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415e-1

SEÇÃO 3 OBESIDADE, DIABETES MELITO E SÍNDROME METABÓLICA


que os adipócitos intra-abdominais têm maior atividade lipolítica do que os

415e BBiologia da obesidade


Jeffrey S. Flier, Eleftheria Maratos-Flier
Je
dos outros depósitos. A liberação dos ácidos graxos livres para a circulação
portal tem efeitos metabólicos adversos, sobretudo no fígado. Adipocinas e
citocinas que são diferencialmente secretadas por depósitos de adipócitos
podem desempenhar um papel nas complicações sistêmicas da obesidade.
Em m umm mundoo onde a oferta de alimentos é intermitente, a capacidade de
armazenar
arma
ar aze n r energia acima das necessidades imediatas é essencial à sobrevi-
z na PREVALÊNCIA
vênciaia. As células adiposas, residindo
ia
vência. re em depósitos de tecido adiposo am- Dados do National Health and Nutrition Examination Surveys (NHA-
pplamente
pl am
mente dispersos, são adapt
adaptadas para armazenar o excesso de energia, de NES) indicam que a porcentagem da população norte-americana adulta
maneira eficiente, como triglicerídeos e, quando necessário, liberar a ener- com obesidade (IMC > 30) aumentou de 14,5% (entre 1976 e 1980) para
gia armazenada como ácidos graxos livres para uso em outros locais. Esse 35,7% (entre 2009 e 2010). Até 68% dos adultos norte-americanos com
sistema fisiológico, coordenado por vias endócrinas e neurais, possibilita 20 anos de idade ou mais tinham sobrepeso (definido como IMC > 25)
ao ser humano sobreviver à fome por até vários meses. No entanto, na pre- entre 2007 e 2008. A obesidade extrema (IMC ≥ 40) também aumentou e
sença de alimentos abundantes e um estilo de vida sedentário, bem como atinge 5,7% da população. O aumento da prevalência de obesidade clínica
sob a influência significativa da constituição genética, tal sistema aumenta é preocupante. Em geral, a prevalência da obesidade é comparável em
as reservas adiposas de energia com consequências adversas para a saúde. homens e mulheres. Nas mulheres, a pobreza está associada a aumento da
prevalência. A obesidade é mais comum entre negros e hispânicos. A pre-
DEFINIÇÃO E MEDIÇÃO valência em crianças e adolescentes está aumentando a uma taxa preo-

CAPÍTULO 415e
Obesidade é um estado de excesso de massa adiposa. É comum associá-la cupante, atingindo 15,9% em 2009/2010, mas pode estar estabilizando.
a excesso de peso, mas isso nem sempre é correto: indivíduos magros,
porém muito musculosos, podem apresentar excesso de peso segundo REGULAÇÃO FISIOLÓGICA DO EQUILÍBRIO ENERGÉTICO
padrões numéricos, mas não têm aumento da massa adiposa. A distribui- Há evidências substanciais de que o peso corporal é regulado por fatores
ção do peso corporal na população é contínua, o que torna a escolha de endócrinos e neurais que terminam por influenciar os braços efetores da
uma distinção clinicamente significativa entre magro e obeso um tanto absorção e do dispêndio de energia. Esse sistema regulador complexo é
arbitrária. A obesidade é, portanto, definida pela avaliação
de sua ligação com a morbidade e a mortalidade.

Biologia da obesidade
Peso Altura
Embora não seja uma medida direta da adiposidade, kg lb cm pol.
o método mais usado para avaliar a obesidade é o índice de
2 2 340
massa corporal (IMC), igual a peso/estatura (em kg/m ) 150
320 125
(Fig. 415e.1). Outras abordagens para a quantificação da 140
300 Índice de massa corporal (IMC) 50
obesidade são a antropometria (espessura da prega cutâ- 130 [kg/m2]
280 130
nea), a densitometria (pesagem sob a água), a tomografia 70
120
computadorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM) 260

e a impedância elétrica. Segundo os dados das tabelas da 110 240 MULHERES 60 HOMENS 135

Metropolitan Life, o IMC do ponto médio para todas as 100 220


RISCO RISCO
RELATIVO 50 RELATIVO 140 55
estaturas e compleições, entre homens e mulheres, vai de 95
2
19 a 26 kg/m . As mulheres têm mais gordura corporal que 90 200
MUITO ALTO MUITO ALTO
190 40 145
os homens com um IMC semelhante. Com base em dados 85
180 ALTO ALTO
de morbidade substancial, um IMC de 30 é o limiar mais 80
170 150
usado para a obesidade em ambos os sexos. A maioria de, 75
160 MODERADO MODERADO 60
30
mas não todos, os estudos epidemiológicos em larga escala, 70
150 155
sugere que as morbidades por todas as causas, metabólicas, 65
140
BAIXO BAIXO
por câncer e cardiovasculares, começam a aumentar (em- 160
60 130
bora a uma taxa lenta) quando os IMCs são ≥ 25. A maior MUITO BAIXO MUITO BAIXO
165
55 20 65
parte das autoridades usa o termo sobrepeso (e não obeso) 120

para descrever indivíduos com IMC entre 25 e 30. Um IMC 50 110 170
entre 25 e 30 deve ser visto como clinicamente significativo
100 175
e merecedor de uma intervenção terapêutica na presença 45
95 70
de fatores de risco que são influenciados por adiposidade, 90
180
40
como hipertensão e intolerância à glicose. 85
185
A distribuição do tecido adiposo em diferentes espaços 80
35 10
anatômicos tem implicações importantes para a morbidade. 75 190 75
Especificamente, a gordura intra-abdominal e a subcutânea 70 195
abdominal são mais importantes que a gordura subcutânea 30 65
200
presente nas nádegas e nos membros inferiores. O modo
60 80
mais fácil de fazer essa distinção clinicamente é determinan- 205
do a razão cintura/quadril. Um número > 0,9 em mulheres 25 55
210
ou > 1 em homens é considerado anormal. Muitas das com- 50
85
plicações importantes da obesidade, como resistência à insu-
lina, diabetes, hipertensão, hiperlipidemia e, em mulheres, FIGURA 415e.1 Nomograma para determinar o índice de massa corporal. Para
hiperandrogenismo, estão mais fortemente associadas à gor- usar esse nomograma, coloca-se uma régua ou outro objeto reto entre o peso cor-
poral (sem as roupas) em quilogramas, localizado na linha à esquerda, e a estatura
dura intra-abdominal e/ou da parte superior do corpo que à
(sem os sapatos) em centímetros, localizada na linha à direita. O índice de massa
adiposidade total (Cap. 422). O mecanismo subjacente dessa
corporal é lido a partir do meio da escala e está em unidades do sistema métrico.
associação é desconhecido, mas pode estar ligado ao fato de
(Copyright 1979, George A. Bray, M.D., com autorização.)

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415e-2 necessário porque mesmo pequenos desequilíbrios entre a entrada e o dis- mazenamento do alimento; (3) efeito térmico do exercício e (4) termogênese
pêndio de energia terminam por ter efeitos importantes sobre o peso cor- adaptativa, que varia em função da ingestão calórica de longo prazo (maior
poral. Por exemplo, um desequilíbrio de 0,3% durante 30 anos levaria a um quando aumenta a ingestão). A taxa metabólica basal responde por cerca de
ganho de 9 kg de peso. Essa regulação precisa do equilíbrio energético não 70% do dispêndio diário de energia, enquanto a atividade física responde
é facilmente monitorada pela contagem calórica com relação à atividade fí- por 5 a 10%. Assim, grande parte do consumo diário de energia é fixa.
sica. Na verdade, a regulação ou a desregulação do peso corporal depende Modelos genéticos em camundongos indicam que mutações em cer-
de uma interação complexa de sinais neurais e hormonais. Alterações no tos genes (p. ex., deleção isolada do receptor de insulina no tecido adiposo)
peso estável induzidas por alimentação forçada ou privação de alimentos protegem contra a obesidade, aparentemente mediante o aumento do con-
induzem mudanças fisiológicas que se opõem a essas perturbações. Quando sumo de energia. A termogênese adaptativa ocorre no tecido adiposo mar-
há perda de peso, o apetite aumenta e o dispêndio de energia diminui. Com rom (TAM), que tem um papel importante no metabolismo de energia em
excesso de alimentação, o apetite diminui e o dispêndio de energia aumenta. muitos mamíferos. Diferente do tecido adiposo branco, usado para arma-
No entanto, esse último mecanismo compensatório falha com frequência, o zenar energia na forma de lipídeos, o TAM armazena energia na forma de
que possibilita o surgimento da obesidade quando há alimentos abundantes calor. Uma proteína de desacoplamento (UCP-1, de uncoupling protein) mi-
e pouca atividade física. Um regulador importante dessas respostas adapta- tocondrial no TAM dissipa o gradiente de íons hidrogênio formado na ca-
tivas é o hormônio leptina, produzido pelos adipócitos. Tal substância atua deia respiratória oxidativa e libera a energia na forma de calor. A atividade
por meio de circuitos cerebrais (sobretudo no hipotálamo) influenciando metabólica do TAM aumenta com a ação central da leptina. Tal interação
o apetite, o dispêndio de energia e a função neuroendócrina (ver adiante). ocorre por meio do sistema nervoso simpático, que inerva intensamente
O apetite é influenciado por muitos fatores integrados no cérebro, esse tecido. Em roedores, a ausência de TAM causa obesidade e diabetes; a
sobretudo no hipotálamo (Fig. 415e.2). Os sinais que entram no centro estimulação do TAM com um agonista adrenérgico específico (agonista β3)
hipotalâmico incluem aferentes neurais, hormônios e metabólitos. Os protege contra o diabetes e a obesidade. O TAM existe em seres humanos
impulsos vagais são especialmente importantes, pois trazem informações (sobretudo em recém-nascidos) e, embora não se conheça seu papel fisio-
das vísceras, como a distensão dos intestinos. Os sinalizadores hormonais lógico, a identificação de TAM funcional em muitos adultos que usam to-
incluem a leptina, a insulina, o cortisol e os peptídeos intestinais. Entre mografia por emissão de pósitrons (PET, de positron emission tomography)
PARTE 16

os últimos estão a grelina, que é elaborada no estômago e que estimula a aumentou o interesse pelas implicações do tecido para patogênese e terapia
alimentação, o peptídeo YY (PYY) e a colecistoquinina, que são elabora- de obesidade. Células adiposas bege, recentemente descritas, lembram as
dos no intestino delgado e que sinalizam ao cérebro por ação direta nos células TAM na expressão de UCP-1. Elas são dispersas através do tecido
centros de controle hipotalâmicos e/ou por intermédio do nervo vago. adiposo branco e seu potencial termogênico é incerto.
Os metabólitos, como a glicose, podem influenciar o apetite, visto que
a hipoglicemia induz a fome; entretanto, a glicose normalmente não é O ADIPÓCITO E O TECIDO ADIPOSO
um regulador importante do apetite. Esses diversos sinais hormonais, O tecido adiposo é formado pelas células adiposas, que armazenam lipí-
Endocrinologia e metabolismo

metabólicos e neurais atuam influenciando a expressão e a liberação de deos, e por um compartimento estromático e vascular, onde ficam células
vários peptídeos hipotalâmicos (p. ex., neuropeptídeo Y [NPY], peptídeo como os pré-adipócitos e os macrófagos. A massa adiposa aumenta com
relacionado com a proteína Agouti [AgRP, de Agouti-related protein], o crescimento das células adiposas à medida que mais lipídeos se deposi-
hormônio estimulador dos melanócitos α [α-MSH, de α-melanocyte- tam, bem como pelo aumento do número de adipócitos. O tecido adiposo
stimulating hormone] e hormônio concentrador da melanina [MCH, de obeso também se caracteriza por maior número de macrófagos infiltrados.
melanin-concentrating hormone]), substâncias integradas às vias sinaliza- O processo que origina as células adiposas a partir do pré-adipócito me-
doras serotoninérgicas, catecolaminérgicas, endocanabinoides e opioides senquimatoso envolve uma série coordenada de etapas de diferenciação,
(ver adiante). Fatores psicológicos e culturais também parecem ter um mediadas por uma cascata de fatores de transcrição específicos. Um dos
papel na expressão final do apetite. Com exceção de síndromes genéticas fatores fundamentais é o receptor ativado do proliferador dos peroxissomos
tipo γ (PPARγ, de peroxisome proliferator-activated receptor γ), um receptor
raras que envolvem a leptina, seu receptor e o sistema da melanocortina,
nuclear que se liga aos fármacos sensibilizantes à insulina da classe das
os defeitos específicos nessa rede complexa de controle do apetite que in-
tiazolidinedionas, usadas no tratamento do diabetes tipo 2 (Cap. 418).
fluenciam os casos comuns da obesidade não foram bem definidos.
Embora o adipócito em geral tenha sido considerado como um depó-
O dispêndio de energia envolve os seguintes componentes: (1) taxa me-
sito para armazenamento de gordura, ele também é uma célula endócrina
tabólica basal ou em repouso; (2) custo energético da metabolização e do ar-
que libera inúmeras moléculas de maneira regulada (Fig. 415e.3). Essas
incluem o hormônio de regulação do equilíbrio de energia leptina, cito-
Controladores cinas, como fator de necrose tumoral α (TNF-α, de tumor necrosis factor
Fatores centrais do apetite α) e interleucina (IL) 6, fatores do complemento, como o fator D (também
Fatores
psicológicos Aumento Redução conhecido como adipsina), agentes protrombóticos, como inibidor do ati-
culturais
Apetite vador de plasminogênio I e um componente do sistema de regulação da
NPY α-MSH pressão arterial, angiotensinogênio. A adiponectina, uma proteína abun-
MCH CART dante derivada do tecido adiposo cujos níveis ficam reduzidos na obesida-
AgRP GLP-1
Orexina Serotonina de, aumenta a sensibilidade à insulina e a oxidação lipídica, além de exer-
Endocanabinoide Hormônios cer efeitos protetores da vasculatura, enquanto a resistina e a RBP4, cujos
Leptina
Insulina
níveis se mostram aumentados na obesidade, podem induzir resistência
Aferentes neurais Cortisol à insulina. Esses fatores, e outros ainda não identificados, participam da
(vagais) fisiologia da homeostase dos lipídeos, da sensibilidade à insulina, do con-
Peptídeos intestinais Metabólitos
CCK Glicose
trole da pressão arterial, da coagulação e da saúde vascular, bem como pro-
Grelina Cetonas vavelmente contribuem para as patologias relacionadas com a obesidade.
PYY
ETIOLOGIA DA OBESIDADE
FIGURA 415e.2 Fatores que regulam o apetite por intermédio de
efeitos sobre os circuitos neurais centrais. Estão relacionados al-
Embora as vias moleculares que regulam o equilíbrio de energia estejam
guns fatores que aumentam ou diminuem o apetite. AgRP, peptídeo começando a ser conhecidas, as causas da obesidade continuam indefi-
relacionado com Agouti; CART, transcrito relacionado com a cocaína nidas. Em parte, isso reflete o fato de que a obesidade é um grupo hete-
e a anfetamina, de cocaine- and amphetamine-related transcript; CCK, rogêneo de distúrbios. De um lado, a fisiopatologia da obesidade parece
colecistoquinina, de cholecystokinin; GLP-1, peptídeo 1 relacionado simples: um excesso crônico de aporte de nutrientes com relação ao nível
com o glucagon, de glucagon-related peptide-1; MCH, hormônio con- de dispêndio energético. No entanto, devido à complexidade dos sistemas
centrador da melanina; α-MSH, hormônio estimulador dos melanó- neuroendócrinos e metabólicos que regulam a ingestão, o armazenamen-
citos α; NPY, neuropeptídeo Y; PYY, peptídeo YY. to e o dispêndio de energia, é difícil quantificar todos os parâmetros rele-

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Fatores de complemento Hormônios Cérebro 415e-3
Fator D/adipsina Leptina Hipotálamo
Adiponectina
Adipócito Resistina Metabolismo de glicose e lipídeos

Fome/saciedade
Outros
PAI-1 Citocinas
TNF-α Termogênese/sistema autônomo
Angiotensinogênio
RBP4 IL-6 Função neuroendócrina
Enzimas Substratos
Aromatase Ácidos graxos livres
11β-HSD-1 Glicerol Barreira hematencefálica

FIGURA 415e.3 Fatores liberados pelo adipócito que podem afetar Células β
os tecidos periféricos. IL-6, interleucina 6; PAI-1, inibidor do ativador Alvos periféricos Células imunes
do plasminogênio 1, de plasminogen activator inhibitor; RBP4, proteína
Outros
4 de ligação retinal, de retinal binding protein 4; TNF-α, fator de necrose
tumoral α; 11β-HSD-1, 11β-hidroxiesteroide desidrogenase1.
Estado alimentado/
vantes (p. ex., consumo de alimentos e dispêndio de energia) ao longo do obesidade
Leptina
tempo em pacientes humanos.
Adipócito
Papel dos genes versus ambiente A obesidade costuma ocorrer em fa-
mílias, e a hereditariedade do peso corporal é semelhante à da estatura. Estado de jejum
Leptina
No entanto, a herança não costuma ser mendeliana, sendo difícil distin-

CAPÍTULO 415e
guir o papel dos genes e dos fatores ambientais. Pessoas adotadas asseme-
lham-se mais a seus pais biológicos que aos adotivos quanto à obesidade, FIGURA 415e.4 Sistema fisiológico regulado pela leptina. Os níveis
o que é um forte indicador da influência genética. De modo semelhante, da leptina em elevação ou queda atuam por meio do hipotálamo, in-
gêmeos idênticos têm IMCs bastante semelhantes, independentemente fluenciando o apetite, o gasto de energia e a função endócrina, bem
de serem criados juntos ou separados, e seus IMCs correlacionam-se como por intermédio de locais periféricos, como o sistema imune.
muito mais estreitamente que os de gêmeos dizigotos. Esses efeitos ge-
néticos parecem estar associados à ingestão e ao dispêndio de energia. O nível de sua produção serve como índice das reservas adiposas de energia
Atualmente, as variantes genéticas identificadas, tanto as comuns como (Fig. 415e.4). Níveis altos de leptina diminuem o consumo de alimento e au-
as raras, são responsáveis por menos de 5% da variância do peso corporal. mentam o gasto de energia. Outro camundongo mutante, o db/db, resistente

Biologia da obesidade
No entanto, seja qual for o papel dos genes, é evidente que o ambien- à leptina, apresenta mutação no receptor desse hormônio e uma síndrome
te tem importância fundamental na obesidade. Uma evidência é o fato semelhante. O gene ob está presente em seres humanos, onde também é ex-
de que a fome previne a obesidade mesmo no indivíduo mais propenso a presso na gordura. Já foram descritas várias famílias com obesidade mór-
essa doença. Além disso, o recente aumento na prevalência da obesidade bida de início precoce causada por mutações que inativam a leptina ou seu
nos EUA é rápido demais para ser explicado por alterações no conjunto receptor, o que demonstra a importância biológica da via da leptina em seres
dos genes. Contudo, os genes sem dúvida influenciam a tendência à obe- humanos. A obesidade nesses indivíduos começa logo após o nascimento, é
sidade em resposta a dietas específicas e à disponibilidade de alimentos. grave e é acompanhada de anormalidades neuroendócrinas. A mais proe-
Fatores culturais também são importantes, estando ligados tanto à dispo- minente delas é o hipogonadismo hipogonadotrófico, que é revertido pela
nibilidade e à composição da dieta quanto a alterações do nível de ativi- suplementação da leptina no subgrupo deficiente em leptina. No modelo do
dade física. Em sociedades industrializadas, a obesidade é mais comum camundongo, observam-se hipotireoidismo central e atraso do crescimento,
em mulheres pobres, enquanto nos países subdesenvolvidos as mulheres alterações não tão visíveis em seres humanos com deficiência de leptina. As
mais ricas são mais obesas. Em crianças, a obesidade tem alguma corre- mutações dos genes da leptina ou de seu receptor não desempenham um
lação com o tempo que passam em frente à televisão. Embora o papel da papel importante nas formas comuns de obesidade.
composição da dieta na obesidade continue gerando controvérsia, parece Mutações de vários outros genes podem causar obesidade grave em
que as dietas ricas em gorduras podem promover a obesidade quando seres humanos (Quadro 415e.1); porém, tais síndromes são raras. As mu-
combinadas com dietas ricas em carboidratos simples, rapidamente ab- tações do gene que codificam a pró-opiomelanocortina (POMC) causam
sorvidos. Genes específicos são propensos a influenciar a resposta a die- obesidade grave porque não ocorre a síntese de α-MSH, um neuropeptídeo
tas específicas, mas esses genes são amplamente não identificados. fundamental que inibe o apetite no hipotálamo. A ausência de POMC tam-
Outros fatores ambientais podem contribuir para o aumento da bém causa insuficiência suprarrenal secundária devido à falta do hormônio
prevalência da obesidade. Tanto correlações epidemiológicas como da- adrenocorticotrófico (ACTH, de adrenocorticotropic hormone), bem como
dos experimentais sugerem que a privação de sono acarreta o aumento palidez cutânea e cabelos avermelhados pela falta de α-MSH. Acredita-se
da obesidade. As alterações no microbioma intestinal com capacidade de que as mutações da proenzima convertase 1 (PC-1) causem obesidade ao
modificar o equilíbrio energético estão recebendo suporte experimental impedirem a síntese de α-MSH a partir de seu peptídeo precursor, a POMC.
de estudos em animais, e um possível papel para as infecções virais obe- O α-MSH liga-se ao receptor da melanocortina tipo 4 (MC4R), um receptor
sogênicas continua a receber atenção esporádica. hipotalâmico importante que inibe a alimentação. As mutações heterozi-
gotas de perda da função nesse receptor respondem por até 5% dos casos
Síndromes genéticas específicas Sabe-se há muitos anos que, em roedores, graves de obesidade. A perda de função de MRAP2, uma proteína neces-
a obesidade é causada por uma série de mutações distintas distribuídas por sária para a sinalização normal de MC4R, foi encontrada em casos raros de
todo o genoma. A maioria de tais defeitos gênicos isolados causa hiperfagia obesidade grave. Esses cinco defeitos genéticos definem uma via pela qual
e diminuição do dispêndio de energia, o que sugere uma ligação fisiológica a leptina (ao estimular a POMC e aumentar o α-MSH) restringe o consumo
entre esses dois parâmetros na homeostase energética. A identificação da de alimentos e limita o peso (Fig. 415e.5). Os resultados de estudos de as-
mutação no gene ob em camundongos geneticamente obesos (ob/ob) foi um sociação em todo o genoma para identificar loci genéticos responsáveis pela
grande avanço no referido campo. O camundongo ob/ob desenvolve obe- obesidade na população geral até o momento são decepcionantes. Mais de
sidade grave, resistência à insulina e hiperfagia, além de um metabolismo 40 loci replicados ligados à obesidade foram identificados, mas juntos são
deficiente (ele engorda mesmo quando recebe a mesma quantidade de calo- responsáveis por menos de 3% da variação interindividual no IMC. O mais
rias que os camundongos magros na mesma gaiola). O produto do gene ob é replicado deles é um gene chamado FTO, que tem função desconhecida, mas
o peptídeo leptina, nome que deriva do grego leptos, o qual significa magro. assim como muitos dos outros candidatos recentemente descritos, é expres-
A leptina é secretada pelas células adiposas e atua sobretudo no hipotálamo. so no cérebro. Como se estima que a herdabilidade da obesidade seja de 40 a

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415e-4 QUADRO 415e.1 GENES SELECIONADOS DE OBESIDADE EM SERES HUMANOS E CAMUNDONGOS codificados na região cromossômi-
ca 15q11-13. A expressão reduzida
Gene Produto gênico Mecanismo da obesidade Humanos Roedores
de Snord116, um RNA nucleolar
Lep (ob) Leptina, um hormônio derivado da A mutação impede que a leptina li- Sim Sim pequeno altamente expresso no
gordura bere o sinal de saciedade; o cérebro hipotálamo, pode ser uma causa
percebe a fome
importante de função hipotalâmica
LepR (db) Receptor de leptina Mesmo que o anterior Sim Sim defectiva nesse distúrbio. A sín-
POMC Pró-opiomelanocortina, um precur- A mutação impede a síntese do hor- Sim Sim drome de Bardet-Biedl (SBB) é um
sor de vários hormônios e neuro- mônio estimulador dos melanócitos
distúrbio geneticamente heterogê-
peptídeos (MSH), um sinal de saciedade
neo que se caracteriza por obesida-
MC4R Receptor tipo 4 para o MSH A mutação impede a recepção do Sim Sim
de, deficiência intelectual, retinite
sinal de saciedade do MSH
pigmentar, diabetes, malformações
AgRP Peptídeo relacionado com a proteína A hiperexpressão inibe o sinal atra- Não Sim
Agouti, expresso no hipotálamo vés do MC4R
renais e cardíacas, polidactilia e hi-
pogonadismo hipogonadotrófico.
PC-1 Pró-hormônio convertase 1, uma A mutação impede a síntese de neu- Sim Não
enzima processadora ropeptídeo, provavelmente MSH
Foram identificados pelo menos 12
loci genéticos, e a maioria das proteí-
Fat Carboxipeptidase E, uma enzima Mesmo que o anterior Não Sim
processadora nas codificadas forma dois comple-
Tub Tub, uma proteína hipotalâmica de Disfunção hipotalâmica Não Sim
xos multiproteína que estão envolvi-
função desconhecida dos na função ciliar e no transporte
TrkB TrkB, um receptor de neurotrofina Hiperfagia devido a um defeito hi- Sim Sim
intracelular com base em microtú-
potalâmico não caracterizado bulos. Evidências recentes sugerem
que as mutações podem perturbar
o tráfego do receptor de leptina nos
PARTE 16

principais neurônios hipotalâmicos, causando resistência à leptina.


70%, é provável que muito mais loci tenham de ser identificados. É possível
que interações epistáticas entre loci causadores ou interações gene-ambiente Outras síndromes específicas associadas à obesidade • SÍNDROME DE
desconhecidas expliquem o pouco sucesso na identificação de loci causais. CUSHING Embora os obesos comumente tenham obesidade central,
Além desses genes humanos de obesidade, estudos em roedores re- hipertensão e intolerância à glicose, eles não têm outros estigmas espe-
velaram vários outros candidatos moleculares a mediadores hipotalâmicos cíficos da síndrome de Cushing (Cap. 406). Apesar disso, é comum que
da obesidade ou da magreza em seres humanos. O gene tub codifica um se pense em doença de Cushing. A produção de cortisol e de metabólitos
peptídeo hipotalâmico de função desconhecida; mutações nesse gene cau- urinários (17OH-esteroides) pode estar aumentada na obesidade sim-
Endocrinologia e metabolismo

sam obesidade de início tardio. O gene fat codifica a carboxipeptidase E, ples. Contudo, diferentemente da síndrome de Cushing, os níveis basais
uma enzima processadora de peptídeos; acredita-se que mutações nesse de cortisol no sangue e na urina, bem como após a injeção do hormônio
gene também causem obesidade ao perturbarem a produção de um ou mais liberador de corticotrofina (CRH, de corticotropin-releasing hormone)
neuropeptídeos. A AgRP é coexpressa com o NPY em neurônios do núcleo ou ACTH, são normais; o teste de supressão em 24 horas com 1 mg de
arqueado. A AgRP antagoniza o α-MSH nos receptores de MC4, e sua ex- dexametasona é normal em 90% dos casos. Os restantes dão resultados
pressão excessiva induz a obesidade. Já os camundongos com deficiência do normais em um teste-padrão de dexametasona em baixas doses por dois
peptídeo MCH, cuja administração induz a alimentação, são magros. dias. A obesidade pode estar associada à reativação local excessiva do
Várias síndromes humanas, complexas e de herança definida, es- cortisol na gordura pela 11β-hidroxiesteroide-desidrogenase 1, enzima
tão associadas à obesidade (Quadro 415e.2). Embora genes específicos que converte a cortisona inativa em cortisol.
tenham definição limitada atualmente, sua identificação provavelmente
HIPOTIREOIDISMO A possibilidade de hipotireoidismo deve ser considera-
melhorará nossa compreensão das formas mais comuns de obesidade hu-
da, mas ela é uma causa incomum de obesidade; a medição do hormônio
mana. Na síndrome de Prader-Willi, um distúrbio multigênico do neu-
estimulante da tireoide (TSH, de thyroid-stimulating hormone) possibilita
rodesenvolvimento, a obesidade coexiste com baixa estatura, deficiência
descartar hipertireoidismo facilmente. Grande parte do ganho de peso que
intelectual, hipogonadismo hipogonadotrófico, hipotonia, mãos e pés
ocorre nessa deficiência hormonal se deve ao mixedema (Cap. 405).
pequenos, boca em forma de peixe e hiperfagia. A maioria dos pacientes
apresenta expressão reduzida de genes imprinted paternalmente herdados INSULINOMA Os pacientes com insulinoma costumam ganhar peso
porque comem excessivamente para evitar os sintomas da hipoglicemia
(Cap. 420). O substrato aumentado mais níveis altos de insulina promo-
Enzima processadora PC-1
vem armazenamento de energia na gordura. Isso pode ser acentuado em
Receptor do
alguns indivíduos, mas é modesto na maioria.
Expressão da
Receptor pró-opio- sinal de
Leptina do sinal melanocortina α-MSH melanocortina 4 CRANIOFARINGIOMA E OUTROS DISTÚRBIOS QUE ENVOLVEM O HIPOTÁLAMO Seja
de leptina (POMC) em decorrência de tumores, traumatismo ou inflamação, a disfunção hi-
potalâmica dos sistemas que controlam a saciedade, a fome e o dispêndio
de energia pode resultar em graus variados de obesidade (Cap. 402). É
Apetite incomum encontrar uma base anatômica distinta para essas alterações.
AgRP reduzido
Mutações Provavelmente, disfunções sutis do hipotálamo são as causas mais comuns
conhecidas no de obesidade que se pode demonstrar com as técnicas neurorradiológicas
ser humano
disponíveis hoje. O hormônio do crescimento (GH, de growth hormone),
FIGURA 415e.5 Uma via central por meio da qual a leptina age para que tem atividade lipolítica, mostra-se diminuído na obesidade e aumen-
regular o apetite e o peso corporal. A leptina sinaliza para os neu- tado com a perda de peso. Apesar dos níveis baixos de GH, a produção do
rônios por meio da pró-opiomelanocortina (POMC) no hipotálamo fator do crescimento semelhante à insulina tipo I (IGF-I, de insulin-like
induzindo aumento da produção do hormônio estimulador dos growth factor I, ou somatomedina) é normal, sugerindo que a supressão do
melanócitos α (α-MSH), requerendo a enzima processadora proen- GH seja resposta que compense o aumento da oferta nutricional.
zima convertase 1 (PC-1). O α-MSH age como um agonista sobre os
receptores de melanocortina 4 para inibir o apetite, e o neuropeptí- Patogênese da obesidade comum A obesidade pode ser causada por au-
deo peptídeo relacionado com a proteína Agouti (AgRP) age como mento da ingestão de energia, diminuição do dispêndio ou uma combina-
antagonista desse receptor. As mutações que causam obesidade em ção de ambos. Assim, identificar a etiologia da obesidade exige medições
seres humanos estão indicadas por setas preenchidas verdes. dos dois parâmetros. Contudo, é difícil fazer medidas precisas e diretas da

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QUADRO 415e.2 COMPARAÇÃO DAS SÍNDROMES DE OBESIDADE  HIPOGONADISMO E DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 415e-5
Síndrome
Aspecto Prader-Willi Laurence-Moon-Biedl Ahlstrom Cohen Carpenter
Herança Esporádica; cerca de 66% Autossômica recessiva Autossômica recessiva Provavelmente autossômica Autossômica recessiva
têm o defeito recessiva
Estatura Baixa Normal; raramente baixa Normal; raramente baixa Baixa ou alta Normal
Obesidade Generalizada Generalizada Truncal Truncal Truncal, glútea
Moderada a grave Início precoce, 1-2 anos Início precoce, 2-5 anos Meados da infância, idade
de 5 anos
Início 1-3 anos
Craniofacies Diâmetro bifrontal estreito Não distintivo Não distintivo Ponte nasal alta Acrocefalia
Olhos amendoados Palato arqueado Ponte nasal chata
Estrabismo Boca aberta Palato arqueado alto
Boca em forma de V Filtro labial curto
Palato arqueado alto
Membros Mãos e pés pequenos Polidactilia Sem anormalidades Hipotonia Polidactilia
Hipotonia Mãos e pés estreitos Sindactilia
Genu valgo
Estado reprodutivo Hipogonadismo Hipogonadismo Hipogonadismo em Função gonádica normal ou Hipogonadismo
primário primário homens, mas não em hipogonadismo hipogona- secundário

CAPÍTULO 415e
mulheres dotrófico
Outras características Hipoplasia do esmalte dos Orelhas displásicas
dentes
Hiperfagia Puberdade atrasada
Birras
Fala anasalada
Deficiência intelectual Leve a moderada Inteligência normal Leve Ligeira

Biologia da obesidade
ingestão de energia em indivíduos em vida livre, e os obesos em particular por algum tempo, (alguns) indivíduos obesos gastam menos energia que
costumam subestimar sua ingestão. As medições do dispêndio crônico de (alguns) indivíduos magros. Também há uma tendência, entre os que se
energia são possíveis pelo uso de água duplamente marcada ou câmaras e tornaram obesos na infância, de ter taxas menores de dispêndio de ener-
salas metabólicas. Em pacientes com peso e composição corporal estáveis, gia do que os que permanecem magros. A origem fisiológica das taxas
a ingestão de energia é igual ao dispêndio. Assim, essas técnicas possibili- variáveis de dispêndio de energia (mantidos constantes o peso corporal e
tam avaliar a ingestão de energia em indivíduos em vida livre. Os níveis de a ingestão de energia) é praticamente desconhecida.
dispêndio de energia são diferentes em obesos em períodos de ganho ou Outro componente da termogênese recém descrito, denominado
de perda de peso, e nos estados pré ou pós-obesidade. Os estudos que não termogênese da atividade fora do exercício (NEAT, de nonexercise activity
levam em conta esses fenômenos são difíceis de interpretar. thermogenesis), foi relacionado com a obesidade. Trata-se da termogêne-
O conceito de “ponto de equilíbrio” do peso corporal tem suscitado se que acompanha outras atividades físicas que não o exercício voluntá-
contínuo interesse. Em favor dessa ideia, existem mecanismos fisiológicos rio, como tarefas cotidianas, movimentos aleatórios, contração muscular
em torno de um sistema sensor no tecido adiposo que reflete as reservas espontânea e manutenção da postura. A NEAT responde por cerca de
de gordura, e um receptor, ou adipostato, presente nos centros hipotalâmi- dois terços do aumento do dispêndio diário de energia induzido pelo ex-
cos. Quando as reservas de gordura diminuem, o sinal do adipostato cai, e cesso de alimentação. A ampla variação no armazenamento de gordura,
o hipotálamo responde estimulando a fome e diminuindo o dispêndio de observada em indivíduos alimentados sem excesso, pode ser prevista pela
energia. No entanto, quando as reservas de gordura são abundantes, o sinal intensidade com que a NEAT é induzida. A origem molecular e a regula-
aumenta, e o hipotálamo responde diminuindo a fome e aumentando o dis- ção desse fenômeno são desconhecidas.
pêndio de energia. A recente descoberta do gene ob e seu produto, a leptina,
Leptina na obesidade comum A grande maioria dos obesos tem níveis
bem como do gene db, cujo produto é o receptor da lectina, fornece uma elevados de leptina, mas não apresenta mutações nem na leptina nem em
base molecular a esse conceito fisiológico (ver anteriormente). seu receptor. Por isso parecem ter uma forma funcional de “resistência à
Qual a situação da ingestão de alimentos nos obesos? (Os obesos comem leptina”. Dados sugerem que alguns desses indivíduos produzem menos
mais que os magros?) Tal questão suscitou intenso debate, o que se leptina por unidade de massa adiposa que outros, ou têm uma forma re-
deve em parte às dificuldades metodológicas inerentes à determinação lativa de deficiência de leptina que predispõe à obesidade, mas isso ainda
da ingestão alimentar. Muitos indivíduos obesos acreditam que ingerem é contraditório e incompleto. O mecanismo de resistência à leptina, e a
pouca quantidade de alimento, achado muitas vezes confirmado pelos re- possibilidade de revertê-la com a elevação dos níveis desse hormônio ou
sultados de questionários sobre a ingestão de alimentos. No entanto, hoje com a combinação de leptina e outros tratamentos em um subgrupo de
se sabe que a ingestão média de energia aumenta com a obesidade. De indivíduos obesos, ainda não foi elucidado. Alguns dados sugerem que
acordo com as leis da termodinâmica, os obesos devem comer mais que a leptina pode ser incapaz de atravessar a barreira hematencefálica à
os magros em média para manter seu peso mais alto. No entanto, é possí- medida que os níveis sobem. Também há evidências, a partir de estudos
vel que alguns dos indivíduos predispostos à obesidade sejam capazes de com animais, de que inibidores da sinalização da leptina, como SOCS3 e
ficar obesos sem um aumento absoluto no consumo calórico. PTP1b, estejam implicados no mecanismo de resistência.

Qual a situação do dispêndio de energia na obesidade? O dispêndio CONSEQUÊNCIAS PATOLÓGICAS DA OBESIDADE


total médio diário de energia é maior entre os obesos do que entre os (Ver também Cap. 416.) A obesidade tem efeitos adversos importantes
magros quando medido no peso estável. No entanto, o dispêndio energé- sobre a saúde. Está associada a um aumento na mortalidade, com uma ele-
tico diminui à medida que se perde peso, o que se deve em parte à perda vação de 50 a 100% no risco de morte por todas as causas em comparação
de massa corporal magra e à diminuição da atividade nervosa simpáti- com os indivíduos de peso normal, principalmente por causas cardiovas-
ca. Quando atingem um peso próximo do normal e permanecem assim culares. Em conjunto, a obesidade e o sobrepeso são a segunda causa de

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415e-6 morte passível de prevenção nos EUA, sendo responsáveis por 300.000 óbi- obesidade fica ainda mais evidente quando se consideram os efeitos adicio-
tos anuais. As taxas de mortalidade aumentam com a progressão da obesi- nais da hipertensão e da intolerância à glicose associados ao excesso de peso.
dade, principalmente quando ela está associada a um aumento da gordura O efeito da obesidade na mortalidade cardiovascular em mulheres pode ser
intra-abdominal (ver anteriormente). A expectativa de vida de um indiví- verificado com IMC de apenas 25. A obesidade, sobretudo a abdominal, está
duo com obesidade moderada pode diminuir 2 a 5 anos, e um homem com associada a um perfil lipídico aterogênico com aumento no colesterol-lipo-
20 a 30 anos de idade e IMC > 45 pode perder 13 anos de vida. É provável proteína de baixa densidade (LDL, de low-density lipoprotein), na lipopro-
que o efeito da obesidade sobre determinados sistemas orgânicos seja in- teína de muito baixa densidade e nos triglicerídeos, além de diminuição no
fluenciado por genes de suscetibilidade, os quais variam na população. colesterol-lipoproteína de alta densidade e nos níveis da adipocina vascular
protetora adiponectina (Cap. 421). A obesidade também está associada à
Resistência à insulina e diabetes melito tipo 2 A hiperinsulinemia e a
hipertensão. A medição da pressão arterial em obesos requer um manguito
resistência à insulina são comuns na obesidade. Pioram com o ganho de
maior para evitar aumentos espúrios da pressão. A hipertensão induzida pela
peso e diminuem com sua perda (Cap. 422). A resistência à insulina está
obesidade também pode causar elevação da resistência vascular periférica e
mais relacionada com a gordura intra-abdominal do que com a gordura
do débito cardíaco, aumento no tônus do sistema nervoso simpático, exacer-
em outras localizações. A relação molecular entre a obesidade e a resis-
bação da sensibilidade ao sal e retenção de sal mediada pela insulina; com
tência à insulina na gordura, nos músculos e no fígado tem sido pesqui-
frequência, a hipertensão melhora após uma pequena perda ponderal.
sada há muitos anos. São alguns fatores importantes: (1) a própria insu-
lina, ao induzir a subregulação do receptor; (2) os ácidos graxos livres, Doença pulmonar A obesidade pode ser associada a inúmeras anormali-
que ficam elevados e podem dificultar a ação da insulina; (3) o acúmulo dades pulmonares, as quais incluem diminuição da complacência da pare-
intracelular de lipídeos e (4) os vários peptídeos circulantes produzidos de torácica, aumento no trabalho respiratório, aumento do volume-minuto
pelos adipócitos, como as citocinas TNF-α e IL-6, RBP4, bem como as devido à maior atividade metabólica e diminuição da capacidade pulmonar
adipocinas adiponectina e resistina, que apresentam expressão alterada total, da capacidade residual funcional e do volume expiratório de reserva. A
nos adipócitos dos obesos e podem modificar a ação da insulina. Outros obesidade grave pode estar associada à apneia obstrutiva do sono e à “síndro-
mecanismos são inflamação ligada à obesidade, como infiltração de ma- me de hipoventilação da obesidade”, com respostas ventilatórias hipóxicas e
hipercapneicas atenuadas. A apneia do sono pode ser obstrutiva (mais co-
PARTE 16

crófagos nos tecidos como gordura, e indução de resposta ao estresse de


retículo endoplasmático, que pode produzir resistência à ação da insulina mum), central ou mista, e está associada com hipertensão. A perda de peso
nas células. Apesar da prevalência da resistência à insulina, a maioria dos (10-20 kg) pode trazer melhora substancial, assim como a perda substancial
obesos não manifesta diabetes, o que sugere que o diabetes exige intera- de peso que ocorre após bypass gástrico ou cirurgias restritivas. A pressão
ção entre a resistência à insulina induzida pela obesidade e outros fatores, positiva contínua nas vias respiratórias tem sido usada com algum êxito.
como o comprometimento da secreção de insulina (Cap. 417). No entan- Doenças hepatobiliares A obesidade com frequência é associada a
to, a obesidade é um importante fator de risco para o diabetes, e até 80% doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), e esta associação
dos pacientes com diabetes melito tipo 2 são obesos. A perda de peso e
Endocrinologia e metabolismo

representa uma das causas mais comuns de doença hepática nos países
o exercício, ainda que modestos, aumentam a sensibilidade à insulina e industrializados. A infiltração gordurosa do fígado na DHGNA pode
muitas vezes melhoram o controle da glicose no diabetes. evoluir em um subgrupo para esteato-hepatite não alcoólica (EHNA)
Distúrbios reprodutivos As doenças do eixo reprodutor estão associa- inflamatória e, mais raramente, para cirrose e carcinoma hepatocelular.
das à obesidade em ambos os sexos. O hipogonadismo masculino está A esteatose em geral melhora após perda de peso, secundária a dieta ou
associado a um aumento do tecido adiposo, que muitas vezes se distribui cirurgia bariátrica. O mecanismo para a associação continua obscuro. A
em uma conformação mais típica de mulheres. Homens cujo peso é mais obesidade pode aumentar a secreção biliar de colesterol e a supersatura-
de 160% do peso corporal ideal (PCI) muitas vezes têm redução da testos- ção da bile e elevar a incidência de cálculos, sobretudo de colesterol (Cap.
terona plasmática e da globulina de ligação ao hormônio sexual (SHBG, 369). Uma pessoa 50% acima do PCI tem uma incidência seis vezes maior
de sex hormone-binding globulin) e níveis de estrogênio (derivados da de cálculos biliares sintomáticos. Paradoxalmente, o jejum aumenta a su-
conversão de androgênios suprarrenais no tecido adiposo) aumentados persaturação da bile ao reduzir o componente fosfolipídico. A colecistite
(Cap. 411). Pode-se observar ginecomastia. No entanto, na maioria des- induzida pelo jejum é uma complicação das dietas extremas.
ses indivíduos, a masculinização, a libido, a potência e a espermatogênese Câncer A obesidade está associada a um aumento do risco de vários tipos
são normais. A testosterona livre pode diminuir em homens com obesi- de câncer e, além disso, pode levar a desfechos de tratamento mais pre-
dade mórbida cujo peso excede 200% do PCI. cários e aumento da mortalidade por câncer. A obesidade masculina está
Em mulheres, a obesidade está muito associada a anormalidades associada a maior mortalidade por câncer de esôfago, cólon, reto, pâncreas,
menstruais, principalmente em mulheres com obesidade na parte supe- fígado e próstata; a obesidade feminina está associada a maior mortalidade
rior do corpo (Cap. 412). Achados comuns são aumento na produção de por câncer da vesícula biliar, dos ductos biliares, das mamas, do endomé-
androgênios, diminuição da SHBG e aumento da conversão periférica de trio, do colo uterino e dos ovários. O aumento da taxa de conversão da
androgênios em estrogênios. A maioria das mulheres obesas com oligo- androstenediona em estrona, que ocorre no tecido adiposo de obesos, pode
menorreia tem síndrome do ovário policístico (SOP), com sua anovulação causar alguns desses tumores. Outras possíveis ligações mecanicistas po-
associada e hiperandrogenismo ovariano; 40% das mulheres com SOP são dem envolver hormônios, fatores de crescimento e citocinas cujos níveis
obesas. A maioria das mulheres não obesas com SOP também é resisten- estão ligados ao estado nutricional, como insulina, leptina, adiponectina e
te à insulina, sugerindo que a resistência à insulina, a hiperinsulinemia IGF-I, bem como ativação das vias de sinalização ligadas tanto à obesidade
ou a combinação das duas é causadora ou contribui para a fisiopatolo- quanto ao câncer. Estimou-se recentemente que, nos EUA, a obesidade seja
gia ovariana na SOP tanto em indivíduos obesos como magros. Cada vez responsável por 14% dos cânceres em homens e 20% em mulheres.
mais evidências fornecem suporte ao papel das adipocinas na mediação
de uma ligação entre a obesidade e a disfunção reprodutiva da SOP. Em Doenças dos ossos, das articulações e da pele A obesidade pode aumen-
mulheres obesas com SOP, a perda de peso ou o tratamento com fárma- tar o risco de osteoartrite. Não há duvida de que isso se deve em parte
cos sensibilizantes à insulina muitas vezes normalizam a menstruação. O ao traumatismo devido ao peso extra, mas também está potencialmente
aumento da conversão da androstenediona em estrogênio, mais comum ligado à ativação de vias inflamatórias que poderiam promover patologia
em mulheres com obesidade na parte inferior do corpo, pode aumentar sinovial. A prevalência de gota também pode ser maior (Cap. 395). Uma
a incidência de câncer do útero em mulheres obesas na pós-menopausa. das afecções de pele associadas à obesidade é a acantose nigricans, que
se manifesta por escurecimento e espessamento das dobras da pele no
Doença cardiovascular O estudo Framingham revelou que a obesidade foi pescoço, nos cotovelos e nos espaços interfalangianos dorsais. A acantose
um fator de risco independente para a incidência durante 26 anos de doenças reflete a gravidade da resistência à insulina subjacente e diminui com a
vasculares em homens e mulheres (como doença arterial coronariana, aci- perda de peso. A friabilidade da pele também pode aumentar, sobretudo
dente vascular encefálico e insuficiência cardíaca congestiva). A razão cin- nas dobras, o que aumenta o risco de infecções por leveduras e fungos.
tura/quadril pode ser o melhor fator preditivo desses riscos. O impacto da Finalmente, a estase venosa é mais comum no obeso.

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