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Concepções de Geografia, espaço e território nos Anais do IV

Seminário Estadual de Estudos Territoriais e II Seminário Nacional


sobre Múltiplas Territorialidades

Pâmela Cichoski1

Marcos Aurelio Saquet2

Resumo
Nosso objetivo principal é compreender as diferentes concepções de Geografia, espaço
geográfico e território utilizadas pelos autores dos textos apresentados como
comunicações livres no IV Seminário Estadual de Estudos Territoriais e II Seminário
Nacional sobre Múltiplas Territorialidades, visando compreender as tendências teórico-
metodológicas atuais da Geografia brasileira. Os procedimentos utilizados na pesquisa
são: a) seleção dos textos dos Anais que foram analisados (51 de um total de 72
trabalhos apresentados e publicados); b) leitura e fichamento dos textos escolhidos; c)
elaboração de um quadro síntese para cada texto lido e analisado; d) comparação e
interpretação das informações extraídas de cada texto; e) identificação das categorias
utilizadas, referências e concepções, reconstruindo caminhos percorridos pelos autores; f)
identificação e análise das concepções de Geografia, espaço e território; g) redação dos
relatórios e textos para publicação. Tais procedimentos estão fundamentados numa
abordagem espacio-temporal da construção do pensamento e do conhecimento
geográfico, considerando-se, que os textos selecionados, são de autores de diferentes
lugares do Brasil.

Palavras-chave: Geografia; Espaço Geográfico; Território.

Conception of geography, space and territory in the Annals of IV State Seminary of


Territorial Studies and the II National Seminary on Multiples Territorialities

Abstract
Our main objective is to comprehend the different conceptions of geography, geographic
space and territory used by the authors of the texts presented as free communications in
the IV State Seminary of Territorial Studies and II National Seminary on Multiple

1 Graduanda da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Brasil). pamelacichoski_@hotmail.com


2 Docente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Brasil). saquetmarcos@hotmail.com

Sociedade e Território, Natal, v. 23, nº 2, p. 146 - 158, jul./dez. 2011.


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Territorialities aiming to understand the current theoretical-methodological tendencies of


Brazilian Geography. The procedures used in the research are: a) selection of texts from
the Annals that were analyzed (51 from a total of 72 works presented and published); b)
reading and filing of the chosen texts; c) preparation of synthesis for every text read and
analyzed; d) identification of the used categories, references and conceptions, rebuilding
ways sprinted by the authors; e) identification and analysis of geography conceptions,
space and territory; f) composition of the reports and texts for publishing. These
procedures are founded in temporal-space approach of though and geography knowledge
building, considering the select authors from different parts of the country.
Keywords: Geography; Geography Space; Territory.

Introdução
Este texto contém resultados das pesquisas vinculadas ao projeto intitulado
Sobre os conceitos de território e territorialidade: abordagens e concepções, financiado
pelo CNPQ, e cujo objetivo principal é compreender as diferentes abordagens e
concepções dos conceitos de território e territorialidade a partir dos anos de 1970-80,
especialmente na Geografia brasileira, subsidiando a elaboração de uma abordagem
territorial que reconheça as articulações existentes entre as dimensões sociais do
território (economia, política e cultura), a natureza exterior ao homem, o processo histórico
e a multiescalaridade de processos territoriais.

Para tanto, fazemos pesquisa bibliográfica, participamos de colóquios internos ao


Grupo de Estudos Territoriais (GETERR), da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(Unioeste), fichamos e analisamos os textos publicados nos eventos IV Seminário
Estadual de Estudos Territoriais (IV SEET) e II Seminário Nacional sobre Múltiplas
Territorialidades (II SNMT). Também estamos efetivando atividades conjuntas com outros
pesquisadores de grupos congêneres, de atualização, cooperação e diálogos, bem como
apresentando os resultados parciais em eventos científicos para socialização e debate.

As constatações e análises que fizemos são muito interessantes e instigadoras.


Nesta oportunidade, apresentamos detalhadamente os resultados obtidos através da
leitura, do fichamento e das análises dos textos completos publicados nos Anais do IV
SEET e do II SNMT, ocorrido na Unioeste, Campus de Francisco Beltrão, entre os dias 27
e 30 de maio de 2009, com o tema principal: Novos horizontes na geografia: perspectivas
de território e de territorialidade. O objetivo principal do evento foi estabelecer

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intercâmbios de cooperação acadêmica e científica com pesquisadores vinculados a


grupos de estudos congêneres, possibilitando para discentes, docentes, dirigentes de
entidades de classe e demais interessados, um espaço de socialização e debates sobre
os temas do evento e a construção de uma teoria social crítica. Outros anais de eventos
nacionais serão estudados para termos uma compreensão mais completa, histórica-
processual e das tendências geográficas territoriais construídas no Brasil a partir da
década de 1990.
Referente aos anais estudados e descritos neste texto, lemos, fichamos e
analisamos 51 textos completos de um total de 72 publicados nos referidos Anais (71% do
total, publicados em CD-ROM). Esses textos (51) foram escritos por um total de 91
autores que trabalham e estudam em 16 estados brasileiros (PR: 28; SP: 17; RS: 8; MS:
7; PE: 5; CE: 5; GO: 3; BA: 3; RJ: 3; AL: 3; RO: 2; DF: 2; SE: 1; PI: 1; AM: 1; SC: 1) e na
Argentina (1 autora).

A escolha dos textos foi feita a partir dos principais conceitos utilizados pelos
autores. Selecionamos os que continham explicitamente informações sobre as opções
teórico-metodológicas vinculadas aos conceitos de espaço geográfico e território, em
virtude do nosso objetivo principal: compreender as concepções de Geografia, espaço e
território utilizadas nos textos dos anais dos eventos em questão.

Como orientação metodológica, partimos da ideia de Quaini (2003), ao afirmar


que a história e a identidade são atributos tanto das pessoas como das disciplinas
científicas e ganham suas características e seus significados quando estudados
meticulosamente. No Brasil, são poucos os que se dedicam efetivamente, embora
participando de grupos de estudos, departamentos, universidades e outras escolas, a
estudar a história e a epistemologia da Geografia, ciência feita por indivíduos que vivem
em sociedade.
Há geografias e geógrafos, sobre os quais aprendemos e ensinamos, mas pouco
conhecemos. Isso sem falar na Geografia que fazemos e vivemos todos os dias. Como
afirmara Dematteis (1985), quem pratica a Geografia tem pouca clareza disso; quem
acredita que a conhece, sabe muito pouco. Trata-se de construir o pensamento e a
ciência com identidade, memória, reflexão e avaliação.
É fundamental, para que tenhamos mais elementos e clareza para avançar nas
interpretações do real, que conheçamos detalhadamente as perspectivas teórico-
metodológicas que construímos. Assim, selecionamos algumas obras de autores que

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estudam o conceito de território, e que subsidiam a metodologia científica que orienta a


realização de nossa pesquisa: Claval (1974), Vagaggini e Dematteis (1976), Dematteis
(1970, 1985 e 1995), Quaini (2003 e 2005), Haesbaert (2004), Moraes (2004), Moreira
(2007) e Saquet (2004 e 2007).
São autores que analisaram aspectos fundamentais da história e da
epistemologia da Geografia evidenciando os métodos filosóficos utilizados, os principais
conceitos desta ciência e suas distintas concepções, portanto, orientam a definição de
procedimentos para estudos desta natureza, sobretudo sobre os conceitos de espaço
geográfico e território, conforme mencionamos anteriormente. Nossa orientação
metodológica assenta-se na relação espaço-tempo, ou seja, no estudo de concepções
historicamente condicionadas e construídas em lugares diferentes, embora, nesta
oportunidade, propomo-nos a evidenciar as concepções presentes nos Anais dos eventos
de 2009 que estamos estudando, como uma demonstração das opções teórico-
metodológicas utilizadas atualmente por estudantes e professores brasileiros. Com isto
reconhecemos que há muito a estudar, evidenciando concepções construídas a partir dos
anos 1970-80 socializadas em anais de outros eventos nacionais da Geografia.

As concepções de Geografia, espaço e território nos Anais estudados

A realização do II Seminário Nacional sobre Múltiplas Territorialidades (II SNMT),


juntamente com o IV Seminário Estadual de Estudos Territoriais (IV SEET), foi uma
necessidade oriunda da amplitude e abrangência do debate atual acerca da temática do
território em nosso país. Este evento foi organizado pelo GETERR (Grupo de Estudos
Territoriais) da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), Campus Francisco
Beltrão, motivado pelos profícuos resultados obtidos com a realização das três edições do
SEET, 2003, 2005 e 2007, respectivamente, bem como do I Seminário Nacional sobre
Múltiplas Territorialidades, em 2004, como explicaremos a seguir.
Os seminários tornaram-se espaços importantes para intercâmbios, socialização,
debates e publicações dos resultados obtidos em pesquisas realizadas por professores e
discentes de diversos grupos de estudos territoriais. Atualmente, ambos são eventos
reconhecidos nacionalmente. São espaços relevantes para a Geografia e outras ciências
sociais, pois é necessário socializar e discutir tanto as abordagens e concepções
produzidas no meio acadêmico como as pesquisas que têm um caráter mais empírico.
Essa é uma condição necessária para qualificar as pesquisas e as atividades de ensino.

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No âmbito do GETERR, entre 2003 e 2009, construímos intercâmbios técnico-


científicos importantes com professores e pesquisadores de universidades do Brasil e do
exterior, tais como UNESP – Presidente Prudente, UFRGS, USP, UFF, UEPG, FURG,
UFSC, UFU, Universidade de Veneza, Universidade de Turim, entre outras. E é nesse
contexto que decidimos ampliar o IV SEET, unindo-o ao Seminário Nacional sobre
Múltiplas Territorialidades (SNMT), organizado na sua primeira edição, em 2004, na
ULBRA (Canoas-RS), por docentes com os quais temos trabalhado nos últimos anos. A
realização em conjunto do II SNMT com o IV SEET foi uma experiência importante que
visou estabelecer novas relações acadêmicas e reforçar as redes de cooperação e
intercâmbio que efetivamos nos últimos anos.
Participaram do IV SEET e II SNMT pesquisadores destacados, com trajetória de
pesquisa em Geografia nos estudos centrados nos conceitos de território e territorialidade,
amplamente divulgados no Brasil nos últimos 15 anos. Os professores palestrantes foram
os seguintes: Claude Raffestin – Universidade de Genebra; Álvaro Heidrich – UFRGS;
Eliseu Sposito – Unesp/Presidente Prudente; Rogério Haesbaert – UFF; Benhur Pinós da
Costa – UFAM; Nécio Turra Neto – Unicentro
(http://sites.google.com/site/eventoterritorio/).
Vale lembrar ainda que, durante as três edições do SEET, realizados com apoio
financeiro da Fundação Araucária, debatemos algumas questões teórico-metodológicas
da geografia, aspectos do processo de formação territorial do Sudoeste do Paraná,
agricultura familiar e agroecologia, perspectivas de desenvolvimento, entre outros temas.
Além das cooperações acadêmicas já citadas, efetivamos parcerias importantes com
órgãos governamentais e com setores da sociedade civil organizada como a Secretaria
de Desenvolvimento Territorial (Ministério de Desenvolvimento Agrário) e com a
ASSESOAR (Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural).
É importante registrar, também, que as duas primeiras edições do SEET não
tiveram Anais porque não houve espaço de diálogos; o mesmo ocorreu com o I SNMT.
Criamos o espaço de diálogos no III SEET, porém, não estamos analisando os anais
porque o tema central foi a agroecologia.
Por fim, é importante evidenciar que a realização do II Seminário Nacional sobre
Múltiplas Territorialidades conjuntamente com o IV Seminário Estadual de Estudos
Territoriais, é uma iniciativa inovadora e em rede, envolvendo quatro grupos de estudos
em parceria e intercâmbio: Grupo de Estudos Territoriais (GETERR-UNIOESTE), Grupo
de Estudo do Espaço Social e suas Transformações e Implicações sobre a Territorialidade

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e a Gestão Territorial (UFRGS), Grupo de Estudo em Geografia da Amazônia: Ambiente e


Cultura (UFAM) e Grupo de Estudo em Geografia: Cotidiano, Território, Paisagem,
Ambiente e Educação na Cidade (ULBRA).

A realização do evento nesse formato justificou-se: i) pela necessidade de


continuarmos as reflexões e pesquisas sobre as bases filosóficas da Geografia,
aprofundando a compreensão dos conceitos de território e territorialidade; ii) pela
necessidade de ampliar espaços de diálogos entre pesquisadores de grupos de estudos
congêneres; iii) pela necessidade de reforçar as redes de cooperação e intercâmbio já
estabelecidas por membros do GETERR e de criar novas relações, contribuindo para a
qualificação de professores e discentes; iv) pela necessidade de inserir a Unioeste em
circuitos nacionais de intercâmbios e debates acadêmico-científicos.

Analisando os anais do evento, notamos o predomínio de princípios da Geografia


crítica em todos os textos analisados, porém, com duas variações principais: a) uma
centrada no materialismo histórico e dialético, normalmente trabalhada a partir dos
conceitos de espaço e território; b) a outra baseada na fenomenologia, substantivando a
chamada Geografia cultural, com destaque para o conceito de espaço.
Um aspecto que chamou atenção é o fato de 32% dos textos estudados (16) não
conterem explicitamente informações sobre o conceito de espaço geográfico, o que
reforça a noção que tínhamos sobre o fortalecimento da abordagem territorial no Brasil,
especialmente a partir dos anos 1992-93, conforme mencionamos em Saquet (2007). É
por isso que o número total de ocorrências (35) da utilização explícita do conceito de
espaço é menor do que a quantidade de utilizações do de território (42).
Isso se deve a um movimento crescente de expansão da utilização da
abordagem territorial, em decorrência da amplitude do conceito de território e de sua
operacionalidade, sobretudo em estudos de Geografia agrária, política e cultural. A
tradução da obra de Claude Raffestin e a consequente difusão de suas ideias foi mais um
fator importante. Também se destacam obras de Gilles Deleuze, Félix Guattari, Jean
Gottmann e Robert Sack, entre outros, que subsidiam debates e aplicações da
abordagem territorial na Geografia brasileira (SAQUET, 2007), resultantes de esforços
teórico-metodológicos para tentar explicar as transformações territoriais em curso.
Sobre o conceito de espaço geográfico há predomínio bastante claro de duas
concepções: a) como resultante das relações de poder e das redes de circulação e
comunicação vinculadas à globalização na contemporaneidade; b) como lugar de vida,

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apropriado e representado socialmente (Quadro 1). Na primeira concepção evidenciam-se


os aspectos econômicos e geopolíticos, na segunda os processos culturais e identitários
da vida cotidiana.
Uma analogia corrente e usada consideravelmente nos textos analisados é feita a
partir de obras de Milton Santos e Claude Raffestin. Para Milton Santos, o espaço é
formado pelas formas da paisagem mais a vida que as anima, formando um sistema
complexo de estruturas que evolui constantemente, ou seja, o espaço resulta da
processualidade sócio-espacial. Milton Santos, aparentemente, separa o território
enquanto materialidade (obras) das relações sociais, mas propõe o estudo do conjunto
indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações que formam o espaço uno e
múltiplo (SANTOS, 1996).

Quadro 1 - Concepções predominantes de espaço geográfico (n° de ocorrências)


Como materialidade dos processos naturais e sociais (4)
Formado pelas formas da paisagem mais a vida que as anima, sistema complexo de objetos
e ações (7)
Como resultado das relações de poder, pois estas se articulam formando as redes, a
dinâmica da globalização, a descentralização e os territórios da modernização (10)
Constituído, apropriado, vivido e representado a partir da essência da formação social (11)
Visto como a consolidação da relação de trabalho e produção geradores das relações campo-
cidade (3)
Fonte: Anais do IV SEET e II SNMT, 2009. Elaboração de Marcos Saquet e Pâmela Cichoski.

Já Claude Raffestin entende o espaço como anterior ao território, algo dado,


substrato para a atuação do homem por meio do trabalho (energia e informação),
transformando-o em território por meio das territorialidades-relações sociais. São duas
concepções distintas: para o primeiro autor, o espaço geográfico é construído socialmente
e é a categoria principal da análise geográfica; para o segundo, o território é definido a
partir das relações de poder (econômicas, políticas e culturais) e é a principal categoria de
interpretação do real.
Na perspectiva fenomenológica, o espaço é compreendido como algo que é
constituído e vivido a partir de especificidades da vida social; é percebido distintamente,
juntamente com as representações singulares a cada grupo social, seus sentimentos,
símbolos, linguagens etc.
Além de Milton Santos, largamente utilizado, e de Claude Raffestin, outras
referências importantes para os autores dos textos analisados no momento de
conceituação de espaço geográfico, são: Doreen Massey, Henri Lefebvre, Antonio Carlos
Robert Moraes, Paul Claval, Roberto Lobato Corrêa, Edward Soja e Ruy Moreira, o que

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revela claramente as opções teórico-metodológicas adotadas, ora privilegiando a


materialidade, ora os processos culturais imanentes ao espaço geográfico.
Já nas concepções de território, há uma que se destaca das demais, vinculada a
uma abordagem ampla, híbrida-multidimensional, histórico-crítica, articulando as redes de
circulação e comunicação, as relações de poder e a dominação-apropriação do espaço a
partir dos processos sociais (Quadro 2). Concepção relacionada diretamente à
divulgação, no Brasil, a partir de 1993, da obra Por uma geografia do poder, de Claude
Raffestin, abordagem revista por autores brasileiros importantes, tais como, inicialmente,
Rogério Haesbaert e Marcelo Lopes de Souza e, mais recentemente, Marcos Saquet
(Quadro 3).
As demais concepções que identificamos estão vinculadas ao entendimento do
território relacionado com: a) processos de amplitude macro, ou seja, com a formação do
Estado-nação e de redes de globalização econômica; b) dinâmicas de amplitude micro,
ligadas à vida cotidiana, à elementos identitários e ao imaginário social; c) processos de
desenvolvimento sustentável, numa abordagem espacio-temporal.

Quadro 2 - Concepções predominantes de território (n° de ocorrências)


Como materialidade e imaterialidade (multidimensionalidade), resultado das relações de
poder, das redes, da apropriação e dominação do espaço (27)
Processo contínuo de intervenções da esfera política para acelerar ou acompanhar os
acontecimentos dos agentes privados; contém redes (6)
Dinâmico e dialético, resultado das ações de construção social, mediante as necessidades
e interesses dos atores no lugar de vida (5)
Resultado das relações espacio-temporais e do desenvolvimento (4)
Fonte: Anais do IV SEET e II SNMT, 2009. Elaboração de Marcos Saquet e Pâmela Cichoski.

Detalhando nossa análise, percebemos que, na concepção predominante, o


território é vinculado ao exercício do poder (do Estado, das empresas e das demais
instituições) e à apropriação do espaço por meio de processos sociais materiais e
imateriais, sobretudo pelo trabalho, pelas técnicas e pelas tecnologias. Com base na
abordagem de Claude Raffestin, o território é um espaço criado pelo homem através de
suas territorialidades políticas, econômicas e culturais, bem como pelas redes de
circulação e comunicação.
O território tem dois sentidos principais, um material e outro simbólico; o material
liga-se mais ao controle e à dominação político-econômica, já o sentido simbólico refere-
se a uma apropriação cultural e identitária do espaço. Ambos os sentidos são históricos e
imanentes à vida social de um grupo num determinado lugar. Sociabilidade e

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(i)materialidade que caracterizam o território vinculado ao uso (i)material do espaço, mais


definitivo ou temporário, a partir da atuação do Estado, por exemplo, ou de grupos como
de prostituição. Há um conjunto grande e diversificado de temas estudados nos Anais
analisados enquadrados na abordagem multidimensional, tais como identidade cultural,
campesinato, sindicalismo, juventude, fronteiras, poder, memória, turismo etc.
Uma ilustração da concepção predominante é a compreensão do território como
uma fração do espaço apropriada socialmente, estabelecendo-se relações multiescalares
e multidimensionais (políticas, econômicas, culturais e ambientais). Há aí poder,
influência, controle, domínio, totalidade, conflitualidades e movimento no território,
ocorrendo tanto política como cultural e economicamente. Normalmente, de acordo com
os objetivos de cada pesquisa apresentada no evento em questão, tenta-se destacar este
ou aquele processo social sem negligenciar os demais.

Quadro 3 - Principais referências utilizadas pelos autores dos textos analisados no uso do
conceito de território e/ou da noção de territorialidade

Referências N° de ocorrências (em percentagem)


Claude Raffestin 24 (57%)
Manuel Correa de Andrade 4 (9,5%)
Milton Santos 24 (57%)
Maria Laura Silveira 3 (7%)
Maria Adélia de Sousa 1 (2%)
Eliseu Saverio Sposito 2 (4,5%)
Rogério Haesbaert 25 (59%)
Marcos Aurélio Saquet 19 (46%)
Edima Aranha Silva 1 (2%)
Doreen Massey 2 (4,5%)
Marcelo José Lopes de Souza 10 (24%)
Bernardo Mançano Fernandes 2 (4,5%)
Berta Becker 1 (2%)
Henri Lefebvre 3 (7%)
Michel Foucault 2 (4,5%)
Felix Guattari 1 (2%)
Robert Sack 2 (4,5%)
Paul Claval 1 (2%)
Álvaro Heidrich 1 (2%)
TOTAL DE TEXTOS 42
Fonte: Anais do IV SEET e II SNMT, 2009. Elaboração de Marcos Saquet e Pâmela Cichoski.
Obs.: A percentagem ultrapassa os 100% em razão dos textos apresentarem referências de autores
distintos.

Na concepção humanística, o território é entendido como espaço vivido, dinâmico


e dialético, representado distintamente conforme cada relação espaço-tempo; é resultado
das ações de construção social, da memória e do imaginário, mediante as necessidades e

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interesses dos atores, gerando no indivíduo o sentimento de pertencimento e poder. O


território corresponde a um lugar onde o homem constrói sua história e identidade a partir
das manifestações de sua existência, de signos, representações e memória, embora,
muitas vezes, esta última seja esquecida.
De maneira geral, o território é resultado e condição dos processos sociais; a
territorialidade, ora é compreendida como delimitação e apropriação, ora como relações
sociais, sobretudo a partir das abordagens de Claude Raffestin, Rogério Haesbaert,
Marcelo Lopes de Souza e Marcos Saquet. Há vários autores que, nos textos analisados,
utilizam aspectos da abordagem de Milton Santos, especialmente sobre o território
entendido a partir da atuação do Estado, da noção de configuração, das normas e do uso
do espaço. Normalmente, confundem-se nos textos que escolhemos para análise as
concepções de Claude Raffestin e Milton Santos, embora se saiba que são distintas em
vários aspectos, principalmente com relação ao território e ao espaço geográfico,
conforme mencionamos anteriormente.
Em relação às referências utilizadas sobre o território e/ou a territorialidade, há
uma variedade significativa de autores (19) de diferentes países (Suíça, França, Grã-
Bretanha e EUA), com destaque para o Brasil (Gráfico 1).
As obras dos autores supracitados mais mencionadas nos textos dos anais são
as seguintes: Por uma geografia do poder (Claude Raffestin, 1993/1980), A natureza do
espaço (Milton Santos, 1996), O mito da desterritorialização (Rogério Haesbaert, 2004),
Abordagens e concepções de território (Marcos Saquet, 2007) e O território: sobre espaço
e poder, autonomia e desenvolvimento (Marcelo Lopes de Souza, 1995).
Conforme descrevemos em Saquet (2007), Claude Raffestin elabora uma
explicação da realidade material, entendendo que o objeto de estudo da Geografia é
formado pelas relações sociais efetivadas entre os sujeitos e o ambiente, ou seja, pelas
relações que se concretizam no território e significam territorialidades. O território é
objetivado por relações sociais, de poder e de dominação, o que implica a cristalização de
territorialidades no espaço, a partir das diferentes atividades cotidianas. Isso se assenta
na construção de malhas, nós e redes, delimitando campos de ações, de poder, nas
práticas espaciais e constituindo o território como materialidade.
Rogério Haesbaert faz uma discussão teórico-metodológica e ontológica centrada
na reterritorialização a partir de fatores políticos e culturais, incorporando recentemente
uma preocupação mais sistemática com a natureza. Para Haesbaert (1997; 2004), o
território tem um domínio politicamente estruturado e uma apropriação simbólico-

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identitária determinados por ações de certos grupos sociais sobre o espaço de vida. O
conceito de território é trabalhado a partir do conceito de espaço produzido elaborado por
Henri Lefebvre, ou seja, como produto socioespacial, de relações concretas e simbólicas,
articuladas aos interesses econômicos e políticos que potencializam os símbolos e as
representações sociais em favor do controle e da acumulação de capital.

24 24 25
25
19
20

15
10
N. ocorrências
10

0
Claude Milton Rogério Marcos Marcelo L.
Raffestin Santos Haesbaert Saquet de Souza

Gráfico 1 – Autores mais citados nos textos analisados no que diz respeito ao território e à
territorialidade (n° de ocorrências)

Marcelo Lopes de Souza (1995; 2001) considera o movimento, as redes e as


relações de poder no processo de apropriação e dominação social. O território significa a
materialidade que sustenta a vida, determina as práticas espaciais e influencia os
processos de identificação; um campo de forças, relações de poder que se projetam
sobre um substrato espacial; são processos sociais que envolvem o imaginário, os
conflitos políticos, o controle do espaço e as identidades. Sua concepção tem um forte
caráter político em favor da conquista da autonomia.
Marcos Saquet (2004; 2007) efetiva uma discussão teórico-metodológica
destacando a produção do território sob as forças econômicas, políticas e culturais, a
importância da natureza e a abordagem territorial como um caminho para se elaborar e
atuar em projetos de desenvolvimento local. A apropriação e a produção do território
efetivam processos econômicos, políticos e culturais a um só tempo. O território é
resultado e determinante da unidade dialética, inscrevendo-se num campo de forças, de
relações socioespaciais. O território é produto e condição da territorialização. Os
territórios são produzidos espaço-temporalmente pelo exercício do poder por determinado

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grupo ou classe social, ou seja, pelas territorialidades cotidianas. As territorialidades são,


simultaneamente, resultado, condicionantes e caracterizadoras da territorialização e do
território.
Sucintamente, verifica-se em parcela significativa dos textos dos Anais
analisados uma forte influência da concepção elaborada por Claude Raffestin, em que o
território é entendido como resultado histórico e social, isto é, do trabalho realizado no
espaço, onde há relações de poder e edificações. Assim, o território é material e imaterial,
forma uma totalidade multidimensional e multiescalar; nele há inúmeros interesses, que
não são meramente políticos e econômicos, mas envolvem necessidades culturais e
processos ambientais.
Dito de outra maneira, o território é entendido como um “quadro” de vida que
permite aos grupos e sujeitos a (re)produção da própria existência através do controle do
espaço, das pessoas e dos fenômenos pertinentes a cada situação vivida por eles. É um
conceito e categoria de análise muito importante atualmente no Brasil, principalmente em
concepções histórico-críticas de denúncia e proposições de ações vinculadas a
experiências de desenvolvimento local com mais justiça social, valorização das
identidades, proteção e recuperação ambiental.

Considerações finais
De maneira geral, notamos o predomínio de duas vertentes críticas de Geografia
nos anais estudados: uma com base em aspectos do materialismo histórico e dialético e,
outra, da fenomenologia. Na primeira, há destaque para a processualidade histórica,
juntamente com os conceitos de espaço e território, bem como para os aspectos
econômicos e políticos compreendidos de maneira multidimensional. Na segunda,
evidenciam-se as dinâmicas culturais, também utilizando os conceitos de espaço e
território, muitas vezes, conjugados ao de lugar. O destaque é para os elementos culturais
e identitários, para a memória e o imaginário.
Outro aspecto que nos chamou atenção é o fato de, em vários textos, não haver
alusão clara da abordagem pretendida, tampouco aos conceitos utilizados. Parece que
há, em parte dos textos analisados, uma desconsideração-desvalorização do caráter
teórico-metodológico sempre importante na produção do conhecimento e do pensamento,
o que se traduz numa fragilidade que precisa ser superada. Nos textos em que
identificamos as concepções, há predomínio do conceito de território, revelando uma
característica significativa da Geografia, ou seja, de utilização mais intensa do território

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em detrimento de outros conceitos, sobretudo do de espaço e do de região, este último


muito pouco utilizado nos textos estudados.
Ainda, identificamos outras características atuais: a) o destaque para concepções
híbridas ou multidimensionais, evidenciando-se a existência de territorialidades
econômicas, políticas e culturais, e de territórios plurais, justamente em virtude do esforço
de apreender aspectos da multidimensionalidade e da tentativa de superação de
concepções, por exemplo, economicistas; b) a evidência dos processos de
territorialização, desterritorialização e reterritorialização historicamente constituídos
(TDR); c) a correlação, cada vez mais intensa, da problemática territorial com processos
de desenvolvimento (e vice-versa), sobretudo local, estudando-se elementos e processos
específicos do real como políticas públicas vinculadas a dinâmicas de desenvolvimento
local.

Referências

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