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Paredes divisórias: Passado, presente e futuro, P.B. Lourenço et al. (eds.

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CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL: O NOVO PARADIGMA


DO SETOR DA CONSTRUÇÃO

Luís BRAGANÇA Ricardo MATEUS


Professor Associado Professor Auxiliar
Universidade do Minho, Guimarães Universidade do Minho, Guimarães

Margarida GOUVEIA
Bolseira de Investigação
Universidade do Minho, Guimarães

SUMÁRIO
A sustentabilidade tem sido um dos objetivos da sociedade e visa garantir a satisfação das
gerações presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazer as suas
necessidades. Apesar de se assumir como um dos sectores económicos mais importantes na
Europa, a indústria da construção continua, contudo, a utilizar métodos de construção
tradicionais e mão-de-obra não qualificada, caracterizando-se pelo consumo excessivo de
matérias-primas, de recursos energéticos não renováveis e pela excessiva produção de resíduos.
Ao longo deste trabalho serão apresentadas e discutidas algumas soluções técnicas que, ao
serem aplicadas, desde as fases mais preliminares do projeto de uma operação de construção ou
de reabilitação, permitem melhorar o desempenho da mesma ao nível das três dimensões do
desenvolvimento sustentável: ambiente, sociedade e economia.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, a indústria da construção é uma das ações humanas que mais desafios coloca à
definição de uma relação harmoniosa e equilibrada, entre o Homem e o meio ambiente. Devido
à crescente consciência dos efeitos do atual modelo de desenvolvimento nas alterações
Construção sustentável: o novo paradigma do sector da construção 68

climáticas e ao crescente movimento internacional para a promoção de construções de elevado


desempenho/sustentáveis, assiste-se cada vez mais a uma mudança de paradigma, tanto na
natureza do meio construído, como no modo como se planeia, projeta, constrói, opera, mantém
e reabilita o mesmo. Esta nova abordagem diverge da prática atual ao nível de certos aspetos,
sendo de destacar os seguintes: seleção das equipas de projeto com base nas suas competências
ao nível da eco-eficiência e construção sustentável; maior integração entre os membros da
equipa de projeto e outros decisores; maior atenção ao comportamento global das construções
em detrimento da análise isolada do desempenho dos seus sistemas; elevada ênfase nas
consequências ambientais relacionadas com o ciclo de vida de uma construção e sua mitigação;
consideração de aspetos relacionados com a saúde dos trabalhadores da construção e com a
saúde e conforto dos seus utilizadores durante as diversas fases do ciclo de vida; avaliação do
impacte de todas as decisões no comportamento do ciclo de vida das construções em termos
ambientais, sociais e económicos; redução do consumo de energia, água e de outros recursos
durante a totalidade do ciclo de vida e prioridade na redução dos resíduos da construção e
demolição (RC&D) [1].
É neste contexto que nasce a necessidade de desenvolver processos, metodologias e operações
de construção que reduzam significativamente os problemas de cariz ambiental e energético,
associados ao sector da construção civil, procurando uma construção eficiente, com impacte
mínimo no meio envolvente. A esta nova corrente de ações atribuiu-se a denominação de
Construção Sustentável [2].

1.1. O conceito “Construção Sustentável”

A primeira definição conhecida do conceito de Construção Sustentável surgiu em 1994, na


Conferência Internacional sobre Construção Sustentável, que teve lugar em Tampa, Florida. Na
altura, Charles Kibert caracterizou este conceito, como “a criação e o planeamento
responsável de um ambiente construído saudável, com base na otimização dos recursos
naturais disponíveis e em princípios ecológicos”. De forma a melhor definir o conceito e a
delimitar os principais objetivos e vantagens da Construção Sustentável, Charles Kibert, no
âmbito da mesma Conferência, apresentou um conjunto de vetores fundamentais, aos quais
chamou “Os sete princípios para a Construção Sustentável”. Esses princípios, que consideram
que a construção sustentável só pode ser atingida numa perspetiva que englobe todo o ciclo de
vida do ambiente construído, foram os seguintes:
1. Redução do consumo de recursos;
2. Reutilização dos recursos o máximo possível;
3. Reciclar os resíduos da demolição e sempre que possível utilizar materiais reciclados;
4. Proteger os sistemas naturais e o funcionamento de todas as suas atividades;
5. Eliminar todos os materiais tóxicos em todas as fases do ciclo de vida;
6. Incorporar o custo total nas decisões económicas;
7. Promover a qualidade em todas as fases do ciclo de vida do ambiente construído.
A sustentabilidade do sector da construção depende de uma mudança profunda na forma como
os recursos são utilizados: passando de energias não renováveis para energias renováveis; de
elevados níveis de produção de resíduos para elevados níveis de reutilização e reciclagem; e da
seleção de produtos baseada no custo inicial mínimo para a seleção baseada no custo total do
ciclo de vida [3]. Enquanto que na construção convencional os fatores de competitividade são o
custo, o tempo e a qualidade, na construção sustentável são incluídos fatores mais abrangentes.
Tal como se apresenta na Figura 1, na construção sustentável o objetivo passa pelo equilibro
dinâmico entre fatores ambientais (qualidade de vida e qualidade do ambiente construído),
fatores sociais (equidade social e herança social) e fatores económicos (desenvolvimento
economicamente sustentável) [4].
L. Bragança, R. Mateus, M. Gouveia 69

Figura 1: Mudança no paradigma do processo tradicional de construção para a construção


sustentável [5]

Durante a fase de projeto, a consideração de todo o ciclo de vida reveste-se de extrema


importância, na medida em que o ciclo de vida de um edifício não envolve só a fase de
construção. As fases de operação, manutenção, renovação, desconstrução ou demolição de um
edifício são também elas consumidoras de recursos e geradoras de impactes no ambiente,
sendo que a fase de projeto é a que determina o desempenho ao longo da vida do edifício [4]. É
de salientar que é na fase de projeto do edifício que os ajustes no comportamento do edifício
são executados com maior facilidade e os custos inerentes são menores. As práticas correntes
de construção sustentável são variadas, uma vez que dependem da forma como o conceito é
desenvolvido em diferentes países. A diferença entre as economias de mercado, economias de
transição e economias em desenvolvimento influenciam a sua implementação consoante as
prioridades de cada país. No entanto, independentemente das diferentes práticas existentes, a
indústria da construção terá de se adaptar ao mercado emergente da construção sustentável que
acrescenta à dimensão económica, a dimensão social e ambiental [5].
Dentro do novo paradigma que é a construção sustentável, as estratégias emergentes que
suportam a integração e inter-relação entre as dimensões do desenvolvimento sustentável são
[6]:
• Criar um ambiente construído saudável;
• Melhorar a integração do ambiente construído nos sistemas ecológicos;
• Modificar a avaliação económica dos projetos;
• Evitar a necessidade de novas infra-estruturas;
• Reutilizar, reabilitar e adaptar os edifícios já existentes;
• Recuperar, reciclar e reutilizar os resíduos;
• Melhorar a eficácia e a eficiência das técnicas construtivas existentes;
• Adaptar e desenvolver as soluções construtivas tradicionais;
• Investigar e desenvolver novas soluções sustentáveis;
• Incorporar os utilizadores nos processos de decisão;
• Modelar das aspirações humanas.
Esta lista de prioridades deverá ser aplicada, através de uma abordagem que integre todas as
fases que compõem o ciclo de vida de uma construção: projeto, construção,
operação/manutenção e demolição/deposição, tal como ilustra a Figura 2.
Construção sustentável: o novo paradigma do sector da construção 70

Figura 2: Abordagem integrada e sustentável às fases do ciclo de vida de uma construção [6]

1.2. A importância do sector dos edifícios

A Indústria da Construção, nomeadamente o sector dos edifícios, é um dos sectores


económicos mais importantes na Europa. No entanto, continua a basear-se excessivamente em
métodos de construção tradicionais e mão-de-obra não qualificada, sendo caracterizada pelo
consumo excessivo de matérias-primas, de recursos energéticos não renováveis e pela
excessiva produção de resíduos. Em Portugal, a maioria dos impactes do ambiente construído
estão relacionados com o sector residencial [7], já que e apesar do clima ameno país, o sector
residencial é responsável por cerca de 17% do consumo total de energia primária [8]. Os
interesses económicos e a necessidade de se construir rapidamente colocaram de parte algumas
das boas práticas ancestrais de construção, cuja adaptação às condições climáticas locais era
uma das suas principais características. O desrespeito por estas regras implica o
sobredimensionamento e/ou recurso a soluções tecnológicas, como por exemplo, sistemas de
iluminação artificial e sistemas ativos de climatização, o que resulta no inevitável aumento dos
consumos energéticos dos edifícios. Como grande parte da energia consumida nos edifícios é
baseada em combustíveis fósseis esta realidade resulta no aumento das emissões de gases de
efeito de estufa, como por exemplo o CO2, e consequentemente no agravamento do
aquecimento global. Por esta razão é importante uma adequada gestão energética que minimize
os consumos de energia e recorra a formas de energia menos poluentes e mais económicas [9].
Adicionalmente, o sector residencial usa uma quantidade considerável de recursos hídricos,
cerca de 132 l/habitante/dia de água potável, sendo uma parte significativa utilizada nas bacias
de retrete [10].
Ao nível socioeconómico, os edifícios são o sector mais importante, não só porque cerca de
10% da economia global está relacionada com a sua construção e operação, mas também
porque influenciam significativamente a qualidade de vida e saúde dos seus ocupantes, bem
como o seu orçamento familiar. Com base em alguns estudos é de salientar o facto de nos
países desenvolvidos, as pessoas passam mais de 90% do tempo no interior dos edifícios [11].
Em Portugal, a realidade revela que a maioria dos edifícios não são sustentáveis em termos de
custos operacionais e de manutenção, nem fornecem um ambiente confortável e saudável para
os seus ocupantes [7]. A título de exemplo, refere-se o facto de 23% dos edifícios residenciais
portugueses precisarem de algum tipo de intervenção de reabilitação e de a maioria dos seus
proprietários, não apresentar capacidade financeira para os investimentos necessários [12].
L. Bragança, R. Mateus, M. Gouveia 71

2. PRÁTICAS QUE MAXIMIZAM A SUSTENTABILIDADE DOS EDIFÍCIOS

A integração de preocupações de sustentabilidade na construção de um edifício implica um


processo permanente, constituído por um conjunto de medidas diversificadas que deverão, ser
integralmente assumidas e compatibilizadas com as diferentes fases do ciclo de vida. Neste
capítulo, apresenta-se um conjunto de exemplos de práticas consideradas nas ferramentas de
avaliação e reconhecimento da sustentabilidade da construção que maximizam a
sustentabilidade nos edifícios. As medidas encontram-se subdivididas em quatro secções:
consumo de energia, consumo de água, consumo de materiais e produção de resíduos.

2.1. Consumo de energia

O sector dos edifícios, pela sua expressão numérica, é aquele que, dentro da indústria da
construção, é responsável por grande parte dos consumos energéticos. Nos últimos anos, o
aumento do nível de vida das famílias portuguesas, tem também resultado no aumento das
exigências de conforto, o que conjuntamente com o elevado número de edifícios que foram
surgindo nos últimos anos, tem levado ao crescimento exponencial dos consumos energéticos
[13]. De modo a apoiar a definição de políticas e prioridades a adotar no projeto importa
conhecer de que modo os consumos energéticos se repartem nos edifícios, apresentando-se na
Figura 3.a esse contexto para os edifícios de habitação. Entre os anos 2000 e 2009, apesar do
esforço regulamentar com vista à diminuição do consumo energético nos edifícios, verificou-se
um aumento de cerca de 11% no consumo de energia neste sector (Figura 3.b).

Figura 3: (a) repartição do consumo de energia nos edifícios residenciais [6]; (b) crescimento
do consumo de energia no sector dos edifícios nos últimos 10 anos [14]

A realidade atual mostra a importância da implementação de práticas de projeto e construtivas


que reduzam os gastos energéticos e recorram a formas de energia renováveis.

2.1.1. Edifícios solares passivos ou bioclimáticos

Num edifício, o elemento que mais influencia o consumo de energia para climatização é a sua
envolvente. Através da integração dos princípios do comportamento solar passivo na conceção
de um edifício, a equipa de projeto pretende tirar partido do clima local, de modo a melhorar o
conforto nos edifícios, reduzir ou eliminar custos energéticos nas operações de aquecimento e
arrefecimento, e reduzir a produção de gases de efeito de estufa através da diminuição do
consumo de eletricidade nos edifícios.
Assim, para cada tipo de clima, deverão ser consideradas diferentes estratégias no desenho e na
escolha das soluções construtivas a adotar na envolvente (Figura 4).
Construção sustentável: o novo paradigma do sector da construção 72

Figura 4 : Exemplos de compatibilização da arquitetura dos edifícios com o clima do local [6]

Ao nível da envolvente, a prioridade passa por se considerar na fase de conceção aspetos


relacionados com o clima do local e com a eficiência térmica [15], tendo em consideração,
entre outros: o estudo do clima do local; a geometria solar do local; o tipo de envidraçado a
aplicar nos vãos; a função do edifício; a quantidade e tipo de equipamento que será utilizado; e
a adequada resistência térmica dos elementos da envolvente.
Para além do clima, a definição da envolvente depende também da quantidade de calor
produzida nos espaços interiores pelos seus utilizadores e equipamentos. Se a quantidade de
calor produzida no interior for muito grande, serão as cargas térmicas produzidas no interior, e
não as exteriores, as que mais influenciarão os níveis de temperatura interior. O volume do
edifício, bem como a sua orientação, são outros fatores que influenciam significativamente o
comportamento e os requisitos da envolvente.
Os vãos existentes na envolvente também merecem um estudo aprofundado pois, a sua
conceção, distribuição e proporção relativamente à parte opaca, influenciam o comportamento
da envolvente. Os vãos reúnem uma série de funcionalidades: permitem o acesso físico ao
interior do edifício; as vistas para o exterior; a entrada de luz natural e/ou radiação solar para o
aquecimento do espaço interior e parte ou a totalidade da ventilação natural. As janelas têm
grande influência na utilização dos espaços interiores e na produtividade e conforto dos
ocupantes. É através de janelas pouco eficientes que se perde uma parte considerável da
energia necessária para o aquecimento e arrefecimento dos edifícios. Atuando nos tipos de
caixilharia e envidraçado é possível alterar significativamente o comportamento térmico da
envolvente.
As preocupações não devem incidir unicamente ao nível da zona corrente da envolvente, sendo
também conveniente o estudo detalhado dos diversos pormenores de construção, pois cada
material de construção transporta o calor de diferente modo. Nas zonas das fundações, consolas
de varandas, topo de vigas, pilares, juntas de dilatação, juntas de montagem, conectores, entre
outros, é possível formarem-se “caminhos” preferenciais para a transferência de calor. Estas
zonas, conhecidas por pontes térmicas, são áreas onde o isolamento térmico é inferior ao
isolamento da zona corrente da envolvente. A eficiência térmica da envolvente só será
assegurada se não forem esquecidos estes pormenores e se for realizada uma escolha criteriosa
dos materiais de isolamento a aplicar, para além do estudo da sua localização.

2.1.2. Práticas aconselhadas para a redução do consumo energético na iluminação e


eletrodomésticos

A iluminação e os eletrodomésticos são responsáveis, em média, por 25% do consumo


energético, sendo por isso necessário ter em conta uma série de aspetos de modo a diminuir os
consumos energéticos a este nível.
O consumo de eletricidade na iluminação tem vindo a aumentar substancialmente nos últimos
anos devido principalmente à construção de habitações com maiores áreas e à utilização de
maior número de pontos de luz artificial. A iluminação elétrica no interior dos edifícios pode
ser conseguida através de lâmpadas incandescentes, de halogéneo, de halogéneo de baixa
voltagem, fluorescentes tubulares, fluorescentes compactas e de tecnologia LED, com
consumos energéticos distintos para níveis finais de desempenho exatamente iguais.
Para que a solução de iluminação dos edifícios seja eficiente, sugerem-se, entre outras, as
seguintes práticas: maximizar a iluminação natural (mais eficiente e mais confortável); preferir
L. Bragança, R. Mateus, M. Gouveia 73

acabamentos de cor clara nas superfícies interiores e no mobiliário; aplicar lâmpadas com
potência adequada à iluminação necessária; compatibilizar o tipo de lâmpada com a utilização
do espaço; e utilizar interruptores “inteligentes” em certos compartimentos e em espaços
exteriores. Ao nível da iluminação natural é de destacar que as janelas não são a única solução
técnica para a captação da luz solar, podendo-se recorrer aos ductos solares, tal como ilustra a
Figura 7.

Figura 5: Princípio de funcionamento dos ductos solares [6]

Os eletrodomésticos, nomeadamente, os frigoríficos, arcas frigoríficas e as máquinas de lavar


roupa são responsáveis por uma elevada percentagem do consumo global de eletricidade nos
edifícios [6]. De modo a que na compra dos eletrodomésticos o consumidor tenha maior
informação acerca do consumo energético ao longo da sua vida, foi criada através da Diretiva
92/75/CEE do Conselho, de 22 de Setembro de 1992, a etiquetagem energética dos
eletrodomésticos. Este tipo de etiquetagem tem como fim incentivar os produtores a apostarem
na investigação, de modo a desenvolverem equipamentos mais eficientes, assim como alertar
os consumidores que para além do custo inicial, o custo de funcionamento dos equipamentos é
outra das componentes que não pode ser ignorada.

2.1.3. Práticas aconselhadas para a redução do consumo energético na produção de AQS

O aquecimento de água é responsável em Portugal por aproximadamente 50% do total de


consumos energéticos nos edifícios, contribuindo expressivamente para as emissões de CO2.
Instalando o sistema de aquecimento de água mais eficiente e apropriado, tendo em conta o
número de utilizadores e os padrões de utilização, é possível diminuir o consumo energético,
com as adjacentes vantagens de redução dos custos em energia e diminuição da emissão de
gases de efeito de estufa. A este nível é de destacar a contribuição dos sistemas solares
térmicos, que para a generalidade das zonas climáticas do país permite poupar mais de 50%
dos custos anuais com a preparação de AQS.

2.1.4. Sistemas de produção doméstica de eletricidade a partir de fontes renováveis

O consumo de energia elétrica convencional nos edifícios pode ainda ser reduzido se se
aplicarem sistemas que permitam a produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis.
Este tipo de sistemas utiliza fontes de energia renovável, como o sol, o vento, e a água, para
produzirem eletricidade com baixa/nula emissão de gases de efeito de estufa. Dado que o
rendimento destes sistemas está intimamente relacionado com as condições climatéricas, é
necessário prever a instalação de sistemas auxiliares que garantam o fornecimento de
eletricidade independentemente das condições climatéricas, ou prever a ligação do edifício à
rede de distribuição elétrica. Saliente-se no entanto que, apesar de estarem associados a custos
de operação bastante reduzidos, os seus custos de aquisição são bastante elevados, pelo que se
deverá avaliar os custos associados à totalidade do seu ciclo de vida: custos de instalação e
operação. Por outro lado, é preciso não esquecer que o custo da energia produzida por esta via
se mantém inalterado, face ao esperado aumento acentuado das tarifas de energia elétrica. De
entre os vários tipos de sistemas para a produção doméstica de eletricidade a partir de fontes
renováveis, destacam-se os painéis solares fotovoltaicos, as micro-turbinas eólicas e os micro-
hidrogeradores (Figura 6).
Construção sustentável: o novo paradigma do sector da construção 74

Figura 6: Exemplos de sistemas que aproveitam fontes de energia renovável [6]

2.2. Consumo de água

A água tem uma influência decisiva na qualidade de vida das populações e é um recurso
indispensável à grande maioria das atividades económicas, nomeadamente à agricultura e à
indústria. A qualidade da água de abastecimento, a drenagem e o tratamento de água residuais
têm um forte impacte na saúde pública. Tendo em conta que a água é um recurso valioso e que
as reservas de água potável estão a diminuir consideravelmente, contrariamente ao consumo
que aumenta exponencialmente, é necessário tomar medidas para tornar o seu uso mais
eficiente. Existem algumas medidas que ao serem consideradas nas diversas fases do ciclo de
vida do edifício permitem minimizar o consumo de água. No entanto, é na fase de projeto que
se podem tomar as decisões que conduzem a poupanças significativas.
Atualmente a água potável é utilizada em aplicações que podem ser satisfeitas com uma água
de qualidade inferior. Um dos exemplos mais emblemáticos é a utilização de água de qualidade
alimentar nas bacias de retrete. Assim, é muito importante implementar nos edifícios sistemas
que permitam a reutilização de água residual e o aproveitamento da água da chuva, pois dessa
forma contribui-se para a diminuição do consumo desnecessário de água potável. Para além das
vantagens relacionadas com a preservação dos recursos de água potável, estas soluções
permitem ainda poupar na conta da água e contribuir para poupanças significativas nos
sistemas públicos de drenagem e tratamento de águas residuais. Por exemplo, o aproveitamento
das águas pluviais provenientes das coberturas permite o abastecimento de bacias de retrete e
de outros dispositivos de utilização sem qualquer custo de operação, quando realizadas por
gravidade.
Para além das águas residuais geradas pelas atividades domésticas e das águas pluviais, as
águas freáticas captadas pelos sistemas de drenagem do edifício também podem ser utilizadas.
Estas águas têm a vantagem de poderem ser utilizados no interior do edifício, com um nível de
tratamento bastante inferior ao que é necessário para as águas pretas e cinzentas, podendo ser
descarregadas diretamente nas bacias de retrete ou na rega dos espaços exteriores.
A Tabela 1 resume algumas medidas que, ao serem introduzidas nas diversas fases do ciclo de
vida do edifício, permitem poupar água e assim contribuir para uma maior sustentabilidade do
ambiente construído [6].
L. Bragança, R. Mateus, M. Gouveia 75

Tabela 1 – Medidas para a poupança de água


Dispositivo Medida
Autoclismo a) Preferir autoclismos de dupla descarga;
b) Colocar dentro do tanque uma garrafa de um litro ou de litro e
meio cheia de areia - solução adequada aos "antigos" autoclismos e
que pode significar uma diminuição do consumo de água neste
dispositivo em cerca de 30%;
c) Não fazer da bacia de retrete um caixote do lixo.
Chuveiros/banhos a) Utilizar chuveiros de baixo fluxo;
b) Preferir banhos de chuveiro a banhos de imersão, que para além de
se poupar água ainda têm a vantagem de não consumirem tanta
energia no aquecimento da água.
Eletrodomésticos a) Escolher eletrodomésticos com baixo consumo de água;
b) Iniciar, sempre que possível, o ciclo de lavagem apenas quando as
máquinas de roupa ou de loiça estiverem completamente cheias.
Piscina a) Cobrir a piscina, o que possibilita reduzir até 90% a perda de água
por efeito de evaporação;
Torneiras a) Preferir torneiras de baixo fluxo e com filtro arejador, em
detrimento das torneiras de elevado caudal;
b) Utilizar torneiras com temporizador em espaços públicos;
c) Evitar deixar as torneiras a correr quando o seu uso é
desnecessário;
d) Reparar as torneiras com fugas.

2.3. Seleção de materiais

A indústria da construção é um dos maiores consumidores de recursos naturais (bióticos e


abióticos), tendo por isso grande responsabilidade na delapidação dos mesmos e, por
conseguinte, na degradação do meio ambiente. A construção de edifícios é atualmente
responsável pelo consumo de 25% da madeira e 40% dos agregados (pedra, brita e areia), que
se verifica em todo o mundo [16].
Por estas razões, é na fase de projeto que deverão ser tomadas as decisões que tenderão a
mitigar os impactes produzidos na utilização dos materiais na construção. Assim, a equipa de
projeto, deverá adotar uma série de princípios na seleção dos materiais que vai utilizar nas suas
construções. Para além dos critérios arquitetónicos comuns, a seleção deverá ainda
compreender os seguintes critérios [6]:
• Selecionar materiais com baixa energia incorporada;
• Utilizar materiais certificados;
• Maximizar a utilização de materiais com elevado potencial de reutilização e reciclagem;
• Minimizar a toxicidade do material para os seres humanos e ecossistemas.

2.3.1. Energia incorporada no material

A energia incorporada nos materiais corresponde à quantidade de energia necessária à sua


produção, transporte, aplicação na obra, manutenção e demolição. Esta energia pode variar
entre 6 a 20% da quantidade total de energia consumida durante a vida útil de um edifício,
dependendo, entre outros fatores, dos sistemas construtivos utilizados, do número de
utilizadores do edifício, do grau de conforto exigido pelos ocupantes e do clima do local [17].
Como o consumo de energia está diretamente relacionado com impactes ambientais, quanto
menor for a energia incorporada nos materiais utilizados num edifício, menores serão os
impactes ambientais associados ao ciclo de vida de um edifício.
Construção sustentável: o novo paradigma do sector da construção 76

De forma a se reduzir a energia incorporada nos edifícios através dos materiais de construção,
deverão ser observados, entre outros, os seguintes critérios na sua seleção [6]:
• Preferir produtos locais;
• Utilizar materiais com elevado potencial de reutilização e/ou grande durabilidade;
• Utilizar materiais/sistemas de construção de baixa massa.

2.3.2. Recurso a materiais certificados

Segundo a Organização Internacional para a Normalização (ISO), um rótulo ecológico tem


como principais objetivos encorajar a procura e a oferta de produtos que causem menores
impactes no ambiente ao longo do seu ciclo de vida, através da comunicação da informação
verificável e fiável, não enganosa, acerca dos aspetos ambientais de produtos e serviços.
Os rótulos ou selos ecológicos fazem cada vez mais sentido, quanto mais atuais são os
conceitos de consumo responsável e consumo sustentável. Na base de ambos os conceitos está
associado o crescimento de uma ética de consumo, isto é, uma escolha de produtos tendo por
base não apenas o preço, mas também as questões sociais e ambientais associadas ao mesmo.
Os rótulos ambientais, tendo por base a normalização existente, podem ser de três tipos:
• Tipo I – Rótulos ecológicos – associados à minimização dos impactes ambientais ao
longo do ciclo de vida do produto;
• Tipo II ou alegações ambientais autodeclaradas – associados à alegação de aspetos
ambientais de um produto, sem se recorrer a critérios validados e a uma verificação por
um entidade independente, pelo que o seu nível de transparência e credibilidade é menor
do que os outros dois tipos;
• Tipo III ou declarações ambientais do produto (EPDs) – associados à quantificação dos
impactes ambientais do produto ao longo do seu ciclo de vida.
Existem vários rótulos como por exemplo o Der Blau Engel (Alemanha), o Nordic Swan
(Finlândia, Suécia, Dinamarca, Noruega), o NF Environment (França), Green Seal (EUA) e
Eco-Mark (Japão). O único rótulo ecológico existente para toda a Europa é o Rótulo Ecológico
Europeu (Regulamento CEE 880/92 de 23 de Março, revisto pelo Regulamento (CE)
1980/2000 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Julho de 2000), também aplicado
na Noruega, Liechtenstein e Islândia. Os rótulos ecológicos são um importante instrumento de
apoio à decisão, nomeadamente quando se está na presença de materiais e produtos que são
equivalentes sob o ponto de vista técnico-funcional, mas diferem no que respeita ao impacte
ambiental.

2.3.3. Potencial de reutilização e reciclagem

A seleção dos materiais deve basear-se ainda no seu potencial de reutilização e reciclagem.
Depois de o material completar o seu ciclo de vida inicial, apresenta um determinado potencial
de reutilização e reciclagem, que varia em função da sua capacidade de vir a ser utilizado
novamente como recurso. O nível atual de desenvolvimento tecnológico permite que a maior
parte dos materiais de construção possa ser reciclada e integrada num novo ciclo de vida. As
vantagens ambientais e económicas associadas ao processo de reciclagem varia de material
para material e depende sobretudo da intensidade energética associada aos processos de
reciclagem.
Os resíduos metálicos são recicláveis se for possível separá-los por tipo. Os elementos de
construção em aço e em alumínio possuem elevado potencial de reciclagem. Com a atual
tecnologia de reciclagem do aço é possível reduzir entre 50% a 70% o consumo energético e
emissão de gases poluentes na sua produção [18]. O alumínio é também 100% reciclável e com
a sua reciclagem é possível diminuir a energia incorporada e a emissão de gases poluentes em
cerca de 90% [18]. A maior parte dos plásticos podem ser granulados e reciclados na produção
de novos produtos de plástico. No entanto, as taxas atuais de reciclagem são bastante baixas.
Esta situação deve-se principalmente à elevada variedade de plásticos e à dificuldade que
existe em os separar. Os produtos de vidro podem ser reciclados se devidamente separados e
L. Bragança, R. Mateus, M. Gouveia 77

não contaminados. O vidro pode ser diretamente reutilizado ou reciclado, por exemplo, como
agregado, depois de granulado, para a execução do betão. Com a reciclagem do vidro é
possível reduzir a sua energia incorporada em 20% [15]. O betão e os produtos cerâmicos são
exemplos de materiais cuja recuperação e reutilização é difícil. Os elementos em betão, tal
como os produtos cerâmicos, depois de britados podem ser reciclados em agregados para o
fabrico de betão, ou podem ser utilizados na execução de caixas de pavimento em pisos térreos
ou nas bases de estradas.
As estruturas em madeira e metálicas são exemplos de elementos construtivos que poderão ser
reutilizados num novo ciclo de vida, caso o seu estado de conservação o permita.
Na fase de projeto, existe uma série de prioridades que deverão ser consideradas pelos
projetistas de modo a maximizar o potencial de reciclagem e de reutilização dos
materiais/elementos construtivos prescritos para um edifício, destacando-se as seguintes [6]:
evitar a utilização de materiais compósitos que não podem ser separados; evitar ligações
inseparáveis entre os diversos elementos de construção e projetar os edifícios prevendo o seu
futuro desmantelamento e não apenas a sua demolição.

2.3.4. Toxicidade dos materiais

A toxidade de um material expressa os efeitos nocivos que este pode infligir no ser humano e
no ecossistema que o rodeia. Cada material, produto ou componente a utilizar num edifício
deve ser devidamente analisado, em especial as suas especificações técnicas e o seu processo
de fabrico, com vista à identificação de compostos químicos que sejam tóxicos.
A fraca qualidade do ar no interior dos edifícios é causada por fontes interiores e exteriores de
emissões gasosas e partículas sólidas e surge quando a produção destes elementos excede a
capacidade dos sistemas de ventilação e filtragem em diluir ou remover esses poluentes até a
um nível aceitável. Apesar da maioria dos poluentes ter origem no exterior e nas atividades que
se desenvolvem no interior pelos ocupantes e equipamentos, existem outros poluentes emitidos
a partir dos materiais que podem influenciar significativamente a qualidade do ar interior. A
exposição aos poluentes interiores coloca sérios riscos à saúde dos ocupantes. Existem uma
série de doenças e sintomas que poderão estar relacionados com a qualidade do ar interior,
como por exemplo, as dores de cabeça, cansaço, tosse, irritação do nariz dos olhos e garganta,
a asma e até o cancro.
Dois dos principais poluentes libertados para o ambiente interior pelos materiais utilizados no
revestimento das superfícies interiores são os compostos orgânicos (COV) e o formaldeído
[19]. A emissão de compostos orgânicos voláteis está normalmente associada à utilização de
tintas e vernizes com diluentes tóxicos como, por exemplo: o benzeno, o xileno e o tolueno. O
formaldeído é normalmente libertado pelos produtos derivados da madeira, pois é vulgarmente
utilizado na aglomeração e preservação das partículas de madeira.
É da responsabilidade dos projetistas a seleção de materiais de baixa toxidade, de modo a evitar
que a sua utilização afete a saúde e produtividade dos habitantes de um edifício e das pessoas
responsáveis pela construção e manutenção do mesmo. Para o efeito deverão ser observados,
entre outros, os seguintes princípios [6]:
• Selecionar tintas com base de látex e sem chumbo, em vez de tintas de óleo com diluentes
tóxicos como o benzeno, xileno e tolueno;
• Preferir, sempre que possível, madeiras no seu estado natural aos aglomerados de madeira
e/ou optar por derivados de madeira com baixa emissão de formaldeído (nível E1);
• Optar por materiais e sistemas que não apresentem clorofluocarbonetos (CFC) e
hidroclorofluocarbonetos (HCFC), pois cerca de 50% dos clorofluocarbonetos produzidos
são utilizados na construção;
• Assegurar que no edifício não é utilizado ou não se encontre presente amianto ou
qualquer outro material que o contenha.
Construção sustentável: o novo paradigma do sector da construção 78

2.4. Produção de resíduos

Os resíduos resultantes da indústria da construção constituem uma parte significativa do total


de resíduos produzidos, sendo por isso importante o seu estudo. Atualmente, no contexto
Europeu, a construção é responsável, em média, pela produção de 30% do total de resíduos
produzidos. Em Portugal, não existem estatísticas credíveis a este nível, mas tendo em
consideração a forte presença da indústria da construção nos últimos anos e o seu baixo grau de
industrialização, este valor deverá ser muito maior.
Entende-se por Resíduos de Construção e Demolição (RCD) todos os resíduos provenientes de
construções, demolições, reabilitações, estruturas, pavimentos e restos de limpeza de terrenos
ou escavações de solo, sendo na sua maioria constituídos por argamassas, alvenarias, betão
armado, vidros, madeiras, podendo ainda incluir quantidades de resíduos perigosos, como o
amianto e as resinas.
A melhor maneira de lidar com os resíduos da construção é em primeiro lugar evitá-los. Depois
deve-se tentar reciclar a maior quantidade possível. A incineração e a deposição dos resíduos
em lixeiras e aterros sanitários devem ser evitadas.
A quantidade de RCD e a sua eventual reutilização ou reciclagem dependem
fundamentalmente do tipo de materiais e técnicas de construção/demolição utilizados, para
além da organização da empresa de construção, das especificações do projeto e da qualificação
da mão-de-obra. É durante a fase de conceção, que os intervenientes no projeto, devem
assegurar a utilização de materiais, processos e tecnologias construtivas (por exemplo com
dimensões padronizadas) que minimizem a produção de resíduos e garantam a reciclagem ou a
futura reutilização dos resíduos resultantes da demolição/desmantelamento. Para isso deverão
ser assegurados, entre outros, os princípios enumerados anteriormente que maximizam o
potencial de reutilização e reciclagem dos materiais e componentes de construção de um
edifício.

3. CONTRIBUTO DAS FERRAMENTAS DE APOIO À CONCEPÇÃO, AVALIAÇÃO


E CERTIFICAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DOS EDIFÍCIOS

Atualmente é possível encontrar no mercado alguns produtos, soluções e edifícios que se


autointitulam mais sustentáveis do que os convencionais. No entanto, alguns deles podem na
verdade não apresentar quaisquer vantagens relativamente às soluções convencionais, pelo que
o rótulo “sustentável” é utilizado numa tentativa de potenciar o aumento de vendas. É,
portanto, fundamental proceder-se se à avaliação da sustentabilidade das construções ou das
soluções construtivas de modo a identificar aquelas que realmente potenciam um futuro mais
sustentável para a construção. Neste sentido, com a crescente preocupação em, por um lado,
introduzir o conceito de sustentabilidade na construção e, por outro, reconhecer o esforço das
equipas de projecto no desenvolvimento de soluções mais sustentáveis, têm sido desenvolvidos
diversos sistemas que permitem reconhecer e avaliar o desempenho dos edifícios, e em
particular o seu desempenho ambiental. Um passo importante no desenvolvimento destes
sistemas foi a introdução de certificações que permitem classificar o desempenho de um
edifício e, ao mesmo tempo, criar mecanismos de demonstração desse desempenho e de
melhoria contínua do mesmo. Os sistemas e ferramentas de avaliação e reconhecimento da
construção sustentável têm como objetivo garantir a sustentabilidade dos edifícios durante a
totalidade do seu ciclo de vida, promovendo e tornando possível uma melhor integração entre
os parâmetros ambientais, sociais, funcionais, económicos e outros critérios convencionais.
Durante a fase de conceção, estes sistemas são relevantes por permitirem reunir e reportar
informação para suportar as tomadas de decisão no sentido da integração da sustentabilidade
nos projetos. Atualmente, já existe uma série de sistemas no mercado, quer à escala
internacional como nacional, destacando-se de seguida a contribuição do sistema SBToolPT
para a promoção da sustentabilidade do ambiente construído em Portugal.
L. Bragança, R. Mateus, M. Gouveia 79

3.1. O sistema SBToolPT

O SBToolPT é um sistema voluntário que tem como principal objetivo apoiar os projetistas,
desde a fases mais preliminares de projeto, no desenvolvimento de um ambiente construído
mais sustentável. Por outro lado, permite a avaliação e certificação da sustentabilidade de
edifícios, novos e renovados, situados principalmente em zonas urbanas. Adicionalmente, a
metodologia foi pensada de modo a consciencializar os diversos decisores no mercado da
construção português no sentido da adoção de soluções que conduzam ao desenvolvimento de
edifícios mais sustentáveis. A procura de um ambiente construído mais sustentável assenta no
desenvolvimento de novas construções, na reabilitação de construções existentes e na criação
de áreas urbanas em que se maximiza o seu desempenho ao nível de cada um dos pilares do
Desenvolvimento Sustentável: Ambiente, Sociedade e Economia. Adicionalmente, este sistema
pode ainda ser utilizado para certificar o nível de sustentabilidade através da marca portuguesa
SBToolPT – Sistema de Avaliação e Certificação da Sustentabilidade do Ambiente Construído.
Esta abordagem tem por base a estrutura do sistema internacional de avaliação da
sustentabilidade SBTool (Sustainable Building Tool). O SBTool é um sistema internacional,
voluntário, de avaliação e reconhecimento da sustentabilidade de edifícios, tendo sido
desenvolvido pela associação sem fins lucrativos iiSBE (International Initiative for a
Sustainable Built Environment) e é o resultado da colaboração em consórcio de equipas de
mais de 20 países. O SBToolPT foi adaptado à realidade portuguesa pela representação nacional
da iiSBE (Associação iiSBE Portugal), em colaboração com o Laboratório de Física e
Tecnologia das Construções da Universidade do Minho (LFTC-UM) e a empresa do sector
privado EcoChoice. A sua adaptação foi acompanhada pela iiSBE Internacional e actualmente
existem abordagens semelhantes na Espanha, Itália e Republica Checa.
O sistema encontra-se baseado num Guia de Avaliação e assenta num conjunto de 25
indicadores e 9 categorias que resumem o comportamento de um projeto em relação a alguns
aspetos-chave da sustentabilidade (Figura 7) [20]. A sua estrutura permite avaliar e certificar o
comportamento de um projeto em relação a dois níveis de referência (adaptados ao contexto
nacional): melhor prática e prática convencional [20].

CATEGORIAS EM AVALIAÇÃO

Ambiente Sociedade Economia

C1) Alterações climáticas e C6) Conforto e saúde dos C9) Custos de ciclo de vida.
qualidade do ar exterior; ocupantes;

C2) Uso do solo e biodiversidade; C7) Acessibilidade;

C3) Energia; C8) Sensibilização e educação para a


sustentabilidade.
C4) Utilização de materiais e
resíduos sólidos;

C5) Utilização de água e efluentes.

Figura 7 : Dimensões e categorias do sistema SBToolPT.


Construção sustentável: o novo paradigma do sector da construção 80

Figura 8: (a) rótulo utilizado na comunicação do nível de sustentabilidade global através do


sistema SBToolPT; (b) Certificado utilizado para comunicar a sustentabilidade de um edifício
avaliado através da metodologia SBToolPT.

4. CONCLUSÕES

A construção, nomeadamente o sector dos edifícios, apresenta elevado impacte nas três
dimensões do Desenvolvimento Sustentável: ambiente, sociedade e economia. Com a
construção sustentável pretende-se que a conceção, construção e utilização dos edifícios
assente na maximização do desempenho dos mesmos ao nível de cada uma das dimensões.
Tal como apresentado neste trabalho, atualmente já existe no mercado uma série de soluções
técnicas que permitem satisfazer as expectativas dos ocupantes dos edifícios, a um nível
mínimo de impacte ambiental e de custos de ciclo de vida. As ferramentas de avaliação e de
reconhecimento da sustentabilidade permitem suportar e reconhecer o esforço das equipas de
projeto no sentido de desenvolvimento de um ambiente construído mais sustentável. No
entanto, e apesar dos esforços recentes e crescentes no sentido da sua promoção, a
sustentabilidade ainda é uma preocupação menor no domínio da construção nacional, pois não
é aplicada na generalidade dos projetos. Uma das soluções para corrigir esta realidade passa
por informar os diversos intervenientes na construção, nomeadamente os clientes, das
vantagens individuais e coletivas associadas a este conceito, salientando principalmente a
contribuição da sustentabilidade para a diminuição dos encargos relacionados com a operação e
manutenção de um edifício. Para ser competitivo, o mercado da construção nacional terá de
evoluir no sentido da incorporação destes princípios, tal como já aconteceu em alguns países
mais desenvolvidos onde a sustentabilidade é uma mais-valia num mercado da construção
extremamente concorrencial. Em suma, o estado atual do mercado da construção e a crescente
evidência das ações infligidas pelo homem no meio ambiente tornam urgente uma mudança de
paradigma no modo como se desenvolve, utiliza e mantém o meio construído.

5. REFERÊNCIAS

[1] Kibert, C. J. 2005. – “Sustainable construction: green building design and delivery”,
John Wiley & Sons, New Jersey, United States of America
[2] Bragança, L. – “Avaliação da Sustentabilidade de Edifícios”, Seminário Green It,
INETI, Lisboa, 2008.
[3] Kibert, C. J., Sendzimir, J., & Bradley, G. - “Construction Ecology: Nature as the Basis
for Green Buildings”, Taylor and Francis, 2002.
L. Bragança, R. Mateus, M. Gouveia 81

[4] Vanegas, J., DuBose, J., & Pearce, A. - “Sustainable Technologies for the Building
Construction Industry”, Proceedings, Symposium on Design for the Global
Environment, 1995.
[5] Bourdeau, L., Houvilla, P., Lating, R. and Gilham, A. - “Sustainable Development and
the Future of Construction: A comparison of visions from various countries”, CIB
Publications, 32 p. Rotterdam, Holland, 1998.
[6] Mateus, R., Bragança, L. – “Tecnologias Construtivas para a Sustentabilidade da
Construção”. Porto: Edições Ecopy, 2006. ISBN 978-989-95194-1-1. 296 p.
[7] Mateus, R. - Avaliação da Sustentabilidade da construção: Propostas para o
desenvolvimento de edifícios mais sustentáveis. Tese de Doutoramento, Departamento
de Engenharia Civil, Universidade do Minho. Guimarães, 2009.
[8] DGGE. 2005. Caracterização Energética Nacional. Direcção Geral de Geologia e
Energia, Informação disponível em www.dgge.pt a 12/11/2007.
[9] Farinha, F., Rocheta, V. – “Práticas de projeto e construtivas para a construção
sustentável”. Congresso Construção 2007, FCTUC, Coimbra, Dezembro, 2007.
[10] INAG 2004. Inventário Nacional de Sistemas de Abastecimento de Água – Versão
Preliminar. Instituto da Água, 150p.
[11] Roodman, D. M., Lessen, N. 2005. A Building Revolution: how ecology and health
concerns are transforming construction. Worldwatch Paper, 124, 67p.
[12] INE 2001. Recenseamento Geral da Habitação – Censos 2001. Instituto Nacional de
Estatística.
[13] Gonçalves, H., Joyce, A., Silva, L. – Fórum energias renováveis em Portugal – “uma
contribuição para os objetivos da política energética e ambiental”, ADENE/INETI,
Lisboa, Dezembro, 2002.
[14] DGEG– “Estatísticas e preços – balanço energético nacional”. 2011.
[15] AGO – “Design for lifestyle and the future: Technical Manual. Australian Greenhouse
Office”, Australian Government, Australia, 2003.
[16] Ngowi, Al. B. – “Competing with environmental friendly construction practices”,
Technical Article; Cost Engineering - The International Journal of Cost Estimation,
Cost/Schedule Control, and Project Management; AACEI, 2000.
[17] Berge, B. – “Ecology of building materials”, Architectural Press, England, 2000.
[18] Tshudy, J. A. – “Materials and specifications.” In Sustainable Building Technical
Manual – Green Building Design, Construction, and Operation. Public Technologies,
Inc, USA, 1996.
[19] Bernheim, A. – “Indoor air quality.” In Sustainable Building Technical Manual – Green
Building Design, Construction, and Operation, Public Technologies, Inc, USA, 1996.
[20] Mateus R. Bragança L. - Sustainability assessment and rating of buildings: developing
the methodology SBToolPT-H, Building and Environment (2011),
doi:10.1016/j.buildenv.2011.04.023.
Construção sustentável: o novo paradigma do sector da construção 82

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