É irreversível o caminho para o ateísmo ou tem a fé em Deus ainda futuro, quem sabe novo
futuro? Esta indagação norteia as investigações deste capítulo.
Vontade e sentimento, fantasia e emoção não podem ser reduzidos à pura razão científica. O
ideal da ciência moderna é: método adequado, clareza e exatidão. Isso para muitos, significa
simplesmente matematização dos problemas. A matematização, a quantificação e a
formalização são insuficientes para abranger fenômenos qualitativos específicos da existência
humana como a arte, a música, a religião, o amor, a fé, etc.
Se a ciência for fiel a seu ideal metódico, abster-se-á de pronunciar juízos sobre o que extrapola
o horizonte de sua experiência. Com isso reconhecerá seus próprios limites, pois não tem
respostas a todos os problemas existenciais do homem. Certamente a razão científica não
substitui a fé em Deus, nem a religião. A filosofia se faz com uma racionalidade crítica
(Descartes e Kant), mas deve combater o racionalismo ideológico caracterizado por
dogmatismo racionalista.
Nesta filosofia racionalista a problemática de Deus ou religião não ocorrem porque são objeto
que não interessa. Desconfia-se de que o discurso sobre Deus e religião não tenha sentido ou
seja absurdo, ao menos do ponto de vista lógico.
A partir da posição do Tractatus é consequente não dizer nada de Deus e da religião, pois os
fatos são o único objeto da ciência e, pela mediação da ciência, também o único objeto da
filosofia. Os fatos são mensuráveis, determináveis. Claro, determinações são limites. O infinito
não é mensurável. Portanto, a ciência, consequentemente, a filosofia, trata do infinito, dos fatos.
Wittgenstein afirma que todas as proposições que ultrapassam a ciência carecem de sentido.
Para a vida humana ele é muito importante: “Sentimos que, ainda que todas as possíveis
questões científicas fosse dada resposta, nossos problemas vitais não teriam sido tocados. Sem
duvida, não cabe mais pergunta alguma, e esta é precisamente a resposta” (6.52).
“observa-se a solução dos problemas da vida no desaparecimento desses problemas. (Esta não
é a razão por que os homens, para os quais o sentido da vida se tornou claro depois de longo
duvidar, não podem mais dizer em que consiste esse sentido?)” (6.521).
Wittgenstein responde: sim. É o místico. Se a linguagem descritiva, se aquilo que se pode dizer
se identifica com a totalidade das proposições de ciência natural, resta perguntar: o que acontece
com as proposições da metafísica, da ética, da estética e da religião? Segundo ele carecem de
sentido, porque tentem ultrapassar o limite da linguagem e, portanto, do mundo. Admite que
haja coisas importantes que não se podem dizer, mas apenas mostrar, como é o místico.
Wittgenstein nega a realidade da fé e da religião? Não. Nega-lhes o sentido factual.
Inegavelmente a distinção entre dizer e mostrar caracteriza a filosofia de Wittgenstein. Parece
que, no Tractatus, o mais importante é aquilo que não foi dito.
Se Deus é, por definição, exterior ao mundo, é, ao mesmo tempo, interior porque o mundo dele
depende. Aparece aqui o velho problema da transcendência e da imanência de Deus. Claro,
Deus não pode ser, segundo o Tractatus, uma conclusão lógica da ciência. Na realidade tira uma
conclusão metafísica, embora negue a possibilidade da metafísica no plano do discurso lógico.
Com isso, o místico é apenas outro nome para a metafísica. Ele nega a possibilidade de constatar
o metafísico, no sentido tradicional. Isso segundo ele significa que a experiência do místico é
indizível na linguagem lógica postulada. A filosofia, de certa maneira condena-a ao silêncio,
reduz toda a filosofia a ser crítica da linguagem e “esclarecimento lógico do pensamento”. O
místico sendo o imediato é o limite do interrogar. Para ele, os temas místicos (o mundo como
globalidade, a vida e a morte, a felicidade) não são objeto de investigação filosófica. Comparada
com a ciência, a filosofia é sem sentido, Carece de objeto próprio.
Desde sua Lógica da pesquisa científica (1935), em seu racionalismo crítico dedica-se ao estudo
do progresso ou da evolução do conhecimento científico.
Popper nega justamente, a necessidade de se partir dos “enunciados protocolares” sobre fatos
para depois generalizá-los através da indução. Segundo ele, não existe indução alguma., as
teorias jamais se podem verificar empiricamente.
O método crítico
Pretende delimitar a ciência empírica não só em relação à metafísica, mas também em relação
à matemática e à lógica. Segundo ele, o racionalismo positivista destrói não só a metafísica.
Mas todo o conhecimento empírico. Por quê? Porque a maioria das proposições empíricas
também não é verificável.
A posição de Karl Popper em relação ao positivismo lógico pode ser caracterizada da seguinte
maneira:
Popper reconhece que muitos objetivos e ideais da cultura ocidental se devem ao cristianismo,
como PE a liberdade e a igualdade. “Admitimos certamente que nós não sabemos, mas
conjecturamos. Esse nosso conjecturar orienta-se por uma fé acientífica, metafísica, de que
existem algumas leis e normas que podemos desvelar e descobrir”. “Fica, pois, claro que de
modo algum o enfoque racionalista pode fundar-se sobre argumentos ou experiências, e que um
racionalismo universal é insuficiente e insustentável”. A posição de Popper, na questão do
conhecimento, situa-se entre o ceticismo e o positivismo racionalista. Contra o otimismo dos
positivistas diz que não temos conhecimento seguro, que nosso conhecimento é um adivinhar
crítico, uma rede de hipóteses e conjecturas. Em princípio, também em Popper, de maneira
análoga ao Tractatus de Wittgenstein, conhecimento é concebido como determinação do
determinado e, portanto, limitado e fáctico.
O critério empirista de significação então pode ser formulado nos seguintes termos: a
verificabilidade de um enunciado é a condição necessária para que seja considerado como
dotado de sentido. Neste contexto, proposições sobre a existência ou não existência de Deus
carecem de sentido porque não existe possibilidade lógica de sua verificação. Deus é, então,
um pseudoproblema filosófico.
Popper deu sua contribuição neste sentido, mostrando que nosso saber não começa com
certezas últimas, e sim com conjecturas, modelos e hipóteses com os quais interpreta a própria
percepção sensível. Cabe destacar que alguns pensadores, como Karl Popper, não compartilham
a ideia de que a filosofia deva limitar-se à análise lógica. Semelhante filosofia meramente
analítica, segundo Popper, torna-se tão pouco informativa acerca de Deus como acerca do
mundo. A filosofia analítica exerce apenas o papel de prolegômeno a uma filosofia da religião.
Esquece, todavia, que a linguagem é uma função da existência humana. Todo o discurso é
discurso de alguém numa situação determinada e concreta. Se quiser fazer análise da linguagem
religiosa é preciso pô-la em estreita relação e correlação com a análise da existência humana
nela expressa. Neste ponto emerge a filosofia da existência.