A presença da morte e o sentimento de culpa

A Europa passava por um período de grande angustia coletiva. A guerra dos cem anos,
a peste negra, a loucura de Carlos VI, a guerra das duas rosas, a ameaça turca, as
inúmeras crises...

Os indivíduos dessa sociedade se sentiam culpados e tinham a consciência pecada pois

só o acumulo de pecados dessa sociedade poderia justificar tantas desgraças, e quanto
mais culpados se sentiam, mais pecavam, tanto humildes como grandes senhores.

Tal sociedade passou a punir delitos supostos ou verdadeiros, o que consistiu em um

agravamento da crueldade judiciaria. Superstições se desenvolveram e se
generalizaram, acreditou-se em sabás satânicos e no voo de feiticeiras.

E por terem estarem passando por um período de tantas desgraças e medo, se

acreditava que a vinda do anticristo estava próxima, assim como o próprio apocalipse.
O temor da proximidade do fim do mundo durante toda proximidade do sec. XVI se
agravava e justificava em sermões, fora pintada em afrescos em catedrais,
representada em livros, vitrais, tapeçaria...

Nesse contexto se difundiu as chamadas danças macabras, pintadas e entalhadas em

igrejas e cemitérios, e mesmo representada em 1449 no palácio de Brugues do duque
de Borgonha.

O sentimento comunitário da igreja e da salvação coletiva como um corpo unitário que

perdurou apenas até os últimos séculos da idade média, desde então o individualismo
se intensifica, assim, era normal que o pecador se sentisse sozinho diante de Deus,
onde cada fiel se interrogava com angustia como escaparia aos tormentos eternos.

Defesa contra a morte terrena e o tormento eterno

A busca da salvação levou a população a desenvolver inúmeros comportamentos,
como a veneração há santos e suas relíquias, o culto da virgem maria e sua mãe, santa
ana eram intensos principalmente na região de Flandres e mesmo na Alemanha, tendo
Erasmo e Lutero como devotos na juventude.
Os santos e suas relíquias protegiam contra a morte e doenças, além de fornecer
garantias pós morte, relíquias de Jesus e Maria tinham fama de garantirem
indulgencias.

Através da igreja, a aquisição de indulgencias só poderia acontecer mediante

arrependimento e confissão, sem dependência de pagamentos. No entanto, a prática
logo se tornou um comercio, a venda da salvação aos mais desesperados, tal como
para aqueles que tinham o pecado por excelência em seus cargos e profissões, como
banqueiros e ricos comerciantes, ligado também à criação do purgatório.
Algumas quermesses ofereciam indulgencias como prêmios.

A depreciação do sacerdócio.

O sacerdócio passa por um processo de depreciação, sobretudo no baixo clero, bispos

perdiam o habito de usar a mitra e báculo, rezavam missas raramente, muitos padres
viviam em concubinato e tinham filhos bastardos, muitos se vestiam como a gente
comum, jogavam, frequentavam tavernas, tomavam partes em festas e danças aldeãs.

Canções profanas se entremeavam nas recitações litúrgicas, nas vigílias das festas por
vezes se dançava dentro das igrejas.

Padres que viviam em situação material miserável cobravam para realizar sacramentos
como o batismo e as confissões.

No sec. XV há uma tendência ao afastamento da liturgia tradicional, há preferencia às

procissões à missa, o rosário à comunhão, as manifestações dos flagelantes à
assembleia paroquial.

O que vai representar um esforço posterior da igreja em revalorizar o sacerdócio.

A Biblia.
Em tempos onde de descontrole católico, os fieis tinham necessidade de algo sólido em
que pudessem se apoiar, alguma autoridade religiosa onde pudessem depositar sua fé
com segurança, e a bíblia foi instrumento infalível, sua difusão foi possibilitada e
reforçada pela difusão e advento da prensa, contribuindo para a formação de cultos
particulares através da chamada vulgata.

A difusão do livro acarretou em traduções e interpretações múltiplas e por vezes

errôneas, a solução chega em um movimento humanista, que pretendia apresentar as
escrituras em uma nova luz, introduzindo o método crítico e a ciência filológica acima
da autoridade da vulgata.