lateral
24/10/2017
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Cada espaço do carro é aproveitado, mas até hoje a tubulação de escapamento segue
um desenho tradicional, passando por debaixo do carro até a parte de trás. Isso
reflete em um túnel no assoalho, com elementos isolantes de calor, passando pelo
tanque de combustível e aumentando o peso do carro. Não seria possível instalar
catalisador, abafador e silenciador num só, como ocorre em algumas motos, e
posicionar a saída pelo para-lama dianteiro, como em alguns modelos da
Nascar? Best Cars “is really the best”.
Via de regra, quanto mais espaço se tem para abafadores e silenciadores, melhor se
consegue atenuar os ruídos sem criar grandes restrições para a saída dos gases. Isso
pode ser notado quando se usa o mesmo motor em um carro pequeno e um médio:
devido à menor restrição, é comum o carro médio ter potência máxima maior. Essa
restrição, em regime de rotação máxima, chega a 0,4 bar ou 40% da pressão
atmosférica — valor considerável, que atrapalha a saída dos gases de dentro dos
cilindros. Basta ver como o escapamento da Volkswagen Kombi 1,4 (arrefecida a
água) dá voltas embaixo do motor para entender o quão complexo é atender às
normas de emissões e ruídos nos veículos atuais.
Mas o principal motivo da saída do escapamento estar na parte traseira do veículo é
garantir a segurança dos ocupantes em relação aos gases de escapamento, que são
extremamente nocivos à saúde em caso de grande percentual no ar que se respira. O
mais perigoso é o monóxido de carbono (CO): com apenas 0,3% de concentração
durante 30 minutos leva à morte. Outros gases como hidrocarbonetos (HC) e óxidos
de nitrogênio (NOx) são também tóxicos.
É verdade que o catalisador converte boa parte desses gases nocivos em gás
carbônico (CO2) e água (H2O), mas apenas quando opera em temperaturas acima de
300°C. E mesmo num veículo novo, trabalhando de forma correta, sempre há uma
parcela desses gases nocivos na saída do escapamento, sobretudo na fase fria. Além
disso, mesmo que apenas saia CO2 (teoricamente não tóxico), o volume de gás no
escapamento é tão grande poderia literalmente expulsar o oxigênio do ar, sufocando
por falta de oxigênio quem respirasse esse ar.
A questão é tão séria que houve mortes relacionadas a carros com chave presencial.
Alguns clientes, ao esquecer que sair do carro com a chave no bolso não faz o motor
desligar, deixavam o carro na garagem ligado a noite toda. No dia seguinte, ao entrar
na garagem, morriam de forma quase instantânea por excesso de CO no ar.
O problema, no fim de tudo, está em como o ar se comporta com o veículo em
movimento. Todo veículo tem comportamento aerodinâmico parecido com uma asa
ao se movimentar, ou seja, menor pressão na parte de cima, o que
causa sustentação. Em velocidades muito altas o carro tende a levantar voo, o que
não raro traz problemas de estabilidade. Por isso esportivos usam aerofólios e/ou
fundos planos para criar pressão contrária e segurar o veículo no chão (no primeiro
Audi TT houve acidentes, provavelmente relacionados à alta sustentação da traseira,
que levaram a fábrica a adotar um defletor não previsto no projeto).
Simulação da empresa XFlow mostra os vórtices gerados atrás do carro em 1min 50s
Esse efeito cria uma situação de risco ao rodar com a tampa traseira aberta ou, nos
raros carros que o permitem, com o vidro traseiro aberto assim como os das portas
dianteiras: suga-se todo gás de escapamento para dentro da cabine. Os antigos
devem lembrar-se dos Volkswagens com a cabine separada do motor apenas por
uma tampa na traseira, como Brasília e Variant: havia risco de vazamento dos gases
de escapamento, por uma trinca nos coletores, juntas ou mesmo nos tubos.
Esses gases — repletos de CO, pois não havia controle de emissões na época — eram
facilmente sugados para a cabine quando se andava com vidros dianteiros abertos
em rodovia, o que intoxicava principalmente os passageiros do banco traseiro. Via-
se as crianças sonolentas atrás, mas não se conseguia acordá-las por estarem
intoxicadas pelo CO. Veículos com motor dianteiro podem ter o mesmo problema se
os gases entrarem pela tomada de ar do sistema de ventilação.
Portanto, por mais complicado que seja passar o escapamento para a traseira, tem-
se uma razão muito importante para isso: eliminar os gases nocivos de forma segura
aos ocupantes.