Isidoro, Etymologiarum siue Originum, II, 41
IV. DE TRIBVS GENERIBVS CAVSARVM. [1] Genera causarum
tria sunt, deliberativum, demonstrativum, iudiciale. Deliberativum
genus est, in quo de quibuslibet utilitatibus vitae, quid aut debeat aut
non debeat fieri, tractatur. Demonstrativum, in quo laudabilis
persona aut reprehensibilis ostenditur. [2] Iudiciale, in quo de ipsius
personae facto aut poenae aut praemii sententia datur. Dictum autem
iudiciale eo, quod iudicet hominem, et sententia sua ostendat utrum
laudabilis praemio dignus sit, aut certe reus condemnari liberarique
supplicio. [3] Deliberativum genus vocatur eo, quod de unaquaque re
in eo deliberatur. Huius genus duplex est, suasio et dissuasio, id est
de expetendo et fugiendo, id est de faciendo et non faciendo. [4]
Suasoria autem in tribus locis dividitur: honesto, utili, et possibili.
Haec differt aliquid a deliberativa, quia suasoria eget alteram
personam, deliberativa interdum et apud se agit. In suasoria autem
duae sunt quae plus valent: spes et metus. [5] Demonstrativum
dictum, quod unamquamque rem aut laudando aut vituperando
demonstrat. Quod genus duas habet species: laudem et
vituperationem. Laudis ordo tribus temporibus distinguitur: ante
ipsum, in ipsum, post ipsum.
1
Trata-se do início do segundo livro das Etimologias ou das Origens de Isidoro de
Sevilha (séc. VI-VII). ISIDORE OF SEVILLE. W. Isidori Hispalensis Episcopi
Etymologiarum sive Originum libri XX. Edited by M. Lindsay. Oxford: 1911.
IV. Sobre os três gêneros das causas.2
1. Os gêneros das causas são três: deliberativo, demonstrativo,
judicial. O gênero deliberativo é aquele em que se discute o que
deve ou não deve acontecer sobre as necessidades da vida, quaisquer
que sejam elas. O demonstrativo, no qual se mostra uma pessoa
louvável ou condenável. [2] Judicial, no qual uma sentença de
punição ou de benefício é dada sobre um feito de uma pessoa.
Porém, foi denominado judicial, porque ele julga o homem e mostra
na sua sentença ou se o distinto é digno de um prêmio, ou se é um
réu de fato a ser condenado e liberado (depois do) com um suplício.
[3] É chamado gênero deliberativo porque nele se delibera sobre
cada assunto. Esse gênereo é duplo, aconselhar e desaconselhar
(persuadir e dessuadir), ou seja, sobre se dirigir a algo ou fugir de
algo, ou melhor, sobre fazer e não fazer. [4] A causa persuasiva,
todavia, é dividida em três tópicas: honesto, útil e possível. Ela é
algo diferente da causa deliberativa porque a persuasiva tem
necessidade de uma segunda pessoa, enquanto a deliberativa também
age para si mesma. Na causa persuasiva, porém, há duas coisas que
tem mais valor: a esperança e o medo. [5] Foi denominado gênero
deliberativo, pois demonstra cada assunto ou louvando, ou
vituperando. Esse gênero tem duas espécies: louvor e vituperação. A
ordem do louvor é distinguida em tres tempos: antes (de algo),
durante, depois.
2
Tradução ‘de serviço’ por Brunno V. G. Vieira
 Cicero, De partitione oratoria, 68-70 [De causarum generibus]
Causarum genera restant. Admodum; et earum quidem forma duplex
est, quarum altera delectationem sectatur audientium, alterius ut
obtineat, probet et efficiat quod agit, omnis est suscepta contentio.
Itaque illud superius exornatio dicitur, quod cum latum genus esse
potest saneque varium, unum ex eo delegimus, quod ad laudandos
claros viros suscipimus et ad improbos vituperandos. Genus enim
nullum est orationis quod aut uberius ad dicendum aut utilius
civitatibus esse possit aut in quo magis orator in cognitione virtutum
vitiorumque versetur. Reliquum autem genus causarum aut in
provisione posteri temporis aut in praeteriti disceptatione versatur,
quorum alterum deliberationis est, alterum iudicii. Ex qua partitione
tria genera causarum exstiterunt, unum quod a meliori parte
laudationis est appellatum, deliberationis alterum, tertium
iudiciorum. Quam ob rem de primo primum, si placet, disputemus.
Sobre os gêneros das causas3
Restam os gêneros das causas. Certamente e, de fato, a forma delas
(das causas) é dupla4, uma das quais aspira ao deleite dos ouvintes,
todo empenho da outra foi tomado para obter, provar e cumprir o
que está em causa5. Assim aquilo mais acima (a primeira delas) é
denominado ornamento, a ele, embora possa ser um gênero
abrangente e sem dúvida variado, delimitemos a partir dele um único
(gênero, o demonstrativo) que adotamos para louvar os varões
ilustres e vituperar os ímprobos. De fato, não há de discurso gênero
algum que possa ser ou mais abundante para discursar ou mais útil
para as cidades, ou (ainda) no qual o orador mais se volte ao
conhecimento das virtudes e dos vícios. Por outro lado, aquele
segundo gênero (forma/espécie) das causas se volta ou para a
previsão do tempo futuro ou no discernimento do passado, um deles
é o gênero da deliberação, o outro o gênero do juízo. Dessa divisão
os três gêneros de causas ficaram evidentes, que foi nomeado pela
sua melhor parte de louvação (demonstratiuum ou laudatiuum), o
outro de deliberação, o terceiro dos juízos. Por essa razão sobre o
primeiro, se te agrada, falemos primeiramente.
3
Tradução ‘de serviço’ por Brunno V. G. Vieira.
4
de fato há duas espécies de causas
5
agit no sentido de (faria 9): intentar uma ação, advogar, encaminhar uma ação
segundo a lei