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01 - CÂNON DAS ESCRITURAS

INTRODUÇÃO

Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos
ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.
João 14:26

O Tema do Cânon as vezes passa despercebido durante nossos estudos, normalmente é


aqui que muitas dúvidas são geradas. A preocupação com o cânon é fundamental. O
Cânon trata do lado humano das escrituras, há um lado humano e divino das escrituras,
e os dois no conjunto fazem a palavra de Deus. A exemplo de Cristo que é verdadeiro
homem e verdadeiro Deus.

1. SIGNIFICADO DA PALAVRA “CÂNON”

 Cana, junco - O termo grego cânon vem de uma palavra semítica que significa cana,
junco, que era utilizado inicialmente como instrumento de medida, partes de uma cana
eram utilizados como uma régua.
 Aquilo que regula, que serve como norma - a partir desse uso o termo passou a ser
usado como aquilo que regula, a regra.
 Gálatas 6. 16 – “E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia
sobre eles e sobre o Israel de Deus.” No contexto dessa passagem Paulo fala aos Gálatas
sobre a circuncisão e a incircuncisão, porém a palavra utilizada para se referir a regra é
a palavra “cânon”, aqui apenas no sentido de regra/norma, ou seja, que não atribui a
sua salvação a coisas exteriores, mas apenas à cruz de Cristo. Esse é o sentido usado no
NT.
 Séc. IV a palavra cânon veio a ser utilizada para as Escrituras. Significando o grupo dos
livros reconhecidos pela igreja como inspirados por Deus e normativos para a fé e vida
dos cristãos.
Primeiramente por Atanásio, em torno de 352 d.C, bispo de Alexandria e também em
360 d.C. foi usado também em Laodiceia. Assim, cânon passa a ter um sentido técnico.

2. IMPORTÂNCIA DO TEMA

 Inicialmente, parece pouco relevante, pois temos uma Bíblia bem definida
Esse tema é importante para nós? Inicialmente, o tema parece não ser relevante, pois
nós praticamente nascemos com a bíblia. Tem uma propaganda de uma marca japonesa
que começa com um filme dramático de uma mãe dando a luz e de repente nasce a
criança e quando a criança olha para os pais ela tira uma máquina fotográfica e tira uma
foto dos pais. Nós somos mais ou menos assim, nós já nascemos com a bíblia, sabemos
que a bíblia tem 66 livros.
 Quando só havia rolos, como era? Até uma certa altura os livros da bíblia só existiam
em rolos. Na igreja primitiva se liam muitos outros livros também. Isso nos mostra que
nem sempre foi tão óbvio assim a questão do cânon.
 Há igrejas que têm cânon maior – Do ponto de vista católico por exemplo, eles sempre
tiveram um cânon maior com 73 livros.
 Qual é o seu cânon? Quantos livros possui? Quantos livros tem o cânon ou quantos
livros deveriam ter? Ou uma pergunta pessoal, quantos livros tem o seu cânon? Quantos
livros efetivamente usamos em nossas vidas?
Será que pregamos regularmente sobre todos os 66 livros? Ou alguns não entram em
nossa pregação?

3. DUAS POSIÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DO CÂNON

Não há como discorrer sobre a história detalhada do cânon, mas o importante é a


concepção por trás da visão sobre a formação do cânon e algumas implicações.
Há basicamente 2 posições sobre o cânon:

3.1 Processo puramente humano


 Os livros quando surgiram não eram sagrados;
 Adquiriram tal posição por decisão da comunidade - à medida que a comunidade
atribuía a autoridade divina para os livros.
 Canonização para garantir uma norma de fé e de vida. Para essa posição a palavra-chave
é a DECISÃO da comunidade e essa decisão teria ocorrido principalmente em relação a
ameaças e perigos de outros mestres que surgiam e a igreja se levantava e dizia que se
tratava de heresia, pois não estava de acordo com os livros. Assim sendo, pela pressão
das ameaças, a decisão sobre o cânon ocorria.

3.2 Obra divina


 Os livros foram escritos pelo mistério da inspiração. A formação do cânon é obra divina
e os livros foram escritos pelo mistério da inspiração, na escrita, no envio, tudo foi parte
da obra divina, Deus estava presente inspirando o autor (2 Pedro 1:20,21).
 Canonização foi o reconhecimento pela igreja de que estes livros eram sua regra de fé e
vida. A canonização neste sentido é meramente a igreja RECONHECENDO os livros que
Deus deu como norma para a fé e para a vida.
 Deus cria a igreja por meio de sua palavra (cânon), e não a igreja cria o cânon, pois se
pensamos que a igreja cria o cânon estamos nos colocando acima do próprio Deus.

4. DOIS CÂNONES

4.1 Cânon do Antigo Testamento – 39 livros

 Duas listas dos judeus: 22 e 24 livros – Como se forma esses 22 ou 24 livros?


 O TaNaKh são as iniciais da Torá, Neviim e Ketuvim, os judeus consideravam que:
1. TORÁ - 5 livros (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio)
2. NEVIIM - 8 livros dos profetas anteriores (Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaias, Jeremias,
Ezequiel e os 12 profetas menores como um livro só que cabia em apenas um rolo
3. KETUVIM – 11 livros (Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes,
Lamentações de Jeremias, Daniel, Ester, Esdras, Neemias e Crônicas), pela tradição Rute
vem antes de Salmos.
TaNaKh: Torá (5); Neviim (8) Ketuvim (9 ou 11) = 22 ou 24

4.2 Cânon do Novo Testamento – 27 livros

 Não há no Novo Testamento nenhuma referência a uma lista, sempre dissemos que são
27, mas não há nenhum lugar no próprio Novo Testamento que fala isso.
 Carta de Atanásio em 367 d.C. – ele foi o primeiro a trazer a lista dos 27 livros canônicos.
 Carta de Eusébio em 376 d.C. também confirma os 27 livros.
 Concílio de Cartago em 397 d.C.
 Antilegomena: são os escritos cristãos que são "disputados" ou, literalmente, as obras
em que há alguém que "falou contra". Nessa lista temos os seguintes livros: Hebreus,
Tiago, 2Pedro, Judas e Apocalipse.

5. CONCLUSÃO

Sejam quais forem os critérios que mais influenciaram os pais da igreja no


reconhecimento dos livros do Novo Testamento, e apesar da relutância de alguns em
aceitar todos os vinte e sete livros, e não obstante o grande número de livros apócrifos
que surgiram nos primeiros séculos, o verdadeiro cânon teria que prevalecer. E
prevaleceu. Inspirados que eram, tinham poder espiritual inerente. E esse poder
manifestou-se de tal modo que todos os ramos do Cristianismo alcançaram
unanimidade espantosa, de modo que desde pelo menos Atanásio, o primeiro a
apresentar uma lista completa do cânon do NT, até os nossos dias, não tem havido
nenhuma objeção realmente séria, nos três principais ramos do Cristianismo, quanto à
canonicidade do Novo Testamento.1

02 - INTRODUÇÃO À HERMENÊUTICA BÍBLICA

“Você não precisa interpretar a Bíblia. Apenas leia e faça o que ela diz”. Essa é uma ideia
comum entre algumas pessoas. Existe verdade nisso, de que a Bíblia deve ser lida, crida
e obedecida. O texto de Filipenses 2.14 “Fazei todas as coisas sem queixas nem
discórdias”, por exemplo, não tem como problema a sua interpretação, mas sim a
prática do que está escrito.

É importante entender que a Bíblia não precisa ser um livro de difícil compreensão, se
for corretamente lida e estudada. O problema não é, muitas vezes, a falta de
entendimento, mas sim uma busca desenfreada pelo melhor entendimento das coisas.
Por isso, é importante dizer que o alvo da boa intepretação não é originalidade; não se
procura descobrir aquilo que ninguém jamais viu.

1Anglada, Paulo Roberto Batista. Sola Escriptura: A doutrina reformada das escrituras. Knox Publicações.
2013.
O alvo de toda boa interpretação é simples: chegar ao significado claro do texto. E o
significado claro de um texto em um primeiro momento vem com uma simples leitura.
A rigor, tudo que se tem a fazer é ler o texto e dar atenção ao contexto.

Ocorre que, em um sentido mais preciso, o argumento de que a simples leitura de um


texto bíblico de forma atenta pode ser um ingênuo e irreal, pois a interpretação
equivocada da Bíblia já causou muitos problemas no decorrer da história da igreja, então
há alguma coisa na Bíblia que não a torna assim tão evidente ao leitor de primeira
viagem, daí a importância de aprender a interpretar.

1. ORIGEM DO TERMO HERMENÊUTICA

O termo “hermenêutica” procede do verbo grego hermeneueín, usualmente traduzido


por “interpretar”, e do substantivo hermeneia (έρμενεΐα), que significa “interpretação”.
Tanto o verbo quanto o substantivo podem significar “traduzir, tradução”, ou “explicar,
explicação”.

A palavra hermenêutica tem a sua origem no nome de Hermes, um deus da mitologia


grega, que servia de mensageiro dos deuses transmitindo e interpretando suas
comunicações aos afortunados ou desafortunados destinatários.

2. A BÍBLIA COMO LIVRO HUMANO

O fato de que a Bíblia não caiu pronta do céu, mas que foi escrita por diferentes pessoas
em diferentes épocas, línguas e lugares, alerta-nos para o que alguns estudiosos têm
chamado de distanciamento. O fenômeno do distanciamento aparece em diversas
áreas:

Distanciamento temporal – A Bíblia está séculos distante de nós. Seu último livro foi
escrito pelo final do século I da Era Cristã, o que nos separa temporalmente em cerca de
dois milênios. A distância temporal, num mundo em constantes mudanças, faz com que
a maneira de encarar o mundo, os aspectos culturais e linguísticos dos escritores da
Bíblia se percam no passado distante. Portanto, como qualquer documento antigo, a
Bíblia precisa ser lida levando-se isto em conta. Os princípios de interpretação da Bíblia
procuram condições de transpor este abismo temporal.

Distanciamento contextual – Os livros da Bíblia foram escritos para atender a


determinadas situações, que já se perderam no passado distante. É verdade que ao
serem incluídos no cânon bíblico, eles passaram a ser relevantes para a Igreja universal.
Por outro lado, recuperar o contexto em que estes livros foram escritos é essencial para
entendermos melhor a sua mensagem. As cartas de Paulo foram escritas visando
atender às necessidades de igrejas locais. Não posso entender corretamente o
ensinamento do apóstolo sobre o uso do véu pelas mulheres (1 Coríntios 11) se não
estiver consciente do problema que estava acontecendo na Igreja relacionado com a
participação das mulheres no culto. Igualmente, 1 João toma outra relevância quando
fico consciente de que João estava escrevendo contra a influência de uma forma
incipiente de gnosticismo nas igrejas da Ásia Menor. Ou ainda, que o livro de Habacuque
foi escrito num contexto de iminente invasão por potências estrangeiras. A mensagem
do evangelho de Marcos fica mais clara quando descobrimos que Marcos escreveu
provavelmente para ajudar os crentes romanos a enfrentar as provações que sofriam
por causa de Cristo. E o livro de Jonas – especialmente a atitude de Jonas contra os
ninivitas – ganha maior clareza quando descubro que havia uma antipatia natural dos
judeus contra os ninivitas por causa dos seus grandes pecados. Os princípios de
interpretação da Bíblia procuram transpor as dificuldades criadas pela distância
contextual.

Distanciamento cultural – O mundo em que os escritores da Bíblia viveram já não existe.


Está no passado distante, com suas características, costumes, tradições e crenças. Muito
embora a inspiração das Escrituras garanta que sua mensagem seja relevante para todas
as épocas, devemos lembrar que esta mensagem foi registrada numa determinada
cultura, da qual traços foram preservados na Bíblia. Os princípios de interpretação da
Bíblia devem levar em conta o jeito de escrever daquela época, a maneira de expressar
conceitos e ilustrar as verdades, para poder transpor a distância cultural.

Distanciamento linguístico – As línguas em que a Bíblia foi escrita também já não


existem. Não se fala mais o hebraico, o grego e o aramaico bíblicos nos dias de hoje,
mesmo nos países onde a Bíblia foi escrita. Como cada língua tem seu jeito próprio de
comunicar conceitos (apesar de uma estrutura comum a todas), princípios de
interpretação da Bíblia devem levar em conta estas peculiaridades.

Distanciamento autorial – Devemos ainda reconhecer que teríamos uma compreensão


mais exata da mensagem de alguns textos bíblicos reconhecidamente obscuros se os
seus autores estivessem vivos. Poderíamos perguntar a eles acerca destas passagens
complicadas que escreveram e que continuam até hoje dividindo os melhores
intérpretes quanto ao seu significado. Não endossamos o que alguns estudiosos
afirmam, que com a morte do autor perdeu-se a possibilidade de recuperar-se a
intenção dos mesmos. A razão é que a intenção deles sobrevive no que escreveram. Mas
certamente a ausência do autor faz com que a interpretação de textos obscuros seja
necessária. Princípios de interpretação devem levar em conta o distanciamento autorial,
e buscar meios de recuperar a intenção deles nos próprios textos que escreveram.

3. A BÍBLIA COMO LIVRO DIVINO

Por outro lado, o fato de que a Bíblia foi inspirada por Deus, sendo assim a Sua Palavra,
deve ser levado em conta por aqueles que desejam interpretá-la corretamente. A
divindade e a humanidade das Escrituras devem ser mantidas em equilíbrio. Quando
enfatizamos uma em detrimento da outra, acabamos por cair em algum dos erros
hermenêuticos que caracterizam a história da interpretação cristã das escrituras.

Distanciamento natural – a distância entre Deus e nós é imensa. Ele é o Senhor, criador
de todas as coisas, do céu e da terra. Somos suas criaturas, limitadas , finitas. Nossa
condição de seres humanos impõe limites à nossa capacidade de entender e
compreender as coisas de Deus. Não impede a possibilidade deste conhecimento, com
certeza, mas o limita. O fato de sermos seres humanos tentando entender a mensagem
enviada pelo Deus criador em si só representa um distanciamento. A distância entre a
criatura e o Criador, tão frequentemente mencionada nas Escrituras, tem seus efeitos
também na nossa hermenêutica. Princípios de interpretação não podem ignorar isto e
pensar que bastam ferramentas hermenêuticas corretas para que possamos entender a
Deus. O distanciamento provocado pela nossa humanidade deve procurar ser
transposto por princípios de interpretação que reconheçam a necessidade da
iluminação do Espírito.

Distanciamento espiritual – o fato de que somos pecadores impõe ainda mais limites à
nossa capacidade de interpretação da Bíblia. Somos seres afetados pelo pecado
tentando entender os desígnios do Deus puro e santo. A Queda é um conceito espiritual,
mas com certeza não pode ser deixado de lado em qualquer sistema interpretativo das
Escrituras. Transpor o abismo epistemológico causado pela Queda é certamente o ponto
de partida. A regeneração e a conversão são a resposta de Deus a esta condição.

Distanciamento moral – é a distância que existe entre seres pecadores e egoístas e a


pura e santa Palavra que pretendem esclarecer. A corrupção de nossos corações acaba
por introduzir na interpretação das Escrituras motivações incompatíveis com o Autor
das mesmas. Infelizmente a história da Igreja mostra como diferentes grupos
manipulam as Escrituras para defender, provar e dar autoridade a seus pontos de vista.
Certamente existem pessoas sinceras, embora equivocadas. Mas não podemos negar
que o distanciamento moral acaba nos levando a torcer o sentido das Escrituras,
procurando usá-la para nossos fins nem sempre louváveis.

4. A BÍBLIA É VERDADEIRA

Esta é uma questão bastante controversa e certamente não poderemos abordá-la de


forma exaustiva aqui. Apenas reafirmaremos nossa convicção de que a Bíblia é a
verdadeira Palavra de Deus, com as seguintes qualificações:

4.1. Ao dizermos que a Bíblia é verdadeira em tudo que afirma não estamos negando
que erros de copistas se introduziram no longo processo de transmissão do texto. Seria
negar a realidade. A inerrância é um atributo dos autógrafos, ou seja, do texto como
originalmente produzido pelos autores inspirados por Deus. Muito embora hoje não
tenhamos mais os autógrafos, pela providência divina podemos recuperá-los quase que
em sua totalidade através da ajuda de ferramentas como a baixa crítica ou a
manuscritologia bíblica.

4.2. Também não estamos dizendo que os autores bíblicos receberam conhecimento
pleno e onisciente acerca do mundo e das ciências, ao escreverem. Eles s e expressaram
nos termos e dentro do conhecimento disponível naquela época, acomodando a
verdade revelada em termos do que sabiam do mundo. Assim, eles falam que o sol nasce
num lado do céu e se põe no outro, ou ainda mencionam que o sol parou no céu (Josué).
Do ponto de vista rigorosamente científico estas declarações são inexatas. Ou ainda, no
livro de Levítico, se diz que a lebre rumina e que o morcego é uma ave. Sabemos que as
duas coisas não são verdade: lebres não ruminam e morcegos não são aves. Os autores
bíblicos, entretanto, expressaram a verdade divina acomodando-se ao conhecimento de
sua época, quando se pensava que o sol de fato girava em torno da terra, que todos os
animais que mexiam com a boca após comer eram ruminantes e que tudo que tivesse
asas e voasse era ave!

4.3. Também não estamos dizendo que podemos explicar todas as partes da Bíblia em
termos absolutamente satisfatórios. Por exemplo, a harmonia dos Evangelhos continua
sendo um desafio para autores comprometidos com a inerrância bíblica, pois nem
sempre consegue-se achar uma explicação absolutamente satisfatória para os
problemas levantados pelas aparentes discrepâncias entre os Evangelhos. No entanto,
não podemos aceitar soluções que impliquem numa diminuição da autoridade das
Escrituras, sugerindo contradições ou erros. É preferível aguardar até que mais
informações nos ajudem a achar soluções compatíveis com a natureza da Escritura e sua
divina origem.

4.4. Por último, é importante acrescentar que não estamos dizendo que as traduções da
Bíblia são inerrantes. Muito embora possamos ler com confiança a Bíblia em nossa
língua, reconhecemos que em muitos casos os tradutores tiveram que tomar decisões
relacionadas com a melhor maneira de traduzir um determinado termo ou expressão, e
que tais decisões, não sendo inspiradas por Deus, nem sempre foram as corretas.

5. A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA INTERPRETAÇÃO

Há três fases na obra do Espírito Santo na feitura da Bíblia e interpretação desta.

Revelação: As palavras “galah” do AT e “apokalípsis” do NT significam revelar, descobrir.


Esta palavra no grego expressa o ato de puxar a cortina para que o auditório possa ver
a atuação dos artistas na representação teatral. É como se Deus puxasse a cortina para
que se veja o que está escondido, oculto. Portanto a revelação é a atividade divina
através da qual Deus se torna conhecido.

Inspiração: Inspiração é o método de receber e interpretar a verdade revelada por Deus,


por isso ela está intimamente ligada à revelação. A conclusão mais exata para a
inspiração é que ela é a atividade divina em que o Espírito Santo guia as mentes dos
homens selecionados e os tornam instrumentos de Deus a fim de comunicarem a
revelação. Entretanto não ocorre de forma insensata.

Iluminação: Nesta fase o Espírito Santo ilumina nosso entendimento para que possamos
entender aquilo que foi inspirado e que é fruto da revelação. É nesse sentido que
entendemos que não há mais inspiração, mas há a iluminação para entender o que já
foi inspirado pelo próprio Deus para compor o cânon das escrituras.

6. PRESSUPOSTOS DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

Ninguém consegue fazer interpretação de forma isenta ou neutra. Na interpretação,


aquilo que você acredita vai fazer a diferença, não significa que o texto seja difícil, mas
muitas vezes os nossos pressupostos nos atrapalham a interpretar a Bíblia de forma
genuína, razão pela qual o verdadeiro cristianismo tem alguns pressupostos.

1. A existência de Deus – se você achar que Deus não existe, o livro não será autoritativo
sobre você, ou se você pensa em um Deus que está distante, esse livro não pode ser
resultado da intervenção desse Deus.

2. Revelação progressiva de Deus – na história Deus foi progressivamente se revelando,


ou seja, a Bíblia vem em um progresso da revelação divina que iniciou no Antigo
Testamento até o Novo Testamento, de Gênesis a Apocalipse. Isso é importante para
lembrarmos que não podemos pegar apenas uma passagem isolada. Por isso devemos
estudar o contexto e não formar uma doutrina e convicção em cima de textos isolados.
Por exemplo, se ficarmos só com o AT ficaremos convictos de que o homem pode ter
várias mulheres, assim, Deus foi revelando aos poucos a vontade dele para a instituição
do casamento e você lendo o AT à luz do NT perceberá que Deus sempre teve o
propósito do casamento entre apenas duas pessoas.

3. Inspiração e Autoridade da Bíblia – isso faz toda diferença, veja a questão do


problema dos evangelhos, você nunca aceitará uma solução que diz que Mateus está
certo e Marcos está errado, pois você acredita que a Bíblia é a palavra de Deus. A
importância de crer na autoridade da Bíblia é o que vai determinar a razão de sua
interpretação dela, pois qual é o interesse em ler e interpretar a Bíblia, senão o fato de
crermos que ela é a palavra de Deus?

4. História da redenção – esse é o nome que é dado ao tema da Bíblia, a saber, que a
Bíblia é o registro dos atos salvadores de Deus através de Jesus Cristo. A criação, queda
e redenção. Por isso dizemos que Jesus Cristo é o centro da Bíblia, que no AT estava em
figuras e no NT ele é revelado.

5. Cânon fechado e completo – Deus se revelou e mandou escrever e a igreja através


da providência de Deus reconheceu o cânon como ele está. O cânon delimita o contexto
da Bíblia, Mateus me ajuda a ler Isaías e vice e versa.

7. LINGUAS ORIGINAIS

7.1 Sua importância - Para lermos a Bíblia em português alguém precisou traduzi-la do
grego, hebraico e aramaico. As vezes uma tradução para línguas nativas demora 20
anos. Assim, não podemos desprezar a importância das línguas originais.

7.2 Sugestões – Comentários bíblicos e Bíblia anotadas. Um exemplo da importância de


entender o original pode ser visto na passagem bíblica em que Paulo prega para o rei
Agripa. “E disse Agripa a Paulo: Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão!”
Atos 26:28. O significado do original é a zombaria de Agripa dizendo a Paulo que por tão
pouco ele não se converteria ao cristianismo.

8. GÊNERO LITERÁRIO
Gênero literário é o nome que se dá ao tipo de literatura que se está lendo, seja
parábola, narrativa ou profecia. Por exemplo, qual é o gênero literário do livro de Jonas?
É uma história, parábola ou lenda? Se para você trata-se de um livro histórico, você vai
ler como um fato histórico e vai procurar entender o que Deus quer dizer com o que
está registrado, mas se você entender que se trata de uma parábola, você vai entender
como algo que não foi real e do qual podem ser extraídas algumas lições. Assim, a
definição do gênero literário vai definir como leremos o livro.

9. REGRAS BÁSICAS

9.1. A mensagem central da bíblia é a revelação de Deus em Jesus Cristo – história da


redenção.

9.2. A Bíblia é sua melhor intérprete – Lucas por exemplo diz que bem aventurados são
os pobres, mas Mateus diz que são pobres de espírito ou humildade.

9.3. O Antigo Testamento é interpretado pelo Novo Testamento – Lemos o AT à luz do


NT. Tudo que está no AT e que não é confirmado no NT passou.

9.4. O texto quer dizer o que o seu autor quis dizer – Não podemos tirar o texto de seu
contexto.

9.5. O sentido natural deve ser preferido ao figurado – as pessoas gostam de


interpretar a bíblia alegoricamente, mas na maioria das vezes o sentido está contido nas
palavras, não existe um sentido oculto por de trás do texto.

9.6. Cada texto tem apenas um sentido, mas muitas aplicações – Não adianta procurar,
o sentido é aquele pretendido pelo autor, mas existem muitas aplicações. Salmos 23.1,
por exemplo, explica que Deus cuida de mim como um pastor cuida de suas ovelhas,
mas podemos aplica-lo em vários sentidos: Deus cuida de mim quando estou triste,
doente, com medo etc.

03 – COMO INTERPRETAR A BÍBLIA

Nessa aula, inicialmente, vamos abordar alguns princípios gerais para se interpretar a
bíblia, dando continuidade ao nosso estudo a respeito da hermenêutica bíblica. Embora
uma boa leitura bíblica seja mais bem assimilada do que ensinada, ou seja, a prática vai
nos levar a sermos bons leitores, existe uma grande importância em aplicarmos alguns
princípios básicos na interpretação bíblica.

1. PRINCÍPIOS BÁSICOS NA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

1.1. APROXIME-SE DA BÍBLIA COM ORAÇÃO


As escrituras nos dizem que o coração humano é desesperadamente ímpio e enganoso
(Jr 17:9). A reação natural do coração humano diante da revelação de Deus é suprimi-la
em idolatria (Rm 1:18-23).

Quando estudamos a Bíblia, precisamos compreender que o pecado afeta todo o nosso
ser – nossas emoções, vontade e faculdades racionais. Podemos nos enganar facilmente
ou sermos enganados por outros. Precisamos que o Espirito Santo nos instrua e nos guie.
Por isso a oração é um ponto de partida essencial.

1.2. LEIA A BÍBLIA COMO UM LIVRO QUE MOSTRA JESUS

Em uma passagem bíblica onde Jesus debate com alguns líderes religiosos, Jesus disse:
“Examinais as escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que
testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5:39-40).

Para sermos intérpretes fiéis devemos ter Jesus como referência quando interpretamos
a Bíblia. É claro que nem todo texto aponta para Jesus da mesma maneira. Cada
passagem da Escritura tem que ser lida como um capítulo de um livro completo.

1.3. DEIXE A ESCRITURA INTERPRETAR A PRÓPRIA ESCRITURA

Se cremos que toda a Bíblia é inspirada por Deus e, portanto, não contraditória, as
passagens da Escritura que são menos claras devem ser interpretadas com relação
àquelas que são mais transparentes em significado.

A exemplo disto temos a questão da circuncisão que ser for vista apenas do ponto de
vista do Antigo Testamento teremos uma regra para todos os nascidos do sexo
masculino, porém o Novo Testamento não mais exige tal condição (1 Co 7:19).

1.4. MEDITE NA BÍBLIA

A Bíblia não é um livro para leituras superficiais, embora seja benéfico ler grandes
porções da Escritura de uma só vez. Contudo, a própria Palavra é repleta de trechos que
nos impulsiona a examinar cuidadosamente e meditar no que foi lido.

1.5. ESTUDE A BÍBLIA COM FÉ E OBEDIÊNCIA

A Bíblia não é um livro filosófico a ser debatido; é a revelação de Deus que deve ser crida
e obedecida. Quando cremos na palavra de Deus e lhe obedecemos, experimentamos
não somente alegria (Sl 119:72), mas também a benção e aprovação de Deus. A pessoa
que lê a escritura e não a obedece engana a si mesma (Tg 1:22).

1.6. OBSERVE O GÊNERO BÍBLICO QUE VOCÊ ESTÁ LENDO

Antes de procurar entender o texto, precisamos saber qual o gênero literário que
estamos lendo. Por exemplo, o gênero de provérbios presume exceções. Provérbios são
conselhos sábios, e não promessas infalíveis. Por exemplo, lemos em Provérbios: “O que
trabalha com mão enganosa empobrece, mas a mão dos diligentes vem a enriquecer”
(Pv 10:4).

Todos nós podemos pensar em exemplos que confirmam esse texto, mas também a
maioria de nós conhece alguns exemplos de pessoas ricas e indolentes. Essa exceção
não torna o provérbio falso.

1.7. COMPREENDA QUESTÕES DE CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL

Os 66 livros da Bíblia presumem frequentemente certa familiaridade dos leitores com


várias práticas culturais, determinantes geográficos e personagens políticos.

Assim, quando um leitor não acostumado abre o livro de Isaías e começa a ler sobre
nações que não existem mais e alianças políticas obscuras, pode fechar a Bíblia e dizer:
“Isso é muito difícil de entender”.

1.8. PRESTE ATENÇÃO AO CONTEXTO

Qualquer porção da Escritura deve ser lida no contexto da sentença do parágrafo, da


unidade de discurso maior e de todo o livro bíblico. Quanto mais o leitor se afasta das
palavras em questão, tanto menos informativo é o material considerado.

Tentar aplicar ou entender uma frase ou um versículo bíblico específico sem referência
ao contexto literário equivale a uma quase certeza de resultar em distorção.

1.9. COMECE A JORNADA DE SE TORNAR UM INTÉRPRETE MAIS FIEL

Nenhum de nós pode afirmar ser um intérprete inerrante. Não importa quantos graus
acadêmicos ou quanta experiência tenhamos, todos nós estamos diante da Bíblia como
aprendizes.

Alguns estão mais à frente na jornada, mas isso não deve intimidar aqueles que estão
apenas começando. Uma boa maneira de iniciar uma jornada em direção a uma
interpretação mais fiel é começar com humildade.

04 – METODO DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

A Bíblia é a Palavra de Deus. Mas, algumas das interpretações derivadas dela não são.
Existem muitas seitas, cultos e grupos cristãos que usam a Bíblia declarando que as suas
interpretações são as corretas. Muito frequentemente, no entanto, as interpretações
não apenas diferem dramaticamente umas das outras, como são claramente
contraditórias. Isto não significa que a Bíblia seja um documento contraditório. Antes, o
problema está naqueles que a interpretam e/ou nos métodos que eles usam.
Como nós somos pecadores, somo incapazes de interpretar perfeitamente a palavra de
Deus todo o tempo. O corpo, a mente, a vontade e as emoções são afetadas pelo pecado
e tornam a interpretação 100% exata uma impossibilidade. Isto não significa que
entender corretamente a palavra de Deus seja impossível. Mas que devemos nos
aproximar à Sua palavra com cuidado, humildade e razão. Adicionalmente, nós
precisamos o que de melhor nós poderíamos necessitar: a direção do Espírito Santo na
interpretação da Palavra de Deus. Além do mais, a Bíblia é inspirada por Deus e dirigida
ao Seu povo. O Espírito Santo nos ajuda a compreender o que a Palavra de Deus significa
e como aplicá-la em nossas vidas.

No nível humano, para minimizar os erros que possam advir das nossas interpretações,
nós precisamos conhecer métodos básicos de interpretação da Bíblia. Eu irei listar
alguns destes princípios na forma de questões e então aplicá-los a uma passagem da
Escritura. Eu sigo os seguintes princípios como linhas-mestras para examinar uma
passagem. Elas não são exaustivas e nem absolutas.

1. Quem escreveu/falou
2. O que a passagem diz?
3. Existe alguma palavra ou frase nesta passagem que precise ser examinada?
4. Qual é o contexto imediato?
5. Qual é o contexto mais amplo exposto no capítulo e no livro?
6. Quais são os versículos relacionados ao assunto da passagem e como eles afetam a
compreensão desta?
7. Qual é o fundo histórico e cultural?
8. Qual a conclusão que eu posso tirar desta passagem?
9. As minhas conclusões concordam ou discordam de áreas relacionadas nas Escrituras
ou com outras pessoas que já estudaram esta passagem?
10. O que eu posso aprender e aplicar à minha vida?

A fim de ajudar a entender como estas questões podem afetar a sua interpretação de
uma passagem, eu escolhi uma que, quando examinada atentamente, pode fazer você
chegar a conclusões muito diferentes. Eu deixarei que você determine a exatidão da
minha interpretação. A passagem que eu vou usar é Mt 24:40 "Dois homens estarão no
campo; um será levado e o outro será deixado".

1. Quem escreveu/falou a passagem e para quem era endereçada?

Jesus pronunciou as palavras e elas foram registradas por Mateus. Jesus falou aos Seus
discípulos em resposta a uma pergunta, que iremos ver mais tarde.

2. O que a passagem diz?

A passagem diz simplesmente que um dos dois homens que estão fora, no campo, será
levado. Ela não diz onde, porque, quando, ou como. Ela só diz que um será levado. Ela
não define que o campo pertença a alguém ou a algum lugar em particular.

3. Existe alguma palavra ou frase nesta passagem que precise ser examinada?
Nenhuma palavra, nesta passagem em particular, realmente necessita que nós a
examinemos cuidadosamente, mas para seguirmos este exercício, eu usarei a palavra
"levar". Usando uma Concordância de Strong e um Dicionário de Palavras do Novo
Testamento, eu posso verificar qual é a palavra grega e aprender a respeito dela. A
palavra no Grego é "paralambano". Ela significa: "1) tomar, tomar para si mesmo, trazer
para junto de si, 2) receber alguma coisa por transmissão."

Um ponto que vale a pena mencionar acerca do estudo das palavras é que o seu
significado pode mudar de acordo com o seu contexto. Assim, examinando como a
palavra é usada em múltiplos contextos, o seu significado pode reveber novas
dimensões. Por exemplo, a palavra "amor", no grego é "agapao." Ela geralmente refere-
se ao "amor divino." Isto pode parecer óbvio, já que esta é a palavra usada em Jo 3:16
com este significado. No entanto, a mesma palavra é usada em Lc 11:43, onde Jesus diz:
"Ai de vocês, fariseus, porque amam os lugares de honra nas sinagogas e as saudações
em público!" (NVI). A palavra usada aqui é "agapao." Parece que o significado da palavra
pode tornar-se alguma coisa na linha de "totalmente comprometido com."

No entanto, nós devemos tomar o cuidado de não usar o significado de uma palavra em
um contexto em outro contexto. Por exemplo: 1) Este novo cadete é verde. 2) A árvore
é verde. O primeiro verde significa "novo ou inexperiente." O segundo significa a cor
verde. Poderíamos impor o significado de um contexto em outro? Sim, mas não seria
uma boa ideia.

4. Qual é o contexto imediato?

É o lugar onde a passagem está inserida. O contexto imediato da nossa passagem é o


seguinte, Mt 24:37-42, "Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho
do Homem. 38 Pois nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo,
casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; 39 e eles
nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda
do Filho do Homem. 40 Dois homens estarão no campo: um será levado e o outro será
deixado. 41 Duas mulheres estarão moendo num moinho: uma será levada e a outra
deixada. 42 Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor"
(NVI).

Imediatamente podemos perceber que a pessoa levada no verso 40 é comparada a


pessoa levada no verso 39. Isto é, que as pessoas que foram "levadas" são do mesmo
tipo.

Uma pequena questão precisa ser feita agora. Quem foi levado no verso 39? Foi Noé e
sua família ou foram as pessoas que estavam comendo e bebendo? A resposta a esta
pergunta pode nos ajudar a entender melhor a passagem original. O próximo passo na
interpretação da passagem nos ajudará a entendê-la ainda mais.

5. Qual é o contexto mais amplo exposto no capítulo e no livro?


Uma passagem deve ser sempre examinada dentro do seu contexto. Não apenas no
contexto dos versos imediatamente antes e depois dela, mas também no contexto do
capítulo e até do livro na qual ela está escrita.

O discurso de Jesus do qual esta passagem foi tirada, começa com uma pergunta. Jesus
tinha acabado de sair do templo e no verso 2 disse aos Seus discípulos que "..não ficará
aqui pedra sobre pedra; serão todas derrubadas." Então no versículo 3, os discípulos
perguntam a Jesus: "Dize-nos quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal da
sua vinda e do fim dos tempos?" (NVI). Então, Jesus começa a profetizar acerca das
coisas que viriam no fim dos tempos. Ele falou de falsos Cristos, tribulação, do sol se
escurecendo, do Seu retorno e dos dois homens no campo onde um será levado e outro
será deixado.

O contexto é escatológico. Isto significa que ele está tratando das últimas coisas, ou do
tempo próximo ao retorno de Jesus. Muitas pessoas acham que este versículo de Mt
24:40 refere-se ao arrebatamento mencionado em 1 Ts 4:16-17. Pode ser. Mas é
interessante notar que o contexto do versículo sugere que o mau é que será levado, e
não o bom.

Neste momento você pode estar pensando que este método de interpretação da
passagem não é bom. Depois de tudo, o verso "um será levado e o outro deixado" é
realmente acerca do arrebatamento. Certo? Bem, pode ser. Como você pode ver, nós
todos chegamos à Bíblia com ideais pré-concebidas. Algumas vezes elas estão certas,
outras, erradas. Nós sempre deveríamos estar prontos a ter a nossa compreensão da
Bíblia desafiada pelo que é dito. Se nós não estivermos dispostos, então somos
presunçosos. E Deus está distante do soberbo ( Sl 138:6).

6. Quais são os versículos relacionados ao assunto da passagem e como eles afetam a


compreensão desta?

Acontece que existe uma passagem relacionada, na verdade, paralela, encontrada em


Lc 17:26-27. "Assim como foi nos dias de Noé, também será nos dias do Filho do Homem.
27 O povo estava comendo, bebendo, casando-se e sendo dado em casamento, até o dia
em que Noé entrou na arca. Então veio o dilúvio e destruiu a todos. "(NVI).

Rapidamente, nós descobrimos que estes versos relacionados sem dúvida afetam a
nossa maneira de entender a passagem inicial. Está claro nesta passagem de Lucas que
aqueles que foram levados pelo dilúvio eram aqueles que estavam comendo, bebendo
e se dando em casamento. Em outras palavras, não foram as pessoas boas que foram
levadas, foram as más.

Como você pode ver, isto tem um profundo impacto na maneira como compreendemos
nossa passagem em Mt 24:40. O contexto não sugere que aquele que está no campo
que será levado não é o mau? Como este contexto afeta as minhas ideias pré-
concebidas acerca deste verso? Vamos ler o versículo novamente, mas agora dentro do
seu contexto imediato: Mateus 24:37-42, "Como foi nos dias de Noé, assim também será
na vinda do Filho do Homem. 38 Pois nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia
comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé
entrou na arca; 39 e eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos.
Assim acontecerá na vinda do Filho do Homem. 40 Dois homens estarão no campo: um
será levado e o outro será deixado. 41 Duas mulheres estarão moendo num moinho:
uma será levada e a outra deixada. 42 Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em
que dia virá o seu Senhor" (NVI)

O que é que você acha agora? Quem foi levado, o bom ou o mau? Então, este verso faz
referência ao arrebatamento ou não? Só perguntando.

De interesse correlato é uma passagem em Mt 13:24-30 onde Jesus conta a parábola do


semeador que semeou a boa semente no seu campo e alguém, depois, semeou joio. Os
servos perguntaram se eles deveriam ir imediatamente e arrancar o joio. Mas, no verso
30, Jesus diz "Deixem que cresçam juntos até a colheita. Então direi aos encarregados
da colheita: juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois
juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro." (NIV)

O ponto digno de nota aqui é que o primeiro a ser ajuntado é o joio, e não o trigo. Isto
fica ainda mais interessante quando Jesus explica a parábola em Mt 13:36-43 e
estabelece que eles serão atirados à fornalha.

Adicionalmente, quando nós voltamos para Lc 17, que é a passagem paralela de Mt 24,
nós descobrimos que os discípulos fizeram a Jesus outra pergunta por causa da resposta
de Jesus que dizia "dois estarão no campo e um será levado." No verso 37 eles
perguntam, "Onde, Senhor?" perguntaram eles. Ele [Jesus] respondeu, "Onde houver
um cadáver; ali se ajuntarão os abutres."

Eles serão levados a um lugar de morte.

7. Qual é o fundo histórico e cultural?

Esta é uma questão mais difícil de responder. Ela requer um pouco mais de pesquisa.
Um comentário é digno de ser examinado aqui, já que ele usualmente provê um pano
de fundo histórico e cultural para ajudar a desvendar o texto.

Neste contexto, Israel estava debaixo da lei romana. Eles estavam proibidos de exercer
a punição capital (pena de morte) e de custear uma guerra. Roma estava dominando a
pequena nação. O judaísmo era tolerado apesar da liderança romana. Além de tudo,
Israel era um pequeno país oriental com um povo que era fanático pela sua religião.
Então, Roma permitiu que Israel fosse governado por políticos judeus marionetes.

O templo era o lugar de adoração da comunidade israelense. Ali os sacrifícios de sangue


eram oferecidos pelo sumo sacerdote para a expiação dos pecados da nação. Levaram
46 anos para construí-lo (Jo 2:20). Jesus disse que o templo seria destruído; o que gerou
a pergunta que O levou a fazer o discurso que contém a passagem examinada.
8. Qual a conclusão que eu posso tirar desta passagem?
Desde que o contexto da passagem sugere que o mau é que será levado, eu estou
concluindo que aquele que será levado no campo não será o bom, mas sim o mau. Eu
também sou tentado a concluir que o maus serão levados ao lugar de julgamento.

9. As minhas conclusões concordam ou discordam de áreas relacionadas nas Escrituras


ou com outras pessoas que já estudaram a esta passagem?

Eu já apresentei outras passagens que me permitem chegar a conclusão que cheguei.


No entanto, isto não está de acordo com todos os comentários que eu tenho lido acerca
deste verso. Neste ponto eu necessito apresentar minha conclusão a outros para ver o
que eles pensam. Só porque eu estudei a Palavra e cheguei a uma conclusão não significa
que ela esteja correta. Mas não significa que esteja errada, no entanto. Consultar outras
pessoas, examinar a palavra de novo e buscar a Deus humildemente e a sua iluminação.
Eu só posso ter a esperança de chegar à melhor conclusão possível acerca da passagem.

10. O que eu posso aprender e aplicar à minha vida?

A Interpretação da Escritura tem um propósito: Entender a Palavra de Deus mais


exatamente. Com um melhor entendimento da Sua palavra, nós poderemos aplicá-la à
área a que ela se destina. No nosso caso, a passagem revela uma área do futuro e uma
época de julgamento. A aplicação, então, é que Deus executará o julgamento sobre os
injustos no fim dos tempos.

Concluindo:

Esta aula é somente uma demonstração. Ele é básico e não cobre todos os pontos da
interpretação bíblica. Mas isto já dá uma direção e um exemplo de como você deve
aplicar. Como eu disse antes, ore. Leia a Sua Palavra. Examine as Escrituras o melhor que
você puder para um melhor entendimento e melhor preparo. Seja humilde na sua
abordagem e teste tudo o que concluir pela própria Bíblia.

05 - GÊNEROS LITERÁRIOS DA BÍBLIA: PROVÉRBIOS E PROFECIAS

O CONCEITO DE GÊNERO LITERÁRIO

Nem sempre é fácil explicar o que é um gênero ou uma forma literária. Fato é que, ao
se comunicarem, as pessoas fazem uso de certos padrões de linguagem convencionados
(isto é, que todos aceitam) e que são repetitivos. Existe uma maneira de dar um
telefonema, contar uma piada, escrever uma carta ou um e-mail, elaborar um cardápio
ou uma lista de compras, anotar a receita de um bolo, redigir a bula de um remédio,
compor um artigo para uma revista científica ou dar uma aula. Todos estes são exemplos
de gêneros.

Um gênero não pode ser reduzido a um conjunto de informações. Também não pode
ser simplesmente transferido para outro gênero, não sem sérios riscos de significativas
perdas. Um exemplo disso é a parábola: ela foi feita para ser contada. Reduzi-la a uma
lição ou a um pensamento central significa desmontá-la ou destruí-la. Muitas obras
primas da literatura ficam empobrecidas quando viram roteiros de filme. Por outro,
histórias que não emplacaram como literatura podem até virarem bons filmes.

O gênero tem muito a ver com a forma do texto. Agora, para se reconhecer um gênero
literário, também é importante notar o assunto e o tom do texto, isto é, o que está sendo
dito e como está sendo dito. Um poema tende a aparecer em forma de versos e estrofes,
num tom mais ou menos emotivo, com recurso a linguagem figurada.

Está claro, portanto, que existem várias formas literárias na Bíblia, cada uma com suas
próprias regras de interpretação. Ao lançar mão de cada gênero os autores
submeteram-se conscientemente às suas regras com o propósito de transmitir o
significado pretendido. Eles tinham também em m ente que seus leitores interpretariam
os textos segundo as mesmas regras. Se não estivermos cônscios disso, correrem os o
risco de quase sempre fazer uma interpretação incorreta.

Desta forma, precisamos saber usar as diferentes regras envolvidas na interpretação das
distintas formas literárias da Bíblia. Se interpretássemos uma parábola (Lc 16.19-31)
como se fosse narrativa, cometeríamos um grande erro. De igual modo, repetiríamos a
mesma falha, se interpretássemos uma poesia (Jz 5) como se fosse narrativa. Seria
incidir em erro, se interpretássemos, por exemplo, a narrativa da ressurreição de Jesus
(Mt 28.1-10) como se fosse parábola (1 Co 15.12-19).

A partir do momento em que desejamos entender o que o autor quis dizer, precisamos
ter conhecimento das regras empregadas na construção do texto, conscientes de que
os escritores da Bíblia se submeteram, de boa vontade, a essas normas. Desta forma,
estudaremos as regras envolvidas na interpretação de provérbios, profecias, poesias,
expressões idiomáticas, hipérboles, parábolas, narrativas bíblicas, epistolas, pactos, leis
e salmos.

PROVÉRBIOS

Provérbios são declarações sucintas que geralmente empregam linguagem metafórica


para expressar uma verdade geral. Às vezes chamados de “máximas” ou “aforismos”,
são encontrados ao longo de toda a Bíblia (SI 49.16-20; Is 5.21; Jr 23.28b; 31.29 etc.). Os
mais conhecidos, naturalmente, estão em Provérbios. No entanto, aparecem na maior
parte dos livros de Jó e Eclesiastes, bem como na carta de Tiago. Os provérbios
constituíram-se numa das formas de ensino preferidas por Jesus em seu ministério
terreno.

Deve o provérbio ser interpretado segundo uma lei universal? É possível colocá-lo em
igualdade com a lei dos medos e dos persas que não podia ser revogada (Et 8.8)? Cumpre
ele o mesmo papel das leis termodinâmicas, as quais descrevem aquilo que sempre tem
que acontecer? Lendo provérbios, descobrimos que muitos deles parecem não ser tão
absolutos no que se refere a sua aplicabilidade:
“O Senhor não deixa ter fome o justo, mas rechaça a avidez dos perversos. O que
trabalha com mão remissa empobrece, mas a mão dos diligentes vem a enriquecer”, Pv
10.3,4— Revista e Atualizada. (Toda a pobreza tem como causa a preguiça?) “Mas o que
me der ouvidos habitará seguram ente e estará descansado do temor do mal”, Pv 1.33;
cf. também 2.8. (Alguns cristãos não experimentam o sofrimento e o martírio por causa
de sua fidelidade a Deus?)

“O que oprime o pobre para se engrandecer a si ou o que dá ao rico, certam ente,


empobrecerá”, Pv 22.16. (Algumas pessoas não se tornam bastante ricas pelo fato de
oprimirem os pobres?)

Está claro que esses provérbios não podem ser considerados leis absolutas, porque há
exceções. Eles são, na realidade, verdades gerais.

Provérbios não são “leis”, nem “promessas”. São observações gerais extraídas de um
olhar sábio e cuidadoso dos fatos do dia-a-dia. Essas observações não são limitadas som
ente à Bíblia, mas, também, se estendem à literatura antiga do Oriente Próximo, Grécia
e Egito, bem como à maioria das culturas dos nossos dias. Os provérbios bíblicos,
entretanto, têm uma dimensão especial: não foram formulados, simplesmente, a partir
de uma observação da “vida”, mas à luz da revelação divina. Assim, eles não revelam só
o melhor da sabedoria humana, mas a sabedoria filtrada através da revelação das
Escrituras, registrada pelos escritores sob a direção do Espírito.

PROFECIA

Este gênero literário dispõe de regras específicas que foram empregadas pelos autores
dos livros proféticos. A expectativa dos profetas era que os seus leitores interpretassem
as profecias de acordo com essas regras. Algumas delas, infelizmente, não são claras
hoje, o que causa sérias dificuldades na interpretação desse tipo de literatura.

PROFECIAS DE JULGAMENTO - A regra para esse tipo de profecia encontra-se em


Jeremias 18.7,8: “No momento em que eu falar contra uma nação e contra um reino,
para arrancar, e para derribar, e para destruir, se a tal nação, contra a qual falar, se
converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe”.
Semelhantemente: “E, no momento em que eu falar de uma gente e de um reino, para
o edificar e para plantar, se ele fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à
minha voz, então, me arrependerei do bem que tinha dito lhe faria” (w. 9,10; cf. Ez 33-
13-15).

Portanto, uma das regras compartilhadas pelos profetas com os seus ouvintes é que, se
eles se arrependem, o julgamento predito nesse tipo de profecia não acontece. Assim,
essa regra é parte das “normas de linguagem” desse gênero literário.

A LINGUAGEM DA PROFECIA – Outro aspecto da profecia com o qual o intérprete


precisa estar familiarizado envolve o vocabulário em pregado pelos escritores
proféticos. Grande parte da terminologia utiliza imagens cósmicas comuns nesse
gênero. Por exemplo, na profecia de julgamento, encontrada em Isaías 13.9-11. Esse
julgamento é descrito em terminologia cósmica, utilizando-se de imagens e simbolismos
disponíveis aos profetas quando procuravam descrever a intervenção de Deus na
história e o seu soberano domínio sobre os reinos do mundo (cf. Dn 2.21; 4.17,25,34,35;
5.21). Tratava-se de linguagem que não deveria ser interpretada literalmente.

A NATUREZA FIGURATIVA DA LINGUAGEM PROFÉTICA – A linguagem metafórica,


também presente nas profecias, não deixa de veicular e comunicar verdades; só que ela
faz isso do seu jeito. E essa linguagem precisa ser respeitada, evitando-se, assim, uma
leitura demasiadamente literal.

EM RESUMO – Ao se interpretar os profetas, é preciso: 1) respeitar o texto, ou seja, não


fazer com que a profecia diga o que ela não diz; 2) esclarecer tudo que o profeta disse
ou escreveu para o povo do seu tempo; 3) aplicar a passagem, corretamente
interpretada, aos nossos dias.
06 – POESIAS, EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS E HIPÉRBOLES

POESIAS

Na prosa e na poesia encontra-se muito paralelismo, isto é, duas linhas ou membros do


mesmo período, na maior parte. Significa que as coisas correspondem às coisas e as
palavras às palavras.

- Paralelismo Sinonímico. Quando a mesma ideia é repetida em palavras diferentes. A


2a linha de uma estrofe repete o conteúdo da 1a com palavras diferentes. Ex. Jó 5.6;
Salmo 24.2; 103.10; Provérbio 6.2

- Paralelismo Antitético. Quando a ideia da 2a linha é contrária à da 1a. Ex. Salmo 37.21;
Provérbio 14.13

- Paralelismo Sintético, construtivo ou epitético. Quando a 2a linha vai além da 1a,


completando ou explicando-a. Ex. Salmo 14.2;

O paralelismo pode ser correspondente, quando a 1ª linha corresponde à 3ª e a 2a à 4a.


Ex. Salmo 27.1; ou pode ser cumulativo, quando apresenta uma série de ideias
cumulativas e, algumas vezes, conduz a um clímax. Ex. Salmo 1.1; Isaías 55.6,7.

EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS

No português, encontram os numerosos exemplos de expressão idiomática.


Normalmente, ouvimos as pessoas dizerem: “Tenha um bom dia”. Apesar de o verbo
estar no imperativo, nunca interpretam os a frase como sendo uma ordem. Antes, como
uma expressão idiomática para “adeus” ou “até logo”. Também a saudação: “Como vai
você?”, não é para ser entendida como uma pergunta a respeito de nossa saúde e bem-
estar, mas, simplesmente, como um “alô”. Expressões idiomáticas são bons exemplos
do como o significado das palavras não é determinado pelo que usualmente significam,
mas pelo que o autor pretendeu dizer com elas.

O contraste amor/ódio – Olhe o exemplo de Lucas 14.26 (“Se alguém vier a mim e não
aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a
própria vida, não pode ser meu discípulo”), a natureza idiomática do contraste entre
amor e ódio na literatura hebraica. A mesma linguagem aparece, também, em
Provérbios 13-24: “O que retém a sua vara aborrece a seu filho; mas o que o ama, a seu
tempo, o castiga”. É o mesmo caso de Lucas 14.26 citado anteriormente. Aqui a
declaração para “odiar” pai, mãe e irmãos significa amar a Jesus mais do que aos
familiares.

Outras expressões idiomáticas na Bíblia – Outra expressão idiomática que causa


enorme dificuldade de interpretação encontra-se no Salmo 137.8,9: “Ah! Filha da
Babilônia, que vais ser assolada! Feliz aquele que te retribuir consoante nos fizeste a
nós. Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras!” O que o salmista
descreve, porém , é o seu desejo que a justiça de Deus se manifeste. Ele anseia por um
julgamento divino, cujo objetivo seria a destruição do reino babilónico. No afã de
alcançar essa justiça, o salmista utiliza uma linguagem comum de seus dias.

HIPÉRBOLES

A Bíblia contém enorme quantidade de linguagem hiperbólica. Por natureza, os


provérbios, as poesias e profecias usam essa forma de expressão “exagerada”. Alguns
cristãos acham difícil acreditar que haja “exagero” na Bíblia. Associam o termo com
inexatidão ou imprecisão. E, ainda pior, na m ente de alguns, exagero é sinônimo de
falsidade.

O uso de hipérbole (ou exagero), porém, é uma forma literária perfeitamente aceitável,
quando com partilhada pelo autor e pelo leitor. Empregada desta maneira, é um meio
poderoso que permite a quem escreve não apenas transmitir informações concretas,
mas, também, sentimentos e emoções.

Sua presença nas Escrituras está clara nos seguintes exemplos:

Condutores cegos! Coais um mosquito e engolis um camelo (Mt 23.24).

E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão e não vês a trave que
está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho,
estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, cuidarás
em tirar o argueiro do olho do teu irmão (Mt 7.3-5).

Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é


como cera e derreteu-se dentro de mim (SI 22.14; cf. Lm 2.11).

É evidente que nenhum dos exemplos acima deve ser compreendido literalmente.

Há várias regras úteis que nos permitem reconhecer se uma declaração na Bíblia contém
ou não hipérbole:

1. Quando o significado da declaração é literalmente impossível.


2. Quando a declaração aparentemente contradiz outras afirmações do escritor ou
orador.
3. Quando a declaração aparentemente contradiz as ações do escritor ou orador em
outras partes.
4. Quando a declaração aparentemente contradiz os ensinos do Antigo Testamento.
5. Quando a declaração aparentemente contradiz os ensinos do Novo Testamento.
6. Quando a declaração é interpretada p o r outro autor bíblico de maneira não literal.
7. Quando a declaração não foi literalmente cumprida.
8. Quando a declaração em si m esma não atinge aparentemente o objetivo desejado.
9. Quando a declaração usa um a forma literária propensa ao exagero.
07 – PARÁBOLAS E NARRATIVAS BÍBLICAS

Entre as formas literárias encontradas da Bíblia, a mais conhecida, talvez, seja a


parábola.

Uma definição bem simples é esta: "Parábolas são histórias não-literais que se destinam
a ensinar uma verdade ou lição". Outra, um pouco mais completa, diz que parábolas são
histórias tiradas do dia-a-dia das pessoas, que têm uma lição moral ou religiosa
transmitida de forma indireta, e que se destinam a convencer ou persuadir, levando o
ouvinte a tomar uma decisão ou agir.

A regra básica para se interpretar as parábolas procura o significado pretendido pelo


autor original. Esta regra pode ser colocada da seguinte maneira: E a procura do
significado que Jesus desejava ao proferir a parábola. A interpretação de quaisquer
parábolas do Mestre deveria, é claro, ter como ponto de partida o seu ministério
terreno.

Hoje, temos consciência de que os autores dos Evangelhos não eram simples redatores
das tradições de Jesus, mas também seus intérpretes. Acreditavam que eram chamados
por Deus não apenas para narrar os ensinamentos e atos do Filho de Deus, mas para
interpretá-los aos leitores. Não é de se surpreender, portanto, que tem os quatro
Evangelhos tão similares quanto diferentes.

GUIA PARA CHEGAR À COMPREENSÃO CORRETA:

Quem são as personagens principais?


O que ocorre no final?
O que ocorre no discurso direto?
CONCLUSÃO

A chave para se interpretar as parábolas é lembrar que elas não são alegorias, mas que
tem como finalidade básica ensinar uma verdade. Devemos, portanto, centralizar nossa
atenção na analogia básica da parte fictícia e seu ponto correspondente na parte real.
Por exemplo, na parábola do filho pródigo a analogia é que assim como o irmão mais
velho não aceitará e não se alegrará com o perdão dado pelo pai ao seu irmão mais
moço, os fariseus e professores da lei não estão dispostos a aceitar o perdão de Deus
para os coletores de impostos e pecadores, através do ministério de Jesus. Isto, contudo,
não torna a parábola uma alegoria, pois há apenas uma analogia básica presente à
semelhança do que ocorre em cada metáfora ou símile.

NARRATIVA BÍBLICA

A forma literária encontrada com mais freqüência na Bíblia é a narrativa. Dentro da


tradição judaico-cristã, esse gênero literário possui uma importância única. Muitas
pessoas se deparam primeiramente com a Bíblia por meio de suas histórias. Essas
histórias, tanto de José, Moisés, Sansão, Davi, Isaías, Jesus ou Paulo são narrativas
bíblicas.

A Bíblia, na sua maior parte, constitui-se dessa forma literária. Mais de quarenta por
cento do Antigo Testamento e, aproximadamente, sessenta por cento do Novo
Testamento consistem de narrativas. Envolve livros, tais como Gênesis, Êxodo, Josué a
Ester, Mateus a Atos e grande porção de Números, Deuteronômio e os profetas.

PRINCÍPIOS PARA INTERPRETAR UMA NARRATIVA BÍBLICA

O propósito da narrativa bíblica não é simplesmente contar o que aconteceu no


passado. Ao contrário, seu objetivo é relacionar esses eventos com a fé bíblica.

Desta forma, os significados de tais textos não envolvem simplesmente “o que


aconteceu”, mas a interpretação do que aconteceu. Ao contrário dos materiais legais ou
cartas, porém, o significado de uma narrativa é ensinado de maneira implícita em vez
de explícita. Os escritores das narrativas bíblicas raramente dizem: “O ponto ao qual
quero chegar com esta história é...”. Desta forma, o significado de uma narrativa é mais
impreciso para o leitor. Para facilitar a interpretação da narrativa bíblica, os tópicos a
seguir são especialmente úteis.

CONTEXTO - Já que a narrativa bíblica é sempre parte de uma narrativa maior, o autor
considera que seus leitores procurarão descobrir o significado de uma narrativa em
particular baseado no significado geral do livro.

COMENTÁRIOS DO AUTOR - Em várias ocasiões, os autores das narrativas bíblicas, nos


seus relatos, dão pistas sobre como seus leitores deveriam interpretar estas narrativas.
Um exemplo disto encontra-se quando um rei utiliza a expressão: “O que era certo aos
olhos de Deus” (1 Rs 14.8; 15-5; 22.43; 2 Rs 10.30; 14.3; 15.3,34; 18.3; 22.2; 2 Cr 24.2;
25.2; 26.4; 29.2; 34.2).

REPETIÇÃO - Outra maneira pela qual o autor com partilha o seu significado com o leitor
é pela repetição de temas. O autor do livro de Juizes, por exemplo, revela seu propósito,
escrevendo através da constante repetição de dois tem as principais. Um envolve a
experiência cíclica de Israel de rebelião, retribuição, arrependimento e restauração
(veja, 3.7-9, para um resumo sucinto). Quando Israel age “mal aos olhos de Deus” (2.11-
12; 3-7,12; 4.1; 6.1; 10.6; 13.1), o Senhor o entrega aos seus inimigos (2.14; 3-8,12; 4.2;
6.1; 10.7; 13-1). Quando Israel se arrepende e clama pela ajuda do Senhor (3-9,15; 4.3;
6.6,7; 10.10,12), Deus, então, o livra (2.16,18; 3-9,15; 6.9; 10.12). O autor, claramente,
procura ensinar a seus leitores que o pecado leva ao julgamento, mas o arrependimento
conduz à salvação.

ORADORES AUTORIZADOS - Outra forma pela qual um autor ajuda seus leitores a
compreender o significado de sua narrativa é colocando diálogos chaves na boca dos
vários oradores. O leitor sabe, devido a quem está falando, se o que está sendo dito
representa a mente do narrador. Por exemplo, quando Deus ou Jesus falam, o leitor
sabe que o autor quer que aceite o que está sendo dito como verdade.

DIÁLOGO OU DISCURSO DIRETO - Uma maneira pela qual o autor fixa a atenção dos
seus leitores, dentro de um relato, é através do diálogo. Quando o discurso indireto
(uma conversa relatada de maneira indireta) se transforma em discurso direto (conversa
marcada por aspas) esta é uma dica de que deve ser prestada muita atenção ao que está
sendo dito. Assim, na história em que Jesus acalma a tempestade, a chave para
compreender a narrativa surge nas palavras pronunciadas pelos discípulos, “Mas quem
é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4.41). O que Marcos procura
compartilhar com seus leitores, quando relata a história, é que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus.

08 – CARTAS

No Novo Testamento, a forma literária dominante é a epístola ou carta. Tecnicamente,


carta é uma forma de comunicação menos literária e mais cuja finalidade é manter o
relacionamento entre o remetente e o destinatário.

A FORMA DE UMA CARTA ANTIGA

SAUDAÇÃO — Consiste de uma referência ao remetente (“Paulo e Timóteo, servos de


Jesus Cristo”) e ao destinatário (“A todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos,
com os bispos e diáconos”), com uma saudação (“graça a vós e paz, da parte de Deus,
nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo”, Fp 1.1,2).

AÇÃO DE GRAÇAS E/OU ORAÇÃO — É encontrada em todas as cartas de Paulo, exceto


em Gálatas, onde sua omissão é significante.
CONTEXTO — Esta é a parte mais extensa das cartas de Paulo, como pode ser vista em
Romanos 1.18—11.36; Gálatas 1.6—4.31; e, ainda, também, em 1 Coríntios 1.10—4.21.

EXORTAÇÃO E INSTRUÇÃO — Observe Romanos 12.1—15.32; 1 Coríntios 5.1—16.18;


Gálatas 5 1 —6.15.

CONCLUSÃO — Pode incluir assuntos como: um pedido por paz (Rm 15-32; 2 Co 13-11;
G1 6.16); saudação (Rm 16.1-15; 1 Co l6.1-20a; 2 Co 13-13); osculo santo (Rm 16.16; 1
Co 16.20b; 2 Co 13.12); uma conclusão escrita pelo p róprio autor (1 Co 16.21; G1 6.11;
Cl 4.18; 2 Ts 3-17); bênção (Rm 16.20; 1 Co 16.23,24; 2 Co 13.14; G1 6.18).

09 – LEIS E CÂNTICOS

LEIS E MANDAMENTOS

Na Bíblia uma grande seção, de Gênesis a Deuteronômio, é chamada de “Lei”. A “Lei”


pode, também, se referir ao Antigo Testamento como um todo (Jo 10.34; 12.34; 15.25;
1 Co 14.21 referem-se à Lei, mas indicam outra parte do Antigo Testamento).

As leis da Bíblia têm sido classificadas, de acordo com suas formas, em dois tipos-, leis
casuísticas e leis apodíticas. O padrão é uma lei caso por caso, cujo procedimento é o
seguinte: “Se A ocorre, então B terá a mesma consequência”. Lei casuística geralmente
envolve assuntos do tipo material ou civil. Lei apodítica, contudo, é declarativa e
categórica. Tende a compreender proibições, mandamentos e instruções. Estas leis são
frequentemente inábeis e tendem, na realidade, a ficar no âmbito religioso. A maior
parte das leis do antigo Oriente Próximo tendem a ser casuísticas. Isto também é
verdade com relação ao Antigo Testamento.
Outra distinção feita frequentemente entre as várias leis nem ao menos envolvem a
forma ou o conteúdo delas. Estas são, frequentemente, divididas em três classes: leis
éticas (como os Dez Mandamentos — Êx 20.1; 34.27,28; Dt. 4.13; 10.4); leis de
veneração (como as leis rituais que envolvem sacrifícios, qualificações para obediência
sacerdotal, proibição de comidas impuras etc) e leis civis (penalidades para crimes,
regulamentos de herança etc).

Quando o Novo Testamento se refere às leis do Antigo Testamento, reconhece as leis


de veneração e civil como já não estando ligadas por muito tempo. O Antigo Testamento
previu que um tem po viria quando um novo pacto seria estabelecido. Na ocasião,
algumas das cláusulas gerais básicas envolvidas no velho pacto iriam ter fim. No novo
pacto, todos os alimentos são puros (Mc 7.19; cf. At 10.9-16), através do sacrifício
definitivo de Jesus por todas as pessoas, o sistema de sacrifício e sacerdócio tornou-s e
supérfluo (Hb 7—8; 10.1-10) e a circuncisão já não é mais requerida (G1 5.2-6). As leis
civis do Antigo Testamento também não estão juntas, visto que o Israel bíblico não mais
existe.

Na interpretação das leis da Bíblia é importante lembrar de várias coisas. Em primeiro


lugar, temos que nos lembrar que elas estão associadas a um pacto de graça. A tentativa
em viver os mandamentos de m odo perfeito falhará e nunca poderá conduzir à
salvação. Devido a nossa natureza decadente e pecadora, não temos condições, em nós
mesmos, de cumprir as ordenanças (Rm 3.1-20). Além disso, a tentativa em manter os
mandamentos não pode salvar, porque para ser salva, a pessoa deve ser um beneficiário
do pacto da graça. Ainda mais, é som ente depois que uma relação de pacto, já está
estabelecido, com base na graça de Deus, que as claúsulas gerais básicas da lei são
determinadas. O êxodo (Êx 20.3-17) precedeu a entrega da lei no monte Sinai (Êx 20.3-
17). A ordem não pode ser invertida. Salvação precede obediência.

Um princípio adicional para interpretar as leis da Bíblia pode ser aludido. A lei tem como
um de seus propósitos a revelação de nosso pecado e corrupção. Até mesmo em nossos
melhores momentos, não mantemos as leis de Deus perfeitamente. Assim, temos que
reconhecer que precisamos de perdão e misericórdia. A lei tem como objetivo nos
mostrar a necessidade da graça de Deus.

SALMOS

Salmos são, sem dúvida, o maior livro da Bíblia. Consiste de 150 salmos individuais
organizados em cinco “livros”. Cada livro (1—41; 42—72; 73—89; 90—106; 107—150)
term ina com uma doxologia (41.13; 72.18,19; 89.52; 106.48 e 150). Os Salmos foram
compilados durante certo tempo.

O mesmo se pode dizer com relação ao seu arranjo atual. Isto pode ser visto a partir do
comentário editorial, em 72.20: “Findam aqui as orações de Davi, filho de Jessé”. O
número maior de salmos é atribuído a Davi (73), mas outros são atribuídos a Asafe (12),
aos filhos de Coré (11), Salomão (2) e Moisés (1).
Alguns dos salmos são repetidos até mesmo em parte ou como um todo (14 = 53; 40.13-
17 = 70; 57.7-11 = 108.1-5; 60.5-12 = 108.6-13). (Outros lugares na Bíblia, onde podem
ser achados salmos, são: Êx 15.1-18; Dt 32.1-43; 1 Sm 2.1-10; 2 Sm 22.2-51; Is 12.4- 6;
Jn 2.2-10; Hc 3.2-19 etc.).

Já tivemos a oportunidade de lidar com a natureza rítmica dos salmos. Aqui, lidaremos
com as formas dos salmos, em vez dos tipos de poesia neles encontrados.

SALMOS DE LAMENTO

Estes, compõem o maior número salmos. Encontram-se em dois tipos: em lamento


individual (3—7; 13; 17; 22; 25—28; 31; 35; 39; 4 2 -4 3 ; 51; 54-57; 59; 61-6 4; 70 -7 1 ;
77; 86; 88; 102; 120; 130; 140—143) e em lamentos nacionais (44; 74; 79—80; 83; 85;
90; 94; 137). O número exato é incerto porque a classificação de certos salmos é
debatida.

SALMOS DE LOUVOR E AGRADECIMENTO

Estes salmos são o oposto aos de lamento. Embora alguns eruditos têm procurado
dividir estes salmos em dois tipos diferentes (salmos de louvor e salmos de
agradecimento), é melhor estudá-los no mesmo grupo. Agradecimento e louvor estão
sempre juntos. Não há nenhum agradecimento sem louvor, e nenhum louvor sem
agradecimento. Como nos salmos de lamento, temos os salmos individuais (8; 18; 30;
32—34; 40; 66; 75; 81; 92; 103-104; 106; 108; 111—113; 116; 118; 135; 138; 145—150)
e salmos coletivos (65; 67; 107; 114; 117; 124; 136) de louvor e de agradecimento. Às
vezes, é difícil saber se um salmo é melhor classificado como um salmo individual ou de
grupo de louvor (cf. 145—150).

Outros tipos de salmos, cuja classificação não tem uma forma definida, som ente o
conteúdo, também podem ser mencionados:

SALMOS DE SIÃO — Estes não possuem uma forma específica; mas, por outro lado, o
conteúdo, frequentemente, tem como centro Jerusalém e o templo. Alguns exemplos
são 46; 48; 76; 84; 87; 122; cf. também 137.

SALMOS REAIS — Estes são freqüentemente associados com a esperança messiânica,


porque o padrão do bom Rei, nestes salmos, descreve esse rei consagrado que virá —
o Messias (2; 18; 20—21; 45; 72; 89; 101; 110; 132; 144)

HINOS A DEUS — Não é fácil de distinguir estes dos salmos de louvor e agradecimento.
Podem ser incluídos: 19; 24; 29; 47; 95-100; 104.

SALMOS DE SABEDORIA — Estes, incluem salmos, como 1; 37; 49; 73; 112; 127-128;
133.

SALMOS DE CONFIANÇA — Esta classificação é um pouco arbitrária, mas este tema é


achado em 11; 16; 23; 62; 91; 121; 125; 131.
SALMOS PENITENCIAIS — Tratamos desta forma de salmo sob a categoria geral de
salmos de lamento. Esses salmos de lamento, que frequentemente são chamados
“penitenciais”, são 6; 32; 38; 51; 102; 130.

Os Salmos são, para muitos, a parte mais conhecida do AT. A rigor, são um resumo da
teologia do AT Mais ou menos dois terços das citações do AT no NT são tirados dos
Salmos.

Esta é, talvez, a grande razão por que os Salmos foram e ainda continuam a ter um lugar
de destaque no culto cristão. Horace D. Hummel resume isto muito bem:

Ao fazer uso dos Salmos, o cristão reconhece, não somente


a unidade da Escritura em termos de promessa e
cumprimento, mas a unidade da divindade como assunto
comum a ambos os testamentos. O SENHOR do AT é
também "o Deus e Pai de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo" que, por ação do Espírito Santo, em palavra e
sacramento, passa a ser nosso Deus. A natureza e os
atributos desse Deus, bem como as suas obras de criação,
redenção e santificação, são essencialmente as mesmas,
embora também tenham sido revelados com maiores
detalhes na nova aliança. Os atos de Deus pelos quais ele
é louvado nos Salmos são também parte de nossa
salvação. É claro que para nós esses atos são acessíveis
apenas através de Cristo, e a eles nós acrescentamos os
feitos de Deus na sexta-feira santa e na páscoa, que são a
culminância daqueles. (1979, p.426)

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