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ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A PEÇA E O FILME AUTO DA

COMPADECIDA

Bruno Rodrigues FEITOSA


Keila Moraes SOLTENES
Luciane de Oliveira CORRÊA
Marta Eduarda da Silva OLIVEIRA
Raffael Lucas Fernandes COSTA

RESUMO
O presente trabalho tem como finalidade fazer uma comparação entre a peça
teatral Auto da compadecida, produzida por Ariano Suassuna, e o filme baseado
nesta obra, dirigido por Guel Arraes. Assim, o foco de análise foi o das
personagens, levando em consideração a representação social dos mesmos,
como a questão da mulher, do negro e da igreja, sendo estes abordados com
uma verossimilhança incrível. Por fim, foi percebido que embora as obras tenham
o mesmo título, pode-se perceber uma diferença entre as mesmas por meio da
adição ou subtração de personagens.

PALAVRAS-CHAVE: Auto da Compadecida, Ariano Suassuna, Guel Arraes

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo fazer uma comparação entre a


peça teatral Auto da Compadecida, produzida por Ariano Suassuna em 1955, e
o filme homônimo baseado nesta peça, dirigido por Guel Arraes em 2000. Antes
de ser feita a comparação é importante perceber o que acontecia nos momentos
históricos em que estas produções foram feitas, os quais serão introduzidos logo
a seguir, de maneira respectiva.
Em primeiro lugar, tem-se que a analisar a questão do primeiro mandato
presidencial de Getúlio Vargas, em 1930, pois este trouxe mudanças
significativas para a época. Tais como o enfraquecimento do coronelismo em
várias regiões do país, pois a política era baseada no poder hegemônico de um
coronel em uma determinada microrregião, o que fortalecia práticas ilegais e de
corrupção a favor da classe dominante; e a redução do cangaço, sendo essa
prática quase que exclusiva no nordeste, um movimento político contra o grupo
dominante, os fazendeiros, que não seguia as leis estabelecidas em razão da
existência do sentimento de indignação com a organização social vigente na
época. Dado estes fatos, pode-se perceber uma influência ou fonte de inspiração
para o autor, Ariano Suassuna, em sua obra.
Em segundo lugar, levando em consideração que o filme é uma adaptação
da obra, não se pode notar tanta influência do contexto histórico sobre a mesma,
mas ainda sim merece ser comentada para haver um norte dos acontecimentos
na época. No período dos anos 2000, no contexto político, há uma ascensão da
política de esquerda, como a do Partido dos Trabalhadores (PT), embora na
época se possa notar que o presidente da república era o Fernando Henrique
Cardoso, do PMDB, voltado a uma política neoliberal. Além disso, vale lembrar
que o mercado televisivo estava ganhando força no período, assim, existia um
conjunto de elementos das novelas que ganhavam uma boa audiência. Levando
em consideração o aspecto da estética da recepção utilizada, fica a dúvida da
escolha do diretor Guel Arraes para a criação de novos personagens no filme.
Dado os acontecimentos históricos que marcam cada época dessas
produções, se pode notar uma distinção de fatores que podem ter colaborado
para a construção das personagens nas obras e na escolha da forma em que se
deu a representação social delas. Assim, faremos no decorrer do trabalho uma
análise das personagens tanto da peça quanto do filme, sob o viés social
representativo.

2. ANÁLISE DAS PERSONAGENS: MULHER DO PADEIRO, MANUEL


(JESUS), A IGREJA E A COMPADECIDA

O Auto da Compadecida, uma das obras mais conhecidas de Ariano


Suassuna, foi escrita em forma de peça teatral e ganhou adaptação para o
cinema, em uma produção dirigida por Guel Arraes, fato este que ajudou a
popularizar essa obra literária que caiu no gosto popular e hoje faz parte da
cultura brasileira, revelando um pouco da realidade vivida no sertão nordestino.
Não se pretenderá analisar todas as personagens que compõem a obra,
pois seria um trabalho bem extenso, pela riqueza da construção delas, mas
escolheu-se algumas que apresentam um caráter social bastante representativo
são elas: a mulher do padeiro, Manuel (Jesus), a Igreja, a Compadecida e
Rosinha.
Uma das primeiras personagens que será abordada é “Dora” a mulher do
padeiro, sendo esta retratada tanto no livro quanto no filme, como uma mulher
de extrema luxuria e avareza, avareza essa que podemos perceber na fala de
João grilo: “a fraqueza dela é dinheiro e bicho.” (Suassuna, 2005, p.27),
passando para o leitor uma imagem demonizada da figura feminina, pois “Dora”
(mulher do padeiro), em ambos os espaços (livro e cinema), é colocada de forma
a romper com os padrões pré-estabelecidas para uma mulher da sociedade
daquela época e região (nordeste), sociedade esta de extremo machismo.
Assim “Dora” (mulher do padeiro) se manifesta como uma mulher
mesquinha sem nenhuma generosidade e muito sovina, que é o que caracteriza
a sua função social dentro da obra, a de representar a ascensão da burguesia,
retratado na fala de João grilo: “Nasceu pobre, / enriqueceu com o negócio da
padaria/ e agora só pensa nisso. ” (Suassuna, 2000 p.27). Status social esse que
adquiri com seu marido o padeiro, passando a administrar todo o seu dinheiro,
controlando-o e o traindo. Sendo este último ponto esse colocado no filme com
mais ênfase, pois no livro é sabido que o autor apenas menciona as traições da
mulher como nessa fala de João grilo: “Deixe de besteira, / Chicó, / todo mundo
já sabe que a mulher do padeiro engana o marido. ” (Suassuna, 2005 p.26).
Tanta ênfase é dada a este fato que no filme que surge as cenas dessas traições,
que não existe na peça, de maneira a acentuar ainda mais o fato da diabolização,
desvalorização, da figura feminina/mulher. Podendo assim ser feito
comparação a Idade Média, também conhecida como “Idade das Trevas”, onde
a figura feminina/mulher era diabolizada e tida como o inimigo da alma, muito
julgada pela a Igreja, pois para a mulher daquela época era vista como alguém
que precisava ser doutrinada, educada e subserviente ao marido e a Deus, sem
contestação alguma. Este fato que não mudou muito até os dias de hoje,
sobretudo no nordeste, terra do escritor da peça.
Suassuna discorda que a Idade Média tenha sido só trevas. É o que irá
falar Maleval (2015), “Enfim, Suassuna foi não apenas um atualizador de temas
e formas medievas, mas um defensor da Meia Idade e seus clarões até hoje
luzentes!” (MALEVAL,2015, p.24). Portanto podemos perceber assim o porquê
da personagem de “Dora” (mulher do padeiro), ter se apresentado na obra e no
cinema, dessa forma vulgarizada, enganadora, sobretudo no filme, ganhando um
realce um tanto mais depreciativo do que no livro, usando roupas curtas, peças
intimas a mostra, maquiagem extravagante, batom vermelho marcante, e
sempre histérica em suas falas.
Dora, a mulher do padeiro, mostra-se muito ardilosa na trama, o que é
evidenciado na parte da história que mostra Vicentão, o “valentão”, correndo
atrás de Chicó com um punhal, fingindo que ambos estavam dentro da casa
porque um queria pegar o outro. Mas de fato, tudo isso ocorre com o intuito de
enganar o marido que estava sendo traído, tanto por Chicó como por Vicentão.
Dessa forma no filme é possível perceber que a mulher do padeiro é ainda
mais acentuada no sentido depreciativo e de preconceito em relação a imagem
feminina/mulher, colocando esta de forma demonizada, desvalorizada, ardilosa,
e de extrema avareza e luxuria estes últimos considerados pecados capitais.
Essa personagem é colocada nas duas obras, sendo retratada pelos ditos
populares, como “safada”, “mulher traidora”, “adultera”, que está longe da moral
defendida pela Igreja, pela sociedade daquela região e pela cultura machista em
que se vive. Dessa forma pode ser feita uma leitura da imagem da mulher
retratada na obra literária de Suassuna e na de Guel Arraes utilizando-se a
imagem feminina difundida na Idade Média.
Quando aborda-se a personagem Manuel (Jesus) é importante ressaltar
que na década de 50, quando a peça foi escrita por Ariano Suassuna, a Unesco
organizava um projeto importante, A agenda antirracismo, e tinha o Brasil como
bom exemplo em termos de relações inter-raciais. Mas ainda assim, o racismo
era extremamente evidente no país. Quando o filme foi lançado, nos anos 2000,
esse mal, mesmo que de maneira mais velado, ainda se fazia evidente, assim
como nos dias atuais, onde, mesmo com campanhas e movimentos contra o
racismo, vem se alastrando pela sociedade brasileira.
Tanto na peça, quanto no filme, é possível observar uma crítica severa
contra o racismo. Suassuna criou o personagem, Manuel (Jesus), negro e isso
acabou despertando diferentes reações nas pessoas, uma dessas reações é
expressa pelo personagem João Grilo em sua conversa com Manuel: “Porque…
não é lhe faltando com respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito
menos queimado. ” (SUASSUNA, 2005, p.126). Essa fala, pronunciada com um
tom de surpresa e desprezo por João, deixa bem explicita a abordagem desse
assunto.
Existe também o racismo velado na sociedade, como o do Bispo que, ao
tentar corrigir João Grilo por chamar Manuel de "queimado", com um
egocêntrico: "Cale-se, atrevido." (SUASSUNA, 2005, p. 126), acaba sendo
desmascarado pelo próprio Manuel: "Cale-se você. [...] Você estava mais
espantado do que ele e escondeu essa admiração por prudência mundana."
(SUASSUNA, 2005, p. 126). Esta fala nos mostra que, este mal pode estar
impregnado em toda as esferas da sociedade, como na igreja, que tem como um
dos representantes, um Bispo que se decepciona com a cor de Manuel,
entretanto, tenta esconder.
Manuel finaliza esse assunto dizendo: “[...] Vim hoje assim de propósito,
porque sabia que isso ia despertar comentários". E ainda ironiza, “[...] Que
vergonha! Eu, Jesus, nasci branco e quis nascer judeu, como podia ter nascido
preto" (SUASSUNA, 2005, p. 126). Foi o que muitos se perguntaram, por que
um "ser" superior seria negro? Perguntas como essa ainda rodeiam nossa
sociedade.
Desse modo, Suassuna, quebra o estereótipo de um "Jesus europeu",
onde é lhe dada a típica aparência de pele branca e olhos azuis, dando espaço
a um personagem negro, tanto na obra literária, quanto no filme.
Ariano Suassuna, embora se declarasse católico, em Auto da
Compadecida (1955) apresenta críticas aos religiosos. Em alguns pontos da
peça o autor destaca em sua obra um sacristão, um padre e um bispo que
praticam gestos transgressores e violam as leis igreja. A peça se inicia com a
fala do Palhaço – “Auto da Compadecida! O julgamento de alguns canalhas,
entre os quais um sacristão, um padre e um bispo [...]” (SUASSUNA, 2005, p.
15), em que já se apresenta em um tom irônico os personagens que estão
inseridos em uma instituição religiosa.
Ao decorrer da peça, na história do benzimento do cachorro o Padre João
se recusa a benzer o animal, mas quando o personagem João Grilo fala que o
cachorro é do Major Antônio Moraes, o coronel da cidade e proprietário de uma
grande propriedade de terra, o padre logo muda de opinião – “[...] mas vocês não
tinham dito que quem era o cachorro! ” (SUASSUNA, 2005, p. 23), nessa parte
pode-se perceber que o padre mostra interesseiro e que a igreja encontra-se
submissa ao coronel da cidade, ou seja, a igreja está submissa à política.
Posteriormente, em outro momento da peça, o Padre João se nega a fazer
o sepultamento do cachorro, contudo quando ouve João Grilo dizer que o
cachorro havia deixado um testamento em que destinava dinheiro ao Padre e ao
Sacristão, e que se não houvesse sepultamento o testamento não seria
cumprido, o Padre muda de ideia – “Que animal inteligente! Que sentimento
nobre” (SUASSUNA, 2005, p. 49), percebe-se que o padre trata-se de um
personagem calculista, que se deixa levar pelas fraquezas e pelas ambições
humanas.
O Bispo, ao descobrir que o cachorro fora enterrado em latim acaba
ficando furioso com o Padre e com o Sacristão que permitiu tal situação, mas
João Grilo logo tenta convencê-lo a não puni-los em troca de dinheiro falando-
lhe sobre o testamento do cachorro, dizendo-lhe que o cachorro havia deixado
três contos de réis para o sacristão, quatro para o padre e seis para o bispo;
logo, o Bispo adquire um novo posicionamento mediante a ocorrência – “É por
isso que vivo dizendo que os animais são criaturas de Deus. Que animal
inteligente! Que sentimento nobre! ” (SUASSUNA, 2005, p. 69), assim,
mostrando-se uma pessoa medíocre, soberba e arrogante que se deixa levar
pela ambição.
É através destes personagens que Suassuna faz uma crítica a Igreja e
traz à tona reflexões de ordem moral, problematizando as fraquezas da carne,
revitalizando os valores e as convicções humanas.
Tanto no livro quanto no filme, Auto da Compadecida, Nossa Senhora, é
uma das personagens femininas que está presente. Ela surge no terceiro ato,
sua aparição é marcada por um pedido/oração feito pelo personagem João Grilo,
que depois de muitas “embrulhadas” na Terra é morto por um cangaceiro e que
junto com outros personagens está sendo julgado: “Valha-me Nossa Senhora, /
Mãe de Deus de Nazaré! / A vaca mansa dá leite/ A braba dá quando quer. / A
mansa dá sossegada, / A braba levanta o pé. / Já fui barco, fui navio, / Mas hoje
sou escaler. / Já fui menino, fui homem, / Só me falta ser mulher”.
(SUASSUNA,2005, p. 144). Na história da humanidade Maria é vista como
aquela que sempre vem em auxilio de seus filhos, intercede à Deus pela
remissão dos pecados dos homens, e na obra aqui tratada ela também
apresenta característica de advogada dos necessitados enfrentando o Diabo,
para que este não convença Manuel (Jesus) de permitir que os “réus” sejam
levados para o inferno.
O embate entre Maria e o Diabo, de acordo com Maleval (2015), já
apareceu em outras narrativas, “o mesmo embate de Maria com os demônios e
a ressureição do fiel se apresenta em códices medievos” (2015, p.21). Esta
menciona que uma “ das variações operadas na transladação do milagre
mariano” (2015, p. 22), em relação ao milagre ocorrido no Auto da Compadecida,
podem ser observadas nas narrativas de, ou como também são conhecidas
Códice Calixtino, número 17, Livri II.
Nesta narrativa do Liber Sancti Jacobi, um jovem que todos os anos fazia
o caminho de Santiago de Compostela encontra-se com o Diabo. Este sabendo
que o jovem havia tido relações sexuais antes de fazer sua peregrinação o
convence de ter cometido um pecado mortal, levando-o ao suicídio, por
castração. Assim, o Diabo recomenda-o ao Inferno, mas São Thiago, que sabia
das tramoias do Capeta, intercede à Nossa Senhora, e esta ressuscita o jovem
como uma forma de remissão dos pecados. Neste caso, diferente do Auto da
Compadecida, a Virgem não é apenas uma intercessora, uma advogada, mas é
a que decide o destino do homem, que tem a última palavra no julgamento dos
seres humanos.
Ainda em relação a Compadecida, que tinha papel de advogada no
julgamento das personagens do livro e do filme, percebe-se em alguns diálogos
proferidos pelo Diabo um tom extremamente machista, quando este refere-se a
ela, retomando os discursos de demonização da mulher, muito comuns na Idade
Média: “Lá vem a compadecida! Mulher em tudo se mete! ( SUASSUNA, 2005,
p.145). “Grande coisa esse chamego que ela faz para salvar todo mundo! /
Termina desmoralizando tudo. ” (SUASSUNA, 2005, p.146). ” Não tem jeito não.
Homem que mulher governa...” (SUASSUNA, 2005, p.155).
Ariano Suassuna mostra com essa personagem não apenas um elemento
fortíssimo que compõe a religião católica, que é bastante difundida no nordeste
brasileiro, mas traz uma crítica bastante sutil em relação ao machismo ainda
muito presente em nossa sociedade, quando trata-se de mulheres que ocupam
lugares de destaque na sociedade.
.
3. DIFERENÇAS ENTRE A PEÇA DE ARIANO SUASSUNA E O FILME DE
GUEL ARRAES

Muitas são as semelhanças observadas no filme de Guel Arraes em


relação a obra de Ariano Suassuna, mas também encontra-se algumas
diferenças no que diz respeito a inclusão de personagens e supressão de outros.
Alguns parecem ter ganhado mais destaque no filme, outros aparecem na peça
e não na produção de Arraes e ainda tem aqueles que aparecem no filme, mas
não estão na “ historieta” (MALEVAL, 2015, p.19) de Suassuna.
No primeiro ato da peça da obra original é tratada a polêmica do enterro
do cachorro da mulher do padeiro pelo padre João, que chama-se Xaréu. No
filme também temos essa polêmica, mas não mais trata-se de um cachorro e sim
de uma cadela chamada Belinha.
Uma outra diferença que pode ser observada, é o fato de que na obra de
Suassuna o padeiro e sua mulher não recebem nomes, podendo ser vistos como
a “ representação da burguesia urbana do interior sertanejo” (MALEVAL, 2015,
p.19). No filme de Arraes essas personagens ganham nomes, Dora e Eurico,
dando caráter mais pessoal a estes, possibilitando o entendimento de se tratar
de indivíduos específicos e não da representação de uma classe social.
Na obra de Ariano Suassuna, é apenas mencionado o caráter duvidoso
da mulher do padeiro, sem se prender muito nesse aspecto, é dado a entender
isso no início do primeiro ato e só volta a ser mencionado no ato três, que se
trata do julgamento das personagens. Já no filme, de início tem uma cena em
que o padeiro coloco sua mulher Dora para fora de casa, por desconfiar de seus
casos extraconjugais. É mostrado também que esta é uma mulher muito ardilosa,
cheia de artimanhas, que consegue enganar o marido inúmeras vezes, durante
a história, sem ele perceber. É dada muita ênfase no aspecto da traição de Dora
durante todo o filme, tentando fazer crer que a mulher é a responsável pelos
pecados cometidos pelo marido.
Na peça, a Igreja é representada por quatro personagens: o padre João,
o Bispo, o Sacristão e o Frei. O Sacristão é a personagem responsável por
organizar o polêmico enterro do cachorro e tentar fazer a divisão do testamento,
que supostamente o animalzinho deixou para a Paróquia, entre as personagens
eclesiásticas, excluindo-se o Frei. A personagem do Frei é o único que não
participadas das artimanhas para ficar com o “dinheiro” do cachorro, podendo
ser percebido como algo bom e puro dentre de uma instituição composta por
membros de caráter duvidosos.
O filme de Guel Arraes também retrata a Igreja, mas apenas através do
Padre Joao e do Bispo, sendo que o primeiro interpreta tanto o seu papel descrito
na peça de Suassuna como também assume o papel que a personagem do
Sacristão desempenharia. O Frei não aparece no filme.
Algumas personagens aparecem somente no filme, não existindo na obra
de Ariano Suassuna, como é o caso do Capitão Setenta, Vicentão, personagem
que faz o amante de Dora e Rosinha, que é filha do Coronel Antonio Moraes,
que na peça é homem e só é citado sem aparecer. As personagens masculinas
citadas protagonizam, ao lado de Chicó, uma das personagens centrais da peça
e do filme, uma disputa pelo coração de Rosinha. Esta trama amorosa não existe
e nem sequer é mencionada na “historieta” (MALEVAL, 2015, p.19) de
Suassuna, fazendo com que neste ponto a adaptação diferencie-se muito da
obra original.
No último ato da peça, em que ocorre o “ Juizo post mortem” (MALEVAL,
p.20), mais dois aspectos podem ser citados que diferenciam a peça do filme. O
fato de a obra original ter a presença de dois demônios, um ajudante e o outro
sendo o chefão e no filme apresentar somente o chefe, denominado de
Encourado. Também há diferença em relação a presença dos cangaceiros no
julgamento. Na peça tanto Severino como o cangaceiro, seu braço direito são
julgados, mas no filme, mesmo que o cangaceiro também morra, na hora do
julgamento aparece somente Severino.
Percebe-se assim que o ponto que mais irá distanciar a peça de Ariano
Suassuna da produção de Guel Arraes será mesmo o romance que envolve as
personagens da peça e os que foram criados para o filme, sem ter nenhuma
referência com a obra original.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o que foi visto até aqui, acredita-se ter sido possível compreender
com mais profundidade as personagens retratadas tanto na peça quanto no
filme: a mulher do Padeiro (Dora) Manuel, os avarentos representantes da igreja
(sacristão, padre e bispo) e também, Nossa Senhora, mãe de Manuel. Cada uma
dessas personagens analisadas mostra uma representação social especifica e
que está presente no dia a dia de grande parte dos indivíduos.
Possibilitou-se observar através dessas análises, assuntos que mesmo
com o passar do tempo ainda estão presentes na sociedade, como a antiga, e
infelizmente atual, diabolização e desvalorização da mulher e o racismo, até
mesmo aquele que é acobertado pelo silêncio, mas desvelado pelo olhar, por
haver medo das leis que o pune.
Também neste trabalho foi abordado a Igreja, representada pelo
sacristão, padre, bispo e frei, mostrando que Suassuna não a descreveu como
pura ou cheia de moral e ética, mas sim, colocando seus representantes sujeitos
aos desejos e tentações humanas.
E finalmente observou-se as diferenças dos personagens e suas
representações entre a obra literária e o filme, mostrando os personagens que
existem somente na obra original, como o Frei, aqueles que estão presentes
tanto na peça quanto no filme ou aqueles personagens que só se encontram na
produção de Arraes, como Rosinha. Sendo dessa forma possível notar que as
adaptações feitas para o cinema não desmereceram a obra literária, deixando
ainda em evidência as críticas de Ariano Suassuna à sociedade.

5 . BIBLIOGRAFIA

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral. 6 ed. São Paulo: Saraiva,
2002.

MALEVAL, Maria do Amparo Tavares. Atualizações do Medievo no romanceiro


nordestino e no Auto da Compadecida de Ariano Suassuna. Revista Graphos,
UFPB/ PPGL, Paraíba, vol. 17, nº 2, p. 16-26, 2015.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida.- 35ª ed. Rio de Janeiro: Agir,2005.

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