BIOÉTICA
Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Clare ana, 2008 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
574.9574 S443b
Sehnem, Marino Antonio
Bioética / Marino Antonio Sehnem – Batatais, SP : Claretiano, 2013.
174 p.
ISBN: 978-85-8377-028-2
CDD 574.9574
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cá a Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Mar ns
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Raquel Baptista Meneses Frata Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Ementa –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Fundamentos epistemológicos da Bioética/ Aspectos histórico-evolutivos. Con-
ceitos. Princípios fundamentais. Interdisciplinaridade. Questões atuais: manipu-
lação genética. Aborto. Eutanásia. Clonagem. Alimentos transgênicos. Trans-
plantes e doação de órgãos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Caríssimo aluno, seja bem-vindo ao estudo da Bioética.
Você terá oportunidade de estudar o conceito da Bioética,
a sua abrangência e os seus desdobramentos teórico-conceituais.
À medida que você for se familiarizando com os principais
conceitos e ideias sobre a Bioética, perceberá que se trata de uma
área de conhecimento que transita pelos mais diversos campos do
conhecimento científico, exigindo abertura, ou seja, diálogo por
parte da Religião e da Ciência, uma vez que a Ciência precisa da
Religião e a Religião também necessita da Ciência para avançar nas
10 © Bioética
A Bioética no Brasil
Os primeiros passos foram dados em 1993, quando o conse-
lho federal de medicina editou a revista Bioética.
Em 1996 foi criada a Sociedade Brasileira de Bioética, SBB.
Em 1996, através da resolução 196/96, foi criada a comissão
nacional de ética em pesquisa, CONEP; com a mesma resolução
também foram criados os comitês de ética em pesquisa em nível
local.
A situação atual
Duas conquistas acadêmicas recentes: 1 a legitimação da
bioética como disciplina acadêmica nos cursos universitários, e 2 a
criação de núcleos e centros de pesquisa em bioética nas universi-
dades, nos centros universitários e nos institutos de pesquisa.
Glossário de Conceitos
Este glossário permite a você uma consulta rápida e preci-
sa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio
dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento
dos temas tratados em Bioética.
Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:
1) Genealogia: é o estudo da origem das leis, do mundo e
do próprio homem.
2) Mito: é tudo aquilo que não pode ser explicado de forma
empírica ou racional.
3) Secularização: é um processo histórico dos últimos sécu-
los em que as crenças e as instituições religiosas perde-
ram a sua centralidade e hegemonia, sendo substituídas
pelas atividades econômicas e comerciais. Origina-se do
latim seculum, que significa século ou tempo e se opõe
a eterno. Indica a sociedade laica e secularizada, gover-
nada pela razão e livre da influência político-moral da
Religião.
4) Ontologia: é a parte da Filosofia que estuda o ser huma-
no dentro do seu contexto histórico.
5) Axiologia: é o estudo que se refere à teoria dos valores
morais, filosóficos e metafísicos.
6) Ética: pode ser entendida como a forma de ser e de agir
de cada um, sempre visando o bem comum ou coletivo.
7) Autonomia: é a postura consciente e refletida de cada
ser humano como individualidade em tomar decisões,
em caminhar com as próprias pernas.
8) Responsabilidade: é desenvolver a capacidade de “res-
ponder” pelos seus atos e comportamentos.
9) Valoração/Valorização: é a capacidade do ser humano
atribuir maior ou menor importância às pessoas e às
coisas.
10) Moral: é o conjunto de regras, normas e leis existentes na
sociedade com a finalidade de regular as relações sociais.
11) Deontologia: refere-se à teoria do dever profissional,
das relações entre médicos e seus pacientes.
© Caderno de Referência de Conteúdo 13
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem
ser de múltipla escolha ou abertas com respostas objetivas ou dis-
sertativas. Vale ressaltar que se entendem as respostas objetivas
como as que se referem aos conteúdos matemáticos ou àqueles
que exigem uma resposta determinada, inalterada.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-la pode ser uma forma de você avaliar o seu conheci-
mento. Assim, mediante a resolução de questões pertinentes ao
assunto tratado, você estará se preparando para a avaliação final,
que será dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada
de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida
para a sua prática profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari-
to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões
autoavaliativas (as de múltipla escolha e as abertas objetivas).
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
teúdos, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o con-
ceitual faz parte de uma boa formação intelectual.
Dicas (motivacionais)
Este estudo convida você a olhar, de forma mais apurada,
a Educação como processo de emancipação do ser humano. É
importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e
científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,
uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade
EAD e futuro profissional da educação, necessita de uma forma-
ção conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com
a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da
interação com seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o
seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
© Caderno de Referência de Conteúdo 17
2. CONTEÚDOS
• Origens da ética.
• Ética e a dignidade humana.
• Ética, Bioética e sociedade.
20 © Bioética
Thomas Hobbes
Thomas Hobbes (1588-679) foi filósofo inglês e estudou Físi-
ca e Matemática. Publicou as obras De Cive ( 1642) e o Levia-
than (1651), em que expôs sua teoria sobre o poder político.
Thomas Hobbes. Disponível em: <http://images.google.com.br/
images?hl=pt-BR&q=Thomas+HOBBES&btnG=Pesquisar+imag
ens&gbv=2>. Acesso em: 9 ago. 2010.
Celestin Freinet
Celestin Freinet (1896-1966) foi um pedagogo francês e é um dos
defensores da teoria das classes cooperativas, incentivando a coo-
peração e o trabalho coletivo na educação. Celestin Freinet. Dispo-
nível em: <http://images.google.com.br/images?gbv=2&hl=pt-BR
&q=Freinet+Celestin&btnG=Pesquisar+imagens>. Acesso em: 19
ago. 2010.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta primeira unidade de Bioética, você será convidado a
compreender a relação entre ética, Bioética e sociedade. Não é
© U1 - Fundamentos Epistemológicos da Bioética 21
5. ORIGENS DA ÉTICA
A origem da adoção de uma ética entre os seres humanos
pode ter surgido da presença e da existência do mal, do sofrimen-
to e da morte. Assim como temos a luz e a sombra, temos, tam-
bém, o mal e o bem. Podemos nos perguntar: por que existe o
mal? De onde ele se origina?
O problema do mal aparece, num primeiro momento, nas
narrativas mitológicas.
Nos mitos, criam-se e recriam-se, por meio de fábulas ou
ficções alegóricas, os feitos primordiais que, supostamente, for-
necem explicações e fundamentos tanto para a adoção de normas
sociais como para crenças e costumes, mediante a explanação da
genealogia das leis, ou origem do mundo e do próprio homem.
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Jean Piaget (1896-1980) foi um psicólogo, pedagogo e filósofo suíço. Inicialmen-
te, especializou-se em Biologia, mas depois enveredou para a Lógica e a Episte-
mologia, o que o conduziu às pesquisas no campo da psicologia infantil.
O conjunto de suas obras tem influenciado profundamente os educadores con-
temporâneos.
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Autonomia quer dizer “poder decidir”, “poder escolher as condutas que se pre-
tende trilhar”.
A autonomia é uma questão problemática, pois ela é sempre relativa ao contexto
familiar, escolar, social e, portanto, é condicionada por fatores biológicos, históri-
cos e socioculturais. Deriva dessa característica humana, que é a autonomia, um
outro aspecto valorativo fundamental, que é a responsabilidade diante de nós
mesmos e dos outros.
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Originada do latim, a palavra “responsável” quer dizer “res-
ponder”, “ter a capacidade de dar respostas aos desafios e às
contradições humanas”. Respeitar a natureza, buscar uma melhor
qualidade de vida no seu sentido abrangente, sem gerar prejuízo a
ninguém, são temas éticos que precisam ser analisados dentro do
contexto pluralista existente atualmente.
Como sabemos, esse é o preço da liberdade: inicialmente,
temos de responder a nós mesmos, à nossa consciência, e, como
somos seres gregários e essencialmente sociais, temos de prestar
contas aos outros, à sociedade na qual estamos inseridos e da qual
fazemos parte.
Acerca da questão da responsabilidade, Sartre (1970, p. 22)
expressou-se desta maneira:
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Por que, então, é difícil viver em sociedade e em harmonia? Porque, muitas ve-
zes, há um choque na escala de valores social e pessoal, e as partes precisam
repensar sua posição.
Logo, temos de nos perguntar: quais são os princípios, os valores que motivam
uma pessoa a agir desta ou daquela forma? O que é justo ou não, o que é válido
ou não, com base em que critérios?
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Podemos, portanto, entender que a ética não se restringe
apenas à prática profissional, no exercício da profissão, mas per-
passa e está presente o tempo todo na vida do ser humano.
No entanto, a ética tem suas relações com a Religião, com
a Sociologia, com o Direito, com a Filosofia, com as Ciências em
geral, com a Biologia e a Medicina, com a mídia, com o trânsito,
com as compras do supermercado e, até mesmo, com um estádio
de futebol.
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Em síntese, a ética é, para a moral, o que a teoria representa para a prática: a
moral marca um tipo concreto de conduta; a ética é uma reflexão filosófica sobre
o que a sustenta. Isso significa dizer que há problemas substanciais a serem
enfrentados porque a teoria e a prática não são dissociadas: elas acontecem
juntas, simultaneamente.
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O ser humano é o único ser vivo do planeta Terra que tem a
capacidade de fazer escolhas livres, conscientes e deliberadas.
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos, neste tópico, que você procure responder às
questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta uni-
dade, bem como que as discuta e as comente.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
testar seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder
a essas questões, procure revisar os conteúdos estudados para
sanar suas dúvidas. Este é o momento ideal para você fazer uma
revisão do estudo desta unidade. Lembre-se de que, na Educação
a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma coo-
perativa e colaborativa. Portanto, compartilhe com seus colegas
de curso suas descobertas.
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Se você abrir jornais ou revistas, ligar rádio, TV ou Internet encontrará mui-
tas notícias e artigos que falam e abordam o tema da Ética como sendo a
busca e a construção do bem comum. A partir da leitura do texto da Unidade
1 procure explicitar o que é o bem comum e quem, de fato, pode dizer ou
afirmar o que é o bem comum?
© U1 - Fundamentos Epistemológicos da Bioética 35
9. CONSIDERAÇÕES
Assim concluímos esta primeira unidade, que teve como ob-
jetivo principal introduzir você na temática da Bioética.
Procuramos mostrar, desde o início, que o assunto contém
uma dinâmica toda especial, na medida em que apresenta uma
relação dialética da ética com a Bioética e a sociedade.
No entanto, isso é apenas o início de um itinerário que irá evo-
luir, aprofundar-se e ampliar-se a cada nova unidade a ser estudada.
É importante que você não se desanime nunca. Vá em frente,
seguindo cada passo a ser trilhado, pois você terá novos conteú-
dos e explicações que possibilitarão a compreensão e, sobretudo,
a assimilação da Bioética em toda a sua complexidade.
10. EͳREFERÊNCIA
MIRANDA, C. C. Guia do principiante em Genealogia. Disponível em: <http://www.ingers.
org.br/Principiante.html>. Acesso em: 9 ago. 2010.
2. CONTEÚDOS
• Origens da palavra “Bioética”.
• Nascimento da Bioética.
• Desenvolvimento e consolidação da Bioética.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, iniciamos nossos estudos a partir do
conceito da ética e da sua relação com o ser humano, bem como
as relações intrínsecas que existem entre a ética e a Bioética.
Já nesta unidade, vamos dar um passo adiante, de forma que
trataremos das origens da Bioética e sobre como ela passou a cons-
truir um referencial epistemológico próprio, mas com profundas raí-
zes vinculadas à Filosofia, à Teologia e às Ciências Humanas em geral.
Bom estudo!
6. NASCIMENTO DA BIOÉTICA
A Bioética não pode mais ser entendida como um campo de
saber específico, especializado, pois o seu referencial teórico e a
sua prática situam-se na intersecção da Medicina, da Biologia, da
Ética e da Moral, do Direito, da Filosofia e da Teologia e de todas
as ciências humanas.
Voltando à questão do nascimento da Bioética, a maioria dos
pesquisadores e estudiosos sobre o assunto concorda que a obra
Bioética: uma ponte para o futuro, de Van Rensselaer Potter, publi-
cada em 1971, é um marco importante para a genealogia da disci-
plina. Potter era um cancerologista norte-americano preocupado
com a sobrevivência ecológica do planeta e com a democratização
do conhecimento científico.
Apesar de ser contestada sua paternidade sobre o conceito
Bioética, Potter continua sendo uma referência essencial para a histó-
© U2 - Aspectos Históricos Evolutivos da Bioética 41
8. QUESTÃO AUTOAVALIATIVA
Sugerimos, neste tópico, que você procure responder às
questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta uni-
dade, bem como que as discuta e as comente.
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, tivemos a oportunidade de conhecer as ori-
gens da palavra “Bioética”, seu nascimento, desenvolvimento e
consolidação.
Na próxima unidade, iremos estudar mais sobre Bioética e
conheceremos como tudo começou, além de analisarmos a teoria
principialista.
Até a próxima!
2. CONTEÚDOS
• Como tudo começou.
• Teoria principialista.
• Críticas à teoria principialista e suas limitações.
• Bioética: é possível construir um consenso?
54 © Bioética
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, estudamos as origens da Bioética.
Com tais conhecimentos, nesta unidade, iremos entrar mais
objetiva e aprofundadamente na temática da Bioética. Veremos
qual é a sua abrangência, a sua fundamentação teórica e como ela
foi se sistematizando como uma área específica do conhecimento.
6. TEORIA PRINCIPIALISTA
O livro Problemas Morais na Medicina, organizado pelo fi-
lósofo Samuel Gorovitz e publicado pela primeira vez em 1976,
foi o precursor de uma série de estudos que correlacionavam os
estudos éticos com as situações médicas conflituosas, como, por
exemplo, o aborto e a eutanásia.
O livro foi fruto de um trabalho interdisciplinar, já que mé-
dicos, filósofos e teólogos expuseram suas opiniões e argumen-
tações sobre temas que, até hoje, não encontraram um mínimo
consenso.
A coletânea organizada por Gorovitz teve o mérito de ter
sido pioneira no tratamento do tema, contudo, foi somente com a
publicação de Princípios da Ética Biomédica de Tom Beauchamp e
James Childress, em 1979, que a Bioética consolidou sua sistema-
tização teórica, de modo especial nas Universidades norte-ameri-
canas.
A proposta de ambos seguia a trilha aberta pelo Relatório
Belmont e defendia a tese de que os conflitos morais poderiam ser
mediados com alguns princípios éticos. Eles retomam os três prin-
nação justa a uma pessoa que cometeu um crime. Nesse caso, não
seria um dano injusto porque se cometeu uma ação condenável e
que precisa ser reparada.
Assim, o princípio de beneficência significa praticar atos po-
sitivos para promover o bem e a realização dos demais.
Beauchamp e Childress tratam da beneficência em dois prin-
cípios distintos: a beneficência positiva e o princípio da utilidade,
de forma que a beneficência positiva nos obriga a agir benefica-
mente em favor dos demais, e a utilidade obriga-nos a pesar os
benefícios e os inconvenientes, estabelecendo uma análise crítica
que seja a mais favorável possível.
Podemos dar diversos exemplos de beneficência: doar ór-
gãos para transplante, proteger e defender os direitos alheios, pre-
venir danos que possam afetar terceiros, ajudar as pessoas com
incapacidade ou deficiência, resgatar as pessoas que se encontram
em perigo e assim por diante.
O princípio de justiça tem a ver com o que é devido às pesso-
as, com aquilo que, de alguma maneira, lhes pertence ou corres-
ponde. Quando a uma pessoa correspondem benefícios ou obriga-
ções na comunidade, estamos diante de uma questão de justiça.
O caminho da justiça foi determinado pelas seguintes con-
cepções políticas:
• Justiça como generalização: nessa perspectiva, a justiça
era aplicada como o maior bem para o maior número de
pessoas. Nessa concepção, não estão todos, mas somen-
te o maior número. Trata-se de uma visão democrática e
política liberal e neoliberal.
9. QUESTÃO AUTOAVALIATIVA
Sugerimos, neste tópico, que você procure responder às
questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta uni-
dade, bem como que as discuta e as comente.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
testar seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder
© U3 - Conceitos e Princípios Fundamentais da Bioética 67
10. CONSIDERAÇÕES
Ao concluir esta unidade, podemos dizer que estudar e dis-
cutir a Bioética passam, necessariamente, pela tolerância na di-
versidade. Temos de reconhecer e respeitar a pluralidade moral da
humanidade e, consequentemente, admitir as diferentes crenças
e valores que fazem parte da herança humana como um patrimô-
nio legítimo e respeitável.
A resposta final para os problemas e conflitos não está no
encontro do consenso teórico, mas no desenrolar da história viva
das sociedades e dos cidadãos conscientes que se tolerem e se
respeitem mutuamente.
Na próxima unidade, iremos estudar o ponto de partida da
Bioética moderna. Veremos, também, Bioética e interdisciplinari-
dade, e suas fronteiras epistemológicas. Até a próxima!
11. EͳREFERÊNCIA
BIOÉTICA. Bioética e ética na ciência. Disponível em: <http://www.bioetica.ufrgs.br/>.
Acesso em: 4 mar. 2009.
4
1. OBJETIVOS
• Identificar que o tema da Bioética ultrapassa a sua dimen-
são científica e médica.
• Reconhecer a complexidade que envolve Bioética e inter-
disciplinaridade e procurar construir caminhos de diálogo
e de convergência.
• Analisar o ponto de partida da Bioética moderna, bem
como a Bioética e suas principais fronteiras epistemoló-
gicas.
2. CONTEÚDOS
• Ponto de partida da Bioética moderna.
• Bioética e interdisciplinaridade.
• Bioética e suas fronteiras epistemológicas.
70 © Bioética
Edgar Morin
Edgar Morin nasceu em 1921 e, em 1970, fundou, em Paris, o
Centro Internacional de Pesquisas e Estudos Transdisciplinares.
Para ele, a concepção holística não é apenas a somatória de to-
das as coisas, mas, mais do que isso, é uma integração, ou seja,
todas as coisas estão profundamente interligadas entre si (Gran-
de Enciclopédia Larousse Cultural). Edgar Morin: disponível em:
<http://www.ehess.fr/centres/cetsah/IMAGES/CarolineCuello.
jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
Jean Bernard
Jean Bernard é professor da Faculdade de Medicina de Paris,
Diretor do Instituto Francês de Investigação sobre a Leucemia e
as doenças de sangue, membro da Academia Francesa, mem-
bro da Academia Nacional de Medicina e Presidente honorário do
Comitê Consultivo Nacional para as Ciências da Vida e da Saú-
de. Escreveu, dentre inúmeras obras, A Bioética. Lisboa: Institu-
to Piaget, 1993 (Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Jean
Bernard: disponível em: <http://ams.astro.univie.ac.at/~nendwich/Science/SoFi/
portrait.gif>. Acesso em: 4 set. 2010.
Immanuel Kant
Immanuel Kant (1724-1804) foi um importante filósofo alemão.
Em 1781, publicou Crítica da razão pura; em 1785, Fundamentos
da metafísica dos costumes, e, em 1788, escreveu Crítica da razão
prática, obra em que o autor remete a razão ao centro do mundo
(Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Immanuel Kant: dispo-
nível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2f/
Immanuel_Kant_2.jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
Baruch Spinoza
Baruch Spinoza (1632-1677) foi um filósofo holandês. Entrou em
contato com Galileu e o pensamento renascentista de Giordano
Bruno e, depois, foi influenciado por Descartes. Publicou: Princí-
pios da filosofia de Descartes (1663) e Tratado teológico-político
em 1670 (Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Baruch Spino-
za: disponível em: <http://philosophy.tamu.edu/~sdaniel/Images/
spinoza1.jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
© U4 - A Bioética e a Interdisciplinaridade 71
Hans Küng
Hans Küng nasceu na Suíça em 1928. Em 1962, foi nomeado
pelo Papa João XXIII peritus, ou seja, consultor teológico para
o Concílio Vaticano II. Em 1996, tornou-se presidente da Fun-
dação de Ética Global em Tübengen. Tem uma vasta produção
com destaque para: Igreja católica (2001), As religiões do mun-
do (2004), Teologia a caminho: fundamentação para o diálo-
go ecumênico (1999), e O princípio de todas as coisas (2007)
(Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Hans Küng: disponível em: <http://
fratresinunum.files.wordpress.com/2009/02/kung.jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Vamos prosseguir nossa caminhada com relação ao estudo
introdutório da Bioética.
Desde o início, deixamos claro que há uma relação estreita
da Ética com a sociedade, e uma relação mais íntima da Ética com
a Bioética, uma vez que elas se complementam.
Em seguida, abordamos alguns aspectos históricos evoluti-
vos da Bioética.
Acabamos de analisar, na unidade anterior, alguns conceitos
e princípios que fundamentam e dão sustentação à Bioética como
um novo campo do saber.
O nosso desafio, agora, é mergulhar mais a fundo na Bioética
propriamente dita e verificar toda a complexidade que é entender
o ser humano vivendo em grupo, em sociedade e quais as dificul-
dades daí decorrentes.
6. BIOÉTICA E INTERDISCIPLINARIDADE
Falar das “fronteiras” da Bioética é uma tarefa bastante com-
plicada, porque envolve a compreensão dos paradigmas e das in-
ter-relações da epistemologia, isto é, envolve o ser humano, que é
o ser mais complexo do planeta Terra.
8. QUESTÃO AUTOAVALIATIVA
Sugerimos, neste tópico, que você procure responder às
questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta uni-
dade, bem como que as discuta e as comente.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
testar seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder
a essas questões, procure revisar os conteúdos estudados para
sanar suas dúvidas. Este é o momento ideal para você fazer uma
revisão do estudo desta unidade. Lembre-se de que, na Educação
a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma coo-
perativa e colaborativa. Portanto, compartilhe com seus colegas
de curso suas descobertas.
2) Potter dedicou sua vida inteira para fortalecer e cons-
truir caminhos para que a Bioética se transformasse
num projeto de vida para todos os seres humanos que
habitam o planeta Terra, fato que ainda está muito dis-
tante de acontecer.
Pesquise na mídia uma matéria jornalística que conte-
nha preconceito, xenofobia ou algum tipo de discrimi-
nação religiosa, sexual, étnica, ideológica ou de gênero.
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, tivemos a oportunidade de conhecer o pon-
to de partida da Bioética moderna, bem como os temas relacio-
5
1. OBJETIVOS
• Compreender as especificidades entre Religião e Ciência,
bem como as principais contribuições de cada uma no
campo do saber.
• Interpretar a autonomia de cada campo do conhecimento
e buscar um diálogo efetivo entre ambas, sem partir de
apriorismos e posições fechadas.
• Analisar o processo de secularização e seus desdobra-
mentos, o encontro da ciência com a religião, as princi-
pais fases de relacionamento entre ambas.
2. CONTEÚDOS
• Religião e ciência.
• Processo de secularização.
• Quando a Ciência encontra a Religião.
88 © Bioética
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 4, tivemos a oportunidade de conhecer o ponto
de partida da Bioética moderna, além de analisarmos a Bioética e
a interdisciplinaridade, bem como suas fronteiras epistemológicas.
Com tais conhecimentos, iremos, nesta unidade, aprofundar
nossos estudos e aprender sobre o diálogo entre religião e ciência,
bem como o processo de secularização.
Bom estudo!
5. RELIGIÃO E CIÊNCIA
Até agora, tangenciamos a temática do diálogo entre religião
e ciência. Vamos, então, aprofundar um pouco mais esse proble-
ma.
Durante todo o percurso do conteúdo que trabalhamos até
agora, você percebeu que a Bioética provoca dois sentimentos
contraditórios nas pessoas: ou de fascínio ou de repulsa.
A primeira tendência, que tem uma ala significativa, apoia-
-se na concepção pragmática que defende que tudo pode ser feito
desde que traga benefícios e melhoria para os seres humanos. É
pensar que, quase como num passe de mágica, os problemas po-
derão ser resolvidos pelos avanços da ciência e da tecnologia.
A segunda tendência (que tem muitos adeptos) é a da re-
cusa na discussão de qualquer tema que envolva a eutanásia,
o aborto ou a clonagem, no sentido de posicionar-se contra a
adoção de experiências que se relacionam com a vida e a morte
do ser humano.
O diálogo entre a ciência e a religião é um tema complexo e
abrangente e requer uma análise histórica contextual ampla para
abranger as diversas dimensões que precisam ser consideradas no
caso.
6. PROCESSO DE SECULARIZAÇÃO
A primeira vez que a palavra “secularização” foi enunciada
fora dos muros e dos textos da Igreja Católica foi para nomear o
processo jurídico-político de desapropriação dos bens eclesiásti-
cos em favor dos poderes seculares.
Um retorno às fontes do conceito de secularização pode nos
ajudar no debate atual em torno da fermentação contemporânea
de religiosidades. De um lado, surge o Estado nacional moderno e,
de outro, a progressiva secularização das instituições públicas em
sociedades cada vez mais pluralistas em matéria de religiosidade.
Max Weber (1864-1920) estudou a história social do Oci-
dente no apogeu da racionalidade num mundo desencantado, em
que o sagrado se exilou. A Europa, no final do século 19 e início do
século 20, passou por um processo intenso de industrialização e
urbanização, que gerou, entre outros fatores, o processo de secu-
larização e, assim, as religiões foram perdendo a sua hegemonia,
sua força, seus espaços centrais mais importantes e significativos.
Assim, o sucesso da ciência foi total, pois ela está, supostamen-
te, ao lado da verdade, identifica-se com ela, a única verdade, basea-
da na mais rigorosa objetividade, segundo os adeptos do Positivismo.
Nessa perspectiva, Weber aborda o processo de seculariza-
ção como a perda gradual cultural da religião no nascedouro e,
sobretudo, na consolidação da moderna cultura capitalista.
Ele publicou A Ética Protestante, em 1904, e utilizou o con-
ceito “desencantamento” em vez de secularização. Para Weber,
© U5 - Diálogo entre a Religião e a Ciência 93
8. QUESTÃO AUTOAVALIATIVA
Sugerimos, neste tópico, que você procure responder às
questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta uni-
dade, bem como que as discuta e as comente.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
testar seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder
a essas questões, procure revisar os conteúdos estudados para
sanar suas dúvidas. Este é o momento ideal para você fazer uma
revisão do estudo desta unidade. Lembre-se de que, na Educação
a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma coo-
perativa e colaborativa. Portanto, compartilhe com seus colegas
de curso suas descobertas.
1) O Concílio Vaticano II realizado em Roma entre os anos de 1963-
1965 elaborou e promulgou diversos Documentos Pontifícios com
vistas ao diálogo da Igreja com a sociedade, em especial a Consti-
© U5 - Diálogo entre a Religião e a Ciência 101
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você teve a oportunidade de conhecer a Re-
ligião e a Ciência, o processo de secularização e ver o que ocorre
quando a Ciência encontra a Religião.
Lembre-se, entretanto, da importância de consultar a biblio-
grafia indicada para ampliar seus conhecimentos.
10. EͳREFERÊNCIA
MUNDODOSFILOSOFOS. O Positivismo: Auguste Comte. Disponível em: <http://www.
mundodosfilosofos.com.br/comte.htm>. Acesso em: 9 ago 2010.
2. CONTEÚDOS
• Manipulação genética.
• Esterilidade humana.
104 © Bioética
3. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Veremos, nesta unidade, que a manipulação genética é um
dos temas controversos dentro da Bioética atual, pois não ape-
nas se refere a uma técnica de reprodução humana que contém
dimensões científico-médicas, mas também envolve valores hu-
manos, aspectos físicos e psicológicos, religiosos, éticos e tantos
outros.
Assim, entenderemos que a manipulação genética também
pode ser denominada como reprodução assistida, visto que ela
consiste em técnicas de reprodução humana pelas intervenções
médicas voltadas para a solução de problemas de esterilidade e,
assim, favorece a reprodução da vida humana.
Por fim, compreenderemos que essas intervenções têm
diversos aspectos a serem considerados, tais como: o técnico, o
científico, o médico, o psicológico, o sociocultural, o jurídico e o
religioso.
Bom estudo!
4. ESTERILIDADE HUMANA
Para que haja uma nova vida, um casal que queira ter filhos
deve ser fértil.
Nesse sentido, podemos definir como infertilidade a in-
capacidade de uma mulher ou de um homem (ou, ainda, am-
bos) ter filhos, embora essa situação possa não ser definitiva. Já
a esterilidade é a incapacidade definitiva ou irreversível de se
conceber um filho, embora haja casos em que se possa reverter
essa situação por meio de procedimentos médico-cirúrgicos. As-
© U6 - A Bioética e a Manipulação Genética 105
com relação à tarefa de criar o filho com amor e carinho, não dan-
do, pois, importância apenas à vida material.
Por conseguinte, não são aceitáveis, moral e eticamente, as
chamadas gravidezes “adotivas” ou “de aluguel”, em que a mulher
contrata uma mãe para realizar, em troca de dinheiro ou por ou-
tras razões, a tarefa da gestação.
A emergência e o interesse público pela discussão ética dizem que nem tudo o
que é tecnicamente possível é necessariamente desejável para a vida e a digni-
dade humana. A ciência é inventiva, inovadora e ousada. A ética, nesse cenário,
procura salvaguardar a dignidade de todos sob a ótica da responsabilidade e da
prudência. É a sabedoria humana que vai discernir o bem e o mal, o que deve
ser implementado e o que deve ser limitado. Enfim, o que ajuda o ser humano a
ser mais feliz, nasce do diálogo honesto e respeitoso entre ousadia científica e
prudência ética. Portanto, não se trata de satanizar, a priori, a ciência (PESSINI,
2006, p. 44).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
7. QUESTÃO AUTOAVALIATIVA
Sugerimos, neste tópico, que você procure responder às
questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta uni-
dade, bem como que as discuta e as comente.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
testar seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder
a essas questões, procure revisar os conteúdos estudados para
sanar suas dúvidas. Este é o momento ideal para você fazer uma
revisão do estudo desta unidade. Lembre-se de que, na Educação
a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma coo-
perativa e colaborativa. Portanto, compartilhe com seus colegas
de curso suas descobertas.
1) Você estudou nessa Unidade temática a possibilidade dos casais terem fi-
lhos, o que pode ser considerado uma dádiva divina e maravilhosa. A Cons-
tituição Brasileira refere-se à paternidade (e maternidade) responsável,
quando reafirma que, embora o casal seja livre na tomada de decisão de
gerar um filho, deve estar ciente da responsabilidade de assumir a tarefa de
criá-lo com amor e carinho, não dando apenas importância à vida material.
Faça uma pequena pesquisa por meio de jornais, revistas e da Internet sobre
o problema do abandono de crianças e adolescentes no Brasil e procure rela-
cionar a afirmação anterior com os dados estatísticos profundamente desu-
manos e inaceitáveis existentes no país.
8. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final desta unidade, na qual tivemos a oportu-
nidade de conhecer e aprender um pouco mais sobre a genética,
9. EͳREFERÊNCIAS
BRASIL, Constituição da República Federativa do. Título VIII: da ordem social, 1998.
Disponível em: <http://www.tj.ce.gov.br/cejai/pdf/arts_constituicao_republica_
federativa_brasil.pdf>. Acesso em 9 ago. 2010.
DATASUS. Departamento de Informática do SUS. Disponível em: <www.datasus.gov.br>.
Acesso em: 9 ago. 2010.
EDIÇÕES LOYOLA. Home page. Disponível em: <www.loyola.com.br>. Acesso em: 9 ago.
2010.
7
1. OBJETIVOS
• Estudar o tema aborto com base nas suas múltiplas di-
mensões para poder compreender toda a sua dramatici-
dade e complexidade.
• Analisar as implicações decorrentes do aborto, não ape-
nas para a gestante, mas para toda a sociedade.
2. CONTEÚDOS
• Conceituação e principais tipos de aborto.
• Legislação brasileira que versa sobre esse tema.
• Sexualidade humana e a família.
• Abortos não assistidos e assistidos.
• Principais aspectos e dimensões que envolvem o aborto.
116 © Bioética
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, conhecemos conteúdos relacionados à
manipulação genética, à esterilidade humana e às principais técni-
cas de reprodução assistida.
Nesta unidade, nosso objeto de estudo será o “aborto”, o
qual é um tema pertinente de bastante discussão, uma vez que en-
volve valores éticos e cristãos. Acerca desse tema, você conhecerá
alguns conceitos, tipos, a legislação brasileira, bem como os seus
principais aspectos e dimensões.
na, a família nuclear passa a ser vista como uma instituição de du-
pla condição: a natural e a cultural.
A família é a instituição humana mais universalizada no tem-
po e no espaço histórico. Ela não foi instituída por nenhum legis-
lador, mas está pré-formada na espécie humana desde os primór-
dios.
Nesse contexto, a condição natural é exigida pela condição
da espécie humana, que necessita organizar os vínculos de paren-
tesco, de matrimônio e de filiação e, desse modo, assegurar a con-
tinuidade do grupo humano, incorporando a ele novos indivíduos.
Já a condição cultural é necessária, pois a estrutura e as fun-
ções da instituição familiar estão submetidas às variações da evo-
lução humana e do pluralismo cultural.
Entretanto, nas sociedades atuais, a família passou por pro-
fundas mudanças, uma vez que sua formação passou a apresentar
variações significativas, nas quais há casais que vivem em casas
separadas, mulheres que desempenham papéis de pai e mãe, ho-
mens que desempenham ambos os papéis, casais sem filhos, ho-
mens e mulheres solteiros, e assim por diante.
Da mesma forma, a sexualidade humana passou por ruptu-
ras e transformações nessas últimas décadas, no mundo inteiro.
Existem muitas informações sobre a vida sexual, comparada
com gerações anteriores, que está iniciando mais cedo. Os casa-
mentos estão sendo adiados pelos jovens e, também, desfazendo-
-se com maior rapidez; a questão da virgindade deixou de ser tabu;
os medicamentos que agem sobre as disfunções eréteis propiciam
uma vida sexual mais intensa para as gerações de terceira idade e
o uso intensivo de métodos contraceptivos possibilitam uma vida
sexual contínua e prolongada.
Dentro desse leque de novas opções para os seres humanos,
o fato mais grave e assustador é que, anualmente, ocorrem, apro-
ximadamente, 210 milhões de casos de gravidez no mundo.
© U7 - A Bioética e o Aborto 121
9. ABORTOS ASSISTIDOS
Pelo que acabamos de descrever anteriormente, quase to-
das as mortes e complicações decorrentes de um aborto não assis-
tido poderiam ser evitáveis.
Do ponto de vista médico e clínico, os procedimentos e as
técnicas para a indução determinada de um aborto são bastan-
te simples e, especialmente, seguros. Logo, quando praticado por
pessoal médico qualificado, com equipamentos apropriados e em
condições sanitárias adequadas, o aborto é uma das intervenções
médicas mais seguras.
Estudos e dados estatísticos do Instituto Alan Guttmacher
revelam que em países onde as mulheres têm acesso a serviços
médicos seguros, o risco de morte é ínfimo, ou seja, um caso para
cada 100.000 pessoas. Já nos países pobres e em desenvolvimen-
to, o risco de morte devido a complicações decorrentes de um
aborto não assistido é centenas de vezes maior do que o risco do
aborto realizado por profissionais em condições seguras.
Nesse sentido, o Instituto Alan Guttmacher (2004) produziu
estimativas para o Brasil no período compreendido entre 1996-
2005, em que houve a redução de 38% de abortamentos. A grande
maioria desses abortamentos induzidos (3 em cada 4 em 2005)
ocorreu nas regiões nordeste e sudeste. A taxa anual de aborta-
mentos induzidos por 100 mulheres de 15 a 49 anos no país foi
reduzida de 3,69% em 1992 para 2,7% em 2005.
Até o momento, estudamos o problema dentro da ótica da
saúde pública e da concepção médica e sanitária; todavia, não está
em discussão apenas o aspecto econômico e financeiro, tampouco
12. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, vimos que a questão do aborto precisa ser
muito bem situada e contextualizada, uma vez que se está tratan-
do do início de uma vida, do seu desenvolvimento e, talvez, do seu
término.
Dessa forma, pudemos compreender que a vida é uma dádi-
va divina e que, por isso, precisa ser preservada sempre.
De posse desses conhecimentos, vamos estudar, na Unidade
8, a eutanásia e a clonagem.
Até lá!
8
1. OBJETIVOS
• Compreender a eutanásia como um problema controver-
so da Bioética, uma vez que envolve a vida humana.
• Incentivar a leitura e o debate sobre o tema, ampliando
a consciência com relação à adoção ou não da eutanásia.
• Estudar a questão da clonagem, compreendendo as con-
tribuições que essa técnica pode trazer ao ser humano.
• Abordar a clonagem terapêutica e discutir os pontos favo-
ráveis e contrários para a sociedade.
2. CONTEÚDOS
• Voltando às origens.
• Polissemia do conceito eutanásia.
• Classificação da eutanásia.
132 © Bioética
• Distanásia e ortotanásia.
• Considerações favoráveis e contrárias à adoção da euta-
násia.
• Conceituação e abrangência.
• Clonagem vegetal, animal e humana.
• Abordagem sobre os limites e as possibilidades do uso da
clonagem.
3. INTRODUÇÃO À UNIDADE
No estudo da unidade anterior, você foi subsidiado com con-
teúdos sobre o aborto, assunto que envolve valores éticos e cris-
tãos.
Embrenhamo-nos nas malhas tortuosas e emblemáticas da
Bioética e vamos dar um passo adiante. Agora, nesta unidade, en-
tra em cena um tema com um vocabulário bem complicado: eu-
tanásia, distanásia e ortotanásia. No rol dos assuntos polêmicos
que caracterizam o estudo da Bioética, está incluída, também, a
clonagem.
Entretanto, não se preocupe: cada fato a seu tempo. Dare-
mos as explicações plausíveis que irão facilitar o nosso itinerário.
A clonagem será abordada com base na sua conceituação e
nos seus diferentes tipos. Dessa forma, centralizaremos o enfoque
da clonagem humana e seus desdobramentos possíveis em uma
outra oportunidade.
Bom estudo!
4. VOLTANDO ÀS ORIGENS
O ser humano é o único ser vivente da Terra consciente de
sua finitude, que sabe que sua passagem neste mundo é transi-
tória e que deve terminar um dia; em outras palavras, ele tem a
certeza de que irá morrer.
© U8 - Bioética, Eutanásia e Clonagem 133
6. CLASSIFICAÇÃO DA EUTANÁSIA
Segundo Goldim apud Barbosa (2007), a eutanásia, depen-
dendo do critério considerado, pode ser classificada de diversas
formas, destacando-se as seguintes:
Quanto ao tipo de ação
Eutanásia ativa: o ato deliberado de provocar a morte sem sofri-
mento do paciente, por fins misericordiosos.
Eutanásia passiva ou indireta: a morte do paciente ocorre dentro
de um quadro terminal, ou porque não se inicia uma ação médica
ou porque há interrupção de uma medida extraordinária, com o
objetivo de minorar o sofrimento.
Eutanásia de duplo efeito: a morte é acelerada como uma conse-
qüência indireta das ações médicas que são executadas visando ao
alívio do sofrimento de um paciente terminal.
Quanto ao consentimento do paciente
Eutanásia voluntária: quando a morte é provocada atendendo a
uma vontade do paciente.
Eutanásia involuntária: quando a morte é provocada contra a von-
tade do paciente.
Eutanásia não-voluntária: quando a morte é provocada sem que o
paciente tivesse manifestado sua posição em relação a ela.
8. CLONAGEM
Até aqui, realizamos uma caminhada tranquila e estimulante,
na medida em que nos deparamos com temas que ainda proporcio-
narão muito “pano para manga”, como se diz na linguagem popular.
Em fevereiro de 1997, a Revista Nature noticiava com desta-
que a história da primeira clonagem animal com sucesso, realizada
por Ian Vilmut, no Roslin Institute de Edimburgo: a ovelha Dolly.
O fato de a clonagem ter sido realizada em um mamífero e, so-
bretudo, a partir de uma célula adulta ou diferenciada fez com que
essa experiência científica assumisse uma importância toda especial
não só no meio da opinião pública, mas também no meio científico.
9. CONCEITO DE CLONAGEM
A palavra “clonagem” tem sua raiz proveniente do termo
“clon”, originada do grego e que quer dizer “ramo”, “estaca”.
A clonagem é, pois, um processo pelo qual se reproduzem
organismos idênticos, ou seja, que têm a mesma dotação genética,
o mesmo DNA dos quais procedem os organismos vivos.
Portanto, a clonagem não pode ser entendida como algo
natural ou espontâneo, visto que se realiza por meio de uma in-
tervenção humana especial. Desse modo, uma vez que é uma in-
tervenção humana especial no processo de reprodução, ela pode
ser realizada em todas as dimensões da natureza, tanto em micro-
-organismos no reino vegetal, animal e humano.
Clonagem em micro-organismos
A manipulação de micro-organismos na forma de vírus e de
bactérias com objetivos biotecnológicos possibilita o uso da clona-
gem; por exemplo: se forem introduzidos genes humanos em bac-
térias, obteremos insulina humana e hormônios de crescimento.
Com a mesma base, podem-se produzir vírus ou bactérias
para outras finalidades, como, por exemplo, para eliminar insetos
nocivos, produzir adubos nitrogenados e, até, produzir armas bio-
lógicas.
Clonagem de animais
A clonagem em animais é um fenômeno ainda mais significa-
tivo. Por volta da década de 1930 do século passado, registraram-
-se os primeiros avanços na Biologia Celular e Molecular, com a
prática das cisões embrionárias e com a produção artificial de gê-
meos.
Assim, na década de 1950, começou-se a realizar a clonagem
de rãs na fase embrionária e, em 1980, começaram a ser clona-
dos ratos com células embrionárias. Já a partir da década de 1990,
ocorreram os clones embrionários com ovelhas, gado bovino e, so-
bretudo, com macacos.
O caso da ovelha Dolly, em 1997, foi um marco importante,
pois Ian Vilmut fizera mais de 270 experiências anteriores, todas
fracassadas. Até aquele momento, não se conseguira a clonagem
com células somáticas.
Depois da clonagem de Dolly, veio a clonagem de Polly, uma
ovelha em cujo DNA introduziu-se um gene humano para que fos-
se aumentada a potencialidade das proteínas do leite, deixando-o
mais adequado para o consumo humano. Com essa experiência
bem-sucedida, houve a continuidade de inclusão de um gene hu-
mano, com o objetivo de transplantes humanos e da produção de
medicamentos para os seres humanos.
Em alguns países, como EUA e Japão, foram clonados, no
mesmo ano (1997), bezerros com células somáticas.
A repetição e a ampliação de experiências com clonagem de
animais possibilitaram que os Centros de Pesquisa clonassem ape-
nas partes de organismos de animais, com o objetivo de utilizar os
órgãos e os tecidos para consolidar os resultados e as conclusões
sobre a segurança nesse processo.
© U8 - Bioética, Eutanásia e Clonagem 145
12. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, conhecemos as definições de eutanásia, dis-
tanásia e ortotanásia, bem como suas características. Estudamos,
também, a clonagem com base na sua conceituação e nos seus
diferentes tipos.
Na próxima unidade, convidaremos você a conhecer conteú-
dos relacionados aos alimentos transgênicos e à doação de órgãos.
Até lá!
13. EͳREFERÊNCIAS
APARECIDA, et al. Saúde em foco: uma proposta para reflexão em ética e cidadania.
Disponível em: <http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/Revistas_EST/III_
Congresso_Et_Cid/Comunicacao/Gt04/Ana_Paula_Camila_M_Karoline_J_Mirian_M_
Nadia_D_Renata_B_Tatiane_S__Paulo_F.pdf>. Acesso em: 9 ago. 2010.
2. CONTEÚDOS
• Conceituação, argumentos favoráveis e contrários ao uso
dos transgênicos.
• Impactos sobre a saúde humana e o meio ambiente.
• Em que consistem o transplante e a doação de órgãos.
• Dimensões dos transplantes e os seus desdobramentos:
quem pode doar ou não.
• Necessidade de combater o mercado de órgãos.
152 © Bioética
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você estudou temas atuais da Bioética
como a eutanásia e a clonagem.
Agora, nesta última unidade, você terá a oportunidade de
estudar os alimentos transgênicos, os transplantes e a doação de
órgãos.
Então, vamos lá!
© U9 - Alimentos Transgênicos, Transplantes e Doação de Órgãos 153
cias sociais de sua aplicação. A ciência e a técnica devem ser utilizadas como
instrumentos a serviço da saúde. Nessa perspectiva, é indispensável agregar à
discussão sobre os transgênicos referenciais éticos que direcionem as fronteiras
do progresso da tecnociência, sem, obrigatoriamente negá-lo. “Temos que intro-
duzir um debate, para além dos referenciais éticos da prudência, da tolerância e
da responsabilidade, a questão da equidade e da justiça distributiva dos benefí-
cios.” O grande nó em relação aos transgênicos não está somente na utilização
ou não desta nova tecnologia, mas no seu controle ético-social (PESSINI, 2006,
p. 50).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
15. EͳREFERÊNCIAS
AMBIENTE BRASIL. Home Page. Disponível em: <www.ambientebrasil.com.br>. Acesso
em: 9 ago. 2010.
ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA ORGÂNICA. Home Page. Disponível em: <www.aao.org.
br>. Acesso em: 9 ago. 2010.
BOA SAÚDE. Alimentos transgênicos. Disponível em: <http://boasaude.uol.com.br/
lib/showdoc.cfm?LibCatID=-1&Search=alimentos&CurrentPage=0&LibDocID=3833>.
Acesso em: 9 ago. 2010.
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas
Envolvendo Seres Humanos. Resolução 196/96. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/
bioetica/res19696.htm>. Acesso em: 9 ago. 2010.
FARIA, C. R. S. M. A polêmica dos transgênicos. s./d. Disponível em: <http://www.senado.
gov.br/conleg/artigos/politicasocial/ApolemicadosTransgenicos.pdf>. Acesso em: 9 ago.
2010.
MATIAS, Cristina. Mais de 71 mil pessoas esperam por doações de órgãos no Brasil.
Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2008/10/24/ult4477u1068.
jhtm>. Acesso em: 9 ago. 2010.
OPINA TUDO. Transgênicos: riscos para o meio ambiente e para saúde humana. Conceito.
s./d. Disponível em: <http://br.geocities.com/opinatudo/conceito__transgenicos.htm>.
Acesso em: 9 ago. 2010.
TRANSGÊNICOS. Home Page. Disponível em: <http://www.esplar.org.br/publicacoes/
transgenicos.htm>. Acesso em: 9 ago. 2010.
VOGT, Carlos. O alarde dos transgênicos. Disponível em: <http://www.comciencia.br/
reportagens/transgenicos/trans01.htm>. Acesso em: 26 maio 2009.