Boa Vista, RR
2014
CLEDSON ALVES DE MACÊDO
Boa Vista, RR
2014
CLEDSON ALVES DE MACÊDO
_____________________________________
Profª. Dra. Maria das Graças Santos Dias Magalhães
Departamento de História - UFRR
Orientadora
________________________________________
Prof. Dr. Rodrigo Cardoso Furlan
Departamento de Direito - UFRR
Membro
____________________________________
Prof. Esp. Valdemir Filet dos Santos
Departamento de História - UFRR
Membro
Ao meu Deus, minha mãe, pai e irmãos que
são as pessoas, mas importante da minha vida.
AGRADECIMENTOS
Acima de tudo, quero agradecer a Deus, pois Ele é a minha força suprema e
Dele vem a minha vitória. Que durante esse tempo não me deixou desistir nem olha
para as dificuldades. Senhor Deus, muito obrigado por te me dado a oportunidade
de concluir esse trabalho e realizar mais um sonho.
Não posso deixar de reconhecer que durante esse período acadêmico várias
pessoas de forma direta ou indireta, colaboraram nesse processo. Devido a grande
quantidade de pessoas que contribuíram comigo, sei que é impossível agradecer a
todos nominalmente, portanto, espero não cometer o erro de não citar o nome de
alguns, mas, desde já agradeço a todos.
A minha mãe, Raimunda Macêdo de Souza que nesse tempo da vida
acadêmica sempre esteve ao meu lado, dando apoio, quando nos momentos de
desanimo sempre vinha com seu jeito especial de ser, trazendo palavras de
encorajamento, mãe muito, muito obrigado por tudo.
Ao meu pai, o Sr. Francisco Alves de Souza, que mesmo distante e de forma
indireta me ajudou, obrigado por tudo pai.
Aos meus irmãos Clemilson Macêdo e Cleilton Macêdo e a minha irmã
Cleane Macêdo agradeço que de forma direta ou indireta me ajudaram nessa
jornada.
À minha orientadora, Profª. Dra. Maria das Graças Santos Dias Magalhães,
que com amizade, sabedoria e paciência me ajudou a transpor os limites teóricos e
metodológicos na condução e conclusão deste trabalho monográfico.
Aos professores do Departamento de História da UFRR que contribuíram na
minha formação acadêmica, bem como no ofício de ser professor-pesquisador. Em
particular aos Professores Dr. Nélvio Paulo Dutra Santos, Dr. Reginaldo Gomes de
Oliveira, Dra. Maria das Graças Santos Dias Magalhães, MSc. Márcia D’Acampora e
Dra. Maria Luiza Fernandes. Estendo meus agradecimentos também aos
professores efetivos ou substitutos dos outros departamentos que colaboraram com
minha formação.
Mas quando vier o que é perfeito, então o que
o é em parte será aniquilado. Quando eu era
menino, falava como menino, sentia como
menino, discorria como menino, mas, logo que
cheguei a ser homem, acabei com as coisas de
menino.
(1 Coríntios 13: 10, 11)
RESUMO
Este trabalho busca explicar e compreender o processo histórico que culminou com
a criação do município de Caroebe/Roraima. A ocupação da Amazônia faz parte do
contexto da doutrina de "segurança nacional" confirmada com a presença militar e
com os migrantes que povoariam toda a área amazônica. Roraima, como última
fronteira a ser confirmada, foi alvo de uma colonização planejada pelos governos
militares e incentivada quando passou a ser Território Federal de Rio Branco depois
mudado para Território Federal de Roraima, pelos governadores indicados pelo
Governo Federal para organizarem as instituições e povoarem toda região. A
colonização ocorreu com promessas de terras férteis e incentivos financeiros,
principalmente para nordestinos que trouxessem sua força para fazer Roraima
crescer. Assim, tanto nordestinos como sulistas deixaram suas terras natal para se
fixarem em Roraima e iniciar uma nova vida.
This work seeks to explain and understand the historical process that led to the
creation of the municipality of Caroebe/Roraima. Therefore, the Amazon occupation
is part of context of the doctrine "national security" confirmed by the military presence
and the migrants who populate the entire Amazon area. Roraima, as last frontier to
be confirmed, was the target of a planned colonization by the military governments
and encouraged when it became Rio Branco Federal Territory then changed to
Federal Territory of Roraima, the governors appointed by the Federal Government to
organize the institutions and people all region. Colonization occurred with fertile land
of promise and financial incentives, particularly for Northeast to bring its strength to
grow Roraima. Thus, both the Northeast as southerners left their homelands to settle
in Roraima and start a new life.
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 10
2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS ...................................................................... 14
2.1 PANO DE FUNDO: BRASIL COLONIAL ........................................................... 14
2.2 BREVE HISTÓRIA DA AMAZÔNIA ................................................................... 17
2.3 RORAIMA E SEUS PROCESSOS DE COLONIZAÇÃO ................................... 21
2.3.1 Evolução Político-Administrativa ................................................................. 21
3 A MIGRAÇÃO E OS ASSENTAMENTOS RURAIS EM RORAIMA ................ 23
3.1 MESORREGIÃO SUL: BR 174 E BR 210 (PERIMETRAL NORTE) ................ 29
4 A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CAROEBE, RORAIMA ........................... 31
4.1 UMA DISCUSSÃO DA GEOPOLÍTICA ............................................................ 31
4.1.1 O PAD-Anauá .................................................................................................. 33
4.2 O MUNICÍPIO DE CAROEBE .......................................................................... 35
4.3 ATORES SOCIAIS NO MUNICÍPIO DE CAROEBE: ENTREVISTAS .............. 40
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 49
OBRAS CONSULTADAS ......................................................................................... 51
10
1 INTRODUÇÃO
2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Historicamente, o país que hoje se chama Brasil teve outros nomes. Devido
à compreensão da imensa extensão territorial, os povos que aqui chegaram por
ocasião do “descobrimento”, capitaneados por Pedro Álvares Cabral, chamaram a
princípio de Vera Cruz, porém outros nomes foram surgindo:
Por curto tempo, ocorreu uma denominação que não vingou, adotada nas
cartas de Pero Vaz de Caminha e de Mestre João, ambas de 1 de maio de
1500: Vera Cruz; usada, é verdade, por alguns italianos nos primeiros anos
após as viagens de Cabral e de Américo Vespúcio. Depois, durante os trinta
anos seguintes, pelo menos três denominações se sucederam nos mapas e
nos escritos sobre o novo achado do rei de Portugal. Ainda entre os
italianos, após 1501, quando chegou do Oriente a armada de Cabral, a terra
foi referida como Terra dos Papagaios, como aparece no globo de Schöner
em 1520 e no de Ptolomeu, de 1522. Quando d. Manuel enviou aos sogros,
os Reis Católicos, uma carta narrando o achamento, em 1501, foi o nome
de Santa Cruz que utilizou, e desde então outros fizeram o mesmo. Por fim,
em 1512, começou a surgir o termo Brasil para designar em âmbito oficial a
América portuguesa, tornando-se cada vez mais freqüente daí em diante e
consagrando-se oficialmente entre 1516, quando d. Manuel investiu
Cristóvão Jaques nas funções de "governador das partes do Brasil"
(SOUZA, 2001, p. 02).
Para Portugal, todo território ao ser descoberto necessita ser explorado e
colonizado, principalmente quanto à possibilidade de se encontrar metal precioso ou
outra matéria-prima que possa ser utilizada sem altos custos para os detentores do
direito à posse, e, no caso específico do Brasil, os portugueses. Então, para discutir
o processo de colonização, é preciso compreender seu sentido. Para Prado Junior
(1969), a colonização é uma empresa que tencionava a expansão comercial dos
países europeus que a partir do século XV se intensificou e participou de forma
discreta das transformações da época. Foi muito mais uma implementação do
processo de produção capitalista, que uma forma de crescimento tecnológico.
avanço da nação brasileira, antes, todo processo era observado com desconfiança.
Os planos “Política de Integração Nacional (PIN)” e “Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND’s)” que eram fundamentados na doutrina de Segurança
Nacional (BECKER, 1998). Os objetivos eram: a) resguardar a soberania nacional;
b) fiscalizar as fronteiras; e, c) impedir as ações exteriores, as incursões de
traficantes e invasores das terras brasileiras.
Dessa maneira, tanto indígenas como colonos já instados na região
protestaram com a chegada das estradas da maneira que o governo propunha. As
redes de telecomunicações, a instalação de hidrelétricas alterava toda a vida
cotidiana dos que ali residiam, sendo os protestos eram constantes. A chegada de
novos colonos significava a desapropriação dos antigos, dentro do projeto de
expansão do governo não estava incluso a proteção a terras indígenas nem a
propriedade dos camponeses. A pecuária necessitava de grandes áreas de terra,
então conflitos foram sendo travados e com isso tribos indígenas foram dizimadas e
camponeses massacrados, para que o progresso vindo do capitalismo se instalasse
e promovesse a ocupação.
O grande capital penetrou nas áreas indígenas, cortou as reservas, lavrou o
subsolo, alagou aldeias; a cultura tradicional dos índios foi ferida, a sua
liberdade ancestral ameaçada. O latifúndio engole as roças, mas o
camponês resiste à expulsão, recusa a proletarização, luta contra o cativeiro
e defende sua autonomia (HEBETTE, 1991, pp. 7- 8).
A resistência dos colonos e dos indígenas foi o primeiro freio à ação de
conquista da Amazônia. Há de se convir que antes de qualquer plano de conquista,
as variáveis devem ser levadas em consideração, principalmente em se tratando de
nativos. Mas, a motivação para a ocupação da Amazônia brasileira, é justamente a
diversidade biológica, tanto fauna quanto flora, que desperta paixões e faz nascer
povoados e lugarejos, que a princípio são locais de estudos e logo se tornam
habitações.
A Amazônia sempre atraiu com força de verdadeiro imã a curiosidade
científica universal. Inúmeros cientistas, particularmente naturalistas,
botânicos, geógrafos e historiadores da Europa e dos Estados Unidos,
visitaram a região nos séculos XVIII e XIX. Todos deixaram valiosas
contribuições ao conhecimento da natureza dessa imensa calha
potomográfica (MATTOS, 1980, p. 29).
Após esse breve histórico sobre a Amazônia, no tópico seguinte abordamos
sobre o Estado de Roraima, inserido na região amazônica, e seus processos de
colonização.
21
Roraima é o ponto mais setentrional do Brasil, faz fronteira política com dois
países, a República Cooperativista da Guiana e a República Bolivariana da
Venezuela, e com dois estados federados brasileiros, o Amazonas e o Pará. Possui
área de 224.298 km2 e uma população estimada em 469.524, segundo os dados do
IBGE 2013.
populações para as áreas ao norte de Boa Vista, e como antes, era o rio
Branco a base da comunicação.
A mineração fez surgir garimpeiros vindos de toda parte do Brasil, o que
aumentou o fluxo de pessoas na cidade de Boa Vista. Diante da necessidade de ter
um ponto fixo para a administração das situações tanto de mineração que implicava
na migração, principalmente de pessoas sem qualificação que vinham em busca do
trabalho braçal do garimpo, como da pecuária como da exploração dos seringais.
Com disposição para solucionar a problemática é fundado o Território Federal do Rio
Branco, desconectado do Estado do Amazonas. Boa Vista passa a ser a capital do
então território do Rio Branco (ibid., p. 29).
O objetivo principal do governo federal ao criar os territórios federais, e disso
o território do Rio Branco não foge à regra, era a ocupação das áreas. Havia muitos
“espaços vazios” e necessitavam serem preenchidos e a partir daí passarem a
produzir. Para tanto, colônias agrícolas foram criadas para com a produção de
hortaliças de forma artesanal e posteriormente em maior escala, suprir as
necessidades da capital. Fazia parte do programa de soberania nacional e proteção
das terras não ocupadas e improdutivas. Magalhães (2008, p. 125) informa que:
No contexto explicitamente geopolítico das políticas territoriais para a
Amazônia, nota-se que o Território Federal do Rio Branco não fugiu a regra
dos programas implementados pelo Governo Federal para ocupar a área.
Após a criação do Território, foram implementadas colônias agrícolas a fim
de abastecer Boa Vista de produtos hortifrutigranjeiros e de aumentar o
contingente populacional.
A ocupação não indígena em Roraima ocorria por conta da pecuária e em
outro momento motivada pela agricultura. A partir da década de 1950, o governo
Federal passou a colonizar o Território de Rio Branco - depois renomeado de
Roraima - com a criação de colônias agrícolas, fomentadas pelos Governos Federal
e local, foram implantados os primeiros assentamentos agrícolas em Roraima já
mencionados. Vale ressaltar que o termo “assentamento” nesta monografia está de
acordo com o que expõe a Instrução Normativa nº 2 de 20 de março de 2001 do
MDA/INCRA que designa assentamento rural e colônia agrícola com o mesmo
significado de pequena unidade de produção agrícola. Quatro colônias foram criadas
em Roraima:
Nesse contexto, a partir de 1950, o governo federal criou os quatro
primeiros assentamentos rurais em Roraima - Mucajaí, Cantá, Taiano e
Santa Maria do Boiaçu - mas somente os três primeiros obtiveram o êxito
esperado. Êxito esse fruto da abertura das estradas principais e vicinais,
loteamentos das áreas a serem ocupadas (em média 50 hectares),
25
como as das elites políticas, atuaram para atrair migrantes para a região
amazônica", usando o "discurso de integração, cuja palavra de ordem na década de
1970 era integrar para não entregar, ou na defesa da soberania em áreas de
fronteiras, assim, acreditava-se que se evitaria a perda da Amazônia".
A grande maioria dos migrantes que vieram em busca da realização de um
sonho encontrou dificuldades de obter o apoio necessário do poder público. Mas, por
terem a bisão de crescimento adaptaram-se rápido a situação, a falta de recursos
financeiros a exclusão social servirão de impulso para o trabalho de territorialização.
Os vilarejos cresceram sem a ajuda das autoridades, os moradores ajudavam-se
uns aos outros não esperavam o auxilio que viria da parte do governo, por isso
muitos assentamentos surgiram sem o aval das autoridades competentes, Diniz e
Santos (2008, p. 8) falam que:
A impressionante capacidade de adaptação a novos destinos demonstrada
pelos migrantes de fronteira merece destaque. Sendo na maioria das vezes,
destituídos de bens materiais, esquecidos pelo poder público, e excluídos
social e economicamente, esses indivíduos contam uns com os outros para
sobrevivência e adaptação na fronteira. Neste contexto a formação dos
grupos de ajuda informal é importante estratégia empregada pelos colonos.
De acordo com este estratagema, os colonos revezam o trabalho entre os
lotes dos membros desses grupos informais de trabalho, materializando
cada fase do árduo processo de produção agrícola, alternadamente: aceiro
de derrubada, broca, derrubada, queimada, coivara, aceiro, plantio e
colheita.
Para esses trabalhadores as políticas sociais não têm alcance, pois,
trabalham em grupo, produzem e trazem benefícios para a comunidade e dividendos
para o Estado. A geopolítica os localiza nas regiões de produção agrícola como
produtores independentes. Mesmo estando localizados dentro da área do projeto de
desenvolvimento indispensável à segurança nacional denominado II Plano Nacional
de Desenvolvimento (SILVA, 2011).
4.1.1 O PAD-Anauá
Ottomar Pinto, em 1980 em seu Programa Anual de Governo (1980), expõem para o
extinto Ministério do Interior, baseado no “crescimento explosivo da população” o
seguinte:
A resultante disso é o assentamento desorganizado das famílias e a
elevação dos índices de mortalidade provocada por doenças endêmicas,
inevitáveis ante a escassez absoluta de recursos. O próprio assentamento
desordenado dos colonos, exercer um efeito multiplicador sobre o
crescimento normal dos gastos, decorrentes do aumento populacional […] A
agricultura de Roraima é fundamentalmente baseada na pequena e média
propriedades. Com reduzido excedente acumulável apelo ao crédito
bancário é imprescindível para a expansão e melhora da produtividade. As
normas de crédito rural exigem garantia hipotecária para o financiamento a
investimentos fixos ou semi-fixos. Ocorre porém que a grande maioria dos
estabelecimentos rurais no Território é ocupado a título precário, o que inibe
o acesso ao precitado crédito (Programa Anual de Governo, 1980, p. 9).
A ocupação de Roraima através de assentamentos planejados. A aplicação
de planos para distribuição de terras e posterior financiamento para investimento dos
colonos, sempre foi uma problemática, pois, colonos vinham de todos os lugares e
se instalavam sem que a administração local fosse comunicada. Era a desordem no
processo de colonização. O resultado desse tumulto era a dificuldade de conseguir
os recursos para trabalhar na terra. Assim, muitos deixavam seus lotes porque não
conseguiam o financiamento (SANTOS, 2004). A geografia do Estado seguiu o
plano já estipulado pelo poder público que era a ocupação das área não povoadas
do Estado.
O povoamento de Roraima enquanto última fronteira brasileira, se consolida
com a promulgação da Constituição de 1988 (ANGHER, 2013) que o eleva a
categoria de Estado e com isso a autonomia de gerenciar os recursos advindos das
fontes sejam elas públicas ou privadas, para a implementação das políticas públicas
e planos de governo (SANTOS, 2004).
Fonte: Wikipedia3
Fonte: Wikipedia5
Muitos personagens participaram da história que resultou na criação do
município de Caroebe. Dentre eles está o morador de São João da Baliza que
conhece a história da formação do município de Caroebe, ora denominado de sujeito
B, que foi entrevistado em 28 de outubro de 2014 pelo autor. Segue excerto da
entrevista.
Sou de Vitorino Freire, Maranhão. A gente chegou em Roraima através,
acompanhado com um padrinho meu juntamente com os familiares deles e
mais amigos. Mais famílias que inclusive em 1976 eram famílias moravam
em Goiás, que migraram nessa época. Inclusive eu a procura de terra
espaço mais abundante para produzir. Eu tinha 15 para 16 anos e vim com
eles. Na responsabilidade de meu padrinho. O primeiro passo era em busca
de terra procriar a vida no Ex-Território, na época era Território. O primeiro
lugar quando a gente destinou do nordeste pra cá, que paramos realmente
pra morar, criar, foi Baliza. Na época Baliza não existia e era só selva. A
única abertura que havia era só a BR e as cascaeiras onde a
Paranapanema tirava os materiais para a construção de estradas e mais
ninguém. Figura humana na época só índio que a gente se encontrava.
(Excerto de entrevista cedida ao autor em 28 de outubro de 2014)
O depoimento encontra eco nos escritos de Silva (2011), que mostra em
seus estudos a vinda de migrantes para a Amazônia foi um planejamento de
governo militar para a colonização da região. Eram oferecidos incentivos. Tudo sob
a orientação do Instituo de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
5
Disponível em: http://www.wikipedia.com. Acesso em: 02/dez./2014.
44
trabalhar porque a região sul tem muito homem trabalhador esforçado que
veio da roça, mas infelizmente o que faltou foi o governo manter a sua
participação. E foi uma das coisas que clamei, clamei muito. O que seria? O
governo criaria o mercado do governo, seu incentivador e seu patrão,
comprador da produção do produtor. Por quê? Para o governo é fácil fazer a
tramitação de comercio de Estado para Estado. E o produtor? Será que
poderia ir para outro estado buscar o mercado para sua produção se você
não está tendo apoio, e sua situação financeira é praticamente seus
esforços e suas ideias? Na verdade eu sou sincero a dizer poucos
receberam incentivos. A não ser hoje, pouco vi os governos para pequenos
produtores, que também sou da roça, incentivando a pequena agrícola. Mas
se for até lá na roça, verá que poucos tiveram apoio ou financiamento. O
produtor que recebeu dirá que teve um pequeno apoio. O colono tem a boa
vontade de abrir um campo de produção para ter uma boa produção no final
da sua safra, mas, ele não tem como abrir, o que ele consegue não dá para
fazer isso. O recurso que ele recebe é para plantar uma ou duas linhas. As
demais ele faz por conta própria na marra (Excerto de entrevista cedida ao
autor em 28 de outubro de 2014)
O depoimento do sujeito B, ao expor as dificuldades para se chegar e se
instalar na região Sul de Roraima sintetiza o texto de Diniz (2011) ao mostrar que
apesar de ter sido um plano político a ocupação dessa localidade ocorreu com
dificuldade.
O Plano Anual do Governo do Território Federal de Roraima (PAG/1980) era
um pedido ao Governo Federal por mais recursos para implementar a agricultura e
pecuária. Observa-se que o sujeito B foi uma das pessoas que não tiveram o
incentivo para produzir, mesmo assim permaneceu na região até os dias atuais.
A motivação para a implementação do Município de Caroebe, foi muito mais
política e ocupacional do que o desejo da população. A infraestrutura não
condicionava essa elevação, as políticas públicas não tinham alcance, então, dentro
dos requisitos necessários em 1994 Caroebe não seria município (SANTOS, 2004).
Fonte: Wikipedia6
6
Disponível em: http://www.wikipedia.com. Acesso em: 02/dez./2014.
46
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
lucros. Observamos ainda que, o plano que foi traçado para essa região não obteve
o resultado desejado, ou seja, não foi bem-sucedido.
Em análise histórica ficou evidenciado que a criação do município de
Caroebe está ancorada à vontade política dos governantes. Os municípios de
Roraima, e, em especial, os municípios da região sul que se instalaram ao longo da
BR 210, possuem entraves para escoar sua produção agrícola em direção ao Pará,
pois a perimetral norte não sai de Roraima, não cruza a fronteira. Ao observar o
mapa de Roraima se percebe que o plano era benéfico, mas sua execução não foi
concluída e esses municípios, São Luiz do Anauá, São João da Baliza e Caroebe,
para buscarem desenvolvimento são praticamente obrigados a venderem seus
produtos em Boa Vista ou levarem até Manaus. Nesse ritmo os pequenos
produtores que seguram a economia daquele lugar não terão a oportunidade de seu
trabalho laborioso lhes dar o retorno necessário para investir em si mesmo.
Caroebe nasceu numa época em que se desejava ver o estado crescer e
multiplicar em termos populacionais, de forma a cumprir um planejamento de
séculos que era a ocupação das áreas de fronteiras. A criação de Planos de
Assentamento Dirigido (PAD) tinha como objetivo colonizar e posteriormente levar à
formação de núcleos urbanos, e, nesse sentido, Caroebe cumpre seu papel
enquanto lugar habitado, pois, conta com uma população de migrantes
espontaneamente e outra parte que veio por meio do PAD-ANAUÁ e do Projeto de
Assentamento Jatapú. No entanto, um município necessita de maiores investimento
em estruturas funcionais que levem a população a uma melhor qualidade de vida.
Ao ocupar essa região, algumas situações deveriam ser solucionadas como: saúde,
educação, segurança. Mas a precariedade é a tônica nesses itens, considerando a
falta de políticas públicas voltadas para o atendimento dessas demandas.
Apesar das dificuldades Caroebe cumpre sua missão quando em seus
limites não são produzidos apenas bananas, mas outros tantos produtos inclusive
energia elétrica. Quando reconhece que necessita avançar econômica e
socialmente. É o primeiro passo para a mudança em busca de atividades que
possam fazer o município se consolidar como uma força econômica e política no
estado, visto que tem em seus domínios uma hidrelétrica e dela surge a energia
para outros municípios.
49
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