Política de Cortes na CAPES e a nova tendência da ciência brasileira
A soberania e o processo de emancipação passam pela capacidade de cada indivíduo,
povo ou nação produzir seu próprio conhecimento, em pleno acordo com seus interesses. O projeto educacional de uma nação, desde seu plano base até a sua plena execução, revela que tipo de futuro está sendo gestado para este ou aquele povo. Uma política de cortes no ensino superior, implementada desde 2015, e que se agrava a cada ano que passa, prova quais são as prioridades efetivas de uma política socioeconômica em vigor. O ataque às universidades públicas, se mostra em muitas camadas e tem plena correspondência com o propósito destas instituições consolidadas no Brasil. Elencamos pelo menos três razões que revelam uma tendência da ciência Brasileira. Primeira, as Instituições públicas de ensino superior têm se mostrado como capazes de dialogar com os problemas apresentados em todos os seus níveis. Quando devidamente provocada e em condições, as universidades respondem imediatamente ás necessidades de uma nação. Neste sentido, elege e compreende aspectos fundamentais da realidade, proporcionando soluções em acordo com as necessidades apresentadas. Este processo desencadeou uma matriz intelectual importante, em língua portuguesa, ao mesmo tempo em que produz vacinas avançadas ou se aproxima com suas próprias forças de uma disputa espaço- sideral. Isso é só um exemplo de sua dinâmica e suas áreas de atuação. Segunda razão: essa produção altamente especializada possui reverberações fundamentais, formando nossos discentes em todos os seus níveis de atuação, a saber, o ensino, o mercado e a pesquisa. A Universidade reúne as condições necessária, bem como a capacidade de resguardar e produzir a própria cultura, re-significá-la e suportar novos limites até então inconcebíveis e até mesmo impensáveis. Neste sentido, as condições políticas e educacionais das universidades públicas terão seu reflexo em todos os atores que aí foram formados. O tripé sócio-político-econômico-antropofilosófico - raramente compreendido pela própria comunidade universitária – do ensino, pesquisa e extensão, mostra seu vigor e abre as possibilidades de construção histórica do alunado nos níveis básicos da educação. O docente, como a própria correia de transmissão de todos esses saberes, exerce seu papel político mais profundo: aquele de transformar a realidade através da transformação da própria visão de mundo. Promove uma revisão e até mesmo, uma reflexão dos preconceitos, pré-juízos e ideologias estabelecidas. O terceiro ponto neste processo é o papel fundamental da pesquisa. Apesar de laboratórios e bibliotecas muito aquém de nossas expectativas e necessidades, ainda assim, o docente desencadeia o processo fundamental de apropriação e consolidação do saber científico, desenvolvendo, além das habilidades e nuances inerentes a cada campo de saber, a necessidade da produção científica. Não obstante, toda ciência é muito mais do que um salto na direção do real, corresponde à tomada de consciência das forças necessárias de mudança do tempo histórico. A pesquisa é uma forma privilegiada de inserção na realidade. Para que possamos obter e usufruir de seus resultados, no entanto, necessita-se de investimento, formação em todos os níveis e respeito. Em certa medida, a pesquisa no Brasil vivia um descompasso entre a vida política e a vida acadêmica. Viveu assim, anos do mais puro paradoxo, ao reivindicar-se de uma pureza epistemológica há muito ultrapassada. Os cortes na CAPES na semana passada, trouxeram à tona este debate, de uma comunidade extremamente fundamental para os cursos da educação do Brasil, mas que se mantinha ao largo das questões políticas que afetavam diretamente seus docentes e pesquisadores. A entrada da CAPES no cenário político é a adição de um importante ator em nosso contexto. Esse deve ser o momento decisivo em que nos apercebemos que não é possível cisão entre política e ciência. Um sem a outra, permite apenas um perdedor: o Brasil.