A CRISE ATUAL1
Samuel Pessoa
[1] Este texto serviu de base para Apresentarei rapidamente como vejo a crise atual. Em
a palestra do autor na série “Diálo-
gos”, parceria entre o Centro Bra-
seguida abordarei suas causas estruturais e o dificílimo caminho que
sileiro de Análise e Planejamento teremos pela frente para recolocar a economia na trajetória do cresci‑
(Cebrap) e o jornal Folha de S.Paulo,
realizada no auditório do Cebrap em
mento sustentável.
13 de maio de 2015. Desde 2011, a economia tem desacelerado continuamente, com
uma rápida exceção na passagem do primeiro para o segundo trimes‑
tre de 2013, quando o crescimento elevou‑se de 2,0% para 2,8%.
Adicionalmente, a forte desaceleração ocorreu em um longo perí‑
odo no qual não houve nenhum sinal de carência de demanda agre‑
gada. A demanda agregada, soma do consumo e investimento, tanto
privados quanto públicos, até meados de 2014 sempre cresceu além
da atividade econômica. Ou seja, a desaceleração não ocorreu por falta
de demanda agregada.
O fato de a desaceleração ter ocorrido com crescimento da inflação
e também dos juros, desde meados de 2013, é sinal de que a desacele‑
ração do nosso crescimento resultou da perda de eficiência econômica,
e não fruto de queda da demanda. Perda de eficiência econômica signi‑
fica que o conjunto de nossas empresas passou a produzir menos com
a mesma quantidade de insumos. O que os economistas chamam de
eficiência é que determina o crescimento potencial de uma economia
no longo prazo.
Somente começamos a observar os primeiros sinais de retração
da demanda agregada no segundo semestre de 2014, em função do
forte recuo do investimento, consequência da enorme incerteza que
se abateu sobre a economia.
Por mais que a piora do desempenho da economia mundial no pe‑
ríodo pós‑crise explique parte da desaceleração e que os problemas hi‑
drológicos sejam responsáveis por outra parte, penso que o fator mais
importante para explicar a desaceleração acompanhada de contínua
pressão inflacionária foi a perda de eficiência econômica resultante
do conjunto de políticas econômicas que ficou conhecido como nova
matriz econômica. No bojo dessa nova matriz, as seguintes políticas
foram adotadas:
Seguro- Bolsa
Custeios Custeio Total
Desemprego Escola, Vale Investi-
Pessoal INSS administra- Subsídios LOAS/BPC Saúde e gasto social TOTAL
e Abono Gás, Bolsa mento
tivos Educação e INSS
Salarial Família
1991 3,8% 3,4% 0,7% 0,3% 0,0% 0,5% 0,0% 1,5% 0,7% 5,5% 11,0%
1994 5,1% 4,9% 0,6% 0,3% 0,0% 0,5% 0,0% 1,9% 0,5% 7,4% 13,9%
1998 4,6% 5,5% 1,0% 0,3% 0,1% 0,5% 0,0% 2,2% 0,8% 8,3% 15,0%
2002 4,8% 6,0% 1,1% 0,2% 0,2% 0,5% 0,2% 1,8% 1,0% 8,7% 15,7%
2006 4,5% 7,0% 1,1% 0,4% 0,4% 0,7% 0,5% 1,7% 0,7% 10,2% 17,0%
2010 4,4% 6,8% 1,1% 0,3% 0,5% 0,8% 0,5% 2,0% 1,1% 10,6% 17,4%
2014 4,3% 7,7% 1,3% 1,0% 0,8% 1,0% 0,6% 2,2% 1,2% 12,3% 20,1%
Variação 0,5pp 4,3pp 0,6pp 0,7pp 0,8pp 0,5pp 0,6pp 0,7pp 0,5pp 6,8pp 9,1pp
Por ano 0,02pp 0,19pp 0,03pp 0,03pp 0,03pp 0,02pp 0,03pp 0,03pp 0,02pp 0,30pp 0,39pp