Turma: B
Subturma:14
Nº28239
Índice
Introdução.................................................................................................................................... 1
O que é a conformação da relação contratual? ........................................................................ 2
Poderes de conformação da relação contratual (geral)……………………………….………3
Poder de Direção………..……………………………………………………………………….5
Poder de Fiscalização………………………………………………………………………….. 7
Limites á modificação………………………………………………………………….11
Consequências da modificação…………………………………..……………………..12
Poder sancionatório……………………….…………………………………..……………….13
Resolução unilateral……………………….…….…………………………………………….14
Conclusão………………………..……………………………………………………………..18
Bibliografia………………………………..……………………………………………………19
Introdução
O presente trabalho pertente incidir sobre a matéria relativa aos poderes do contraente
público de conformação da relação contratual.
Estes poderes são poderes funcionais ou poderes deveres dos quais a administração
pública não pode abdicar, visto que estes poderes são instrumentais à prossecução do
interesse público.
1
O que é a conformação da relação contratual?
No que diz respeito ao limite último dos poderes de conformação exercidos pela
administração no seio da relação contratual pública, o objeto do contrato. Ainda que a
administração possua um poder tão forte como o da modificação unilateral, esta não pode
impor a aceitação, pelo contraente, de cláusulas que transformem o contrato num vínculo
de natureza diversa.
2
Poderes de conformação da relação contratual
A teoria dos “poderes exorbitantes” tem a sua origem no Arrêt Societé des granits
porphyroides des Vosges, prolatado pelo conselho de estado Francês no ano de 1912. O
conselho de estado declara-se incompetente no caso do contrato de fornecimento de
pavimento á cidade de Lile, na medida em que o contrato não conteria qualquer indício
de administratividade. É nas conclusões do comissário de Governo que desponta a teoria
dos poderes exorbitantes, ora se ao contrário do que concretamente se verificava, o
contrato contivesse cláusulas atributivas de prerrogativas especiais à administração, que
esta não pudesse exercer senão enquanto investida no seu estatuto de poder público, então
neste caso a competência do conselho de estado revelar-se-ia inequívoca porque seria a
natureza administrativa do contrato.
Marcello Caetano, no entanto, entendia como não admissíveis tais atos de administração
em matéria de interpretação do contrato, admitindo, pelo contrário, que já pudessem
existir em relação á sua modificação, execução e extinção.1
1
Marcello Caetano, Direito Administrativo I
2
Pedro Gonçalves refere 3 posições na jurisprudência: “uma corrente tradicional”, para a qual se trata de
atos administrativos, uma “corrente revolucionária”, para qual se trata de meras declarações negociais,
emitidas no exercício de direitos protestativos e uma “corrente indecisa”, para a qual podem ser atos
administrativos, mas também podem ser meras declarações negociais.
3
“Artigo 302.º
Poderes do contraente público
Salvo quando outra coisa resultar da natureza do contrato ou da lei, o contraente público
pode, nos termos do disposto no contrato e no presente Código:
a) Dirigir o modo de execução das prestações;
b) Fiscalizar o modo de execução do contrato;
c) Modificar unilateralmente as cláusulas respeitantes ao conteúdo e ao modo de
execução das prestações previstas no contrato por razões de interesse público, com os
limites previstos no presente Código;
d) Aplicar as sanções previstas para a inexecução do contrato;
e) Resolver unilateralmente o contrato;
f) Ordenar a cessão da posição contratual do cocontratante para terceiro.”
Estes são poderes-deveres dos quais a Administração não pode abrir mão, uma vez que
estão funcionalizados á prossecução do interesse publico. Estes poderes existem apesar
da ausência de previsão contratual e impõem-se contra a eventual exclusão de previsão
no contrato. A administração detém estes poderes em razão do fim de interesse público
que o contrato visa realizar, como forma de assegurar que no cumprimento do contrato o
co-contraente particular executa as prestações da forma mais adequada à realização desse
fim.
4
Poder de Direção
3
De acordo com a professora Carla Amado Gomes.
4
De acordo com a professora Maria João Estorninho, Curso de Direito dos Contratos Públicos. 5
O exercício deste poder encontra-se limitado por 3 princípios:
Quanto aos dois primeiros princípios, no âmbito do controlo da validade dos atos em que
se consubstanciam, na medida em que, porque apelam a concretizações de princípio da
proporcionalidade, a adequação e a proibição de excesso, fornecem ao julgador critérios
de aferição da conformidade das ordens, diretivas ou instruções, com o bloco de
legalidade aplicável. Quanto ao terceiro princípio este traduz uma regra de
responsabilidade e uma regra de repartição da responsabilidade.
6
Poder de Fiscalização
Constitui uma prerrogativa instrumental, pois depende do seu exercício a constatação dos
factos que originam a aplicação de sanções ou a decisão de rescindir unilateralmente o
contrato. Este poder desdobra-se em fiscalização dos aspetos técnicos financeiros e
jurídicos do modo de execução das prestações, como já referi, de acordo com o artigo
305º/1 investe ainda o co-contraente num dever de sujeição de inspeções e a obrigação de
fornecer informação de acordo com o disposto no artigo 305º/2.
Para Augusto de Athayde, trata-se do poder de que a administração é dotada para “se
manter a par da atividade do seu contraente, tomando conhecimento da forma como ele
trabalha para executar o contrato, a fim de evitar desvios do seu pontual cumprimento”.
Nesta medida este poder de fiscalização encontra-se limitado pela ideia de que não se
pode através da fiscalização prejudicar o próprio fim que com ela se pretende atingir que
é o de acautelar a defesa do respeito pelo fim de interesse público.
7
O código refere a possibilidade de realizar inspeções e solicitar pedidos de informação de
acordo com o artigo 305º/2. Esta tarefa fiscalizadora da administração facilita o exercício
do poder de direção e permite fundamentar a aplicação de sanções, como se configura
como um dever contratual da Administração, pois o interesse público que através do
contrato se prossegue e que permanece ao longo de toda a execução do contrato,
revelando-se até mutável, exige da administração uma atenção ao modo como está a ser
executado.
8
Poder de modificação unilateral
Uma das questões que mais tem sido discutida, a propósito do poder de modificação
unilateral, é a de saber que tipo de alterações pode ao certo a administração exigir do seu
co-contraente. Na doutrina confrontam-se dois métodos possíveis para limitar o poder da
administração, o de distinguir cláusulas modificáveis de cláusulas imodificáveis. A
própria noção de objeto do contrato tem sido, para este efeito, fonte de acesa controvérsia,
sendo a tendência para distinguir o objeto em se mesmo e as prestações contratuais. A
posição dominante entende que o objeto designa os tipos de prestações contratuais
concretamente acordadas entre as partes, ao passo que o conteúdo das prestações
corresponde aos modos, técnicos e jurídicos, de execução dessas prestações.
Nas situações em que, por alterações introduzidas pela administração, por motivos de
interesse público, o contraente particular venha a suportar encargos superiores aos que
ele tenha previsto, a administração é obrigada a rever a própria cláusula de remuneração
ou a pagar a justa indemnização. Nestes casos a administração não se responsabiliza com
fundamento na culpa, mas sim no facto de sobre ela recaírem, em primeira linha, os
encargos da satisfação das necessidades coletivas. Existe nestes casos um dever de repor
o equilíbrio financeiro do contrato.
9
Ao rever um pouco a história deste poder, podemos ver que este foi revestido de vários
cambiantes:
Factum principis
10
4. O que se reconduz ao factum principis, a alteração dos termos do contrato por
superveniência de uma alteração legislativa que imediatamente se reflita no seu
conteúdo.
Limites à modificação
A modificação tem como limite ás prestações principais do contrato, ao núcleo essencial
do contrato, que não podem ser alteradas de acordo com o artigo 313º/1/1º parte. Existe
ainda um limite imanente, o contrato pode ser modificado, mas não pode ser mudado, ou
seja, a alteração operada não pode ser de tal modo que se altere o tipo do contrato
inicialmente celebrado.
O exercício deste poder também não pode configurar uma forma de impedir, restringir ou
falsear a concorrência garantida pela fase de pré- contratação de acordo com o artigo
313º/1/2º parte, de tal modo que a modificação só é possível se for objetivamente
demonstrável (artigo 313º/2).
11
A modificação com invocações da alteração das circunstâncias prevista no artigo 312º
alínea a), quando estejam em causa contratos com objetos passiveis de ato administrativo
ou sobre o exercício de poderes públicos, a reserva de não poder ser operada através de
decisão judicial ou arbitral, quando interfira com juízos e valorações próprias da função
administrativa ou interfira com a margem de livre apreciação administrativa de acordo
com o disposto no artigo 313º\3.
Poder sancionatório
A redação do artigo 302º/d), provoca uma certa hesitação quanto á abrangência deste
poder, visto que se refere as sanções “previstas para a inexecução do contrato”. A
pergunta que se coloca é se isto quererá dizer que o exercício do poder de aplicar sanções
não se basta com a habilitação deste dispositivo, necessitando de uma concretização
suplementar, em lei avulsa ou no contrato?
De acordo com a professora Carla Amado Gomes, o CCP vai de acordo com a corrente
maioritária, que não aceita a existência do poder de aplicar sanções como inerente ao
estatuto da administração no contrato administrativo, ou seja, no que diz respeito à
aplicação de sanções, a previsão deste poder e a configuração concreta daquelas deverão
constar de lei aplicável à categoria de contratos em causa, ou do próprio contrato, em
homenagem a um principio de tipicidade inarredável neste domínio. O exercício deste
poder sancionatório pode redundar na resolução do contrato ou na aplicação de sanções
de natureza pecuniária, neste caso o artigo 329º/2 diz-nos que o “respetivo valor
acumulado não pode exceder 20% do preço contratual, sem prejuízo da possibilidade de
resolução unilateral do contrato”, no entanto, se a ponderação do interesse publico for no
sentido da não resolução do contrato, este limite eleva-se para 30% (artigo 329º/3).
13
Resolução-sanção
É ainda de notar que o facto de este poder não ter que estar previsto no instrumento
contratual não desobriga a administração de respeitar o princípio da legalidade e da
proporcionalidade, como tal os fundamentos de exercício do poder de resolução-sanção
são vinculados, e encontram-se previstos no artigo 333º/1:
5
Não excluindo a possibilidade de responsabilização do co-contraente por danos resultantes da
necessidade de promover novo procedimento concursal, artigo 333º/2
14
c) “oposição reiterada do co-contraente ao exercício dos poderes de fiscalização
do contraente público”, também o exercício dos poderes de fiscalização pelo
contraente público se encontra assegurado contra a oposição do co-contraente
através da possibilidade de resolução sancionatória restando verificar o que será
uma oposição reiterada e o que será uma oposição não reiterada.
15
Resolução por razões de interesse público
A resolução por imperativo de interesse público tem que ter um mínimo assento nas
circunstâncias de facto com que a administração se confronta. A resolução por motivo de
interesse público não deve ser utilizada como forma de mascarar o incumprimento da
entidade adjudicantes. O exercício do poder de resolução unilateral encontra-se
subordinado ao princípio da proporcionalidade, na vertente do equilíbrio, se a
administração puder modificar, não deve resolver o contrato. A fundamentação garante a
imparcialidade da opção além de constituir uma arma decisiva no âmbito da impugnação
do ato que decreta a resolução.
É por fim importante referir que o CCP associa na sequência da opção a que procede no
artigo 314º/1, a resolução por motivos de interesse público relacionados com intervenções
especificas no contrato, e resolução por superveniência de alterações motivadas por toda
uma categoria de contratos. Trata-se de alterações promovidas por razões subjetivas, o
que justifica a identidade de consequências, como tal, o artigo 335º confere ao ente
público a faculdade de resolver o contrato caso este sofra uma alteração reflexa motivada
por decisão sua, tomada fora do âmbito do exercício de poderes de conformação da
relação contratual.
6
No entanto, Pedro Gonçalves afirma que a cega exigência de cumprimento pontual do contrato, traduzir-
se-ia, no fim de contas, na inversão de toda a lógica do direito público, dando prevalência ao contrato sobre
o interesse público.
16
Resolução por outros fundamentos
17
Conclusão
Existe então o poder de direção que surge para colmatar lacunas de regulação do modo
de execução da relação, este poder encontra-se regulado no artigo 304º. No entanto, como
referido anteriormente este poder está limitado por três princípios, de otimização do fim
de interesse público que o contrato prossegue, o princípio de respeito pela autonomia da
contraparte e de não diminuição da responsabilidade da contraparte. Em seguida temos o
poder de fiscalização, este princípio desdobra-se em fiscalização dos aspetos técnicos,
financeiros e jurídicos do modo de execução das prestações que se encontra regulado no
artigo 305º.
O poder de modificação unilateral, previsto no artigo 311º, existem várias vertentes deste
poder, como referido anteriormente, o poder de modificação stricto sensu, (este poder
exprime-se através de um ato administrativo praticado no âmbito do contrato o qual, por
força da reconsideração das razões de interesse público que lhe foram subjacentes,
implica uma alteração do seu clausulado e do conteúdo das prestações do co-contratante,
sem, no entanto, pôr em causa a essência do contrato), o factum principis (conceito que
designa uma atuação exterior ao contrato da Administração concedente, de outra entidade
administrativa ou até do legislador, a qual determina uma perturbação significativa na
equação económico-financeira do contrato.) e a alteração das circunstâncias (requer uma
imprevisão, ou seja, pressupõe a ocorrência de um facto imprevisível, externo á vontade
das partes, acarretando uma excessiva onerosidade para o devedor, a qual ultrapassa o
risco normal do contrato). Este poder tem algumas limitações referidas anteriormente.
Por fim o poder de resolução do contrato, 2 hipóteses que podem redundar na resolução
do contrato administrativo, a resolução sanção, e a resolução por razões de interesse
público.
18
Referências Bibliográficas
Maria JOÃO ESTORNINHO, Curso de Direto dos Contratos Públicos, 2014, Almedina;
19