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Relações Internacionais Para Educadores (RIPE)

ISSN: 2318-9390 | v. 4. 2017

A CRISE MIGRATÓRIA NO SÉCULO XXI:


ANOMALIA OU CONSEQUÊNCIA DA
POLÍTICA INTERNACIONAL?
THE MIGRATORY CRISIS IN THE 21ST CENTURY:
ANOMALY OR CONSEQUENCE OF INTERNATIONAL POLITICS

Eduarda Fontana1
Larissa Zimnoch1
Luísa Acauan Lorentz1

RESUMO
Este artigo tem como objetivo caracterizar a atual “crise” migratória, demonstrando
o caráter permanente das migrações, os conflitos geradores dos fluxos e a aborda-
gem parcial adotada pela mídia, que caracteriza a Europa como principal afetada.
Será abordada também a perspectiva dos países de terceiro mundo, principais ge-
radores e receptores de deslocados e o desafio que as migrações representam para a
lógica do Estado-Nação.

Palavras-chave: Migração forçada, Refugiados, Crise, Estado-Nação.

1 INTRODUÇÃO
O deslocamento humano sempre esteve presente na história da humanidade, por
razões naturais, na busca por melhores condições de vida ou até por sobrevivência.
O objetivo deste artigo é trazer uma análise da chamada “Crise Migratória do século
XXI”, explorando as novas dinâmicas dos fluxos populacionais forçados que se en-
quadram no conceito de refúgio. Este estudo problematiza a forma como tal crise
é exposta pelas grandes mídias, que passaram a abordar a questão apenas quando
os fluxos atingiram de forma direta países de economia mais desenvolvida (GRE-
ENSLADE, 2015). A crise migratória não pode ser considerada um evento isolado,
ou unicamente uma crise europeia. Ela se insere num longo processo histórico de
contradições e interesses, e deriva da organização do sistema internacional. Assim,
1
Estudantes de Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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serão analisados os motivos dos atuais deslocamentos forçados, as consequências no con-
texto global e como os atores reagem às novas demandas que estes fluxos impõem.
A segunda seção deste artigo fornece uma explicação sobre conceitos relacionados
à migração e, principalmente, a refugiados, a partir da revisão da construção de uma nor-
mativa legal para a temática. A terceira seção aborda os principais desafios apresentados
pela crise migratória no século XXI, expondo um panorama geral dos dias atuais, e será
complementada pela quarta seção, responsável por delinear aspectos históricos relevantes
para a compreensão do contexto da atual crise e de movimentos de migração forçada em
geral. A seção posterior reflete acerca dos impactos dos fluxos de refugiados que se dirigem
à Europa, questionando as respostas à crise e como estas se relacionam com a forma que
o continente se constitui. Por fim, a sexta seção faz uma breve análise teórica que busca
avaliar como a questão do refúgio está inserida no sistema mundial e de que formas se
relaciona com os Estados.

2 CONCEITOS E PANORAMA LEGAL

Movimentos migratórios são parte fundamental da história e do desenvolvimento da hu-


manidade, envolvendo a evolução dos povos e sua dispersão por todos os continentes des-
de os primórdios da existência da espécie. Migrações forçadas, que são parte das relações
de refúgio, também existem há muito tempo, precedendo qualquer ideia de fronteira ou
pertencimento a uma nação. Estas podem ser causadas, de acordo com Purdin e McGinn
(2010) por conflitos ou algum tipo de perseguição no local de origem da população des-
locada, ou mesmo desastres climáticos e naturais. Entretanto, uma discussão aprofundada
sobre migração forçada e refugiados só se dá a partir da Primeira Guerra Mundial (ELIE,
2014), com a geração de fluxos maiores no cenário europeu, como os decorrentes da per-
seguição e genocídio de armênios cristãos pelo Império Otomano (ROCHA et al., 2016).
A história dos refugiados está intimamente relacionada à das guerras humanas. Es-
ses conflitos resultam na perseguição a grupos minoritários e na violação generalizada de
direitos humanos, de forma que o grupo afetado precisa buscar refúgio fora de seu país
de origem. Por sua vez, os direitos humanos e o instituto do refúgio estão intimamente
ligados, afinal, um refugiado é, antes de qualquer condição, um ser humano, cujos direitos
básicos devem ser defendidos. A violação de direitos humanos é a maior causa de migra-
ções forçadas no planeta e, muitas vezes, elas ocorrem também nos países que recebem
refugiados (UNHCR, 1995).
Conflitos armados que infringiram direitos humanos se repetiram diversas vezes ao
longo da história. Contudo, apenas no século XX, após as grandes guerras, os Estados reco-
nheceram a necessidade de coordenação global para lidar com o refúgio. A discussão sobre
o tema se intensificou a partir da Segunda Guerra Mundial, com a rejeição de migrantes
do Leste europeu e políticas de perseguição baseadas em raça e religião empreendidas pela

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Alemanha Nazista (ROCHA et al., 2016). Segundo estimativas, 60 milhões de europeus


foram forçadamente deslocados como resultado da Segunda Guerra (HARRIS, WÜLKER,
1953), constituindo um dos maiores números de migrantes forçados já existentes. Tal ce-
nário resultou na criação de campos de refugiados e de uma instituição responsável por seu
tratamento, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Na época,
os países com maior influência acordaram a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugia-
dos, assinada em 1951, que estabeleceu as normas para o instituto do refúgio (ONU, 1951).
Entretanto, a Convenção de 1951 era restrita temporal e geograficamente, abarcando
apenas refugiados europeus da Segunda Guerra Mundial. Assim, o Protocolo de 1967 sur-
giu para que a Convenção passasse a abranger novos fluxos de refugiados, sem restrições de
datas e espaço geográfico (ONU, 1967). Ambos os documentos são considerados os princi-
pais instrumentos internacionais a serem utilizados por Estados como guia no tratamento
dos refugiados em seu território. A partir da Convenção de 1951, é assegurado a qualquer
pessoa o direito de procurar o refúgio em outro Estado e dele usufruir (ACNUR, 2016).
O Estatuto dos Refugiados estabelece que os Estados signatários proporcionem aos
refugiados presentes em seu território uma série de direitos antes não assegurados2. Além
disso, outras convenções regionais foram adotadas a fim de adequar-se aos contextos de
cada região, como a Convenção Africana Sobre Refugiados, criada no âmbito da Organiza-
ção da Unidade Africana e a Declaração de Cartagena3, vigente na América Latina.
Atualmente, as migrações são divididos em duas categorias: forçadas e voluntárias.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM, 2009, p. 43), o termo mi-
grante
[G]eralmente, abrange todos os casos em que a decisão de migrar é tomada livre-
mente pela pessoa em decorrência (concernida) de “razões de conveniência e sem a
intervenção de fatores externos que a obriguem. Desta forma, esse termo se aplica às
pessoas e a seus familiares que vão para outro país ou região com vistas a melhorar
suas condições sociais e materiais, suas perspectivas e de seus familiares.

Em relação ao primeiro tipo, há subclassificações sendo: (i) o conceito de refugia-


do, que compreende pessoas que se encontram fora do seu país de origem devido a um
fundamentado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião
política ou participação em grupos sociais, e que não podem ou não querem retornar ao
seu país de origem por correrem riscos de vida (ONU, 1951); (ii) os apátridas, que não são
cidadãos de qualquer Estado - portanto não tem acesso à proteção ou serviços públicos -
e, como os refugiados, estariam submetidos a uma situação que ameaçaria a sua própria
sobrevivência (ONU, 1954); e (iii) os deslocados internos, pessoas que se deslocam por
2
São estes a não discriminação dos refugiados seja por raça, religião, grupo social ou país de origem e dar a eles o
mesmo tratamento que é dado aos seus nacionais em matéria de assistência e de serviços públicos.
3
A primeira trata dos problemas de refúgio na África, reiterando a Convenção da ONU de 1951 e aumentando
o escopo da definição de refugiado (ACHPR, 2016). A Declaração de Cartagena sobre Refugiados, de 1984, é um
instrumento presente na América Latina e Caribe, que tem como foco a proteção e os desafios humanitários en-
frentados por refugiados. Ela é conhecida por expandir a definição de refugiado estabelecida pela Convenção de
1951 e foi adotada pela legislação nacional de 14 países (ACNUR, 2016).
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motivos semelhantes aos refugiados, mas sem atravessar qualquer fronteira internacional,
permanecendo dentro de seu próprio país (OIM, 2009).
O mandato do ACNUR, levando em consideração as diferenças entre os conceitos,
inclui somente as migrações forçadas, pelo entendimento de que são graves violações dos
direitos humanos, requerendo a atuação da comunidade internacional. Consequentemen-
te excluindo os migrantes econômicos de sua responsabilidade.4 Há, ainda, dois tipos de
migrações forçadas fora do mandato do ACNUR: vítimas de tráfico humano, que se en-
contram sob a alçada do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC),
e migrantes ambientais, que estão em uma categoria entre migração forçada e voluntária,
mas não se incluem na categoria de refugiados validada pela ONU (ACNUR, 2016)5.

3 A CRISE DE REFUGIADOS NO SÉCULO XXI

O deslocamento forçado teve um crescimento acelerado desde o início do século XXI, al-
cançando níveis recordes em 2016, que configuram a atual crise de refugiados. Até o fim de
2015, mais de 65 milhões de pessoas foram forçadas a deixarem suas regiões, em função de
perseguição, conflitos armados, violência generalizada ou violações de direitos humanos.
Em uma população mundial de pouco mais de 7 bilhões de pessoas, isso significa que uma
a cada 113 pessoas é hoje solicitante de refúgio, deslocado interno ou refugiado (ACNUR,
2016).
A grande maioria desses refugiados, provenientes do Oriente Médio e da África, é re-
sultado da série de conflitos armados e guerras civis que degradam a região. No Iraque e na
Líbia, conflitos armados acontecem diariamente, provocando a destruição de instituições
estatais e sociais que forçam milhares de pessoas a buscar refúgio em países vizinhos e em
outras regiões mais distantes, como o continente europeu6.
A Síria foi o país de origem da maior parte dos refugiados em 2015. Estima-se que
4,9 milhões de refugiados sírios estejam sob mandato do ACNUR, os quais buscam refúgio,
especialmente nos Estados fronteiriços, como Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egito.
Isso acontece, pois, diferente do que se observa nas bases de comunicação ocidentais, ge-
ralmente, o primeiro destino dos deslocadas forçados são as regiões mais próximas de seu
4
Na prática, não há uma diferença tão grande entre migrações forçadas e voluntárias, já que o desrespeito aos
direitos humanos pode surgir de outras formas. Um cidadão sem amparo governamental para sustentar uma
condição digna de vida está igualmente em situação de risco (ELIE, 2014).
5
O caso dos migrantes ambientais é problemático, pois são pessoas que estão sendo obrigadas a deixar suas casas,
por problemas decorrentes de desastres naturais ou mudanças climática, mas, em tese, ainda estão dentro do
aparato governamental de seu país, além de não sofrerem fundado temor de perseguição, fator essencial para se
enquadrar como refugiados (BIERMANN & BOAS, 207, p 5-6).
6
O conflito no Iraque se iniciou em 1990, com a invasão dos EUA, cujas intervenções perduraram com a guerra
contra o “eixo do mal”. Os norte-americanos foram exitosos na derrubada de Saddam Hussein e, desde então, o ce-
nário político iraquiano esteve longe da estabilidade. Grupos políticos internos, sobretudo dominados por facções
xiitas e sunitas, se enfrentam em conflitos civis. O embate mais recente teve início com um grupo de insurgentes
que começou a tomar cidades do norte do país e avançar em direção a Bagdá. Tais conflitos geram refugiados da
região. Na Líbia, com a derrubada do ditador Muammar Gaddafi, o território foi dividido em dois governos rivais,
levando a um conflito armado. Além disso, há o domínio cada vez maior do Estado Islâmico, tornando a região
mais instável e propensa ao crescimento do número de refugiados (VISENTINI, 2012).
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país. Os deslocados internos da Síria já somam números alarmantes, próximos a 6,6 mi-
lhões de pessoas (ACNUR, 2015a)
Após a Síria, o Estado com a segunda maior saída de refugiados é o Afeganistão,
com números próximos a 2,7 milhões de pessoas. O país passa por conflitos armados des-
de 1978, o que ocasiona uma saída contínua de afegãos em busca de melhores condições.
O Paquistão e o Irã acolhem atualmente cerca de 95% de todo o povo afegão refugiado.
(UNHCR, 2015b).
O terceiro país em conflito gerador de refugiados é a Somália, que, ao final de 2014, já
tinha produzido mais de 1,1 milhão de pessoas à procura de refúgio. A Somália é, ainda, um
dos países mais pobres do mundo, em guerra civil desde 1991 (ACNUR, 2015c). Entre os
principais países para os quais os somalis se dirigem estão o Iêmen, o Quênia e a Etiópia. A
Somália, a Síria e o Afeganistão são a origem de cerca de 53% dos refugiados do planeta atu-
almente. Devido à proximidade com áreas de conflito, a Turquia, o Líbano e a Jordânia são
alguns dos países que recebem o maior número de refugiados (UNHCR, 2015). Estes países
já registram cerca de 4 milhões de refugiados em seus territórios, muito além dos cerca de
1 milhão de refugiados que se destinam aos países europeus (THE GUARDIAN, 2016).
Atualmente, guerras civis7, ocorrendo principalmente no Oriente Médio e na África
causam o acentuado número de deslocamentos que fogem de guerras e de perseguições ét-
nico-religiosas em busca de refúgio (COCKBURN, 2015a). Há focos de conflito entre fac-
ções tribais em muitos países da África, além dos embates reforçados a partir da Primavera
Árabe. O atual fluxo de refugiados tem uma de suas causas na instabilidade enfrentada por
várias regiões do Oriente Médio e da África desde a Primavera Árabe, iniciada em 2011,
da qual eclodiram várias guerras civis de grande intensidade e conflitos étnico-religiosos,
juntamente com o surgimento de vários grupos fundamentalistas islâmicos em consequ-
ência da queda dos regimes, da desestruturação e fragilidade do Estado e de seus exércitos,
incapazes de conter os novos grupos radicais (BANDEIRA, 2014; COCKBURN, 2015a).
Contudo, a Primavera Árabe consiste em um ponto de inflexão, que radicaliza os desloca-
mentos forçados inserindo-os como pauta central nas grandes mídias novamente, mas faz
parte de um processo mais amplo, que tem suas raízes no passado colonial e neocolonial
dessas regiões. De tal forma, para uma compreensão da crise migratória contemporânea,
é essencial entender em que contexto ela se insere e quais seus condicionantes históricos,
pois não se trata de um fenômeno novo, visto que, embora os números atuais sejam alar-
mantes, fluxos de refugiados igualmente preocupantes marcaram o século XX. Assim, a
seção seguinte busca expor os antecedentes que culminaram com a presente conjuntura.

4 A CRISE MIGRATÓRIA EM CONTEXTO: ANTECEDENTES


Enquanto a Convenção de 1951 afirmava seu teor universal, ligando-se à crescente pre-
ocupação com direitos humanos, era notável o caráter eurocêntrico de suas definições e
preocupações (ELIE, 2014), além de seu conveniente surgimento em meio a um fluxo de
7
Iêmen, Síria, Iraque, Afeganistão, Líbia, Somália e Etiópia são alguns dos Estados em guerra civil no mundo.
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migrações forçadas pela Europa e do Velho Mundo para outras regiões. Tal foco não sur-
preende, contudo, já que, de maneira geral, a história é tratada como a história da Europa
e suas expansões, ao mesmo tempo em que conceitos majoritariamente ocidentais, como
democracia e direitos humanos, são invocados como universais (WALLERSTEIN, 2007).
Durante a Guerra Fria, se expandiram os estudos e preocupações relativas aos re-
fugiados. Com o mandato do ACNUR, era possível tanto ao bloco ocidental quanto ao
soviético conceder proteção a migrantes forçados de maneira apolítica e melhorar sua ima-
gem internacional (CHIMNI, 1998). O período foi marcado pela ampliação da concessão
de direitos através da Convenção de 1951 e seu protocolo adicional, em 1967, enquanto
os refugiados eram de valor ideológico e geopolítico para as grandes potências (CHIMNI.
1998). Nesta época, a origem da maior parte dos deslocados à força passou a ser do terceiro
mundo, fugindo de guerras civis e intervenções em seus países, como no caso da Nicarágua,
em meio a conflitos entre o governo sandinista e grupos rebeldes dissidentes (ROCHA et
al., 2016).
O fim da Guerra Fria trazia, para muitos, a esperança de um período de paz dura-
doura, sem conflitos e, assim, sem grandes fluxos de migração forçada. O triunfo da ideo-
logia liberal ocidental parecia claro na década de 1990 (FUKUYAMA, 1989), após o fim da
União Soviética e a inserção de mais países na economia capitalista. O ideal de harmonia
mundial, entretanto, não se concretizou, com o aumento no número de conflitos intraes-
tatais e guerras civis e a continuidade do uso de violência em escala mundial (SIMEON,
2013). Mesmo que o número de mortes em guerras tenha caído consideravelmente nas
últimas décadas, o alto nível de violência e instabilidade em diversas regiões representam
obstáculos de difícil transposição, que geram números ainda maiores de migrantes força-
dos (SIMEON, 2013).
O fim do conflito ideológico também diminuiu a importância geopolítica de refugia-
dos, enrijecendo regimes de migração sob pretexto de evitar que outras pessoas invocassem
benefícios exclusivos a refugiados (CHIMNI, 1998). Tenta-se separar a ideia de “refugiado”
daqueles que provinham do terceiro mundo, utilizando o termo para movimentos euro-
peus, enquanto se introduz a ideia de repatriação voluntária ao país de origem como solu-
ção ideal para migrantes de países subdesenvolvidos, para não ser necessária a integração
completa desses refugiados às sociedades dos países do Norte (CHIMNI, 1998).
A maior parte dos conflitos ainda está localizada em países subdesenvolvidos, em
áreas afetadas pela terceira fase de expansão dos Estados8 com a contínua expansão euro-
peia promovida por políticas imperialistas durante os séculos XIX e XX (LANGE, 2015).
As potências europeias não implementaram missões de povoamento na África e na Ásia,
mas sim formas de controle direto e indireto, que variaram da influência ou presença de
agentes europeus em instituições já existentes ao estabelecimento de mandatos.
Durante os processos de independência, a transição de poder para as populações
8
Esta é caracterizada pela expansão europeia para além de seu continente, resultando em políticas imperialistas
na África e na Ásia. A primeira e segunda fase dizem respeito, respectivamente, à formação de Estados na Europa
e à expansão europeia em direção às Américas (LANGE, 2015).
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locais não ocorreu de forma pacífica (LANGE, 2015). Desde a independência dos países
africanos, por exemplo, ocorreram mais de 70 golpes de Estado no continente, muitos
seguidos por guerras civis ou interestatais (MAZRUI, 2010). O sistema de dominação eu-
ropeu favoreceu a constituição de nações desiguais e subordinadas a outros Estados, que
aprofundaram os conflitos nas regiões (LANGE, 2015). As guerras civis e outros confron-
tos internos impedem a atuação do Estado na proteção de seus cidadãos, resultando no
deslocamento forçado pelas condições de vida e risco constante. As crises atuais não são
novidade para a comunidade internacional, tendo em vista os desafios enfrentados na se-
gunda metade do século XX.
As conflagrações nesses países ocorrem, em grande parte, como consequência das
sociedades desiguais estabelecidas pelo imperialismo e neocolonialismo em laços de de-
pendência política e econômica. Conflitos africanos, resultantes de séculos de colonização
e imposição de fronteiras artificiais e mecanismos de controle externos àquelas culturas,
entretanto, não costumam ser tão veiculados pela mídia de massas, uma vez que seus fluxos
migratórios afetam de forma muito mais significativa países vizinhos, também subdesen-
volvidos, do que potências europeias.
Mesmo com sociedades por muito tempo mais evoluídas tecnologicamente, países
árabes do Oriente Médio e Norte da África não foram poupados de tentativas de coloni-
zação e subordinação às potências europeias. Sua posição geopolítica privilegiada - entre
a África, a Ásia e a Europa - e abundantes jazidas de petróleo tornaram a região foco de
disputas, especialmente no século XX (VISENTINI, 2012). Assim, países ocidentais ten-
tam, aumentar sua influência através da veiculação de ideias, como “nação” e “liberdade”; da
introdução do pensamento econômico capitalista; e até da presença militar (VISENTINI,
2012)9.
Alguns dos conflitos mais veiculados hoje pela mídia ocorrem nessa região e são,
em grande parte, decorrentes do processo conhecido como “Primavera Árabe”, que pode
ter suas raízes traçadas no período de influência europeia10. Este processo ficou conhecido
como um conjunto de manifestações populares contrárias aos anos de regimes autoritários,
nas quais cada país apresentou motivações e realidades específicas. Há evidências de que
a influência externa foi de grande importância para os movimentos, que, ao buscar mu-
danças, tiveram grande papel desestabilizador nesses países (VISENTINI, 2012). Levantes
aconteceram em todo o mundo árabe, a partir das primeiras manifestações na Tunísia, no
início de 2011.
9
Um exemplo da intervenção é a questão palestina, agravada a partir da criação do Estado de Israel, numa tenta-
tiva de resolver a crise de refugiados judeus. O conflito gerou a expulsão de palestinos de seu território, e iniciou,
uma crise humanitária que levou à criação de uma agência da ONU para os refugiados palestinos, a UNRWA
(Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina) (UNRWA, 2016).
10
É importante ressaltar que os processos da Primavera Árabe são influenciados pelo passado colonial e atual
dependência econômica e política dos países da região. Responsável pelas maiores mudanças políticas na região
em 50 anos, os movimentos geraram uma onda de otimismo na mídia ocidental, que acreditava ser esse o caminho
para a “democracia” no Oriente Médio. A esperança de estabilidade foi extinta após alguns anos, com o legado de
guerras civis e conflitos internos deixado pelo processo.
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Das revoltas emergiram cenários que têm grande impacto na crise migratória atual,
como os casos de Líbia, Iraque e Síria. A Líbia passou de destino final para migrantes eco-
nômicos e refugiados durante o governo de Muammar al-Gaddafi, para um país de passa-
gem de migrantes que se dirigem à Europa, além de gerar fluxos próprios de refugiados e
de deslocados internos, que fogem de combates entre milícias nas principais cidades líbias
(TOALDO, 2015). As dinâmicas migratórias atuais do país são causadas pela instabilidade e
caos generalizado causado pela Guerra Civil Líbia, após a derrubada do regime de Gaddafi.
Na Síria, Bashar al-Assad, presidente do país, perde grande parte de sua legitimidade
ao utilizar o exército para conter manifestações, que, unidas às relações hostis com potên-
cias ocidentais, reduzem consideravelmente seu poder (VISENTINI, 2012). A ascensão de
grupos terroristas, principalmente do Estado Islâmico (COCKBURN, 2015b), contribuí-
ram para aumentar a instabilidade do país, o que ocorreu também no Iraque, gerando um
dos maiores fluxos atuais de refugiados, além de milhões de deslocados internos.
Figura 1 - Distribuição da alocação de refugiados em seus países de destino, 2016.

Fonte: UNHCR (dados); gráfico produzido pelas autoras.


Apesar da preocupação mundial com a chegada de refugiados à Europa, a grande
maioria destes não chega a sair da região em que viviam, partindo para proteger-se, sob
condições precárias, em países vizinhos aos seus. Segundo dados do ACNUR apresentados
no gráfico acima, a maior parte dos refugiados está atualmente abrigada no Oriente Mé-
dio e na Ásia, enquanto apenas 6% destes se refugiaram no continente europeu (UNHCR,
2016).

5 A CRISE MIGRATÓRIA E A UNIÃO EUROPEIA

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A CRISE MIGRATÓRIA NO SÉCULO XXI 9

A centralidade da crise migratória só passou a vigorar a partir do momento em que os


países centrais do continente europeu passaram a receber grandes fluxos de refugiados,
visto que, conforme exposto anteriormente, outras crises igualmente graves ocorreram
- e ocorrem - em outras regiões. Assim, a crise de refugiados tornou-se a agenda do dia a
partir do momento em que foi caracterizada como a crise de refugiados europeia. No fim de
2014 e início de 2015, um número crescente de migrantes e refugiados, majoritariamente
sírios, afegãos e iraquianos, passaram a fazer a jornada à Europa, especialmente aos países
da União Europeia, cruzando o Mar Mediterrâneo ou atravessando pelas rotas do Leste
Europeu (ACNUR, 2015).
A mídia internacional concede grande importância à situação dos refugiados na Eu-
ropa porque ela está relacionada aos debates sobre o futuro da União Europeia. Assim
como a união monetária, o sistema de Schengen11 acabou por ser um arranjo sem robustez
para lidar com situações de crise. Diante do fluxo maciço de refugiados, o Regulamento de
Dublin, que atribui a responsabilidade pelos pedidos de asilo ao primeiro país de Schengen
em que os refugiados chegam, provou-se insustentável: Grécia e Itália não conseguiam
cumprir suas obrigações e permitiram a livre circulação de refugiados, impondo uma car-
ga igualmente insustentável sobre outros Estados-membro que eram destinos finais, em
especial a Alemanha, Suécia, Áustria, os países do Benelux e Finlândia. (LEHNE, 2016a).
A crise migratória tensionou a zona Schengen, que permite a livre circulação de
pessoas sem necessidade de vistos, aumentando os debates sobre sua reformulação e até
mesmo seu abandono. De fato, os atuais arranjos institucionais e legislativos da UE não
conseguiram lidar com o enorme fluxo de migrantes, e a crise levou a profundas divisões
entre os Estados membros do bloco (LEHNE, 2016b). Abriu-se espaço para um discurso
anti-integracionista, que acusa a integração de ser responsável pelo grande fluxo de mi-
grantes. Nesse cenário, a tendência geral é a radicalização do discurso político, com a ascen-
são de partidos políticos ultranacionalista. Nota-se também a intensificação da tendência
de “renacionalização” das políticas externas e de segurança (WESOLOWSKY, 2016).
Neste ponto, é importante ressaltar que a crise dos refugiados coloca em evidência as
contradições inerentes ao próprio processo de integração no europeu. Antes de ser causa-
dora, exacerbou um questionamento que já vinha ocorrendo desde 2008, no início da crise
econômica mundial. Um fator importante é o contexto histórico em que a crise se insere,
numa conjuntura em que a solidariedade entre os 28 membros do bloco já estava em um
ponto baixo. A instabilidade da zona do euro diminuiu a confiança entre os membros; a
lenta recuperação da moeda única, a fraca liderança política e a ascensão de partidos popu-
listas anti-UE em muitos Estados-Membros resultaram em uma sensação general de mal-
-estar e uma reafirmação da identidade nacional ao custo do apoio à integração (LEHNE,
2016c).
As respostas à crise migratória se inserem nesse contexto, mas também são fruto do
choque entre as tendências opostas do multiculturalismo e do cosmopolitismo, que advém
da criação da UE e das bases do projeto. Há a valorização da ideia de “Europa cosmopoli-
11
A Zona Schengen é um espaço de livre circulação de pessoas entre países 26 europeus.
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ta”, em que as diferenças entre os Estados do bloco, coexistiriam pacificamente. Contudo,
ignora-se a diversidade cultural dentro dos Estados, distanciando-se do multiculturalismo e
excluindo essa diversidade como parte do mesmo projeto de Europa cosmopolita (BHAM-
BRA, 2016). Assim, a noção de cosmopolitismo na Europa não abarca a diversidade nos
Estados como constituídos por minorias, exceto para percebê-las como ameaças e intrusas,
o que permite compreender melhor a distância entre o discurso cosmopolita e a prática
particularista.
Essa articulação do cosmopolitismo como fenômeno europeu deriva da compre-
ensão hegemônica da história do continente, que não reconhece a dominação europeia
sobre grande parte do mundo como significativa para a história, negando as consequên-
cias da dominação para a constituição multicultural contemporânea das sociedades euro-
peias (BHAMBRA, 2016). A criação da Comunidade Econômica Europeia, antecessora da
UE, se deu durante o período pós-Segunda Guerra, inserida em um contexto de posição
geopolítica europeia enfraquecida. Enquadra-se como tentativa de manter as estruturas
remanescentes dos impérios coloniais europeus, buscando facilitar as relações intra-euro-
peias de forma a permitir também a melhor partilha dos recursos africanos (HANSEN &
JONSSON, 2012). Fica claro o papel decisivo do imperialismo na constituição do processo
de integração do continente e como esse passado influencia nas relações com essas comu-
nidades ainda hoje,
Se essa bagagem for levada em conta, fica mais clara a reação à crise migratória,
que vem da constituição do processo de integração, baseado na exclusão das minorias que
constituem o caráter multicultural das sociedades europeias (BHAMBRA, 2016c). No cur-
to prazo, a crise atual monopoliza toda a atenção. Contudo, ela seria consequência de um
processo mais amplo e complexo, do descompasso entre os pilares econômico e político
do bloco, em que uma união monetária - permeada por desigualdades - não encontra uma
união política correspondente, falha que só pode ser superada a longo prazo (HABERMAS,
2012).

6 ESTADO-NAÇÃO, SOBERANIA E A MIGRAÇÃO COMO


FENÔMENO TRANSNACIONAL
A crise migratória suscita diversos debates. Em primeiro lugar, sobre sua natureza, pois,
dada a complexidade do fenômeno migratório, trajetórias forçadas de migração - como é o
caso dos refugiados - confundem-se com as voluntárias - caso dos migrantes econômicos.
Contudo, sendo ou não o fenômeno majoritariamente de refugiados, é inegável o peso
que a comunidade internacional vem dando a essa temática. Isso diz respeito a um segun-
do debate, relacionado às contradições entre a organização do Sistema Internacional em
Estados-nação e à forma paradoxal como a questão do refúgio se relaciona com o próprio
Estado, que levanta questões sobre a dificuldade de aplicabilidade dos direitos humanos
como princípio universal.

RIPE: Relações Internacionais para Educadores | Vol. 4 | 2017


A CRISE MIGRATÓRIA NO SÉCULO XXI 11

6.1 Refúgio, Estado e soberania


Com a criação da ONU e do ACNUR, esperava-se resolver a situação dos refugiados que
não conseguiram se estabelecer depois da Segunda Guerra. Contudo, os problemas no aco-
lhimento e integração dessas populações permaneceram, resultado da precariedade com
que a questão é administrada pelos países, sendo necessários maior atenção e apoio finan-
ceiro por parte das nações (UNHCR, 2015). Por mais reconhecido que seja o vínculo entre
direitos humanos e proteção dos refugiados, esta se dá apenas dentro dos Estado, estando
sujeita aos contextos internos de cada país (MENEZES e REIS, 2013). A recepção de um
grande contingente de pessoas gera custos. Além disso, é possível que a população local se
oponha à entrada desses indivíduos, especialmente se possuírem traços culturais distintos
em relação aos dela (MOREIRA, 2006), de forma que os Estados acolhedores podem colo-
car em risco a própria estabilidade interna (LOESCHER, 1999, p. 237).
Assim, dois princípios são colocados em conflito: a soberania do país e o atendimento
das necessidades das pessoas em risco (CHIMNI, 1998). Os Estados, sendo soberanos, têm
o poder de especificar as regras de admissão de refugiados em seu território. Isso gera, mui-
tas vezes, consequências negativas aos fluxos de refugiados, como o fechamento de fron-
teiras e a hostilidade no controle da entrada desses migrantes (MALKKI, 1995). A resposta
coletiva da União Europeia para tal fluxo tem sido desfavorável à proteção dos direitos de
migrantes e refugiados, priorizando a segurança das fronteiras do bloco (PARK, 2015).
A relação entre a crise dos refugiados e a crise da União Europeia em seu sentido mais
amplo está ligada à discussão sobre de que forma “os outros” podem ser incluídos em uma
comunidade política. Tal discussão está estruturada em torno de uma compreensão de que
a comunidade é pré-existente aos outros, e já contém em si o necessário para permitir sua
inclusão, de forma que a obrigação de qualquer mudança a ser feita cabe somente à figura
do estrangeiro12. Assim, não há discussão sobre os processos políticos que excluíram os
imigrantes no processo de estabelecimento da comunidade política na qual agora tem de
buscar a inclusão e, além disso, não se discute como a própria comunidade política pode ser
alterada através do envolvimento com os outros (BHAMBRA, 2009).
O impacto assimétrico da crise foi um grande obstáculo para uma resposta coletiva
forte e coerente da UE. Uma minoria dos países do bloco foi significativamente afetada pela
crise dos refugiados e tais países se dividem em três grupos. Os Estados de primeira che-
gada buscavam ultrapassar as limitações do Regulamento de Dublin. Os países de trânsito
foram tentados a desviar o fluxo de migrantes, fechando seletivamente suas fronteiras e,
caso não fosse possível, permitindo a passagem dos refugiados de forma rápida. Os países
onde os refugiados permaneceram buscaram abrandar o fluxo de entrada pedindo uma
repartição dos encargos (LEHNE, 2016).
12
Um exemplo nesse sentido foi a medida francesa em 2011, de proibir o uso de vestimentas que cobrem o rosto.
A medida atingiu diretamente mulheres muçulmanas que usam o niqab, véu que deixa somente os olhos expostos,
e foi vista como nova tentativa de impor às mulheres islâmicas o modo de ser europeu, em nome do laicismo
do Estado francês e da manutenção da ordem, sob o frágil pretexto da libertação feminina - pautada pela visão
ocidental (TERRA, 2016).
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12 Relações Internacionais Para Educadores (RIPE)
Se as respostas e reações de países que teoricamente compartilham de contextos mui-
to similares já variam entre si, a dificuldade de orquestrar ações conjuntas para lidar com
o refúgio é ainda maior na comunidade internacional. Isso porque há duas formas de lidar
com a questão dos refugiados: I) proteção aos refugiados que atingem o território do país,
pela concessão do pedido de asilo - com normas claras e estabelecidas, baseadas na Conven-
ção de 1951 e no princípio do non-refoulement13, além dos incentivos diretos para atuação;
e II) repartição da responsabilidade, pelo auxílio a terceiros países onde os refugiados se
encontram, com fraca normativa legal, poucas normas ou princípios e pouco incentivo
a atuação dos países não diretamente atingidos. Dessa forma, enquanto a primeira está
parcialmente sujeita a um comportamento orientado por normas, a última é limitada pelo
comportamento motivado por interesses, dada a sua natureza discricionária (GIBNEY,
2014).
O caso da crise de refugiados na UE exprime as dificuldades de ambas as formas.
Embora a Convenção de 1951 estabeleça a conduta dos Estados em relação ao refugiado,
na prática permanece a tensão entre a normativa legal e o poder soberano de cada país14.
Na Europa, mesmo que os Acordos de Dublin estabeleça o primeiro destino como o Esta-
do que deve conceder asilo, o fechamento das fronteiras e a restrição à permanência dos
refugiados tem sido a política de vários países. Tal postura, no entanto, está relacionada à
dificuldade de repartição da responsabilidade com os países do bloco, que não prestam a
ajuda necessária.
Isso parte da organização do mundo em Estados demarcados por fronteiras, cada qual
com seus interesses e, principalmente, da relação do refúgio com a lógica do Estado-nação
e soberania, que se ergue em um paradoxo: a questão dos refugiados reforça essa lógica,
pois o conceito de refugiado - isto é, alguém forçado a deixar seu Estado por fundamentado
temor de perseguição - deriva da existência do Estado e, por isso, fortalece essa unidade
política (BETTS, 2009). Assim, ao contrário do que muitos supõem, a figura do refugiado
[...] não é um sinal de que o Sistema Internacional esteja “dando errado”. [Refugia-
dos] são, de fato, uma parte inerente, talvez imprevista, do sistema. Sem o Estado
moderno, não poderia haver refugiados. A soberania tenta classificar todos os indi-
víduos em espaços territoriais homogêneos. No processo alguns são inevitavelmente
forçados entre fronteiras, entre soberanias. Como tal, os refugiados são vítimas de
13
Princípio previsto na Convenção de Genebra Relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951, de acordo com
o qual “Nenhum dos Estados Contratantes expulsará ou repelirá um refugiado, seja de que maneira for, para as
fronteiras dos territórios onde a sua vida ou a sua liberdade sejam ameaçadas em virtude da sua raça, religião,
nacionalidade, filiação em certo grupo social ou opiniões políticas.” Este princípio não poderá ser “invocado por
um refugiado que haja razões sérias para considerar perigoso para a segurança do país onde se encontra, ou (...)
constitua ameaça para a comunidade do dito país.” (art. 33.º, n.ºs 1 e 2) (OIM, 2009, p 49).
14
O fato de os Estados terem assinado a Convenção de 1951 significa que eles têm obrigações para com os refu-
giados, o que não significa uma restrição a sua soberania, e sim um elemento de constrangimento institucional
sobre si mesmos. Mas essa restrição é mínima: a Convenção de 1951 concede o direito de requerer asilo, mas o
direito de obtê-lo não é garantido. O direito de fugir da fonte de perseguição é reconhecido, enquanto o direito
de oferecer proteção contra a perseguição continua a ser uma prerrogativa estatal. Assim, a citada Convenção é
apenas um exemplo da maneira como o refugiado traz à tona o choque entre os direitos soberanos e os direitos
humanos (HADDAD, 2008). Ainda, além das dificuldades criadas pela securitização de questões relativas a mi-
grantes forçados, os fluxos atuais são causados por formas mais graves de instabilidade interna dos Estados do que
as previstas nos instrumentos de proteção a refugiados, criados no contexto pós-Segunda Guerra Mundial e agora
se mostram inadequados (SIMEON, 2013).
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A CRISE MIGRATÓRIA NO SÉCULO XXI 13

um sistema internacional que os faz surgir e, em seguida, falha em assumir a res-


ponsabilidade por eles. A proteção internacional depende de Estados individuais,
contudo, os Estados conservam o direito soberano de decidir quem pode entrar em
seu território e, de tal forma, quem protegerão. Assim, a fuga do refugiado evidencia
a falha tanto dos governos individuais em proteger seus cidadãos quanto do sistema
internacional de Estados como um todo, em atribuir cada indivíduo a um estado e
protegê-los como cidadãos (HADDAD, 2008, p 69, tradução própria)

Consequentemente, os refugiados são vistos como fonte de instabilidade pelos Es-


tados, um risco que precisa ser corrigido. A distinção dos termos “refugiado” dos outros
referentes a migrantes é feita de forma artificial, com o intuito de favorecer políticas mi-
gratórias estatais, geralmente guiadas por interesses securitários (ELIE, 2014). Assim, polí-
ticas relativas à migração têm como base também conceitos de soberania, do direito de cada
país decidir quem são aqueles que podem entrar em seu território. Segue-se que o regime
de refugiados foi criado para restaurar as relações normais entre Estado e cidadão, sendo
a solução para a questão a reterritorialização dos indivíduos que agem entre os Estados,
numa tentativa de corrigir o desvio do modelo normal de sociedade internacional, em que
todos os indivíduos pertencem a um Estado (HADDAD, 2008).
A repartição da responsabilidade entre os países requer uma participação igualitária,
evitando a sobrecarga. Uma resposta possível seria a distribuição sensível às capacidades
integrativas de cada país (como nível do PIB, tamanho, estabilidade política, etc.), resul-
tando em um arranjo diferente do atual, que, está inclinado para os Estados mais pobres15
(GIBNEY, 2014). Uma política nesse sentido foi proposta no caso da UE, com a implemen-
tação de “cotas de refugiados”. Contudo, alguns países se recusam a aceitá-las, levantando
a questão da soberania nacional e do interesse particular como impedimentos. Assim, o
grande problema é fazer com que os Estados queiram comprometer-se com os acordos e
convenções. Uma possível solução é buscar a conexão entre proteção de refugiados e inte-
resses particulares dos Estados, em segurança e desenvolvimento, por exemplo (BETTS,
2009).
Analisar a crise dos refugiados a partir de uma perspectiva estrutural, e, portanto,
mais centrada nos Estados, não significa considerá-los monolíticos. Tampouco deve sig-
nificar ignorar a importância de outros atores, como organizações não-governamentais
(ONGs), empresas multinacionais e, até mesmo, os entes subnacionais que recorrem cada
vez mais à paradiplomacia16 (KUZNETSOV, 2015). Além disso, a atuação dos Estados está
15
Lembramos que os principais receptores de refugiados não são os países desenvolvidos, e sim países em desen-
volvimento, que acolheram 6 vezes mais refugiados que aqueles apenas em 2015. Em tal ano, os maiores destinos
foram Turquia (2.5 mi), Paquistão (1.6 mi), Líbano (1.1 mi), Irã (979 mil), Etiópia (736 mil) e Jordânia (664 mil).
Os números são ainda mais significativos considerando a população refugiada em comparação com a população
total de cada país, sendo que no Líbano a proporção chega a ser de 1 refugiado a cada 5 pessoas. Ainda, levando-se
em consideração o PIB per capita, chocam os dados dos três países com a pior relação refugiado-dólar do PIB,
sendo que na República Democrática do Congo a relação é de 471 refugiados por dólar do PIB per capita (AC-
NUR, 2015). Por outro lado, embora o número de solicitantes de asilo na UE tenha dobrado de 2014 para 2015,
atingindo 1,25 milhão de pessoas (EUROSTAT, 2016), mesmo somando esse número à população de refugiados
reconhecidos nos países membros do bloco, isso ainda representa menos de 1% da população total da UE (UNH-
CR, 2015; EUROSTAT; 2015).
16
A paradiplomacia é um subcampo das Relações Internacionais e estuda o papel dos governos subnacionais dos
Estados, podendo ser províncias, regiões, estados, municípios, no sistema mundial (KUZNETSOV,2015).
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14 Relações Internacionais Para Educadores (RIPE)
condicionada a uma série de fatores internos, incluindo a estrutura e configuração da eco-
nomia, perfis geográficos e demográficos, a correlação política interna e valores societais,
que determinam qual será o espaço de manobra para a atuação dos governos (RAIMUN-
DO, 2012).
Uma crise imigratória vai contra os interesses do próprio governo, ao desencadear
tensões com a opinião pública, manifestações de rua, ativistas, hostilidade da imprensa,
violência anti-migrante. Tais crises, ao contrário, são geradas por aqueles que lucram com
o desconforto do governo (HANSEN, 2014). Assim, cabe questionar também quais in-
teresses estão em disputa na Europa e de que forma uma crise migratória serve a seus
propósitos ou não. Os tensionamentos com a chegada dos refugiados, acompanhado de
xenofobia crescente, são tanto consequência da ascensão dos partidos de extrema-direita
quanto oportunidade para que estes avancem em suas agendas políticas17.
A Turquia também obteve ganhos políticos e econômicos com a crise. Como país de
trânsito - por onde mais de 1 milhão de migrantes cruzaram em direção à Europa, o país foi
central na escalada da crise. Através da negociação de maior controle em suas fronteiras e
alocação de cotas de refugiados, a Turquia revitalizou suas relações com a UE, amenizando
seu isolamento internacional, além da prospecção da facilitação da entrada de turcos no
território do bloco e de um suporte financeiro de €3bi (AYDINTASBAS, 2016).
Grande parte das análises sobre a crise dos refugiados divide-se em posições anta-
gônicas, gerando uma polarização dos discursos: de um lado, os que partem de uma visão
particularista e estadocêntrica, consideram apenas os riscos e custos da migração, vendo-a
como questão de segurança nacional e, de outro, os que defendem o paradigma dos direitos
humanos, pautam-se em uma percepção utópica e universalista, muitas vezes crítica aos
Estados, o que gera uma lacuna entre as possibilidades práticas de ação e a retórica. Assim,
[...] uma abordagem realista dos direitos dos refugiados deve, portanto, reconhe-
cer a existência do atual sistema de Estados e tentar formular uma “ética viável” da
política de refugiados dentro dela - uma “aliança global” que procure acomodar a
diversidade humana e a imperfeição humana enquanto tenta defender a humanidade
comum. Assim como a segurança talvez não seja “um bem em si mesma, mas apenas
em relação àquilo que ela protege”, a política de refugiados deve ser vista não como
um bem em si, mas em relação à sociedade de Estados em que ela se insere. Advogar
a justiça global e abrir fronteiras num mundo de Estados é idealista - e, claro, num
mundo ideal e justo, o refugiado não existiria e, portanto, tal abordagem também é
irrelevante para os reais problemas mundiais que enfrentamos. (HADDAD, 2016, p
203-204, tradução própria).

Nenhum desses extremos parece oferecer soluções satisfatórias na prática para a


17
Em matéria original da Agence France-Presse (AFP) isso fica claro: “A extrema-direita na Europa prosperou
nos últimos anos graças à confluência da crise geopolítica desencadeada pelos ataques de 11 de setembro de 2001
e com a frágil situação econômica desencadeada pela crise financeira de 2009, explica o historiador Nicolas Le-
bourg. “Com a adição de uma terceira crise, a migratória, deveria ter grande sucesso” nas próximas eleições, prevê
o historiador. “E mais o será enquanto a migração continuar a ser o seu principal foco”, acrescenta. [...] Além
das pesquisas (eleitorais), a crise dos refugiados permite à extrema-direita ocupar o espaço público, como nas
manifestações do movimento Pegida (Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente) na Alemanha, aponta
Camus.” (ZERO HORA, 2015).
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A CRISE MIGRATÓRIA NO SÉCULO XXI 15

questão. Os impactos da migração não são exclusivamente negativos ou positivos. Portan-


to, não se deve considerar apenas os efeitos econômicos favoráveis ou lamentar a perda de
soberania e sensação tradicional de segurança. É preciso conciliar as duas visões, pois, para
serem de fato efetivos e garantirem à proteção e concessão de direitos aos refugiados, os
acordos coletivos devem ser condizentes com a realidade e a organização mundial, respei-
tando os constrangimentos impostos por ela.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, buscou-se mostrar como a atual crise de refugiados está ligada
a processos históricos amplos, não sendo um evento isolado ou “espontâneo”. O passado
colonial e imperial europeu se relaciona à atual conjuntura - a divisão artificial de regiões
como África e Oriente Médio, estimulou conflitos locais e determinou a forma como esses
países se inseriram na economia mundial. A eclosão da Primavera Árabe e conflitos sub-
sequentes é, assim, também herança de tal passado, mas demonstra ainda novas formas de
influências externas, que igualmente interferem nos fluxos migratórios.
Dessa forma, antes de ser uma anomalia do atual Sistema Internacional, a questão
dos refugiados é engendrada por este, sendo resultado da Política Internacional, pautada
na lógica particularista dos Estados - separados por fronteiras e com interesses e aspirações
próprios. Essa problemática fica evidente nas atuações da União Europeia em relação a
crise dos refugiados, em que a falta de uma resposta coordenada está relacionada com a
dificuldade dos processos de integração em conciliarem a lógica do Estado-nação com os
interesses coletivos.
Tal lógica entra em conflito também com a lógica universalista dos direitos humanos,
impondo desafios na transformação da defesa desses direitos em realidade. Como processo
criado dentro do sistema, a questão dos refugiados só deixará de existir quando houver
uma mudança sistêmica. Até lá, há pouco efeito em pautar a defesa dos direitos humanos
baseando-se numa sociedade ideal, enquanto a realidade é outra. Antes, é preciso avançar
na formulação de políticas que permitam manejar dentro da atual estrutura, especialmente
em se tratando de situações de crise, para que haja uma defesa na prática de tais direitos.

ABSTRACT
This article aims to characterize the current migratory “crisis”, demonstrating the permanent cha-
racter of the migrations, the conflicts that generate the migratory flows, the partial approach adop-
ted by the media, which characterizes Europe as the main affected. It will also address the perspective
of Third World Countries, the main generators and receivers of displaced persons, and the challen-
ge that migrations pose to the logic of the Nation-State.
Keywords: Forced migration; Refugees; Crisis; Nation-State.

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