Ramine Tomaz Nelo (vespertino), RA: 171223306 Victória Guimarães de Souza (noturno), RA: 171221621 Vinícius César Guimarães (vespertino), RA: 171225139 DOCENTE: Prof. Dr. Paula Regina Pavarina DISCIPLINA: Economia Internacional CURSO: Relações Internacionais, 2º ano
Trabalho escrito - “A Revolução dos Cocos”
O filme, lançado em 2000, começa nos situando no Oceano Pacífico, a poucas
centenas de quilômetros a nordeste da Austrália, onde um grupo de indivíduos decidiu fechar uma mina que era explorada pela empresa Rio Tinto Zinc, multinacional anglo-australiana, por meio de uma sabotagem bem direcionada. Com a companhia perdendo metade de suas exportações, Papua-Nova Guiné enviou sua “tropa de choque”, o que incentivou a criação do BRA (Bougainville Revolutionary Army). Esses indivíduos, portanto, não mais queriam apenas o fechamento da mina, mas também a independência da ilha. O documentário se inicia com membros do Exército Revolucionário de Bougainville (BRA) enchendo seus barcos com suprimentos de remédios e combustível, saindo das Ilhas Salomão com destino às suas casas. Entretanto, antes de tudo, oram por uma viagem segura. Este conflito se tornou uma guerra a partir do momento em que o governo do país enviou um exército, a Força de Defesa de Papua Nova Guiné (PNGDF). A Inglaterra também é responsável por essa guerra devido a enorme mina que a empresa do país cavou em Bougainville; conjuntamente com a insatisfação pelas alterações irresponsáveis de fronteiras por parte inglesa – que já datam mais de um século- transformando um conflito em guerra. Por oito anos, Papua Nova Guiné fez um bloqueio à ilha; barcos armados e helicópteros garantiam tal bloqueio com ordem de atirar para matar, no que se tornou o mais longo e sangrento conflito do Pacífico desde a Segunda Grande Guerra. Este bloqueio acarretou em cerca de 15 mil mortes pela falta de suprimentos essenciais. Esperava-se que a população ficaria contra o BRA, entretanto o oposto ocorreu; o BRA e a população uniram forças contra o desafio do bloqueio. Há grande resistência por parte dos guerrilheiros e moradores da ilha, na forma de uma eco revolução, além de uma nova organização da sociedade de maneira auto sustentável, já que perderam suporte do governo durante o processo. Embora o governo de Papua Nova Guiné estivesse evitando um referendo pela independência, o qual os moradores da ilha tanto almejavam, tal situação chamou atenção da comunidade internacional levando a conversações de paz, o que culminou no cessar fogo permanente, no levantamento do bloqueio marítimo e na consolidação de um governo de reconciliação. Este acordo foi concluído em 2000 e, atualmente, há um referendo independentista agendado para acontecer em 15 de julho de 2019, o qual definirá se a independência de Bougainville será finalmente reconhecida internacionalmente, para além de suas autodeclarações como independente. A Papua Nova Guiné é um país que tem como pilar econômico a exploração de recursos primários, principalmente da mineração, sendo que a partir de 2011 se tornou uma das economias de mais rápido crescimento no mundo. No entanto, o desenvolvimento econômico não se refletiu no bem estar social da população, já que seu IDH é baixo (0,544) e cerca de um terço da população vive com aproximadamente U$1,25 por dia. A economia da ilha Bougainville, assim como no país, dependia da exploração de minério, até o início dos conflitos por Independência. À partir da sua autodenominação como um Estado autônomo, a economia se pautou pela autossuficiência produtiva sem se inserir no mercado internacional. Posto o cenário da ilha Bougainville em uma análise a partir das teorias do comércio internacional, segundo a teoria das vantagens comparativas: “cada Estado deveria se especializar na produção da mercadoria para a qual possuísse menor custo de produção, quando comparado com o das demais mercadorias” (CÂNDIDO, 2016, p.13). Além desta, a teoria da dotação relativa dos fatores os “países exportam o produto disponível no país, em detrimento daquele em escassez” ( CÂNDIDO, 2016, p.13). Desta forma, caberia não só o país Papua Nova Guiné, como também de Bougainville ser produtores de bens primários, já que possuem a vantagem de ter a abundância de recursos primários. Porém, de acordo com a Teoria da Cepal e análise dos preços dos produtos primários, que historicamente tem um preço médio baixo no cenário do comércio internacional, visto que “nas trocas entre os países do centro da periferia tende a ocorrer deterioração dos termos de troca de forma que esses países necessitam exportar quantidades cada vez maiores para manter sua capacidade de importação” (CÂNDIDO, 2016, p.14). Ou seja, se Bougainville estivesse inserida no cenário internacional e visasse, como todos os países, uma balança comercial superavitária, teria que explorar seus recursos naturais de uma maneira intensiva para que suas exportações pudessem trazer um valor superavitário, já que a exportação de commodities por países com economias em desenvolvimento não é tão benéfica neste cenário. Já assumindo uma perspectiva da internacionalização da empresa Rio Tinto Zinc, sua presença produtiva no local tinha um cunho predatório, causando a destruição de ecossistemas e afastamento da população local, que passaram a viver em assentamentos sem infraestrutura e sem o devido auxílio do governo e da empresa para com eles. Isso se mostra de modo mais intenso quando a Papua-Nova Guiné envia uma tropa de choque para tentar combater as revoltas dos nativos da ilha pela perda, por parte da companhia, de metade suas exportações. Continuando alheia a situação precária da vida da população e priorizando os interesses privados de uma elite estrangeira com interesses externos, o governo da Papua-Nova Guiné visa apenas seus benefícios no cenário internacional, e não o bem-estar da população da ilha. A própria eco revolução ocorrida em Bougainville possibilitou a sobrevivência da população, a qual é fortemente atrelada à sua terra de modo relacionado a sua própria cultura, e não a interesses econômicos ou produtivos. Com isso, é possível demonstrar que o desenvolvimento econômico e produtivo, embora não seja de interesse da ilha a comercialização, pode ser atrelado à preservação ambiental e à utilização de recursos naturais de forma revolucionária, oferecendo, ainda, os mesmos benefícios de outros produtos que causam grande degradação ambiental. Como um dos exemplos mais curiosos para o grupo, temos a utilização de um óleo extraído do coco que substituía o diesel no abastecimento dos automóveis presentes na ilha. Para além disso, inovações como a própria geração de energia, em forma de uma mini hidrelétrica, nos mostram que o progresso não pode ser definido por um modelo globalizado, pois há desenvolvimento e progresso nas mais variadas maneiras e localidades do mundo. Após esta análise à luz dos conceitos econômicos cabe se questionar como ficaria ou o que aconteceria não só à economia, mas aos moradores de Bougainville caso este conflito nunca tivesse ocorrido e a mineradora houvesse permanecido no local e ao que tudo indica destruindo ainda mais o ecossistema, além do rio (), já que o objetivo final é sempre o lucro. O provável futuro seria a devastação da ilha e de seus moradores, uma realidade presente em muitas Bougainvilles ao redor do mundo, no que poderia ser mais uma das evidências talvez dos limites do sistema de livre comércio. É do conhecimento de todos de que as consideradas economias desenvolvidas de hoje para que chegassem à este patamar tiveram de passar por diversos processos e mudanças, sendo que uma das consequências destas foi a devastação ambiental, especialmente de florestas como na Inglaterra e Estados Unidos o que em certa medida foi “aceito” em nome do progresso, porém isto não significa primeiramente que todas as nações ou grupos sociais aceitariam está devastação para se desenvolver, assim como, não existe unanimidade entre todas as sociedades quanto à pretensão de promover o livre mercado, tal como evidenciado em Bougainville. Dada a multiplicidade de culturas que existem no mundo e que geram diferentes formas/modos de organização política, econômica e social, como em Bougainville em que os indivíduos querem “viver da terra”, serem auto suficientes, já que para eles a terra traz recompensas. Afinal, o que são progresso e riqueza ? para o ocidente possuem um significado que talvez não seja o mesmo para os moradores da ilha ou se quer estas idéias existem para eles.
REFERÊNCIAS CÂNDIDO, E., MARIANO, J. Economia Internacional. São Paulo: Saraiva, 3.ed., 2016.