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Informativo 916-STF
Márcio André Lopes Cavalcante

Processo não comentado em virtude de envolver peculiaridades do caso concreto que não têm relevância para concursos
públicos: MS 33202 AgR/DF. Veja ao fim a notícia do julgado.
Processo não comentado por não ter sido ainda concluído já que houve pedido de vista: Pet 7.612 AgR/DF. Será
comentado assim que chegue ao fim.

ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
 Servidor que fazia faculdade particular e é removido, de ofício, para outra cidade tem direito a matrícula em
universidade pública, se não existir instituição privada congênere no destino.

DIREITO AMBIENTAL
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
 É inconstitucional lei estadual que prevê a supressão de vegetal em APP para a realização de atividades
exclusivamente de lazer.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


AÇÃO ANULATÓRIA
 A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes proferida é impugnável por meio de ação anulatória.

EXECUÇÃO
 Constitucionalidade do art. 741 do CPC/1973 (art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14; e art. 535, § 5º do CPC/2015).

DIREITO TRIBUTÁRIO
CSLL
 A CSLL é constitucional.

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS
Servidor que fazia faculdade particular e é removido, de ofício, para outra cidade tem direito a
matrícula em universidade pública, se não existir instituição privada congênere no destino

Importante!!!
É constitucional a previsão legal que assegure, na hipótese de transferência ex officio de
servidor, a matrícula em instituição pública, se inexistir instituição congênere à de origem.
Ex: Paulo é servidor público federal, lotado em Recife (PE), onde faz faculdade de Medicina em
uma universidade particular. Ele é transferido, de ofício, para Rio Branco (AC). Suponhamos,
hipoteticamente, que, em Rio Branco, as universidades privadas lá existentes não possuem o

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curso de medicina. Neste caso, Paulo teria direito a uma vaga no curso de Medicina da
universidade pública.
Fundamento legal: art. 1º da Lei nº 9.536/97.
STF. Plenário. RE 601580/RS, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/9/2018 (repercussão geral)
(Info 916).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Paulo é servidor público federal, lotado em Recife (PE), onde faz faculdade de Medicina em uma
universidade particular. Ele é transferido, de ofício, para Rio Branco (AC).

Em virtude dessa transferência, Paulo terá direito a uma vaga no curso de Medicina em uma
universidade em Rio Branco (AC)?
SIM. Isso é chamado de transferência ex officio, sendo um direito assegurado pela Lei nº 9.536/97, que
regulamentou o parágrafo único do art. 49, parágrafo único, da Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases
da Educação):
Lei nº 9.394/96
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a transferência de alunos regulares, para
cursos afins, na hipótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo.
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na forma da lei.

Lei nº 9.536/97
Art. 1º A transferência ex officio a que se refere o parágrafo único do art. 49 da Lei nº 9.394, de 20
de dezembro de 1996, será efetivada, entre instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino,
em qualquer época do ano e independente da existência de vaga, quando se tratar de servidor
público federal civil ou militar estudante, ou seu dependente estudante, se requerida em razão de
comprovada remoção ou transferência de ofício, que acarrete mudança de domicílio para o
município onde se situe a instituição recebedora, ou para localidade mais próxima desta.
Parágrafo único. A regra do caput não se aplica quando o interessado na transferência se deslocar
para assumir cargo efetivo em razão de concurso público, cargo comissionado ou função de
confiança.

Em qualquer época do ano e independente da existência de vaga


Não é preciso que o servidor aguarde o início do semestre e, mesmo que não haja vaga na turma, ele ficará
como sobressalente.

Dependentes
Têm direito à matrícula, em estabelecimentos de ensino congêneres, não apenas os servidores públicos
como também seus dependentes.

Essa prerrogativa abrange servidores da Administração indireta?


SIM. A lei amplia o conceito de “servidor público” a fim de alcançar não apenas os vinculados à
Administração direta, como também os que exercem suas atividades em entidades da Administração
Pública indireta, uma vez que a finalidade da norma é o interesse público.
Assim, os empregados das entidades da Administração Indireta, dentre elas as empresas públicas e
sociedades de economia mista, são considerados servidores públicos em sentido amplo e, portanto, têm
direito ao benefício previsto na Lei nº 9.536/97.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1218810/RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 15/02/2011.
STF. 2ª Turma. RE 495325 AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 12/04/2011.

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Esse direito abrange também servidores estaduais e municipais?


O art. 1º da Lei nº 9.536/97 fala apenas em “servidores federais”. No entanto, a jurisprudência do STJ
firmou entendimento de que a prerrogativa legal de transferência de aluno ou dependente concedida a
servidor público federal estende-se também a servidores estaduais, municipais e do Distrito Federal, nos
casos de transferência de ofício, e entre estabelecimentos de ensino congêneres.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1267223/RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 13/09/2011.

Mas é possível que um servidor estadual ou municipal seja transferido ex officio?


SIM. Isso é possível tanto dentro do mesmo Estado como também (mais raramente) para outro Estado da
Federação.
Ex: um servidor estadual que é transferido ex officio de um Município do interior para a capital, ou vice-
versa.
Ex2: um servidor do Município de São Paulo (SP) é transferido ex officio da capital paulista para Brasília
(DF), onde a Administração Pública mantém um escritório de representação para cuidar dos assuntos
municipais na capital federal.

Não abrange transferências “a pedido”


A prerrogativa conferida pela Lei nº 9.536/97 deve ser interpretada de forma restritiva e, portanto, não
contempla as transferências “a pedido” do próprio servidor.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1626826/PE, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 21/03/2017.

Assunção em cargo público, nomeação para cargo em comissão e designação para função de confiança
A prerrogativa da transferência ex officio não se aplica quando o interessado na transferência se deslocar
para outra localidade com o objetivo de assumir:
• cargo efetivo em razão de concurso público. Ex: o pai do estudante de Medicina passou em um concurso
para morar em outro Estado.
• cargo comissionado; ou
• função de confiança.

Posse de membro do MP como Desembargador e transferência universitária de dependente


O filho do membro do MPT nomeado para o cargo de Desembargador Federal na vaga do quinto
constitucional tem direito de ser transferido para a Universidade do local para onde se mudou?
SIM. O filho de membro do Ministério Público do Trabalho tem, em razão da mudança de domicílio de seu
pai para tomar posse no cargo de Desembargador Federal do Trabalho, direito a ser transferido para
instituição de ensino superior congênere, nos termos do art. 49 da Lei nº 9.394/96, c/c art. 1º da Lei nº
9.536/97.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.536.723-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 13/10/2015 (Info 571).

Requisito da congeneridade
Em 2005, o STF, ao julgar uma ADI proposta contra a Lei nº 9.536/97, deu interpretação conforme ao art.
1º desta Lei e afirmou o seguinte:
Essa previsão de transferência obrigatória para outra faculdade somente pode ser considerada
constitucional se a instituição de destino for congênere à de origem.
Congênere = algo que é do mesmo gênero (tipo), ou seja, algo similar.
Isso significa que, se o servidor (ou seu dependente) estudava em uma universidade pública, ele terá
direito de se transferir para uma universidade também pública na cidade de destino.
Por outro lado, se o servidor (ou seu dependente) estudava em uma universidade privada, ele será
transferido para uma universidade também privada.

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Em suma, se o servidor público (civil ou militar) que cursa faculdade for transferido, de ofício, para outra
localidade, ele tem direito de ser matriculado em instituição de ensino superior do local de destino,
observado, todavia, o requisito da congeneridade em relação à instituição de origem.
Veja a ementa do julgado:
A constitucionalidade do artigo 1º da Lei nº 9.536/97, viabilizador da transferência de alunos, pressupõe
a observância da natureza jurídica do estabelecimento educacional de origem, a congeneridade das
instituições envolvidas - de privada para privada, de pública para pública -, mostrando-se inconstitucional
interpretação que resulte na mesclagem - de privada para pública.
STF. Plenário. ADI 3324, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 16/12/2004.

Voltando ao nosso exemplo:


Seguindo esse requisito da congeneridade, a vaga de Paulo não será em uma universidade pública.
Isso porque Paulo estudava em Recife em uma universidade particular. Logo, ao ser transferido para Rio
Branco, deverá fazer o curso superior em uma faculdade também particular.
A regra da congeneridade fala:
• Se o servidor estudava em uma instituição pública, será matriculado em uma instituição pública na
localidade de destino.
• Se fazia o curso em uma instituição privada, sua matrícula será efetividade em uma instituição privada.

Até aí, tudo bem. Mas... e se a instituição congênere da localidade de destino não oferecer o curso que
era feito pelo servidor em seu antigo domicílio? Suponhamos, hipoteticamente, que, em Rio Branco, as
universidades privadas lá existentes não possuem o curso de medicina. O que fazer neste caso?
Diante desses casos concretos, a jurisprudência dos TRFs e do STJ criou uma exceção ao requisito da
congeneridade.
Passou-se a dizer o seguinte: se não houver curso correspondente em estabelecimento congênere no local
da nova residência ou em suas imediações, deverá ser assegurada a matrícula em instituição não
congênere.
Assim, em nosso exemplo hipotético, como em Rio Branco não havia uma faculdade particular de
Medicina, Paulo teria direito a uma vaga no curso de Medicina da universidade pública.

Universidades públicas questionaram essa “exceção”


Essa “exceção” ao requisito da congeneridade começou a ser questionada pelas Universidades públicas
sob a alegação de que isso violaria o princípio da isonomia (art. 5º) e o direito à igualdade de condições
para o acesso à escola e à educação (art. 206, I, da CF/88):
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

Logo, essa exceção seria inconstitucional.

O STF concordou com o argumento das Universidades públicas? Há inconstitucionalidade?


NÃO.
É constitucional a previsão legal que assegure, na hipótese de transferência ex officio de servidor, a
matrícula em instituição pública, se inexistir instituição congênere à de origem.
STF. Plenário. RE 601580/RS, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/9/2018 (repercussão geral) (Info 916).

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O STF, inicialmente, esclareceu que, ao julgar a ADI 3324, ele não examinou os casos de transferência para
cidades em que não havia instituição de ensino congênere.
Em outras palavras, o STF afirmou que, ao julgar a ADI 3324, teria apenas analisado e fixado a regra geral,
mas sem fixar posição para os casos em que a cidade de destino não tivesse o mesmo curso na faculdade
privada. Logo, agora seria o momento de analisar esta situação.
Se a cidade de destino do servidor não tem um curso congênere na rede privada, deve-se admitir a
matrícula em universidade pública, sob pena de haver uma restrição desproporcional.
Exigir que a transferência se dê entre instituições de ensino congêneres praticamente inviabiliza o direito
à educação não apenas dos servidores, mas de seus dependentes, solução que viola o disposto na Lei nº
9.536/97, e exclui, por completo, a fruição de um direito fundamental. Impedir a matrícula do servidor ou
de seus dependentes, em caso de transferência compulsória, quando inexistir instituição congênere no
município, possivelmente levaria ao trancamento do curso ou sua desistência. Assim, permitir a matrícula,
ante a inviabilidade de um dos direitos em confronto, não se afigura desproporcional.

Conclusões pessoais:
Para fins de concurso, é muito importante conhecer a literalidade da tese acima exposta porque é muito
provável que seja cobrado exatamente assim na prova.
No entanto, podemos explicar como funciona na prática, criando uma “regra” e uma “exceção”:
• REGRA: em caso de transferência ex officio de servidor público (civil ou militar), o servidor (ou seu
dependente) terá direito de se matricular em instituição congênere àquela que estava estudando na
origem. Ex: se fazia o curso em uma universidade pública, terá direito de se matricular em uma instituição
pública na cidade para a qual foi transferido. É o chamado requisito da congeneridade.
• EXCEÇÃO: se no local da nova residência ou em suas imediações não houver o curso em uma instituição
congênere, deverá ser assegurada a matrícula em instituição não congênere. Ex: o servidor fazia o curso
de Medicina em uma universidade privada e no local de destino não existe faculdade particular que
ofereça o curso de Medicina. Neste caso, como inexiste instituição congênere à de origem, a lei assegura
a matrícula em instituição pública. O STF afirma que essa interpretação da lei é compatível com a CF/88.

Requisitos
Diante de tudo que foi exposto, podemos assim resumir os requisitos para que se proceda à transferência
entre instituições de ensino superior, na hipótese de remoção de servidor público no interesse da
Administração, o cumprimento de três requisitos cumulativos:
a) remoção ou transferência do servidor, ex officio, com mudança de domicílio;
b) qualidade de estudante do servidor (civil ou militar) ou de dependente seu; e
c) congeneridade entre as duas instituições envolvidas, salvo se não houver curso correspondente em
estabelecimento congênere no local da nova residência ou em suas imediações, hipótese na qual deverá
ser assegurada a matrícula em instituição não congênere.

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DIREITO AMBIENTAL

ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE


É inconstitucional lei estadual que prevê a supressão de vegetal em APP
para a realização de atividades exclusivamente de lazer

Importante!!!
É inconstitucional lei estadual prevendo que é possível a supressão de vegetal em Área de
Preservação Permanente (APP) para a realização de “pequenas construções com área máxima
de 190 metros quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer”.
Essa lei possui vícios de inconstitucionalidade formal e material.
Há inconstitucionalidade formal porque o Código Florestal (lei federal que prevê as normas
gerais sobre o tema, nos termos do art. 24, § 1º, da CF/88) não permite a instalação em APP de
qualquer tipo de edificação com finalidade meramente recreativa.
Existe também inconstitucionalidade material porque houve um excesso e abuso da lei
estadual ao relativizar a proteção constitucional ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, cujo titular é a coletividade, em face do direito de lazer individual.
STF. Plenário. ADI 4988/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/9/2018 (Info 916).

De quem é a competência para legislar sobre meio ambiente?


A competência para legislar sobre o meio ambiente é concorrente, nos termos do art. 24, VI e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais,
proteção do meio ambiente e controle da poluição;
(...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

A doutrina afirma que, em relação à competência legislativa concorrente, a CF/88 criou um “condomínio
legislativo” entre os entes federativos.
A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24. Ex: o Congresso
Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre a proteção das florestas.
A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos
Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a legislação federal editada pela
União. Obviamente, as normas estaduais não podem contrariar as normas gerais elaboradas pela União.
Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados exercerão a
competência legislativa plena para atender às suas peculiaridades. Em outras palavras, não havendo
normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a respeito daquele tema. Vale ressaltar,
no entanto, que se a União vier a editar posteriormente as normas gerais, a lei estadual terá sua eficácia
suspensa naquilo que for contrário à legislação da União.

Feita esta revisão, imagine a seguinte situação:


O Estado do Tocantins editou a Lei nº 1.939/2008 prevendo situações excepcionais nas quais seria possível
a supressão de vegetação em Áreas de Preservação Permanente (APP).
Esta Lei previu, como uma das hipóteses, que seria possível a realização de “pequenas construções com
área máxima de 190 metros quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer” (art. 3º, III, “l”).

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Desse modo, o legislador estadual tocantinense permitiu a construção de casas de veraneio, sítios, xácaras
etc. em APPs, desde que fossem menores que 190m2.
A Procuradoria Geral da República ingressou com uma ADI contra este dispositivo afirmando que ele
“confere proteção deficitária” às áreas de preservação permanente do Estado.
A PGR argumentou que esse trecho foi incluído na lei “com o objetivo específico de beneficiar
proprietários de chácaras às margens do Lago da Usina Hidroelétrica Lajeado” e, ao fazê-lo, o estado
extrapolou sua competência legislativa.

O STF acolheu o argumento da PGR? Essa previsão viola a CF/88?


SIM. O STF reconheceu a existência de inconstitucionalidades formal e material.

Inconstitucionalidade formal
A CF/88 previu, como uma das matérias de competência concorrente, a gestão do meio ambiente,
especialmente no que se refere a “florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo
e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição” (art. 24, VI).
A União, no exercício dessa competência legislativa concorrente em matéria ambiental, editou o Código
Florestal (Lei nº 12.651/2012).
Este ato normativo “estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, Áreas de Preservação
Permanente e as Áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal,
o controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais, e prevê
instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos” (art. 1º-A).
O Código Florestal define, em seu art. 3º, III, o que vem a ser uma Área de Preservação Permanente:
Art. 3º (...)
II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa,
com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e
a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar
das populações humanas;

Ao se ler os dispositivos do Código Florestal que tratam sobre áreas de preservação permanente, constata-
se que não se permite a instalação em APP de qualquer tipo de edificação com finalidade meramente
recreativa, tal como fez a lei de Tocantins.
Percebe-se, portanto, que o legislador estadual previu uma regra que vai de encontro (afronta) à proteção
fixada pelo legislador federal.
Em outras palavras, a disciplina protetiva determinada pelo Código Florestal em relação às APPs acaba
sendo essencialmente escamoteada pela norma estadual, editada com o suposto intento de suplementar
a legislação federal.
Paulo Affonso Leme Machado alerta que “não se pode suplementar um texto legal para descumpri-lo ou
para deturpar sua intenção, isto é, para desviar da mens legis ambiental federal” (Direito Ambiental
Brasileiro. 24ª ed., p. 146).
Assim, a lei estadual afronta o art. 24, § 2º, da CF/88.

Inconstitucionalidade material
Esta previsão da lei estadual possui também uma inconstitucionalidade material porque viola o art. 225,
caput e § 1º, III, da CF/88:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
(...)

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§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:


(...)
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei,
vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção;

Neste caso concreto, é necessário fazer uma ponderação de valores entre o direito à propriedade e a
proteção ao meio ambiente.
A Lei Estadual 1.939/2008, ao permitir a proprietários de imóveis às margens de cursos d’água a
construção de casas de veraneio, pretendeu melhorar-lhes a qualidade de vida, proporcionando-lhes o
aumento do espaço útil destinado à fruição do lazer, algo relevante para a saúde física e mental da
população em geral, e, em última análise, parte integrante da construção da cidadania.
Descrito no rol dos direitos fundamentais, o lazer está presente em vários dispositivos da CF/88 (art. 7º,
IV, art. 217, § 3º, e art. 227, caput), sendo relevante para a construção da cidadania e um dos fundamentos
da República Federativa do Brasil.
A despeito, entretanto, da salutar preocupação com o lazer, a previsão da lei tocantinense, ao permitir a
supressão de vegetação nativa em APPs, vulnerou o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
(art. 225, CF), tendo em vista que não passa por um teste mínimo de proporcionalidade.
O lazer estimulado pelo dispositivo privilegia um restrito grupo de beneficiários — os proprietários de
imóveis localizados às margens de cursos d’água — e, por outro lado, prejudica a coletividade, que arcará
com as consequências negativas provenientes da intervenção humana no meio ambiente.
Vale ressaltar que os proprietários dispõem de todo o restante do imóvel para promover atividades
relacionadas ao bem-estar, fazendo-se dispensável, portanto, que as construções sejam erigidas nas APPs.
Nada impede, por exemplo, que essas casas sejam construídas fora das áreas especialmente protegidas,
que constituem tão somente uma fração da propriedade.

Em suma:
É inconstitucional lei estadual prevendo que é possível a supressão de vegetal em Área de Preservação
Permanente (APP) para a realização de “pequenas construções com área máxima de 190 metros
quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer”.
Essa lei possui vícios de inconstitucionalidade formal e material.
Há inconstitucionalidade formal porque o Código Florestal (lei federal que prevê as normas gerais sobre
o tema, nos termos do art. 24, § 1º, da CF/88) não permite a instalação em APP de qualquer tipo de
edificação com finalidade meramente recreativa.
Existe também inconstitucionalidade material porque houve um excesso e abuso da lei estadual ao
relativizar a proteção constitucional ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, cujo titular é a
coletividade, em face do direito de lazer individual.
STF. Plenário. ADI 4988, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/09/2018 (Info 916).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

AÇÃO ANULATÓRIA
A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes
é impugnável por meio de ação anulatória

A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes é impugnável por meio de ação
anulatória (art. 966, § 4º, do CPC/2015; art. 486 do CPC/1973).
Não cabe ação rescisória neste caso.
Se a parte propôs ação rescisória, não é possível que o Tribunal receba esta demanda como
ação anulatória aplicando o princípio da fungibilidade. Isso porque só se aplica o princípio da
fungibilidade para recursos (e ação anulatória e a ação rescisória não são recursos).
STF. Plenário. AR 2440 AgR/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 19/9/2018 (Info 916).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João propôs ação contra Pedro.
No curso do processo, eles decidem firmar um acordo, ou seja, celebram uma transação.
O juiz homologa a transação e extingue o processo, nos termos do art. 269, III, do CPC/1973 (art. 487, III,
“b”, do CPC/2015):
Art. 269. Haverá resolução de mérito:
(...)
III - quando as partes transigirem;

Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:


(...)
III - homologar:
(...)
b) a transação;

Posteriormente, o autor entende que foi enganado pelo réu e deseja “desfazer” a transação pactuada.
Qual o instrumento jurídico deverá ser manejado pelo autor?
Ação anulatória, conforme prevê o art. 486 do CPC/1973 (art. 966, § 4º, do CPC/2015):
Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for meramente
homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei civil.

Art. 966 (...)


§ 4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do
processo e homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da
execução, estão sujeitos à anulação, nos termos da lei.

Não cabe ação rescisória com base no art. 485, VIII, do CPC/1973?
NÃO. Veja o que dizia o art. 485, VIII, do CPC/1973:
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
(...)
VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se baseou a
sentença;

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A sentença meramente homologatória de transação não está incluída na hipótese do art. 485, VIII, do
CPC/1973, o qual se endereça à desconstituição de decisão de mérito cujas conclusões se baseiam em
transação. Ou seja, a rescisória prevista no aludido inciso VIII é aplicável apenas ao caso em que a
transação tenha servido de fundamento para a sentença de mérito, a influir no conteúdo do comando
judicial. Se o juiz não resolveu o mérito da causa, mas foram as próprias partes que o fizeram mediante
autocomposição do litígio, como no caso, a ação anulatória, prevista no art. 486 do CPC/1973, é a sede
própria para a discussão a respeito dos vícios na transação homologada judicialmente.
Nesse mesmo sentido é a posição do STJ:
Se a transação celebrada entre as partes foi objeto de homologação judicial por sentença, os efeitos deste
negócio jurídico podem ser afastados mediante a propositura de ação anulatória, nos termos do art. 486
do CPC 1973.
Se a sentença limita-se a homologar a transação efetuada, não tratando sobre o conteúdo da pactuação,
a forma de desconstituí-la é por meio da ação anulatória.
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1314900-CE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012 (Info 513).

Se a parte propôs ação rescisória, é possível que o Tribunal receba esta demanda como ação anulatória,
aplicando aí o princípio da fungibilidade?
NÃO. O princípio da fungibilidade é inaplicável ao presente caso. Isso porque a sua aplicação se restringe
aos recursos em sentido estrito, não abrangendo as ações judiciais, ressalvadas apenas as hipóteses dos
interditos possessórios.

O que fez o CPC/2015?


O CPC/2015 pôs fim de vez a essa dúvida. Isso porque o novo CPC não trouxe uma hipótese de rescisória
semelhante à que havia no art. 485, VIII, do CPC/1973. Em outras palavras, não existe, no novo CPC, um
dispositivo parecido com o art. 485, VIII, do CPC/1973.
Logo, na égide do CPC/2015, não há mais qualquer discussão: a decisão judicial que homologar acordo
entre as partes, sem qualquer dúvida, somente pode ser impugnada mediante ação anulatória.

Em suma:
A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes é impugnável por meio de ação anulatória
(art. 966, § 4º, do CPC/2015; art. 486 do CPC/1973).
Não cabe ação rescisória neste caso.
Se a parte propôs ação rescisória, não é possível que o Tribunal receba esta demanda como ação
anulatória aplicando o princípio da fungibilidade. Isso porque só se aplica o princípio da fungibilidade
para recursos (e ação anulatória e a ação rescisória não são recursos).
STF. Plenário. AR 2440 AgR/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 19/9/2018 (Info 916).

Informativo 916-STF (25/09/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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EXECUÇÃO
Constitucionalidade do art. 741 do CPC/1973
(art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14; e art. 535, § 5º do CPC/2015)

São constitucionais o parágrafo único do art. 741 e o § 1º do art. 475-L do CPC/1973, bem como
os correspondentes dispositivos do CPC/2015 (art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14; e art. 535, § 5º).
São dispositivos que, buscando harmonizar a garantia da coisa julgada com o primado da
Constituição, vieram agregar ao sistema processual brasileiro um mecanismo com eficácia
rescisória de sentenças revestidas de vício de inconstitucionalidade qualificado, assim
caracterizado nas hipóteses em que:
a) a sentença exequenda (“sentença que está sendo executada”) esteja fundada em uma norma
reconhecidamente inconstitucional, seja por aplicar norma inconstitucional, seja por aplicar
norma em situação ou com um sentido inconstitucionais; ou
b) a sentença exequenda tenha deixado de aplicar norma reconhecidamente constitucional; e
c) desde que, em qualquer dos casos, o reconhecimento dessa constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF)
realizado em data anterior ao trânsito em julgado da sentença exequenda.
STF. Plenário. RE 611503/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado
em 20/9/2018 (repercussão geral) (Info 916).

MP 2.102-27/2001 e o parágrafo único do art. 741 do CPC 1973


O art. 10 da Medida Provisória nº 2.102-27/2001 acrescentou um parágrafo único ao art. 741 do CPC 1973
com a seguinte redação:
Art. 741 (...)
Parágrafo único. Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também
inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo
Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas
pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal.

O CPC 2015 trouxe regra semelhante?


SIM. Veja:
Art. 525. (...)
§ 1º Na impugnação, o executado poderá alegar:
(...)
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
(...)
§ 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste artigo, considera-se também inexigível a
obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei
ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição
Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
(...)
§ 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior ao trânsito em
julgado da decisão exequenda.

Informativo 916-STF (25/09/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


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Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga,
remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos,
impugnar a execução, podendo arguir:
(...)
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
(...)
§ 5º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se também inexigível a
obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei
ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição
Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.

Foi proposta ADI contra o parágrafo único do art. 741 do CPC 1973 sob o argumento de que ele violaria
o instituto da coisa julgada, protegido pelo art. 5º, XXXVI, da CF/88. Essa tese foi aceita pelo STF? Esse
dispositivo é inconstitucional?
NÃO.
São constitucionais o parágrafo único do art. 741 do CPC 1973, bem como os correspondentes dispositivos
do CPC 2015 (art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14; e art. 535, § 5º).
Tais dispositivos buscam harmonizar a garantia da coisa julgada com o primado da Constituição e agregam
ao sistema processual brasileiro um mecanismo com eficácia rescisória de certas sentenças
inconstitucionais, com hipóteses semelhantes às da ação rescisória (art. 485, V, do CPC 1973; art. 966, V,
do CPC 2015).
STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 4/5/2016 (Info 824).

Coisa julgada tem limites impostos pelo legislador


O instituto da coisa julgada, embora tenha proteção constitucional, deve ser conformado (regulamentado)
pelo legislador ordinário, a quem é dada a faculdade de estabelecer limites objetivos e subjetivos. Em
outras palavras, a coisa julgada não é um instituto absoluto. Assim, a lei pode indicar situações em que o
instituto deve ceder lugar a postulados, princípios ou bens de mesma hierarquia e que também são
protegidos pela Constituição.

Vícios da sentença que autorizam a inexigibilidade/inexequibilidade


Segundo o STF, para que se possa reconhecer a inexigibilidade/inexequibilidade do título executivo, é
necessário que a sentença tenha incorrido em algum dos seguintes vícios:
a) sentença que aplicou uma lei que havia sido declarada inconstitucional pelo STF;
b) sentença que aplicou a lei para uma situação considerada inconstitucional (STF afirmou que a lei é
constitucional, mas que não poderia ser aplicada para determinada situação, sob pena de, aí sim, ser
inconstitucional);
c) sentença que aplicou a lei com um sentido (uma interpretação) inconstitucional (STF conferiu
interpretação conforme para determinada lei e a sentença contrariou esta interpretação dada);
d) sentença que decidiu que determinada lei é inconstitucional, mas o STF já a havia declarado constitucional.

Para que se possa reconhecer a inexigibilidade/inexequibilidade do título executivo, é necessário que o


pronunciamento do STF sobre a questão seja anterior ao título executivo?
SIM. Para a aplicação do art. 741, parágrafo único, do CPC/1973 (ou dos correspondentes dispositivos do
novo CPC), é indispensável que a sentença exequenda (título executivo) tenha a questão constitucional
em sentido contrário ao pronunciamento do STF. Em outras palavras, a decisão do STF precisa ter sido
proferida antes do título executivo.

Informativo 916-STF (25/09/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12


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Tais dispositivos somente podem ser aplicados quando o órgão julgador, mesmo já havendo decisão do
STF sobre o tema, decide em sentido contrário ao que o Supremo tinha decidido.
A sentença já deve ter nascido contrária ao entendimento do STF. O vício na sentença deve ser um "defeito
genético", ou seja, já nasceu com ela (nesse sentido: Fredie Didier, Leonardo Cunha, Luiz Guilherme
Marinoni).
Ex: em 2012, o STF decidiu que a lei X é inconstitucional; em 2013, o juiz julga a causa aplicando a lei X;
mesmo se esta decisão transitar em julgado, o título executivo será inexigível porque aplicou lei já
considerada inconstitucional pelo STF.
Essa exigência passou a ser prevista de forma expressa no art. 525, § 14 do CPC 2015:
§ 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior ao trânsito em
julgado da decisão exequenda.

E se a sentença transitou em julgado aplicando a lei X e somente depois de algum tempo o STF declarou
que essa lei é inconstitucional? O que acontece neste caso?
O CPC/2015 inovou e previu, expressamente, que, se a decisão do STF declarando inconstitucional a norma
foi superveniente (posterior) ao trânsito em julgado da sentença exequenda, caberá ação rescisória, com
prazo contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo STF. Veja:
Art. 525 (...)
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda,
caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo
Supremo Tribunal Federal.

Reafirmação da jurisprudência
O STF, agora em recurso extraordinário submetido à sistemática da repercussão geral, reafirmou o
entendimento acima exposto. Veja a tese que foi definida:
São constitucionais o parágrafo único do art. 741 e o § 1º do art. 475-L do CPC/1973, bem como os
correspondentes dispositivos do CPC/2015 (art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14; e art. 535, § 5º).
São dispositivos que, buscando harmonizar a garantia da coisa julgada com o primado da Constituição,
vieram agregar ao sistema processual brasileiro um mecanismo com eficácia rescisória de sentenças
revestidas de vício de inconstitucionalidade qualificado, assim caracterizado nas hipóteses em que:
a) a sentença exequenda (“sentença que está sendo executada”) esteja fundada em uma norma
reconhecidamente inconstitucional, seja por aplicar norma inconstitucional, seja por aplicar norma em
situação ou com um sentido inconstitucionais; ou
b) a sentença exequenda tenha deixado de aplicar norma reconhecidamente constitucional; e
c) desde que, em qualquer dos casos, o reconhecimento dessa constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) realizado em
data anterior ao trânsito em julgado da sentença exequenda.
STF. Plenário. RE 611503/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
20/9/2018 (repercussão geral) (Info 916).

Informativo 916-STF (25/09/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13


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DIREITO TRIBUTÁRIO
CSLL
A CSLL é constitucional

Apenas alguns concursos federais!


É constitucional a Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL), instituída pela Lei nº
7.689/88, sendo também constitucionais as majorações de alíquotas efetivadas pela Lei nº
7.856/89, por obedecerem à anterioridade nonagesimal.
Por sua vez, a ampliação da base de cálculo, conforme o art. 1º, II, da Lei nº 7.988/89, a fim de
se compatibilizar com a anterioridade nonagesimal, só pode ser efetivada a partir do ano base
de 1990.
STF. Plenário. RE 211446 ED-ED/GO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/9/2018 (Info 916).

CSLL
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) é um tributo federal instituído pela Lei nº 7.689/88.
A Lei nº 7.689/88 foi fruto da MP 22/88.
Veja o que diz o art. 1º da Lei:
Art. 1º Fica instituída contribuição social sobre o lucro das pessoas jurídicas, destinada ao
financiamento da seguridade social.

Fundamento constitucional
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:
(...)
c) o lucro;

Características principais
• Tributo de competência da União;
• É tributo pessoal, direto, proporcional, complexivo e com finalidade fiscal;
• Fato gerador: é o lucro das pessoas jurídicas (por isso, é assemelhado ao imposto de renda);
• Base de cálculo: é o valor do resultado do exercício (“lucro líquido”), antes da provisão para o imposto
de renda;
• Contribuintes: pessoas jurídicas domiciliadas no País e as que lhes são equiparadas pela legislação
tributária.
• Lançamento: lançamento por homologação;
• Destinação: a arrecadação da CSLL é destinada ao financiamento da seguridade social;
• Aplicam-se à CSLL, no que couber, as disposições da legislação do imposto de renda referentes à
administração, ao lançamento, à consulta, à cobrança, às penalidades, às garantias e ao processo
administrativo.

Tão logo foi instituída a CSLL, iniciou-se uma discussão a respeito de sua constitucionalidade. Vários
argumentos eram invocados, dentre eles, o de que tal contribuição somente poderia ter sido instituída
por meio de lei complementar. Pergunta: o que decidiu o STF? A CSLL é constitucional?
SIM. O STF, ainda em 1992, decidiu que a CSLL é constitucional.

Informativo 916-STF (25/09/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14


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O Tribunal, contudo, fez uma ressalva e afirmou que o art. 8º da Lei nº 7.689/88 era inconstitucional. Isso
porque a Lei nº 7.689/88 entrou em vigor em 16/12/1988 e o art. 8º dizia que seria possível cobrar o CSLL
já no ano de 1989 com base no que a pessoa jurídica lucrou em 1988:
Art. 8º A contribuição social será devida a partir do resultado apurado no período-base a ser
encerrado em 31 de dezembro de 1988.

Assim, esse art. 8º violou o princípio da irretroatividade, contido no art. 150, III, “a”, da CF/88, “que proíbe
que a lei que institui tributo tenha, como fato gerador deste, fato ocorrido antes do início da vigência dela”
(STF. Plenário. RE 146733, Rel. Min. Moreira Alves, julgado em 29/06/1992).
Em 2007, o STF, em sede de ADI, confirmou a constitucionalidade da CSLL: STF. Plenário. ADI 15, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, julgado em 14/06/2007.

Lei nº 7.856/89
Em 25/09/1989, o Presidente da República publicou a MP 86/1989 (posteriormente convertida na Lei nº
7.856/89) prevendo que a partir do exercício financeiro de 1990, correspondente ao período-base de
1989, a alíquota da CSLL deveria passar para 10%.
O STF afirmou que essa alteração foi constitucional porque respeitou os 90 dias exigidos pelo art. 195, §
6º, da CF/88 (princípio da anterioridade nonagesimal ou anterioridade mitigada):
Art. 195 (...)
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos
noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes
aplicando o disposto no art. 150, III, "b".

Isso porque entre 22/09/1989 até 01/01/1990 passaram-se mais que 90 dias. Veja:
Tratando-se de lei de conversão da Medida Provisória nº 86, de 25 de setembro de 1989, da data da edição
desta é que flui o prazo de noventa dias previsto no art. 195, § 6º, da CF, o qual, no caso, teve por termo
final o dia 24 de dezembro do mesmo ano, possibilitando o cálculo do tributo, pela nova alíquota, sobre o
lucro da recorrente, apurado no balanço do próprio exercício de 1989.
STF. Plenário. RE 197790, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgado em 19/02/1997.

Lei nº 7.988/89
Outra discussão envolvendo a CSLL foi decorrente da Lei nº 7.988/89.
O art. 1º, II, da Lei nº 7.988/89 ampliou a base de cálculo da CSLL.
O problema foi que a Lei nº 7.988/89 entrou em vigor em 29/12/1989 e disse que esse aumento já levaria
em consideração o período-base de 1989.
O STF, então, decidiu que isso era inconstitucional porque violava a anterioridade nonagesimal
anterioridade mitigada) consagrada no art. 195, § 6º, da CF/88.
Nesse sentido: STF. Plenário. RE 183119, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgado em 20/11/1996.

Reafirmação desses entendimentos


Em 2018, o STF reafirmou os entendimentos acima explicados:
É constitucional a Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL), instituída pela Lei nº 7.689/88, sendo
também constitucionais as majorações de alíquotas efetivadas pela Lei nº 7.856/89, por obedecerem à
anterioridade nonagesimal.
Por sua vez, a ampliação da base de cálculo, conforme o art. 1º, II, da Lei nº 7.988/89, a fim de se
compatibilizar com a anterioridade nonagesimal, só pode ser efetivada a partir do ano base de 1990.
STF. Plenário. RE 211446 ED-ED/GO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/9/2018 (Info 916).

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EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir:


1) É constitucional a previsão legal que assegure, na hipótese de transferência ex officio de servidor, a
matrícula em instituição pública, se inexistir instituição congênere à de origem. ( )
2) É constitucional lei estadual prevendo que é possível a supressão de vegetal em Área de Preservação
Permanente (APP) para a realização de “pequenas construções com área máxima de 190 metros
quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer”. ( )
3) (PGE/MA 2016 FCC) A ação rescisória se presta a rescindir os atos homologatórios praticados no curso
de execução, mas não os atos de disposição de direitos praticados pelas partes, ainda que homologados
pelo juiz antes da prolação de sentença. ( )
4) A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes proferida é impugnável por meio de ação
anulatória. ( )

Gabarito
1. C 2. E 3. E 4. C

JULGADO NÃO COMENTADO


DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO – JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

CNJ: controle de ato de delegação e provimento jurisdicional provisório – 2


A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, negou provimento a agravo regimental em mandado
de segurança impetrado contra decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que, ao analisar procedimentos de controle
administrativo (PCA), desconstituiu, em desfavor da impetrante, ato de outorga de serventia extrajudicial não incluída na
lista original de concurso público (Informativo 914).
No certame, foi estipulado que, para concorrer a vagas com provimento por remoção, podiam se inscrever os
titulares de serventias que detivessem a delegação por mais de dois anos, contados da data do efetivo exercício na atividade
até a da primeira publicação do edital no Diário da Justiça.
Inicialmente, a candidata ajuizou ação ordinária em que sustentou que a contagem deveria se estender até a data
do término do concurso, com base no Enunciado 266 (1) da Súmula do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Tutela
antecipatória e sentença de procedência permitiram sua participação em todas as etapas do certame. Na apelação, o mérito
foi revertido, razão pela qual ela interpôs recursos especial e extraordinário, além de cautelares, na origem.
A candidata não esteve presente na audiência de escolha das serventias, porque, na ocasião, nenhuma tutela a
amparava. Depois disso, o presidente do tribunal restabeleceu o efeito suspensivo dos recursos de índole extraordinária
e, posteriormente, outorgou-lhe cartório vago após à publicação do edital, para evitar que fossem desfeitas todas as
titulações anteriores, em “efeito cascata”.
Em mandado de segurança, argumentou que o CNJ teria invadido matéria jurisdicional ao desconstituir a
delegação.
Reportando-se aos fundamentos da denegação da ordem, o colegiado ressaltou a diferença entre assegurar-se a
permanência nas fases de um concurso, até que se julgue o mérito, e atribuir-se serventia específica a determinado
concorrente. A segunda medida não é execução puramente consequencial da primeira.
Nos autos, não há comprovação da existência de provimento jurisdicional provisório que impute à candidata sub
judice aquela outorga em particular.
O ato de atribuir-lhe a serventia — sob o pálio de cumprir tutela que autoriza, tão somente, participação em
concurso — extrapola, de forma inegável, o objeto do pronunciamento que pretendeu efetivar. A decisão, em seu alcance,
é independente da prévia discussão judicial. Por ser autônoma, sua natureza é administrativa e se encontra dentro do
âmbito revisional do CNJ.

Informativo 916-STF (25/09/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16


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Por fim, o cartório outorgado à impetrante, um dos mais rentáveis, não estava submetido ao certame e sua
disponibilização afronta diretamente as normas do próprio edital.
Vencido, parcialmente, o ministro Marco Aurélio, que concedia a ordem para afastar o ato do CNJ apenas no que
determinada a observância das Resolução 80 e 81, ambas de 2009, relativamente ao marco temporal a ser considerado a
fim de se aferir o biênio do exercício da atividade como requisito do concurso de remoção.
A seu ver, a redação do pronunciamento do CNJ mostra-se demasiado ampla, podendo ser interpretada como a
vedar o cumprimento de possível ordem judicial favorável à candidata quanto ao cômputo do biênio exigido.

(1) Enunciado 266/STJ: “O diploma ou habilitação legal para o exercício do cargo deve ser exigido na posse e não na inscrição para o concurso
público”

MS 33202 AgR/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 18.9.2018. (MS-33202)

OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio


eletrônico*
Em curso Finalizados
Pleno 19.9.2018 20.9.2018 4 44 9
1ª Turma 18.9.2018 — 1 25 101
2ª Turma 18.9.2018 — 1 3 44
* Emenda Regimental 51/2016-STF. Sessão virtual de 14 a 20 de setembro de 2018.

CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L
DJe de 17 a 21 de setembro de 2018

REPERCUSSÃO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.070.334 – PE


RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI
Ementa: Recurso extraordinário com agravo. Tributário. Contribuição previdenciária. Créditos tributários atrelados a sentença
trabalhista ou a acordo homologado judicialmente. Artigo 43 da Lei nº 8.212/1991 (MP nº 449/2009). Artigo 276, Decreto nº 3.048/1999.
Encargos da mora. Regime de apuração. Retroação à data da prestação do serviço. Momento da ocorrência do fato gerador. Natureza
infraconstitucional da controvérsia. Afronta reflexa ou indireta. Ausência de repercussão geral.
Decisão Publicada: 1

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 916-STF (25/09/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17

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