Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para a obtenção do título de
graduação no curso de Licenciatura Plena em Física e aprovado em sua forma final, no dia
__/02/2007, pelo programa de graduação do Departamento de Ciências Exatas e da Natureza
da Universidade Federal de Rondônia, Campus de Ji-Paraná.
Banca Examinadora
_____________________________________________
Carlos Mergulhão Júnior – Professor orientador – UNIR
_____________________________________________
Judes Gonçalves dos Santos – UNIR
_____________________________________________
Walter Trennepohl – UNIR
Dedico,
Agradeço à minha família, por sempre estar do meu lado e me prestar todo o apoio
necessário.
Aos meus professores, pelos conhecimentos ensinados com tanta dedicação.
Aos meus amigos de curso, pelas animadas aulas e horas de estudo, que tanto me
foram importantes.
Aos meus amigos do LBA, com que aprendi a importância da coletividade para
progressão da pesquisa científica.
Aos meus amigos de trabalho, pela capacidade e experiência que adquiri e tanto
me foram úteis.
A todos aqueles que de uma forma ou outra, direta ou indiretamente, auxiliaram
para que eu adquirisse esta grande paixão que tenho pela ciência, obrigado!
Resumo
Resumo....................................................................................................................................... v
Lista de Tabelas...................................................................................................................... viii
Lista de Figuras......................................................................................................................... ix
Lista de Parâmetros................................................................................................................. xiii
1. Introdução............................................................................................................................ 14
1.1 Aspectos Históricos acerca do Movimento de Projéteis.............................................. 15
1.2 Aplicações Tecnológicas de Estudo de Projéteis......................................................... 17
1.3 Aplicações Numéricas e Computacionais.................................................................... 18
2. Estudo Clássico do Movimento de Projéteis........................................................................ 19
2.1 Caso Unidimensional: Lançamento Vertical............................................................... 19
2.2 Caso Bidimensional: Plano Referencial...................................................................... 26
2.3 Caso Tridimensional: Caso Geral................................................................................ 38
3. Projéteis e a Força de Resistência do Meio Fluido.............................................................. 53
3.1 Meio Fluido.................................................................................................................. 54
3.2 Efeitos de Resistência do Meio Fluido........................................................................ 57
3.3 Modelo de Resistência do Ar....................................................................................... 58
3.4 O Lançamento Vertical e a Velocidade Terminal....................................................... 66
3.5 O Parâmetro t R , o Comprimento da Trajetória e Alcance Horizontal Máximo.......... 70
4. Resistência do Ar Quadrática com a Velocidade e Solução Numérica do Movimento do
Projétil...................................................................................................................................... 76
4.1 Estudo de Caso: Queda de um Pára-quedista.............................................................. 77
4.2 O Modelo de Resistência do Ar Quadrática com a Velocidade.................................. 79
4.3 Modelo Numérico........................................................................................................ 82
4.3.1 Cálculo Numérico............................................................................................... 82
4.3.2 O Modelo Numérico........................................................................................... 83
4.4 Simulações e Resultados.............................................................................................. 87
4.4.1 A Bola de Futebol e a Influência do Vento........................................................ 87
4.4.2 O Canhão 105mm e a Variação das Grandezas do Movimento com o Ângulo de
Lançamento................................................................................................................. 93
4.4.3 O Canhão Vickers e a Influência da Densidade Atmosférica no Movimento do
Projétil......................................................................................................................... 97
4.4.4 O Canhão Vickers e a Influência da Gravidade Variável com a Altura no
Movimento do Projétil............................................................................................... 100
4.4.5 O Canhão Vickers e o Modelo Clássico de Movimento de Projéteis............... 103
4.4.6 A Velocidade Terminal.................................................................................... 106
5. Efeitos Inerciais sob o Movimento de Projéteis................................................................. 109
5.1 Sistemas Inerciais e Não Inerciais............................................................................. 110
5.2 Referencial em Movimento Uniformemente Variado em relação a um Referencial
Inercial............................................................................................................................. 111
5.3 Referencial Girante.................................................................................................... 113
5.4 A Força Centrífuga e seus Efeitos............................................................................. 114
5.5 A Força de Coriolis e seus Efeitos............................................................................. 117
6. Conclusão........................................................................................................................... 120
7. Referências......................................................................................................................... 123
Lista de Tabelas
entre a terra e o ar, e o elemento fogo, acima do ar. Todo elemento fora do seu lugar natural
tenderia a atingi-lo por meio de um movimento natural (DIAS et al., 2004). Era por isso que a
pedra caia em direção à Terra, a fumaça subia no ar e as labaredas de uma fogueira ficavam
para cima. O conceito de força não era ainda bem definido, embora o modelo aristotélico
atestasse a existência de uma força chamada physis (CRUZ, 1985), ou força natural,
responsável pelo movimento natural do corpo. Aristóteles também considerava a existência de
movimentos não naturais, chamados movimentos violentos, como por exemplo, o movimento
de subida de uma pedra lançada para o ar. A explicação para tal movimento era que, quando
alguém lançava a pedra, deixava nela uma força impressa, que permanecia na pedra. Essa
força impressa na pedra pelo lançador consistia no “impetus” (HARRES, 2002).
Para explicar o movimento dos projéteis no ar, tais com uma flecha ou uma pedra
lançada obliquamente ao longe, o modelo aristotélico previa uma sustentação pelo ar chamada
‘antiperistasis’, uma movimentação complexa do ar em volta do projétil, que se desviava
diante dele, puxando o ar em volta da parte final do projétil e em seguida ocupando aquele
espaço, empurrando o projétil.
O modelo aristotélico vigorou por quase 20 séculos, até que as discussões de
Copérnico acerca do heliocentrismo dessem nova luz sob a situação do planeta Terra no
universo e os estudos de Galileu levassem a formulação geral da cinemática. Já no século XIV
Willian of Ockham havia definido uma série de princípios para o movimento, conhecidos
como Navalha de Ockham (DIAS et al., 2004), rejeitando as entidades conceituais da teoria
de Aristóteles, tais como a força impressa e a antiperistasis. As idéias de Ockham foram
utilizadas nos estudos de Galileu para explicar a queda dos corpos, e culminou na cinemática
clássica.
Nos seus Diálogos, Galileu instituiu, pela primeira vez, embora de forma limitada,
o conceito de Inércia. Desenvolveu, além dos estudos sobre queda livre, outros sobre
gravitação e lançamento de projéteis, sendo o primeiro a determinar a órbita parabólica de um
projétil lançado sob a atração gravitacional. Também descobriu que o tempo de oscilação de
um pêndulo é constante. Além disso, trabalhou no desenvolvimento de telescópios,
fabricando, pessoalmente, centenas deles, distribuídos por toda a Europa (PRATT, 1965).
Isaac Newton nasceu no mesmo ano de falecimento de Galileu. Durante toda sua
vida estudou sobre os mais diversos campos de conhecimentos, teologia, óptica, gravitação,
cálculo diferencial. Porém, seus estudos sobre a dinâmica de movimento dos corpos foram os
mais conhecidos e culminaram no estabelecimento da física clássica. Em seu livro ‘Princípios
17
Matemáticos da Filosofia Natural’ foram enunciadas pela primeira vez as três leis
fundamentais da dinâmica, que alicerçam a física clássica até os dias atuais.
Embora a física newtoniana tenha dado um grande salto em direção ao
entendimento sobre o movimento dos corpos, ela é deficiente para explicar uma gama de
fenômenos relativísticos (a altas velocidades) relacionados à gravitação e à rotação da Terra.
Atualmente, a carga tecnológica humana permite o lançamento de foguetes e satélites que
sofrem influências relativísticas consideráveis, além de forças inerciais, provenientes da não
inercialidade do referencial de rotação da Terra. No início do século XX Einstein formulou a
Teoria da Relatividade Restrita e a Teoria da Relatividade Geral, que veio trazer uma luz para
o entendimento desses movimentos.
entre outras coisas, as missões humanas tripuladas para fora da Terra. Grande parte da
superfície terrestre é monitorada nos dias atuais a partir do espaço, seja por satélites
atmosféricos, militares ou pertencentes e sistemas privados de comunicações (televisão,
telefonia, GPS, entre outros). Citemos por exemplo, o sistema de satélites NAVSTAR, que
considera correções relativísticas em seus parâmetros de movimento (HALLIDAY et al.,
2003, p. 100).
A balística forense é outra área de pesquisa humana que necessita do
conhecimento sobre o movimento de projéteis. Segundo Barros (2002, p. 33), “A balística
tem como objetivo o estudo dos vários movimentos do projétil dentro e fora da arma e, ainda,
o modo de atirá-lo”. A balística forense utiliza-se de estudos sobre o alcance, deformação e
movimento do projétil dentro de um alvo, seja um corpo humano alvejado ou um obstáculo
físico, para identificar a arma que efetuou disparo e se possível o seu autor, além da forma e
distância de como e onde o disparo foi efetuado.
v0
y0 m
d d
R= p(t ) = (mv(t )) ,
dt dt
onde R é a soma resultante das forças que agem sobre o projétil, p(t ) é o momento linear e
v(t ) a velocidade do corpo em função do tempo. A única força que atua sobre o corpo é a
força peso, de modo que podemos escrever R = −mg , então:
21
d dv(t )
− mg = (mv(t )) = m . (2.1.1)
dt dt
Da equação 2.1.1 podemos facilmente ver que a aceleração a qual o projétil está
submetido neste lançamento vertical vale
dv(t )
a (t ) = = −g , (2.1.2)
dt
dv(t ) = − gdt .
v (t ) t
∫ dv(t ) =
v0
∫ − gdt ,
t0 = 0
onde t0 é tempo inicial do lançamento, e foi convencionado igual a zero, a fim de contabilizar
v(t ) = v0 − gt , (2.1.3)
que é a expressão da velocidade em função em função do tempo para este lançamento vertical
de projétil.
Vamos agora obter a expressão y (t ) , que representa a posição vertical do projétil
em função do tempo. Para isto utilizaremos a seguinte definição:
22
d
v(t ) = y (t ) .
dt
dy (t ) = (v0 − gt )dt .
Efetuando a integração de ambos os lados da expressão anterior nos limites que vão do inicio
do lançamento até um instante t após o lançamento, temos:
y (t ) t
∫ dy(t ) =
y0
∫ (v
t0 =0
0 − gt )dt ,
cuja solução é:
1 2
y (t ) = y0 + v0t − gt , (2.1.4)
2
v(t H ) = 0 ,
e então
23
v(t H ) = v0 − gt H = 0 .
Logo:
v0
tH = . (2.1.5)
g
H = y (t H ) ;
1 2
H = y0 + v0t H − gt H . (2.1.6)
2
2
v
H = y0 + 0 .
2g
y (t R ) = y0 ,
e então
1 2
y (t R ) = y0 + v0t R − gt R = y0 . (2.1.7)
2
24
Logo:
2v0
tR = .
g
Que é o tempo total de vôo do projétil. O valor t R = 0 também é solução da condição 2.1.7,
mas claramente representa o momento de lançamento. Observe que
t R = 2t H . (2.1.8)
t R = t H + td .
td = t H .
⎛ 2v ⎞
v(t R ) = v0 − gt R = v0 − g ⎜⎜ 0 ⎟⎟ ,
⎝ g ⎠
ou seja,
v(t R ) = −v0 .
25
Esta última expressão mostra que a velocidade do projétil na altura inicial durante o
movimento de descida é a mesma velocidade que na subida naquele ponto, exceto pela
inversão do sentido. Esta idéia pode ser generalizada para outras alturas atingidas pelo
projétil.
a) y b) y v=0 c) y
H H m H
g g g
v = v0
v = −v0
y0 m y0 y0 m
t = t0 = 0 t = tH t = t R = 2t H
FIGURA 2.1.2. Posição do projétil em três instantes: a) projétil na posição inicial; b) projétil na altura máxima;
c) projétil na passagem de volta pela posição inicial.
Como foi discutido, o tempo total de vôo foi considerado aquele compreendido
entre o lançamento e o momento em que o projétil atinge a altura inicial. Talvez possa parecer
intuitivamente que o tempo total de vôo fosse aquele compreendido entre o lançamento e o
momento em que o projétil atinge o solo, de modo que poderia ser aplicada a condição
y (t R ) = 0 . Isto não é verdade, no entanto, visto que o sistema de referência é escolhido
conforme conveniência, e não tem necessariamente sua origem na superfície da Terra. Para se
obter o tempo de vôo transcorrido entre o lançamento do projétil e o momento em que ele
atinge o solo, é necessário aplicar a condição y (t R ) = ysolo , onde ysolo é a altura
correspondente à superfície da Terra. Neste caso, no entanto, os tempos de descida e subida
do projétil não serão iguais, a menos que a altura inicial do projétil seja a coordenada da altura
da superfície.
No caso desenvolvido, a altura inicial do projétil foi a mesma usada como
condição para o tempo de descida do projétil, de modo que o tempo de descida foi igual ao
tempo de subida.
26
y
r
g
r
v0
θ0
r
r0
x
FIGURA 2.2.1. Esquema de lançamento de um projétil que se move num plano bidimensional.
r dpr (t ) d r
R= = (mv (t )) .
dt dt
Nas condições acima, a única força que age sobre o projétil é a força peso, de modo que
r r
podemos escrever R = mg . Substituindo este resultado na primeira expressão e resolvendo a
derivada temos:
27
r
r dv (t )
mg = m . (2.2.1)
dt
r
Eliminando m de ambos os lados da expressão acima e sabendo que g = − gˆj , podemos
observar que
r
r dv (t )
a (t ) = = − gˆj , (2.2.2)
dt
r
dv (t ) = − gdtˆj .
Integrando ambos os lados da expressão acima nos limites entre o lançamento e um instante t
transcorrido após o lançamento temos
r
v (t ) t
r
∫ dv = − ∫ gdt ˆj .
r
v0 t0 = 0
r
v (t ) = v0 cos θ 0iˆ + (v0 senθ 0 − gt ) ˆj , (2.2.3)
que é a função velocidade do projétil em termos do tempo. Separando esta última equação
podemos encontrar as componentes horizontal vx (t ) e vertical v y (t ) da velocidade do projétil:
vx (t ) = v0 cosθ 0
28
v y (t ) = v0 senθ 0 − gt .
r
Podemos encontrar a função posição r (t ) do projétil em termos do tempo por
meio da seguinte definição:
r
r dr (t )
v (t ) = .
dt
r
Multiplicando ambos os lados da equação anterior por dt , substituindo v (t ) conforme 2.2.3 e
integrando ambos os lados nos limites desde o lançamento até um instante t após o
lançamento, obtemos que:
r
r (t ) t
r
∫ dr =
r
r0
∫ [v
t0 = 0
0 cosθ 0iˆ + (v0 senθ 0 − gt ) ˆj ]dt .
r
Sabendo que r 0 = x 0 iˆ + y 0 ˆj e resolvendo a expressão acima, temos:
r ⎛ 1 ⎞
r (t ) = (x0 + v0t cosθ 0 )iˆ + ⎜ y0 + v0tsenθ 0 − gt 2 ⎟ ˆj . (2.2.4)
⎝ 2 ⎠
1
y (t ) = y0 + v0tsenθ 0 − gt 2 . (2.2.4.2)
2
29
⎛ gx0
2
⎞ ⎛ gx ⎞ ⎛ g ⎞
y ( x(t )) = ⎜⎜ y0 − x0 tan θ 0 − ⎟ + ⎜ tan θ 0 + 2 0 2 ⎟ x(t ) − ⎜ 2
⎟ ⎜ ⎟ ⎜
⎟ x(t ) 2 ,
⎟
2v0 cos θ 0 ⎠ ⎝ v0 cos θ 0 ⎠ ⎝ 2v0 cos θ 0 ⎠
2 2 2
⎝
o que mostra claramente que a trajetória percorrida pelo projétil nestas condições é uma
parábola com concavidade para baixo, conforme demonstrou Galileu:
Precursores de Galileu acreditavam que uma bala de canhão se move em linha reta
até esgotar seu impulso, e depois cai verticalmente (um deles propôs juntar esses
dois segmentos de retas por um arco de círculo tangente a ambos para descrever a
trajetória). Galileu foi o primeiro a demonstrar que a trajetória é uma parábola
(NUSSENZVEIG, 2002, p. 52).
v y (t H ) = 0 ,
e então
v y (t H ) = v0 senθ 0 − gt H = 0 .
Logo:
v0 senθ0
tH = . (2.2.5)
g
30
H = y (t H ) ;
1
H = y0 + v0t H senθ 0 − gt H .
2
(2.2.6)
2
2
⎛ v senθ 0 ⎞ 1 ⎛ v senθ 0 ⎞
H = y0 + v0 ⎜⎜ 0 ⎟⎟ senθ 0 − g ⎜⎜ 0 ⎟ ,
⎝ g ⎠ 2 ⎝ g ⎟⎠
v sen 2θ 0
2
H = y0 + 0 ,
2g
que é a altura máxima atingida pelo projétil. Observe a similaridade com a expressão obtida
no caso unidimensional, com a diferença de que neste caso, o projétil terá executado um
movimento horizontal ao mesmo tempo em que atinge a altura máxima.
Vamos considerar o alcance horizontal máximo R como sendo a distância
horizontal entre o ponto de lançamento e o ponto em que o projétil adquiri a mesma altura em
que estava inicialmente ao ser lançado. Este pressuposto gera o conceito intuitivo de que, se
lançamos o projétil da superfície da Terra, então o alcance máximo será a distância entre o
ponto de lançamento e o ponto em que ele primeiro atinge o solo. No entanto, aplicar a
condição y (t R ) = 0 , onde t R é o tempo em que o projétil atinge o alcance horizontal máximo,
não é sempre correto, visto que a origem do sistema de referência não está necessariamente na
superfície da Terra. Daí vamos usar a condição de que, num certo tempo t = t R o projétil
atinge a distância R e passa pela linha de altura inicial, de modo que podemos escrever:
y (t R ) = y0 ;
31
1
y (t R ) = y0 + v0t R senθ 0 − gt R = y0 ,
2
(2.2.7)
2
2v0 senθ 0
tR = . (2.2.8)
g
R = x(t R ) − x0 ;
⎛ 2v senθ 0 ⎞
R = x0 + v0 ⎜⎜ 0 ⎟⎟ cosθ 0 − x0 ,
⎝ g ⎠
2
v
R = 0 sen(2θ 0 ) . (2.2.10)
g
y
r
v (tH ) r
g
H r
v0 vy (tH ) = 0
θ0
y0
r
v (tR )
r R
r0
x
FIGURA 2.2.2. Trajetória, posição e velocidade de um projétil lançado no plano referencial em três instantes.
r ⎛ ⎛ 2v senθ0 ⎞ ⎞ ˆ
v (tR ) = v0 cosθ0iˆ + (v0 senθ0 − gtR ) ˆj = v0 cosθ0iˆ + ⎜⎜ v0 senθ0 − g ⎜⎜ 0 ⎟⎟ ⎟⎟ j ,
⎝ ⎝ g ⎠⎠
e observar que
r
v (t R ) = v0 cos θ 0iˆ − v0 senθ 0 ˆj .
velocidade ao passar de volta pela altura inicial é o mesmo componente da velocidade inicial
do projétil, mas com sinal invertido. Isto significa que em alturas iguais, as componentes
verticais da velocidade terão o mesmo módulo, mas sentidos inversos. Podemos lembrar que
esta mesma particularidade foi encontrada no caso unidimensional, como não poderia ser
diferente, visto que aquele trata-se de um caso particular deste.
O resultado 2.2.10 nos fornece uma importante observação: o maior alcance
horizontal máximo que um projétil pode atingir ocorre para um ângulo de 45º. Esta
observação já havia sido demonstrada nos estudos de Galileu, que também enunciou que “as
amplitudes das parábolas descritas por projéteis disparados com a mesma velocidade, mas em
ângulos de elevação acima e abaixo de 45º e eqüidistantes de 45º, são iguais entre si”
(NUSSENZVEIG, 2002, p. 53).
33
Este último enunciado pode ser facilmente demonstrado. Seja R1(45º+δ) o alcance
horizontal máximo para um ângulo de lançamento θ=45º+δ, onde 0º≤δ≤45º, e R2(45º- δ) o
alcance horizontal máximo para um ângulo de lançamento θ=45º-δ. Temos então que,
2 2
v0 v
R1 (45º +δ ) = sen[2(45º +δ )] = 0 [ sen90º cos(2δ ) + cos 90º sen(2δ )] ;
g g
2
v
R1 (45º +δ ) = 0 cos(2δ ) .
g
2 2
v0 v
R2 (45º −δ ) = sen[2(45º −δ )] = 0 [ sen90º cos(2δ ) − cos 90º sen(2δ )] ;
g g
2
v0
R2 (45º −δ ) = cos(2δ ) .
g
Logo, R1=R2, o que mostra que os alcances horizontais máximos para ângulos eqüidistantes
maiores e menores que 45º são iguais.
Podemos calcular a distância efetivamente percorrida pelo projétil, ou seja, o
comprimento L da trajetória. Para isto usaremos definição de Leithold (1994, p. 819):
tb r
dr (t )
L=∫ dt ,
ta
dt
tR
L= ∫
t0 = 0
(v0 cosθ 0 ) 2 + (v0 senθ 0 − gt ) 2 dt ,
34
2v0 senθ 0
onde t R = .
g
u 2 a2
resultado tabelado “ ∫ u + a du =
2 2
u + a + ln u + u 2 + a 2 + C ” (LEITHOLD, 1994,
2
2 2
p. F-4), obtemos
r ⎛ 1 ⎞
r (t ) = (x0 + v0t cos θ 0 )iˆ + ⎜ y0 + v0tsenθ 0 − gt 2 ⎟ ˆj ,
⎝ 2 ⎠
que é uma função com valores vetoriais. Os vetores unitários móveis, ou versores móveis,
possibilitam diversas aplicações no estudo do movimento, que vão desde a facilitação de
certos cálculos até a transição de sistemas referenciais.
O vetor tangente unitário T̂ é aquele versor que tangencia a trajetória do projétil
em cada ponto da trajetória (ver figura 2.2.3). Podemos encontrar o vetor tangente unitário por
meio da seguinte definição:
r
dr (t )
Tˆ (t ) = rdt ,
dr (t )
dt
dTˆ (t )
Nˆ (t ) = dt ,
dTˆ (t )
dt
e então temos:
onde
q (t ) = v0 − 2v0 gtsenθ 0 + g 2t 2 .
2
y r
v0
r
g Tˆ ( t )
Nˆ ( t )
θ0
y0
r
r0
x
FIGURA 2.2.3. Vetores tangente unitário e normal unitário em um ponto da trajetória do projétil.
r
Vamos agora encontrar o vetor curvatura K (t ) , que é o vetor cuja direção e
sentido apontam para o centro da circunferência que tangencia a trajetória do projétil em cada
36
ponto da trajetória (ver figura 2.2.4) e cujo módulo vale o inverso do raio desta circunferência
tangente a cada ponto da trajetória. Por definição (LEITHOLD, 1994, p. 827) temos:
dTˆ (t )
r
K (t ) = rdt ,
dr (t )
dt
logo:
onde
q (t ) = v0 − 2v0 gtsenθ 0 + g 2t 2 .
2
1
ρ (t ) = ,
K (t )
⎛1⎞
−⎜ ⎟
⎧ 2
⎛ g ⎞ ⎫
2 ⎝2⎠
⎪ ⎛ cos θ ( 2
− θ ) ⎞ ( θ − )( 2
− θ 0 ⎟ ⎪
)
⎟⎟ + ⎜
v g t v gsen v sen gt g t v gsen
ρ (t ) = ⎨⎜⎜ 0 0 0 0
+ 0 0 0
⎟ ⎬
⎪⎝ (q(t ) ) 2 ⎜ 3
⎠ ⎝ (q (t ) )2 (q(t ) ) 2
⎠ ⎪⎭
⎩
onde
q (t ) = v0 − 2v0 gtsenθ 0 + g 2t 2 .
2
37
y r
v0 r Tˆ (t )
K (t ) r
g
ρ (t )
θ0
y0
r
r0
x
FIGURA 2.2.4. Vetor curvatura e raio de curvatura em um ponto da trajetória do projétil.
r r 2
r d dr (t ) ˆ dr (t )
a (t ) = T (t ) + K (t ) Nˆ (t ) . (2.2.11)
dt dt dt
r
d dr (t )
Observe a similaridade do termo tangencial com a segunda derivada da
dt dt
r 2
dr (t ) v2
posição, e a similaridade do termo normal K (t ) com , que se refere à aceleração
dt r
centrípeta. Podemos entender que cada ponto da trajetória é tangenciado por uma
circunferência móvel cujo raio é igual ao raio de curvatura naquele ponto e cujo centro é
ligado ao ponto da trajetória por uma seta cuja direção coincide com o vetor curvatura.
Desenvolvendo a equação 2.2.11, temos que a aceleração do projétil pode ser expressa por:
r
a (t ) = aT (t )Tˆ (t ) + aN (t ) Nˆ (t )
onde
g 2t − v0 gsenθ 0
aT (t ) = 1
(q(t ) )2
e
38
1
⎛ ⎞
2 2
⎜ ⎛ v0 cosθ 0 ( g 2t − v0 gsenθ 0 ) ⎞ ⎛⎜ g (v0 senθ 0 − gt )( g 2t − v0 gsenθ 0 ) ⎞⎟ ⎟
2
a N (t ) = ⎜ ⎜⎜ ⎟⎟ + + ,
⎜ 1 ⎟ ⎟
⎜⎝ q (t ) ⎠ ⎝ (q (t ) )2 q (t ) ⎟
⎠ ⎠
⎝
sendo
q (t ) = v0 − 2v0 gtsenθ 0 + g 2t 2 .
2
r
g
r
v0
ϕ0
θ0 m
r
r0
y
x
FIGURA 2.3.1. Esquema de lançamento de um projétil num plano referencial tridimensional.
r r r r
v0 = v0 x + v0 y + v0 z = v0 xiˆ + v0 y ˆj + v0 z kˆ , (2.3.1)
onde
r dpr (t ) d r
R= = (mv (t )) .
dt dt
Sabemos que a força resultante é a força peso. Colocando esta condição e resolvendo a
derivada da equação anterior temos:
r
r dv (t )
mg = m ,
dt
r
r dv (t )
a (t ) = = − gkˆ , (2.3.2)
dt
r
v (t ) t
r
∫ dv (t ) = −
r
v0
∫ gkˆdt ,
t0 =0
r
v (t ) = v0 xiˆ + v0 y ˆj + (v0 z − gt )kˆ , (2.3.3)
vx (t ) = v0 x , v y (t ) = v0 y e vz (t ) = v0 z − gt ,
onde podemos observar claramente que somente o componente vertical varia com o tempo.
Mas também,
r
r dr (t )
v (t ) = .
dt
r
Sabendo que r0 = x0iˆ + y0 ˆj + z0 kˆ , e por métodos análogos aos anteriores, temos
r (t ) = ( x0 + v0 x t )iˆ + ( y0 + v0 y t ) ˆj + ⎜ z0 + v0 z t − gt 2 ⎟kˆ ,
r ⎛ 1 ⎞
(2.3.4)
⎝ 2 ⎠
41
x(t ) = x0 + v0 xt , (2.3.4.1)
y (t ) = y0 + v0 y t , (2.3.4.2)
1
z (t ) = z0 + v0 z t − gt 2 . (2.3.4.3)
2
⎛ v x gx ⎞ ⎛ v + gx0 ⎞
2
⎛ g ⎞
z ( x(t )) = ⎜⎜ z0 − 0 z 0 − 0 ⎟⎟ + ⎜⎜ 0 z ⎟⎟ x(t ) − ⎜⎜ ⎟⎟ x(t ) 2 ,
⎝ v0 x 2v0 x ⎠ ⎝ v0 x ⎠ ⎝ 2v0 x ⎠
que nos diz que a projeção da trajetória no plano xz é uma parábola. Analogamente, podemos
isolar o tempo em 2.3.4.2 e substituí-lo em 2.3.4.3, obtendo
⎛ v0 z y0 gy0 ⎞⎟ ⎛⎜ v0 z + gy0 ⎞⎟
2
⎛ g ⎞
⎜
z ( y (t )) = z0 − − + y (t ) − ⎜ ⎟ y (t ) 2 ,
⎜ ⎟ ⎜
2v0 y ⎠ ⎝ v0 y ⎠ ⎟ ⎜ ⎟
⎝ v0 y ⎝ 2v0 y ⎠
de modo que a projeção da trajetória no plano yz também é uma parábola. Podemos ainda,
isolar o tempo em 2.3.4.1 e substituí-lo em 2.3.4.2, obtendo
v0 y
y ( x(t )) = y0 + ( x(t ) − x0 ) ,
v0 x
que é uma equação de reta, significando que a trajetória do projétil está contida num plano
vertical. De fato, a equação 2.3.4 descreve a trajetória de uma parábola vertical com
concavidade para baixo no espaço xyz.
42
vz (t H ) = 0 ;
vz (t H ) = v0 z − gt H = 0 ;
e então
v0 z
tH = .
g
Como
H = z (t H ) ;
2
1 2 ⎛v ⎞ 1 ⎛v ⎞
H = z0 + v0 z t H − gt H = z0 + v0 z ⎜⎜ 0 z ⎟⎟ − g ⎜⎜ 0 z ⎟⎟ ;
2 ⎝ g ⎠ 2 ⎝ g ⎠
logo:
2
v0 z
H = z0 + .
2g
z (t R ) = z0 ;
1 2
z (t R ) = z0 + v0 z t R − gt R = z0 ,
2
2v0 z
tR = .
g
r
Rhorizontal = x(t R )iˆ + y (t R ) ˆj − ( x0iˆ + y0 ˆj ) ;
r ⎛ 2v ⎞ ⎛ 2v ⎞
Rhorizontal = ( x0 + v0 xt R )iˆ + ( y0 + v0 y t R ) ˆj − ( x0iˆ + y0 ˆj ) = v0 x ⎜⎜ 0 z ⎟⎟iˆ + v0 y ⎜⎜ 0 z ⎟⎟ ˆj .
⎝ g ⎠ ⎝ g ⎠
1
r ⎛ ⎛ 2v v ⎞ 2 ⎛ 2v0 z v0 y ⎞ 2 ⎞ 2
R = Rhorizontal = ⎜ ⎜⎜ 0 z 0 x ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟ ⎟ ,
⎜ ⎝ g ⎠ ⎝ g ⎟⎠ ⎟
⎝ ⎠
ou seja,
( )
1
2v0 z 2 2
R= v0 x + v0 y 2 .
g
bidimensional.
44
r
v0
r
g
ϕ0
θ0 m
r
r0
FIGURA 2.3.2. Trajetória de um projétil num espaço referencial xyz, mostrando a altura máxima e o alcance
horizontal máximo.
tb r
dr (t )
L=∫ dt ;
ta
dt
tR
∫
2 2
L= v0 x + v0 y + (v0 z − gt ) 2 dt ;
t0 = 0
2v0 z
onde t R = .
g
45
u 2 a2
∫ u 2 + a 2 du =
2
u + a 2 + ln u + u 2 + a 2 + C , obtendo
2
2 2
v0 x + v0 y v0 + v0 z v0v0 z
L= ln + .
2g v0 − v0 z g
12
10
R L H
Comprimento (metros)
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de lançam ento (graus)
FIGURA 2.3.3. Alcance horizontal máximo (R), alcance vertical máximo ou altura máxima (H) e comprimento
da trajetória (L) em função ângulo de lançamento para uma velocidade inicial de 10m/s.
r
dr (t )
Tˆ (t ) = rdt ,
dr (t )
dt
v iˆ + v0 y ˆj + (v0 z − gt )kˆ
Tˆ (t ) = 0 x .
2
v0 − 2v0 z gt + g 2t 2( 2
)
Obtido o vetor tangente unitário, podemos encontrar o vetor curvatura por meio da
seguinte definição:
47
dTˆ (t )
r
K (t ) = rdt ,
dr (t )
dt
e então encontramos
⎛ ⎞
⎛ v0 x ( g 2t − v0 z g ) ⎞ ˆ ⎛ v0 y ( g t − v0 z g ) ⎞ ˆ ⎜ g
2
r
⎜ ⎟ (v0 z − gt )( g 2t − v0 z g ) ⎟ ˆ
K (t ) = −⎜⎜ ⎟⎟i −
⎜ ⎟ j −⎜ 3
+ ⎟k
⎝ q(t ) 2 ⎠ ⎝ q(t ) 2 ⎠ ⎜ q(t ) 2 q(t ) 2 ⎟
⎝ ⎠
onde
2
q (t ) = v0 − 2v0 z gt + g 2t 2 .
1
Podemos também lembrar da definição ρ (t ) = r e encontrar o raio de
K (t )
⎛1⎞
−⎜ ⎟
⎛ 2
⎞ ⎝2⎠
⎜ ⎛ v ( g 2t − v g ) ⎞ 2 ⎛ v0 y ( g 2t − v0 z g ) ⎞ 2 ⎛⎜ g ( v − gt )( g 2
t − v g )
⎞
⎟ ⎟
ρ (t ) = ⎜ ⎜⎜ 0x 0z
⎟⎟ + ⎜ ⎟ +⎜ + 0 z 0 z
⎟ ⎟
⎜⎜ ⎝ q(t ) 2 ⎜ q(t ) 2 ⎟ 3
q (t ) 2
⎟⎟
⎠ ⎝ ⎠ ⎜ q(t ) 2 ⎟
⎝ ⎝ ⎠ ⎠
onde
2
q (t ) = v0 − 2v0 z gt + g 2t 2 .
Vamos lembrar que o vetor curvatura aponta para o centro da circunferência que
tangencia a trajetória em cada ponto. A circunferência tangente à trajetória estará no mesmo
plano que contém a trajetória do projétil. Neste movimento, o plano que contém a trajetória é
um plano vertical perpendicular ao plano xy (veja a figura 2.3.4).
48
r
r v0
g
m
ϕ0 r
θ0 K (t )
r
r0 ρ (t )
y
FIGURA 2.3.4. Vetor curvatura e raio de curvatura num ponto da trajetória do projétil.
Vamos agora encontrar o vetor normal unitário usando uma nova definição. Não é
difícil ver na figura 2.3.4 que o vetor curvatura tem sempre direção perpendicular à direção
tangente à trajetória do projétil, no sentido interno da curvatura. Logo, o vetor normal unitário
tem que ter a mesma direção e sentido do vetor curvatura. Mas o vetor curvatura não é um
vetor unitário, e sim tem seu módulo igual ao inverso do raio da circunferência que tangencia
a trajetória em cada ponto. Porém podemos dividir o vetor curvatura por seu módulo, e
garantir que se torne um versor, e então formular a seguinte definição:
r
K (t )
Nˆ (t ) = r ,
K (t )
2
e sabendo que q (t ) = v0 − 2v0 z gt + g 2t 2 , temos após os cálculos:
49
⎛ ⎞
⎛ v0 x ( g 2t − v0 z g ) ⎞ ˆ ⎛ v0 y ( g t − v0 z g ) ⎞ ˆ ⎜ g
2
( v − gt )( g 2
t − v g ) ⎟ˆ
− ⎜⎜ ⎟⎟i − ⎜ ⎟ j −⎜ + 0 z 0 z
⎟k
q(t ) 2 ⎜ q(t ) 2 ⎟ 3
( ) 2
⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎜ q t ⎟
⎝ q(t )
2
Nˆ (t ) = ⎠ .
⎛1⎞
2 ⎜⎝ 2 ⎟⎠
⎛ ⎞
⎜ ⎛ v ( g 2t − v g ) ⎞ ⎛ v0 y ( g 2t − v0 z g ) ⎞ ⎛⎜ g
2 2
(v0 z − gt )( g 2t − v0 z g ) ⎟ ⎟
⎞
⎜⎜ ⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ⎟ ⎟
⎟ +⎜ ⎟ +⎜ +
0x 0z
3
⎜⎜ ⎝ q (t ) 2 ⎠ ⎝ q(t ) 2 ⎠ ⎜ q(t ) 2 q (t ) 2 ⎟ ⎟⎟
⎝ ⎝ ⎠ ⎠
Bˆ (t ) = Tˆ (t ) × Nˆ (t ) .
Bˆ (t ) =
g
1
(− v
0y iˆ + v0 x ˆj )
2
n(t ) q(t )
2
onde
⎛1⎞
⎜ ⎟
⎛ ⎞ ⎞⎟⎝ 2 ⎠
2
⎜ ⎛ v ( g 2t − v g ) ⎞ 2 ⎛ v0 y ( g 2t − v0 z g ) ⎞ 2 ⎛⎜ g (v − gt )( g t − v0 z g ) ⎟
2
n(t ) = ⎜ ⎜⎜ 0 x 0z
⎟⎟ + ⎜ ⎟ +⎜ + 0z ⎟ ⎟
⎜⎜ ⎝ q(t ) 2 ⎜ q (t ) 2 ⎟ 3
q(t ) 2
⎠ ⎝ ⎠ ⎜ q(t ) 2 ⎟ ⎟⎟
⎝ ⎝ ⎠ ⎠
2
q (t ) = v0 − 2v0 z gt + g 2t 2 .
50
r
g r Bˆ (t )
v0
m
ϕ0
θ0 Nˆ (t ) Tˆ (t )
r
r0
FIGURA 2.3.5. Vetor tangente unitário, vetor normal unitário e vetor binormal unitário em um ponto da
trajetória do projétil.
Observe que o vetor binormal unitário não possui componente vertical, o que
significa que é paralelo ao plano horizontal xy. Podemos lembrar que ele é perpendicular aos
vetores tangente e normal unitário, e estes, por sua vez, estão contidos no plano que contém a
circunferência que tangencia a trajetória. Logo, o vetor binormal unitário é perpendicular à
circunferência tangente à trajetória do projétil e, por conseguinte, perpendicular ao plano que
contém a trajetória do projétil. Como o vetor binormal unitário não tem componente vertical,
podemos concluir que este plano que contém a trajetória do projétil é perpendicular ao plano
horizontal xy, demonstrando o que já havia sido mencionado anteriormente. Esta
demonstração é mais uma aplicação dos vetores unitários móveis.
Os vetores tangente unitário Tˆ (t ) , normal unitário Nˆ (t ) e binormal unitário
r r 2
r d dr (t ) ˆ dr (t )
a (t ) = T (t ) + K (t ) Nˆ (t )
dt dt dt
51
r
adaptada de Leithold (1994, p. 840) e calcular também a aceleração a (t ) do projétil em
termos de seus componentes normal e tangencial.
r
a (t ) = aT (t )Tˆ (t ) + a N (t ) Nˆ (t )
onde
g 2t − v0 z g
aT (t ) = ,
q (t ) 2
1
⎛ ⎞ ⎞⎟ 2
2
⎜ ⎛ v ( g 2t − v g ) ⎞ 2 ⎛ v0 y ( g 2t − v0 z g ) ⎞ 2 ⎛⎜ g (v − gt )( g t − v0 z g ) ⎟
2
a N (t ) = ⎜ ⎜⎜ 0 x 0z
⎟⎟ + ⎜ ⎟ +⎜ + 0z ⎟ ⎟
⎜⎜ ⎝ q(t ) ⎜ q (t ) ⎟ 1
q(t )
⎠ ⎝ ⎠ ⎜ q(t ) 2 ⎟ ⎟⎟
⎝ ⎝ ⎠ ⎠
2
q (t ) = v0 − 2v0 z gt + g 2t 2 .
O estudo clássico idealizado nos mostra que a trajetória de um projétil lançado sob
efeito da atração gravitacional da Terra é uma parábola. Estudando cada componente da
forma funcional do movimento do projétil obtida no capítulo anterior, podemos ver que os
componentes horizontais descrevem movimentos uniformes. No entanto, não são estes efeitos
que verificamos no nosso dia a dia, fato que leva a percepção humana a encarar de outra
forma o movimento de corpos na atmosfera. Como exemplo, podemos citar os desenhos
animados, onde comumente é mostrado um objeto sendo lançado obliquamente da superfície,
e percorre uma trajetória em linha reta para depois parar e cair verticalmente (TAVARES,
2004).
Brancazio (1985) apud Halliday et al. (2002a, p. 55) compara a trajetória ideal de
uma bola (modelo parabólico) com a trajetória real obtida experimentalmente. Os dados
experimentais obtidos por Brancazio (op cit.) são mostrados na tabela abaixo.
TABELA 3.1. Parâmetros de alcance para lançamento de uma bola na atmosfera, lançada com
uma velocidade de 44,7m/s com um ângulo de lançamento de 60º com a horizontal.
Parâmetro Trajetória Real Trajetória Ideal Clássica
Alcance horizontal 98,5m 177m
Altura máxima 53,0m 76,8m
Tempo de vôo 6,6s 7,9s
54
80
Trajetória ideal cláss ica
Trajetória real es timada
70
60
50
Altura (m)
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Distâ ncia horiz onta l (m )
FIGURA 3.1. Trajetória ideal clássica e trajetória real estimada para uma bola lançada com uma velocidade de
44,7 m/s formando um ângulo de 60º com a horizontal.
Um fluido é uma substância que pode escoar, ou fluir. Sob o ponto de vista
formal, “um fluido é uma substância que escoa porque não consegue suportar uma tensão
cisalhante” (HALLIDAY et al., 2002b, p. 48). Como não consegue resistir a uma força
tangencial à sua superfície, se distribui pelos limites de qualquer reservatório que esteja
contido. Por definição, os fluidos englobam os líquidos e gases.
Os fluidos desempenham um papel vital na vida humana e na natureza, e o
homem deu para eles diversas aplicações tecnológicas.
Vamos ver agora algumas propriedades importantes sobre fluidos, que serão úteis
para estudar o movimento de projéteis na atmosfera, que é formada por diversos fluidos.
Primeiramente vamos estudar sobre massa específica, entendida com a quantidade de massa
do fluido contida numa pequena porção infinitesimal de volume:
dm
ρ= ,
dV
m
ρ= ,
V
dF
p= ,
dA
56
porção infinitesimal de área do fluido em m 2 . Para o caso de uma força uniforme sobre uma
área plana, temos:
F
p= ,
A
r r
E = −m f g ,
r
onde m f é a massa de fluido deslocado pelo corpo em contato com o fluido e g a aceleração
da gravidade.
Por fim, vamos analisar a viscosidade de um fluido, que é o análogo fluido para o
atrito entre corpos, ou a medida de resistência de um fluido ao escoamento. Assim, o piche
tem maior viscosidade que o mel, pois escoa mais lentamente.
Microscopicamente, a viscosidade representa o atrito interno entre as camadas de
fluido. Isto tem uma importância genérica para o caso de projéteis, já que este atrito entre as
camadas tende a existir também entre as camadas e os corpos que atravessam o fluido.
Formalizaremos esta relação mais a frente. Vamos agora comentar sobre o coeficiente de
viscosidade η , que está diretamente relacionado ao fenômeno microscópico da viscosidade.
Para isto, vamos supor duas camadas de convecção em um fluido, com velocidades diferentes
e ambas paralelas a um eixo de convecção Y e perpendiculares a um eixo de variação de
velocidade de convecção X: “a densidade de corrente de momento, jP é a quantidade de
momento de convecção (paralelo ao eixo Y) transferido por unidade de tempo através da
unidade de área perpendicular à direção em que a velocidade de convecção varia” (ALONSO
e FINN, 1972a, 2, p. 522); o que pode ser expresso por:
57
∂v y
jP = −η ,
∂x
r r r2
R = bv + cv , (3.3.1)
r
onde b e c são constantes cujo significado físico serão mais adiante explicados, e v é a
velocidade relativa do projétil em relação ao ar. Podemos considerar que todas as porções de
r
ar estão em repouso na atmosfera, de modo que a velocidade relativa v do projétil em relação
ao ar coincida com a velocidade do projétil em relação ao referencial inercial (Terra). O termo
r r
linear da expressão 3.3.1 predomina quando v é pequeno, e o termo quadrático quando v é
r r
R = −bv . (3.3.2)
59
b = ηK obj ,
depende da forma do projétil. Por cálculos complicados, podemos determinar K obj para uma
K esfera = 6πR .
Esta relação é conhecida como lei de Stokes (ALONSO e FINN, 1972b, p. 162). De modo
geral, o coeficiente K obj não é constante durante o movimento. Ele relaciona-se
r
g
r v 0 x = v 0 cos θ 0 cos ϕ 0
v0
v 0 y = v 0 sen θ 0 cos ϕ 0
ϕ0
θ0 m
r v 0 z = v 0 sen ϕ 0
r0
y
x
FIGURA 3.3.1. Sistema referencial de lançamento de um projétil na atmosfera terrestre.
Vamos considerar o projétil como sendo uma esfera de raio R e que a força de
resistência do ar segue o modelo dado por 3.3.2. Temos então que:
r r r r
dv (t )
R=P+R=m ,
dt
r
de onde, sabendo que P é o peso, chegamos em
r
r r dv (t )
mg − bv (t ) = m .
dt
b
Definindo k = , temos
m
r
dv (t ) r
+ kv (t ) = − gkˆ ,
dt
que é a uma equação diferencial linear de primeira ordem, e pode ser facilmente resolvida
pelo método do fator integrante, de modo que obtemos:
r r g
v (t ) = Ce − kt − kˆ ,
k
61
r r r
onde C é um vetor constante que é determinado pela condição inicial v (t 0 = 0) = v0 como
r g
sendo v0 + kˆ . Então,
k
r ⎛r g ⎞ g
v (t ) = ⎜ v0 + kˆ ⎟e − kt − kˆ (3.3.3)
⎝ k ⎠ k
vx (t ) = v0 x e − kt ,
v y (t ) = v0 y e − kt
⎛ g⎞ g
vz (t ) = ⎜ v0 z + ⎟e −kt − .
⎝ k⎠ k
r
r dv (t )
Podemos agora aplicar a (t ) = e descobrir a função aceleração do projétil:
dt
r ⎛r g ⎞
a (t ) = −k ⎜ v0 + kˆ ⎟e −kt , (3.3.4)
⎝ k ⎠
a x (t ) = −kv0 x e − kt ,
a y (t ) = −kv0 y e − kt
e
62
a z (t ) = (− kv0 z − g )e − kt .
r r
r (t ) t
r dr (t ) r r
v (t ) = => ∫ dr (t ) = ∫ v (t )dt ;
dt r
r0 0
r
e substituindo v (t ) conforme 3.3.3, temos que
r r 1⎛r g ⎞ g
( )
r (t ) = r0 + ⎜ v0 + kˆ ⎟ 1 − e −kt − tkˆ ,
k⎝ k ⎠ k
(3.3.5)
x(t ) = x0 +
v0 x
k
(
1 − e −kt , ) (3.3.5.1)
y (t ) = y0 +
v0 y
k
(1 − e )
−kt
(3.3.5.2)
1⎛ g⎞
( g
z (t ) = z0 + ⎜ v0 z + ⎟ 1 − e −kt − t .
k⎝ k⎠ k
) (3.3.5.3)
⎡ ⎛ g ⎞ ⎤ ⎡⎛ g ⎞⎤
⎢ ⎜ v0 z + ⎟ ⎥ ⎢ ⎜ v0 z + ⎟ ⎥
g ⎛ ⎞
z ( x(t )) = ⎢ z0 − ⎝
k⎠
x0 ⎥ + ⎢ ⎝
k⎠ k
⎥ x(t ) + 2 ln⎜⎜1 − ( x(t ) − x0 ) ⎟⎟
⎢ v0 x ⎥ ⎢ v0 x ⎥ k ⎝ v0 x ⎠
⎢⎣ ⎥⎦ ⎢⎣ ⎥⎦
⎡ ⎛ g ⎞ ⎤ ⎡⎛ g ⎞⎤
⎢ ⎜ v0 z + ⎟ ⎥ ⎢ ⎜ v0 z + ⎟ ⎥
g ⎛ ⎞
z ( y (t )) = ⎢ z0 − ⎝
k⎠
y0 ⎥ + ⎢ ⎝
k⎠ k
⎥ y (t ) + 2 ln⎜1 − ( y (t ) − y0 ) ⎟ .
⎢ v0 y ⎥ ⎢ v0 y ⎥ k ⎜ v ⎟
⎝ 0y ⎠
⎢⎣ ⎥⎦ ⎢⎣ ⎥⎦
x (m )
FIGURA 3.3.2. Trajetória no plano zx de um projétil lançado sob ação da atração gravitacional e da resistência
do ar na forma linear com a velocidade.
Veja na figura 3.3.2 a similaridade com a trajetória estimada na figura 3.1. Fica
claro a perda de simetria parabólica da trajetória provocada pelo efeito de resistência do ar.
64
v0 y
y ( x(t )) = y0 + ( x(t ) − x0 ) ,
v0 x
que é uma equação de reta. Veja que no caso clássico (seção 2.3) obtivemos o mesmo
resultado. Isto demonstra que a força de resistência não provoca efeitos no plano vertical de
lançamento do projétil, e a trajetória do projétil continuará contida no plano vertical que
contém o vetor velocidade inicial.
r
v0
r
r0
FIGURA 3.3.3. Forma geral da trajetória do projétil no espaço, ficando evidente a falta de simetria da trajetória.
v z (t H ) = 0 ;
⎛ g⎞ g
vz (t H ) = ⎜ v0 z + ⎟e −ktH − = 0 ;
⎝ k⎠ k
e podemos isolar t H :
65
H = z (t H ) ;
1⎛ g⎞ g
H = z0 + ⎜ v0 z + ⎟(1 − e −kt H ) − t H ;
k⎝ k⎠ k
z (t R ) = z0 ;
1⎛
k⎝
g⎞
k⎠
( ) g
z (t R ) = z0 + ⎜ v0 z + ⎟ 1 − e −ktR − t R = z0 ;
k
⎛ gk ⎞
e −ktR = 1 − ⎜⎜ ⎟⎟t R . (3.3.8)
⎝ 0z
kv + g ⎠
A equação 3.3.8 não tem solução explícita para t R obtida por métodos analíticos
triviais. No entanto, existem aproximações experimentais, além de ser facilmente resolvida
por métodos numéricos. O tempo t R é de fato um parâmetro importante para o estudo do
lançamento do projétil. Além de representar o tempo total de vôo, ele nos permite calcular o
66
r r r r
dv (t )
P+E+R=m ,
dt
e temos
r
ˆ ˆ r dv (t )
− mgk + m ar gk − bv (t ) = m ,
dt
m − mar
movimento. Fazendo a definição M = , obtemos para a equação acima a forma
m
dv(t )
+ kv(t ) = − Mg , (3.4.1)
dt
⎛ Mg ⎞ −kt Mg
v(t ) = ⎜ v0 + ⎟e − ,
⎝ k ⎠ k
a(t ) = (− kv0 − Mg )e − kt
67
1⎛
z (t ) = z0 + ⎜ v0 +
k⎝
(
Mg ⎞
⎟ 1− e −
k ⎠
)
− kt Mg
k
t.
z
v
E
H m
r
r R
r P
v v v r
E E R
m m
v
r r r r E
v
r R P P
v0 v m
E r m
vT r
z0 m P r
vT
r r
R P
t = t0 t = tH t = tT tT < t < t R
FIGURA 3.4.1. Vetor velocidade e diagrama de forças para o projétil. Observar a resultante nula de força no
tempo tT em que o projétil adquire a velocidade terminal.
kv(tT ) = − Mg ,
e então
− Mg
vT = ,
k
onde o sinal negativo indica que a velocidade terminal é contrária a orientação do referencial,
ou seja, aponta para baixo. Mas como determinarmos o tempo tT ? A condição
v(tT ) = vT ;
⎛ Mg ⎞ − ktT Mg
v(tT ) = ⎜ v0 + ⎟e − = vT ;
⎝ k ⎠ k
69
resulta em
1
= 0,
e ktT
⎡⎛ Mg ⎞ −kt Mg ⎤ Mg
limt →∞ v(t ) = limt →∞ ⎢⎜ v0 + ⎟e − ⎥ =− ,
⎣⎝ k ⎠ k ⎦ k
que é a velocidade terminal. Mas isto significa que o projétil só atingirá a velocidade terminal
num tempo infinito? Não é o que observamos na prática. Este resultado reflete o fato de que
quanto mais aumenta o módulo da força de resistência, mais lentamente aumenta o módulo da
velocidade, e quanto mais lentamente aumenta o módulo da velocidade, mais lentamente
aumenta o módulo da força de resistência (ver figura 3.4.2).
v(t )
v0
t
Mg
vT = −
k
FIGURA 3.4.2. Velocidade em função do tempo para um projétil, mostrando a velocidade tendendo à velocidade
terminal.
r g
vT = − kˆ .
k
Observe que a velocidade terminal não tem componentes horizontais, ou seja, se um projétil
ficar tempo suficiente no ar, acabará executando um movimento retilíneo uniforme
completamente vertical. Isto não é grande novidade, já que a força de resistência horizontal
tende a anular toda a velocidade horizontal inicial do projétil.
R = ( x(t R ) − x0 ) 2 + ( y (t R ) − y0 ) 2 ,
(1 − e − ktR ) (1 − e − ktR )
v0 cos ϕ0 .
2 2
R= v0 x + v0 x =
k k
71
r 2
⎛⎛ g⎞
(v ) + (v )
tR tR
dr (t ) −kt 2 −kt 2 g⎞
L= ∫
t0 =0
dt
dt = ∫
t0 =0
0x e 0y e + ⎜⎜ ⎜ v0 z + ⎟e −kt − ⎟⎟ dt .
⎝⎝ k⎠ k⎠
1 ⎧⎪ a ⎫⎪
L = − ⎨c1 − c2 − a3 ln c3 + 2 ln c4 ⎬ ,
k ⎪⎩ 2 a1 ⎪⎭
onde
c2 = a1 + a2 + a3 ,
c4 =
(2 a1 a1e − 2 kt R + a2e − kt R + a3 + 2a1e − kt R + a2 ),
2 a1 a1 + a2 + a3 + a2 + 2a1
2 2
⎛ g⎞ ⎛ g⎞
+ ⎜ v0 z + ⎟ = v0 cos 2 ϕ 0 + ⎜ v0 senϕ 0 + ⎟ ,
2 2 2
a1 = v0 x + v0 y
⎝ k⎠ ⎝ k⎠
2g ⎛ g⎞ 2g ⎛ g⎞
a2 = − ⎜ v0 z + ⎟ = − ⎜ v0 senϕ0 + ⎟
k ⎝ k⎠ k ⎝ k⎠
e
72
2
⎛g⎞
a3 = ⎜ ⎟ .
⎝k⎠
8H
tR = .
g
Para k = b m = 0, o modelo de Littlewood (op cit.) recai no mesmo tempo de vôo obtido para
o modelo parabólico clássico.
Bruno e Matos (2002, p. 33) estabelecem uma aproximação quadrática do tempo
de vôo com a velocidade vertical de lançamento do projétil, dada por
2
2v0 z 2kv0 z
tR = − . (3.5.1)
g 3g 2
Bruno e Matos (op cit.) demonstram também que o modelo de Littlewood (op cit.) recai na
expressão 3.5.1 para valores pequenos de k , representando percentuais relativos de erros
menores que 1% para k < 1,0 .
Passemos agora a investigar a expressão 3.3.8,
⎛ gk ⎞
e −ktR = 1 − ⎜⎜ ⎟⎟t R ,
⎝ kv0 z + g ⎠
na procura de uma solução numérica para o valor de t R . Para tal, usaremos um software
próprio que utiliza o método de Newton, que é um método numérico destinado à obtenção de
raízes de funções transcendentes.
73
5
k=0,1/s
k=0,5/s
k=1,0/s
Alcance vertical máximo (metros)
4
k=0 clássico
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de lançamento (graus)
FIGURA 3.5.1. Altura máxima (alcance vertical máximo) atingida pelo projétil em função do ângulo de
lançamento.
2 tR para k = 0 c lás s ic o
tR para k = 0,1/s
tR para k = 0,5/s
tR para k = 1,0/s
tH para k = 0 c lás s ic o
tH para k = 0,1/s
tH para k = 0,5/s
Tempo (s)
tH para k = 1,0/s
1
0
0 20 40 60 80
Ân g u lo d e Lançame n to (grau s)
FIGURA 3.5.2. Tempo de vôo e tempo de subida do projétil em termos do ângulo de lançamento.
10
k=0,1/s
k=0,5/s
Alcance horizontal máximo (metros)
k=1,0/s
8
k=0 clássico
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de lançamento (graus)
FIGURA 3.5.3. Alcance horizontal máximo atingido pelo projétil em termos do ângulo de lançamento.
12
k=0,1/s
k=0,5/s
Comprimento da trajetória (metros)
10 k=1,0/s
k=0 clássico
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de lançamento (graus)
da Terra. A condição correta neste caso é z (t R ) = h' , e atentando para o fato de que obteremos
dois valores de t R , um para o movimento de subida e outro para o movimento de descida do
projétil, desconsideramos o primeiro e aplicamos o segundo em
y M
r
R = −bvvˆ
r
M R = −bvvˆ e)
r
M R = −cv 2vˆ
a) r
P r
M R = −cv 2vˆ
r
b) P M
r
c) P
r
d) P
FIGURA 4.1.1. Diagrama de forças durante a queda do pára-quedista. M é a massa do sistema pára-quedista +
pára-quedas.
r r
R = −cv 2vˆ = −cvv corresponde a forma geral da força de resistência quadrática com a
velocidade, onde o termo c será mais adiante explicado, e, neste momento, tomado como
constante.
Equacionando a primeira parte do movimento do pára-quedista ( t < ta , resistência
linear com a velocidade), temos
⎛ Mg ⎞ − M t Mg
b
v(t ) = ⎜ v0 + ⎟e −
⎝ b ⎠ b
Mg
vT = limt →∞ v(t ) = − ,
b
dv(t ) cv(t ) 2
= −g (4.1.1)
dt M
e pode ser facilmente resolvida por meio de frações parciais, de modo que obtemos
⎛ Mg ⎞
⎜ + va cg ⎟
−2 (t −ta )
⎜ c e M
− 1⎟
⎜ Mg ⎟
⎜ − va ⎟
Mg ⎝ c ⎠,
v(t ) =
c ⎛ Mg ⎞
⎜ + va cg ⎟
−2 (t −ta )
⎜ c e M
+ 1⎟
⎜ Mg ⎟
⎜ − va ⎟
⎝ c ⎠
79
Mg
vTa = limt →∞ v(t ) = − ,
c
que é a velocidade terminal para a segunda parte do movimento e cujo sinal negativo
representa a queda do pára-quedista. É importante observar que o valor absoluto de vTa é
menor que o valor absoluto de vT , dado que a constante c é maior que a constante b , em
vista da grande área de seção do pára-quedas. Com esta velocidade terminal, o pára-quedista
desce com segurança ao solo.
A resolução da equação 4.1.1 pode fazer parecer que o caso tenha tratamento
analítico, o que não é verdade de modo geral; acontece que esta equação representa apenas a
queda do pára-quedista (movimento vertical). A representação para o movimento de subida de
um corpo requer uma outra formulação, e para o caso geral de movimento de um projétil, o
equacionamento não possui independência entre os componentes, não podendo ser resolvido
em partes.
1
C R Aρvr ,
2
FR = (4.2.1)
2
geométrica do corpo, de sua rugosidade e de seu movimento de rotação, e de modo geral não
é constante durante o movimento. Em nosso desenvolvimento consideraremos como projétil
uma esfera lisa de diâmetro d em metros e massa m constante, em Kg , e utilizaremos a
aproximação experimental C R = 0,4 (STREETER, 1974, p. 261) apud (FERREIRA, 2001, p.
272) para velocidades iniciais elevadas (maiores que 100m/s) e CR = 0,5 (FAZURI e
MATOS, 1998) para velocidades iniciais menores.
A forma vetorial da expressão 4.2.1 é dada por
r 1 r
FR = − CR Aρvr vr ,
2
onde o sinal negativo indica que a força de resistência é contrária ao sentido do movimento. A
figura 4.2.1 mostra o esquema das forças e velocidades que agem sob o projétil durante o
movimento. O referencial escolhido é o referencial inercial bidimensional, representado pelo
plano xy que contém a trajetória (figura 4.2.1). Já vimos anteriormente que as forças de
resistência não alteram o plano vertical da trajetória (a trajetória está contida no plano vertical
que contém o vetor velocidade inicial), e por isto a escolha do plano bidimensional como
referencial não causa perda de generalidade do caso desenvolvido.
y
r
r −w
vr
r
v ϕ 0 vento
m
r
w
r
v0 r
FR
r
ϕ0 FG
r
r0 x
FIGURA 4.2.1. Esquema das forças e velocidades durante o movimento de um projétil sob ação de uma força de
resistência quadrática com a velocidade.
r GmT m ˆ
FG = − j.
(RT + y )2
r mg
FG = − ˆj .
2
⎛ y ⎞
⎜⎜1 + ⎟⎟
⎝ RT ⎠
ρ = ρ ( y ) = ρ s e −αy ,
movimento do projétil:
r r
dv (t )
∑ F = m dt ;
r
dv (t ) r r 1 r mg ˆj .
m = FR + FG = − CR Aρvr vr − 2
dt 2 ⎛ y ⎞
⎜⎜1 + ⎟⎟
⎝ RT ⎠
82
r
dv (t ) πd 2 r r
C R ρ s e −αy (vx − wx ) 2 + (v y − wy ) 2 (v − w) −
g ˆj ,
=− (4.2.2)
dt 8m (1 + y / RT )2
πd 2
a x (t ) = − CR ρ s e −αy (vx − wx ) 2 + (v y − wy ) 2 (vx − wx ) (4.2.2.1)
8m
πd 2
C R ρ s e −αy (vx − wx ) 2 + (v y − wy ) 2 (v y − wy ) −
g
a y (t ) = − (4.2.2.2)
8m (1 + y / RT )2
e observar que não são independentes, visto que ambas tem componentes x e y da velocidade.
Vamos agora introduzir os métodos numéricos e desenvolver um modelo
numérico computacional na busca de uma solução para o sistema de equações descrito por
4.2.2.1 e 4.2.2.2.
πd 2
a xn = − CR ρ s e −αy (vxn − wx ) 2 + (v yn − wy ) 2 (vxn − wx ) (4.3.2.1)
8m
πd 2
C R ρ s e −αy (vxn − wx ) 2 + (v yn − wy ) 2 (v yn − wy ) −
g
a yn = − , (4.3.2.2)
8m (1 + yn / RT )2
yn = yn −1 + v y ( n −1) h , (4.3.2.6)
mas vamos fazer a troca dos termos vx ( n−1) e v y ( n−1) por v xn e v yn , respectivamente,
caracterizando o método de Euler do ponto final (EPF), cujos resultados são mais precisos e
confiáveis (FAZURI e MATOS, 1998). Assim temos para um tempo t = tn = t0 + nh e n > 0 ,
xn = xn −1 + vxn h
yn = yn−1 + v yn h .
x vx
a) b)
xn v xn
r r
x n −1 v x ( n − 1)
t t
t n −1 tn t n −1 tn
t n − t n −1 = h t n − t n −1 = h
FIGURA 4.3.2.1. Variações iterativas da posição x (parte a) e da componente x da velocidade (parte b).
Vemos, na parte a, que a inclinação da reta r é dada por ( xn − xn−1 ) / h . Para um valor
N
L = ∑ ( xn − xn−1 ) 2 + ( yn − yn−1 ) 2 , (4.3.2.7)
n =1
25
20
15
y (m)
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35
x (m)
Posição x
Posição y
30
Posição (m)
20
10
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5
Te m po (s)
FIGURA 4.4.1.2. Variação temporal das posições x e y para uma bola de futebol sem influência do vento.
89
32
Veloc idade horizontal
Veloc idade vertical
22
Velocidade (m/s)
12
-8
T e mpo (s)
-18
FIGURA 4.4.1.3. Variação temporal das componentes vertical e horizontal da velocidade da bola de futebol sem
influência do vento.
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5
-10
2
)
-20
Aceleração (m/s
Aceleração horizontal
Aceleração vertical
-30
-40
Te m po (s)
-50
FIGURA 4.4.1.4. Variação temporal das componentes horizontal e vertical da aceleração da bola de futebol sem
influência do vento.
6
Tempo de Subida (tH)
Tempo de voô (tR) 5,14
5
5
4,45 4,53
4,36
4
Tempo (s)
2,17 2,1
1,92 1,97 1,87
2
0
1 2 3 4 5
Simulação
FIGURA 4.4.1.5. Tempo de subida e tempo de vôo da bola de futebol nas simulações da influência do vento sob
a bola de futebol.
92
Veja que ventos com componentes verticais (ventos que empurram a bola para cima) tendem
a prolongar o tempo de vôo da bola (simulação 3 e 4, aumento respectivo de 15,5% e 12,4%
do tempo de vôo), embora com componentes horizontais contrários ao movimento horizontal
da bola (simulação 4). Ocorre um pequeno aumento de 1,8% do tempo de vôo com o vento
horizontal auxiliando do movimento (simulação 2) e um decréscimo de 2,0% com vento
horizontal contra o movimento (simulação 5). Vemos também que o tempo de subida
representa 43,1% do tempo total de vôo para o caso sem influência do vento, 43,2% em média
nos casos de vento apenas horizontal e 42,1% em média nos casos de vento empurrando a
bola para cima (o vento ajuda a bola a atingir mais rapidamente sua altura máxima).
Na figura 4.4.1.6 temos os alcances e o comprimento da trajetória para a bola de
futebol nas cinco simulações realizadas. A altura máxima atingida pela bola sofre uma
variação máxima de 15,7% (aumento) com um vento favorável ao movimento num ângulo de
45º com a horizontal (simulação 3). Para o alcance horizontal e o comprimento da trajetória
da bola, as maiores variações foram um aumento de 35,4% e 23,0%, respectivamente
(simulação 3).
90
Altura Máxima (H)
79,54
80 Alcance Horizontal (R)
74,10
Comprimento da trajetória (L)
70 64,69 65,29
60 56,49
Comprimento (m)
49,61 50,44
50
40 37,24
28,44 29,67
30 27,15
24,57 25,35 23,7624,80
20
10
0
1 2 3 4 5
Simulação
FIGURA 4.4.1.6. Altura máxima, alcance horizontal e comprimento da trajetória nas simulações da influência do
vento sob a bola de futebol.
Temos então que um vento favorável ao movimento, num ângulo de 45º com a
horizontal do movimento, é aquele que ocasiona maior influência sob o movimento da bola.
Na figura 4.4.1.7 temos a trajetória da bola de futebol nas cinco simulações realizadas.
93
30
Simulação 1
Simulação 2
25 Simulação 3
Simulação 4
Simulação 5
20
y (m )
15
10
0
0 10 20 30 40 50
x (m)
Vamos iniciar agora um estudo da variação dos alcances e dos tempos de vôo de
um projétil em termos do ângulo de lançamento. Para tal estudo, simularemos o lançamento
de um projétil ogival de diâmetro 0,105m e massa 14,980Kg, sendo este uma bala de canhão
de 105mm. A escolha se deve ao fato de que este armamento bélico é largamente usado nos
arsenais de artilharia, tendo seus resultados experimentais publicados em artigos e manuais de
guerra.
Assumiremos uma variação temporal de 0,001s e quatro velocidades iniciais de
lançamento, 198m/s, 267m/s, 376m/s e 472m/s. O ângulo de lançamento será o parâmetro
variável de nossa simulação.
94
70
tH v0=198m/s
tR v0=198m/s
tH v0=267m/s
60
tR v0=267m/s
tH v0=376m/s
50 tR v0=376m/s
tH v0=472m/s
tR v0=472m/s
40
Tempo (s)
30
20
10
0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)
FIGURA 4.4.2.1. Variação do tempo de vôo e do tempo de subida do projétil do canhão 105mm em função do
ângulo de lançamento.
Vemos por meio da figura 4.4.2.1 que o tempo de vôo do projétil aumenta com o
aumento do ângulo de lançamento (culminando num lançamento vertical), sendo maior
quanto maior for a velocidade de lançamento do projétil. O tempo de subida corresponde em
média a 47,0% do tempo total de vôo.
6000
v0=198m/s
v0=267m/s
5000 v0=376m/s
v0=472m/s
Alcance Vertical Máximo (m)
4000
3000
2000
1000
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângu lo de lançam e nto (gr aus )
FIGURA 4.4.2.2. Variação do alcance vertical do projétil do canhão 105mm em função do ângulo de
lançamento.
Vemos no gráfico da figura 4.4.2.2 que a altura máxima atingida pelo projétil
ocorre para o maior ângulo de lançamento (lançamento vertical), o que corrobora o fato de
95
que o tempo total de vôo (também é máximo no lançamento vertical) está diretamente
relacionado com a altura da trajetória do projétil.
v0=198m/s
8000 v0=267m/s
v0=376m/s
v0=472/m/s
Alcance horizontal máximo (m)
6000
4000
2000
0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)
FIGURA 4.4.2.3. Variação do alcance horizontal máximo do projétil do canhão 105mm em função do ângulo de
lançamento.
resultados do modelo para um ângulo de 44º (figura 4.4.2.1 e 4.4.2.2.) são 48,3s (-5,7%) e
2900,2m (-12,1%).
Nota-se, portanto, que as diferenças entre resultados modelados e experimentais
são maiores com o aumento da velocidade inicial do projétil. Conforme já comentado existem
incertezas nos resultados experimentais demonstrados. Além disso, o próprio modelo físico de
resistência quadrática não representa perfeitamente o complexo sistema de resistência do ar.
Acrescentemos ainda as falhas intrínsecas inseridas pelo método numérico computacional,
que é inerente ao processo de cálculo da máquina. O cálculo do computador provoca
arredondamentos e truncamentos a cada iteração. Quanto maior o número de iterações, maior
o erro intrínseco do processo computacional. Uma velocidade inicial maior, ocasiona, via de
regra, um movimento mais demorado, e as grandezas do movimento têm que ser calculadas
em maior número de iterações, aumentando o erro final. Portanto, o aumento do erro com o
aumento da velocidade inicial tem uma clara participação do processo iterativo do modelo
proposto.
12000
v0=198m/s
v0=267m/s
10000 v0=376m/s
Comprimento da trajetória (m)
v0=472m/s
8000
6000
4000
2000
0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)
FIGURA 4.4.2.4. Variação do comprimento da trajetória do projétil do canhão 105mm em função do ângulo de
lançamento.
φ0=30º
3000
φ0=42º
φ0=60º
2500
2000
1500
y (m)
1000
500
0
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
x (m )
FIGURA 4.4.2.5. Trajetória do projétil do canhão 105mm com velocidade inicial de 376m/s para três diferentes
ângulos de lançamento φ0.
120
tH, densidade do ar
variável
tR, densidade do ar
100
variável
tH, densidade do ar
constante
80
tR, densidade do ar
Tempo (s)
constante
60
40
20
0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)
FIGURA 4.4.3.1. Variação do tempo de vôo e do tempo de subida em função do ângulo de lançamento num
ambiente com densidade atmosférica variável e num ambiente com densidade atmosférica constante.
Fica claramente observável uma diferença da magnitude temporal entre os dois modelos a
partir de um ângulo de lançamento de aproximadamente 30º, aumentando com o aumento do
ângulo de lançamento. Isto ocorre porque o modelo de densidade variável proposto leva em
conta a variação da densidade com a altura, e ângulos de lançamento maiores refletem uma
verticalização do movimento. Para um movimento completamente vertical, o tempo total de
vôo e o tempo de subida do projétil são, respectivamente, 19,7% e 33,9% maiores para o caso
com densidade do ar variável do que o caso com densidade do ar constante.
O aumento da magnitude de diferença entre os dois casos com o aumento do
ângulo de lançamento de projétil é também observado para o alcance vertical do projétil,
conforme podemos observar na figura 4.4.3.2. A diferença no alcance vertical para os dois
casos torna-se evidente para um ângulo de aproximadamente 30º, aumentando com o ângulo
de lançamento do projétil. Para um movimento completamente vertical, a altura máxima
atingida pelo projétil num ambiente com densidade atmosférica variável é 44,6% maior que a
atingida num ambiente com densidade atmosférica constante. São, portanto, bastante
significativas as influências da variação da densidade atmosférica com a altura.
99
18000
Modelo com densidade do ar variável
12000
9000
6000
3000
0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)
FIGURA 4.4.3.2. Variação do alcance vertical máximo em função do ângulo de lançamento num ambiente com
densidade atmosférica variável e num ambiente com densidade atmosférica constante.
24000
20000
Alcance horizontal máximo (m)
16000
12000
8000
Modelo com densidade do ar variável
0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)
FIGURA 4.4.3.3. Variação do alcance horizontal máximo em função do ângulo de lançamento num ambiente
com densidade atmosférica variável e num ambiente com densidade atmosférica constante.
alcance máximo para certos tipos de canhões ocorreriam para ângulos maiores que 45º. É o
que acontece com o canhão Vickers, cujo alcance horizontal máximo ocorre para um ângulo
de lançamento de 48º. Além disso, devemos agora observar que o modelo numérico prevê um
alcance horizontal máximo de 22446,2m, que é apenas 3,9% maior que o valor de teste do
canhão de obus Vickers.
Por fim, observemos na figura 4.4.3.4 a variação do comprimento da trajetória em
função do ângulo de lançamento para os dois modelos comparados. A maior diferença de
ocorre para um ângulo de 70º, onde o valor do comprimento da trajetória do projétil é 47,9%
maior para o caso com densidade do ar variável em relação ao caso com densidade do ar
constante.
30000
Comprimento da trajetória (m)
24000
18000
12000
Modelo com densidade do ar variável
0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)
FIGURA 4.4.3.4. Variação do comprimento da trajetória em função do ângulo de lançamento num ambiente com
densidade atmosférica variável e num ambiente com densidade atmosférica constante.
1000
875
tR com gravidade variavel
500
375
250
125
0
1 2 3 4
Sim ulação
FIGURA 4.4.4.1. Tempo de vôo e tempo de subida do projétil em dois casos, um com gravidade variável com a
altura e outro com gravidade constante.
900
750
Gravidade variável com a altura
Alcance vertical máximo (1000m)
Gravidade constante
600
450
300
150
0
1 2 Sim ulação 3 4
FIGURA 4.4.4.2. Alcance vertical máximo do projétil em dois casos, um com gravidade variável com a altura e
outro com gravidade constante.
102
3500
3000
Alcance horizontal máximo (1000m)
2500
Gravidade variável com a altura
Gravidade constante
2000
1500
1000
500
0
1 2 Simulação 3 4
FIGURA 4.4.4.3. Alcance horizontal máximo do projétil em dois casos, um com gravidade variável com a altura
e outro com gravidade constante.
4000
3500
3000
Comprimento da trajetória (1000m)
2000
1500
1000
500
0
1 2 Sim ulação 3 4
FIGURA 4.4.4.4. Comprimento da trajetória do projétil em dois casos, um com gravidade variável com a altura e
outro com gravidade constante.
200
tR, modelo c lás s ic o
d áti
80
40
0
0 20 40 60 80
Ângulo de la nça m e nto (gra us)
FIGURA 4.4.5.1. Tempo de vôo e tempo de subida de um projétil de canhão Vickers num modelo clássico e
num modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade.
de vôo previsto classicamente chega a ser 60,1% maior que no caso de resistência quadrática
com a velocidade. Para o alcance vertical máximo, esta superioridade é de 160,3%.
30000
Alcance vertical máximo (m)
22500
15000
7500
0
0 20 40 60 80
Ângulo de la nça m e nto (gra us)
FIGURA 4.4.5.2. Alcance vertical de um projétil de canhão Vickers num modelo clássico e num modelo com
resistência do ar quadrática com a velocidade.
90000
75000
Alcance horizontal máximo (m)
60000
15000
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de la nça m e nto (gra us)
FIGURA 4.4.5.3) Alcance horizontal máximo de um projétil de canhão Vickers num modelo clássico e num
modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade.
105
105000
90000
Comprimento da trajetória (m)
45000
30000
15000
0
0 20 40 60 80
Ângulo de la nça m e nto (gra us)
FIGURA 4.4.5.4. Comprimento da trajetória de um projétil de canhão Vickers num modelo clássico e num
modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade.
25000
20000
Modelo clássico
10000
5000
0
0 20000 40000 x (m) 60000 80000
FIGURA 4.4.5.5. Trajetória de um projétil de canhão Vickers lançado num ângulo de 48º num modelo clássico e
num modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade.
106
150
120
90
y (m )
60
30
0
0 5 10 x (m) 15 20 25
450
350
Velocidade vertical (m/s)
250
150
50
0 2 4 6 8 10 12
-50
Te m po (s)
45
36
Velocidade horizontal (m/s)
27
18
0
0 2 4 6 8 10 12
Te m po (s)
para manterem suas órbitas. Além disso, vários fenômenos da natureza mostram uma
tendência de ocorrerem em posições diversas de acordo com sua localização em relação aos
hemisférios da Terra, tal como o sentido de giro dos ciclones e a corrosão das margens dos
rios.
P
z
r
r PS
r r
a S' S = A
z' r
r PS '
t0 = 0
o y
S r r
r v S ' S (t 0 = 0 ) = V 0
r S 'S
r
o' y' r S 'S ( t 0 = 0 ) = 0
x S' r
a S 'S
x'
FIGURA 5.2.1. Partícula P em movimento num referencial inercial S e num referencial não inercial S’.
r r r 1r r 1 r
rS 'S (t ) = rS 'S (t0 = 0) + vS 'S (t0 = 0)t + aS 'S t 2 = V0t + At 2 . (5.2.1)
2 2
r r r
rPS (t ) = rPS ' (t ) + rS 'S (t ) ,
r r r r
utilizando a expressão 5.2.1, as definições rPS (t ) = r (t ) e rPS ' (t ) = r ' (t ) , obtemos a posição da
partícula P no tempo em relação ao referencial S’:
r r r 1 r
r ' (t ) = r (t ) − V0t − At 2 . (5.2.2)
2
r r r
r dr ' (t ) r
v ' (t ) = = v (t ) − V0 − At
dt
r r
r dv ' (t ) r
a ' (t ) = = a (t ) − A .
dt
( )
r r r r r r
F ' (t ) = ma (t ) = m a ' (t ) + aA = ma ' (t ) + mA ,
o que deixa claro que a segunda lei de Newton não é válida no referencial não inercial.
Prosseguindo, temos
r r r r r
ma ' (t ) = F ' (t ) − mA = F (t ) + Finércia
r r
para a definição Finércia = −mA . Logo,
r r
Finércia = −mA
r
é a força inercial. No caso particular em que A = 0 , temos
r r r
r ' (t ) = r (t ) − V0t ,
r r r
v ' (t ) = v (t ) − V0 ,
r r
a ' (t ) = a (t )
113
r
Finércia = 0
r r
F ' (t ) = ma ' (t ) . (5.2.3)
Vamos considerar um referencial S’(x’, y’, z’) que gira com velocidade angular
r
constante ω em relação a um referencial inercial S(x, y, z) concêntrico.
z
z'
S r
ω
S' y'
o = o'
y
r r
r (t ) = r ' (t )
P
x
x'
FIGURA 5.3.1. Partícula P em movimento num referencial inercial S e num referencial não inercial girante S’.
r r
r (t ) = r ' (t ) = x' (t )iˆ' (t ) + y ' (t ) ˆj ' (t ) + z ' (t )kˆ' (t ) ,
114
onde o conjunto (iˆ' (t ), ˆj ' (t ), kˆ' (t )) são os vetores unitários direcional do sistema referencial
girante S’.
r
r dr (t ) diˆ' (t ) r ˆ dˆj ' (t ) r ˆ
Fazendo v (t ) = e usando as definições = ω × i ' (t ) , = ω × j ' (t )
dt dt dt
dkˆ' (t ) r ˆ
e = ω × k ' (t ) , temos
dt
r r r r
v (t ) = v ' (t ) + ω × r (t ) .
Analogamente,
r r
r dv (t ) dv ' (t ) d r r r r r
a (t ) = = + (ω × r (t ) ) = a ' (t ) + ω × v (t ) .
dt dt dt
r r r r r r r r r r r r r r r
Como ω × v (t ) = ω × (v ' (t ) + ω × r (t ) ) = ω × (v ' (t ) + v (t ) ) = ω × (2v ' (t ) + ω × r (t ) ) e r (t ) = r ' (t ) ,
temos
r r r r r r r
a (t ) = a ' (t ) + 2ω × v ' (t ) + ω × (ω × r ' (t ) ) .
r r r
Partindo do pressuposto geral a ' (t ) = a (t ) − A , temos
r r r r r r r r r r
A = a (t ) − a ' (t ) = 2ω × v ' (t ) + ω × (ω × r ' (t ) ) , e como Finércia = −mA , chegamos em
r r r r r r
Finércia = −2mω × v ' (t ) − mω × (ω × r ' (t ) ) . (5.3.1)
r r r r
Fcentrífuga = − mω × (ω × r ' (t ) ) ,
e podemos ver que ela é proporcional ao raio posição da partícula. Para um corpo em
movimento rotacional num referencial não inercial (o que é compatível com um projétil de
longo alcance disparado acima da superfície terrestre, com uma ogiva de um canhão de obus
ou um míssel balístico intercontinental) a força centrífuga provoca uma aceleração na direção
radial para longe do centro do referencial (provavelmente, daí o nome centrífuga, “fuga do
centro”). Acredita-se que o próprio formato da Terra, semi-achatada, deve-se à força
centrífuga, mais intensa no maior raio de rotação, a linha do equador.
Além da influência direta da força centrífuga sobre um projétil em movimento na
atmosfera terrestre (admitindo-se um projétil de longo alcance), a força centrífuga tem
influência indireta sobre o movimento de projéteis devido às variações que provoca na
gravidade terrestre. Ora, sendo a Terra achatada, já é normal que a atração gravitacional seja
mais intensa nas regiões de maior latitude (pólos). Ainda assim, há uma variação da gravidade
com a latitude, devido à força centrífuga.
Vamos supor a Terra esférica com raio médio R. Imaginemos um sistema
referencial inercial S(x, y, z) concêntrico com a Terra e com seu eixo z alinhado com o eixo
de rotação da Terra, positivo no sentido Sul-Norte. Imaginemos também um referencial não
inercial ρ ( ρ r , ρ p , ρ z ), com seu eixo ρ z alinhado e de mesmo sentido com o eixo z de S. O
sistema S é fixo, enquanto o sistema ρ gira seu eixo ρ z com velocidade angular constante
r
ω = ωT kˆ , onde ωT = 7,3 × 10−5 rad / s é a velocidade angular da Terra. A origem de ρ
encontra-se em ( R + h) senα no eixo z, onde h é a altura do projétil em relação à superfície
da Terra (raio médio) e α é a latitude (distância em graus da linha do Equador) de
movimento do projétil P de massa m .
116
a) z b)
r
ω k̂
r̂
ρz
ρ̂ r ρp
S'
P α r
ρ = ρ (α ) Fcentrífuga
R+h r
r ρz
P FR θˆ
α z
x y
S y
R ρr
x
h
FIGURA 5.4.1. Referencial S e S’ no movimento de rotação da Terra: a) visão no plano zy e b) visão no plano
xy.
r r r r
(
Fcentrífuga = − mω × (ω × r ' (t ) ) = − mωT kˆ × ωT kˆ × ρ (α ) ρˆ r , )
que resulta em
r
Fcentrífuga = mωT ( R + h) cos(α ) ρˆ r ,
2
r
Fcentrífuga ,r = mωT ( R + h) cos 2 (α )rˆ
2
r
Fcentrífuga ,θ = mωT ( R + h) cos(α ) sen(α )θˆ .
2
117
A atração gravitacional sofrida pelo projétil numa altura h é dada pela expressão
r − mg
P= rˆ , conforme modelo proposto no subtítulo 2 do capítulo 4. Daí, podemos
(1 + h / R) 2
r
encontrar a força resultante FR mostrada na figura 5.4.1:
r r r ⎡
FR = P + Fcentrífuga = − m ⎢
g ⎤
[ ]
− ωT ( R + h) cos 2 (α )⎥ rˆ + mωT ( R + h) cos(α ) sen(α ) θˆ .
2 2
⎣ (1 + h / R)
2
⎦
r
Da componente r de FR podemos deduzir a formulação da gravidade variável
com a latitude:
g (α ) = g 0 + ωT ( R + h) sen 2 (α ) ,
2
g
− ωT ( R + h) é o valor da gravidade na linha do Equador na altura h .
2
onde g 0 =
(1 + h / R) 2
Como vemos, a aceleração da gravidade sofre um aumento para maiores latitudes, atingindo
seu valor máximo nos pólos Norte e Sul.
r
O componente θ da força resultante FR ocasiona um desvio da trajetória do
projétil no sentido Norte-Sul. No entanto, este efeito é quase sempre muito pequeno, sendo
praticamente desconsiderável.
r r r
FCoriolis = −2mω × v ' (t ) .
r
ω
r N r r
FCoriolis a) ω ω
r
FCoriolis r
d) c) v'
r r
r ω r
v' v' FCoriolis
r r
v' FCoriolis
r r
ω e) ω
r r
FCoriolis v'
b)
r
FCoriolis
S
r
v'
FIGURA 5.5.1. Movimento de projéteis na Terra em rotação e forças de Coriolis.
3
1 ⎛ 2h ⎞ 2
d Coriolis = ωT g cos(α )⎜⎜ ⎟⎟ ,
3 ⎝ g ⎠
119
onde ωT = 7,3 × 10−5 rad / s é a velocidade angular da Terra, h é a altura inicial de queda do
projétil e α é a latitude da região onde começa a queda. No entanto, para pequenas alturas, o
desvio é praticamente desconsiderável.
A força de Coriolis pode agir mesmo sobre um corpo com pequena velocidade no
referencial não inercial, desde que com um longo período de movimento, tal como o pêndulo
de Foucault.
6. Conclusão
forças inerciais, tais como a força centrífuga, que provoca alterações no módulo da aceleração
gravitacional com a latitude, além de originar um componente de força Norte-Sul atuando no
projétil; e a força de Coriolis, que provoca um desvio lateral em trajetórias de grandes
amplitudes, alterando o plano vertical de movimento dos projéteis.
Portanto, temos a conclusão geral de que não se pode desprezar a resistência do ar,
a gravidade e a densidade atmosférica variáveis com a altura e os efeitos da rotação da Terra
no estudo do movimento de projéteis, principalmente nos casos em que o movimento envolve
grande velocidade e alcance espacial.
7. Referências
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Concentração Gravítica e Principais Equipamentos Utilizados na Concentração
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médio. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 26, n. 3, p. 257-271, 2004.
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física: subsídios para um curso sobre o tema atração gravitacional visando às
mudanças de postura na ação docente. Ciência & Educação, v. 10, n. 3, p. 491-500,
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2002a. 4 v.
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2003. 4 v.
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a evolução das concepções dos estudantes sobre força e movimento. In: Encontro
Ibérico-americano sobre Investigação em Educação em Ciências, I, 2002, Burgos
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2 v.
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Edgard Blücher, 2002. 4 v.
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Distribuidora Record, 1965.
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no ralo da pia. Caderno Catarinense de Ensino de Física, Florianópolis, v. 17, n. 1,
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Hill, 1973.
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