O DNA contém três tipos de componentes químicos: (1) fosfato, (2) um açúcar denominado
desoxirribose e (3) quatro bases nitrogenadas — adenina, guanina, citosina e timina. O açúcar
no DNA é denominado “desoxirribose”, tendo em vista que ele apresenta apenas um átomo
de hidrogênio (H) no átomo de carbono 2′, contrariamente à ribose (um componente do RNA),
que apresenta um grupo hidroxila (OH) naquela posição. Duas das bases, adenina e guanina,
apresentam uma estrutura de anel duplo característica de um tipo de substância química
denominado purina. As outras duas bases, citosina e timina, apresentam uma estrutura de
anel único de um tipo denominado pirimidina.
Dupla-hélice.
O arcabouço de cada filamento é formado por unidades de fosfato e açúcar desoxirribose
alternadas, que estão conectadas por ligações fosfodiéster.
Observe que o par G-C apresenta três ligações de hidrogênio, enquanto o par A-T apresenta
apenas duas.
Preveríamos que o DNA que contém muitos pares G-C seria mais estável do que o DNA que
contém muitos pares A-T. De fato, essa previsão é confirmada. O calor causa a separação dos
dois filamentos da dupla-hélice do DNA (um processo denominado dissociação do DNA ou
desnaturação do DNA); DNA com mais alto conteúdo de G + C necessita de temperaturas mais
altas para se dissociar, em virtude da maior atração do pareamento G-C.
Replicação semiconservativa.
Se esse modelo estiver correto, então cada molécula-filha deve conter uma cadeia de
nucleotídios parental e uma cadeia de nucleotídios recentemente sintetizada. Entretanto, um
pouco de ponderação demonstra que existem no mínimo três modos diferentes nos quais uma
molécula de DNA parental pode estar relacionada com as moléculas-filhas. Esses modos
hipotéticos de replicação são denominados semiconservativo (o modelo de Watson-Crick),
conservativo e dispersivo (Figura 7.12). Na replicação semiconservativa, a dupla-hélice de
cada molécula-filha de DNA contém um filamento da molécula de DNA original e um
filamento recém-sintetizado.
Forquilha de replicação.
Essa forquilha é o local no qual a dupla-hélice é desenrolada para produzir os dois filamentos
únicos que atuam como moldes para a cópia.
DNA polimerases.
Essa enzima adiciona desoxirribonucleotídios na extremidade 3′ de uma cadeia de nucleotídios
em crescimento, utilizando como molde um filamento único de DNA que foi exposto pela
deselicoidização localizada da dupla-hélice.
A DNA pol III atua como a forquilha de replicação, a zona na qual a dupla-hélice está
desenrolando. Entretanto, tendo em vista que a DNA polimerase sempre adiciona
nucleotídios na extremidade 3′ em crescimento, apenas um dos dois filamentos
antiparalelos pode atuar como molde para a replicação na direção da forquilha de
replicação. Em relação a esse filamento, a síntese pode ocorrer de modo contínuo e suave
na direção da forquilha; o novo filamento no sentido líder, é denominado filamento
contínuo (no sentido líder, leading). A síntese do outro filamento também ocorre na
extremidade em crescimento 3′, mas essa síntese ocorre no sentido “errado”, tendo em
vista que, em relação a esse filamento, o sentido 5′ para 3′ da síntese está longe da
forquilha de replicação (ver Figura 7.16). Conforme veremos, a natureza do maquinário de
replicação requer que a síntese de ambos os filamentos ocorra na região da forquilha de
replicação. Portanto, a síntese que se afasta da forquilha de crescimento não pode
prosseguir por muito tempo. Ela tem de ocorrer em segmentos curtos: a polimerase
sintetiza um segmento, em seguida se movimenta de volta para a extremidade 5′ do
segmento, onde a forquilha em crescimento expôs o novo molde e inicia o processo
novamente. Esses trechos curtos (1.000 a 2.000 nucleotídios) de DNA recém-sintetizado
são denominados fragmentos de Okazaki.
Outro problema na replicação do DNA surge em virtude de a DNA polimerase conseguir
estender uma cadeia, mas não iniciar uma cadeia. Portanto, a síntese do filamento
contínuo e de cada fragmento de Okazaki tem de ser iniciada por um primer, ou uma
cadeia curta de nucleotídios, que se liga ao filamento-molde para formar um segmento de
ácido nucleico dúplex. O primer na replicação do DNA pode ser observado na Figura 7.17.
Os primers são sintetizados por um conjunto de proteínas denominado primossomo, do
qual um componente central é uma enzima denominada primase, um tipo de RNA
polimerase. A primase sintetiza um trecho curto (aproximadamente 8 a 12 nucleotídios) de
RNA complementar a uma região específica do cromossomo. No filamento contínuo, é
necessário apenas um primer inicial, tendo em vista que, após a ação do primer inicial, o
filamento de DNA em crescimento atua como primer para a adição contínua. Entretanto,
no filamento descontínuo, cada fragmento de Okazaki necessita de seu próprio primer. A
cadeia de RNA que compõe o primer em seguida é estendida como uma cadeia de DNA
pela DNA pol III.
Uma DNA polimerase diferente, pol I, remove os primers de RNA com sua atividade de
exonuclease 5′ para 3′ e preenche as lacunas com sua atividade de polimerase 3′ para 5′.
Outra enzima, a DNA ligase, une a extremidade 3′ do DNA que preencheu a lacuna à
extremidade 5′ do fragmento de Okazaki dowstream. O novo filamento assim formado é
denominado filamento descontínuo (lagging). A DNA ligase une os fragmentos do DNA ao
catalisar a formação de uma ligação fosfodiéster entre a extremidade 5′-fosfato de um
fragmento e o grupo 3′-OH adjacente de outro fragmento. Parte do motivo da precisão da
replicação do DNA é que ambas a DNA pol I e a DNA pol III possuem atividade de
exonuclease 3′ para 5′, que atua como uma função de “revisão” por meio da excisão de
bases incorretamente inseridas. A adição de uma base incorreta com frequência ocorre em
virtude de um processo denominado tautomerização. Cada uma das bases no DNA pode se
apresentar em uma de diversas formas, denominadas tautômeros, que são isômeros que
diferem nas posições de seus átomos e nas ligações entre os átomos. As formas estão em
equilíbrio. A forma ceto de cada base normalmente está presente no DNA, mas em casos
raros, uma base pode ser alterada para a forma imino ou enol. As formas imino e enol
podem parear com a base errada, formando um par errôneo (Figura 7.18). Quando uma C
é alterada para a sua forma rara imino, a polimerase adiciona uma A em vez de uma G
(Figura 7.19). Felizmente, tal erro normalmente é detectado e removido pela atividade de
exonuclease 3′ para 5′. Após a remoção da base incorreta, a polimerase tem outra chance
de adicionar a base G complementar correta.
Além disso, tendo em vista que a primase não apresenta uma função de revisão, o primer de
RNA apresenta maior probabilidade de conter erros do que o DNA. A necessidade de manter a
alta fidelidade da replicação é um motivo pelo qual os primers de RNA nas extremidades dos
fragmentos de Okazaki precisam ser removidos e substituídos por DNA. Apenas após a
remoção do primer de RNA a DNA pol I catalisa a síntese do DNA para substituir o primer. O
assunto do reparo do DNA será comentado em detalhoes no cap 16.
Deselicoidização da dupla-hélice
Deselicoidização da dupla-hélice
Atualmente sabemos que o replissomo contém duas classes de proteínas que abrem a hélice
e evitam a helicoidização excessiva: elas são as helicases e as topoisomerases,
respectivamente.
As helicases são enzimas que rompem as ligações de hidrogênio que mantêm os dois
filamentos da dupla-hélice juntos. Assim como a proteína grampo, a helicase se adéqua como
uma rosquinha ao redor do DNA; a partir dessa posição, ela rapidamente desenrola a dupla-
hélice à frente da síntese do DNA. O DNA desenrolado é estabilizado por meio de proteínas de
ligação a filamento simples (SSB, do inglês, single-strand-binding), que se ligam ao DNA
unifilamentar e evitam a reestruturação do dúplex.
O desenrolar da forquilha de replicação pelas helicases causa torção extra em outras regiões e
são formadas superespirais para liberar a tensão da torção extra. Tanto as torções quanto as
superespirais têm de ser removidas para possibilitar que a replicação continue. Essa super-
helicoidização pode ser criada ou relaxada por enzimas denominadas topoisomerases, das
quais um exemplo é a DNA girase (Figura 7.21). As topoisomerases relaxam o DNA super-
helicoidizado por meio da quebra de um único filamento de DNA ou de ambos os filamentos, o
que possibilita que o DNA gire tornando-se uma molécula relaxada. As topoisomerases
encerram reunindo os filamentos da molécula de DNA agora relaxada.
Montagem do replissomo | Início da replicação
Propriedades do RNA
Conforme você verá posteriormente neste capítulo, a presença do grupo hidroxila no átomo
de carbono 2’ facilita a ação do RNA em muitos processos celulares importantes.
Além disso, a uracila é capaz de parear com G. As bases U e G formam pares de bases apenas
durante o dobramento do RNA, não durante a transcrição. As duas ligações de hidrogênio
que podem se formar entre U e G são mais fracas do que as duas que se formam entre U e A. A
capacidade de U parear-se tanto com A quanto com G é o principal motivo pelo qual o RNA
consegue formar estruturas extensas e complicadas, muitas das quais são importantes em
processos biológicos
Classes de RNA.
Os RNA podem ser agrupados em duas classes gerais. Uma classe de RNA codifica a
informação necessária para produzir cadeias polipeptídicas (proteínas). Fazemos referência a
essa classe como RNA mensageiro (mRNA), tendo em vista que esses RNA, assim como um
mensageiro, atuam como o intermediário que transmite a informação do DNA para a proteína.
Fazemos referência à outra classe como RNA funcional, tendo em vista que o RNA não codifica
informação para produzir proteínas. Em vez disso, o próprio RNA é o produto funcional final.
RNA mensageiro. As etapas por meio das quais um gene influencia o fenótipo são
denominadas expressão gênica. Em relação à vasta maioria dos genes, o transcrito de RNA é
apenas um intermediário necessário para a síntese de uma proteína, que é o produto funcional
final que influencia o fenótipo.
RNA funcional. Na medida em que mais é aprendido a respeito dos detalhes íntimos da
expressão e da regulação gênica, torna-se aparente que os RNA funcionais pertencem a uma
diversidade de classes e que desempenham papéis diversos. Novamente, é importante
enfatizar que os RNA funcionais são ativos como RNA; eles nunca são traduzidos em
polipeptídios. As principais classes de RNA funcionais contribuem para as diversas etapas na
transferência da informação do DNA para a proteína, no processamento de outros RNA e na
regulação do RNA e dos níveis de proteínas na célula. Duas dessas referidas classes de RNA
funcionais são observadas em procariotos e em eucariotos:
As moléculas de RNA ribossômico (rRNA) são os principais componentes dos ribossomos, que
são grandes máquinas macromoleculares que guiam a montagem da cadeia de aminoácidos
pelos mRNA e tRNA.
Transcrição.
À medida que a molécula de RNA polimerase se movimenta ao longo do gene, ela desenrola a
dupla-hélice de DNA à sua frente e enrola novamente o DNA que já foi transcrito. Conforme a
molécula de RNA é progressivamente alongada, a extremidade 5′ do RNA é deslocada do
molde e a bolha de transcrição se fecha atrás da polimerase. Sucessões ou moléculas
sucessivas de RNA polimerases, cada uma sintetizando uma molécula de RNA, movimentamse
ao longo do gene.
Estágios da transcrição.
Transcrição em eucariotos.
Como você verá, os eucariotos lidam com essa situação de diversos modos. Primeiramente,
eles dividiram o trabalho da transcrição entre três polimerases diferentes:
RNA polimerase III transcreve os pequenos genes de RNA funcional (tais como os genes para
tRNA, alguns snRNA e o rRNA 5S). Nesta seção, focaremos nossa atenção na RNA polimerase II.
Antes que o RNA deixe o núcleo, ele deve ser modificado de diversos modos. Essas
modificações são coletivamente denominadas processamento do RNA. Para distinguir o RNA
antes e após o processamento, o RNA recém-sintetizado é denominado transcrito primário ou
pré-mRNA, e o termo mRNA é reservado para o transcrito totalmente processado que pode
ser exportado para fora do núcleo. Conforme veremos, a extremidade 5′ do RNA é submetida
ao processamento enquanto a extremidade 3′ ainda está sendo sintetizada. Portanto, a RNA
polimerase II deve sintetizar o RNA enquanto coordena simultaneamente um arranjo diverso
de eventos de processamento. Por esse motivo, entre outros, a RNA polimerase II é uma
enzima formada por multissubunidades, mais complexa que a RNA polimerase procariótica. Na
verdade, ela é considerada outra máquina molecular. A coordenação do processamento e da
síntese do RNA pela RNA polimerase II será discutida na seção sobre o alongamento da
transcrição em eucariotos.