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POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ

ACADEMIA POLICIAL MILITAR DO GUATUPÊ


ESCOLA DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS

Cad. 1º PM LOCATELLI
Cad. 1º PM AMARAL
Cad. 1º PM VASCONCELOS
Cad. 1º PM YAN

VIGIAR E PUNIR DE MICHEL FOUCAULT

SÃO JOSÉ DOS PINHAIS


2018
POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ
ACADEMIA POLICIAL MILITAR DO GUATUPÊ
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS

Cad. 1º PM LOCATELLI (105)


Cad. 1º PM AMARAL (113)
Cad. 1º PM VASCONCELOS (106)
Cad. 1º PM YAN (108)

VIGIAR E PUNIR DE MICHEL FOUCAULT

Trabalho realizado para obtenção de


nota parcial da disciplina de Noções de
Criminologia ministrada pelo Major QOPM
Darany ao Curso de Formações de Oficiais
da Academia Policial Militar do Guatupê.

SÃO JOSÉ DOS PINHAIS


2018
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 4

2 PARTE I – O SUPLÍCIO .......................................................................................................................... 5

2.1 CAPÍTULO 1 – O CORPO DOS CONDENADOS .......................................................................................................... 5

2.2 A MORTE DE DAMIENS ..................................................................................................................................... 5

2.3 CASA DOS JOVENS DETENTOS EM PARIS ............................................................................................................... 7

2.4 SUPLÍCIO X CONDENAÇÃO DA ALMA..................................................................................................................... 7

2.5 CAPÍTULO 2 – OSTENTAÇÃO DO SUPLÍCIOS ........................................................................................................... 9

3 SEGUNDA PARTE – PUNIÇÃO ..............................................................................................................10

3.1 CAPÍTULO I – A PUNIÇÃO GENERALIZADA .......................................................................................................... 10

3.2 CAPÍTULO II – A MITIGAÇÃO DAS PENAS ..................................................................................................... 15

4 TERCEIRA PARTE – DISCIPLINA ...........................................................................................................18

4.1.1 Capítulo I - Os Corpos Dóceis .................................................................................... 18

4.1.2 A arte das distribuições............................................................................................... 18

4.1.3 Controle da atividade .................................................................................................. 20

4.1.4 A organização das gêneses ........................................................................................ 20

4.1.5 A composição das forças ............................................................................................ 21

4.2 CAPÍTULO II.................................................................................................................................................. 23

4.2.1 Os recursos para o bom adestramento ....................................................................... 23

4.2.2 A vigilância hierárquica ............................................................................................... 23

4.2.3 A sanção normalizadora ............................................................................................. 23

4.2.4 O exame ..................................................................................................................... 24

4.3 CAPÍTULO III................................................................................................................................................. 25

4.3.1 O Panoptismo ............................................................................................................. 25

5 QUARTA PARTE - PRISÃO ...................................................................................................................27

5.1 CAPÍTULO I - INSTITUIÇÕES COMPLETAS E AUSTERAS ............................................................................................. 27

5.2 CAPÍTULO II – ILEGALIDADE E DELINQUÊNCIA ...................................................................................................... 30

5.3 CAPÍTULO III– O CARCERÁRIO .......................................................................................................................... 32

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................................................33

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................................................34


1 INTRODUÇÃO

Realizada a leitura do livro Vigiar e Punir de Michel Foucault pela equipe,


depois feito uma resenha para elencar os principais pontos, que tem sua
primeira edição em 1975, mesmo assim continua atual, sempre podendo ser
reinterpretado para o atual contexto da sociedade.
2 PARTE I – O SUPLÍCIO

2.1 Capítulo 1 – O corpo dos condenados

Robert François Damiens tinha 42 anos de idade quando morreu de


forma medonha. Ele foi morto em uma tarde fria em 28 de março de 1757. Filho
de porteiro, Damiens trabalhou em diversos locais como um humilde serviçal
doméstico, entretanto, apesar de sua origem, roubava constantemente os seus
empregadores, porém jamais havia dado sinal de ser um indivíduo violento.

O crime de Damiens foi agredir o Rei Luis XV e feri-lo com um canivete


quando o mesmo estava prestes a entrar em sua carruagem em Versalhes.
Apesar de ter sofrido este ataque o rei ficou ferido sem gravidade, porém
devido ao contexto político da época, tal fato ganhou grande repercussão,
levando, posteriormente, ao torturante e humilhante fim.

2.2 A morte de Damiens

Diante do ato por ele praticado, o Parlamento de Paris indiciou e


condenou Damiens pelo crime de Tentativa de Regicídio contra o rei Luis XV.
Antes do veredito final que sentenciou a sua punição, Damiens foi
barbaramente torturado para que revelasse o nome dos possíveis comparsas
que tinham planejado e executado o atentado contra o rei. Porém, ele jurou que
agiu sozinho e que não fazia parte de nenhuma conspiração contra o governo
da França.

Atentar contra a vida do Rei foi considerado como um crime gravíssimo


e merecia uma punição a altura. A cerimônia de execução foi cuidadosamente
planejada pelos carrascos. De início, Damiens foi levado para o Place de Greve
e lá seria despedaçado por cavalos. Naquela época, as cerimônias de
execução eram tidas como um grande evento, e neste caso não foi diferente,
ao ponto que os espectadores tinham que comprar lugares na fila para poder
assistir todas as etapas da execução com grande visibilidade.

Charles Henri-Sanson, que no final da carreira contabilizava mais de 3


mil execuções, iniciou os procedimentos da execução de Damiens usando um
instrumento chamado "boots" que comprimia as pernas de modo extremamente
doloroso. Unhas arrancadas e cada osso das falanges feito em pedaços por
marretas. Em seguida, pinças afiadas aquecidas em uma fornalha foram
usadas para arrancar pedaços de carne da barriga e das costas de Damiens.

A aprovação da multidão era notória, representada pelas palmas e gritos


de motivação para os carrascos continuarem a execução e a tortura. O
espetáculo durou mais de quatro horas com o executor deixando a vítima
descansar e então recomeçando seu sangrento trabalho.

Com uma tenaz de aço, uma espécie de alicate, outro executor tirava
pedaços do corpo de Damiens, sendo estes parte da panturrilha, coxas e
barrigas, e por fim jogava aos cachorros, levando a multidão a externarem
extremo contentamento com o ato. Nos ferimentos de corte causados pela
tenaz de aço o carrasco derramava óleo fervente em cima.

Continuando a sessão de tortura, foi proposto que as extremidades de


Damiens fossem amarradas cada qual em um cavalo, e estes arrancariam de
forma brusca para arrancar as pernas e braços de uma só vez, exprimindo
enorme dor ao condenado. Entretanto, várias tentativas foram em vão.
Colocaram mais cavalos junto às extremidades, porém nenhum resultado foi
obtido. Os carrascos já estavam cansados da sessão, até que um deles,
chamado de Samson, pegou uma faca e cortou as coxas na junção com o
tronco e ordenou que os cavalos arrancassem. De pronto as coxas foram
arrancadas, sendo primeiro a direita e depois a esquerda. Como deu certo com
as coxas, o mesmo procedimento foi feito com os braços, obtendo os mesmos
resultados ora esperados.
Após ficar só o tronco e a cabeça, Damiens foi dado como morto,
entretanto, alguns acreditavam que ele ainda estava agonizando. Por fim, os
carrascos pegaram os membros do condenado e o seu tronco e jogaram à
fogueira, reduzindo tudo a cinzas, conforme constava no documento de
condenação expedido pelo parlamento.

2.3 Casa dos jovens detentos em Paris

A seguir Foucault aborda outra forma de condenação, bem diferente


daquela praticada à Damiens. O lapso temporal daquela e desta é de apenas
30 anos, o que indica uma justa evolução no sistema de execução penal.

Vários são os artigos do regulamento da Casa dos Jovens Detentos


apresentados por Foucault. Desde normativas dos horários que os detentos
devem cumprir, até a roupa que usarão em cada parte do dia.

A ideia do autor é comparar as formas de execuções da pena na França


no período apresentado. É evidente que os crimes são diferentes, dessa forma,
não sanciona, tampouco pune os mesmos gêneros de delinquentes. Porém,
leva o leitor a perguntar como que pode uma execução de pena como foi a de
Damiens e a dos detentos de Paris serem tão diferentes. O suplício foi um
castigo unicamente físico, enquanto que a pena dos jovens deliquentes, é mais
psicológica, ataca não só o corpo, mas também a alma.

2.4 Suplício x condenação da alma

Com o passar dos tempos, as punições dos condenados foi passando,


lento e gradualmente, dos castigos unicamente físicos, para uma pena com
certa discrição no sofrimento, de uma forma mais velada. As cerimônias de
suplício foram se extinguindo, como por exemplo, na França, em 1848, foi
completamente abolida.
Foi constatado que o suplício leva àquele que o executa ao mesmo
nível, se não pior, da pessoa ali condenada. Um grande assassino. A ideia da
existência da pena é que deve influenciar o homem quanto ao cometimento do
crime, e não o teatro da execução por si só.

Se, por algum motivo, a justiça tiver ainda que tocar no corpo dos
condenados, esta fará de longe, segundo rígidas regras e visando um objetivo
bem mais elevado. Para ajudar a justiça nesses casos, entram em cena os
médicos, psiquiatras, capelães, guardas, entre outros.

A Inglaterra foi um dos países mais engajados no cancelamento dos


suplícios, atrelada ao contexto evoluído do direito naquele país. A França
diminuiu consideravelmente os teatros do suplício, entretanto desenvolveu a
guilhotina, impondo ao condenado uma morte rápida. Foi buscado, no decorrer
do tempo, a mudança da forma da execução da pena, de forma que não se
centralizava tanto no suplício, no castigo físico, e sim na perda de um bem ou
de um direito, a exemplo que ocorre hoje em dia, na perda da liberdade quando
condenado.

A seguir, Foucault começa a explanar, indiretamente, os conceitos de


criminologia, quando ele cita que os crimes começam a ser julgados não
somente pelo fato, e sim as paixões, os instintos, as enfermidades, as vontades
do autor do delito. O objetivo da pena não mais se destina unicamente a
sancionar a infração, e sim controlar o indivíduo e neutralizar a sua
periculosidade. Ou seja, não apenas buscar, ao findar o inquérito, quem é o
autor do fato, e sim as circunstâncias e contexto que o levaram ao cometimento
do delito.

Outra evolução no sistema de execução penal abordada no livro é


quando o autor do crime comete o fato em estado de demência, loucura. Antes
pouco importava essa situação, ou seja, era julgado e punido conforme o delito
praticado. A França, em 1810, positivou esse condicionante ao afirmar que não
há crime quando for praticado em estado de demência. Para a época era
impossível declarar alguém como louco e culpado ao mesmo tempo.
Findando o capítulo é apresentada aos leitores a punição da alma, que
muitas vezes é pior que os castigos físicos. A alma é uma prisão por si só do
corpo humano. Nas prisões ocorreram diversas revoltas seja pela insalubridade
do local, miséria passada, seja pelos tratamentos recebidos pelos detentos.

2.5 Capítulo 2 – Ostentação do suplícios

Os suplícios não constituíam as penas mais frequentes, diante das


inúmeras condenações que aconteciam. As mais comuns era a pena de multa
e de banimento. Porém, mesmo estas, tinham algum tipo de sofrimento, a
saber: o banimento muitas vezes tinha marcação com ferrete no corpo do
condenado e a multa era aplicada com açoite ao condenado.

Foucault explana, a seguir, o conceito de suplício: é uma pena corporal e


dolorosa, mais ou menos atroz representado por um fenômeno inexplicável da
extensão da imaginação dos homens para a barbárie. Precisa produzir uma
certa quantidade de sofrimento, seja de forma rápida como as guilhotinas, seja
de forma lenta com o esquartejamento. O suplício objetiva, basicamente, duas
consequências: a de ser marcante para a vítima e ostentoso para o soberano,
demonstrando força para a população.

Naquela época os direitos e garantias individuas não existiam, ou eram


mínimos, o que refletia que o acusado não tinha acesso ao processo para
alinhar a sua linha de defesa, não conhecia também quem o acusava, entre
outros. Existiam as provas plenas, semiplenas e imperfeitas que alimentavam o
processo e tinham cada qual suas peculiaridades. Foucault destaca que
quando o acusado confessava o crime, estava automaticamente condenado,
pois este ato era considerado a mais forte das provas, alcançando, dessa
forma o objetivo do suplício que é “fazer brilhar a verdade”.

A barbárie que o condenado passava como consequência a sua morte


posterior refletia o cerne da justiça daquela época. Se o acusado morresse logo
em seguida do início do suplício indicava que Deus queria protegê-lo.

Foucault aborda a função jurídico-política do suplicio, pois além de


vingar o particular frente ao bem injuriado de terceiros, vinga também a
soberania do rei, manchada pelo desrespeito à lei. Por isso o suplicio abarcava
tantas pessoas: ele representa a justiça, o triunfo da lei frente ao delinquente.
Em outras palavras, a atrocidade de cada crime é correspondente com a
afronta ao soberano, e quanto mais atroz é um crime, mais forte será a sua
pena (tortura).

Nesta linha de raciocínio o objetivo do suplício, para a população civil,


era importante, pois demonstrava a reação do governo frente ao criminoso,
intimidando a todos para que não cometam o mesmo erro daquele
sentenciado. Pode-se dizer que tem, diante do contexto apresentado, um
caráter educativo. Mas também a população era atuante quando via que
injustiças estavam acontecendo, seja quando o carrasco extrapolava no
sofrimento ou simplesmente quando o acusado era inocente, a ponto que
perseguia o executor e liberava o condenado.

Por fim o autor expõe que o condenado tinha um tempo, antes do


suplício, para que autenticasse o seu crime, ou seja, assinasse a sua
confissão, para que a justiça fosse de fato justa com os homens.

3 SEGUNDA PARTE – PUNIÇÃO

3.1 Capítulo I – A Punição Generalizada

Durante a segunda metade do século XVIII, passam a ser encontrados,


em todas as partes, protestos contra os suplícios, e este se torna intolerável, é
capital que a justiça criminal puna ao invés de se vingar. Mesmo ao pior dos
assassinos, sua “humanidade” deve ser respeitada, e esta se transforma em
“medida” aos castigos. A organização interna da delinquência no século XVIII
modifica-se, os grandes bandos passam a se dissociar, pois se tornam mais
bem caçados, são obrigados a se agrupar em menor número, com operações
mais furtivas, e menores riscos de massacres. A justiça se torna mais rigorosa
com o roubo, cuja frequência relativa aumentou, e contra o qual converteu a
adotar ares burgueses de justiça de classe. Surge uma transição de uma
criminalidade de sangue, para uma criminalidade de fraude.

Os reformadores, em seus discursos críticos, atacavam na justiça


tradicional o excesso de castigo, que mais estava adjunto a uma irregularidade
que a um abuso de poder de punir. A irregularidade da justiça penal se deve à
multiplicidade das instâncias que estão encarregadas de realizá-la, sem se
constituírem de forma hierárquica e contínua, se neutralizam e são incapazes
de cobrir todo a sociedade. A falta de moderação do poder é o que ressalta da
crítica dos reformadores. Poder excessivo nas jurisdições inferiores, que
podem executar sentenças arbitrárias, enquanto o acusado se encontra
indefeso; poder excessivo aos juízes, à “gente do rei”, enfim, ao rei e suas
arbitrariedades. A disfunção do poder se origina de um “superpoder”
monárquico, que por vezes confunde o direito de punir com o poder pessoal do
soberano, ocasionalmente precipitado e severo.

O objetivo da reforma não é instituir um novo direito de punir, mais


equitativo, mas sim, estabelecer uma nova “economia” do poder de castigar, de
forma mais distribuída, sem que provenha de um excesso central privilegiado, e
também de uma partilha abundante entre as instâncias que se opõem. O direito
criminal reformado passaria a possuir uma estratégia para o remanejamento do
poder de punir, mais regular e eficaz. A reforma não possuiu uma origem única,
foi preparada por um grande número de magistrados a partir de objetivos que
lhes eram comuns, idealizaram um poder de julgar que fosse independente da
pretensão de legislar, possuindo apenas as funções de julgar, exercendo
integralmente esse poder. Durante todo o século XVIII, reforma criminal se
formula em seus objetivos principais: punir com mais universalidade e
necessidade, e inserir extraordinariamente no corpo social o poder de punir.

No Antigo Regime, as camadas sociais tinham, cada uma, sua margem


de ilegalidade tolerada. Os estratos sociais mais desfavorecidos não possuíam
prestígios, mas desfrutavam, no que lhes compeliam as leis e os costumes, de
margens de segurança que lhe eram indispensáveis, e as tentativas de reduzi-
las provocavam agitações populares do mesmo modo que as tentativas de
redução de prestígios agitavam a nobreza, o clero e a burguesia. Havia uma
ambiguidade nas atitudes populares: por um lado o criminoso usufruía de uma
valorização espontânea, mas por outro lado tornava-se tranquilamente objeto
de um ódio particular. Na segunda metade do século XVIII, a ilegalidade
popular passou a ter como principal alvo não mais os direitos, mas os bens,
tornando-se, portanto, necessário punir, de modo que as infrações sejam bem-
definidas e castigadas com segurança. É imprescindível que se defina uma
estratégia e técnicas de punição em que uma economia da continuidade e da
permanência substitua a da despesa e do excesso. A reforma penal nasceu da
união entre a luta contra o superpoder monárquico e o infrapoder das
ilegalidades conquistadas e toleradas. Um sistema penal deve ser entendido
como uma ferramenta para controlar diferencialmente as ilegalidades, e não
para cassar a todas.

As razões essenciais da reforma penal no século XVIII são as de


constituir uma nova economia e uma nova tecnologia no poder de punir. A
estratégia é formulada na teoria geral dos contratos. O cidadão aceita as leis
da sociedade, inclusive as que poderão puni-lo. O criminoso então, se figura
como um traidor do pacto, sendo portanto um inimigo da sociedade inteira, pois
o menor crime já ataca todo o corpo social e, toda a sociedade, até mesmo o
criminoso, está presente na menor punição. Surge então o problema na
“medida” e da economia do poder de punir, deslocou-se da vingança do
soberano à defesa da sociedade, é a volta de um terrível superpoder, e com
ele, a necessidade de colocar um princípio de moderação ao poder do castigo.
O princípio moderador das penas, mesmo quando se trata de punir um inimigo
comum a toda a sociedade, se articula como um discurso do coração, o cálculo
penal deve ser feito entre o princípio contratual que rejeita o criminoso para
fora da coletividade e a imagem do monstro expulso da natureza, encontrando
um limite na sensibilidade do homem razoável que faz a lei e não comete
crimes. O corpo a se respeitar não é na verdade o do criminoso a ser punido,
mas os dos homens que, tendo firmado o pacto, possuem o direito de exercer
contra ele o poder de se unir.

O que é necessário moderar e calcular são os efeitos de retorno do


castigo sobre a instância que pune e o poder que ela aspira exercer.
“Humanidade” é o nome dado a essa economia e a seus cálculos minuciosos.
O prejuízo que um crime traz ao corpo social é a desordem que implementa
nele, a proporção entre a pena e a qualidade do delito é estipulada pela
influência que o pacto violado possui sobre a normal social. A influência de um
crime não está proporcionado à sua atrocidade, e por isso, não deve se
procurar exercer uma relação qualitativa entre o crime e a sua punição, em
uma equivalência de horror. O cálculo da pena deve ser feito não em razão do
crime, mas de sua possível repetição, de modo a visar a ordem futura.

A semiotécnica com que se visa armar o poder de punir repousa sobre


cinco ou seis regras. Regra da quantidade mínima: Um crime é cometido
porque trás vantagens, é fundamental admitir uma proximidade da pena e do
crime, havendo mais interesse em evitar a pena que em arriscar o crime. Regra
da idealidade suficiente: A punição não precisa utilizar o corpo, mas a
representação, e esta deve ser maximizada, e não sua realidade corpórea.
Regra dos efeitos laterais: Os efeitos da pena devem ser maiores naqueles que
não cometeram o crime. A escravidão perpétua é a pena economicamente
ideal pois causa no espírito social a impressão mais eficaz e durável, e
simultaneamente a menos cruel sobre o corpo do culpado. Regra da certeza
perfeita: É basilar que à ideia de cada crime e das vantagens ofertadas por ele,
estejam ligadas a ideia da punição e das desvantagens resultadas dele. Se a
população perceber que o crime pode ser perdoado, nutre-se nela a esperança
da impunidade, se torna essencial que as leis sejam inexoráveis e os
executores inflexíveis, além disso, os processos devem ser abertos a todos
aqueles que se interessem pelo destino dos condenados. Regra da verdade
comum: O julgamento judiciário deve ser homogêneo ao julgamento puro e
simples, e a verdade do crime só poderá ser admitida estando totalmente
comprovada, enquanto isso, o acusado deve ser visto como inocente. Regra da
especificação ideal: Para que a semiótica penal recubra todo o campo das
ilegalidades, todas as infrações devem ser qualificadas, classificadas e
reunidas em um código que fixa as penas. A nocividade de um delito entretanto
não é a mesma de acordo com o estrato social do infrator, e por isso, uma vez
que o castigo visa impedir a reincidência, este deve considerar o que é o
criminoso em sua profunda natureza.

A partir desse entendimento pode-se constatar a necessidade da


individualização das penas, em conformidade com as características singulares
de cada criminoso. Significaria disseminar, em todo o corpo social, sinais de
punição perfeitamente ajustados, sem excessos nem faltas, é o objetivo
terminal de um código bem-adaptado. Maneiras de individualização estavam,
no fim do século XVIII, se formando, de maneira ainda muito rudimentar,
surgindo no primeiro instante a noção de reincidência, de forma que os
reincidentes passassem a ser passíveis de ter a pena dobrada.

O pensamento dos ideólogos não foi apenas uma teoria do indivíduo e


da sociedade, se fortaleceu em oposição aos gastos deslumbrantes do poder
dos soberanos, é a substituição da semiotécnica punitiva por uma nova política
do corpo quanto a arte de se punir.
3.2 Capítulo II – A MITIGAÇÃO DAS PENAS

A arte de se punir deve se sustentar sobre uma tecnologia da


representação. Encontrar para um crime o castigo que convém é encontrar a
desvantagem qual torne definitivamente sem atração a ideia do delito, e para
isso funcionar, deve-se obedecer a várias condições: 1) Ser o menos arbitrário
possível, se o objetivo é que a punição possa se apresentar, facilmente, ao
espírito assim que se imagina o crime, é necessário dar à pena toda
conformidade possível com a natureza do delito. 2) O jogo de sinais deve
corresponder à mecânica das forças, é preciso fazer com que a representação
da pena e suas desvantagens seja mais viva que a do crime e seus prazeres.
3) É imprescindível a utilidade da modulação temporal, a pena organiza
obstáculos, e o papel da duração deve estar aliado à economia da pena. 4)
Do ponto de vista do condenado, a pena é uma mecânica dos sinais, dos
interesses e da duração. É preciso que não haja mais a penas ostensivas
porém inúteis, e as penas secretas. O ideal seria que o condenado passasse a
possuir caráter de propriedade rentável, um objeto de apropriação coletiva e
útil, através, por exemplo, de obras públicas, o castigado pagaria pelo trabalho
que fornece e pelos sinais que produz. 5) É fundamental a sábia economia da
publicidade, na punição haverá a leitura das próprias leis. O malfeitor é
separado da sociedade em uma cerimônia de luto, a sociedade que recuperou
suas leis, perdeu o cidadão que as violou. O luto deve ser claro para todos de
forma a demonstrar a necessidade da punição e a justificar sua medida. O
criminoso deve ser concebido como elemento de instrução, e é indispensável
que seja permanente a visibilidade de seu castigo. 6) Pode se inverter na
sociedade o tradicional discurso do crime, desta forma, o crime só pode
aparecer como uma desgraça e o malfeitor como um inimigo a quem se
reeduca a vida social.

Se é banido o ideal de uma pena uniforme, modulada apenas pela


gravidade de falta, e a duração como único princípio de variação. O trabalho de
privar alguém de sua liberdade e vigiá-lo na prisão é um exercício de tirania. A
prisão é incompatível com a técnica da pena-representação, é a escuridão, a
violência e a suspeita, o problema é que esta ocupa quase todo o campo das
punições no Código Penal de 1810. O teatro punitivo da representação do
castigo à sociedade, é substituído por uma grande arquitetura fechada que se
integra no próprio corpo do aparelho do Estado.

O princípio das penas específicas se transformou em lei de


detenção para qualquer infração se a mesma não merecer a morte, a
diversidade se reduz a essa penalidade imutável e melancólica. A prisão não é
concebida como uma pena no direito civil, seu papel é de ser uma garantia
sobre a pessoa e sobre o corpo, é ainda menos qualificada pois está
diretamente atada ao arbítrio real e aos excessos advindos do poder soberano,
é incompatível com uma boa justiça, comunica e generaliza o mal que deveria
prevenir e contraria o princípio da individualização da pena.

No havido questionamento sobre de qual forma a detenção em


tão pouco tempo se tornou uma das formas mais gerais dos castigos legais, a
explicação mais reiterada é a formação durante a época clássica de alguns
grandes modelos de encarceramento punitivo. Seu prestígio advém dos anglo-
saxões, se apresentam certos pontos em comum com os princípios gerais da
reforma penal, em muitos outros pontos são inteiramente heterogêneos a ela, e
até incompatível.

A duração da pena só passa a possuir sentido em relação a uma


possível correção e a uma utilização econômica dos criminosos corrigidos. O
princípio do trabalho possui, como condição essencial para a correção, o
isolamento. O isolamento constitui “um choque terrível”, a partir do qual o
castigado pode escapar das más influências, recomeçar e redescobrir o bem.
O trabalho não reformará simplesmente o jogo de interesses, mas também os
imperativos do indivíduo moral, um lugar para transformação e devolução ao
Estado dos indivíduos que este havia perdido. Recebe a denominação de
“reformatório”, é o encarceramento com a finalidade de transformação da alma
e do comportamento, se insere, finalmente, no sistema das leis civis. A duração
do encarceramento pode variar de acordo com o comportamento do
condenado, os inspetores da prisão obtém das autoridades o perdão para os
detentos que se comportarem bem.
Se a condenação e suas justificativas devem ser conhecidas do público,
a execução da pena, entretanto, deve ser feita em segredo. É o fim dos
espetáculos de rua como a imposição de condenados a obras públicas. O
castigo e sua correção são processos que alongam entre o prisioneiro e
aqueles que o vigia, esse controle e essa transformação são acompanhados da
formação de um saber dos indivíduos, e durante todo o tempo de detenção o
punido deve ser observado. Esse conhecimento dos indivíduos permitem
reparti-los na prisão, existe uma seção especial para aqueles cujo
temperamento ainda não é trivial. A prisão funciona como um aparelho de
saber.

Entre esse aparelho punitivo, os chamados “reformatórios” e todos os


outros castigos imaginados pelos reformadores, estabelecem-se pontos de
convergência e disparidade. De início, se apresenta o retorno temporal da
punição, os “reformatórios” são dispositivos voltados para o futuro e
organizados para bloquear a repetição da infração. Não se pune para excluir o
crime, mas sim, para transformar o culpado. Os modelos anglo-saxões utilizam
processos para singularizar a pena, o sistema das penas deve estar acessível
às variáveis individuais. Em seu esquema geral, não está em contradição com
o que propunham os reformadores, onde se faz a diferença é no procedimento
de acesso ao indivíduo e não na maneira como ela se insere no interior do
sistema do direito.

O método dos reformadores aplica técnicas na medida em que o corpo é


objeto de representação, a correção deve realizar o processo de requalificação
do indivíduo como um sujeito de direito. O aparelho da penalidade corretiva
age de maneira diversa, o ponto de aplicação da pena não é a representação,
é o corpo, o tempo. O corpo e a alma formam o elemento proposto à
intervenção punitiva, o que se procura reconstruir é o sujeito obediente. Duas
maneiras distintas, portanto, de se reagir à infração, reconstituir o sujeito
jurídico ou formar um sujeito de obediência à forma de um poder. O que se
engaja no aparecimento da prisão é a institucionalização do poder de punir, a
punição é uma técnica de coerção dos indivíduos.
4 TERCEIRA PARTE – DISCIPLINA

4.1.1 Capítulo I - Os Corpos Dóceis

No início do século XVII havia a figura ideal do soldado com sinais


naturais de vigor. Já na segunda metade do século XVIII, passou a ser visto
como algo que se fabrica. Surge o esquema de docilidade do corpo, através do
exercício e da coerção ininterrupta. Disciplinas eram tratadas como fórmulas
gerais de dominação. Nasce uma arte do corpo humano. De transformação e
aumento de habilidades, mais obediente e mais útil. Uma maquinaria que
esquadrinha, desarticula e recompõe, fabricando assim corpos dóceis.

Não é só o corpo, mas a mente também que segue a mecânica do poder


– anatomia política do detalhe (disciplina). É encontrada em processos muitas
vezes mínimos, que se repetem, imita e se apoiam uns sobre os outros, entram
em convergência definindo a fachada de um método. Tudo aquilo que serve
para estruturar a organização militar. Hoje está nos colégios, escolas e
hospitais. Pequenas astúcias dotadas de grande poder de difusão. O detalhe
passa ganhar posição de destaque e importância no nascimento do homem do
humanismo moderno.

4.1.2 A arte das distribuições

A distribuição espacial procede da disciplina que exige, às vezes, o


cercamento dos indivíduos. A exemplo disso tem-se o regime de internato
proposto nos modelos de convento e os quartéis, também adotados em
fábricas no século XVIII – sirene para fechamento dos portões, exploração do
máximo potencial produtivo e a liberação ao final com a abertura dos portões.

Além do enclausuramento, que nem sempre é constante, é adotado


também o quadriculamento – separação dos indivíduos do grupo, cada um no
seu espaço com controle individual.
A determinação de locais funcionais se faz presente utilizados não
somente para vigiar, mas para dividir o espaço com rigor.

A distribuição da vigilância fiscal e econômica precedem registros


médicos: registros, caixas, número de doentes, identificação de leito, consulta
durante visita, isolamentos, leitos separados. Um espaço administrativo e
político se articula em espaço terapêutico. Nasce a disciplina do espaço útil do
ponto de vista médico. Nas fábricas surge a figura da distribuição dos postos.
Uma série de quadriculamento permanente utilizados para desfazer as
confusões, dividir o a produção e se articular de forma que o trabalho individual
(corpos singulares), isolado, componham fases e estágios de maneira vigorosa,
rápida, hábil e constante.

Os elementos passam a ser intercambiáveis, definidos pelo lugar que


ocupa na série e pela distância que o separa dos outros – na fila (classificação,
um número, ponto que cruza uma linha e uma coluna). A disciplina, a arte de
por em fila e da técnica para a transformação dos arranjos. Nas escolas, filas
de alunos na sala, corredores, nos pátios. Colocação atribuída a cada tarefa e
a cada prova. Divisão por idade, altura, desempenho. De acordo com o
alinhamento obrigatório e dada a posição na fila. Movimento perpétuo onde os
indivíduos substituem uns aos outros. Surge a organização do espaço serial
que permite, através da atribuição de lugares (marcados), controlar cada um e
o trabalho simultâneo de todos. Organizou assim uma nova economia do
tempo.

A disciplina transformou multidões confusas, inúteis ou perigosas em


multiplicidade organizada. Há a necessidade então de classificar todos e tudo
em quadros racionais, uma técnica de poder e um processo de saber.
Organizar o múltiplo, obter um instrumento para percorrê-lo e dominá-lo –
impor ordem. Uma microfísica de um poder que poderíamos chamar de celular.
4.1.3 Controle da atividade

O controle do horário que desde as comunidades monásticas foi


difundido determinante para outros três processos: cesuras (divisões rítmicas),
ocupação das funções, determinar os ciclos de repetição. É evidenciado nas
casas de educação e no rigor do tempo industrial o que acarreta num
quadriculamento cerrado do tempo. Procura-se também garantir a qualidade do
tempo empregado através da fiscalização – evitar perturbações e distrações.

A elaboração temporal do ato também é controlada (cadência, duração).


Gesto e atitude global são postos em correlação como corpo. O controle aqui é
no bom emprego do corpo. Nada deve ficar ocioso ou inútil. O contexto é de
realização com o mínimo gesto. Da articulação corpo-objeto, a disciplina define
a relação que o corpo deve manter como objeto que manipula. Uma
codificação instrumental do corpo, uma sintaxe forçada que os teóricos
militares do século XVIII chamavam de manobra. Constituição do complexo
corpo-arma, corpo-instrumento, corpo-máquina. A utilização exaustiva segue o
princípio da não-ociosidade. Numa utilização sempre crescente do tempo
(extrair do tempo instantes disponíveis).

4.1.4 A organização das gêneses

Trata-se de uma nova técnica para a apropriação do tempo das


existências singulares, de forma a reger as relações do tempo, dos corpos e
das coisas; para realizar uma acumulação da duração; inverter em lucro ou em
utilidade sempre aumentados o movimento do tempo. Possui quatro processos
utilizados com clareza em organizações militares.

A primeira refere-se à divisão da duração dos segmentos, sucessivos ou


paralelos (ex. ensinar a postura, depois a marcha e só na sequência o manejo
de armas e tiro). É um erro mostrar ao soldado todos os exercícios ao mesmo
tempo.
A segunda relaciona-se à organização dessas sequências conforme um
esquema analítico de complexidade crescente, aumentando progressivamente
a força e a habilidade do soldado.

Fixar-lhes uma avaliação é trazido como terceira etapa. Tem função de


indicar se o soldado atingiu o nível estatutário, garantir a conformidade da
aprendizagem e diferenciar as capacidades de cada indivíduo.

Em quarto lugar, estabelecer séries de séries, prescrevendo exercícios


de acordo com o nível e capacidade. O exercício permite uma perpétua
caracterização do indivíduo realizando, com base na continuidade de coerção,
o crescimento, uma observação, uma qualificação.

4.1.5 A composição das forças

Inicialmente havia a cultura do modelo físico da massa. Uma tropa era


usada como projétil, muro ou fortaleza. Com o decorrer da época clássica a
organização da tropa passou a ser um jogo de articulações minuciosas. Houve
a divisão em unidade (regimento, batalhão, seção, divisão).

A influência econômica foi mais determinante com o desenvolvimento


tecnológico: invenção do fuzil. Ocasionou dessa maneira o desaparecimento da
técnica das massas, distribuindo homens ao longo de linhas flexíveis e móveis.

Surge assim uma nova disciplina voltada a atender uma nova exigência
de construir uma máquina com efeito máximo utilizando a combinação das
peças elementares (soldados). Antes da honra e da coragem, o soldado é
agora um fragmento de espaço móvel, uma peça em operações determinadas.

Sem dúvida o ajustamento das singulares é mais útil na mais tenra


idade. No começo do século XIX surge o método Lancaster, em que é confiado
aos alunos mais velhos as tarefas simples de fiscalização, de controle do
trabalho e de ensino. No fim todos estavam ocupados ensinando ou
aprendendo. Essa combinação cuidadosamente medida das forças exige um
sistema preciso de comando. A ordem não tem que ser explicada, deve apenas
provocar o comportamento desejado, obediência pronta e cega. Quanto à
indocilidade, o menor atraso seria um crime.
4.2 Capítulo II

4.2.1 Os recursos para o bom adestramento

O sucesso do poder disciplinar se deve: ao olhar hierárquico, à sanção


normalizadora e sua combinação num procedimento de exame.

4.2.2 A vigilância hierárquica

A disciplina hierárquica supõe um dispositivo em que as técnicas que


permitem ver induzam efeitos de poder e onde os meios de coerção tornem-se
presentes de maneira evidente. Um modelo ideal seria um acampamento
militar. Local onde a cidade é apressada e artificial, construída e remodelada
conforme vontade, de um poder intenso, mas discreto por ser exercido sobre
homens armados. Seria um jogo de vigilância exata, o quadriculamento
finamente definido, de encarceramento e do fechamento.

O modelo também pode ser visto no ambiente hospitalar, em que o


paciente “preso” é constantemente isolado, supervisionado e controlado pela
equipe médica. Também é presenciado no ambiente das manufaturas, com
controle intenso dos inspetores e encarregados.

Vigiar torna-se uma função definida, um operador econômico decisivo


como parte interna do sistema de produção e uma engrenagem específica do
poder disciplinar. Funciona como uma máquina.

4.2.3 A sanção normalizadora

Na essência de todos os sistemas disciplinares, funciona um pequeno


mecanismo penal – espécie de privilégio de justiça – e também, a título de
punição, uma série de processos sutis, que vão do castigo leve a privações
ligeiras e pequenas humilhações. Trata de tornar penalizável as frações mais
tênues da conduta. O castigo disciplinar tem a função de reduzir os desvios,
portanto deve ser essencialmente corretivo.

A punição, na disciplina, compõe-se de um sistema dupla: sanção-


gratificação. Em primeiro lugar à qualificação dos comportamentos e dos
desempenhos atribuindo valores bons ou maus. É possível, além disso,
estabelecer uma contabilidade e uma economia traduzida em números. Trata-
se de uma microeconomia de uma penalidade perpétua, diferenciando a
natureza dos indivíduos, suas virtudes, nível ou valor.

A divisão segundo as classificações ou graus tem o papel duplo de


castigar e recompensar. A disciplina recompensa unicamente pelo jogo das
promoções que permitem hierarquias e lugares, e pune rebaixando e
degradando.

Opondo-se à punição disciplinar, a penalidade jurídica tem a função


essencial de tomar por referência um corpo de leis e textos (especificar atos
em categorias) e não de diferenciar indivíduos.

4.2.4 O exame

O exame combina as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção


que normaliza. É um controle normalizante, uma vigilância que permite
qualificar, classificar e punir. Estabelece uma visibilidade através da qual são
diferenciados e sancionados, por isso o dispositivo é altamente ritualizado.

Na medicina, no fim do século XVIII, o hospital foi organizado de


maneira a examinar. O ritual da visita é uma de suas formas mais evidentes.
Havia regulamentos que determinavam os horários de visita aos quais se devia
obediência.

A escola torna-se uma espécie de aparelho de exame ininterrupto que


acompanha todo o seu comprimento a operação do ensino. Haviam cada vez
menos repreensão por indocilidades e mais comparação perpétua de cada um
com todos, que permite ao mesmo tempo medir e sancionar.
Na época das guerras napoleônicas, eram realizados repetidamente
inspeções e repetições nos exércitos marcando o de um imenso saber tático.

4.3 Capítulo III

4.3.1 O Panoptismo

No período da Peste Negra, a inspeção funciona constantemente. Há


um olhar alerta em toda a parte. Corpos de guardas vigiam nas portas, na
prefeitura e em todos os bairros para tornar mais pronta a obediência do povo,
e mais absoluta a autoridade dos magistrados. Todos os dias intendentes
visitam os quarteirões e síndicos fiscalizam a população local.

Essa vigilância se apoia num sistema de registro permanente. Ela


também prescreve cada um seu lugar. Há um sonho político por trás da peste:
divisões estritas, penetração do regulamento até os mais finos detalhes da
existência através do funcionamento capilar do poder. Ela suscitou muitos
esquemas disciplinares o que também ocorreu com a lepra.

Surge a figura do Panóptico de Bentham. Uma composição arquitetural


baseada no princípio da vigilância constante. Constituída por uma torre central
(fiscalizadores) cercada por celas vigiadas dia e noite. Essa estrutura tem o
intuito de induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade
que assegura o funcionamento automático do poder, mesmo que não seja
constante.

O Panóptico, por outro lado, pode ser usado também como máquina de
fazer experiências, modificar comportamentos, treinar ou retreinar os
indivíduos. Pode ainda constituir-se de aparelho de controle sobre seus
próprios mecanismos. Em sua torre de controle, o diretor pode espionar todos
os empregados que tem a seu serviço: enfermeiros, médicos, contramestres,
professores, guardas; e poderá julgá-los continuamente, modificar seu
comportamento, impor-lhes métodos que considerar melhores e ele mesmo por
sua vez poderá ser facilmente observado. Funciona também como laboratório
de poder. É na realidade uma figura de tecnologia política que se pode e se
deve destacar qualquer uso específico.
Para se exercer, esse poder deve adquirir o instrumento para uma
vigilância permanente, exaustiva e onipresente, capaz de tornar tudo visível,
mas com a condição de se tornar ela mesma invisível. Considerando a
realidade vivida em Paris no século XVIII, deve-se montar uma rede
hierarquizada de inspetores, depois de observadores, fiscalizadores pagos, na
sequência os denunciadores e enfim as prostitutas. Essa incessante
fiscalização é um exemplo de estrutura panóptica.
5 QUARTA PARTE - PRISÃO

5.1 Capítulo I - Instituições completas e austeras

A quarta parte do livro de Michael Focault aborda a prisão sob três


prismas, a Instituição, Ilegalidade e delinquência e o Carcerário. Fora isso,
existe uma grande quantidade de informações sobre a origem dos documentos
em que foram retirada informações para compor essa parte do livro.

Uma abordagem do livro permeia sobre os mecanismos punitivos e


repressivos, avaliando seus prós e contras e sua eficácia no papel social. Um
desses mecanismo consiste na privação da liberdade, que segundo JOSEFA
DO ESPIRITO SANTO MENEZES, existem relatos de cativeiros desde 1700 a.
C para o povo do Egito mantivessem seus escravos em custódia. Não era
aplicada como pena privativa nos moldes atuais.

Até o final do século XVIII a prisão servia para conter os réus até o
momento a serem julgados ou executados. Dessa maneira percebe-se que o
encarceramento configurava-se tortura, como se fosse uma punição e não uma
pena de fato. De fato, essa tortura espalhava o terror coletivo, sem uma
construção arquitetônica de uma penitenciária, e sim em calabouços, palácios
e nas fortalezas, onde variáveis individuais , como gênero e idade esperavam o
fim de suas vidas sem qualificação.

Depois de Beccaria a pena de morte passou a ser abolida, ou não


aplicada, fora isso as penas corporais foram desaparecendo aos poucos,
dando lugar as penas privativas de liberdade. Foi nessa fase histórica, que
presídios começaram a ser construídos e denominou-se como instituições
prisionais.

O conceito explorado por Foucault sobre prisão entende-se por pena


das sociedades modernas, ou civilizadas. De maneira formalizada, o estado
tem caráter igualitário pois pela perda da liberdade, penaliza a todos da mesma
forma. Uma forma de ponderar em número a pena consiste no provimento de
recursos financeiros ao detento. Isso pode ser visto como reparação . Isso tem
objetivo do condenado, ao ser retirado seu tempo, em tese, pagar sua dívida
com a sociedade.

Para esse teórico, quanto mais forem os direitos retirados, mais


disciplinado o individuo será. Por exemplo, o isolamento, gera solidão que pode
ser uma condição de submissão. O trabalho penal, tais como lavanderia,
preparação e distribuição de almoços entre outros devem ser vigiados
constantemente, para remoldar o ser, a fim de mecanizá-lo, a exemplo do
homem figurado no filme Tempos Modernos de Charles Chaplin. Esse método
para Foucault é a requalificação do criminoso em operário, em indivíduo-
máquina, como se retirassem a alma do ser.

Essa solução não serve apenas para substituir o suplício, mas


também como dispositivo de controle social que falha, pois não diminui a
delinquência e aumenta a reincidência. A prisão não devolve indivíduos
corrigidos, mas mais perigosos comparados ao tempo em que entraram lá. O
carcerário torna legalizado esse poder de punição, assim como o poder-técnico
da disciplina. Ela serve como poder normalizador do estado.

Diante disso Foucault afirma que existem três princípios primordiais para
que a penitenciária tenha os efeitos desejados, são eles: Princípio do
Isolamento, do Trabalho e Modulação da pena.

No primeiro, o isolamento confere ao condenado a possibilidade de


reflexão, pois afastados do mundo exterior e de outros detentos, entraria em
confronto de ideias consigo mesmo.

No segundo, o trabalho age com catalisador e modifica ações


comportamentais transformando aquele individuo em uma peça, como em uma
máquina, a fim de estabelecer um zelo por parte do condenado e reafirmar sua
regeneração. Esse trabalho não deve ser considerado com bases produtivas
em que se beneficia aquele mais produtivo, haja vista que no livro Foucault
afirma que o mais perversos dos criminosos podem ser também os mais
produtivos e isso não pode ser levado em consideração e sim, a regularidade
com que ele exerce seu trabalho, de maneira pacifica e ordeira durante
bastante tempo.

Por último, a modulação da pena não serve para pagar a infração


cometida, mas deve durar o tempo necessário para correção do indivíduo
condenado, portanto ela deve variar de acordo com ato e as circustâncias do
caso concreto.

O autor afirma que a prisão deve possuir mecanismo autônomo para


controlar as consequências da punição, através de fiscais, um diretor, um
sacerdote ou professor, para exercer uma função corretiva. Com isso, Charles
Lucas (citado no livro) queria que ocorresse a Vigilância e também conhecer
cada detento, a fim de analisar seu comportamento e ver a progressão de
melhora.

Defende também que a prisão não deve simplesmente cumprir a decisão


do judiciário, mas deve também, coletar informações do detento para que
ocorra de fato sua reinserção na sociedade.

Essa abordagem é vista à luz da criminologia, pois não trata o detento


apenas como infrator , considerando apenas seu ato, mas também como
delinquente, ou seja, um homem que agiu contrariamente as leis. Isso
caracteriza um estudo do criminoso, sua biografia e sua real condição para
então modular a pena. Pode-se fazer uma correlação, a justiça penal enxerga o
indivíduo como infrator e o sistema penitenciário o enxerga como delinquente.
5.2 Capítulo II – ilegalidade e delinquência

Nesse capítulo Michel Foucault explora as técnicas penitenciárias


aplicadas e seus reais efeitos. Ao fazer um texto narrativo a cerca de uma
história do crime de Delacollonge ( que cortou em pedaços sua amante
grávida), evidencia-se características no transporte que o levara a Paris, que
sofrera ódio, insultos e humilhação do povo que o expectava. Segundo o livro,
isso fazia parte do seu castigo. Era a última cadeia, que se relacionava com os
suplícios públicos.

Em 1837, elaborou-se uma “carruagem panóptica” para evitar que tais


situações ocorressem, haja vista o caráter inútil de instrução para a população.
Nesse modelo de carruagem, não existia janelas, apenas basculante para
ventilar o ar, os detentos ficavam em selas distintas e presos e vigilância
constante dos dois guardas. Eis a carruagem celular, como aparelho de
reforma.

Não seguindo uma cronologia exata, as críticas ao sistema penitenciário


surgem precocemente, e infelizmente são permanentes até hoje. Uma delas é
que as prisões não diminuem a taxa de criminalidade, outro que a detenção
provoca reincidência. Fora isso, Foucault afirma que a prisão fabrica
delinquentes pois quando não existe trabalho, ou se esse seja inútil dentro da
penitenciária, faz com que o homem não se integre a “maquina” e o abuso de
poder de maneira arbitrária da administração dá mais elementos para o
indivíduo continuar ou transformar-se num delinquente contumaz. Outro ponto
que o autor retrata, confere na constituição da organização dos criminosos, que
mutuamente se ajudam e formam hierarquia para cumplicidades futuras: nasce
o crime organizado, que nesse meio pode recrutar novos integrantes, jovens
que estão ali pela primeira condenação.

Nesse capítulo, aborda que uma “boa penitenciária” deve obedecer sete
princípios que se misturam aos princípios centrais citados no capítulo anterior:
o da correção, da classificação, modulação das penas, trabalho como
obrigação e como direito, educação penitenciária, controle técnico da detenção
e das instituições anexas.
No princípio da Correção, deve-se priorizar a transformação do
indivíduo. No da classificação, os detentos devem ser isolado de acordo com
gravidade do ato, já na modulação das penas deve-se adequar segundo o
progresso do detento. O do trabalho e educação são auto explicativos e por fim
o controle técnico assume que o estado deve controlar os detentos com
pessoal especializado com capacidades morais e técnicas para zelar pela
reformação do indivíduos.

Deixa-se de lado a utopia e volta-se a realidade, qual seria a real


utilidade do fracasso prisional? Foucault afirma que a função da pena não visa
suprimir a infração , mas apenas diferenciar um ato inflacionário de outro. Ou
seja, regular a Ilegalidade, através de uma “economia ilegal”. Dando margens à
uns tipos de crimes, e restringindo-a para outros.

Para Foucault, a delinquência pode ser um mecanismo para ilegalidade


de grupos dominantes. Ou seja, o tráfico de drogas, armas e cigarros geram,
em torno dela práticas ilegais, bem lucrativas. E por tal motivo, continuada, e
bem estruturada a ponto de organizações criminosas possuírem verbas para
financiar a infiltração no meio de políticos, empresas, poder judiciário e nas
polícias para trabalharem a seu favor.
5.3 Capítulo III– o carcerário

Nesse desfecho do livro, Foucault disserta sobre as consequências do


arquipélago carcerário, que transporta essa técnica de vigiar e punir , da
instituição penal para o corpo social inteiro. Ou seja, essas representações de
de vigia e vigiado, com intuito de manter a disciplina é vista em quase todas as
instituições contemporâneas. Seja na Igreja, onde o diretor do cárcere “Deus”
pune o fiel pecador, na escola a figura do bedel aonde a baixa nota ou
indisciplina levará o aluno a reprovar ou ser expulso e também nas fábricas,
onde o supervisor fiscaliza a linha de produção.

Alias, segundo Foucault, o delinquente é produto desse sistema e a


criminalidade não nasce nas margens, mas sim pela inserção de regras cada
vez mais rigorosas, sob vigilâncias mais insistentes e por coerções cada vez
mais disciplinares.

Há de se ressaltar que através da implementação da sociedade do


cárcere, o direito de punir sai da arbitrariedade dos reis e torna-se legal, e
juntamente com as demais instituições acostuma o ser humano a ser punido e
a tornar-se dócil. Com intuito do sistema não parar de funcionar. Ou seja, não
existe lado de fora ou lado de dentro do sistema carcerário, todos nós estamos
dentro desse sistema, porém nem todos passam por todas as instituições. No
caso a prisão é apenas a última das instituições disciplinares, ou seja, uma
continuação natural.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O grupo percebeu como importante a leitura desse livro para um


entendimento histórico da criminologia, disciplina abrangente que
envolve aspectos psicológicos, econômicos e sociais. Aonde percebeu-
se a real situação do sistema penitenciário, de algumas razões para
certos procedimentos e muitas dúvidas referente ao que se esperar da
próxima evolução na sociedade, tanto no tocante ao sentido jurídico
tanto no sentido abstrato que Vigiar e Punir nos trás.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad. Lígia M.


Ponde Vassalo. Petrópolis: Vozes, 2009.

AMARO, Rolf. Vigiar e Punir: Instituições Completas e Austeras


Disponível em: < http://resumodaobra.com/michel-foucault-vigiar-punir-prisao-
instituicoes-completas-austeras/ >. Acesso em: 22 maio 2018.

História das Prisões Disponível em


:<hhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,panorama-historico-das-
prisoes,47337.html >. Acesso em: 22 maio 2018.

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