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Juliano Alves de Deus

ANÁLISES NO MOVIMENTO DE PROJÉTEIS

Carlos Mergulhão Júnior (orientador)

Ji-Paraná-RO, fevereiro de 2007


UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

Por: Juliano Alves de Deus

ANÁLISES NO MOVIMENTO DE PROJÉTEIS

Trabalho de Conclusão de Curso


submetido ao Departamento de
Ciências Exatas e da Natureza da
Universidade Federal de Rondônia
como requisito para a obtenção do
título de graduação no curso de
Licenciatura Plena em Física.

Ji-Paraná-RO, fevereiro de 2007


ANÁLISES NO MOVIMENTO DE PROJÉTEIS

Juliano Alves de Deus

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para a obtenção do título de
graduação no curso de Licenciatura Plena em Física e aprovado em sua forma final, no dia
__/02/2007, pelo programa de graduação do Departamento de Ciências Exatas e da Natureza
da Universidade Federal de Rondônia, Campus de Ji-Paraná.

Banca Examinadora

_____________________________________________
Carlos Mergulhão Júnior – Professor orientador – UNIR

_____________________________________________
Judes Gonçalves dos Santos – UNIR

_____________________________________________
Walter Trennepohl – UNIR
Dedico,

a Moacir e Zenilde, meus pais, que


sempre muito me apoiaram nos bons
momentos e ainda mais nos momentos
ruins, e nunca mediram esforços para
possibilitar meus estudos;

e aos meus irmãos, Fabiano e Camila,


amigos em todas as horas e
companheiros inseparáveis em todos os
momentos.
Agradecimentos

Agradeço à minha família, por sempre estar do meu lado e me prestar todo o apoio
necessário.
Aos meus professores, pelos conhecimentos ensinados com tanta dedicação.
Aos meus amigos de curso, pelas animadas aulas e horas de estudo, que tanto me
foram importantes.
Aos meus amigos do LBA, com que aprendi a importância da coletividade para
progressão da pesquisa científica.
Aos meus amigos de trabalho, pela capacidade e experiência que adquiri e tanto
me foram úteis.
A todos aqueles que de uma forma ou outra, direta ou indiretamente, auxiliaram
para que eu adquirisse esta grande paixão que tenho pela ciência, obrigado!
Resumo

Inúmeras aplicações tecnológicas atuais requerem o conhecimento sobre o


movimento de projéteis. Entre elas podemos citar os campos da aviação, vôos de satélites e
foguetes, sistemas de navegação e localização, exploração espacial, estudos cosmológicos e
meteorológicos, balística forense e militar, além é claro da física geral, entre outros.
O modelo ideal clássico de movimento nos fornece uma boa representação dos
efeitos exclusivos da atração gravitacional sobre projéteis em deslocamentos próximos à
superfície terrestre. No entanto, são evidentes os efeitos da interação entre os projéteis e a
atmosfera terrestre, efeitos estes não considerados pelo modelo ideal clássico, e que provocam
grandes retardamentos nos alcances dos projéteis.
Modelos físicos mais realísticos, que levem em consideração tais efeitos, como o
modelo de resistência do ar quadrática com a velocidade do projétil, são bastante complexos e
não possuem, de modo geral, desenvolvimento analítico trivial; porém podem ser
desenvolvidos por meio de métodos numéricos computacionais, como o que demonstraremos
neste trabalho.
Para projéteis que efetuam movimentos de grandes amplitudes, tais como mísseis
intercontinentais e ogivas balísticas, os efeitos inerciais da rotação da Terra passam a ser
bastante perceptíveis. Neste tipo de interação podemos citar a força de Coriolis, que provoca
desvios laterais no plano vertical de movimento de projétil, e a força centrífuga, a qual se
deve uma variação de gravidade com a latitude.
Sumário

Resumo....................................................................................................................................... v
Lista de Tabelas...................................................................................................................... viii
Lista de Figuras......................................................................................................................... ix
Lista de Parâmetros................................................................................................................. xiii
1. Introdução............................................................................................................................ 14
1.1 Aspectos Históricos acerca do Movimento de Projéteis.............................................. 15
1.2 Aplicações Tecnológicas de Estudo de Projéteis......................................................... 17
1.3 Aplicações Numéricas e Computacionais.................................................................... 18
2. Estudo Clássico do Movimento de Projéteis........................................................................ 19
2.1 Caso Unidimensional: Lançamento Vertical............................................................... 19
2.2 Caso Bidimensional: Plano Referencial...................................................................... 26
2.3 Caso Tridimensional: Caso Geral................................................................................ 38
3. Projéteis e a Força de Resistência do Meio Fluido.............................................................. 53
3.1 Meio Fluido.................................................................................................................. 54
3.2 Efeitos de Resistência do Meio Fluido........................................................................ 57
3.3 Modelo de Resistência do Ar....................................................................................... 58
3.4 O Lançamento Vertical e a Velocidade Terminal....................................................... 66
3.5 O Parâmetro t R , o Comprimento da Trajetória e Alcance Horizontal Máximo.......... 70
4. Resistência do Ar Quadrática com a Velocidade e Solução Numérica do Movimento do
Projétil...................................................................................................................................... 76
4.1 Estudo de Caso: Queda de um Pára-quedista.............................................................. 77
4.2 O Modelo de Resistência do Ar Quadrática com a Velocidade.................................. 79
4.3 Modelo Numérico........................................................................................................ 82
4.3.1 Cálculo Numérico............................................................................................... 82
4.3.2 O Modelo Numérico........................................................................................... 83
4.4 Simulações e Resultados.............................................................................................. 87
4.4.1 A Bola de Futebol e a Influência do Vento........................................................ 87
4.4.2 O Canhão 105mm e a Variação das Grandezas do Movimento com o Ângulo de
Lançamento................................................................................................................. 93
4.4.3 O Canhão Vickers e a Influência da Densidade Atmosférica no Movimento do
Projétil......................................................................................................................... 97
4.4.4 O Canhão Vickers e a Influência da Gravidade Variável com a Altura no
Movimento do Projétil............................................................................................... 100
4.4.5 O Canhão Vickers e o Modelo Clássico de Movimento de Projéteis............... 103
4.4.6 A Velocidade Terminal.................................................................................... 106
5. Efeitos Inerciais sob o Movimento de Projéteis................................................................. 109
5.1 Sistemas Inerciais e Não Inerciais............................................................................. 110
5.2 Referencial em Movimento Uniformemente Variado em relação a um Referencial
Inercial............................................................................................................................. 111
5.3 Referencial Girante.................................................................................................... 113
5.4 A Força Centrífuga e seus Efeitos............................................................................. 114
5.5 A Força de Coriolis e seus Efeitos............................................................................. 117
6. Conclusão........................................................................................................................... 120
7. Referências......................................................................................................................... 123
Lista de Tabelas

TABELA 3.1 Parâmetros de alcance para lançamento de uma bola na atmosfera................. 53

TABELA 4.4.1.1 Simulação da influência do vento sob o movimento do projétil................. 91


Lista de Figuras

FIGURA 2.1.1. Esquema de lançamento vertical de um projétil............................................ 20


FIGURA 2.1.2. Posição do projétil em três instantes: a) projétil na posição inicial; b) projétil
na altura máxima; c) projétil na passagem de volta pela posição inicial................................. 25
FIGURA 2.2.1. Esquema de lançamento de um projétil que se move num plano
bidimensional........................................................................................................................... 26
FIGURA 2.2.2. Trajetória, posição e velocidade de um projétil lançado no plano referencial
em três instantes....................................................................................................................... 32
FIGURA 2.2.3. Vetores tangente unitário e normal unitário em um ponto da trajetória do
projétil...................................................................................................................................... 35
FIGURA 2.2.4. Vetor curvatura e raio de curvatura em um ponto da trajetória do projétil.... 37
FIGURA 2.3.1. Esquema de lançamento de um projétil num plano referencial
tridimensional........................................................................................................................... 39
FIGURA 2.3.2. Trajetória de um projétil num espaço referencial xyz, mostrando a altura
máxima e o alcance horizontal máximo................................................................................... 44
FIGURA 2.3.3. Alcance horizontal máximo (R), alcance vertical máximo ou altura máxima
(H) e comprimento da trajetória (L) em função ângulo de lançamento para uma velocidade
inicial de 10m/s........................................................................................................................ 46
FIGURA 2.3.4. Vetor curvatura e raio de curvatura num ponto da trajetória do projétil........ 48
FIGURA 2.3.5. Vetor tangente unitário, vetor normal unitário e vetor binormal unitário em
um ponto da trajetória do projétil............................................................................................. 50
FIGURA 3.1. Trajetória ideal clássica e trajetória real estimada para uma bola lançada com
uma velocidade de 44,7 m/s formando um ângulo de 60º com a horizontal........................... 54
FIGURA 3.3.1. Sistema referencial de lançamento de um projétil na atmosfera terrestre...... 60
FIGURA 3.3.2. Trajetória no plano zx de um projétil lançado sob ação da atração
gravitacional e da resistência do ar na forma linear com a velocidade.................................... 63
FIGURA 3.3.3. Forma geral da trajetória do projétil no espaço, ficando evidente a falta de
simetria da trajetória................................................................................................................. 64
FIGURA 3.4.1. Vetor velocidade e diagrama de forças para o projétil. Observar a resultante
nula de força no tempo tT em que o projétil adquire a velocidade terminal........................... 68
FIGURA 3.4.2. Velocidade em função do tempo para um projétil, mostrando a velocidade
tendendo à velocidade terminal................................................................................................ 69
FIGURA 3.5.1. Altura máxima (alcance vertical máximo) atingida pelo projétil em função do
ângulo de lançamento............................................................................................................... 73
FIGURA 3.5.2. Tempo de vôo e tempo de subida do projétil em termos do ângulo de
lançamento............................................................................................................................... 74
FIGURA 3.5.3. Alcance horizontal máximo atingido pelo projétil em termos do ângulo de
lançamento............................................................................................................................... 74
FIGURA 3.5.4. Comprimento da trajetória do projétil em termos do ângulo de lançamento. 75
FIGURA 4.1.1. Diagrama de forças durante a queda do pára-quedista. M é a massa do sistema
pára-quedista + pára-quedas..................................................................................................... 77
FIGURA 4.2.1. Esquema das forças e velocidades durante o movimento de um projétil sob
ação de uma força de resistência quadrática com a velocidade............................................... 80
FIGURA 4.3.2.1. Variações iterativas da posição x (parte a) e da componente x da velocidade
(parte b).................................................................................................................................... 86
FIGURA 4.4.1.1. Trajetória de uma bola de futebol sem influência do vento........................ 88
FIGURA 4.4.1.2. Variação temporal das posições x e y para uma bola de futebol sem
influência do vento................................................................................................................... 88
FIGURA 4.4.1.3. Variação temporal das componentes vertical e horizontal da velocidade da
bola de futebol sem influência do vento.................................................................................. 89
FIGURA 4.4.1.4. Variação temporal das componentes horizontal e vertical da aceleração da
bola de futebol sem influência do vento.................................................................................. 90
FIGURA 4.4.1.5. Tempo de subida e tempo de vôo da bola de futebol nas simulações da
influência do vento sob a bola de futebol................................................................................ 91
FIGURA 4.4.1.6. Altura máxima, alcance horizontal e comprimento da trajetória nas
simulações da influência do vento sob a bola de futebol......................................................... 92
FIGURA 4.4.1.7. Trajetória da bola de futebol nas cinco simulações realizadas.................... 93
FIGURA 4.4.2.1. Variação do tempo de vôo e do tempo de subida do projétil do canhão
105mm em função do ângulo de lançamento........................................................................... 94
FIGURA 4.4.2.2. Variação do alcance vertical do projétil do canhão 105mm em função do
ângulo de lançamento............................................................................................................... 94
FIGURA 4.4.2.3. Variação do alcance horizontal máximo do projétil do canhão 105mm em
função do ângulo de lançamento.............................................................................................. 95
FIGURA 4.4.2.4. Variação do comprimento da trajetória do projétil do canhão 105mm em
função do ângulo de lançamento.............................................................................................. 96
FIGURA 4.4.2.5. Trajetória do projétil do canhão 105mm com velocidade inicial de 376m/s
para três diferentes ângulos de lançamento φ0......................................................................... 97
FIGURA 4.4.3.1. Variação do tempo de vôo e do tempo de subida em função do ângulo de
lançamento num ambiente com densidade atmosférica variável e num ambiente com
densidade atmosférica constante.............................................................................................. 98
FIGURA 4.4.3.2. Variação do alcance vertical máximo em função do ângulo de lançamento
num ambiente com densidade atmosférica variável e num ambiente com densidade
atmosférica constante............................................................................................................... 99
FIGURA 4.4.3.3. Variação do alcance horizontal máximo em função do ângulo de
lançamento num ambiente com densidade atmosférica variável e num ambiente com
densidade atmosférica constante.............................................................................................. 99
FIGURA 4.4.3.4. Variação do comprimento da trajetória em função do ângulo de lançamento
num ambiente com densidade atmosférica variável e num ambiente com densidade
atmosférica constante............................................................................................................. 100
FIGURA 4.4.4.1. Tempo de vôo e tempo de subida do projétil em dois casos, um com
gravidade variável com a altura e outro com gravidade constante........................................ 101
FIGURA 4.4.4.2. Alcance vertical máximo do projétil em dois casos, um com gravidade
variável com a altura e outro com gravidade constante......................................................... 101
FIGURA 4.4.4.3. Alcance horizontal máximo do projétil em dois casos, um com gravidade
variável com a altura e outro com gravidade constante......................................................... 102
FIGURA 4.4.4.4. Comprimento da trajetória do projétil em dois casos, um com gravidade
variável com a altura e outro com gravidade constante......................................................... 102
FIGURA 4.4.5.1. Tempo de vôo e tempo de subida de um projétil de canhão Vickers num
modelo clássico e num modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade............. 103
FIGURA 4.4.5.2. Alcance vertical de um projétil de canhão Vickers num modelo clássico e
num modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade.......................................... 104
FIGURA 4.4.5.3. Alcance horizontal máximo de um projétil de canhão Vickers num modelo
clássico e num modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade.......................... 104
FIGURA 4.4.5.4. Comprimento da trajetória de um projétil de canhão Vickers num modelo
clássico e num modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade.......................... 105
FIGURA 4.4.5.5. Trajetória de um projétil de canhão Vickers lançado num ângulo de 48º
num modelo clássico e num modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade..... 105
FIGURA 4.4.6.1. Trajetória do projétil na simulação de velocidade terminal...................... 106
FIGURA 4.4.6.2. Velocidade vertical em função do tempo na simulação de velocidade
terminal.................................................................................................................................. 107
FIGURA 4.4.6.3. Velocidade horizontal em função do tempo na simulação de velocidade
terminal.................................................................................................................................. 107
FIGURA 5.2.1. Partícula P em movimento num referencial inercial S e num referencial não
inercial S’............................................................................................................................... 111
FIGURA 5.3.1. Partícula P em movimento num referencial inercial S e num referencial não
inercial girante S’................................................................................................................... 113
FIGURA 5.4.1. Referencial S e S’ no movimento de rotação da Terra: a) visão no plano zy e
b) visão no plano xy............................................................................................................... 116
FIGURA 5.5.1. Movimento de projéteis na Terra em rotação e forças de Coriolis.............. 118
Lista de Parâmetros

t H Tempo de subida de um projétil, em segundos ( s ).


t R Tempo total de vôo de um projétil, em segundos ( s ).
H Altura máxima ou alcance vertical máximo de um projétil, em metros ( m ).
R Alcance horizontal máximo de um projétil, em metros ( m ).
L Comprimento da trajetória de um projétil, em metros ( m ).
ρ Massa específica do meio fluido, em ( Kg .m −3 ).
η Coeficiente de viscosidade do fluido, em ( Kg .m −1.s −1 ).
b Coeficiente de resistência do ar (modelo linear com a velocidade), em ( Kg .s −1 ).
K obj Coeficiente de forma do objeto (modelo linear com a velocidade), em ( m ).

C R Coeficiente de arraste adimensional (modelo de resistência quadrática).

G = 6,67 × 10 −11 m3 s −2 Kg −1 Constante gravitacional universal.

mT = 5,98 × 10 24 Kg Massa da Terra.

RT = 6,37 × 106 m Raio médio da Terra.

ρ s = 1,225Kg .m −3 Densidade atmosférica na altura média da superfície.

α = 0,00013m −1 Coeficiente de ajuste experimental para modelo de densidade variável.


ωT = 7,3 ×10−5 rad .s −1 Velocidade angular da Terra.
1. Introdução

Este trabalho de conclusão de curso tem por objetivo analisar o movimento de


projéteis na presença do campo gravitacional terrestre e observar o comportamento das
grandezas físicas presentes e variáveis durante tal movimento. Estas grandezas físicas, entre
as quais o alcance horizontal máximo, são parâmetros importantes para várias aplicações
tecnológicas do dia-a-dia humano.
Para definir um projétil vamos nos valer de uma adaptação de Wikipédia (2006):
‘Projétil é qualquer sólido que se move no espaço abandonado a si mesmo depois de haver
recebido impulso’.
‘Abandonado a si mesmo’ significa que um projétil não possui meio próprio de
propulsão, o que elimina mísseis, aeronaves e foguetes da definição de projéteis, embora eles
estejam relacionados a estes por várias outras influências físicas. ‘Sólido’, embora pareça, não
significa ‘com massa constante’, visto que vários sistemas físicos, como gotas de chuva em
queda, sofrem variações de massa.
Abordaremos a análise do movimento de projéteis em quatro cenários distintos.
No primeiro deles, no capítulo 2, estudaremos o movimento de um projétil lançado num
ambiente onde sofre a influência apenas da atração gravitacional. Este cenário corresponde à
uma idealização clássica, e faremos um desenvolvimento baseado nos princípios da dinâmica
de Newton. Desenvolveremos as equações do movimento do projétil, de sua velocidade e
15

aceleração. Encontraremos também os vetores espaciais móveis unitários que regem a


trajetória, caracterizando-a. Por fim, deduziremos as expressões para os alcances horizontal e
vertical máximos e para o comprimento da trajetória.
No capítulo 3 faremos uma pequena introdução sobre a resistência do meio fluido,
explicitando as influências da resistência do ar num projétil que se desloca na atmosfera.
Partindo dos princípios da mecânica newtoniana, desenvolveremos a formulação das equações
do movimento do projétil considerando o modelo de resistência do ar linear com a velocidade.
O tratamento matemático deste caso é quase puramente analítico, exceto para a variável
tempo de vôo, que é obtida como raiz de uma equação transcendental. Faremos então uso de
um método numérico de obtenção de raízes para apresentar uma solução numérica para o
tempo de vôo.
O capítulo 4 corresponde ao desenvolvimento da dinâmica de um projétil que se
desloca na atmosfera sob ação da resistência do ar dada por um modelo quadrático com a
velocidade. Este caso é mais realístico que o caso de resistência do ar linear com a velocidade
para movimentos de grande amplitude, com velocidades de lançamento elevadas. No entanto,
este modelo dinâmico não possui solução analítica. Portanto desenvolveremos um software
que implemente o modelo teórico proposto e simule o movimento seguindo métodos
numéricos. Por fim, compararemos os resultados simulados com resultados experimentais
obtidos a partir de tabelas de tiros de canhões.
No capítulo 5 faremos algumas considerações acerca da influência de forças
inerciais oriundas do movimento de rotação da Terra no movimento de projéteis balísticos de
grande trajetória, tais como mísseis balísticos intercontinentais e canhões de obus.

1.1 Aspectos Históricos acerca do Movimento de Projéteis

Um dos primeiros estudos sistematizados acerca do movimento de corpos foi


apresentado por Aristóteles (384-322 a.C.), e falava sobre a queda dos corpos (GATTI et al.,
2004). Aristóteles acreditava na teoria geocêntrica, em que a Terra era estática e ocupava o
centro do universo. A razão da queda dos corpos, segundo Aristóteles, era a tendência dos
objetos e irem para seu lugar natural.
Segundo o modelo aristotélico de movimento, havia quatro elementos
fundamentais: terra, água, ar e fogo. O lugar natural do elemento terra era em direção ao
centro da Terra, e o do ar acima do elemento terra. O elemento água tinha seu lugar natural
16

entre a terra e o ar, e o elemento fogo, acima do ar. Todo elemento fora do seu lugar natural
tenderia a atingi-lo por meio de um movimento natural (DIAS et al., 2004). Era por isso que a
pedra caia em direção à Terra, a fumaça subia no ar e as labaredas de uma fogueira ficavam
para cima. O conceito de força não era ainda bem definido, embora o modelo aristotélico
atestasse a existência de uma força chamada physis (CRUZ, 1985), ou força natural,
responsável pelo movimento natural do corpo. Aristóteles também considerava a existência de
movimentos não naturais, chamados movimentos violentos, como por exemplo, o movimento
de subida de uma pedra lançada para o ar. A explicação para tal movimento era que, quando
alguém lançava a pedra, deixava nela uma força impressa, que permanecia na pedra. Essa
força impressa na pedra pelo lançador consistia no “impetus” (HARRES, 2002).
Para explicar o movimento dos projéteis no ar, tais com uma flecha ou uma pedra
lançada obliquamente ao longe, o modelo aristotélico previa uma sustentação pelo ar chamada
‘antiperistasis’, uma movimentação complexa do ar em volta do projétil, que se desviava
diante dele, puxando o ar em volta da parte final do projétil e em seguida ocupando aquele
espaço, empurrando o projétil.
O modelo aristotélico vigorou por quase 20 séculos, até que as discussões de
Copérnico acerca do heliocentrismo dessem nova luz sob a situação do planeta Terra no
universo e os estudos de Galileu levassem a formulação geral da cinemática. Já no século XIV
Willian of Ockham havia definido uma série de princípios para o movimento, conhecidos
como Navalha de Ockham (DIAS et al., 2004), rejeitando as entidades conceituais da teoria
de Aristóteles, tais como a força impressa e a antiperistasis. As idéias de Ockham foram
utilizadas nos estudos de Galileu para explicar a queda dos corpos, e culminou na cinemática
clássica.
Nos seus Diálogos, Galileu instituiu, pela primeira vez, embora de forma limitada,
o conceito de Inércia. Desenvolveu, além dos estudos sobre queda livre, outros sobre
gravitação e lançamento de projéteis, sendo o primeiro a determinar a órbita parabólica de um
projétil lançado sob a atração gravitacional. Também descobriu que o tempo de oscilação de
um pêndulo é constante. Além disso, trabalhou no desenvolvimento de telescópios,
fabricando, pessoalmente, centenas deles, distribuídos por toda a Europa (PRATT, 1965).
Isaac Newton nasceu no mesmo ano de falecimento de Galileu. Durante toda sua
vida estudou sobre os mais diversos campos de conhecimentos, teologia, óptica, gravitação,
cálculo diferencial. Porém, seus estudos sobre a dinâmica de movimento dos corpos foram os
mais conhecidos e culminaram no estabelecimento da física clássica. Em seu livro ‘Princípios
17

Matemáticos da Filosofia Natural’ foram enunciadas pela primeira vez as três leis
fundamentais da dinâmica, que alicerçam a física clássica até os dias atuais.
Embora a física newtoniana tenha dado um grande salto em direção ao
entendimento sobre o movimento dos corpos, ela é deficiente para explicar uma gama de
fenômenos relativísticos (a altas velocidades) relacionados à gravitação e à rotação da Terra.
Atualmente, a carga tecnológica humana permite o lançamento de foguetes e satélites que
sofrem influências relativísticas consideráveis, além de forças inerciais, provenientes da não
inercialidade do referencial de rotação da Terra. No início do século XX Einstein formulou a
Teoria da Relatividade Restrita e a Teoria da Relatividade Geral, que veio trazer uma luz para
o entendimento desses movimentos.

1.2 Aplicações Tecnológicas de Estudo de Projéteis

Provavelmente a flecha e a lança, além da pedra, foram um dos primeiros projéteis


e ser utilizado pelo homem. Durante a antiguidade, o movimento de projéteis tais como a
flecha suscitou discussões que vão desde a trajetória de um corpo lançado até o movimento do
planeta Terra e de outros corpos do Cosmos. Durante as guerras da antiguidade foram muito
usados os projéteis pedra e aço lançados por grandes catapultas e balistas, para destruir as
muralhas e torres de exércitos inimigos.
A invenção da pólvora marcou o início de um desenvolvimento bélico que tornou
obsoletas as batalhas de espadas e lanças da idade média. A utilização da pólvora e do canhão
tornou-se fundamental para o desenvolvimento belicoso das nações européias até o século
XIX, principalmente nas guerras expansionistas napoleônicas e nas missões colonizadoras nas
Américas, onde o uso de armas de fogo foi primordial para a vitória dos colonizadores contra
as revoltas das civilizações indígenas.
Aos poucos, canhões grandes e imprecisos foram substituídos por canhões de
precisão e canhões de obus. Surgiram veículos de guerra e navios encouraçados, que foram
equipados com canhões de bordo. Durante a primeira e segunda grande guerra mundial,
canhões de obus de grandíssimo alcance foram usados para bombardear nações inimigas, e até
hoje fazem parte dos arsenais da maioria dos exércitos do mundo.
Com o advento da aviação e da propulsão, surgiram mísseis tele-guiados de
alcance intercontinental. As aplicações puramente bélicas de lançamento de mísseis deram
lugar a aplicações tecnológicas, tais como lançamento de satélites e foguetes, que permitiram,
18

entre outras coisas, as missões humanas tripuladas para fora da Terra. Grande parte da
superfície terrestre é monitorada nos dias atuais a partir do espaço, seja por satélites
atmosféricos, militares ou pertencentes e sistemas privados de comunicações (televisão,
telefonia, GPS, entre outros). Citemos por exemplo, o sistema de satélites NAVSTAR, que
considera correções relativísticas em seus parâmetros de movimento (HALLIDAY et al.,
2003, p. 100).
A balística forense é outra área de pesquisa humana que necessita do
conhecimento sobre o movimento de projéteis. Segundo Barros (2002, p. 33), “A balística
tem como objetivo o estudo dos vários movimentos do projétil dentro e fora da arma e, ainda,
o modo de atirá-lo”. A balística forense utiliza-se de estudos sobre o alcance, deformação e
movimento do projétil dentro de um alvo, seja um corpo humano alvejado ou um obstáculo
físico, para identificar a arma que efetuou disparo e se possível o seu autor, além da forma e
distância de como e onde o disparo foi efetuado.

1.3 Aplicações Numéricas e Computacionais

O estudo numérico computacional reflete o uso de ferramentas tecnológicas no


auxílio ao desenvolvimento das ciências e da informação. De fato a física contemporânea tem
encontrado nas ciências computacionais uma fortíssima aliada na tarefa de modelar e
representar o comportamento da natureza.
Os métodos numéricos computacionais e as modelagens gráficas dos fenômenos
físicos, além de serem ferramentas poderosas na solução de problemas complexos, têm sido
fortemente recomendados e usados para a difusão da física e como atividade alternativa para o
ensino científico.
Muitos autores defendem o uso da informática nos cursos de ensino fundamental e
médio como prática alternativa para o ensino das ciências tecnológicas, da física, da
matemática, da química, da biologia e outras. Na prática, o computador representa um
elemento facilitador no processo de ensino/aprendizagem (BARBOSA et al., 2006) tanto em
atividades teóricas como em atividades de laboratório, dada a afinidade das crianças e jovens
com o uso da máquina.
2. Estudo Clássico do Movimento de Projéteis

Neste capítulo veremos as concepções físicas clássicas para o estudo do


lançamento de projéteis. Estudaremos os casos de lançamento de projéteis em três referenciais
inerciais, um deles unidimensional, outro bidimensional e outro tridimensional, sendo este
último considerado o caso clássico geral.
O caso unidimensional será o lançamento vertical de um corpo sob a ação da
gravidade. O caso bidimensional tratará do lançamento de um corpo em dois componentes
vertical e horizontal de um plano referencial sob ação da gravidade. O caso tridimensional
representará o caso geral, e servirá de base para a compreensão de movimentos mais
complexos.
Para as conveniências que a física clássica requer, serão consideradas condições
ideais, ou seja, ausência de forças de resistência e atrito e qualquer influência de agentes
externos ao sistema, como por exemplo, o vento. Além disso, os projéteis serão considerados
com massa fixa e com dimensões desprezíveis. Também será considerado que o movimento
ocorre próximo à superfície da Terra e que a aceleração da gravidade não varia com a altura.

2.1 Caso Unidimensional: Lançamento Vertical


20

Consideremos inicialmente para este estudo um referencial inercial representado


por um eixo y vertical. Consideremos que a origem no nosso sistema inercial está próxima
da superfície da Terra e que seu sentido positivo segue para cima. Este referencial é bastante
conveniente, pois representa uma visão comum no nosso dia a dia. Vamos supor um corpo
rígido, de massa m fixa, lançado de uma altura inicial y0 > 0 para cima com uma velocidade

inicial v0 > 0 . Chamaremos este corpo de projétil.


Obviamente o fenômeno descrito nos é bastante familiar. Sabemos que a Terra
provoca no projétil uma aceleração g para baixo. Consideraremos para a conveniência clássica
do estudo que esta aceleração não varia com a altura. Também consideraremos que são
desprezíveis quaisquer forças externas, exceto a força de atração da Terra que provoca a
aceleração g, de modo que vamos desconsiderar a resistência exercida pelo ar e qualquer
influência que possa ser gerada pelo vento ou outro agente externo. As dimensões do projétil
não representarão qualquer efeito sobre o fenômeno físico.

v0

y0 m

FIGURA 2.1.1. Esquema de lançamento vertical de um projétil.

Primeiramente vamos escrever as equações de movimento do projétil em uma


dimensão. Para isto partiremos do princípio fundamental da dinâmica ou segunda lei de
Newton,

d d
R= p(t ) = (mv(t )) ,
dt dt

onde R é a soma resultante das forças que agem sobre o projétil, p(t ) é o momento linear e
v(t ) a velocidade do corpo em função do tempo. A única força que atua sobre o corpo é a
força peso, de modo que podemos escrever R = −mg , então:
21

d dv(t )
− mg = (mv(t )) = m . (2.1.1)
dt dt

Da equação 2.1.1 podemos facilmente ver que a aceleração a qual o projétil está
submetido neste lançamento vertical vale

dv(t )
a (t ) = = −g , (2.1.2)
dt

que é a aceleração da gravidade.


Podemos agora eliminar a massa m de ambos os lados da equação 2.1.1 e efetuar
uma multiplicação por dt , obtendo

dv(t ) = − gdt .

Integrando ambos os lados da equação anterior temos

v (t ) t

∫ dv(t ) =
v0
∫ − gdt ,
t0 = 0

onde t0 é tempo inicial do lançamento, e foi convencionado igual a zero, a fim de contabilizar

apenas o tempo transcorrido a partir do inicio do lançamento; v(t ) é a velocidade do projétil


num instante t após o lançamento. Resolvendo a equação acima chegamos ao resultado:

v(t ) = v0 − gt , (2.1.3)

que é a expressão da velocidade em função em função do tempo para este lançamento vertical
de projétil.
Vamos agora obter a expressão y (t ) , que representa a posição vertical do projétil
em função do tempo. Para isto utilizaremos a seguinte definição:
22

d
v(t ) = y (t ) .
dt

Multiplicando ambos os lados da equação anterior por dt e substituindo v(t ) conforme a


expressão 2.1.3, temos que

dy (t ) = (v0 − gt )dt .

Efetuando a integração de ambos os lados da expressão anterior nos limites que vão do inicio
do lançamento até um instante t após o lançamento, temos:

y (t ) t

∫ dy(t ) =
y0
∫ (v
t0 =0
0 − gt )dt ,

cuja solução é:

1 2
y (t ) = y0 + v0t − gt , (2.1.4)
2

E encontramos y (t ) , conforme proposto.


As equações 2.1.2, 2.1.3 e 2.1.4 são as equações fundamentais de movimento do
lançamento vertical de projétil. Como aplicação, utilizaremos tais equações para descobrir a
altura máxima atingida por um projétil e o tempo de subida, descida e tempo total de vôo do
projétil.
Vamos inicialmente supor que num certo tempo t H o projétil atinja sua altura
máxima ou alcance vertical máximo H . No ponto máximo da subida, ocorre a inversão da
velocidade do projétil, que estava no sentido para cima e agora passa para o sentido para
baixo. Neste exato momento de inversão, a velocidade é nula. Então podemos aplicar a
seguinte condição:

v(t H ) = 0 ,

e então
23

v(t H ) = v0 − gt H = 0 .

Logo:

v0
tH = . (2.1.5)
g

Podemos então obter H da seguinte forma:

H = y (t H ) ;

1 2
H = y0 + v0t H − gt H . (2.1.6)
2

Substituindo 2.1.5 em 2.1.6 temos que

2
v
H = y0 + 0 .
2g

Que é o valor desejado.


O tempo t H nada mais é do que o tempo de subida do projétil. Após atingir a
altura máxima H em um tempo t H , o projétil leva um tempo de descida td para atingir

novamente a altura inicial y0 . O tempo total de vôo t R do projétil é o tempo transcorrido


entre o lançamento do projétil e o seu retorno à altura inicial; desta consideração, podemos
formular que:

y (t R ) = y0 ,

e então

1 2
y (t R ) = y0 + v0t R − gt R = y0 . (2.1.7)
2
24

Logo:

2v0
tR = .
g

Que é o tempo total de vôo do projétil. O valor t R = 0 também é solução da condição 2.1.7,
mas claramente representa o momento de lançamento. Observe que

t R = 2t H . (2.1.8)

O tempo total de vôo t R do projétil é a soma do tempo de subida t H com o tempo


de descida td do projétil, logo:

t R = t H + td .

Substituindo 2.1.8 na expressão anterior obtemos que:

td = t H .

O tempo de descida é igual ao tempo de subida.


Outro resultado interessante é obtido calculando a velocidade do projétil quando
ele retorna a altura de lançamento:

⎛ 2v ⎞
v(t R ) = v0 − gt R = v0 − g ⎜⎜ 0 ⎟⎟ ,
⎝ g ⎠

ou seja,

v(t R ) = −v0 .
25

Esta última expressão mostra que a velocidade do projétil na altura inicial durante o
movimento de descida é a mesma velocidade que na subida naquele ponto, exceto pela
inversão do sentido. Esta idéia pode ser generalizada para outras alturas atingidas pelo
projétil.

a) y b) y v=0 c) y
H H m H

g g g

v = v0
v = −v0

y0 m y0 y0 m

t = t0 = 0 t = tH t = t R = 2t H
FIGURA 2.1.2. Posição do projétil em três instantes: a) projétil na posição inicial; b) projétil na altura máxima;
c) projétil na passagem de volta pela posição inicial.

Como foi discutido, o tempo total de vôo foi considerado aquele compreendido
entre o lançamento e o momento em que o projétil atinge a altura inicial. Talvez possa parecer
intuitivamente que o tempo total de vôo fosse aquele compreendido entre o lançamento e o
momento em que o projétil atinge o solo, de modo que poderia ser aplicada a condição
y (t R ) = 0 . Isto não é verdade, no entanto, visto que o sistema de referência é escolhido
conforme conveniência, e não tem necessariamente sua origem na superfície da Terra. Para se
obter o tempo de vôo transcorrido entre o lançamento do projétil e o momento em que ele
atinge o solo, é necessário aplicar a condição y (t R ) = ysolo , onde ysolo é a altura
correspondente à superfície da Terra. Neste caso, no entanto, os tempos de descida e subida
do projétil não serão iguais, a menos que a altura inicial do projétil seja a coordenada da altura
da superfície.
No caso desenvolvido, a altura inicial do projétil foi a mesma usada como
condição para o tempo de descida do projétil, de modo que o tempo de descida foi igual ao
tempo de subida.
26

2.2 Caso Bidimensional: Plano Referencial

Vamos considerar um sistema de referência bidimensional xy, onde y é o eixo


vertical orientado para cima e x o eixo horizontal. Vamos considerar que a origem do sistema
está próxima à superfície da Terra, e que está é plana, de modo que podemos supor que a
atração gravitacional gera uma aceleração constante em módulo, direção e sentido. Assim
como no estudo anterior, vamos supor o caso de um projétil rígido de massa m fixa e
r r
dimensões desprezíveis, lançado a uma posição inicial r0 com uma velocidade inicial v0 que

faz um ângulo θ 0 com a horizontal (ver figura 2.2.1).


Vamos considerar o estudo do movimento no plano bidimensional xy que contém
a trajetória do projétil. Neste estudo trataremos do caso clássico idealizado, nenhuma força de
resistência exercida pelo ar será considerada, nem qualquer influência gerada por qualquer
agente externo.

y
r
g
r
v0

θ0

r
r0

x
FIGURA 2.2.1. Esquema de lançamento de um projétil que se move num plano bidimensional.

Aplicando a Segunda Lei de Newton, temos:

r dpr (t ) d r
R= = (mv (t )) .
dt dt

Nas condições acima, a única força que age sobre o projétil é a força peso, de modo que
r r
podemos escrever R = mg . Substituindo este resultado na primeira expressão e resolvendo a
derivada temos:
27

r
r dv (t )
mg = m . (2.2.1)
dt

r
Eliminando m de ambos os lados da expressão acima e sabendo que g = − gˆj , podemos
observar que

r
r dv (t )
a (t ) = = − gˆj , (2.2.2)
dt

que é a expressão para a aceleração do projétil em função do tempo e que claramente


corresponde à aceleração da gravidade.
r
Substituindo g por − gˆj na expressão 2.2.1, eliminando m e multiplicando dt em ambos os
lado, podemos chegar à expressão:

r
dv (t ) = − gdtˆj .

Integrando ambos os lados da expressão acima nos limites entre o lançamento e um instante t
transcorrido após o lançamento temos

r
v (t ) t
r
∫ dv = − ∫ gdt ˆj .
r
v0 t0 = 0

Desenvolvendo a equação acima, onde foi suposto t0 = 0 a fim de contabilizar apenas o


r
tempo transcorrido a partir do inicio do lançamento, e sabendo que v0 = v0 cosθ 0iˆ + v0 senθ 0 ˆj ,
temos:

r
v (t ) = v0 cos θ 0iˆ + (v0 senθ 0 − gt ) ˆj , (2.2.3)

que é a função velocidade do projétil em termos do tempo. Separando esta última equação
podemos encontrar as componentes horizontal vx (t ) e vertical v y (t ) da velocidade do projétil:

vx (t ) = v0 cosθ 0
28

v y (t ) = v0 senθ 0 − gt .

r
Podemos encontrar a função posição r (t ) do projétil em termos do tempo por
meio da seguinte definição:

r
r dr (t )
v (t ) = .
dt

r
Multiplicando ambos os lados da equação anterior por dt , substituindo v (t ) conforme 2.2.3 e
integrando ambos os lados nos limites desde o lançamento até um instante t após o
lançamento, obtemos que:

r
r (t ) t
r
∫ dr =
r
r0
∫ [v
t0 = 0
0 cosθ 0iˆ + (v0 senθ 0 − gt ) ˆj ]dt .

r
Sabendo que r 0 = x 0 iˆ + y 0 ˆj e resolvendo a expressão acima, temos:

r ⎛ 1 ⎞
r (t ) = (x0 + v0t cosθ 0 )iˆ + ⎜ y0 + v0tsenθ 0 − gt 2 ⎟ ˆj . (2.2.4)
⎝ 2 ⎠

Podemos obter as equações paramétricas do movimento do projétil:

x(t ) = x0 + v0t cosθ 0 (2.2.4.1)

1
y (t ) = y0 + v0tsenθ 0 − gt 2 . (2.2.4.2)
2
29

Isolando t em 2.2.4.1 e substituindo em 2.2.4.2 encontramos a equação que descreve a


trajetória do projétil no plano:

⎛ gx0
2
⎞ ⎛ gx ⎞ ⎛ g ⎞
y ( x(t )) = ⎜⎜ y0 − x0 tan θ 0 − ⎟ + ⎜ tan θ 0 + 2 0 2 ⎟ x(t ) − ⎜ 2
⎟ ⎜ ⎟ ⎜
⎟ x(t ) 2 ,

2v0 cos θ 0 ⎠ ⎝ v0 cos θ 0 ⎠ ⎝ 2v0 cos θ 0 ⎠
2 2 2

o que mostra claramente que a trajetória percorrida pelo projétil nestas condições é uma
parábola com concavidade para baixo, conforme demonstrou Galileu:

Precursores de Galileu acreditavam que uma bala de canhão se move em linha reta
até esgotar seu impulso, e depois cai verticalmente (um deles propôs juntar esses
dois segmentos de retas por um arco de círculo tangente a ambos para descrever a
trajetória). Galileu foi o primeiro a demonstrar que a trajetória é uma parábola
(NUSSENZVEIG, 2002, p. 52).

As expressões 2.2.2, 2.2.3 e 2.2.4 são as equações fundamentais que descrevem as


características do movimento do projétil no plano bidimensional. Vamos investigar as
questões sobre os limites de alcance de um projétil. Estamos primeiramente interessados em
descobrir qual é a altura máxima H que um projétil pode atingir como função do ângulo e da
velocidade inicial de lançamento.
No ponto mais alto da trajetória, a componente vertical da velocidade será nula,
conforme expomos no caso anterior. Vamos assumir que isto ocorre em um tempo t H , de
modo que podemos escrever

v y (t H ) = 0 ,

e então

v y (t H ) = v0 senθ 0 − gt H = 0 .

Logo:

v0 senθ0
tH = . (2.2.5)
g
30

Então, temos a seguinte condição:

H = y (t H ) ;

1
H = y0 + v0t H senθ 0 − gt H .
2
(2.2.6)
2

Substituindo 2.2.5 em 2.2.6:

2
⎛ v senθ 0 ⎞ 1 ⎛ v senθ 0 ⎞
H = y0 + v0 ⎜⎜ 0 ⎟⎟ senθ 0 − g ⎜⎜ 0 ⎟ ,
⎝ g ⎠ 2 ⎝ g ⎟⎠

de onde vem que

v sen 2θ 0
2
H = y0 + 0 ,
2g

que é a altura máxima atingida pelo projétil. Observe a similaridade com a expressão obtida
no caso unidimensional, com a diferença de que neste caso, o projétil terá executado um
movimento horizontal ao mesmo tempo em que atinge a altura máxima.
Vamos considerar o alcance horizontal máximo R como sendo a distância
horizontal entre o ponto de lançamento e o ponto em que o projétil adquiri a mesma altura em
que estava inicialmente ao ser lançado. Este pressuposto gera o conceito intuitivo de que, se
lançamos o projétil da superfície da Terra, então o alcance máximo será a distância entre o
ponto de lançamento e o ponto em que ele primeiro atinge o solo. No entanto, aplicar a
condição y (t R ) = 0 , onde t R é o tempo em que o projétil atinge o alcance horizontal máximo,
não é sempre correto, visto que a origem do sistema de referência não está necessariamente na
superfície da Terra. Daí vamos usar a condição de que, num certo tempo t = t R o projétil
atinge a distância R e passa pela linha de altura inicial, de modo que podemos escrever:

y (t R ) = y0 ;
31

1
y (t R ) = y0 + v0t R senθ 0 − gt R = y0 ,
2
(2.2.7)
2

de onde vem que:

2v0 senθ 0
tR = . (2.2.8)
g

Obviamente que t R = 0 também satisfaz 2.2.7, mas corresponde ao momento de lançamento e


não tem qualquer interesse para o cálculo da distância horizontal máxima. Esta é obtida por
meio da condição:

R = x(t R ) − x0 ;

R = x0 + v0t R cosθ 0 − x0 . (2.2.9)

Substituindo 2.2.8 em 2.2.9 temos

⎛ 2v senθ 0 ⎞
R = x0 + v0 ⎜⎜ 0 ⎟⎟ cosθ 0 − x0 ,
⎝ g ⎠

e utilizando a propriedade sen(2α ) = 2senα cos α , temos que

2
v
R = 0 sen(2θ 0 ) . (2.2.10)
g

A expressão 2.2.10 só vale quando a distância horizontal máxima percorrida pelo


projétil é atingida na mesma altura em que o projétil foi lançado.
32

y
r
v (tH ) r
g
H r
v0 vy (tH ) = 0

θ0
y0
r
v (tR )
r R
r0
x
FIGURA 2.2.2. Trajetória, posição e velocidade de um projétil lançado no plano referencial em três instantes.

Podemos também calcular

r ⎛ ⎛ 2v senθ0 ⎞ ⎞ ˆ
v (tR ) = v0 cosθ0iˆ + (v0 senθ0 − gtR ) ˆj = v0 cosθ0iˆ + ⎜⎜ v0 senθ0 − g ⎜⎜ 0 ⎟⎟ ⎟⎟ j ,
⎝ ⎝ g ⎠⎠

e observar que

r
v (t R ) = v0 cos θ 0iˆ − v0 senθ 0 ˆj .

Por meio desta última expressão, podemos observar que o componente v y da

velocidade ao passar de volta pela altura inicial é o mesmo componente da velocidade inicial
do projétil, mas com sinal invertido. Isto significa que em alturas iguais, as componentes
verticais da velocidade terão o mesmo módulo, mas sentidos inversos. Podemos lembrar que
esta mesma particularidade foi encontrada no caso unidimensional, como não poderia ser
diferente, visto que aquele trata-se de um caso particular deste.
O resultado 2.2.10 nos fornece uma importante observação: o maior alcance
horizontal máximo que um projétil pode atingir ocorre para um ângulo de 45º. Esta
observação já havia sido demonstrada nos estudos de Galileu, que também enunciou que “as
amplitudes das parábolas descritas por projéteis disparados com a mesma velocidade, mas em
ângulos de elevação acima e abaixo de 45º e eqüidistantes de 45º, são iguais entre si”
(NUSSENZVEIG, 2002, p. 53).
33

Este último enunciado pode ser facilmente demonstrado. Seja R1(45º+δ) o alcance
horizontal máximo para um ângulo de lançamento θ=45º+δ, onde 0º≤δ≤45º, e R2(45º- δ) o
alcance horizontal máximo para um ângulo de lançamento θ=45º-δ. Temos então que,

2 2
v0 v
R1 (45º +δ ) = sen[2(45º +δ )] = 0 [ sen90º cos(2δ ) + cos 90º sen(2δ )] ;
g g

2
v
R1 (45º +δ ) = 0 cos(2δ ) .
g

2 2
v0 v
R2 (45º −δ ) = sen[2(45º −δ )] = 0 [ sen90º cos(2δ ) − cos 90º sen(2δ )] ;
g g

2
v0
R2 (45º −δ ) = cos(2δ ) .
g

Logo, R1=R2, o que mostra que os alcances horizontais máximos para ângulos eqüidistantes
maiores e menores que 45º são iguais.
Podemos calcular a distância efetivamente percorrida pelo projétil, ou seja, o
comprimento L da trajetória. Para isto usaremos definição de Leithold (1994, p. 819):

tb r
dr (t )
L=∫ dt ,
ta
dt

onde o intervalo temporal de integração [ ta , tb ] será substituído pelo intervalo [ t0 , t R ], que


indica o intervalo temporal entre o lançamento do projétil e o momento que ele passa
novamente pela altura inicial. Deste modo, teremos o comprimento da trajetória percorrida
pelo projétil durante o intervalo de alcance horizontal máximo:

tR

L= ∫
t0 = 0
(v0 cosθ 0 ) 2 + (v0 senθ 0 − gt ) 2 dt ,
34

2v0 senθ 0
onde t R = .
g

Para resolvermos a integral acima, fazemos a substituição u = v0 senθ 0 − gt e usando o

u 2 a2
resultado tabelado “ ∫ u + a du =
2 2
u + a + ln u + u 2 + a 2 + C ” (LEITHOLD, 1994,
2

2 2
p. F-4), obtemos

v0 cos 2 θ 0 1 + senθ 0 v0 senθ 0


2 2
L= ln + .
2g 1 − senθ 0 g

Vamos agora encontrar os vetores unitários móveis que descrevem a trajetória de


um movimento de lançamento de projétil no plano. Vimos que a posição do projétil no plano
é dada pela função

r ⎛ 1 ⎞
r (t ) = (x0 + v0t cos θ 0 )iˆ + ⎜ y0 + v0tsenθ 0 − gt 2 ⎟ ˆj ,
⎝ 2 ⎠

que é uma função com valores vetoriais. Os vetores unitários móveis, ou versores móveis,
possibilitam diversas aplicações no estudo do movimento, que vão desde a facilitação de
certos cálculos até a transição de sistemas referenciais.
O vetor tangente unitário T̂ é aquele versor que tangencia a trajetória do projétil
em cada ponto da trajetória (ver figura 2.2.3). Podemos encontrar o vetor tangente unitário por
meio da seguinte definição:

r
dr (t )
Tˆ (t ) = rdt ,
dr (t )
dt

de modo que, para o movimento de projétil no plano referencial temos:


35

v cos θ 0iˆ + (v0 senθ 0 − gt ) ˆj


Tˆ (t ) = 0 .
( )
1
v0 − 2v0 gtsenθ 0 + g t
2 2 2 2

O vetor normal unitário N̂ é aquele versor perpendicular à trajetória do projétil


em cada ponto da trajetória. Para encontrá-lo usaremos a seguinte definição:

dTˆ (t )
Nˆ (t ) = dt ,
dTˆ (t )
dt

e então temos:

⎛ v cos θ ( g 2t − v gsenθ ) ⎞ ⎛ g (v0 senθ 0 − gt )( g 2t − v0 gsenθ 0 ) ⎞⎟ ˆ


−⎜ 0 0 0 0 ⎟ˆ ⎜
i − + j
⎜ 3 ⎟ ⎜ (q(t ) ) 3 ⎟
(q(t ) )2 (q(t ) )2
Nˆ (t ) = ⎝ ⎠ ⎝ ⎠
1
⎧⎛ 2

2 2

⎪⎜ v0 cos θ 0 ( g 2t − v0 gsenθ 0 ) ⎞⎟ ⎛⎜ g (v0 senθ 0 − gt )( g 2t − v0 gsenθ 0 ) ⎞⎟ ⎪


⎨⎜ + +
3 ⎟ ⎜ (q(t ) ) 3 ⎟ ⎬
⎪⎝

( q(t ) )2 ⎠ ⎝ (q (t ) ) 2 ⎠ ⎪⎭

onde

q (t ) = v0 − 2v0 gtsenθ 0 + g 2t 2 .
2

y r
v0
r
g Tˆ ( t )

Nˆ ( t )
θ0
y0

r
r0
x
FIGURA 2.2.3. Vetores tangente unitário e normal unitário em um ponto da trajetória do projétil.

r
Vamos agora encontrar o vetor curvatura K (t ) , que é o vetor cuja direção e
sentido apontam para o centro da circunferência que tangencia a trajetória do projétil em cada
36

ponto da trajetória (ver figura 2.2.4) e cujo módulo vale o inverso do raio desta circunferência
tangente a cada ponto da trajetória. Por definição (LEITHOLD, 1994, p. 827) temos:

dTˆ (t )
r
K (t ) = rdt ,
dr (t )
dt

logo:

r ⎛ v cosθ 0 ( g 2t − v0 gsenθ 0 ) ⎞ ˆ ⎛⎜ g (v0 senθ 0 − gt )( g 2t − v0 gsenθ 0 ) ⎞⎟ ˆ


K (t ) = −⎜⎜ 0 ⎟i
⎟ ⎜− + j
⎝ (q(t ) )2 3
⎠ ⎝ (q(t ) )2 (q(t ) )2 ⎟

onde

q (t ) = v0 − 2v0 gtsenθ 0 + g 2t 2 .
2

Vamos definir o raio de curvatura ρ (t ) , que é o raio da circunferência que


tangencia a trajetória do projétil em cada ponto da trajetória. Assim, temos por definição:

1
ρ (t ) = ,
K (t )

para o movimento do projétil, temos:

⎛1⎞
−⎜ ⎟
⎧ 2
⎛ g ⎞ ⎫
2 ⎝2⎠
⎪ ⎛ cos θ ( 2
− θ ) ⎞ ( θ − )( 2
− θ 0 ⎟ ⎪
)
⎟⎟ + ⎜
v g t v gsen v sen gt g t v gsen
ρ (t ) = ⎨⎜⎜ 0 0 0 0
+ 0 0 0
⎟ ⎬
⎪⎝ (q(t ) ) 2 ⎜ 3
⎠ ⎝ (q (t ) )2 (q(t ) ) 2
⎠ ⎪⎭

onde

q (t ) = v0 − 2v0 gtsenθ 0 + g 2t 2 .
2
37

y r
v0 r Tˆ (t )
K (t ) r
g

ρ (t )

θ0
y0

r
r0
x
FIGURA 2.2.4. Vetor curvatura e raio de curvatura em um ponto da trajetória do projétil.

Como exemplo de aplicação dos vetores móveis, vamos expressar a aceleração do


projétil em termos de componentes tangentes e normais à trajetória:

r r 2
r d dr (t ) ˆ dr (t )
a (t ) = T (t ) + K (t ) Nˆ (t ) . (2.2.11)
dt dt dt

r
d dr (t )
Observe a similaridade do termo tangencial com a segunda derivada da
dt dt
r 2
dr (t ) v2
posição, e a similaridade do termo normal K (t ) com , que se refere à aceleração
dt r
centrípeta. Podemos entender que cada ponto da trajetória é tangenciado por uma
circunferência móvel cujo raio é igual ao raio de curvatura naquele ponto e cujo centro é
ligado ao ponto da trajetória por uma seta cuja direção coincide com o vetor curvatura.
Desenvolvendo a equação 2.2.11, temos que a aceleração do projétil pode ser expressa por:

r
a (t ) = aT (t )Tˆ (t ) + aN (t ) Nˆ (t )

onde

g 2t − v0 gsenθ 0
aT (t ) = 1
(q(t ) )2

e
38

1
⎛ ⎞
2 2
⎜ ⎛ v0 cosθ 0 ( g 2t − v0 gsenθ 0 ) ⎞ ⎛⎜ g (v0 senθ 0 − gt )( g 2t − v0 gsenθ 0 ) ⎞⎟ ⎟
2

a N (t ) = ⎜ ⎜⎜ ⎟⎟ + + ,
⎜ 1 ⎟ ⎟
⎜⎝ q (t ) ⎠ ⎝ (q (t ) )2 q (t ) ⎟
⎠ ⎠

sendo

q (t ) = v0 − 2v0 gtsenθ 0 + g 2t 2 .
2

2.3 Caso Tridimensional: Caso Geral

Trataremos agora do caso clássico geral de lançamento de projéteis. Vamos


imaginar um sistema de referência inercial composto por três eixos ortogonais xyz localizado
próximo à superfície da Terra. Por conveniência vamos considerar a origem do sistema
referencial próximo à superfície da Terra. Vamos considerar também que a superfície é plana
e que o movimento ocorre próximo a ela; deste modo podemos supor que a aceleração da
gravidade não varia seu módulo com a altura nem muda de direção em seu deslocamento
horizontal. Vamos considerar o eixo z como sendo o eixo vertical positivo para cima.
Consideremos um projétil de massa m constante e dimensões ignoráveis, lançado
r r
a partir de uma posição inicial r0 com uma velocidade inicial v0 que faz um ângulo ϕ0 com o
plano horizontal. Vamos considerar também que o projétil é lançado num plano vertical que
faz um ângulo θ 0 com o plano xz.
Consideremos as condições de idealização já mencionadas nos estudos anteriores.
39

r
g
r
v0

ϕ0
θ0 m
r
r0
y

x
FIGURA 2.3.1. Esquema de lançamento de um projétil num plano referencial tridimensional.

Vamos primeiro definir a velocidade inicial em termos dos ângulos iniciais de


lançamento:

r r r r
v0 = v0 x + v0 y + v0 z = v0 xiˆ + v0 y ˆj + v0 z kˆ , (2.3.1)

onde

v0 x = v0 cosϕ 0cosθ 0 , v0 y = v0 cosϕ 0senθ 0 e v0 z = v0 senϕ 0 . (2.3.1.1)

Assim com nos casos anteriores, vamos partir da definição

r dpr (t ) d r
R= = (mv (t )) .
dt dt

Sabemos que a força resultante é a força peso. Colocando esta condição e resolvendo a
derivada da equação anterior temos:

r
r dv (t )
mg = m ,
dt

e já podemos ver que


40

r
r dv (t )
a (t ) = = − gkˆ , (2.3.2)
dt

ou seja, a aceleração do projétil corresponde à aceleração da gravidade. Por fim,


multiplicando os dois últimos termos da equação anterior por dt e aplicando a integração,
temos

r
v (t ) t
r
∫ dv (t ) = −
r
v0
∫ gkˆdt ,
t0 =0

onde os limites de integração correspondem ao tempo transcorrido entre o lançamento,


tomado arbitrariamente como 0s, e um instante genérico t após o lançamento. Resolvendo a
r
integração acima, e substituindo v0 conforme 2.3.1, temos

r
v (t ) = v0 xiˆ + v0 y ˆj + (v0 z − gt )kˆ , (2.3.3)

que corresponde à função velocidade em termos do tempo para o movimento do projétil.


Separando esta equação em componentes, temos:

vx (t ) = v0 x , v y (t ) = v0 y e vz (t ) = v0 z − gt ,

onde podemos observar claramente que somente o componente vertical varia com o tempo.
Mas também,

r
r dr (t )
v (t ) = .
dt

r
Sabendo que r0 = x0iˆ + y0 ˆj + z0 kˆ , e por métodos análogos aos anteriores, temos

r (t ) = ( x0 + v0 x t )iˆ + ( y0 + v0 y t ) ˆj + ⎜ z0 + v0 z t − gt 2 ⎟kˆ ,
r ⎛ 1 ⎞
(2.3.4)
⎝ 2 ⎠
41

que é a função posição do projétil no tempo, e cujas equações paramétricas são:

x(t ) = x0 + v0 xt , (2.3.4.1)

y (t ) = y0 + v0 y t , (2.3.4.2)

1
z (t ) = z0 + v0 z t − gt 2 . (2.3.4.3)
2

Para investigar o tipo de trajetória, podemos isolar o tempo na equação 2.3.4.1 e


substituí-lo em 2.3.4.3, de modo que obteremos

⎛ v x gx ⎞ ⎛ v + gx0 ⎞
2
⎛ g ⎞
z ( x(t )) = ⎜⎜ z0 − 0 z 0 − 0 ⎟⎟ + ⎜⎜ 0 z ⎟⎟ x(t ) − ⎜⎜ ⎟⎟ x(t ) 2 ,
⎝ v0 x 2v0 x ⎠ ⎝ v0 x ⎠ ⎝ 2v0 x ⎠

que nos diz que a projeção da trajetória no plano xz é uma parábola. Analogamente, podemos
isolar o tempo em 2.3.4.2 e substituí-lo em 2.3.4.3, obtendo

⎛ v0 z y0 gy0 ⎞⎟ ⎛⎜ v0 z + gy0 ⎞⎟
2
⎛ g ⎞

z ( y (t )) = z0 − − + y (t ) − ⎜ ⎟ y (t ) 2 ,
⎜ ⎟ ⎜
2v0 y ⎠ ⎝ v0 y ⎠ ⎟ ⎜ ⎟
⎝ v0 y ⎝ 2v0 y ⎠

de modo que a projeção da trajetória no plano yz também é uma parábola. Podemos ainda,
isolar o tempo em 2.3.4.1 e substituí-lo em 2.3.4.2, obtendo

v0 y
y ( x(t )) = y0 + ( x(t ) − x0 ) ,
v0 x

que é uma equação de reta, significando que a trajetória do projétil está contida num plano
vertical. De fato, a equação 2.3.4 descreve a trajetória de uma parábola vertical com
concavidade para baixo no espaço xyz.
42

As equações 2.3.2, 2.3.3 e 2.3.4 são as equações fundamentais do movimento do


projétil no espaço. Faremos uso delas para calcular os limites de alcance do projétil.
Primeiramente, vamos calcular a altura máxima H atingida pelo projétil, fato que ocorre num
certo tempo t H . Então aplicamos a condição

vz (t H ) = 0 ;

vz (t H ) = v0 z − gt H = 0 ;

e então

v0 z
tH = .
g

Como

H = z (t H ) ;

2
1 2 ⎛v ⎞ 1 ⎛v ⎞
H = z0 + v0 z t H − gt H = z0 + v0 z ⎜⎜ 0 z ⎟⎟ − g ⎜⎜ 0 z ⎟⎟ ;
2 ⎝ g ⎠ 2 ⎝ g ⎠

logo:

2
v0 z
H = z0 + .
2g

E obtemos a expressão esperada.


Vamos agora, assim como nos casos anteriores, definir o alcance horizontal
máximo R como a distância entre o ponto de lançamento e aquele em que o projétil primeiro
atinge novamente a altura em que estava no momento do lançamento. Supondo que isto
ocorre num tempo t R , podemos aplicar a condição
43

z (t R ) = z0 ;

1 2
z (t R ) = z0 + v0 z t R − gt R = z0 ,
2

de onde temos que

2v0 z
tR = .
g

Podemos observar também que t R = 2t H .


Como qualquer distância no plano horizontal xy ocorre em duas dimensões,
r
precisamos definir o vetor Rhorizontal , cujo módulo é o alcance horizontal máximo. Temos
então que:

r
Rhorizontal = x(t R )iˆ + y (t R ) ˆj − ( x0iˆ + y0 ˆj ) ;

r ⎛ 2v ⎞ ⎛ 2v ⎞
Rhorizontal = ( x0 + v0 xt R )iˆ + ( y0 + v0 y t R ) ˆj − ( x0iˆ + y0 ˆj ) = v0 x ⎜⎜ 0 z ⎟⎟iˆ + v0 y ⎜⎜ 0 z ⎟⎟ ˆj .
⎝ g ⎠ ⎝ g ⎠

Logo, o alcance horizontal máximo será

1
r ⎛ ⎛ 2v v ⎞ 2 ⎛ 2v0 z v0 y ⎞ 2 ⎞ 2
R = Rhorizontal = ⎜ ⎜⎜ 0 z 0 x ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟ ⎟ ,
⎜ ⎝ g ⎠ ⎝ g ⎟⎠ ⎟
⎝ ⎠

ou seja,

( )
1
2v0 z 2 2
R= v0 x + v0 y 2 .
g

Veja que tomarmos voy = 0 , teremos o mesmo resultado obtido no caso

bidimensional.
44

Podemos observar as similaridades entre R e H obtidos neste caso com aqueles


obtidos nos casos anteriores e reforçar o fato de que aqueles são particulares casos deste.

r
v0
r
g

ϕ0
θ0 m
r
r0

FIGURA 2.3.2. Trajetória de um projétil num espaço referencial xyz, mostrando a altura máxima e o alcance
horizontal máximo.

A figura 2.3.2 mostra a trajetória de um projétil contida num plano vertical


r
perpendicular ao plano horizontal xy, que contém também o vetor v0 . Este fato ficará mais
claro se observarmos os vetores unitários móveis para este movimento, como faremos mais
adiante.
Vamos calcular o comprimento L da trajetória do projétil entre o tempo de
lançamento e o tempo t R em que ele alcança a distância horizontal máxima.

tb r
dr (t )
L=∫ dt ;
ta
dt

tR


2 2
L= v0 x + v0 y + (v0 z − gt ) 2 dt ;
t0 = 0

2v0 z
onde t R = .
g
45

Podemos fazer a substituição u = v0 senθ 0 − gt na integral acima e usar o resultado

u 2 a2
∫ u 2 + a 2 du =
2
u + a 2 + ln u + u 2 + a 2 + C , obtendo
2

2 2
v0 x + v0 y v0 + v0 z v0v0 z
L= ln + .
2g v0 − v0 z g

Uma vez encontrados os alcances horizontais e verticais máximos para os casos


em duas e três dimensões, e também o comprimento da trajetória, cumpre-nos falar que estes
resultados são importantíssimos em usos práticos de lançamento de projéteis. Os alcances
horizontais e verticais máximos interessam a qualquer tipo de estudo balístico, desde o campo
bélico até o lançamento de foguetes e satélites. O comprimento da trajetória é importante na
determinação do desgaste do material do projétil.
No gráfico da figura 2.3.3 vemos a relação de tais grandezas com o ângulo de
lançamento. O gráfico é valido para os casos de lançamento no plano ou no espaço, uma vez
que os alcances e o comprimento da trajetória são funções apenas do módulo da velocidade
inicial e do ângulo que ela faz com o plano horizontal.
Observamos claramente que um alcance horizontal máximo maior é obtido para
um ângulo de 45º, e o maior alcance vertical máximo ou altura máxima é obtido para um
ângulo de 90º (um lançamento vertical, obviamente). Para atingir um comprimento máximo
possível de trajetória, a partícula deve ser lançada num ângulo de aproximadamente 56º, o que
pode não ser interessante em casos em que a estrutura do projétil sofra muito desgaste devido
ao contato com o ar.
46

12

10

R L H
Comprimento (metros)

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de lançam ento (graus)

FIGURA 2.3.3. Alcance horizontal máximo (R), alcance vertical máximo ou altura máxima (H) e comprimento
da trajetória (L) em função ângulo de lançamento para uma velocidade inicial de 10m/s.

Vamos agora encontrar os vetores móveis para o movimento do projétil.


Primeiramente calculemos o vetor tangente unitário Tˆ (t ) que tangencia a trajetória do
projétil. Para isto usaremos a definição

r
dr (t )
Tˆ (t ) = rdt ,
dr (t )
dt

lembrando que r (t ) = ( x0 + v0 xt )iˆ + ( y0 + v0 yt ) ˆj + ⎜ z0 + v0 z t − gt 2 ⎟kˆ . Então:


r ⎛ 1 ⎞
⎝ 2 ⎠

v iˆ + v0 y ˆj + (v0 z − gt )kˆ
Tˆ (t ) = 0 x .
2
v0 − 2v0 z gt + g 2t 2( 2
)

Obtido o vetor tangente unitário, podemos encontrar o vetor curvatura por meio da
seguinte definição:
47

dTˆ (t )
r
K (t ) = rdt ,
dr (t )
dt

e então encontramos

⎛ ⎞
⎛ v0 x ( g 2t − v0 z g ) ⎞ ˆ ⎛ v0 y ( g t − v0 z g ) ⎞ ˆ ⎜ g
2
r
⎜ ⎟ (v0 z − gt )( g 2t − v0 z g ) ⎟ ˆ
K (t ) = −⎜⎜ ⎟⎟i −
⎜ ⎟ j −⎜ 3
+ ⎟k
⎝ q(t ) 2 ⎠ ⎝ q(t ) 2 ⎠ ⎜ q(t ) 2 q(t ) 2 ⎟
⎝ ⎠

onde

2
q (t ) = v0 − 2v0 z gt + g 2t 2 .

1
Podemos também lembrar da definição ρ (t ) = r e encontrar o raio de
K (t )

curvatura para o movimento do projétil:

⎛1⎞
−⎜ ⎟
⎛ 2
⎞ ⎝2⎠
⎜ ⎛ v ( g 2t − v g ) ⎞ 2 ⎛ v0 y ( g 2t − v0 z g ) ⎞ 2 ⎛⎜ g ( v − gt )( g 2
t − v g )

⎟ ⎟
ρ (t ) = ⎜ ⎜⎜ 0x 0z
⎟⎟ + ⎜ ⎟ +⎜ + 0 z 0 z
⎟ ⎟
⎜⎜ ⎝ q(t ) 2 ⎜ q(t ) 2 ⎟ 3
q (t ) 2
⎟⎟
⎠ ⎝ ⎠ ⎜ q(t ) 2 ⎟
⎝ ⎝ ⎠ ⎠

onde

2
q (t ) = v0 − 2v0 z gt + g 2t 2 .

Vamos lembrar que o vetor curvatura aponta para o centro da circunferência que
tangencia a trajetória em cada ponto. A circunferência tangente à trajetória estará no mesmo
plano que contém a trajetória do projétil. Neste movimento, o plano que contém a trajetória é
um plano vertical perpendicular ao plano xy (veja a figura 2.3.4).
48

r
r v0
g

m
ϕ0 r
θ0 K (t )
r
r0 ρ (t )
y

FIGURA 2.3.4. Vetor curvatura e raio de curvatura num ponto da trajetória do projétil.

Vamos agora encontrar o vetor normal unitário usando uma nova definição. Não é
difícil ver na figura 2.3.4 que o vetor curvatura tem sempre direção perpendicular à direção
tangente à trajetória do projétil, no sentido interno da curvatura. Logo, o vetor normal unitário
tem que ter a mesma direção e sentido do vetor curvatura. Mas o vetor curvatura não é um
vetor unitário, e sim tem seu módulo igual ao inverso do raio da circunferência que tangencia
a trajetória em cada ponto. Porém podemos dividir o vetor curvatura por seu módulo, e
garantir que se torne um versor, e então formular a seguinte definição:

r
K (t )
Nˆ (t ) = r ,
K (t )

2
e sabendo que q (t ) = v0 − 2v0 z gt + g 2t 2 , temos após os cálculos:
49

⎛ ⎞
⎛ v0 x ( g 2t − v0 z g ) ⎞ ˆ ⎛ v0 y ( g t − v0 z g ) ⎞ ˆ ⎜ g
2
( v − gt )( g 2
t − v g ) ⎟ˆ
− ⎜⎜ ⎟⎟i − ⎜ ⎟ j −⎜ + 0 z 0 z
⎟k
q(t ) 2 ⎜ q(t ) 2 ⎟ 3
( ) 2
⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎜ q t ⎟
⎝ q(t )
2
Nˆ (t ) = ⎠ .
⎛1⎞
2 ⎜⎝ 2 ⎟⎠
⎛ ⎞
⎜ ⎛ v ( g 2t − v g ) ⎞ ⎛ v0 y ( g 2t − v0 z g ) ⎞ ⎛⎜ g
2 2
(v0 z − gt )( g 2t − v0 z g ) ⎟ ⎟

⎜⎜ ⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ⎟ ⎟
⎟ +⎜ ⎟ +⎜ +
0x 0z
3
⎜⎜ ⎝ q (t ) 2 ⎠ ⎝ q(t ) 2 ⎠ ⎜ q(t ) 2 q (t ) 2 ⎟ ⎟⎟
⎝ ⎝ ⎠ ⎠

Acabamos de obter o vetor normal unitário do movimento do projétil, e já


havíamos anteriormente obtido o vetor tangente unitário. Podemos agora obter o vetor
binormal unitário B̂ , que corresponde ao produto vetorial entre o vetor tangente unitário e o
vetor normal unitário. O vetor binormal unitário forma uma base ortogonal com os vetores
tangente e normal unitário (LEITHOLD, 1994, p. 899):

Bˆ (t ) = Tˆ (t ) × Nˆ (t ) .

Resolvendo o produto vetorial, obtemos que:

Bˆ (t ) =
g
1
(− v
0y iˆ + v0 x ˆj )
2
n(t ) q(t )
2

onde

⎛1⎞
⎜ ⎟
⎛ ⎞ ⎞⎟⎝ 2 ⎠
2
⎜ ⎛ v ( g 2t − v g ) ⎞ 2 ⎛ v0 y ( g 2t − v0 z g ) ⎞ 2 ⎛⎜ g (v − gt )( g t − v0 z g ) ⎟
2
n(t ) = ⎜ ⎜⎜ 0 x 0z
⎟⎟ + ⎜ ⎟ +⎜ + 0z ⎟ ⎟
⎜⎜ ⎝ q(t ) 2 ⎜ q (t ) 2 ⎟ 3
q(t ) 2
⎠ ⎝ ⎠ ⎜ q(t ) 2 ⎟ ⎟⎟
⎝ ⎝ ⎠ ⎠

2
q (t ) = v0 − 2v0 z gt + g 2t 2 .
50

r
g r Bˆ (t )
v0

m
ϕ0
θ0 Nˆ (t ) Tˆ (t )
r
r0

FIGURA 2.3.5. Vetor tangente unitário, vetor normal unitário e vetor binormal unitário em um ponto da
trajetória do projétil.

Observe que o vetor binormal unitário não possui componente vertical, o que
significa que é paralelo ao plano horizontal xy. Podemos lembrar que ele é perpendicular aos
vetores tangente e normal unitário, e estes, por sua vez, estão contidos no plano que contém a
circunferência que tangencia a trajetória. Logo, o vetor binormal unitário é perpendicular à
circunferência tangente à trajetória do projétil e, por conseguinte, perpendicular ao plano que
contém a trajetória do projétil. Como o vetor binormal unitário não tem componente vertical,
podemos concluir que este plano que contém a trajetória do projétil é perpendicular ao plano
horizontal xy, demonstrando o que já havia sido mencionado anteriormente. Esta
demonstração é mais uma aplicação dos vetores unitários móveis.
Os vetores tangente unitário Tˆ (t ) , normal unitário Nˆ (t ) e binormal unitário

Bˆ (t ) formam o chamado triedo móvel da trajetória do projétil.


Vamos agora usar a expressão

r r 2
r d dr (t ) ˆ dr (t )
a (t ) = T (t ) + K (t ) Nˆ (t )
dt dt dt
51

r
adaptada de Leithold (1994, p. 840) e calcular também a aceleração a (t ) do projétil em
termos de seus componentes normal e tangencial.

r
a (t ) = aT (t )Tˆ (t ) + a N (t ) Nˆ (t )

onde

g 2t − v0 z g
aT (t ) = ,
q (t ) 2

1
⎛ ⎞ ⎞⎟ 2
2
⎜ ⎛ v ( g 2t − v g ) ⎞ 2 ⎛ v0 y ( g 2t − v0 z g ) ⎞ 2 ⎛⎜ g (v − gt )( g t − v0 z g ) ⎟
2
a N (t ) = ⎜ ⎜⎜ 0 x 0z
⎟⎟ + ⎜ ⎟ +⎜ + 0z ⎟ ⎟
⎜⎜ ⎝ q(t ) ⎜ q (t ) ⎟ 1
q(t )
⎠ ⎝ ⎠ ⎜ q(t ) 2 ⎟ ⎟⎟
⎝ ⎝ ⎠ ⎠

2
q (t ) = v0 − 2v0 z gt + g 2t 2 .

Não é difícil relacionar o caso geral em três dimensões com os casos


bidimensional e unidimensional de lançamento de projéteis. De fato, estes dois últimos são
casos particulares daquele. A verificação se faz por meio das similaridades obtidas nas formas
funcionais de cada caso: aplicando-se certas condições iniciais ao projétil, teremos que sua
forma funcional em três dimensões recairá na forma funcional do caso bidimensional ou
unidimensional, dependendo das condições. Por exemplo, lançando um projétil
completamente na vertical em um espaço descrito por um referencial inercial em três
dimensões, teremos que os ângulos de lançamento θ 0 e ϕ0 serão iguais a 0 e 90 graus.
Substituindo estes valores na forma funcional 2.3.1.1, teremos que 2.3.4 será equivalente a
2.1.4.
Estas particularidades reforçam o fato de que as componentes do movimento são
independentes entre si. Podemos assim estudar os movimentos em termos de cada
componente. Foi isto que fizemos ao aplicar as condições que nos levaram a determinar as
alturas máximas e alcances horizontais máximos dos projéteis.
52

Os resultados obtidos nos três casos analisados correspondem a uma idealização


clássica da física. Como já foi mencionado anteriormente, as influências da resistência do ar
foram desconsideradas, assim como qualquer variação da aceleração da gravidade provocada
pela altura do projétil ou pela esfericidade não-uniforme da superfície da Terra. No entanto,
embora idealizados, os resultados teóricos obtidos fornecem uma boa aproximação para
projéteis de forma aerodinâmica e que são lançados com velocidades iniciais elevadas, tais
como certos projéteis de arma de fogo (NUSSENZVEIG, 2002, p. 53).
3. Projéteis e a Força de Resistência do Meio Fluido

O estudo clássico idealizado nos mostra que a trajetória de um projétil lançado sob
efeito da atração gravitacional da Terra é uma parábola. Estudando cada componente da
forma funcional do movimento do projétil obtida no capítulo anterior, podemos ver que os
componentes horizontais descrevem movimentos uniformes. No entanto, não são estes efeitos
que verificamos no nosso dia a dia, fato que leva a percepção humana a encarar de outra
forma o movimento de corpos na atmosfera. Como exemplo, podemos citar os desenhos
animados, onde comumente é mostrado um objeto sendo lançado obliquamente da superfície,
e percorre uma trajetória em linha reta para depois parar e cair verticalmente (TAVARES,
2004).
Brancazio (1985) apud Halliday et al. (2002a, p. 55) compara a trajetória ideal de
uma bola (modelo parabólico) com a trajetória real obtida experimentalmente. Os dados
experimentais obtidos por Brancazio (op cit.) são mostrados na tabela abaixo.

TABELA 3.1. Parâmetros de alcance para lançamento de uma bola na atmosfera, lançada com
uma velocidade de 44,7m/s com um ângulo de lançamento de 60º com a horizontal.
Parâmetro Trajetória Real Trajetória Ideal Clássica
Alcance horizontal 98,5m 177m
Altura máxima 53,0m 76,8m
Tempo de vôo 6,6s 7,9s
54

Observe os efeitos de retardamento: os alcances e o tempo de vôo reais são


menores que os ideais. O gráfico da figura 3.1 é uma adaptação do resultado experimental
obtido por Brancazio (1985) apud Halliday et al. (2002a, p. 55), onde a trajetória real foi
estimada pelo modelo de força de resistência linear com a velocidade, que será mostrado mais
adiante. Este gráfico nos mostra a falta de simetria (parabólica) da trajetória real da bola, em
comparação com a simetria da trajetória ideal, e as limitações de alcance impostas pela
resistência do ar.

80
Trajetória ideal cláss ica
Trajetória real es timada
70

60

50
Altura (m)

40

30

20

10

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Distâ ncia horiz onta l (m )

FIGURA 3.1. Trajetória ideal clássica e trajetória real estimada para uma bola lançada com uma velocidade de
44,7 m/s formando um ângulo de 60º com a horizontal.

O modelo ideal clássico do movimento de projéteis considera que apenas a força


de atração gravitacional da Terra atua sobre um corpo lançado próximo a Terra. Pressupõe
também que aceleração da gravidade é constante, independente da altura e posição do projétil.
Pressupõe ainda que nenhum outro efeito causado pela atmosfera da Terra provoca influência
no movimento do projétil. No entanto, os resultados mencionados anteriormente qualificam
bem o fato de que estes pressupostos não correspondem à realidade.
Neste e nos próximos capítulos mencionaremos outros efeitos, além da atração
gravitacional da Terra, que influenciam no movimento dos projéteis, e que provocam as
limitações discutidas no estudo de Brancazio (op cit.). Primeiramente vamos tratar sobre o
efeito da atmosfera no movimento de um projétil e falar sobre a resistência do meio fluido.

3.1 Meio Fluido


55

Um fluido é uma substância que pode escoar, ou fluir. Sob o ponto de vista
formal, “um fluido é uma substância que escoa porque não consegue suportar uma tensão
cisalhante” (HALLIDAY et al., 2002b, p. 48). Como não consegue resistir a uma força
tangencial à sua superfície, se distribui pelos limites de qualquer reservatório que esteja
contido. Por definição, os fluidos englobam os líquidos e gases.
Os fluidos desempenham um papel vital na vida humana e na natureza, e o
homem deu para eles diversas aplicações tecnológicas.
Vamos ver agora algumas propriedades importantes sobre fluidos, que serão úteis
para estudar o movimento de projéteis na atmosfera, que é formada por diversos fluidos.
Primeiramente vamos estudar sobre massa específica, entendida com a quantidade de massa
do fluido contida numa pequena porção infinitesimal de volume:

dm
ρ= ,
dV

onde ρ é a massa específica do fluido em Kg .m −3 , dm é uma porção infinitesimal de massa

do fluido em Kg e dV é uma parte infinitesimal de volume do fluido, em m3 . Se


considerarmos teoricamente que o fluido tem massa específica uniforme, o que é uma
consideração aceitável em geral, temos que:

m
ρ= ,
V

onde m e V são a massa e o volume de uma amostra macroscópica de fluido.


A pressão é definida pelo quociente entre o módulo da força infinitesimal exercida
perpendicularmente a uma porção infinitesimal de área de um fluido e a porção infinitesimal
de área do fluido. Assim:

dF
p= ,
dA
56

onde p é a pressão em Pascal ( Pa ), dF é o módulo da força infinitesimal em N e dA é a

porção infinitesimal de área do fluido em m 2 . Para o caso de uma força uniforme sobre uma
área plana, temos:

F
p= ,
A

onde F é o módulo da força e A é a área plana.


Arquimedes enunciou uma importante propriedade da interação entre um fluido e
um corpo em contato com ele: “Quando um corpo está total ou parcialmente submerso em um
r
fluido, o fluido ao redor exerce uma força de empuxo E sobre o corpo. A força está dirigida
para cima e possui intensidade igual ao peso m f g do fluido que foi deslocado pelo corpo”.

Temos então uma das forças exercidas pelo meio fluido:

r r
E = −m f g ,

r
onde m f é a massa de fluido deslocado pelo corpo em contato com o fluido e g a aceleração

da gravidade.
Por fim, vamos analisar a viscosidade de um fluido, que é o análogo fluido para o
atrito entre corpos, ou a medida de resistência de um fluido ao escoamento. Assim, o piche
tem maior viscosidade que o mel, pois escoa mais lentamente.
Microscopicamente, a viscosidade representa o atrito interno entre as camadas de
fluido. Isto tem uma importância genérica para o caso de projéteis, já que este atrito entre as
camadas tende a existir também entre as camadas e os corpos que atravessam o fluido.
Formalizaremos esta relação mais a frente. Vamos agora comentar sobre o coeficiente de
viscosidade η , que está diretamente relacionado ao fenômeno microscópico da viscosidade.
Para isto, vamos supor duas camadas de convecção em um fluido, com velocidades diferentes
e ambas paralelas a um eixo de convecção Y e perpendiculares a um eixo de variação de
velocidade de convecção X: “a densidade de corrente de momento, jP é a quantidade de
momento de convecção (paralelo ao eixo Y) transferido por unidade de tempo através da
unidade de área perpendicular à direção em que a velocidade de convecção varia” (ALONSO
e FINN, 1972a, 2, p. 522); o que pode ser expresso por:
57

∂v y
jP = −η ,
∂x

onde v y é a velocidade de convecção entre os as camadas de convecção e η é o fator de

proporcionalidade de momento transferido, o qual é definido como coeficiente de viscosidade,


e dado em Kg .m −1.s −1 . A transferência de momento está relacionada às colisões e troca de
energia térmica entre as partículas microscópicas do meio fluido, e o coeficiente de
viscosidade é a medida de proporção desta transferência.
Diante destas propriedades, convém analisar os efeitos provocados pelo fluido no
corpo que o atravessa. Um corpo atravessando uma grande porção de fluido ocasionará um
afastamento de certa quantidade de massa de fluido para as bordas do corpo. Os efeitos de
movimento do fluído e as variações das velocidades de convecção, aliados à interação de
contato do fluido com a superfície do corpo e as trocas microscópicas de energia e momento,
provocarão alterações na dinâmica do corpo. Logo, formulamos que o meio fluido exerce
forças sobre o corpo que o atravessa. É sobre essas forças que trataremos a seguir.

3.2 Efeitos de Resistência do Meio Fluido

Quando um projétil é lançado na atmosfera, está navegando por entre um meio


fluído: o ar. Conforme já discutimos, o ar provocará uma alteração dinâmica no movimento
do corpo. É o que observamos experimentalmente no nosso dia a dia; como exemplo, temos o
movimento da bola, mostrada no início deste capítulo, que não é dinamicamente regida
apenas pela interação gravitacional, como no modelo clássico, mas também pelas forças
provocadas pelo meio fluido que atravessa, ou seja, o ar.
Experimentalmente sabemos que as forças provocadas pelo meio fluido tendem a
se opor ao movimento do corpo, e são assim chamadas de forças de resistência ou forças de
arrasto, pois obviamente resistem ao movimento imposto ao corpo por outra força.
Estabelecer um modelo para a força de resistência do ar ou de qualquer outro meio
fluido não é uma tarefa fácil. De modo geral, a força de resistência do meio depende da
velocidade da partícula, o que já torna o cálculo bastante complicado. A força de resistência
depende também da forma e das características do corpo que atravessa o meio fluido e das
propriedades do fluido, tais como pressão, massa específica e viscosidade. Podemos citar
58

ainda a existência de mais de uma componente de resistência, cuja predominância depende do


tipo de regime de escoamento ao qual a partícula esta submetida (CONCHA e ALMENDRA,
1979) apud (CARRISSO e CHAVES, 2001, p. 12). As componentes da resistência são: a
resistência de forma (do tipo inercial), que tem origem nas assimetrias de pressão do fluído
sobre as faces opostas do corpo, e a resistência de fricção (do tipo viscosa), que tem origem
no atrito de cisalhamento na superfície do corpo (CARRISSO e CHAVES, 2001).

3.3 Modelo de Resistência do Ar

Vamos a partir deste momento particularizar nosso estudo apenas ao caso de um


projétil se deslocando na atmosfera próximo à superfície terrestre. O projétil estará
interagindo com a Terra, da qual sofrerá a atração gravitacional, e com o ar da atmosfera, do
qual sofrerá uma força de resistência ao seu movimento.
r
Um modelo para o módulo da força de resistência R do ar é dado pela expressão

r r r2
R = bv + cv , (3.3.1)

r
onde b e c são constantes cujo significado físico serão mais adiante explicados, e v é a
velocidade relativa do projétil em relação ao ar. Podemos considerar que todas as porções de
r
ar estão em repouso na atmosfera, de modo que a velocidade relativa v do projétil em relação
ao ar coincida com a velocidade do projétil em relação ao referencial inercial (Terra). O termo
r r
linear da expressão 3.3.1 predomina quando v é pequeno, e o termo quadrático quando v é

grande (NUSSENZVEIG, 2002, p. 89).


O modelo quadrático, considerando o termo quadrático da expressão 3.3.1, torna a
equação de movimento do projétil deveras complicada, de modo que não tenha solução
analítica. Trataremos este caso por métodos numéricos no próximo capítulo.
Neste momento, vamos considerar um projétil lançado com velocidade não muito
grande, de modo que podemos fazer uma aproximação para o modelo de resistência linear
com a velocidade, em que

r r
R = −bv . (3.3.2)
59

O sinal negativo na expressão 3.3.2 surge da forma vetorial na qual a expressão


foi escrita, e nos lembra que a força de resistência tende a desfavorecer o movimento. A
constante de resistência b é dada em Kg .s −1 e pode ser escrita como

b = ηK obj ,

onde η é o coeficiente de viscosidade em N .s.m −2 e K obj , dado em m , é um coeficiente que

depende da forma do projétil. Por cálculos complicados, podemos determinar K obj para uma

esfera de raio R como sendo

K esfera = 6πR .

Esta relação é conhecida como lei de Stokes (ALONSO e FINN, 1972b, p. 162). De modo
geral, o coeficiente K obj não é constante durante o movimento. Ele relaciona-se

principalmente com a área de seção transversal do projétil ao movimento e,


experimentalmente observamos que, quanto maior for esta, maior será a força resistência
sobre o projétil.
Vamos agora considerar um referencial inercial tridimensional com origem
localizada próximo à superfície da Terra no qual está sendo observado o lançamento de
projétil. O eixo z vertical do sistema de referência está orientado positivamente para cima. O
r
projétil de massa m fixa é lançado na atmosfera a partir de uma posição r0 com uma
r
velocidade inicial v0 . Suporemos também que a superfície da Terra é plana e a aceleração da
gravidade não sofre variação com a altura (estamos considerando que o movimento do projétil
ocorre próximo à superfície da Terra).
60

r
g
r v 0 x = v 0 cos θ 0 cos ϕ 0
v0

v 0 y = v 0 sen θ 0 cos ϕ 0
ϕ0
θ0 m
r v 0 z = v 0 sen ϕ 0
r0
y

x
FIGURA 3.3.1. Sistema referencial de lançamento de um projétil na atmosfera terrestre.

Vamos considerar o projétil como sendo uma esfera de raio R e que a força de
resistência do ar segue o modelo dado por 3.3.2. Temos então que:

r r r r
dv (t )
R=P+R=m ,
dt

r
de onde, sabendo que P é o peso, chegamos em

r
r r dv (t )
mg − bv (t ) = m .
dt

b
Definindo k = , temos
m

r
dv (t ) r
+ kv (t ) = − gkˆ ,
dt

que é a uma equação diferencial linear de primeira ordem, e pode ser facilmente resolvida
pelo método do fator integrante, de modo que obtemos:

r r g
v (t ) = Ce − kt − kˆ ,
k
61

r r r
onde C é um vetor constante que é determinado pela condição inicial v (t 0 = 0) = v0 como

r g
sendo v0 + kˆ . Então,
k

r ⎛r g ⎞ g
v (t ) = ⎜ v0 + kˆ ⎟e − kt − kˆ (3.3.3)
⎝ k ⎠ k

é o vetor velocidade em função do tempo para o projétil, cujas componentes são

vx (t ) = v0 x e − kt ,

v y (t ) = v0 y e − kt

⎛ g⎞ g
vz (t ) = ⎜ v0 z + ⎟e −kt − .
⎝ k⎠ k

r
r dv (t )
Podemos agora aplicar a (t ) = e descobrir a função aceleração do projétil:
dt

r ⎛r g ⎞
a (t ) = −k ⎜ v0 + kˆ ⎟e −kt , (3.3.4)
⎝ k ⎠

onde as componentes são

a x (t ) = −kv0 x e − kt ,

a y (t ) = −kv0 y e − kt

e
62

a z (t ) = (− kv0 z − g )e − kt .

Observe que diferentemente do caso ideal, as componentes horizontais do


movimento do projétil possuem aceleração. Esta aceleração é negativa e deve-se unicamente à
força de resistência do ar.
Podemos por fim, calcular a função vetorial da posição do projétil no tempo, a fim
de determinar sua trajetória:

r r
r (t ) t
r dr (t ) r r
v (t ) = => ∫ dr (t ) = ∫ v (t )dt ;
dt r
r0 0

r
e substituindo v (t ) conforme 3.3.3, temos que

r r 1⎛r g ⎞ g
( )
r (t ) = r0 + ⎜ v0 + kˆ ⎟ 1 − e −kt − tkˆ ,
k⎝ k ⎠ k
(3.3.5)

cujas equações paramétricas são

x(t ) = x0 +
v0 x
k
(
1 − e −kt , ) (3.3.5.1)

y (t ) = y0 +
v0 y
k
(1 − e )
−kt
(3.3.5.2)

1⎛ g⎞
( g
z (t ) = z0 + ⎜ v0 z + ⎟ 1 − e −kt − t .
k⎝ k⎠ k
) (3.3.5.3)

As equações 3.3.3, 3.3.4 e 3.3.5 são as equações fundamentais do movimento do


projétil na vizinhança da superfície terrestre. Poderíamos agora estudar os limites deste
movimento no tempo, mas vamos retardar esta explicação a fim de mostrarmos num momento
mais oportuno, quando definiremos a velocidade terminal.
63

Por ora, vamos calcular a projeção da trajetória do movimento do projétil nos


planos xz e yz. Para isto, podemos isolar o tempo nas expressões 3.3.5.1 e 3.3.5.2 e substituí-
lo em 3.3.5.3, de modo que obteremos,

⎡ ⎛ g ⎞ ⎤ ⎡⎛ g ⎞⎤
⎢ ⎜ v0 z + ⎟ ⎥ ⎢ ⎜ v0 z + ⎟ ⎥
g ⎛ ⎞
z ( x(t )) = ⎢ z0 − ⎝
k⎠
x0 ⎥ + ⎢ ⎝
k⎠ k
⎥ x(t ) + 2 ln⎜⎜1 − ( x(t ) − x0 ) ⎟⎟
⎢ v0 x ⎥ ⎢ v0 x ⎥ k ⎝ v0 x ⎠
⎢⎣ ⎥⎦ ⎢⎣ ⎥⎦

⎡ ⎛ g ⎞ ⎤ ⎡⎛ g ⎞⎤
⎢ ⎜ v0 z + ⎟ ⎥ ⎢ ⎜ v0 z + ⎟ ⎥
g ⎛ ⎞
z ( y (t )) = ⎢ z0 − ⎝
k⎠
y0 ⎥ + ⎢ ⎝
k⎠ k
⎥ y (t ) + 2 ln⎜1 − ( y (t ) − y0 ) ⎟ .
⎢ v0 y ⎥ ⎢ v0 y ⎥ k ⎜ v ⎟
⎝ 0y ⎠
⎢⎣ ⎥⎦ ⎢⎣ ⎥⎦

Cada uma das equações acima representa a equação da projeção da trajetória no


plano do eixo z com o respectivo eixo. Abaixo, a figura representa a forma geral da projeção
da trajetória no plano zx. De fato essa é também a forma geral da trajetória no espaço.
z (m)

x (m )

FIGURA 3.3.2. Trajetória no plano zx de um projétil lançado sob ação da atração gravitacional e da resistência
do ar na forma linear com a velocidade.

Veja na figura 3.3.2 a similaridade com a trajetória estimada na figura 3.1. Fica
claro a perda de simetria parabólica da trajetória provocada pelo efeito de resistência do ar.
64

Podemos ainda isolar o tempo em 3.3.5.1 e substituí-lo em (3.3.5.2), a fim de estudar a


projeção da trajetória no plano horizontal xy. Veja que obtemos como resultado

v0 y
y ( x(t )) = y0 + ( x(t ) − x0 ) ,
v0 x

que é uma equação de reta. Veja que no caso clássico (seção 2.3) obtivemos o mesmo
resultado. Isto demonstra que a força de resistência não provoca efeitos no plano vertical de
lançamento do projétil, e a trajetória do projétil continuará contida no plano vertical que
contém o vetor velocidade inicial.

r
v0

r
r0

FIGURA 3.3.3. Forma geral da trajetória do projétil no espaço, ficando evidente a falta de simetria da trajetória.

Vamos investigar os limites de alcance do projétil. Considerando que num tempo


determinado t H o projétil atinge o ponto mais alto da trajetória, podemos aplicar a condição

v z (t H ) = 0 ;

⎛ g⎞ g
vz (t H ) = ⎜ v0 z + ⎟e −ktH − = 0 ;
⎝ k⎠ k

e podemos isolar t H :
65

1 ⎛ kv0 z + g ⎞ 1 ⎛ kv0 senϕ 0 + g ⎞


tH= ln⎜ ⎟ = ln⎜ ⎟⎟ . (3.3.6)
k ⎜⎝ g ⎟⎠ k ⎜⎝ g ⎠

Para descobrirmos a altura máxima aplicamos

H = z (t H ) ;

1⎛ g⎞ g
H = z0 + ⎜ v0 z + ⎟(1 − e −kt H ) − t H ;
k⎝ k⎠ k

e substituindo o valor de t H , temos

v0 z g ⎛ kv0 z ⎞ v senϕ 0 g ⎛ kv0 senϕ 0 ⎞


H = z0 + − 2 ln⎜⎜ + 1⎟⎟ = z0 + 0 − 2 ln⎜⎜ + 1⎟⎟ , (3.3.7)
k k ⎝ g ⎠ k k ⎝ g ⎠

que é a altura máxima atingida pelo projétil.


Para encontrar o alcance horizontal máximo do projétil, assumimos que ele ocorre
num tempo t R e aplicamos a condição

z (t R ) = z0 ;

1⎛
k⎝
g⎞
k⎠
( ) g
z (t R ) = z0 + ⎜ v0 z + ⎟ 1 − e −ktR − t R = z0 ;
k

⎛ gk ⎞
e −ktR = 1 − ⎜⎜ ⎟⎟t R . (3.3.8)
⎝ 0z
kv + g ⎠

A equação 3.3.8 não tem solução explícita para t R obtida por métodos analíticos
triviais. No entanto, existem aproximações experimentais, além de ser facilmente resolvida
por métodos numéricos. O tempo t R é de fato um parâmetro importante para o estudo do
lançamento do projétil. Além de representar o tempo total de vôo, ele nos permite calcular o
66

alcance horizontal máximo do projétil e o comprimento da trajetória. Deixaremos estas duas


aplicações para o final do capítulo.

3.4 O Lançamento Vertical e a Velocidade Terminal

Vamos imaginar o lançamento de um projétil nas condições já expressas na seção


r
3.3. Vamos neste momento exemplificar a força de empuxo E que o meio exerce sobre o
projétil. A velocidade inicial de lançamento do projétil terá apenas a componente z, de modo
que todo o movimento acontece apenas na componente vertical. Temos então que a equação
do movimento vertical do projétil é dada por

r r r r
dv (t )
P+E+R=m ,
dt

e temos

r
ˆ ˆ r dv (t )
− mgk + m ar gk − bv (t ) = m ,
dt

onde m é a massa do projétil e mar é a massa de ar deslocado pelo projétil em seu

m − mar
movimento. Fazendo a definição M = , obtemos para a equação acima a forma
m

dv(t )
+ kv(t ) = − Mg , (3.4.1)
dt

de onde obtemos as equações fundamentais

⎛ Mg ⎞ −kt Mg
v(t ) = ⎜ v0 + ⎟e − ,
⎝ k ⎠ k

a(t ) = (− kv0 − Mg )e − kt
67

1⎛
z (t ) = z0 + ⎜ v0 +
k⎝
(
Mg ⎞
⎟ 1− e −
k ⎠
)
− kt Mg
k
t.

Analisemos a dinâmica do movimento do projétil. Durante o movimento de subida


o corpo tem a força de empuxo atuando para cima e a força peso e de resistência do ar
atuando para baixo. A força peso e o empuxo são forças constantes (assumimos que a massa
específica do ar seja constante), e força de resistência varia apenas com a velocidade, mas se
opõe ao movimento. Considerando que a massa de ar deslocada é menor que a massa do
projétil (supondo um projétil mais denso que o ar), a força de empuxo também é menor em
módulo que a força peso. O que faz o projétil subir, então? Na verdade este movimento de
subida é provocado apenas pela velocidade inicial, adquirida devido a força externa que deu o
impulso inicial ao projétil. Esta velocidade inicial está sendo diminuída pelo módulo do
conjunto das forças peso e resistência, menos o módulo da força de empuxo. Quando atinge o
ponto mais alto da trajetória, a velocidade do projétil é nula e a força de resistência também, e
então ele começa a cair devido ao peso maior que o empuxo. Por causa desta desigualdade de
componentes, a velocidade tende a aumentar para baixo, e a força de resistência do ar
aumenta para cima na proporção de b com o módulo da velocidade. Supondo uma altura de
trajetória suficiente, haverá um momento em que, para um certo módulo de velocidade vT , a
força de resistência será tal que, somando seu módulo com o módulo do empuxo, teremos
uma equivalência com o peso e a resultante de forças será nula. Como a resultante de forças é
nula, o módulo da velocidade não aumenta, permanecendo constante e igual a vT , não
alterando a força de resistência. As outras duas forças já estão constantes, e então teremos que
o corpo descreverá um movimento retilíneo uniforme vertical com velocidade constante vT ,
denominada velocidade terminal.
Se a velocidade terminal não acontecesse, os pingos de chuva provocariam um
grande estrago na superfície da Terra, e os mergulhos radicais dos pára-quedistas seriam
mortais.
68

z
v
E
H m
r
r R
r P
v v v r
E E R
m m
v
r r r r E
v
r R P P
v0 v m
E r m
vT r
z0 m P r
vT
r r
R P

t = t0 t = tH t = tT tT < t < t R

FIGURA 3.4.1. Vetor velocidade e diagrama de forças para o projétil. Observar a resultante nula de força no
tempo tT em que o projétil adquire a velocidade terminal.

Para determinarmos o módulo da velocidade terminal, basta partir do princípio de


que se velocidade torna-se constante num tempo tT , conforme explicado acima, então a
variação da velocidade no tempo neste e a partir deste momento é nula, de modo que podemos
escrever a equação 3.4.1 como

kv(tT ) = − Mg ,

e então

− Mg
vT = ,
k

onde o sinal negativo indica que a velocidade terminal é contrária a orientação do referencial,
ou seja, aponta para baixo. Mas como determinarmos o tempo tT ? A condição

v(tT ) = vT ;

⎛ Mg ⎞ − ktT Mg
v(tT ) = ⎜ v0 + ⎟e − = vT ;
⎝ k ⎠ k
69

resulta em

1
= 0,
e ktT

o que só é verdade quando tT → ∞ . De fato vemos que

⎡⎛ Mg ⎞ −kt Mg ⎤ Mg
limt →∞ v(t ) = limt →∞ ⎢⎜ v0 + ⎟e − ⎥ =− ,
⎣⎝ k ⎠ k ⎦ k

que é a velocidade terminal. Mas isto significa que o projétil só atingirá a velocidade terminal
num tempo infinito? Não é o que observamos na prática. Este resultado reflete o fato de que
quanto mais aumenta o módulo da força de resistência, mais lentamente aumenta o módulo da
velocidade, e quanto mais lentamente aumenta o módulo da velocidade, mais lentamente
aumenta o módulo da força de resistência (ver figura 3.4.2).

v(t )

v0

t
Mg
vT = −
k
FIGURA 3.4.2. Velocidade em função do tempo para um projétil, mostrando a velocidade tendendo à velocidade
terminal.

Este limite ao infinito pode refletir uma deficiência do modelo de resistência


linear com a velocidade. Na prática, existe um tempo tT bem definido em que o projétil
atinge a velocidade terminal, e que é obtido experimentalmente.
Quanto maior é a força de resistência, mais rapidamente é atingida a velocidade
terminal. É por isto que um pára-quedista abre seu pára-quedas e quase instantaneamente
adquiri uma velocidade constante de decida, que é menor que a velocidade que ele tinha no
70

momento instantaneamente anterior à abertura do pára-quedas. Este caso é bastante complexo


e não pode ser visto sobre o ponto de vista da resistência linear com a velocidade.
Embora tenhamos aqui discutido a velocidade terminal para um projétil em
movimento vertical, ela também pode ser atingida por um projétil que tenha componentes
r
dv (tT )
horizontais de movimento. Se aplicarmos a condição = 0 na equação diferencial de
dt
movimento do caso de um projétil se deslocando em três dimensões, temos que a velocidade
terminal será dada por

r g
vT = − kˆ .
k

Observe que a velocidade terminal não tem componentes horizontais, ou seja, se um projétil
ficar tempo suficiente no ar, acabará executando um movimento retilíneo uniforme
completamente vertical. Isto não é grande novidade, já que a força de resistência horizontal
tende a anular toda a velocidade horizontal inicial do projétil.

3.5 O Parâmetro t R , o Comprimento da Trajetória e Alcance Horizontal Máximo

Já falamos anteriormente do parâmetro t R , que é o tempo de vôo do projétil. No


capítulo anterior, definimos o tempo de vôo como aquele em que o projétil atinge seu alcance
horizontal máximo. Definimos também o alcance horizontal máximo, que é a distância entre o
ponto de lançamento e o ponto em que o projétil decai novamente à altura inicial de
lançamento. Já comentamos também sobre o comprimento da trajetória do projétil. Vamos
desenvolvê-los agora para o caso em questão.
O alcance horizontal máximo pode ser obtido pela equação

R = ( x(t R ) − x0 ) 2 + ( y (t R ) − y0 ) 2 ,

e considerando 3.3.5.1 e 3.3.5.2, temos que

(1 − e − ktR ) (1 − e − ktR )
v0 cos ϕ0 .
2 2
R= v0 x + v0 x =
k k
71

O comprimento da trajetória do projétil pode ser determinado por

r 2
⎛⎛ g⎞
(v ) + (v )
tR tR
dr (t ) −kt 2 −kt 2 g⎞
L= ∫
t0 =0
dt
dt = ∫
t0 =0
0x e 0y e + ⎜⎜ ⎜ v0 z + ⎟e −kt − ⎟⎟ dt .
⎝⎝ k⎠ k⎠

Fazendo algumas manipulações algébricas e utilizando as formulações 14.280, 14.283 e


14.14.288 de Spiegel (1973, p. 72), chegamos em

1 ⎧⎪ a ⎫⎪
L = − ⎨c1 − c2 − a3 ln c3 + 2 ln c4 ⎬ ,
k ⎪⎩ 2 a1 ⎪⎭

onde

c1 = a1e −2 ktR + a2e − ktR + a3 ,

c2 = a1 + a2 + a3 ,

2 a3 a1e −2 kt R + a2e − kt R + a3 + a2e − kt R + 2a3


c3 =
(
e − kt R 2 a3 a1 + a2 + a3 + a2 + 2a3 ) ,

c4 =
(2 a1 a1e − 2 kt R + a2e − kt R + a3 + 2a1e − kt R + a2 ),
2 a1 a1 + a2 + a3 + a2 + 2a1

2 2
⎛ g⎞ ⎛ g⎞
+ ⎜ v0 z + ⎟ = v0 cos 2 ϕ 0 + ⎜ v0 senϕ 0 + ⎟ ,
2 2 2
a1 = v0 x + v0 y
⎝ k⎠ ⎝ k⎠

2g ⎛ g⎞ 2g ⎛ g⎞
a2 = − ⎜ v0 z + ⎟ = − ⎜ v0 senϕ0 + ⎟
k ⎝ k⎠ k ⎝ k⎠

e
72

2
⎛g⎞
a3 = ⎜ ⎟ .
⎝k⎠

O alcance horizontal máximo e o comprimento da trajetória dependem do tempo


de vôo t R , que ainda não determinamos explicitamente para este modelo.
Com bases em estudos exaustivos de balística durante a primeira grande guerra
mundial, Littlewood (1953) apud Bruno e Matos (2002, p. 32) propôs um modelo empírico
para o tempo de vôo dado pela fórmula

8H
tR = .
g

Para k = b m = 0, o modelo de Littlewood (op cit.) recai no mesmo tempo de vôo obtido para
o modelo parabólico clássico.
Bruno e Matos (2002, p. 33) estabelecem uma aproximação quadrática do tempo
de vôo com a velocidade vertical de lançamento do projétil, dada por

2
2v0 z 2kv0 z
tR = − . (3.5.1)
g 3g 2

Bruno e Matos (op cit.) demonstram também que o modelo de Littlewood (op cit.) recai na
expressão 3.5.1 para valores pequenos de k , representando percentuais relativos de erros
menores que 1% para k < 1,0 .
Passemos agora a investigar a expressão 3.3.8,

⎛ gk ⎞
e −ktR = 1 − ⎜⎜ ⎟⎟t R ,
⎝ kv0 z + g ⎠

na procura de uma solução numérica para o valor de t R . Para tal, usaremos um software
próprio que utiliza o método de Newton, que é um método numérico destinado à obtenção de
raízes de funções transcendentes.
73

Vamos nos concentrar nos valores numéricos de t R para diferentes valores da


constante k e do ângulo de lançamento ϕ0 , e por meio deles obter altura máxima, o alcance

horizontal máximo e o comprimento máximo da trajetória. Vamos utilizar valores de k iguais


a 1,0 , 0,5 e 0,1s −1 , que correspondem a valores próximos aos experimentais, v0 = 10m.s −1 e

g = 10m.s −2 . Os resultados estão expressos nos gráficos a seguir.


Na figura 3.5.1 vemos o gráfico da altura máxima atingida pelo projétil para cada
ângulo de lançamento. Obviamente, quanto maior o ângulo de lançamento, maior a altura
máxima atingida pelo projétil (maiores alturas máximas ocorrem para o ângulo de lançamento
vertical, ϕ0 = 90º ). Observe ainda que o modelo clássico prevê as maiores alturas (como seria
de se esperar, uma vez que a resistência do ar não é considerada), enquanto que o modelo com
resistência prevê alturas menores tanto quanto maior for k = b / m , como seria de se esperar.

5
k=0,1/s
k=0,5/s
k=1,0/s
Alcance vertical máximo (metros)

4
k=0 clássico

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de lançamento (graus)

FIGURA 3.5.1. Altura máxima (alcance vertical máximo) atingida pelo projétil em função do ângulo de
lançamento.

Abaixo (figura 3.5.2) temos o tempo de vôo ( t R ) e o tempo de subida do projétil


( t H ) em função de seu ângulo de lançamento. Um lançamento vertical atinge o maior altura, e
isso reforça o fato verificado na figura 3.5.2 de que os tempos de vôo e subida do projétil são
maiores para esse lançamento. A diferença entre o tempo de vôo e o tempo de subida aumenta
com o aumento de k (100% para k=0 e 130,4% para k=1).
74

2 tR para k = 0 c lás s ic o
tR para k = 0,1/s
tR para k = 0,5/s
tR para k = 1,0/s
tH para k = 0 c lás s ic o
tH para k = 0,1/s
tH para k = 0,5/s
Tempo (s)

tH para k = 1,0/s
1

0
0 20 40 60 80
Ân g u lo d e Lançame n to (grau s)

FIGURA 3.5.2. Tempo de vôo e tempo de subida do projétil em termos do ângulo de lançamento.

Na figura 3.5.3 temos o gráfico do alcance horizontal máximo em termos do


ângulo de lançamento.

10
k=0,1/s
k=0,5/s
Alcance horizontal máximo (metros)

k=1,0/s
8
k=0 clássico

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de lançamento (graus)

FIGURA 3.5.3. Alcance horizontal máximo atingido pelo projétil em termos do ângulo de lançamento.

Observe que o maior alcance horizontal máximo é obtido para ângulos de


lançamento menores tanto quanto maior for o valor da constante k (o maior é 45º, atingido
para o tratamento clássico onde k = 0 ). Para k = 0,1 / s , o alcance horizontal máximo maior é
obtido para um ângulo de 44º, já para k = 1 / s , é obtido para um ângulo de 36º.
Por fim, vamos observar a figura 3.5.4, que mostra o gráfico do comprimento da
trajetória do projétil em termos do ângulo de lançamento do projétil. O ângulo que propicia
75

um comprimento máximo de trajetória varia entre 54 e 60 graus para todos os valores de k


mencionados, sendo maior para valores maiores de k .

12
k=0,1/s
k=0,5/s
Comprimento da trajetória (metros)

10 k=1,0/s
k=0 clássico

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de lançamento (graus)

FIGURA 3.5.4. Comprimento da trajetória do projétil em termos do ângulo de lançamento.

O crescimento do ângulo máximo de lançamento para L e o decrescimento do


ângulo máximo para R com o aumento de k foram também demonstrados por Bruno e
Matos (2002).
Podemos fazer neste momento uma generalização quanto a definição inicial do
tempo de vôo t R e do alcance horizontal máximo R . De fato, nem sempre nos interessa o
tempo de vôo e o alcance horizontal máximo para o mesmo plano horizontal de lançamento
do projétil. Para problemas de balística e de tiro de artilharia, por exemplo, considerando o
relevo do campo de teste, nem sempre o alvo do projétil está no mesmo nível (plano
horizontal) da posição de lançamento. Pode estar numa declividade ou aclividade, e as
condições utilizadas neste texto para atingir t R terão que ser corrigidas.
Como exemplo, imaginemos um canhão lançando um projétil da superfície da
Terra (altura zero segundo um referencial com origem na superfície terrestre) para atingir a
superfície de um planalto de altura h' em relação à superfície terrestre. A aplicação da
condição z (t R ) = z0 não é válida, visto que a altura do planalto não é a mesma da superfície

da Terra. A condição correta neste caso é z (t R ) = h' , e atentando para o fato de que obteremos
dois valores de t R , um para o movimento de subida e outro para o movimento de descida do
projétil, desconsideramos o primeiro e aplicamos o segundo em

( x(t R ) − x0 ) 2 + ( y (t R ) − y0 ) 2 , que é o alcance horizontal máximo R.


4. Resistência do Ar Quadrática com a Velocidade e Solução Numérica do
Movimento do Projétil

No capítulo dois iniciamos o estudo do movimento de um projétil disparado


próximo à superfície da Terra, considerando apenas a ação da força gravitacional. No capítulo
três consideramos os efeitos da resistência do ar sob o movimento do projétil. Naquele
momento falamos sobre a complexidade de se estabelecer um modelo para a resistência do ar,
e optamos por demonstrar o modelo linear, no qual a força de resistência é linearmente
proporcional à velocidade do projétil. O modelo linear da resistência com a velocidade
fornece boas aproximações experimentais para movimentos com velocidades iniciais
reduzidas e alcances curtos. Para movimentos com velocidades iniciais elevadas e grandes
trajetórias, cujo alcance vertical (altura) e horizontal são grandes, o modelo linear não oferece
boas aproximações.
Já mencionamos anteriormente o modelo quadrático, no qual a força de resistência
depende do quadrado do módulo da velocidade. Neste capítulo iremos desenvolver este
modelo. Iremos também incluir algumas considerações antes desprezadas, como a variação da
gravidade com a altura e os efeitos da variação da densidade do ar no movimento do projétil.
Para tal desenvolvimento, faremos uso de métodos numéricos. Vamos, no entanto, começar
com um estudo de caso simples.
77

4.1 Estudo de Caso: Queda de um Pára-quedista

Imaginemos um pára-quedista saltando de uma altura determinada verticalmente


para baixo (desconsideremos outros componentes de movimento). Tomemos como referencial
um eixo vertical y orientado para cima e com origem próxima à superfície da Terra.
Consideremos apenas o efeito da atração gravitacional e da resistência do ar sobre o pára-
quedista.
Inicialmente, o seu pára-quedas está fechado e a resistência do ar é pequena sobre
ele (figura 4.1.1, parte a, início da queda e parte b, instante posterior), de modo que o pára-
quedista rapidamente aumenta sua velocidade, tendendo a atingir rapidamente a velocidade
terminal (figura 4.1.1, parte c). Podemos então considerar o modelo de resistência linear com
a velocidade para esta primeira parte do movimento. Num certo momento ta (figura 4.1.1,
parte d) o pára-quedista abre o pára-quedas, o que torna a resistência sobre ele muito grande,
devido à grande área de seção transversal do pára-quedas com a linha de movimento. Neste
momento podemos considerar o modelo de resistência quadrática com a velocidade.

y M
r
R = −bvvˆ
r
M R = −bvvˆ e)
r
M R = −cv 2vˆ
a) r
P r
M R = −cv 2vˆ
r
b) P M
r
c) P
r
d) P

FIGURA 4.1.1. Diagrama de forças durante a queda do pára-quedista. M é a massa do sistema pára-quedista +
pára-quedas.

Após a abertura do pára-quedas, o pára-quedista tende a atingir uma nova


velocidade terminal (figura 4.1.1, parte e), menor que a velocidade terminal anterior (é isto
r r
que faz com que o pára-quedista desça ao solo com segurança). O termo R = −bvvˆ = −bv
corresponde à força de resistência linear com a velocidade e já nos é conhecido. A expressão
78

r r
R = −cv 2vˆ = −cvv corresponde a forma geral da força de resistência quadrática com a
velocidade, onde o termo c será mais adiante explicado, e, neste momento, tomado como
constante.
Equacionando a primeira parte do movimento do pára-quedista ( t < ta , resistência
linear com a velocidade), temos

⎛ Mg ⎞ − M t Mg
b
v(t ) = ⎜ v0 + ⎟e −
⎝ b ⎠ b

Mg
vT = limt →∞ v(t ) = − ,
b

onde M é a massa do sistema pára-quedista mais pára-quedas e vT é a velocidade terminal


atingida nesta primeira parte do movimento. Já havíamos obtido este resultado num estudo do
capítulo anterior. Vamos agora estudar a segunda parte do movimento ( t ≥ ta , resistência
quadrática com a velocidade), cuja equação é

dv(t ) cv(t ) 2
= −g (4.1.1)
dt M

e pode ser facilmente resolvida por meio de frações parciais, de modo que obtemos

⎛ Mg ⎞
⎜ + va cg ⎟
−2 (t −ta )
⎜ c e M
− 1⎟
⎜ Mg ⎟
⎜ − va ⎟
Mg ⎝ c ⎠,
v(t ) =
c ⎛ Mg ⎞
⎜ + va cg ⎟
−2 (t −ta )
⎜ c e M
+ 1⎟
⎜ Mg ⎟
⎜ − va ⎟
⎝ c ⎠
79

em que va é a velocidade instantaneamente anterior à abertura do pára-quedas (podendo ser a


velocidade terminal da primeira parte do movimento, se a abertura do pára-quedas demorou o
suficiente para se atingir a primeira velocidade terminal). Para descobrir a nova velocidade
dv(t )
terminal, basta fazer = 0 em (4.1.1) ou aplicar a condição do limite
dt

Mg
vTa = limt →∞ v(t ) = − ,
c

que é a velocidade terminal para a segunda parte do movimento e cujo sinal negativo
representa a queda do pára-quedista. É importante observar que o valor absoluto de vTa é

menor que o valor absoluto de vT , dado que a constante c é maior que a constante b , em
vista da grande área de seção do pára-quedas. Com esta velocidade terminal, o pára-quedista
desce com segurança ao solo.
A resolução da equação 4.1.1 pode fazer parecer que o caso tenha tratamento
analítico, o que não é verdade de modo geral; acontece que esta equação representa apenas a
queda do pára-quedista (movimento vertical). A representação para o movimento de subida de
um corpo requer uma outra formulação, e para o caso geral de movimento de um projétil, o
equacionamento não possui independência entre os componentes, não podendo ser resolvido
em partes.

4.2 O Modelo de Resistência do Ar Quadrática com a Velocidade

Historicamente, Isaac Newton foi quem primeiramente propôs a formulação para


a resistência do ar quadrática com a velocidade, cujo módulo FR é

1
C R Aρvr ,
2
FR = (4.2.1)
2

onde C R é o coeficiente de arraste adimensional, A é área do corpo transversal com o fluxo


r
de ar, em m 2 , ρ é a densidade da atmosfera em Kg / m3 e vr é a velocidade relativa do corpo
r
em relação à velocidade w do ar, ambas dadas em m / s . O coeficiente C R depende da forma
80

geométrica do corpo, de sua rugosidade e de seu movimento de rotação, e de modo geral não
é constante durante o movimento. Em nosso desenvolvimento consideraremos como projétil
uma esfera lisa de diâmetro d em metros e massa m constante, em Kg , e utilizaremos a
aproximação experimental C R = 0,4 (STREETER, 1974, p. 261) apud (FERREIRA, 2001, p.
272) para velocidades iniciais elevadas (maiores que 100m/s) e CR = 0,5 (FAZURI e
MATOS, 1998) para velocidades iniciais menores.
A forma vetorial da expressão 4.2.1 é dada por

r 1 r
FR = − CR Aρvr vr ,
2

onde o sinal negativo indica que a força de resistência é contrária ao sentido do movimento. A
figura 4.2.1 mostra o esquema das forças e velocidades que agem sob o projétil durante o
movimento. O referencial escolhido é o referencial inercial bidimensional, representado pelo
plano xy que contém a trajetória (figura 4.2.1). Já vimos anteriormente que as forças de
resistência não alteram o plano vertical da trajetória (a trajetória está contida no plano vertical
que contém o vetor velocidade inicial), e por isto a escolha do plano bidimensional como
referencial não causa perda de generalidade do caso desenvolvido.

y
r
r −w
vr
r
v ϕ 0 vento
m
r
w

r
v0 r
FR
r
ϕ0 FG

r
r0 x

FIGURA 4.2.1. Esquema das forças e velocidades durante o movimento de um projétil sob ação de uma força de
resistência quadrática com a velocidade.

Vamos considerar a variação da gravidade com a altura, de modo que podemos


r
escrever a força de atração gravitacional FG da seguinte forma:
81

r GmT m ˆ
FG = − j.
(RT + y )2

Na expressão anterior, G = 6,67 × 10 −11 m3 s −2 Kg −1 é a constante gravitacional universal,

mT = 5,98 × 10 24 Kg é a massa da Terra e RT = 6,37 × 106 m é o raio médio da Terra.


GmT
Aplicando algumas manipulações algébricas e fazendo g = 2
, temos
RT

r mg
FG = − ˆj .
2
⎛ y ⎞
⎜⎜1 + ⎟⎟
⎝ RT ⎠

Também vamos considerar a variação da densidade da atmosfera com a altura, e


de acordo com o ajuste proposto por Fazuri e Matos (1998), aproximaremos

ρ = ρ ( y ) = ρ s e −αy ,

onde ρ s = 1,225Kg / m3 é a densidade da atmosfera na superfície e α = 0,00013m −1 é um


coeficiente de ajuste obtido experimentalmente.
Além disso, vamos desconsiderar, por simplicidade, qualquer efeito da força de
empuxo provocado pela atmosfera. Vamos também aproximar a seção de área transversal ao
πd 2
movimento por meio da expressão A = (FAZURI e MATOS, op cit.) e escrever
4
r r r
vr = v − w e vr = (vx − wx ) 2 + (v y − wy ) 2 . Podemos então desenvolver a equação do

movimento do projétil:

r r
dv (t )
∑ F = m dt ;

r
dv (t ) r r 1 r mg ˆj .
m = FR + FG = − CR Aρvr vr − 2
dt 2 ⎛ y ⎞
⎜⎜1 + ⎟⎟
⎝ RT ⎠
82

Dividindo ambos os lados por m e fazendo as substituições necessárias, obtemos

r
dv (t ) πd 2 r r
C R ρ s e −αy (vx − wx ) 2 + (v y − wy ) 2 (v − w) −
g ˆj ,
=− (4.2.2)
dt 8m (1 + y / RT )2

que é a equação diferencial de movimento do projétil. A raiz quadrada na expressão 4.2.2


deixa claro que esta equação diferencial não é linear, e não possui uma solução analítica
trivial. Além disso, podemos escrever suas componentes

πd 2
a x (t ) = − CR ρ s e −αy (vx − wx ) 2 + (v y − wy ) 2 (vx − wx ) (4.2.2.1)
8m

πd 2
C R ρ s e −αy (vx − wx ) 2 + (v y − wy ) 2 (v y − wy ) −
g
a y (t ) = − (4.2.2.2)
8m (1 + y / RT )2

e observar que não são independentes, visto que ambas tem componentes x e y da velocidade.
Vamos agora introduzir os métodos numéricos e desenvolver um modelo
numérico computacional na busca de uma solução para o sistema de equações descrito por
4.2.2.1 e 4.2.2.2.

4.3 Modelo Numérico

4.3.1 Cálculo Numérico

Nem todas as modelagens científicas e tecnológicas possuem solução analítica. A


simples operação de encontrar a raiz de uma função exponencial simples, como a expressão
do tempo total de vôo do projétil, no capítulo anterior, pode ser impossível de se determinar
por meio dos métodos analíticos conhecidos. Já nos séculos passados este problema era
evidente, e surgiu a necessidade da criação de métodos alternativos para resolução de tais
operações.
83

Com base nessas situações foram criados métodos numéricos. Um método


numérico é um procedimento de cálculo que se adota para resolver uma determinada classe de
problema que não possui solução analítica trivial. No método numérico, cada problema da
classe a ser solucionado deve ter condições iniciais e características bem definidas por um
conjunto finito de números reais (daí o nome de métodos numéricos), de modo que não se
obtém uma solução geral, e sim uma particular solução para cada problema. O estudo dos
métodos numéricos é feito pela matemática numérica ou cálculo numérico.
A resolução de problemas por métodos numéricos utilizando apenas o esforço de
raciocínio humano é absurdamente onerosa, tornando-se, em regra, inviável. A utilização de
dispositivos de cálculo é primordial, mas até o início do século passado, os dispositivos eram
ainda obsoletos (CLÁUDIO e MARINS, 1989, p. 17). Com o advento do computador, no
entanto, as técnicas de resolução numéricas ganharam um grande aliado: o poder
computacional da máquina. Atualmente o computador é um dispositivo tão importante para a
utilização dos métodos numéricos que as áreas de cálculo numérico e cálculo numérico
computacional (aquele cujo dispositivo utilizado no cálculo é o computador) são propriamente
indistinguíveis.
Existe uma vasta quantidade de classes de problemas sem soluções analíticas que
podem ser resolvidos por métodos numéricos. No capítulo anterior, utilizamos o método
numérico de Newton para encontrar a raiz de uma equação. Neste capítulo, desenvolveremos
um modelo numérico para determinar a posição, a velocidade, o tempo e os alcances máximos
de um projétil lançado na atmosfera sob ação da força de atração gravitacional e da força de
resistência do ar quadrática com a velocidade.

4.3.2 O Modelo Numérico

Vamos desenvolver um software que utilizará o método numérico de Euler do


Ponto Final, baseado no sistema de iteração de Passo Um, para resolver o sistema de equações
diferenciais composto pelas equações 4.2.2.1 e 4.2.2.2. Tais equações correspondem às
acelerações instantâneas nas componentes x e y do nosso referencial bidimensional adotado.
O software já conterá em suas linhas as especificações das grandezas físicas C R
r
(dependente de v0 ), ρ s = 1,225 Kg / m3 , α = 0,00013m −1 , g = 9,81m / s 2 , RT = 6,37 × 106 m e

π = 3,141592654 . O usuário alimentará a massa e diâmetro do projétil, sua posição inicial,


84

velocidade inicial e ângulo de lançamento com a linha horizontal, velocidade do vento e


ângulo da velocidade do vento com a horizontal, além do parâmetro h , que significa a
variação constante de tempo em que a iteração é alimentada.
O processo numérico é iterativo. Isto significa que todas as grandezas físicas do
problema serão recalculadas a cada variação do parâmetro h , dependendo funcionalmente das
grandezas calculadas nas iterações anteriores. Como h é a variação temporal, estaremos
obtendo as grandezas físicas em função do tempo. Além disso, o problema é de passo um, o
que significa que em cada iteração, as grandezas dependem apenas das grandezas obtidas na
iteração anterior.
Para cada iteração, o software implementa o tempo em um acréscimo de h , e
calcula as grandezas aceleração horizontal ax , aceleração vertical a y , velocidade horizontal

v x , velocidade vertical v y , posição x e posição y, de modo que podemos observar a variação

temporal dos componentes x e y da aceleração, velocidade e posição do projétil. O cálculo de


ax e a y é feito por meios das expressões 4.2.2.1 e 4.2.2.2, respectivamente, e assim, para

cada tempo t = tn = t0 + nh , temos

πd 2
a xn = − CR ρ s e −αy (vxn − wx ) 2 + (v yn − wy ) 2 (vxn − wx ) (4.3.2.1)
8m

πd 2
C R ρ s e −αy (vxn − wx ) 2 + (v yn − wy ) 2 (v yn − wy ) −
g
a yn = − , (4.3.2.2)
8m (1 + yn / RT )2

onde o índice n (e n ≥ 0 ) é o número referente à iteração atual e wx = w cos(ϕ0vento ) e

wy = wsen(ϕ0 vento ) são as componentes horizontal e vertical da velocidade do vento. Como

vemos na expressão 4.3.2.1 e 4.3.2.2, a aceleração em cada iteração depende da posição y e


das componentes x e y da velocidade naquela iteração. As componentes da velocidade são
obtidas por meio das formulações

vxn = vx ( n −1) + ax ( n −1) h (4.3.2.3)


85

v yn = v y ( n−1) + a y ( n−1) h , (4.3.2.4)

para um tempo t = tn = t0 + nh e n > 0 .


Para as formulações iterativas das posições x e y poderíamos propor

xn = xn−1 + v x ( n−1) h (4.3.2.5)

yn = yn −1 + v y ( n −1) h , (4.3.2.6)

mas vamos fazer a troca dos termos vx ( n−1) e v y ( n−1) por v xn e v yn , respectivamente,

caracterizando o método de Euler do ponto final (EPF), cujos resultados são mais precisos e
confiáveis (FAZURI e MATOS, 1998). Assim temos para um tempo t = tn = t0 + nh e n > 0 ,

xn = xn −1 + vxn h

yn = yn−1 + v yn h .

As formas 4.3.2.3 e 4.3.2.4 nos são semelhantes às formas funcionais do


movimento retilíneo uniformemente variado (MRUV), e as formas 4.3.2.5 e 4.3.2.6 nos são
semelhantes àquelas do movimento retilíneo uniforme (MRU). No entanto, considerando que
estamos tratando de um movimento em que a aceleração e velocidade variam
instantaneamente, essa comparação parece absurda, já que no MRUV e no MRU a aceleração
e a velocidade, respectivamente, são constantes. Na verdade, a comparação só é possível para
uma escolha adequada da variação de tempo h , pois para valores pequenos de h , nos
aproximamos numericamente da condição lim ∆t →0 para cada grandeza. Veja a figura 4.3.2.1.
86

x vx
a) b)

xn v xn
r r

x n −1 v x ( n − 1)

t t
t n −1 tn t n −1 tn
t n − t n −1 = h t n − t n −1 = h
FIGURA 4.3.2.1. Variações iterativas da posição x (parte a) e da componente x da velocidade (parte b).

Vemos, na parte a, que a inclinação da reta r é dada por ( xn − xn−1 ) / h . Para um valor

suficientemente pequeno de h , temos a aproximação da reta r para a reta tangente ao ponto


xn−1 . A inclinação desta reta tangente nada mais é do que a velocidade horizontal instantânea

vx ( n−1) . Logo, para um valor suficientemente pequeno de h , podemos aproximar que

vx ( n −1) = ( xn − xn −1 ) / h , que corresponde à equação 4.3.2.5. Analogamente, para valores

suficientemente pequenos de h , temos na parte b da figura 4.3.2.1 a aproximação


a x ( n−1) = (vxn − v x ( n−1) ) / h , que corresponde à forma funcional 4.3.2.3. Nos dados que

apresentaremos, foram usados os valores h = 0,01s e h = 0,001s , de acordo como o problema


estudado.
O software também foi implementado para calcular o alcance máximo do projétil
e seu respectivo tempo de vôo, a altura máxima atingida e o respectivo tempo de subida, além
do comprimento da trajetória, dada pelo somatório

N
L = ∑ ( xn − xn−1 ) 2 + ( yn − yn−1 ) 2 , (4.3.2.7)
n =1

onde N é o número total de iterações do processo.


A posição inicial foi sempre considerada como sendo a origem do sistema de
referência ( x0 = y0 = 0 ). O sistema referencial foi considerado com origem na superfície
terrestre, e portanto o critério de parada adotado foi a positividade da posição y, que
caracteriza o vôo do projétil até atingir a superfície terrestre.
87

O software foi desenvolvido em linguagem C/C++ em dois módulos,


RESQUAD.EXE E RESQUAD1.EXE. O primeiro gera as variações temporais das grandezas
para um único ângulo de lançamento, alimentado pelo usuário. Este módulo permite o
acompanhamento da variação temporal do movimento. O segundo módulo alimenta
automaticamente o ângulo de lançamento, mostrando a variação das grandezas do movimento
para cada ângulo. Este estudo é importante para estudar a eficiência dos alcances dos projéteis
em termos do ângulo de lançamento.
Após a entrada e processamento dos dados, o software gera um arquivo de dados
no formato texto, que pode ser importado por qualquer programa de geração de gráficos.

4.4 Simulações e Resultados

Vamos agora simular alguns lançamentos e compará-los com resultados


experimentais e tabelas de tiro, a fim de verificar a eficácia do modelo numérico
desenvolvido.

4.4.1 A Bola de Futebol e a Influência do Vento

Primeiramente, vamos simular o movimento de uma bola de futebol de massa


igual a 0,454kg e diâmetro 0,222m, lançada com uma velocidade de 40m/s num ângulo de
lançamento de 60º com a horizontal (simulação proposta por Fazuri e Matos (1998)).
Assumiremos uma variação temporal de 0,01s. A trajetória da bola é mostrada na figura
4.4.1.1, quando está é lançada sem influência do vento (a velocidade do vento é nula).
88

25

20

15
y (m)

10

0
0 5 10 15 20 25 30 35
x (m)

FIGURA 4.4.1.1. Trajetória de uma bola de futebol sem influência do vento.

Podemos ver claramente a falta de simetria da trajetória e observar os alcances


vertical (24,57m) e horizontal (37,24m) máximos da bola. Esta falta de simetria será
observada também entre os tempos de subida e descida da bola.

Posição x
Posição y
30
Posição (m)

20

10

0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5
Te m po (s)

FIGURA 4.4.1.2. Variação temporal das posições x e y para uma bola de futebol sem influência do vento.
89

No gráfico da figura 4.4.1.2 vemos a variação temporal das posições vertical e


horizontal da bola de futebol. Fica claro o crescimento não linear da posição x com o tempo.
A variação curva da posição y com o tempo não é simétrica, e o ápice (altura máxima atingida
pela bola) ocorre num tempo de 1,92s, menos da metade do tempo total de vôo, 4,45s.

32
Veloc idade horizontal
Veloc idade vertical
22
Velocidade (m/s)

12

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

-8

T e mpo (s)
-18

FIGURA 4.4.1.3. Variação temporal das componentes vertical e horizontal da velocidade da bola de futebol sem
influência do vento.

Vemos no gráfico da figura 4.4.1.3 a variação temporal da velocidade da bola. O


componente x da velocidade aproxima-se vagarosamente de 3,5 m/s a partir de 4,25s (a
velocidade horizontal é de 3,67m/s no final do movimento), enquanto o componente y da
velocidade aproxima-se de -16,5m/s a partir de 4,38s (a velocidade vertical final da bola é de -
16,23m/s). A inversão do sinal da velocidade vertical ocorre entre 1,92s e 1,93s, que
corresponde ao momento em que a bola atinge sua altura máxima. O fato das componentes
das velocidades tenderem a valores específicos cada vez mais lentamente representam a
dinâmica das forças atuante na bola: a força de resistência diminui a velocidade, e como a
resistência é diretamente proporcional ao quadrado da velocidade, também diminui. Num
tempo suficiente, a componente horizontal da velocidade seria anulada pela força de
resistência, e a componente vertical tenderia a um valor constante (velocidade terminal). No
entanto, a bola não permanece tempo suficiente no ar para que esta situação se configure.
90

0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

-10
2
)

-20
Aceleração (m/s

Aceleração horizontal
Aceleração vertical

-30

-40

Te m po (s)
-50

FIGURA 4.4.1.4. Variação temporal das componentes horizontal e vertical da aceleração da bola de futebol sem
influência do vento.

Na figura 4.4.1.4 vemos a variação temporal da aceleração horizontal e vertical do


projétil. A negatividade da componente x da aceleração da bola representa a resistência
imposta pelo ar ao movimento, enquanto que a negatividade da componentes y representa a
desaceleração da bola durante a subida e aceleração durante a descida. No entanto os módulos
da aceleração diminuem, e refletem a dependência da força de resistência com a velocidade
do projétil (bola). A partir de 1,92s, vemos uma variação da tendência da componente y da
aceleração, que até este tempo se aproximava lentamente de -10m/s2 e então começa a tender
a -2,7m/s2 (-2,76 m/s2 no final do movimento). Este fato reflete a inversão da força de
resistência do ar, que até 1,92s atuava para baixo (mesmo sentido da força de atração
gravitacional, o que explica a tendência para um valor de maior módulo) e a partir deste
tempo começa a atuar para cima (sentido contrário à força de atração gravitacional,
explicando a queda do valor do módulo da aceleração vertical).
Vamos agora simular a influência do vento sobre os alcances da bola, sob o tempo
de vôo e o tempo em que atinge a altura máxima, e também sob o comprimento da trajetória
da bola. Na tabela 4.4.1.1 temos a condições iniciais de simulação da influência do vento e os
resultados obtidos para cada simulação.
91

TABELA 4.4.1.1. Simulação da influência do vento sob o movimento do projétil (w é a


velocidade do vento, φ0vento é o ângulo da velocidade do vento com a horizontal positiva no
sentido de movimento inicial da bola, tH é o tempo em que a bola atinge a altura máxima, tR é
o tempo total de vôo, H é a altura máxima atingida, R é o alcance horizontal atingido e L é o
comprimento da trajetória da bola). A bola é lançada num ângulo de 60º com a horizontal com
uma velocidade 40m/s.
Simulação w (m/s) φ0vento (º) tH (s) tR (s) H (m) R (m) L (m)
1 0 - 1,92 4,45 24,5726 37,2351 64,6937
2 4 0 1,97 4,53 25,3537 49,6081 74,0995
3 4 45 2,17 5,14 28,4423 50,4357 79,5353
4 4 135 2,1 5 27,1522 29,6749 65,2874
5 4 180 1,87 4,36 23,7577 24,7957 56,4906

Uma comparação dos resultados mostrados na tabela 4.4.1.1 com os demonstrados


por Fazuri e Matos (1998) mostra uma diferença máxima de 2,3% em apenas alguns
resultados, sendo que na maioria deles houve uma concordância de até duas casas decimais de
precisão. Na figura 4.4.1.5 temos o gráfico em barras do tempo de subida e do tempo de vôo
da bola de futebol conforme os dados expressos na tabela 4.4.1.1. A simulação número um
corresponde ao caso sem influência do vento (w=0).

6
Tempo de Subida (tH)
Tempo de voô (tR) 5,14
5
5
4,45 4,53
4,36

4
Tempo (s)

2,17 2,1
1,92 1,97 1,87
2

0
1 2 3 4 5
Simulação

FIGURA 4.4.1.5. Tempo de subida e tempo de vôo da bola de futebol nas simulações da influência do vento sob
a bola de futebol.
92

Veja que ventos com componentes verticais (ventos que empurram a bola para cima) tendem
a prolongar o tempo de vôo da bola (simulação 3 e 4, aumento respectivo de 15,5% e 12,4%
do tempo de vôo), embora com componentes horizontais contrários ao movimento horizontal
da bola (simulação 4). Ocorre um pequeno aumento de 1,8% do tempo de vôo com o vento
horizontal auxiliando do movimento (simulação 2) e um decréscimo de 2,0% com vento
horizontal contra o movimento (simulação 5). Vemos também que o tempo de subida
representa 43,1% do tempo total de vôo para o caso sem influência do vento, 43,2% em média
nos casos de vento apenas horizontal e 42,1% em média nos casos de vento empurrando a
bola para cima (o vento ajuda a bola a atingir mais rapidamente sua altura máxima).
Na figura 4.4.1.6 temos os alcances e o comprimento da trajetória para a bola de
futebol nas cinco simulações realizadas. A altura máxima atingida pela bola sofre uma
variação máxima de 15,7% (aumento) com um vento favorável ao movimento num ângulo de
45º com a horizontal (simulação 3). Para o alcance horizontal e o comprimento da trajetória
da bola, as maiores variações foram um aumento de 35,4% e 23,0%, respectivamente
(simulação 3).

90
Altura Máxima (H)
79,54
80 Alcance Horizontal (R)
74,10
Comprimento da trajetória (L)
70 64,69 65,29

60 56,49
Comprimento (m)

49,61 50,44
50

40 37,24

28,44 29,67
30 27,15
24,57 25,35 23,7624,80

20

10

0
1 2 3 4 5
Simulação

FIGURA 4.4.1.6. Altura máxima, alcance horizontal e comprimento da trajetória nas simulações da influência do
vento sob a bola de futebol.

Temos então que um vento favorável ao movimento, num ângulo de 45º com a
horizontal do movimento, é aquele que ocasiona maior influência sob o movimento da bola.
Na figura 4.4.1.7 temos a trajetória da bola de futebol nas cinco simulações realizadas.
93

30
Simulação 1
Simulação 2
25 Simulação 3
Simulação 4
Simulação 5
20
y (m )

15

10

0
0 10 20 30 40 50
x (m)

FIGURA 4.4.1.7. Trajetória da bola de futebol nas cinco simulações realizadas.

4.4.2 O Canhão 105mm e a Variação das Grandezas do Movimento com o Ângulo de


Lançamento

Vamos iniciar agora um estudo da variação dos alcances e dos tempos de vôo de
um projétil em termos do ângulo de lançamento. Para tal estudo, simularemos o lançamento
de um projétil ogival de diâmetro 0,105m e massa 14,980Kg, sendo este uma bala de canhão
de 105mm. A escolha se deve ao fato de que este armamento bélico é largamente usado nos
arsenais de artilharia, tendo seus resultados experimentais publicados em artigos e manuais de
guerra.
Assumiremos uma variação temporal de 0,001s e quatro velocidades iniciais de
lançamento, 198m/s, 267m/s, 376m/s e 472m/s. O ângulo de lançamento será o parâmetro
variável de nossa simulação.
94

70
tH v0=198m/s
tR v0=198m/s
tH v0=267m/s
60
tR v0=267m/s
tH v0=376m/s
50 tR v0=376m/s
tH v0=472m/s
tR v0=472m/s
40
Tempo (s)

30

20

10

0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)

FIGURA 4.4.2.1. Variação do tempo de vôo e do tempo de subida do projétil do canhão 105mm em função do
ângulo de lançamento.

Vemos por meio da figura 4.4.2.1 que o tempo de vôo do projétil aumenta com o
aumento do ângulo de lançamento (culminando num lançamento vertical), sendo maior
quanto maior for a velocidade de lançamento do projétil. O tempo de subida corresponde em
média a 47,0% do tempo total de vôo.

6000
v0=198m/s
v0=267m/s
5000 v0=376m/s
v0=472m/s
Alcance Vertical Máximo (m)

4000

3000

2000

1000

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângu lo de lançam e nto (gr aus )

FIGURA 4.4.2.2. Variação do alcance vertical do projétil do canhão 105mm em função do ângulo de
lançamento.

Vemos no gráfico da figura 4.4.2.2 que a altura máxima atingida pelo projétil
ocorre para o maior ângulo de lançamento (lançamento vertical), o que corrobora o fato de
95

que o tempo total de vôo (também é máximo no lançamento vertical) está diretamente
relacionado com a altura da trajetória do projétil.

v0=198m/s

8000 v0=267m/s
v0=376m/s
v0=472/m/s
Alcance horizontal máximo (m)

6000

4000

2000

0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)

FIGURA 4.4.2.3. Variação do alcance horizontal máximo do projétil do canhão 105mm em função do ângulo de
lançamento.

No gráfico da figura 4.4.2.3 temos a variação do alcance horizontal máximo do


projétil em termos do ângulo de lançamento. O alcance horizontal máximo ocorre para um
ângulo de 42º para velocidades iniciais de 472m/s, 376m/s e 267m/s, e de 43º para uma
velocidade inicial de 198m/s.
O alcance horizontal máximo previsto pelo modelo é de 2884,4m para uma
velocidade inicial de 198m/s e de 8648,2m para uma velocidade inicial de 472m/s, enquanto
que o resultado experimental (TABELA..., 1941) apud (FAZURI e MATOS, 1998) é de
3499,8m e 11102,8m, respectivamente. Os valores modelados são respectivamente menores
17,6% e 22,1% que os experimentais. Embora estes percentuais pareçam grandes, deve-se
ressaltar que existem incertezas nos alcances experimentais, além de haverem divergências na
calibragem da velocidade de saída do projétil do cano do canhão (FAZURI e MATOS, 1998).
O ângulo obtido experimentalmente para o qual ocorre o maior alcance horizontal
do projétil é de 43,7º para uma velocidade inicial de 198m/s. Para este ângulo, o tempo de vôo
experimental é de 26,9s e a altura atingida pelo projétil é de 890,4m, enquanto que
observamos nas figuras 4.4.2.1 e 4.4.2.2, para um ângulo de 44º, um tempo de vôo de 25,5s (-
5,2% em relação ao experimental) e uma altura de 798,2m (-10,4%). Já para uma velocidade
inicial de 472m/s, o ângulo experimental de maior alcance horizontal é 44,2º, e o tempo de
vôo e a altura máxima atingida para este ângulo são, respectivamente, 51,2s e 3298,1m. Já os
96

resultados do modelo para um ângulo de 44º (figura 4.4.2.1 e 4.4.2.2.) são 48,3s (-5,7%) e
2900,2m (-12,1%).
Nota-se, portanto, que as diferenças entre resultados modelados e experimentais
são maiores com o aumento da velocidade inicial do projétil. Conforme já comentado existem
incertezas nos resultados experimentais demonstrados. Além disso, o próprio modelo físico de
resistência quadrática não representa perfeitamente o complexo sistema de resistência do ar.
Acrescentemos ainda as falhas intrínsecas inseridas pelo método numérico computacional,
que é inerente ao processo de cálculo da máquina. O cálculo do computador provoca
arredondamentos e truncamentos a cada iteração. Quanto maior o número de iterações, maior
o erro intrínseco do processo computacional. Uma velocidade inicial maior, ocasiona, via de
regra, um movimento mais demorado, e as grandezas do movimento têm que ser calculadas
em maior número de iterações, aumentando o erro final. Portanto, o aumento do erro com o
aumento da velocidade inicial tem uma clara participação do processo iterativo do modelo
proposto.

12000
v0=198m/s
v0=267m/s
10000 v0=376m/s
Comprimento da trajetória (m)

v0=472m/s

8000

6000

4000

2000

0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)

FIGURA 4.4.2.4. Variação do comprimento da trajetória do projétil do canhão 105mm em função do ângulo de
lançamento.

Observemos agora a variação do comprimento da trajetória do projétil em função


do ângulo de lançamento na figura 4.4.2.4. O maior comprimento de trajetória ocorre para um
ângulo de 67º para uma velocidade inicial de 472m/s. Este ângulo é menor com a diminuição
da velocidade inicial (é de 60º para uma velocidade inicial de 198m/s).
97

Por fim, observemos a trajetória modelada do movimento do projétil do canhão


105mm com velocidade inicial de 376m/s para três diferentes ângulos de lançamento, sendo
42º o ângulo de maior alcance horizontal.

φ0=30º
3000
φ0=42º
φ0=60º
2500

2000

1500
y (m)

1000

500

0
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

x (m )

FIGURA 4.4.2.5. Trajetória do projétil do canhão 105mm com velocidade inicial de 376m/s para três diferentes
ângulos de lançamento φ0.

4.4.3 O Canhão Vickers e a Influência da Densidade Atmosférica no Movimento do


Projétil

O canhão bélico Vickers, de acordo com REGIMIENTO...[2000?], é um canhão


de obus cujo projétil tem massa de 45Kg e diâmetro de 0,1524m. A velocidade de saída da
boca do canhão é de 915m/s e o alcance máximo do canhão está próximo de 21,6 km.
Assumiremos uma variação temporal de 0,001s. Utilizaremos duas simulações de tiro do
canhão Vickers, uma supondo o modelo atual (densidade variável com a altura), e outra
considerando a densidade constante e igual à densidade atmosférica ρ s , a fim de verificar a
influência da densidade atmosférica variável no movimento do projétil.
98

Abaixo, na figura 4.4.3.1, temos a variação dos tempos de vôo e de subida do


projétil do canhão Vickers num ambiente com densidade atmosférica variável e num ambiente
com densidade atmosférica constante.

120
tH, densidade do ar
variável
tR, densidade do ar
100
variável
tH, densidade do ar
constante
80
tR, densidade do ar
Tempo (s)

constante
60

40

20

0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)

FIGURA 4.4.3.1. Variação do tempo de vôo e do tempo de subida em função do ângulo de lançamento num
ambiente com densidade atmosférica variável e num ambiente com densidade atmosférica constante.

Fica claramente observável uma diferença da magnitude temporal entre os dois modelos a
partir de um ângulo de lançamento de aproximadamente 30º, aumentando com o aumento do
ângulo de lançamento. Isto ocorre porque o modelo de densidade variável proposto leva em
conta a variação da densidade com a altura, e ângulos de lançamento maiores refletem uma
verticalização do movimento. Para um movimento completamente vertical, o tempo total de
vôo e o tempo de subida do projétil são, respectivamente, 19,7% e 33,9% maiores para o caso
com densidade do ar variável do que o caso com densidade do ar constante.
O aumento da magnitude de diferença entre os dois casos com o aumento do
ângulo de lançamento de projétil é também observado para o alcance vertical do projétil,
conforme podemos observar na figura 4.4.3.2. A diferença no alcance vertical para os dois
casos torna-se evidente para um ângulo de aproximadamente 30º, aumentando com o ângulo
de lançamento do projétil. Para um movimento completamente vertical, a altura máxima
atingida pelo projétil num ambiente com densidade atmosférica variável é 44,6% maior que a
atingida num ambiente com densidade atmosférica constante. São, portanto, bastante
significativas as influências da variação da densidade atmosférica com a altura.
99

18000
Modelo com densidade do ar variável

Modelo com densidade do ar constante


15000
Alcance vertical máximo (m)

12000

9000

6000

3000

0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)

FIGURA 4.4.3.2. Variação do alcance vertical máximo em função do ângulo de lançamento num ambiente com
densidade atmosférica variável e num ambiente com densidade atmosférica constante.

Vamos agora observar a variação do alcance horizontal máximo do projétil do


canhão Vickers nestes dois ambientes.

24000

20000
Alcance horizontal máximo (m)

16000

12000

8000
Modelo com densidade do ar variável

4000 Modelo com densidade do ar constante

0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)

FIGURA 4.4.3.3. Variação do alcance horizontal máximo em função do ângulo de lançamento num ambiente
com densidade atmosférica variável e num ambiente com densidade atmosférica constante.

Para um ângulo de lançamento de 59º, o alcance horizontal do projétil no caso de densidade


atmosférica variável é 68,5% maior que o alcance no caso com densidade do ar constante. É
importante fazer aqui uma observação importante, já se descobrirá experimentalmente que o
100

alcance máximo para certos tipos de canhões ocorreriam para ângulos maiores que 45º. É o
que acontece com o canhão Vickers, cujo alcance horizontal máximo ocorre para um ângulo
de lançamento de 48º. Além disso, devemos agora observar que o modelo numérico prevê um
alcance horizontal máximo de 22446,2m, que é apenas 3,9% maior que o valor de teste do
canhão de obus Vickers.
Por fim, observemos na figura 4.4.3.4 a variação do comprimento da trajetória em
função do ângulo de lançamento para os dois modelos comparados. A maior diferença de
ocorre para um ângulo de 70º, onde o valor do comprimento da trajetória do projétil é 47,9%
maior para o caso com densidade do ar variável em relação ao caso com densidade do ar
constante.

30000
Comprimento da trajetória (m)

24000

18000

12000
Modelo com densidade do ar variável

Modelo com densidade do ar constante


6000

0
0 20 40 60 80
Ângulo de lançame nto (graus)

FIGURA 4.4.3.4. Variação do comprimento da trajetória em função do ângulo de lançamento num ambiente com
densidade atmosférica variável e num ambiente com densidade atmosférica constante.

4.4.4 O Canhão Vickers e a Influência da Gravidade Variável com a Altura no


Movimento do Projétil

A fim de estudar os efeitos da gravidade variável com a altura no movimento do


projétil faremos oito simulações utilizando o canhão Vickers com quatro velocidades iniciais
de lançamento, a se saber: simulação um, 915m/s; simulação dois, 4000m/s; simulação três,
9150m/s e simulação quatro, 15000m/s. Assumiremos um ângulo de lançamento de 48º
(ângulo para o qual ocorre o maior alcance horizontal) e uma variação temporal de 0,01s
101

(aumentamos a variação temporal devido ao fato de que necessitaremos aumentar


consideravelmente o número de iterações para velocidades iniciais grandes). Para cada
velocidade inicial faremos uma simulação com o modelo atual (gravidade variável com a
altura) e outro com gravidade constante igual a 9,81m/s2. Os resultados obtidos estão
compilados nas figuras abaixo.

1000

875
tR com gravidade variavel

750 tR com gravidade cons tante


tH com gravidade variavel

625 tH com gravidade cons tante


Tempo (s)

500

375

250

125

0
1 2 3 4
Sim ulação

FIGURA 4.4.4.1. Tempo de vôo e tempo de subida do projétil em dois casos, um com gravidade variável com a
altura e outro com gravidade constante.

900

750
Gravidade variável com a altura
Alcance vertical máximo (1000m)

Gravidade constante
600

450

300

150

0
1 2 Sim ulação 3 4

FIGURA 4.4.4.2. Alcance vertical máximo do projétil em dois casos, um com gravidade variável com a altura e
outro com gravidade constante.
102

3500

3000
Alcance horizontal máximo (1000m)

2500
Gravidade variável com a altura
Gravidade constante
2000

1500

1000

500

0
1 2 Simulação 3 4

FIGURA 4.4.4.3. Alcance horizontal máximo do projétil em dois casos, um com gravidade variável com a altura
e outro com gravidade constante.

4000

3500

3000
Comprimento da trajetória (1000m)

Gravidade variável com a altura


Gravidade constante
2500

2000

1500

1000

500

0
1 2 Sim ulação 3 4

FIGURA 4.4.4.4. Comprimento da trajetória do projétil em dois casos, um com gravidade variável com a altura e
outro com gravidade constante.

Para velocidades iniciais convencionais (simulação 1 e 2) a variação dos tempos e


alcances entre os casos com gravidade variável e constante não apresentam diferença
significativa. Isto se deve ao fato de que com velocidades iniciais pequenas e ângulos de
lançamento não muito próximos da vertical, o projétil não atinge grandes alturas, e para
alturas pequenas (muito menores que o raio da Terra), a gravidade variável se aproxima de
seu valor constante. Observe a expressão 4.2.2, que é a equação diferencial do movimento do
projétil; se y << RT , temos o mesmo caso de gravidade constante.
103

Nas simulações 3 e 4, com velocidades iniciais mais elevadas e consequentemente


maiores alturas atingidas pelos projéteis, as diferenças de alcance e tempo entre os dois casos
começam a ser observáveis. Na simulação 4, os tempos de vôo e subida do projétil para o caso
com gravidade variável com a altura são, em média, 19,6% maiores que no caso com
gravidade constante. Os alcances do projétil e o comprimento da trajetória são
respectivamente, em média, 17,0% e 18,4% maiores no caso com gravidade variável do que
no caso com gravidade constante.

4.4.5 O Canhão Vickers e o Modelo Clássico de Movimento de Projéteis

Utilizemos ainda o canhão Vickers para comparar o modelo clássico de


lançamento de projéteis com o atual modelo quadrático de resistência do ar, a fim de verificar
melhor os efeitos a resistência do ar no movimento do projétil. A variação temporal utilizada
foi de 0,001s.

200
tR, modelo c lás s ic o

tR, modelo de res is tênc ia


160 quadrátic a c om a
veloc idade
tH, modelo c lás s ic o

120 tH, modelo de res is tênc ia


Tempo (s)

d áti

80

40

0
0 20 40 60 80
Ângulo de la nça m e nto (gra us)

FIGURA 4.4.5.1. Tempo de vôo e tempo de subida de um projétil de canhão Vickers num modelo clássico e
num modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade.

Conforme verificamos na figura 4.4.5.1 e 4.4.5.2, as diferenças entre o tempo de


vôo e de subida e a altura máxima atingida pelo projétil nos dois modelos, um clássico e outro
com resistência do ar quadrática com a velocidade, tornam-se observáveis desde pequenos
ângulos de lançamento, sendo maiores quanto maior for este. Obviamente, o caso clássico
prevê valores superiores ao caso de resistência quadrática. Num lançamento vertical, o tempo
104

de vôo previsto classicamente chega a ser 60,1% maior que no caso de resistência quadrática
com a velocidade. Para o alcance vertical máximo, esta superioridade é de 160,3%.

Modelo com resistência quadrática com a


velocidade
37500
Modelo Clás sico

30000
Alcance vertical máximo (m)

22500

15000

7500

0
0 20 40 60 80
Ângulo de la nça m e nto (gra us)

FIGURA 4.4.5.2. Alcance vertical de um projétil de canhão Vickers num modelo clássico e num modelo com
resistência do ar quadrática com a velocidade.

A diferença no alcance horizontal (figura 4.4.5.3) aumenta para ângulos


intermediários, ocorrendo para um ângulo de 44º um alcance horizontal clássico 309,4%
maior que no caso de resistência quadrática. Para o comprimento da trajetória (figura 4.4.5.4),
esta superioridade é de 228,5% para um ângulo de lançamento de 51º.

90000

75000
Alcance horizontal máximo (m)

60000

45000 Modelo com resis tência quadrática c om a


veloc idade
Modelo Clássico
30000

15000

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de la nça m e nto (gra us)

FIGURA 4.4.5.3) Alcance horizontal máximo de um projétil de canhão Vickers num modelo clássico e num
modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade.
105

105000

90000
Comprimento da trajetória (m)

75000 Modelo de resistência quadrática com a


velocidade
Modelo Clássico
60000

45000

30000

15000

0
0 20 40 60 80
Ângulo de la nça m e nto (gra us)

FIGURA 4.4.5.4. Comprimento da trajetória de um projétil de canhão Vickers num modelo clássico e num
modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade.

Para concluir nossa comparação, observemos a trajetória do projétil do canhão


Vickers segundo uma previsão clássica e outra desenvolvida pelo modelo numérico, supondo
a resistência do ar quadrática com a velocidade.

25000

20000

15000 Modelo com resistência quadrática com a


velocidade
y (m)

Modelo clássico
10000

5000

0
0 20000 40000 x (m) 60000 80000

FIGURA 4.4.5.5. Trajetória de um projétil de canhão Vickers lançado num ângulo de 48º num modelo clássico e
num modelo com resistência do ar quadrática com a velocidade.
106

4.4.6 A Velocidade Terminal

Para finalizar nossa demonstração dos resultados do modelo numérico


computacional de movimento do projétil, vamos simular um movimento em que ocorra
velocidade terminal. Já mencionamos em outro capítulo que todo movimento de projétil tende
a uma velocidade terminal, desde que permaneça tempo suficiente no espaço. Para simular tal
situação, vamos supor um projétil de massa 0,1kg e diâmetro 0,1m, lançado com velocidade
inicial de 500m/s num ângulo de lançamento de 85º com a horizontal. Assumiremos uma
variação temporal de 0,001s.
Segundo a simulação realizada, este movimento duraria 12,205s, atingiria uma
altura de 160,7m e uma distância de 24,1m (movimento bastante verticalizado).

150

120

90
y (m )

60

30

0
0 5 10 x (m) 15 20 25

FIGURA 4.4.6.1. Trajetória do projétil na simulação de velocidade terminal.


107

Na figura 4.4.6.1 vemos a trajetória do projétil. Observamos que a parte final da


trajetória apresenta um movimento quase vertical de queda. A esta parte, como veremos,
correspondem os últimos três segundos de movimento (para x>23,5m). Para melhor
visualizarmos a questão da velocidade terminal, vamos agora analisar as velocidades vertical
e horizontal do projétil no tempo.

450

350
Velocidade vertical (m/s)

250

150

50

0 2 4 6 8 10 12
-50
Te m po (s)

FIGURA 4.4.6.2. Velocidade vertical em função do tempo na simulação de velocidade terminal.

45

36
Velocidade horizontal (m/s)

27

18

0
0 2 4 6 8 10 12
Te m po (s)

FIGURA 4.4.6.3. Velocidade horizontal em função do tempo na simulação de velocidade terminal.


108

Observe que ambas as velocidades vertical e horizontal tendem a um valor fixo


aproximadamente nos últimos três segundos de movimento. A velocidade horizontal tende a
zero, o que caracteriza a verticalização do movimento comentada anteriormente. A velocidade
vertical sofre uma inversão de sentido (é o início da descida do projétil) em 3,52s de
movimento, e tende a -22,6m/s (o sinal negativo representa fisicamente ao movimento de
descida). Esta velocidade corresponde à velocidade terminal do projétil. O tempo terminal
(aquele em que a velocidade do projétil começa a aproximar-se da velocidade terminal) é de
aproximadamente 9 segundos, e o projétil se aproxima dessa velocidade por cerca de 3
segundos.
Como vimos, as condições iniciais de lançamento do projétil permitiram que ele
permanecesse tempo suficiente no ar para que se aproximasse da velocidade terminal. Nos
outros casos que estudamos estas condições não foram satisfeitas.
5. Efeitos Inerciais sob o Movimento de Projéteis

Nos capítulos anteriores tratamos do movimento de projéteis considerando


sistemas inerciais de referência. Estudamos inicialmente os efeitos apenas da atração
gravitacional, desconsiderando os efeitos da atmosfera. Em seguida incluímos os efeitos da
atmosfera no movimento do projétil. Neste capítulo falaremos sobre os efeitos do movimento
de rotação da Terra na dinâmica do projétil.
A Terra pode ser considerada um referencial inercial para movimentos de pequeno
alcance próximos a ela, onde as forças inerciais que discutiremos produzem efeitos
desconsideráveis. Para movimentos de longo alcance, no entanto, os efeitos de tais forças
inerciais são bastante plausíveis. O planeta Terra não é uma esfera perfeita, possuindo os
pólos achatados, além de não ter densidade uniforme. São grandes os efeitos da atração
gravitacional da lua nos fenômenos terrestres, tais como o movimento das marés e o
crescimento das plantas. O centro de massa do sistema Terra-lua encontra-se situado dentro
do raio terrestre, modificando os movimentos cosmológicos da Terra: o movimento de rotação
da Terra é atrasado em 0,002s por século (WIKIPÉDIA, 2007).
De modo geral, a Terra não é um sistema de referência inercial. Durante o seu
movimento de rotação observamos forças que tendem a alterar o movimento dos corpos de
suas trajetórias características próximas a superfície. Várias experiências militares mostram
desvios laterais de trajetórias de projéteis balísticos. Mísseis e satélites requerem correções
110

para manterem suas órbitas. Além disso, vários fenômenos da natureza mostram uma
tendência de ocorrerem em posições diversas de acordo com sua localização em relação aos
hemisférios da Terra, tal como o sentido de giro dos ciclones e a corrosão das margens dos
rios.

5.1 Sistemas Inerciais e Não Inerciais

Da primeira lei da dinâmica ou princípio da inércia sabemos que todo corpo


mantêm seu estado de movimento (movimento retilíneo uniforme) ou não altera seu estado de
repouso (repouso referencial) a menos que uma força resultante não nula haja sobre ele. A
instituição do princípio da inércia remonta discussões sobre movimento de corpos desde a
época de Aristóteles. No entanto, uma formulação propriamente dita, embora ainda restrita
apenas a experimentos conceituais, foi concebida por Galileu em ‘Diálogos Sobre os Dois
Principais Sistemas do Mundo’.
O princípio da inércia tem uma aplicação muito importante na mecânica no que se
refere à definição de um referencial inercial: “um referencial inercial é aquele no qual a Lei da
Inércia é válida”. De fato, as leis de Newton não são obedecidas em todos os referenciais,
apenas nos inerciais. Além disso, dado um referencial inercial, qualquer sistema de referência
que tenha movimento retilíneo uniforme em relação a este referencial inercial, é também um
referencial inercial, e encontrado um referencial inercial, infinitos outros referenciais inerciais
podem ser encontrados em relação a este.
Um sistema referencial que possua uma aceleração em relação a um sistema de
referência inercial é dito sistema de referência não inercial. Nele, as leis de Newton não são
válidas, de modo geral. No entanto, é importante salientar que sistemas não inerciais são
bastante reais, ao contrário do que preconizam algumas teorias. A própria Terra é um sistema
de referência não inercial (devido ao seu movimento de rotação, ao seu formato e composição
e às influências da lua), embora no limite humano de percepção cotidiana, os efeitos não
inerciais pareçam desprezíveis. As forças introduzidas por sistemas não inerciais são
chamadas forças inerciais, e apesar de serem chamadas de pseudo-forças ou forças fictícias,
apresentam efeitos muito reais. No entanto, tem uma propriedade extremamente dissonante de
outras forças: não se originam de nenhuma interação fundamental.
111

5.2 Referencial em Movimento Uniformemente Variado em relação a um Referencial


Inercial

Vamos tratar agora a dinâmica de uma partícula P em relação a um referencial


inercial S(x, y, z) e a um referencial não inercial S’(x’, y’, z’).

P
z
r
r PS
r r
a S' S = A
z' r
r PS '
t0 = 0
o y
S r r
r v S ' S (t 0 = 0 ) = V 0
r S 'S
r
o' y' r S 'S ( t 0 = 0 ) = 0
x S' r
a S 'S

x'

FIGURA 5.2.1. Partícula P em movimento num referencial inercial S e num referencial não inercial S’.

O referencial S’ tem movimento uniformemente variado em relação a S, com


r
aceleração constante A . Podemos então expressar a posição do referencial S’ no tempo da
seguinte forma:

r r r 1r r 1 r
rS 'S (t ) = rS 'S (t0 = 0) + vS 'S (t0 = 0)t + aS 'S t 2 = V0t + At 2 . (5.2.1)
2 2

Podemos ver na figura 5.2.1 que por meio da soma vetorial

r r r
rPS (t ) = rPS ' (t ) + rS 'S (t ) ,

r r r r
utilizando a expressão 5.2.1, as definições rPS (t ) = r (t ) e rPS ' (t ) = r ' (t ) , obtemos a posição da
partícula P no tempo em relação ao referencial S’:

r r r 1 r
r ' (t ) = r (t ) − V0t − At 2 . (5.2.2)
2

E a partir de 5.2.2 obtemos a velocidade e a aceleração temporal de P em relação a S’:


112

r r r
r dr ' (t ) r
v ' (t ) = = v (t ) − V0 − At
dt

r r
r dv ' (t ) r
a ' (t ) = = a (t ) − A .
dt

É importante salientar aqui que a massa da partícula P não se modifica com o


r r
referencial, de modo que m = m' para situações não relativísticas. Além disso, F ' = F para um
referencial de translação (NUSSENZVEIG, 2002, p. 293) e portanto

( )
r r r r r r
F ' (t ) = ma (t ) = m a ' (t ) + aA = ma ' (t ) + mA ,

o que deixa claro que a segunda lei de Newton não é válida no referencial não inercial.
Prosseguindo, temos

r r r r r
ma ' (t ) = F ' (t ) − mA = F (t ) + Finércia

r r
para a definição Finércia = −mA . Logo,

r r
Finércia = −mA

r
é a força inercial. No caso particular em que A = 0 , temos

r r r
r ' (t ) = r (t ) − V0t ,

r r r
v ' (t ) = v (t ) − V0 ,

r r
a ' (t ) = a (t )
113

r
Finércia = 0

r r
F ' (t ) = ma ' (t ) . (5.2.3)

Este caso particular corresponde um referencial S’ em movimento retilíneo


uniforme em relação a S, de modo que S’ é também um referencial inercial. Veja por meio e
5.2.3 que a segunda lei de Newton é valida neste referencial.

5.3 Referencial Girante

Vamos considerar um referencial S’(x’, y’, z’) que gira com velocidade angular
r
constante ω em relação a um referencial inercial S(x, y, z) concêntrico.

z
z'
S r
ω
S' y'

o = o'
y
r r
r (t ) = r ' (t )

P
x
x'
FIGURA 5.3.1. Partícula P em movimento num referencial inercial S e num referencial não inercial girante S’.

A posição da partícula P no referencial S é dada por

r r
r (t ) = r ' (t ) = x' (t )iˆ' (t ) + y ' (t ) ˆj ' (t ) + z ' (t )kˆ' (t ) ,
114

onde o conjunto (iˆ' (t ), ˆj ' (t ), kˆ' (t )) são os vetores unitários direcional do sistema referencial
girante S’.
r
r dr (t ) diˆ' (t ) r ˆ dˆj ' (t ) r ˆ
Fazendo v (t ) = e usando as definições = ω × i ' (t ) , = ω × j ' (t )
dt dt dt

dkˆ' (t ) r ˆ
e = ω × k ' (t ) , temos
dt

r r r r
v (t ) = v ' (t ) + ω × r (t ) .

Analogamente,

r r
r dv (t ) dv ' (t ) d r r r r r
a (t ) = = + (ω × r (t ) ) = a ' (t ) + ω × v (t ) .
dt dt dt

r r r r r r r r r r r r r r r
Como ω × v (t ) = ω × (v ' (t ) + ω × r (t ) ) = ω × (v ' (t ) + v (t ) ) = ω × (2v ' (t ) + ω × r (t ) ) e r (t ) = r ' (t ) ,
temos

r r r r r r r
a (t ) = a ' (t ) + 2ω × v ' (t ) + ω × (ω × r ' (t ) ) .

r r r
Partindo do pressuposto geral a ' (t ) = a (t ) − A , temos
r r r r r r r r r r
A = a (t ) − a ' (t ) = 2ω × v ' (t ) + ω × (ω × r ' (t ) ) , e como Finércia = −mA , chegamos em

r r r r r r
Finércia = −2mω × v ' (t ) − mω × (ω × r ' (t ) ) . (5.3.1)

O primeiro termo depois da igualdade em 5.3.1 é chamado força de Coriolis e o


segundo força centrífuga. A Terra, devido a sua rotação, é um referencial não inercial
semelhante ao que acabamos de ver. Vamos adiante ver pormenorizadamente os efeitos que
estas forças inerciais provocam no movimento de projéteis.

5.4 A Força Centrífuga e seus Efeitos


115

É comum o erro de se tratar a força centrífuga como uma equilibrante da força


centrípeta, embora as origens das mesmas sejam tão distintas: a força centrípeta surge de uma
interação fundamental, seja uma tração, um atrito ou a atração gravitacional, já a força
centrífuga é uma força inercial presente apenas no sistema não inercial. A forma geral da
força centrífuga é

r r r r
Fcentrífuga = − mω × (ω × r ' (t ) ) ,

e podemos ver que ela é proporcional ao raio posição da partícula. Para um corpo em
movimento rotacional num referencial não inercial (o que é compatível com um projétil de
longo alcance disparado acima da superfície terrestre, com uma ogiva de um canhão de obus
ou um míssel balístico intercontinental) a força centrífuga provoca uma aceleração na direção
radial para longe do centro do referencial (provavelmente, daí o nome centrífuga, “fuga do
centro”). Acredita-se que o próprio formato da Terra, semi-achatada, deve-se à força
centrífuga, mais intensa no maior raio de rotação, a linha do equador.
Além da influência direta da força centrífuga sobre um projétil em movimento na
atmosfera terrestre (admitindo-se um projétil de longo alcance), a força centrífuga tem
influência indireta sobre o movimento de projéteis devido às variações que provoca na
gravidade terrestre. Ora, sendo a Terra achatada, já é normal que a atração gravitacional seja
mais intensa nas regiões de maior latitude (pólos). Ainda assim, há uma variação da gravidade
com a latitude, devido à força centrífuga.
Vamos supor a Terra esférica com raio médio R. Imaginemos um sistema
referencial inercial S(x, y, z) concêntrico com a Terra e com seu eixo z alinhado com o eixo
de rotação da Terra, positivo no sentido Sul-Norte. Imaginemos também um referencial não
inercial ρ ( ρ r , ρ p , ρ z ), com seu eixo ρ z alinhado e de mesmo sentido com o eixo z de S. O

sistema S é fixo, enquanto o sistema ρ gira seu eixo ρ z com velocidade angular constante
r
ω = ωT kˆ , onde ωT = 7,3 × 10−5 rad / s é a velocidade angular da Terra. A origem de ρ
encontra-se em ( R + h) senα no eixo z, onde h é a altura do projétil em relação à superfície
da Terra (raio médio) e α é a latitude (distância em graus da linha do Equador) de
movimento do projétil P de massa m .
116

a) z b)
r
ω k̂

ρz
ρ̂ r ρp
S'
P α r
ρ = ρ (α ) Fcentrífuga
R+h r
r ρz
P FR θˆ
α z
x y
S y

R ρr

x
h
FIGURA 5.4.1. Referencial S e S’ no movimento de rotação da Terra: a) visão no plano zy e b) visão no plano
xy.

A força centrífuga é encontrada por meio de

r r r r
(
Fcentrífuga = − mω × (ω × r ' (t ) ) = − mωT kˆ × ωT kˆ × ρ (α ) ρˆ r , )

que resulta em

r
Fcentrífuga = mωT ( R + h) cos(α ) ρˆ r ,
2

cujas componentes radial e tangencial em direção à linha do Equador são

r
Fcentrífuga ,r = mωT ( R + h) cos 2 (α )rˆ
2

r
Fcentrífuga ,θ = mωT ( R + h) cos(α ) sen(α )θˆ .
2
117

A atração gravitacional sofrida pelo projétil numa altura h é dada pela expressão
r − mg
P= rˆ , conforme modelo proposto no subtítulo 2 do capítulo 4. Daí, podemos
(1 + h / R) 2
r
encontrar a força resultante FR mostrada na figura 5.4.1:

r r r ⎡
FR = P + Fcentrífuga = − m ⎢
g ⎤
[ ]
− ωT ( R + h) cos 2 (α )⎥ rˆ + mωT ( R + h) cos(α ) sen(α ) θˆ .
2 2

⎣ (1 + h / R)
2

r
Da componente r de FR podemos deduzir a formulação da gravidade variável
com a latitude:

g (α ) = g 0 + ωT ( R + h) sen 2 (α ) ,
2

g
− ωT ( R + h) é o valor da gravidade na linha do Equador na altura h .
2
onde g 0 =
(1 + h / R) 2

Como vemos, a aceleração da gravidade sofre um aumento para maiores latitudes, atingindo
seu valor máximo nos pólos Norte e Sul.
r
O componente θ da força resultante FR ocasiona um desvio da trajetória do
projétil no sentido Norte-Sul. No entanto, este efeito é quase sempre muito pequeno, sendo
praticamente desconsiderável.

5.5 A Força de Coriolis e seus Efeitos

A forma geral da força de Coriolis é dada pela expressão abaixo:

r r r
FCoriolis = −2mω × v ' (t ) .

Como vemos, a força de Coriolis é diretamente proporcional à velocidade de um


corpo em relação ao referencial não inercial e à velocidade angular deste último.
Considerando projéteis em movimento de longo alcance, que descrevem
trajetórias ao longo da curvatura terrestre com altas velocidades, tais como ogivas de
artilharia, Silveira e Axt (2000) afirmam que suas trajetórias são defletidas horizontalmente
118

para a esquerda da direção da velocidade no hemisfério Sul e para a direita no hemisfério


Norte. De fato, vemos na figura 5.5.1.a que num lançamento Norte-Sul no hemisfério Norte, a
força de Coriolis tende a desviar o projétil para Oeste, enquanto no mesmo lançamento no
hemisfério Sul, o desvio é para o Leste (figura 5.5.1.b). A trajetória de um projétil em
movimento sob a ação da força de Coriolis não está contido num plano vertical.

r
ω

r N r r
FCoriolis a) ω ω
r
FCoriolis r
d) c) v'
r r
r ω r
v' v' FCoriolis
r r
v' FCoriolis
r r
ω e) ω

r r
FCoriolis v'
b)
r
FCoriolis

S
r
v'
FIGURA 5.5.1. Movimento de projéteis na Terra em rotação e forças de Coriolis.

Para um projétil se movimentando na direção Oeste-Leste (figura 5.5.1.c), a força


de Coriolis provoca uma tendência de alteração na trajetória para fora da trajetória, enquanto
que num movimento Leste Oeste (figura 5.5.1.d), o desvio é para dentro da trajetória.
Para um projétil em queda em direção à Terra (figura 5.5.1.e), a força de Coriolis
provoca um desvio na direção Leste. O distância d Coriolis deste desvio é dada, conforme
demonstra Nussenzveig (2002, p. 303), por:

3
1 ⎛ 2h ⎞ 2
d Coriolis = ωT g cos(α )⎜⎜ ⎟⎟ ,
3 ⎝ g ⎠
119

onde ωT = 7,3 × 10−5 rad / s é a velocidade angular da Terra, h é a altura inicial de queda do
projétil e α é a latitude da região onde começa a queda. No entanto, para pequenas alturas, o
desvio é praticamente desconsiderável.
A força de Coriolis pode agir mesmo sobre um corpo com pequena velocidade no
referencial não inercial, desde que com um longo período de movimento, tal como o pêndulo
de Foucault.
6. Conclusão

O movimento de um projétil num ambiente clássico idealizado, sob ação exclusiva


da atração gravitacional terrestre, é facilmente descrito matematicamente utilizando-se o
modelo da dinâmica newtoniana. O tempo de subida e de vôo, assim como os alcances
vertical e horizontal e o comprimento da trajetória, é descrito por equações que dependem
apenas da velocidade inicial e do ângulo de lançamento do projétil. A trajetória de um projétil
nestas condições consiste numa parábola com concavidade voltada para baixo e contida num
plano vertical que contém o seu vetor velocidade inicial. As condições de simetria, além da
posição, são bastante evidentes nos tempo e na velocidade do projétil, durante o movimento
de subida e descida.
A idealização clássica do movimento de projéteis, embora intuitiva para o estudo,
é muito pouco realista, pois difere dos movimentos observados na prática tanto mais quanto
maior for a amplitude do movimento, como pudemos observar a partir dos resultados e das
análises realizadas neste trabalho.
As forças de resistência do ar provocam efeitos de retardamento de grande efeito
sobre os corpos em movimento na atmosfera. O alcance horizontal de um projétil de canhão,
por exemplo, devido a ação da força de resistência do ar, pode ser reduzido a um terço da
distância que ele atingiria se não houvesse a atmosfera. As forças de resistência, no entanto,
não alteram o plano vertical de lançamento do projétil.
121

O modelo físico de resistência do ar linear com a velocidade é experimentalmente


compatível com projéteis que possuem pequenas velocidades iniciais e cujo movimento não
atinge grandes amplitudes. Esse modelo é quase totalmente tratável de forma analítica. O
modelo de resistência do ar quadrática com a velocidade é bastante realista no que se refere ao
movimento de corpos com grandes velocidades, tais como projéteis balísticos. No entanto,
não possui solução analítica geral.
O modelo físico de resistência do ar quadrática com a velocidade desenvolvido
numericamente neste trabalho considerou as influências da densidade atmosférica, da
velocidade do vento e da gravidade variável com a altura no movimento do projétil.
Entre outras coisas, observou-se nos resultados que o vento pode influenciar de
sobremaneira o movimento de projéteis leves, tais como uma bola de futebol, inclusive
aumentando bastante seu alcance, em caso favorável.
As simulações de lançamentos de projéteis bélicos mostraram que a variação da
densidade atmosférica provoca grande alteração no alcance dos projéteis. Para o caso do
canhão Vickers, o resultado da simulação de alcance horizontal num ambiente com densidade
atmosférica variável foi 68,5% maior do que num ambiente com densidade constante. Além
disso, foi evidenciada uma observação que já se sabia experimentalmente: para certas
condições de lançamento, o alcance horizontal máximo é obtido para ângulos maiores que
45º.
As influências da gravidade variável com a altura no movimento do projétil só são
percebidas para movimentos que atingem grandes altitudes, quando as velocidades de
lançamento são grandes, maiores que as dos projéteis bélicos convencionais, admitindo-se
como ângulo de lançamento o ângulo de alcance horizontal máximo do projétil.
A simulação sobre velocidade terminal mostrou claramente que o modelo prevê
uma tendência de um projétil de atingir uma velocidade terminal, executando um movimento
uniforme verticalmente orientado para baixo.
Observou-se uma tendência do modelo numérico de aumentar a diferença entre os
resultados simulados e os experimentais para um aumento das velocidades iniciais de
lançamentos do projétil, o que se deve, além das imprecisões no modelo físico e das
incertezas dos dados experimentais, às contribuições do processo iterativo, que tende a ser
maior para movimentos de maior amplitude e velocidade.
Nas discussões sobre forças inerciais ficou evidenciada a influência do movimento
de rotação da Terra na dinâmica de projéteis que descrevem trajetórias de grande amplitude
na superfície terrestre. De fato, a Terra não é um sistema inercial, acarretando o surgimento de
122

forças inerciais, tais como a força centrífuga, que provoca alterações no módulo da aceleração
gravitacional com a latitude, além de originar um componente de força Norte-Sul atuando no
projétil; e a força de Coriolis, que provoca um desvio lateral em trajetórias de grandes
amplitudes, alterando o plano vertical de movimento dos projéteis.
Portanto, temos a conclusão geral de que não se pode desprezar a resistência do ar,
a gravidade e a densidade atmosférica variáveis com a altura e os efeitos da rotação da Terra
no estudo do movimento de projéteis, principalmente nos casos em que o movimento envolve
grande velocidade e alcance espacial.
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