Referência:
BURKE, Peter. Hibridismo cultural. São Leopoldo, UNISINOS, 2003.
Introdução
historiador britânico Perry Anderson descreve a tendência do período em que
vivemos de "celebrar o crossover, o híbrido, o pot-pourri". (p. 13)
o antropólogo francês Jean-Loup Amselle, especialista em África Ocidental,
defende que não existem coisas coma tribos, como os fulas ou os bambaras. Não
existe uma fronteira cultural nítida ou firme entre grupos, e sim, pelo contrário.
um continuum cultural. (p. 14)
A globalização cultural envolve hibridização. (p. 14)
um grupo de teóricos do hibridismo, eles mesmos muitas vezes de identidade
cultural dupla ou mista. Homi Bhabha, por exemplo, é um indiano que foi
professor na Inglaterra e que hoje está nos Estados Unidos. Stuart Hall, nascido
na Jamaica, de ascendência mista, viveu a maior parte de sua vida na Inglaterra e
descreve a si mesmo coma sendo "culturalmente um vira-latas, o mais perfeito
híbrido cultural. Len-Ang se descreve coma "uma acadêmica etnicamente chinesa,
nascida na Indonésia e educada na Europa que hoje vive e trabalha na Austrália.
Nestor Canclini, que cresceu na Argentina, mas vive no México, nem parece ser
uma mistura. Par outro lado, Edward Said, palestino que cresceu no Egito, e
professor nos Estados Unidos e se descreve como “deslocado”. (p. 15)
O trabalho destes e de outros teóricos tem cada vez mais atraído o interesse para
várias disciplinas, da antropologia à literatura, da geografia à história da arte e da
musicologia os estudos da religião. (p. 16)
Cultura em um sentido razoavelmente amplo de forma a incluir atitudes,
mentalidades e valores e suas expressões, concretizações ou simbolizações em
artefatos, práticas e representações. (p. 17)
Toda inovação é uma espécie de adaptação e que encontros culturais encorajam a
criatividade. (p. 18)
No campo da música, por exemplo, especialmente na música popular, os
ocidentais têm emprestado de outras culturas, coma da dos pigmeus da África
Central, fazendo o registro dos direitos autorais dos resultados sem dividir os
royalties com os músicos originais. (p. 18)
O preço da hibridização, [...], inclui a perda de tradições regionais e de raízes
locais. (p. 18)
Gilberto Freyre foi um dos primeiros scholars a dedicar atenção ao hibridismo
cultural, em Casa Grande e Senzala, de 1933. (p. 18)
Nos anos 1950, o historiador britânico Arnold Toynbee refletiu sobre o que ele já
chamava de "encontros" entre culturas, sobre a importância das diásporas e a
natureza da "recepção" cultural". (p. 19)
historiadores da Renascença estão se interessando mais do que antes pelas
contribuições bizantinas, judaicas e muçulmanas para aquele movimento. (p. 20)
Ferando Ortiz certa feita descreveu a cultura cubana como sendo uma espécie de
ensopado, ajiaco. (p. 21)
1. Variedades de objetos
Hibridismo cultural pode ser encontrado em toda parte, não apenas em todo o
globo como na maioria dos domínios da cultura – religiões sincréticas, filosofias
ecléticas, línguas e culinárias mistas e estilos híbridos na arquitetura, na literatura
ou na música. (p. 23)
Espanha com ornamentos geométricos dos séculos XV ou XVI, lembrando
aqueles das mesquitas, feitos por artesões que era quase que certamente aberta ou
dissimuladamente muçulmanos. (p. 24)
Igrejas jesuítas de Goa, Cuzco empregaram artesãos locais e combinaram
estruturas renascentistas italianas ou barrocas com detalhes decorativos derivados
de tradições locais, hindus, islâmicas ou incas. (p. 24)
Arte indo-cristão. (p. 26)
quando imagens ocidentais, especialmente gravuras, chegaram na China no final
do século XVI junto com missionários católicos como Matteo Ricci, elas
ajudaram a transformar a tradição chinesa de pintura paisagista. (p. 26)
As traduções são os casos mais óbvios de textos híbridos, já que a procura por
aquilo que chamado de “efeito equivalente” necessariamente envolve a introdução
de palavras e ideias que são familiares. (p. 27)
O romance africano também se situa em um cruzamento de gêneros, que inclui o
conto folcl6rico oral tradicional, o romance europeu e, entre os dois, o equivalente
africano dos folhetos brasileiros, os textos populares produzidos entre a Segunda
Guerra Mundial e a guerra civil nigeriana na cidade mercantil de Onitsha. (p. 28)
Mahatma Gandhi, por exemplo, foi descrito como tendo criado "sua própria
religião uma mistura idiossincrática de ideias hindus, islâmicas. budistas e cristas.
(p. 28)
A religião vietnamita Cao Dai. Fundada em 1926, a organização da Cao Dai segue
o modelo da Igreja Cat6lica, com um papa, cardeais e bispos. Suas doutrinas, por
outro lado, são uma combinação de budismo com o taoisrno e moralidade
confucionista. Dentre suas práticas, há o uso extensivo de médiuns e sessões
espiritas, de forma que a Cao Dai pode ser descrita como uma forma de espiritismo
no estilo de Allan Kardec. Seu panteão de heróis inclui Jesus, Maomé, Joana
D'Arc e Victor Hugo. (p. 29)
O reggae foi introduzido na Grã-Bretanha par imigrantes jamaicanos, que vez
por outra moravam na mesma parte de Londres que outros indianos recém-
chegados. As letras do reggae são compostas em uma lígua mista, o crioulo
jamaicano. (p.32)