Quando as condições não são uniformes considera-se formas mais complexas, sendo as
análises desenvolvidas para manipular superfícies de formas arbitrarias.
A resistência ao cisalhamento necessária para equilibrar o mecanismo de ruptura assumido
é calculada pelas leis da estática. Os conceitos físicos usados são que a massa potencial de
deslizamento está em um estado de equilíbrio limite e o critério de ruptura de solo ou rocha
é satisfeito em qualquer ponto ao longo da superfície proposta. Os vários métodos diferem
quanto ao grau com que as condições de equilíbrio são satisfeitas, sendo que alguns
métodos violam as condições de equilíbrio estático. Este é um fator importante quando é
avaliado o rigor de algum dos métodos.
A resistência ao cisalhamento calculada, requerida para o equilíbrio, é comparada com a
resistência ao cisalhamento disponível.
O mecanismo com menor fator de segurança é obtido por um processo iterativo. Por
exemplo se é considerado que a superfície de deslizamento é circular, então é feita uma
busca para o círculo crítico de deslizamento. Quando à posição da superfície de
deslizamento é governada por uma região de fraqueza dominante, não são necessárias
outras tentativas.
Os modos de ruptura de taludes em rocha são bem mais complexos do que aqueles observados
em taludes em solos. Isto porque boa parte das rupturas em rochas é condicionada por certas
descontinuidades. Somente algumas rupturas em rochas brandas ou em maciços rochosos
muito fraturados ocorrem de forma circular como na maioria das rupturas em solo. Em função
do posicionamento das descontinuidades em relação à face do talude, os modos de ruptura de
taludes em rochas são:
Ruptura plana (bloco simples)
Ruptura de blocos múltiplos
Ruptura de cunha
Ruptura circular
Ruptura de pé
Ruptura por flambagem
Tombamento de blocos
Todos os métodos de equilíbrio limite convencionais, exceto o de Sarma (1979), são mais
apropriados para rupturas em solos ou em rochas brandas ou maciços rochosos fraturados,
onde as superfícies são circulares ou não circulares, mas a massa deslizante é dividida em
lamelas verticais. Assim, outros métodos de equilíbrio limite foram desenvolvidos para os
modos de ruptura mais freqüentes em taludes em rochas, onde as rupturas são determinadas
pelas descontinuidades.
Os modos de ruptura plana (bloco simples), ruptura circular, ruptura por cunha, tombamento,
ruptura de pé e flambagem podem ser identificados pelo estereograma, após lançamento dos
vetores mergulho das descontinuidades e da face de escavação do talude.
Fenda de tração
Zw Z
Distribuição de pressão
de água c
Superfície de ruptura
Figura 1.1. Geometria de uma ruptura por escorregamento plano (modificado - Hoek & Bray,
1981).
Segundo Hoek & Bray (1981), neste método assume-se que as forças geradas pelo peso do
bloco deslizante, pela distribuição de pressão hidráulica na fenda de tração e pela sub-pressão
de água na superfície de escorregamento, atuam diretamente no centróide do bloco de rocha
deslizante, desta forma não gerando momentos. Embora isto acarrete erros quando da análise
de taludes reais, estes podem ser ignorados devido o seu valor desprezível. Neste método o
fator de segurança é obtido pela seguinte equação:
Ou de outra forma:
2.c
. P. Q.cotan R. p S .tan
.H
FS
Q R.S.cotan
Z
P 1 .cosec c
H
w . Z w .Z
R
. Z.H
Zw . Z
S sen c
Z.H
Z 2
Q 1 . cotan c cotan . sen c
H
2
Z
Q 1 .cos c . cotan c . tan 1
H
onde:
c ... Coesão do plano de deslizamento
... Peso específico da rocha
w ... Peso específico da água
... Mergulho da face do talude
c ... Mergulho da cunha formada pelo plano de deslizamento
Z ... Profundidade da fenda de tração
ZW ... Profundidade da água na fenda de tração
H ... Altura total do talude
Para o caso de escorregamentos de cunhas (Hoek & Bray, 1981), considera-se superfícies de
ruptura bi-planares, sendo a inclinação das superfícies de deslizamento definida pela geometria
da cunha (Figura 1.2).
/2 Plano A
Plano B
i
Linha de interseção
Face do talude
Cunha
Figura 1.2. Geometria de uma ruptura por escorregamento em cunha (modificado - Hoek &
Bray, 1981)
O plano de menor mergulho é chamado plano A e o de maior, plano B. Pode-se citar duas
regras básicas quanto ao escorregamento em cunha:
Regra de Markland - diz que haverá escorregamento ao longo da linha de interseção se sua
inclinação (plunge) for menor que o ângulo de inclinação aparente da face do talude.
Regra de Hocking - Se a direção de qualquer uma das descontinuidades estiver entre as
direções do talude e da linha de interseção, o escorregamento irá ocorrer ao longo desta
descontinuidade e não ao longo da linha de interseção.
Estas regras são bastante importantes pois garantem que o escorregamento se dará ao longo da
linha de intersecção da cunha formada, mobilizando a resistência ao cisalhamento dos dois
planos das respectivas descontinuidades. Caso a Regra de Hocking não seja satisfeita, existirá
a formação geométrica de uma cunha, mas o escorregamento se dará ao longo do plano mais
abatido, conseqüentemente mobilizando somente a sua resistência ao cisalhamento.
Para o caso do escorregamento da cunha ser resistido apenas por atrito e do ângulo de atrito
ser igual em ambos planos de deslizamento, o valor do fator de segurança é obtido pelo
equilíbrio das forças através da seguinte equação ou através de um estereograma, desde que as
geometrias do talude e da cunha sejam bem definidas:
sen . tan
FS K.
sen / 2 . tan i
onde:
K ... Fator de cunha
... Mergulho da interseção das descontinuidades no plano paralelo a face do
talude
i ... Mergulho da interseção das descontinuidades no plano perpendicular a face do
talude
... Ângulo formado pelas descontinuidades que conformam a cunha
... Ângulo de atrito das descontinuidades que conformam a cunha
Hoek & Bray (1981) propuseram a seguinte equação para casos quando o atrito for diferente
nas descontinuidades que formam a cunha, sendo as constantes A e B dependentes da
geometria da cunha:
F A.tan A B. tan B
onde:
Segundo Hoek & Bray (1981), caso se considere o efeito da coesão das descontinuidades que
formam a cunha e também que esta seja impermeável, com água entrando apenas pelo topo da
cunha e escoando pelas linhas de interseção 1 e 2, a pressão da água deverá ser máxima sob a
linha 5, e nula nas linhas 1, 2, 3 e 4 (Figura 1.3), representando esta distribuição de pressões a
situação mais desfavorável. Neste caso o fator de segurança é obtido pela seguinte equação,
desenvolvida e baseada nas análises de Hoek, Bray e Boyd em 1973:
3
F .(c A . X cB .Y ) ( A w . X )tg A ( B w .Y )tgB
.H 2 2
onde:
sen 24
X
sen 45 .sen 2 nA
sen 13
Y
sen 35 .sen 1nB
Figura 1.3. Geometria do escorregamento em cunha com pressão de água (modificado - Hoek
& Bray, 1981).
Quando o maciço é muito fraturado, o escorregamento poderá ser definido por superfícies
múltiplas de diversas descontinuidades, que tende a ter uma forma circular, ou mais
precisamente de uma espiral logarítmica. Assim, a condição principal para a ocorrência deste
modo de ruptura, é a existência de várias descontinuidades, com os mais diversos vetores-
mergulho. A ruptura circular também pode ocorrer em rochas ocorre em rochas brandas. A
ruptura circular é analisada pelos mesmos métodos de equilíbrio limite convencionais utilizados
para rupturas em solos. Vale observar que para maciços rochosos fraturados, a envoltória de
resistência pode ser não circular, e neste caso os parâmetros de resistência não são constantes,
mas dependentes do estado de tensões atuante.
Existem atualmente diversos programas de equilíbrio limite disponíveis, os quais obtêm o fator
de segurança para taludes em solo e em rocha, aplicando vários métodos de análise de
estabilidade, considerando na análise geometrias simples ou complexas compostas por curvas
e/ou retas, a estratigrafia e as condições de carregamento. O usuário pode selecionar, de
acordo com o tipo e o grau de fraturamento do maciço, o método a ser empregado, sendo os
mais freqüentes os métodos de Fellenius, Bishop Simplificado, Janbu Simplificado,
Morgenstern-Price e GLE.
Esta é uma ruptura controlada por uma superfície não-circular, formada por blocos definidos
pelas diversas descontinuidades existentes no maciço rochoso. O único método que contempla
esta situação complexa é o método de Sarma (1979). Neste caso a análise da estabilidade do
talude é feita pelo método das fatias, ou seja, o corpo livre é dividido em n fatias não
necessariamente verticais ou paralelas e calcula-se o equilíbrio das mesmas. Para cada fatia
tem-se as seguintes condições de equilíbrio estático:
S momento = 0
S forças verticais = 0
S forças horizontais = 0
Assim para n fatias tem-se 4n equações disponíveis. A estabilidade de taludes pelo método das
fatias resulta então em um problema indeterminado em 2n-2 incógnitas. O fator de aceleração
crítico Kc pode ser utilizado para indicar a segurança do talude. Kc é definido como a carga
horizontal, fração do peso total do corpo livre, que aplicada no corpo livre resulta em um
estado de tensão na superfície de escorregamento em equilíbrio com a resistência ao
cisalhamento disponível. Kc é chamado de fator de aceleração crítica porque pode ser
associado ao problema de aceleração de terremoto.
O método de Sarma é uma extensão do método das cunhas e determina Kc de forma direta e
sem utilizar gráficos. A inclinação das fatias não é necessariamente vertical para possibilitar a
consideração das tensões internas de cisalhamento. As inclinações das fatias são escolhidas de
forma a possibilitar a formação de mecanismos de escorregamento cinemático. As inclinações
críticas são parte do problema e o método é adequado para determinar parâmetros de
resistência de taludes que sofreram deslizamentos. Para a superfície de ruptura é utilizada uma
seqüência de linhas retas, possibilitando aproximar qualquer forma de superfície de ruptura.
Este método foi mais tarde consagrado como Método de Sarma (1979), onde foi totalmente
adaptado para escorregamento de blocos múltiplos para estabilidade de taludes em rocha.
Neste caso, a obtenção de Kc não é prioritária e as inclinações das fatias são na verdade
definidas pela geometria das descontinuidades. Assim, a aplicação deste método para taludes
em rocha é uma solução simples e única.
1.6. TOMBAMENTO
A ruptura por tombamento envolve a rotação de colunas ou blocos de rocha sobre um ponto
fixo. A instabilidade do tipo tombamento ocorre quando as direções da face do talude e da
descontinuidade são paralelas (+/- 20 graus) e o mergulho da descontinuidade é contrário ao
mergulho da face do talude. Além disto, a projeção do vetor da força peso cai fora da base do
bloco ou da coluna considerada, causando a rotação do elemento. Hoek e Bray (1980)
desenvolveram um método de análise do fator de segurança de taludes rochosos quanto ao
tombamento, porém as hipóteses utilizadas limitam a sua aplicação.
1.7. RUPTURA DE PÉ
Na análise de ruptura biplanar com pé de coluna em cunha foi considerada uma coluna de
rocha potencialmente instável que desliza sobre duas descontinuidades, a primeira paralela à
face do talude e a segunda formado um ângulo variável com a face (Figura 1.4). Duas outras
descontinuidades, assumidas sem nenhuma resistência ao cisalhamento, desconfinam o bloco
lateralmente. As descontinuidades por onde a coluna desliza foram consideradas totalmente
preenchidas por filito, com espessura do preenchimento maior que a rugosidade das paredes, o
que é no caso em estudo bastante conservador, já que as paredes das descontinuidades
possuem ondulações (rugosidade de primeira ordem) com dimensões similares a espessura do
preenchimento (Capítulo 4), havendo assim contato de rocha com rocha.
lc L
coluna lw
w
cunha b
Figura 1.4. Geometria do bloco para a análise da ruptura biplanar no maciço do talude sul
(modificado - Durand, 1995).
Adotando a definição de fator de segurança como a razão entre os esforços atuantes durante o
escorregamento da coluna, chega-se a seguinte equação:
onde :
Sw ... Resistência ao cisalhamento do plano de deslizamento da cunha
Sc ... Resistência ao cisalhamento do plano de deslizamento da coluna de rocha
Ww ... Peso da cunha de rocha
Wc ... Peso da coluna de rocha
... Ângulo do mergulho do talude
w ... Ângulo da cunha
. e. lw
c. e lw .cos w .tan c. lc . e. lc .cos .tan .cos w
2 2
2
FS
. e. lw
. e. lc .sen w
2
onde:
c ... Coesão do preenchimento
e ... Espessura da coluna e da cunha
lw ... Comprimento da cunha
... Peso especifico da rocha
... Ângulo de atrito do preenchimento
w ... Ângulo de mergulho do pé da cunha
... Ângulo de mergulho da cunha
lc ... Comprimento da coluna
Caso seja aplicado o critério de ruptura de Barton-Bandis (1990) nas forças resistentes Sw e
Sc chega-se a seguinte equação:
2 2
. e. l JCS .2. e lw
2
w .cos .tan JCR.log
w . e. lw .cos w
JCS
r . e. lc .cos .tan JRC.log
. e.cos
r .cos w
FS
. e. lw
. e. lc .sen w
2
onde:
... Peso específico da rocha
e ... Espessura da coluna e da cunha
lw ... Comprimento da cunha
w ... Ângulo de mergulho da cunha
JRC ... Coeficiente de rugosidade da descontinuidade
JCS ... Resistência à compressão das paredes da descontinuidade
r ... Ângulo de atrito residual do preenchimento
lc ... Comprimento da cunha
... Ângulo de mergulho do talude
1.8. FLAMBAGEM
Quando um talude é formado por descontinuidades cujo vetor mergulho é muito próximo do
seu próprio vetor mergulho, é possível haver ruptura por flambagem principalmente em taludes
de grande altura. Em outras palavras, as camadas delimitadas pelas descontinuidades trabalham
como colunas que podem flambar devido ao seu peso próprio ou ao aumento de carregamento
sobre a crista do talude.
No estudo de ruptura por flambagem foi considerada uma coluna de rocha potencialmente
instável composta por duas partes, uma que desliza por uma descontinuidade paralela a face do
talude, e outra que pode sofrer flambagem devido a carga imposta pela a primeira parte. A
coluna é desconfinada lateralmente por duas descontinuidades consideradas sem resistência ao
deslizamento (Figura 1.5). A descontinuidade paralela a face do talude foi considera totalmente
preenchida por filito, com espessura maior que a rugosidade das paredes, o que é bastante
conservador, conforme exposto anteriormente.
e
ll
L
lf
b
Mecânica e Engenharia de Rochas – Apostila G.AP-AA002/03 1.15
Universidade de Brasília
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental / FT
Geotecnia
onde:
H ... Altura do talude
lf ... Comprimento da seção da coluna que pode sofrer flambagem
ll ... Comprimento da seção da coluna que atua como carga de flambagem
L ... Comprimento do conjunto (lf + ll)
b ... Base ou largura do conjunto
e ... Espessura da coluna
... Mergulho do talude
Figura 1.5. Geometria do bloco para a análise da ruptura por flambagem no maciço do Talude
Sul (modificado - Durand, 1995).
Forca Resistente S Rf
FS l
Forca Atuante Wl .sen
onde:
Sl ... Resistência ao cisalhamento no plano de deslizamento da seção que atua como carga
Rf ... Resistência à flambagem
Wl ... Peso da seção que atua como carga
... Ângulo do mergulho do talude
K. 2 . E.I
FS
l f . Wl . sen cos. tan c l .l l
K. 2 .E.e3
FS
12. lt l l . l l .e. . sen cos.tag c.l l
2
onde:
K. 2 .E.e2
FS
2 JCS
12.l l . . l t l l sen cos.tag JRC.log r
sn
onde:
JRC ... Coeficiente de rugosidade da fratura
JCS ... Resistência à compressão das paredes da fraturas
r ... Ângulo de atrito residual do preenchimento
Com as grandes alturas que os taludes de mineração têm atingido, torna-se cada vez mais
importante o estudo de estabilidade não apenas quanto à sua ruptura mais também quanto ao
deslocamento e à velocidade. Os métodos de equilíbrio limite fornecem como informação
apenas o fator de segurança, não considerando os deslocamentos nem as velocidades com que
estes ocorrem antes da ruptura. Deste modo torna-se necessária a utilização de métodos
tensão-deformação no estudo de estabilidade destes taludes, pois tais métodos fornecem
1 3 r
FSlocal
1 3 a
onde:
(1 - 3)r ... Tensão desviatória de ruptura
(1 - 3)a ... Tensão desviatória atuante
c
3 1 1r
Mecânica e Engenharia de Rochas – Apostila G.AP-AA002/03 1.18
Universidade de Brasília
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental / FT
Geotecnia
Com base no fator de segurança local pode-se obter o fator de segurança global das seguintes
formas:
Partindo-se da definição do nível de tensão como sendo o inverso do fator de segurança
local, define-se o fator de segurança global como a média dos níveis de tensões locais ao
longo de uma superfície potencial de ruptura.
Partindo do estado de tensões no maciço determina-se pelo critério de Mohr-Coulomb a
resistência ao cisalhamento para cada ponto da superfície potencial de ruptura, o fator de
segurança global é definido como a razão entre a integral da resistência ao cisalhamento e a
integral das solicitações.
Partindo da mesma definição de fator de segurança usada no métodos convencionais,
utiliza-se forças normais importadas diretamente de uma análise numérica em vez das
calculadas a partir do equilíbrio de cada fatia. De modo que não são necessárias hipóteses
simplificadoras com relação às forças entre fatias, obtendo-se uma distribuição de esforços
mais próximos da realidade.
100
90
80 77,2
70
60
50
40
30
20 16,6
10 5,8
0,02 0,38
0
nat. sat c u
.