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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

CLEDSON ALVES DE MACÊDO

A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CAROEBE / RORAIMA NA DÉCADA DE 1990

Boa Vista, RR
2014
CLEDSON ALVES DE MACÊDO

A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CAROEBE/ RORAIMA NA DÉCADA DE 1990

Monografia apresentada como


pré-requisito para conclusão do
Curso de Bacharelado e
Licenciatura em História do
Departamento de História da
Universidade Federal de
Roraima.

Orientadora: Profª. Dra. Maria


das Graças Santos Dias
Magalhães.

Boa Vista, RR
2014
CLEDSON ALVES DE MACÊDO

A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CAROEBE/ RORAIMA NA DÉCADA DE 1990

Monografia apresentada como pré-


requisito para conclusão do Curso de
Bacharelado e Licenciatura em História do
Departamento de História da
Universidade Federal de Roraima,
defendida em 19 de dezembro de 2014 e
avaliada pela seguinte banca
examinadora.

_____________________________________
Profª. Dra. Maria das Graças Santos Dias Magalhães
Departamento de História - UFRR
Orientadora

________________________________________
Prof. Dr. Rodrigo Cardoso Furlan
Departamento de Direito - UFRR
Membro

____________________________________
Prof. Esp. Valdemir Filet dos Santos
Departamento de História - UFRR
Membro
Ao meu Deus, minha mãe, pai e irmãos que
são as pessoas, mas importante da minha vida.
AGRADECIMENTOS

Acima de tudo, quero agradecer a Deus, pois Ele é a minha força suprema e
Dele vem a minha vitória. Que durante esse tempo não me deixou desistir nem olha
para as dificuldades. Senhor Deus, muito obrigado por te me dado a oportunidade
de concluir esse trabalho e realizar mais um sonho.
Não posso deixar de reconhecer que durante esse período acadêmico várias
pessoas de forma direta ou indireta, colaboraram nesse processo. Devido a grande
quantidade de pessoas que contribuíram comigo, sei que é impossível agradecer a
todos nominalmente, portanto, espero não cometer o erro de não citar o nome de
alguns, mas, desde já agradeço a todos.
A minha mãe, Raimunda Macêdo de Souza que nesse tempo da vida
acadêmica sempre esteve ao meu lado, dando apoio, quando nos momentos de
desanimo sempre vinha com seu jeito especial de ser, trazendo palavras de
encorajamento, mãe muito, muito obrigado por tudo.
Ao meu pai, o Sr. Francisco Alves de Souza, que mesmo distante e de forma
indireta me ajudou, obrigado por tudo pai.
Aos meus irmãos Clemilson Macêdo e Cleilton Macêdo e a minha irmã
Cleane Macêdo agradeço que de forma direta ou indireta me ajudaram nessa
jornada.
À minha orientadora, Profª. Dra. Maria das Graças Santos Dias Magalhães,
que com amizade, sabedoria e paciência me ajudou a transpor os limites teóricos e
metodológicos na condução e conclusão deste trabalho monográfico.
Aos professores do Departamento de História da UFRR que contribuíram na
minha formação acadêmica, bem como no ofício de ser professor-pesquisador. Em
particular aos Professores Dr. Nélvio Paulo Dutra Santos, Dr. Reginaldo Gomes de
Oliveira, Dra. Maria das Graças Santos Dias Magalhães, MSc. Márcia D’Acampora e
Dra. Maria Luiza Fernandes. Estendo meus agradecimentos também aos
professores efetivos ou substitutos dos outros departamentos que colaboraram com
minha formação.
Mas quando vier o que é perfeito, então o que
o é em parte será aniquilado. Quando eu era
menino, falava como menino, sentia como
menino, discorria como menino, mas, logo que
cheguei a ser homem, acabei com as coisas de
menino.
(1 Coríntios 13: 10, 11)
RESUMO

Este trabalho busca explicar e compreender o processo histórico que culminou com
a criação do município de Caroebe/Roraima. A ocupação da Amazônia faz parte do
contexto da doutrina de "segurança nacional" confirmada com a presença militar e
com os migrantes que povoariam toda a área amazônica. Roraima, como última
fronteira a ser confirmada, foi alvo de uma colonização planejada pelos governos
militares e incentivada quando passou a ser Território Federal de Rio Branco depois
mudado para Território Federal de Roraima, pelos governadores indicados pelo
Governo Federal para organizarem as instituições e povoarem toda região. A
colonização ocorreu com promessas de terras férteis e incentivos financeiros,
principalmente para nordestinos que trouxessem sua força para fazer Roraima
crescer. Assim, tanto nordestinos como sulistas deixaram suas terras natal para se
fixarem em Roraima e iniciar uma nova vida.

Palavras-chave: Caroebe. Migração. Assentamento. Colonização.


ABSTRACT

This work seeks to explain and understand the historical process that led to the
creation of the municipality of Caroebe/Roraima. Therefore, the Amazon occupation
is part of context of the doctrine "national security" confirmed by the military presence
and the migrants who populate the entire Amazon area. Roraima, as last frontier to
be confirmed, was the target of a planned colonization by the military governments
and encouraged when it became Rio Branco Federal Territory then changed to
Federal Territory of Roraima, the governors appointed by the Federal Government to
organize the institutions and people all region. Colonization occurred with fertile land
of promise and financial incentives, particularly for Northeast to bring its strength to
grow Roraima. Thus, both the Northeast as southerners left their homelands to settle
in Roraima and start a new life.

Keywords: Caroebe. Migration. Settlement. Colonization.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Tabela com a população de Roraima por município ................................. 37


Figura 2 - Mapa da Região Sul de Roraima .............................................................. 38
Figura 3 - Mapa de Roraima com destaque para Caroebe (em vermelho) ............... 39
Figura 4- Município de Caroebe (foto por satélite) .................................................... 40
Figura 5 - Caminhão em direção ao Amazonas carregado de bananas ................... 43
Figura 6 - Hidrelétrica de Jatapú em Caroebe........................................................... 45
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 10
2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS ...................................................................... 14
2.1 PANO DE FUNDO: BRASIL COLONIAL ........................................................... 14
2.2 BREVE HISTÓRIA DA AMAZÔNIA ................................................................... 17
2.3 RORAIMA E SEUS PROCESSOS DE COLONIZAÇÃO ................................... 21
2.3.1 Evolução Político-Administrativa ................................................................. 21
3 A MIGRAÇÃO E OS ASSENTAMENTOS RURAIS EM RORAIMA ................ 23
3.1 MESORREGIÃO SUL: BR 174 E BR 210 (PERIMETRAL NORTE) ................ 29
4 A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CAROEBE, RORAIMA ........................... 31
4.1 UMA DISCUSSÃO DA GEOPOLÍTICA ............................................................ 31
4.1.1 O PAD-Anauá .................................................................................................. 33
4.2 O MUNICÍPIO DE CAROEBE .......................................................................... 35
4.3 ATORES SOCIAIS NO MUNICÍPIO DE CAROEBE: ENTREVISTAS .............. 40
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 49
OBRAS CONSULTADAS ......................................................................................... 51
10

1 INTRODUÇÃO

A presente monografia se propõe a analisar as motivações existentes na


emancipação de uma localidade em município, bem como compreender as nuanças
do processo de formação de Caroebe/Roraima. Indagamos o que é necessário para
se dar a real importância de uma população, de um povoamento, das atividades
econômicas desenvolvidas para o sustento das famílias, que fatores políticos e
históricos contribuem para o surgimento de um município.
A motivação para a escolha desse município em particular, é o fato de o
autor ter residido por oito anos na Vila Entre Rios, uma localidade que faz parte do
município de Caroebe, e, lá ainda permanecem familiares que são agricultores e
pecuaristas e presenciam a realidade daquele município. No período em que morei
nessa vila percebi sua importância para o Estado de Roraima, mas, havia benesses
como a hidrelétrica de Jatapú, porém, haviam problemas que deveriam ser
solucionados como: falta de infraestrutura; dificuldade dos agricultores para escoar
sua produção por falta de estradas adequadas, pois a produção geralmente
estragava antes de chegar ao seu destino; saúde precária; educação de baixa
qualidade.
Esta pesquisa está ancorada na História Política perfazendo uma discussão
com diversos autores, dentre os quais estão: Bertha K. Becker, Caio Prado Junior,
Maria das Graças Santos Dias Magalhães, Milton Braga Furtado, Carlos de Meira
Mattos, Nilson Cortez Crócia Barros e Nélvio Paulo Dutra Santos. A partir dessa
discussão, como diz Le Goff (1988, p. 29): "antes de tudo, tirar a história do
marasmo da rotina, em primeiro lugar do seu confinamento em barreiras
estritamente disciplinares", é escrever uma parte da história em movimento, que está
em constante rotação. A história política tem essa propriedade de dar movimento
aos fatos históricos. Le Goff (1988, p. 28) diz ainda que:

A história nova ampliou o campo do documento escrito: ela substituiu a


história de Langlois e Seignobos, fundada essencialmente nos textos, no
documento escrito, por uma história baseada numa multiplicidade de
documentos: escritos de todos os tipos, documentos figurados, produtos de
escavações arqueológicas, documentos orais e etc. Uma estatística, uma
curva de preços, uma fotografia, um filme, […] para nova história
documentos de primeira ordem.
A história enquanto fator político, de acordo com Remond (2003), passou a
ser discutida a partir de meados do século XIX, e desde então vem sendo
11

aperfeiçoada com mudanças pontuais. No início se tratava apenas de fatos heroicos,


o que caracterizava uma história elitista, positivista voltada para o “herói”, tendo
como anônimas as demais pessoas, meros figurantes dos feitos bravios realizados
pelo ator principal. Entretanto, o autor vem contrapor a ideia de que a história política
só privilegia um pequeno grupo atribuindo-lhe características heroicas e negligência
a grande massa popular. O autor mostra a importância da nova história política, um
posicionamento que seja o oposto da história política contada anteriormente ao
afirmar que essa linha teórica:
Preenche todos os requisitos necessário para sua reabilidade. Ao se ocupar
do estudo da participação da vida política e dos processos eleitorais, integra
todos os atores, mesmo os mais modestos, perdendo assim o seu caráter
elitista e individualista e elegendo as massas como o seu objeto central, seu
interesse não esta voltado para a curta duração, mas para uma pluralidade
de ritmos em que se combinam o instantâneo e o extremamente lento. A
história política passou por grandes mudanças quanto ao seu objeto,
enquanto tínhamos uma história fixada nos grandes monarcas, sua
mudança levou seu interesse de fixar-se na nação no estado, consagrando
suas lutas por unidade ou emancipação, lutas políticas, democracia, as
lutas partidárias, e as ideologias políticas (RÉMOND, 2003, p. 07).
Para Santos (2004), citando Aristóteles, considera a política como uma
prática humana natural e necessária. O filósofo grego afirmava que o homem é um
“animal político”, o que compreende a concepção grega da vida, onde o ser humano
deve ligar-se obrigatoriamente a uma "polis", a unidade constitutiva não divisível e a
dimensão suprema da existência, se ele não for um ser político é considerado
“deficiente”.
O objeto de estudo deve estar interligado com a história que explica as
situações que conduzem ao seu momento atual, com o espaço que limita o fato
histórico em uma linha do tempo e o remete ao passado para explicar os marcos
presentes. Nesse instante, a história não é relato, mas ação contínua e presente.
Partindo desse ponto, discute-se a história do surgimento do município de Caroebe.
O município de Caroebe está localizado em Roraima, que, por sua vez,
apresenta uma história por detrás de sua emancipação, ocorrida em 1994. Ele não
surgiu apenas da vontade do povo, mas, já era um planejamento estratégico para a
ocupação daquela região que inicia com o processo migratório no então Território
Federal de Roraima, durante os governos militares e seus planos de conquista e
desenvolvimento da Amazônia.
Diante de um cenário tão difícil para uma localidade importante para
Roraima, decidimos elaborar uma pesquisa que explicasse a situação histórica que
12

culminou com a criação do município de Caroebe. A pretensão é registrar uma parte


da história da formação do município, baseado na análise documental que precede a
história da migração e a ocupação da Amazônia, relacionar o sul de Roraima com a
região amazônica, enquanto última fronteira brasileira, argumentando o processo
histórico que permeia a motivação para a criação desse município.
Desenvolvemos um trabalho cientifico que trata da importância política, na
formação desse município. Acreditamos que essa pesquisa será de grande
relevância e valor contributivo para a sociedade, e, para todas as pessoas que
tenham interesse em conhecer de forma mais específica a história da formação do
município de Caroebe.
No primeiro capítulo há uma discussão sobre o processo de colonização no
Brasil, sabendo que a mesma iniciou logo após o "descobrimento" do país pela
esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral. Neste capítulo, buscamos a
explicação e a motivação para a colonização da Amazônia, observando que há um
longo processo político pela sua ocupação, mostrando os fatores históricos, desde o
início do processo migratório de colonização da Amazônia até a implantação de
Caroebe, em que apresentamos ainda uma discussão política e geográfica sobre a
forma de colonização e implantação do município de Caroebe.
O segundo capítulo discutimos sobre a migração, o assentamento e a
mesorregião sul de Roraima. Os conceitos de migração e assentamento permeiam
todo esse capítulo, pois, para que ocorra uma discussão construtiva deve ficar claro
o que se entende por migração e suas motivações políticas. O que são
assentamentos rurais? É outro fator a ser esclarecido. Não se pode confundir
assentamento com invasões de terras. Toda invasão é desordenada e não busca
um desenvolvimento da localidade. Neste caso, a problemática é moradia, enquanto
no assentamento tanto moradia quanto estrutura para a realização do trabalho na
terra e incentivos financeiros são disponibilizados para os assentados. Explica-se a
mesorregião sul de Roraima, os municípios que a formam e as características em
comum entre eles.
No terceiro e último capítulo discutimos sobre a formação e o surgimento de
Caroebe, as motivações, os entraves que foram superados ou suprimidos para a
criação deste município, e quais as vantagens de se tornar independente das
questões estaduais e passar a buscar as soluções para os problemas internos e
com isso promover o desenvolvimento econômico e social.
13

Após a exposição dos argumentos distribuídos ao longo dos três capítulos


temos as considerações finais, onde está o posicionamento relacionado à pesquisa
proposta.
A metodologia para a realização deste trabalho foi o levantamento de dados
bibliográficos sobre o tema nas bibliotecas da Universidade Federal de Roraima
(UFRR), da Universidade Estadual de Roraima (UERR), e da Biblioteca Pública do
Estado, acervos particulares, internet, bem como a leitura de artigos, revistas e
dissertações que abordem sobre o município de Caroebe. A pesquisa tem como
aporte metodológico análise documental, como é o caso do Decreto-lei nº 082, de
1994. No segundo momento, temos a coleta de informações no Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e no Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), para levantamento de arquivos, objetivando coletar dados que
possam ajudar a entender alguns aspectos sobre a temática.
Este trabalho se completa com o uso da história oral, neste caso, o
depoimento de pessoas que estão na região pesquisada. A história oral aqui
apresentada é o registro do pensamento e das ações ocorridas antes, durante e
depois da criação do município de Caroebe. Vale ressaltar que a memória do povo é
um documento vivo dos acontecimentos diários, portanto, o apoio da História Oral
torna veraz e aceitável o estudo sobre a municipalização de Caroebe. Segundo
Meihy (2007, p. 15),
História Oral é um conjunto de procedimento que se inicia com a elaboração
de um projeto e continua com estabelecimento de um grupo de pessoas a
serem entrevistadas. O projeto prevê: planejamento na condução das
gravações com definição de locais, tempo de duração e demais fatores
ambientais, transcrições e estabelecimento de textos, conferência do
produto escrito, autorização para uso, arquivamento e sempre que possível,
a publicação dos resultados que devem, em primeiro lugar, voltar ao grupo
que gerou as entrevistas.
A entrevista é uma forma de pesquisa aqui usada para a obtenção da História
Oral pretendida. É preciso entrar na história para entender o princípio que norteia a
formação de um município. Há pré-requisitos a serem considerados e normas a
serem seguidas. Resta saber se todos os parâmetros foram seguidos para a
formação de Caroebe, ou se, foi considerado apenas os aspectos políticos.
14

2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS

2.1 PANO DE FUNDO: BRASIL COLONIAL

Historicamente, o país que hoje se chama Brasil teve outros nomes. Devido
à compreensão da imensa extensão territorial, os povos que aqui chegaram por
ocasião do “descobrimento”, capitaneados por Pedro Álvares Cabral, chamaram a
princípio de Vera Cruz, porém outros nomes foram surgindo:
Por curto tempo, ocorreu uma denominação que não vingou, adotada nas
cartas de Pero Vaz de Caminha e de Mestre João, ambas de 1 de maio de
1500: Vera Cruz; usada, é verdade, por alguns italianos nos primeiros anos
após as viagens de Cabral e de Américo Vespúcio. Depois, durante os trinta
anos seguintes, pelo menos três denominações se sucederam nos mapas e
nos escritos sobre o novo achado do rei de Portugal. Ainda entre os
italianos, após 1501, quando chegou do Oriente a armada de Cabral, a terra
foi referida como Terra dos Papagaios, como aparece no globo de Schöner
em 1520 e no de Ptolomeu, de 1522. Quando d. Manuel enviou aos sogros,
os Reis Católicos, uma carta narrando o achamento, em 1501, foi o nome
de Santa Cruz que utilizou, e desde então outros fizeram o mesmo. Por fim,
em 1512, começou a surgir o termo Brasil para designar em âmbito oficial a
América portuguesa, tornando-se cada vez mais freqüente daí em diante e
consagrando-se oficialmente entre 1516, quando d. Manuel investiu
Cristóvão Jaques nas funções de "governador das partes do Brasil"
(SOUZA, 2001, p. 02).
Para Portugal, todo território ao ser descoberto necessita ser explorado e
colonizado, principalmente quanto à possibilidade de se encontrar metal precioso ou
outra matéria-prima que possa ser utilizada sem altos custos para os detentores do
direito à posse, e, no caso específico do Brasil, os portugueses. Então, para discutir
o processo de colonização, é preciso compreender seu sentido. Para Prado Junior
(1969), a colonização é uma empresa que tencionava a expansão comercial dos
países europeus que a partir do século XV se intensificou e participou de forma
discreta das transformações da época. Foi muito mais uma implementação do
processo de produção capitalista, que uma forma de crescimento tecnológico.

A colonização é, portanto, um fenômeno decorrente da crescente


mercantilização que marcou o período de crise do feudalismo, e de sua
transição para o capitalismo. É uma resposta capitaneada pelo nascente
estado nacional absolutista às tensões sociais e lutas concorrenciais. Faz
parte da expansão comercial européia... (CUNHA, 2001, p. 06).
Nesse contexto, o sistema colonial dava a Portugal o direito de explorar as
terras conquistadas - o colonialismo fazia com que as terras conquistadas e as
pessoas que nela residiam se tornassem propriedades dos conquistadores, portanto,
15

moeda de barganha, de troca, ou mão de obra desqualificada que poderia fazer o


trabalho pesado (PRADO JUNIOR, 2004).
A primeira atividade econômica do país foi o extrativismo vegetal. A matéria
prima foi o pau-brasil. Essa atividade econômica não foi suficiente para dar
conotação ao processo de colonização, pois, no início do século XV não se
vislumbrava em terras tupiniquins nada lucrativo, além da madeira que servia para
tinturaria. Para Américo Vespúcio, a Terra de Santa Cruz não servia para ser
colonizada, apenas explorada as suas riquezas naturais.
Espalhado por larga parte da costa brasileira, e com relativa densidade,
observou-se uma espécie vegetal semelhante a outra já conhecida no
Oriente, e de que se extraía uma matéria corante empregada na tinturaria.
Tratava-se do pau-brasil.[...] Era uma exploração rudimentar que não deixou
traços apreciáveis, a não ser na destruição impiedosa e em larga escala das
florestas nativas donde se extraía a preciosa madeira. Não se criaram
estabelecimentos fixos e definitivos (ibid., p. 25).
O extrativismo vegetal, não era motivação necessária e suficiente para que
as novas terras fossem colonizadas. A população de Portugal não era
suficientemente numerosa que se pudesse colonizar um lugar tão imenso. Era
necessária, então, uma abertura que outros povos além de portugueses viessem
para o Brasil, mas, que permanecessem sob o domínio do governo português. A
partir do ano de 1530, com a obrigatoriedade de expansão comercial e territorial
inicia-se a colonização do Brasil.
O início da colonização, após 1530, não criou a unidade, e foram várias as
frentes colonizadoras que se abriram, mais ou menos independentes, quase
sempre auto-contidas, isoladas, comunicando-se mais facilmente com a
Corte – como é o caso das terras ao Norte – do que umas com as outras
(SOUSA, 2001, p. 2).
As primeiras colônias instaladas no Brasil eram feitorias, uma mistura de
povoamento e posto militar, pois, Portugal precisava manter sua colônia além mar a
salvo de invasores e contrabandistas que navegavam pelo Atlântico em busca de
riquezas (FURTADO, 1984). Mas é a partir de D. João III, com o envio de Martin
Afonso de Sousa que se inicia o processo de colonização. A história mostra uma
preocupação por parte de Portugal no conhecimento do que realmente havia em
terras da colônia. O envio de Martin Afonso era para desbravar e fundar vilas ao
longo do litoral brasileiro, segundo Furtado (op. cit., p. 12):
D. João III, rei de Portugal (1521 - 57), enviou em 1530 uma expedição de
caráter colonizador, comandada por uma das maiores expressões da
navegação portuguesa - Martin Afonso de Sousa - o que revela um grande
interesse pelas terras descobertas na América. Essa expedição navegou
por toda costa leste brasileira: […] conduziu nessa viagem, a frota mais ao
16

Sul, reconheceu o litoral e, ao retornar, fundou a vila de São Vicente, a


primeira instalada no Brasil (1532).
Para continuar a ter algum proveito das terras brasileiras, a Corte
portuguesa decidiu por adotar um sistema que pudesse fazer com que o processo
de colonização acelerasse. Para tanto, era preciso dividir as terras da colônia em
diversas partes e cedê-las a donatários que investiriam no desenvolvimento colonial,
seja por investimento dos próprios fundos pessoais seja por empréstimos, que
alavancassem o desenvolvimento de seus arredamentos que foram chamados de
Capitanias Hereditárias, pois, passavam para o herdeiro da família a incumbência de
cuidar da capitania arrendada, sendo assim, o Brasil foi dividido em quinze
capitanias cujos direcionamentos eram à ocupação territorial.
Martim Afonso ainda se encontrava no Brasil quando Dom João III decidiu-
se pela criação das capitanias hereditárias. O Brasil foi dividido em quinze
quinhões, por uma série de linhas paralelas ao equador que iam do litoral ao
meridiano de Tordesilhas, sendo os quinhões entregues aos chamados
capitães-donatários. Eles constituíam um grupo diversificado, no qual havia
gente da pequena nobreza, burocratas e comerciantes, tendo em comum
suas ligações com a Coroa (FAUSTO, 1996, p. 24).
As capitanias hereditárias deram sua contribuição no povoamento do
território nacional. A colônia trabalha para que a corte fosse satisfeita em seus
desejos. Vale ressaltar que o Brasil estava cheio de pessoas oriundas de vários
países, como: portugueses, espanhóis, franceses, holandeses e ingleses.
Após as três primeiras décadas, marcadas pelo esforço de garantir a posse
da nova terra, a colonização começou a tomar forma. Como aconteceu em
toda a América Latina, o Brasil viria a ser uma colônia cujo sentido básico
seria o de fornecer ao comércio europeu gêneros alimentícios ou minérios
de grande importância. A política da Metrópole portuguesa consistirá no
incentivo à empresa comercial, com base em uns poucos produtos
exportáveis em grande escala e assentada na grande propriedade. Essa
diretriz deveria atender aos interesses de acumulação de riqueza na
Metrópole lusa, em mãos dos grandes comerciantes, da Coroa e seus
afilhados. Como Portugal não tinha o controle dos circuitos comerciais na
Europa, controlados, ao longo dos anos, principalmente por espanhóis,
holandeses e ingleses, a mencionada diretriz acabou por atender também
ao conjunto da economia européia (ibid., p.27).
A colonização do Brasil se acentuou após a implantação das capitanias
hereditárias. Os beneficiados com as terras divididas tinham agora a missão de
povoar suas terras e fazê-las produzir. Já não era mais uma questão de colonização,
mas de ocupação e desenvolvimento econômico para fortalecimento de Portugal e
enriquecimento dos donatários que retiravam da terra cada centavo investido.
Assim, o Brasil vai pouco a pouco se desenvolvendo e contribuindo para o
crescimento de Portugal (ibid.).
17

O tema do tópico seguinte é a Amazônia, considerando que o foco deste


estudo monográfico é o município amazônico de Caroebe e muito se fala em
Amazônia, o leitor brevemente situado sobre a história amazônica, apresentando na
sequência sobre o Estado de Roraima, e, no terceiro e último capítulo monográfico,
falar sobre ao município em questão.

2.2 BREVE HISTÓRIA DA AMAZÔNIA

A importância e o grau de inserção da Amazônia Legal brasileira 1 nos


processos mundiais podem ser dimensionados pelas características da região: 3/5
do território nacional, 4/10 do continente sul-americano, 1/5 da disponibilidade de
água doce do planeta, 1/3 da floresta latifoliada do mundo, 163 povos indígenas que
representam cerca de 200 mil pessoas (60% no Brasil), 250 idiomas diferentes,
0,3% da população mundial. A Amazônia brasileira é formada por nove estados
(Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Roraima, Rondônia, Maranhão, Mato Grosso e
Tocantins) e possui 11.250 km de fronteiras com sete países sul-americanos
(Bolívia, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela), possui
cerca de 50% do potencial hidroelétrico do país, segundo relata Freitas (2004).
Em termos de biodiversidade, prossegue Freitas, a Amazônia possui
aproximadamente 30% das florestas tropicais do planeta e cerca de 1/3 de toda a
biodiversidade do mundo, apresenta cerca de 350 toneladas de biomassa por
hectare de floresta amazônica. Os inventários de 2004 apontavam a existência de
427 espécies de anfíbios (70% do Brasil e 10% do mundo), 3.000 espécies de
peixes (50% da América do Sul e Central e 23% do mundo), 380 espécies de répteis
(80% do Brasil e 6% do mundo), 430 espécies de mamíferos (80% do Brasil e 9% do
planeta), cerca de 1.300 espécies de aves (77% do Brasil e 13% do mundo) (idem).
Além disso, a Amazônia desperta interesse pelo importante papel que
desempenha nas estabilidades mecânicas, termodinâmicas e químicas dos
processos atmosféricos em escala global. O conjunto dessas características reforça
a importância geopolítica da região, especialmente num contexto de exaustão a que
grande parte dos recursos da natureza foi submetida em variadas partes do planeta
(idem).

1 Esta é a Amazônia de que esta monografia trata, a Amazônia Legal brasileira.


18

No entanto, historicamente, a Amazônia sempre foi geograficamente a


parcela territorial mais difícil de colonizar, considerando sua baixa densidade
demográfica e sua imensidão de floresta. Outro fator que deve ser lembrado é a
população silvícola formada pelos indígenas de etnias variadas. Implica dizer, que o
processo de colonização do Norte passa impreterivelmente pela submissão dos
povos indígenas. Seja pela força bélica, seja pelo poder da igreja, pois, catequizar
silvícolas tornava-os civilizados e cristãos.
Dessa forma, convém ressaltar que a ocupação da Amazônia é um processo
antigo. Quando os europeus chegaram, no século XVI, a região já era habitada por
um conjunto de sociedades hierarquizadas, os povos indígenas. Para os
portugueses, o problema de seu domínio geopolítico sempre foi destaque. Por ser
um grande território, as políticas de sua ocupação sempre procuraram combinar as
estratégias geopolíticas com a exploração econômica (MAGALHÃES, 2008).
Nesse contexto, a ocupação da região amazônica pelos portugueses
durante o século XVI teve um marco geopolítico inicial que foi a fundação do Forte
do Presépio de Santa Maria de Belém em 1616. Este forte marca a presença de
Portugal no Amazônia e inicia um núcleo urbano que seria a cidade de Santa Maria
de Belém, que não se limitava apenas a espalhar feitorias e missões, mas também
estabelecer luta para expulsar os invasores (ingleses, irlandeses, franceses e
holandeses), a fim de garantir a posse do território (SOUZA, 1994).
Farage (1991) aborda que, em 1621, foi criado o Estado do Maranhão e
Grão Pará com sede em São Luis, longe da sede do Governo Geral do Brasil,
devido às dificuldades de comunicação e transporte marítimo. Esses estados
permaneceram unidos até o século XVIII quando a economia maranhense se deteve
na cultura do algodão, enquanto o Grão Pará se desenvolveu mantendo o
extrativismo.
Um fato importante no processo de colonização da Amazônia foi o acordo
que originou o Tratado de Madri, em 1750, que dava a Portugal uma ampliação de
seus limites geográficos ao Norte e ao Sul da América. Com essa alteração foi
possível tomar posse das áreas ocupadas (MAGALHÃES, 2008).
Não podemos deixar de mencionar a importância do ciclo da borracha.
Tivemos nesse ciclo dois período muito importante, que foi o final do século XIX e
início de século XX, o segundo foi a metade do século XX. Nesses períodos tivemos
uma grande onda migratória para a Amazônia, pessoas que vinham em busca de
19

melhores condições de vida, crescimento social e político. A extração da borracha foi


o grande motor para o crescimento regional, gerando ondas demográficas nas áreas
de confluência comercial da atividade gumífera (SOUZA, 2008).
No século XX, durante a era Vargas, um projeto de ocupação da Amazônia
intensificou a busca por desenvolver a região. O objetivo era explorar as riquezas
existentes na região, e, em contrapartida, realizar obras como o saneamento básico
(até os dias atuais continua sendo uma necessidade), o incentivo por meio de
crédito para as pessoas que aderissem ao apelo da colonização, malha viária e
organização do trabalho (MAGALHÃES, 2008). A preocupação com o
desbravamento das regiões desertas do país, principalmente com o Norte, ficou
latente por ocasião do discurso do Rio Amazonas:
No discurso do presidente do estado novo feito em 10 de outubro de 1940,
discurso conhecido como “Rio Amazonas”, Vargas afirmou que faria dessa
região um poderoso e formidável centro de engrandecimento nacional e que
a chave dessa ação estava no binômio: povoamento e fixação do homem a
terra, considerada, por ele, como deserta, desconhecida e isolada. Em
1941, o presidente estabeleceu a “marcha para o oeste”, um poderoso
estímulo a política de interiorização. Foi Vargas que primeiro definiu e
implantou uma política efetiva de ocupação e valorização da Amazônia
(ibid., p.56).
Durante o governo Vargas (1930-1945 e 1951-1954), a Amazônia passou a
ter uma importância crucial para o desenvolvimento da região do plano de conquista
do Norte, visto que toda política de expansão comercial e industrial estava localizada
no eixo sul/sudeste, sendo assim necessário que algo diferente ocorresse para se
alcançar e conquistar todo território nacional (ibid.).
O desejo de ocupação da Amazônia toma força na década de 1960,
momento em que o Governo Federal passa a formular estratégias de povoamento
do norte do Brasil e programas de expansão através de rodovias que facilitariam o
acesso a região amazônica, implantação de telecomunicações e incentivos tanto à
permanência do homem na terra como à migração para o norte por parte de famílias
que receberiam das autoridades terras para produzirem seu sustento e insumos
para a produção agrícola e pecuária. O controle governamental visava levar aos
assentados não apenas estradas, mas, toda infraestrutura necessária ao bem estar
dos colonos que incluía a construção de uma Hidrelétrica que traria ao homem do
campo luz para melhorar a qualidade de vida (BECKER, 1998).
Os projetos do Governo Federal, nesse período que coincide com o golpe
militar de 1964, não foram vistos pelos indígenas e colonos da região como um
20

avanço da nação brasileira, antes, todo processo era observado com desconfiança.
Os planos “Política de Integração Nacional (PIN)” e “Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND’s)” que eram fundamentados na doutrina de Segurança
Nacional (BECKER, 1998). Os objetivos eram: a) resguardar a soberania nacional;
b) fiscalizar as fronteiras; e, c) impedir as ações exteriores, as incursões de
traficantes e invasores das terras brasileiras.
Dessa maneira, tanto indígenas como colonos já instados na região
protestaram com a chegada das estradas da maneira que o governo propunha. As
redes de telecomunicações, a instalação de hidrelétricas alterava toda a vida
cotidiana dos que ali residiam, sendo os protestos eram constantes. A chegada de
novos colonos significava a desapropriação dos antigos, dentro do projeto de
expansão do governo não estava incluso a proteção a terras indígenas nem a
propriedade dos camponeses. A pecuária necessitava de grandes áreas de terra,
então conflitos foram sendo travados e com isso tribos indígenas foram dizimadas e
camponeses massacrados, para que o progresso vindo do capitalismo se instalasse
e promovesse a ocupação.
O grande capital penetrou nas áreas indígenas, cortou as reservas, lavrou o
subsolo, alagou aldeias; a cultura tradicional dos índios foi ferida, a sua
liberdade ancestral ameaçada. O latifúndio engole as roças, mas o
camponês resiste à expulsão, recusa a proletarização, luta contra o cativeiro
e defende sua autonomia (HEBETTE, 1991, pp. 7- 8).
A resistência dos colonos e dos indígenas foi o primeiro freio à ação de
conquista da Amazônia. Há de se convir que antes de qualquer plano de conquista,
as variáveis devem ser levadas em consideração, principalmente em se tratando de
nativos. Mas, a motivação para a ocupação da Amazônia brasileira, é justamente a
diversidade biológica, tanto fauna quanto flora, que desperta paixões e faz nascer
povoados e lugarejos, que a princípio são locais de estudos e logo se tornam
habitações.
A Amazônia sempre atraiu com força de verdadeiro imã a curiosidade
científica universal. Inúmeros cientistas, particularmente naturalistas,
botânicos, geógrafos e historiadores da Europa e dos Estados Unidos,
visitaram a região nos séculos XVIII e XIX. Todos deixaram valiosas
contribuições ao conhecimento da natureza dessa imensa calha
potomográfica (MATTOS, 1980, p. 29).
Após esse breve histórico sobre a Amazônia, no tópico seguinte abordamos
sobre o Estado de Roraima, inserido na região amazônica, e seus processos de
colonização.
21

2.3 RORAIMA E SEUS PROCESSOS DE COLONIZAÇÃO

Roraima é o ponto mais setentrional do Brasil, faz fronteira política com dois
países, a República Cooperativista da Guiana e a República Bolivariana da
Venezuela, e com dois estados federados brasileiros, o Amazonas e o Pará. Possui
área de 224.298 km2 e uma população estimada em 469.524, segundo os dados do
IBGE 2013.

2.3.1 Evolução Político-Administrativa

A evolução da divisão político-administrativa de Roraima teve início com a


criação da Freguesia Nossa Senhora do Carmo, por meio da Lei Provincial de 09 de
novembro de 1858. A referida Freguesia localizava-se acima da cachoeira do Bem-
Querer, no lugar denominado Boa Vista, onde desde 1830 estava instalada a
fazenda de criação de gado Capitão Inácio Lopes de Magalhães (MAGALHÃES,
2008, p. 89).
Nesse quadro, segundo Souza (1976), o Decreto-Estado nº 49, de 09 de
julho de 1890, criou o município de Boa Vista do Rio Branco, com terras
desmembradas do município de Moura do Estado do Amazonas. Em 1943, no
Governo de Getúlio Vargas, foi criado o Território Federal do Rio Branco, juntamente
com os territórios do Amapá, Rondônia, Ponta-Porã e Iguaçu, por meio do Decreto-
lei nº 5.812, de 13 de setembro. Embora criado em 1943, a instalação do Território
do Rio Branco somente foi efetivada em 20 de junho de 1944. A criação dos
territórios recém-resolvidos, o advento da Segunda Guerra Mundial e a necessidade
de povoar estes referidos territórios (MAGALHÃES, 2008, p. 91).
O Estado de Roraima nasceu após a promulgação da Constituição Federal
de 1988. Deixava de ser Território Federal para compor o quadro de Estados da
Federação. Com essa mudança, foi necessário criar toda uma estrutura
organizacional para o funcionamento estatal (BRASIL, 1988).
Inicialmente, a solução encontrada para a ocupação da região e para o
abastecimento do mercado da capital de produtos agrícolas e hortifrutigranjeiros foi
a colonização dirigida. As primeiras colônias foram localizadas nas cercanias da
cidade de Boa Vista, ponto de maior concentração populacional e,
consequentemente, de maior demanda por alimentos. De início, três colônias
22

agrícolas foram planejadas e implantadas: Fernando Costa, localizada à margem


direita do Rio Mucajaí, foi a primeira colônia a ser criada, em 1944, estando a 54 km
ao sul de Boa Vista (atual município de Mucajaí). Vieram 150 famílias rio-
grandenses, cearenses e, a maior parte de maranhenses (SILVEIRA; GATTI, 1988).
A colônia desenvolveu uma agricultura de subsistência com a comercialização do
excedente (MAGALHÃES, 2008, p. 94).
A partir de 1974, existe a colonização por meio dos projetos de
assentamentos dirigidos do Incra, por sua vez, melhor explanado no segundo
capítulo, onde trabalhamos os assentamento e a migração, para, no terceiro e último
capítulo abordarmos sobre a formação do município de Caroebe, foco deste estudo
monográfico.
23

3 A MIGRAÇÃO E OS ASSENTAMENTOS RURAIS EM RORAIMA

Antes de qualquer discussão acerca do processo de migração e


assentamento, é necessário conceituar migração. Segundo Sucupira (2012, p. 3),
migração no conceito mais comum é: “Chamamos de migração o deslocamento de
pessoas de um país para outro ou do local onde moram para outro dentro do mesmo
país”. Segundo Furlan (2014), a migração em Roraima
ocorreu basicamente em dois grandes períodos, um primeiro quando ainda
era município do Amazonas até a criação do Território Federal do Rio
Branco, que obedeceu às seguintes etapas: a) o Ciclo da Borracha de 1850-
1911, ocasião em que no seu auge (em 1900) a população roraimense
chegou a 10 mil residentes, incluindo imigrantes e missionários
estrangeiros; b) a descoberta de minas de ouro e diamante da década de
1930-1940, que incrementara mais 4.000 imigrantes; e, c) a criação do
Território Federal de Roraima e execução da política de ocupação proposta
por Getúlio Vargas na segunda metade da década de 1940, alcançando
Boa Vista no início dos anos de 1950 o número de 18.116 e em 1960 o total
de 28.304 indivíduos.
Historicamente, a colonização do vale do Rio Branco contou de início com a
iniciativa privada através da instalação de fazendas de gado, com os migrantes
nordestinos associada ao processo independência e consecutivamente a República
do Brasil forma-se o município o vale, Boa Vista:
Em 1889, com a instalação da República no Brasil, a Freguesia de N. Sa.
do Carmo pertencente à Província do Amazonas passa a ser Município de
Boa Vista, pertencente ao Estado do Amazonas (1890). Em 1917, Boa Vista
e suas cercanias mais próximas teriam 5.000 habitantes, e mais três ou
quatro mil pessoas dispersas pelas fazendas e postos de coletas ao longo
do rio Branco (BARROS, 1995, p. 51).
Boa Vista, agora município do Amazonas, crescia por causa da pecuária, no
entanto, a pecuária deixava de ser importante para o desenvolvimento da cidade e
inicia um declínio, enquanto que a garimpagem começa uma ascensão por volta de
1917, com a crise da borracha que desarticula a economia da Amazônia em 1920
(ibid.) afetando a pecuária do alto rio Branco e faz da mineração a primeira
expansão econômica de Roraima.
Nesse contexto, a mineração na Amazônia Setentrional, particularmente em
Roraima, foi a motivação para uma grande migração. De acordo com Barros (op. cit.,
p. 56):
Pessoas desmobilizadas da coleta da borracha, gente sem alternativas de
ganho, foram atraídas pela possibilidade de mineração do ouro e diamante
nas aeras montanhas de fronteiras entre Brasil (Roraima) e a Venezuela, e
nas fronteiras entre Roraima e a Guyana. É na década de 1930 que a
mineração se expande […]. Comerciante e investidores começaram a
chegar, e fazendeiros trataram de investir na mineração. A mineração atraiu
24

populações para as áreas ao norte de Boa Vista, e como antes, era o rio
Branco a base da comunicação.
A mineração fez surgir garimpeiros vindos de toda parte do Brasil, o que
aumentou o fluxo de pessoas na cidade de Boa Vista. Diante da necessidade de ter
um ponto fixo para a administração das situações tanto de mineração que implicava
na migração, principalmente de pessoas sem qualificação que vinham em busca do
trabalho braçal do garimpo, como da pecuária como da exploração dos seringais.
Com disposição para solucionar a problemática é fundado o Território Federal do Rio
Branco, desconectado do Estado do Amazonas. Boa Vista passa a ser a capital do
então território do Rio Branco (ibid., p. 29).
O objetivo principal do governo federal ao criar os territórios federais, e disso
o território do Rio Branco não foge à regra, era a ocupação das áreas. Havia muitos
“espaços vazios” e necessitavam serem preenchidos e a partir daí passarem a
produzir. Para tanto, colônias agrícolas foram criadas para com a produção de
hortaliças de forma artesanal e posteriormente em maior escala, suprir as
necessidades da capital. Fazia parte do programa de soberania nacional e proteção
das terras não ocupadas e improdutivas. Magalhães (2008, p. 125) informa que:
No contexto explicitamente geopolítico das políticas territoriais para a
Amazônia, nota-se que o Território Federal do Rio Branco não fugiu a regra
dos programas implementados pelo Governo Federal para ocupar a área.
Após a criação do Território, foram implementadas colônias agrícolas a fim
de abastecer Boa Vista de produtos hortifrutigranjeiros e de aumentar o
contingente populacional.
A ocupação não indígena em Roraima ocorria por conta da pecuária e em
outro momento motivada pela agricultura. A partir da década de 1950, o governo
Federal passou a colonizar o Território de Rio Branco - depois renomeado de
Roraima - com a criação de colônias agrícolas, fomentadas pelos Governos Federal
e local, foram implantados os primeiros assentamentos agrícolas em Roraima já
mencionados. Vale ressaltar que o termo “assentamento” nesta monografia está de
acordo com o que expõe a Instrução Normativa nº 2 de 20 de março de 2001 do
MDA/INCRA que designa assentamento rural e colônia agrícola com o mesmo
significado de pequena unidade de produção agrícola. Quatro colônias foram criadas
em Roraima:
Nesse contexto, a partir de 1950, o governo federal criou os quatro
primeiros assentamentos rurais em Roraima - Mucajaí, Cantá, Taiano e
Santa Maria do Boiaçu - mas somente os três primeiros obtiveram o êxito
esperado. Êxito esse fruto da abertura das estradas principais e vicinais,
loteamentos das áreas a serem ocupadas (em média 50 hectares),
25

fornecimento de insumos, equipamentos agrícolas e incentivos financeiros


(OLIVEIRA, 2009, p. 45).
No que diz respeito aos assentamentos rurais, convém registrar que a
origem do termo “assentamento” que não é de procedência da língua portuguesa,
pois apareceu pela primeira vez no vocabulário jurídico e sociológico no contexto de
reforma agrária venezuelana, em 1960, e se difundiu para inúmeros países, como
expõe Besgamasco (1996, p. 4) na seguinte configuração:
De uma forma genérica, os assentamentos rurais podem ser definidos como
a criação de novas unidades de produção agrícola, por meio de políticas
governamentais visando o reordenamento do uso da terra, em benefício de
trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra, como seu significado
remete á fixação do trabalhador na agricultura, envolve também a
disponibilidade adequada para o uso da terra e o incentivo à organização
social e à vida comunitária.
Oliveira (2009, p. 12) sintetiza assentamentos rurais de forma mais ampla
quando diz:
De modo geral, assentamentos rurais são verdadeiros laboratórios de
pesquisas das mais diversas áreas de conhecimento humano e, compreender
sua dinâmica social, política, econômica, cultural, é de fundamental
importância não só para o meio acadêmico, mas para a sociedade em geral
e, principalmente, para os próprios assentados que durante vários anos
ficaram privados de políticas públicas voltadas às suas demandas.
No final da década de 1970 e início da década de 1980, durante o governo
biônico de Ottomar de Sousa Pinto - governador indicado pelo Governo Federal para
manter os interesses da União - aconteceu uma grande migração incentivada pelo
mesmo que pedia às famílias vindas do Nordeste e do Centro-Sul que trouxessem
junto consigo sua força de trabalho para contribuir e fortalecer a economia local.
Essa forma de incentivo e a doação de terras fez com que Ottomar se fortalecesse
politicamente e após a promulgação da Constituição Federal de 1988, com Roraima
agora passando a ser estado da Federação, Ottomar é eleito pelo voto como o
primeiro governador.
Entre os anos de 1988 e 1990, Roraima cresceu assustadoramente, por
conta da prática do garimpo. Oliveira (2003) destaca um grande fluxo de pessoas
vindas de toda parte do Brasil, principalmente do Estado do Maranhão, em busca de
melhores condições de vida, de emprego e de ouro, pois, os boatos em todo
território nacional dizia que em Roraima o diamante brotava de olhos d'água nos
quintais e o ouro era de fácil aquisição. Percebe-se, então, que a busca pelo metal
precioso contribuiu para a formação da população roraimense, mas, contribuiu
também para a formação do município de Caroebe?
26

A forma de ocupação territorial de Roraima através de assentamentos foi um


aparelho utilizado de forma a beneficiar os assentados, quando propõe um incentiva
através de financiamento para benfeitorias, a distribuição sem ônus de insumos e
equipamentos agrícolas para manter o homem no campo desafogando assim o
inchamento dos centros urbanos, visto que há uma inversão no êxodo que deixa de
ser campo-cidade para ser cidade-campo.
Uma das evidencias dos resultados negativos da transferência de população
refere-se ao elevado ritmo do aumento demográfico, desproporcional ao que os
governos implantam em infraestrutura, acarretando problemas já conhecidos pelas
comunidades dos grandes centros urbanos.
Os problemas que um crescimento demográfico desordenado causa, não
são solúveis em curto prazo, e, portanto, apenas com um planejamento estratégico
se poderia atenuar os efeitos nocivos da migração, pois os migrantes em sua grande
maioria eram famílias sem estrutura financeira, de baixo conhecimento intelectual e
com uma quantidade de pessoas elevados, de sorte que caso não fossem capazes
de enriquecer na garimpagem, trabalhariam nas fazendas como vaqueiros ou em
subempregos na capital Boa Vista. Assim, sem ordem e sem qualificação, Roraima
cresceu demograficamente, de acordo com o Jornal Folha de Boa Vista, de 07 de
julho de 2014,
Até os anos 2000, a migração não trouxe grandes colaborações para o
desenvolvimento do Estado. Primeiramente porque boa parte dessa
demanda girava em torno de garimpo e segundo porque a maioria das
famílias que migrava para Roraima nesta época, vinha por promessas
eleitoreiras de emprego fácil. Ambas as situações deixaram como saldo
uma população desassistida pelo poder público e sem perspectivas de
auxílio no desenvolvimento do Estado, uma vez que os migrantes eram de
famílias numerosas de baixa qualificação.
Há ainda o aspecto positivo da migração que na Amazônia se sobrepõe aos
problemas estruturais. Os migrantes quando se fixam promovem desenvolvimento
econômico para a região. Exigem qualidade nos serviços prestados, investem no
comércio, contribuem para a elevação da renda local, pois, o ato de fixar-se ao
território, mostra que já passaram por outras localidades e tendem a permanecer
onde produzem bens, serviços, e riquezas:
Um número crescente de estudos vem demonstrando que os migrantes não
somente são sensíveis a incentivos econômicos, mas que também tendem
a elevar suas rendas e a apresentar padrões de rendimentos e de
exigências de consumo. No caso aqui tratado, nordestinos têm encontrado
meios para se inserir nesse quadro de aceleração econômica, depois de
tentativas frustradas em plena Amazônia […] o emigrante tenderia, no seu
destino final, depois de um determinado tempo de residência aumentar a
27

sua capacidade de integração no lugar de destino, melhorando o seu nível


de educação e ocupação e, consequentemente sua renda (LIMA; VALE,
2001, p. 2).
A fixação dos migrantes à terra. O desejo de constituir família e trabalhar a
agricultura, fez com que povoamentos fossem surgindo ao longo das rodovias que
cortavam o território. A garimpagem trouxe pessoas de várias partes do Brasil que
quando não conseguia enriquecer na mineração de ouro e/ou diamante, tentavam
outra opção de trabalho, cuidar da terra e passar a ser agricultor. De forma
espontânea os novos colonos ocupavam a terra e produziam o básico da agricultura
familiar. Não havia incentivo por parte dos governos, nem dos órgãos competentes
para auxiliar os agricultores. Os posseiros que produziam os gêneros básicos da
agricultura familiar sequer eram reconhecidos pela sociedade Roraimense que
insistia em não se preocupar com os assentados nem com suas necessidades. Mas,
os agentes da Superintendência de Campanha de Saúde (SUCAM) buscam
cadastrar os moradores da colônia e desta forma, então no final da década de 1980,
dois assentamentos se estabelecem pelo INCRA em Roraima:
Tais fatores demonstram que a política de Colonização e Assentamento
surtiu o efeito esperado, pois, a partir de 1987, foram formadas duas
colônias agrícolas espontâneas, posteriormente elevadas a qualidade de
Projeto de Assentamento do INCRA: Vila Nova e Samaúma. Este último,
chamado inicialmente de colônia agrícola Nova Esperança (OLIVEIRA,
2009, p. 46)
O trabalho do INCRA em Roraima fez com que surgissem vários
povoamentos em pontos distintos do Estado. Famílias inteiras ao terem notícias de
que terras estavam sendo loteadas se dirigiam para o local a ser distribuídas as
terras e dessa forma iniciava a colonização e a produção agrícola que garantia a
subsistência familiar e a comercialização do excedente para Boa Vista. Sem a
participação do Governo os assentados produziam inicialmente com os próprios
recursos e posteriormente com os incentivos oriundos de programas de
assentamento implementado pelo INCRA, que com sua política chegou a 50 o
número de PAs em Roraima (ibid.).
A migração trouxe para Roraima não apenas nordestinos, mas, pessoas de
outras nacionalidades que se instalaram no estado e passaram a produzir e fazer
parte do contexto comercial. O Estado se coloca numa posição de incentivador da
migração, para tanto precisa, através de planejamento e políticas públicas suprir as
necessidades básicas das pessoas oriundas de todas as partes. Dessa forma
assentamentos são criados para contemplar os que chegam e passam a residir:
28

A atuação do poder público nas ações de ocupação sempre foi decisiva,


tanto na esfera federal como na local. Apesar de não haver uma pressão
expressiva exercida por qualquer tipo de movimento organizado nos moldes
do MST, verifica-se que, na atualidade, projetos de assentamento
continuam sendo criados e instalados. Uma das justificativas recorrentes
para a sua implantação é a necessidade de absorção da população
migrante que chega ao estado diariamente (SOUZA, 2008, p. 110).
A necessidade de crescimento econômico faz com que as fronteiras fossem
abertas para trocas de experiências e integrações políticas. Por estar localizado na
Amazônia Ocidental, Roraima como parte da Amazônia faz fronteira com Colômbia,
Peru e Bolívia. Essas fronteiras não trazem benefícios para a região, pois são
consideradas vulneráveis por conta do narcotráfico, lavagem de dinheiro (BECKER,
2006, p. 155) que acontecem nesses países. No entanto, com relação a Roraima,
particularmente, uma terceira fronteira já não se caracterizava como vulnerável, pois
a relação existente não estava - nem está até os dias atuais - sujeita a ações de
traficantes. Trata-se da relação de integração Brasil/Venezuela nos limites de
Pacaraima, última cidade brasileira e Santa Elena de Uairén, cidade fronteiriça da
Venezuela:
... à porção do estado de Roraima beneficiada pela rodovia que estabeleceu
a ligação coma Venezuela e pela energia produzida pela hidrelétrica de Guri
naquele país (na prática, essas obras caracterizam projetos de integração
continental). Difere, portanto, das demais fronteiras políticas da região, mais
vulneráveis a interesses conflitantes quanto à soberania (ibid., p. 157).

A integração Brasil/Venezuela deu a possibilidade de Roraima ter um


avanço na questão econômica, pois, a energia antes era termoelétrica gerada dentro
dos limites de Roraima, passando a ser após o convenio, gerada na Venezuela pela
hidrelétrica de Guri. Essa integração faz com que Roraima receba venezuelanos
para se mesclarem aos brasileiros e comporem a população roraimense.
Há autores que ainda preveem para Roraima e exclusivamente para Boa
Vista, tempos de grande desenvolvimento econômico e social. Baseado nas
fronteiras amigáveis com a Venezuela e com a Guiana Inglesa:
Boa Vista surge como uma estrela de primeira grandeza conectando-se
com Manaus por via terrestre e por via mista rio-estrada, ligando-se com as
localidades de Lethen, na República da Guiana e Santa Elena, da
Venezuela. Esse triângulo Boa Vista-Lethen-Santa Elena deverá ser seu
progresso incentivado pelos três países, transformando-se numa área
fronteiriça de intercambio, pólo de dimensões internacionais (MATTOS,
1980, p. 155).
A migração para Roraima, e o desenvolvimento promovido para a região
pelo poder público, faz com que o ciclo continue e novos surtos de migração
ocorram em Roraima, de maneira que novos Projetos de Assentamentos sejam
29

criados para motivar a produção de hortifrutigranjeiros e assim abastecer o comercio


de Boa Vista e das cidades fronteiriças.

3.1 MESORREGIÃO SUL: BR 174 E BR 210 (PERIMETRAL NORTE)

O Brasil está dividido em micro e mesorregiões. As características típicas da


localidade que formam uma mesorregião são definidas de acordo com o conceito
exposto por Clemente:
Entende-se por mesorregião uma área individualizada, numa determinada
unidade da Federação, que apresenta formas de organização do espaço
geográfico definidas pelas dimensões: o processo social como
determinante; o quadro natural, como condicionante e a rede de
comunicação e de lugares, como elemento de articulação espacial. Estas
três dimensões possibilitam que o espaço delimitado como mesorregião
tenha uma identidade regional (CLEMENTE, 1994).
Pode-se concordar com a conceituação acima, pois, Roraima está dividido
em duas Mesorregiões: Mesorregião do Norte de Roraima e Mesorregião do Sul de
Roraima. A Mesorregião do Sul de Roraima é formada por Caracaraí e toda região
sudeste do Estado. Em termos atuais, esta mesorregião engloba sete municípios:
Rorainópolis, Caracaraí, Mucajaí, Iracema, Caroebe, São João da Baliza e São Luis.
O extrativismo vegetal na Mesorregião do Sul de Roraima já ocorria no
século XIX com a coleta das chamadas “Drogas do Sertão” cujo produto mais
conhecido era o cacau. Produzido para atender o mercado internacional, e em
seguida a castanha. Mas durante as décadas de 1960 e 1970, a madeira ficou
sendo a maior riqueza dessa região:
Pode-se afirma que a economia foi marcada, sobretudo pelas políticas do
Governo Federal. Nesse período, os interesses das grandes empresas de
voltaram para a mineração, para a extração e para o beneficiamento dos
diversos tipos de madeira, mas também a pecuária de corte, dentre outras
fontes de menor importância (MAGALHÃES, 2008, p. 128).
Nesta região ainda se pode encontrar na atualidade outras produções como
a banana no município de Caroebe. Dentro do fator do extrativismo vegetal, o
beneficiamento da madeira já não é a maior fonte de desenvolvimento.
Pode-se dizer que cada município que forma a Mesorregião do Sul de
Roraima tem uma situação em comum. A colonização espontânea. Mucajaí um dos
mais antigos municípios, cuja pecuária é a principal atividade econômica, teve parte
de suas terras ocupadas na década de 1980:
Nessa conjuntura o município de Mucajaí localizado na parte centro leste do
Estado de Roraima e um dos mais antigos núcleos populacionais[…] nos
30

quais predominam o relevo e o clima típico do lavrado, médias e grandes


propriedades rurais e a pecuária seja a principal atividade rural praticada em
toda sua extensão territorial, as paras terras desocupadas passou a ser alvo
dessa colonização espontânea a partir da segunda metade da década de
1980 (OLIVEIRA, 2009, p. 46).
Mucajaí como parte da mesorregião, na década de 1980, já não tinha como
sua maior preocupação o extrativismo vegetal. A pecuária era mais lucrativa, visto
que o beneficiamento da material prima não supria a necessidade da localidade e
com a migração passava a se preocupara com a agricultura familiar e menos com a
extração de madeira.
A discussão quanto a mesorregião do sul de Roraima ainda será novamente
abordada, pois o município de Caroebe está incrustado nessa localidade e uma
análise voltada para o desenvolvimento econômico, social e populacional se faz
necessária para compreender o nascimento desse município.
As migrações, portanto, desempenham papel fundamental na constituição
socioeconômica de Roraima. O movimento de entrada de migrantes é
constante, variando para mais nos momentos de surto econômico, como,
por exemplo, o do garimpo de ouro mencionado acima. Além disso, as
práticas políticas de caráter assistencialista e clientelístico difundiram a idéia
enganosa de que as coisas em Roraima estão mais disponíveis e podem
ser mais fáceis (SOUZA, 2008, p. 110).
Acreditar que os assentamentos rurais são a solução para a problemática da
moradia e da distribuição de terra para fixar o homem no campo é um engano
insolúvel. Enquanto as políticas públicas beneficiarem apenas uma pequena parcela
da população, enquanto Roraima mantiver a política paternalista de bolsas famílias,
auxilio gás de cozinha, e outros tantos programas de doação de renda, os
assentamentos continuarão sendo um depósito de pessoas e posteriormente se
tornarão municípios sem estruturas para se manter, alimentando políticos que se
proclamam donos do bem público, enquanto o povo continua procurando esperança
onde não há. Fé onde só há corrupção, apoio político onde só há legisladores da
própria causa.
31

4 A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CAROEBE, RORAIMA

4.1 UMA DISCUSSÃO DA GEOPOLÍTICA

Segundo Becker (2005), a geopolítica é um campo de conhecimento que


analisa as relações de poder e espaço geográfico. De acordo com a autora, a
geopolítica foi fundamental para o povoamento da Amazônia, fato visto desde o
tempo colonial, quando Portugal se remete a colonizar a Amazônia sem recursos
econômicos suficientes e populacional dentro de um território tão extenso.
Entretanto, a geopolítica foi o principal fator que garantiu a soberania da Amazônia,
seja ela pela presença de opressão das formas mais brandas seja pelas guerras e
conquistas de território. Adentramos a seguir na abordagem sobre a geopolítica da
Amazônia e de Roraima.
Loureiro (1992) assevera que os motivos de "Segurança Nacional" exigiam a
ocupação da Amazônia pelo capital, antes que os seguimentos populares do campo
o fizessem ou que estrangeiros entrassem nela pelas fronteiras políticas. Assim, a
ocupação da Amazônia teve sempre dois vetores: o econômico - aliança e apoio ao
capital - e o político - defesa da fronteira e ocupação do "vazio demográfico".
O desenvolvimento nacional exigia uma política de interiorização e de
valorização da enorme massa continental. o General Golbery do Couto e Silva
formulou propostas geopolíticas que visavam à integração definitiva e ao
desenvolvimento de todo o espaço territorial brasileiro. mereceram particular
atenção a Amazônia e o Centro-Oeste, carentes de infraestrutura, de transportes, de
comunicações e de povoamento. A atenção maior foi dada para a imensa área do
interior e, nesta, mais especificamente à Amazônia, informa Magalhães (2008, p.
146).
No tocante à estratégia para acelerar o desenvolvimento econômico e social
da Amazônia, vê-se uma ação combinada partindo das três frentes: da foz do rio
para o interior, descendo pelas vias do Planalto Central e declinando das escarpas
andinas e do sistema guiano. Um esforço conjunto internacional, cada qual levando
povoamento e progresso econômico e social. Na extensa fronteira Norte, nas
regiões de povoações vizinhas, de nacionalidade diferentes, sugeriu-se a criação de
"áreas interiores de intercâmbio fronteiriço", onde seria incentivada pelos governos
lindeiros uma política de livre cooperação econômica e social, seguindo o modelo
32

das cidades germinadas na fronteira Sul (Santana do Livramento e Rivera,


Uruguaiana e Los Libres) (MATTOS, 2002).
A Amazônia possui uma área de grande extensão territorial e de difícil
acesso, que o governo Federal e local passa a se preocupar com o que pode entrar
e sair de seus limites geográficos. Por fazer fronteira com países cujas divisões são
imperceptíveis, e por não haver possibilidade de guarnecer todos os pontos de
acesso, que coíbam entrada de qualquer nocividade, ocupar essas áreas seria o
melhor a fazer. Na colonização e ocupação da região amazônica a problemática da
geopolítica necessitava de um programa de incentivo a ocupação e de uma maneira
de diminuir a pobreza no nordeste do Brasil. A solução: promover a migração para o
Norte de país: a região amazônica.
Esta época foi também marcada pela criação de incentivos à ocupação do
território para solucionar dois problemas crônicos. O primeiro, de cunho
geopolítico, era o de ocupar os espaços vazios do território, tendo em vista
a antiga preocupação dos governos centrais em defender as fronteiras
internacionais do país. O segundo residia na questão regional nordestina. A
proposta era criar colônias agrícolas para transferir a população de regiões
empobrecidas e castigadas pela seca para regiões mais úmidas e
supostamente agricultáveis (DINIZ; SANTOS, 2008, p. 3).
Acordos são firmados entre colonos e governos que a princípio parecem
comuns, mas, dentro desses acordos estão políticas desenvolvimentistas para a
região. Os incentivos propostos pelo poder público mantêm o agricultor, o colono na
terra para fazê-la produzir. A Amazônia é de extrema importância para a política
governamental de ocupação. Os lugarejos nascidos ao longo da BR 174 são parte
desse propósito, pois, a BR 174 liga Brasil e Venezuela, assim como outras rodovias
são pontos de integração e influem na economia e na política local. Becker (2006, p.
54) comenta que é necessária a integração a fim de promover a complementaridade
econômica, como é o caso da energia, e também "alargar o espaço econômico
nacional, bem como para ganhar força política", citando como exemplo a "produção
hidrelétrica de Guri, na Venezuela: acordos comerciais firmados entre países
vizinhos e os estados do Amazonas, Roraima, Rondônia e Mato Grosso."
Cumpre-se, então parte dos planos governamentais, pois, um dos interesses
era a integração entre os países fronteiriços. Na década de 1970 já se desejava
integrar a Amazônia por uma questão de soberania nacional, por uma questão de
fortalecimento da unidade nacional. O primeiro plano era estabelecer as fronteiras e
proteger o patrimônio verde e território brasileiro, como diz Nogueira (2011, p. 30),
se reportando a fatos históricos, menciona que "a mão do Estado brasileiro, bem
33

como as das elites políticas, atuaram para atrair migrantes para a região
amazônica", usando o "discurso de integração, cuja palavra de ordem na década de
1970 era integrar para não entregar, ou na defesa da soberania em áreas de
fronteiras, assim, acreditava-se que se evitaria a perda da Amazônia".
A grande maioria dos migrantes que vieram em busca da realização de um
sonho encontrou dificuldades de obter o apoio necessário do poder público. Mas, por
terem a bisão de crescimento adaptaram-se rápido a situação, a falta de recursos
financeiros a exclusão social servirão de impulso para o trabalho de territorialização.
Os vilarejos cresceram sem a ajuda das autoridades, os moradores ajudavam-se
uns aos outros não esperavam o auxilio que viria da parte do governo, por isso
muitos assentamentos surgiram sem o aval das autoridades competentes, Diniz e
Santos (2008, p. 8) falam que:
A impressionante capacidade de adaptação a novos destinos demonstrada
pelos migrantes de fronteira merece destaque. Sendo na maioria das vezes,
destituídos de bens materiais, esquecidos pelo poder público, e excluídos
social e economicamente, esses indivíduos contam uns com os outros para
sobrevivência e adaptação na fronteira. Neste contexto a formação dos
grupos de ajuda informal é importante estratégia empregada pelos colonos.
De acordo com este estratagema, os colonos revezam o trabalho entre os
lotes dos membros desses grupos informais de trabalho, materializando
cada fase do árduo processo de produção agrícola, alternadamente: aceiro
de derrubada, broca, derrubada, queimada, coivara, aceiro, plantio e
colheita.
Para esses trabalhadores as políticas sociais não têm alcance, pois,
trabalham em grupo, produzem e trazem benefícios para a comunidade e dividendos
para o Estado. A geopolítica os localiza nas regiões de produção agrícola como
produtores independentes. Mesmo estando localizados dentro da área do projeto de
desenvolvimento indispensável à segurança nacional denominado II Plano Nacional
de Desenvolvimento (SILVA, 2011).

4.1.1 O PAD-Anauá

No início do ano de 1982, o governo através do INCRA deu continuidade ao


seu plano de ocupação de Roraima. Foi ampliado o Projeto de Assentamento
Dirigido Anauá - PAD. A proposta do PAD era dar o apoio necessário as famílias que
chegassem no local de implantação de forma imediata, pois, sem a presença do
poder público as ocupações aconteciam de forma desordenada e as consequências
34

geradas poderiam culminar em violência na pior das hipóteses. Então alguns


aspectos fundamentavam o PAD-ANAUÁ (1982, p. 1):
 Absorver e orientar o fluxo migratório de agricultores, propiciando o
imediato acesso a terra, evitando ocupações desordenadas e tensão
social na região.
 Promover os benefícios da Colonização Oficial, permitindo a
transformação da economia de subsistência em economia de escala.
 Realizar o melhor aproveitamento dos recursos naturais, implantando
culturas adaptadas às condições regionais.
 Manter intactas as áreas de preservação permanente.
 Atender a demanda de colonos advindo de várias regiões do País.
 Promover a integração política-sócio-econômica dos centros regionais e
sub-regiões próximas da área do Projeto, neste caso: Vila do INCRA e as
Cidades de São Luiz e São João da Baliza.
 Introduzir técnicas e culturas, bem como aumentar os níveis de produção
e produtividade.
A instalação do PAD-ANAUÁ, anunciava ainda nos anos 80 que aquela
localidade por força de questões nacionais, se tornaria uma município, visto que
utilizava uma quantidade elevada de terras. Os relatórios descritos no projeto mostra
a intensificação do trabalho para a expansão do PAD. Uma estrutura administrativa
montada para o crescimento da ação governamental, em uma área física que
continha parte dos municípios de São Luiz e São João da Baliza, certamente era o
prenuncio do nascimento de uma cidade, pois a localização do PAD-ANAUÁ é onde
hoje está o Município de Caroebe:
Após as análises dos aspectos técnicos do Projeto de Expansão do PAD-
ANAUÁ, os técnicos desta Divisão, concluem pela viabilidade de sua
operacionalização, uma vez que a área de expansão, conta hoje com uma
rede de estadas coletoras que partem da BR-210, rumo ao centro da Área
do Projeto no sentido Oeste/Leste, bem como de estradas coletoras que
partem da BR-174 no sentido Leste/Oeste, de modo que em determinados
trechos faltam apenas 7 km para essas estradas se cruzarem diminuindo
com isto, as distancias entre a sede do PAD-ANAUÁ com as sedes dos
\municípios de São Luiz e São João da Baliza, e como também a sede do
Projeto de Assentamento JATAPÚ, que neste caso poderia colaborar com o
seu pessoal, na implantação da expansão do Projeto em referencia (PAD-
ANAUÁ, 1982, p. 3).
Ainda que o PAD-ANAUÁ fosse uma anunciação da criação de futuros
municípios, havia uma dificuldade enfrentada pelos colonos embutida nos requisitos
do PAD. O colono que chegasse ao projeto adquirisse terras sem a intermediação
da administração, dificilmente teria direito a financiamentos para iniciar seu trabalho,
pois, não era considerada uma colonização oficial, então, para receber os incentivos.
Muitos colonos não se encaixavam nos requisitos propostos pelo PAD (PAD-
ANAUÁ, 1982). Como essa situação era recorrente nesse período, o governador
35

Ottomar Pinto, em 1980 em seu Programa Anual de Governo (1980), expõem para o
extinto Ministério do Interior, baseado no “crescimento explosivo da população” o
seguinte:
A resultante disso é o assentamento desorganizado das famílias e a
elevação dos índices de mortalidade provocada por doenças endêmicas,
inevitáveis ante a escassez absoluta de recursos. O próprio assentamento
desordenado dos colonos, exercer um efeito multiplicador sobre o
crescimento normal dos gastos, decorrentes do aumento populacional […] A
agricultura de Roraima é fundamentalmente baseada na pequena e média
propriedades. Com reduzido excedente acumulável apelo ao crédito
bancário é imprescindível para a expansão e melhora da produtividade. As
normas de crédito rural exigem garantia hipotecária para o financiamento a
investimentos fixos ou semi-fixos. Ocorre porém que a grande maioria dos
estabelecimentos rurais no Território é ocupado a título precário, o que inibe
o acesso ao precitado crédito (Programa Anual de Governo, 1980, p. 9).
A ocupação de Roraima através de assentamentos planejados. A aplicação
de planos para distribuição de terras e posterior financiamento para investimento dos
colonos, sempre foi uma problemática, pois, colonos vinham de todos os lugares e
se instalavam sem que a administração local fosse comunicada. Era a desordem no
processo de colonização. O resultado desse tumulto era a dificuldade de conseguir
os recursos para trabalhar na terra. Assim, muitos deixavam seus lotes porque não
conseguiam o financiamento (SANTOS, 2004). A geografia do Estado seguiu o
plano já estipulado pelo poder público que era a ocupação das área não povoadas
do Estado.
O povoamento de Roraima enquanto última fronteira brasileira, se consolida
com a promulgação da Constituição de 1988 (ANGHER, 2013) que o eleva a
categoria de Estado e com isso a autonomia de gerenciar os recursos advindos das
fontes sejam elas públicas ou privadas, para a implementação das políticas públicas
e planos de governo (SANTOS, 2004).

4.2 O MUNICÍPIO DE CAROEBE

O Território Federal de Roraima, até o final de década de 1970, contava


apenas com dois municípios, Caracaraí e Boa Vista. A migração que equacionava a
população para mais habitantes a cada contagem, influenciava na alteração da
configuração levando a divisão do território em mais municípios (NOGUEIRA, 2011).
Na década de 1980, o poder público contrariando a Lei 6.448/10, de 1977, que
determina os requisitos para a criação de municípios, define que o então Território
36

Federal de Roraima tenha em seus limites territoriais outros municípios, conforme a


Lei 7009/07, de 1982, sancionada pelo então Presidente João Baptista Figueiredo:
… é por força de interesses políticos que buscaram atrair e fixar os
migrantes, em especial os nordestinos, que de dois municípios existentes
no início dos anos 80, o Território Federal de Roraima passou a ter mais de
seis, a saber: Mucajaí, Alto Alegre, São João da Baliza, Bonfim, Normandia
e São Luiz do Anauá. Os mesmos foram criados através da Lei nº 7009, de
1º de julho de 1982, sancionada pelo na época presidente da República
João Figueiredo (ibid., p. 40).
A legislação para a criação de municípios não deixava espaço para que
Roraima tivesse outros seis, além de Boa Vista e Caracaraí. A Constituição Federal
Brasileira, promulgada em 1988, em seu art. 96, modifica essa situação quando
insere na sua redação a Emenda Constitucional nº. 57, dizendo que: “Ficam
convalidados os atos de criação, fusão, incorporação, e desmembramento de
Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os
requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à época de sua criação”
(ANGHER, 2013, p. 91).
No entanto, os municípios de Roraima foram criados antes de 2006, seja
enquanto Território, seja enquanto Estado, implicando dizer que todos eles foram
criados dentro de uma lei (7009/82) que não revogava a anterior (6448/77), que
explicitava o seguinte, em seu art. 3º:
Mantidos os atuais Municípios, são requisitos mínimos para a criação de
novos:
I - população estimada superior a 10.000 (dez mil) habitantes;
II - eleitorado não inferior a 10% (dez por cento) da população;
III - centro urbano com número de residências superior a 500 (quinhentas);
IV - receita tributária anual não inferior às menor quota do Fundo de
Participação dos Municípios, distribuídas, no exercício anterior, a qualquer
outro Município do País.
Observando a argumentação de Diniz e Silva (2008), que constataram de
acordo com o Censo do IBGE de 1980, a população total de Roraima era de 79.159
pessoas, numa divisão racional entre os oito municípios roraimenses, cada um deles
teria menos de 10.000 habitantes, portanto, não deveriam ser elevados a categoria
de município. No ano 2000, a população de Roraima, já com 15 municípios era de
324.397 habitantes (IBGE - Censo Demográfico de 2000), conforme explicitado na
tabela a seguir.
37

Figura 1 - Tabela com a população de Roraima por município


Município Total Urbano Rural Taxa de urb. (%)
Boa Vista 200.568 197.098 3.470 98,27
Caracaraí 14.286 8.236 6.050 57,65
Rorainópolis 17.393 7.185 10.208 41,31
Mucajaí 11.423 7.029 4.218 62,50
Alto Alegre 17.907 5.195 12.712 29,01

São João da Baliza 5.091 3.882 1.209 76,25

São Luiz 5.311 3.447 1.864 64,90

Iracema 4.781 3.228 1.553 67,52

Bonfim 9.326 3.000 6.326 32,17

Pacaraima 6.990 2.760 4.230 39,48

Caroebe 5.692 1.977 3.715 34.73

Normandia 6.138 1.500 4.638 24,44

Cantá 8.571 1.155 7.416 13,48

Amajarí 5.294 799 4.495 15,09

Uiramutã 5.802 525 5.277 9,05

Roraima 324.397 247.016 77.381 76,15


Fonte: IBGE - Censo Demográfico de 2000 (IBGE, 2002).

A quantidade de habitantes já seria um entrave pra a homologação desses


municípios, porém, o desejo político e a necessidade de reorganizar
geograficamente alteraram a configuração geopolítica de Roraima.
A ocupação de Roraima a partir da elevação à categoria de Estado passa a
ter um cunho eleitoreiro com propagandas de incentivo à migração para o então
Território Federal de Roraima, terra promissora, onde a ocupação territorial não
poderia ser espontânea e sim programada. Mas, segundo Silva (2011), toda ação
motivacional tinha o claro desejo de formar bases eleitorais que manteriam grupos
de políticos no poder. Dessa forma, com o objetivo de prioritário de segurança
nacional, mas, com planejamentos políticos futuros é criado o assentamento de
Jatapú:
A criação do assentamento de Jatapú está intrinsecamente ligada à
abertura das rodovias 174 e 210. Esta medida se deu através da aprovação
38

da resolução do INCRA de nº 200, em 26 de setembro de 1983, no então


governo de Ottomar Pinto. Segundo este documento, o assentamento foi
formado pelas glebas Branquinho com 685.475 ha, Gleba BR 201 - 1, com
44.525 há, parte da Baliza com 271.524 há. Localizado às margens da BR
210, destinando-se à 1465 famílias do nordeste e centro sul (BRASIL, 1983,
apud SILVA, 2011, p. 32).
Jatapú, nascido a margem da BR 210, fazia parte dos Projetos de
Assentamentos Rápidos (PAR). Era a forma de o governo manter o controle da
região e ampliar sua influência. Assim, ao manter o aglomerado populacional
facilitava o controle e o plano de ampliação para a criação, a partir do PAR Jatapú,
do município de Caroebe (BARROS, 1995).

Figura 2 - Mapa da Região Sul de Roraima

Fonte: Sistemas de Coordenadas Geográficas - INPA/Manaus

Na figura acima estão os quatro municípios que formam a região Sul de


Roraima (Mesorregião Sul) e a ocupação ao longo das BRs 174 e 210. Os números
são a localização dos municípios: (1) Rorainópolis, na região da BR 174; (2) São
Luiz do Anauá; (3) São João da Baliza; e, (4) Caroebe na região da BR 210. As
vicinais saindo das BRs facilitam a distribuição de terra e a organização dos lotes
distribuídos. Confirma-se essa objetividade territorial pela quantidade de vicinais
abertas naquela região, como mostra o mapa.
39

O município de Caroebe nasceu dos assentamentos rurais do Incra e da


migração espontânea que surgiram nas imediações do BR 210 (perimetral norte) e
da usina hidrelétrica que fornece energia para a região sul de Roraima,
distanciando-se 354 km da capital Boa Vista, quando migrantes vindos em sua
maioria do Nordeste se fixaram na terra espontaneamente, mesmo sem o apoio
governamental, originando dois vilarejos que se tornaram vilas nomeadas de Entre
Rios e Jatapú, na década de 1970, como destaca Oliveira (2003, p. 265),
acrescentando que "com o desmembramento das terras do município de São João
da Baliza, em novembro de 1994 pela Lei Estadual nº 82, esse aglomerado urbano
foi transformado no município Caroebe."
O município possui 12.098,5 km2, porém, mais da metade de suas terras
pertencem à reserva indígena do povo Wai-Wai, que totaliza 6.376, 32km2. Em 2001
sua população era de 5.692 habitantes (IBGE, 2002) e em 2010 é de 8.114
habitantes e de 8.997 a população estimada para 20142.

Figura 3 - Mapa de Roraima com destaque para Caroebe (em vermelho)

Fonte: Wikipedia3

2 Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidades. Acesso em: 02/dez./2014.


3 Disponível em: http://www.wikipedia.com. Acesso em: 02/dez./2014.
40

Na foto a seguir, observamos que, como expõem os historiadores, o


município de Caroebe nasceu às margens da BR 210, que deveria estar interligando
os Estados de Roraima, Pará, Amapá, de leste a oeste no Amazonas (SILVA, 2011).

Figura 4- Município de Caroebe (foto por satélite)

Fonte: Google Maps (Novembro de 2014)

No tópico que segue, chegamos ao âmago da pesquisa, analisando


entrevista realizada com moradores de longa data do município de Caroebe.

4.3 ATORES SOCIAIS NO MUNICÍPIO DE CAROEBE: ENTREVISTAS

Caroebe é marcado por várias histórias antes de sua condição de município.


É necessário conhecer o que os antigos moradores4 experienciaram para saber se
de ato essa mudança surtiu o efeito que todos queriam. A consciência que sair de
sua terra de seu quinhão, deixar seus sonhos para trás em busca de melhorias em
terras distantes pode não ser a melhor escolha, mas, após ser feita, apenas a
história oral dirá de foi acertada, portanto, dar voz aos que construíram Caroebe e a
devida importância aos fatos que se esclarecem na oralidade dos que fizeram e
fazem a história do município:
A consciência de que a questão das migrações esteve durante muito tempo
condicionada por abordagens economicistas e deterministas, a

4 Aqui denominados de sujeito A e sujeito B.


41

complexidade que reveste essas perguntas, aponta para as fecundas


possibilidades oferecidas pela história oral. Junto a isso, a constatação da
carência de literatura e de fontes tradicionais sobre o tema transformou a
oralidade em principal ferramenta metodológica na constituição das fontes
(SOUZA, 2008, p.106).
O discurso das pessoas que compõem a população de município de
Caroebe são fatos que remetem ao início de tudo, desde o nascimento quando
ainda era um Assentamento rural que passou a categoria de vila e, posteriormente,
município. Souza (2008) acredita que á uma conexão entre o passado o presente de
quem conta um fato oral sobre uma determinada localidade.
Contar uma história acerca do passado, a partir daquilo que se considera
ser seu começo, suas origens e elementos constituintes, pressupõe certos
fundamentos que, ainda que intencionalmente colocados no passado,
articulam- se com o presente, justificando aquela mensagem que se deseja
transmitir e dando-lhe consistência. Articula-se também com o meio, pois
narrar é sempre ir além da suposta individualidade do autor e do ouvinte, “é
fazer uso da herança cultural em que se enraíza a própria existência da
narrativa, como uma forma possível de dar sentido ao real (SOUZA, 2008,
p. 107).
Não se deve ignorar as experiências de quem viveu períodos tão difíceis no
desbravamento territorial, momentos de fortaleza e às vezes de fraqueza de uma
história de vida, e por analogia à história da construção de um município que nasceu
por vontade do povo em querer ver o desenvolvimento econômico, social e
estrutural, para em seguida perceber que nada do que se esperava viria com a
constituição municipal, pois a dependência da vontade política era maior que o
sonho do crescimento municipal. O sujeito A, morador de Caroebe desde sua
fundação, carvoeiro por herdar dos pais a profissão de fazer carvão ainda
permanece até então. Na entrevista mencionou que:
Nasci em Santa Inês no Maranhão. Tenho 64 anos e moro aqui todo
mundo se conhece. Cheguei em 1985 junto com minha mulher, meus dois
menino, meu pai e minha mãe. Naquele tempo não existia esses municípios
de Caroebe, Cantá, Pacaraima. Tudo era mais difícil. O que produzia era
pouco e desse pouco tinha que mandar para Boa Vista para vender para
poder ter um pouco de lucro. Onde nós morava vendia, mas, era mais
pouco. Todo mundo tem terra e madeira em casa, daí quem vai comprar
carvão? (Excerto de entrevista concedida em 28 de outubro de 2014).
O entrevistado falou do motivo que o trouxe para Roraima. Em seu relato se
percebe que traziam consigo esperança e vontade de avançar, pois, de onde vinham
à vida não reservava promessas de um futuro promissor. Quando não se espera
nada de produtivo de um lugar, é melhor ir para onde ainda há esperança. Assim
pensa o produtor:
Em Santa Inês pra nós não tinha jeito de fazer coisa boa porque a venda de
carvão e o trabalho na roça não dava dinheiro. Só tinha o de comer e mais
nada. Aí a gente ouvimo que em Roraima tenha terra e que o governo
42

ajudava o produtor. Os menino crescendo e vendo a miséria que nós vivia,


ficavam tudo revoltado. Então a gente resolveu se aventurar aqui em
Roraima (Excerto de entrevista concedida em 28 de outubro de 2014).
Essa parte do depoimento do sujeito A, confirma os estudos de Lima e Vale
(2001, p. 06), de acordo com pesquisas feitas e documentos lidos sobre o
crescimento populacional de Roraima e a migração que ocorre até os dias de hoje,
mas já de modo menor nos dias atuais, quando expõem: “os principais motivos
desse crescimento foram o incentivo à migração através dos projetos de
assentamento e colonização agrícola, implantados a partir de meados da década de
70”…
Outros autores que estudaram a história e a migração na Amazônia,
principalmente em Roraima, confirmam as palavras do colono sujeito A, pois, são o
relato vivo de quem participou da História migratória que ocorreu nas décadas de
1970 a 1990. Diniz e Santos (2008, p. 2) expõem que:
Vários projetos de colonização foram implementados pelas administrações
Federais e locais, que promoveram a transferência de centenas de colonos
de regiões economicamente deprimidas do nordeste brasileiro. A
colonização direcionada beneficiou diversas áreas do Nordeste, mas os
nativos do Estado do Maranhão foram priorizados e desde a década de
1940 os maranhenses representam o principal grupo de imigrantes (Excerto
de entrevista concedida em 28 de outubro de 2014).
Quando perguntado sobre a produção dos colonos, o que seria mais viável
para o crescimento do município de Caroebe
Muita gente vende banana aqui. Aqui é onde mais se produz bananas no
Estado, mas acredito que tem espaço para todos os produtores. Nas
minhas terras eu produzo carvão, mas, planto também, só para o povo de
casa mesmo. Nós assim que chegou aqui conseguiu unas terrinhas doadas
por um vizinho. Com conseguimos financiamento porque o lote tava no
nome de outro dono. Agora Caroebe pode fazer mais coisas. Tem gente
que planta aqui e vende em Manaus. Sabe porque? Porque, os
comerciantes vem aqui ou a gente vai lá. Eles tratam bem o povo e
negociam dentro da verdade. Compram quase tudo. Não é só banana não
(Excerto de entrevista concedida em 28 de outubro de 2014).
Uma reclamação do sujeito A traz a energia elétrica como uma preocupação.
Os colonos que tem casa na cidade não podem sair de seus lotes por medo de
serem roubados. Falta segurança, falta confiança na lei e seus agentes, pois, a
impunidade faz parte da realidade de Caroebe:
Aqui tem muita gente que já matou, já roubou e ninguém pode dizer nada. A
polícia sabe, mas também tem medo. Quantas vezes, foragidos não foram
achados por aqui? Então. Alem de não ter ajuda do governo, nós não tem
segurança. De que adiante delegacia se o delegado nunca ta lá? De que
adianta posto da policia militar se eles não defende nós? Se tiver uma festa
aqui os caras ficam andando armado mostrando revolver, faca na cintura,
jovens bebendo e fazendo arruaça. Daqui na televisão só se fala de
bananas, mas esquece que quem produz banana é gente e precisa de
43

segurança. Se você plantar e der uma saída, quando voltar ta tudo


arrancado. Se quiser colher tem que ficar no lote. Não pode sair de lá pra
nada. Assim não dá. Meu carvão não pode ficar sozinho lá, porque some.
Difícil (Excerto de entrevista concedida em 28 de outubro de 2014).
Na atualidade a economia de Caroebe gira em torno da exportação de
bananas para o Estado do Amazonas. Abastece o Amazonas e Boa Vista junto com
outros produtores de outros municípios.

Figura 5 - Caminhão em direção ao Amazonas carregado de bananas

Fonte: Wikipedia5
Muitos personagens participaram da história que resultou na criação do
município de Caroebe. Dentre eles está o morador de São João da Baliza que
conhece a história da formação do município de Caroebe, ora denominado de sujeito
B, que foi entrevistado em 28 de outubro de 2014 pelo autor. Segue excerto da
entrevista.
Sou de Vitorino Freire, Maranhão. A gente chegou em Roraima através,
acompanhado com um padrinho meu juntamente com os familiares deles e
mais amigos. Mais famílias que inclusive em 1976 eram famílias moravam
em Goiás, que migraram nessa época. Inclusive eu a procura de terra
espaço mais abundante para produzir. Eu tinha 15 para 16 anos e vim com
eles. Na responsabilidade de meu padrinho. O primeiro passo era em busca
de terra procriar a vida no Ex-Território, na época era Território. O primeiro
lugar quando a gente destinou do nordeste pra cá, que paramos realmente
pra morar, criar, foi Baliza. Na época Baliza não existia e era só selva. A
única abertura que havia era só a BR e as cascaeiras onde a
Paranapanema tirava os materiais para a construção de estradas e mais
ninguém. Figura humana na época só índio que a gente se encontrava.
(Excerto de entrevista cedida ao autor em 28 de outubro de 2014)
O depoimento encontra eco nos escritos de Silva (2011), que mostra em
seus estudos a vinda de migrantes para a Amazônia foi um planejamento de
governo militar para a colonização da região. Eram oferecidos incentivos. Tudo sob
a orientação do Instituo de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

5
Disponível em: http://www.wikipedia.com. Acesso em: 02/dez./2014.
44

Para o sujeito B, o desmembramento de terras que criou Caroebe, não


trouxe benefícios para o município de Baliza, pois a quantidade de terras destinadas
a esse fim reduziu demais os limites de São João da Baliza.
primeiro caso no meu entender e o que acompanhei. Roraima na época por
ser um Estado pequeno não tinha incentivo de município. Baliza na região
sul, foi o primeiro a ser criado, mas devido ter uma expansão que a política
da época acreditava que a BR 210 poderia se alongar, interligar Pará e
Amapá. Inclusive esse era o projeto principal. Baliza foi o primeiro município
na região sul que ganhou o título de cidade. Depois foi criada a Vila
Caroebe na beira do rio Caroebe. O Estado não tinha tantos municípios e os
governos na época pretendia aumentar municípios. Acho que a visão era
arrecadar mais recursos do governo Federal. Território é como criança órfã,
depende de toda ajuda que vier. Então quando passou a Estado, foi criado
mais municípios. Baliza foi o primeiro a ser criado os ouros vieram bem
depois. A desmembração prejudicou Baliza, que era pra ser um dos
grandes municípios por ser mais antigo, se tornou pequeno. Os nossos
representantes da época da tramitação de criação de novos municípios,
eles dormiram no ponto. Não se importaram para acompanhar as divisas do
município ao total limite que poderia ficar o tamanho de município, deixaram
que os vizinhos próximos que estavam se criando e com sonho de ser
município, tomassem conta e colocassem suas intenções de divisas de
município para dividir. Quando eles se espantaram já tinham assinado a
sentença, e o município de Baliza ficou precariamente pequeno. Tanto que
você vê hoje, Baliza um dos municípios mais velho da região sul ta se
tornando mais fracassado financeiramente em tudo. Pela seguinte forma:
Que importância tem ao governo do Estado, ao governo Federal fazer
investimentos dentro de um município que praticamente é morada e uma
família só praticamente? Muito pequeno (Excerto de entrevista cedida ao
autor em 28 de outubro de 2014).
As palavras do entrevistado são o retrato do pensamento de Barros (1995)
ao comprovar o desmembramento de terras São Luiz do Anauá e São João da
Baliza. Vale ressaltar que São João da Baliza contribui com terras onde estavam
localizadas as vilas de Entre Rios e Jatapú as duas maiores que compunha sua
geografia.
A questão política sempre esteve dentro da situação de emancipação de
Caroebe, porém, a força maior, de acordo com o sujeito B, veio do povo. Do desejo
de desenvolvimento que só ocorre com a vontade dos políticos com incentivos,
financiamentos para o trabalho na terra. Quanto a isso expôs:
Todos os municípios foram criados supostamente com a força de vontade
dos moradores. Com a mesmo intenção que Baliza foi criado. Com o
sacrifício dos produtores e colonos. Apesar de que o governo deu sua
contrapartida, mas em primeiro lugar os primeiros esforços foi de cada pai
de família, cada mãe que se empenharam. Até morar em lugar em difícil de
tudo. Pensar que a região foi dificultosa na vida para os primeiros chegarem
lá, e a hoje ainda tem muitos que ainda estão lá nos seus municípios, todos
tem uma vitória difícil para contar. Pelo que gente viveu no início Melhorou,
mas ainda falta muita coisa. Pelo meu pouco conhecimento o incentivo do
governo federal foi muito pouco e do governo estadual foi pouco também. A
única coisa que o governo fez anos atrás, foi incentivo a pecuária. Faltou à
chave fundamental, a Agricultura. Não foi falta de homem de coragem para
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trabalhar porque a região sul tem muito homem trabalhador esforçado que
veio da roça, mas infelizmente o que faltou foi o governo manter a sua
participação. E foi uma das coisas que clamei, clamei muito. O que seria? O
governo criaria o mercado do governo, seu incentivador e seu patrão,
comprador da produção do produtor. Por quê? Para o governo é fácil fazer a
tramitação de comercio de Estado para Estado. E o produtor? Será que
poderia ir para outro estado buscar o mercado para sua produção se você
não está tendo apoio, e sua situação financeira é praticamente seus
esforços e suas ideias? Na verdade eu sou sincero a dizer poucos
receberam incentivos. A não ser hoje, pouco vi os governos para pequenos
produtores, que também sou da roça, incentivando a pequena agrícola. Mas
se for até lá na roça, verá que poucos tiveram apoio ou financiamento. O
produtor que recebeu dirá que teve um pequeno apoio. O colono tem a boa
vontade de abrir um campo de produção para ter uma boa produção no final
da sua safra, mas, ele não tem como abrir, o que ele consegue não dá para
fazer isso. O recurso que ele recebe é para plantar uma ou duas linhas. As
demais ele faz por conta própria na marra (Excerto de entrevista cedida ao
autor em 28 de outubro de 2014)
O depoimento do sujeito B, ao expor as dificuldades para se chegar e se
instalar na região Sul de Roraima sintetiza o texto de Diniz (2011) ao mostrar que
apesar de ter sido um plano político a ocupação dessa localidade ocorreu com
dificuldade.
O Plano Anual do Governo do Território Federal de Roraima (PAG/1980) era
um pedido ao Governo Federal por mais recursos para implementar a agricultura e
pecuária. Observa-se que o sujeito B foi uma das pessoas que não tiveram o
incentivo para produzir, mesmo assim permaneceu na região até os dias atuais.
A motivação para a implementação do Município de Caroebe, foi muito mais
política e ocupacional do que o desejo da população. A infraestrutura não
condicionava essa elevação, as políticas públicas não tinham alcance, então, dentro
dos requisitos necessários em 1994 Caroebe não seria município (SANTOS, 2004).

Figura 6 - Hidrelétrica de Jatapú em Caroebe

Fonte: Wikipedia6

6
Disponível em: http://www.wikipedia.com. Acesso em: 02/dez./2014.
46

Jatapú é considerada um avanço no processo econômico estadual,


colocando Caroebe no caminho do desenvolvimento, pois, dá ao estado a
esperança de desativação das termoelétricas. O impacto na economia é positivo,
principalmente pela abertura direta de mais de 100 postos de trabalho, produzindo
aproximadamente 5000 kW de energia para abastecer Caroebe e São João da
Baliza.
Durante o governo de José de Anchieta, a usina hidrelétrica de Jatapú,
sofreu obras de revitalização e modernização, passando a funcionar com duas
novas turbinas, tendo sua capacidade de energia dobrada de cinco para dez
megawatts de potência, atendendo em adição ao município de São Luiz do Anauá. A
obra é fruto de recursos próprios do estado. Nessa nova fase recebe o nome de
Complexo Energético Ottomar de Souza Pinto.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os fatores que determinaram a criação do município de Caroebe são os


mesmos que circundam o nascimento de outros municípios na mesorregião sul de
Roraima. A vontade política dos governantes é maior que as condições para a
criação dos municípios, pois, ao serem criados necessariamente será preciso uma
estrutura política e física.
Na estrutura política, os vereadores elaboram as leis para o
desenvolvimento municipal e contratação de funcionários, e a legalização das
secretarias a serem criadas. Cada secretaria tem um quadro de funcionários que
pouco a pouco vão onerando o erário público. Se há um município, há um prefeito e
toda sua equipe de trabalho. Tudo que é preciso para fazer funcionar um município
deve ser criado. A pergunta é: quem paga a essa conta? Será que os recursos
oriundos do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) que é enviado pelo
Governo Federal são suficientes para pagar essa conta mensal?
Na estrutura física, existe a necessidade de prédios para o funcionamento
das instituições como prefeitura, câmara de vereadores, escolas municipais, postos
de saúde, entre outros. Repetimos então a pergunta: quem pagará essa conta? O
que vemos são municípios desestruturados a espera de recursos federais ou
estaduais, pois, em seus limites não há arrecadação suficiente para o funcionamento
da estrutura governamental. Dessa forma, a inviabilidade torna Caroebe refém dos
desejos dos políticos que por lá buscam formar seus grupos políticos, massa de
manobra eleitoral.
Os municípios de Roraima e em especial os municípios da região sul que se
instalaram ao longo da BR-210 e estão fadados ao pouco desenvolvimento,
considerando que não há como escoar sua produção agrícola em direção ao Estado
do Pará, por exemplo, pois a perimetral norte não sai de Roraima. Observamos que
para obterem desenvolvimento, os municípios do sul do estado, São Luiz do Anauá,
São João da Baliza e Caroebe, são induzidos a desembarcar seus produtos em Boa
vista ou levarem apenas até Manaus, capital do Estado do Amazonas, sem
perspectiva para avanço da escoação da produção para outras regiões. Nesse ritmo,
os pequenos produtores que seguram a economia daquele lugar não terão a
oportunidade de ver seu trabalho laborioso lhes dar o retorno necessário para obter
48

lucros. Observamos ainda que, o plano que foi traçado para essa região não obteve
o resultado desejado, ou seja, não foi bem-sucedido.
Em análise histórica ficou evidenciado que a criação do município de
Caroebe está ancorada à vontade política dos governantes. Os municípios de
Roraima, e, em especial, os municípios da região sul que se instalaram ao longo da
BR 210, possuem entraves para escoar sua produção agrícola em direção ao Pará,
pois a perimetral norte não sai de Roraima, não cruza a fronteira. Ao observar o
mapa de Roraima se percebe que o plano era benéfico, mas sua execução não foi
concluída e esses municípios, São Luiz do Anauá, São João da Baliza e Caroebe,
para buscarem desenvolvimento são praticamente obrigados a venderem seus
produtos em Boa Vista ou levarem até Manaus. Nesse ritmo os pequenos
produtores que seguram a economia daquele lugar não terão a oportunidade de seu
trabalho laborioso lhes dar o retorno necessário para investir em si mesmo.
Caroebe nasceu numa época em que se desejava ver o estado crescer e
multiplicar em termos populacionais, de forma a cumprir um planejamento de
séculos que era a ocupação das áreas de fronteiras. A criação de Planos de
Assentamento Dirigido (PAD) tinha como objetivo colonizar e posteriormente levar à
formação de núcleos urbanos, e, nesse sentido, Caroebe cumpre seu papel
enquanto lugar habitado, pois, conta com uma população de migrantes
espontaneamente e outra parte que veio por meio do PAD-ANAUÁ e do Projeto de
Assentamento Jatapú. No entanto, um município necessita de maiores investimento
em estruturas funcionais que levem a população a uma melhor qualidade de vida.
Ao ocupar essa região, algumas situações deveriam ser solucionadas como: saúde,
educação, segurança. Mas a precariedade é a tônica nesses itens, considerando a
falta de políticas públicas voltadas para o atendimento dessas demandas.
Apesar das dificuldades Caroebe cumpre sua missão quando em seus
limites não são produzidos apenas bananas, mas outros tantos produtos inclusive
energia elétrica. Quando reconhece que necessita avançar econômica e
socialmente. É o primeiro passo para a mudança em busca de atividades que
possam fazer o município se consolidar como uma força econômica e política no
estado, visto que tem em seus domínios uma hidrelétrica e dela surge a energia
para outros municípios.
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