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REYNOLDS, Jack. Existencialismo. Trad. Caesar Souza.

Petrópolis: Vozes,
2013. 286p.

Comentário à fenomenologia existencial de


Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty e Beauvoir
ROBERTO S. KAHLMEYER-MERTENS*

Alguns estudiosos Em seu capítulo inaugural, a obra traz uma


atestam que o auge do existencialismo contextualização ampla de todos os autores
passou, tal culminância teria sido galgada que entram no computo da filosofia
por volta dos anos de 1940 perdurando até existencial. Assim, abordados no tópico “O
os 60. Naquela mesma época, surgindo de existencialismo e sua herança”,
todos os cantos e assinadas por Kierkegaard, Nietzsche, Marcel e Jaspers
representantes de diferentes vertentes de são satisfatoriamente indicados como
pensamento, proliferaram publicações que precursores desta corrente de pensamento e
ou faziam o elogio apaixonado desse modo têm suas ideias examinadas de modo a
de pensar ou buscavam refutar o evidenciar o quanto as mesmas agregam às
existencialismo acusando-o de ser uma bases dessa vertente propositora de um
filosofia pessimista que só instilaria a pensar e um agir filosóficos.
desesperança nos homens. Passada a época
A leitura deste tópico geral já nos permite
desses entusiasmos ingênuos, afirmamos
entrever que o existencialismo não chega a
poder identificar que existe atualmente no
constituir uma “escola” e o quanto esta
Brasil um novo surto de interesse pela
designação reúne sob si perfis e
filosofia existencial em sua forma peculiar
orientações diversificadas. Os temas talvez
de existencialismo.
sejam um dos nós de confluências entre
Respondendo a essa demanda, as editoras alguns dos pensadores existenciais,
publicam novos estudos sobre o tema, Reynolds nessa primeira parte da obra
entretanto, sem se expor a riscos enumera algumas das temáticas
financeiros, editam majoritariamente livros coincidentes na pauta dos existencialistas:
de introdução dentre os quais alguns “liberdade”, “morte”, “finitude”,
possuem qualidades apreciáveis. tonalidades afetivas como a “angústia” e o
Chamemos atenção para o título “tédio”, a “singularidade humana” etc.
Existencialismo, de Jack Reynolds que
Outro traço comum entre esses autores,
integra a Coleção Pensamento Moderno,
segundo Reynolds (2013), consiste no fato
da Editora Vozes. Na referida obra, o
de que “todos esses filósofos estão
professor de filosofia da Universidade de
significativamente em débito para com o
La Trobe/Austrália, propõe-se a uma
projeto fenomenológico, ainda que também
apresentação do existencialismo, o livro de
contestem a filosofia pura.” (p.12) Isso é o
Reynolds oferece-nos, de maneira
que se pode facilmente verificar quando,
palatável, um painel no qual se identificam
ao passar os olhos sobre o sumário do
as principais ideias daquele movimento
livro, encontramos nomes celebrados da
lítero-filosófico que, disseminado pela
fenomenologia e temas que encontrariam,
Europa, predominou especialmente na
mesmo de longe, ressonância na filosofia
França.

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husserliana. É o que se vê no segundo humanismo (1946) com o intuito de indicar
capítulo da obra, intitulado “Heidegger e a que este possui tanto conteúdo quanto
analítica existencial”. efeito. O comentador caracteriza a tese do
filósofo segundo qual a experiência
Talvez um dos capítulos mais frágeis do
humana não se traduz em um ente
trabalho, a tematização da filosofia
reificado; sendo, portanto, o ego um nada,
heideggeriana é insuficiente mesmo para
este dependeria da existência para assumir
um texto pretensamente introdutório.
qualquer determinação associada à
Temas importantes para a filosofia de
identidade ou à essência. Assim, a sentença
Heidegger como a questão do ser, a
sartriana que diz que a existência precede a
caracterização da metafísica e a temática
essência não indica uma anterioridade
do cuidado aparecem em resumos pálidos
cronológica ou lógica entre existir e ser,
sem que a implicação entre os mesmos se
mas uma dependência ontológica traduzida
torne visível. Assim, faltou indicar
do seguinte modo: o ser que o homem é se
categoricamente que o projeto
define na dinâmica da existência.
heideggeriano de uma retomada da questão
ontológica requisitaria a análise do único
ente capaz de compreender o sentido que o A análise dos significados filosóficos das
ser possui nas circunstâncias nas quais o frases de efeito de Sartre prossegue no
mesmo se dá; da mesma maneira, com próximo subtópico, desta vez com aquela
relação ao cuidado, precisaria ser dito de que diz que “A humanidade está
modo mais claro que o Dasein (ser cuja a condenada a ser livre”. Concebida
única determinação é o poder-ser) se torna inicialmente como um jogo de palavras,
o que é na medida em que se comporta, e o uma vez que conjuga as ideias
cuidado, enquanto um comportamento, é contraditórias de liberdade e condenação,
decisivo ao ente que o Dasein é enquanto Reynolds se empenha em mostrar o quanto
existe. a liberdade em Sartre expressa a
experiência de transcendência da
Os dois capítulos reservados a Sartre são
consciência ao mundo da vida. Deste
consideravelmente mais substanciais do
modo, o que quer que se concretize na
que o cabido a Heidegger. Em “Condenado
experiência humana já sempre se constitui
à liberdade – A ontologia fenomenológica
no espaço fenomenal aberto por esta noção
de Sartre”, por exemplo, é possível
de transcendência que, para o filósofo
encontrar, inicialmente, considerações
francês, se confunde com a liberdade.
acerca da vida e obra do filósofo inclusive
Partindo desta descrição fenomenológica, é
com a indicação de seus principais escritos.
possível depreender que qualquer fato
Assim, mencionados A transcendência do
referente ao homem é sempre e em cada
ego (1938) O ser e o nada (1943) e Crítica
instante dado no referido campo de
da razão dialética (1960), o leitor passa a
fenômenos, havendo, neste, inclusive, a
conhecer nominalmente parte do núcleo
possibilidade do homem se comportar de
filosófico da obra sartriana. Novamente
modo arbitrário frente ao que se lhe
carente de uma boa tematização, o
apresenta. Podendo afirmar ou negar o que
subtópico referente ao “método da
faticamente manifesta-se para si, e
ontologia fenomenológica” poderia ter
decidindo e responsabilizando-se pelo que
recebido um melhor desenvolvimento. Não
se dá no mundo da vida, ao homem,
se pode acusar, entretanto, o passo
entretanto, permanece inibida a
seguinte, intitulado “A existência precede a
possibilidade de escolher não ser
essência” da mesma falta. A partir deste,
transcendência ou, por outras palavras, de
Reynolds começa a examinar o clichê de
não ser liberdade.
Sartre em O existencialismo é um

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“Merleau-Ponty e o corpo” é o quinto Ao tratar “A mulher como outro” em um
capítulo do livro de Jack Reynolds. Como dos primeiros subtópicos deste sexto
era de se esperar, a temática da capítulo, Beauvoir ressalta que a mulher
corporeidade aparece com certa ênfase no enquanto experiência humana é um nada,
tópico. A abordagem fenomenológica do ou seja, não possui determinação, retirando
corpo é feita de modo a resguardar a assim suas características de sexo e gênero
vinculação do filósofo com a da maneira com as quais existe, daí a
fenomenologia e também ao autora asseverar que “ninguém nasce
existencialismo. mulher, torna-se mulher” (BEAUVOIR
O capítulo sobre Simone de Beauvoir vem apud REYNOLDS, 2013, p.203). Todavia,
muito a propósito no livro em apreço, não nesta dinâmica de se fazer mulher, essas
apenas por revisitar Beauvoir, mas também acabaram se submetendo ao jugo
por enfocá-la a partir dos fundamentos masculino, que reservou para as mulheres
filosóficos em jogo nesse estudo da uma condição histórica de não-sujeitos,
existência. Encimado “Beauvoir: o fazendo com que os homens se
feminismo e a ética existencial”, este novo consolidassem na condição de sujeito e
tópico se empenha por enfatizar que o norma e as mulheres, sempre tomadas com
trabalho da autora, por mais que seja “com referência ao masculino, possuíssem a
frequência, mais sociológico do que determinação ambígua de outro do sujeito
filosófico” (REYNOLDS, 2013, p.202) foi ou daquilo que é fora da norma.
quase sempre formulado em termos do Anti-essencialista, antitotalitarista e anti-
existencialismo e, particularmente, da sexista, Beauvoir tem em vista a sentença
perspectiva de Sartre. sartriana de que a existência precede a
Embora a autora possua diversos romances essência ao pensar o feminino; pode
nos quais o temário do existencialismo afirmar, a partir desse ponto, que ser
transparece, Reynolds se ocupa mulher não constitui uma condição, mas
especificamente da obra O segundo sexo um condicionamento por valores,
(1949). Neste trabalho, debates em torno comportamentos e papéis sociais atribuídos
da “transcendência” e da “imanência”, do pelo masculino. Em linhas bastante gerais,
“para-si” e do “para-o-outro” estão nisso constitui a contribuição original de
presentes, contudo, o foco da obra está na Beauvoir ao existencialismo e ao
temática da opressão feminina, situação feminismo de sua época.
concreta a qual Beauvoir, segundo Ao término do livro, o leitor pode
Reynolds, trata desde a perspectiva teórica encontrar apêndices que trazem: “Questões
existencial. Ao falarmos desta visada para discussão e revisão”, indicações de
existencialista aqui Beauvoir nos põe “Leituras complementares e referências”,
diante de uma reflexão sobre a alteridade, “Cronologia de eventos-chave textos e
diferença que não se ocupa apenas em pensadores” e um índice temático
pensar o outro na condição de uma certamente útil à pesquisa.
“transcendência forte” (como chamaria
Sartre), mas a “outridade” da presença
feminina. Recebido em 2013-09-02
Publicado em 2013-11-11

Universidade Estadual do Oeste do Paraná –


*
UNIOESTE. Doutor em Filosofia pela
ROBERTO S. KAHLMEYER-MERTENS é Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.
Professor adjunto do Departamento de Filosofia da

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