DEFINIÇÃO
O médico não precisa ver, não precisa de exame físico que documente perda de urina. Basta o relato da
paciente.
Bactéria mais comum da infecção de trato urinário é a E. coli. Ela libera substâncias que fazem plegia do
musculo detrusor, causando incontinência e urgência miccional, ou seja, é um quadro causado pela liberação
de substâncias tóxicas, sendo um importante diagnóstico diferencial de incontinência urinária, sendo mais
comum em jovens.
Quando uma paciente relata perda de urina, independente de sua natureza, o primeiro exame a ser solicitado
é o urina1 e urocultura.
A incontinência urinária não é uma patologia exclusiva de pacientes idosas, embora a prevalência dessa
doença aumente com a idade(principalmente a partir da 6ª década de vida). Mulheres jovens, principalmente
atletas, podem ter incontinencia urinária(exercicos de grande impacto são fatores de risco, pois a força pélvica
desenvolvida é muito grande, inclusive estão sendo feito estudos em relação às corredoras e praticantes de
crossfit)
EPIDEMIOLOGIA
Mulheres: 25 a 51%
o Brancas/ afro-americanas
Aumenta com a idade
o 3,5% → 20-29 anos
o 15% → 40-49 anos
o 25% → 60-69 anos
o 38% → > 80 anos
Metade não relatam espontaneamente
-devido ao preconceito
-patologia que embora não tenha mortalidade direta, causa muita morbidade
Lares de idoso/ comprometimento cognitivo
Relevância Clínica:
-noctúria: desejo imperioso de urinar durante a noite
ASPECTOS FÍSICOS:
odor, desconforto e
quedas
ASPECTOS OCUPACIONAIS: ASPECTOS PSICOLÓGICOS:
absenteísmo e redução da medo; ansiedade; perda de
produtividade autoestima e depressão
QUALIDADE
DE VIDA
ASPECTOS SOCIAIS: ativ.
sociais e viagens limitadas à ASPECTOS SEXUAIS:
disponibilidade de banheiro; inibições da sexualidade
isolamento social e risco de e dos contatos íntimos
institucionalização
Morbidade:
o Infecção de trato urinário
-em alguns casos a paciente tem tanto incontinência quanto retenção urinária
o Celulite
-dermatite amoniacal entre as coxas
o Úlceras de pressão
o Interrupção do sono
-noctúria
o Psicológica
o Impacto na qualidade de vida
ANATOMIA
ASSOALHO PÉLVICO
BEXIGA
Órgão muscular oco
Internamente: epitélio transicional (urotélio) → transição entre
epitélio cilíndrico simples e o epitélio estratificado
Externamente: lâmina própria (vascularizada; tec. conectivo) e a
camada muscular própria, que é uma camada interna formada pelo m.
detrusor → fibras musculares lisas que formam feixes sem orientação
definida.
URETRA
A uretra feminina mede de 4-5cm
Apresenta uma luz virtual que permanece ocluída(considerando
uma paciente normal, com continência), exceto na micção, devido
ao tônus da musculatura uretral: fatores intrínsecos e extrínsecos
relacionados à continência urinária
O epitélio da uretra: escamoso estratificado a epitélio transicional
Parede uretral: formada por duas camadas de músculos:
1. Camada circular externa de m. estriado → esfíncter externo da uretra
2. Camada interna de m. liso que se continua c/ o m. liso vesical
Plexo venosos e arteriais, tecido conjuntivo.
Receptores estrogênicos na parede uretral e vesical: são muito importantes, principalmente no
climatério(diminuição da produção hormonal tecido conjuntivo mais escasso, tecido
muscular mais flácido, substituição por tecido hialino não funcional. Assim, ocorre atrofia dos
músculos da uretra, diminuição do plexo vascular, tendo uma implicância na continência
urinária, pois a função do esfíncter está diretamente relacionada com a espessura da parede da
uretra.
Quando o esfíncter está afetado por atrofias, tem-se uma fragilidade para o desenvolvimento
da incontinencia urinária.
Paciente no climatério é potencialmente de risco para o desenvolvimento de incontinência
urinária.
MECANISMO DA CONTINÊNCIA
A continência urinária é mantida pelo funcionamento adequado coordenado do
m. detrusor e da estrutura uretral
Pressão uretral > Pressão intravesical
Integridade vaginal: precisa do bom funcionamento do m. detrusor, da estrutura uretral, assim como
de todos os músculos e ligamentos relacionados ao assoalho pélvico. Quando há ruptura de algum
desses músculos/ligamentos, ocorre mudança no posicionamento da uretra, consequentemente, ocorre
modificação da dinâmica pélvica, levando a patologias.
CLASSIFICAÇÃO
Incontinência Urinária de Esforço
Incontinência Urinária de Urgência
Incontinência Urinária Mista
1. URGÊNCIA ou URGE-INCONTINÊNCIA
Sensação imperiosa de urinar, e não consegue segurar a urina.(ex: faz xixi no caminho pro banheiro)
Hiperatividade vesical: contrações do músculo detrusor durante o enchimento vesical quando a
paciente tenta inibir a contração, ocorrendo perda irregular de urina
o -musculo contrai sem auto-controle voluntário da paciente, esvaziando a bexiga
o -paciente sente a contração, mas não consegue inibi-la.
Prevalência: 12 a 22%
2. MISTA
Mais comum: de esforço com características de urge-incontinência
3. ESFORÇO
Perda involuntária de urina sincrônica ao esforço(ex: tossir, espirrar falar alto)
A perda de urina é promovida por aumento da pressão abdominal, que se torna maior que a pressão
de fechamento da uretra, consequentemente a uretra não tem força para segurar essa pressão, levando
ao escapamento urinário.
o Hipermobilidade do colo vesical:
▪ Ligamento rompido, tornando-se hipermóvel durante esforços.
▪ Ocorrem alterações no mecanismo uretral extrínseco (mudança de posição do colo
vesical e da uretra proximal retificação)
▪ Lesões do assoalho pélvico
▪ Típicas de pacientes com alta pressão abdominal. Quanto menor o esforço necessário
para o vazamento, mais grave é a incontinência.
▪ Urodinâmica → VPP > 90cmH2O
o Deficiência esfincteriana uretral intrínseca:
▪ Incontinencia mais grave, com pressão de perda menor
▪ Inabilidade do mecanismo esfincteriano uretral
▪ Relacionado a cirurgias vaginais prévias, hipoestrogenismo(ex: paciente no
climatério), e rotura de ligamentos.
▪ Perda urinária com mínimos esforços
▪ Urodinâmica → VPP (leak poin) < 60cmH2O
FATORES DE RISCO
Paridade principal
o quem tem mais filhos tem maior risco de incontinência
o o trabalho de parto também é fator de risco
o cesárea tira o risco de incontinência? Não, pois a própria gestação é FR.
Idade → pacientes mais idosas, pelo hipoestrogenismo (músculo estriado e liso ficam mais finos com
a trama vascular pobre e o tecido conjuntivo regredido)
Obesidade
Raça branca
Comprometimento funcional
Medicamentos
Causas são inúmeras. Todas as distopias do assoalho podem ser causas da incontinência, os fatores
constitucionais (obesidade, raça branca), os fatores psicossocias, exercícios físicos, hábitos higiênicos.
Precisamos sempre descartar outras possibilidades que podem estar causando essa incontinência, como lesão
neurológica.
DIAGNÓSTICO
Sempre questionar sobre o uso de fármacos e realizar o exame físico pra identificar algum fator causal
associado.
Diário miccional: preenchido por um período de 48-72h → caracterizar esse tipo de incontinência,
quando ela perde urina, se ela pode quantificar essa perda, se ela perde só um pouquinho, se escorre
pela perna, se ela perde tudo o que está na bexiga, etc. Abaixo, ela colocaria quando perdeu, colocando
sempre o horário e o que estava fazendo no momento.
Entendimento das dimensões da incontinência e identificação de problemas
Exame ginecológico:
o Avaliação do assoalho pélvico
o Presença de dermatite amoniacal → denota gravidade pois, se ela está em contato com urina
a ponto de causar dermatite, é porque o volume de perda urinária está sendo alto.
o Sinais de hipoestrogenismo → potencializam a suspeita clínica.
o Presença de distopias genitais → podem estar associadas.
o Manobra de esforço (pede para ela tossir, por exemplo, para detectar se há mobilidade do
assoalho, ou se ela perde urina. Ou pede para ela contrair o m. transverso do períneo e tentar
sentir pelo toque se há ou não força nesse músculo)
o Exame neurológico
DIAGNÓSTICO
Neurológico: examinar a integridade neurológica do segmento sacral.
✓ Reflexo bulbocavernoso: Estímulo do clitóris (pinça) -> contração do musculo bulbocavernoso
✓ Reflexo anocutâneo: Estímulo da pele perineal (contonete ou pinça) -> contração do esfíncter anal
Testes clínicos:
✓ Teste do estresse da bexiga
✓ Volume residual postvaid
✓ Testes clínicos: do cotonete/ Teste de Bonney → era o mais usado, onde se colocava contonete
dentro da uretra e pedia p/ paciente fazer força como se fosse evacuar, e a angulação desse cotonete
acima de 30 graus vai nos dizer que ela tem uma tendência a uma hipermobilidade do colo vesical,
mas isso praticamente não é mais utilizado.
Exames laboratoriais
✓ Urocultura (SEMPRE) → no conceito, não pode ter infecção do trato urinário, então é necessário
descartar ITU. Se vier positivo, trata, se continuar, trata a incontinência. Em caso de infecção o mais
comum é a presença de urgência urinária, e mais incomum em mulheres no climatério.
Estudo urodinâmico
✓ Não é recomendado de rotina, só deve ser pedido quando temos suspeita diferente do que a
paciente diz ou quando se tem a intenção de operar.
✓ É o exame mais fidedigno p/ analisar bexiga e uretra. → Só quando existem dúvidas!
ESTUDO URODINÂMICO:
Diagnóstico mais preciso → um software ligado a um computador, em que a paciente recebe soro para encher
a bexiga e ele vai fazer uma espécie de eletro da musculatura vesical, analisando o comportamento do músculo
detrusor da bexiga quando ela se enche e se esvazia, uma espontânea, e uma guiada, monitorada pelos
eletrodos, gerando um gráfico.
Indicações: esclarecer dúvidas.
✓ Tipos de incontinência, após anamnese e ex. físico inconsistentes (dúvida, história confusa)
✓ Sintomas não se correlacionam com anamnese e exame físico
✓ Falha terapêutica
✓ Confirmação diagnóstica (pesquisa)
✓ Intervenção cirúrgica planejada
✓ Alterações no fluxo e retenção urinária (quando eu suspeito que ela tem retenção urinária, alteração
de fluxo, jato fino, jato fraco, não tem jato; sensação que ainda tem xixi na bexiga)
✓ Prolapso genital associado
✓ IUE/IUM
Testes específicos (4 partes)
✓ Cistometria: achados mais comuns (parte em que enche a bexiga)
✓ Urofluxometria → paciente urina em um coletor associado a uma cadeira e a uma balança que, pelo
jato da urina, vai fazer um gráfico, onde será possível interpretar se ela tem alteração miccional ou
não; tem que ter o pico de fluxo em torno de 10 segundos.
✓ Estudo miccional ou relação fluxo/ pressão
✓ Perfil pressórico uretral
UROFLUXOMETRIA
CISTOMETRIA
Medir o volume ou pressão de líquido dentro da bexiga através de sondas durante o enchimento e a gente vai
conectar essas sondas dentro do aparelho pra fazer o gráfico pelo software .
Avaliar atividades do detrusor e complacência da bexiga
Técnica:
✓ Em pé (de preferência, para simular suas atividades diárias) ou sentada
✓ 1º = Esvaziar a bexiga
✓ Cateter uretral: 50 a 100 ml/min
✓ Primeira sensação de plenitude/valsava → começa a encher, precisando que ela ajude, falando quando
ela sentir a primeira vontade de fazer xixi, (plenitude e valsava) vou precisar que ela faça força, que
ela tussa, pra que a gente consiga simular a perda urinária, já que essa é a queixa da paciente. O ideal
é que seja colocado um líquido morno, porque o frio já altera e gera umas contrações.
✓ Esvaziar
Valores: 1ª vontade de urinar nunca deve ser inferior a 200mL. Sendo o primeiro desejo entre 150 e 300mL,
quando ela diz que a bexiga já está cheia, mas ainda aguentaria mais um pouco. A urgência ocorre entre 250
e 500mL. A capacidade cistométrica máxima geralmente é em torno de 600mL, alguma aguentam mais,
outras menos, se a paciente falar que não aguenta mais com 400mL, para com 400mL.
Alterações comuns:
✓ Hiper-reatividade do detrusor
✓ IUE
✓ Anormalidade neurológica
✓ Cistite intersticial
O importante é a gente saber esse ponto, que é o “valsava leak point pressure” que é o valor da pressão
de perda, quando a paciente está com a bexiga cheia, em torno de 200 mL, a gente pede pra paciente tossir e
fazer força, pra tentar simular a perda urinária, e medir a pressão de perda através desse gráfico; se essa pressão
de perda for maior que 90 cm de H20, tem-se uma incontinência urinária por hipermobilidade do colo vesical,
e quando ela tem menor que 60, tem defeito esfincteriano, cada uma vai ter um tipo de tto diferente. Pacientes
entre 60 e 90 estão no borderline, nem tem defeito esfincteriano nem tem aumento da mobilidade vesical.
Nesse caso, a escolha do tratamento (clínico ou cirúrgico) fica a critério do médico e do achado do exame
físico. Se ele achar que vale apena investir em um tratamento voltado para a hipermobilidade vesical ou para
abordar um defeito esfincteriano. Se a paciente perdeu urina com pressão acima de 90, não indica tto cirúrgico,
mas primeiro tto clínico, mudanças de hábito, fisioterapia, etc. Já acima de 60, não adianta fazer nada
conservador, precisa ir pra cirurgia.
Curva de urofluxo normal: a paciente começa a urinar, tem aquele pico no jato forte que diminui até
esvaziar completamente a bexiga.
Curva de urofluxo anormal: a paciente não possui o pico único do jato forte, então ela acaba fazendo
vários jatinhos e faz força, ajudando a eliminar a urina com auxilio da musculatura abdominal. Fazer força
para urinar é típico de quem está com uretra obstruída, tem alguma coisa que está dificultando o jato forte
dela. Pode ser uma distopia genital, um prolapso de bexiga que faz essa uretra ficar resistente.
TRATAMENTO
TRATAMENTO CONSERVADOR
➢ Inicial:
Mudanças do estilo de vida/perda de peso (20% de perda de peso já melhora significativamente)/ dieta
Terapia comportamental
Treinamento da bexiga/ exercícios musculo pélvicos
✓ Micção frequente voluntaria
✓ Mecanismos pélvicos para intervir na urgência
➢ Medidas adjuvantes:
Pads
Pessários
Não recomendado:
✓ Colposuspensão retropúbica
✓ Colporrafia anterior
✓ Reparação paravaginal/ MMK