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Biologia

Metabolismo da Vida Microscópica

Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo


Maria Celeste Melo Nunes
Renata de Fátima Panosso
Metabolismo da Vida Microscópica
Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo
Maria Celeste Melo Nunes
Renata de Fátima Panosso

Biologia

Metabolismo da Vida Microscópica


2ª Edição

Natal – RN, 2012


Governo Federal
Presidenta da República
Dilma Vana Rousseff

Vice-Presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia

Ministro da Educação
Aloizio Mercadante Oliva

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN


Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz

Vice-Reitora
Maria de Fátima Freire Melo Ximenes

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS)


Secretária de Educação a Distância Secretária Adjunta de Educação a Distância
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Eugênia Maria Dantas

FICHA TÉCNICA

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS EDITORAÇÃO DE MATERIAIS


Marcos Aurélio Felipe Criação e edição de imagens
Adauto Harley
Anderson Gomes do Nascimento
GESTÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Carolina Costa de Oliveira
Luciana Melo de Lacerda Dickson de Oliveira Tavares
Rosilene Alves de Paiva Heinkel Hugenin
Leonardo dos Santos Feitoza
Roberto Luiz Batista de Lima
PROJETO GRÁFICO
Rommel Figueiredo
Ivana Lima

Diagramação
REVISÃO DE MATERIAIS Ana Paula Resende
Revisão de Estrutura e Linguagem Carolina Aires Mayer
Eugenio Tavares Borges Davi Jose di Giacomo Koshiyama
Janio Gustavo Barbosa Elizabeth da Silva Ferreira
Jeremias Alves de Araújo Ivana Lima
José Correia Torres Neto José Antonio Bezerra Junior
Kaline Sampaio de Araújo Rafael Marques Garcia
Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade
Thalyta Mabel Nobre Barbosa Módulo matemático
Joacy Guilherme de A. F. Filho
Revisão de Língua Portuguesa
Camila Maria Gomes
IMAGENS UTILIZADAS
Cristinara Ferreira dos Santos
Acervo da UFRN
Emanuelle Pereira de Lima Diniz
www.depositphotos.com
Janaina Tomaz Capistrano
www.morguefile.com
Priscila Xavier de Macedo
www.sxc.hu
Rhena Raize Peixoto de Lima
Encyclopædia Britannica, Inc.

Revisão das Normas da ABNT


Verônica Pinheiro da Silva

Catalogação da publicação na fonte. Bibliotecária Verônica Pinheiro da Silva.

© Copyright 2005. Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EDUFRN.
Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa do Ministério da Educacão – MEC
Sumário

Apresentação Institucional 5

Aula 1 Comparando células procarióticas e células eucarióticas 7

Aula 2 Trabalhando no laboratório de Microbiologia 27

Aula 3 “Vendo” o invisível 49

Aula 4 Nutrição e crescimento microbiano 73

Aula 5 Obtenção de energia para a vida microbiana 91

Aula 6 Controlando os microrganismos 119

Aula 7 A genética dos microrganismos 141

Aula 8 As bactérias se modificam 159

Aula 9 A diversidade dos microrganismos 181

Aula 10 Os microrganismos auxiliam a (re)circulação da matéria no planeta 199

Aula 11 Como os microrganismos se relacionam 229

Aula 12 Os microrganismos podem ser nossos aliados! 253


Apresentação Institucional

A
Secretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no âmbito local, das
Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação
a Distância – SEED, o Ministério da Educação – MEC e a Universidade Aberta do Brasil –
UAB/CAPES. Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: a
primeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendo
implementados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; a segunda volta-se
para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados e especializações
em Administração Pública e Administração Pública Municipal.
Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a Sedis tem disponibilizado um conjunto de
meios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os materiais impressos que são
elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e projeto gráfico para atender às necessidades
de um aluno que aprende a distância. O conteúdo é elaborado por profissionais qualificados e
que têm experiência relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material
impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias, como videoaulas,
livros, textos, filmes, videoconferências, materiais digitais e interativos e webconferências, que
possibilitam ampliar os conteúdos e a interação entre os sujeitos do processo de aprendizagem.
Assim, a UFRN através da SEDIS se integra o grupo de instituições que assumiram
o desafio de contribuir com a formação desse “capital” humano e incorporou a EaD como
modalidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais
seleto o acesso à graduação e à pós-graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN
está presente em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando
cursos de graduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando e tornando
o Ensino Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e o
conhecimento uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local.
Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento intelectual
e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação e
com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLETE
O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade
estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


SEDIS/UFRN

5
Comparando células
procarióticas e células eucarióticas

Aula

1
Apresentação

U
ma vez que você já aprendeu sobre a diversidade dos organismos vivos que habitam
a terra na disciplina de Biodiversidade (vegetais, animais, protozoários, algas, fungos
e bactérias), vamos então aprofundar nosso conhecimento a respeito de um desses
organismos, ou melhor, microrganismos que são as bactérias. O mundo microbiano é constituído
de bactérias, fungos, protozoários e algumas algas, mas as bactérias especificamente possuem
uma relação muito íntima conosco, pois elas estão dentro de nós, sobre nós e em toda parte
ao nosso redor. Você sabia que nosso corpo possui mais células bacterianas que as nossas
próprias células?

Objetivos
Identificar e comparar as células procarióticas e
1 eucarióticas.

2 Reconhecer a estrutura de uma célula procariótica.

Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica 9


A vida pode ser dividida
em dois grandes grupos

G
raças ao microscópio eletrônico, foi possível classificar todas as células vivas em
dois grupos: procarioto e eucarioto. Essa ferramenta de estudo permitiu a observação
de diferenças marcantes nas estruturas internas das células. O termo procarioto é
proveniente das palavras gregas pro (antes) e karyon (núcleo), e o termo eucarioto das palavras
eu (verdadeiro) e karyon (núcleo), ou seja, as células eucarióticas possuem uma região interna
chamada de núcleo e as procarióticas não possuem esta estrutura. Assim, as bactérias e
as arquibactérias (bactérias primitivas) são seres unicelulares e procarióticos, e todos os
outros organismos vivos como vegetais, animais e ainda os protozoários, fungos e algas são
eucarióticos – revise as Aulas 7 (Protistas I: Microrganismos produtores), 9 (Fungos: seres
especiais), 10 (Biologia das plantas) e 13 (Diversidade animal I) da disciplina Biodiversidade.

O microscópio eletrônico foi desenvolvido em 1932 e permitiu visualizar detalhes


internos das células.

10 Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 1
Observe as figuras abaixo representativas de duas células.

Você percebe diferença entre as duas? Indique que tipo de diferenças você pode observar.

Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica 11


Como você deve ter observado, o interior de uma das células é diferente da outra. A célula
eucariótica possui muitas estruturas no seu interior, enquanto a outra (procariótica) não. Pois
é, as células procarióticas e eucarióticas são similares na sua constituição química, pois ambas
são constituídas por carboidratos, lipídios, proteínas e ácidos nucleicos; porém, são diferentes
em algumas estruturas. Veja um resumo dessas diferenças na tabela abaixo.

Tabela 1 – Principais características que diferenciam as células procarióticas e eucarióticas

Características Células procarióticas Células eucarióticas

Membrana plasmática Lipídios e proteínas sem esteróis Lipídios e proteínas com esteróis
Esterol

um tipo de lipídio. Vários cromossomas lineares (o


Um único cromossoma número depende da espécie). Por
Material genético (DNA)
circular dentro do citoplasma exemplo, a espécie humana tem
S 46 cromossomos.

é uma unidade usada


para medir a velocidade Núcleo Ausente Presente
de sedimentação dos
ribossomos durante a Organelas (ex.: retículo
centrifugação (a letra endoplasmático, aparelho de Ausente Presente
S é em homenagem Golgi, mitocôndria etc.)
ao pesquisador
Theodor Svedberg,
Ribossomos Presente (70S) Presente (80S)
que inventou um
equipamento denominado
ultracentrífuga, utilizada Presente (exceto as bactérias
para estudar os
Parede celular Presente em vegetais e fúngicas
chamadas Mycoplasmas)
ribossomos)

Reprodução Assexuada por divisão binária Sexuada e assexuada

A espécie humana possui 46 cromossomos.

12 Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica


Conhecendo uma
bactéria por dentro e por fora
Agora que você consegue distinguir uma célula procariótica de uma eucariótica, vamos
conhecer melhor a estrutura de uma célula procariótica através das bactérias, as quais
representam uma célula procariótica típica. As bactérias são delimitadas pela membrana
celular ou citoplasmática. Internamente e externamente a essa membrana, existem estruturas
importantes para a sua sobrevivência, as quais estão detalhadas logo abaixo.

...Por dentro
Membrana Celular: a membrana celular ou membrana plasmática das bactérias possui a
mesma estrutura geral da membrana das células eucarióticas. Essa estrutura separa o meio
interno (citoplasma) do meio externo. É constituída principalmente por fosfolipídios e proteínas
na seguinte proporção: duas camadas de fosfolipídios com as proteínas inseridas no centro
(proteínas transmembranas ou intrínsecas) ou mais frouxamente colocadas na superfície
interna e externa (proteínas periféricas) da camada de fosfolipídios. Como as proteínas estão
inseridas frouxamente e se movem dentro da camada de fosfolipídios, esse arranjo é chamado
de mosaico fluido. A principal função da membrana celular é selecionar o que entra e sai
da célula. Podemos dizer, então, que a membrana possui uma permeabilidade seletiva ou é
semipermeável. Também é importante na digestão de nutrientes e na produção de energia
(esse assunto será discutido na Aula 5).

Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica 13


Atividade 2
Observe a figura abaixo.
1
Glicolipídeo

Glicoproteína

Proteína
periférica

Proteína intrínseca Molécula de fosfolipídeo

Fonte: <www.netxplica.com>. Acesso em: 23 set. 2009.

Descreva a composição química da membrana plasmática.

Entre no endereço eletrônico abaixo:


2 <http://www.territorioscuola.com/youtube/index.php?key=Plasm%C3%A1tica>.
Clique sobre o vídeo Biologia: Membrana Plasmática (Prof Toid).
Descreva o que você assistiu.

14 Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica


Permeabilidade seletiva - indica que certas moléculas e íons passam através da
membrana, mas outros são impedidos de passar através dela.

Internamente à membrana celular encontra-se o citoplasma. O citoplasma é composto


principalmente de água e é a região onde se encontram as principais estruturas da bactéria,
como o material genético (DNA), ribossomos e alguns grânulos contendo nutrientes de reserva.

Material genético bacteriano: como descrito na Tabela 1, o material genético bacteriano é


constituído de uma única molécula de DNA (ácido desoxirribonucleico) de forma circular,
denominada cromossomo. Nessa molécula estão contidas todas as informações que vão
determinar como a bactéria vai obter nutrientes, produzir energia, multiplicar-se etc. Ao
contrário das células eucarióticas, o cromossoma bacteriano não está separado numa região
chamada núcleo, está disperso dentro do citoplasma juntamente com outros componentes
numa região denominada nucléolo. Além do cromossoma, algumas bactérias possuem
uma molécula extra de DNA chamada de plasmídeo, que confere à bactéria que a possui
características adicionais às que ela já possuía como, por exemplo, a capacidade de sobreviver
a determinados antibióticos.

Antibióticos – substâncias produzidas por alguns microrganismos com


capacidade de matar outros microrganismos.

Ribossomo bacteriano: são constituídos de ácido ribonucleico (RNA) e proteína. É nessas


estruturas que a bactéria sintetiza suas proteínas. As células eucarióticas também possuem
ribossomas, porém, são maiores que os das bactérias. Por isso, os ribossomas procarióticos
são denominados 70S e os eucarióticos 80S.

Grânulos de reserva: são locais onde as bactérias armazenam alguns nutrientes para serem
usados quando estiverem escassos no ambiente. Exemplos de nutrientes armazenados:
glicogênio, amido, lipídios, enxofre.

Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica 15


Atividade 3
Agora que você já reconhece uma célula procariótica e uma eucariótica, observe as
Figuras (a) e (b).

a b
Citoplasma Membrana
plasmática 1 3
Complexo 2
de Golgi Mitocôndria

Núcleo
Retículo
endoplasmático
rugoso

Nucléolo Retículo 4
endoplasmático
liso 5
Lisossomos

Figura a – céula animal Figura b – célula bacteriana

Baseado na leitura acima, indique o tipo de célula nas Figuras (a) e (b) e denomine as
estruturas numeradas na Figura (b).

Figura (a): _______________________________

Figura (b): _______________________________

Estrutura 1 ______________________________

Estrutura 2 ______________________________

Estrutura 3 ______________________________

Estrutura 4 ______________________________

Estrutura 5 ______________________________

16 Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica


... E por fora
Externamente à membrana celular, as bactérias possuem um envoltório chamado de
parede celular. A principal função da parede é prevenir a ruptura das bactérias quando a
pressão da água dentro da célula é maior que fora dela. Por isso, essa estrutura é uma das
mais importantes para a bactéria. Ela também serve para manter a forma da bactéria.

A parede é constituída por um composto químico chamado de peptidoglicano, também


conhecido como mureína. O peptidoglicano é formado por dois monossacarídeos denominados
N-acetilglicosamina e ácido N-acetilmurâmico, unidos por uma ligação glicosídica de forma
alternada e ligados ao N-acetilmurâmico, uma cadeia de quatro aminoácidos. São formadas
várias camadas dessas estruturas em volta da bactéria e cada camada está ligada uma à outra
através dos aminoácidos (veja a Figura 1 a seguir).

Parede Bacteriana N-Acetilmurâmico

N-Acetilglicosamina

L-alanina
D-ácido glutâmico
L-lisina
D-Alanina

Figura 1 – Composição do peptidoglicano

Fonte: <www.educa.madrid.org>. Acesso em: 23 set. 2009.

Distinguindo as bactérias pela parede celular


De acordo com a estrutura da parede celular, as bactérias podem ser divididas em dois
grupos: bactérias Gram positivas e bactérias Gram negativas.

Bactérias Gram positivas: nas bactérias chamadas Gram positivas, a parede é constituída
por muitas camadas de peptidoglicano, formando uma estrutura espessa e rígida. Dentro
dessa parede encontram-se inseridos dois compostos chamados ácido teicoico e lipoteicoico.
Essa estrutura está relacionada com a capacidade que algumas bactérias possuem de causar
doenças (veja na Figura 2 a parede celular de uma bactéria Gram positiva).

Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica 17


A parede celular das bactérias Gram positivas pode possuir até 40 camadas de
peptidoglicano.

Figura 2 – Parede de uma bactéria Gram positiva


Fonte: <www.unb.br/.../morfologia1/morfologia1.html>.
Acesso em: 23 set. 2009.

A palavra Gram é uma homenagem ao pesquisador Christian Gram, que


desenvolveu em 1884 uma técnica de coloração para o estudo de bactérias que
é utilizada até hoje.

Bactérias Gram negativas: a parede das bactérias Gram negativas é um pouco diferente. É
constituída de poucas camadas de peptidoglicano, formando uma estrutura fina; externamente
ao peptidoglicano há uma membrana denominada como membrana externa (não confunda
essa estrutura com a membrana celular, vista anteriormente). Na membrana externa
encontram-se inseridos proteínas e um composto denominado de lipopolissacarídeo (lipídios
e polissacarídeos) ou LPS. Essa estrutura, assim como o ácido teicoico da parede das Gram
positivas, está relacionada com a capacidade de causar doença em humanos e animais. Entre
a membrana plasmática e a membrana externa existe um espaço denominado de espaço
periplasmático, local onde a bactéria armazena várias proteínas utilizadas para várias funções,
como obtenção de energia e transporte de substância para dentro da célula (veja na Figura 3
a parede celular de uma bactéria Gram negativa).

18 Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica


LPS
Porina

Lipoproteínas
Membrana externa

Peptidoglicano
Espaço periplasmático
Membrana
citoplasmática

Figura 3 – Parede de uma bactéria Gram negativa


Fonte: <www.prof2000.pt/users/biologia/tcolgram.htm>.
Acesso em: 23 set. 2009.

Atividade 4
Observe novamente as diferenças existentes entre a parede celular de uma bactéria Gram
positiva e uma Gram negativa nas Figuras 2 e 3. Enumere as diferenças que você observou
entre as duas paredes.

Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica 19


Externamente à parede, algumas bactérias podem apresentar estruturas que auxiliam sua
sobrevivência, como glicocálix, flagelos e fímbrias.

Glicocálix: é um polissacarídeo que recobre a bactéria. Essa estrutura é utilizada para a bactéria
se fixar em uma superfície. Se o glicocálix estiver firmemente aderido à parede, ele é chamado
de cápsula, e quando está fracamente aderido é chamado de camada limosa.

A bactéria Gram positiva Streptococcus mutans fixa-se na superfície dos


nossos dentes através do glicocálix. Essa bactéria é uma das responsáveis pela
cárie dentária.

Flagelo: É um filamento longo, formado de proteína, utilizado para o deslocamento da bactéria


de um ambiente para outro. As bactérias podem ter um, dois ou mais flagelos.

Pili Fímbrias ou pili: São estruturas mais curtas e mais finas que os flagelos, também de natureza
é uma palavra oriunda do
proteica, utilizadas para a fixação da bactéria nas superfícies. Essa estrutura também pode ser
latim que significa pelo. utilizada para a bactéria fazer um contato físico com outra bactéria, à medida que os pili de
Pili é o plural de pilus. uma se ligam à superfície de outra (você verá mais detalhes sobre esse assunto na Aula 8).

Figura 4 – Célula bacteriana


Fonte: <www.terrebonneonline.com/b2eukpro.htm>. Acesso em: 23 set. 2009.

20 Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 5
Observe a Figura 4. Relacione as estruturas externas à parede celular.

Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica 21


As bactérias têm uma forma
específica e formam grupos
Geralmente as bactérias possuem algumas formas básicas: esféricas, em forma de bastão
e em espiral. Uma bactéria esférica é chamada coco e em bastão é chamada de bacilo. Existem
as que possuem uma forma intermediária entre coco e bacilo, que são os cocobacilos. As que
têm forma de espiral possuem uma variedade de formas curvas. Por exemplo, a bactéria que
tem forma de vírgula é chamada de vibrião; em formato ondulado chama-se espirilo e as com
formato de espiral são espiroquetas.

Algumas bactérias não se separam depois que se dividem. As bactérias esféricas (cocos),
depois que se multiplicam, podem formar duplas (diplococos) ou cadeias (estreptococos).
Podem formar ainda tétrades (4 bactérias juntas), sarcinas (8 bactérias juntas) ou apresentam-
se em cachos, chamados estafilococos. Os bacilos também podem formar arranjos como
duplas (diplobacilos) ou cadeias (estreptobacilos), ou ainda podem ficar de forma isolada.

Coco

Cocobacilo

Vibrião

Bacilo

Espirilo

Espiroqueta

Figura 5 – As principais formas bacterianas

Fonte: Black (2002).

22 Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica


a b
Plano de
divisão

Diplococos

Bacilo único

Estreptococos

Tétrade Diplobacilos

Sarcinas

Estreptobacilos

Estafilococos

Figura 6 – (a) Os principais arranjos dos cocos; (b) os principais arranjos dos bacilos

Fonte: Tortora, Berdell e Funke (2005).

Atividade 6
Observe as principais formas e arranjos das bactérias nas Figuras 5 e 6. Tente desenhar
as principais formas e arranjos dentro dos círculos abaixo.

Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica 23


As bactérias mudam para
sobreviver em ambientes hostis
Quando os nutrientes essenciais se esgotam em um determinando ambiente, algumas
bactérias Gram positivas se transformam em células especializadas chamadas endósporos.
É uma forma de “repouso” da célula bacteriana, ou seja, na forma de endósporo ela não
metaboliza nutrientes e nem se multiplica. Estruturalmente, os endósporos são formados
por uma região central denominada de cerne e camadas mais externas chamadas de córtex e
capa. Essas estruturas são formadas dentro da célula e, quando esta se rompe, o endósporo é
liberado no meio ambiente e pode sobreviver nessa forma por milhares de anos. A capacidade
de permanecer viável por tanto tempo é porque os endósporos são resistentes ao calor, à
desidratação, à acidez, à alcalinidade, a certos desinfetantes e até mesmo à radiação. Os
endósporos podem germinar, ou seja, voltar a seu estado multiplicativo novamente. Isso é
possível quando ocorre uma lesão física ou química no revestimento do endósporo.

Atividade 7
Faça uma pesquisa na internet sobre a espécie bacteriana produtora de endósporo
chamada Clostridium tetani e responda.

a) Qual a doença que essa bactéria causa?

b) Como se adquire essa bactéria?

c) Qual a função do endósporo para a bactéria?

24 Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica


Resumo
Nesta aula, você viu que os seres vivos estão distribuídos em dois tipos de
células, procarióticas e eucarióticas, e aprendeu a diferenciá-las. Você viu,
também, que a maioria das bactérias se apresenta sob a forma esférica (cocos),
em bastão (bacilo) ou espiralada (vibriões, espirilos e espiroquetas) e que as
bactérias são classificadas em Gram positivas e Gram negativas. Entendeu que
elas podem apresentar externamente estruturas como flagelos, cápsula e fímbrias,
e, finalmente, compreendeu que algumas espécies de bactérias podem produzir
estruturas denominadas endósporos, que capacitam a bactéria a sobreviver em
ambientes desfavoráveis.

Autoavaliação
Quais são as principais diferenças entre as células procariótica e eucariótica?
1
Cite as principais diferenças na parede celular das bactérias Gram positivas e Gram
2 negativas.

Cite as estruturas externas à parede celular de uma bactéria com sua respectiva função.
3

Referências
BLACK, J. G. Microbiologia fundamentos e perspectivas. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara Koogan, 2002.

PELCZAR, M. J. et al. Microbiologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makon Books, 1996.

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. I. Microbiologia. 8. ed. Porto Alegre: Editora
Artmed, 2005.

Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica 25


Anotações

26 Aula 1 Metabolismo da Vida Microscópica


Trabalhando no laboratório
de Microbiologia

Aula

2
Apresentação

A
gora que você já tem conhecimento sobre a presença dos microrganismos em
praticamente todos os ambientes, vamos, então, aprender de que forma podemos
manipular e estudar melhor esses seres vivos. Você sabia que é possível cultivarmos
uma bactéria ou um fungo no laboratório? Sim, é possível. Porém, deve ser feito em um
ambiente adequado, com segurança e com equipamentos e técnicas específicas. Nesta aula,
você conhecerá o laboratório de Microbiologia, ou seja, o ambiente onde podemos cultivar
os microrganismos, as condutas de seguranças que devem ser tomadas para se trabalhar
em um laboratório e os materiais e equipamentos necessários para a manipulação dos
microrganismos com segurança.

Objetivos
Conhecer as normas de biossegurança para o laboratório
1 de Microbiologia.

Reconhecer os materiais e equipamentos utilizados no


2 laboratório de Microbiologia.

Executar manobras assépticas para a manipulação de


3 microrganismos no laboratório.

Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica 29


Trabalhando com segurança no
laboratório de Microbiologia
Para a manipulação de microrganismos no laboratório, é necessário seguir algumas regras
básicas para a segurança pessoal, assim como para o ambiente. Veja abaixo algumas normas que
devem ser seguidas para qualquer atividade executada dentro do laboratório de Microbiologia.

Os materiais usados para a proteção pessoal são chamados de Equipamentos


de Proteção Individual (EPI).

Normas para a segurança pessoal

 Usar luvas descartáveis. O uso de luvas protege o indivíduo de possíveis contaminações,


caso ocorra algum acidente.

 Usar jaleco (bata) abotoado de mangas compridas. Protege as roupas do indivíduo, assim
como fornece uma proteção adicional ao corpo.

 Usar sapato fechado.

 Usar óculos de proteção. Protege os olhos de vapores e espirros de produtos químicos


e biológicos.

 Usar protetor facial (máscaras). Protege a face contra o impacto de partículas sólidas,
líquidas, vapores etc.

30 Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica


Gorro
Óculos
Máscara

Bata

Luvas

Sapato

Figura 1 – Equipamentos de Proteção Individual (EPI)

Todos os EPIs devem ser descartáveis, exceto o jaleco e os óculos de proteção.

Normas gerais de segurança para o laboratório de Microbiologia

 Desinfetar a bancada de trabalho no início e no término da atividade.

 Não colocar nenhum material sobre a bancada, exceto o de trabalho.

 Prender cabelos longos e retirar todos os acessórios pessoais como brincos, anéis,
relógios etc.

 Alimentos e bebidas não devem ser ingeridos dentro do laboratório.

 Se houver acidentes, como o derramamento de microrganismos, deve ser comunicado


imediatamente ao professor. O material deve ser coberto com desinfetante durante 15
minutos, e deve-se lavar bem as mãos com água e sabão.

 Todo material contaminado deve ser colocado em recipientes adequados. Nunca deve
ser deixado sobre a bancada.

 Lavar sempre as mãos com água e sabão antes de sair do laboratório.

Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica 31


Atividade 1
Qual a importância da utilização das normas de segurança no laboratório de
Microbiologia?

32 Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica


Materiais e
equipamentos utilizados no
laboratório de Microbiologia
Uma vez que você já aprendeu as principais regras de segurança para se trabalhar em um
laboratório de Microbiologia, vamos conhecer agora os materiais e equipamentos necessários
para manipularmos os microrganismos. Como sabemos, os microrganismos estão em toda
parte: no solo, no ar, na água, nos alimentos, no corpo humano, nas plantas e nos animais. Isso
acontece porque eles encontram nesses diferentes ambientes condições físicas e nutricionais
para sobreviver e se multiplicar. Dessa forma, para podermos cultivar os microrganismos no
laboratório, precisamos fornecer a eles essas mesmas condições que são encontradas nos
seus ambientes naturais, ou seja, temperatura adequada, nutrientes, água etc. Vamos listar a
seguir os principais materiais e equipamentos que são utilizados na rotina de um laboratório
de Microbiologia.

Para o cultivo dos microrganismos


VIDRARIAS – constituem os materiais de vidro que são utilizados no laboratório de
Microbiologia para os mais diversos fins. Por exemplo: tubos de ensaio, béqueres, placas de
Petri, erlenmeyers, pipetas, provetas, balões etc. Vejas as fotos abaixo.

Figura 2 – Becker: recipiente com ou sem graduação, Figura 3 – Balão de fundo chato: frasco destinado a
utilizado para o preparo de soluções, aquecimento de armazenar líquidos
líquidos etc

Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica 33


500ml

Figura 4 – Erlenmeyer: frasco utilizado para aquecer Figura 5 – Placas de Petri: recipiente redondo com
líquidos, para preparar soluções etc tampa rasa utilizado para distribuir meios de cultura

Figura 6 – Tubos de ensaio: utilizados para distribuir Figura 7 – Proveta graduada: frasco com graduações,
meios de cultura ou para efetuar reações químicas em destinado a medidas de volumes de líquidos
pequena escala

Figura 8 – Pipeta graduada: equipamento calibrado para medida precisa de volume de líquidos
Fonte: <www.casadolaboratorio.com.br/vidrar.html>.
Acesso em: 23 out. 2009.

MEIO DE CULTURA – é o meio onde estão contidos os nutrientes básicos para os


microrganismos se multiplicarem. Podemos dizer que é o “alimento” dos microrganismos.
Os meios de cultura podem ser preparados de forma sólida, líquida e semissólida, dependendo

34 Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica


da presença ou ausência de uma substância que solidifica o meio de cultura chamada ágar
(uma espécie de gelatina), ou seja, quando o meio de cultura é sólido, ele contém cerca de
1,5 a 2% de ágar; quando é semissólido, contém em torno de 0,3 a 0,5% de ágar, e quando
líquido, não contém o ágar.

Ágar é um polissacarídeo obtido de algas marinhas que se liquefaz (se torna


líquido) a uma temperatura acima de 45 °C e fica sob a forma de gel abaixo de
45 °C . Quando o meio é sólido, geralmente ele é distribuído em placas de Petri
(Figura 9) ou em tubos de ensaio; os semissólidos e líquidos são colocados em
tubos de ensaio (Figura 10). Veja as figuras abaixo.

Figura 9 – Meio de cultura em placas de Petri Figura 10 – Meio de cultura em tubo de ensaio
Fonte: <www.mbiolog.com.br/produto.php?id=43>.
Acesso em: 27 set. 2009.

Às vezes, precisamos usar meios especiais para separar ou reconhecer um microrganismo


específico quando ele se encontra misturado com outros. Para isso, usamos os chamados
meios de cultura seletivos e meios de cultura diferenciais.

Meios de cultura seletivos – São meios que possuem determinadas propriedades que
selecionam apenas o microrganismo desejado e impedem o crescimento de outros.
Por exemplo, na nossa pele habitam várias espécies de microrganismos. Se desejar isolar e
cultivar no laboratório somente uma espécie, posso passar uma haste flexível (mais conhecida
como “cotonete”) na pele e semeá-lo sobre um meio de cultura seletivo para a espécie que
desejo cultivar. Dessa forma, só vai crescer nesse meio aquela espécie que eu queria isolar.

Meios de cultura diferenciais – São meios que possuem propriedades na sua constituição
as quais permitem observarmos características diferencias de um microrganismo específico
quando esse cresce sobre o meio juntamente com outros. Se pensarmos no exemplo do item

Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica 35


anterior sobre os microrganismos da pele, o meio diferencial não inibe nenhuma espécie,
mas separa o microrganismo desejado por alguma característica diferencial que ele apresente
nesse tipo de meio, como, por exemplo, a cor, a forma etc.

Observação: será marcado um dia no seu polo para revermos esse assunto,
oportunidade em que você poderá conhecer diferentes tipos de meios de cultura.

Como se preparam os meios de cultura no laboratório?


Os meios de cultura são encontrados de forma desidratada (em forma de pó) em lojas
específicas para materiais de laboratório. Uma quantidade desejada é retirada do frasco
(depende da quantidade de meio que você deseja preparar), hidrata-se com água destilada,
esteriliza-se para eliminar qualquer organismo contaminante e depois se distribui em placas
de Petri ou tubos de ensaio. Veja abaixo a sequência de algumas etapas durante o preparo de
um meio de cultura.

Figura 11 – Sequência de preparo de um meio de cultura

Fonte: <www.e-escola.pt/topico.asp?id=275>. Acesso em: 22 set. 2009.

36 Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica


Água destilada é uma água sem impurezas, ou seja, contém somente moléculas
de água.

Atividade experimental 1

Prepare um meio de cultura

Passo 1 – Tente conseguir os seguintes materiais: um tablete de caldo de carne, um pacote de


gelatina incolor, 2 copos de água, tampas de pote de café ou margarina, cotonetes.

Passo 2 – Forma de preparar o meio de cultura

 Dissolva a gelatina incolor na água conforme as instruções do pacote.

 Dissolva o tablete de caldo de carne em um copo de água morna.

 Agora, misture a gelatina dissolvida com o caldo de carne.

 Distribua dentro de recipientes rasos como uma tampa de pote de café ou tampa de
margarina, cobrindo o fundo do recipiente com uma camada rasa do meio.

 Cubra as tampas contendo o meio de cultura com um pedaço de plástico e deixe descansar
por algumas horas.

Passo 3 – Contaminação do meio de cultura

 Passe um cotonete no chão e depois esfregue-o levemente sobre a camada de um dos


meios de cultura que você preparou.

 Passe outro cotonete do lado de dentro da sua bochecha e contamine outra tampa
contendo meio de cultura.

 Toque os 5 dedos da sua mão sobre o meio de cultura.

 Cubra novamente os meios e guarde por 1 ou 2 dias.

Após esse tempo, abra os meios e descreva o que você observou.

Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica 37


Observação – Você pode tentar outras formas de contaminar o meio de cultura. Por exemplo:
tente passar um fio do seu cabelo sobre o meio, tente passar o cotonete na sua mesa, na
maçaneta da porta do seu banheiro ou entre os dedos do seu pé. Use a sua imaginação e faça
outras experiências.

Importante: DESCARTE AS PLACAS CONTAMINADAS! Após você ter executado


essa atividade é importante descartar os meios de cultura contaminados de forma
segura. Então, proceda da seguinte forma: coloque os recipientes contendo os
meios contaminados dentro de um saco plástico reforçado e que não esteja
furado, adicione um pouco de água sanitária sobre os meios e amarre a boca do
saco bem forte. Leve o saco até uma lixeira onde ele possa ser recolhido pela
companhia de lixo da sua cidade.

ESTUFA – É um equipamento elétrico que fornece a temperatura ideal para a multiplicação


do microrganismo. É semelhante a um forno elétrico; porém, na estufa existe um dispositivo
onde podemos controlar a temperatura desejada. Para cultivarmos um microrganismo
em um meio de cultura, é necessário incubá-lo em uma temperatura apropriada ao seu
desenvolvimento. Veja a Figura 12 a seguir.

Figura 12 – Estufa bacteriológica

38 Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica


Você pode construir uma estufa de incubação!

Você pode improvisar uma estufa usando uma caixa de papelão e uma lâmpada
de 40 ou 60 Watts, como a da figura a seguir.

Figura 13 – Caixa de papelão com lâmpada

Fonte:<http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/pratica-pedagogica/
como-ensinar-microbiologia-426117.shtml>. Acesso em: 28 out. 2009.

Observação – caso você tenha disponibilidade de construir a estufa como a da


Figura 13, você pode utilizá-la para incubar os meios que você contaminou na
Atividade Experimental 1, ao invés de incubar à temperatura ambiente.

CÂMARA DE FLUXO LAMINAR – Cabine estéril para a manipulação de microrganismos sem


contaminar com os microrganismos do ambiente. Esse equipamento possui uma lâmpada
ultravioleta que mata os microrganismos contaminantes de dentro da cabine e um filtro
especial que filtra o ar que circula dentro dessa cabine, deixando-a totalmente livre de qualquer
microrganismo. Veja as Figuras 14 e 15.

Figura 14 – Câmara de fluxo laminar Figura 15 – Técnico trabalhando na


câmara de fluxo laminar
Fonte: <www.lupe.com.br/br/mostra_produtos.php?id=93>.
Acesso em: 27 set. 2009.

Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica 39


CÂMARA ASSÉPTICA – É um pequeno quarto fechado com uma lâmpada ultravioleta e uma
bancada onde é instalado um bico de Bunsen. A área em volta da chama do bico de Bunsen
(Figura 16) fornece uma área chamada de “área de segurança”, onde se pode manipular
materiais estéreis sem contaminá-los com microrganismos do ambiente.

Figura 16 – Bico de Bunsen: equipamento ligado a um botijão de gás que gera uma área de calor em volta da chama,
o que impede a entrada de microrganismos provenientes do ambiente
Fonte: <http://www.vetfacil.com/_/rsrc/1250170894255/Home/microbiologia-1/
Microbiologia-Veterinaria/laboratorio-de-microbiologia/equipamentos/bico-de-
bunsen/Bico%20de%20Bunsen.jpg>. Acesso em: 19 set. 2009.

Você pode improvisar uma câmara asséptica!

Abra uma caixa de papelão e retire a tampa. Coloque a caixa deitada sobre uma
bancada e use uma lamparina ao invés do um bico de Bunsen (Figura 17). Se
você tiver como improvisar uma câmara asséptica como a da Figura 17, você
pode usá-la para distribuir nos recipientes o meio de cultura que você preparou na
Atividade experimental 1. O uso de um ambiente asséptico durante a manipulação
do seu meio de cultura evitará a contaminação com microrganismos do ambiente.

Figura 17 – Câmara asséptica improvisada


Fonte: Laboratório de Bacteriologia (UFRN).

40 Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 2
Acesse o endereço eletrônico <www.e-escola.pt/topico.asp?id=312&ordem=2>.

Clique na seta para iniciar a animação e assista.

Cite os materiais utilizados no laboratório de Microbiologia que você observou


na animação.

Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica 41


Para a esterilização de materiais
AUTOCLAVE – Equipamento elétrico que fornece calor (na forma de vapor) sob pressão e produz
uma temperatura mínima de 121°C. A pressão interna é maior que a pressão atmosférica e
esse aumento da pressão faz a água entrar em ebulição, a uma temperatura acima de 100°C.
No interior da autoclave, na parte inferior, coloca-se água, e logo acima um cesto ou tabuleiro
com o material a esterilizar. O tempo de esterilização pode variar de 15 a 30 minutos.

Figura 18 – Autoclave
Fonte: <www.ciencor.com.br/catalogo/paginas/autoclave.htm>.
Acesso em:7 out. 2009.

ESTUFA DE ESTERILIZAÇÃO – Diferentemente da autoclave, a estufa de esterilização utiliza


calor seco. O calor seco possui um poder de penetração nos materiais menor do que o
calor úmido (usado na autoclave) e, dessa forma, é necessário utilizar tempo e temperatura
maiores do que na autoclave. Por exemplo, para esterilizar metais, usa-se a temperatura de
160°C por 2 horas.

Figura 19 – Estufa de esterilização

Fonte: <http://br.geocities.com/equipamentosodontolgicos/
estufa.htm>. Acesso em: 16 out. 2009 .

42 Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica


Figura 20 – Estufa de esterilização aberta contendo materiais para esterilizar
Fonte: <www.estg.ipleiria.pt/website/dep.php?id=321378>.
Acesso em: 16 out. 2009.

Para transferência de microrganismos


A transferência de um microrganismo para um meio de cultura é chamada de repique,
semeadura ou inoculação. Geralmente, usamos para isso alça (Figura 21) ou agulha
(Figura 22) bacteriológica. São constituídas por um filamento de platina ou de níquel-cromo
inserido em um cabo.

Figura 21 – Alça bacteriológica Figura 22 – Agulha bacteriológica

Fonte: Laboratório de Bacteriologia (UFRN). Fonte: Laboratório de Bacteriologia (UFRN).

Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica 43


Atividade 3
Acesse o endereço eletrônico <www.e-escola.pt/topico.asp?id=310&ordem=2>

Clique na seta para iniciar a animação e observe a semeadura de um microrganismo


em um meio de cultura.

Cite o instrumental que foi utilizado para a semeadura do microrganismo no


meio de cultura.

Manobras assépticas para a


manipulação de microrganismos
Além dos vários materiais e equipamentos que você conheceu, utilizados para a
manipulação de microrganismos no laboratório de Microbiologia, é necessário conhecer ainda
a forma adequada de manipulá-los para que o material que você está trabalhando não seja
contaminado com os microrganismos do ambiente ou até com a sua própria pele. Para isso,
utilizamos alguns cuidados, os quais são chamados de “manobras assépticas”.

Flambagem 1) Trabalhar em áreas previamente submetidas à limpeza e desinfecção.


Método usado
para esterilizar alças e 2) Trabalhar dentro da “área de segurança” do bico de Bunsen, ou seja, os recipientes estéreis
agulhas bacteriológicas, só devem ser manipulados próximo à chama do bico.
deixando-as dentro da
chama do bico de Bunsen
até ficarem rubras.
3) Esterilizar por flambagem a alça e agulha antes e após cada inoculação.

44 Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica


4) Deixar esfriar alça e agulha antes de obter o inóculo, dentro da área de segurança.

5) Flamblar rapidamente a boca dos tubos contendo microrganismos ou meio estéril,


imediatamente após abri-los, ou antes de fechá-los. A tampa nunca deverá ser colocada sobre
a bancada, sendo retirada e mantida segura pelo dedo mínimo da mão durante a inoculação.

a b

c d

Figura 23 – Sequência de manobras assépticas ao manipular microrganismos: a) esterilização da alça bacteriológica


por flambagem na chama do bico de Bunsen; b) abertura da tampa do tubo de ensaio; c) flambagem da boca do
tubo de ensaio; d) retirada do microrganismo com a alça bacteriológica; e) fechamento do tubo de ensaio.

Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica 45


Atividade 4
Acesse o endereço eletrônico <www.e-escola.pt/topico.asp?id=312&ordem=2>.

Clique na seta para ver a animação.

Cite as manobras assépticas que você observou na animação.

46 Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica


Resumo
Nesta aula, você ficou sabendo que é possível cultivarmos um microrganismo
fora do seu habitat natural, ou seja, no laboratório. Para isso, basta fornecermos
a esse microrganismo condições semelhantes a que ele tinha no seu ambiente
natural, como nutrientes e temperatura adequados. Você viu, ainda, que
embora sejam necessários alguns equipamentos específicos para cultivarmos
os microrganismos, é possível improvisarmos utilizando materiais simples e
um pouco de criatividade. Você aprendeu, também, que para se manipular os
microrganismos com segurança no laboratório, é necessário seguirmos algumas
normas de biossegurança e algumas manobras assépticas, principalmente para
evitar que a pessoa que está manipulando o microrganismo se contamine ou que
o ambiente venha contaminar o material com o qual se está trabalhando.

Autoavaliação
1 Cite as principais normas de segurança utilizadas no laboratório de Microbiologia.

2 Defina meio de cultura.

3 Defina o termo “área de segurança” do bico de Bunsen e diga qual é a sua utilização.

Por que é importante a utilização de manobras assépticas na manipulação de


4 microrganismos?

Referências
OKURA, M. H.; RENDE, J. C. Microbiologia roteiros de aulas práticas. Riberão Preto: Editora
Tecmedd, 2008.

SILVA FILHO, G. N.; OLIVEIRA, V. L. Microbiologia manual de aulas práticas. 2. ed.


Florianópolis: Editora da UFSC, 2007.

VERMELHO, A. B. et al. Práticas de microbiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica 47


Anotações

48 Aula 2 Metabolismo da Vida Microscópica


“Vendo” o invisível

Aula

3
Apresentação

O
s microrganismos são chamados dessa forma porque são tão pequenos que não
podem ser visualizados ao olho humano. Uma bactéria, por exemplo, mede entre
0,5 e 2 micrômetros (µm
µm). Porém, existem várias estratégias para nos possibilitar 1 µm

a visualização dos microrganismos, como por exemplo, o uso de corantes para corar os Milionésima
parte do milímetro.
microrganismos e a utilização de lentes de aumento como as dos microscópios. Nesta aula,
você conhecerá várias dessas estratégias que possibilitam a visualização dos microrganismos.

Objetivos
1 Comparar as colorações simples e diferenciais.

Listar as etapas na preparação da coloração de Gram,


2 descrevendo o aspecto das células Gram-positivas e
Gram-negativas após cada etapa.

Comparar e contrastar a coloração de Gram e a coloração


3 de Ziehl-Neelsen.

Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica 51


Preparando os microrganismos
para a visualização
Embora as lentes dos microscópios possibilitem a visualização dos microrganismos,
dependendo do que se deseja observar, é necessário criar um contraste entre o microrganismo
que será observado e o plano de fundo, pois a maioria dos microrganismos é quase incolor
quando observados através de um microscópio óptico padrão. Esse contraste é conseguido
através de colorações em que o microrganismo é submetido antes de ser observado ao
microscópio. Outro aspecto importante na preparação dos microrganismos para a visualização
é a qualidade do preparo do material a ser visualizado. Por exemplo, é necessário ter um
cuidado especial com a limpeza das lâminas de vidro onde será depositado o microrganismo
para visualização. Veja a seguir como se prepara as lâminas de vidro.

Preparo das lâminas de vidro: as lâminas devem estar completamente livres de gordura, e para
isso devem ser lavadas com água e sabão, enxaguadas exaustivamente em água e deixadas
em um recipiente com etanol a 95%. Antes da utilização, as lâminas devem ser retiradas do
recipiente com uma pinça e secas com papel-toalha ou pano bem macio que não solte fiapos.

De uma forma geral, as células microbianas podem ser examinadas a fresco


(microrganismo vivo) ou fixadas sobre uma lâmina de vidro (microrganismo morto),
dependendo do que se deseja examinar.

Observando o microrganismo vivo


As técnicas de observação do microrganismo vivo é bastante útil para observar a
viabilidade do microrganismo e algumas atividades celulares, como a motilidade e a divisão
celular, uma vez que o microrganismo está vivo. E, ainda, possibilita a observação do tamanho
e da forma natural das células microbianas. Veja abaixo como se prepara um exame a fresco,
no qual o microrganismo é observado vivo.

Exame a fresco
Cultura microbiana O exame a fresco consiste na deposição de uma gota de cultura microbiana entre uma
Crescimento de lâmina e uma lamínula de microscópio. A visualização microscópica a fresco é difícil devido ao
um microrganismo em tamanho reduzido dos microrganismos e ao fato de parecerem translúcidos, quando suspensos
um meio de cultura.
em um meio aquoso. Porém, é bastante útil para observar a viabilidade do microrganismo.

52 Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica


Nas preparações a fresco, podem-se utilizar corantes para facilitar a visualização. Veja na Figura 1
o esquema de uma preparação a fresco.

Alça
Bacteriológica

Lamínula

Lâmina
Cultura Microbiana
Cultura Microbiana

Figura 1 – Preparo de uma lâmina para observação a fresco

Fonte: <www.prof2000.pt/users/biologia/ptemporarias.htm>. Acesso em: 23 nov. 2009.

Atividade 1
Observando microrganismos vivos
Observação – Antes de iniciar essa atividade experimental, faça uma revisão a respeito das
normas de segurança e das manobras assépticas na Aula 2, “Trabalhando no Laboratório de
Microbiologia”. As Atividades 1, 5 e 6 desta aula são experimentais e devem ser realizadas no
seu polo de ensino.

Objetivo:

 Preparar lâminas para observação a fresco.

Materiais:

» Lâminas de microscópio;

» Lamínulas;

» Cultura da espécie bacteriana Escherichia coli em meio líquido;

» Microscópios.

Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica 53


Procedimentos:

1) Flambe até ficar vermelha uma alça bacteriológica na chama de uma lamparina e deixe-a
esfriar próximo à chama.

2) Abra o tubo de ensaio contendo a cultura bacteriana próximo à chama, retire uma alçada
da cultura, deposite no centro da lâmina e então feche o tubo de ensaio; em seguida, flambe
a alça novamente antes de guardá-la.

3) Cubra a gota da cultura com uma lamínula.

4) Leve a lâmina até o microscópio e observe na objetiva de 40X.

5) Tente fazer um desenho dentro do círculo do que você observou na sua lâmina.

Colorindo os microrganismos
O uso de corantes para corar os microrganismos é uma estratégia bastante útil, pois faz
com que eles se destaquem contra seus planos de fundo, otimizando sua observação.

Tipos de corantes
Em Microbiologia, os corantes mais utilizados são os corantes catiônicos (positivamente
carregados) ou básicos e os aniônicos (negativamente carregados) ou acídicos. Os corantes
básicos, tais como o azul de metileno, o cristal violeta, a safranina e o verde de malaquita são
atraídos pelos componentes celulares que são negativamente carregados como, por exemplo,
a membrana plasmática. Já os corantes acídicos como a eosina e o ácido pícrico são repelidos
pela carga negativa da superfície dos microrganismos. Nesse caso, o microrganismo não é
corado e o corante fica depositado somente na lâmina.

54 Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 2
Cite as duas categorias de corantes mais utilizados para corar microrganismos
e diga o que caracteriza cada tipo.

Tipos de coloração
Em Microbiologia, são utilizados 2 tipos principais de coloração: a coloração simples
e a diferencial. Veja abaixo a definição de coloração simples e, mais à frente, a definição de
coloração diferenciada.

Coloração simples – utiliza apenas um único corante e revela os formatos básicos das células e
seus arranjos (revise sobre as formas e os arranjos bacterianos citados na Aula 1, comparando
células procarióticas e células eucarióticas). Alguns dos corantes mais utilizados nesse tipo
de coloração são azul de metileno, safranina e o cristal violeta. Esse tipo de coloração pode
ser positiva ou negativa.

Coloração simples positiva – Usa-se um corante básico (carregado positivamente), o qual vai
impregnar a superfície celular da célula (carregada negativamente). É útil para se constatar a
presença de microrganismos em alguma amostra ou substrato. Acompanhe os passos dessa
técnica na Figura 2.

Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica 55


a b c

Figura 2 – Coloração simples positiva. a) Adicionar o corante sobre a lâmina contendo uma alçada de cultura; b) lavar a
lâmina com água; c) secar a lâmina com papel toalha

Fonte: Vermelho et al (2006).

Observe na Figura 3 a visualização microscópica do parasita Trypanosoma cruzi corado


pelo método da coloração positiva.

Figura 3 – Trypanosoma cruzi corado pelo método da coloração positiva

Fonte: Vermelho et al (2006).

Coloração simples negativa – usa-se um corante acídico (carregado negativamente), o qual


é repelido pelas cargas negativas da superfície da célula. O fundo da lâmina é corado e o
microrganismo não, aparecendo mais claro, dando a ideia de um negativo fotográfico. Esse
tipo de coloração é muito utilizado para a demonstração das cápsulas bacterianas (revise sobre
esta estrutura bacteriana citada na Aula 1). Acompanhe os passos dessa técnica na Figura 4.

56 Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica


a b

c d

Figura 4 – Coloração simples negativa. a) Adicionar o corante sobre uma das extremidades da lâmina; b) adicionar
uma alçada da cultura microbiana sobre o corante; c) colocar uma outra lâmina sobre a cultura e o corante e deixar
que o material se espalhe na extremidade da lâmina inclinada; d) deslizar a lâmina inclinada sobre a outra lâmina,
espalhando a cultura e o corante de maneira uniforme
Fonte: Vermelho et al (2006)

Observe na Figura 5 a visualização microscópica da cápsula bacteriana corada pelo


método da coloração negativa.

Figura 5 – Cápsula bacteriana corada através da técnica da coloração negativa

Fonte: <pathmicro.med.sc.edu/Portuguese/chapter_1_bp.htm>. Acesso em: 23 nov. 2009.

Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica 57


Observando o microrganismo fixo
em uma lâmina (morto)
Para a observação do microrganismo fixado em lâmina é necessário o preparo do
esfregaço, ou seja, fixar o microrganismo na lâmina de vidro. É nesse momento que os
microrganismos são mortos. Veja abaixo como se prepara um esfregaço a partir de uma
cultura líquida e de uma sólida.

Esfregaço a partir de uma cultura em meio líquido – com o auxílio de uma alça bacteriológica,
retira-se uma ou duas alçadas da cultura líquida e deposita-se sobre o centro de uma lâmina de
vidro. É necessário espalhar a cultura ao longo da extensão da lâmina com movimentos circulares.

Esfregaço a partir de uma cultura em meio sólido – Coloca-se previamente 1 a 2 gotas de


solução fisiológica estéril sobre a lâmina de vidro e, então, se adiciona uma porção da cultura
retirada do meio sólido com o auxílio de uma alça bacteriológica, espalhando o material ao
longo da extensão da lâmina.

Fixação do esfregaço pelo calor – Deixe que o material depositado na lâmina seque ao ar
totalmente antes de proceder com a fixação. A fixação pelo calor consiste em passar a lâmina
contendo o esfregaço 3 vezes sobre a chama do bico de Bunsen ou lamparina. A fixação do
esfregaço vai impedir que os microrganismos depositados sobre a lâmina sejam removidos,
quando submetidos ao processo de coloração. Veja na Figura 6 a preparação de um esfregaço
a partir de uma cultura líquida e de um meio sólido.

58 Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica


Meio Líquido Meio Sólido
a d

b e

c f
Fixação
Fixação

Figura 6 – Preparo do esfregaço para coloração. a e d) Adicionar as células bacterianas sobre o centro da lâmina
(quando as células forem provenientes de meio sólido, adicionar antes uma gota de solução fisiológica estéril);
b e e) espalhar o material depositado com a alça bacteriológica; c e f) fixação do esfregaço através da chama do
bico de Bunsen
Fonte: Vermelho et al (2006).

Atividade 3
Qual é a diferença na realização de um esfregaço a partir de uma cultura líquida
e de uma cultura sólida? Qual é a finalidade da fixação do esfregaço?

Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica 59


Coloração diferencial – utiliza dois ou mais corantes e diferencia dois tipos de organismos.
As colorações diferenciais mais comuns são a coloração de Gram e a de Ziehl-Neelsen.

Atividade 4
Revise a Aula 1 a respeito da estrutura da parede celular das bactérias Gram
positivas e Gram negativas e, após a revisão, descreva as diferenças existentes
entre a parede celular desses dois tipos de bactérias.

Agora que você já relembrou a estrutura da parede celular das bactérias, podemos então
estudar a técnica de coloração de Gram e a de Ziehl-Neelsen.

Coloração de Gram – essa técnica de coloração recebeu essa denominação em homenagem


ao médico dinamarquês Hans Christian Gram, que desenvolveu esse método em 1884. Essa
coloração separa as bactérias em 2 grandes grupos: as bactérias Gram positivas e as Gram
negativas. Esse método de coloração é o método de escolha para a identificação de bactérias.

A coloração de Gram consiste em submeter um esfregaço preparado como descrito no


texto acima e submetê-lo a 4 reagentes: um corante básico, o cristal violeta; uma solução
de iodo e iodeto de potássio (lugol); álcool a 95%; e um segundo corante que pode ser a
fucsina ou a safranina. O cristal violeta cora as células de roxo; o lugol liga-se ao cristal violeta,
Mordente
formando um complexo insolúvel (por isso é chamado de mordente); o álcool descora somente
É uma substância que
alguns tipos de célula e estas células que se descoram são coradas com o segundo corante
forma um complexo
insolúvel quando se liga usado na técnica, que pode ser a fucsina ou a safranina. As bactérias Gram positivas se coram
ao corante de roxo no fim da coloração e as Gram negativas ficam rosa.

60 Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica


Essa diferença é em função das diferenças existentes entre a parede celular das bactérias
Gram positivas e das Gram negativas. As Gram positivas têm a parede celular mais espessa
e, portanto, são mais difíceis de serem descoradas pelo o álcool, e as Gram negativas, como
têm uma parede mais delgada, são mais facilmente descoradas quando são lavadas pelo álcool
durante o processo de coloração. Lembre-se que você aprendeu as diferenças entre esses dois
grupos de bactérias na Aula 1. Observe os reagentes usados nessa coloração na Figura 7 e as
etapas da técnica na Figura 8.

Figura 7 – Reagentes da coloração de Gram


Fonte: Laboratório de Bacteriologia – UFRN

Violeta
de genciana
Iodo

Álcool

Safranina

1 Aplicação de 2 Aplicação de iodo 3 Lavagem com 4 Aplicação de


violeta de genciana (mordente) álcool safranina
(corante púrpura) (descoloração) (contracorante)

Figura 8 – Técnica da coloração de Gram

Fonte: Tortora et al (2005).

Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica 61


Observe na Figura 9 a visualização microscópica de uma bactéria Gram positiva e na
Figura 10 uma bactéria Gram negativa após serem coradas pela técnica de coloração de Gram.

Figura 9 – Bactéria Gram positiva após técnica de coloração de Gram


Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/08/
Staphylococcus_aureus_Gram.jpg>. Acesso em: 23 nov. 2009.

Figura 10 – Bactéria Gram negativa após técnica de coloração de Gram


Fonte: <http://images.suite101.com/180490_e.coli.jpg>.
Acesso em: 23 nov. 2009.

Atividade 5
Coloração de Gram
Objetivos:

 Preparar um esfregaço a partir de uma cultura bacteriana líquida.

 Corar o esfregaço através da técnica de coloração de Gram.

62 Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica


Materiais:

» Tubos de ensaio contendo uma suspensão bacteriana (cultura em meio líquido);

» Lâminas de vidro;

» Reagentes para a coloração de Gram;

» Alças bacteriológicas;

» Óleo de imersão;

» Microscópios ópticos.

Procedimentos:

Etapa 1 - Preparação do esfregaço

1) Identifique o lado da lâmina em que você vai depositar a cultura fazendo uma marca com
lápis grafite sobre a extremidade fosca da lâmina;

2) Coloque a lâmina no suporte apropriado que está sobre sua bancada;

3) Colete uma alçada ou mais da suspensão bacteriana e espalhe bem sobre a superfície da
lâmina com a própria alça bacteriológica;

4) Deixe o material secar sobre a lâmina, deixando-a próximo da chama do bico de Bunsen;

5) Passe a lâmina 2 a 3 vezes através da chama do bico de Bunsen para fixar o material
sobre a lâmina.

Etapa 2- Coloração de Gram

1) Cubra o esfregaço com cristal violeta e deixe agir durante 1 minuto;

2) Despreze o excesso de corante no depósito apropriado e adicione lugol e deixe agir por
1 minuto;

3) Lave com água;

4) Lave rapidamente com álcool (cerca de 20 segundos);

5) Lave com água;

6) Cubra a lâmina com fucsina e deixe agir por 30 segundos;

7) Lave com água;

Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica 63


8) Deixe a lâmina secando ao ar ou seque-a com papel toalha;

9) Pingue uma gota de óleo de imersão sobre o esfregaço corado e observe ao microscópio
óptico utilizando a objetiva de 100×;

10) Faça um desenho dentro do círculo do que você observou na sua lâmina e depois
responda às perguntas a seguir.

A bactéria que você corou é Gram positiva ou Gram negativa? Justifique sua resposta.
1

Qual é a forma da bactéria que você observou?


2

Acesse o endereço eletrônico <http://vudat.msu.edu/gram_stain>. Clique em “Gram


3 Stain Technique” e faça a coloração de Gram de forma virtual.

64 Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica


Coloração de Ziehl-Neelsen
Esta técnica é utilizada para identificar bactérias do gênero Mycobacterium, como por
exemplo as espécies Mycobacterium tuberculosis, agentes causadores da tuberculose, e
a Mycobacterium leprae, que causa a doença conhecida como lepra ou Hanseníase. Esse
gênero bacteriano possui parede celular diferente das bactérias Gram positivas e Gram
negativas; assim, a técnica de coloração de Gram não é adequada para corá-las. A parede das
micobactérias possui uma espessa camada de lipídeos que evita a penetração de diversos
corantes; porém, uma vez coradas, resistem fortemente à descoloração, mesmo com soluções
ácidas e álcool absoluto. Por essa característica, essas bactérias são chamadas de Bacilos
Álcool-Ácido Resistentes (BAAR).

A coloração de Ziehl-Neelsen consiste na aplicação do corante fucsina fenicada (solução


de fucsina e fenol) sobre o esfregaço e aquecê-lo (esse aquecimento do esfregaço permite
a entrada da fucsina através da parede da célula). Em seguida, o esfregaço é lavado com
uma solução de álcool-ácido (etanol e ácido clorídrico a 3%) e então é submetido a outro
corante, normalmente, azul de metileno. Após a realização da técnica, as bactérias que forem
álcool-ácido resistentes (AAR) não se descoram com a solução de álcool-ácido e permanecem
coradas de vermelho (cor da fucsina), e as que não forem AAR se descoram e, depois, se coram
de azul (cor do azul de metileno).

Veja na Figura 11 os reagentes usados nessa técnica de coloração, na Figura 12 os


passos da técnica e, na Figura 13, a visualização microscópica de bactérias AAR após serem
submetidas à coloração de Ziehl-Neelsen.

Figura 11 – Reagentes utilizados na coloração de Ziehl-Neelsen

Fonte: Laboratório de Bacteriologia – UFRN

Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica 65


a b c

Placa aquecedora

d e f

Figura 12 – Coloração de Ziehl-Neelsen. a) Adição da fucsina sobre o esfregaço e aquecimento em uma placa
aquecedora; b) lavagem do esfregaço com água; c) adição da solução de álcool-ácido; d) lavagem com água;
e) adição do azul de metileno; f) lavagem com água; g) secar com papel de filtro
Fonte: Adaptado de Vermelho et al (2006).

Figura 13 – Mycobacterium tuberculosis coradas pela técnica de Ziehl-Neelsen


Fonte: <www.craigleithhill.co.uk/craigleith_house.html>. Acesso em:
23 nov. 2009.

66 Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 6
Coloração de Ziehl-Neelsen

Objetivos:

 Corar um esfregaço através da técnica de coloração de Ziehl-Neelsen;

 Entender o mecanismo da técnica de coloração de Ziehl-Neelsen.

Materiais:

» Esfregaços de bactérias álcool-ácido resistentes;

» Reagentes para a coloração de Ziehl-Neelsen;

» Microscópios ópticos;

» Óleo de imersão.

Procedimento:

1) Coloque o esfregaço sobre o suporte;

2) Cubra o esfregaço com a solução de fucsina fenicada;

3) Com o auxílio da chama do bico de Bunsen ou de uma placa aquecedora, aqueça a lâmina
pela sua parte inferior até que comece a desprender vapor, não deixando ferver nem secar.
Repetir essa operação até completar três emissões sucessivas. Porém, esse procedimento
deve demorar em torno de 5 minutos;

4) Despreze o corante dentro do recipiente apropriado;

5) Lave a lâmina com a solução de álcool-ácido até não sair mais corante;

6) Lave com água;

7) Cubra a lâmina com o azul de metileno e deixe agir por 30 segundos;

8) Despreze o corante;

9) Lave com água;

Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica 67


10) Deixe a lâmina secar ao ar;

11) Pingue uma gota de óleo de imersão sobre o esfregaço corado e observe ao microscópio
óptico utilizando a objetiva de 100×;

12) Faça um desenho dentro do círculo do que você observou na sua lâmina e responda às
perguntas a seguir.

Qual é a cor que a bactéria adquiriu após essa técnica de coloração? Justifique
1 sua resposta.

Qual é a forma da bactéria que você observou?


2

68 Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica


Resumo
Nesta aula, você ficou sabendo que, embora os microrganismos não sejam
visíveis a olho nu, é possível observá-los com o uso de corantes e microscópios
adequados ao que se deseja observar. Você aprendeu, ainda, que existem
corantes e técnicas de colorações específicas para a visualização de estruturas
microbianas, como por exemplo a cápsula para a detecção de atividades
celulares como a motilidade e, ainda, para se observar a forma e o arranjo das
células. Você viu que a técnica de coloração de Gram é uma das técnicas mais
utilizadas na Microbiologia e é usada para diferenciar as bactérias Gram positivas
das Gram negativas, e que a técnica de Ziehl-Neelsen é usada para identificar
duas espécies de bactérias importantes como a Mycobacterium tuberculosis e
Mycobacterium leprae que causam, respectivamente, as doenças tuberculose
e hanseníase no homem.

Autoavaliação
Diferencie a coloração simples da coloração diferenciada.
1
O que caracteriza um corante básico e um ácido?
2
Por que as bactérias Gram positivas ficam roxas e as Gram negativas ficam rosas
3 após a coloração de Gram?

Qual a utilização da coloração de Ziehl-Neelsen?


4

Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica 69


Referências
BLACK, Jaquelyn G. Microbiologia fundamentos e perspectivas. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2002.

OKURA, M. H.; RENDE, J. C. Microbiologia roteiros de aulas práticas. Riberão Preto: Editora
Tecmedd, 2008.

SILVA FILHO, G. N.; OLIVEIRA, V. L. Microbiologia manual de aulas práticas. 2. ed. Florianópolis:
Editora da UFSC, 2007.

VERMELHO, A. B. et al. Práticas de microbiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

Anotações

70 Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica


Anotações

Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica 71


Anotações

72 Aula 3 Metabolismo da Vida Microscópica


Nutrição e crescimento microbiano

Aula

4
Apresentação

N
a Aula 1 (Comparando células procarióticas e células eucarióticas), você aprendeu a
caracterizar morfologicamente as células procarióticas. Agora, você irá aprender como
essas células crescem e quais os fatores nutricionais e físicos que determinam esse
evento. Quando falamos em crescimento microbiano, estamos nos referindo ao número e não
ao tamanho das células. Portanto, crescimento microbiano significa reprodução, ou seja, os
microrganismos se multiplicam e aumentam o número de suas células. Você perceberá que,
conhecendo as condições necessárias ao crescimento microbiano, podemos determinar como
controlar os microrganismos que causam doenças ou que degradam os alimentos, assunto
que você verá com mais detalhes na Aula 6 (Controlando os microrganismos). Podemos
também usar essa informação para estimular o crescimento de um microrganismo que estamos
particularmente interessados em cultivar. Você estudou o cultivo “in vitro” de microrganismos
na Aula 3 (“Vendo” o invisível). Enfim, nesta aula você conhecerá os fatores físicos e químicos
necessários para os microrganismos crescerem e se estabelecerem em um dado ambiente.

Objetivos
Conhecer as exigências nutricionais para o crescimento
1 microbiano.

Explicar, em termos gerais, como os elementos químicos


2 são utilizados para o desenvolvimento das células
microbianas.

Descrever como os microrganismos procarióticos se


3 reproduzem.

4 Identificar uma curva típica de crescimento microbiano.

Reconhecer as condições físicas necessárias para o


5 crescimento microbiano.

Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica 75


De que os microrganismos
se nutrem?

D
e todos os organismos vivos, os microrganismos são os mais versáteis e diversificados
em suas exigências nutricionais, ou seja, podem utilizar desde compostos químicos
simples, como CO2, até compostos orgânicos mais complexos, como carboidratos
e proteínas. Para se multiplicarem em um ambiente, os microrganismos devem encontrar
nesse ambiente todas as substâncias requeridas para a geração de energia e para a síntese
dos seus componentes celulares (Na Aula 5, Obtenção de energia para a vida microbiana,
você aprenderá como os microrganismos produzem energia). Esses elementos requeridos
são chamados de nutrientes e existem na natureza em uma grande variedade de compostos
inorgânicos e orgânicos.
Basicamente, cada microrganismo utiliza os nutrientes presentes no seu habitat natural.
Porém, quando são removidos do seu meio para serem cultivados em laboratório, é necessário
que se forneça esses mesmos nutrientes encontrados no ambiente natural. Consegue-se isso
através da utilização dos meios de cultivo (reveja a definição de meio de cultivo na Aula 2,
Trabalhando no Laboratório de Microbiologia). Veja abaixo os principais elementos químicos
necessários para o crescimento microbiano.
Carbono – é um dos elementos químicos mais importantes para o crescimento microbiano.
É o principal constituinte das três maiores classes de nutrientes orgânicos: os carboidratos, os
lipídeos e as proteínas. Esses compostos são usados como fonte de energia e servem como
unidade básica dos componentes celulares como parede celular, membrana citoplasmática
etc. Os microrganismos que utilizam compostos orgânicos e CO2 como sua principal fonte de
carbono são chamados de Heterotróficos e Autotróficos, respectivamente (você conhecerá
mais sobre esses termos na Aula 10, Os microrganismos auxiliam a (re)circulação da matéria
no planeta).
Nitrogênio – esse elemento é parte essencial dos aminoácidos, os quais formam as proteínas.
Ao contrário das células eucarióticas, algumas bactérias podem utilizar nitrogênio gasoso ou
atmosférico para a síntese celular por meio de um processo chamado fixação de nitrogênio
(você aprenderá mais sobre esse fenômeno na Aula 10). Outras utilizam compostos
nitrogenados inorgânicos, tais como nitratos, nitritos ou sais de amônia, e ainda podem utilizar
compostos nitrogenados orgânicos, tais como aminoácidos ou peptídeos.
Hidrogênio, Oxigênio, Enxofre e Fósforo – o hidrogênio e o oxigênio fazem parte de
muitos compostos orgânicos como, por exemplo, a glicose. O enxofre é necessário para
a biossíntese dos aminoácidos, como a cisteína, cistina e metionina. Esses aminoácidos
formarão as proteínas. O fósforo é essencial para a síntese de ácidos nucleicos (DNA e RNA)
e para a molécula de ATP. Esse último composto é muito importante para o armazenamento
e transferência de energia para a célula (você verá como os microrganismos sintetizam essa
molécula na Aula 5).

76 Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica


Oligoelementos – os chamados oligoelementos ou elementos-traço são aqueles que são
requeridos em pequena quantidade. Podemos citar, por exemplo, o zinco (Zn+2), o cobre
(Cu+2), o manganês (Mn+2), o molibdênio (Mo+6) e o cobalto (Co+2). O principal papel desses
elementos é na ativação de enzimas importantes para o metabolismo dos microrganismos. As
vitaminas como o ácido fólico, a B12 e a vitamina K também são importantes na ativação de
enzimas. Alguns microrganismos podem sintetizar algumas vitaminas para seu metabolismo
e essas podem inclusive serem utilizadas pelo homem.

A bactéria Escherichia coli, que está presente no intestino humano, beneficia


seu hospedeiro produzindo a vitamina K, a qual ajuda na coagulação sanguínea.

Atividade 1
Baseado no que você aprendeu sobre os fatores químicos necessário para o
crescimento microbiano, preencha o quadro a seguir.

ELEMENTO QUÍMICO FUNÇÃO NO CRESCIMENTO MICROBIANO


CARBONO

NITROGÊNIO

HIDROGÊNIO

OXIGÊNIO

FÓSFORO

OLIGOELEMENTOS

Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica 77


Crescimento microbiano
Como já foi dito a você, o termo crescimento microbiano é diferente do que usamos
na linguagem cotidiana, na qual nos referimos ao aumento de tamanho. As crianças, outros
animais e vegetais crescem, ou seja, aumentam de tamanho, mas os organismos unicelulares
no máximo dobram de tamanho e logo se dividem em duas novas células. Dessa forma,
crescimento microbiano é sinônimo de multiplicação microbiana, ou seja, aumento do número
de células, e não de tamanho. Assim como determinados elementos químicos (nutrientes) são
exigidos ao crescimento microbiano, determinados fatores físicos também são indispensáveis.
Antes de falarmos dessas exigências ambientais, vamos aprender como os microrganismos
procarióticos se multiplicam?

Multiplicação das células procarióticas


A divisão celular nas bactérias, diferentemente daquela nos seres eucariontes, ocorre por
um processo assexuado, ou seja, sem o envolvimento de células sexuais (gametas). A maioria
das bactérias de dividem pelo processo de divisão binária ou às vezes por brotamento.

Divisão binária – processo em que uma célula parental se divide em duas outras células
idênticas. Anteriormente à divisão, o conteúdo celular se duplica, e o cromossoma é replicado
(você verá detalhes da replicação do cromossoma bacteriana na Aula 7, (A genética dos
microrganismos). Nesse momento a célula parental aumenta, a membrana citoplasmática
se estende e os cromossomas recém-duplicados se separam. Após esse evento, ocorre
uma invaginação, formando um septo na membrana e na parede celular, dividindo a célula
parental em duas novas células idênticas. Algumas células não se separam completamente e
permanecem acopladas, formando arranjos em forma de cadeia, tétrades, duplas etc. (reveja
os diferentes tipos de arranjos que as bactérias podem formar na Aula 1). Veja na Figura 1 as
diferentes etapas da divisão celular.

78 Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica


Parede celular Membrana plasmática

Alongamento da célula
DNA
e replicação do DNA

Início da divisão da
parede celular e da
membrana plasmática

Formação das paredes


em torno das regiões
contendo DNA replicado

Separação
das células

Figura 1 – Etapas da divisão de uma célula bacteriana

Fonte: Tortora, Funke e Case (2005).

Brotamento – processo no qual uma pequena protuberância cresce em uma extremidade


da célula. Esse brotamento aumenta e se separa da célula parental. As leveduras (fungos
unicelulares) também se dividem por brotamento. Veja a Figura 2.

Figura 2 – Brotamento em levedura

Fonte: <http://blogosferagg.blogspot.com/2009/06/reino-fungi.html>. Acesso em: 10 dez. 2009.

Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica 79


Cada centímetro da nossa pele hospeda, em média, 100.000 organismos. As
bactérias se reproduzem tão rápido que sua população é restaurada dentro de
algumas horas após a lavagem.

Atividade 2
Faça um desenho esquemático das etapas da divisão binária de uma célula
procariótica e descreva o que acontece em cada etapa.

80 Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica


Os microrganismos também
passam por fases de crescimento
Quando um microrganismo cresce em um meio de cultivo rico em nutrientes, ele passa por
quatro principais fases de crescimento: 1) fase lag, 2) fase log ou logarítmica, 3) fase estacionária
e 4) fase de declínio ou de morte. Essas fases formam a curva de crescimento bacteriano.

Fase lag – Essa fase é uma fase de adaptação do microrganismo ao meio. Ele não se
multiplica, porém, está em intensa atividade metabólica, ou seja, produzindo energia na forma
de ATP, enzimas e várias outras moléculas. Essa fase é também denominada de latência e o
tempo de duração depende das condições do meio e da espécie microbiana.

Fase log – É nessa fase que ocorre a divisão celular de fato e a população dobra de tamanho.
Cada espécie leva um tempo geneticamente determinado para se dividir e esse intervalo é
denominado de tempo de geração. Nessa fase, as células crescem em velocidade exponencial
ou logarítmica (log), ou seja, a população dobra a cada tempo de geração. Por exemplo, uma
cultura contendo 1.000 organismos com um tempo de geração de 20 minutos conteria 2.000
organismos após 20 minutos, 4.000 após 40 minutos e 8.000 após 60 minutos (1 hora).

Fase estacionária – Fase em que as novas células são produzidas com a mesma velocidade
com que as células antigas morrem e assim o número de células vivas permanece constante.

Fase de declínio (morte) – Nessa fase ocorre uma redução do número de células vivas,
pois muitas perdem a capacidade de se multiplicar e morrem. Isso ocorre porque o meio de
cultivo vai ficando cada vez mais desfavorável à multiplicação, pois os nutrientes se tornam
escassos e também há um acúmulo de resíduos tóxicos, originados pelo próprio metabolismo
microbiano. Veja na Figura 3 um gráfico representando uma curva de crescimento típica.

Lag Log Estacionária Declínio


Log - nº de células

tempo em horas

Figura 3 – Etapas da divisão de uma célula bacteriana

Fonte: <http://vsites.unb.br/ib/cel/microbiologia/crescimento/crescimento.html>. Acesso em: 10 dez. 2009.

Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica 81


Em condições ideais de crescimento, a espécie bacteriana Escherichia coli possui
um tempo de geração de até 12,5 minutos, e a Mycobacterium tuberculosis,
agente etiológico da tuberculose, possui um tempo de geração de 13 a 15 horas,
ou seja, essa última espécie levará muito mais tempo para ter sua população
dobrada de tamanho em um determinado meio.

Atividade 3

Observe o gráfico abaixo de uma curva de crescimento bacteriano e descreva o


que ocorre em cada fase indicada pelos números 1, 2, 3 e 4.

1 ______________________
3
2 ______________________
Nº de 2
células 4 3 ______________________
1
4 ______________________

Tempo

82 Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica


Fatores físicos que afetam
o crescimento microbiano
Como você já sabe, os microrganismos estão praticamente em todos os ambientes da
terra, inclusive em ambientes nos quais nenhuma outra forma de vida pode sobreviver. Isso
ocorre por causa do seu pequeno tamanho, de serem facilmente dispersáveis, ocuparem pouco
espaço e ainda por serem bastante diversificados quanto as suas exigências nutricionais.
Assim, para praticamente qualquer substância, há um microrganismo que pode utilizá-la como
nutriente e ainda para praticamente qualquer mudança ambiental, há algum microrganismo
que pode sobreviver.Diferentes espécies de microrganismos podem crescer em ambientes
que podem variar desde extremamente ácidos até os alcalinos, no gelo da Antártida às fontes
termais, em água pura ou em pântanos e até mesmo em fendas de vapor fervente no fundo
do oceano. Então, cada espécie possui seu crescimento influenciado por um conjunto de
características físicas do ambiente como, por exemplo, pH, temperatura, concentração
de oxigênio, umidade, pressão osmótica etc. Vamos então entender como esses fatores
influenciam no crescimento dos microrganismos.

pH – Esse termo significa “potencial hidrogeniônico”, ou seja, é a quantidade de H+ em uma


solução e representa a acidez ou a alcalinidade de um meio. Os valores de pH variam de 0 a
14. O valor 7 representa um meio neutro, abaixo desse valor o meio é considerado ácido e
acima, básico. De acordo com sua tolerância à acidez ou à alcalinidade, os microrganismos
podem ser classificados em: acidófilos (organismos que têm tolerância por meios ácidos;
pH de 0,1 a 5,4), neutrófilos (organismos que têm tolerância por meios neutros; pH de 5,4
a 8,5) ou alcalófilos (organismos que têm tolerância por meios alcalinos; pH de 7 a 11,5).
As bactérias de um modo geral crescem melhor em pH variando de 4 a 9 e os fungos em pH
mais baixos entre 5 e 6.

Atividade 4

De acordo com o que você aprendeu, complete o quadro abaixo.

Acidófilo

Neutrófilo Organismos que têm tolerância por meios neutros

Alcalófilo

Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica 83


Temperatura – Os microrganismos podem variar muito quanto a sua tolerância à
temperatura. De acordo com esse fator, os microrganismos podem ser classificados em:
psicrófilos (organismos que gostam do frio; crescem melhor entre 15 e 20˚C), mesófilos
(crescem melhor entre 25 e 40˚C) e termófilos (organismos que gostam do calor; crescem
melhor entre 50 e 60˚C). Nenhum psicrófilo sobrevive no corpo humano, mas alguns são
conhecidos por causarem deterioração em alimentos refrigerados. A maioria das bactérias
que causam doença no homem são termófilas, pois crescem a uma temperatura próxima à
do corpo humano (37˚C).

Atividade 5

De acordo com o que você aprendeu, complete o quadro abaixo.

Psicrófilos

Mesófilos Organismos que crescem melhor entre 25 e 400C

Termófilos

Oxigênio – Estamos acostumados a pensar no oxigênio molecular (O2) como um


elemento essencial à vida, mas em algumas circunstâncias esse elemento pode se tornar um
gás venenoso, como, por exemplo, pode acontecer com alguns microrganismos. Esses, de
acordo com sua tolerância ao oxigênio, podem ser classificados em aeróbios obrigatórios
(necessitam de oxigênio para crescer), anaeróbios facultativos (crescem tanto na presença
como na ausência de oxigênio), anaeróbios obrigatórios (não sobrevivem na presença de
oxigênio) e microaerófilos (crescem na presença de oxigênio, porém, em concentrações
inferiores àquelas do ar).

Essa tolerância ao oxigênio é determinada pela capacidade do microrganismo de produzir


algumas enzimas que degradam os produtos tóxicos formados no meio composto por oxigênio
molecular (O2), como, por exemplo, o radical superóxido (O2–), o peróxido de hidrogênio e o
radical hidroxila (OH). Os microrganismos que conseguem sobreviver na presença do oxigênio
molecular (O2) é porque escapam da toxicidade desses compostos produzindo enzimas que
convertem os compostos tóxicos em outros não tóxicos. Essas enzimas são a superóxido
dismutase, a catalase e a peroxidase. A superóxido dismutase converte o radical superóxido
em peróxido de hidrogênio e oxigênio molecular. Veja a equação abaixo.

84 Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica


A catalase e a peroxidase convertem o peróxido de hidrogênio em oxigênio e água e
somente água, respectivamente. Veja as equações abaixo.

O2– + O2– + 2 H+ superóxido dismutase 2H2O2 + O2


Radical Peróxido de Oxigênio
superóxido hidrogênio

2H2O2  Catalase 2H2O + O2
Peróxido de Água Oxigênio
hidrogênio

H2O2 + 2 H+ Peroxidase 2H2O


Peróxido de Água
hidrogênio

Os anaeróbios obrigatórios não conseguem crescer na presença do oxigênio molecular


(O2) porque não produzem essas enzimas e morrem na presença desses compostos tóxicos.
Veja na Figura 4 o efeito do oxigênio sobre o crescimento dos microrganismos.

a. Aeróbicos b. Anaeróbicos c. Anaeróbicos d. Microaerófilos


obrigatórios facultativos obrigatórios

Efeito do oxigênio sobre Somente crescimento Crescimento aeróbico e Somente crescimento Somente crescimento
o crescimento aeróbico; necessidade de anaeróbico; aumento do anaeróbico; não há aeróbico; necessidade
oxigênio. crescimento na presença crescimento na presença de oxigênio em baixas
de oxigênio. do oxigênio. concentrações.

Tubo de ensaio com


crescimento bacteriano
em meio sólido

Explicação para os padrões Crescimento somente após Melhor crescimento nas Crescimento nas regiões Crescimento ocorre onde
de crescimento a difusão de altas regiões de maior onde não há oxigênio. uma baixa concentração
concentrações de oxigênio concentração de oxigênio, de oxigênio está difusa
para o meio de cultura. mas ocorre em todo o meio. no meio.

Explicações para os efeitos Presença das enzimas Presença das enzimas Ausência das enzimas que Produção de quantidades
do oxigênio catalase e superóxido catalase e SOD permite a neutralizam as formas letais das formas tóxicas
dismutase (SOD) permite a neutralização das formas tóxicas do oxigênio; não de oxigênio quando
neutralização das formas tóxicas de oxigênio; pode tolera oxigênio. expostos à atmosfera
tóxicas de oxigênio; pode usar oxigênio. normal de oxigênio.
usar oxigênio.

Figura 4 – Efeito do oxigênio sobre o crescimento de diferentes bactérias

Fonte: Tortora, Funke e Case (2005).

Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica 85


Atividade 6
De acordo com o que você aprendeu, responda: por que alguns microrganismos
não conseguem sobreviver na presença do oxigênio?

Pressão osmótica – Esse termo é definido como a pressão necessária para impedir o
Solução isotônica fluxo de água de um meio de maior concentração para um de menor concentração através de
quando a concentração de uma membrana semipermeável.
solutos é igual dentro e
fora da célula.
Os microrganismos retiram da água, presente em seu meio ambiente, a maioria dos seus
nutrientes solúveis. Portanto, eles necessitam de água para seu crescimento e seu conteúdo
celular é composto de cerca de 80 a 90% de água. Dessa forma, quando uma célula microbiana
Solução hipertônica está num meio aquoso, não devem existir grandes diferenças na concentração de solutos
quando a concentração de dentro e fora, ou as células poderiam perder água ou romper-se.
solutos do meio é maior
do que a do interior Quando uma célula está em uma solução isotônica, o fluxo de água para dentro e para
da célula. fora da célula está em equilíbrio e a célula cresce normalmente. Porém, a água presente
dentro da célula pode ser removida por elevações na pressão osmótica. Por exemplo, quando
uma célula microbiana se encontrar em uma solução hipertônica, ou seja, contendo uma
Hipotônico
concentração de solutos superior àquela do interior da célula, ocorrerá a passagem de água
Solução hipotônico: de dentro da célula para o meio através da membrana plasmática e o crescimento microbiano
quando a concentração de
solutos do meio é menor
será inibido. Esse fenômeno de perda de água pela célula é chamado de plasmólise. Ao
do que a do interior contrário, quando o meio é hipotônico contendo uma concentração menor de solutos, a água
da célula. flui para dentro da célula rompendo-a. Veja na Figura 5 uma célula em uma solução isotônica,
hipotônica e hipertônica.

86 Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica


a b c
Soluto
Parede Membrana
Citoplasma
celular plasmática

Solução hipotônica (hiposmótica) - Solução hipertônica


a água se move para dentro da (hiperosmótica) -
Solução isotônica (isosmótica) - célula e pode causar sua ruptura se a água se move para fora da célula,
sem movimento total de água a parede estiver fraca ou danificada fazendo sua membrana plasmática
(liseosmótica) encolher (plasmólise)

Figura 5 – Uma célula em uma solução a) isotônica, b) hipotônica e c) hipertônica

Fonte: Tortora, Funke e Case (2005).

Atividade 7
Baseado no que aprendeu, responda: por que você acha que salgando a carne,
ela dura mais tempo, mesmo fora da geladeira?

Entenda que os mesmos fatores que afetam o crescimento microbiano podem ser utilizados
como estratégias para controlar os mesmos, desde que você altere as condições ótimas de
cada fator. Por exemplo, quando colocamos um alimento na geladeira estamos impedindo
que os microrganismos mesófilos cresçam nesse alimento, pois esses microrganismos não
crescem na temperatura da geladeira, que é em torno de 4˚C.

Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica 87


Resumo
Nesta aula, você aprendeu que o crescimento microbiano pode ser definido
como um aumento no número de células, e não um aumento de tamanho. Você
aprendeu, também, que os microrganismos procarióticos se multiplicam por um
mecanismo chamado de divisão binária, no qual uma célula parental se parte em
duas células idênticas e que algumas espécies podem se multiplicar por outro
mecanismo chamado de brotamento. E, ainda, que durante seu crescimento,
o microrganismo passa por diferentes fases. Finalmente, você compreendeu
que cada espécie microbiana possui exigências próprias com relação a fatores
nutricionais e físicos para seu crescimento. Por fim, você compreendeu que os
mesmos fatores que afetam o crescimento microbiano podem ser usados para
controlar seu crescimento.

Autoavaliação
Explique o que é crescimento microbiano.
1
Qual o significado do crescimento exponencial de uma cultura microbiana?
2
Discuta a utilização nutricional do carbono e do nitrogênio pelos microrganismos.
3
Descreva como os microrganismos aeróbios, anaeróbios e facultativos crescem em
4 meio de cultivo com ágar de camada alta.

Se uma espécie microbiana é produtora da enzima superóxido dismutase, o que se


5 pode dizer sobre sua fisiologia?

Quais as principais condições físicas que devem ser consideradas no cultivo


6 dos microrganismos?

O que é pressão osmótica e como ela afeta o crescimento das células microbianas?
7

88 Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica


Referências
BLACK, J. G. Microbiologia fundamentos e perspectivas. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara Koogan, 2002.

PELCZAR, M. J. et al. Microbiologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makon Books, 1996.

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. I. Microbiologia. 8. ed. Porto Alegre: Editora
Artmed, 2005.

Anotações

Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica 89


Anotações

90 Aula 4 Metabolismo da Vida Microscópica


Obtenção de energia
para a vida microbiana

Aula

5
Apresentação

V
ocê estudou na Aula 4, Crescendo na diversidade, que o crescimento dos
microrganismos depende das condições ambientais. Dentre essas condições está
o suprimento de energia que os seres necessitam para seu metabolismo. Agora, Metabolismo

você vai se surpreender com a variedade de substratos e modos de obtenção de energia conjunto de todas as
reações bioquímicas que
utilizados pelos microrganismos.
ocorrem em uma célula ou
organismo.
Nesta aula, vamos identificar alguns desses substratos. Vamos também descrever
e distinguir os processos de obtenção de energia pelos microrganismos, que incluem a
fermentação, a respiração aeróbica e a respiração anaeróbica. Outro processo, a fotossíntese,
Substrato
será estudado posteriormente em outra aula. Ao final, você entenderá que os microrganismos
apresentam uma diversidade metabólica muito superior à dos organismos macroscópicos, substância ou material que
serve de base ou suporte.
como plantas e animais. Essa diversidade é uma fonte riquíssima de produtos a serem utilizados
Nesse caso, substrato
pelos humanos. Vamos descobrir! é a substância doadora
de elétrons no processo
de oxidação que fornece
energia para a célula.

Objetivos
Listar os tipos de substratos que podem ser utilizados por
1 microrganismos como fonte de energia.

Distinguir os diferentes processos de obtenção de energia


2 pelos microrganismos.

Descrever resumidamente a respiração aeróbica, a


3 respiração anaeróbica e a fermentação.

Identificar algumas diferenças da respiração aeróbica em


4 procariotos e eucariotos.

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 93


Os seres vivos estão
sempre precisando de energia
Atividade 1
Iniciaremos esta aula refletindo por que os microrganismos precisam de
energia. Baseado no que você reconhece como funções básicas de todo ser vivo,
liste quais atividades da célula microbiana requerem energia.

Sua lista provavelmente contém algumas das seguintes atividades: mobilidade através do
movimento de flagelos; transporte de substâncias do meio para o interior da célula (absorção
de nutrientes) e da célula para o meio (excreção de resíduos e secreção de substâncias ativas);
reprodução; reparo de danos e manutenção da integridade celular; manutenção da pressão
Bioluminescência osmótica constante na célula; bioluminescência. Além de todas essas atividades, as células
A emissão de luz da
precisam de energia para a biossíntese de novas macromoléculas, que é o trabalho de maior
cadeia de transporte demanda energética da célula.
de elétrons de certos
organismos vivos (a
cadeia de transporte de
elétrons será vista mais
adiante no texto
dessa aula). Na biossíntese, moléculas orgânicas complexas são sintetizadas a partir de
moléculas mais simples. Exemplos de processos biossintéticos são a formação
de proteínas a partir de aminoácidos, ácidos nucleicos a partir de nucleotídeos
e polissacarídeos a partir de monossacarídeos. A síntese de macromoléculas é
necessária para a formação de componentes celulares, tais como parede celular,
membrana citoplasmática, flagelos, citoplasma etc.

94 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


De onde a célula retira a energia necessária para todas essas atividades? Você já deve
ter ouvido falar em um composto chamado adenosina trifosfato ou trifosfato de adenosina, o
ATP. A molécula de ATP (Figura 1) acumula ligações de alta energia dentro da célula. Quando
a célula precisa realizar a biossíntese ou outra atividade celular, a energia necessária é cedida
pelas moléculas de ATP.

Essas moléculas são formadas por adenina (uma base nitrogenada), ribose (um açúcar
com cinco átomos de carbono) e três grupos fosfato. O símbolo “~” representa uma ligação
de “alta energia”, que pode ser prontamente quebrada para liberar energia utilizável pela célula.
Quando o ATP se degrada em ADP e fosfato inorgânico, grande quantidade de energia química
é liberada para uso em outras reações químicas.

NH2
Adenina
N C
C N
HC
C CH
O– O– O– N N

O P~ O P~ O P O CH2 O

O O O H H Ribose
H H

HO OH

AMP
ADP
ATP

Figura 1 – Molécula de adenosina trifosfato (ATP)

Fonte: Adaptado de Barbosa e Torres (2005).

Atividade 2
A energia química das ligações de alta energia do ATP é liberada quando o grupo
1 fosfato terminal é retirado da molécula, resultando na formação de outro composto
com menos energia. Analise a Figura 1 e descubra qual é esse composto. Depois,
escreva seu nome completando a reação abaixo.
ATP → _______ + fosfato + energia

Agora, descubra qual é a reação geral de formação de ATP. Basta escrever a reação
2 inversa da anterior:

________ + fosfato + __________ → ATP

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 95


Vamos à produção do ATP
Para saber como o ATP é produzido na célula a partir do ADP, precisamos descobrir
de onde vem a energia para essa produção. A maioria dos microrganismos retira do ambiente
compostos orgânicos ou inorgânicos que serão as fontes de energia para a produção de ATP.
Outros organismos usam a luz. Os microrganismos extraem a energia de uma (ou mais)
dessas fontes, e transferem essa energia para o ATP. Por exemplo, muitos microrganismos
usam compostos orgânicos, como carboidratos, proteínas ou lipídios como fonte de energia.
Primeiro, os microrganismos assimilam esses compostos do ambiente. Em seguida, as células
oxidam (veja a Figura 2) esses substratos, extraindo deles a energia para produzir ATP.
Dessa maneira, os microrganismos convertem diferentes fontes de energia em uma “moeda
energética” única, que é o ATP.

Em eventos de oxidação-redução, um elétron é transferido da molécula A para


a molécula B. A molécula A, que perde elétrons, é oxidada. A molécula B, que
ganha elétrons, é reduzida. Muitas vezes, a reação de oxidação-redução (também
chamada reação redox) produz energia, como é o caso da oxidação biológica.

Redução

e–

A B A oxidada B reduzida

Oxidação

Figura 2 – Oxidação-redução

Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002).

E quais são os processos através dos quais as células oxidam os substratos, extraindo
deles a energia que é transferida para o ATP? Os microrganismos produzem ATP oxidando
diferentes substâncias através da respiração ou fermentação. Na respiração, que pode ser
aeróbica ou anaeróbica, substâncias orgânicas ou inorgânicas podem ser fonte de energia,
dependendo do microrganismo. Na fermentação, a energia é retirada apenas de substâncias
orgânicas, ao passo que na fotossíntese a fonte de energia é a luminosa.

96 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


Mas, lembre-se de que esses modos de obtenção de energia não acontecem todos em
uma mesma célula. Assim como os animais, muitas bactérias, os fungos e os protozoários
utilizam a respiração ou também a fermentação para obter ATP. Já as algas e várias bactérias,
assim como as plantas, utilizam essencialmente a fotossíntese. A seguir, descreveremos essas
formas de obtenção de energia, exceto a fotossíntese, que será estudada em outra aula. Antes
de prosseguir, resolva a Atividade 3.

Atividade 3
Resuma na tabela a seguir as informações que você acabou de estudar.

Processo de
Microrganismos Origem da energia
obtenção de energia

Respiração aeróbica

Composto orgânico ou
Respiração anaeróbica
inorgânico

Fermentação

Bactérias verdes

Bactérias púrpuras
Fotossíntese
Cianobactérias

Algas

Respiração aeróbica
Veremos agora uma série de reações necessárias à respiração celular aeróbica, ou seja,
que ocorre apenas em ambientes onde o oxigênio está presente. A respiração aeróbica se dá
em três etapas, de forma semelhante em eucariotos (incluindo animais e plantas superiores)
e procariotos aeróbicos. Algumas diferenças existem. Vamos descobrir.

Nós demoramos vários minutos para


compreender como a respiração celular acontece; mas
dentro célula, tudo isso ocorre em algumas poucas
frações de segundos!

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 97


Microrganismos gostam de glicose
Você leu há pouco que substâncias orgânicas como carboidratos, proteínas ou lipídios
podem ser usadas como fonte de ATP pela célula. A maioria dos microrganismos utiliza
carboidratos, sobretudo a glicose como a principal fonte de energia celular. A glicose é o
carboidrato mais abundante na natureza. Para compreender a respiração aeróbica, vamos
estudar como esse processo ocorre usando a glicose como modelo de substrato. A respiração
aeróbica usando a glicose acontece em três etapas sucessivas: a glicólise, o ciclo de Krebs
e a cadeia respiratória. Veremos essas etapas logo mais.

H
H O C H
H
H C O H
C O H H C
H O C C O H
H O H

Hidrogênio

Carbono

Oxigênio

Figura 3 – Molécula de glicose

Fonte: <http://science9.wordpress.com/2007/04/>. Acesso em: 7 out. 2009.

Atividade 4
Analise a Figura 3 e complete a fórmula da molécula de glicose, indicando o número de
átomos de cada elemento:

C__H__O__

98 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 5
Nós, humanos, assim como muitas bactérias, fungos e protozoários,
precisamos obter a glicose para a respiração a partir dos alimentos disponíveis
no meio. Microrganismos retiram a glicose do solo, da água, de tecidos animais
e plantas onde se hospedam. Pesquise sobre a glicose em livros ou na internet
e faça uma lista de alimentos que são ricos desse carboidrato.

Quebrando o açúcar na glicólise


Vimos que a glicólise é a primeira etapa da respiração aeróbica. Glicólise significa “quebra
do açúcar”, e é exatamente o que acontece. Nesse processo, a glicose, que é um açúcar
composto por seis átomos de carbono, é quebrada em duas moléculas de um açúcar contendo
três carbonos cada, chamado piruvato ou ácido pirúvico. Esse processo gera energia, usada
para produzir duas moléculas de ATP. Aqui, o ATP é formado quando um fosfato de alta
energia é diretamente transferido de um composto fosforilado (um substrato, no caso a NAD +
glicose) para a molécula de ADP. A formação do ATP por essa via é chamada fosforilação
Abreviação do nome da
em nível de substrato, e pode ser representada no seguinte exemplo: molécula transportadora
de elétrons chamada
C-C-C~fosfato + ADP → C-C-C + ATP nicotinamida adenina
Substrato orgânico dinucleotídeo (forma
oxidada).

O que mais acontece na glicólise? Lembre-se de que o objetivo da respiração é produzir


ATP. Nessa primeira etapa da respiração, cada molécula de glicose oxidada gera um
NADH
rendimento de apenas duas moléculas de ATP. Isso é pouco para a célula. Mas, a função da
glicólise não para por aí: a maior parte da energia da molécula de glicose está contida nos seus Abreviação do
nome da molécula
elétrons. Lembre-se de que um composto é oxidado quando perde elétrons. Na glicólise, a transportadora de
molécula de glicose é oxidada. Ou seja, os elétrons ricos em energia da glicose são extraídos e elétrons chamada
transferidos para outra molécula, chamada NAD +. Quando o NAD + recebe esses elétrons nicotinamida adenina
dinucleotídeo (forma
energizados, ele se converte em NADH
NADH. reduzida).

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 99


Veja a Figura 4. Ela representa a oxidação biológica. Dois elétrons e dois prótons
(juntos equivalem a dois átomos de hidrogênio) são transferidos de uma molécula orgânica
para uma coenzima, NAD +. NAD +, na realidade, recebe um átomo de hidrogênio e um
elétron, e um próton é liberado no meio. NAD+ é reduzido a NADH, que é uma molécula
mais rica em energia.

Redução

+ e–
H H
(próton)
H+

Molécula orgânica Coenzima NAD + Molécula orgânica NADH + H + (próton)


que inclui dois átomos (transportador de elétron) oxidada (transportador de
de hidrogênio elétron reduzido)
Oxidação

Figura 4 – Representação da oxidação biológica

Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002).

Na glicólise, duas moléculas de NADH são formadas para cada molécula de glicose
oxidada. E qual é a função do NADH? É a de carreador de elétrons ricos em energia. Você verá
adiante que a energia desses elétrons transportados pelo NADH é usada para a produção de
ATP na última etapa da respiração, chamada de cadeia respiratória (ou cadeia de transporte
de elétrons) e quimiosmose.

Atividade 6
Faça aqui uma relação dos produtos resultantes da glicólise, a primeira etapa da
1 respiração. Considere o número de moléculas resultantes para cada molécula de
glicose que entra no processo.

Produto formado Número de moléculas produzidas

1.

2.

3.

100 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


Baseado no que você estudou até agora, explique com as suas palavras como ocorre
2 a formação do NADH e qual é sua função na célula.

Continuando a quebra do açúcar:


a transformação do piruvato e o ciclo de Krebs
GLICÓLISE
Glicose

2 NADH 2 ATP
+2H + 2 Ácido
pirúvico

2 NADH 2 CO2

+2H +
2 Acetil CoA
Passo preparatório

6 NADH
CICLO DE
+6H + 4 CO2
KREBS

2 FADH2
6 CO2
(Total)
+10H +
10 NADH2
2 FADH2
(Total) 2 ATP

Elétrons

34 ATP
Cadeia de
transporte 6 O2 + 12H +
de Elétrons e
Quimiosmose 6 H2O 38 ATP
(Total)

Figura 5 – Resumo da respiração aeróbica em procariotos


Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002).

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 101


A partir de agora, passe a acompanhar o texto com a ajuda da Figura 5. A quebra da
glicose vai continuar até que toda a energia desse composto tenha sido extraída e convertida
em ATP. Você se lembra de que na glicólise, para cada molécula de glicose (seis átomos de
carbono) que é oxidada, são produzidas duas moléculas de piruvato (três átomos de carbono),
duas de ATP e duas de NADH? Agora, uma série de reações transforma cada molécula de
piruvato em uma molécula de acetil coenzima-A (ou acetil Co-A), que contém dois átomos
de carbono (veja a Figura 5). Os átomos de carbono que foram extraídos das duas moléculas
de piruvato são liberados pela célula na forma de gás carbônico. Essa etapa é considerada
preparatória ao ciclo de Krebs.

Com a formação da molécula de acetil Co-A, tem início de fato o ciclo de Krebs.
As próximas etapas envolvem um ciclo de reações complexas, onde a molécula orgânica (agora
na forma de acetil Co-A) continua sendo degradada. Os dois átomos de carbono que restaram
da molécula de glicose são extraídos das moléculas de acetil Co-A e liberados da célula na
forma de CO 2 (Figura 5).

Atividade 7
Baseado no que você aprendeu, indique na tabela a seguir os números de átomos
1 de carbono em cada produto formado nas sucessivas etapas da respiração celular
tendo a glicose como substrato inicial.

Etapas Composto Número de átomos de carbono em cada molécula

Início da glicólise Glicose

Final da glicólise Piruvato

Acetil coA

Etapa preparatória do ciclo de Krebs

CO2

Final do ciclo de Krebs CO2

102 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


Agora, responda: se a molécula de glicose contém seis átomos de carbono, quantas
2 moléculas de gás carbônico são formadas na célula para cada molécula de glicose
que entra no processo de respiração? Confira sua resposta na Figura 5.

Repare que o substrato (a glicose, no caso) foi continuamente quebrado na


glicólise, etapa preparatória e ciclo de Krebs. Ao final desse ciclo, a glicose tinha
sido totalmente quebrada. O que mais acontece no ciclo de Krebs e na etapa
preparatória que a antecede?

Durante a transformação do piruvato em acetil Co-A, o piruvato é oxidado (perde


elétrons) e o NAD + é reduzido (ganha elétrons) a NADH. No total, são produzidas duas
moléculas de NADH para cada glicose oxidada (veja a Figura 5). Já no ciclo de Krebs, as FADH 2
reações que transformam acetil Co -A em CO 2 produzem seis moléculas de NADH e duas Abreviação do nome da
moléculas de FAD
FADH 2 para cada molécula inicial de glicose. O FADH2 é formado quando a molécula transportadora
molécula de FAD captura os elétrons extraídos durante a oxidação do substrato. O FADH2 de elétrons chamada
flavina adenina
possui a mesma função do NADH, ou seja, a de transporte de elétrons energizados para dinucleotídeo (forma
serem usados na cadeia respiratória. reduzida).

Igualmente ao que aconteceu na glicólise, elétrons ricos em energia são retirados do piruvato
e do acetil Co-A, e imediatamente transferidos para as moléculas transportadoras, NAD + e
FAD
FAD, que são então convertidas em NADH e FADH 2, respectivamente (veja a Figura 5).
Abreviação do
As moléculas de NADH e FADH2 produzidas na etapa preparatória e no ciclo de Krebs terão
nome da molécula
o mesmo destino daquelas produzidas na glicólise. Ou seja, os elétrons transportados por transportadora de
essas moléculas serão usados para a produção de ATP na última etapa da respiração, a cadeia elétrons chamada
flavina adenina
respiratória, que veremos adiante. As reações do ciclo de Krebs produzem ainda duas moléculas
dinucleotídeo (forma
de ATP para cada molécula de glicose que entra no processo de respiração (veja a Figura 5). oxidada).

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 103


Atividade 8
Faça aqui uma relação dos produtos resultantes da etapa de transformação do
piruvato (preparatória para o ciclo de Krebs), do ciclo de Krebs. Considere o número
de moléculas resultantes para cada molécula de glicose que entra no processo.

Produto formado Número de moléculas

1.

2.

3.

4.

A cadeia respiratória e a quimiosmose:


o que acontece com os elétrons
transportados pelo NADH e pelo FADH 2?
Lembre-se de que o objetivo da respiração é produzir ATP, que a célula usa em diversas
atividades celulares. Porém, você notou que a glicólise e o ciclo de Krebs produzem poucas
moléculas de ATP (apenas quatro). Por outro lado, foram produzidas dez moléculas de NADH
e duas de FADH 2 (veja a Figura 5). Essas moléculas carregam elétrons ricos em energia,
que foram extraídos da matéria orgânica (glicose, no caso). É a energia desses elétrons que a
cadeia respiratória vai usar para produzir muitas moléculas de ATP.

Todos os NADH e os FADH2 produzidos na glicólise e no ciclo de Krebs são


conduzidos para a cadeia respiratória, também chamada de cadeia de transporte de elétrons
(veja a Figura 6). Ela consiste de uma sequência de moléculas transportadoras associadas à
membrana citoplasmática (procariotos) ou mitocondrial (eucariotos). Os NADH liberam na
cadeia seus elétrons ricos em energia. Os elétrons são então transferidos na sequência de
moléculas transportadoras da cadeia. Na medida em que os elétrons são passados através
da cadeia, ocorre uma gradual liberação de energia, em várias etapas. Essa energia é usada
para a síntese de ATP a partir de ADP e fosfato através do mecanismo de quimiosmose,
mostrado logo a seguir, na Figura 6.

104 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


Respiração NADH
Glicólise NADH NAD +
ATP
Cadeia de transporte de elétrons
NADH
FADH2
FAD
Ciclo de Krebs
FMN F l u xo
de el
é tr on
Q s
Cyt b
Fermentação Cyt c1
ATP
2 H+
ATP Cyt c
Cyt a
Legenda:
Cadeia de Cyt a3
transporte de
1
elétrons e quimiosmose Redução 2 O2

Energia H2O
Oxidação

2 Alta concentração de H +

H+ H+

Cadeia de
transporte de Membrana
elétrons (inclui Citoplasmática
bomba de prótons)

ATP
1 sintase

ADP + P
Energia de
luz solar ATP
ou NADH

Baixa concentração de H +

Figura 6 – Cadeia de transporte de elétrons. O diagrama na lateral indica a relação da cadeia de transporte de elétrons com o processo
total da respiração

Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002).

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 105


Há quatro classes de moléculas transportadoras na cadeia de transporte de elétrons:
desidrogenases, proteínas ferro-enxofre, quinonas e citocromos. Com exceção
às quinonas, as demais moléculas são proteínas. Há uma grande variação da
composição exata das moléculas transportadoras nos diferentes organismos. Por
exemplo, em eucariotos, a entrada de elétrons na cadeia de transporte de elétrons
mitocondrial é feita através de apenas duas desidrogenases (NADH desidrogenase
e succinato desidrogenase). Já nas bactérias existem outras desidrogenases que
oferecem outras entradas alternativas para os elétrons depositados na cadeia pelos
NADH produzidos na glicólise e ciclo de Krebs. Em bactérias, uma molécula
transportadora particular e a ordem em que ela atua na cadeia pode diferir daquelas
de outras bactérias.

No final da cadeia de transportes de elétrons está o O 2. A função do oxigênio na cadeia


respiratória é a de atrair os elétrons que foram entregues na cadeia pelo NADH. Ao final dessa
cadeia, os elétrons se unem a prótons (H+) e ao oxigênio para formar água (H 2O). Por isso, o
O 2 é chamado aceptor final de elétrons da respiração aeróbica (veja na Figura 6).

O mecanismo de síntese de ATP que utiliza a cadeia de elétrons é chamado de


quimiosmose. A maioria do ATP gerado pela respiração aeróbica é obtida pelo mecanismo
de quimiosmose, durante a fase da cadeia de transporte de elétrons. A sequência de eventos
na quimiosmose está descrita a seguir (veja também a Figura 6).

1) Os elétrons energizados do NADH e do FADH2 são transferidos para as moléculas


transportadoras (flavina ou coenzima Q, por exemplo) no início da cadeia. Lembre-se de
que esses transportadores estão localizados na face interna da membrana. Alguns desses
transportadores na cadeia bombeiam prótons (H +) através da membrana para sua face
externa. Tais moléculas transportadoras são chamadas bombas de prótons.

2) A membrana é normalmente impermeável a esses prótons. Por isso, em um determinado


momento, os prótons se acumulam na face externa da membrana. Isso gera um gradiente
de concentração de prótons, ou seja, uma maior quantidade de prótons na face externa em
relação à interna. O excesso de H+ na face externa torna esse lado positivamente carregado
em relação ao outro lado da membrana. O gradiente eletroquímico resultante gera uma
reserva de energia potencial, chamada de força próton motiva.

3) Os prótons acumulados na face externa da membrana podem se difundir através da


membrana exclusivamente por meio de canais formados por proteínas especiais que
contêm uma enzima chamada adenosina trifosfatase (ATP sintase). Quando este fluxo
de H + em direção ao interior da célula ocorre, energia é liberada e é utilizada pela ATP
sintase para fabricar ATP.

106 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


O processo de respiração aeróbica é basicamente o mesmo em qualquer célula viva, com
algumas poucas variações. O local onde essas reações ocorrem, por exemplo, difere entre
procariotos e eucariotos.

Atividade 9
Analise a Figura 7 a seguir e descubra que diferenças são essas. Depois, escreva suas
conclusões no espaço abaixo.

Procariotos
Eucariotos

Glicose
Glicose
Glicólise ATP
Glicólise ATP NADH
NADH
Piruvato
Piruvato Mitocôndria

CO2
CO2 Ciclo NADH
Ciclo de Krebs FADH2
NADH
de Krebs FADH2 ATP
ATP

Cadeia de transporte de elétrons


Cadeia de transporte de elétrons

Figura 7 – Localização das etapas da respiração em eucariotos e procariotos

Fonte: Adaptado de Briggs et al. (2009)

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 107


Atividade 10
Baseado no que você acabou de aprender, complete a reação geral da respiração
1 aeróbica:

1______+ 6 O 2 + _______ + 38 P → _____ +______+_____Glicose

Analisando o metabolismo microbiano, você é capaz de explicar agora, em poucas


2 palavras, o que acontece quando os alimentos “estragam”?

Microrganismos também extraem a


energia de substâncias inorgânicas usando o O2
Acabamos de estudar as etapas da respiração aeróbica usando a glicose como exemplo
de substrato. Já mencionamos que outras substâncias orgânicas, como proteínas e lipídios,
também podem ser fonte de energia. Repare agora que procariotos podem usar também
moléculas inorgânicas como fonte de energia para a síntese de ATP. Nesse caso, a energia
derivada da oxidação de compostos inorgânicos como a amônia (NH 3 ), o nitrito (NO2–),
o sulfeto de hidrogênio (H2S ) e íons ferro (Fe2+) é transferida e armazenada na molécula
de ATP. A produção de ATP acontece também através de uma cadeia de transporte de
elétrons e quimiosmose.

108 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


Respirando quando falta o oxigênio
Vimos até agora como acontece a respiração quando o aceptor final de elétrons é o
oxigênio. Mas, para alguns procariotos, existem outras formas de “respirar”. Muitas bactérias
usam outras substâncias no lugar do O2 ao final da cadeia respiratória. Isso é a respiração
anaeróbica. Essas bactérias são capazes de viver em ambientes com pouco ou nenhum
oxigênio. Por isso, são chamadas de bactérias anaeróbias. Tais bactérias têm sido bastante
estudadas para serem usadas em tratamentos de esgotos, como veremos em outra aula. É
bom lembrar que eucariotos não têm capacidade de substituir O2 na cadeia respiratória!

Assim como a respiração aeróbica, o processo anaeróbico também conta com uma
cadeia de transporte de elétrons para gerar ATP. Para as bactérias anaeróbias, o aceptor
final de elétrons é geralmente inorgânico, embora compostos orgânicos (por exemplo, uma
substância orgânica chamada fumarato) também podem funcionar como aceptor de elétrons
na cadeia respiratória. Alguns exemplos podem ser vistos a seguir.
Tabela 1 – Exemplos de procariotos que usam compostos diferentes do O2 na respiração

Bactéria Aceptor final de elétrons na respiração anaeróbicat

Pseudomonas NO3–

Desulfovibrio SO42–

Methanococcus CO2

Geobacter metallireducens Fe3 +

O metabolismo anaeróbico induz muitas modificações no metabolismo dos procariotos.


Por exemplo, várias enzimas que participam do ciclo de Krebs deixam de ser sintetizadas na
ausência do O2. Como resultado, algumas bactérias anaeróbicas sintetizam enzimas com
funções semelhantes às aeróbicas; em outras, o ciclo de Krebs ocorre apenas parcialmente;
outros tipos de bactérias ainda eliminaram o ciclo de Krebs e desenvolveram outras rotas
metabólicas para extrair os elétrons do substrato. A cadeia de transporte de elétrons também
não é completa na respiração anaeróbica. Portanto, esse tipo de respiração apresenta um
rendimento energético menor do que a respiração aeróbica. O número de moléculas de ATP
formado é variável entre os organismos anaeróbicos.

Estou começando a entender por que os


cientistas dizem que os procariotos apresentam
uma grande diversidade metabólica!

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 109


Atividade 11
Faça uma pesquisa em livros e na internet e descubra em quais ambientes
podemos encontrar bactérias anaeróbicas. Registre no espaço abaixo os
resultados de sua pesquisa.

Que bom que a


fermentação existe!
Outro modo de obtenção de energia por microrganismos é a fermentação. Assim como
na respiração anaeróbica, a fermentação não requer o oxigênio, embora o processo possa
ocorrer na presença de O2. Nesse caso, o aceptor final de elétrons é um composto orgânico
originado da própria oxidação do substrato! Ou seja, a célula encontra o aceptor final no seu
citoplasma, e não no ambiente (como é o caso do O2 , NO3–, do SO42– etc.).

A humanidade utiliza a fermentação para fabricar alimentos e bebidas há muitos


Leveduras
séculos. O pão, por exemplo. Quem não gosta de um pão quentinho com
fungos microscópicos, manteiga? Para fabricar o pão, os egípcios já usavam o fermento por volta do
unicelulares e
não-filamentosos, ano 7.000 antes de Cristo! Esse ingrediente é formado por leveduras da espécie
com células ovais ou Saccharomyces cerevisiae.
esféricas.

110 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


Figura 8 – Células de Saccharomyces cerevisiae observadas através de microscópio

Fonte: <http://users.rcn.com/jkimball.ma.ultranet/BiologyPages/Y/Yeast.html>. Acesso em: 7 out. 2009.

Vamos entender a fermentação usando novamente a glicose como modelo. O processo


de quebra da glicose inicia-se da mesma maneira como foi descrito para a respiração
aeróbica. Lembre-se de que a primeira etapa da respiração é a glicólise. Nos microrganismos
fermentadores, como leveduras e muitas bactérias, o processo tem início também pela glicólise.

Atividade 12
Você recorda quais são os produtos formados durante a glicólise? Escreva-os aqui.

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 111


Assim como na respiração aeróbica, a oxidação do substrato (no caso a glicose) na
fermentação inicia-se pela conversão da glicose em ácido pirúvico. Essa etapa é acompanhada
pela produção de ATP e pela transferência de elétrons do substrato para a coenzima NAD+,
gerando duas moléculas NADH (veja a Figura 8). Mas, na fermentação, ao contrário do que
acontece na respiração, falta um aceptor final de elétrons exógeno (retirado do meio). A falta
desse aceptor final de elétrons impede que os elétrons energizados sejam transferidos para uma
cadeia de transporte. Assim, no segundo passo da fermentação esses elétrons são transferidos
das coenzimas reduzidas (NADH) diretamente para o ácido pirúvico ou a um composto
orgânico derivado deste, originado pela própria oxidação do substrato (veja a Figura 8).
O composto resultante (produto final da fermentação) é eliminado para o meio externo. As
coenzimas (NAD+) são então regeneradas para participarem de nova glicólise.

a Glicólise

Respiração Glicose

Glicólise NADH
NADH
ATP
2 NAD + 2 ADP

2 NADH 2 ATP
Ciclo de Krebs
2 Ácido pirúvico

Fermentação Ácido pirúvico 2 NADH


ATP (ou derivados)
ATP
2 NAD +

Cadeia de Formação de
transporte de
elétrons e quimiosmose produtos finais
da fermentação

b
Ácido pirúvico

Streptococcus, Saccharomyces Propionibacterium Clostridium Escherichia, Enterobacter


Organismos Lactobacillus, (levedura) Salmonella
Bacillus

Ácido lático Etanol Ácido propiônico, Ácido butírico, Etanol, Etanol, ácido lático,
ácido acético, butanol, ácido lático, ácido fórmico,
Produtos Finais e CO2 acetona, ácido succínico, butanodiol,
da Fermentação CO2 e H2 álcool isopropílico ácido acético, acetoína,
e CO2 CO2 e H2 CO2 e H2

Figura 9 – Representação do processo de fermentação. O diagrama indica a relação da fermentação e da respiração. a) Visão geral da
fermentação. b) Produtos finais de várias fermentações microbianas

Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002).

112 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 13

Analise e Figura 8 e compare a respiração com a fermentação. Quais etapas


da respiração faltam na fermentação? O texto que antecede essa figura pode
ajudá-lo a responder. Registre suas conclusões abaixo.

Sem o ciclo de Krebs, o substrato inicial é apenas parcialmente oxidado. Portanto, os


produtos finais da fermentação, excretados no meio, são moléculas orgânicas ainda ricas em
energia e podem ser utilizadas por outros organismos como fonte de energia. E como fica
o rendimento energético para o microrganismo que usa a fermentação para obter energia?
Bem, na fermentação, a produção de ATP é restrita apenas à primeira fase de oxidação do
substrato. Se o substrato inicial é a glicose, apenas duas moléculas de ATP são formadas
para cada molécula de glicose que entra no processo de fermentação.

Um exemplo de produto final da fermentação é o álcool que dá origem à produção


de cerveja, quando o substrato para o processo vem dos cereais. Todo mundo
sabe que cerveja é uma bebida com elevadas quantidades de calorias, ou seja,
rica em energia. Você já sabe por quê?

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 113


Atividade 14
O iogurte é uma bebida fabricada graças à fermentação do leite. Bactérias
do grupo lactobacilos se alimentam do açúcar do leite e produzem uma
substância azeda, chamada ácido lático. De acordo com o que você aprendeu
sobre fermentação, qual é, nesse exemplo, o substrato (fonte de energia) para
os lactobacilos? E qual é o aceptor final de elétrons?

Leituras complementares
http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/bitstream/handle/mec/2701/cadeia%20
transportadora_ATPsintase.swf?sequence=1

A cadeia transportadora de elétrons e a fosforilação oxidativa: trata-se de uma animação


que está disponível no Banco Internacional de Objetos Educacionais do MEC. Através desse
endereço, você vai poder entender melhor o mecanismo da cadeia de transporte de elétrons. Caso
o endereço não abra diretamente, vá em <http://objetoseducacionais2.mec.gov.br> e digite no
campo de busca “Cadeia de transporte de elétrons”. Em seguida, clique no link correspondente.

http://cienciahoje.uol.com.br/105458

Os segredos da fermentação: este artigo da revista Ciência Hoje fala sobre a importância
do estudo da levedura Saccharomyces cerevisiae, envolvida no processo de fermentação da
cachaça de alambique no Brasil. Na parte de baixo da página, há um ícone que disponibiliza
o artigo completo.

http://cienciahoje.uol.com.br/147455

Álcool mais limpo: neste outro artigo da revista Ciência Hoje, você vai encontrar uma
matéria que retrata uma nova técnica de fermentação do álcool derivado da cana-de-açúcar,
que garante mais economia para as usinas e reduz o risco de danos ao meio ambiente.

114 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


Resumo
Nesta aula, abordamos a diversidade de processos que fornecem energia para
a manutenção e o crescimento (reprodução) da célula microbiana. Você teve
a oportunidade de compreender a importância do ATP para o fornecimento
de energia nas células vivas, em especial os microrganismos. Apresentamos
as classes de substratos que os microrganismos retiram do ambiente e usam
como fonte de energia em cada um desses processos. Discutimos as principais
diferenças e semelhanças das etapas da respiração aeróbica, anaeróbica e
fermentação. Foram apontadas algumas diferenças da respiração de procariotos
e eucariotos. Foi discutido, também, como microrganismos fermentadores têm
sido usados na fabricação de alimentos e bebidas.

Autoavaliação
Um dos objetivos desta aula foi fazer você identificar a diversidade de substratos
energéticos usados por microrganismos e descrever os respectivos processos de obtenção
de energia. Faça os exercícios abaixo para atestar se esses objetivos foram alcançados.

Observe a Figura 5 e descreva com suas palavras o processo de respiração aeróbica.


1

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 115


Complete a tabela abaixo sobre os processos de obtenção de energia por
2 microrganismos:

Processo de obtenção de energia Substratos Aceptor final de elétrons Produtos finais

Respiração aeróbica

Respiração anaeróbica

Fermentação

Descreva duas diferenças entre procariotos e eucariotos no processo de respiração.


3

Leia o texto “Os segredos da fermentação”, indicado nas Leituras complementares,


4 e responda as questões propostas.

a) Quais microrganismos podem ser usados para a fabricação da cachaça?

b) Qual é o substrato da fermentação nesse processo industrial?

116 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


c) Quais são os produtos finais dessa fermentação?

d) Qual é a importância desses produtos para o sabor da bebida?

Referências
BARBOSA, H. R.; TORRES, B. B. Microbiologia básica. São Paulo: Ed. Atheneu, 2005. 196p.

BRIGGS, B. et al. Teaching cellular respiration & alternate energy sources with a laboratory
exercise developed by a scientist-teacher partnership. The American biology teacher,
Washington, v. 71, n. 3, p. 164-167, 2009.

MADIGAN, M.T.; MARTINKO, J. M.; PARKER, J. Microbiologia de Brock. São Paulo: Prentice
Hall, 2004.

TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, C.L. Microbiologia. 6. ed. Porto Alegre: Ed. Artmed,
2000, 827p.

Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica 117


Anotações

118 Aula 5 Metabolismo da Vida Microscópica


Controlando os microrganismos

Aula

6
Apresentação

O
s microrganismos estão relacionados à transmissão de doenças, decomposição de
alimentos e contaminação da água e do ambiente. Portanto, eles estão diretamente
relacionados às atividades humanas. Assim, o bem-estar da humanidade depende em
grande parte do controle que se possa ter sobre a população dos microrganismos com vistas
à prevenção desses problemas. Nesta aula, estudaremos como é possível prevenir e evitar a
proliferação exagerada dos microrganismos por meio de métodos físicos e químicos e como,
ainda assim, eles utilizam estratégias para resistir a esses modos de controle.

Objetivos
Descrever os principais métodos físicos usados para
1 controlar o crescimento de microrganismos.

Descrever os principais métodos químicos usados para


2 controlar o crescimento de microrganismos.

Compreender os mecanismos de resistência microbiana


3 às drogas.

Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica 121


Por que controlar
os microrganismos?

T
odos nós e, em especial, muitos profissionais da área da saúde, estamos frequentemente
expostos a microrganismos potencialmente causadores de doenças. Como você já sabe,
de um modo geral, os microrganismos são capazes de sobreviver em ambientes com
diversas condições físicas. Entretanto, existe uma limitação dessa capacidade de sobrevivência
de um determinado microrganismo em um meio ambiente com condições desfavoráveis. É
com base nesse fato que o homem desenvolveu estratégias para o controle de microrganismos.

Atividade 1
Você conhece alguma forma que utilizamos no dia a dia para matar
microrganismos? Cite-as.

A necessidade de controlar os microrganismos


No século XIX já se faziam cirurgias, mas elas eram arriscadas e perigosas, pois os
pacientes submetidos mesmo a operações mais simples corriam um elevado risco de
infecção. Isso ocorria porque a cirurgia não era realizada sob condições assépticas. A sala de
operações, as mãos do cirurgião e os instrumentos cirúrgicos estavam sempre contaminados
com micróbios, o que causava elevados níveis de infecção e mortalidade. Naquela época, os
cirurgiões operavam frequentemente vestindo a mesma roupa com a qual saíam nas ruas e sem
lavar as mãos. De maneira habitual, eles enfiavam as agulhas que usavam para dar pontos no

122 Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica


paciente na gola do seu casaco. Os curativos cirúrgicos eram muitas vezes feitos com o algodão
que sobrava no chão das fábricas. Foi nesse contexto que o cientista francês Louis Pasteur
demonstrou que havia organismos invisíveis, os micróbios, que eram causadores de doenças.

O trabalho de Pasteur influenciou o cirurgião inglês Joseph Lister, que aplicou a teoria
dos germes de Pasteur nos procedimentos cirúrgicos. Fundou, assim, a cirurgia moderna, com
antissepsia. Para desinfetar o ambiente cirúrgico, Lister passou a utilizar uma solução de ácido
fênico (fenol), a qual era pulverizada em torno da sala de operação com um pulverizador de mão.

Figura 1 – Pasteur (1822-1895) e Lister (1827-1912)


Fonte: <http://www.textbookofbacteriology.net/Pasteur.jpg>; <http://www.
textbookofbacteriology.net/Lister.jpg>. Acesso em: 28 out. 2009.

Figura 2 – Cirurgia no século XIX utilizando o pulverizador de Lister com ácido carbólico.
Fonte: <http://www.textbookofbacteriology.net/earlysurgery.jpg>.
Acesso em: 28 out. 2009.

As técnicas propostas por Lister funcionaram de modo eficaz, aumentando as taxas de


sobrevivência dos pacientes durante a cirurgia. Mas, isso não foi aceito muito facilmente, uma
vez que os microrganismos não eram vistos a olho nu. Além disso, os cirurgiões tinham que
se submeter a respirar um composto irritante, que é o fenol.

Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica 123


Como é possível controlar
o crescimento microbiano?
O controle do crescimento microbiano é necessário em muitas situações práticas, e
significativos avanços na agricultura, na Medicina e na produção de alimentos têm sido feitos
através do estudo dessa área da Microbiologia.

Atividade 2

O que você entende por esterilização?

O controle do crescimento microbiano pode ser feito por meio de técnicas que inibem
o crescimento, matando os microrganismos ou removendo-os de um ambiente. Assim, os
agentes antimicrobianos podem ser divididos em agentes que matam os microrganismos,
ou bactericidas, e agentes que inibem o seu crescimento, ou bacteriostáticos. Esse controle
geralmente envolve o uso de agentes físicos ou químicos. Um bactericida mata bactérias, um
fungicida mata fungos, e assim por diante.

Em Microbiologia, o termo esterilização refere-se à destruição ou eliminação de todos


os organismos viáveis dentro ou sobre uma substância a ser esterilizada. Não há graus
intermediários de esterilização; assim, um objeto ou substância ou está estéril ou não está.

A esterilização pode ser realizada por vários métodos, como veremos a seguir.

124 Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica


Controle de microrganismos
por meios físicos
O calor é o método de esterilização mais largamente utilizado. Para uma esterilização
eficiente, deve-se considerar o tipo de calor, e o mais importante, a temperatura utilizada para
assegurar a destruição de todos os microrganismos.

 Incineração

Queima e destruição física dos organismos.

 Ebulição

Submissão do objeto contaminado a 100 °C por 30 minutos. Elimina tudo, exceto alguns
endósporos. Para matar endósporos e, portanto, esterilizar uma solução, um tempo muito
longo (> 6 horas) de ebulição é necessário.

 Autoclavação (vapor sob pressão ou panela de pressão)

A autoclave é o mais utilizado e mais eficiente meio de esterilização. Todas as autoclaves


operam em uma relação de tempo e temperatura. Essas duas variáveis são extremamente
importantes. As temperaturas mais elevadas eliminam os microrganismos mais rapidamente.

Figura 3 – Autoclave vertical

Fonte: <http://www.autoclaves-india.com/autoclaves_india/images/autoclaves_high_
pressure_4b.gif>. Acesso em: 28 out. 2009.

Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica 125


A temperatura padrão usual e a pressão empregadas na autoclave é de 121° C e 01 atm
de pressão durante 15 minutos. Às vezes, períodos mais longos são necessários para cargas
maiores, grandes volumes de líquidos ou materiais mais densos. A autoclave é ideal para
esterilizar resíduos de risco biológico, curativos cirúrgicos, vidros, diversos tipos de meios de
cultivo microbiológicos, líquidos e muitas outras coisas. No entanto, certos itens, tais como
plásticos e alguns instrumentos médicos (como, por exemplo, os endoscópios de fibra ótica)
podem não resistir à autoclavagem e devem ser esterilizados com esterilizantes químicos
ou de outra natureza. Quando as condições e o tempo adequados são empregados, nenhum
organismo vivo irá sobreviver a uma autoclave.

A autoclave é uma panela de pressão grande, que opera por meio de vapor sob pressão
como agente esterilizante. A maior parte do poder de aquecimento do vapor vem de seu calor
latente de vaporização. Essa é a quantidade de calor necessária para converter o vapor de
água fervente. O calor úmido é utilizado para matar os microrganismos porque ele causa a
desnaturação de proteínas essenciais na célula microbiana.

 Pasteurização

A pasteurização é um processo que reduz a população microbiana de um líquido, como o


leite, vinho e sucos de fruta. A denominação do processo é uma homenagem a Louis Pasteur,
o primeiro a utilizar a metodologia na produção de vinho.

Durante a pasteurização do leite, por exemplo, para ter resultados satisfatórios, o líquido é
aquecido a 71°C durante 15 segundos, e logo depois é rapidamente resfriado. A pasteurização
prolonga a vida útil de um produto e reduz o nível de patógenos nele presente. O processo é
chamado de pasteurização rápida.

Figura 4 – Aparelho pasteurizador

Fonte: <http://www.harmomilk.com.br/imagens/pastplacas.jpg>. Acesso em: 28 out. 2009.

126 Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica


 Esterilização por calor seco (estufa ou forno de Pasteur)

É realizada em temperaturas de 140 °C a 180 °C, com tempo de exposição de 60 a 120


minutos. O calor seco ou ar quente em temperatura suficientemente alta levam à desnaturação
e oxidação das proteínas, resultando na morte dos microrganismos. Este método é indicado
para esterilizar vidrarias, instrumentos de corte ou de ponta (os quais podem oxidar na presença
do vapor da autoclave) e materiais impermeáveis como ceras, pomadas e óleos.

 Radiação eletromagnética

É uma forma eficaz para esterilizar ou reduzir a carga microbiana de quase qualquer
substância. O forno de micro-ondas, a radiação ultravioleta (UV), os raios X, os raios gama e
elétrons são utilizados nesse processo, embora cada tipo de radiação tenha um mecanismo
específico de ação. A radiação ultravioleta (UV), que não penetra sólidos, é útil para a
desinfecção de superfícies, do ar e líquidos que não absorvem as ondas UV. Os raios gama e X,
que são mais penetrantes, são mais difíceis e caros, mas têm sido utilizados na conservação
de alimentos e outros processos industriais.

Atividade 3
Sabendo que a radiação gama inativa enzimas autocatalíticas, que participam do
processo de degradação natural, pesquise e descreva brevemente em que esse
tipo de radiação tem sido muito usado.

 Esterilização por filtração

Os microrganismos podem ser removidos de meios líquidos por meio da esterilização


por filtração. Os filtros de membrana são compostos de acetato de celulose ou de nitrato de
celulose e são feitos de forma a conter um grande número de pequenos poros, que retêm
os microrganismos, impedindo que eles passem através deles. Os tamanhos dos orifícios
podem ser controlados com precisão. A esterilização por filtração pode preservar moléculas
biologicamente importantes que poderiam ser inativadas pelo calor.

Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica 127


Figura 5 – Exemplos de membranas (filtros) com diâmetro de 0,22 micras de porosidade para retenção de partículas
microscópicas
Fonte: <http://www.interface.co.pt/images/produtos/mf_gr.jpg>; <http://www.
interface.co.pt/images/produtos/pes_gr.jpg> <http://www.interface.co.pt/images/
produtos/durapore_gr.jpg>. Acesso em: 28 out. 2009.

Figura 6 – Sistema de filtração


Fonte: <http://www.limnotec.com.br/equip/img/novo/06.jpg>.
Acesso em: 28 out. 2009.

Controle de microrganismos
por agentes químicos
Antimicrobianos são substâncias químicas que matam ou inibem o crescimento de
microrganismos. Agentes antimicrobianos incluem conservantes químicos e antissépticos,
bem como drogas usadas no tratamento de doenças infecciosas de animais e plantas. Os
agentes antimicrobianos podem ser de origem natural ou sintética e podem ter um efeito
estático ou mortal sobre microrganismos.

128 Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica


Tipos de agentes antimicrobianos
Antissépticos: agentes antimicrobianos inofensivos o suficiente para serem aplicados
sobre a pele e mucosas, embora não devam ser ingeridos. Por exemplo: alcoóis, nitrato de
prata, solução de iodo, detergentes e outros.

Figura 7 – Aplicação de álcool em gel nas mãos

Fonte: <http://mdemulher.abril.uol.com.br/imagem/saude/interna-
slideshow/gripe-suina-maos-alcool.jpg>. Acesso em: 28 out. 2009.

Desinfetantes: agentes que matam os microrganismos, mas não necessariamente os seus


esporos, e não são seguros para serem aplicados em tecidos vivos. Servem para esterilizar
objetos como mesas, pisos e outros utensílios. Por exemplo: hipocloritos, compostos de cloro,
soda cáustica, sulfato, compostos de amônio quaternário, formaldeído e compostos fenólicos.

Figura 8 – Exemplos de desinfetantes

Fonte: <http://www.sanol.com.br/v4/media/imgs/marcas_proprias/familia_
comprebem.jpg>. Acesso em: 28 out. 2009.

Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica 129


Alguns dos principais compostos utilizados
em desinfecção e assepsia
Espectro de
Agente Uso Modo de ação Tempo de exposição Desvantagens
ação*
Gram-positivas
Alcoóis Antissépticos Desnaturação proteica Pouco ativo
Gram-negativas Curto (10 -15 min)
(70-80%) Desinfetantes Dissolução de lipídeos contra esporos
BAAR**
Gram-positivas Odor irritante;
Tratamento Inativação enzimática
Cloro Gram-negativas Efeito imediato pouco ativo
da água do agente oxidante
BAAR contra esporos
Gram-positivas Odor irritante;
Antissépticos
Iodo Gram-negativas Inativação enzimática Efeito imediato pouco ativo
Desinfetantes
BAAR contra esporos
Gram-positivas
Desnaturação proteica Curto (formas vegetativas) Tempo de
Aldeídos*** Gram-negativas Desinfetantes
do agente alquilante Prolongado (esporos) exposição longo
BAAR
Gram-positivas Só agem enquanto estão Não atuam sobre
Metais pesados Antissépticos Inativação enzimática
Gram-negativas em contato BAAR e esporos
*Formas vegetativas; **Bacilos álcool-ácido resistentes; ***Ativos contra esporos
Fonte: Trabulsi (1991).

Atividade 4

Atenção! Esta atividade deve ser feita em regime presencial. Dirija-se ao seu
polo de ensino para realizá-la.

Atividade prática: como controlamos os microrganismos?

Você já sabe que as substâncias químicas podem influenciar o crescimento bacteriano


de três formas: como nutrientes, favorecendo o seu crescimento, como bacteriostáticos,
impedindo que as bactérias cresçam, e como bactericidas, matando-as. É impossível generalizar
a ação de uma substância química sobre o desenvolvimento de todos os microrganismos; até
mesmo quando trabalhamos com um só tipo de microrganismo, um único agente químico
pode ter diferentes efeitos, dependendo principalmente de sua concentração.

A seguir, apresentamos alguns procedimentos práticos com objetivo de que você verifique
como essa ação ocorre. Lembre-se de observar as recomendações sobre o trabalho em
laboratório de Microbiologia que você viu na Aula 2 (Trabalhando no laboratório de Microbiologia).

130 Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica


Prática: Por que lavar as mãos?

Objetivo: verificar a ação de antissépticos sobre a microbiota das mãos.

Procedimentos

1) Pegue uma placa de Petri contendo ágar e divida em 4 partes iguais. Utilize, para isso,
uma caneta de retroprojetor, fazendo a divisão na parte de baixo da placa.

2) Identifique cada quadrante com os termos: Controle (C), Mão Suja (MS), Detergente (Det),
Álcool 70% (Al). Prepare a placa seguindo o esquema abaixo.

C MS

Det Al

3) No quadrante identificado como “Mão Suja”, você deve encostar o dedo (sem lavar) por
alguns segundos, fazendo leve pressão.

4) Em seguida, lave as mãos com detergente, seque-as ao ar livre e encoste o mesmo dedo
no quadrante do ágar identificado como “Detergente” por alguns segundos.

5) Agora, lave as mãos com álcool, seque-as e encoste o mesmo dedo no quadrante do ágar
identificado como “álcool” por alguns segundos.

6) Incube a placa em estufa a 35-37°C ou deixe-a em temperatura ambiente por 24 horas.

Observação: nada deve encostar no quadrante identificado como “Controle”.

Após, no mínimo, 24 horas, faça a leitura dos resultados encontrados na placa, de acordo
com o que se pede a seguir:

Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica 131


Faça uma representação esquemática dos resultados obtidos na avaliação da
1 microbiota das mãos.

Crescimento Bacteriano
– + ++ +++ ++++
Controle
Mão Suja
Placa I
Detergente
Álcool 70%

– sem crescimento microbiano; + crescimento microbiano. Estabeleça um critério de quantidade de colônias para atribuir a simbologia +, ++, +++ ou ++++
ao crescimento.

2 Para compreender o que aconteceu, responda ao que se pede.

a) Qual a diferença entre o controle e os outros campos da placa? Por que isso
ocorre?

b) Que conclusão geral podemos obter desse experimento?

Atenção! Quem trabalha com microrganismos tem que estar sempre atento:
deve-se evitar a contaminação do material com contaminantes, assim como
evitar espalhar microrganismos por todo o laboratório.

132 Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica


Os antibióticos
O homem sempre procurou descobrir formas de curar lesões, febres e as dores. Nessa
perspectiva, os antibióticos vieram revolucionar a capacidade de curar doenças de natureza
microbiana. A partir da descoberta da penicilina – a base dos antibióticos – pelo bacteriologista
escocês Alexander Fleming, gerou-se uma revolução na Medicina do século XX. Fleming
descobriu que o fungo Penicillium produzia substâncias capazes de destruir as bactérias que
ficavam à sua volta, e deu-lhe o nome de penicilina.

Desse período em diante, esses fungos passaram a ser cultivados em laboratórios para
a produção em escala industrial de antibióticos que atacavam microrganismos que o sistema
imunológico humano não conseguia eliminar sozinho. Graças a esses medicamentos, doenças
infecciosas como a pneumonia, a sífilis, a gonorreia e a tuberculose puderam ser tratadas,
deixando de ser fatais. Durante a Segunda Guerra Mundial, a penicilina salvou a vida de milhões
de soldados feridos nos campos de batalha, permitindo também que a expectativa de vida da
época aumentasse.

Figura 9 – Alexandre Fleming

Fonte: <http://www.cienciapt.net/noticias/imagens/novas/
Fleming.jpg>. Acesso em: 28 out. 2009.

O que é um antibiótico, afinal?


Os antibióticos são substâncias desenvolvidas a partir de fungos e bactérias ou produzidas
em laboratórios farmacêuticos com a finalidade de combater microrganismos causadores de
infecções no organismo.

Um termo mais adequado é “antimicrobiano”, que abrange tanto os antibióticos


sintetizados naturalmente como também as substâncias sintetizadas em laboratórios.

Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica 133


Como os antibióticos
agem para matar as bactérias?
O mecanismo de ação dos antibióticos pode se dar de diversas formas:

1) inibindo a síntese de parede celular;

2) alterando as funções da membrana celular;

3) inibindo a síntese proteica;

4) inibindo a síntese de ácidos nucleicos;

5) alterando o metabolismo bacteriano.

Síntese da parede celular Replicação do DNA

Síntese de RNA
ADN

ARNm

Ribosomas
50 50 50
30 30 30

Antimetabólitos Síntese de proteínas


(ribossomo 50S )
Síntese de proteínas
(ribossomo 30S )

Figura 10 – Locais de ação dos antimicrobianos

Fonte: adaptado de Murray (2006).

Apesar de sua grande importância na cura de doenças graves, o uso indiscriminado


de antimicrobianos, principalmente sem orientação e acompanhamento médico, pode ser
prejudicial à saúde. Além disso, favorece o desenvolvimento de microrganismos resistentes
a determinados antibióticos.

134 Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica


Resistência bacteriana aos antibióticos
Os antibióticos betalactâmicos pertencem à classe de antimicrobianos que possuem em
comum a presença de um anel betalactâmico na sua estrutura química (Figura 11).

H
R N S

O N
O
OH
O

Figura 11 – Anel betalactâmico

As bactérias adquirem resistência aos antibióticos betalactâmicos através de três


mecanismos gerais:

1) evitando a interação entre o antibiótico e a molécula de PBP;


PBP
2) modificando a união do antibiótico com a PBP;
Proteína que se liga à
penicilina.
3) hidrolizando o antibiótico por meio de betalactamases.

O primeiro mecanismo de resistência só ocorre em bactérias Gram negativas


(especialmente no gênero Pseudomonas), devido à presença da membrana externa que recobre
o peptidoglicano. A entrada dos antibióticos betalactâmicos no interior dos bacilos Gram
negativos requer que eles atravessem os poros situados na membrana externa. As modificações
nas proteínas (porinas) que formam a parede dos poros podem modificar o tamanho desses
canais e impedir a entrada do antibiótico.

Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica 135


Atividade 5
Pesquise os dois outros tipos de resistência aos antimicrobianos e descreva-os
brevemente no espaço a seguir.

O problema da resistência bacteriana às drogas


Se um agente patogênico é capaz de desenvolver ou adquirir resistência a um determinado
antibiótico, essa substância passa a ser inútil no tratamento de doenças infecciosas causadas
por esse patógeno. Nesses casos, é preciso encontrar novos e diferentes antibióticos para serem
utilizados no tratamento, em lugar do anterior. Foi assim que as penicilinas naturais tornaram-
se inúteis contra estafilococos (causador da furunculose) e tiveram que ser substituídas por
outros antibióticos. A tetraciclina, que já foi considerada uma “droga maravilhosa”, foi tão
mal utilizada durante décadas que se tornou inútil para muitas infecções que ela já combateu.

O problema não consiste apenas em encontrar novos antibióticos para combater doenças
devido ao surgimento de bactérias resistentes. Há também uma necessidade paralela de
se encontrarem novos antibióticos para combater doenças novas, as chamadas doenças
emergentes. Nas últimas duas décadas, muitas “novas” doenças bacterianas foram descobertas.
Isso aumenta muito a nossa responsabilidade no uso adequado de antimicrobianos.

136 Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica


Resumo
Nesta aula, vimos que o controle do crescimento de microrganismos é possível
pela ação de agentes físicos e químicos, que possuem propriedades de matar
a célula microbiana ou de impedir a sua reprodução. Você aprendeu também
que, por outro lado, as bactérias podem ser resistentes a esses agentes ao
desenvolverem diversos mecanismos que impedem a ação de antimicrobianos.

Autoavaliação
1 Qual a diferença entre um antisséptico, um desinfetante e um antibiótico?

2 Qual a diferença de um antibiótico bacteriostático e um antibiótico bactericida?

Faça uma tabela apresentando os alvos sobre os quais os antimicrobianos agem


3 nas bactérias.

4 Descreva os mecanismos básicos de resistência bacteriana às drogas.

Referências
CONTROL of microbial growth. Disponível em: <http://textbookofbacteriology.net/kt_toc.html>.
Acesso em: 28 out. 2009.

MADIGAN, M. T.; MARTINKO, J.; PARKER, J. Microbiologia de Brock. 10. ed. São Paulo:
Prentice-Hall, 2004.

MURRAY, Patrick R.; PFALLER, Michael A.; ROSENTHAL, Ken S. Microbiologia médica. 5. ed.
Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2006.

SERRA, Henrique A. A história dos antibióticos. Disponível em: <http://www.medstudents.


com.br/historia/fleming/fleming.htm>. Acesso em: 28 out. 2009.

TORTORA, G. J.; FUNK, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 8. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2005.

Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica 137


Apêndice A –
Definições importantes
Esterilização: destruição ou remoção de todas as formas de vida de um objeto ou
habitat. Processo que visa à destruição total de todas as formas de vida (inclusive
esporos), de um material ou ambiente, através de métodos físicos ou químicos.
Desinfecção: processo que promove a inibição, morte ou remoção de vários microrganismos
patogênicos e saprófitas, sem eliminar todas as formas de vida. Consiste na destruição,
remoção ou redução dos microrganismos presentes num material inanimado. Visa eliminar a
potencialidade infecciosa do objeto, superfície ou local.

Sanitização: processo que leva à redução dos microrganismos, em níveis seguros, de acordo
com os padrões de saúde pública (elimina 99,9% das formas vegetativas).

Antisséptico: produto que evita a infecção em tecidos, seja inibindo ou matando os


microrganismos. Como são aplicados em tecidos vivos, os antissépticos são, geralmente,
menos tóxicos que os desinfetantes (agentes aplicadas em materiais inanimados).

Germicida: mata microrganismos, mas não endósporos.

Assepsia: Procedimento que visa evitar o retorno da contaminação a um objeto, superfície


ou local.

Antissepsia: desinfecção de tecidos vivos, como pele e mucosas.

Bactericida: agente que mata as bactérias. Similarmente, temos fungicida (fungos), viricida
(vírus) e esporocida (esporos).

Bacteriostático: agente que inibe a multiplicação bacteriana.

138 Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica


Anotações

Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica 139


Anotações

140 Aula 6 Metabolismo da Vida Microscópica


A genética dos microrganismos

Aula

7
Apresentação
Você já aprendeu nas aulas anteriores que os microrganismos são muito versáteis
metabolicamente. Eles conseguem se adaptar a ambientes diversos devido a sua capacidade
de utilizar compostos muito variados como fonte de energia para o seu desenvolvimento.

Nesta aula, você irá compreender como é a estrutura do cromossomo bacteriano


e quais os mecanismos básicos que permitem fazer com que as informações genéticas
sejam expressas pelos organismos. Também iremos discutir como podem se apresentar
outros modos de informação genética nos microrganismos, além daquelas contidas no
próprio cromossomo.

Objetivos
Identificar as propriedades genéticas de organismos
1 procarióticos.

2 Reconhecer a estrutura do cromossomo bacteriano.

Compreender as etapas de replicação cromossômica.


3
Relacionar plasmídeos e transposons às suas funções na
4 célula bacteriana.

Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica 143


Por que estudar a
genética dos microrganismos?

E
m algumas disciplinas já vistas, como Biodiversidade e História da Biologia, foram
introduzidos alguns aspectos da genética, notadamente no que se refere a organismos
eucarióticos. Esse tema será retomado em outros momentos, de forma mais
sistematizada, mas você deve se lembrar que os genomas desses organismos têm múltiplos
cromossomos e os descendentes formados possuem diferenças uns dos outros.

O que ocorre em procariotos é bem diferente disso, como veremos nesta aula. Bactérias
e vírus podem produzir uma geração de indivíduos em questão de minutos, e todos os
organismos de uma mesma geração são, em princípio, geneticamente idênticos, constituindo
populações de clones. Isso os torna muito interessantes para os pesquisadores que tentam
compreender processos genéticos, pois, por serem “mais simples”, eles crescem em grande
número e de maneira controlada em laboratório, facilitando o seu uso em estudos que podem
ter várias aplicações na compreensão do comportamento genético de outros organismos mais
difíceis de serem estudados, por exemplo.

144 Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica


Onde estão as informações
genéticas nas bactérias e nos vírus?
A organização de uma célula procariótica típica revela determinadas características,
como você já comparou na Aula 1 (Comparando células procarióticas e eucarióticas).
Observe novamente uma célula eucariótica e outra procariótica e faça a reflexão que se
pede em seguida, na Atividade 1.

Figura 1 – Célula eucariótica


Fonte: <http://calazans.ccems.pt/cn/images/celulanimal3.jpg>. Acesso em: 6 out. 2009.

Figura 2 – Célula procariótica

Fonte: <http://curlygirl.no.sapo.pt/imagens/procarionte.jpg>. Acesso em: 6 out. 2009.

Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica 145


Atividade 1
Estabeleça uma comparação entre as duas células do ponto de vista da
organização do material genético.

Você deve ter observado que a célula procariótica não dispõe de uma membrana típica,
ao contrário de célula eucariótica. Nesta, o material nuclear encontra-se envolvido por uma
membrana que se conecta com o citoplasma.

Nos vírus, que não são células, mas são considerados entidades biológicas exatamente
por possuírem material genético, dentre outras características, o genoma está contido no
interior de uma capa de proteínas chamada capsídeo.

146 Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica


Figura 3 – HIV: o vírus que causa a AIDS

Figura 4 – Bacteriófago: um vírus que ataca bactéria

As bactérias também podem conter material genético em outras estruturas que não
o cromossomo. Algumas bactérias possuem moléculas de DNA de fita dupla menores
que o cromossomo e que podem se replicar independente dele. Essas moléculas são
chamadas plasmídeos.

Figura 5 – DNA bacteriano (cromossomo e plasmídeo)

Fonte: <http://bio.leo.sites.uol.com.br/bacteriologia.htm>. Acesso em: 24 abr. 2012.

Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica 147


Os plasmídeos são elementos genéticos que se replicam independentemente do
cromossomo da célula e podem ser de vários tipos, de acordo com a função que possam
desempenhar na bactéria. A maioria dos plasmídeos conhecidos corresponde a moléculas
de DNA de fita dupla, e em sua maioria são circulares.

Principais plasmídeos:

 plasmídeos F (conjugação);

 plasmídeos R (resistência);

 plasmídeos de virulência;

 plasmídeos colicinogênicos;

 plasmídeos integrados – epissomo.

Atividade 2
Pesquise na internet ou em livros disponíveis nos polos (se for o caso) sobre a função
dos plasmídeos R e dos plasmídeos de virulência.

Plasmídeos R Plasmídeos de virulência

Função: Função:

148 Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica


Como são os cromossomos
dos microrganismos?
Se você não percebeu, na Figura 5, a maior parte da informação genética das bactérias
está contida em um cromossomo único e circular, o qual consiste de DNA e proteínas. Essa
informação é duplicada e repassada igualmente entre as duas células filhas, quando a célula-
mãe se divide. Isso só é possível porque o DNA é uma molécula autorreplicável e pronta para
fazer uma cópia exata de si mesma antes de ocorrer a divisão celular.

Nos vírus, o genoma é muito diversificado e pode conter DNA ou RNA, como você pode
observar nas Figuras 6 e 7 a seguir.

Parvovirus Hepadnavirus

Papovavirus

Poxvirus

Adenovirus

Herpesvirus

Iridovirus 100 nm

Figura 6 – Exemplos de vírus de DNA

Togavirus
Rhabdovirus
Picornavirus
Orthomyxovirus

Bunyavirus
Coronavirus
Reovirus

100 nm
Paramyxovirus
Retrovirus
Arenavirus

Figura 7 – Exemplos de vírus de RNA

Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica 149


As etapas do fluxo
da informação genética
Os processos de replicação, transcrição e tradução ocorrem em todos os organismos,
mas existem diferenças entre o que ocorre em procariotos e eucariotos.

O fluxo da informação genética pode ser caracterizado em três processos moleculares,


descritos a seguir.

a) Replicação: neste processo, o DNA bacteriano é duplicado, originando duas


estruturas de dupla hélice.

b) Transcrição: refere-se à transferência de informação do DNA para o RNA,


pois o DNA não participa diretamente da síntese proteica.

c) Tradução: é a determinação específica de uma sequência de aminoácidos em


uma determinada proteína, a partir de uma sequência de bases.

Essas três etapas de transferência da informação genética (Figura 8) ocorrem igualmente


em todas as células. Em alguns vírus, podem ocorrer diferenças, como a replicação do RNA
(o RNA servindo de molde para ele mesmo) e a transcrição reversa, quando uma sequência
de RNA serve de molde para o DNA, o inverso do que ocorre nas células.

150 Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica


transcrição tradução
DNA RNA mensageiro Proteína
(a)
replicação

(b) fitas novas


DNA de fita dupla

DNA

(c)

mRNA tRNA rRNA

(d)
NH2
Ribossomo
Aminoácido (ativado)

Figura 8 – O fluxo da informação genética

Fonte: <http://openlearn.open.ac.uk/file.php/2645/S377_1_002i.jpg>. Acesso em: 6 out. 2009.

Você estudará esses processos mais detalhadamente em outras disciplinas, mas é


importante que você relembre qual o objetivo das informações genéticas contidas no DNA: a
produção de proteínas específicas ou a produção de uma sequência de ácido nucleico.

Para compreendermos como as bactérias se reproduzem, é preciso também saber


algumas características gerais da replicação do DNA. A estrutura do DNA (Figuras 9 e 10) tem
um papel fundamental no processo de replicação. Nesse sentido, alguns importantes aspectos
devem ser lembrados por você, como:

 as duas bandas de DNA são complementares uma à outra;

 as quatro bases que formam o DNA são adenina, timina, guanina e citosina;

 a base adenina combina-se com a base timina e a guanina, com a citosina;

 as duas bandas de DNA estão ligadas por pontes de hidrogênio;

 as duas bandas de DNA são antiparalelas uma à outra, ou seja, uma banda “corre” na
direção 5´ - 3´ e a outra corre na direção 3´- 5´;

 a síntese de DNA é semiconservativa, ou seja, cada nova molécula conserva uma das
cadeias antigas.

Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica 151


Figura 9 – Estrutura em dupla hélice do DNA

Fonte: <http://legion.geleia.net/AP/dna.gif>. Acesso em: 6 out. 2009.

Figura 10 – Estrutura molecular do DNA (a cadeia dupla enrolada em si mesma formando uma hélice)

Fonte: <http://4.bp.blogspot.com/_R-rTvAicCNQ/SeLIakiR-DI/AAAAAAAABso/3ATUbN92iGs/s400/
como_funciona_o_dna_06.jpg>. Acesso em: 6 out. 2009.

152 Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica


Você já sabe que a replicação, a transcrição e a tradução ocorrem em todos os organismos
celulares. Mas, há algumas diferenças em como elas ocorrem em procariotos e eucariotos.
Isso se deve, em parte, ao fato de os organismos eucariotos possuírem uma membrana nuclear
envolvendo o material genético, fato que não acontece entre os procariotos, cujo DNA está
disperso no citoplasma. Nos eucariotos, além de possuírem uma membrana envolvendo os
cromossomos, os ribossomos estão localizados no citoplasma, o que provoca uma separação
entre os locais onde ocorrem a transcrição e a tradução.

Atividade 3
Analise a figura a seguir e explique por que as etapas do fluxo genético em uma célula
eucariótica (como no caso da figura) são diferentes em relação a uma célula procariótica, em
termos espaciais.

Figura 11 – Etapas da replicação do DNA em uma célula eucariótica

Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica 153


Visão geral da
replicação do DNA bacteriano
Como você já sabe, a divisão celular nas bactérias consiste em um processo simples
de divisão chamado fissão binária, na qual as células se dividem em duas, como revela a
figura seguinte.

Figura 12 – Fissão binária

Fonte: Raven (2001, p. 208).

A replicação começa no cromossomo bacteriano em uma sequência específica de


nucleotídeos chamada origem de replicação, onde um grupo de mais de 20 proteínas
diferentes dá início ao processo de copiar o DNA. Nesse processo, uma célula divide-se para
gerar duas células idênticas. Lembre-se de que o cromossomo bacteriano é circular, o que
diferencia o modo como ele se replica, conforme você pode ver nas Figuras 13 e 14.

Origem da replicação

Figura 13 – Replicação do DNA bacteriano

Fonte: Raven (2001, p. 208).

154 Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica


Figura 14 – Esquema da replicação do DNA circular bacteriano

DNA que não fica quieto:


os elementos transponíveis
Embora possamos considerar que a posição dos genes nos seres vivos é relativamente
estável, o modo como os genes se arranjam em um cromossomo não é necessariamente
fixo, pois, em certas condições, alguns genes são capazes de se mover. Esse processo de
mobilização de genes de um local para outro, um evento considerado raro, é denominado
transposição. Também é preciso considerar que nem todo gene é capaz de realizar esse
fenômeno.

Podemos considerar dois tipos de elementos transponíveis: os transposons e as


sequências de inserção. Ambos possuem a capacidade de sintetizar uma enzima chamada
transponase, a qual permite a ocorrência da transposição.

As sequências de inserção são os elementos transponíveis mais simples e não carregam


uma informação genética determinada a não ser aquela necessária para sua própria inserção
em um local do genoma.

Os transposons são segmentos de DNA maiores que as sequências de inserção e carreiam


outros genes, alguns dos quais conferem propriedades importantes ao organismo. São capazes
de se mover do DNA cromossomial para o plasmidial etc. Contêm genes de resistência a
antimicrobianos.

Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica 155


Sequências repetidas

ACGTACGTACGT TGCATGCATGCA
TGCATGCATGCA ACGTACGTACGT

DNA hospedeiro Sítio alvo


(a)
CATGC
GTACG

Local de abertura do sítio alvo


(b)
CATGC
GTACG

Inserção do transposon
(c)
ACGTACGTACGT TGCATGCATGCA CATGC
GTACG TGCATGCATGCA ACGTACGTACGT

CATGC ACGTACGTACGT TGCATGCATGCA CATGC


GTACG TGCATGCATGCA ACGTACGTACGT GTACG

Figura 15 – Modo como se organizam os transposons

Os microrganismos e genética
O uso cada vez mais intenso de microrganismos na genética deu um novo impulso à
ciência da hereditariedade. Isso foi um marco decisivo para o desenvolvimento dessa área,
porque os microrganismos possuem excelentes qualidades para os estudos genéticos.
Eles apresentam, em geral, um ciclo de desenvolvimento rápido, facilitando assim o estudo
da transmissão de características hereditárias em um curto período de tempo. Como são
microscópicos, podem ser cultivados em grandes densidades em um espaço pequeno. Sendo
organismos morfologicamente mais simples, é mais fácil, por meio deles, compreender os
mecanismos de herança das características genéticas.

Grande parte dos microrganismos apresenta apenas um cromossomo ou um número


reduzido de cromossomos, fato que também os torna mais fáceis de serem estudados. Por
essas e outras razões, como a utilização dos microrganismos na indústria de alimentos e de
medicamentos, entre outros usos, a compreensão da genética de microrganismos torna-se
necessária, como veremos nas aulas seguintes.

156 Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica


Resumo
Nesta aula, você estudou onde se encontram as informações genéticas dos
microrganismos. Foram revistas as estruturas do DNA bacteriano, que é único
e circular, o que leva a um modo diferenciado de replicação. Você aprendeu
também que pode haver informações genéticas em forma de plasmídeos e que
há sequências cromossômicas que mudam de lugar, os chamados transposons.

Autoavaliação
Estabeleça as diferenças entre o cromossomo de uma célula eucariótica e procariótica,
1 descrevendo a organização do cromossomo bacteriano.

Quais são as etapas do fluxo da informação genética?


2
Brevemente, descreva a estrutura geral do DNA.
3
Defina plasmídeo e transposon, de um modo geral, e depois faça a diferença
4 entre eles.

Explique a importância dos plasmídeos para os microrganismos.


5

Referências
MADIGAN, M. T. Microbiologia de Brock. São Paulo: Pearson Ed. Do Brasil, 2004. 589 p.

PELCZAR, M. J. et al. Microbiologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1996.

RAVEN, Johnson. Biology. 6th ed. New York: Mc Graw-Hill, 2001. 

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. I. Microbiologia. 8. ed. Porto Alegre: Editora
Artmed, 2005.

TRABULSI, L. R.; ALTERTHUM, F. Microbiologia. 4. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2004.

Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica 157


Anotações

158 Aula 7 Metabolismo da Vida Microscópica


As bactérias se modificam

Aula

8
Apresentação

A
s bactérias se reproduzem o tempo inteiro, o que faz com que variações genéticas se
espalhem rapidamente numa população. Existem dois processos gerais que originam
variações nos microrganismos: a mutação e a recombinação genética. Nesta aula,
você compreenderá como ocorrem esses processos e como, a partir deles, as modificações
acontecem, mais especificamente nas bactérias. Também estudaremos como os vírus podem
contribuir para as alterações genéticas nos genomas bacterianos.

Objetivos
Conhecer os processos de recombinação genética que
1 ocorrem nos microrganismos.

Compreender a função das mutações para a variação


2 gênica nos microrganismos.

Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica 161


Bactérias que “se misturam”:
sexo bacteriano?

M
uitas bactérias trocam material genético entre si. Essa troca de DNA entre células
bacterianas permite o intercâmbio de genes e, consequentemente, de certas
características entre elas, o que leva ao aparecimento de cepas bacterianas antes
não existentes. Essa transferência de genes pode ser vantajosa para a bactéria receptora,
especialmente quando o DNA codifica mecanismos de resistência a antibióticos ou se o
gene novo permitir que a bactéria faça uso de um substrato antes não utilizado para sua
Inóspito
sobrevivência em um ambiente inóspito. O material genético transferido pode se integrar
Que não recebe com ao cromossomo da bactéria receptora ou manter-se de forma estável, como na forma de um
hospitalidade. Diz-se do
elemento extracromossômico, como um plasmídeo, que você já conheceu na aula anterior.
lugar onde não se pratica
a hospitalidade. Que não Pode ainda ser um material genético advindo de um vírus bacteriano (bacteriófago) e ser
agasalha, ou não protege; transmitido às células filhas, como veremos nesta aula.
que não serve para ser
habitado. Fonte: dicionário
Michaelis.

Atividade 1
Virulência

Capacidade de um
vírus ou bactéria de
se multiplicar dentro Relembre a Aula 7 (A genética dos microrganismos) e defina o que é um plasmídeo.
de um organismo,
provocando doença.
Fonte: dicionário
Houaiss da língua
portuguesa.

Os plasmídeos contêm informações genéticas as quais podem proporcionar diversas


vantagens seletivas às bactérias que os carregam. Como um exemplo, podemos citar que os
plasmídeos podem conferir um alto grau de resistência a antibióticos, codificar a produção de
toxinas que dão virulência às bactérias ou podem garantir a metabolização de um substrato
que antes não podia ser utilizado pela bactéria que o recebe.

Os grandes plasmídeos, com o fator de fertilidade F de Escherichia coli ou o fator de


transferência de resistência, podem garantir sua própria transferência de uma célula para
outra por meio de um processo chamado conjugação, o qual veremos mais adiante. Esses

162 Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica


plasmídeos conjugativos codificam todos os fatores necessários para sua própria transferência.
Além disso, outros plasmídeos podem ser transferidos de uma célula bacteriana a outra por
meio de outros mecanismos de transferência, como veremos.

Atividade 2
Relembre a Aula 7, desenhe e descreva a estrutura do DNA.
1

Explique, do seu modo, o significado das palavras mutação e conjugação.


2
Mutação Conjugação

Você acha que esses dois processos têm alguma importância para os seres vivos?
3 Por quê?

Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica 163


Os microrganismos
sofrem modificações
Já vimos que é possível aos microrganismos, especialmente às bactérias, sofrer
modificações por meio da transferência de genes entre elas. O modo como isso pode acontecer
é o que estudaremos agora.

As variações bacterianas podem ser:

Fenotípicas: quando resultam das adaptações das bactérias ao ambiente. São reversíveis, não
se relacionando com alterações genéticas. Não são, portanto, transmissíveis.

» Essas variações são de caráter adaptativo, decorrentes de uma modificação no


meio e podem ser morfológicas ou fisiológicas.

Por exemplo: Serratia marcescens (37 ºC – sem pigmentação 25 ºC – vermelhas)

Genotípicas: alterações na sequência de nucleotídeos, levando a uma modificação genética.


Assim, são transmitidas aos descendentes e irreversíveis.

As variações genotípicas podem ocorrer por recombinação ou por mutação.

Recombinação genética: os mecanismos de


transferência de genes entre células diferentes
São processos que produzem um novo genótipo por meio de transferência de material
genético de um cromossomo para outro, conhecidos como:

1) Transformação

2) Conjugação

3) Transdução

164 Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica


Transformação: genes “livres”
podem ser aprisionados por bactérias
Processo em que células receptoras adquirem genes de moléculas de DNA livres no
meio. A partir do descobrimento da transformação é que foi demonstrado formalmente que o
DNA era a molécula envolvida na hereditariedade (veja os experimentos de Griffith, 1928, na
disciplina História da Biologia).

A transformação se dá a partir da incorporação de um fragmento de DNA do meio por uma


célula receptora. A maior parte das espécies bacterianas é capaz de realizar recombinações, mas
apenas poucas espécies conseguem a habilidade necessária de pegar o DNA livre de maneira
eficiente. Isso porque o DNA só consegue penetrar algumas das células de uma população em
crescimento, aquelas que estejam em um estado de competência. Entretanto, muitas espécies Estado de
podem se tornar competentes ao serem submetidas a um tratamento químico apropriado. competência

Aquele estado em
que a bactéria deve
apresentar sítios de
superfície para a ligação
com o DNA da célula
doadora e apresentar
Moléculas de DNA livres a membrana em uma
Célula bacteriana condição que permita a
passagem desse DNA.

Cromossomo

Figura 1 – Transformação bacteriana


Fonte: <http://www.nehmi-ip.com.br/imagens_servicos/bio_6_p.gif>.
Acesso em: 14 out. 2009.

Você sabia que a competência bacteriana para a transformação é uma


característica inerente a certas linhagens e que pode envolver o mecanismo de
quorum sensing, uma espécie de comunicação entre as bactérias?

Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica 165


Atividade 3
Leia o texto da revista Ciência Hoje sobre quorum sensing <http://www.unb.br/ib/
cel/microbiologia/artigos/qs.pdf> e descreva resumidamente o que você entendeu
sobre esse processo. O artigo também estará disponível na página da disciplina.

A competência pode ser obtida artificialmente, em laboratório


Você já sabe que apenas certas linhagens de bactérias possuem competência para
captar uma molécula de DNA do meio. São exemplos de gêneros facilmente transformáveis
Acinetobacter, Azotobcter, Bacillus, Streptococcus, Haemophilus, Neisseria e Thermus.
A grande maioria das espécies não possui as características necessárias para sofrer
transformação, em condições naturais. Por isso, em laboratório, procurou-se desenvolver
esse estado de competência nas bactérias. Para a engenharia genética, foi muito importante
a indução da competência da espécie Escherichia coli, em laboratório, pois ela é muito
utilizada em experimentos que envolvem transferências genéticas induzidas. A maneira mais
eficiente, atualmente, de promover a competência bacteriana artificialmente é chamada de
eletroporação (veja a Figura 2).

166 Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica


DNA de
fita dupla
Parede Membrana DNA integrado
celular citoplasmática

+
Tratamento com
corrente elétrica

Célula receptora Fragmentos do DNA Célula transformada


da célula doadora

Figura 2 – Estado de competência (artificial – por eletroporação).

Atividade 4
Pesquise em livros ou em sites confiáveis (veja indicações de leitura
1 ao final da aula) e explique o processo de eletroporação.

Qual a importância desse processo para a engenharia genética?


2

Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica 167


Conjugação: contato célula a célula para transferir genes
Um outro processo que permite a transferência de genes de uma bactéria para outra é a
conjugação. Esse é um processo de recombinação genética através do qual o DNA plasmidial
ou cromossômico é transferido de uma bactéria doadora para uma receptora através de contato
físico direto entre as duas células. Esse processo é codificado por um plasmídeo, isto é, um
plasmídeo conjugativo utiliza esse mecanismo para transferir uma cópia de seu DNA a um novo
hospedeiro. Nesse processo, elementos genéticos como pedaços do DNA cromossômico ou
outros plasmídeos podem ser transferidos de uma bactéria para outra.

De modo geral, consideramos que a conjugação pode ocorrer em bactérias Gram positivas
e Gram negativas (reveja a Aula 1, Comparando células procarióticas e células eucarióticas)
por diferentes mecanismos:

 Gram negativas - através do pili sexual

 Gram positivas - através do contato célula a célula

Quando as bactérias fazem conjugação, o DNA é transferido de uma célula doadora


para uma célula receptora sob o controle de um conjunto de genes que garantem à célula
Plasmídeos
doadora sua capacidade de transferência. Esses genes estão frequentemente presentes em
Os plasmídeos que um plasmídeo. A recombinação mediada por plasmídeo que acontece em E. coli, por exemplo,
têm a capacidade
de se integrar ao geralmente resulta da presença de um plasmídeo chamado de fator F, ou fator de fertilidade.
cromossomo da célula
são chamados de A conjugação começa com o contato físico entre uma célula doadora e uma célula
epissomos. receptora. Uma projeção tubular da célula doadora, conhecida por pilus sexual, forma uma
ponte entre a célula doadora e a receptora. Através dessa passagem, uma cópia do DNA se
desloca da doadora para a receptora. Na etapa final da recombinação, se a célula doadora
continha um plasmídeo integrado ao seu DNA, um segmento dele pode acabar sendo
transferido para a célula destinatária. Se o plasmídeo doado era livre, ou seja, não incorporado
ao DNA bacteriano da célula doadora, então, somente o DNA plasmidial é transferido e passa
a compor o arsenal genético da célula receptora.

168 Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica


Figura 3 – Ligação célula a célula na conjugação bacteriana
Fonte: <http://www.ucm.es/info/genetica/grupod/Recoproc/CONJU1.BMP>.
Acesso em: 14 out. 2009.

O pilus ajuda a conjugação


Durante a conjugação de bactérias, o pilus sexual emerge da bactéria doadora e se projeta
em direção da bactéria receptora, formando uma “ponte de acasalamento”, que estabelece um
contato direto entre os citoplasmas das duas bactérias através de um poro controlado. Nem
todas as bactérias têm a capacidade de criar o pilus sexual.

a b
Plasmídeo Pilus sexual

Tubo de conjugação (pilus sexual) se O DNA plasmidial inicia a replicação.


forma entre a célula doadora e a A fita de DNA livre começa a se deslocar
receptora. Uma enzima corta o plasmídeo através do tubo

c d

Na célula receptora, a fita de DNA Ao fim do processo, os plasmídeos estão


começa a ser complementada completos em cada uma das células

Figura 4 – Transferência de plasmídeo por conjugação


Fonte: <http://trc.ucdavis.edu/biosci10v/bis10v/week7/20f/Slide4.gif>. Acesso em: 7 out. 2009.

Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica 169


Apesar do nome, o pilus sexual não é utilizado para a reprodução sexual, e não
pode ser equiparado a um pênis, embora tais comparações sejam frequentemente
usadas para facilitar a compreensão.

Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/_iW5f4BaDqvw/SOpbR1v9yKI/AAAAAAAAAC8/iUj6iNPrtHk/s400/
conjuga%C3%A7%C3%A3o+bacteriana+08.jpg>. Acesso em: 14 out. 2009.

Atividade 5

Por que não podemos dizer que a conjugação bacteriana é um processo de


reprodução sexuada?

170 Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica


Os vírus se misturam com as bactérias:
o mecanismo da transdução
O terceiro tipo importante de recombinação bacteriana é transdução. Nesse processo,
vírus bacterianos (também conhecidos como bacteriófagos) transferem fragmentos de DNA
de uma bactéria (a doadora) para outra bactéria (a receptora).

Os ciclos de desenvolvimento de vírus bacterianos podem ser divididos em duas categorias:


o lítico e o lisogênico. No ciclo lítico, o ácido nucleico do fago entra em uma célula e se replica
repetidamente. A bactéria é morta, ao final do processo, e centenas de fagos são liberados.

No ciclo lisogênico, entretanto, não há partículas virais formadas. A bactéria sobrevive, e


uma molécula de DNA do fago é transmitida a cada célula filha bacteriana. Na maioria dos casos,
essa transmissão se dá devido à integração do cromossomo do fago ao cromossomo bacteriano.

Figura 5 – Injeção do DNA por um bacteriófago em uma célula hospedeira

Fonte: <http://biodidac.bio.uottawa.ca/ftp/BIODIDAC/Virus/General/diagbw/Viru006b.gif>. Acesso em: 7 out. 2009.

No ciclo lítico, depois que um bacteriófago ou fago entra em uma bactéria, ele pode Lise
induzi-la a fazer cópias de si próprio. No fim desse processo, a bactéria infectada sofre lise
A lise é o processo de
e novos vírus são lançados no ambiente, como você pode ver na Figura 6 a seguir. Em A, o ruptura ou dissolução
vírus infecta uma célula bacteriana, injetando nela seu DNA. Em B, o DNA viral induz a célula da membrana
plasmática ou da
a replicar os genes virais. A etapa C mostra que partes dos vírus são formadas no interior da
parede bacteriana, que
célula bacteriana, para dar origem a novas partículas virais completas. Finalmente, em D, a leva à morte da célula
célula sofre lise e os vírus completos são liberados para o meio extracelular. e à liberação de seu
conteúdo.

Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica 171


Figura 6 – Ciclo lítico de um bacteriófago
Fonte: <http://wps.prenhall.com/wps/media/objects/488/499792/images/
AABXJOV0a.jpg>. Acesso em: 7 out. 2009.

No ciclo lisogênico, o vírus pode se integrar ao cromossomo bacteriano, ligando seu


DNA ao DNA da bactéria. Pode permanecer ali por um período de tempo antes de se desligar
e continuar seu processo de replicação. Sob essas condições, o vírus não destrói a bactéria
hospedeira, mas permanece se replicando com ela à medida que ela se divide. Nessas condições,
o vírus é chamado de fago temperado, também conhecido como profago. Em um momento
posterior, o vírus pode se separar do cromossomo bacteriano e retomar um ciclo lítico.

Você pode acompanhar as etapas do ciclo lisogênico de um bacteriófago na Figura 7. Em


A, o bacteriófago infecta uma célula bacteriana injetando nela seu DNA. Em B, você vê o DNA
viral à direita e o bacteriano à esquerda. Na etapa C, o DNA viral se integra ao DNA bacteriano.
Por fim, em D, a bactéria se divide e o genoma viral também, uma vez que estava inserido no
cromossomo bacteriano.

Figura 7 – Ciclo lisogênico de um bacteriófago


Fonte: Adaptado de <http://www.dbio.uevora.pt/LBM/Foco/Vectores/Image22.jpg>. Acesso em: 7 out. 2009.

172 Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica


A transdução pode ser de dois tipos, de acordo com os ciclos virais:

Transdução generalizada: durante um ciclo lítico, pode haver a incorporação de DNA bacteriano
ao genoma viral durante a montagem dos vírus, ainda dentro da bactéria. Esse DNA poderá ser
transferido para outra bactéria, quando o vírus for liberado, após a lise bacteriana. Nesse tipo
de processo, o empacotamento de fragmentos de DNA da célula hospedeira pode ocorrer de
maneira acidental, gerando partículas denominadas partículas transdutoras, que correspondem
ao capsídeo viral contendo em seu interior DNA bacteriano. Embora não correspondam a novos
vírus, essas partículas transdutoras são capazes de se ligar por adsorção à superfície de outras
células bacterianas e levar a uma recombinação genética no DNA da célula hospedeira.

Transdução especializada: ocorre quando se dá a transferência de DNA de uma bactéria para


outra de maneira eficiente, permitindo que uma pequena região do cromossomo bacteriano seja
replicado. O processo começa com a lisogenização do fago em locais específicos do genoma.
Ao de separar da bactéria hospedeira, esse processo pode se dar de maneira defeituosa, levando
também à remoção de genes bacterianos e deixando parte do genoma viral na célula. Assim, ao
infectar novas células, pode haver a transferência de genes da bactéria anteriormente infectada.

A - Transdução generalizada B - Transdução especializada


DNA do fago DNA bacteriano DNA do profago
A+ B+ A+ B+

Fago infecta célula bacteriana. Célula bacteriana tem profago


integrado entre os genes A e B.

A+ B+

A+ B+

A+
B+
DNA do hospedeiro é quebrado em pedaços e
DNA e proteínas do fago são formados. Eventualmente, o DNA do profago, ao se deslocar do cromossomo
bacteriano, leva consigo parte do DNA da célula hospedeira.

A+
A+

Eventualmente, parte do DNA bacteriano é Partículas do fago carreiam DNA bacteriano


“empacotado” em um capsídeo do fago. (aqui citado como gene A) junto com o DNA do fago.

A+ A+
- -
A B A- B-

Fagos transduzidos infectam novas células hospedeiras, podendo haver recombinação.


Bactéria recombinante
A+ B- A+ B-

Os recombinantes têm DNA diferente de seus doadores ou receptores.

Figura 8 – Tipos de transdução: (a) transdução generalizada; (b) transdução especializada.


Fonte: <http://www2.brazcubas.br/professores1/arquivos/35_shyodo/Biologia/Recombinacao_em_bacterias.pdf>. Acesso em: 7 out. 2009.

Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica 173


Atividade 6
Qual a diferença básica, em termos do ciclo viral, para que ocorra transdução
generalizada ou especializada?

174 Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica


Mutação nos microrganismos
Uma outra maneira dos microrganismos sofrerem modificações na sua informação
genética é por meio de mutações.

A mutação é uma alteração na sequência de bases nitrogenadas do DNA. Pode ser


neutra, desvantajosa ou benéfica. Pode ocorrer por deleção, inserção ou substituição de
um ou mais nucleotídeos.

Sem mutação
A B C

Ponto de mutação
Substituição de base Substituição de
uma base ou de muitas bases
A B C

Inserção

Adição de uma base


ou de algumas bases
A C

Deleção

perda de uma
ou de algumas bases.

A C

Figura 9 – Tipos de mutação

Fonte: Raven (2001, p. 208).

As mutações podem ocorrer espontaneamente por causa de erros durante a replicação


ou devido à radiação natural, com uma frequência de cerca de uma em 1.000.000, ou podem
ser induzidas experimentalmente pelo uso de agentes mutagênicos. As mutações podem ser
também quimicamente induzidas por análogos de base, compostos que são estruturalmente
similares às purinas e pirimidinas, no DNA. A célula incorpora esses análogos ao DNA, mas
durante as replicações subsequentes, os análogos têm uma maior probabilidade de pareamento
incorreto, inserindo uma base inadequada na nova fita de DNA.

Outros mutagênicos químicos reagem diretamente com o DNA alterando as bases.


A radiação UV é absorvida pelas purinas e pirimidinas no DNA, processo que leva a um
impedimento no emparelhamento correto de bases durante a replicação. A radiação ionizante
gera radicais livres nas células e esses podem reagir com o DNA, provocando quebras na
cadeia. Os agentes biológicos, tais como os transposons e os bacteriófagos, causam mutações
através da inserção de sequências de DNA nos genes, interrompendo, assim, a informação
inicial de codificação.

Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica 175


Resumo
Nesta aula, você compreendeu como os microrganismos realizam trocas
de material genético. Vimos que isso é possível por meio de mecanismos de
transferência gênica ou de mutações pontuais no cromossomo. No primeiro
caso, você aprendeu que as bactérias utilizam três mecanismos pra transferir
sequências de DNA plasmidial ou cromossômico: a transformação, a transdução e
a conjugação. Também foram discutidos os tipos de mutação que podem ocorrer
espontaneamente ou de forma induzida no cromossomo bacteriano.

Autoavaliação
Em uma transformação, a célula receptora geralmente está morta. Explique essa
1 afirmativa.

Explique as diferenças entre recombinação e mutação gênica.


2

176 Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica


No esquema abaixo, observa-se o ciclo lítico de um bacteriófago. Descreva os
3 processos que ocorrem em cada uma das fases, numeradas de 1 a 5.

Fonte: <http://web.educastur.princast.es/proyectos/biogeo_ov/2BCH/B5_MICRO_INM/T51_
MICROBIOLOGIA/ejercicios/Diapositiva5.GIF>. Acesso em: 7 out. 2009.

Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica 177


Explique os três mecanismos básicos de transferência de genes entre bactérias.
4

Diferencie transdução especializada de transdução generalizada.


5

178 Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica


Referências
MADIGAN, Michael T.; MARTINKO, John M.; PARKER, Jack. Microbiologia de Brock. 10. ed.
New Jersey: Prentice Hall, 2004.

PELCZAR JÚNIOR, Michael. Microbiologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron


Books, 1997.

RAVEN, Johnson. Biology. 6th ed. New York: Mc Graw-Hill, 2001. 

TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R.; CASE, Christine L. Microbiologia. 8. ed. Porto Alegre:
ArtMed, 2005.

TRABULSI. Microbiologia. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 1999.

Anotações

Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica 179


Anotações

180 Aula 8 Metabolismo da Vida Microscópica


A diversidade dos microrganismos

Aula

9
Apresentação

V
ocê já deve ter compreendido que, de uma forma ou de outra, os microrganismos
influenciam as nossas vidas e, por isso, saber o que eles fazem no ambiente se torna
uma tarefa da maior importância. No entanto, por serem microscópicos e não poderem
ser visualizados a olho nu, a maioria das pessoas só consegue perceber a existência dos
microrganismos quando fica doente devido à ação de algum deles. Dessa forma, muitas
vezes só conhecemos seu lado negativo. Nesta aula, queremos demonstrar a diversidade
dos microrganismos, reforçando o fato de que somos afetados direta e diariamente, tanto de
forma positiva quanto negativa pelas atividades microbianas. Como você já viu, há milhares
de espécies de microrganismos que reciclam a matéria morta, fortalecendo as bases das
cadeias alimentares e contribuindo decisivamente para a composição e manutenção da vida
no planeta. Há também, uns poucos que causam doenças. Vamos conhecer agora quantos e
quais são os microrganismos.

Objetivos
Compreender a classificação dos microrganismos nos
1 Domínios da vida.

2 Reconhecer as diferenças entre Archaea e Bacteria.

3 Identificar aspectos gerais dos grupos de microrganismos.

Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica 183


A vida microbiana
nos primórdios da Terra
Restos fossilizados encontrados em rochas antigas comprovam a existência da vida
microbiana no início da formação do nosso planeta. Microfósseis com formas bacterianas de
Estromatólito
bacilos, cocos e filamentos se apresentam em estromatólitos com mais de 3 bilhões de anos,
Estrutura fossilizada de confirmando a existência de microrganismos pouco tempo depois de a Terra ter sido formada.
massa microbiana com
idade de cerca de 3,5
bilhões de anos.

Figura 1 – Estromatólitos com 3,4 bilhões de anos descobertos por pesquisadores na Austrália
Foto: Abigail Allwood.

Atividade 1
Reveja as aulas iniciais da disciplina Biodiversidade e descreva como era a
atmosfera da Terra primitiva. Como os primeiros microrganismos obtinham
energia para sobreviver?

184 Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica


Entendendo o planeta
dos microrganismos
Imagine um tempo em que sequer se imaginava que pudessem existir organismos
microscópicos, e que eles eram os causadores de muitas doenças. Esse tempo, você sabe,
já existiu. Hoje, precisamos ter consciência de que, mais do que causar doenças, a maioria
dos microrganismos é fundamental para a manutenção da nossa vida, e que apenas uma
pequena parcela das espécies existentes nos causam danos. Ao falarmos de microrganismos,
relembre que estamos nos referindo a bactérias, vírus, protozoários e alguns tipos de fungos
microscópicos. Nós dependemos da maioria desses organismos de várias formas. Eles
produzem oxigênio, do qual necessitamos, nos mantêm saudáveis, são fontes de drogas que
curam doenças, auxiliam nossa digestão, dentre tantas outras atividades benéficas. Alguns dos
microrganismos que vivem no nosso corpo competem por espaço com espécies patogênicas,
numa relação mutualística em que somos beneficiados por sermos protegidos de doenças e
os microrganismos conseguem um espaço para viver dentro de nós!

Os microrganismos são como grandes parceiros nossos: desde o momento


em que nascemos, somos invadidos por eles, com quem passamos a conviver
eternamente. Um dado muito impressionante é o fato de que a maioria das células
que temos no nosso corpo sejam microrganismos e não nossas próprias células!

Quão diversos são os microrganismos?


Mais de três bilhões de anos atrás, os microrganismos deram início a um processo
que finalmente permitiria a evolução da vida na Terra. Naquela época, o nosso planeta era
muito diferente do que é hoje e não havia animais ou plantas, mas apenas seres unicelulares
microscópicos vivendo nos oceanos. O dióxido de carbono e as concentrações de metano eram
muito elevados, e o oxigênio era tóxico para a maior parte da vida no planeta.

Gradualmente, alguns desses microrganismos começaram a captar a energia do Sol


através da fotossíntese, e finalmente, a liberação de oxigênio como um subproduto da
quebra das moléculas de água nesse processo aconteceu. A Terra começou a ficar repleta de
oxigênio, e há cerca de 650 milhões de anos, a atmosfera já continha oxigênio em quantidade
suficiente para sustentar a vida de organismos multicelulares, como conhecemos hoje.

Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica 185


Embora organismos multicelulares sejam visualmente mais interessantes aos olhos, os
microrganismos constituem a forma mais abundante e diversificada que existe, tendo um forte
papel na manutenção das condições atmosféricas e químicas necessárias para a sobrevivência
de todas as formas de vida “superiores”. Na verdade, todas as formas de vida multicelulares
são habitadas por microrganismos.

Figura 2 – Diversidade de microrganismos


Fonte: Adaptado de Tortora et al (2005).

A construção do conceito de “diversidade microbiana” surgiu da clássica sistemática


Fenotípicas microbiana, a qual estava baseada nas diferenças fenotípicas e de características fisiológicas.
Que têm o mesmo O conceito de diversidade microbiana também se baseou nas inferências sobre possíveis
conjunto de caracteres interações entre os organismos isolados de ecossistemas semelhantes. Agora, é possível
anatômicos, fisiológicos observar claramente as variações nas formas e funções microbianas em diversas comunidades
e antigênicos.
ecológicas devido às novas técnicas que são empregadas nessa área.

Avaliações comparativas entre grupos, com o uso de técnicas moleculares, têm revolucionado
os conceitos tradicionais de diversidade microbiana, e essas comparações permitem compreender
o papel das comunidades microbianas na manutenção da integridade dos ecossistemas.

186 Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 2
Você já conhece os conceitos de sistemática e classificação. Relembre e
reescreva esses conceitos.

Já percebeu como os
microrganismos são muito diversos em
todos os seus aspectos: aparência,
metabolismo, fisiologia e genética?

Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica 187


Os esquemas de classificação
dos microrganismos
Considera-se que há cinco principais grupos de microorganismos: Archaea, bactérias,
algas, protozoários e fungos. As Archaea e bactérias são formadas por células procarióticas.
As algas unicelulares e protozoários (em conjunto chamados de Protistas) e os fungos são
formados por células eucarióticas, semelhantes às de plantas e animais.

Você já sabe que podemos considerar a organização dos seres vivos de acordo com o
sistema de classificação dos três domínios. No Quadro 1 a seguir, estão estabelecidas, para
que você possa rememorar, as diferenças existentes entre esses três domínios.

Característica Bacteria Archaea Eukarya


Carioteca Ausente Ausente Presente
De sílica (em Diatomáceas);
Presença de Ausência de
Parede celular celulose (algas e plantas);
peptidoglicano peptidoglicano
quitina (fungos)
Mitocôndria Ausente Ausente Presente
Cloroplastos Ausente Ausente Presente em plantas e algas
DNA 01 cromossomo 01 cromossomo Vários cromossomos
Frequentemente em Em ambientes que não
Habitat Em todos os ambientes
ambientes extremos sejam extremos

Quadro 1 – Comparando os domínios Bacteria, Archaea e Eukarya

Figura 3 – Diversidade morfológica e tintorial de colônias

Fonte: <http://static.hsw.com.br/gif/bacteria-2.jpg>. Acesso em: 16 dez. 2009.

Agora, vejamos as características gerais desses grupos que compõem os organismos


que só podemos enxergar através do microscópio.

188 Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica


Domínio Bacteria
As bactérias são organismos unicelulares procariontes. Elas possuem um único tipo de
parede e membrana celulares que as distinguem das Archaea. Vivem em todos os lugares na
Terra onde a vida é possível, exceto nos ambientes mais extremos, inclusive em associações
com animais e plantas. A maioria é benéfica, mas algumas causam doenças.

Análises filogenéticas atuais das bactérias têm demonstrado a existência de mais de


20 grupos distintos. A maioria dos grupos listados consiste em filos distintos, e alguns
são agora subdivididos em mais de um filo. Muitos grupos são compostos por membros
fenotípica e fisiologicamente independentes. Além disso, em alguns grupos (por exemplo,
Proteobacteria e Gram-positivos), há uma considerável diversidade filogenética, o que não
aparece na grande árvore da vida.

DEFFERIBACTER
DOMINIO BACTERIA

FLAVOBACTERIAS CYTOPHAGA
ESPIROQUETAS
VERRUCOMICROBIOS

DEINOCOCCI BACTERIAS
BACTERIAS PLANTOMYCES/PIRELLA
VERDES
VERDES NO
DEL AZUFRE
DEL AZUFRE CHLAMYDIA

CYANOBACTERIA
THERMOTOGA
C
BACTERIAS
hG
Hig GC GRAM POSITIVAS
THERMODESULFOBACTERIUM Low

NITROSPIRA
AQUIFEX μ
δ
α
β PROTEOBACTERIAS
γ

Figura 4 – Filos do Domínio Bacteria


Fonte: <http://erasmus.ugr.es/filo/imgcomun/dominio-bacteria.gif>. Acesso em: 16 dez. 2009.

Os principais grupos do Domínio Bacteria


a) Bactérias fotossintetizantes púrpuras e verdes: realizam fotossíntese anoxigênica, ou
seja, sem produção de oxigênio, conforme você já viu anteriormente.

b) Proteobactérias: constituem o mais diverso grupo de bactérias, incluindo desde bactérias


fixadoras de nitrogênio em nódulos de leguminosas até bactérias entéricas como a
Escherichia coli. Em 2002, as proteobactérias consistiam de mais de 460 gêneros e mais de
1600 espécies, espalhadas por 5 grandes linhas filogenéticas de ascendência: as “classes
Alphaproteobacteria”, “Betaproteobacteria”, “Gammaproteobacteria”, “Proteobactérias
delta” e “Epsilonproteobacteria”. Englobam uma grande parte dos procariotos Gram-
negativos, incluindo espécies de interesse na medicina, veterinária, indústria e agricultura.

Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica 189


Atividade 3
As cianobactérias (Figura 5 a seguir) também estão organizadas no Domínio Bacteria.
Descreva as características principais desse grupo, a partir de uma pesquisa que pode ser feita
em sites confiáveis da internet ou nos livros disponíveis no polo. Peça orientação ao seu tutor.

Figura 5 – Cianobactérias

Fonte: <http://universe-review.ca/I11-30-cyanobacteria.jpg>. Acesso em: 16 dez. 2009.

190 Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica


Domínio Archaea
As arqueobactérias são um grupo de células procariontes, unicelulares, que muitas vezes
vivem em ambientes extremos, como aqueles com altas temperaturas, pH baixo ou altas
concentrações de sal. Elas são especificamente adaptadas a essas condições devido a presença
de tipos especiais de membranas e um metabolismo diferenciado.

EURYARCHAEOTA MARINOS

CRENARCHAEOTA MARINOS
HALOBACTERIUM
Euryarchaeota
HALOCOCCUS ARCHAEOGLOBUS

NATRONOCOCCUS METHANOCAL
METHANOBACTERIUM DOCOCCUS
METANÔGENOS SULFOLOBUS
HALÓFILOS Crenarchaeota
METHANOTHERMUS

METHANOSACINA PYRODICTIUM

METHANOSPIRILLUM THERMOCOCCUS
THERMOPROTEUS
PYROCOCCUS
FERROPLASMA
METHANOPYRUS DESULFUROCOCCUS
PICROPHILUS
THERMOPLASMA

“Korarchaeota”

Figura 6 – Filos do Domínio Archaea


Fonte: <http://erasmus.ugr.es/filo/imgcomun/dominio-archaea.gif>. Acesso em: 16 dez. 2009.

Com base em sua fisiologia, as Archaea podem ser organizadas em três tipos: metanogênicas
(produtoras de metano); halófilas extremas (que vivem em concentrações muito elevadas de sal)
e hipertermofílicas (que vivem em temperaturas muito elevadas). Além das características que
as distinguem das bactérias, como a ausência de peptidoglicano na parede celular, as Archaea
possuem outros atributos estruturais ou bioquímicos únicos que lhes permitem adaptar-se aos
seus habitats particularmente inóspitos.

Metanogênicas
São anaeróbios obrigatórios, não tolerando a exposição ao oxigênio. Ambientes
anaeróbicos incluem sedimentos marinhos e de água doce, pântanos e solos profundos,
o trato intestinal dos animais, e estações de tratamento de esgoto. São habitantes normais
do rúmen de vacas e outros animais ruminantes. O produto final de seu metabolismo, o gás
metano, acumula-se no seu ambiente, representando um dos gases do chamado efeito estufa.

Sabia que a vaca arrota cerca de 50 litros de gás metano por dia durante o
processo de ruminação?

Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica 191


Atividade 4
Pesquise na internet sobre o efeito do gás metano na atmosfera. Resuma a ideia
principal desse efeito.

Halofílicas
Vivem em ambientes naturais, como o Mar Morto, ou lagoas de evaporação da água
do mar, onde a concentração de sal é muito elevada. Esses organismos requerem sal para o
crescimento e não conseguem crescer a baixas concentrações de sal. Na verdade, as células
lisam a baixas concentrações de NaCl. Suas paredes celulares, ribossomos e enzimas são
estabilizados por Na+. São heterótrofos que respiram aerobicamente.

Hipertermófilas
Organismos que requerem uma temperatura muito alta (80 a 105 graus) para seu
crescimento. Suas membranas e enzimas são extraordinariamente estáveis em altas
temperaturas. A maioria destas Archaea exige enxofre elementar para o crescimento e algumas
são anaeróbias, utilizando o enxofre como um aceptor de elétrons para a respiração no lugar
de oxigênio. Hipertermófilas são habitantes de ambientes quentes, geralmente associados ao
vulcanismo, como fontes termais, gêiseres e fumarolas no Parque Nacional de Yellowstone e
outros lugares, fontes hidrotermais e rachaduras no fundo do oceano.

192 Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 5
Pesquise sobre a espécie bacteriana Thermus aquaticus e a sua importância
para o campo da Biologia de hipertermófilos e para a Biologia molecular. Peça
orientação ao seu tutor.

As Archaea são Gram-positivas


ou Gram-negativas?
Embora a reação de Gram dependa tanto do formato estrutural como da composição
química da parede celular das bactérias, a maioria das Archaea são Gram-negativas,
independentemente de sua estrutura básica ou da composição química. Uma exceção
interessante é Methanobacterium formicicum, que se cora como Gram-positiva, uma vez que
a sua parede celular contém pseudomureína, um tipo diferente de peptidoglicano. Observações
mostram que, em uma preparação de Gram, com uma população microbiana mista contendo
arqueobactérias e bactérias, as Archaea se coram como células Gram-negativas, e as células
Gram-positivas são provavelmente bactérias.

Comparando arqueobactérias e eubactérias


Arqueobactérias e bactérias são semelhantes no sentido de que ambas têm uma célula
procariótica, mas elas variam consideravelmente, em termos bioquímicos e moleculares:

 Parede celular: Ambos os tipos de bactérias normalmente têm paredes celulares que
cobrem a membrana plasmática, reforçando a célula. As paredes celulares das eubactérias
são formadas de um complexo estrutural chamado peptidoglicano, uma espécie de
malha que dá à parede celular das eubactérias grande força. As paredes das células das
arqueobactérias carecem de peptidoglicano.

 Membrana plasmática: Todas as bactérias têm membrana plasmática formada por


uma bicamada lipídica (reveja a Aula 1 – Comparando células procarióticas e células
eucarióticas). Os lipídeos que formam as membranas plasmáticas de eubactérias
e arqueobactérias, no entanto, são formados de tipos muito diferentes de lipídios.

 Processo de tradução genética: As Eubactérias possuem proteínas ribossomais e uma


RNA polimerase que diferem muito das células eucarióticas. No entanto, as proteínas e
o RNA ribossomal de arqueobactérias são muito semelhantes a elas.

Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica 193


Os microrganismos eucariontes
Nem todos os microrganismos são procariontes. Alguns grupos de eucariontes possuem
células microscópicas.

Os protozoários
Protozoários são organismos eucariontes semelhantes a animais, não-fotossintetizantes
comuns em ambientes úmidos, incluindo o trato intestinal dos animais. A maioria dos
protozoários é móvel porque, uma vez que são predadores de outros microrganismos,
necessitam buscar e ingerir os alimentos. Alguns deles causam algumas doenças importantes,
como a malária e a doença de Chagas.

Fungos microscópicos
Os fungos são eucariontes não fotossintetizantes, geralmente móveis, que absorvem os
nutrientes diretamente do meio ambiente. O reino compreende também os cogumelos, bolores
e leveduras. As leveduras são unicelulares, e os bolores e cogumelos, apesar de terem uma
forma vegetativa multicelular, produzem esporos unicelulares.

Muitos fungos vivem principalmente no solo e são responsáveis pela decomposição


(biodegradação) do material orgânico. Eles também podem ser uma importante causa de
doenças de plantas e motivo da deterioração dos alimentos. Alguns causam doenças no homem
e em outros animais.

Figura 7 – Aspergillus nidulans, um fungo

Fonte: <http://textbookofbacteriology.net/themicrobialworld/Asp.nidulans.jpg>.
Acesso em: 17 dez. 2009.

194 Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica


Vírus – entidades biológicas acelulares
Os vírus são constituídos por ácidos nucléicos (DNA ou RNA) e proteínas e, como você
já sabe, têm algumas das características que se relacionam ao que é vivo. Mas faltam-lhes
ribossomos para a síntese de proteínas, membranas e os meios enzimáticos para gerar
energia, que são propriedades típicas das células. O estudo dos vírus tornou-se um grande
ramo da Microbiologia, e embora sejam estudados nessa área, não devem ser considerados
microrganismos, uma vez que não constituem células.

Os vírus são considerados parasitas intracelulares obrigatórios, pois eles só podem


se replicar em associação com uma célula hospedeira por eles infectada. Todos os tipos de
células – plantas, animais e microrganismos – são suscetíveis a infecções por vírus. Como a
maioria das infecções virais danifica as células hospedeiras, os vírus são agentes de muitas
doenças. Embora os vírus sejam muito pequenos para serem vistos por microscopia óptica
convencional, eles podem ser visualizados e fotografados por meio de microscopia eletrônica.

Figura 8 – Vírus ebola

Fonte: <http://wvlc.uwaterloo.ca/biology475/Emerging_Diseases/
Virus_hemorrhagic/ebola.jpg>. Acesso em: 16 dez. 2009.

Resumo
Nesta aula, pudemos conhecer a grande diversidade de microrganismos existente.
As diferenças entre os grupos procarióticos Archaea e Bacteria foram enfatizados.
Vimos que as Archaea compreendem grupos que vivem em ambientes extremos
e que as bactérias compõem a maior parte dos organismos, incluindo as
patogênicas. As características gerais dos grupos de protozoários, fungos e vírus
foram apresentadas.

Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica 195


Autoavaliação
1 Estabeleça as diferenças entre os Domínios Bacteria e Archaea.

2 Compare os domínios Bacteria e Archaea com Eukarya.

Explique por que os vírus não são considerados microrganismos, embora sejam
3 estudados na área da Microbiologia.

Referências
CANHOS, V. P.; MANFIO, G. P. Recursos microbiológicos para biotecnologia. Disponível em:
<http://www.inpa.gov.br/~cpca/charles/pdf/Canhos-Manfio_Rec-biol_2001.pdf>. Acesso em:
16 dez. 2009.

KERSTERS, K. et al. Introduction to the proteobacteria. Prokaryotes, n. 5, p. 3-37, 2006.

MADIGAN, Michael T.; MARTINKO, John M.; PARKER, Jack. Microbiologia de Brock. 10. ed.
New Jersey: Prentice Hall, 2004.

SILVA, Alline Braga. A importância das bactérias para a vida. 2009. Disponível em: <http://
portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=1523>. Acesso em: 16 dez. 2009.

TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R.; CASE, Christine L. Microbiologia. 8. ed. Porto Alegre:
ArtMed, 2005.

196 Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica


Anotações

Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica 197


Anotações

198 Aula 9 Metabolismo da Vida Microscópica


Os microrganismos auxiliam
a (re)circulação da matéria no planeta

Aula

10
Apresentação

N
a Aula 5 (Obtenção de energia para a vida microbiana), estudamos alguns processos
através dos quais bactérias, arqueobactérias, fungos e protozoários obtêm a energia
necessária para suas atividades celulares. Nesses processos, os microrganismos
extraem a energia de substratos orgânicos ou inorgânicos, transferindo-a para o ATP. Agora,
veremos o processo que faltava para completarmos nossa compreensão sobre o metabolismo
microbiano: a fotossíntese.

Você descobrirá, nessa aula, as semelhanças e diferenças entre a fotossíntese realizada


por procariotos e eucariotos. Concluindo nosso estudo sobre o metabolismo microbiano,
vamos classificar os microrganismos em diferentes tipos metabólicos com base em sua forma
de obtenção de energia e nutrição. Veremos também, nessa aula, que a fotossíntese é uma
etapa fundamental do ciclo do carbono na natureza. Você entenderá como o metabolismo
dos microrganismos está associado à sua conhecida função de decompositores na natureza.
A circulação de matéria no planeta depende da respiração, fermentação e fotossíntese realizadas
por procariotos e eucariotos microscópicos. Você vai se convencer que os microrganismos
são os principais atores das transformações bioquímicas na Terra!

Objetivos
Explicar o processo de fotossíntese realizado por
1 microrganismos procariotos, diferenciando-o daquele
que ocorre nas plantas e em algas.

Identificar a classificação os seres vivos quanto aos tipos


2 nutricionais com base nos processos de obtenção de
energia e principal fonte de carbono.

3 Definir o conceito de mineralização da matéria orgânica.

Descrever as etapas do metabolismo microbiano


4 responsáveis pela circulação do carbono e do nitrogênio.

Identificar a influência do ser humano nos ciclos do


5 carbono e do nitrogênio.

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 201


A vida no planeta
depende da fotossíntese

V
ocê viu na Aula 6 (A diversidade (quase) invisível) e 7 (Protistas I – microrganismos
produtores) da disciplina “Biodiversidade” que os organismos autotróficos, como
plantas e microalgas, fabricam uma nova matéria orgânica que é posteriormente
consumida por seres heterotróficos. Através da fotossíntese, as algas produzem boa parte
do alimento que fornece suporte para o crescimento dos seres heterotróficos, incluindo animais
como peixes, crustáceos, dentre outros. A fotossíntese é o processo catabólico que sustenta
a síntese de grande parte da matéria orgânica do planeta e, além do seu papel de regulador da
concentração atmosférica de CO2 , é a fonte do O2 que respiramos.

Agora veremos que, além das algas, alguns procariotos também fazem fotossíntese,
usando esse processo para obterem energia (ATP), como você viu na Aula 5 dessa disciplina.

Atividade 1
Analise a Figura 1 a seguir e descreva resumidamente o processo de fotossíntese
1 em seres eucariotos.

Oxigênio Oxigênio

Glicose

Energia Solar

Esquema da Fotossíntese
Gás Carbônico

Água + Sais Minerais

Figura 1 – Esquema geral da fotossíntese em organismos eucariotos

Fonte: <http://vivendociencias.blogspot.com/2008/11/fotossintese.html>. Acesso em: 2 dez. 2009.

202 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


Os eucariotos fotossintetizantes são as algas e as plantas verdes. Verifique na
2 Atividade 3 da Aula 5 quais são os procariotos capazes de fazer fotossíntese.
Em seguida, escreva no espaço abaixo quais são eles:

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 203


Bactérias protagonistas
do processo de fotossíntese:
principais características
As bactérias capazes de usar a luz como fonte de energia compreendem um grupo
numeroso e heterogêneo de organismos, tendo como característica comum a presença de
pigmentos fotossintetizantes e a capacidade de gerar ATP através da fotofosforilação, processo
que veremos adiante. Dentre esses organismos, dois grandes grupos são reconhecidos:

 as bactérias púrpuras e verdes

 as cianobactérias

Analisando a Figura 1, você deve ter concluído que a fotossíntese consiste na fabricação
de glicose utilizando dióxido de carbono (CO2 ), água (H 2O) e minerais, sendo também
produzido oxigênio gasoso (O 2). Dizemos, então, que na fotossíntese ocorre a transformação
da energia luminosa em energia química, que é armazenada na glicose, o composto orgânico
produzido. Essa transformação entre formas de energia caracteriza a fotossíntese tanto em
eucariotos quanto em procariotos. Em ambos os grupos o processo fotossintético é dependente
de pigmentos fotossensíveis que absorvem a energia luminosa.

A semelhança da fotossíntese entre procariotos e eucariotos para por aí. Os tipos de


pigmentos presentes e sua disposição na célula são variáveis nesses grupos e até mesmo
dentro dos grupos (veja o destaque abaixo). Por exemplo, a clorofila, o pigmento verde presente
em plantas e algas (eucariotos) e cianobactérias (procariotos) é ausente nas demais bactérias
fotossintetizantes. Bactérias verdes e púrpuras, por sua vez, possuem um pigmento relacionado
à clorofila, chamado bacterioclorofila.

Variações dos tipos de pigmentos

Existem variados tipos de moléculas de clorofila, que diferem no número de átomos


de carbono, hidrogênio ou oxigênio, e são denominadas clorofila-a, clorofila-b,
clorofila-c e clorofila-d. Dentre esses, a clorofila-a é a única considerada universal,
ou seja, presente em virtualmente todos os seres fotossintetizantes eucariotos
e cianobactérias, enquanto as demais estão presentes em alguns organismos e
ausentes em outros. Nas bactérias púrpuras podem aparecer bacterioclorofilas a
ou b. Nas bactérias verdes, além desses dois tipos, também podem estar presentes
bacterioclorofilas c e d. As cores que caracterizam os procariotos fototróficos estão

204 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


relacionadas não apenas à clorofila ou bacterioclorofila, mas a outros pigmentos
acessórios, que também atuam na captação de luz para a fotossíntese.
Pigmentos
A coloração verde-azulada da maioria das cianobactérias pode ser explicada acessórios
pela presença dos pigmentos clorofila-a (verde) e ficocianina (azul). Porém,
Auxiliam na absorção
carotenoides (amarelo-laranja) e a ficoeritrina (vermelho) podem estar presentes, de luz e na transferência
dependendo da espécie. Algumas espécies podem apresentar mais de um tipo da energia radiante para
os centros de reação.
de pigmento, o que explica a existência de cianobactérias das mais variadas
cores. Pigmentos carotenoides são responsáveis pela cor das bactérias púrpuras
(roxa). Mas essas bactérias também podem se apresentar cor-de-rosa, marrom
ou marrom-avermelhado, dependendo dos tipos de pigmentos carotenoides
presentes. Além disso, muitas bactérias “verdes” são na verdade marrons
por causa desses pigmentos. Então, a cor não é um critério confiável para a
identificação das bactérias fototróficas.

As estruturas que contêm os pigmentos fotossensíveis também variam. Você se lembra


qual organela citoplasmática contém os pigmentos fotossintetizantes em plantas? Trata-se do
cloroplasto, e ele é encontrado também em algas microscópicas, mas não em cianobactérias e
demais procariotos. Lembre-se que procariotos são desprovidos de organelas citoplasmáticas,
e que a membrana celular assume muitas funções do metabolismo procariótico, como ser o
local onde ocorre a cadeia respiratória que estudamos na Aula 5.

A membrana citoplasmática também assume um papel central na fotossíntese bacteriana.


Nas bactérias púrpuras os pigmentos responsáveis pela fotossíntese estão localizados em
invaginações da membrana que contêm todo o aparato fotoquímico. Nas bactérias verdes,
formam-se invaginações que se destacam da membrana e constituem vesículas chamadas
clorossomos (ver Figura 2). Nas cianobactérias, o sistema fotossintetizante é mais complexo,
formado por lamelas membranosas dispostas em varias camadas, os tilacoides (Figura 3),
semelhantes aos cloroplastos (exceto pela presença de membrana abrigando as lamelas).

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 205


Figura 2 – Fotografia feita através de microscopia eletrônica. Chlorobium tepidum, uma bactéria verde

Fonte: <www.bio.ku.dk/nuf/research/chlorosome.htm>. Acesso em: 2 dez.


2009.

Figura 3 – Fotografias feitas através de microscopia eletrônica. a) Célula de uma cianobactéria evidenciando
tilacoides; b) Detalhe dos tilacoides na célula de cianobactéria

Fonte: <www.pnas.org/content/102/3/850/F2.expansion>. Acesso em: 2 dez. 2009.

206 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 2
Complete a tabela abaixo, considerando o que você acabou de estudar.

Microrganismo Pigmentos Localização na célula

Algas

Cianobactérias

Bactérias verdes

Bactérias púrpuras

Onde podemos ver


bactérias fotossintetizantes?
Cianobactérias são também chamadas de algas azuis (ou verde-azuladas) e são
amplamente encontradas na natureza. Estão distribuídas na água de lagos, rios, oceanos.
São também encontradas na superfície do solo e colonizando superfícies de plantas e rochas.

Grandes quantidades de bactérias púrpuras e verdes são frequentemente encontradas


nas partes mais profundas e anaeróbicas de lagos, desde que haja quantidade suficiente de
luz e de H2 S (veremos depois o porquê). Um dos locais onde mais facilmente se encontram Fonte termal
bactérias verdes e púrpuras na natureza são as fontes de água sulfurosa. Em regiões costeiras,
Emergência de água
grandes quantidades dessas bactérias ocorrem em piscinas de águas salobras e salgadas rasas subterrânea aquecida,
e quentes não conectadas com o mar, onde existe H2S em abundância. Fontes termais são seja pelo calor causado
pelo gradiente geotérmico,
habitats para uma variedade de bactérias verdes e púrpuras. A bactéria Chloroflexus forma
seja por processos
espessos tapetes (frequentemente em associações com cianobactérias) em fontes termais de vulcanismo. As fontes
com temperaturas de 40 a 70°C. Uma espécie do grupo das bactérias púrpuras, a Chromatium termais existem em
toda a Terra, incluindo o
tepidum, cresce em fontes termais sulfurosas a temperaturas de até 60°C.
fundo dos oceanos.

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 207


Atividade 3
Leia o texto anterior e depois relate em quais ambientes podemos encontrar
organismos procariotos fototróficos.

Todos os seres fotossintetizantes


produzem oxigênio?
Você já reconheceu exemplos de procariotos fotossintetizantes, e identificou algumas
variações na composição dos pigmentos e local onde são armazenados nas células
eucariotas e procariotas. Agora, vamos estudar as diferenças fundamentais no processo
fotossintético em si. Para tanto, você deve acompanhar a Figura 4 ao longo do texto a seguir.
Fotofosforilação A fotofosforilação cíclica – Figura 4(a) –, que descreveremos adiante, caracteriza a fotossíntese
de todos os procariotos com exceção às cianobactérias. A fotofosforilação acíclica –
Produção de ATP
pela fotossíntese. Figura 4(b) – corresponde ao modelo de fotossíntese em eucariotos e cianobactérias.

Em todos os grupos de organismos, o evento primário da fotossíntese é a absorção da


energia luminosa pelos pigmentos fotossintetizantes, que leva à excitação de alguns elétrons
da clorofila ou bacterioclorofila. Os elétrons excitados transferem-se da molécula do pigmento
para a primeira de uma série de moléculas transportadoras, uma cadeia de transporte de elétrons
semelhante àquela utilizada na respiração (ver Aula 5). Assim como acontece na respiração,

208 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


na medida em que os elétrons são passados junto à série de transportadores, prótons são
bombeados através da membrana, promovendo a formação de um gradiente de prótons, e ADP
é convertido a ATP pela quimiosmose, já descrita na citada Aula 5. Até aqui, o processo
é basicamente o mesmo em procariotos e eucariotos. A partir de agora, vamos identificar
diferenças. Quais são elas?

a
Fotofosforilação cíclica
Cadeia de ATP
transporte
de elétrons
Elétrons
excitados Energia para
(2 e–) produção
de ATP
Luz
Transportador de elétrons

Bacterioclorofila

b
Fotofosforilação acíclica Cadeia de ATP
transporte
de elétrons
Elétrons Energia para
excitados produção
(2 e–) de ATP
NADP+
Luz
NADPH

Clorofila

(2 e–)
H2O H+ + H+

1

2 O2

Figura 4 – Fotofosforilação (a) cíclica e (b) acíclica

Fonte: Tortora, Funke e Case (2002).

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 209


Atividade 4
Analise a Figura 4 e descreva as diferenças no processo de fotossíntese entre
procariotos – Figura 4(a) – e eucariotos e cianobactérias – Figura 4(b).

210 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


Você deve ter notado que no primeiro esquema – Figura 4(a) – há um retorno dos
elétrons para a molécula do pigmento após a produção de ATP. Por isso esse processo
é denominado de fotofosforilação cíclica. Nesse processo, elétrons liberados do pigmento
pela ação da luz retornam à bacterioclorofila após passarem através da cadeia de transporte
de elétrons, gerando a produção de ATP.

Diferentemente, na fotofosforilação acíclica, elétrons liberados a partir da clorofila são


repostos por elétrons provenientes da molécula de água, a partir da qual se forma o oxigênio
– veja a Figura 4(b). Os elétrons da clorofila são encaminhados através da cadeia de transporte
de elétrons para o aceptor de elétrons NADP +, gerando a produção de ATP. O NADP+ NADP +
combina com os elétrons e com íons hidrogênio da água formando NADPH. Esta coenzima, Nicotinamida
assim como o NADH (veja a Aula 5), é uma molécula transportadora de alta energia que será adenina dinucleotídeo
fosfato, uma coenzima
usada nas reações escuras, como veremos mais tarde.
similar ao NAD+.

Atividade 5
Baseado no que você acabou de aprender, e com auxílio da Figura 4, complete o
quadro abaixo.

Fotossíntese Organismos Produção de O2 (sim ou não)

Oxigênica

Anoxigênica

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 211


A transformação do CO2
em moléculas orgânicas
A fotossíntese ocorre em duas etapas. A primeira delas, dependente da luz, é denominada
de reações luminosas, quando ocorre o processo de fotofosforilação que acabamos de estudar.
Você viu que nas reações luminosas a energia luminosa é usada para converter ADP e fosfato
em ATP. A segunda etapa, chamada de reações escuras, é independente da luz e caracteriza-se
pela conversão do CO2 em açúcar.

A segunda etapa, caracterizada pelas reações escuras, pode ocorrer na ausência de luz, e
na maioria dos fototróficos elas são caracterizadas por uma série de reações em uma via cíclica
complexa chamada de ciclo de Calvin-Benson. Nesse ciclo, dizemos que o CO2 é “fixado”. Isso
porque este composto é incorporado nas moléculas de açúcares sintetizadas pela célula. Para
tanto, a célula necessita de energia do ATP e da energia redutora proveniente dos elétrons do
NADPH. Onde a célula obtém toda essa energia?

Os organismos oxigênicos, que desempenham a fotofosforilação acíclica, produzem


durante esse processo o ATP e NADPH necessários à fixação do CO2 . Já a fotofosforilação
cíclica das bactérias anoxigênicas não gera coenzimas reduzidas (NADPH). Essas bactérias
utilizam compostos como o gás sulfídrico (H2S ), o tiossulfato (S2O 32–), o gás hidrogênio
(H2) ou até mesmo o ferro ferroso (Fe2+) como doadores de elétrons para reduzir NADP + a
NADPH e, posteriormente, transformar CO2 em açúcares.

Podemos representar a fotossíntese através das equações abaixo. Lembre-se que


no caso da fotossíntese anoxigênica (Equação 2), outros produtos finais podem
aparecer no lugar do S 0 dependendo do doador de elétrons.

1) Fotossíntese oxigênica:

luz
6CO2 + 12H2O C6H12O6 + 6H 2O + 6O2 Eq. 1

2) Fotossíntese anoxigênica:

luz
6CO2 + 12H2S C6H2O + 6H2O + 12S 0 Eq. 2

212 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


Diversidade metabólica
entre os organismos
Os processos de obtenção de energia descritos na Aula 5 e até agora nesta aula
demonstram a extraordinária variação metabólica encontrada entre os microrganismos. Vamos
agora fazer uma síntese sobre isso.

Todos os organismos, incluindo os seres microscópicos, podem ser classificados quanto ao


seu padrão nutricional, isto é, quanto a sua fonte de energia e de carbono. Considerando a fonte
de energia, podemos classificar os organismos como fototróficos, que usam a energia luminosa,
ou quimiotróficos, que dependem de reações de oxidação-redução de substâncias químicas
orgânicas ou inorgânicas para obterem energia. Qualquer que seja a fonte primária, a energia
será transferida para formas químicas prontamente utilizáveis pela célula (ATP e NADPH).

Quanto à fonte de carbono, organismos que utilizam exclusivamente o CO2 para fabricar
suas moléculas orgânicas são chamados autotróficos. Aqueles que requerem um ou mais
compostos orgânicos como fonte de carbono são considerados HETEROTRÓFICOS. Esses
conceitos foram discutidos também na Aula 3 (Pequena história da diversidade dos seres
vivos) da disciplina “Biodiversidade”. Se combinarmos as fontes de energia com as fontes de
carbono, surgirão quatro grupos de organismos, descritos a seguir.

Fotoautotróficos: utilizam a luz como fonte de energia e CO2 como única fonte de carbono;
todos os compostos celulares orgânicos são sintetizados graças à fixação do CO2. Na ausência
de luz, esses organismos obtêm energia da respiração usando sua própria matéria-prima, ou
seja, açúcares formados no processo fotossintético. Esses seres podem ser aeróbicos (plantas,
algas, cianobactérias) ou anaeróbicos (muitas bactérias verdes e púrpuras).

Quimioautotróficos: oxidam compostos inorgânicos reduzidos – como a amônia, nitrito, o


sulfeto de hidrogênio (H2S ) e íons ferro (Fe2+) – para obtenção de ATP. Vimos essa modalidade
no item “Microrganismos também extraem a energia de substâncias inorgânicas usando o
O 2”, na Aula 5. Esses organismos também utilizam o CO2 como fonte de carbono. Bactérias
nitrificantes do gênero Nitrosomonas, que estudaremos adiante, são exemplos desse grupo.

Quimioheterotróficos: usam reações de oxidação-redução de compostos orgânicos como


fonte de energia e, normalmente, utilizam essas mesmas substâncias orgânicas como fonte de
carbono. Tais fontes são muito variáveis e incluem a glicose e outros carboidratos, proteínas,
lipídios e até compostos orgânicos menos reativos, como hidrocarbonetos. Os processos de
respiração aeróbica a partir de substratos orgânicos e a fermentação (estudadas na Aula 5)
são as vias metabólicas mais comuns desse grupo de organismos. A maioria dos procariotos
está inserida nessa categoria, incluindo todas as bactérias patogênicas. Todos os eucariotos
não fototróficos, incluindo fungos e protozoários, também são quimioheterotróficos.

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 213


Fotoheterotróficos: utilizam a luz como fonte de energia (ATP), mas não podem converter
CO2 a glicose. Então, essas bactérias usam compostos orgânicos, como alcoóis, ácidos
graxos e carboidratos como fonte de carbono. São anoxigênicos, e incluem algumas bactérias
verdes e púrpuras.

Atividade 6
Resuma, no quadro abaixo, as principais características das categorias metabólicas dos
seres vivos, incluindo microrganismos.

FONTE DE FONTE DE ENERGIA


CARBONO Oxidação-redução de substâncias químicas Luz

Grupo:............................................................ Grupo:............................................................
Características:............................................... Características:...............................................
CO2
....................................................................... .......................................................................
....................................................................... .......................................................................

Grupo:............................................................ Grupo:............................................................

Compostos Características:.............................................. Características:..............................................


orgânicos ....................................................................... .......................................................................
....................................................................... .......................................................................

214 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


O destino da
matéria orgânica produzida
Agora, você já sabe como a matéria orgânica é produzida na Terra, através de seres
fotoautotróficos, dentre os quais plantas, microalgas, cianobactérias, bactérias verdes e
púrpuras, e quimioautotróficos, dos quais apenas procariotos fazem parte. Mas para a
continuidade do processo ao longo do tempo, essa matéria orgânica precisa ser reciclada. Para
tanto, um conjunto de processos chamado de mineralização da matéria orgânica deve ocorrer.

Atividade 7
O conceito de mineralização da matéria orgânica está implícito no texto da página
13 da Aula 6 da disciplina Biodiversidade.

a) Leia esse texto e deduza o conceito de “mineralização”, registrando sua


interpretação no espaço abaixo.

b) Quais são as formas de nitrogênio inorgânico mostradas na Figura 6 da Aula


6 da disciplina “Biodiversidade”?

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 215


O ciclo do carbono
Os microrganismos procariotos provocam a mineralização da matéria orgânica na medida
em que obtêm energia através da respiração e da fermentação. Nutrientes liberados nesses
processos alimentam nova produção de biomassa. Essa sequência “cíclica” caracteriza o que
chamamos de ciclos biogeoquímicos. Todos os elementos na natureza percorrem um ciclo
particular, do ambiente para os tecidos dos organismos e vice-versa. Veremos agora como
microrganismos participam desses ciclos através de dois exemplos: os ciclos do carbono e
do nitrogênio.

Ciclo do Carbono Aerobiose

Respiração aeróbica

Fotossíntese oxigênica

Metanotrofia
(CH2O)n CH4 CO2
Fermentação Metanogênese

Respiração anaeróbica
e fermentação

Fotossíntese anoxigênica
Anaerobiose

Figura 5 – O ciclo biológico do carbono

Fonte: Modificada de Dodds (2005).

Na Figura 5, você observa as principais etapas biológicas do ciclo do carbono. Há outros


processos físicos e físico-químicos que controlam as entradas e saídas de carbono nos
ecossistemas, mas esse não será nosso enfoque aqui. Para conhecer melhor o ciclo global
do carbono, veja o vídeo sobre o ciclo do carbono no site do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais, através do link indicado nas Leituras complementares.

Podemos compreender as etapas biológicas do ciclo do C começando pela via


fotossintética, através da qual o CO2 é fixado em moléculas orgânicas tanto aerobiose quanto
em anaerobiose, nos processos de fotossíntese oxigênica e anoxigênica já estudadas nessa aula.

Quando os organismos morrem, a matéria orgânica estocada em sua biomassa é


mineralizada, e o carbono orgânico é novamente transformado em CO2 através da respiração
aeróbica, respiração anaeróbica e fermentação. Algumas poucas bactérias produzem o gás

216 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


metano (CH4 ) em anaerobiose através da fermentação. Uma produção de metano mais
significativa ocorre na metanogênese realizada por um grupo de Archaea (arqueobactérias),
as metanogênicas, que são anaeróbios obrigatórios. Na presença de CO2 , e também de H2
produzido através da fermentação, esses procariotos usam o CO2 como aceptor final de
elétrons e o H 2 como doador de elétrons na respiração anaeróbica. O CO2 é então reduzido a
CH4. A reação geral da metanogênese é

4H 2 + CO2 CH4 + 2H2O

Atividade 8
O CO 2 é também usado como fonte de carbono pelas arqueobactérias
metanogênicas. Nesse caso, o CO2 não é fixado pelo ciclo de Calvin-Benson,
mas por outro processo chamado de via acetil-CoA. Em qual categoria nutricional
(definida na Atividade 6) as metanogênicas podem ser enquadradas?

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 217


O metano é uma molécula relativamente estável, mas algumas bactérias, as metanotróficas,
são capazes de prontamente oxidá-lo, utilizando-o como doador de elétrons para a geração
de energia e como única fonte de carbono, processo chamado metanotrofia. Essas bactérias
são todas aeróbias, e amplamente distribuídas nos solos e águas naturais. Elas compõem
uma grande diversidade de tipos morfológicos, tendo em comum apenas a habilidade para
oxidar o metano.

Você sabia?

 O metano (CH4 ) é extensivamente encontrado na natureza. É produzido em


ambientes anóxicos por bactérias metanogênicas, e é um dos principais
gases em sedimentos anóxicos, pântanos, regiões anóxicas de lagos, no
rúmen e no trato intestinal de mamíferos. O metano é o principal componente
do gás natural e está também presente em muitas formações de carvão.
Recentemente, tem havido um grande interesse nas bactérias que utilizam o
metano pela possibilidade de utilização dessa fonte simples e abundante de
energia (metano) para a produção de proteína bacteriana para alimentação
ou suplemento alimentar.

 O ciclo do C tem recebido grande atenção por parte dos cientistas que
procuram compreender os processos envolvidos no aumento do efeito
estufa, que tem causado o fenômeno de aquecimento global. O aquecimento
global é causado, principalmente, pelo gás carbônico (CO 2), responsável
por 77% do efeito estufa hoje. Embora o metano seja um componente
de menor importância no ciclo global do carbono, ele é importante em
algumas situações particulares, pois as emissões de metano contribuem
para aumentar o efeito estufa na atmosfera. As emissões de metano são
da ordem de 1% da quantidade de CO2, porém o efeito de aquecimento da
molécula de CH4 é 25 vezes maior que a de CO2.

218 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 9
Acesse o material educativo do site do INPE, Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais <http://videoseducacionais.cptec.inpe.br/>, e assista aos vídeos
Mudanças Ambientais Globais, Efeito Estufa e Ciclo do Carbono. Depois, relate
no espaço abaixo o que significa efeito estufa e aquecimento global e qual é o
papel do CO2 no aquecimento global.

O ciclo do nitrogênio
O nitrogênio (N), assim como o carbono, é um importante macronutriente para os
seres vivos. O nitrogênio está presente nos aminoácidos, proteínas, DNA, RNA e em outros
componentes celulares. Desvendaremos agora a intensa participação dos microrganismos no
ciclo desse elemento. O ciclo do N tem sido bastante modificado pelas atividades humanas.
Isso ocorre basicamente porque o crescimento das plantas terrestres é, em geral, limitado pela
baixa disponibilidade de N nos solos. Por isso, precisamos fertilizar o solo com nitrogênio
para aumentar a produtividade agrícola. Se por um lado tal procedimento ajuda a garantir a
produção de alimentos, por outro lado o aumento da concentração de N no solo pode ter como
consequência o aumento de sua concentração em rios, lagos e outros ambientes aquáticos,
onde seu excesso provoca poluição.

As principais formas de N assimiladas pelas plantas e microrganismos autotróficos são o


íon amônio (NH4+ ) e o nitrato (NO3–). Partindo dessas formas mais simples de N inorgânico,
as plantas, microalgas e procariotos fabricam aminoácidos e proteínas que constituirão as
células. Porém, a maior parte do N na natureza não se encontra nessas formas utilizáveis pelos
organismos, e sim na forma de N2 (Figura 6).

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 219


Gás nitrogênio livre
(N2 ) (N2) na atmosfera
Decomposição

Azotobacter
Proteínas Plantas Beijerinckla Fixação
de células leguminosas Cianobactérias industrial como
mortas Clostridium fertilizante
Não-simbióticos

Fixação

Organismos em
(N2O )
deterioração (bactérias
aeróbicas e bactérias
anaeróbicas e fungos) Procariotos
Denitrificadoras simbióticos
(pseudomonas, Bacilus Assimilação
Nitritos Amônia
licheniformis,Paracoccus (NH3 )
(NO2–) Amonificação
denitrificans e outras) Nitrosomonas

Denitrificação Nitratos
Nitritos Nitrificação Legenda
(NO3–)
(NO2–)
Amonificação
Nitrificação Fixação
Nitrificação
Denitrificação

Figura 6 – O ciclo do nitrogênio


Fonte: Tortora, Funke e Case (2002).

Você sabia?

O maior reservatório de nitrogênio do planeta encontra-se na forma de N2,


constituindo 78% da atmosfera!

O N2 pode ser assimilado apenas por certas bactérias e algumas cianobactérias,


através do processo conhecido como fixação biológica do nitrogênio.
Os procariotos fixadores de N2 dispõem de um sistema enzimático denominado
nitrogenase, que catalisa a redução do N2 a amônia (NH 3), com grande gasto
de ATP, segundo a equação abaixo. Uma vez fabricada a amônia, esta será
incorporada a aminoácidos e proteínas (veja a Figura 6).

Fixação Biológica do Nitrogênio


NITROGENASE
N2 + 3H2 2NH3

Na Figura 6, vemos uma representação da influência humana no ciclo do N com


fabricação de fertilizantes através de um processo industrial que fixa o nitrogênio.
Os cientistas estimam que o ser humano duplicou a produção de nitrogênio
assimilável por plantas e microrganismos, comparado à quantidade de N que é
naturalmente reciclada no ciclo desse elemento.

220 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 10
Simbióticos
Observe na Figura 6 que existem duas categorias de procariotos fixadores de Significa “que vivem
nitrogênio, os de vida livre (não-simbióticos) e os que vivem associados com juntos”, e refere-se
a organismos que
plantas, principalmente leguminosas. Descubra alguns exemplos que estão compartilham um
faltando na categoria “procariotos simbióticos” fixadores de N. Para tanto, leia o mesmo habitat,
artigo “Estudo mostra que leguminosas arbóreas podem ajudar a recuperar áreas estabelecendo algum
tipo de interação entre si.
alteradas na Amazônia” (http://cienciahoje.uol.com.br/4074) e descreva-os. Anote
abaixo esses exemplos. Relate também a importância desses microrganismos
para a recuperação de áreas degradadas.

Continuando o estudo sobre o ciclo do N, vemos na Figura 6 que compostos orgânicos,


inclusive aqueles ricos em N, como proteínas e aminoácidos, serão mineralizados após a
morte do organismo ou após a excreção de compostos orgânicos no meio. Em se tratando
de proteínas, uma primeira etapa na decomposição (proteólise; veja a Figura 6) envolve
uma reação catalisada por enzimas das classes das proteases e peptidases, sintetizadas
por microrganismos que usam proteínas como fonte de energia e nutrientes. Compostos
resultantes desse processo, os aminoácidos, são, por sua vez, também hidrolisados por ação
de enzimas microbianas, tais como a alanina desaminase. Essa etapa pode ser chamada de
amonificação microbiana, pois a amônia é o principal produto final (veja a Figura 6).

Na etapa seguinte do ciclo do N, a nitrificação, a amônia é oxidada a nitrito e este, por


sua vez, é oxidado a nitrato (veja a Figura 6). Esses processos correspondem à respiração
aeróbica tendo a amônia e o nitrito como fonte de energia (ver equação geral abaixo).
As bactérias Nitrosomonas e Nitrobacter, exemplos de microrganismos evolvidos no processo,
são quimioautotróficas e usam a energia obtida na nitrificação para fixar CO2.

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 221


Nitrificação

Ex: Nitrosomonas

2NH3 + 3O2 2NO –2 + 2H2O + 2H + + E

Ex: Nitrobacter

2NO –2 + O2 2NO –3 + E

Nossa descrição sobre o ciclo do N se completa agora com a etapa chamada


desnitrificação, também realizada exclusivamente por seres procariotos.

Atividade 11

Observe a Figura 6 e relate qual é a forma final do N no processo de desnitrificação.

A desnitrificação ocorre na ausência de oxigênio. Alguns procariotos anaeróbios obtêm


energia para o crescimento usando o nitrato como aceptor final de elétrons na respiração
anaeróbica. Como fonte de energia (doadores de elétrons), esses organismos usam os variados
compostos, orgânicos e inorgânicos. Veja alguns exemplos abaixo:

222 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


Desnitrificação

a) Ex: Pseudomonas

4H+ + 4NO –3 + 5(CH2O) 2N2 + 5CO2 + 7H2O + E

(matéria orgânica)

b) 5H2 + 2KNO3 N2 + 2KOH + 4H2O + E

Atividade 12
Observe que o processo que denominamos “ciclo do nitrogênio” constitui para
as bactérias formas de obtenção de recursos.

a) Relate no espaço abaixo quais etapas correspondem a processos de obtenção


de energia para os microrganismos.

b) Em uma das etapas do ciclo do N não há produção de energia; pelo contrário,


os procariotos gastam energia para desempenhá-la. Cite qual é essa etapa e
explique qual é o ganho para o microrganismo.

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 223


Leituras complementares
AGÊNCIA FAPESP. Estrutura da clorofila. 5 maio 2009. Disponível em: <http://www.agencia.
fapesp.br/materia/10442/divulgacao-cientifica/estrutura-da-clorofila.htm>. Acesso em:
2 dez. 2009.

Nesse artigo são descritos resultados de uma pesquisa sobre a extraordinária eficiência
do processo de fotossíntese de um grupo de bactérias verdes que vivem em regiões profundas
do Mar Negro.

DÖBEREINER, Johanna. A pesquisa que revolucionou a agricultura. Scientific American Brasil,


ed. 22, mar. 2004. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/a_pesquisa_
que_revolucionou_a_agricultura.html>. Acesso em: 29 dez. 2009.

O texto, intitulado A pesquisa que revolucionou a agricultura, relata um pouco da trajetória


de Johanna Döbereiner, uma agrônoma que ajudou a desvendar o papel das bactérias no ciclo
do nitrogênio. Paralelamente, mostra a importância dessas pesquisas para a agricultura.

Resumo
Nesta aula, estudamos como ocorre o processo de obtenção de energia através
da captação da energia luminosa: a fotossíntese. Vimos que procariotos, com
exceção das cianobactérias, não produzem oxigênio durante a fotossíntese.
Outras diferenças, tais como pigmentos, localização do processo na célula, entre
fotossíntese eucariótica e procariótica foram apresentadas. Concluímos o estudo
sobre metabolismo microbiano classificando os seres vivos em diferentes tipos
nutricionais com base nas fontes de energia e carbono utilizadas. Microrganismos,
e especialmente bactérias, estão representadas em todos os tipos nutricionais!
Nesta aula, você também teve a oportunidade de reconhecer a intensa participação
dos microrganismos nos ciclos do carbono e do nitrogênio, e exemplos de como
os seres humanos estão interferindo nesses ciclos.

224 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


Autoavaliação
Estabeleça uma comparação entre a fotossíntese de eucariotos e procariotos quanto
1 aos pigmentos utilizados, local onde o processo ocorre na célula e produtos finais.

Sob qual aspecto o aparato fotossintético de cianobactérias assemelha-se ao dos


2 eucariotos fototróficos?

Leia o texto Águas Potiguares: Oásis ameaçados (inserido no moodle, na página


3 da disciplina) e responda às questões abaixo, utilizando os conceitos e termos que
você aprendeu nessa aula.

a) Explique o que são cianobactérias?

b) Explique por que a água do açude (Figura 4 do artigo) é verde.

c) Relate se você reconhece, em algum corpo d’água da sua região, a situação


descrita no artigo.

Estabeleça uma comparação entre o processo de metanotrofia e metanogênese


4 quanto ao ambiente onde ocorrem (aerobiose/anaerobiose), produtos formados e
as funções do CH4 e CO 2.

Pesquise em artigos e notícias do site do Centro de Previsão do Tempo e Estudos


5 Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (http://www.cptec.inpe.br/)
quais são as atividades humanas responsáveis pela emissão de gases estufa.
Identifique na região onde você vive quais são as possíveis fontes desses gases.

Descreva o ciclo do nitrogênio, enfatizando quais são as etapas de ganho e gasto


6 energético, e a necessidade do oxigênio para que as reações ocorram.

Leia o artigo A pesquisa que revolucionou a agricultura <http://www2.uol.com.br/


7 sciam/reportagens/a_pesquisa_que_revolucionou_a_agricultura.html> e descreva
qual a importância das bactérias fixadoras de N para a agricultura.

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 225


Referências
BARBOSA, H. R.; TORRES, B. B. Microbiologia básica. São Paulo: Ed. Atheneu, 2005. 196p.

ESKINAZI-SANT’ANNA, Eneida M. et al. Águas potiguares: oásis ameaçados. Ciência Hoje, v.


39, n. 233, p. 68-71, 2006.

FREITAS, S. R. et al. Emissões de queimadas em ecossistemas da América do Sul. Estudos


Avançados, São Paulo: Instituto de Estudos Avançados, v. 19, n. 53, p. 167-185, 2005.

MADIGAN, M. T.; MARTINKO, J. M.; PARKER, J. Microbiologia de Brock. São Paulo: Prentice
Hall, 2004.

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 6. ed. Porto Alegre: Ed. Artmed,
2000. 827p.

WAGENINGEN UNIVERSITY AND RESEARCH CENTRE. Nitrogen Deposition Limits Climate


Change Impacts On Carbon Sequestration. ScienceDaily. Retrieved, n. 3, nov. 2009.
Disponível em: <http://www.sciencedaily.com/releases/2009/10/091007103059.htm>.
Acesso em: 2 dez. 2009.

Anotações

226 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


Anotações

Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica 227


Anotações

228 Aula 10 Metabolismo da Vida Microscópica


Como os microrganismos
se relacionam

Aula

11
Apresentação

N
a Aula 9 (A diversidade dos microrganismos), estudamos sobre a diversidade microbiana
que existe na natureza. Em condições naturais, um microrganismo raramente existe em
isolamento. Nos ambientes naturais, encontram-se coexistindo numerosas populações
com características diversas. As populações microbianas que vivem juntas em um local
particular, chamado habitat, interagem mutuamente formando uma comunidade microbiana.
Essas comunidades possibilitam a ocorrência da mineralização da matéria orgânica e os ciclos
dos nutrientes, exemplificados na Aula 10 (Os microrganismos auxiliam a (re)circulação da
matéria no planeta). Isso porque cada grupo de organismos é especializado numa parte de
cada processo e, juntos, fazem o trabalho que não poderiam fazer separadamente. Nesta aula,
vamos ver alguns exemplos de como a presença de um microrganismo influencia na vida de
outro ser microscópico. Isso faz parte do estudo da Ecologia Microbiana!

Objetivos
Aplicar os conceitos da Ecologia para definir as relações envolvendo
1 microrganismos.

Exemplificar algumas relações que envolvem microrganismos.


2
Reconhecer quais são as vantagens e desvantagens para os
3 microrganismos nessas relações.

Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica 231


Dividindo espaços
muito pequenos
Já vimos que microrganismos ocupam os mais diversos habitats, incluindo aqueles onde
nenhum outro organismo pode sobreviver, tais como fontes termais (elevadas temperaturas) e
rochas ácidas. Por sua grande diversidade metabólica, microrganismos podem viver com ou
sem oxigênio, com ou sem luz, e usando os mais diversos tipos de substâncias como fonte de
energia e carbono (veja as Aulas 5 e 10). Devido ao reduzido tamanho dos microrganismos,
espaços pequenos como aquele exemplificado na Figura 1 (uma partícula de solo de 12mm
de diâmetro) podem abrigar diferentes populações com capacidades metabólicas distintas se
esse habitat for heterogêneo.

No exemplo da Figura 1 a concentração de oxigênio pode variar de 21% (normalmente


encontrado no ar que respiramos), na camada superficial da partícula, até 0% no centro
dela. Entre o ambiente oxigenado (na superfície) e o anaeróbico (centro), há um gradiente de
concentrações de oxigênio. Essa heterogeneidade espacial, muito comum na natureza, favorece
a existência do que chamamos de microhabitats. Ocupando esses microhabitats há distintas
populações microbianas favorecidas por diferentes concentrações de oxigênio no meio, desde
a aerobiose até a anaerobiose. Lembre-se de que estamos aqui falando apenas do oxigênio,
mas outros fatores ambientais também podem variar e assim contribuir para o surgimento de
microhabitats. Microrganismos são encontrados compartilhando os microhabitats e, portanto,
estão em proximidade, favorecendo a influência mútua entre as populações.

21
6
15
1
10
5
1
3
Distância (mm)

6 3 0 3 6
Distância (mm)

Figura 1 – Concentrações de oxigênio em uma partícula de solo

Fonte: Madigan, Martinko e Parker (2004)

232 Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica


Quais tipos de interações
existem entre microrganismos?
Os cientistas que estudam Ecologia consideram que as interações entre os seres vivos
podem ter caráter positivo ou negativo.Quando duas populações diferentes interagem, uma
delas ou ambas pode se beneficiar pela interação (interações positivas), ou então efeitos
negativos podem ocorrer para uma ou ambas as populações (interações negativas). Veja as
denominações das interações no Quadro 1.

É importante que você compreenda que interação positiva é aquela que favorece a
população envolvida; essa terá maior crescimento populacional na presença da outra população
do que na ausência dela. Por sua vez, uma interação negativa para uma população significa
que ela terá seu crescimento diminuído quando a outra população envolvida estiver presente.

As categorias usadas para descrever essas interações ecológicas representam um sistema


de classificação conceitual; em muitos casos específicos, não é evidente qual é o tipo de
interação que ocorre.

Tipo de interação Espécie A Espécie B Natureza da interação

Neutralismo 0 0 Sem efeitos

Comensalismo + 0 Comensal/hospedeiro não é afetado

Mutualismo + + Obrigatória

Protocooperação + + Não obrigatória

Competição – – Inibição mútua

Predação + – B é ingerido por A

Parasitismo + – B é explorado por A

Amensalismo – 0 A população B não é afetada

Quadro 1 – Principais tipos de interações entre populações de seres vivos

Fonte: Pinto-Coelho (2000)

Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica 233


Atividade 1
a) Observe a Tabela 1 e defina com suas palavras cada uma das interações.

b) Você conhece exemplos das interações mostradas no Quadro 1 envolvendo


plantas e/ou animais? Explique dois desses exemplos no espaço abaixo. Caso
não saiba, faça uma pesquisa para responder à questão.

234 Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica


Em comunidades simples, uma ou mais interações descritas no Quadro 1 podem ser
observadas e estudadas. Em uma comunidade biológica natural complexa, todas essas
possíveis interações provavelmente ocorrerão entre diferentes populações.

Exemplificando as interações entre


microrganismos: neutralismo é uma interação?
Em Ecologia, o conceito de neutralismo implica na ausência de interações entre
duas populações microbianas. O neutralismo não pode ocorrer entre duas populações que
apresentam uma sobreposição de seus papéis funcionais em uma comunidade, e é mais
provável ocorrer entre populações microbianas com capacidades metabólicas extremamente
diferentes. Pelo fato de ser uma proposição negativa, o neutralismo é difícil de ser demonstrado
experimentalmente. Assim, exemplos de neutralismo descrevem casos onde as interações,
ainda que existentes, não são importantes.

Condições ambientais que não permitem o crescimento microbiano ativo favorecem o


neutralismo. Por exemplo, microrganismos congelados em uma matriz de gelo, tais como
produtos alimentícios congelados, ambientes aquáticos (rios, lagos, mares) com a água
congelada, encontram-se tipicamente sob uma relação de neutralismo. Condições ambientais
que favorecem o crescimento de populações microbianas decrescem ou impedem a ocorrência
de neutralismo.

Formas de resistência de microrganismos têm maior probabilidade de desenvolver


uma relação de neutralismo com outras populações, do que células vegetativas crescendo
ativamente. As baixas taxas de atividade metabólica para a manutenção de tais formas de
resistência não forçam o microrganismo para o desenvolvimento de interações competitivas
envolvendo a busca por recursos. Quando as condições ambientais tornam-se favoráveis, os
estágios de resistência desses microrganismos podem germinar, formando células vegetativas
que serão então engajadas em interações positivas ou negativas.

Você notou nesses


exemplos que o tipo de interação
que ocorre entre duas populações depende
das condições do ambiente? Isso que dizer que
quando o ambiente se altera (e a natureza está
em constante mudança...), as interações
entre os organismos também
se alteram!

Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica 235


Atividade 2

Durante períodos de stress ambiental (temperaturas elevadas ou secas, por


exemplo), populações microbianas presentes no ambiente em formas de
resistência podem desenvolver interações de neutralismo. Que tipos de estruturas
de resistência bacteriana podem ser encontradas nessas situações? Você pode
resolver essa atividade com auxílio da Aula 1 (Comparando células procarióticas
e células eucarióticas).

236 Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica


Exemplificando interações ecológicas positivas:
comensalismo, protocooperação, mutualismo
O desenvolvimento de interações positivas permite a utilização de recursos mais eficientes
pelos microrganismos, além de possibilitar a ocupação de habitats que de outra forma não
poderiam ser explorados. Interações positivas entre populações microbianas são baseadas em
capacidades físicas e metabólicas que aumentam as taxas de crescimento e/ou sobrevivência.

No comensalismo, uma população se beneficia enquanto a outra não é afetada. Embora


relações comensais sejam comuns entre populações microbianas, elas em geral não são
obrigatórias. O comensalismo é uma relação unidirecional entre duas populações: a população
que não é afetada, por definição, não se beneficia nem sofre prejuízos pelas ações da segunda
população. A população afetada (+) necessita dos benefícios fornecidos pela comensal
inalterada (0).

Existem diversas bases químicas e físicas para relações comensais. O comensalismo


frequentemente ocorre quando a população inalterada (0), no curso normal do seu crescimento
e metabolismo, modifica o habitat de tal maneira que uma outra população (+) se beneficia,
porque o habitat modificado torna-se mais favorável para suprir suas necessidades. Por
exemplo, quando uma população de anaeróbios facultativos utiliza oxigênio, reduzindo sua
concentração no ambiente, ela cria um ambiente favorável para o crescimento de anaeróbios
obrigatórios. Em tais habitats, os organismos anaeróbios se beneficiam das atividades
metabólicas dos organismos facultativos. Por outro lado, os facultativos não são afetados
pela interação enquanto as duas populações não competem pelos mesmos substratos ou
nutrientes. A ocorrência de anaeróbios obrigatórios em microhabitats inseridos em habitats
predominantemente aeróbios depende desse tipo de relação comensal.

Mutualismo, frequentemente chamado de simbiose, é uma relação ecológica obrigatória


entre duas populações que se beneficiam mutuamente. Uma relação mutualística exige
proximidade física, é altamente específica, e um membro da associação não pode ser substituído
por outras espécies relacionadas. As interações de mutualismo permitem aos organismos
colonizar habitats que não poderiam ser ocupados por nenhuma das populações isoladamente.
Isso não exclui a possibilidade dessas populações existirem em outros habitats. As atividades
metabólicas e tolerâncias fisiológicas das populações envolvidas nas relações mutualísticas
são normalmente muito diferentes daquelas encontradas nas populações isoladas.

Os termos mutualismo e simbiose são às vezes usados como sinônimos. Nós


preferimos diferenciá-los, considerando a origem grega do termo simbiose, que
significa “viver juntos”. Assim, consideramos qualquer tipo de interação como
simbiose, pois uma interação qualquer ocorre na medida em que os seres vivos
dividem um mesmo espaço. O mutualismo é, dessa forma, um dos tipos de
interações simbióticas.

Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica 237


Atividade 3

Cite e explique dois exemplos que você conhece de interação mutualística.

Um exemplo de mutualismo entre microrganismos e vegetais são as associações entre


bactérias fixadoras de nitrogênio e plantas leguminosas. Você estudou na Aula 10 sobre a
importância do processo de fixação biológica do nitrogênio. Na atividade número 9 da referida
aula, você teve a oportunidade de ler sobre esse tipo de interação.

238 Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica


Figura 2 – A formação de um nódulo da raiz de uma planta leguminosa
em associação mutualística com bactérias fixadoras do nitrogênio
Fonte: Tortora, Funke e Case (2002).

Outra interação ecológica normalmente exemplificada como mutualismo são os liquens,


que é uma associação entre microalgas e/ou cianobactérias e fungos. Os liquens podem
colonizar habitats onde nem os fungos ou as algas poderiam sobreviver isoladamente. Por
isso, liquens são, frequentemente, os primeiros seres a se instalarem em solos ou pedras
recentemente expostos. Para o fungo, o benefício da interação é evidente. Fungos são
seres quimio-heterotróficos (veja a Aula 10) que utilizam como fonte de energia e carbono
a matéria orgânica excretada pelo parceiro fotossintetizante (microalga e/ou cianobactéria).
Tradicionalmente, considera-se que o benefício do parceiro fotossintetizante no líquen é a
possibilidade de ocupar habitats potencialmente hostis à sobrevivência de algas de vida livre.
O fungo forneceria, nesse caso, um substrato para fixação da alga ou cianobactéria e proteção
contra a dessecação. Porém, essa interpretação tem sido recentemente questionada.
Alguns pesquisadores da área de Ecologia têm argumentado que não existem provas
experimentais de que as algas e cianobactérias de fato se beneficiam da interação com o
fungo. Algumas pesquisas têm sugerido que a interação no líquen trata-se, na verdade, de
comensalismo ou parasitismo, uma vez que o fungo pode controlar o crescimento da alga.
Isso ficou claro quando os pesquisadores descobriram que entre 70 a 90% do produto da
fotossíntese é liberado para o fungo e que o parceiro fotossintetizante pode formar populações
maiores na ausência do fungo. Essas descobertas contradizem a ideia de interação mutualística,
na qual todos os parceiros devem ter ganhos.

Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica 239


É por
isso que se diz que não
existem verdades absolutas na Ciência!
O conhecimento que se tem atualmente pode
ser modificado com as novas descobertas.
E isso torna a Ciência ainda mais
interessante!

Atividade 4
Procure fotos de liquens na internet e analise seu aspecto. Depois, procure
observar a presença de liquens em árvores de jardins ou praças onde você mora.
Descreva no espaço abaixo o que você encontrou. Há liquens de cores e formas
diferentes? Sugerimos os sites abaixo, mas você pode buscar outros.

<http://www.microbiologia.vet.br/fungoscogumelos.htm>

<http://www.feiradeciencias.com.br/sala26/26_feira_01.asp>

240 Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica


Uma relação de protocooperação entre duas populações microbianas indica que ambas as
populações se beneficiam com a interação, mas diferentemente do mutualismo, essa associação
não é obrigatória. Ambas as populações são capazes de sobreviver separadamente em seu ambiente
natural, embora o estabelecimento da interação traga vantagens mútuas para as populações
envolvidas e tenda a maximizar o crescimento de ambas. As relações de protocooperação são Heterocitos
fracas no sentido de que uma população pode ser facilmente substituída por outra.
Célula especializada
na fixação biológica
Em alguns casos, é difícil determinar se ambas as populações estão de fato se
do nitrogênio em
beneficiando, ou se apenas uma das populações se beneficia enquanto a outra não sofre algumas cianobactérias
nenhum efeito (sendo a interação classificada como comensalismo). Em outros casos, é filamentosas, onde a
enzima nitrogenase é
difícil determinar se a relação é obrigatória, devendo, neste caso, ser considerada mutualismo.
armazenada.
Muitos cientistas não fazem distinção entre mutualismo e protocooperação por causa dessas
dificuldades, considerando tais interações simplesmente como mutualismo.

Um exemplo de protocooperação pode ser observado entre populações bacterianas


envolvidas na ciclagem do nitrogênio (veja a Aula 10). Especificamente, bactérias heterotróficas
do gênero Pseudomonas são atraídas pelos produtos excretados pelos heterocitos de
cianobactérias filamentosas do gênero Anabaena. Pseudomonas formam agregados densos
ao redor dos heterocitos, beneficiando-se dos substratos excretados pelas cianobactérias.
Ao oxidar esses excretas orgânicos, as Pseudomonas consomem o oxigênio na superfície do
heterocito. As cianobactérias se beneficiam dessa condição, uma vez que a enzima nitrogenase,
responsável pela fixação biológica do nitrogênio, pode ser inativada pelo oxigênio.

Exemplificando interações ecológicas


negativas: competição, predação e parasitismo
A competição ocorre pela disputa por recursos entre as populações envolvidas,
especialmente quando tais recursos são escassos no ambiente, ou, como dizemos, são
limitantes (limitam o crescimento das populações). No caso de microrganismos, esses
recursos são normalmente fontes de energia e nutrientes. Podemos chamar de competição
indireta quando o metabolismo dos microrganismos se modifica de modo que as células
se tornam mais eficientes na absorção de recursos. Aquelas populações que capturarem
os recursos mais rapidamente, por exemplo, provavelmente terão mais sucesso (maior
crescimento populacional) do que outros microrganismos menos eficientes.

Um exemplo disso é a habilidade de muitos microrganismos, especialmente bactérias,


na produção de enzimas chamadas fosfatases, que atuam na degradação do fosfato orgânico
presente no meio. Com a quebra da molécula orgânica, promovida por essas enzimas, a fração
inorgânica (fosfato) é separada da orgânica, tornando-se disponível para ser assimilada pela
célula. Vale lembrar que o fosfato inorgânico é a principal forma de fósforo absorvida pelos
microrganismos e pode ser um nutriente limitante ao crescimento de plantas e microrganismos
em muitos ambientes naturais. Aquelas populações de microrganismos que produzirem fosfatases

Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica 241


com atividade mais elevada terão mais chance de absorver o fosfato e assim superar (em termos
de crescimento populacional) outras populações que têm menor atividade da fosfatase.

Outro tipo de interação competitiva, considerada competição direta, tem como base
a produção e secreção por um microrganismo particular de substâncias inibidoras do
crescimento de outras populações potencialmente competidoras. Esse é o caso da produção
natural de antibióticos por bactérias e fungos. A observação de um evento de competição
entre microrganismos levou em 1928 o cientista escocês Alexander Fleming à descoberta da
penicilina, antibiótico que revolucionou a Medicina.

Durante sua rotina de trabalho, cultivando e estudando bactérias, Fleming observou uma
colônia diferente em algumas placas de Petri com cultivo bacteriano. Essa colônia diferente era
formada por um microrganismo contaminante. Ao invés de desprezar os cultivos contaminados,
chamou-lhe a atenção um espaço ao redor da colônia contaminante onde as bactérias cultivadas
não cresciam. Esse espaço ficou conhecido como halo de inibição. Ou seja, a área no meio
de cultivo que sofre alguma influência da colônia a ponto de inibir o crescimento de outros
microrganismos. O fungo contaminante na placa de Fleming foi identificado como do gênero
Penicillium e a substância inibidora do crescimento de bactérias foi posteriormente isolada e
nomeada penicilina.

Alexander Fleming ganhou em 1945 o prêmio Nobel de Fisiologia/Medicina.


Ao receber a condecoração, Fleming disse: “Não inventei a penicilina. A natureza
é que a fez. Eu só a descobri por acaso”.

É isso mesmo! Microrganismos fabricam e excretam no meio diversos compostos que


matam e inibem o crescimento de outros microrganismos. A síntese de tais substâncias tem uma
função óbvia para o microrganismo produtor: a inibição do crescimento de potenciais competidores
que utilizam os mesmos recursos para o metabolismo celular. Com isso, a população que produz
substâncias inibidoras garante para si uma maior disponibilidade de recursos.

242 Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica


Figura 3 – Cultura bacteriana contendo uma colônia de fungo contaminante

Fonte: <http://culturesciences.chimie.ens.fr/dossiers-dossierstransversaux-Sante-Penicilline_Decouverte_Antibiotique_Demirdjian.html>. Acesso em: 2 dez. 2009.

Atividade 5

Faça uma pesquisa em livros ou sites da internet sobre outros microrganismos


produtores de antibióticos. Descubra que outros organismos produzem
antibióticos e quais são essas substâncias. Registre no espaço abaixo o que
você encontrou.

Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica 243


No mundo microscópico, a distinção entre parasitismo e predação nem sempre é evidente.
Por exemplo, a interação entre a bactéria Bdellovibrio e bactérias Gram-negativas susceptíveis
(veja a Figura 4) é definida por alguns cientistas como parasitismo e predação por outros.
Em geral, na predação um dos organismos, o predador, alimenta-se e digere o outro, a presa.
No parasitismo, um dos organismos, o parasita, vive sobre ou dentro de outro organismo,
o hospedeiro, extraindo dele nutrientes necessários ao seu crescimento. Considera-se que
em geral a interação entre parasita e hospedeiro é caracterizada por um período de tempo
relativamente longo, enquanto a relação predador-presa é geralmente, mas não sempre, de
curta duração.

No exemplo da Figura 4, a bactéria Bdellovibrio é incapaz de se reproduzir isoladamente.


Ela se aloja dentro de outro microrganismo, matando-o e dele extraindo a matéria orgânica
e nutrientes para a produção de novos indivíduos Bdellovibrio. Outras bactérias, que são
patógenos humanos e de plantas, estão entre as potenciais vítimas do Bdellovibrio. Por isso,
alguns cientistas estudam a possibilidade de usar essa bactéria com a finalidade de tratar
doenças. Elas seriam “antibióticos vivos”, com função de matar as bactérias patogênicas em
um processo de infecção!

Bdellovibrio

Bactéria alvo

II. Adesão do Bdellovibrio


III. Invasão
em formação

I. Localização da
bactéria alvo
IV. Estabelecimento

VIII. Lise celular da presa V. Bdellovibrio em formação


e liberação de vários indivíduos
de Bdellovibrio

VII. Bdellovibrio em formação VI. Bdellovibrio em formação

Figura 4 – Ciclo de vida da bactéria parasita (ou predadora?) de outra bactéria

Fonte: <http://www.mpg.de/english/illustrationsDocumentation/documentation/pressReleases/2004/pressRelease20040123/index.html>. Acesso em: 2 dez. 2009.

244 Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 6
Considerando os conceitos ecológicos de predação e parasitismo que você
aprendeu, relate qual é sua opinião a respeito da interação mostrada na Figura 4:
trata-se de um exemplo de parasitismo ou predação? Justifique sua resposta.

Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica 245


Um exemplo de parasitismo entre microrganismos é a relação estabelecida entre um protista
dinoflagelado heterotrófico do gênero Amoebophrya e outro dinoflagelado Dinophysis norvegica
(fotossintetizante). A Amoebophrya penetra em seu hospedeiro D. norvegica e completa seu ciclo
de vida, gerando vários outros indivíduos que saem de seu hospedeiro para encontrar novos
hospedeiros no ambiente. Essa interação pode ser observada no link <http://www.bom.hik.se/
plankton/>. Nessa página da Universidade de Kalmar, Suécia, você seleciona “Movie” no tópico
“Parasite Research” (Pesquisa sobre parasitas). O vídeo mostra imagens feitas sob microscopia,
no momento em que a Amoebophrya, considerado parasita, sai do seu hospedeiro Dinophysis
norvegica (dinoflagelado fotossintetizante). Nesse exemplo, um ser eucarioto unicelular completa
seu ciclo de vida parasitando outro ser eucarioto também unicelular!

Infecções virais em bactérias configuram uma interação de parasitismo. Atualmente,


sabe-se que vírus estão presentes em ambientes aquáticos na ordem de 109 por litro de
água. Acredita-se que infecções virais controlem o crescimento de populações bacterianas
e de microalgas em ambientes naturais. Uma aplicação prática desse conhecimento tem
sido pesquisada para resolver um problema que afeta a Aquicultura em muitas partes do
mundo. Na Europa, na Ásia e nos Estados Unidos, muitas perdas econômicas no cultivo de
peixes ocorrem devido à mortandade de animais marinhos causada pelas florações de algas e
cianobactérias. Para recordar o que são florações, recorra ao texto “Águas potiguares: oásis
ameaçados”, citado na Aula 10. Cientistas investigam a possibilidade de “contaminar” as
florações indesejadas com vírus específicos, que afetam apenas a população alvo, e assim
provocar o decaimento (morte) da floração.

A predação é outra interação importante no mundo microbiano. Bactérias não são


predadoras, pois não assimilam partículas, mas apenas substâncias dissolvidas no meio.
Outros microrganismos, tais como os ciliados, ingerem seu alimento na forma particulada,
tais como bactérias e algas, conforme mostrado na Figura 5. Após a ingestão, essas partículas
são envoltas em vacúolos e digeridas.

Figura 5 – Foto (em microscopia) de um ciliado dentro do qual se pode visualizar uma microalga que foi ingerida

Fonte: <http://www.pmbio.icbm.de/mikrobiologischer-garten/eng/enzoo01b.htm>. Acesso em: 2 dez. 2009.

246 Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 7
Assista ao vídeo Ciliate sweeping up bacteria, disponível no link <http://www.
youtube.com/watch?v=Fc70Uk1fjTw>, e descreva a interação que você vê.

Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica 247


Leituras complementares
ANTUNES, Luis Caetano Martha. A linguagem das bactérias. Revista Ciência Hoje, v. 33, n.
193, p. 16-20, 2003.

Neste artigo, há a descrição de um mecanismo de comunicação química entre bactérias,


chamado quorum sensing. Esse mecanismo corresponde às bases bioquímicas que explicam
como seres microscópicos “percebem” a presença de outros microrganismos potencialmente
competidores ou mutualistas.

DÖBEREINER, Johana. A importância da fixação biológica de nitrogênio a agricultura sustentável.


Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/revistabiotecnologia1ID-
0wLrpPCbk3.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2009.

Este artigo discute a importância da associação mutualística entre bactérias fixadoras de


nitrogênio e plantas para a redução no uso de fertilizantes na agricultura, que assim pode se
tornar mais econômica e sustentável.

Resumo
Nesta aula, vimos que populações microbianas dividem pequenos espaços
na natureza, e estão sempre interagindo entre si. Estudamos as interações
ecológicas chamadas neutralismo, comensalismo, mutualismo, protocooperação,
competição, predação, parasitismo e amensalismo, exemplificando tais interações
no mundo microbiano. Nesses exemplos, distinguimos como os organismos
envolvidos podem ser afetados positivamente ou negativamente. Compreendemos,
também, que o estudo das interações ecológicas envolvendo microrganismos
pode trazer benefícios para o ser humano através do desenvolvimento de
medicamentos, por exemplo.

248 Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica


Autoavaliação
Analise os enunciados abaixo, completando as lacunas existentes.
1
a) A produção de fatores de crescimento forma a base para interação do tipo
____________________________________ entre populações microbianas.
Alguns microrganismos produzem e excretam fatores de crescimento, tais
como vitaminas e aminoácidos, que podem ser utilizados por outras populações
microbianas. Por exemplo, Flavobacterium brevis excreta cisteína, que pode ser
utilizada por Legionella pneumophila em ambientes aquáticos.

b) Bactérias epifíticas são frequentemente observadas na superfície de microalgas.


As relações entre esses microrganismos podem estar baseadas na habilidade
da alga em utilizar a luz, produzindo compostos orgânicos e oxigênio para o
metabolismo aeróbio heterotrófico das aeróbias. As bactérias, por sua vez,
mineralizam a matéria orgânica excretada, suprindo as algas com dióxido de
carbono, e muitas vezes, fatores de crescimento para a assimilação fototrófica.
Esse tipo de interação pode ser denominada ___________________________
_______________________________________________________________
______________________________________________________________

c) O tipo de interação existente entre microrganismos patogênicos e seus


hospedeiros é __________________________________________________.

Discuta todas as possíveis interações ecológicas envolvendo microrganismos


2 presentes no exemplo a seguir.

“Animais que possuem um órgão digestivo denominado rúmen são conhecidos


como ruminantes. Ruminantes como bovinos e ovinos pastam em plantas ricas
em celulose. As bactérias no rúmen fermentam a celulose em compostos que são
absorvidos pelo sangue do animal para serem utilizados como fonte de energia e
carbono. Os fungos do rúmen provavelmente hidrolisam outros componentes da
planta, como a madeira. Protozoários do rúmen mantêm a população de bactérias
sob controle alimentando-se das mesmas.”

Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica 249


As figuras abaixo representam resultados de um experimento hipotético para
3 examinar as possíveis interações existentes entre duas populações bacterianas
“A” e “B” em cultivo, sob condições de laboratório. Nessas figuras são mostradas
curvas de crescimento dos microrganismos (veja a Aula 4, Nutrição e crescimento
microbiano, para recordar o que é curva de crescimento). A Figura 1 representa a
curva de crescimento das duas populações cultivadas separadamente em meio de
cultivo com nutrientes em quantidades adequadas. A Figura 2 indica o crescimento
das populações conjuntamente, no mesmo meio de cultivo usado para o experimento
da Figura 1. Qual interação pode ser descrita entre a população A e B demonstrada
na Figura 2? Justifique.

Figura 1 Figura 2

A
Biomassa

Biomassa

B
A+B

Tempo (h) Tempo (h)

250 Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica


Referências
ATLAS, R.; BARTHA, R. Microbial ecology: fundamentals and applications. California: The
Benjamin Kummings Publ. Redwood City, 1993. pp. 37-68.

FUHRAMN, J. A. Marine viruses and their biogeochemical and ecological effects. Nature, n.
399, p. 541-548, 1999.

HYVÄRINEN, M. Marko; HÄRDLING, R.; TUOMI, J. Cyanobacterial lichen symbiosis: the fungal
partner as an optimal harvester. OIKOS, n. 98, p. 498–504, 2002.

MADIGAN, M. T.; MARTINKO, J. M.; PARKER, J. Microbiologia de Brock. 10. ed. São Paulo:
Prentice Hall, 2004.

MILLIGAN, K. L. D.; COSPER, E. M. Isolation of Virus Capable of Lysing the Brown Tide
Microalga, Aureococcus anophagefferens. Science, v. 266, n. 5186, p. 805-807, 1994.

PINTO-COELHO, R. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2000.

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 6. ed. Porto Alegre: Ed. Artmed,
2000. 827p.

Anotações

Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica 251


Anotações

252 Aula 11 Metabolismo da Vida Microscópica


Os microrganismos
podem ser nossos aliados!

Aula

12
Apresentação

O
s microrganismos são vistos pela maioria das pessoas como seres nocivos que
causam doenças em plantas e animais, incluindo humanos. Contrariando esse
conceito, estudamos na Aula 10 (Os microrganismos auxiliam a (re)circulação da
matéria no planeta) que microrganismos são fundamentais para o funcionamento da natureza
tal como conhecemos. Além disso, exemplificamos na Aula 5 (Obtenção de energia para a
vida microbiana) alguns casos em que microrganismos são usados pelos seres humanos
para a fabricação de alimentos e bebidas. Agora, reforçaremos os aspectos positivos da nossa
convivência com microrganismos no planeta. Estudaremos alguns exemplos de demonstram
que microrganismos são naturalmente importantes para a saúde humana. Veremos também
exemplos de produtos microbianos usados para a fabricação de medicamentos, bem como
em processos de biorremediação e outras aplicações.

Objetivos
Reconhecer situações em que microrganismos são
1 utilizados em favor da saúde humana.

Identificar como as relações entre microrganismos e


2 seres humanos podem ser benéficas.

Exemplificar como os microrganismos podem ser utilizados


3 na despoluição ambiental e na geração de energia.

Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica 255


Bactérias que
protegem nosso organismo
Você já deve ter visto propagandas de sabonetes que prometem “eliminar as bactérias
nocivas da pele”. Mas será que isso é realmente benéfico?

A pele, assim como várias partes do nosso organismo, é colonizada por microrganismos
que chamamos de flora normal ou microbiota normal. São micróbios que naturalmente
colonizam nosso corpo, mas que não produzem doença em condições normais. A flora normal
muitas vezes beneficia o hospedeiro através do fenômeno conhecido como antagonismo
microbiano. Nesse fenômeno, microrganismos da flora normal competem com patógenos
que poderiam se instalar no organismo humano. A competição (veja a Aula 11, “Como os
microrganismos se relacionam”) por nutrientes leva os microrganismos da flora normal a
produzirem substâncias nocivas aos micróbios invasores. Como consequência, nossos “bons
micróbios” previnem o crescimento excessivo de microrganismos nocivos. No exemplo da
pele, fica óbvio que eliminar as bactérias da flora normal não é um bom negócio.

256 Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 1
Leia o texto abaixo – “Sabão com bactericida (Protex) – diga não!” – e descreva outra
desvantagem de se eliminar rotineiramente bactérias da flora normal do corpo humano.

Fonte: A página da química, Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/exemplar11.html>.
Acesso em: 18 jan. 2010.

Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica 257


Outro exemplo de antagonismo microbiano que favorece os seres humanos é visto no
intestino grosso. Nesse órgão, células da bactéria Escherichia coli produzem bacteriocinas, que
são proteínas produzidas por bactérias que inibem o crescimento de outras bactérias. Nesse
caso, bacteriocinas produzidas por E. coli inibem espécies semelhantes, como Salmonella e
Shigella, bactérias patogênicas capazes de provocar infecções intestinais acompanhadas de
diarreias, dores abdominais e muitas vezes a desidratação.

Atividade 2
Leia o texto “Infecção vaginal pelo fungo Candida albicans” inserido no Moodle e descreva
o papel das bactérias da flora normal para a saúde da mulher, bem como os possíveis efeitos
adversos do uso desnecessário de antibióticos.

258 Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica


Medicamentos
produzidos por microrganismos
Ao invés de nos causar doenças, algumas bactérias e fungos produzem substâncias que
podem ser utilizadas para combater infecções causadas por microrganismos patogênicos ou
para combater algum outro problema orgânico ou deficiência nutricional. Em algum momento
da nossa vida, utilizamos tais substâncias microbianas. Aliás, pesquisas para descobertas de
produtos naturais sintetizados por microrganismos aumentam cada vez mais. Vejamos alguns
exemplos a seguir.

 Antibióticos

Na Aula 11 (“Como os microrganismos se relacionam”), vimos como os antibióticos,


mais precisamente a penicilina, foram descobertos. Desde então, essas substâncias têm
sido usadas para controlar as infecções bacterianas e fúngicas em humanos. Além do fungo
Penicillium, outros microrganismos produzem substâncias com ação antimicrobiana usadas
como medicamentos. Mais da metade dos antibióticos são produzidos por espécies do gênero
Streptomyces, bactérias filamentosas que comumente habitam o solo. Alguns antibióticos são
produzidos por bactérias do gênero Bacillus, e outros são sintetizados por fungos, a maioria
do gênero Penicillium e Cephalosporium, como nos exemplos listados no Quadro 1 a seguir.

Microrganismo produtor Antibiótico produzido

Bacillus subtilis Bacitracina

Bacillus polymyxa Polimixina

Streptomyces venezuelae Cloranfenicol

Streptomyces erythraeus Eritromicina

Micromonospora purpurea Gentamicina

Cephalosporium spp. Cefalotina

Quadro 1 – Microrganismos e respectivas substâncias produzidas

Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica 259


Atividade 3
Dirija-se a uma farmácia e peça para ler a bula de um dos antibióticos que
constam no quadro anterior. Anote quais bactérias ou fungos são inibidos (e,
portanto, suas infecções tratadas) pelo antibiótico escolhido. Não é necessário
abrir a embalagem do medicamento. As farmácias normalmente dispõem de
um catálogo de medicamentos que contém as bulas dos remédios. Você também
pode procurar bulas em sites médicos ou de laboratórios farmacêuticos.

Bactérias muitas vezes são mais eficientes


do que os químicos no trabalho de síntese de
substâncias usadas como medicamentos!

Veja o caso da bactéria Streptomyces...

Contraceptivo  Outros produtos farmacêuticos


Refere-se a algum método
Às vezes, em certas condições físicas, somos orientados pelo médico a fazer uso de
para evitar que a mulher
fique grávidwa. medicamentos anti-inflamatórios como a cortisona, que faz parte de um grupo de substâncias
químicas denominadas esteroides. Também são do grupo dos esteroides os estrógenos e
progesteronas, usados como contraceptivos orais. A extração de esteroides a partir de
Suplementos fontes animais ou sua fabricação por métodos químicos é bastante difícil. Porém, alguns
alimentares
microrganismos podem sintetizar esteroides a partir de esteróis, compostos facilmente
Substâncias ingeridas
obtidos. Essa transformação é feita por bactérias do gênero Streptomyces em uma única
para complementar a
quantidade de vitaminas
etapa, enquanto que por métodos químicos, em laboratório, essa mesma transformação requer
ou outros componentes cerca de 30 reações diferentes!
dos alimentos necessários
ao bom funcionamento
Microrganismos também fabricam vitaminas que nós podemos utilizar como suplementos
do organismo.
alimentares, por exemplo. É o caso da vitamina B12, que é produzida por espécies do
gênero Pseudomonas e Propionibacterium. A riboflavina é outro exemplo, sintetizada por
vários fungos, como a espécie Ashbya gossypii. Já a vitamina C é produzida através de uma
modificação da glicose por espécies da bactéria Acetobacter. A indústria farmacêutica faz uso

260 Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica


de culturas desses microrganismos para obter as substâncias desejadas e depois processá-las
e transformá-las em medicamentos para serem vendidos.

Atividade 4
Faça uma pesquisa e descreva abaixo quais são as funções da vitamina
B12 no organismo humano. Reconheça, assim, a importância das bactérias no
processo de produção dessa substância.

Puxa, muitas bactérias são mesmo aliadas da nossa saúde! Mas é sempre bom lembrar:
consuma apenas medicamentos receitados pelo médico, principalmente aqueles com a
embalagem marcada “venda sob prescrição médica”. Somente o médico tem condições
de avaliar qual o tratamento que precisamos. Consumir medicamentos inapropriados
e na dose errada pode levar a uma piora no estado de saúde e ao surgimento de
bactérias super resistentes. E não se esqueça, futuro professor: você tem um papel
muito importante na transmissão desse conceito para seus futuros alunos!

Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica 261


Microrganismos que
“comem” a poluição
Hoje em dia é reconhecido que o aumento da poluição é um efeito negativo do crescimento
econômico. O aumento da produção industrial e agrícola gera a produção de resíduos muitas
vezes tóxicos, que são descartados no solo e em ambientes aquáticos. Isso sem contar os
acidentes com navios e caminhões que transportam petróleo, combustíveis e outros produtos
químicos.

Para tentar minimizar esses problemas, muitas pesquisas têm sido feitas para o
desenvolvimento de técnicas de despoluição do solo, de águas subterrâneas e superficiais,
além de efluentes e resíduos industriais. Aqui entram em cena os microrganismos
usados na biorremediação. Trata-se de um processo biotecnológico no qual organismos
vivos (microrganismos ou plantas) são utilizados para remover ou reduzir (remediar)
poluentes no ambiente.

Os sistemas metabólicos microbianos têm se mostrado aptos para degradar moléculas


estáveis de poluentes, usando a maquinaria natural de reciclagem das moléculas da biosfera. Já
vimos que microrganismos são capazes de utilizar diferentes substratos como fonte de energia
e carbono. E é exatamente nisso que se baseia a biorremediação usando microrganismos.
Esses, literalmente, “comem”, ou usam como substratos os compostos poluentes indesejados.

A extraordinária capacidade metabólica dos microrganismos se deve à combinação do


potencial genético individual das diferentes espécies microbianas em um sistema natural, com
enzimas e vias metabólicas que evoluíram ao longo de bilhões de anos, e a capacidade de
metabolismo integrado apresentado pela comunidade microbiana. Assim, produtos resultantes
do metabolismo de um microrganismo podem ser utilizados como substrato (obtenção de
energia) por outro microrganismo. Esse intenso sinergismo metabólico entre microrganismos
é de fundamental importância para os processos de biorremediação.

262 Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica


Atividade 5
Faça uma pesquisa em revistas ou na Internet sobre exemplos de utilização
de microrganismos na despoluição de locais contaminados com resíduos de
petróleo. Resuma a seguir o que você encontrou, citando a fonte da informação.

Na lavoura, os micróbios
também podem ser nossos aliados
Você está lembrado que na Aula 10 estudamos a importância da fixação biológica do
nitrogênio para a vida na Terra? O nitrogênio é um componente essencial das proteínas, ácidos
nucleicos e outras moléculas orgânicas. Embora esse elemento seja abundante na atmosfera
(o nitrogênio molecular, N2, perfaz 80% da atmosfera da Terra), ele não pode ser assimilado
por plantas e pela maioria das bactérias quando na forma molecular. As formas preferenciais
de assimilação do nitrogênio são os íons amônio (NH 4+) e nitrato (NO3–). Esses, por outro
lado, não são tão abundantes no solo.

É através da decomposição da matéria orgânica (veja o ciclo do nitrogênio na Aula 10) e


principalmente através da fixação biológica do nitrogênio que esse elemento torna-se disponível
para a biota. Nesse processo, o N2 é transformado em amônia (NH3) por algumas bactérias e
cianobactérias. Tais microrganismos, então, usam a amônia para a síntese de aminoácidos e
proteínas em suas células. Durante o metabolismo microbiano, e também com a morte dessas

Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica 263


células, compostos orgânicos nitrogenados são disponibilizados no meio e decompostos a
nitrato e amônio e, finalmente, absorvidos por outros microrganismos e plantas.

Esse processo é muito importante para a produção agrícola, uma vez que o crescimento
das plantas depende da oferta de nitrogênio. Nisso, microrganismos também podem ser nossos
aliados. Algumas bactérias fixadoras de nitrogênio têm sido inoculadas em plantas e no solo
para então enriquecê-lo com nitrogênio.

Quando isso é feito, uma menor quantidade de fertilizantes artificiais pode ser utilizada. A
redução do uso de fertilizantes artificiais na agricultura apresenta uma grande vantagem: menos
nitrato é carreado para os ecossistemas aquáticos, diminuindo o problema da poluição das águas.

Atividade 6
Leia o artigo Sequenciada bactéria que produz adubo natural, no link

<http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/genetica/sequenciada-bacteria-que-produz-adubo-
natural/?searchterm=embrapa>, e descreva no espaço a seguir qual é a bactéria de interesse
no caso relatado, onde ela pode ser naturalmente encontrada e como esse microrganismo
pode ser usado na agricultura.

264 Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica


Microrganismos produzem
fontes alternativas de energia
Você já deve ter ouvido falar que o petróleo, usado na fabricação de gasolina e o óleo
diesel, é um combustível fóssil armazenado em reservas que serão esgotadas no futuro. Com a
redução dessas reservas, os preços estão se tornando mais altos. Assim, fontes alternativas de
energia devem ser desenvolvidas para a manutenção da sociedade humana como conhecemos
hoje. Fontes alternativas de energia mais “limpas” também são desejáveis, visto que a extração
e queima de combustíveis fósseis geram uma grande emissão de poluentes, como demonstrado
na Atividade 9 da Aula 10.

O metano, um gás produzido por algumas bactérias (veja o ciclo do carbono também na
Aula 10), é uma conveniente fonte de energia que pode ser produzida, por exemplo, a partir de
resíduos em aterros sanitários (depósitos controlados de lixo). O metano começa a acumular
alguns meses depois que o aterro está completo e selado. Ele pode permanecer produzindo
metano por 5 a 10 anos, dependendo das dimensões do aterro. O metano pode ser usado para
a geração de energia elétrica.

Além de bactérias, hoje em dia tem sido pesquisada a produção de biodiesel por Biodiesel
microalgas isoladas de amostras de lagos, reservatórios e oceanos. Microalgas são uma
Combustível biodegradável
potencial fonte de biodiesel em substituição aos combustíveis de petróleo. Elas superam
derivado de fontes
culturas terrestres na produtividade de óleo e crescem mais rápido do que as plantas terrestres. renováveis, que pode
Uma outra vantagem é que microalgas dispensam terrenos férteis para seu cultivo. Um exemplo ser obtido por diferentes
processos a partir de
é a alga Botryococcus braunii, cujo conteúdo de óleo pode atingir 75% do peso da célula!
gorduras animais ou de
óleos vegetais. Existem
Atualmente já existem empresas que cultivam grandes volumes de microalgas produtoras dezenas de espécies
vegetais no Brasil que
de óleo, extraindo biodiesel a partir da biomassa produzida. Entretanto, a utilização de biodiesel
podem ser utilizadas, tais
de microalgas em larga escala é ainda muito cara, e pesquisas devem ser feitas para aprimorar como mamona, dendê
o processo. Veja uma foto da alga Botryococcus braunii no seguinte endereço da Internet: (palma), girassol, babaçu,
amendoim, pinhão manso
<http://www.algaevs.com/the-wonders-of-algae/what-are-algae>.
e soja, dentre outras.

Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica 265


Atividade 7
Leia o artigo “Avaliação do óleo extraído de diatomáceas do RN para produção de
biodiesel”, inserido no Moodle. Relate abaixo quais foram os objetivos e as principais conclusões
da pesquisa. Que benefícios a produção de biodiesel descrita poderia trazer à população?

266 Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica


Leituras complementares
UETA, J. et al. Biodegradação de herbicidas e biorremediação. Biotecnologia, Ciência e
desenvolvimento, n. 10, p. 10-13, 1999.

Esse artigo descreve aspectos gerais sobre o emprego do herbicida atrazine na agricultura,
e relata uma experiência de seleção de bactérias degradadoras da atrazina e sua utilização para
a descontaminação de solos contaminados por esse herbicida.

<http://www.biodiesel.gov.br/>

O Portal do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, do Governo Federal,


divulga as informações referentes ao Programa. Nesse Portal, você poderá conhecer melhor as
possibilidades oferecidas pelo emprego do biodiesel em substituição aos combustíveis fósseis.

<http://www.rudekinc.com/algae.html>

Nesse site, em inglês, você encontra informações sobre o cultivo de microalgas para a
produção de biocombustíveis. Veja as fotos das culturas da microalga Botryococcus braunii.

Resumo
Nessa aula vimos alguns casos em que as chamadas bactérias da flora normal
trazem benefícios para o organismo humano. Em outros exemplos, observamos
que microrganismos são usados para a produção de medicamentos, como
antibióticos e suplementos alimentares, também em prol da saúde humana.
Também estudamos a aplicação de microrganismos para o controle da poluição
gerada pelas atividades humanas, como as bactérias degradadoras de derivados
de petróleo. Compreendemos também que bactérias fixadoras de nitrogênio
podem ser usadas nas lavouras em substituição aos adubos químicos. E, por fim,
vimos que microrganismos podem produzir substâncias usadas para a geração
de energia. Concluímos, portanto, que microrganismos podem se nossos aliados.

Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica 267


Autoavaliação
Faça uma redação explicando o que são microrganismos e como eles vivem. Explique,
1 de maneira geral, como é constituída uma célula microbiana, diferenciando micróbios
eucariotos e procariotos. Aponte os aspectos principais da diversidade microbiana.
Explique sucintamente como bactérias se reproduzem e como obtêm energia. Ressalte
a participação dos microrganismos na mineralização da matéria orgânica.

Leia o texto abaixo e identifique qual é a relação estabelecida entre seres humanos e
2 a bactéria Escherichia coli no exemplo descrito. Se necessário, retome os conceitos
estudados na Aula 11.

“A bactéria E. coli, habitante normal do intestino grosso humano, sintetiza vitamina K


e algumas vitaminas B. Estas vitaminas são absorvidas na corrente sanguínea e
distribuídas para as células do corpo. Em troca, as bactérias encontram no intestino
os nutrientes necessários para sua multiplicação.”

Qual é a função dos antibióticos para o organismo que o produz? Se necessário,


3 retome os conceitos estudados na Aula 11.

Leia o artigo Microrganismos eliminam resíduos de agrotóxicos no site


4
<http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/agricultura-e-agronomia/microrganismos-
eliminam-residuos-de-agrotoxico/?searchterm=embrapa>, e descreva com suas
palavras o que relata o artigo.

Relate qual é a importância de se desenvolver métodos de geração de energia usando


5 microrganismos.

Apresente uma argumentação contra a ideia de que microrganismos são seres nocivos.
6

268 Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica


Referências
CHISTI, Y. Biodiesel from microalgae. Biotechnology advances, v. 25, p. 294-306, 2007.

GAYLARDE, C. C. et al. Biorremediação: aspectos biológicos e técnicos da biorremediação de


xenobióticos. Biotecnologia, Ciência e desenvolvimento, n. 34, p. 36-43, 2005.

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 6. ed. Porto Alegre: Ed. Artmed,
2000. 827p.

Anotações

Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica 269


Anotações

270 Aula 12 Metabolismo da Vida Microscópica


Esta edição foi produzida em mês de 2012 no Rio Grande do Norte, pela Secretaria de
Educação a Distância da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (SEDIS/UFRN).
Utilizando-se Helvetica Lt Std Condensed para corpo do texto e Helvetica Lt Std Condensed
Black títulos e subtítulos sobre papel offset 90 g/m2.

Impresso na nome da gráfica

Foram impressos 1.000 exemplares desta edição.

SEDIS Secretaria de Educação a Distância – UFRN | Campus Universitário


Praça Cívica | Natal/RN | CEP 59.078-970 | sedis@sedis.ufrn.br | www.sedis.ufrn.br

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