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Josep Curto/Shutterstock.

com
Resistência negra
Mais de um século após a abolição da escravidão no
Brasil, ainda é preciso lutar contra o racismo enraizado
na sociedade. Para combatê-lo, é importante valorizar
a cultura e ampliar o espaço social dos negros.

Presença e representatividade
A participação reduzida de profissionais negros na TV,
na política ou nos cargos técnicos esportivos reforça a
necessidade de garantir mais oportunidades.

Por que o racismo persiste?


Um dos caminhos para combater o discurso racista,
usado para hierarquizar um grupo em relação a
outro, é buscar a equidade e o fim de privilégios.

07
Edição

Carreira: História
A profissão que narra e preserva os
passos da humanidade por meio do
patrimônio e da herança social.
Ago–2018
Nesta edição

7
ENTRELINHAS
PRESENÇA E REPRESENTATIVIDADE
E x p e d i e n t e A participação reduzida de profissionais negros em papéis de destaque na TV,
nos cargos técnicos esportivos e na política reforça a necessidade de garantir
oportunidades nas diferentes esferas da nossa sociedade.

9
CONTEXTO
Direção geral POR QUE O RACISMO PERSISTE NO BRASIL E NO MUNDO?
O discurso racista, usado para hierarquizar um grupo em relação a outro,
Nicolau Arbex Sarkis
existe há muito tempo e atinge, sobretudo, os negros. Para combatê-lo, toda a
sociedade precisa lutar por equidade e pelo fim de privilégios.
Gerente editorial
12
ENTREVISTA
Emilia Noriko Ohno HISTÓRIA
A profissão que narra e preserva os passos da humanidade por meio do
Coord. de projetos editoriais patrimônio e da herança social.

Arlete Sousa Sakurata Editorial


Brunna Mayra Vieira da Conceição
Resistência negra
Edição / Texto

N
o Brasil, a escravidão teve início com a colonização do país, quando os
Anaiza Castellani Selingardi
portugueses trouxeram (forçadamente) negros africanos para trabalhar
Bruno Freitas nas fazendas de senhores brancos. A partir desse momento, as pessoas
Cláudio Leyria negras passaram a ser subjugadas e vistas como inferiores em relação às brancas,
Edilene Faria hierarquização que configura o racismo. Três longos séculos depois, em 1888, a
princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no país, mas as
Thaís Inocêncio
marcas que esse sistema deixou na nossa sociedade são tão profundas que ainda
não foram apagadas.
Projeto gráfico Hoje em dia, 130 anos depois da sanção desse documento, os negros ainda
Willyam Gonçalves são vítimas de preconceito e discriminação. Mesmo representando a maioria
da população – de acordo com o IBGE, 54% dos brasileiros se autodeclaram
pretos ou pardos –, essas pessoas têm menos oportunidades de emprego ou de
Revisão crescimento profissional, recebem salários menores, ocupam menos espaço nas
Jéssica Anitelli universidades, têm pouca presença em novelas ou campanhas publicitárias e,
Kemi Tanisho ainda, têm mais chances de serem vítimas de homicídio.
Vivian Prado de Souza Para quem sofre o racismo, literalmente, na pele, a luta é constante. De acordo
com dados da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, apenas entre janeiro
e maio deste ano, 195 ocorrências de racismo e injúria racial foram registradas no
Diagramação estado de São Paulo, índice 29% maior do que no mesmo período do ano passado.
Willyam Gonçalves O crime de racismo é aplicado quando há ofensa discriminatória contra um grupo
ou coletividade (por exemplo, quando os negros são impedidos de acessar algum
estabelecimento comercial); já a injúria racial ocorre quando se ofende outra pessoa
Licenciamento
utilizando palavras depreciativas referentes à raça e cor da vítima.
Jade Cristina Bernardino
Números como esses revelam que o racismo está enraizado na sociedade e
precisa ser combatido. Mas, para quem não o sente, é difícil ter uma real dimensão
desse problema. Por isso, é preciso ter em mente que a discriminação só dará lugar
à democracia social com a colaboração de todos nós, independentemente de cor
ou qualquer outra característica física. E o que podemos fazer? Em primeiro lugar,
precisamos reconhecer que o racismo persiste, seja ele abertamente manifesto
ou latente. Então, devemos falar sobre isso, abordar o assunto nas escolas e
outras esferas públicas, e lutar para que os espaços sejam ocupados por todas
as pessoas de forma igualitária. Por fim, devemos reconhecer que as diferenças
nos tornam únicos e que a diversidade nos faz completos. São questões como
essas que buscamos discutir no Leia Agora deste mês. Desejamos a você uma
boa leitura e reflexão sobre esse assunto!
Equipe Leia Agora

2
// NOTÍCIAS EM FOCO Empresa cancela shows de MC Loma Memorial aos negros expõe
O grupo MC Loma e As Gêmeas Lacração teve passado colonial de Portugal
duas apresentações canceladas no Recife. O anúncio A primeira tentativa de Portugal de marcar sua longa
foi feito, na segunda (30), pelo Grupo Metrópole, história de escravidão com um monumento inflamou
responsável pela produção dos eventos. A justificativa um debate sobre como o país deveria confrontar
é que MC Loma, de 15 anos, não está matriculada seu passado colonial. Os moradores apoiaram
em escola, como determina a Justiça da Infância a ideia da criação de um memorial dedicado às
e da Juventude. Para a participação de crianças e milhões de vítimas da escravidão. Portugal teve um
adolescentes em espetáculos é necessário apresentar papel central, durante quatro séculos, no tráfico
declaração de matrícula e frequência das aulas. de milhões de pessoas escravizadas. O projeto
31 jul. 2018 – G1 escolhido foi proposto por uma associação de
afrodescendentes chamada Djass. “Queremos que
Rio sedia encontro mundial de este monumento traga vida ao debate em torno do
mulheres matemáticas racismo hoje”, diz Beatriz Gomes Dias, presidente
O Rio de Janeiro vai sediar, nesta terça-feira (31), a da Djass.
primeira edição do Encontro Mundial de Mulheres 30 jul. 2018 – BBC
na Matemática. O evento faz parte do Congresso
Internacional de Matemática, que também será
realizado no Rio e acontece uma vez a cada quatro Há 50 anos, Snoopy recebia Franklin,
anos. O foco para os debates sobre a igualdade de seu 1o amigo negro
gênero na ciência será ampliado. Franklin, o primeiro personagem negro de “Peanuts”,
31 jul. 2018 – G1 sobre as aventuras de Snoopy, comemora nesta
terça-feira (31) seus 50 anos de existência, graças a
uma professora de Los Angeles ansiosa para ver mais
Manifestação pede fim da violência diversidade racial nas publicações infantis. Ela mandou
contra mulheres negras cartas para o criador Charles Schulz.
Uma passeata hoje (29) em Copacabana, na zona 31 jul. 2018 – G1
sul da cidade do Rio de Janeiro, protesta contra a
violência que atinge as mulheres negras em todo o
Flip: mesa com autores aclamados
país. Segundo dados do Atlas da Violência 2018,
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, a taxa
tem críticas ao racismo
de homicídio de mulheres negras no país é de 5,3 A última noite da Festa Literária Internacional de
por 100 mil habitantes. O número é 73% superior Paraty (Flip) começou com críticas afiadas de dois
ao registrado entre as mulheres não negras, cuja jovens e aclamados autores. Na avaliação deles,
taxa de homicídios é de 3,1 por 100 mil habitantes. a literatura e a sociedade ainda são permeadas
Em dez anos, a taxa de assassinatos de mulheres pelo racismo e esse preconceito aparece, muitas
negras aumentou 15,4%, enquanto entre as não vezes, nas expectativas do leitor. Colson Whitehead
negras caiu 8%. chamou a atenção para o fato de que personagens
29 jul. 2018 – Agência Brasil negros precisam sempre ter sua raça explicitada.
“As pessoas negras são racializadas, e as pessoas
Aos 15 anos, jovem tira nota máxima brancas são só pessoas”, disse Whitehead. O carioca
em “Enem” da Islândia Geovani Martins conta que, em suas leituras, sempre
Uma brasileira de 15 anos foi destaque na imprensa viu personagens negros serem qualificados pela cor.
da Islândia depois de ter superado a dificuldade do Quando o autor quer se referir a esses personagens,
idioma nórdico para tirar a nota máxima em uma prova eles são chamados de “o negro” ou “a negra”.
Brasil
nacional para estudantes, considerada o “Enem” do 29 jul. 2018 – Agência Brasil
Vale lembrar!
Ciências país. Nascida em Jundiaí, no interior de São Paulo,
Diversidade de atrações e de espaços marca a Flip
Beatriz Ladeira contou que ser considerada a melhor
Educação
2018
estudante da Islândia foi uma surpresa: “É uma coisa Leia em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-07/
Cultura inacreditável. É uma prova difícil. Se for bem nela, com diversidade-de-atracoes-e-espacos-marcou-flip-2018>.

certeza te ajuda a entrar na melhor escola”, explica.


Internacional
28 jul. 2018 – G1
Cidadania

3
// NOTÍCIAS EM FOCO Companhias dão educação política Estudante se torna o advogado mais
para funcionários jovem do Brasil
Empresas estão tentando trazer o assunto para Nesta sexta-feira (27), a Ordem dos Advogados do
dentro das suas paredes, com palestras e aulas de Brasil no Distrito Federal entregou a carteira profissional
educação política que abordam o funcionamento ao advogado mais jovem do país. Aos 18 anos, Mateus
do sistema eleitoral brasileiro, a importância de Lima Costa Ribeiro se formou na Universidade de
da democracia e os perigos de elementos hoje Brasília (UnB) e foi aprovado “de primeira” no Exame
constantes quando se fala sobre o assunto, da Ordem. O estudante foi aprovado no vestibular da
como a polarização e a circulação de fake news. UnB com apenas 14 anos. Pela lei, ele não poderia
Funcionários administrativos da empresa de se matricular na universidade. Uma decisão liminar
laticínios Tirolez se reuniram em um auditório permitiu que ele entrasse.
para ouvir um cientista político falar sobre o que é 27 jul. 2018 – G1
cidadania, democracia e outros conceitos básicos.
Cícero Hegg, cofundador da Tirolez, espera que os Beneficiários conquistaram 1288 me-
eventos “desmistifiquem o horror” suscitado pela dalhas em olimpíada de matemática
política hoje em dia e apresentem abordagens mais Criada em 2005 para tentar popularizar a matemática
saudáveis para conversas sobre o tema. entre estudantes do Ensino Fundamental e Médio,
30 jul. 2018 – Valor econômico a Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas
Públicas (Obmep) já atinge 18 milhões de alunos
Queda de avião deixa um morto e de 99% dos municípios do país. A abrangência
6 feridos da iniciativa tem ajudado a revelar talentos para a
Uma pessoa morreu e seis ficaram feridas após a área, inclusive entre parte das famílias mais pobres
queda de uma aeronave de pequeno porte no Campo do Brasil: um cruzamento de dados do Ministério
de Marte, na Zona Norte de São Paulo, no início do Desenvolvimento Social (MDS) encontrou, entre
da noite deste domingo (29). Houve uma explosão as 45 mil medalhas distribuídas pela Obmep desde
assim que o avião bateu no chão. O piloto morreu. O 2011, 999 estudantes beneficiários do Programa
acidente ocorreu durante o pouso na capital paulista. Bolsa Família. Eles conquistaram 1288 medalhas.
As circunstâncias do acidente serão investigadas 1 ago. 2018 – G1
pelo Cenipa, órgão da Força Aérea Brasileira.
29 jul. 2018 – G1

Universidades abrem inscrições para vestibular

Fuvest Unesp
Inscrições: 13/08 a 14/09/2018. Inscrições: 10/09 a 08/10/2018.
Taxa: R$ 170. Taxa: Ainda não definida.
Provas: 25/11/18 (1a fase); Provas: 15/11/18 (1a fase);
6 e 7/01/19 (2a fase). 16 e 17/12/18 (2a fase).
Mais informações: Mais informações:
<www.fuvest.br>. <www.vunesp.com.br/VNSP1803>.

ITA Unifesp
Inscrições: 01/08 a 15/09/2018. Inscrições: 26/09 a 26/10/2018.
Taxa: R$ 140. Taxa: Ainda não definida.
Provas: 23/11/18 (1a fase);
Qvasimodo/iStockphoto.com

Provas: 04 e 11/11/18 (Enem);


10 e 11/11/18 (2a fase). 13 e 14/12/18 (2a fase – Sistema Misto).
Mais informações: Mais informações:
<www.vestibular.ita.br>. <www.unifesp.br>.
Brasil

Unicamp
Ciências
Inscrições: até 31 de agosto.
Taxa: R$ 170.
Educação
Provas: 18/11/18 (1a fase);
13 e 14/01/19 (2a fase).
Cultura Mais informações:
<www.comvest.unicamp.br/vestibular-2019>.
Internacional

cidadania *Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 31 jul. 2018. Fonte: Universidades

4
“Yellow Submarine” at 50: Why the Psychedelic
Animated Beatles Movie Is Timeless
They aren’t sprinting through a narrow street, laughing and tumbling over one another as they’re trailed by what
appear to be hundreds of rabid teenyboppers. Nor are they charming Ed Sullivan and the American press corps, or
comically falling down together in the snow while locked arm in arm. No, these Fab Four are currently locked in a
battle between good and evil. Specifically, between themselves and detonating clowns, apple-bonking henchmen, a
giant killer glove and your run-of-the-mill Blue Meanies. Meet the Beatles (sort of) that star in Yellow Submarine, the
psychedelic caricatures that graced the 1968 animated feature which, 50 years ago today, made it’s premiere on U.K.
screens. (You can, and should, catch it on U.S. screens in a new restored version right now.) It doesn’t matter whether
it’s been decades or merely days since you’ve seen it last. It’s still a hell of a lot weirder than you remember it being.

17 jul. 2018 – Rolling Stone

Rolling Stone El País


NEW YORK MADRID

Netflix, el gigante que lo quiere todo

En sus comienzos allá por finales de los años noventa, Netflix, gigante estadounidense cuya revolución televisiva ha
transformado los hábitos en consumo cultural y de vida de centenares de millones de personas, tan solo era una modesta
web de alquiler y compra a domicilio de DVD. Sus empleados detectaron que los clientes no se saciaban con un capítulo
ahora y otro una semana después. Querían más y lo querían ya.
Cuando la compañía se pasó al streaming y estrenó en 2013 su primera serie original, House of Cards, tomó una decisión
inédita: lanzar todos los episodios de una sola vez. Y resume las líneas de su negocio: multiplicar el contenido para seducir a más
usuários.
Con esas astutas armas, una discreta empresa de alquiler de Arizona se ha convertido en apenas dos décadas en
un universo que surte de entretenimiento a 130 millones de hogares de 190 países. Su último paso ha sido anunciar la
instalación en Madrid de su centro de producción en Europa.

27 jul. 2018 – El País

5
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Eclipse lunar visto de Brasília, em 27 de
julho. Ainda no início da tarde, as imagens
do eclipse lunar já inundavam as redes
sociais. A partir da Ásia, o fenômeno ficou
visível especialmente de países do Oriente
Médio e do Norte da África. No Brasil,
pessoas se mobilizaram em diversas
cidades para acompanhar o evento, que
recebeu o nome de “Lua de Sangue” por
conta do efeito avermelhado que se forma
na refração dos raios solares na superfície
lunar.
27 jul. 2018 – Agência Brasil

// IMAGEM EM FOCO
6
ENTRELINHAS

Presença e representatividade
A participação reduzida de profissionais negros em papéis de destaque na TV, nos cargos técnicos esportivos
e na política, por exemplo, reforça a necessidade de garantir oportunidades nas diferentes esferas da nossa
sociedade.

TEXTO 01 02TEXTO
Trinta e duas seleções iniciaram a Copa do
Mundo 2018, cinco eram africanas. E um só técnico
A raça e o gênero das novelas negro – Aliou Cissé, do Senegal, que também tem o
nos últimos 20 anos menor salário entre eles. Com cinco títulos conquistados,
a Seleção brasileira só convocou homens brancos para
comandar suas equipes em toda a história dos Mundiais.
1995 a 2014 No Campeonato Brasileiro, 20 equipes disputam
a primeira divisão. Roger Machado, do Palmeiras, é o
A presente pesquisa analisa a raça e o gênero único negro no comando de um time da elite.
dos personagens centrais das novelas [...]
produzidas pela Rede Globo de Televisão Lilian Thuram, ex-jogador da seleção francesa,
entre 1995 e 2014. campeão mundial em 1998, tem a resposta pronta para
Foram considerados como personagens entender a questão: racismo. “É normal que existam
centrais aqueles apresentados nas tramas muitos jogadores negros, eles podem ser atletas de alto
principais das 101 novelas do período, nível porque têm capacidade física para isso. Mas para
segundo o site Memória Globo. ser técnico precisa ser inteligente, disciplinado. E as
(http://memoriaglobo.globo.com/) pessoas duvidam que os negros podem ser isso”, disse
em entrevistas anos atrás.
Negros em cena Carol Castro. “Por que existem tão poucos técnicos negros?”.
Carta Capital, 29 jun. 2018. Disponível em: <www.cartacapital.com.br/
SUB-REPRESENTAÇÃO DOS NEGROS diversidade/por-que-existem-tao-poucos-tecnicos-negros >.
Acesso em: 16 jun. 2018.

Média dos personagens centrais

90%
03TEXTO
Mais da metade da população brasileira (54%) é
composta de cidadãos que se autodeclaram negros
– grupo que, segundo o IBGE, reúne pretos e pardos.
Mas isso não se reflete na representação política.
No estado de São Paulo, por exemplo, dos atuais

10% 94 parlamentares da Assembleia Legislativa, somente


quatro são negros, ou seja, o equivalente a 4,2% dos
eleitos.
[...]
Brancos Pretos ou Paulo Paim (PT) é hoje o único senador negro do
pardos país eleito pelo voto direto. "Até hoje foram eleitos
apenas eu e a Benedita da Silva [para o Senado]. Na
Fonte: “Por que representatividade importa?”. Disponível em: Câmara, dos 513, no máximo duas dúzias são negros.
<http://nodeoito.com/por-que-representatividade-importa/>.
Acesso em: 16 jul. 2018. A representação negra é mínima", afirma o senador.
Manu Delgado. “A sub-representação dos negros na política brasileira”.
UOL, 29 set. 2017. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/
ultimas-noticias/deutschewelle/2017/09/29/a-sub-representacao-dos-
negros-na-politica-brasileira.htm>. Acesso em: 16 jul. 2018.

7
ENTRELINHAS
ANÁLISE

A
representatividade negra nas mais diferentes esferas vez que ela também pode ser aplicada para outros cargos
é um assunto bastante recorrente nas mídias sociais, importantes da nossa sociedade, os quais, em suma, são
nos meios de comunicação e nas rodas de conversas ocupados por brancos.
entre colegas e familiares. Frequentemente, o assunto volta à Já o Texto 03 traz uma outra situação sobre a
tona, seja motivado pela simples necessidade de se debater representatividade negra: o cenário político brasileiro.
o tema para ampliar o nosso entendimento sobre o assunto A população do nosso país, conforme apresentado no
ou, ainda, impulsionado por fatos do cotidiano. Precisamos texto, é composta, em sua maioria, de pessoas que se
entender os porquês de os negros figurarem entre os grupos autodeclaram negras ou pardas. Então, por que esse
menos favorecidos para que possamos, de fato, integrar uma número expressivo também não se faz presente nos cargos
sociedade em que a cor da pele seja apenas uma simples públicos? A explicação pode estar na resposta do jogador
característica de cada ser humano, e não motivo para que citado anteriormente. No estado de São Paulo, 4,2% dos
exista uma possível segregação e diferenciação de pessoas. deputados estaduais são negros; entre os 81 senadores,
Para darmos início a essa análise, primeiro vamos nos apenas um é negro. Esse cenário também se repete na
ater ao gráfico apresentado no Texto 01, que diz respeito Câmara dos Deputados, em que, como afirma o excerto,
à representatividade de personagens negros nas novelas dos 513 representantes, quase duas dúzias são negros.
produzidas pela maior rede de televisão no Brasil entre A ausência de negros na TV, nos cargos técnicos
os anos de 1995 a 2014. A pesquisa, que analisou 101 esportivos e na política brasileira reforça a falta de
produções do gênero, aponta que o número de personagens oportunidades e de espaços para essas pessoas em todas
brancos (90%) é muito maior do que o de negros e de esferas da nossa sociedade. Assim, a partir dos dados
pardos (10%). A falta de uma maior representatividade apresentados, podemos nos questionar sobre os meios
negra também não passa despercebida nas produções de promover maior conscientização acerca do assunto,
cinematográficas, sobretudo naquelas que concorrem ao buscando ampliar a representatividade negra e o respeito à
Oscar, já que o assunto foi motivo de muita discussão nos diversidade.
anos de 2015 e 2016, quando as principais categorias não Recomendamos que você leia atentamente os textos
trouxeram pessoas negras entre as indicadas. Felizmente, na íntegra e procure outras fontes de informação para ficar
na premiação do último ano, esse cenário foi diferente, e ainda mais por dentro do assunto. Além disso, para que
o número de negros lembrados pela academia bateu um você exercite seus conhecimentos e construa argumentos
recorde, chegando a 20 profissionais. a respeito de uma maior representatividade negra, que
Deixando um pouco de lado as produções televisivas e tal elaborar um texto dissertativo a partir do tema: “A
cinematográficas, entramos em campo para falar também importância da representatividade negra como reflexo da
sobre a representatividade negra no futebol. É comum nossa sociedade”? Boa produção textual!
ouvirmos histórias de atletas negros que se destacam
Editorial
entre os colegas do time pela alta performance durante as
competições esportivas, porém, conforme apresentado no
PeopleImages/iStockphoto.com

Texto 02, essa realidade não se repete entre os membros


da equipe técnica dos times nacionais e internacionais. A
seleção da França, que conquistou o bicampeonato na
Copa do Mundo deste ano, reascendeu o debate sobre o
tema, já que muitos dos jogadores que compõem a equipe
medalha de ouro são negros. Mas por que a competência
desses atletas parece se limitar ao lado de dentro das linhas
do campo? A explicação dada pelo jogador francês Lilian
Thuram, como pode ser observada no excerto, é um tanto
quanto preocupante, apesar de muito significativa, uma

8
Por que o racismo
persiste no Brasil

Delmaine Donson/iStockphoto.com
e no mundo?
O discurso racista, usado para hierarquizar um grupo em
relação a outro, existe há muito tempo e atinge, sobretudo, os
negros. Para combatê-lo, toda a sociedade precisa lutar por
equidade e pelo fim de privilégios.

POR ÁLVARO PEREIRA DO NASCIMENTO

E
m épocas distintas, grupos humanos se das suas respectivas independências, em meados
identificaram a partir de suas semelhanças. No do século XX. Produtos que, atualmente, rendem
entanto, quando se compararam a membros de trilhões de dólares/ano foram tomados desses povos
outros grupos, perceberam diferenças. Nesses a partir do discurso racista, que permitiu subjugá-los
encontros, voluntários ou involuntários, relacionaram-se hierarquicamente frente aos europeus. O imperialismo,
entre si por diversas razões históricas: Cruzadas, Grandes enfim, teve no racismo seu pilar mais primoroso.
Navegações, comércio de escravos africanos, guerras, Nos Estados Unidos e na África do Sul, populações
imigrações, entre outras. negras viveram sob sistemas de segregação racial. As
O conceito de “raça”, embora extremamente volátil ao constituições dos respectivos países retiraram direitos
longo da história, era utilizado para classificar e identificar fundamentais dos negros, impedindo-os de atuar
grupos de pessoas entendidas como semelhantes ou como cidadãos na formulação de políticas de Estado.
diferentes. O problema desse termo surgiu quando tais Ausentes nesse processo, perderam ainda mais direitos.
diferenças assumiram outros sentidos. Vamos direto ao São conhecidas as terríveis cenas de segregação racial
ponto: quando discursos ideológicos são criados para permitidas pelo Estado: assentos reservados a pessoas
hierarquizar um grupo em relação a outro, por diferenças brancas e negras em transportes; lugares específicos
étnicas e físicas (cor da pele, formatos dos olhos, nariz para negros nas forças armadas; escolas, bares e igrejas
e boca, tipo de cabelo), gerando desigualdades diversas proibidos a negros etc. A qualidade e a quantidade
entre eles, neste momento, estamos lidando com o dos serviços públicos destinados à população negra
racismo. eram as piores. Movimentos sociais protestaram contra
E esses discursos não foram ingênuos; eles geraram esses sistemas; nesse contexto, destacaram-se Rosa
muitos lucros a sociedades inteiras, sobretudo as que Parks, Martin Luther King Jr., Malcolm X e o Partido
viviam na Europa. Diamantes, tesouros arqueológicos, dos Panteras Negras, nos Estados Unidos, e as figuras
marfim, petróleo, carvão, ouro, entre outras riquezas, inesquecíveis de Stephen Biko e Nelson Mandela na luta
foram retiradas inescrupulosamente e sem pagamento anti-apartheid sul-africana. Contudo, o racismo persiste
algum aos habitantes dos atuais países africanos, nesses lugares e é alvo de atenção constante por parte
asiáticos e da Oceania, entre o século XIX e o período de ativistas negros desses países.

9
Autor desconhecido (Domínio público)
Cientes de tudo isso, perguntamo-nos: por que os
seres humanos preservam o racismo em seu cotidiano?
A desconstrução do racismo é extremamente complexa
e tornou-se problema para parte expressiva dos países
após a Segunda Guerra Mundial. Para combatê-lo, uma
das primeiras medidas tomadas pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) foi criar um programa reunindo diversos
especialistas de diferentes áreas de pesquisa a fim de
explicar que não há diferenças biológicas que legitimem
a crença em raças humanas. Assim, aprendemos que
raça é uma construção social e não tem comprovação
científica alguma em termos biológicos, o que tem sido
reforçado pelos recentes estudos sobre o genoma
humano.
E por que esse exercício de desconstrução é
difícil? As desigualdades geradas no passado por esses
discursos produziram espaços sociais de privilégio
para pessoas classificadas como hierarquicamente
Rosa Parks, que foi presa em 1955 por não ceder seu assento no superiores. Seus descendentes mantiveram esses
ônibus a uma pessoa branca, e Martin Luther King Jr. (ao fundo),
símbolos da luta antissegregacionista nos Estados Unidos. espaços para que as gerações posteriores ali se
mantivessem. E que lugares são esses? São os
Martinvl (Domínio público)

cargos executivos e de liderança em empresas e


departamentos públicos e privados; as vagas nas
melhores escolas e universidades públicas; a moradia
nos bairros melhor urbanizados e livres de doenças;
o acesso ao capital intelectual e social com ampla e
poderosa rede de sociabilidades; e a possibilidade de
ter diferentes experiências profissionais e pessoais ao
longo da vida sem pôr em risco os privilégios recebidos
dos seus ascendentes.
Podemos falar dos reclamados méritos dos
ascendentes ao aquinhoarem alguma riqueza e deixá-
-la para seus descendentes. Aquele avô ou bisavó
de cor branca labutaram, sim, é inegável, mas eles
não enfrentaram as barreiras raciais. Pelo contrário,
Foto de 1972, época do apartheid, mostra um banco da cidade foram vistos como necessários ao branqueamento da
de Joanesburgo com os dizeres “apenas europeus” em inglês população brasileira por meio de casamentos inter-raciais
e em africâner (língua falada na África do Sul).
e tantas vezes receberam incentivos governamentais,
Judeus e judias também enfrentaram situações que como ocorreu nos sistemas de colonização.
marcaram a história da humanidade. O genocídio de A população negra egressa do cativeiro, por outro
milhões de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial lado, enfrentou os males do racismo desde a segunda
está registrado em documentários, filmes, museus, metade do século XIX. Nesse período, jornais de grande
livros, biografias e tantos outros testemunhos mantidos circulação e romances diversos cimentaram o preconceito
justamente para não esquecermos do que ocorreu em contra pessoas negras, definindo-as como sujas, vicia-
meados do século XX. Durante o governo de Adolf Hitler, na das, alcoólatras, perigosas, incapazes intelectualmente,
Alemanha, as pessoas judias perderam direitos políticos e preguiçosas, feias e suspeitas. Exemplos disso podem
sociais fundamentais e foram atingidas por um sistema de ser encontradas até hoje em histórias em quadrinhos,
proibições e restrições que as impediam de ter compradores novelas, comerciais, nas condenações mais pesadas na
em suas lojas, cursarem escolas e universidades e que as justiça, nos mortos pela polícia, na ausência dos negros
fizeram até perder seus lares e pertences. Vale ressaltar em universidades e como médicos em hospitais. Ou seja,
que os exemplos de racismo contra diversos povos, como os ascendentes de negros e brancos não largaram da
indígenas e mestiços, são inúmeros. mesma linha nos 100 metros rasos da vida.

10
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Nesse contexto, como uma das maneiras de reduzir
Língua Portuguesa
essa distância, as cotas para negros foram adotadas no
Brasil e em outros países do mundo, como os Estados
Unidos. Com essa política, hoje em dia, há maior presença TOQUE DO
ESPECIALISTA
de negros na universidade, seja na graduação ou na pós-
-graduação, e também nos empregos públicos; uma
quantidade considerada extremamente tímida frente à de POR NATÁLIA CAVALCANTE CAMARGO
pessoas brancas nesses espaços. No entanto, se o Estado
De onde nós viemos?
não ampliar essas políticas, essas desigualdades não

P
cessarão tão cedo. ense “linguisticamente”: de onde nós viemos? O latim pode
Assim, é importante entendermos que o combate ao aparecer cheio e certeiro em uma breve resposta. Mas o
racismo não deve ser uma luta apenas dos negros, mas de nosso passado histórico, mais especificamente o período da
todos nós. Afinal, como sempre nos lembra o babalorixá escravidão, também deixou heranças que até hoje permanecem
Ivanir dos Santos, não há democracia com racismo. em nós, usuários da língua. Apesar de a África nos ter sido
Então, vamos construir um país menos desigual e mais apresentada de forma desumanizada, ela conseguiu seu espaço,
democrático para todos nós?
principalmente na “boca do povo”. Isso porque, juntamente com
os milhares de africanos, vieram para cá alguns de seus dialetos,
entre eles o quimbundo, que se tornou protagonista por conta de
Álvaro Pereira do Nascimento é pós-doutor pela
sua expressividade e riqueza.
Universidade Northwestern, nos Estados Unidos,
e doutor em História pela Universidade Estadual Atualmente, usamos palavras de origem africana de uma
de Campinas (Unicamp). Atua como professor forma que chega a ser instintiva. Essa miscigenação linguística
de História na Universidade Federal Rural do representa a sociedade na qual o falante brasileiro está inserido
Rio de Janeiro e pesquisador de produtividade e é também o seu reflexo nesse espaço. Por isso, ao reconhecer
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq). É autor de
a importância dessas palavras, estamos valorizando uma das
livros e artigos acadêmicos sobre a história do vertentes de nossa cultura, que tem significados amplos e
negro na escravidão e no período pós-abolição. diversos, ligados à religião, ao nosso cotidiano e às nossas
Arquivo pessoal/Álvaro
Pereira do Nascimento relações, seja com o outro, seja com o ambiente. 
“Samba”, “batuque”, “agogô”, “berimbau”: o que esses
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) termos têm em comum? São todos de origem africana
estabelece competências e habilidades norteadoras e vieram, juntamente com a música, para dar cor e cara a
do estudo dos conteúdos exigidos para o Ensino muitas manifestações culturais. E que tal “candomblé”,
Médio. Por meio do texto “Por que o racismo “orixá” e “axé”? Como tantas outras, essas palavras vieram
persiste no Brasil e no mundo?”, foram trabalhadas pelas mãos religiosas dessa influência linguística, trazendo os
as seguintes competências e habilidades da área de sentimentos e as crenças de um povo, e também passaram a
Ciências Humanas e suas Tecnologias: expressar nossos sentimentos e nossas crenças.
C1 – Compreender os elementos culturais que cons- É interessante observar, ainda, que a influência africana no
tituem as identidades. léxico não se dá apenas em nível morfológico, mas também
H3 – Associar as manifestações culturais do pre- em nível fonológico e sintático. Isso explica a existência de
sente aos seus processos históricos. certas expressões – utilizadas por alguns falantes de classes
C3 – Compreender a produção e o papel histórico
menos privilegiadas – tidas, pela Gramática, como fora da
das instituições sociais, políticas e econômicas,
norma-padrão da língua portuguesa. Um exemplo disso é
a construção “As menina viero”, em que percebemos uma
associando-as aos diferentes grupos, conflitos e
influência histórica sobre o uso de flexões, tanto do substantivo
movimentos sociais.
quanto do verbo.
H11 – Identificar registros de práticas de grupos
Esse fator, juntamente com o preconceito racial, acaba por
sociais no tempo e no espaço.
fomentar outro tipo de preconceito: o linguístico, que aparece
H13 – Analisar a atuação dos movimentos sociais
quando não há uma aceitação do africanismo em nosso léxico,
que contribuíram para mudanças ou rupturas em
nem mesmo de que realmente houve essa influência e de que
processos de disputa pelo poder. ela permanece conosco.
C5 – Utilizar os conhecimentos históricos para com- Retomando o convite à reflexão e observação dessa nossa
preender e valorizar os fundamentos da cidadania origem que, muito mais que um fenômeno, é fator decisivo e
HA e da democracia, favorecendo uma atuação cons- constituinte do povo brasileiro, o que deve ser compreendido
BILI ciente do indivíduo na sociedade.
H24 – Relacionar cidadania e democracia na
com certa afeição é o peso que toda essa africanidade tem em
nossa brasilidade, principalmente a partir do momento em que
DA organização das sociedades. a língua portuguesa passou a ser a língua brasileira.
DES H25 – Identificar estratégias que promovam formas
de inclusão social.

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E N T R E V I S TA | Carlos Machado

Arquivo pessoal/Carlos
Machado/Gyasi Kweisi
CARREIRA: História
Carlos Machado possui graduação,
licenciatura e mestrado em História Social
pela Universidade de São Paulo (USP).
É alumni da International Fellowships
Program – IFP (Fundação Ford) – e foi
consultor da Editora Moderna na área
de história da África e dos afro-brasileiros.
É articulista da revista Raça e autor do
livro de divulgação científica Gênios da
Humanidade – Ciência, Tecnologia e
Inovação Africana e Afrodescendente.
Trabalha na área de ensino desde 1999
e é professor na Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo desde 2006.
Atua principalmente nos seguintes temas:
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branquidade, políticas públicas, relações


étnico-raciais, negros na ciência,
tecnologia e inovação, ações afirmativas,
diáspora africana e história da África.

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Equipe Leia Agora: Quais são as aptidões necessárias Equipe LA: O estágio é obrigatório para esses
ao estudante interessado em cursar História? estudantes? O graduado em História pode atuar em
O historiador deve gostar muito de ler, pois isso é vital quais áreas?
para a carreira. Ele também deve ter facilidade para O estágio supervisionado é obrigatório na licenciatura
interpretação de textos e bom senso crítico e analítico. e há vagas em escolas públicas e particulares de todo
O estudante deve, ainda, ter interesse em pesquisar, o país. A docência ainda é a área que emprega o
principalmente, fatos do passado e em estabelecer maior número de profissionais de História capacitados
conexões. a lecionar nos ensinos Fundamental e Médio e nos
cursos pré-vestibulares. Para atuar no Ensino Superior,
Equipe LA: Quais são as disciplinas mais comuns é exigida a pós-graduação: mestrado e doutorado.
durante a graduação nesse curso? Nesse caso, além de dar aulas nos cursos de História,
A maior parte dos cursos de História é de licenciatura e o profissional também pode ministrar disciplinas em
inclui disciplinas pedagógicas, como Didática e outras graduações, como Arquitetura e Urbanismo e
Metodologia do Ensino, ao lado de disciplinas específicas. Museologia.
Estas abordam a História tanto por períodos (como Pré- O historiador ainda pode ser contratado para prestar
-história, História Antiga, Medieval ou Contemporânea) consultoria, trabalhar na organização de acervos e
quanto por regiões (América do Sul, África, Europa e Ásia, atuar em pesquisa documental, na preservação do
por exemplo). Há ainda temas específicos de pesquisa em patrimônio cultural em ONGs dedicadas ao resgate
História, como metodologia científica, teoria da história, da memória de personagens ou eventos, em órgãos
história demográfica, história política ou história da ciência. públicos de preservação do patrimônio e de arquivos,
Muita dedicação à leitura e participação em palestras e e em museus. Além disso, ele pode ser escritor de
seminários fazem parte do cotidiano do graduando. livros didáticos e paradidáticos em editoras.
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Além do ambiente acadêmico, o historiador pode


atuar em museus e galerias de arte.

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Um mercado em crescimento é o de produções Equipe LA: A representatividade étnico-racial tem
cinematográficas de época e de roteiros para docu- sido um assunto amplamente discutido na atualidade,
mentários – demanda que vem surgindo em razão da a exemplo de polêmicas envolvendo as novelas, o
lei que obriga as emissoras de TV por assinatura a teatro e o cinema. Em sua opinião, qual é a importância
exibir conteúdo nacional em sua programação. Ainda dessa discussão para o Brasil?
na área de produção audiovisual, o historiador pode No país, existiu o mito da democracia racial, que
ser requisitado para preparar aulas virtuais e vídeos perdurou por décadas no século XX; porém, esse mito
sobre materiais didáticos. oculta que o Brasil é um país racista e se desenvolveu
Também há perspectivas de trabalho em cidades com base escravocrata. Existem centenas de estudos
históricas, uma vez que é grande a busca por his- de universidades e órgãos nacionais e internacionais,
toriadores que organizem arquivos pessoais ou em- como a ONU, que corroboram essa constatação
presariais, que reconstruam a história de famílias e social. A diversidade que se vê nas ruas das cidades
empresas e que prestem consultoria em campanhas brasileiras não está representada no corpo docente
eleitorais. das universidades, no empresariado, no governo, na
política nem na elite do funcionalismo público. Os
Equipe LA: Um historiador pode trabalhar em empresas negros são 54% da população nacional; já os brancos,
privadas que não sejam da área de Educação? Que o segundo grupo étnico, são 45,5% – estando nas
tipo de empresas? melhores posições e superando, em desenvolvimento
Pode atuar em memória empresarial, isto é, pesquisar humano e qualidade de vida, negros e indígenas,
a história de empresas e instituições em geral para historicamente marginalizados.
apresentá-la em livros, artigos ou reportagens. Existe um privilégio em ser branco no Brasil; é algo
sistemático e isso promove desigualdades das mais
Equipe LA: Atualmente, quais são as especializações diversas ordens. Se quisermos ser um país que quer
consideradas em alta para o profissional de História? desenvolver igualdade de oportunidades, há muitas
São várias, entre elas: História da Arte, da Amazônia, áreas nas quais atuar e para reparar, mas, ao mesmo
do Nordeste, do Brasil, da América, da América Latina tempo, existe uma parcela da sociedade que não
e da África, além de especializações em Cultura Afro- quer mudanças e insiste em disseminar o ódio e
-brasileira, Indígena, dos Sertões, da Igreja Católica, garantir e ampliar vantagens indevidas devido à sua
Sacra, Antiga e Medieval, Militar e Agrária. Há cor de pele. O Brasil é a oitava economia do mundo
ainda Ensino da História, Historiografia, Patrimônio, capitalista, o segundo país mais rico da América,
Arqueologia, Geografia, Literatura, Humanidades, mas somos campeões mundiais em desigualdade
Medicina Oncológica, entre outras. racial e social.

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O trabalho de um profissional de História pode ser


baseado em pesquisas em documentos e livros antigos,
bem como em catalogação de jornais, filmes e fotos.

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Equipe LA: O que seria necessário para mitigar utilizado para compor o fenótipo. A coloração da pele
o preconceito racial em nosso país? Como um humana, o tipo de cabelo, nariz, olhos, lábios e o formato
profissional de História pode contribuir para isso? corporal são adaptações da nossa espécie à variedade
Raça é uma questão difícil, um tabu. Contudo, se climática do planeta, e não provas de superioridade ou
quisermos construir uma sociedade mais plural, humana e inferioridade intelectual ou qualquer outro quesito. Apesar
promotora de oportunidades iguais, temos que falar de um desse conhecimento, o termo “raça” ainda está presente
tema sensível – que é o racismo – para promover a cura. no imaginário da humanidade, assim como suas políticas
O primeiro passo é reconhecer o privilégio de ser branco de desigualdade cíclica: racismo, pobreza e violência.
no Brasil; assumir que, independentemente do seu lugar Dessa forma, precisamos rever nossos conceitos.
na classificação social, ser branco lhe confere vantagens Diante desse cenário, o profissional de História pode
visíveis e invisíveis. Raça é um conceito inventado, uma mostrar, por meio de pesquisas aprofundadas, a origem
construção política que teve efeitos devastadores e se dessa prática e os efeitos perversos que o racismo, o co-
desenvolveu a partir do século XV na chamada Era das lonialismo, o imperialismo e o eurocentrismo provocaram
Grandes Navegações, quando a Europa, gradativamente, ao longo do tempo em diversos países, questionando a
dominou o mundo. Houve argumentos religiosos que narrativa normativa oficial. A revista National Geographic,
embasaram esse conceito; posteriormente, argumentos por exemplo, admitiu recentemente que a sua cobertu-
científicos justificavam a desigualdade que estava sendo ra no século XX sobre a diversidade étnica mundial foi
construída. racista.
As distinções raciais continuam a moldar nossa política,
nossos bairros e nosso senso de identidade. Nesse Equipe LA: Você está satisfeito com essa carreira?
imaginário, os brancos europeus estão no topo da Por que a recomenda aos estudantes?
pirâmide social, e negros e indígenas, na base. Mas Sim, gosto do que faço, que é lecionar, pesquisar,
raça não existe e não se aplica ao Homo sapiens, pois, escrever, apresentar meus livros em TVs, rádios e internet
de acordo com a genética moderna, somos 99,9% e ministrar palestras pelo país. Recomendo a profissão
semelhantes e apenas 0,01% do nosso genótipo é para quem ama leitura, viagens, pesquisa e escrita.

O patrimônio histórico e a cultura popular


também são objetos de estudo do historiador.
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PA R Ê N T E S E

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A capoeira e seus múltiplos


sentidos de luta
Po r T h a í s I n o c ê n c i o

Ao longe, é possível reconhecer o som do berimbau. O instrumento é composto de uma vara em


formato de arco com um fio de aço amarrado nas extremidades. Na base, uma cabaça com o fundo
cortado funciona como uma caixa de ressonância. A batida da vareta na corda a faz vibrar, dando início a uma
prática que é, ao mesmo tempo, artística, esportiva e cultural.
Dois jogadores despontam da roda. O Mestre, assim batizado por ser o mais graduado e experiente do
grupo, inicia a ladainha – canto que carrega uma mensagem baseada na história, nos personagens e na tradição
do jogo. Frente a frente, os oponentes se cumprimentam em sinal de respeito, e a atmosfera ganha ares de
festejo. A música cresce, a dança dá seus primeiros passos.
No centro da roda, os pés, irrequietos, movem-se para trás e para frente, um de cada vez. Na ginga, os braços
acompanham o ritmo dos membros inferiores e ajudam a preparar o corpo, para atacar ou defender. De um lado, o
jogador levanta a perna simulando empurrar o adversário com a sola do pé em um movimento chamado de benção.
Sem perder o compasso, o outro jogador flexiona um joelho e apoia uma das mãos no chão, evitando o golpe. Os
movimentos sucedem em séries de alongamentos e giros equilibrados que valorizam o contato visual, mas não o
físico. Ao final, um novo cumprimento, que reforça a presença do respeito durante todo o ritual – e além dele.
Há dez anos, a capoeira recebeu o título de Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão vinculado ao Ministério da Cultura. Mas, muitos séculos
antes, ela já integrava a identidade social do Brasil. Hoje reconhecida mundialmente e até considerada
um esporte profissional, essa prática foi criada em solo brasileiro por africanos escravizados, sobretudo
de origem angolana, trazidos ao país em meados do século XVII para trabalhar nas lavouras de cana-
-de-açúcar, nas fazendas de café ou na casa de seus senhores.
Na época, os movimentos de luta eram utilizados para a defesa física, por isso passaram a ser considerados
pelos senhores de escravos uma atividade perigosa – principalmente para eles próprios. Assim, durante anos,
entre os séculos XIX e XX, a capoeira foi proibida por lei, mas, em nenhum momento, os escravos deixaram
de praticá-la. Nesse contexto, a luta simbolizava a não aceitação da condição de escravo e a importância de
manter vivas a cultura e a identidade do povo negro.
Do mesmo modo, atualmente, luta-se para perpetuar a cultura africana, negra, dos descendentes de
grande parte dos brasileiros. Assim, a capoeira assume um significado atemporal: resistência. Em 3 agosto,
comemora-se o dia desse personagem importante da história brasileira, o capoeirista. Defensor de suas
raízes, ele é exemplo, para o cidadão de qualquer tempo, de que não devemos aceitar qualquer tipo de
dominação, seja ela social, econômica ou política.

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Mosaico • A G E N D A •
bluefern/iStockphoto.com

ARTE

Cultural
Histórias afro-atlânticas
Até 21 de outubro de 2018
ONDE: Masp, São Paulo (SP).
A exposição apresenta uma seleção de 450 tra-
balhos de 214 artistas. Tudo gira em torno dos
“fluxos e refluxos” entre a África, a América e
a Europa. As obras datam dos séculos XVI a
XXI, em uma mostra sem ordem cronológica ou
O AMOR E A PAZ PREGADOS POR “MADIBA” geográfica.
Há 100 anos nascia o ícone da luta contra o apartheid, regime de
INFO: <https://masp.org.br/exposicoes/historias-
segregação racial adotado na África do Sul entre os anos de 1948 afro-atlanticas>.
e 1994. Nelson Mandela, detentor do Prêmio Nobel da Paz, é
lembrado, aclamado e homenageado como símbolo de uma CONGRESSO
luta que ainda persiste, mesmo que de forma velada, em toda Copene – Congresso Brasileiro de Pesquisadores
parte do mundo: a luta dos negros – e de pessoas discrimi- Negros
nadas devido à sua etnia – pela igualdade de direitos. De 12 a 17 de outubro de 2018
Primeiro presidente negro da África do Sul, Mandela
ONDE: UFU, Uberlândia (MG).
foi preso político por 27 anos e inspirou, além de vidas, O X Copene tem o objetivo de divulgar e promover
filmes e livros. Um exemplo conhecido é o longa Invictus, a produção científica de pesquisadores negros e
que mostra o presidente recém-eleito que vê, na Copa estudiosos de temas que envolvam a população
do Mundo de Rúgbi, uma oportunidade de unir a negra. Será uma oportunidade para debater o
população, ainda dividida entre brancos e negros logo racismo, conhecer a cultura quilombola e discutir
após o fim do apartheid. No mundo das letras, o universo a promoção da igualdade racial no Brasil. As
de Mandela é retratado em sua autobiografia Um inscrições para os minicursos e oficinas vão até o
longo caminho para a liberdade, cujo filme homônimo dia 30 de setembro.
foi lançado em 2013. Em uma cela diminuta, Mandela INFO: <www.copene2018.eventos.dype.com.br>.
sonhava com a paz, mesmo que através de uma janela
PATRIMÔNIO
de apenas 30 centímetros e separado da família.
Museu Afro Brasil
Dizia ele que “as pessoas são ensinadas a odiar e,
Permanente
se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar,
porque o amor é algo mais natural para o coração humano ONDE: Parque Ibirapuera, São Paulo (SP).
do que seu oposto”. Frases como essa inspiraram a cultura, Patrimônio, identidade e cultura brasileira
são celebrados no museu. São mais de 6 mil
o teatro e a música, dentro e fora da África do Sul. Como na
obras, entre pinturas, gravuras, esculturas, fotos,
canção Ordinary love, do grupo irlandês U2, que diz entre suas documentos e artigos etnológicos à disposição
estrofes, na tradução para o português, que “nós não podemos dos visitantes. Autores brasileiros e estrangeiros
ir além se não conseguirmos sentir o amor comum”. E é nessa produziram o acervo, com peças do século XV
simplicidade pregada por Mandela que pode estar o caminho para uma até a atualidade. Aproveite para conferir também
atitude inerente e comum ao ser humano: a aceitação de seu semelhante, o acervo digital do museu.
sem preconceitos ou barreiras. INFO: <www.museuafrobrasil.org.br>.

Olhos azuis. Direção: Bertram Verhaag, Chimamanda Ngozi Adichie. No seu Seven seconds. Direção: Veena Sud,
EUA, 1996. pescoço. Júlia Romeu (Trad.) São Paulo: EUA, 2018.
O documentário mostra, de forma Cia das Letras, 2017. A minissérie de drama criminal aborda
inusitada, o preconceito vivenciado pelos Imigração, desigualdade racial, conflitos preconceitos e leva a reflexões sobre como
negros norte-americanos. A professora e religiosos e relações familiares são o negro é tratado nos Estados Unidos. A
personagem principal do filme, Jane Elliot, cenários para os 12 contos que compõem trama é iniciada com o atropelamento de
elabora uma espécie de workshop com o livro. A escritora nigeriana, que tem um jovem negro por um policial branco que
30 pessoas, separando-as entre as que têm como característica principal a militância o abandona na neve. A sucessão de atos
olhos castanhos e as brancas de olhos azuis em favor da igualdade de gêneros e discriminatórios envolvendo a família do
– as quais acabam segregadas. O resultado de etnias, retrata homens e mulheres rapaz, além da impunidade, torna o enredo
é uma surpreendente maneira de sentir algo como protagonistas de questionamentos envolvente, em uma série digna de maratona.
que pode faltar entre a sociedade: a empatia. cotidianos, como o machismo e o racismo.

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Um velho conhecido
EXTRA! Nessa semana, um velho conhecido meu resolveu aparecer. E o engraçado é que
eu estou em uma fase tão gostosa da vida, me desprendendo de tantas coisas e
valorizando tantas outras, que nem notei a presença dele. Mas pelo fato de, naquele
momento, eu não ter percebido a sua chegada, ele supôs que eu pudesse aceitá-lo
ou, simplesmente, fingir que ele não estivesse ali. Era uma suposição errada, pois eu
jamais iria ignorar a existência dele.
A forma escolhida por ele para se reaproximar de mim e da minha família foi
Arquivo pessoal/
Carla Vieira Cardoso Egidio

por meio de minha filha, de quatro anos. De maneira desrespeitosa e sem pudor
algum, ele foi atrás dela na escola, ambiente pelo qual tenho profundo respeito
e que conheço bem, por atuar na área de Educação. Mesmo sabendo que, em
pleno século XXI, não estamos mais tolerando a sua presença em nenhum espaço
de nossa sociedade, ele bateu na porta, insistiu e conseguiu entrar com aquele ar
nojento de sempre, que me causa ânsia...
Sem disfarçar, esse velho conhecido aproximou-se da minha filha para
Por Carla Vieira Cardoso Egidio

humilhá-la e ofendê-la diante das outras crianças e dos professores. Pois é, acredite,
ele fez isso com uma criança, sem nenhum motivo aparente e a troco de nada,
não se preocupando com o desconforto daquela situação nem com os danos que
aquele momento poderia ocasionar ao futuro de uma menina.
Embora eu já conhecesse a sua fama, ele já não me colocava tanto medo. Eu
aprendi a lidar com ele e com as diversas situações nas quais estava presente.
Sim, fui aprendendo... Em um processo doloroso que foi sendo construído desde
a minha infância até a fase adulta. Ressalto, porém, que aprender a lidar é diferente
de aceitar. Em casa, meu marido e eu sempre comentávamos sobre ele. A ideia era
preparar nossas filhas para a sua chegada e orientá-las sobre qual seria a melhor
maneira de encará-lo, porque, no fundo, eu já sabia que ele viria.
Confesso que, em alguns momentos, cheguei a “acreditar” que os tempos
haviam mudado e que o ser humano estaria, sim, evoluindo, já que temos acesso
a tantas informações que nos tornam pessoas mais conscientes, reflexivas e
empáticas. Buscava justificativas que me convencessem de que, depois de tantos
anos, a chegada dele poderia ser diferente, menos agressiva ou, melhor ainda, que
ele pudesse nem aparecer. Por causa disso, acabei crendo que estava relativamente
preparada, com tudo sob controle para lidar com ele.
Mas eis que eu, tão forte, tão mulher, tão mãe, ao saber dessa visita não me
reconheci. Fiquei sem saber o que fazer, mas precisava agir. Como proceder diante
dele, que estava ali tão grande diante de uma pequena criança? Eu precisava apoiá-
-la, mas fiquei mexida com aquela situação; me senti fraca. Corri para o banheiro,
tranquei a porta, encostei minhas costas naquele azulejo gelado, deixei meu
corpo cair lentamente até o chão e chorei... De-ses-pe-ra-da-men-te chorei. Que
sentimento horrível! Era um misto de tristeza, raiva, revolta e impotência.
Depois de alguns longos minutos, consegui me reerguer e me olhar no espelho.
Lembrei-me de onde eu vim e quem eu sou. Pronto! Era isso. Não teria outro
caminho a não ser encará-lo “pleonasticamente” de frente. E lá fui eu... com sangue
nos olhos, mas com amor no coração.
Estava, naquele momento, apresentando meu velho conhecido a ela: filha, este
é o racismo.

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