz Titular da Vara de
Conflitos Agrários já havia se manifestado nos autos, determinando a juntada de
CAPÍTULO VIII
novos documentos.
Mas, ressalte-se, a mera juntada de documentos indiciários de cumprimento da
função social da propriedade não é suficiente para a concessão da liminar de rein-
tegração de posse.
A eficácia probatória dos referidos documentos está condicionada à sua comprova-
ção durante a visita judicial ao imóvel, pois, só assim, o Magistrado poderá coletar
suas impressões pessoais acerca do poder de fato que os requerentes alegam ter
sobre o imóvel. A posse, sendo poder de fato sobre a coisa, só pode ser comprova-
1423
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
sede sumária.
Não é outra a lição de Jaques Távora Afonsin, em Os Conflitos Possessórios e o
Judiciário – Três reducionismos Processuais de Solução – in O Direito Agrário em
Debate, obra de Dresch da Silveira, Domingos Sávio e Xavier, Flávio Santánna
(org), editora POA, 1998, p. 280:
“À função social da propriedade, enquanto dever do proprietário ou do possuidor,
corresponde o direito de todos os não-proprietários, especialmente dos mais ne-
cessitados, cujo acesso ao mesmo espaço titulado nunca deixa de estar potencial-
1424
Promotorias de Justiça
mente previsto como possível, na exata medida em que a dita função deixe de ser
cumprida.”
Também enfatizado por Fábio Konder Comparato:
“... o descumprimento do dever social de proprietário significa uma lesão ao direito
fundamental de acesso à propriedade, reconhecido doravante pelo sistema consti-
tucional. Nessa hipótese as garantias ligadas normalmente à propriedade, notada-
mente a de exclusão das pretensões possessórias de outrem, devem ser afastadas
[...] Quem não cumpre a função social da propriedade perde as garantias, judiciais
e extrajudiciais, de proteção da posse, inerentes à propriedade, como desforço pri-
vado imediato (CC, art. 502) e as ações possessórias. A aplicação das normas do
Código Civil, nunca é demais repetir, há de ser feita à luz dos mandamentos consti-
tucionais, e não de modo cego e mecânico, sem atenção às circunstâncias de cada
caso...” (FERNANDES, Bernardo Mançano et al. A Questão Agrária e a Justiça.
São Paulo: RT, 2000. p. 145 e 146).
Corroborando, Rosalina Pinto da Costa Rodrigues Pereira e Luiz Edson Fachin:
“Conforme já observamos, a Carta Magna atual garante o direito de propriedade,
mas ao mesmo tempo, em seu art., apenas em alínea seguinte, impõe a proprie-
dade o atendimento da sua função social, o que significa dizer que a propriedade
constitucionalmente assegurada deve atender a sua função social. (art. 5º, XXIII).
Assim, disse o legislador constituinte o que não se pode desconhecer, principalmen-
te por tratar da propriedade imobiliária rural, que essa deva atender os requisitos da
função social da propriedade, quais sejam: o aproveitamento adequado e racional,
a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio
ambiente, as disposições que regulam as relações de trabalho e a exploração que
favoreça o bem-estar dos trabalhadores e dos proprietários.
O capítulo destinado à Ordem Econômica e Financeira se refere à penalidade mais
relevante decorrente do não cumprimento da função social: a desapropriação.
Se o não cumprimento da função social se liga à perda indenizada da propriedade
(art. 184 da CF/88), conclui-se que não há proteção constitucional a propriedade
que não cumpre referida função social, logo é defensável concluir que é incongruen-
CAPÍTULO VIII
1425
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1426
Promotorias de Justiça
“[...]
V.v.: Nas demandas possessórias referentes aos conflitos agrá-
rios necessário considerar o exame da produtividade e efetiva
utilização do solo, ponderando os direitos inerentes à proprieda-
de com as garantias constitucionais à vida, ao trabalho, à mo-
radia, ao bem estar social, à cidadania, à dignidade da pessoa
humana, aos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e,
até mesmo o direito a um mínimo de propriedade privada, se
sobrelevando, ainda, os objetivos consolidados como funda-
mentais da República, concernentes à erradicação da pobreza e
redução das desigualdades sociais.
Incumbe ao julgador, como intérprete da norma, adequar, em
cada caso concreto, as disposições da lei infraconstitucional,
material e processual, às exigências constitucionais. A inter-
pretação sistemática constitucional da lei, em respeito ao dever
social da propriedade determinado pelos art. 5º, inc. XIII e 186,
da Constituição Federal, impõe ponderar o cumprimento desse
dever na tutela jurídica do direito de propriedade e seus desdo-
bramentos, dando efetividade à ordem constitucional.” (TAMG,
6ª Câmara Civil, Agravo de Instrumento nº 412.307-3, Rel. Dídi-
mo Inocêncio de Paula, decisão em 25/03/2004).
Ainda, o Magistrado Federal, Welinton Militão dos Santos, titular da Vara Agrária
Federal em Minas Gerais, em sentença proferida em 11/11/2004, nos autos nº
2004.38.00.038640-0, asseverou:
“... No julgamento das ações possessórias, o magistrado há de verificar, primei-
ramente, se está devidamente comprovada a posse do requerente sobre a gleba
supostamente “invadida”. Isso só, contudo, não basta, data vênia. Imprescindível,
pois, a comprovação de outros elementos, como, v.g., o adimplemento da função
social da propriedade (art. 186, da C.R. de 05.10.88), a propósito do qual devem
ser interpretados o art. 185, II da mesma Lei Fundamental e os art.s 924, 926, 928,
todos do CPC.”
Outrossim, sabido e notório que a prova a que se refere o art. 927 do Código de
Processo Civil é a da posse e não da propriedade, visto que as ações possessórias
fundamentam-se no ius possessionis e não no ius possidendi, não há como se ad-
mitir a tutela liminar quando somente a propriedade restar, de plano, comprovada.
A propósito, o tema foi objeto de conclusão do Encontro Nacional de Tribunais de
CAPÍTULO VIII
1427
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, o Ministério Público requer o CONHECIMENTO do presente re-
curso, bem como a concessão de EFEITO SUSPENSIVO, e, ao final, o seu PRO-
VIMENTO com a decretação da nulidade da decisão impugnada e dos atos que
a sucederam, face a ausência de prévia manifestação ministerial, de vistoria e de
audiência de justificação e, caso superadas tais questões de natureza processual,
seja reformada a decisão, por contrariar o direito material aplicável.
Advogado dos requerentes:
Autos de nº
Autores:
Réus:
Assunto: Agravo de Instrumento
1428
Promotorias de Justiça
“A lei processual deseja mais do que uma simples solução técnica para os conflitos
dessa ordem, pois, como assinalado por Artur Pinto Filho, não é razoável admitir
que somente por meio de uma decisão interlocutória seja possível solucionar pacifi-
camente o conflito de interesses” (Agravo de Instrumento nº 329.677-9 – Excerto do
volto do Juiz Alberto Vilas Boas – TAMG)
O Ministério Público de Minas Gerais, através de seu órgão de execução com atri-
buições na Promotoria de Justiça de Conflitos Agrários, com fundamento nos arts.
522 e seguintes do Código de Processo Civil, vem interpor RECURSO DE AGRAVO
DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO contra a decisão de
fls. -v., prolatada pelo MM. Juiz da Vara Agrária deste Estado que, em AÇÃO POS-
SESSÓRIA (Processo nº ...) proposta por ..... e Outros em face de ..... e Outros,
acolheu, inaudita altera pars, o pleito liminar aviado pelos autores, concedendo o
respectivo mandado de interdito proibitório.
Para tanto, em atendimento ao disposto no art. 525 do CPC, junta cópia de todo o
processo na instância originária.
Trata-se de Ação de Interdito Proibitório ajuizada por .... e Outros em face de ..... e
Outros trabalhadores rurais sem terra que se encontram acampados no imóvel per-
tencente ao Sr. ...., localizado no Município de ...., aduzindo, em apertada síntese,
que são senhores e legítimos possuidores de imóveis rurais distintos situados na
comarca de ...../MG, nas proximidades do acampamento no qual se encontram os
requeridos. Afirmam que a presença de trabalhadores rurais sem terra nas proximi-
dades de seus imóveis causa-lhes preocupação, intranqüilidade e insegurança, vez
que, os requeridos cogitam invasões de terra em várias propriedades da região. Em
face do exposto, pleiteiam, em sede de cognição judicial sumária e exauriente, a
concessão do mandado proibitório, de modo a proibir que os requeridos ocupem as
propriedades dos requerentes, sem anuência destes.
Acompanharam a inicial os documentos de fls....
Às fls......, foi acostada manifestação ministerial pugnando pelo indeferimento da
petição inicial, tendo em vista que no caso vertido nesses autos não é cabível litis-
CAPÍTULO VIII
1429
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
DA TEMPESTIVIDADE
O recurso é próprio e tempestivo, vez que a decisão guerreada foi prolatada em
......, sendo certo, porém, que o processo somente foi recebido por esta Promotoria
Especializada em .... (fl. ...), iniciando a contagem do prazo para sua interposição
em ......
Ademais, a título de registro, urge salientar que o prazo para o Ministério Público,
atuando como parte ou como fiscal da lei, interpor o presente recurso conta-se em
dobro (art. 188 do CPC) o que, no caso em tela, equivale a 20 (vinte) dias.
Corroborando, oportuna a lição de Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade
Nery, in Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante, 9ª edição,
Editora Revista dos Tribunais, fl. 392:
“9. Ministério Público. Quer atue como parte (CPC 81), quer como fiscal da lei (CPC
82), o MP tem sempre o prazo em dobro para recorrer. No mesmo sentido: RTJ
106/1036, 106/217)”
consortes, o que impõe, até por uma questão de lógica jurídica, a suspensão dos
efeitos da decisão objurgada, concedendo-se o necessário efeito suspensivo ao
presente recurso.
Cumpre ainda destacar que a decisão guerreada é daquelas que a doutrina deno-
mina satisfativa, embora seja em caráter liminar, de sorte que, no caso em apreço,
ponderando-se os valores e princípios pertinentes, constata-se, à luz do primado da
proporcionalidade, que o princípio da segurança jurídica e primazia da lei deve se
sobrepor aos supostos direitos individuais dos proprietários dos imóveis, ao menos
1430
Promotorias de Justiça
neste momento.
Até porque, mesmo que se fizessem presentes todas as condições da ação e fosse
possível a litigância conjunta no caso em tela, a proteção possessória vindicada é
por demais complexa, devendo ser resolvida em sede de cognição judicial exaurien-
te e não sumária, como fez o ilustre juiz a quo.
PRELIMINARES
1- DA AUSÊNCIA DE CONDIÇÃO DA AÇÃO - INTERESSE PROCESSUAL
Como bem exposto pelo órgão ministerial às fls. ..., tratando-se de litígio coletivo
pela posse de terra rural, aos autores incumbiria demonstrar de modo individualiza-
do que seus respectivos imóveis cumprem a função social nos termos constitucio-
nais (art.s 5º, inciso XXIII e 186, ambos da Lei Maior).
Ainda, considerando que esses autos versam sobre Interdito Proibitório, os reque-
rentes deveriam demonstrar, cabalmente e de plano, os respectivos justos receios
de turbação ou esbulho.
Isso porque, não basta a mera ilação ou o temor abstrato e não factível para confi-
gurar o justo receio, sendo fundamental, no plano da concretude, a comprovação de
que a parte adversa praticou atos significativos que evidenciem a ameaça real, efe-
tiva e inequívoca às ventiladas posses supostamente exercidas pelos demandantes
sobre cada um dos imóveis isoladamente considerados.
Nessa linha, as lições doutrinária e jurisprudencial ora colacionadas:
“A ação de interdito proibitório, também conhecida como ação de força iminente, ou
de preceito cominatório, exige para sua acolhida, que o autor comprove, além da
posse, o justo receio de moléstia à posse, justo receio que não se confunde com
simples receio, decorrente da palavra vã, escrita ou falada. A ameaça deve ser atual
e manifestada através de fatos significativos.” (Alexandre de Paula, CPC Anotado,
7ª Edição, Editora RT, página 3639)
“Sendo o interdito proibitório medida preventiva de proteção possessória, indispen-
sável, para sua concessão, a demonstração do justo receio, comprovando-se a prá-
tica de atos inequívocos por parte do réu, que ensejem previsão de perigo iminente
CAPÍTULO VIII
1431
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Em sendo assim, forçoso concluir que o juiz a quo, ao conceder a liminar, embora
ausente condição de ação (interesse processual), incorreu em error in procedendo,
estando, pois, eivada de nulidade a decisão objurgada, pelo que, assim deve ser
declarada ao mesmo tempo em que decretada a extinção do processo sem exame
do mérito, nos termos do art. 267, VI, do Código de Processo Civil.
1432
Promotorias de Justiça
MÉRITO
Da análise minuciosa dos autos, constata-se que os autores não comprovaram as
posses dos imóveis descritos na inicial nos termos constitucionais (art. 186 da Carta
Magna), fundamentando as pretensões postas em juízo em alegações de proprie-
dade, o que, por sua vez, não é suficiente para a proteção em sede de Interdito Proi-
bitório, pois, a posse tutelada nessa via procedimental funda-se no ius possessionis
e não no ius possidendi.
Ora, acompanham a exordial os instrumentos de mandato, escrituras de compra e
1433
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
propriedade rural. Outrossim, importa salientar que mesmo nos imóveis em que foi
averbada a reserva legal, os requerentes não comprovaram que efetivamente ob-
servam a legislação ambiental, em especial, quanto à conservação e manutenção
dessas áreas.
Ademais, não há comprovação de que as áreas de preservação permanente estão
sendo preservadas nos exatos moldes do ordenamento jurídico vigente.
Nesse contexto, forçoso concluir que os postulantes não comprovaram o cumpri-
mento da função sócio-ambiental dos respectivos imóveis.
1434
Promotorias de Justiça
Importa salientar que, considerando as extensões dos imóveis, pelo material foto-
gráfico juntado aos autos (fls...) não há como dimensionar o aspecto produtivo e,
nem mesmo, se os proprietários respeitam as disposições ambientais, tutelando,
efetivamente, as áreas de proteção.
Nesse momento, de se registrar que somente a observância da integralidade do
art. 186 da Carta Magna enseja a conclusão de cumprimento da função social em
seus três aspectos. Assim, ausente a comprovação do aproveitamento racional e
adequado do imóvel, da utilização correta dos recursos naturais e da preservação
do meio ambiente, da observância das disposições acerca das relações de trabalho
e da exploração que favoreça o bem estar do proprietário e dos trabalhadores, a
negativa da tutela possessória é a medida adequada.
Nesse diapasão, à vista do que consta no processado, a única constatação plausí-
vel é que, ao menos nessa fase procedimental, os requerentes não comprovaram
que os imóveis litigados cumprem a função social em seus aspectos econômico,
trabalhista e ambiental e, sendo assim, conforme exposto, não há como se perquirir
acerca da proteção possessória vindicada.
Não é outra a lição de Jaques Távora Afonsin, em Os Conflitos Possessórios e o
Judiciário – Três reducionismos Processuais de Solução – In: O Direito Agrário
em Debate, obra de Dresch da Silveira, Domingos Sávio e Xavier, Flávio Santánna
(org), POA, 1998. p. 280:
“À função social da propriedade, enquanto dever do proprietá-
rio ou do possuidor, corresponde o direito de todos os não-pro-
prietários, especialmente dos mais necessitados, cujo acesso
ao mesmo espaço titulado nunca deixa de estar potencialmente
previsto como possível, na exata medida em que a dita função
deixe de ser cumprida.”
Também enfatizado por Fábio Konder Comparato:
“... o descumprimento do dever social de proprietário significa
uma lesão ao direito fundamental de acesso à propriedade, reco-
nhecido doravante pelo sistema constitucional. Nessa hipótese
as garantias ligadas normalmente à propriedade, notadamente a
de exclusão das pretensões possessórias de outrem, devem ser
afastadas [...] Quem não cumpre a função social da proprieda-
de perde as garantias, judiciais e extrajudiciais, de proteção da
posse, inerentes à propriedade, como desforço privado imediato
CAPÍTULO VIII
1435
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
– IMPROVIMENTO.
-Não havendo o agravante comprovado tratar-se de imóvel de
propriedade produtiva, tem-se que dito imóvel não cumpre sua
função social na forma prevista no art. 186 da CF/88;
-Com a interpretação sistemática do texto constitucional, a fun-
ção social da propriedade passa a ser requisito para proteção
possessória, de forma que, apenas se o imóvel atender aos re-
quisitos previstos no art. 186 da CF/88, é que deve ter ele ple-
na proteção na forma dos arts. 1.210 do NCC e 827 do CPC.”
(TAMG, Agravo de Instrumento nº 468.384-9, 5ª Câmara Civil,
Rel. Juíza Hilda Teixeira da Costa, decisão de 25/11/2004)
“AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE – ÁREA RURAL – ES-
1436
Promotorias de Justiça
1437
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
2004.38.00.038640-0, asseverou.:
“[...] No julgamento das ações possessórias, o magistrado há
de verificar, primeiramente, se está devidamente comprovada
a posse do requerente sobre a gleba supostamente “invadida”.
Isso só, contudo, não basta, data vênia. Imprescindível, pois, a
comprovação de outros elementos, como, v.g., o adimplemento
da função social da propriedade (art. 186, da C.R. de 05.10.88),
a propósito do qual devem ser interpretados o art. 185, II da mes-
ma Lei Fundamental e os art.s 924, 926, 928, todos do CPC.”
Outrossim, sabido e notório que a prova a que se refere o art. 932 do Código de
Processo Civil é a da posse e não da propriedade, visto que as ações possessórias
fundamentam-se no ius possessionis e não no ius possidendi, não há como se ad-
mitir a tutela liminar quando somente a propriedade restar, de plano, comprovada.
A propósito, o tema foi objeto de conclusão do Encontro Nacional de Tribunais de
Alçada realizado nesta capital em junho/1983, nos seguintes termos:
“Para a concessão de liminar nas possessórias não bastam do-
cumentos relativos ao domínio, assim como não são suficientes
meras declarações de terceiros, desprovidas do crivo do con-
traditório.”
Nessa linha tem sido o entendimento de diversos tribunais do país:
“A prova exclusiva do domínio não autoriza a concessão liminar
de reintegração de posse, exigindo-se o processamento da jus-
tificação prévia do alegado.” (Ac um da 6ª Câmara do Tribunal
de Alçada do Estado de Minas Gerais, Agravo de Instrumento nº
7.951-6, Relator Desembargador Cruz Quintal)
É inadmissível a concessão de medida liminar inaudita altera
pars, em processo de interdito proibitório, sem se promover au-
diência de justificação prévia da posse, louvando-se o magis-
trado a quo tão somente em prova documental de domínio.”
(Ac um da 2ª Câmara do Tribunal de Justiça do Estado do Mato
Grosso, Agravo de Instrumento nº 2.661, Relator Desembarga-
dor Onésimo Nunes Rocha)
Por fim, à vista do exposto, conclui-se que o juiz a quo, ao conceder a liminar de
interdito, nega vigência ao dispositivo constitucional (art. 186 da Carta Magna),
ressaltando-se, ainda, que o equívoco e injustiça da decisão impugnada defluem,
também, do fato de se tratar igualmente imóveis que atendem a sua função social
e aqueles em relação aos quais seus proprietário se eximem de comprovar o cum-
primento do preceito constitucional.
CAPÍTULO VIII
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, o Ministério Público requer o CONHECIMENTO do presente recur-
so, bem como a CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO, e, ao final, o seu PRO-
VIMENTO para que seja decretada a extinção do processo sem exame do mérito,
nos termos do art. 267, I e VI, face à ausência de condição da ação (interesse pro-
cessual) e impossibilidade do litisconsórcio ativo facultativo, via de conseqüência,
declarando-se nula a decisão de fls. ... e, caso superadas tais questões de natureza
1438
Promotorias de Justiça
Deslocamento/Justiça Federal
Autos nº
Autores:
Réus:
Objeto do Conflito: Fazenda .................... (Comarca de .......................)
Assunto: Agravo de Instrumento
“Compete à justiça federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que jus-
tifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”
(Súmula 150, do STJ)
COLENDA CÂMARA,
DOUTO PROCURADOR DE JUSTIÇA,
O Ministério Público de Minas Gerais, através de seu órgão de execução com atri-
buições na Promotoria de Justiça de Conflitos Agrários, com fundamento nos arts.
522 e seguintes do Código de Processo Civil, vem interpor RECURSO DE AGRAVO
DE INSTRUMENTO contra a decisão de fls. ..., prolatada pelo MM. Juiz da Vara
Agrária deste Estado que, em AÇÃO POSSESSÓRIA (Autos nº ....) proposta por
CAPÍTULO VIII
1439
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Designou-se nova visita à Fazenda ....., bem como nova audiência, que realizou-se
em .... na comarca de .... (fls....). Na oportunidade, o Órgão Ministerial argumentou
que o comodato estabelecido entre as partes litigantes é posterior à interposição do
Agravo de Instrumento, devendo, portanto, prevalecer.
Às fls.., o INCRA informa a existência de decreto expropriatório da Fazenda ....
(fls...) e requer sua admissão no feito como Amicus Curiae, pleiteando a imediata
remessa dos autos à Justiça Federal, a fim de que esta examine a existência de
interesse jurídico da referida Autarquia Federal.
1440
Promotorias de Justiça
DA TEMPESTIVIDADE
O recurso é próprio e tempestivo, vez que a decisão guerreada foi prolatada em
...., sendo certo, porém, que o processo somente foi recebido por esta Promotoria
Especializada em ... (fls....), iniciando a contagem do prazo para sua interposição
em .......
1441
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1442
Promotorias de Justiça
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer o Ministério Público o CONHECIMENTO do presente recur-
so, e, ao final, o seu PROVIMENTO para que seja determinada a imediata remessa
dos autos de origem e dos presentes à Justiça Federal.
Advogado das partes:
ção federal, e arts. 201, inc. V, 208, parágrafo único, e 210, inc. I, todos do estatuto
da Criança e do Adolecente, vem à presença de Vossa Excelência promover a pre-
sente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, para
proteção judicial dos interesses individuais individuais indisponíveis das crianças e
adolescentes residentes no acampamento do....., instalado na Fazenda ..., municí-
pio de ...., em face do MUNICÍPIO DE , pessoa jurídica de direito público interno,
representado pela pessoa do Prefeito Municipal, Sr. , que poderá ser citado pes-
1443
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
DOS FATOS
Denota-se das peças informativas anexas que, no município de .....-MG, há uma ocu-
pação de terras, desenvolvida pelo ......., instalada na Fazenda........Tal ocupação en-
contra-se na zona rural, há cerca de.......Km. Da sede município de.......
Extraí-se que, dentre as diversas pessoas instaladas naquela ocupação, há......
adolescentes e crianças, em idade escolar.
Graças à ação do Conselho Tutelar do Município de....., em atenção à requisição do
Ministério Público, tais crianças e adolescentes encontram-se devidamente matricu-
lados o ensino público básico.
São eles:
1) ...
[...]
Lamentavelmente, apesar dos esforços encetados pelo Conselho Tutelar do Muni-
cípio de ....., não tem sido possível àquelas crianças e adolescentes a freqüência
ao ensino público básico, em razão da não disponibilização do devido transporte
escolar às mesmas.
Tal omissão estatal tem ferido de morte o direito constitucional e humanitário daque-
las crianças e adolescentes ao acesso ao ensino público básico.
Data maxima venia, o fato de residirem debaixo de pedaços de lonas não lhes
afasta a titularidade de direitos consagrados pela nossa CARTA MAGNA de 1988,
dentre eles o de acesso ao ensino público básico.
Da mesma forma, a alteração quanto a possível falta de recursos públicos não exi-
me o poder público de suas obrigações, já que não são as necessidades de nossas
crianças e adolescentes que devem adequar-se à estrutura do poder público, mas
CAPÍTULO VIII
sim este que deve zelar pelo respeito aos preceitos legais previstos em nosso or-
denamento.
1444
Promotorias de Justiça
por sua vez que cabe ao Ministério Público a promoção da ação civil pública para
a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à
adolescência.
O art. 208, parágrafo único desta mesma lei, reza que além das hipóteses previstas
no “caput” do art. é possível a proteção judicial para a defesa de outros interesses
individuais, difusos ou coletivos, próprios da infância e da juventude protegidos pela
Constituição.
Por fim, o art. 210, inc. I, do Estatuto da Criança e do Adolescente, dispõe que para
as ações civis fundadas em interesses coletivos ou difusos o Ministério Público tem
legitimidade para a agir
Portanto, o Ministério Público é parte legítima para propor a presente ação, seja por
amparo Constitucional seja por amparo do Estatuto da Criança e do Adolescente.
1445
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
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Promotorias de Justiça
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Promotorias de Justiça
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
DO TRANSPORTE ESCOLAR
A Constituição Federal determina que o ensino fundamental é obrigatório e gratui-
to, inclusive para aqueles que não o tiveram na idade própria (art. 208, inciso I, da
CF). por outro lado, o inciso VII do mesmo art. determina que é dever do Estado
o “o atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas su-
plementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à
saúde”. O art. 212 da Carta Magna determina que os Estados e Municípios deverão
aplicar vinde e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante dos impostos na
manutenção e desenvolvimento do ensino.
Também a Lei nº 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Na-
cional, disciplina que:
“Art. 4°. O dever do Estado com a educação escolar pública será
efetivado mediante a garantia de:
I) ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os
que a ele não riveram acesso na idade própria;
CAPÍTULO VIII
[...]
VIII – atendimento ao educando, no ensino fundamental público,
por meio de programas suplementares de material didático es-
colar, transporte, alimentação e assistência à saúde;
Art. 5°. O acesso ao ensino fundamental é direito publico subje-
tivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação
comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra
legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o
Poder Público para exigi-lo.”
“Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvi-
mento do ensino as despesas realizadas com vistas à consecu-
ção dos objetivos básicos das instituições educacionais de todos
1452
Promotorias de Justiça
1453
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
DA TUTELA ANTECIPADA
De acordo com o preceituado no art. 273 do Código de Processo Civil, “O juiz po-
derá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela
pretendida no pedido inicial, desde que: existindo prova inequívoca, se convença
CAPÍTULO VIII
1454
Promotorias de Justiça
O PEDIDO FINAL
Ao final, requer-se a total procedência do pedido para que:
a)seja imposta definitivamente a obrigação de fazer, determinando-se ao Município
de ....que promova e custeie, durante o período letivo, o devido transporte escolar
das crianças e adolescentes retro mencionados, matriculados na rede pública de
ensino municipal, no trajeto de ida e volta, do local onde residem atualmente ou
venham a residir futuramente no município (no segundo caso, desde a distância
seja superior a 02 Km.) até as escolas públicas onde se encontram matriculados
no ensino público básico, enquanto residirem no município de ...... e encontrarem-
se matriculados na rede de ensino pública municipal, sob pena de multa diária no
importe de R$10.000,00, a ser revertida em favor do Fundo Municipal de Defesa da
Criança e do Adolescente do município de ......
b) seja imposta a obrigação de fazer, determinando-se ao Município de ..... que pro-
CAPÍTULO VIII
mova e custeie, até que ocorra a implementação do transporte escolar pelo poder
público do Estado de Minas Gerais, durante o período letivo, o devido transporte es-
colar dos alunos retro mencionados, que se encontra matriculados na rede pública
de ensino estadual, no trajeto de ida e volta, do local onde residem atualmente ou
venham a residir futuramente no município (no segundo caso, desde que a distância
seja superior a 02 Km.) até as escolas públicas onde se encontram matriculados no
ensino público básico, enquanto residirem no município de ......e encontrarem-se
matriculados na rede de ensino pública, sob pena de multa diária no importe de
1455
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
data
Comarca:
Pedido de Arquivamento
Autos nº.....................
Indiciados..............................
Meritíssimo Juiz de Direito,
“- Pois fui sempre lavrador, lavrador de terra má; não há espécie de terra que eu não
1456
Promotorias de Justiça
possa cultivar. – Isso aqui de nada adianta, pouco existe o que lavrar; mas diga-me,
retirante, que mais fazia por lá? – Também lá na minha terra de terra mesmo pouco
há; mas até a calva da pedra sinto-me capaz de arar. – Também de pouco adianta,
nem pedra há aqui que amassar; diga-me ainda, compadre, que mais fazia por
lá?”(Morte e Vida Severina – João Cabral de Melo Neto.)
Súmula:. Inquérito Policial. Ocorrência de possíveis Crimes de Dano e Formação
de Quadrilha. Ocupação da Fazenda ......, de domínio da empresa ........ –Desdo-
bramento do fato primevo ocorrido em...... Participação de mais de 60 (sessenta)
membros da militância social ligada à terra. Possível crime da espécie multitudiná-
ria. Abate de 06 (seis) cabeças de gado da raça nelore. Avaliação indireta das ocor-
rências no patamar de R$ 3.600,00 (três mil e seiscentos reais). Não-conformação
da tipicidade em talante material e conglobante. Precedentes da moderna doutrina
de Direito Penal. Direito da Livre Manifestação do pensamento assegurados cons-
titucionalmente. Adágio da concretização do secular primado da existência condig-
na. Preclara e irretorquível atipicidade das condutas analisadas. Arquivamento do
Inquérito Policial que se impõe, como meio salutar de preservação da dignidade da
pessoa humana e consecução dos direitos e garantias constitucionais de estirpe
fundamentais.
I - RELATÓRIO
Versam os presentes autos sobre Inquérito Policial, registrado sob o número....., a
fim de ser apuradas as condutas possivelmente delitivas epigrafadas no art. 163
e art. 288, todos do Código Penal Brasileiro, possivelmente deflagradas contra o
patrimônio da empresa....., via da ocupação do prédio rústico da Fazenda .......por
inúmeros militantes e líderes do MST – Movimento dos Sem Terra – ligados a cir-
cunscrição geográfica de ...........
Via dos depoimentos inquisitoriais de fls. ..... (tomados via precatória policial na
Delegacia de Polícia Civil de ....), pode-se aquilatar o ânimo subjetivo dos dirigen-
tes e membros da agremiação social, no talante de ver cumprido e efetivado os
interesses do grupo, assegurados constitucionalmente, no entanto, sem indicar os
CAPÍTULO VIII
1457
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
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Promotorias de Justiça
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
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Promotorias de Justiça
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
III - CONCLUSÃO
EX POSITIS, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
o arquivamento do Inquérito Policial registrado sob o número ................................,
que indiciava os cidadãos..............................................., com fundamento na atipici-
dade da conduta, segundo os fundamentos retromencionados, o que faz com base
no art. 43, inciso I, do Código de Processo Penal, interpretado a contrario sensu.
............................., aos ........ de .............. de ............
CAPÍTULO VIII
JULGADOS
1462
Promotorias de Justiça
Cíveis:
1463
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Audiência de Justificação-Necessidade:
Competência:
– 23/11/2005)
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Promotorias de Justiça
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Poder Judiciário, que estima e resguarda a propriedade, mas que não pode deixar
de aplicar a Constituição, quando esta prevê a possibilidade da desapropriação por
interesse social para fins de reforma agrária, em se cuidando de propriedade com
as características estabelecidas na Constituição e na Lei de regência reguladas,
deixe de ponderar essas formas de procedimento, em ordem a, em seu veredictum,
tornar inviável a reforma agrária quando, assim, se tem como cabível. (STJ - Man-
dado de Segurança 22.591 – Ministro Néri da Silveira).
1466
Promotorias de Justiça
1467
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
a legitimidade ativa do agravante, por envolver questão sobre o domínio, deve ser
aferida nos autos da ação expropriatória, e não de modo inédito, como questão
preliminar, em agravo de instrumento. II - O § 6º, do art. 2º, da lei 8.629/93, deve
ser interpretado de modo a prestigiar a estabilidade das relações sociais no campo.
Assim, demonstrado que o imóvel possui os indicadores GUT e GEE no patamar de
00,00% (zero por cento), ante o abandono de seu proprietário, torna-se desaconse-
lhável a suspensão do procedimento expropriatório por conta de invasão de caráter
coletivo, ocorrida após a conclusão da vistoria administrativa. III - Agravo de instru-
mento improvido para garantir a imissão do INCRA na posse do imóvel. (Agravo
de Instrumento nº 2005.01.00.006792/6 – Desembargador Relator Cândido Ribeiro
– 3ª Turma – TRF – 1ª Região - 14/11/2006)
1468
Promotorias de Justiça
mais precisamente a posse direta e efetiva, não tem direito a ser manutenido ou
reintegrado, numa posse que, por ser virtual, inexiste de fato, não somente em
razão da ocupação, mas mesmo em estágio anterior.“ (Reintegração de Posse nº
2004.38640-0, 12ª Vara da Justiça Federal de Belo Horizonte, Juiz Weliton Mili-
tão, 11/11/2004).
tiva, tem-se que dito imóvel não cumpre sua função social na forma prevista no art.
186 da CF/88;
- Com a interpretação sistemática do texto constitucional, a função social da pro-
priedade passa a ser requisito para a proteção possessória, de forma que, apenas
se o imóvel atender aos requisitos previstos no art. 186 da CF/88, é que deve ter
ele plena proteção na forma dos arts. 1.210 do NCC e 927 do CPC. (Agravo de Ins-
trumento nº 468.384-9 – Relatora Hilda Teixeira da Costa – 5ª Câmara Cível/TAMG
- 25/11/2004)
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
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Promotorias de Justiça
Ações Discriminatórias
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
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Promotorias de Justiça
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1474
Promotorias de Justiça
Arrendamento
Tutela Antecipada
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Extinção de Cautelar
Justo Receio
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Promotorias de Justiça
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Código Civil]. 4. A finalidade do art. 46, § 6º, do Estatuto da Terra [Lei nº 4.504/64] é
instrumentar o cálculo do coeficiente de progressividade do Imposto Territorial Rural
- ITR. O preceito não deve ser usado como parâmetro de dimensionamento de imó-
veis rurais destinados à reforma agrária, matéria afeta à Lei n. 8.629/93. Precedente
[MS nº 24.573, Relator para o Acórdão o Ministro EROS GRAU, DJ 15/12/2006]. 5
A existência de condomínio sobre o imóvel rural não impede a desapropriação-san-
ção do art. 184 da Constituição do Brasil, cujo alvo é o imóvel rural que não esteja
cumprindo sua função social. Precedente [MS nº 24.503, Relator o Ministro MARCO
AURÉLIO, DJ de 05/09/2003]. 6. O cadastro efetivado pelo SNCR-INCRA possui
caráter declaratório e tem por finalidade: i] o levantamento de dados necessários à
aplicação dos critérios de lançamentos fiscais atribuídos ao INCRA e à concessão
das isenções a eles relativas, previstas na Constituição e na legislação específica;
e ii] o levantamento sistemático dos imóveis rurais, para conhecimento das condi-
ções vigentes na estrutura fundiária das várias regiões do País, visando à provisão
de elementos que informem a orientação da política agrícola a ser promovida pelos
órgãos competentes. 7. O conceito de imóvel rural do art. 4º, I, do Estatuto da Terra
contempla a unidade da exploração econômica do prédio rústico, distanciando-se
da noção de propriedade rural. Precedente [MS nº 24.488, Relator o Ministro EROS
GRAU, DJ de 03/06/2005]. 8. O registro público prevalece nos estritos termos de
seu conteúdo, revestido de presunção iuris tantum. Não se pode tomar cada parte
ideal do condomínio, averbada no registro imobiliário de forma abstrata, como pro-
priedade distinta para fins de reforma agrária. Precedentes (MS n. 22.591, Relator
o Ministro MOREIRA ALVES, DJ de 14/11/2003 e MS nº 21.919, Relator o Ministro
CELSO DE MELLO, DJ de 6/06/97). Segurança denegada. (Mandado de Seguran-
ça nº 26129/DF- Relator Ministro Eros Grau – Tribunal Pleno/STF - 14/06/2007)
Penais
1478
Promotorias de Justiça
Freire – RT 516/357).
1479
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1480
Promotorias de Justiça
partícipes, uma vez que o ordenamento jurídico pátrio não obriga a responsabilida-
de penal objetiva. (RT-787 – Maio de 2001 – 90º Ano – pág. 594)
1481
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1482
Promotorias de Justiça
Júri/Pronúncia/Desaforamento
1483
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A – Introdução
290
Em última análise, pode-se considerar que a Resolução nº 39/248 constitui a célula mater da leg-
islação consumerista na maioria dos Estados filiados à ONU, haja vista que, à época, poucos países
experimentavam considerável desenvolvimento das práticas de consumo de massa, bem como, ainda,
a seu turno, era forte a crença na suficiência das codificações civilistas (códigos francês e alemão) no
trato das relações de consumo. Imprescindível dizer nesse contexto a vinculatividade dos Ordenamentos
CAPÍTULO VIII
Jurídicos dos Estados signatários da Carta da ONU às Resoluções emanadas de seus órgãos. Tem pre-
dominado o entendimento segundo o qual esses Estados que já ratificaram a Carta encontram-se forte-
mente vinculados aos conteúdos dos atos e decisões posteriormente tomadas. E assim o é porquanto
os atos que precederam a internalização e reconheceram a sua legitimidade e vaidade não podem
ser vistos de forma isolada. A se considerar que o processo de ratificação não tem cunho meramente
estrutural, incoerente negar a força vinculante de tais resoluções. Entendimento diverso culminaria no
esvaziamento, pela banalização, da própria ONU, que não teria seus atos e decisões observadas, a de-
notar seu despropósito existencial. No caso em tela mais razão subsiste para a defesa de tal vinculação,
na medida em que os direitos do consumidor são direitos fundamentais, reflexos diretos da doutrina dos
direitos humanos. Por serem direitos de tal magnitude, não pode restar dúvidas acerca da premência da
observância de seus preceitos e diretrizes.
291
D’ANGELIS, Wagner Rocha. Direitos Humanos: a luta pela justiça. São Paulo: Comissão Brasileira
1484
Promotorias de Justiça
esses dos consumidores em nível mundial, bem como representá-los ante aos organismos regionais e
internacionais. Atualmente sediada em Londres, suas oficinas regionais, nas quais são implementados
seus programas, encontram-se distribuídas na Malásia (Ásia-Pacífico), em Zimbabwe (África) e no Chile
(América Latina e Caribe). A Oficina para América Latina e Caribe, fundada em 1986, estabeleceu entre
seus objetivos: desenvolver/fortalecer o movimento dos consumidores na região promovendo seus di-
reitos em nível nacional e regional e representar as organizações de consumidores internacionalmente
para influir nas instâncias de decisões que os afetem. Desde sua criação, sua missão tem sido promover
a construção de uma sociedade justa, mediante a defesa dos direitos consumeristas em todo o mundo,
em especial dos grupos vulneráveis. Enfatiza-se responsabilidade que os consumidores têm de usar seu
poder no mercado para eliminar abusos e promover práticas comerciais saudáveis, além de apoiar o
consumo e a produção sustentáveis.
293
CF/88, art. 127, caput.
1485
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
dor, utilizando-se, para tanto, dos instrumentos colocados à sua disposição, dentre
os quais se destacam, o Inquérito Civil e a Ação Civil Pública294, e, excepcionalmen-
te, por expressa previsão do legislador constitucional mineiro295, dos mecanismos
de atuação administrativa próprios do Programa Estadual de Proteção ao Consumi-
dor (PROCON-MG).
Com essa breve introdução, passo, pois, ao desenvolvimento dos trabalhos afetos
à Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor e ao PROCON-MG.
B – Considerações gerais
O CDC, em seu art. 1º, informa serem preceitos de ordem pública e interesse so-
cial as normas nele contidas, assim entendidas como de caráter cogente, isto é,
de observância obrigatória e não derrogáveis pela vontade das partes, salvo nas
hipóteses prévia e expressamente por ele permitidas. Logo, em geral, não há, na
interpretação das disposições consumeristas, margem para a disposição de direitos
por parte do consumidor, seja em cláusula contida em contrato de adesão ou não.
CAPÍTULO VIII
Espécie de negócio jurídico cuja nota diferenciadora consiste na qualidade dos su-
jeitos participantes – de um lado, o consumidor e, de outro, o fornecedor – bem
como na dos objetos envolvidos – produto e/ou serviço –, além de um elemento
294
CF/88, art. 129, inciso III c/c Lei Federal nº 7.347, de 24 de julho de 1985.
295
CE-MG, art. 233, § 3º c/c art. 14 dos ADTC; Lei Complementar Estadual nº 34/94, com a alteração
dada pela Lei Complementar Estadual nº 61/2001
1486
Promotorias de Justiça
B.4 – Consumidor
296
Em consideração à tradição, reputamos conveniente a adoção da nomenclatura Direito Comercial,
em detrimento da novel expressão Direito Empresarial.
297
“Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.”
298
Trata-se, pois, de uma espécie de conceito difuso de consumidor, tendo em vista que a ele se ajustam
todas as pessoas pelo simples fato de se encontrarem potencialmente expostas às práticas descritas
na lei.
1487
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
B.5 – Vulnerabilidade
B.6 – Fornecedor
Tem seu conceito legal definido no art. 3º do CDC. Trata-se, pois, de pessoa física
ou jurídica que, com habitualidade, desenvolve as atividades “de produção, monta-
gem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços”.300
B.7 – Produto
299
João Batista de Almeida identifica, no texto da Resolução ONU nº 29/248, que o denominado “dese-
quilíbrio” do consumidor, em termos econômicos, educacionais (conhecimento técnico e científico) e de
poder aquisitivo, guarda identidade com a noção de vulnerabilidade.
300
Fornecedor é gênero, enquanto fabricante, produtor, construtor, importador, etc. são espécies. O
CDC, ao se reportar ao fornecedor, o faz de forma genérica e indistinta. Ao contrário, quando quer des-
ignar o ente específico, utiliza-se de termo designativo particular e especializante.
301
A partir da ADI nº 2591-1, o STF pôs fim à discussão sobre a aplicabilidade do CDC às instituições
financeiras, considerando-as sujeitas ao direito consumerista.
1488
Promotorias de Justiça
Produto durável é o bem, ou coisa, que resiste a muitos usos, sem que, com isso, a
sua destruição ou deterioração se dê de imediato.
Produto não durável é o bem, ou coisa, cujo uso, em uma ou em reduzidas ocasi-
ões, importa sua destruição ou deterioração303.
B.9 – Serviços
302
CDC, art. 26.
CAPÍTULO VIII
303
Conforme doutrina de Rizzatto Nunes, há de se reconhecer, na definição de produtos duráveis e não
duráveis, certa similitude conceitual com a idéia, corrente entre os civilistas, de bens consumíveis e não
consumíveis.
304
“Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as
de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.”
305
O ônus financeiro indireto ocorre, por exemplo, nos casos de estacionamentos gratuitos de shop-
ping centers, onde indubitavelmente os custos do referido serviço estão diluídos nos demais produtos
e serviços postos à disposição dos consumidores – internalização dos custos da teoria do risco, na
modalidade risco-proveito.
306
CDC, art. 22 e seu parágrafo único.
1489
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
É causado por defeitos dos produtos e serviços307 postos à disposição dos consumi-
dores e gera, para seus fornecedores, o dever de indenizar, sem a necessidade de
caracterização de culpa (responsabilidade objetiva), em virtude de adoção da teoria
do risco criado.
Sua caracterização gera, para o fornecedor, o dever de sanar o vício, seja substi-
tuindo-se as partes viciadas308, complementando-se a quantidade faltante, ou des-
fazendo-se a relação de consumo, a critério do consumidor, observadas as condi-
cionantes legais.
Todos os integrantes da cadeia de fornecimento (fabricante, atacadista, varejista,
revendedor, etc.) têm responsabilidade própria e solidária para a sanação dos vícios
do produto309.
CAPÍTULO VIII
307
Nesse sentido, o fato do produto/serviço é entendido como acontecimento externo ao produto e
serviço, geralmente (mas não necessariamente) decorrente de vício do produto/serviço. Inconfundíveis,
pois, as noções de fato e vício do produto ou do serviço.
308
Conforme dispõe o § 3º do art. 18, caso a reparação do produto venha a acarretar-lhe perda de valor,
ou quando tratar-se de produto essencial, poderá o consumidor exigir, de imediato, uma das medidas
previstas nos incisos I a III do § 1º do referido art..
309
Na hipótese do art. 19, § 2º, somente o fornecedor imediato será responsável pela sanação do vício,
rompendo-se, assim, a regra geral que dispunha acerca da solidariedade dos fornecedores.
1490
Promotorias de Justiça
Sob o prisma qualitativo, o vício do produto será gerador de inadequação aos fins
razoavelmente esperados, de diminuição de valor ou, ainda, poderá decorrer do
não-atendimento de normas (legais, infralegais, técnicas, etc.) regulamentares de
prestabilidade, quando, então, será considerado, pela lei, como impróprio310.
Caberá ao fornecedor dos serviços a sanação do vício com a reexecução deles, quan-
do possível; a restituição imediata da quantia desembolsada, sem prejuízo de perdas
e danos; ou o abatimento proporcional do preço, segundo opção do consumidor311.
Criado pela Lei Complementar Estadual nº 66, de 22 de janeiro de 2003, diz respeito
ao fundo para o qual deverão ser revertidos os valores resultantes de termos de
ajustamento de conduta, termos de acordo e condenações pecuniárias, administra-
tivas e judiciais, das ações movidas pelo Ministério Público do Estado de Minas Ge-
CAPÍTULO VIII
310
CDC, art. 20, § 2º.
311
CDC, art. 20, I a III.
312
Vide http://www.mj.gov.br/dpdc e http://www.mp.mg.gov.br/procon na seção Notas Técnicas.
1491
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
seja o Ministério Público, observar que, reverterão para o FEPDC as condenações pecuniárias resul-
tantes de dano moral coletivo, bem como a execução de condenação nas ações coletivas de consumo
pelo saldo do fluid recovery (CDC, art. 100, caput).
315
Vale ressaltar que, dado o caráter público do FEPDC, a utilização ou destinação indevidas ou em de-
sacordo com as disposições legais em comento, em especial as Leis Federais nº 7.347/85 e nº 8.078/90
e Leis Complementares Estaduais nº 34/94, nº 61/2001 e nº 66/2003, pode ensejar a responsabilização
funcional e pessoal do Promotor de Justiça – (Vide Ato CGMP nº 1, de 12 de fevereiro de 2008, art.
100-A).
316
O CGFEPDC é composto por três membros indicados pelo Procurador-Geral de Justiça, pelo Secre-
tário-Executivo do PROCON-MG, por um Promotor de Justiça de Defesa do Consumidor, por um repre-
sentante da OAB-MG, e por três membros indicados por entidades de defesa do consumidor integrantes
do SEDC.
1492
Promotorias de Justiça
1493
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A atuação judicial dar-se-á por meio do manejo da ação civil pública e da ação
coletiva de Consumo. Administrativamente, o Promotor de Justiça poderá servir-se
do inquérito civil público, além da investigação preliminar e do processo adminis-
trativo.
C.3 – Educação
Também, desde que possível, deverá o Órgão de Execução utilizar-se dos meios
de comunicação de massa para a divulgação de conhecimento dos direitos do con-
sumidor.
318
Vide CF/88, arts. 127, caput, 128, § 5º, II, “b”, e 129, III e IX.
319
Conforme anteriormente relatado, as atividades do PROCON-MG foram transferidas ao Ministério
Público estadual (CE-MG, art. 14 do ADCT).
320
Sobre a realização de projetos educativos consumeristas, leia-se o Manual do Consumidor, de autoria
do Promotor de Justiça Amauri Artimos da Matta, 1996.
321
Vide LC nº 66/2003.
322
Um dos projetos de execução permanente pelo PROCON-MG, com vistas à educação para o con-
sumo, é o PROCON-MIRIM, destinado a crianças e pré-adolescentes do ensino fundamental.
1494
Promotorias de Justiça
A experiência tem demonstrado que, nos municípios onde existem PROCONs mu-
nicipais atuantes, o trabalho do Promotor de Justiça torna-se menos exaustivo, haja
vista a concorrência das atribuições administrativas dos órgãos estadual e munici-
pal de defesa do consumidor323.
323
A propósito, ler a Nota Técnica nº 08 do PROCON Estadual em http://www.mp.mg.gov.br/procon.
324
Trata-se de importante e moderna forma de atuação ministerial, marcada pelo diálogo aberto e ir-
restrito acerca de problemas que afligem diretamente os segmentos sociais interessados. Tem por es-
copo a oxigenação e ampliação da discussão, para além do plano estritamente jurídico, com a inclusão
de dados econômicos, sociais, culturais, entre outros. Sempre que possível, será de grande utilidade
fazer-se acompanhar de profissionais especializados no setor afeto ao problema, oriundos de órgãos
1495
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Todos os crimes previstos no CDC são, pela Lei Federal nº 9.099, de 26 de setem-
bro de 1995, considerados de menor potencial ofensivo329.
327
Desse modo, o crime de estelionato, praticado na forma do golpe do toma, estará afeto ao Promotor
de Justiça de Defesa do Consumidor, sempre que verificado no contexto de uma relação de consumo.
328
Os crimes previstos no art. 1º (incisos I e II) da Lei nº 8.176, de 8 de fevereiro de 1991, quando refer-
entes a relações de consumo, serão de atribuição da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor.
Nos demais casos, competirão à Promotoria de Justiça da Ordem Econômica, conforme expresso co-
mando legal: “Art. 1 Constitui crime contra a ordem econômica: [...]”.
329
Hipótese em que será possível a transação penal, recomendando-se ao Promotor de Justiça, além
da propositura de medidas restritivas de direitos (art. 43, do Código Penal), a publicação de contrapro-
paganda, na forma do art. 78, II do CDC. Entre as medidas restritivas de direitos, vale lembrar que, caso
resultem na aplicação da prestação pecuniária (art. 43, inciso I c/c 45, § 1º), esta, quando não reverter em
proveito da vítima ou de seus dependentes, será destinada, exclusivamente, ao FEPDC (Fundo Estadual
de Proteção e Defesa do Consumidor), instituído pela Lei Complementar Estadual nº 66/2003.
1496
Promotorias de Justiça
penal, permitindo-se razoável descrição da participação de cada agente. Precedentes. A instrução crimi-
nal se presta para esclarecer e pormenorizar de que forma o réu participou dos delitos que lhe são
imputados, permitindo ampla dilação dos fatos e provas, quando os pacientes poderão levantar todos os
aspectos que julgarem relevantes para provar a inexistência de configuração da autoria, da materialidade
do crime, ou, ainda, da existência de excludente de culpabilidade. (STJ - HC 56243/MG Ministro GILSON
DIPP - 5.º Turma)
PENAL - CRIME ESTELIONATO - ART. 171 CP -ABSOLVIÇÃO - CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE
CONSUMO - ART. 7, VII, DA LEI Nº 8.137/90 - INDUZIR O CONSUMIDOR EM ERRO POR AFIRMA-
ÇÕES FALSAS - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADOS. Responde criminalmente o repre-
sentante legal da empresa que permite aos seus prepostos fornecerem informações falsas ao consumi-
dor, induzindo-o ao erro, especialmente quando é a empresa a beneficiária da fraude. - O crime contra
relações de consumo absorve o crime de estelionato, praticado no âmbito das relações de consumo, em
1497
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Entende-se que o bem jurídico tutelado nesses crimes é a relação de consumo, as-
sim entendida como a relação jurídica travada entre consumidor e fornecedor, tendo
por objeto um produto ou serviço.
- de informação340;
- que qualidade (impropriedade) do produto ou serviço341;
- relativos a práticas comerciais (abusivas)342.
face de seus elementos constitutivos. (TJMG – Ap. Criminal nº 2.0000.00.517736-6/000 - Rel. Walter
Pinto da Rocha)
337
PROCESSUAL PENAL. HABEAS-CORPUS. AÇÃO PENAL. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE
CONSUMO (LEI Nº 8.137, ART. 5, II). DENÚNCIA INEPTA. TRANCAMENTO. A denúncia deve conter a
exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias (CPP, art. 41), com adequada indicação
da conduta ilícita imputada ao réu, de modo a propiciar-lhe o pleno exercício do direito de defesa, uma
das mais importantes franquias constitucionais. - Contém a mácula da inépcia a denúncia que formula
acusação genérica de prática de crime contra as relações de consumo, sem apontar de modo circunstan-
ciado a participação dos réus no fato delituoso. - A mera qualidade de sócio ou diretor de uma empresa,
na qual se constatou a ocorrência de crime no processo de venda, não autoriza que contra o mesmo dire-
tor seja formulada uma acusação penal em Juízo. - Recurso ordinário provido. Habeas-corpus concedido
(STJ - RHC 8320/SP - Ministro VICENTE LEAL 6.º Turma)
338
Haja vista a adoção do princípio da culpabilidade em nosso sistema jurídico penal, o qual veda a
CAPÍTULO VIII
1498
Promotorias de Justiça
Impulsionado pelo advento da Lei Federal nº 7347/85 (Lei da Ação Civil Pública), o
Ministério Público tornou-se agente expressivo de modificação da realidade social
com o manejo da ACP, por força da conformação constitucional recebida em 1988.
dos partícipes das relações de consumo. A propósito, o art. 71 do CDC incriminou a prática abusiva da
cobrança vexatória do consumidor.
343
“Ora, em primeiro lugar cumpre notar que a Constituição de 1988, anterior ao CDC, evidentemente
não poderia aludir, no art. 129, III, à categoria dos interesses individuais homogêneos, que só viria a ser
criada pelo Código. Mas na dicção constitucional, a ser tomada em sentido amplo, segundo as regras da
interpretação extensiva (quando o legislador diz menos de quanto quis), enquadra-se comodamente a
categoria dos interesses individuais, quando coletivamente tratados.
Em segundo lugar, a doutrina, internacional e nacional, já deixou claro que a tutela de direitos transindi-
viduais não significa propriamente defesa de interesse público, nem de interesses privados, pois os inter-
esses privados são vistos e tratados em sua dimensão social e coletiva, sendo de grande importância
política a solução jurisdicional de conflitos de massa.
CAPÍTULO VIII
Assim, foi exatamente a relevância social da tutela coletiva dos interesses ou direitos individuais ho-
mogêneos que levou o legislador ordinário a conferir ao MP e a outros entes públicos a legitimação
para agir nessa modalidade de demanda, mesmo em se tratando de interesses ou direitos disponíveis.
Em conformidade, aliás, com a própria Constituição, que permite a atribuição de outras funções ao MP,
desde que compatíveis com sua finalidade (art. 129, IX); e a dimensão comunitária das demandas cole-
tivas, qualquer que seja seu objeto, insere-as sem dúvida na tutela dos interesses sociais referidos no
art. 127 da Constituição.
Apesar de alguma divergência, a linha preponderante é no sentido do reconhecimento da legitimação,
havendo casos em que esta é negada não em face de sua eventual inconstitucionalidade, mas porque
se trata, na espécie concreta, de pequeno número de interessados, estritamente definido.” (GRINOVER,
Ada Pellegrini et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do an-
teprojeto. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. p. 545-6)
1499
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Certo é que a atuação do Ministério Público sempre será cabível em defesa dos
interesses difusos. Com relação aos direitos coletivos e individuais homogêneos,
atuará, desde que:
E.2 – Peculiaridades
No trato das ações civis públicas, nenhum reparo ou observação há de ser fei-
to quanto ao exercício e condução do processo, bem como quanto à atuação do
Ministério Público na condição de custos legis, razão pela qual remeto o Órgão
Ministerial à leitura do tópico Introdução relativo à atuação do Promotor de Justiça
no juízo cível.
No mesmo sentido:
Função institucional do Ministério Público. Direitos individuais e homogêneos. Limites. A função institu-
cional do Ministério Público é definida pela CF (art. 129) e abrange a defesa dos direitos coletivos, dos
quais são espécies os direitos individuais e homogêneos. A lei infraconstitucional, ou o intérprete, não po-
dem reduzir a função institucional constitucionalizada. O fato de o Código do Consumidor ter introduzido
normas relativas a ações coletivas, das quais o Ministério Público pode ser titular, não limita a Ação Civil
Pública nem permite concluir que os interesses individuais homogêneos só são amparados nas relações
CAPÍTULO VIII
de consumo. A matéria tributária, quando une número significativo de pessoas hipossuficientes, é direito
coletivo que pode e deve ser sustentado pelo Ministério Público, para evitar a multiplicação de demandas
repetitivas, em que, segundo a jurisprudência, a Fazenda Pública é invariavelmente condenada, oca-
sionando danos ao patrimônio público. Tratando-se de taxa de iluminação pública, envolvendo grande
massa de hipossuficientes, cujo valor financeiro individual é pequeno, mas grande a lesão integral aos
contribuintes e ao patrimônio público, patenteia-se o interesse social segundo a Constituição para ense-
jar a iniciativa constitucional do Ministério Público. ACÓRDÃO Vistos etc., acorda, em Turma, a QUARTA
CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de
fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM REJEITAR PRELIMINAR,
VENCIDO O REVISOR , E CONFIRMAR A SENTENÇA NO REEXAME NECESSÁRIO, PREJUDICADO
O RECURSO VOLUNTÁRIO. (Apelação (Cv) Cível nº 000.200.704-5/00, 4ª Câmara Cível do TJMG,
Governador Valadares, Rel. Des. Almeida Melo. j. 23/11/2000, maioria)
1500
Promotorias de Justiça
Em respeito ao devido processo legal, bem como a outros direitos e garantias fun-
damentais, ocorrendo a hipótese de um aparente descumprimento do ajuste fir-
mado, recomenda-se ao Promotor de Justiça, antes do ajuizamento do processo
executivo, a realização de um procedimento administrativo formal de verificação do
344
CDC, art. 91 c/c 82, I a IV.
345
Peculiaridade afeta ao trato das ações civis coletivas de consumo, a publicação de edital atende à
especial característica do direito tutelado (que é intrinsecamente individual), com vistas a possibilitar a
adesão de consumidores ao processo. Trata-se de exigência legal (CDC, art. 94) geradora de nulidade
do processo, razão pela qual é de se ressaltar sua importância, seja na atuação ministerial como au-
tor (legitimado extraordinário), seja como fiscal da lei, zelando pela sua observância, quando ajuizados
pelos demais co-legitimados.
346
Prescreve o art. 100 do CDC a possibilidade de liqüidação e execução das indenizações potencial-
mente existentes e não executadas pelos consumidores (fluid recovery), após transcorrido o prazo de um
ano do trânsito em julgado da ação coletiva.
CAPÍTULO VIII
347
Tal como ocorre na ACP, o Ministério Público, verificando a ocorrência das hipóteses legais (§ 3º do
art. 5º, da Lei Federal nº 7.347/85, com a redação dada pelo CDC), irá assumir a titularidade da ação
coletiva, salvo quando se tratar de ações plurissubjetivas, cujo objeto estará adstrito, apenas, à tutela de
direitos dos próprios associados.
348
Hugo N. Mazzilli (in A defesa dos interesses Difusos em Juízo: meio ambiente, consumidor, pat-
rimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 19 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva,
2006. p. 350) entende que a recusa do Órgão Ministerial em assumir a titularidade da ação coletiva,
por analogia ao sistema estatuído para o inquérito civil, deverá submeter, previamente, suas razões ao
Conselho Superior do Ministério Público
349
Lei Federal nº 7.347/85, art. 5º, § 6º.
350
Resp nº 222582/MG.
1501
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Na sua atuação como custos legis, o Promotor de Justiça, ao produzir seu parecer
de mérito, sempre opinará em favor do melhor direito, e não da parte que determina
a atuação ministerial.
F – A atuação administrativa
352
A propósito, ver Lei Federal nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999 (Lei do processo administrativo fed-
eral), aplicável analogicamente.
353
CE-MG, art. 14 do ADCT.
354
“Art. 22 - Fica criado o Programa Estadual de Proteção ao Consumidor (PROCON-MG), na estrutura
do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, nos termos do art. 14 do Ato das Disposições Constitu-
cionais Transitórias da Constituição do Estado, para fins de aplicação das normas relativas às relações
de consumo, especialmente as estabelecidas na Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e no
Decreto Federal nº 2.181, de 20 de março de 1997.
Art. 23 - Compete ao Programa Estadual de Proteção ao Consumidor, órgão vinculado diretamente à
Procuradoria-Geral de Justiça, exercer, por meio de sua Secretaria Executiva, a coordenação da política
do Sistema Estadual de Defesa do Consumidor (SEDC), com competência, atribuições e atuação em
todo o Estado, cabendo-lhe: I - planejar, elaborar, propor, coordenar e executar a política estadual de
1502
Promotorias de Justiça
proteção e defesa do consumidor; II - receber, analisar, avaliar e apurar consultas e denúncias apresen-
tadas por entidades representativas ou pessoas jurídicas de direito público ou privado ou por consumi-
dores individuais; III - dar atendimento e orientação permanente aos consumidores sobre seus direitos
e garantias, processando regularmente as reclamações fundamentadas; IV - informar, conscientizar e
motivar o consumidor, por intermédio dos diferentes meios de comunicação; V - fiscalizar as relações de
consumo e aplicar as sanções e penalidades administrativas previstas na Lei Federal nº 8.078, de 11 de
setembro de 1990, e em outras normas pertinentes à defesa do consumidor; VI - funcionar, no processo
administrativo, como instância de instrução e julgamento, no âmbito de sua competência, dentro das
regras fixadas pela Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e pela legislação complementar;
VII - elaborar e divulgar anualmente o cadastro estadual de reclamações fundamentadas contra fornece-
dores de produtos e serviços, de que trata o art. 44 da Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990,
e remeter cópia ao órgão federal incumbido da coordenação política do Sistema Nacional de Defesa do
Consumidor; VIII - celebrar convênios e termos de ajustamento de conduta, na forma do § 6º do art. 5º da
Lei Federal nº 7.347, de 24 de julho de 1985; IX - elaborar e divulgar o elenco complementar de cláusulas
contratuais consideradas abusivas nas relações de consumo no âmbito do Estado e divulgar o elenco
elaborado pelo órgão federal competente; X - exercer as demais atividades previstas pela legislação
relativa à defesa do consumidor e desenvolver outras compatíveis com suas finalidades. § 1º - A Secre-
taria Executiva do Programa Estadual de Proteção ao Consumidor será integrada pelos Promotores de
Justiça com atribuições na Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor da Capital e será dirigida
por Secretário Executivo designado pelo Procurador-Geral de Justiça. § 2º - A distribuição de serviços e
as atividades do Programa Estadual de Proteção ao Consumidor serão regulamentadas por ato conjunto
CAPÍTULO VIII
dos integrantes da Secretaria Executiva. § 3º - Das decisões proferidas pelas autoridades julgadoras
integrantes da Secretaria Executiva nos processos administrativos caberá, no prazo de dez dias conta-
dos da data da intimação, recurso voluntário sem efeito suspensivo. § 4º - Na hipótese da cominação
de pena de multa, o recurso será recebido com efeito suspensivo. § 5º - Da decisão que, em processo
administrativo, julgar insubsistente a infração recorrerá de ofício a autoridade julgadora que o presidiu. §
6º - Fica criada a Junta Recursal do Programa Estadual de Proteção ao Consumidor, composta por, no
mínimo, três Procuradores de Justiça designados pelo Procurador-Geral de Justiça, à qual compete pro-
ferir decisão administrativa definitiva em julgamento dos recursos voluntários e necessários interpostos
contra as decisões das autoridades julgadoras nos processos administrativos.
Art. 24 - As multas aplicadas nos termos dos arts. 56, I, e 57, caput, da Lei Federal nº 8.078, de 11 de
setembro de 1990, reverterão ao Fundo Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor, na forma pre-
vista em lei.”
1503
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Assim como ocorre com o inquérito policial, o inquérito civil não é indispensável
(obrigatório) como etapa precedente à propositura de ações judiciais pelo órgão
ministerial358.
355
CF/88, art. 129, III.
356
Sugere-se a definição, minimamente criteriosa, do fato ou problema investigado, a fim de que se evite
CAPÍTULO VIII
1504
Promotorias de Justiça
Após instrução do inquérito civil, caso o Promotor de Justiça não vislumbre os ele-
mentos necessários para a adoção de nenhuma medida posterior, judicial ou ex-
trajudicial, ou com a realização das medidas extrajudiciais de recomendação ou
ajustamento de conduta, quando não mais restarem iniciativas a serem tomadas,
proporá, fundamentadamente, o arquivamento do feito, submetendo sua decisão ao
Conselho Superior do Ministério Público, para que, ratificando-a ou não, exerça o
controle da atividade ministerial359.
G.2 – Recomendação
Sugere-se dar a mais ampla publicidade à recomendação ministerial, seja pelo Mi-
nistério Público, por seus próprios meios, seja pela imprensa, ou mesmo pelo desti-
natário da recomendação, caso isso seja objeto de acordo entre as partes363.
CAPÍTULO VIII
359
Na hipótese de o Conselho Superior do Ministério Público rejeitar a proposta de arquivamento do
inquérito civil, em consideração ao princípio da independência funcional do órgão de execução, será
designado outro Promotor de Justiça para o prosseguimento das investigações ou outras medidas deter-
minadas pelo órgão de controle.
360
Vide LC nº 75/93, art. 8º § 1º e Lei Federal nº 8.625/93, art. 26, § 2º.
361
LCE nº 34/94, art. 67, VI (revogado pela LCE nº 99/07 com efeitos suspensos por medida cautelar
na ADI 3946)
362
Orienta-se, nesse particular, que o Promotor de Justiça, ao expedir recomendações, o faça nos es-
tritos limites da lei, conclamando os destinatários a cumprir fielmente suas disposições, alertando, inclu-
sive, para as conseqüências jurídicas de seu não atendimento.
363
Vide disposições acerca do termo de ajustamento de conduta.
1505
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Conforme dito alhures, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por força
de disposição constitucional expressa365, passou a titularizar, com exclusividade, as
competências do órgão estadual de proteção e defesa do consumidor (PROCON-
MG).
tizando, assim, direito básico do consumidor, constante do art. 6º, VI, do CDC367.
364
Vide LCE nº 61/2001 e Resolução PGJ nº 49/2002
365
CE-MG, art. 14 do ADCT.
366
Ao compatibilizar as competências administrativas do PROCON-MG com os objetivos e funções
institucionais do Ministério Público, observa-se que, em uma interpretação sistemática dos dispositivos
legais em questão, somente quando verificada a existência de interesses transindividuais e/ou indis-
poníveis, estará o órgão estadual autorizado a agir. Note-se, porém, que, em se tratando de PROCON
municipal, não existe nenhuma vedação a sua atuação na defesa do consumidor, seja ele individual ou
coletivamente considerado.
367
Inserem-se nessa categoria de atos as interdições administrativas, as medidas suspensivas de com-
1506
Promotorias de Justiça
Usualmente, são duas as formas pelas quais tem início o processo administrati-
vo371:
1507
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A portaria tem sua forma legal definida no art. 40, incisos I e IV, do Decreto nº
2.181/97. Objetiva a individualização do fato constituinte da infração e a explicitação
dos dispositivos legais pertinentes. Poderá, se presentes as circunstâncias autori-
zadoras, vir acompanhado de medidas cautelares. É ato exclusivo do Promotor de
Justiça, na condição de autoridade administrativa do PROCON-MG.
Tanto o auto de infração quanto a portaria têm por escopo definir o objeto sobre o
qual versa o processo administrativo, possibilitando o exercício de defesa e contra-
ditório.
372
Conforme a Resolução PGJ nº 49/2002, art.12, § 2º, com a redação dada pela Resolução PGJ nº
14/2003, são agentes fiscais do PROCON-MG os oficiais do Ministério Público em exercício nas Pro-
motorias de Justiça Especializadas na Defesa do Consumidor. Na hipótese de, extraordinariamente,
ser necessária a designação de outro servidor, será previamente nomeado pelo Promotor de Justiça de
Defesa do Consumidor, mediante Portaria, agente fiscal AD HOC, com menção expressa das diligências
a cumprir, bem como da autorização do Promotor de Justiça a que estiver subordinado. A respectiva
Portaria acompanhará todos os atos praticados pelo agente fiscal designado e será anexada aos autos
dos procedimentos em que este atuar.
373
Na generalidade dos casos, as empresas consideram, para efeito de exercício financeiro, o ano fiscal,
compreendido entre o dia 1º de janeiro e 31 de dezembro.
1508
Promotorias de Justiça
Caso haja dilação instrutória, o fornecedor será intimado do resultado das diligên-
cias, podendo defender-se em sede de alegações finais376. Ao Promotor de Justiça é
facultada a possibilidade de requerer diligências instrutórias complementares, após
as quais sempre se dará vista ao fornecedor. Reiterar, se necessário, requisição de
documentos ao fornecedor377.
1509
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
firmado, seguido de seu arquivamento, sujeito a controle pela Junta Recursal. Não
sendo possível a solução conciliatória, por negativa do fornecedor acusado, o pro-
cesso segue para decisão administrativa.
H.1.6 – Sanções
a) pecuniária;
b) objetivas;
CAPÍTULO VIII
c) subjetivas.
380
Procedente ou improcedente, respectivamente.
Caso seja aplicada a sanção pecuniária (multa), o recurso interposto terá efeito suspensivo; nas de-
381
1510
Promotorias de Justiça
384
Sugere-se, nos casos em que o fornecedor qualificar-se como microempresa (ME) ou empresa de
pequeno porte (EPP), adotar-se os limites máximos de faturamento bruto anual, previstos para essas
pessoas. - vide, a propósito, a Lei Federal nº 9317/96 e a Lei Complementar Federal nº 123/06.
385
Conforme se depreende do art. 57, caput, do CDC, a contrario sensu, as demais espécies de sanções
poderão ser objeto de medidas cautelares administrativas.
CAPÍTULO VIII
386
Nesse sentido, são exemplos de medidas cautelares a apreensão de produto impróprio (art. 57, II),
seguida, ou não, de sua destruição (art. 57, III – inutilização), bem como a medida de suspensão de
fornecimento de produtos e/ou serviços (art. 57, VI).
387
Em especial, CDC, arts. 6º, I, 8º, 9º e 10.
388
Note-se que, em se tratando de medida cautelar pré-processual, nada obsta a que seja diferido o con-
traditório. Sempre que presentes as circunstâncias autorizadoras da adoção de cautelares administrati-
vas, o princípio do devido processo legal será observado, haja vista que haverá a necessária ponderação
entre o interesse do fornecedor, calcado constitucionalmente na garantia de propriedade privada (CF/88,
art. 5º, XXII) e livre iniciativa (CF/88, art. 170), e a garantia estatal de defesa do interesse do consumidor
(CF/88, art. 5º, XXXII), assim como, conforme o caso concreto, a preservação da vida, dignidade e inte-
gridade física e moral da pessoa (CF/88, art. 5º, caput).
389
Vide nota anterior (nº 99).
1511
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense
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MAZZILLI, Hugo Nigro. Manual do Promotor de Justiça. São Paulo; Saraiva.
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NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Curso de direito do consumidor. São Paulo: Sa-
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RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação civil pública e termo de ajustamento de
conduta. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
1512
Promotorias de Justiça
1513
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
reconhece que a recuperação a que se refere o art. 225, § 2º, do texto constitucional
concerne à: “[...] busca de situações em que a estabilidade do meio ambiente e sua
sustentabilidade sejam efetivamente garantidas, por meio da instalação de um uso
adequado do solo”. Tal estabilidade, ou equilíbrio, para usar um conceito referido
no art. 225, caput, da CF/88, desdobra-se em quatro modalidades – física, química,
biológica e antrópica –, as quais devem ser buscadas em consonância com as con-
dições ambientais e culturais que circundam a região minerada. Nesse sentido, na
linha do art. 225, § 2º, da CF/88, o art. 1º do Decreto nº 97.632/89 estabelece que:
1514
Promotorias de Justiça
Adicionalmente, cabe referir que tal recuperação está articulada, sob uma pers-
pectiva jurídica contemporânea, com o dever de não poluir, de maneira que, tanto
quanto possível, a atividade de recuperação ambiental deve ser levada a efeito ao
mesmo tempo em que se promove a exploração mineral, “[...] fazendo com que
a recuperação não seja encarada como uma etapa isolada, a ser implementada
somente em determinada época, mas, sim, como um processo contínuo, integrado
à exploração mineral, com início na fase de planejamento e término após o encer-
ramento da lavra”.
O Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por seu Centro de Apoio Operacio-
nal das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural,
Urbanismo e Habitação (CAO-MA), elaborou e disponibilizou para seus órgãos de
execução roteiro de ações e material de apoio sobre o tema específico das barra-
gens de empreendimentos minerários (modelos de ofícios, ACP, TAC, jurisprudên-
CAPÍTULO VIII
cia, etc.). Esse material está disponibilizado, em acesso restrito, no site do CAO-
MA, no portal do MPMG (<http://www.mp.mg.gov.br>).
1515
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1516
Promotorias de Justiça
A.1.1 Quesitos:
9.605/98).
− Tal extração encontra-se precedida de licenciamento ambiental?
− O empreendedor obteve autorização do órgão ambiental competente para realizar
intervenção em área de preservação permanente? Juntar cópia. Em caso afirma-
tivo, a intervenção foi realizada em conformidade com a autorização concedida?
Justificar.
− A atividade foi licenciada/autorizada pelo DNPM? Especificar.
− A pesquisa, lavra ou extração dos recursos minerais ocorreu em desacordo com
1517
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1518
Promotorias de Justiça
390
SUNDFELD, Carlos Ari. Estatuto da Cidade e suas Diretrizes Gerais. In: Estatuto da Cidade, co-
mentários à Lei Federal nº 10.257/2001. DALLARI, Adilson Abreu e FERRAZ, Sérgio (coord.), São
Paulo: Malheiros, 2003. p. 54.
1519
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
podemos entender a ordem urbanística como conjunto de normas legais que regem
e limitam a liberdade individual e as atividades em geral no espaço urbano em prol
do bem comum.
É bem de ver que o estudo do urbanismo por muito tempo limitou-se à academia
e mais interessava aos arquitetos que aos juristas. Assim, não se podia cogitar de
direito urbanístico como um conjunto de normas legais impositivas, sendo o urba-
nismo o mero estudo do planejamento urbano, despido de qualquer coercibilidade.
Foi somente a partir da crescente industrialização da economia brasileira verificada
após a década de 30 do século passado, com a conseqüente intensificação do
crescimento urbano, que se iniciou a preocupação com o planejamento e controle
da expansão urbana, através da normatização legal do urbanismo.
política e espacial de grande parte das populações urbanas brasileiras, gerando ci-
dades incapazes de atender as mínimas necessidades básicas de seus habitantes,
a exemplo de acesso a trabalho, moradia, saúde, educação e transporte público
com dignidade, estando nossas cidades longe de cumprir sua função social, preco-
nizada na CF/88.
1520
Promotorias de Justiça
atender suas peculiaridades locais, sem, contudo, contrariar as normas gerais fede-
rais.
1521
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Como restou acima dito, as normas urbanísticas, quer sejam federais, estaduais ou
municipais são de aplicação cogente e de interesse social. Sendo o Ministério Públi-
co instituição que tem por função a defesa judicial e extrajudicial da ordem jurídica
e dos direitos difusos, dentre outras tantas atribuições, cabe-lhe atuar em prol da
obediência e observância da ordem urbanística. Nem se diga que seria essa uma
atuação menor, pois estando o respeito à ordem urbanística intrinsicamente relacio-
nado ao adequado ordenamento e planejamento urbanos, a atuação do Ministério
Público pode ser decisiva no cumprimento das normas legais referidas para garantir
a função social da cidade e a qualidade de vida no meio urbano. E mais: o Estatuto
da Cidade expressamente conferiu à ordem urbanística a natureza de direito difu-
so, a ser tutelado pelo Ministério Público, inserindo o inciso VI no art. 1º da Lei nº
7.347/85 – Lei da Ação Civil Pública.
391
In: A Defesa dos Direitos Difusos em Juízo. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 98.
1522
Promotorias de Justiça
Registramos, por fim, que todos os roteiros práticos integrantes deste manual, as-
sim, como as peças processuais (petições iniciais, denúncias, recursos, etc) e extra-
judiciais (portarias, recomendações, requisições, ofícios, representações, quesitos,
termos de ajustamento de conduta, etc.), além de artigos doutrinários, jurisprudência
e legislação pertinente estão disponíveis para consulta na página da Coordenadoria
das Promotorias de Justiça de Habitação e Urbanismo da Região Metropolitana de
Belo Horizonte.
1523
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O cenário começou a mudar a partir da CF/88 que instituiu um capítulo voltado para
a política urbana, consagrando a normatividade do planejamento urbano ao dispor
que o “Plano Diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades
com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvi-
mento e de expansão urbana” (art. 182, § 1º).
Destarte, cumpre observar que o plano diretor deverá ser criado através de lei mu-
nicipal, aprovada pela respectiva câmara de vereadores, afastada a possibilidade
de edição de decretos com tal conteúdo, em razão dos termos peremptórios do
art. 182, § 1º, da CF/88, até porque no regime democrático atual é inconcebível
estabelecerem-se limitações à propriedade privada e às atividades em geral senão
por meio de lei (princípio da legalidade – art. 5º, II, da CF/88). A iniciativa da lei,
contudo, não é privativa do Poder Executivo, podendo partir de qualquer vereador
ou mesmo do povo (iniciativa popular – CF/88 – art. 61, § 2º). Todavia, considerando
as peculiaridades do projeto de lei de plano diretor, cuja elaboração deve ser prece-
dida da realização de estudos e diagnósticos da realidade local, preferencialmente
conduzidos por equipe multidisciplinar, recomenda-se que a iniciativa seja do Poder
Executivo, que está melhor aparelhado para conduzir o processo de debates e con-
sultas populares.
teses de obrigatoriedade do plano diretor, prazo para edição da lei, seu conteúdo
mínimo, procedimentos para sua elaboração e atualização e ainda sanções jurídi-
cas para o descumprimento do dever de editar o plano diretor. Coube ao Estatuto
da Cidade definir os contornos da chamada função social da propriedade urbana,
aduzindo que a “[...] propriedade urbana cumpre sua função social quando atende
às exigências fundamentais de ordenação da cidade, expressas no plano diretor,
assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de
vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas”. (art. 39, da
1524
Promotorias de Justiça
Lei nº 10.257/2001).
Assim, verifica-se que a propriedade urbana atende sua função social quando é
exercida em consonância com os princípios e diretrizes de ordenação da cidade
estabelecidos no plano diretor. Ora, se um imóvel urbano é utilizado para atividade
não autorizada pelo zoneamento instituído pelo plano diretor, podemos dizer que a
propriedade privada não está cumprindo sua função social.
fixada com base no censo realizado pelo IBGE no ano de 2000. Outrossim, tão logo
atinja o patamar populacional de 20 mil habitantes, os demais Municípios ficam au-
tomaticamente obrigados a editar seus planos diretores.
1525
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por último, devem editar plano diretor os municípios que se situam em área de in-
fluência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de
âmbito regional ou nacional. Da mesma forma, a instalação de novos empreendi-
mentos em seu território traz para o Município grandes contingentes de novos mo-
radores, havendo necessidade de conhecer-se essa demanda por serviços públicos
e estabelecer a forma de atendê-la, mediante o adequado planejamento. Nesse
caso, cabe ao empreendedor, a título de medida compensatória ou mitigatória, a
critério do órgão ambiental, dar início ao processo de elaboração do plano diretor,
contratando consultorias e estudos necessários, arcando com todos os custos do
processo até a promulgação da lei.
CAPÍTULO VIII
Cumpre ressaltar que o plano diretor deve englobar todo o território municipal, inclu-
sive o rural, justamente porque o crescimento urbano se dá em direção ao campo.
O Estatuto da Cidade fixou prazo até 10/10/2006 para os municípios que se enqua-
dram no art. 41, incisos I e II, editarem seus planos diretores (art. 50). Nas demais
1526
Promotorias de Justiça
Além de estabelecer prazo para a edição do plano diretor, o Estatuto da Cidade dis-
põe que os planos diretores editados devem ser atualizados, no mínimo, a cada dez
anos (art. 40, § 3º). Para os planos editados anteriormente à vigência do Estatuto,
o prazo de dez anos começa a fluir a partir da vigência da Lei nº 10.257/2001, ou
seja, a partir de 10/10/2001.
Não obstante o prazo máximo de dez anos para atualização obrigatória do plano
diretor, quando se dará profunda revisão da lei, para adaptá-la à contínua e dinâ-
mica realidade social, é possível que neste interregno, sejam realizadas alterações
pontuais no diploma legal, que deverão obviamente ser precedidas de todas as
cautelas exigíveis para elaboração da lei, tais como consultas populares, audiên-
cias públicas, etc.
Destarte, não editar o plano diretor nas hipóteses previstas no art. 41, incisos I e
II, da Lei federal nº 10.257/2001, no prazo previsto no art. 50 do mesmo diploma,
bem ainda deixar de promover sua atualização no prazo previsto no art. 40, § 3º
CAPÍTULO VIII
1527
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
da lei e de sua atualização a efetiva participação popular, nos termos do art. 52, VI,
c/c art. 40, § 4º.
Finalmente, devemos aduzir que, ainda que nas hipóteses do art. 41, incisos IV e V,
não haja prazo para aprovação do plano diretor, entendemos que o gestor público
estará também sujeito à responsabilização por improbidade administrativa, desde
que, implementada a condição legal de obrigatoriedade, não adote as providências
necessárias para editar a lei.
1528
Promotorias de Justiça
B.3.7 – Conclusão
Destarte, ainda que o Município não se enquadre nas hipóteses legais de obrigato-
riedade, deve o Promotor de Justiça buscar conscientizar os gestores públicos da
importância da edição de plano diretor, como instrumento de planejamento preven-
tivo para evitar o crescimento urbano desordenado. Com essa atuação, o Promotor
de Justiça estará contribuindo para o aperfeiçoamento das instituições democrá-
ticas, bem ainda zelando pela qualidade do meio ambiente urbano, assegurando
às presentes e futuras gerações o direito às cidades sustentáveis e à paulatina
eliminação das desigualdades sociais, mercê da justa distribuição dos benefícios
decorrentes do processo de urbanização.
Expedir ofício ao Município (que conte com mais de 20.000 habitantes ou esteja
inserido em Região Metropolitana) e que não tinha plano diretor aprovado na data
de entrada em vigor do Estatuto da Cidade392 e ofício à câmara de vereadores para
que informem a situação do respectivo plano diretor (em elaboração, em tramitação,
aprovado etc.), enviando cópia à Promotoria de Justiça, se ele estiver aprovado,
considerando-se os arts 41 e 50 da Lei federal nº 10.257/2001393.
não haja, na lei, previsão de prazo limite para a edição dos planos diretores, o Minis-
tério Público deve buscar o quanto antes o cumprimento dessa relevante obrigação
em caso do Município já se enquadrar nessa situação jurídica, ou tão logo venha a
392
Ver relação dos Municípios de Minas Gerais enquadrados nos incisos I e II, do art. 41 do
Estatuto da Cidade no site do CAO/MA.
393
Sem prejuízo dessa diligência, o órgão de execução deve envidar esforços para a identifica-
ção dos agentes públicos responsáveis.
394
Consultar o site do CAO/MA para ver listagem das cidades mineiras de interesse turístico.
1529
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Se o plano diretor ainda não tiver sido aprovado, propor ação pleiteando a conde-
nação por ato de improbidade administrativa395 do Prefeito municipal, integrantes
da câmara de vereadores e outros agentes públicos eventualmente responsáveis,
com fulcro no art. 52, inc. VII, do referido Estatuto, e no art. 11, inc. II, da Lei federal
nº 8.429/92 (ver mod.ref. improbidade). No âmbito penal, encaminhar representa-
ção à Procuradoria Especializada em Crimes Praticados por Prefeitos Municipais,
com documentos comprobatórios da desídia do agente público municipal, para ofe-
recimento de denúncia em virtude do delito previsto no art. 68, da Lei federal nº
9.605/98.
395
Segundo a Conclusão nº 20 da Carta de Princípios do Ministério Público e da Magistratura
para o Meio Ambiente (Araxá, 13 de abril de 2002), a improbidade urbanística prevista no art.
52, inc. VII, do Estatuto da Cidade estende-se “[...] aos vereadores e demais agentes públicos
que estejam incumbidos de adotar providências necessárias à aprovação do plano diretor ou à
sua adequada revisão”.
396
Sugere-se o prazo de seis meses.
1530
Promotorias de Justiça
397
Diante de ACP proposta pela Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Ipat-
inga, o juiz local deferiu pedido de antecipação de tutela, obrigando o município a não expedir
atos administrativos contrários à qualidade ambiental local. Para acessar o inteiro teor da de-
cisão, consulte a página do CAO/MA.
1531
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Infelizmente, a sociedade brasileira ainda não tem a cultura de defesa dos espaços
urbanos, tampouco da defesa da qualidade de vida urbana e o respeito às normas
urbanísticas. Ao contrário, as normas urbanísticas são diuturnamente desconside-
radas tanto pelo cidadão comum, como muitas vezes pelo próprio poder público,
que se julga imune ao cumprimento das leis ou, deliberadamente, se omite na fisca-
lização de seu cumprimento.
Para perfeito entendimento dos conceitos que serão utilizados neste artigo, impõe-
se de plano diferenciar os termos urbanismo, ordem urbanística e direito urbanís-
tico, que muitas vezes são confundidos. O urbanismo é a ciência do planejamento
das cidades, afeta aos arquitetos. Já ordem urbanística ou direito urbanístico é o
conjunto de leis que planejam e disciplinam as diversas atividades nas cidades. O
direito urbanístico é um ramo interdisciplinar do direito, estreitamente relacionado
ao direito público e constitucional, regulamentando sempre interesses e direitos di-
fusos e coletivos, cuja legislação é considerada de natureza cogente, porque de
interesse geral e visa à ordenação racional dos espaços urbanos, à funcionalidade
desses espaços e à boa qualidade de vida das pessoas que neles vivem. José Afon-
so da Silva ressalta que “[...] as normas urbanísticas, por serem de direito público,
são compulsórias, cogentes [...] porque regulam [...] uma função pública – que é a
atividade urbanística do poder público, conformando, por outro lado, a conduta e as
propriedades dos particulares a seus ditames”.398
CAPÍTULO VIII
1532
Promotorias de Justiça
1533
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
mináveis. Quando violados os interesses e direitos que derivam das relações urba-
nísticas, de natureza difusa, surge para o Ministério Público o dever de tutelá-los
(arts. 127 e 129 da CF/88, art. 1º, VI, da Lei nº 7.347/85).
399
A CF/88 instituiu a competência concorrente entre os entes da federação em matéria urbanística
– art. 24, I.
1534
Promotorias de Justiça
1535
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Para melhor compreensão do que restou dito, basta aduzir que qualquer edificação
urbana há de atender critérios tais como índice de coeficiente de aproveitamento,
gabarito, afastamentos frontal e lateral, taxa de ocupação, índice de permeabilida-
de, entre outros, fixados em lei, conforme o zoneamento levado a efeito no plano
diretor, em lei municipal de uso e ocupação do solo ou ainda no Código de Obras.
Para se atender a esses critérios, necessário se faz que o lote tenha dimensões
compatíveis com o zoneamento e esteja regularmente matriculado em cartório. Não
sendo observados esses requisitos, não poderá o poder público conceder alvará de
construção, tampouco o habite-se, o que acarreta irremediavelmente a clandestini-
dade da totalidade das edificações existentes nos loteamentos clandestinos, com
CAPÍTULO VIII
1536
Promotorias de Justiça
1537
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Para a Lei federal (art. 18, V, Lei nº 6.766/79), as obras de infra-estrutura básica são
as vias de circulação devidamente pavimentadas, a demarcação dos lotes, quadras
e logradouros, as obras de escoamento das águas pluviais, a exemplo de meios-
fios, bocas de lobo, galerias de captação e drenagem, etc. e ainda esgotamento
sanitário, incluindo abastecimento de água potável, coleta e destinação ambiental-
mente adequada de esgoto, energia elétrica pública e domiciliar. Mas o Município,
além das mencionadas obras obrigatórias, tem atribuição legal para exigir outras,
desde que haja lei municipal prevendo a hipótese. É muito comum o loteador cobrar
o custo dessas obras de infra-estrutura dos adquirentes, além das prestações pa-
gas pela compra dos lotes, normalmente denominadas cotas para abertura de ruas,
cotas para iluminação pública e abastecimento de água, dentre outros, quando o
legislador, em verdade, estabeleceu essa obrigação de fazer ao primeiro, conforme
cronograma de obras aprovado pelo poder público, inclusive com estabelecimento
de garantias (caução, hipoteca, etc), o que pode gerar a composição dos danos
sofridos pelos consumidores em decorrência da cobrança de valores indevidos (res-
tituição dos valores pagos, mais perdas e danos).
CAPÍTULO VIII
1538
Promotorias de Justiça
Parcelamento Clandestino
1º) instaurar inquérito civil, com a expedição de ofícios e outras providências a se-
guir indicados:
1539
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
conforme preceitua o art. 38, § 1º, da Lei nº 6.766/79. Não obstante a providência
referida, o loteamento poderá também ser embargado administrativamente pelo ór-
gão ambiental ou pelo poder público municipal. As verbas obtidas mediante depósi-
tos levados a efeito pelos adquirentes poderão ser levantadas pelo empreendedor,
mediante alvará judicial, depois de regularizado o empreendimento, ouvidos o Muni-
cípio e o Ministério Público ou levantadas pelo Município, a título de ressarcimento,
se a regularização for promovida pelo ente público, também por ordem judicial.
i) Oitiva do proprietário da gleba: eventualmente, o proprietário do imóvel parcelan-
1540
Promotorias de Justiça
do não é o loteador, seja porque contratou terceira pessoa para realizar o empreen-
dimento, seja porque a área foi invadida, indevidamente parcelada e negociados os
lotes com terceiros, sendo necessário apurar o grau de responsabilidade do proprie-
tário com o empreendimento ilegal, promovendo sua responsabilização civil, nos
termos do art. 51 da Lei nº 6.766/79 e criminal, se for o caso. É comum herdeiros de
uma gleba transferirem a gleba herdada para imobiliárias, independentemente de
conclusão do inventário ou de alvará judicial, que ficam responsáveis por implantar
o loteamento, mediante participação nos lucros auferidos pelos herdeiros com a
venda de lotes.
j) Desconsideração da Personalidade Jurídica: quando o parcelamento é feito por
uma pessoa jurídica é muito comum a insuficiência do seu patrimônio para respon-
der pela regularização do empreendimento e pela indenização dos consumidores
lesados. Assim, convém incluir no pólo passivo da ação ou no TAC celebrado os
sócios da pessoa jurídica, em especial aqueles que participaram dos negócios ju-
rídicos, firmando contratos, os que detinham o poder de gestão da sociedade ou
os que extrapolaram do objeto estatutário para responderem civilmente com seu
patrimônio pessoal pelos danos decorrentes dos atos ilícitos praticados. A desconsi-
deração da personalidade jurídica em casos tais já é de há muito admitida por nosso
ordenamento jurídico, a exemplo do Código de Defesa do Consumidor, no art. 28,
“caput” e § 5º, do art. 47 da Lei nº 6.766/79 que fala da responsabilidade solidária e
ainda o art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81, que trata da responsabilidade objetiva do
causador de danos ao meio ambiente (natural ou artificial).
Parcelamento irregular
1541
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1º) Na petição inicial da ação civil pública ou no TAC celebrado deve-se incluir o
Município como co-obrigado em razão de sua omissão seja na fiscalização de im-
plantação de loteamento clandestino (é dever do Município exercer o controle so-
bre o uso e ocupação do solo urbano, nos termos do art. 30, VIII, da CF/88), seja
na conclusão das obras de urbanização do loteamento aprovado (art. 40, Lei nº
6.766/79).
2º) Na hipótese de responsabilidade solidária ou conjunta de mais de um agressor
do meio ambiente urbano, a exemplo de sócios da empresa loteadora, da imobili-
1542
Promotorias de Justiça
ção do Juízo;
4) depósito judicial pelo loteador das quantias recebidas ou oferecimento de caução
idônea para garantir a regularização do empreendimento e a execução das obras
faltantes;
5) apresentação dos contratos celebrados e informação sobre as quantias pagas
por cada um dos adquirentes;
6) indisponibilidade de bens dos responsáveis, com expedição de ofícios ao Banco
Central, aos cartórios do RGI, à Bolsa de Valores, etc. Para assegurar o decreto
1543
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
judicial da indisponibilidade dos bens dos responsáveis é salutar que a inicial seja
acompanhada de estimativa de custos das obras faltantes, pois os nossos tribunais
mostram-se resistentes em decretar a indisponibilidade indiscriminada de todos os
bens do réu.
Parcelamento clandestino
1544
Promotorias de Justiça
Parcelamento irregular
1545
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A denúncia criminal
1546
Promotorias de Justiça
Providências cautelares
Além disso, convém desde logo requisitar da autoridade policial no curso do in-
quérito a busca e apreensão dos instrumentos utilizados no crime, bem ainda do-
cumentos e objetos necessários à prova da infração penal, a exemplo de plantas,
carimbos, contratos celebrados, panfletos, etc. (arts. 240 e 241 do CPP).
1547
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Está assentado entre os doutrinadores pátrios que esses espaços territoriais a se-
rem protegidos, também denominadas áreas ambientalmente protegidas são a) as
unidades de conservação criadas pela Lei federal nº 9.985/2000 – Lei do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação; b) as áreas de preservação permanente,
previstas nos arts. 2º e 3º da Lei federal nº 4.771/65 – Código Florestal e c) a áreas
rurais de reserva legal, criadas pelo art. 16 da Lei federal nº 4.771/65. Não existem
muitas divergências sobre as unidades de conservação, uma vez que as formas de
criação, modalidades e possibilidades de utilização estão adequadamente regradas
na Lei federal nº 9.985/2000. A reserva legal, por seu turno, também está adequa-
damente regulamentada no Código Florestal, incidindo unicamente nas proprieda-
des rurais. A controvérsia sempre se cingiu às áreas de preservação permanente,
pois, a despeito do Código Florestal haver sido editado em 1965, ainda hoje existe
grande resistência quanto à aplicação das normas legais que instituíram as APPS,
especialmente nas áreas urbanas.
400
“Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defende-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações.”
1548
Promotorias de Justiça
servação permanente.
401
Art. 2º Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais
formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu
nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será: (Redação dada pela Lei nº 7.803/89) 1
- de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; (Redação dada
pela Lei nº 7.803/89); 2 - de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinqüenta) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803/89); 3 - de 100 (cem) metros para os
cursos d’água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de largura; (Redação dada pela Lei
nº 7.803/89); 4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600
(seiscentos) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803/89); 5 - de 500 (quinhentos) metros para
os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; (Incluído pela Lei nº 7.803/89)
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais; c) nas nascentes, ainda que
intermitentes e nos chamados olhos d’água, qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio
mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803/89) d) no topo de morros,
montes, montanhas e serras; e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equiva-
lente a 100% na linha de maior declive; f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras
de mangues; g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa
nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; (Redação dada pela Lei nº 7.803/89) h) em
CAPÍTULO VIII
altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos metros), qualquer que seja a vegetação. (Redação dada pela
Lei nº 7.803/89) Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos
perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas,
em todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e lei de uso do
solo, respeitado os princípios e limites a que se refere esse art. (Incluído pela Lei nº 7.803/89).
402
“Art. 3º Consideram-se, ainda, de preservação permanentes, quando assim declaradas por ato do
Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas: a) a atenuar a erosão das
terras; b) a fixar as dunas; c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; d) a auxiliar
a defesa do território nacional a critério das autoridades militares; e) a proteger sítios de excepcional
beleza ou de valor científico ou histórico; f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extin-
ção; g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas; h) a assegurar condições de
bem-estar público”.
1549
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1550
Promotorias de Justiça
I - utilidade pública:
a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
b) as obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos servi-
ços públicos de transporte, saneamento e energia;
c) as atividades de pesquisa e extração de substâncias mine-
rais, outorgadas pela autoridade competente, exceto areia, argi-
la, saibro e cascalho;
d) a implantação de área verde pública em área urbana;
e) pesquisa arqueológica;
f) obras públicas para implantação de instalações necessárias à
captação e condução de água e de efluentes tratados; e
g) implantação de instalações necessárias à captação e condu-
ção de água e de efluentes tratados para projetos privados de
aqüicultura, obedecidos os critérios e requisitos previstos nos §§
1º e 2º do art. 11 desta Resolução.
II - interesse social:
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da
vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do
fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção
de plantios com espécies nativas, de acordo com o estabelecido
pelo órgão ambiental competente;
b) o manejo agroflorestal, ambientalmente sustentável, prati-
cado na pequena propriedade ou posse rural familiar, que não
descaracterize a cobertura vegetal nativa, ou impeça sua recu-
peração, e não prejudique a função ecológica da área;
c) a regularização fundiária sustentável de área urbana;
CAPÍTULO VIII
1551
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
de água;
III - averbação da Área de Reserva Legal; e
IV - a inexistência de risco de agravamento de processos como
enchentes, erosão ou movimentos acidentais de massa rocho-
sa.
Art. 4º - Toda obra, plano, atividade ou projeto de utilidade públi-
ca, interesse social ou de baixo impacto ambiental, deverá obter
do órgão ambiental competente a autorização para intervenção
ou supressão de vegetação em APP, em processo administrativo
próprio, nos termos previstos nesta resolução, no âmbito do pro-
cesso de licenciamento ou autorização, motivado tecnicamente,
observadas as normas ambientais aplicáveis.
§ 1º- A intervenção ou supressão de vegetação em APP de que
trata o caput deste artigo dependerá de autorização do órgão
ambiental estadual competente, com anuência prévia, quando
couber, do órgão federal ou municipal de meio ambiente, ressal-
vado o disposto no § 2º deste artigo.
1552
Promotorias de Justiça
A parte final do dispositivo legal transcrito não deixa dúvidas quanto à aplicabilidade
das normas disciplinadoras das APPs nas áreas urbanas, devendo eventual legis-
lação suplementar emanada dos Estados e Municípios respeitar os limites e princí-
pios estatuídos pelo Código Florestal, em virtude de sua natureza de norma geral.
Se se trata de competência concorrente, cabe à União, nos termos do art. 24, § 1º,
da CF/88, editar normas gerais e aos demais entes da federação, editar normas su-
plementares (§ 2º), defluindo do sistema que as normas suplementares de Estados
e Municípios deverão se conjugar com as normas gerais federais. Neste sentido, a
lição de Fernando Reverendo Vidal Akaoui:
[...] de uma análise conjunta dos arts. 24, inciso VI e seu § 2º, art.
30, II e art. 225, todos do Texto Maior, somente podemos chegar
à conclusão de que, sendo dever do Poder Público defender
e preservar o meio ambiente, nem a União, e nem os Estados
poderiam, dentro de sua competência concorrente, editar norma
que viesse a prejudicar os ecossistemas essenciais, assim como
não poderia fazê-lo o Município, dentro de sua competência su-
plementar403.
CAPÍTULO VIII
403
In: Apontamentos acerca da Aplicação do Código Florestal em área urbanas e seu reflexo no
parcelamento do Solo. Temas de Direito Urbanístico 2. São Paulo, Imprensa Oficial/Ministério Público
do Estado de São Paulo, 2000.
1553
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Paulo de Bessa Antunes, por seu turno, ao comentar o parágrafo único do art. 2º do
Código Florestal, afirma que o “[...] respeito aos limites e princípios estabelecidos
pelo Código Florestal deve ser interpretado como a impossibilidade legal de os mu-
nicípios tornarem mais flexíveis os parâmetros estabelecidos na lei federal”.405
D.4 – A observância das restrições legais à ocupação das APPS nos empre-
endimentos de parcelamento do solo urbano
404
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4 ed. São Paulo: Malheiros. p. 191.
405
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 6 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002. p. 386.
406
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 10 ed. São Paulo: Malheiros. 2002,
p.372-373.
1554
Promotorias de Justiça
O art. 2º do diploma legal referido fixa diretrizes para a política urbana, mais uma
vez evidenciando a preocupação do legislador em conciliar o pleno desenvolvimen-
to urbano com a função social da cidade e da propriedade urbana. Dentre as diretri-
zes gerais a serem observadas nas políticas a serem implantadas pelos Municípios
brasileiros, colhemos:
Vê-se, portanto, que não é mais possível, frente ao ordenamento jurídico brasileiro,
pensar-se em planejamento e expansão urbanos ou mesmo em atividades eco-
nômicas sem considerarmos a variante ambiental. Deparando-nos com a questão
da expansão urbana, impõe-se evidenciar a forma como as áreas de preservação
1555
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
407
Fernando Reverendo Vidal Akaoui, ob. Cit.
408
In Função Socioambiental da propriedade rural e áreas de preservação permanente e reserva
florestal legal.In Revista de Direito Ambiental nº 08. São Paulo: RT. p. 5-19.
409
Art. 186, caput, I e II, da CF/88
1556
Promotorias de Justiça
Art. 3º - (omissis)
Parágrafo único – Não será permitido o parcelamento do solo:
I – em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de
tomadas às providências para assegurar o escoamento das
águas;
II – em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo
à saúde pública, sem que sejam previamente saneados;
III – em terrenos com declividade igual ou superior a trinta por
cento, salvo se atendidas exigências específicas das autorida-
des competentes;
IV – em terrenos onde as condições geológicas não aconselham
a edificação;
V – em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a
poluição impeça condições sanitárias suportáveis, até sua cor-
reção. (grifo nosso).
Como se vê, o próprio legislador de 1979 estabeleceu área non edificandi mínima
de quinze metros ao longo das margens dos cursos d’água, ressalvando exigências
410
Fernando Reverendo Vidal Akaoui, ob. Cit.
1557
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Até o advento da Lei nº 6.766/79, o Código Florestal estabelecia em seu art. 2º,
alínea “a”, como área de preservação permanente, quer nas áreas rurais e nas ur-
banas, a faixa de cinco metros ao longo dos cursos d’água.
Todavia, a Lei federal nº 7.511/86, que alterou o Código Florestal, deu nova redação
ao art. 2º, alínea “a”, ampliando a área de preservação de cinco para trinta metros,
derrogando, por via de conseqüência, o art. 4º, III, da Lei nº 6.766/79, passando
essa nova metragem a ser aplicável tanto às áreas urbanas quanto às rurais.
Devemos enfatizar que a faixa de proteção de trinta metros instituída pela Lei nº
7.511/86 foi mantida pela Lei nº 7.803/89, que também alterou disposições do Có-
digo Florestal. Assim, para os parcelamentos aprovados antes do advento da Lei nº
6.766/79, a faixa de preservação non edificandi era de cinco metros ao longo dos
cursos d´água; para os parcelamentos aprovados após 19/12/79 e até a edição da
Lei federal nº 7.511/86, a faixa mínima é de quinze metros; após a Lei nº 7.511/86, a
faixa passou a ser de trinta metros, observando-se que a legislação municipal pode
estabelecer critérios mais rígidos do que aqueles fixados na legislação federal.
Infelizmente, não são poucos os loteamentos aprovados ao longo dos anos que não
observaram a faixa legal non edificandi das áreas de preservação permanente, com
1558
Promotorias de Justiça
previsão de lotes em áreas com forte inclinação ou mesmo à margem dos cursos
d’água, o que inviabiliza sua ocupação, à luz da legislação federal ambiental e par-
celamento do solo urbano em vigor.
O entendimento muitas vezes defendido pelo poder público para autorizar tais cons-
truções em faixas inferiores a trinta metros dos cursos d’água ou mesmo inferiores a
cinqüenta metros das nascentes é de que o proprietário teria direito adquirido, con-
soante a legislação em vigor à época da aprovação do loteamento, estaria atuando
de boa-fé, diante da existência de um ato administrativo de aprovação do empre-
endimento, ou, ainda, que se tratam de áreas urbanas com ocupações antrópicas
consolidadas.
1559
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
411
PAULINO, Ruth Cristina Montanheiro. Análise das alterações no microclima próximo às margens
de cursos de água, decorrentes da ocupação urbana. São Carlos, 1997, 30 p. Exame de qualificação
- Doutorado – Ciências da Engenharia Ambiental.
1560
Promotorias de Justiça
1561
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
D.7 – Conclusão
Como restou acima dito, as áreas de preservação permanente, quer sejam urbanas
ou rurais, integram as denominadas áreas protegidas, de natureza não edificandi.
Na atividade de parcelamento do solo urbano, o poder público municipal não pode
aprovar lotes em áreas de preservação permanente, tampouco autorizar edifica-
ções nas faixas de proteção da APP.
da edição da Lei federal nº 7.511/86, que ampliou a faixa de proteção das margens
dos córregos com largura de até dez metros para trinta metros, não existe direito
adquirido do proprietário em edificar em APP.
1562
Promotorias de Justiça
412
Os conceitos de construções irregulares e clandestinas podem ser encontrados no art. “A Ocupação
e o parcelamento do solo”.
1563
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Obs: Terceiro de boa-fé deverá buscar indenização junto ao poder público que au-
torizou a construção ilegal.
– Lei nº 4.771/65 impunha a área de preservação permanente mínima de cinco metros. Após, a Lei nº
6.766/79 estabeleceu em seu art. 4º, III, que ´ao longo das águas correntes e dormentes e das faixas de
domínio público das rodovias, ferrovias e dutos, será obrigatória a reserva de uma faixa non aedificandi
de quinze metros de cada lado, salvo maiores exigências de legislação específica. Ora, a maior exigên-
cia da legislação específica surgiu em 1986, quando a metragem mínima consagrada no art. 2º - trinta
metros – passou a ser exigida pelo Código Florestal, vez que a Lei nº 7.511/86, modificou a redação de
tal art. do Código Florestal, sendo que a Lei nº 7.803/89, ao modificar a redação mais uma vez do art.
2º, reiterou as dimensões anteriormente estabelecidas.” (SANTIAGO, Alex Fernandes. In: Ocupação
urbana áreas de preservação permanente, as operações urbanas consorciadas e o Ministério
Público)
414
O art.1º da DN COPAM nº 76/04 estabelece como marco temporal as construções concluídas até a
publicação da Lei Estadual nº 14.309/2002.
1564
Promotorias de Justiça
E – Reserva legal
415
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. 14 ed., Rio de Janeiro, Forense, 1997, p. 273.
416
Paulo de Bessa Antunes chegou a “advertir ao leitor que a matéria tem sido submetida a uma alter-
ação legislativa por meio de medidas provisórias que, muito provavelmente, quando este trabalho estiver
merecendo atenção, se é que chegará a merecer, o quadro legal poderá estar totalmente modificado”.
(Poder Judiciário e reserva legal: análise de recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça.
Revista de Direito Ambiental, n. 21, janeiro/março 2001, São Paulo, RT. p. 104), sendo que sua previsão
culminaria por acontecer, pois a matéria era disciplinada, à época, pela medida provisória nº 1.956/2000,
e hoje conta com a redação da medida provisória nº 2.166/2001.
1565
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A Lei nº 6.938/81, em seu art. 14, § 1º, conferiu legitimidade para propor ação de
responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente ao Minis-
tério Público, o que ganharia contornos nítidos e instrumental adequado com a Lei
nº 7.347/85, a Lei de Ação Civil Pública, normatizando a tutela processual dos inte-
resses difusos, e, ainda, alargando a legitimação para sua defesa por outros entes
(arts. 1o, I, e 5o da Lei nº 7.347/85). De posse desse instrumental, os legitimados
revisitaram o Direito material, vivificado sob as luzes das normas processuais dos
interesses difusos.
E o Código Florestal foi acordado, não só pelo Ministério Público (com avassaladora
maioria na propositura de ações civis públicas, em mais de 90%, e, sobretudo, pela
CAPÍTULO VIII
417
Art. 1º do Código Florestal de 1934: “As florestas existentes no território nacional, consideradas
em conjuncto, constituem bem de interesse commum a todos os habitantes, do paiz, exercendo-se os
direitos de propriedade com as limitações que as leis em geral, e especialmente este codigo, estabel-
ecem”, redação reiterada pela Lei nº 4.771/65, no seu art. 1o, caput, ainda em vigor: “Art. 1º° As florestas
existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras
que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de
propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem.”
418
Sobre a evolução da legislação, RODRIGUES, Marcelo Abelha. Instituições de direito ambiental. Par-
te geral. São Paulo, Max Limonad, 2002, p. 72/82 e BENJAMIN, Antônio Herman V. Introdução ao Direito
Ambiental brasileiro. In: Manual prático da Promotoria de Justiça de Meio Ambiente. v. 1. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Ministério Público do Estado de São Paulo, 2005. p. 10/11.
1566
Promotorias de Justiça
restal, Antônio Herman V. Benjamin: “A aplicação administrativa e judicial, mesmo que ainda a consider-
emos modesta, insuficiente e fragmentária, condenou o Código Florestal à reforma atual. Surpreendente
este aspecto, pois enquanto mofava nas prateleiras do ordenamento, o Código era lei boa; no instante
em que viu seus instrumentos minimamente utilizados, neste instante transforma-se em lei ultrapassada,
em descompasso com as necessidades da sociedade moderna. Triste país este onde a implementação
de uma lei, em especial daquelas que protegem interesses sociais, traz consigo o decreto com a promul-
gação de sua sentença de morte.” (A proteção das florestas brasileiras: ascensão e queda do Có-
digo Florestal. Revista de Direito Ambiental. n. 18, abril/junho 2000, São Paulo: RT. p. 23), o que traz a
reboque a incisiva observação de Paulo de Bessa Antunes: “As constantes alterações que, ultimamente,
vêm sendo procedidas no Código Florestal, quaisquer que sejam os seus resultados dificilmente poderão
ser considerados positivos [...] é importante que haja estabilidade na lei florestal para que esta possa ser
implementada de forma adequada, o que até então não vem ocorrendo” (ob. cit., p. 106/107).
1567
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Hoje temos a redação conferida aos dispositivos do Código Florestal atinentes à re-
serva legal oriundos da medida provisória nº 2.166/2001, sendo indispensável, para
afirmar-se com certeza, a prévia consulta à página do Senado na internet:<http:
www6.senado.gov.br/sicon/PreparaFormPesquisa.action>. Verifica-se a alteração
de diversos arts. 1º, 4º, 14, 16 e 44, até com prejuízo à técnica legislativa, seja pela
profusão de parágrafos nos arts. 16 e 44, seja pela adição dos arts. 44-A, B e C,
para não modificar a numeração dos dispositivos subseqüentes.
Mas não será o Código Florestal a única legislação aplicável. Como sabido, a com-
petência para legislar sobre meio ambiente é concorrente (art. 24, VI, da Carta Mag-
na), o que impõe também não perder de visada a legislação dos Estados. No caso
de Minas Gerais, a Constituição Estadual reitera o comando da Lei Maior, em seu
art. 10, XV, “f”), ao afirmar que compete ao Estado legislar concorrentemente sobre
CAPÍTULO VIII
“[...] florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos
recursos naturais, proteção do ambiente e controle da poluição”.
1568
Promotorias de Justiça
sável recordar que, na competência concorrente, quando a União edita norma geral,
o que é sua competência, o Estado não pode contrariá-la421. Em suma, a legislação
estadual não poderá ser mais branda – como já se vislumbra em alguns dispositi-
vos da Lei nº 14.309/2002 – que a legislação federal. Poderá, sim, ser mais severa,
tendo especial fim de proteção422, como lembra Paulo Afonso Leme Machado: “[...]
os Estados podem suplementar a legislação federal sobre essas reservas, isto é,
podem acrescentar normas mais severas, mas não podem exigir menos do que a
norma federal423”.
Não se pretende, aqui, revisitar a doutrina sobre o tema. Colima-se conferir efeti-
vidade a tal instituto, que, em verdade, para os Tribunais, situa-se em plano quase
etéreo, gozando de mínima aplicação no Brasil, o que é inconcebível424. Justificar-
se-ia que a função social é conceito jurídico indeterminado, o que dificultaria sua
aplicação. Mas tal característica, em vez de limitar, traduz-se em elemento de po-
tencialização do instituto425, sobrelevando a tarefa do Poder Judiciário no preenchi-
421
Conforme ensina, com profundidade, FARIAS, Paulo José Leite. Competência federativa e pro-
teção ambiental. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1999. p. 427/430.
422
“Dessa forma, podemos afirmar que à União caberá a fixação de pisos mínimos de proteção ao meio
ambiente, enquanto aos Estados e Municípios, atendendo aos seus interesses regionais e locais, a de
um ‘teto’ de proteção. Com isso, oportuno frisar que os Estados e Municípios jamais poderão legislar, de
modo a oferecer menos proteção ao meio ambiente do que a União, porquanto, como já ressaltado, a
esta cumpre, tão-só, fixar regras gerais.” FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambien-
CAPÍTULO VIII
1569
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
imprecisos – especialmente imprecisos – razão pela qual necessitam ser completados por quem os apli-
que”. Direito, conceito e normas jurídicas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988, p. 72.
427
PEREIRA, Rosalinda P. C. A teoria da função social da propriedade rural. In: A questão agrária e a
justiça. STROZAKE, José (org). São Paulo: RT, 2000. p. 100/101.
428
DERANI, Cristiane Derani. A propriedade na Constituição de 1988 e o conteúdo da ‘função so-
cial’. Revista de Direito Ambiental, n. 27, julho/setembro, São Paulo: RT, 2002. p. 60.
429
Nessa contínua desconsideração da Carta Magna, a crítica contundente de Paulo de Bessa Antunes
é de se registrar, ao comentar que impressiona “o fato de que a função social da propriedade tenha
ingressado em nosso direito positivo pela Constituição de 1934 e que, ainda hoje, seja necessário relem-
brar que a propriedade é um instituto constitucional e não meramente do direito civil. Há que se repudiar
a tendência de interpretar a Constituição conforme o Código Civil, eis que esta espelha uma concepção
absurda de ordem jurídica que não mais se sustenta nos dias atuais.”(ob. cit., p. 113)
1570
Promotorias de Justiça
Por existirem diversas funções sociais que variam conforme o tipo de proprieda-
de433, cuida-se da função social da propriedade rural nos arts. 184 e seguintes da
Constituição Federal. O art. 186, incisos I e II, da Constituição Federal determina
que a propriedade atenderá a sua função social, princípio da ordem econômica,
quando a propriedade rural atende, segundo critérios e graus de exigência estabe-
lecidos em lei, ao aproveitamento racional e adequado (I), e à utilização adequada
dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente (II), dentre ou-
tros requisitos, que também deverão ser verificados, simultaneamente, para que se
430
A respeito, importante a leitura de Flávio Sant’anna Xavier (Notas sobre o instituto do imóvel rural e
o Direito Agrário. In: O Direito Agrário em debate. p. 26/32). O tratamento da propriedade rural como
qualquer outra propriedade, e com os institutos individualistas do anterior Código Civil, encerra motivo
histórico: em um mundo que já se revelava globalizado, Napoleão intencionava criar Código Agrário, ao
lado do Código Civil, pelo que distinta seria a legislação para a propriedade rural, havendo inclusive cria-
do comissão para tanto, o que se frustrou, com sua derrocada... E prevaleceu, para a propriedade rural,
o tratamento privatista conferido pelo Código Civil francês, o que culminaria por influenciar o Código Civil
brasileiro de 1916, que incorporou as idéias daquele, que categorizava a propriedade em redundância
sintomática: o direito plus absolut, traduzindo idéia até hoje sentida. Fustel de Coulanges já assinalara
haver “três coisas que, desde os tempos antigos, se encontraram fundadas e estabelecidas solidamente
nas sociedades grega e italiana: a religião doméstica, a família e o direito de propriedade”. (A cidade
antiga. Tradução de Fernando de Aguiar. 8 ed., Lisboa, p. 84). Sobrevindo novel legislação (Estatuto da
CAPÍTULO VIII
Terra, Lei nº 8.171/91, CF, Lei nº 8.629/93), muitos fizeram ouvidos moucos, preferindo utilizar o antigo
Código Civil de 1916, que, na lição de Osny Duarte Pereira, “foi ainda mais negligente para com a floresta
e no seu manuseio até parece que os vegetais nunca foram um bem econômico suscetível de proteção”.
(Direito florestal brasileiro. Rio de Janeiro: Borsoi, 1950. p. 111)
431
200 crônicas escolhidas. 22 ed., Rio de Janeiro, Record, 2004. p. 236.
432
Já na ordem infra-constitucional, tem-se, inicialmente, o novo Código Civil, em seu art. 1.228, § 1o: “o
direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais
e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna,
as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a polu-
ição do ar e das águas”, sendo que a introdução no direito codificado da função social da propriedade
privada constitui-se em uma das principais características do Código Civil.
433
SILVEIRA, Domingos Sávio Dresch da. Ob. cit., p. 11.
1571
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
perfaça a função social, como a observância das disposições que regulam as rela-
ções de trabalho (inciso III) e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários
e trabalhadores (inciso IV).
Assim, para que se cumpra a função social da propriedade rural, deve-se atender
aos aspectos econômico (I), ambiental (II) e trabalhista (III e IV). Conjuga-se a previ-
são do inciso II ao mandamento constitucional de que todos têm direito ao meio am-
biente ecologicamente equilibrado, bem do uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defen-
dê-lo e preservá-lo, para as presentes e futuras gerações – art. 225, da CF/88.
434
BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função ambiental da propriedade. Revista de Direito Ambi-
ental, n. 9, janeiro/março. São Paulo: RT, 1998. p. 69.
435
No ante-projeto do Código Florestal de 1934 já se salientava tal conflito, analisando a função social da
propriedade: “Ora, em matéria florestal os interesses do proprietário particular estão em perene conflito
com os da coletividade e é lastimável que, por amor a um simples princípio, possa um energúmeno sac-
rificar, por cupidez de um lucro ocasional, às vezes mínimo, ou por ignorância, matas que necessitaram
de séculos, para atingir ao estado atual e que representam riquezas inavaliáveis para o interesse geral
de toda a região.”
436
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios fundamentais do Direito Ambiental. In: Revista de Direito Am-
biental. n. 2, abril/junho. São Paulo: RT, 1996. p. 51/52.
1572
Promotorias de Justiça
O Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64), já definia em seu art. 2o, § 1o, a função social,
atentando para o aspecto ambiental, sendo que hoje a Lei nº 8.629/93, em seu
art. 9o, repete a definição do art. 186 da CF/88 para função social. E, o que é mais
importante, o art. 9o da Lei nº 8.629/93, em seus § 2o e § 3o, explicita no que consis-
tem o aproveitamento racional e adequado, e a utilização adequada dos recursos
naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, previstos no art. 186, incisos
I e II, da Constituição Federal:
com seu meio, não é surpreendente que o Direito do ambiente seja um Direito de caráter horizontal, que
recubra os diferentes ramos clássicos do Direito (Direito civil, Direito administrativo, Direito penal, Direito
internacional) e um Direito de interações, que se encontra disperso nas várias regulamentações. Mais do
que um novo ramo do Direito com seu próprio corpo de regras, o Direito do Ambiente tende a penetrar
todos os sistemas jurídicos existentes para os orientar num sentido ambientalista.”(apud MACHADO,
Paulo Afonso. Direito ambiental brasileiro. 7 ed., São Paulo: Malheiros, 1998. p. 91)
438
BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função ambiental da propriedade e reforma agrária. In: O Di-
reito Agrário em debate. p. 296/297. Já ensinava Osny Duarte Pereira, ao comentar o Código Florestal
de 1934: “Seria verdadeira insânia, pelo respeito ao princípio da intangibilidade dos direitos privados,
reconhecer-se ao seu proprietário a prerrogativa soberana de devastar os imóveis de sua propriedade.
A efêmera prosperidade que ele tiraria com a extração desordenada das madeiras seria alguns anos
depois desfeita pelos males coletivos que a destruição da capa vegetal acarreta a todos, inclusive ao au-
1573
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Por isso cabem não só ao poder público, pelo art. 19 da Lei nº 8.171/91, vários
deveres para a proteção ambiental, como também aos particulares, pois a “[...] fis-
calização e o uso racional dos recursos naturais do meio ambiente é também de
responsabilidade dos proprietários de direito, dos beneficiários da reforma agrária
e dos ocupantes temporários dos imóveis rurais”, segundo o parágrafo único deste
artigo.439
A exigência de reserva legal para toda propriedade não representa nenhuma ino-
CAPÍTULO VIII
tor e à sua descendência. Que adiantaria serrar, serrar, serrar, sem limites as madeiras encontradas nos
solo, queimar os remanescentes, fazer cinco ou dez colheitas, escalavrar as encostas, acumular alguns
milhões, se ao fim da tarefa, a desolação, a aridez, a inclemência do clima, o êxodo, o abandono de todas
as riquezas acumuladas, serão a retribuição fatal que essa ‘liberdade’ reserva aos que desrespeitam a
Natureza”. (ob. cit., p. 171)
439
Daí a lembrança de Roxana Borges que o conteúdo da função ambiental da propriedade não é
dirigido à coisa, mas ao sujeito, pois cabe ao proprietário cumprir a função ambiental da propriedade,
uma vez que apenas ao sujeito e não às coisas são atribuídos direitos e deveres. Função ambiental da
propriedade e reforma agrária. In: O Direito Agrário em debate. p. 293
440
Id., ibid., p. 294/295.
1574
Promotorias de Justiça
vação legislativa. Já o Código Florestal de 1934 dispunha, em seu art. 23, que “ne-
nhum proprietário de terras cobertas de matas poderá abater mais de três quartas
partes da vegetação existente, salvo o disposto nos arts. 24, 31 e 52”, e a redação
original da Lei nº 4.771/65, no hoje modificado art. 16, que
Definindo os espaços mencionados no art. 225, § 1o, da Lei Maior, tem-se que, se-
gundo o art. 1º da Lei nº 4.771/65 (Código Florestal) as florestas e demais formas de
vegetação são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, sendo que
a área de preservação permanente é definida pelo art. 1º, § 2º, inciso II, do Código
Florestal, como sendo a
CAPÍTULO VIII
[...] área protegida nos termos dos arts. 2o e 3° desta Lei, coberta
ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preser-
var os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica,
a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo
e assegurar o bem estar das populações humanas.
A reserva legal, que não se confunde com a área de preservação permanente, vem
definida pelo art. 1°, § 2º, inciso III, do Código Florestal, como sendo a
1575
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
– e IV – para área de campos gerais). Em Minas Gerais a área de reserva legal será
de no mínimo 20% da propriedade rural, do confronto entre as previsões do art. 16,
incisos I a IV, do Código Florestal, e como surge expressamente estabelecido no art.
14, caput, da Lei nº 14.309/2002.
441
Nesse sentido, MACHADO, Paulo Affonso Leme. ob. cit. p. 704; SILVA, José Afonso da. Direito am-
biental constitucional. 4 ed. São Paulo: Malheiros. p. 191.
442
Função ambiental da propriedade urbana. In: Congresso Internacional de Direito Ambiental. Paisa-
gem, natureza e direito. BENJAMIN, Antônio Herman (org.). O Direito por um Planeta Verde. São
Paulo: Instituto. p. 309.
1576
Promotorias de Justiça
Ainda analisando o conceito do art. 1o, § 2o, III do Código Florestal, tem-se que três
são, portanto, as funções da reserva legal, desdobradas nos tópicos a seguir.
443
Apelação Cível 236.297-8/00, 3a Câmara Cível, rel. Desembargador Isalino Lisboa, j. 29/08/2002.
444
Dentre outros, Hely Lopes Meirelles (Direito administrativo brasileiro, São Paulo: Malheiros, 1996,
p. 550, e Paulo Afonso Leme Machado (ob. cit., p. 707).
445
SILVA, José Afonso da, ob. cit., p. 182, Paulo Afonso Leme Machado (ob. cit., p. 707) e BENJAMIN,
Antônio Herman Desapropriação, reserva florestal legal e áreas de preservação permanente. In: Temas
de direito ambiental e urbanístico. p. 77/78.
446
Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 2 ed. São Paulo: RT, 2001. p.
41-48.7
1577
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A distinção está presente mais uma vez na Lei nº 9.985/2000, em seu art. 2o, inciso
V: preservação: conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem à pro-
teção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção
dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais, VI:
proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por
interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais
e VII: conservação in situ: conservação de ecossistemas e habitats naturais e a
manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios na-
turais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham
desenvolvido suas propriedades características.
1578
Promotorias de Justiça
1o, § 2º, II, do Código Florestal, a reserva legal, em complemento, oferece-lhe abrigo
e proteção, devendo integrarem-se tais áreas. Cumprindo tal função, na escolha
do local, a autoridade competente, conforme art. 16, § 1º, da Lei nº 14.309/2002,
demarcará a reserva legal “[...] em continuidade a outras áreas protegidas, evitan-
do-se a fragmentação dos remanescentes da vegetação nativa e mantendo-se os
corredores necessários ao abrigo e ao deslocamento da fauna silvestre”. Tudo isso
evidencia a impropriedade da legislação estadual quando permitiu a presença de
sistemas agroflorestais, sem atentar para a legislação federal.
Como visto, mesmo a pequena propriedade rural, e até a posse rural familiar, tal
como definidas no art. 1o, § 2o, I, do Código Florestal, devem contar com área de
reserva legal, conforme art. 16, § 3o e § 9º dessa lei. Importante salientar que, no
caso de Minas Gerais, a pequena propriedade rural ou posse rural familiar não po-
derá superar:
a) em regra, trinta hectares, conforme art. 1o, § 2o, I, “c”), do Código Florestal, ou
b) cinqüenta hectares, para os imóveis situados na região do Polígono das Secas
conforme art. 1o, § 2o, I, “b”), do Código Florestal.
1579
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A Lei estadual mineira nº 14.309/2002, em seu art. 15, parágrafo único, detalha
que tal cômputo de árvores frutíferas ornamentais ou industrial será possível até o
limite de cinqüenta por cento da área de reserva legal. Assim, mesmo na pequena
propriedade, metade da vegetação deverá ser nativa, e a outra metade poderá ser
de maciços arbóreos frutíferos, ornamentais ou industriais mistos, pelo dispositivo
estadual. De qualquer forma, o cultivo será em sistema intercalar ou consorciado
com as espécies nativas, como determinado pela lei federal. Não se pode, assim,
plantar em uma metade (dez hectares, por exemplo) apenas nativo, e na outra (ou-
tros dez hectares) apenas exótico. Deve haver o intercalamento ou o consórcio com
as nativas. Portanto, são requisitos para que se admita na área de reserva legal o
plantio de árvore frutífera ornamental ou industrial, ainda que composto por espécie
exótica:
Ainda pelo § 9o, no caso da posse rural familiar, o poder público também deverá
prestar apoio técnico e jurídico para definição da área de reserva legal. A diferença
é que, na posse, a reserva legal será assegurada por compromisso de ajustamen-
to de conduta, celebrado entre o possuidor e o órgão ambiental competente – em
Minas Gerais, o IEF – com os requisitos estabelecidos no art. 16, § 10, do Código
Florestal.
Outro benefício que será analisado mais adiante é a exigência de menor percentual
1580
Promotorias de Justiça
Determina o Código Florestal diversas regras que afetam o cômputo das áreas
para atingir o percentual exigido para reserva legal, descaracterizando o instituto.
Primeiramente, como já visto, para a pequena propriedade rural ou posse familiar,
o art. 16, § 3º, do Código Florestal permite que sejam “[...] computados os plantios
de árvores frutíferas ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas,
cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas”. Excepcio-
na-se, permitindo-se a presença de espécies exóticas, o conceito do art. 1o, § 1o,
III, do Código Florestal, que destina a reserva legal ao abrigo e proteção de fauna
e flora nativas, com impacto ambiental negativo, sobretudo quando se recorda que
em geral a pequena propriedade é de 30 hectares (art. 1o, § 2o, I, “c”)), o que não é
pouco448.
448
“A medida adotada pela norma, em minha opinião, somente poderia ter sido admitida após a elabo-
ração de um censo agrícola que fosse capaz de definir a quantidade de pequenas propriedades rurais,
em cada uma das regiões do país, sob pena de que a reserva legal, em áreas nas quais predomina a
pequena propriedade rural, não se transforme em letra morta. É extreme de qualquer dúvida que a incor-
poração de espécies exóticas e ornamentais ou industriais na reserva legal é a negação conceitual da
própria razão de ser da reserva legal”. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. p. 404.
1581
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Assim sendo, e exemplificando, não basta que uma média ou grande propriedade
tenha, por exemplo, 30% de área de preservação permanente, uma vez que um rio
corta o imóvel, que somados aos 20% da reserva legal, geram o direito à compen-
sação. É imprescindível que os 30% de área de preservação permanente contem
com vegetação nativa em toda a sua extensão, para que o proprietário possa com-
putá-la. Do contrário, bastaria ter área de preservação permanente toda desmatada
e gozar do benefício. São, portanto, requisitos, para que ocorra a compensação de
vegetação de área de preservação permanente no cálculo do percentual de reserva
legal, em Minas Gerais:
propriedade, 25% desta (art. 16, § 6o, incisos II e III, do Código Florestal);
c) a compensação não pode implicar conversão de novas áreas para o uso alterna-
tivo do solo.
1582
Promotorias de Justiça
reserva legal a afirmação de que a reserva legal deve ser representativa do meio
ambiente natural da região. Importante não perder de vista que esse é tanto o crité-
rio para a definição da área de reserva legal pela autoridade competente, quanto o
fim almejado para a área – ser representativa do meio ambiente natural da região.
Como asseverado anteriormente, tal se deve entender como o dever da autoridade
competente, na definição da reserva legal, escolher a área do imóvel rural que me-
lhor retrate o meio ambiente natural daquela localidade, a melhor área, em termos
ambientais.
Critério e fim, e não pressuposto. Critério e fim, porque deve, uma vez constituída,
representar o meio ambiente natural da região, com plantio de espécies nativas,
permitindo desempenhar suas funções estabelecidas no art. 1o, § 2o, III, do Código
Florestal e reiteradas no art. 14, caput, da Lei estadual nº 14.309/2002, e já analisa-
das acima. Descabida a interpretação de que a presença de vegetação represen-
tativa do ambiente natural da região é pressuposto para a existência da reserva le-
gal. Explica-se. Havendo propriedade rural completamente desmatada, não haverá
área representativa do ambiente natural da região, naquele imóvel rural. E isso não
significa que não se deva averbar a reserva legal para imóveis que não possuam
vegetação nativa. Infelizmente, tal raciocínio campeou em algumas decisões do Tri-
bunal de Justiça de Minas Gerais, em questão semelhante. O Tribunal mineiro, ao
interpretar o art. 16, caput, do Código Florestal, que prevê a reserva legal para as
florestas e outras formas de vegetação nativa, entendeu, por sua Corte Superior, no
Mandado de Segurança 279477-4/2000, relator para o acórdão o Desembargador
Antônio Hélio Silva, julgado em 25 de junho de 2003, em sua ementa, por maioria:
legal, somente está autorizado quando existir floresta no imóvel, o que não é o caso
dos autos, pelo que se impõe a concessão da segurança requerida.
1583
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Afronta ainda o art. 225, caput, e seu objetivo de meio ambiente ecologicamente
equilibrado; a interpretação contida no julgado conduz ao absurdo (e é sabido que
nenhuma interpretação pode conduzir ao absurdo): é dirigida a premiar economi-
camente o infrator (quem desmatou não tem que enfrentar a limitação da reserva
legal) e punir economicamente aquele que não desmatou (terá que averbar e res-
peitar a reserva legal). Estimula, ainda, aqueles que não desmataram para desde já
o fazerem, para que, depois, não tenham que averbar a reserva legal. Registre-se
apenas que a longo prazo, em verdade, todos seremos punidos, pois o equilíbrio
ambiental entrará em colapso, diante da continuidade da agressão, e, o que é pior,
sob estímulo de certa corrente judicial.
450
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios fundamentais do direito ambiental. In: Revista de Direito Am-
biental. ano 1, n. 2, abril/junho. São Paulo: RT, 1996. p. 59/60.
1584
Promotorias de Justiça
Ou seja, o proprietário que não possui vegetação nativa (ou mesmo natural, primi-
tiva ou regenerada) em sua propriedade é obrigado ou a recompor, ou a conduzir
a regeneração natural, ou a compensar a reserva legal por outra área equivalente.
O dispositivo afasta qualquer dúvida e demonstra que a interpretação de alguns
julgados do Tribunal de Justiça de Minas Gerais colidiu frontalmente com a previsão
legal. Se deve recompor a área, primeiro há que existir definição dela, e tal somente
se fará pela averbação. A interpretação do TJMG negou vigência aos arts. 16 e 44
do Código Florestal451.
De que adianta haver legislação ambiental, se não é aplicada? Grafe-se, como as-
severa Paulo de Bessa Antunes, que “[...] o tema da reserva legal, em especial, é
paradigmático, pois há várias décadas que o instituto existe e, na prática, se resume
CAPÍTULO VIII
451
E traz à baila a observação de Carlos André Sousa Birnfeld: “[...] uma constatação que não pode
deixar de ser feita no que tange à proliferação da legislação ambiental é que diz respeito a sua escassa
aplicação pelos operadores jurídicos em geral, a qual pode ser justificada em parte pela existência de
um conjunto às vezes confuso e de disposições, em parte pela existência de lacuna as importantes no
próprio conjunto normativo, mas principalmente e em grande parte pelo escasso grau de importância que
os operadores jurídicos destinam geralmente às questões atinentes à legislação ambiental, demonst-
rando o lamentável desconhecimento dos valores críticos que estão nela inseridos, quando não demon-
stram (o que é pior ainda) um pleno desconhecimento das próprias normas ambientais”. A emergência
de uma dimensão ecológica para a cidadania – alguns subsídios aos operadores jurídicos. Flori-
anópolis, 1997. Dissertação - mestrado em Direito – Curso de Pós Graduação em Direito, Universidade
Federal de Santa Catarina.
1585
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
a uma letra morta sem qualquer conseqüência concreta”. E arremata: “Uma questão
que, inevitavelmente, se coloca ante o observador é aquela que nos leva indagar
sobre até que ponto a lei é para ser levada a sério”.452 (ob. cit., p. 110)
De nada valerá termos legislação muito completa, mesmo que seja muito bem re-
digida, e muito bem concebida, se os Tribunais não estiverem sensibilizados para
esta problemática, e se não forem capazes de corajosamente impor as medidas que
sejam adequadas nos casos de ofensa ecológica. De nada valerá a lei se os Tribu-
nais não chamarem a si a responsabilidade de serem co-participantes na ingente
e fundamental tarefa da protecção do ambiente, que a todos nos impõe a nossa
condição de cidadãos activos e conscientes453.
Ou ainda:
Poder Judiciário e reserva legal: análise de recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça.
452
1586
Promotorias de Justiça
Mas a questão tende a ser superada, pelo recurso aos Tribunais Superiores, diante
da negativa de vigência referida. O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do
Recurso em Mandado de Segurança 18.301-MG, relativo à Comarca de Andrelân-
dia, em Minas Gerais, já acentuou que a exigência da reserva legal, e sua respecti-
va averbação, existe para todo proprietário rural:
1587
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
reserva legal pode explorar toda a propriedade, e, portanto, não praticaria os crimes
do art. 48 ou 50 da Lei nº 9.605/98, relativos à reserva legal, porque, explorando
toda a propriedade, inevitavelmente também estará explorando a área que deveria
corresponder à reserva legal, em conduta ilícita.
O procedimento da averbação
1588
Promotorias de Justiça
E prossegue:
O meio ambiente ecologicamente equilibrado foi elevado à cate-
goria de dogma constitucional como um direito de todos (art. 225
da CF), visando as presentes e futuras gerações. Todavia, ainda
há uma parcela considerável de pessoas que resistem ao pen-
samento coletivo, mirando-se apenas em seus interesses ime-
diatos. Nesse sentido, desobrigar os proprietários da averbação
é o mesmo que esvaziar a lei de seu conteúdo. O mesmo se dá
quanto ao adquirente, por qualquer título, no ato do registro da
propriedade. Não há nenhum sentido em desobrigá-lo das res-
CAPÍTULO VIII
1589
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Eis a ementa:
1590
Promotorias de Justiça
E prossegue:
1591
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Sobre qual interpretação deve ser escolhida diante do resultado que produz, cum-
pre lembrar a lição de Carlos Maximiliano, no clássico Hermenêutica e aplicação do
direito (15 ed, Rio de Janeiro: Forense, 1995. p. 166):
Como visto, exigir reserva legal apenas de quem tem vegetação nativa no imóvel
conduz ao absurdo, por estimular o desmatamento; além disso, torna letra morta a
obrigatoriedade da averbação legal prevista no art. 16, § 8o, do Código Florestal,
CAPÍTULO VIII
pelo que correta a posição do STJ: ainda que o imóvel não conte com vegetação na-
tiva, deve ser-lhe exigida a averbação da reserva legal, cabendo ao Oficial do Cartó-
rio do Registro de Imóveis paralisar o procedimento até que satisfeita tal exigência.
1592
Promotorias de Justiça
matado não tem legitimidade para figurar no pólo passivo de ação civil pública por
dano ambiental, pois a ele não se pode impor o ônus do reflorestamento, se não foi
o agente do dano, à ausência de nexo de causalidade, conforme RESP 218781 PR
Decisão: 05/02/2002 DJ: 24/06/2002.
gitimidade para figurar no pólo passivo de ação civil pública por esse dano ambien-
tal, visto que a obrigação, prevista no Código Florestal, de repará-lo é transmitida
quando da aquisição do bem, independentemente da existência ou não de culpa,
conforme RESP 327254 PR Decisão:03/12/2002 DJ: 19/12/2002 e RESP 282781
PR Decisão:16/04/2002 DJ:27/05/2002.
Tanto mudou a 1a Turma seu entendimento, que a recente decisão é assim emen-
tada: “Em matéria de dano ambiental, a responsabilidade é objetiva. Logo, o adqui-
1593
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
rente das terras rurais é responsável pela recomposição das matas nativas, mesmo
sem culpa”. RESP 401055 PR DECISÃO: 14/04/2003 DJ: 20/05/2003; e 1ª T - EA-
RESP 255170 SP Decisão: 01/04/2003 DJ:22/04/2003.
Volvendo ao art. 44 do Código Florestal, tem-se que, para o imóvel rural que não
conte com vegetação nativa suficiente para a constituição da reserva legal, três
alternativas devem ser adotadas, em forma isolada ou conjunta:
1594
Promotorias de Justiça
Confira-se o art. 17, VI, que permite a “[...] aquisição, em comum com outros proprie-
tários, de gleba não contígua e instituição de RPPN, cuja área corresponda à área
total da reserva legal de todos os condôminos ou co-proprietários, condicionada a
vistoria e aprovação do órgão competente”. E a Portaria 78, do Instituto Estadual de
Florestas, de 6 de maio de 2005, que regulamenta tal compensação, para o mesmo
bioma. Por melhor que seja a intenção do legislador estadual e a argumentação
do IEF, conforme reuniões entre este e o Ministério Público, é de que existe grave
pressão sobre áreas ainda preservadas no Norte de Minas e que os meios escolhi-
dos afrontam a legislação federal. Primeiro porque a Lei estadual permite ao pro-
CAPÍTULO VIII
prietário escolher qual procedimento irá adotar (art. 17, caput: podendo optar entre
os seguintes procedimentos), retirando da autoridade competente, o técnico do IEF,
a definição se será priorizada a regeneração, a recomposição, ou a compensação.
Segundo, porque não é permitida a compensação fora da bacia hidrográfica. Se a
compensação na mesma bacia é regra excepcional, admitida no Código Florestal,
este, em momento algum, admitiu a compensação além dos limites da bacia hidro-
gráfica. A legislação estadual, nesse ponto, contraria claramente a legislação fede-
ral, o que não pode ser admitido. O Estado de Minas Gerais extrapolou sua com-
1595
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
petência concorrente, pois a União editou norma geral, o que é sua competência,
não podendo o Estado contrariá-la. A legislação estadual não pode ser mais branda
que a legislação federal. Pode, sim, ser mais severa, tendo especial fim de prote-
ção456, como lembra Paulo Afonso Leme Machado: “os Estados podem suplementar
a legislação federal sobre essas reservas, isto é, podem acrescentar normas mais
severas, mas não podem exigir menos do que a norma federal”.457
Por fim, registre-se que também o art. 18 da Lei estadual nº 14.309/2002 confronta
o Código Florestal, pois proíbe a compensação para aquele que a partir da vigência
da lei mineira suprimiu vegetação sem autorização. Ora, a proibição é anterior, con-
forme art. 44-C do Código Florestal:
Logo, o marco que irá prevalecer é o federal. Quem, a partir da publicação da Me-
dida Provisória nº 1.736-31, de 1998, suprimiu vegetação, não poderá compensar a
reserva legal, porque a lei federal estabelece o piso mínimo de proteção.
E.18 – Conclusão
456
“Dessa forma, podemos afirmar que à União caberá a fixação de pisos mínimos de proteção ao meio
ambiente, enquanto aos Estados e Municípios, atendendo aos seus interesses regionais e locais, a de
um teto de proteção. Com isso, oportuno frisar que os Estados e Municípios jamais poderão legislar, de
modo a oferecer menos proteção ao meio ambiente do que a União, porquanto, como já ressaltado, a
esta cumpre, tão-só, fixar regras gerais”. FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambien-
tal brasileiro. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 62.
457
Direito ambiental brasileiro.10 ed., São Paulo: Malheiros, 2002. p. 704.
1596
Promotorias de Justiça
1597
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
No que tange ao aspecto da saúde pública, os problemas mais comuns são a trans-
missão de doenças através de roedores e outros mamíferos, insetos, aves e do
próprio manuseio inadequado do lixo por catadores. O cheiro da decomposição
se alastra com o vento e atrai outros organismos, como baratas, ratos, insetos e
urubus, que além de se nutrirem a partir da matéria orgânica presente no lixo, se
proliferam, pois o local também lhes oferece abrigo. Estes animais são veiculadores
de muitas doenças, podendo ser citadas a febre tifóide, a cólera, diversas diarréias,
tracoma e peste bubônica. Ou seja, o lixo inadequadamente disposto é capaz de
ocasionar graves danos ambientais, além de expor a perigo a saúde humana, ha-
vendo ainda potencialidade de atingir negativamente valores relacionados com a
habitação, lazer, segurança e a tantos outros componentes de uma vida saudável
e com qualidade.
Além do lixo domiciliar urbano, que é o objeto do presente estudo, sabe-se que
problemas também são enfrentados em relação a resíduos especiais 460
, que se
460
Lei nº 11.445/07 - Art. 6º O lixo originário de atividades comerciais, industriais e de serviços cuja
responsabilidade pelo manejo não seja atribuída ao gerador pode, por decisão do poder público, ser
1598
Promotorias de Justiça
1599
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1600
Promotorias de Justiça
F.3.1 - Coleta
No que diz respeito aos resíduos sólidos urbanos, existem basicamente dois tipos
de coleta: a) coleta seletiva, que consiste na coleta, em separado, de materiais reci-
cláveis, definidos como inertes (papéis, plásticos, metais, vidros, etc.) e de matéria
orgânica, previamente separados nas próprias fontes geradoras, de modo a facilitar
a reciclagem de materiais; b) coleta tradicional, que é a forma comum e usual da
coleta de resíduos sólidos urbanos (domiciliar e comercial) sem prévia separação.
1601
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1602
Promotorias de Justiça
1603
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
compostagem deve ser combinado com outro de destinação final, uma vez que ela
não se mostra como adequada para o recebimento de resíduos dos serviços de
saúde, inertes, inorgânicos e industriais.
1604
Promotorias de Justiça
A Lei federal nº 2.312/54 dispôs normas gerais sobre defesa e proteção à saúde.
Em seu art. 12 a norma estabelece que: “A coleta, o transporte e o destino final do
lixo deverão processar-se em condições que não tragam inconvenientes à saúde e
ao bem estar público, nos termos da legislação a ser baixada. O Decreto nº 49.974-
A/61 regulamentou a referida lei, mas no tocante ao lixo simplesmente repetiu o art.
12 da Lei federal acima citada462”.
Por seu turno a Portaria nº 53, de 01/03/79, do Ministério do Interior, que dispõe
sobre os problemas oriundos da disposição de resíduos sólidos, proibiu no item X o
depósito a céu aberto de resíduos sólidos urbanos.
O Código de Saúde do Estado de Minas Gerais (Lei nº 13.317/99) por seu turno
estabelece: “Art. 53 - A coleta, o transporte, o tratamento e a destinação final dos
resíduos sólidos domésticos são de responsabilidade do poder público e serão rea-
lizados de forma a evitar riscos à saúde e ao ambiente”.
1605
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
O Código de Saúde do Estado de Minas Gerais (Lei nº 13.317/99) por seu turno
estabelece: “Art. 53 - A coleta, o transporte, o tratamento e a destinação final dos
resíduos sólidos domésticos são de responsabilidade do poder público e serão rea-
lizados de forma a evitar riscos à saúde e ao ambiente”.
Feita a análise acima, constata-se que o ordenamento jurídico brasileiro não per-
mite o lançamento indiscriminado de resíduos sólidos urbanos na natureza, a céu
1606
Promotorias de Justiça
aberto, sem qualquer preocupação com a saúde pública ou com o meio ambiente.
Todo aquele (pessoa física ou jurídica) que descumprir o dever de não poluir o meio
ambiente mediante o lançamento de resíduos sólidos urbanos se enquadrará na
situação jurídica de poluidor (art. 3º, IV, Lei nº 6.938/81) e estará sujeito às sanções
previstas em âmbito administrativo, cível e criminal.
A punição penal daqueles que poluem o meio ambiente mediante a disposição ina-
dequada de resíduos sólidos é plenamente viável. Sob o ponto de vista da prática
processual, chamamos a atenção para a necessidade de prova pericial evidencian-
do a existência de poluição, uma vez que se trata de crime que deixa vestígios (art.
158 do CPP)463. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser
aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório (art. 19, parágrafo
único, Lei nº 9.605/98).
dolo do agente responsável pela poluição pode ficar evidenciado por circunstâncias
tais como a negativa em firmar Termo de Ajustamento de Conduta a fim de resolver
o problema, o descumprimento injustificado de acordos judiciais ou extrajudiciais
CAPÍTULO VIII
463
Contudo, há jurisprudência em sentido contrário: crime ecológico. depósito de lixo hospitalar às mar-
gens de rio. Crime de perigo presumido, sendo dispensável, por decorrência, a prova pericial. voto ven-
cido, que considerava a prova técnica indispensável para a comprovação de que se cuidava de atividade
poluidora. (Resumo) (Processo Crime nº 692052111, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: José Domingues Guimarães Ribeiro, Julgado em 06/04/1993)
1607
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1608
Promotorias de Justiça
Contudo, sabe-se que muitos são os danos ambientais causados pelo poder pú-
blico, por ação ou omissão, direta ou indiretamente. Álvaro Luiz Valery Mirra a tal
problemática se refere na obra Ação Civil Pública e a Reparação do Dano ao Meio
Ambiente, aduzindo que em inúmeras situações o Estado se omite no cumprimento
de seu dever de adotar as medidas necessárias à proteção de bens e recursos am-
CAPÍTULO VIII
1609
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Em casos tais, pode e deve o Ministério Público lançar mão da ação civil pública (se
por acaso não alcançada a solução extrajudicial, sempre preferível, para o proble-
ma) objetivando compelir a administração pública a cumprir o dever de não poluir.
Annelise Monteiro Steigleder, a propósito, expõe com precisão:
464
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. 2 ed.,
atualizada. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004.
465
Discricionariedade Administrativa e Dever de Proteção do Meio Ambiente. Revista da Faculdade
de Direito da UFPR. v. 37. 2002.
1610
Promotorias de Justiça
un.).
1611
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
e a terceiros, afetados por sua atividade”. A reparação dos danos causados pela
disposição irregular dos resíduos sólidos via de regra mostra-se viável. Os danos
consumados e não passíveis de reparação direta devem ser indenizados, rever-
tendo-se em benefício do Fundo de Direito Difusos Lesados a respectiva quantia.
Sobre o tema, trazemos à colação os seguintes precedentes:
1612
Promotorias de Justiça
público municipal responsável pelo mau gerenciamento dos resíduos sólidos urba-
nos por ato de improbidade administrativa ambiental466, uma vez que é seu dever de
ofício zelar pela integridade do meio ambiente e pelo cumprimento das normas de
proteção ambiental e saúde pública, razão pela qual sua conduta enquadra-se no
previsto no art. 11, caput, e inciso II, da Lei nº 8.429/92.
A conduta do prefeito que nada faz para resolver o problema do correto gerencia-
mento de seus resíduos sólidos é duplamente ofensiva à legalidade, se considerar-
mos que o poder público e seus agentes têm o dever não só de não degradar, dever
este que, de resto, é de todos nós, mas acima de tudo têm o múnus de combater
a poluição ambiental provocada pelos outros (art. 23, VI, CF/88). Em casos tais há
uma omissão duplamente ilícita, pois, com a ciência e conivência de seu governan-
te, o Município, ente constitucionalmente incumbido de impedir a degradação do
meio ambiente, torna-se, ele próprio, o agente poluidor.
466
Conforme consignado na conclusão de nº 15 da I Carta de Princípios do Ministério Público e da
Magistratura para o Meio Ambiente: A ação civil pública de improbidade ambiental deve ser usada como
instrumento de proteção do meio ambiente, na medida que este integra o conceito de patrimônio social
- Araxá, 13 de abril de 2002.
1613
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas, de direito público ou privado, que de-
rem causa à poluição podem ser responsabilizadas administrativamente por tal fato.
Neste sentido:
anexos).
3. Detectadas irregularidades relativas à proteção do meio ambiente ou da saúde
pública, o Promotor de Justiça deverá tomar as medidas que lhe competem para a
responsabilização civil do agente degradador, por cujo intermédio far-se-á a repara-
ção do meio ambiente.
4. Deve-se priorizar a tentativa de solução extrajudicial para o problema, median-
te a celebração de termo de ajustamento de conduta, contemplando as seguintes
1614
Promotorias de Justiça
medidas:
- planejamento técnico para a recuperação da área degradada, transformando-a,
caso seja tecnicamente viável, num primeiro momento, em uma área de disposição
adequada de resíduos sólidos urbanos com a implementação dos requisitos míni-
mos preconizados pela DN n.º 52/2001 do Conselho Estadual de Política Ambiental
(COPAM) e, posteriormente, em um sistema definitivo para tratamento de resíduos
sólidos urbanos (aterro sanitário ou usina de reciclagem e compostagem);
- a transformação gradual da área degradada justifica-se uma vez que, para a im-
plantação de um sistema definitivo de tratamento de resíduos sólidos urbanos, são
necessárias diversas medidas que demandam um tempo considerável para serem
efetivadas.
- laudo ou parecer técnico, além de apresentar evidências objetivas a respeito da
potencialidade ou materialidade do dano ambiental, aponta medidas necessárias à
recuperação do meio ambiente lesado. O Promotor de Justiça deve atentar para tais
medidas, pois elas serão muito importantes no momento da elaboração de termo de
compromisso de ajustamento de conduta, por exemplo.
5. Não alcançada a solução extrajudicial deverá o Promotor impetrar a competente
ação civil pública objetivando o correto gerenciamento e destinação dos resíduos
urbanos, a reparação dos danos causados e indenização pelos danos irreparáveis.
6. Deverá ser analisada ainda a possibilidade de propositura de ação de responsa-
bilidade por prática de ato de improbidade administrativa ambiental (em apartado da
ação civil pública acima referida) contra o gestor omisso ou renitente.
7. No que diz respeito à responsabilidade penal por crime ambiental, caberá ao ór-
gão local do MP expedir ofício à Procuradoria Especializada em Crimes Praticados
por Prefeitos Municipais, para cientificá-la da prática de crime ambiental pelo chefe
do poder público municipal.
1615
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
estavam ligados à rede coletora, sendo o esgoto467 a céu aberto considerado como
um dos maiores problemas ambientais e de saúde pública do país.
Em Minas Gerais, dados da Fundação Estadual de Meio Ambiente indicam que dos
853 municípios do Estado, cerca de 92% ainda lançavam os esgotos brutos nos
corpos d’água no ano de 2006.
Sabe-se que inúmeras doenças graves estão relacionadas à poluição da água, con-
forme quadro abaixo468, o que justifica a utilização de todos os instrumentos pos-
síveis para combatê-la, não só por razões ambientais, mas também por razões de
saúde pública.
GRUPO DOENÇAS
Doenças transmitidas pela água. Cólera, Febre Tifóide, Leptospirose, Giardiá-
se, Amebíase, Hepatite Infecciosa.
Doenças controladas pela limpeza da água. Escabiose, Sepsia Dérmica, Bouba, Lebra,
piolhos, Triotracoma, Conjuntivite, Disente-
ria Bacilar, Salmonelose, Diarréias por En-
terovírus, Febre Paratifóide, Ascaridíase,
Tricurose, Enterobíase, Ancilostomose.
Doenças associadas à água. Esquistossomose Urinária, Esquistossomo-
se Retal, Dracunlose.
Doenças cujos vetores se relacionam com Febre Amarela, Dengue e Febre Hemorrági-
a água. ca por Dengue, Febre do Oeste do Nilo e do
vale do Rift, Encefalite por Arbovírus, Filario-
se Bancroft, Malária, Ancocercose, Doenças
do Sono.
Doenças associadas ao destino dos dejetos Necatoriose, Clonorquíase, Difolobotríase,
Fasciolose, Paragonimíase
O Dicionário de Ecologia e Ciências Ambientais conceitua esgoto como: descarga aquosa dos siste-
467
mas de coleta sanitária municipais ou industriais, especialmente a pertencente a dejetos fecais humanos.
ART, Henry W. et al. 2. ed.. São Paulo: UNESP: Melhoramentos, 2001, p. 201.
468
SETTI, Arnaldo Augusto et al. Introdução ao Gerenciamento de Recursos Hídricos. Brasília: Agên-
cia Nacional de Energia Elétrica; Agência Nacional de Águas, 2001. p. 49.
1616
Promotorias de Justiça
mil nascidos vivos. Desse total, 1.086 estão no Nordeste, 48 no Norte e 25 em Mi-
nas Gerais, sendo que os municípios onde há as maiores taxas de mortalidade são
também os que explicitam mais problemas de saneamento.
Como bem resumem José Roberto Guedes de Oliveira e Valdir Aparecido Alves:
469
Meio Ambiente Natural. Disponível em: http://www.cnrh-srh.gov.br/artigos/mambiente_nat_guedes.
htm. Acesso em 21/11/2005.
1617
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Os diplomas legais para o combate ao problema ora em análise são muitos, razão
pela qual identificamos abaixo apenas os que julgamos mais importantes.
Decreto nº 24.643/34 (Código de Águas) preceitua, em seu art. 109, que: “A nin-
guém é lícito conspurcar ou contaminar as águas que não consome, com prejuízo
de terceiros”. No artigo seguinte, o Código estabelece que: “Os trabalhos para a sa-
lubridade das águas serão executados à custa dos infratores, que, além da respon-
sabilidade criminal, se houver, responderão pelas perdas e danos que causarem e
pelas multas que lhes forem impostas nos regulamentos administrativos”.
1618
Promotorias de Justiça
Constituição Federal;
III - participação efetiva da sociedade, por meio de suas entida-
des representativas, na formulação das políticas, na definição
das estratégias, na fiscalização e no controle das ações de sa-
neamento básico;
IV - subordinação das ações de saneamento básico ao interesse
público, de forma a se cumprir sua função social.
1619
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
471
A Lei nº 7.783/89 também considera os serviços de esgotamento sanitário como essenciais.
1620
Promotorias de Justiça
estatui que os serviços públicos de saneamento básico devem ser prestados com
base em alguns princípios fundamentais, dentre os quais sobrelevam-se os de: a)
universalização do acesso; b) integralidade, compreendida como o conjunto de to-
das as atividades e componentes de cada um dos diversos serviços de saneamento
básico, propiciando à população o acesso na conformidade de suas necessidades
e maximizando a eficácia das ações e resultados; c) abastecimento de água, es-
gotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de
formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente (art. 2°, I a III).
Não se pode esquecer, ainda, que a coleta e a destinação final dos esgotos urbanos
constituem típico serviço público472 e, em razão disso, os órgãos públicos competen-
tes e seus concessionários, por força do que dispõe o Código de Defesa do Consu-
midor (art. 6º, X) e a Lei nº 8.987/95 (art. 6º), devem prestá-lo de forma adequada,
eficiente e segura. Obviamente que não atende a tais requisitos a prestação de
serviços causadora de significativa poluição ambiental e de graves riscos à saúde
humana, como ocorre com o lançamento de esgoto in natura nos cursos d’água.
CAPÍTULO VIII
472
Quanto ao tema, oportuna a lição de Hely Lopes Meirelles, em Direito Municipal Brasileiro, p. 313,
6 ed. São Paulo: Malheiros, 1990: As obras e serviços para fornecimento de água potável e eliminação
de detritos sanitários domiciliares, incluindo a captação, condução, tratamento e despejo adequado,
são atribuições precípuas do Município, como medidas de interesse da saúde pública em geral e dos
usuários em particular.
1621
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Feita a análise acima, constata-se que o ordenamento jurídico brasileiro não permi-
te o lançamento de esgotos em cursos d’água sem prévio tratamento. Todo aquele
(pessoa física ou jurídica) que descumprir o dever de não conspurcar as águas,
CAPÍTULO VIII
1622
Promotorias de Justiça
Por isso, a ação penal pública mostra-se como o instrumento jurídico apto à res-
ponsabilização do degradador em tal seara e, secundariamente, como forma de
prevenção geral de fatos símiles. As pessoas jurídicas responsáveis pela poluição
também poderão responder criminalmente por tal fato nas hipóteses previstas no
art. 3º da Lei nº 9.605/98.
473
Crimes contra a natureza. 6 ed. São Paulo: RT, 1999. p. 180.
1623
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
No que tange ao poder público, a obrigação de zelar pela proteção ao meio ambien-
te é plenamente vinculada. Como sabido, a discricionariedade administrativa não
legitima a conduta omissiva lesiva aos bens ambientais. É que o texto constitucio-
nal, principalmente o art. 225, determina a obrigação do poder público, ou daquele
que fizer suas vezes, de promover a defesa do meio ambiente, não podendo causar
poluição, atividade completamente proscrita e danosa à sociedade.
Contudo, sabe-se que muitos são os danos ambientais causados pelo poder pú-
blico, por ação ou omissão, direta ou indiretamente. Álvaro Luiz Valery Mirra a tal
problemática se refere na obra “Ação Civil Pública e a Reparação do Dano ao Meio
Ambiente”, aduzindo que, em inúmeras situações, o Estado se omite no cumpri-
CAPÍTULO VIII
1624
Promotorias de Justiça
Em casos tais, pode e deve o Ministério Público lançar mão da ação civil pública (se
por acaso não alcançada a solução extrajudicial, sempre preferível, para o proble-
ma), objetivando compelir a administração pública a cumprir o dever de não poluir.
Wallace Paiva Martins Júnior, a propósito, expõe com precisão:
Outra não é a posição de Érika Bechara, a qual sustenta que o artifício da discri-
cionariedade seria admissível se houvesse duas ou mais maneiras de se impedir
poluição por esgoto in natura e o poder público optasse por uma delas. Mas esse
não é o caso, já que as opções são: impedir que o esgoto seja produzido ou tratar
o esgoto produzido e impedir a poluição. Daí por que impedir a poluição dos cursos
d’água pelo lançamento de esgoto in natura é um poder-dever do poder público, é
um ato vinculado476.
CAPÍTULO VIII
474
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. 2 ed.,
atualizada. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004.
475
MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Despoluição das Águas. v. 720 São Paulo: RT. p. 58-72.
476
BECHARA, Érika. Tratamento do esgoto doméstico pelo Poder Público: discricionariedade
ou vinculação? Anais do 7º Congresso Internacional de Direito Ambiental, v. I, São Paulo.
1625
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1626
Promotorias de Justiça
1627
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Ainda sob o ponto de vista cível, importante ressaltar que não se mostra lícita a
cobrança de remuneração a título de serviços de coleta e tratamento de esgotos a
usuários, se esses serviços não são efetivamente prestados de forma adequada.
Esse entendimento vem sendo sufragado pela jurisprudência pátria, como se de-
preende do seguinte julgado:
477
op. cit. p. 70.
1628
Promotorias de Justiça
Nesse sentido:
Por derradeiro, lembre-se que a Lei nº 9.433/97, que trata da Política Nacional de
Recursos Hídricos, exige em seu art. 12, III, outorga para o lançamento em corpo de
água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim
de sua diluição, transporte ou disposição final. Essa exigência foi expressamente
reiterada pelo parágrafo único do art. 4º da Lei nº 11.445/07. Assim, aquele que não
dispuser de outorga para tal fim e utilizar recursos hídricos para o lançamento de
1629
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
efluentes estará incurso na infração administrativa prevista no art. 49, II, da Lei nº
9.433/97, ficando sujeito a sanções que variam entre advertência, multa e embargo
de atividades.
G.4 – Conclusões
em apuração.
- Oficiar ao órgão técnico que tenha condições de analisar a situação do sistema de
coleta e tratamento dos dejetos mediante resposta à quesitação específica (modelo
abaixo).478
2. Detectada a ausência ou a deficiência de sistema de coleta ou tratamento de
478
Quando a COPASA não for a concessionária do serviço público, ela poderá realizar a perícia para o
Ministério público, conforme convênio com a Procuradoria-Geral de Justiça. Nos demais casos, a Divisão
de Saneamento da FEAM, o IGAM, instituições conveniadas ou a CEAT poderão ser acionados.
1630
Promotorias de Justiça
efluentes líquidos e os danos ambientais pela perícia técnica a que alude o item
supra, o Promotor de Justiça deverá tomar as medidas que lhe competem para a
responsabilização do agente degradador, mediante a assinatura de termo de ajus-
tamento de conduta479 (solução sempre preferível) ou de ação civil pública.
3. Os fatos ilícitos apurados devem ser comunicados aos órgãos ambientais com-
petentes (FEAM, IGAM, IEF, ANA etc.) para adoção das medidas administrativas
pertinentes.
4. No que diz respeito à responsabilidade penal por crime ambiental, caberá ao ór-
gão local do Ministério Público expedir ofício à Procuradoria de Crimes de Prefeitos
Municipais para cientificá-la da prática de crime (Lei nº 9.605/98, art. 54) pelo chefe
do Poder Executivo municipal, encaminhando as peças correlatas. Não sendo o
caso de agente com foro por prerrogativa de função, o Ministério Público de primeiro
grau deverá oferecer denúncia. Ressalte-se que mesmo as pessoas jurídicas de
direito privado responsáveis pela degradação (concessionárias, por exemplo) pode-
rão ser denunciadas, nas hipóteses do art. 3º da Lei nº 9.605/98.
Modelo de Quesitos
479
A celebração de ajuste não eximirá os agentes públicos municipais da responsabilidade pelos danos
causados ao meio ambiente, nos termos do § 3º do art. 225 da Constituição da República c/c art. 14 da
Lei nº 6.938/81, e pelos eventuais atos de improbidade administrativa perpetrados (Lei nº 8.429/92).
1631
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
receptor(es)?
9. Há lançamento de esgotos em galerias e rede de águas pluviais?
10. Os efluentes lançados no corpo receptor atendem às exigências e aos padrões
estabelecidos pela Deliberação Normativa COPAM nº 10/86, pela Resolução CO-
NAMA nº 357/2005 e pelas demais normas pertinentes?
11. Quais os principais usos a jusante do principal corpo receptor? (captação para
consumo, recreação, irrigação etc.)?
12. Como e onde se dá o lançamento dos efluentes líquidos produzidos em indús-
trias, abatedouros, laticínios, hotéis, hospitais e comércio na rede de esgoto?
13. Quais os principais riscos e danos gerados em desfavor do meio ambiente e da
saúde pública que foram constatados?
14. Existe cobrança pelo serviço de esgotamento? Em caso positivo, como é feita a
cobrança? Juntar, se possível, cópia de documento comprovando a cobrança.
15. Outros esclarecimentos julgados necessários.
H.1 – Introdução
LEOPOLD, Aldo. A ética da Terra. Apud MEADOWS, Donella H. Conceitos para se fazer educação
480
ambiental. 2. ed. Tradução e adaptação de Maria Julieta A. C. Penteado. São Paulo: Secretaria do Meio
Ambiente, 1997. p. 45.
481
UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME – UNEP. Geo Year book 2004/5. Disponível em:
<http:\\www.unep.org/geo/yearbook/yb2004/. Acesso em: 20 set. 2006.
1632
Promotorias de Justiça
A incursão no tema exige, antes de tudo, que se faça uma análise da essência
dessa figura jurídica tão controversa. A discussão não é desprovida de importância
prática, pois como pondera Daniel Fink:
1633
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Fink, Daniel Roberto; Jr., Hamilton Alonso; Dawalibi, Marcelo. Aspectos Jurídicos do Licencia-
482
1634
Promotorias de Justiça
Deve ser salientado que a própria legislação infraconstitucional, sem embargo das
reiteradas impropriedades conceituais, não descura dessa linha de raciocínio. E a
maior demonstração desse posicionamento é a determinação de prazos para reno-
vação e revisão da licença ambiental486.
Uma terceira proposta surge com Lúcia Valle Figueiredo490, para quem o exercício
do direito subjetivo advindo com a licença ambiental submete-se à cláusula rebus
sic stantibus. Nessa perspectiva, a relação jurídica instituída pela licença ambiental
somente prevalecerá se mantidas as condições prevalentes à época de sua expe-
dição. Vale dizer: havendo modificações nas condições iniciais da licença, estaria
autorizada a sua alteração ou retirada.
Júris, 1996. p. 88; OLIVEIRA, Antônio Inagê de Assis. O Licenciamento Ambiental. Rio de Janeiro: Iglu,
CAPÍTULO VIII
1635
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
De acordo com a doutrina clássica, Estado Federal é aquele que tem seus alicerces
calcados na premissa de descentralização política, caracterizando-se pela existên-
cia de dois níveis de poder, o central, representado pela União, e o poder federado,
pelos Estados-membros. Para M. Mouskheli, o que caracteriza o Estado Federal é
a existência, no mesmo território, de dois grupos de governantes: os centrais e os
locais, correspondendo os primeiros ao Estado Federal, e os segundos, aos Esta-
dos-membros. Define-os do seguinte modo:
491
MOUSKHELI, M. Teoria jurídica do Estado Federal. Trad. Do original francês por Armando Lázaro
y Ros, México, Nacional, 1981, p. 149; apud MUKAI, Tostio. Direito Ambiental Sistematizado. 4 ed. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2002. p. 14.
492
SILVA, 2000. p.106.
1636
Promotorias de Justiça
493
FIGUEIREDO, 2003. p. 07.
494
FIGUEIREDO, 2003. p. 12.
1637
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Nessa orientação, pode-se afirmar que a hierarquia normativa inibitória das normas
gerais incidirá precipuamente para impedir que o legislador estadual ou municipal,
no exercício de sua competência legislativa suplementar, venha estabelecer nor-
mas menos protetivas ao bem ambiental. Vejamos o entendimento autorizado de
Fiorillo:
Nos termos do regramento atual, portanto, até que seja editada a lei complementar,
existe uma verdadeira gestão compartilhada e solidária entre os entes federativos,
que impõe a cada um o dever de exercer plenamente a competência constitucional
CAPÍTULO VIII
de proteção (art. 23, VI, CF/88). Ocorre que essa gestão compartilhada não vem
495
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 4 ed. São Paulo: Sa-
raiva, 2003. p. 62.
496
Esclareça-se que dentre as competências de execução ou implementadoras inserem-se as funções
administrativas de regularização ambiental, aí compreendidas as atribuições de licenciamento, controle
e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras.
497
No ano de 2006, a então Ministra do Meio Ambiente Marina Silva apresentou ao Presidente da
República uma minuta de lei complementar estabelecendo a regulamentação do parágrafo único do
art. 23 da CF/88. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil/projetos/EXPMOTIV/MMA/2007/62.htm.
Acesso em 07/06/2008.
1638
Promotorias de Justiça
1639
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Trata-se de uma atribuição extremamente desafiadora por exigir que o exercício das
1640
Promotorias de Justiça
Esclareça-se que atualmente são dez as URCs no Estado de Minas Gerais, sendo
que sede e circunscrição de cada uma estão estabelecidas no anexo do mencio-
nado Decreto. Além disso, cada URC é composta por, no máximo, vinte membros
designados pelo Presidente do COPAM, observado o critério paritário de represen-
tações.
500
Dentre outras modificações, a edição do Decreto nº 44.667/07 revogou tacitamente o art. 2º do De-
creto nº 44.309/06.
501
Na sistemática anterior, o licenciamento ambiental dos empreendimentos de classe cinco e seis
CAPÍTULO VIII
tramitava perante a Unidade Central do Copam, por meio das Câmaras Técnicas Especializadas, com
sede em Belo Horizonte. Cabia às URC’s a análise e julgamento de projetos de até classe quatro. A
alteração da estrutura orgânica dos órgãos e entidades da área de meio ambiente ocorreu por meio da
Lei Estadual nº 15.972/2006, regulamentada pelo Decreto nº 44.309/06. Posteriormente, sobre o mesmo
tema foram editadas as seguintes Leis Delegadas nº 125/07, que dispõe sobre a estrutura básica da
SEMAD, nº 156/07, que dispõe sobre a estrutura da FEAM; nº 157/07, que dispõe sobre a estrutura do
IGAM nº 158/07, que dispõe sobre a estrutura do IEF; nº 178/2007, que dispõe sobre a reorganização
do COPAM. O organograma atual da SEMAD está disponível em <http://www.semad.mg.gov.br/index.
php?option=com_content&task=view&id=13&Itemid=27>. Acesso em 07/06/2008.
502
O regramento dessas reuniões encontra-se definido na DN COPAM nº 30/1998.
503
Segundo acesso em: 07 de junho de 2008, o mapa das SUPRAMs está disponível em: <http://www.
semad.mg.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=76&Itemid=91>
1641
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A primeira dessas posturas foi denominada por Eder Jurandir Carneiro como oligar-
quização, que determina a formação de pequenos núcleos de conselheiros que do-
minam o Conselho por longos períodos, processo que contribui para o desenvolvi-
mento e estabilização de consensos no campo das decisões.504 A aguda percepção
do autor é bastante interessante e nos permite observar, no âmbito do Conselho,
o desenvolvimento de um padrão denominado por Osh de unanimismo de fachada
(todos amigos do meio ambiente), em face do qual uniformizam todos os interesses,
miraculosamente conciliados numa ou outra fórmula mágica.505
504
CARNEIRO, Eder Jurandir. A oligarquização da “política ambiental” mineira. In: A insustentável leve-
za da política ambiental – desenvolvimento e conflitos socioambientais. ZHOURI, Andréa; LASCHEF-
SKI, Klemens; PEREIRA, Doralice Barros (org.). Belo Horizonte: Autêntica, 2005. p. 77-80.
505
OST, François. A natureza à margem da lei. Lisboa: Instituto Piaget, 1995. p.149.
1642
Promotorias de Justiça
Para superar essas barreiras comerciais não tarifárias, o empresariado mineiro, es-
pecialmente siderúrgico e de celulose, evoluiu para uma postura que denota pre-
ocupação com a boa conduta ambiental e se externaliza pela adoção de padrões
mais limpos de produção. Como se observa, a opção pela adoção de padrões mais
limpos de produção não reflete necessariamente preocupação com o equilíbrio dos
bens planetários. Antes, tem origem na exigência do mercado internacional para a
emissão de certificações que permitem o acesso mais restrito a consumidores. Cer-
to, porém, que a implantação e manutenção desse sistema de gestão demandaram
o aporte de recursos financeiros consideráveis, de sorte que, para evitar a concor-
rência desleal, o próprio setor produtivo passa a cobrar que os órgãos ambientais
exijam de seus concorrentes a efetivação dos mesmos investimentos, contando
com o natural apoio dos ambientalistas. Essa reorientação das grandes empresas
mineiras permitiu a aproximação entre elas e os ambientalistas do Copam, sensibi-
lizados pela mudança de postura dos empreendedores.
O texto autoral não prossegue com a análise da postura do órgão ambiental nessa
parte da história do Copam, mas a edição da DN nº 49/01 fala por si mesma. Parece
que o órgão ambiental também aderiu a essa perspectiva, que lhe possibilitou, sem
maiores atritos, observar todo um setor econômico movimentando-se pela adoção
de padrões mínimos de controle, explicitados na norma exaustivamente negocia-
da.506
1643
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
las sucessivas derrotas do tempo do tudo ou nada, sente-se agora confortável pe-
los inegáveis ganhos ambientais propiciados pelas medidas compensatórias, de
compensação e de controle impostas ao empreendedor. Não se deve, porém, du-
vidar dos riscos da adoção desse padrão. Recorde-se advertência do Prof. Michel
Prieur:
Tudo isso deixa claro o maior desafio do Ministério Público como ente integrante do
COPAM: fazer parte de sua estrutura administrativa, mas sem se deixar cooptar por
suas tendências e padrões.
508
PRIEUR, Michel e Henriot, Guy-Claude. Droit de l’Environnement. 3 ed. Paris: Dalloz, 1984, 1991,
1996 apud MACHADO, Paulo Affonso Leme Machado. Direito Ambiental Brasileiro. 10 ed. São Paulo:
Malheiros, 2002. p.215.
509
Vide arts. 3º e 4º da DN COPAM nº 102/06.
1644
Promotorias de Justiça
Por fim, a permissão não faria sentido diante de toda a recente reformulação do
sistema de gestão ambiental mineiro, destinada francamente a propiciar condições
para que o Estado dedique-se prioritariamente à fiscalização de obras e atividades
CAPÍTULO VIII
de porte significativo. Nos termos da legislação atual, portanto, caberá aos municí-
pios o licenciamento ambiental de empreendimentos enquadrados até em classe 4,
desde que preenchidos os requisitos mencionados anteriormente.
Ocorre que grande parte dos municípios mineiros não reúne condições materiais
para a celebração do convênio de cooperação com o Estado, condição indispensá-
vel para o início de atividades de licenciamento ambiental. Na verdade, em termos
de gestão ambiental, a situação dos municípios de Minas Gerais não difere muito da
1645
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
510
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/meio_ambiente_2002/
meio_ambiente2002.pdf>. Acesso em: 28 de maio de 2008.
511
Vide § 2º do art. 2º da Resolução CONAMA nº 237/1997.
1646
Promotorias de Justiça
(M) ou Grande (G), conforme os limites fixados para indicadores variados, como
produção, vazão, área útil do empreendimento e número de empregados.
Classe 3 - pequeno porte e grande potencial poluidor ou médio porte e médio po-
tencial poluidor
Classe 4 - grande porte e pequeno potencial poluidor
Classe 5 - grande porte e médio potencial poluidor ou médio porte e grande poten-
cial poluidor
Classe 6 - grande porte e grande potencial poluidor
512
Fonte: SEMAD. Acesso em: 07/06/2008. Disponível em: <http://www.semad.mg.gov.br/index.
php?option=com_content&task=view&id=327&Itemid=163>
513
SANCHÉZ, Luis Enrique. Avaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Ofi-
cina de Textos, 2006. p. 112.
514
SANCHÉZ, 2006.p.112.
1647
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
E, concluindo:
Assim é que se o órgão ambiental entender que a obra ou atividade não possui
potencial significativo de degradação ambiental exigirá a apresentação de estudos
ambientais515 menos complexos, como o Relatório de Impacto Ambiental (RCA),
CAPÍTULO VIII
acompanhado do Plano de Controle Ambiental (PCA), 516 conforme art. 3º, parágrafo
515
Estudos ambientais, na definição dada pela Resolução CONAMA nº 237/97, são todos e quaisquer
estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação
de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida,
tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, di-
agnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de
risco.
516
O Relatório de Controle Ambiental (RCA) identifica os impactos efetivos ou potenciais decorrentes
da instalação e da operação do empreendimento para o qual está sendo requerida a licença e o Plano
de Controle Ambiental (PCA) é o documento por meio do qual o empreendedor apresenta os planos
1648
Promotorias de Justiça
1649
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Merece ser destacado que, em alguns casos especiais, a legislação ambiental fixa
o potencial degradador de uma obra ou atividade humana sobre o meio ambiente.
É o caso das obras e atividades listadas na Resolução CONAMA nº 01/86, consi-
deradas intrinsecamente como potencialmente causadoras de significativo impacto
ambiental.518 Para essas atividades haverá, como sustentam Paulo Affonso Leme
Machado, Antônio Herman Benjamin e Sílvia Capelli, “[...] verdadeira presunção
absoluta de que as atividades previstas na referida resolução são potencialmente
518
Art. 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto
ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em
caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:
I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; II - Ferrovias; III - Portos e terminais
de minério, petróleo e produtos químicos; IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, art. 48, do
Decreto-Lei nº 32/66; V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgo-
tos sanitários; VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV; VII - Obras hidráulicas
para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de
saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de
cursos d’água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques; VIII - Extração de
combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão); IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas
no Código de Mineração; X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou
CAPÍTULO VIII
perigosos; Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima
de 10MW; XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos, cloro-
químicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos); XIII - Distritos industriais
e zonas estritamente industriais - ZEI; XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas
acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de
importância do ponto de vista ambiental; XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas
consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais
competentes; XVI - Qualquer atividade que utilizar carvão vegetal, derivados ou produtos similares, em
quantidade superior a dez toneladas por dia. XVII - Projetos Agropecuários que contemplem áreas acima
de 1.000 ha. ou menores, neste caso, quando se tratar de áreas significativas em termos percentuais ou
de importância do ponto de vista ambiental, inclusive nas áreas de proteção ambiental. XVIII - nos casos
de empreendimento potencialmente lesivos ao Patrimônio Espeleológico Nacional.
1650
Promotorias de Justiça
519
MACHADO, 2002. p. 204.
520
Uma prática reiterada e extremamente nociva é a postergação de providências a cargo do interes-
sado para a fase seguinte do licenciamento ambiental, por meio da emissão de licenças condicionadas.
Os inconvenientes da medida são evidentes, chegando ao cúmulo de se autorizar a instalação de em-
preendimento inviável do ponto de vista ambiental, em razão de certo estudo tem sido relegado para a
fase posterior. Ou ainda, consentir com a implantação de uma obra sem prévia análise e aprovação do
projeto de estrutura.
521
Advirta-se que na fase de licença prévia são analisadas a viabilidade e localização, que correspon-
dem à etapa de estudo e planejamento do futuro empreendimento, na qual não se concede qualquer
direito de intervenção no meio ambiente.
1651
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
522
Vide arts. 54 e 60 da Lei nº 9.605/98.
1652
Promotorias de Justiça
1653
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
6.938/81) com assento constitucional (art. 225. § 1º, IV, CF/88). Com efeito, nos
termos da Carta Magna, a elaboração do EIA para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação ao meio ambiente tem como
escopo assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equi-
librado, por meio da prevenção dos danos ambientais (art. 225, § 1º, IV, CF/88).523
Como destacado por Édis Milaré e Antonio Herman V. Benjamin:
523
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI nº 1.086-7, pronunciou a inconstitucionalidade
do art. 182, § 3º, da Constituição do Estado de Santa Catarina, que dispensava a elaboração de estudo
prévio de impacto ambiental no caso de áreas de florestamento ou reflorestamento para fins empresari-
ais, por entender que a previsão criava exceção incompatível com o art. 225, § 1º, IV, CF/88.
524
MILARÉ, Édis e BENJAMIN, Antonio Herman V. Estudo Prévio de Impacto Ambiental: teoria, práti-
ca e legislação. São Paulo: RT, 1993, p. 13.
525
Lei nº 6.830/80; Resoluções CONAMA nº 13/90; nº 01/86; nº 11/86 e nº 10/88, Lei nº 11.428, de 22 de
dezembro de 2006 e Decreto Federal nº 99.556/90.
1654
Promotorias de Justiça
Tendo em vista a complexidade de suas análises, o EIA deverá ser elaborado por
equipe multidisciplinar, respeitadas as diretrizes traçadas no art. 5º da mesma Re-
solução, a saber:
1655
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
527
Zhouri, 2005. p. 106.
528
MPU/MPF/4aCCR. Deficiências em Estudos de Impacto Ambiental – Síntese de uma Experiência.
Brasília: ESMPU, 2004.
1656
Promotorias de Justiça
Sem pretender substituir a avaliação técnica pelo órgão licenciador, em muitos ca-
sos será conveniente solicitar uma análise técnica imparcial da completude do EIA/
RIMA, porque a omissão de qualquer dos itens obrigatórios poderá provocar a inva-
lidação do EIA e, por conseguinte, do próprio licenciamento ambiental. A propósito,
vejamos os apontamentos de Álvaro Luiz Valery Mirra:
Em linhas gerais, entende o primeiro grupo que o objetivo fundamental do EIA seja
apenas orientar a decisão da administração e informá-la sobre as conseqüências
ambientais de um determinado empreendimento. Segundo Mirra, o estudo de im-
pacto atuaria basicamente no plano da motivação do ato administrativo relativo ao
licenciamento.529 Encerrando a posição com Leme Machado, o EIA “[...] não afasta
529
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Direito Ambiental: O Princípio da Precaução e sua Abordagem Judicial.
Revista de Direito Ambiental, Ano 6, nº 21, Jan-Mar. São Paulo: RT, 2001. p. 85.
1657
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Sem embargo das autorizadas posições sobre o tema, parece-nos mais acertado
concluir, tendo em vista os preceitos constitucionais a respeito do meio ambiente
e da ordem econômica, que a decisão do EIA pela inviabilidade ambiental do em-
preendimento desautoriza o deferimento da licença prévia, salvo demonstração de
erro nos estudos ou o advento de novas tecnologias que permitam compatibilizar
a implantação ou desenvolvimento da atividade com a manutenção do equilíbrio
ambiental. Por outro lado, tendo em conta as peculiaridades da natureza jurídica da
licença ambiental, sendo o EIA conclusivo pela viabilidade ambiental do projeto, ain-
da assim será lícito ao órgão ambiental indeferir o requerimento de licença prévia,
desde que apresente as razões fáticas e jurídicas de seu convencimento.
530
MACHADO, 2002, p. 241.
531
ANTUNES, 2005. p. 318.
1658
Promotorias de Justiça
Acreditamos, porém, que mais que levar conhecimento sobre o projeto à comunida-
de, pretende o dispositivo constitucional que esse momento do licenciamento am-
biental constitua-se num espaço aberto à participação social, com a incorporação
das contribuições dos interessados ao procedimento. Nesse sentido, Benjamin e
Milaré informam dois princípios fundamentais que se destacam no assunto: o princí-
pio da publicidade e o princípio da participação pública. O primeiro informa o direito
de qualquer cidadão de conhecer os atos praticados pelos seus agentes públicos.
E o princípio de participação pública garante ao cidadão interessado, organizado ou
não, o direito de intervir no procedimento de tomada da decisão ambiental.532
que os estudos ficam à disposição da população nas sedes das SUPRAM’s regio-
nais, mais próximas da área de influência do projeto. Em tempos de licenciamento
dos grandes projetos pelas Câmaras Temáticas do COPAM, em que a análise dos
estudos era feita pela FEAM, todos os documentos ficavam a maior parte do tempo
na capital mineira, o que praticamente impedia o acesso da população a eles.
1659
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
CONAMA nº 01/86), não havendo previsão normativa de outro ato público para a
apresentação dos esclarecimentos eventualmente apresentados, padrão já seguido
em outros países, como a Alemanha.
533
ZHOURI, Andréa; LASCHEFSKI, Klemens; PEREIRA, Doralice Barros. Uma sociologia do licencia-
mento ambiental. In A insustentável leveza da política ambiental – desenvolvimento e conflitos so-
cioambientais. ZHOURI, Andréa; LASCHEFSKI, Klemens; PEREIRA, Doralice Barros (org.). Belo Hori-
zonte: Autêntica, 2005. p. 107.
1660
Promotorias de Justiça
Ocorre que, se nos termos da legislação vigente o RIMA deva refletir fidedignamen-
te as conclusões do EIA, de fato a decisão sobre o seu conteúdo é do próprio em-
preendedor, que cuidadosamente prepara aquilo que deve ser mostrado ao público.
Nas contundentes palavras do Prof. Arsênio Oswaldo Seva Filho, da Unicamp:534
534
SEVÁ FILHO, Arsênio Oswaldo. Desfiguração do licenciamento ambiental de grandes investimentos.
Acesso em 12/03/2008. Disponível em: <http://www.fem.unicamp.br/~seva/anppas04_textoSeva_des-
figura_licen_pdf2.pdf>
1661
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Isto se deve, em grande parte, à atual sistemática legislativa que permite a contrata-
ção direta da equipe técnica responsável pelos estudos pelo empreendedor (art. 8º
da Resolução CONAMA 01/86). No modelo anterior, vigorava o art. 7º da Resolução
01/86 segundo o qual a equipe multidisciplinar responsável pelo estudo de impacto
ambiental não poderia guardar relação de dependência direta ou indireta com o
proponente do projeto. Essa proibição vigorou até a edição da Resolução CONAMA
nº 237/97, que revogou o art. 7º da primeira Resolução. A alteração ora explicitada
foi considerada por Paulo Affonso Leme Machado como “um grave retrocesso na
legislação ambiental brasileira”.535
Nesse cenário, afigura-se pertinente exigir que não somente cópias do RIMA sejam
disponibilizadas à população mas também reproduções do EIA. Requisitar ainda ao
órgão ambiental que certifique a fidedignidade do RIMA quanto às conclusões do
EIA e ao cumprimento do art. 9º da Resolução CONAMA nº 01/86.
CAPÍTULO VIII
535
MACHADO, 2002, p. 221.
536
ZHOURI, 2005. p. 104.
1662
Promotorias de Justiça
Contudo, nem sempre essas peculiaridades são observadas pelo órgão licencia-
dor, o que contribui para o nascimento e consolidação de cenários absurdamente
conflitivos. Podem ser trazidos à memória diversos exemplos, dentre os quais des-
tacamos o espantoso resultado de levantamento efetivado pela Central de Apoio
1663
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Técnico do Ministério Público de Minas Gerais, segundo o qual pelo menos 150 títu-
los minerários foram concedidos pelo Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM) para o exercício de atividades em áreas situadas no interior de unidades
de conservação de proteção integral criadas no âmbito das Bacias dos Rios das Ve-
lhas e Paraopeba. Nesse caso específico, foi expedida recomendação à Autarquia
Federal, pugnando pela invalidação dos títulos concedidos.
Diante disso, será sempre conveniente conferir se todos os órgãos que deveriam
concorrer para a expedição da licença tiveram participação material no feito, ou
seja, se realmente foram cientificados da existência do requerimento de regulariza-
ção ambiental, se lhes foi oportunizada participação no feito e se as considerações
apresentadas foram consideradas para efeito de deferimento ou indeferimento do
pedido. Não basta, portanto, mera cientificação da existência do requerimento de
licença ambiental ao ente competente desacompanhada de oportunidade de mani-
festação. Várias são as hipóteses legais que determinam concorrência de compe-
tência no procedimento de análise e concessão de licença ambiental. Passaremos
a destacar algumas mais recorrentes.
Na esfera estadual, o art. 2º, alínea “a”, da Resolução COPAM nº 01/92 determina
que a licença prévia possa ser concedida pelo COPAM mediante requerimento do
interessado, o qual conste em anexo, dentre outros documentos, a declaração da
Prefeitura informando que o local e o tipo de instalação estão conforme as leis e
regulamentos administrativos do Município.
1664
Promotorias de Justiça
Vale lembrar que, como todo ato administrativo, a declaração deverá ser motivada,
ou seja, acompanhada dos elementos fáticos e jurídicos que a justifiquem. Segundo
Maria Sylvia Zanella Di Pietro:538
1665
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
539
Registre-se que está em tramitação na Assembléia Legislativa de Minas Gerais o Projeto de Lei nº
265/07, de autoria do Deputado Pe. João, que dispõe sobre a obrigatoriedade de apresentação de garan-
tia real, por parte de empreendimentos econômicos, nas hipóteses de risco iminente ao meio ambiente e
à população. Segundo a proposta legislativa, o licenciamento de empreendimentos considerados poten-
cialmente nocivos ao meio ambiente e à população dependerá da comprovação, por parte do empreend-
CAPÍTULO VIII
edor, de sua idoneidade econômico-financeira para arcar com os custos decorrentes da obrigação de
recuperar ou reabilitar áreas degradadas, assim como aqueles decorrentes de eventuais danos pessoais
e materiais causados à população e ao patrimônio público, facultada sua substituição por instrumentos
de garantia, tais como garantia real, carta de fiança bancária ou seguro de responsabilidade civil. Prevê
ainda que poderá o poder público, de ofício ou mediante requerimento, nas hipóteses de risco iminente
à vida ou à saúde da população, à integridade do meio ambiente ou à de recursos econômicos, exigir do
empreendedor, independente da idoneidade econômico-financeira desse, qualquer instrumento de ga-
rantia, cabendo ao órgão responsável pelo licenciamento ambiental definir o valor da garantia e o prazo
para seu oferecimento. Disponível em: <http://hera.almg.gov.br/cgi-bin/nph-brs?d=MATE&co1=e&p=3&u
=http://www.almg.gov.br/mate/chama_pesquisa.asp&SECT1=IMAGE&SECT6=BLANK&SECT7=LINKO
N&l=20&r=0&f=S&s1=12205.matr.+e+(pl+ou+plc+ou+pec+ou+pre+ou+rqn).prop.+e+@publ+%3E=+200
70201&s2=tramitacao+ou+remissivo&SECT8=TODAPROP>. Acesso em: 29 de janeiro de 2008.
1666
Promotorias de Justiça
ambiental competente.
Parágrafo Único - O licenciamento a que se refere o caput deste
artigo só será concedido mediante autorização do responsável
pela administração da Unidade de Conservação.
540
MELLO, 2004, op cit. p.406.
541
O art. 27 do Decreto Federal nº 99.274/90, regulamentando a Lei Federal nº 6.938/81, prescreve que
nas áreas circundantes das Unidades de Conservação, num raio de dez quilômetros, qualquer atividade
que possa afetar a biota ficará subordinada às normas editadas pelo Conama.
1667
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1668
Promotorias de Justiça
Ademais, sob o argumento de priorizar a análise dos projetos de maior potencial de-
gradador, verdadeiros atalhos ao licenciamento ambiental foram criados por alguns
Estados da Federação,542 que buscaram amparo na concessão do § 1º do art. 12
da Resolução nº 237/97 do CONAMA, que permite a adoção de procedimento mais
simplificado para o licenciamento de atividades e empreendimentos de pequeno
potencial de impacto ambiental. O mais conhecido desses atalhos é a autorização
ambiental, adotada nos Estados de Minas Gerais, Amapá, Bahia, Espírito Santo,
Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Roraima, Sergipe e no Distrito Federal.
542
A propósito, cite-se a nota de Seva Filho: “No Paraná e no Rio Grande do Sul ficaram conhecidas
desde 1995, as ‘vias rápidas’ de licenciamento percorridas pelas montadoras de veículos que foram
atraídas pelos governadores Jaime Lerner (Chrysler, Audi-VW e Renault) e Antônio Brito (GM), respec-
tivamente. Em abril de 2004, o Presidente Lula foi à cidade eco turística de Bonito, MS, para inaugurar
seu aeroporto, com pista de 2000 mil metros, cuja obra foi dispensada de elaboração de EIA pelo gov-
erno estadual.” SEVÁ FILHO, Arsênio Oswaldo. Desfiguração do licenciamento ambiental de grandes
investimentos. Acesso em: 12 de março de 2008. Disponível em :<http://www.fem.unicamp.br/~seva/
anppas04_textoSeva_desfigura_licen_pdf2.pdf>
543
Empreendimentos de impacto não significativo, conforme estabelecido na DN Copam nº 74/04 são
aqueles que, de acordo com a conjugação de seu porte e potencial poluidor, enquadram-se nas classes
1 e 2.
1669
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
feita pela URC, mas sim pelo Presidente do COPAM ou por quem ele delegar com-
petência – usualmente o superintendente da SUPRAM competente para o controle
ambiental da atividade544.
544
Vide parágrafo único do art. 1º da DN COPAM nº 77/2004.
545
Vide § 1º do art. 2º da DN COPAM nº 74/2004.
546
VIANA, Maurício Boratto. Licenciamento ambiental de minerações em Minas Gerais: novas abor-
dagens de gestão. Brasília, 2007. p. 231. Dissertação de Mestrado. Centro de Desenvolvimento Susten-
tável, Universidade de Brasília, Brasília.
1670
Promotorias de Justiça
A atenção com a AAF, portanto, deve ser máxima. Observando que o empreendi-
mento detentor da AAF não possui controle eficiente de seus impactos negativos,
deve-se, desde logo, suspeitar de apresentação de documentos ou informações fal-
547
Esse termo de responsabilidade possui um modelo padronizado pelo órgão ambiental disponível
em: <http://www.semad.mg.gov.br/images/stories/coisas/termo%20de%20responsabilidade-aaf.doc>.
Acesso em: 7 de fevereiro de 2007.
548
O empreendimento detentor da AAF deverá possuir em funcionamento todos os sistemas de controle
ambiental necessários. A constatação de realidade diversa, como poluição atmosférica ou hídrica, salvo
em caso de causa superveniente à regularização ambiental, deve ser considerado como indício de apre-
sentação de documentos ou informações falsas ao órgão ambiental.
1671
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Deve ser observado, por fim, que não podem obter regularização ambiental por
meio da AAF a instalação ou funcionamento de obras e atividades situadas em
áreas vulneráveis (Resolução CONAMA nº 13/90, Lei nº 11.428, de 22 de dezembro
de 2006 e Decreto Federal nº 99.556/90) ou intrinsecamente consideradas como
potencialmente causadoras de potencial significativo de degradação ambiental (Re-
solução CONAMA nº 01/86), independentemente de seu porte ou potencial poluidor,
uma vez que para aquelas persiste a exigência de elaboração de estudo prévio de
impacto ambiental, providência incompatível com o rito célere da AAF.
Não obstante a vedação normativa, um sem número de empresas vêm obtendo su-
posta regularização ambiental por meio do instrumento. Esse procedimento é inad-
missível, visto representar clara afronta à previsão do art. 225, IV, da Constituição
da República e desrespeito ao art. 10 da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente.
CAPÍTULO VIII
549
No que tange a atividades minerárias nas zonas de amortecimento de Unidades de Conservação
de Proteção Integral, o próprio Departamento Nacional de Produção Mineral, por meio do PARECER/
PROGE n° 145/06-CCE-JMO, aprovado pelo Diretor-Geral Miguel Antonio Cedraz Nery, em 14 de julho
de 2006, reconhece que nessas unidades apenas o uso indireto dos atributos naturais é admitido, o que
nos leva à conclusão de haver impossibilidade do desenvolvimento de atividades ligadas à mineração
nos espaços geográficos correspondentes às Unidades de Proteção Integral e nas respectivas zonas de
amortecimento.
550
Caracteriza ato de improbidade administrativa a dispensa de apresentação de EIA/RIMA em obras
potencialmente degradadoras do meio ambiente. Anais do III Congresso do Ministério Público do Estado
de São Paulo. 24 a 27 de agosto de 2005. v. 1, São Paulo, 2006. p. 285
1672
Promotorias de Justiça
Como destacado alhures, na regularização por AAF não existe a previsão para o
estabelecimento de medidas de monitoramento e controle (condicionantes típicas),
tampouco uma rotina fiscalizatória das condições de funcionamento da atividade por
parte do órgão ambiental. O licenciamento ambiental, por seu turno, impõe ao em-
preendedor a execução de planos de controle, que propõem a adoção de medidas
CAPÍTULO VIII
1673
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
H.16 – Conclusões
CAPÍTULO VIII
1674
Promotorias de Justiça
1675
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
MINERAÇÃO
1676
Promotorias de Justiça
dá outras providências;
Lei nº 14.309/02 – Dispõe sobre as políticas florestal e de proteção à biodiversidade
no Estado.
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
JURISPRUDÊNCIA
MINERAÇÃO
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Promotorias de Justiça
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1680
Promotorias de Justiça
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, L.F. Alguns Tópicos sobre Planos Diretores. Disponível em: <http://www.
mp.rs.gov.br/urbanistico/doutrina>. Acesso em: 26 fev. 2007.
CAPÍTULO VIII
1681
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
MINERAÇÃO
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 6.ed. rev., atual. e ampl. Rio de
Janeiro: Lúmen Juris, 2002.
ARMELIN, Priscila Kutne. Crime de poluição por atividade minerária. Disponível
em: <http://www.mp.mg.gov.br>. Acesso em: 19 maio 2008.
FREIRE, William. Código de mineração anotado e legislação complementar mi-
1682
Promotorias de Justiça
neral e ambiental em vigor. 2.ed., rev., atual. e ampl. Belo Horizonte: Mandamen-
tos, 2001.
1683
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
A – Introdução
1684
Promotorias de Justiça
Assim é que o Promotor de Justiça, com atuação nesta área, deve procurar orien-
tar-se por eixos específicos, que extrapolam a atuação meramente judicial, quais
sejam:
Dentro dessa lógica, o Promotor de Justiça com atribuições na área da infância e ju-
ventude deve-se cercar, inicialmente, de informações precisas sobre toda a rede de
atendimento da respectiva localidade, visando, além do conhecimento dessa rede,
identificar os pontos de intervenção para fazer valer a prerrogativa legal da priorida-
de absoluta, que compreende, dentre outras, a “preferência na formulação e na exe-
cução das políticas sociais públicas e destinação privilegiada de recursos públicos
nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude” (art. 4º do ECA).
1685
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
B – Técnica de atuação
1686
Promotorias de Justiça
Conselhos e Fundos
Legislação Federal
cais relativos ao Imposto de Renda das Pessoas Físicas nas doações aos Fundos
dos Direitos da Criança e do Adolescente, nos investimentos em obras audiovisuais
e nas doações e patrocínios de projetos culturais.
DECRETO N° 4.032, DE 26 DE NOVEMBRO DE 2001
Entre outras disposições, define o Conselheiro tutelar, quando remunerado, como
segurado obrigatório do Regime Geral da Previdência Social
RESOLUÇÃO Nº 75 DE 22 DE OUTUBRO DE 2001
Dispõe sobre os parâmetros para a criação e funcionamento dos Conselhos Tutela-
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
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Promotorias de Justiça
1689
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Drogas
Legislação Federal
CAPÍTULO VIII
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Promotorias de Justiça
Legislação Federal
Educação
CAPÍTULO VIII
Legislação Federal
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Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1692
Promotorias de Justiça
1693
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
1694
Promotorias de Justiça
1695
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Legislação Federal
1696
Promotorias de Justiça
1697
Manual de Atuação Funcional do Ministério Público
Infância e Juventude
Legislação Federal
Competência
LEI COMPLEMENTAR Nº 89, DE 18 DE FEVEREIRO DE 1997
Lei Complementar 79, de 7 de janeiro de 1994
Lei Federal nº 7.347 de 24 de julho de 1985
1698
Promotorias de Justiça
Outros
Legislação Federal